Você está na página 1de 4

GRANDE LOJA MAÇÔNICA DO ESTADO DE GOIÁS

AUGUSTA E RESPEITÁVEL LOJA SIMBÓLICA “HARMONIA E CONCÓRDIA” Nº 165

A PALAVRA SAGRADA DE PRIMEIRO GRAU


Luiz Signates (Ap.: M.: Insc. Nº 13703)

A origem da P∴ S∴ remete ao livro de Rute, na Bíblia, no tempo dos juízes. O texto bíblico
conta a história de Rute, uma viúva moabita, que acompanhava sua sogra Noemi,
também viúva, esposa de Elimeleque, em Israel. Na Israel antiga, viúvas e estrangeiros
eram considerados desamparados e oprimidos. Noemi era israelita, mas sua nora Rute,
com a morte do esposo, tornou-se uma estrangeira viúva e, sem posses, entraram
ambas em grande dificuldade.

Vivendo ambas em Moabe, Noemi decidira voltar para Israel, e, por isso, recomendou
às noras que voltassem à casa de seus pais, para que não fossem tratadas como
estrangeiras. Rute não aceitou e lhe disse: “Não insistas comigo que te deixe e não mais
a acompanhe. Aonde fores irei, onde ficares ficarei! O teu povo será o meu povo e o teu
Deus será o meu Deus! Onde morreres morrerei, e ali serei sepultada. Que o Senhor me
castigue com todo o rigor, se outra coisa que não a morte me separar de ti!”

Essa atitude de Rute, conta o texto sagrado, impressionou até os vizinhos, que passaram
a comentar que ela era “melhor do que sete filhos”. (Rute, 3:11;4:15). Retornaram para
Belém, em Israel e um dia, no início da colheita de cevada, por volta do ano 1250 AC,
Rute sai para respigar espigas. Naquela época, era costume que as pessoas que
passavam necessidade podiam recolher espigas que restassem na plantação após a
colheita feita, e a isso se chamava “respigar”.

Em busca de alimento, Rute casualmente dirige-se à fazenda de Boaz, um primo de seu


ex-marido Malon, que havia sabido de sua generosidade, ao recusar-se deixar a sogra e
submeter-se à dura vida de viúva estrangeira em Israel. Boaz não apenas a permite
respigar em suas terras, como lhe oferece água fresca e pão, em quantidade suficiente
para levar a Noemi. Ao retornar à casa da sogra, esta reconhece Boaz como um parente
e sugere a Rute que o tenha como um “resgatador”. Segundo a tradição judaica, o
2

parente mais próximo de uma viúva tinha o dever de se casar com ela e comprar sua
propriedade, a fim de não a deixar desamparada. Essa obrigação e o laço de parentesco,
além da simpatia mútua de ambos, faz com que Boaz aceite o casamento, cumprindo o
dever do resgate, mesmo sob o risco de ser considerado impuro, por se unir com uma
estrangeira.

Deste casamento, nasceu Obed, futuro pai de Jessé, cujo filho seria o rei David, pai de
Salomão. A honestidade e o desprendimento de Boaz, diante da generosidade da
moabita Rute, inseriram seu nome na história sagrada, como bisavô de Davi e, assim, o
colocaram na genealogia de Jesus Cristo, o Messias.

Desde então, nos estudos teológicos até hoje, Boaz tornou-se o símbolo da bondade, da
generosidade, da superação dos preconceitos e do enfrentamento das adversidades.
Seu nome, em hebraico, significa “aquele que tem a força”.

Vem do bisavô do Rei David, pai de Salomão, a palavra sagrada do grau de Aprendiz da
Maçonaria Simbólica. Segundo os autores maçônicos, nos sistemas anglo-saxônicos, a
palavra sagrada nos rituais da Emulação do Schröder era Boaz. E, de fato, é assim no
hebraico original. O hebraico não tem vogais, só sinais massoréticos, e não possui dobra
de vogais, logo, a pronúncia original é “Boaz”, e não “Booz”.

Entretanto, a Bíblia de Jerusalém utiliza a palavra “Booz”, que os teólogos admitem


como uma corruptela de Boaz. Segundo William Carvalho (s/d), venerável autor
maçônico, a razão para o uso de Booz no famoso texto de Jerusalém é simples: “dado
que São Jerônimo traduziu a Bíblia para o latim como Booz, a Igreja manteve a tradição
até os dias atuais”. Essa é, portanto, a tradução católica, trazida pela tradição e o
respeito ao santo autor da Vulgata Latina. Todas as Bíblias protestantes, inclusive a
largamente utilizada no Brasil, a de João Ferreira de Almeida, utiliza “Boaz”.

Segundo Medeiros (2016), a expressão Booz passou para o Brasil por influência da
franco-maçonaria. Os maçons franceses por algum tempo utilizaram o nome Booz como
uma das colunas e a palavra sagrada de Aprendiz. Entretanto, em todos os textos
franceses maçônicos que compulsei, a palavra usada hoje é a mesma dos rituais anglo-
saxônicos: BOAZ. Apenas no Grand Manuel de Franc-Maçonnerie, de Geoffray d’A (2007,
p. 83), encontramos a referência a ambas as ortografias, para denominar a Coluna “B”,
3

a Coluna do Sul, à esquerda no Templo, sob o significado “ma force est em toi” ou:
“minha força está em ti” (GEOFFRAY D’A, 2007, p. 364).

Este é, enfim, o contexto histórico e linguístico da P∴ S∴, que, na abertura e no


encerramento das sessões da Oficina, é transmitida pelo Ven∴ Mestr∴ ao 1º Diác∴, que
a transmite ao 1º Vig∴, a fim de que o 2º Diác∴ a receba e, por sua vez, a transmita ao
2º Vig∴. Os Diáconos cumprem assim o seu dever de mensageiros do Venerável Mestre,
e, em seguida, após a confirmação feita pelo 2º Vigilante, se postarão junto ao altar dos
juramentos, para a formação do pálio (NEVES, 2012).

Evidentemente, o adjetivo “sagrado” não tem na Maçonaria um significado religioso, e


sim de “sagração”, ou “consagração”, ou, melhor ainda, “dignificação” (JUK, 2012).
Trata-se do reconhecimento de que esta palavra integra um dos segredos da Ordem,
além dos Sinais e dos Toques, para averiguar, no telhamento, a qualidade do maçom –
neste caso, do primeiro grau.

Por ser pertencente ao rito do Aprendiz, o obreiro no início da jornada de


aperfeiçoamento, ela é soletrada. Mesmo assim, ela especifica já o despojamento dos
títulos profanos, pois somente detém a palavra aquele que tiver apto a possuí-la, isto é,
aquele que já tiver sido passado regularmente pela cerimônia de iniciação.

Dentro do Rito Escocês Antigo e Aceito, a prática de transmissão pela circulação dos
Diáconos constitui, no início da sessão, a conferência da demarcação da obra, e, no
encerramento, para despedir os obreiros contentes e satisfeitos. Como já não é mais
uma verificação operativa, feita pelo nível e o prumo, pois a matéria prima não é mais a
pedra, e sim a alma humana, é a palavra que demonstrará que tudo está Justo e Perfeito,
tanto para iniciar, quanto para fechar a Loja. Por isso, os obreiros que pronunciam o
termo “Justo e Perfeito” são o Primeiro e o Segundo Vigilantes – aqueles que têm como
joias o nível e o prumo.

Muito obrigado, meus Ir.: !!!


4

BIBLIOGRAFIA

GEOFFRAY d’A. Grand Manuel de Franc-Maçonnerie. Editions Initiatis, 2007.

MEDEIROS, Antonio G. Boaz ou Booz? Estudos. Setembro de 2016. Link:


http://iblanchier3.blogspot.com/2016/09/boaz-ou-booz.html Acesso em 11/04/2019

JUK, Pedro. O significado da palavra sagrada. Estudos. Julho de 2017. Link:


http://iblanchier3.blogspot.com/2017/07/o-significado-da-palavra-sagrada.html
Acesso em 11/04/2019.

NEVES, Pedro. Maçonaria: transmissão da palavra sagrada. Arte Real – trabalhos


maçônicos. Novembro de 2012. Link:
https://focoartereal.blogspot.com/2012/11/maconaria-transmissao-da-palavra-
sagrada.html Acesso em 11/04/2019.

CARVALHO, William A. Discussões bíblicas: Booz ou Boaz? Pietre-stones Review of


Freemasonry. S/D. Link: http://www.freemasons-freemasonry.com/24carvalho.html
Acesso em 11/04/2019.

A ∴ D ∴ De Boaz à Moabon: planche de passage. L’Edifice. 02/2010. Link:


http://www.ledifice.net/7093-3.html Acesso em 11/04/2019.

ETUDE SYMBOLIQUE. Jakin et Boaz. May/2013. Link: http://symbolique-


eso.blogspot.com/2013/05/jakin-et-boaz.html Acesso em 11/04/2019.

HOMENS FUNDAMENTAIS. Boaz: um homem valente e temente a Deus. Estudos 01-02.


Dezembro de 2014. Link:
https://homensfundamentais.wordpress.com/2014/12/10/boaz-um-homem-valente-
e-temente-a-deus-estudo-nr-02/ Acesso em 11/04/2019.

Você também pode gostar