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CONGRESSO DE VIENA

1814

Guia traduzido e adaptado de

Harvard Model United Nations China 2013

por

Julio Veiga1

Bruna Moresco2

Giuseppe Bonato3

INTRODUÇÃO

O Congresso de Viena não ocorreu oficialmente como uma única reunião, mas durante
inúmeros encontros ao longo de nove meses. Nestes, ministros de diversas nações europeias da
época reuniram-se a fim de elaborar detalhes minuciosos das disputas na Europa do século XIX.
Reuniu representantes de mais de 200 Estados e grupos especiais que não representavam
nenhuma cidade ou Estado específicos. As questões discutidas ordenaram a delineação de uma
visão de longo prazo para um futuro que equilibrasse aspirações políticas de diferentes nações,
esculpindo e solidificando as fronteiras políticas da Europa do século XIX. Isso provou ser um
primeiro passo significativo para a criação de um fórum que buscasse a paz e que discutisse
inúmeras questões politicamente complexas. Como futuro participante do Congresso de Viena,
pense em si mesmo como responsável pela formação de uma parte significativa da história
europeia e do curso que esta história tomará até o presente.

Futuro ministro, a maneira como fará isso é de sua inteira responsabilidade. Assim, você
estará construindo não só argumentos para que sua nação reivindique certos territórios, como
também irá apoiar e refutar as reivindicações de outros, negociando acordos de garantias mútuas
com poderes concorrentes, boicotando negociações com alguns Estados, fazendo acordos
secretos, afirmando sua influência com ameaças e propondo todos os tipos de concessão
possíveis. O sucesso deste Congresso como agente pacificador para o continente depende
inteiramente de você. Tudo o que você deve fazer é representar a sua nação com o melhor de
suas habilidades. Mesmo que, por um lado, as questões pareçam bastante complexas,
encorajamos que vocês relaxem e foquem em, simplesmente, aproveitar o comitê da melhor
forma possível.
1
Estudante do 2º semestre de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
2
Estudante do 2º semestre de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do 2º
semestre de Letras – Língua Inglesa da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
3
Estudante do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA).
HISTÓRIA ANTERIOR AO COMITÊ

A DERROTA DE NAPOLEÃO:

O ano de 1814 viu o culminar de uma tendência na Europa: uma série de


derrotas militares para Napoleão, o que afrouxou seu controle na Europa e “afivelou”,
de vez, seu Império, levando a sua abdicação e eventual captura. A França foi, em
grande parte, debilitada pela derrota de Napoleão e, consequentemente, também perdeu
uma posição significativa entre as discussões políticas da época, embora, é claro, ainda
participasse delas. O outrora poderoso Grande Armée, exército de Napoleão I, havia
sido dizimado por batalhas contínuas e pelas forças do clima e da doença. As muitas
regiões da Europa que tinham previamente reconhecido Napoleão como soberano, seja
através de administração direta ou de uma rede de tratados sob seu Bloqueio
Continental, de repente tiveram que lidar com novas questões sobre a legitimidade de
suas lideranças, tendo em vista a ruína do império.

1. Mapa da Europa na época em que ocorriam as negociações do Congresso de Viena.


Um balanço de poder entre as cinco Grandes Potências da Europa (Grã-Bretanha,
Rússia, Prússia, Áustria, e França) foi uma consideração crucial no Congresso de Viena.
Com a queda de Napoleão, um vácuo de poder havia sido rompido na Europa –
disputas territoriais e reivindicações concorrentes de governantes ameaçavam mergulhar
o continente em guerra, método padrão para lidar com tais desentendimentos do
passado. Com tantas regiões em jogo e tantos atores disputando, uma guerra seria,
certamente, um desagradável e complicado desconcerto.

No entanto, até 1810, nada disso poderia ter sido previsto. Esse foi o ano em
que Wellington experimentou sucessos na península Ibérica com o seu pequeno
contingente de soldados britânicos, a única força continuamente em guerra com
Napoleão. Com a derrota da Áustria para o império francês em Austerlitz, no ano de
1805, da Prússia em Jena, no ano de 1806 e da Rússia em Friedland, no ano de 1807, a
Grã-Bretanha manteve-se como o único desafiante real ao domínio pretendido pela
França em toda Europa. No final dos anos 1790 e no início dos 1800, a marinha
britânica, com almirantes formidáveis como Horatio Nelson, já havia dominado,
completamente, Napoleão e toda a escolta francesa no mar, obtendo, no processo, o
controle total do oceano para si. No entanto, em termos de potencial humano puro, o
exército britânico não podia competir com a força que Napoleão era capaz de colocar,
consistentemente, em campo de batalha. O continente, portanto, era de domínio
Napoleônico, ainda que ele não pudesse controlar o mar ao seu redor. Ou melhor, até a
Guerra Peninsular na Península Ibérica começou a cobrar seu preço.

A natureza da terra em Portugal e Espanha dita a forma com que as guerras são
travadas na Península Ibérica. Devido a grande parte da região ser incapaz de fornecer
um grande excedente de alimentos, torna-se impossível a permanência de enormes
campos de exércitos na Península Ibérica sem que as tropas passem fome. Batalhas,
portanto, ocorriam em menor escala, e as táticas na área assemelhavam-se com guerras
por guerrilhas. Para a Grã-Bretanha, com seu potencial humano relativamente menor em
comparação ao da França, a Península Ibérica provou ser a base perfeita para seu
exército terrestre. Como eles não teriam que encarar sozinhos toda a força da muito
mais numerosa Grande Armée de Napoleão, considerou-se necessário dividir seu
contingente em vista das condições da região. O Duque Arthur Wellington, comandante
britânico dessas forças, foi acompanhado, em sua luta contra as forças de Napoleão, por
bandos de portugueses e de guerrilheiros espanhóis ao longo de toda Península Ibérica e
já em 1811 estavam experimentando sucessos contra um militar francês que não tinha
sofrido muitas derrotas até então. Em 1812, Portugal estava livre. A Espanha foi
libertada um ano mais tarde. Finalmente, as forças napoleônicas começaram a retornar à
França.

Enquanto isso, a França também enfrentava um desafio no leste. Em 1812,


Napoleão estava levando seu exército para a Rússia a fim de punir o czar Alexandre por
não seguir as regras impostas pelo Bloqueio Continental. O czar moveu seu exército
inteiro para o leste, longe de Napoleão, a tempo de executar sua política de “terra
arrasada” (índice 1). Em território russo, os homens de Napoleão encontraram aldeias
abandonadas, campos queimados, e, eventualmente, até uma Moscou arrasada. No
entanto, não encontraram um exército com quem lutar nem um czar para que pudessem
ensinar uma lição. Enquanto o verão dava lugar ao outono, e depois ao inverno, a
invasão provou ser um erro muito caro para Napoleão e seus homens, que estavam mal
equipados para lidar com o frio russo. Doença e fome surgiram, fazendo com que
Napoleão se visse forçado a fugir da Rússia, perseguido pelas forças de Alexandre, com
um exército de apenas um décimo dos originais 600 mil homens que ele havia
comandado na primavera de 1812.

2. Mapa da Europa em 1812, incluindo o império da França, Estados dependentes de


Napoleão, e Estados aliados ao imperador. Disponível em:
http://www.studenthandouts.com/Assortment-01/Gallery-Pages/02.03-Map-Europe-
1812.html

Enquanto as forças francesas desobstruíam as fronteiras russas, Alexandre


manteve seu exército logo atrás de Napoleão, forçando-o de volta a oeste ao longo do
caminho, de forma a libertar a Áustria e a Prússia do controle do imperador. O Ministro
de Relações Exteriores britânico, Viscount Castlereagh, na época, em 1813, elaborou a
Quarta Coalizão – Prússia, Áustria e Rússia lutavam com Napoleão no leste, enquanto a
Grã-Bretanha subia da Espanha em direção à França pelo sul. A derrota em Leipzig, na
“Batalha das Nações”, empurrou Napoleão de volta à França, onde as tropas britânicas,
sob o comando de Wellington, já estavam esperando no sul. Foi neste momento, com
parte da França já ocupada e cercada por exércitos inimigos, que Napoleão decidiu que
o único curso de ação possível era negociar os termos de uma rendição francesa e de seu
próprio isolamento na Ilha de Elba.
3. Antigo mapa da Europa de 1788, às vésperas da Revolução Francesa, após a Guerra
dos Sete Anos, a Primeira Partilha da Polônia, a conquista russa da Crimeia, e a perda
de Nápoles e da Sicília pelos Habsburgo.

A EUROPA DEPOIS DE NAPOLEÃO

Pode-se dizer que a Quarta Coalizão, responsável por quebrar a dominação de


Napoleão na Europa, relacionava-se com os sentimentos nacionais do período de tempo
em questão. Claramente, as potências da Europa não tinham nada contra a trabalhar em
conjunto por um objetivo de interesse comum. No entanto, a Quarta Coalizão, formada
por essas potências, foi a única que, finalmente, obteve sucesso. Apesar do fato de que
todos eles esperavam, no fim das contas, pela morte de Napoleão como soberano, a Grã-
Bretanha foi a única potência que realmente nunca se aliou a ele (índice 2).

Em outras palavras, as nações podem ser muito sensíveis e inconstantes naquilo


que querem. O objetivo de qualquer nação é pôr a si mesma na melhor posição possível
– não há alianças permanentes, não há fidelidade, só há estratégia e disputa pelo poder.
Cada uma das três primeiras coalizões terminou com separações, de forma que a quarta
se encaminhava para o mesmo fim, se as forças de Napoleão ainda não estivessem tão
enfraquecidas desde a desastrosa campanha no leste e não tivessem tido o esforço
perdido na Península Ibérica, que fez com que a derrota parecesse quase inevitável.
E assim, fiel à forma, tão logo foram eliminadas as ameaças de Napoleão, veio à
tona, em seguida, uma nova ameaça de instabilidade continental e caos, que
compreende o contexto em que nos encontramos hoje, no início do Congresso de Viena.
Vários Estados de diferentes dimensões guardam mágoas acerca das fronteiras que
deveriam ser redesenhadas em algumas regiões e os direitos de soberania que deveriam
se reconsiderados em outras. Um preliminar “Tratado de Chaumont”, que foi assinado
pelas potências participantes da Quarta Coalizão, servirá como um esboço para a
conferência de Viena: todas as quatro potências estão unidas contra a França por mais
20 anos, a Alemanha irá se conglomerar em uma espécie de confederação, a Suíça será
independente, a Itália será composta por diferentes Estados, a família Bourbon irá
governar a Espanha, o Príncipe de Orange irá presidir uma expansão Holandesa, e as
potências europeias considerarão criar uma novo e esperançoso “equilíbrio de poder”
sustentável (índice 3).

Também foi feito, em 30 de Maio, pelas potências da Europa, no chamado


“Tratado de Paris”, um acordo acerca do destino da França e de suas próprias terras. No
entanto, as muitas outras regiões livres do continente, pela primeira vez em anos, desde
o governo de Napoleão, estão ainda sujeitas a disputas não resolvidas. Ferozmente,
cuidando de seus próprios interesses nacionais, mas hesitantes em ir à guerra, os rivais,
que viraram aliados contra a ameaça de Napoleão, são oponentes mais uma vez, na
sequência de sua queda; mas, pelo menos, eles têm tido a visão de decidir que a
diplomacia pacífica seja, talvez, a melhor forma para resolver reivindicações que
competem na Europa. Estes tratados deram início à diplomacia pacífica que muitos
esperavam ver funcionando em todas as questões do continente. Tenha certeza, porém,
que há muitas questões que deixaram de ser negociadas. Como novos pactos são
negociados em Viena, pode ser mais útil pensar nos acordos anteriores como diretrizes
meramente flexíveis, com caprichos que precisam ser nivelados e disposições que
podem precisar de ajustes, considerando o fato de que, mais tarde, podem parecer
completamente irracionais.

Com estes sentimentos em mente, ministros de todos os vários Estados da


Europa desceram na capital dos Habsburgo no Danúbio, Viena, Áustria. Cada
representante pode estar, por conta própria, a lutar por seus interesses nacionais, mas,
ainda assim, todos eles têm uma coisa em comum: o futuro de seu Estado depende de
sua representação. Eles podem ser meros emissários, enviados por homens mais
poderosos, que ficaram para trás em seus países de origem, porém são eles que estarão
realizando as reais negociações, procedimentos e lutas diplomáticas, segundo o
interesse de seus povos.

Sob tal pressão, o foco deve ser intenso, por cada decisão tomada; pois, ainda
que se refira a duas nações geograficamente distantes, a decisão de uma, sempre afetará,
ainda que minimamente, o interesse da outra. Em Viena, a atenção deve ser dada a cada
questão – os delegados devem se antecipar, participando de longas e difíceis reuniões
com os colegas representantes. Bem, e, de vez em quando, talvez assistam a alguns
concertos. Afinal, o Imperador Francisco prometeu um espetáculo...
QUESTÕES RELEVANTES

A QUESTÃO FRANCESA

Dentre as preocupações que o Congresso deve ter, uma delas é, sem dúvida, a
situação presente e futura da França. Certamente, o tratado assinado em maio delineou
explicitamente o que viria a ser da França após a abdicação de Napoleão e a restauração
da antiga família governante no país, os Bourbon. De acordo com as cláusulas do
tratado, a França perdeu toda soberania sobre Malta, Suíça, Holanda, Alemanha e Itália,
retornando suas fronteiras para exatamente aquelas de 1792, com o centro do Reno
como fronteira oriental. A Grã-Bretanha recebeu Tobago, Santa Lúcia e Ilha de França,
enquanto a Espanha cedeu parte de Santo Domingo. Enquanto que partes da França que,
antes, poderiam ter sido consideradas fora de sua jurisdição, incluindo Avignon e
Montbéliard, foram anexadas (índice 4).

Embora essas decisões se provassem agradáveis no momento, algumas novas


manobras diplomáticas no Congresso podem exigir ajustes em alguns desses termos. E,
curiosamente, duas escolas de pensamento opostas, aqueles que pensam que os termos
do tratado eram demasiadamente brandos, e aqueles que os acham excessivamente
rigorosos, podem certamente elaborar casos convincentes em defesa de cada uma dessas
vertentes. Tradicionalmente, quando uma potência é derrotada em guerra, o seu
território é dividido, suas cidades ocupadas, seus cidadãos subjugados. De acordo com
esta teoria, se o seu inimigo vencido não é gravemente enfraquecido o suficiente, ele irá
ascender novamente e guerrear mais uma vez. A França Napoleônica, no entanto, não é
um inimigo vencido comum. Esta foi uma agressiva e belicista nação dominante que,
por cerca de uma década, havia dominado a Europa, não mostrando sinal algum de
retrocesso em seu processo de expansão. Napoleão foi um líder nos moldes clássicos:
constantemente, um comandante militar, seja em campanha para ganhar novas terras, ou
planejando uma nova campanha para tal. Agora que a França fora derrotada, deixá-la
retornar ao que era em 1792 parece ilógico, como se apenas estivessem “redefinindo o
tabuleiro de jogo da Europa” – por assim dizer. Tal determinação põe muita fé na ideia
de que era apenas a vontade de Napoleão, e não das pessoas em geral ainda vivas e bem
instaladas na França, para conquistar novas terras distantes e vastas. Seria tolice deixar a
porta aberta para outro Napoleão transformar a França numa nação de primeira classe,
mais uma vez uma potência agressiva, em detrimento das potências vitoriosas.

A situação na Europa no início dos anos 1800, no entanto, não é como épocas
anteriores da história. Uma nova filosofia política, predominante na Europa da época,
sugere que, ao invés de todas as nações existirem sob a clássica paranoia criada por
rivalidades, em que os concorrentes desejam nada mais do que a eliminação de seus
oponentes, todas as nações podem coexistir de melhor forma se trabalharem em
conjunto a fim de manter seus status atuais. Se cada nação possuir certas garantias de
tolerância para com os outros, então elas podem gastar menos tempo sendo
cautelosamente desconfiadas e suspeitando umas das outras, preocupadas com o fato de
que a qualquer momento um concorrente pode tentar tirar o seu território de domínio e
mais tempo trabalhando por questões de interesse nacional. Para que esse sistema
funcione, no entanto, todas as potências participantes devem estar, no mínimo,
satisfeitas com seu status de poder, não invejando o dos outros. Se uma potência não
está satisfeita, então ela certamente não concordará em fazer parte de um sistema em
que se procura manter o status quo; deve haver, portanto, no lugar, um equilíbrio para
todos os participantes, de tal forma que cada um esteja contente com sua posição em
relação às posições de todos os seus concorrentes.

Se a França fosse tratada como um inimigo vencido, com seus territórios sendo
divididos e removidos, sua riqueza sendo retirada e suas terras sendo poluídas na
derrota, jamais concordaria em fazer parte de um sistema internacional. Pode-se
argumentar que, tratando a França duramente, criar-se-ia, inevitavelmente, conflitos no
futuro, tendo em vista que uma nação amargurada acabará por lutar com os poderes
estabelecidos a fim de recuperar seu status compreendido entre as nações de elite do
continente. Se as nações europeias estão realmente interessadas na prevenção da guerra
futura e em assegurar suas fronteiras e posses, então a melhor opção poderia muito bem
ser um tratamento bastante justo em relação à França, talvez em troca de uma garantia
francesa para renunciar guerras de agressão.

Há outras razões para tratar a França de tal modo. Primeiramente, é válido


destacar que faz poucas décadas que o país enfrentou uma revolução violenta e
sangrenta que derrubou sua monarquia. E ainda, o Tratado de Paris restaurou a
monarquia Bourbon ao poder na França. O acoplamento deste ajuste com cláusulas de
reparação em um eventual acordo com a França derrotada pode fazer com que as classes
mais baixas, que vivenciam as consequências mais duras provocadas por essas
reparações, rebelem-se novamente e criem o caos. O agressivo Imperador Napoleão
emergiu como líder em um contexto turbulento como esse, e, portanto, as potências da
Europa certamente gostariam de evitar que um “novo” Napoleão emergisse como líder
da França novamente, o que poderia acontecer potencialmente com a existência de uma
subclasse rebelde.

Além disso, a partir da perspectiva de equilíbrio dos poderes, uma França


poderosa transparece o equilíbrio natural de uma Rússia também poderosa, bem como
de uma Áustria e uma Prússia expressivas, cada qual em sua esfera de poder; sendo que
uma França forte serve, ainda, como uma proteção contra a Grã-Bretanha, que talvez
busque anexação territorial sobre o continente no oeste. Finalmente, enquanto Napoleão
em seu auge era uma ameaça comum a Prússia, Áustria, Rússia e Grã-Bretanha, após
sua abdicação, a França passa a não ser mais rival de cada nação em particular do que
qualquer uma das outras potências são uma para outra.

Apesar do fato de que o Tratado de Paris não será reaberto diretamente para
discussão no comitê, deve notar-se que os tempos de mudança podem requerer ajustes
no que se refere à doutrina e que os documentos tornam-se obsoletos com o tempo.
Enquanto o Congresso se reúne em setembro, o Tratado acordado em maio é
completamente legítimo, mas como eventos seguem seu curso e ajustes no mapa e no
equilíbrio da Europa são feitos, é bem possível que os arranjos previamente acordados
tenham que ser revistos.
O DUCADO DE VARSÓVIA E A SAXÔNIA

Na medida em que se é possível isolar disputas sobre um território particular em


uma questão tão complicada quanto o Continente após a queda de Napoleão, pode-se
dizer que o estabelecimento de propriedade sobre os territórios da Saxônia e do Ducado
de Varsóvia (Polônia) é a mais importante questão a ser discutida no Congresso e que
deve, então, ser a primeira. A despeito de sua importância, entretanto, não é possível
considerar o destino destes territórios isoladamente - há muitos outros territórios
contestados e problemas que provavelmente devem ser parte de qualquer acordo
relativo ao destino da Saxônia e de Varsóvia. Um acordo que estabelece a questão da
Saxônia e da Polônia especificamente e menciona vagamente concessões a serem
determinadas mais tarde a potências insatisfeitas é o modo perfeito de se iniciar o
Congresso.

A Saxônia e a Polônia são de vital importância, pois os dois territórios ocupam


posições estratégicas no coração do Continente, entre a Rússia, Áustria, Prússia e
França. Apesar de a França recentemente ter sido um inimigo em comum das outras três
nações, seria um erro supor que, se a Saxônia e a Polônia se livraram do domínio
francês, as outras potências ficariam satisfeitas.

No mundo de 1814, a terra é um recurso incrivelmente valioso. Maior


quantidade de terra significa maior população e mais recursos naturais. Quanto mais
cidadãos a nação tiver, mais impostos ela pode recolher e maior o seu poderio militar
(índice 5). Não apenas isso, mas, com mais terras, a potência tem uma faixa de território
exterior maior - terra que pode atuar como uma área neutra entre o importante coração
de uma nação e um poder agressivo que deve cruzar um território maior para atingir e
invadir o centro da nação.

Enquanto isso, nem Prússia, Rússia ou Áustria discordam filosoficamente com


Napoleão e com a França. Ao invés disso, a França era seu inimigo comum porque, para
cada potência, a França de Napoleão era tanto a mais óbvia ameaça à sua soberania
nacional ou já havia subjugado seu governo à sua vontade. Derrotando a França, estes
não estavam expressando nenhuma hostilidade à nação, mas lidando com a mais óbvia
ameaça da única maneira que podiam e com a ajuda dos outros. Do mesmo modo, estes
supostos aliados não eram mais “amigos” do que um objetivo comum que faz duas
pessoas se aliar. Às vezes eles talvez fossem melhores trabalhando juntos, mas no final,
eles permaneceram como rivais naturais. O mesmo ocorre com a Saxônia e a Polônia -
estes territórios livres da dominação da França fazem da Áustria não melhor do que se
estivessem subitamente nas mãos da Prússia ou da Rússia ou vice-versa.

Após a invasão de Napoleão e sua subsequente derrota na Rússia, as tropas do


czar haviam perseguido o Imperador pelo oeste, libertando territórios da dominação da
França, incluindo o Ducado de Varsóvia. Com a derrota de Napoleão e a soberania de
inúmeros territórios como a de Varsóvia em questão, o czar conseguiu manter uma forte
presença militar na região da Polônia. Com isso, a pretensão da Rússia na questão da
Polônia é bem clara. A Prússia, enquanto isso, fez exigências quanto à Saxônia
antecipando a anexação da Polônia pela Rússia, como uma maneira de manter o
equilíbrio (índice 6). Compreensivelmente, Áustria e Grã-Bretanha opuseram-se à
afirmação de que esta medida resulta em um equilíbrio de poder ao invés de um
fortalecimento de dois rivais. É sua prerrogativa não permitir que isto aconteça, pois não
desejariam que algum acordo, que beneficiasse tão claramente seus rivais e que tornasse
suas posições vulneráveis, se estabelecesse.

E ainda, como estabelecer um acordo para esta questão? Insistir que Saxônia e
Polônia se mantivessem independentes é algo que a Prússia e a Rússia nunca
concordariam; apesar do fato de que eles sentem-se no direito de realizar saques por
fazerem parte da coalizão vencedora, não concordariam com territórios fracos e
independentes sendo estabelecidos por medo de que eles possam ser manipulados por
seus rivais e talvez usados como inimigos em uma potencial guerra futura. Enquanto
isso, porém, as outras potências não podem permitir que a Rússia e a Prússia
incorporem estes territórios por medo de que, fazendo isso, o novo fortalecimento das
potências possa perturbar o equilíbrio que agora existe com a queda de Napoleão. Onde
há um meio termo? Como pode a situação destes territórios ser gerenciada de um modo
que todos fiquem satisfeitos? Concessões devem ser feitas para evitar-se uma guerra,
mas talvez outras disputas sobre territórios podem se originar. A única certeza aqui é
que nada pode ser concluído pelo Congresso se a questão dos territórios da Saxônia e da
Polônia não for tratada primeiramente.

INTERESSES DAS GRANDES POTÊNCIAS

É verdade que o Congresso de Viena é um anfitrião de delegações de vários estados da


Europa, e que estes representantes podem ser geralmente classificados como dignitários e
cavalheiros, mas não é possível dizer que as delegações estavam em uma condição de equilíbrio
nas negociações. A realidade é que certas nações eram mais influentes do que as outras, embora
seja possível dizer que todas tiveram uma ampla participação no resultado do Congresso.

Prússia, Áustria, Grã-Bretanha, Rússia e França (até certo ponto) exerceram uma maior
influência na Europa em decorrência do tamanho do seu território, população e poderio militar.
Logo, as negociações em Viena devem girar em torno destas nações. Porém, isto não quer dizer
que outras nações menos poderosas estejam impedidas de negociar, e sim que estas não
poderiam sustentar posições não razoáveis nas negociações, pois, se as nações mais poderosas
não concordarem com alguma posição de outra menos poderosa, esta será vencida.

Porém, se uma nação menos poderosa obtiver apoio de outras com maior influência, é
possível o surgimento de negociações interessantes. A questão é que o Congresso vai
necessariamente focar nas discussões das nações mais poderosas que estiverem presente. Além
disso, concessões a nações menos poderosas devem ter a aprovação das mais poderosas, mas o
inverso não precisa necessariamente ocorrer.

Estabelecida a noção da relação entre as nações mais e menos poderosas, é necessário


conhecer os objetivos das nações mais influentes. Muitos destes objetivos certamente serão
discutidos após, ou até durante, as negociações referentes à Saxônia e à Polônia.
GRÃ-BRETANHA

A Grã-Bretanha, maior potência naval do mundo e dona de vastos impérios, é


representada em Viena pelo Lorde Castlereagh. Obcecada pelo conceito de “equilíbrio
do poder”, acredita que o Congresso pode atingir este desejado equilíbrio - a
manutenção do status quo na Europa permite que o Império resolva todas as questões
que o incomodam no resto do mundo - incluindo talvez uma guerra contra uma ex-
colônia, ou grupos de ex-colônias, em um período de grande rebelião (índice 7).

Em muitos aspectos, a nação britânica está preocupada com a aproximação de


outras potências, incluindo seu inimigo de longa data, a França. Durante as guerras com
Napoleão, a Grã-Bretanha anexou a Irlanda simplesmente para evitar que Napoleão
instalasse tropas nesta região para uma invasão. Com a queda do Imperador, a Grã-
Bretanha deseja assegurar que a Bélgica continue livre da dominação francesa por medo
de que o porto de Antuérpia se tornasse uma base perfeita para uma invasão do outro
lado da estreita faixa de água que a divide do continente.

Uma Espanha e Portugal independentes talvez façam mais para controlar a


França, ao reconhecer que existem nações rivais e livres ao sul. A existência de um
centro de poder entre a França e a Rússia é outra chave para a manutenção do equilíbrio
na Europa. Portanto, a Grã-Bretanha apoiaria que a Prússia recebesse territórios e que a
Áustria obtivesse sucesso nas suas reivindicações no norte da Itália (índice 8). Porém,
ainda segundo o conceito de “equilíbrio do poder”, a Grã-Bretanha não apoiaria que
Prússia e Áustria recebam mais do que ganhos moderados.

Talvez a Grã-Bretanha possa também apoiar a formação de um conglomerado


de Estados germânicos, que seria muito mais capaz de pressionar as potências vizinhas
Prússia, França, Áustria e Rússia do que qualquer um dos mais de 300 estados
germânicos soberanos atuando sozinhos. Como uma grande potência naval com uma
classe mercantil dominante, a Grã-Bretanha está sempre interessada em ganhar novos
mercados estrangeiros para os produtos que produz e comercializa. Além disso, tem
interesse em proibir o comércio de escravos (índice 9).

RÚSSIA

Rússia tem uma posição interessante: atuando como libertadora da Europa


oriental na derrota das forças de Napoleão, seu poder militar foi mobilizado de tal
maneira que agora possui uma expressiva presença na Polônia, território que claramente
deseja anexar, e na Saxônia (índice 10). Uma tão expressiva anexação é considerada
uma grande ameaça pela Grã-Bretanha, Áustria e por outras nações da Europa,
preocupadas no quão longe o Oeste poderia ir (índice 11).

A Rússia não está interessada no equilíbrio de poderes da mesma maneira que a


Grã-Bretanha, a despeito do idealismo do czar Alexandre sobre coligações e ligas
europeias de segurança (índice 12). Rússia havia ido além do seu dever em 1813 quando
enfrentou as tropas Napoleão, atuando como libertadora de outras nações do domínio
francês. Além disso, o czar é claramente tudo para o sistema do Congresso, ainda que a
Rússia não tenha se estabelecido plenamente como uma potência.
A crença no equilíbrio de poderes poderia sugerir que o czar estava contente
com a posição de sua nação, mas isto claramente não procede, mesmo que ele aprovasse
uma discussão diplomática ao invés de uma guerra. Além disso, tal crença quase sugere
certa fraqueza por parte da nação, como se esta estivesse preocupada com a sua posição
relativa a outras nações europeias e que não acreditasse que seu status poderia avançar.
A Rússia, enquanto isso, possui uma população só comparada à da França, nação que
recentemente havia sido derrotada. Claramente há uma oportunidade para a Rússia
estabelecer-se firmemente como uma força dominante na Europa (índice 13), sendo que
uma política de status quo não seria a mais adequada.

A Rússia também tem interesses na região da Finlândia, que já havia ocupado,


mas sem o reconhecimento da comunidade internacional, e de suas fronteiras ao sul,
como Bessarábia, perto de seu parceiro comercial, Turquia (índice 14). É importante
também o fato de que o czar Alexandre é um grande defensor da Igreja Ortodoxa
Oriental.

ÁUSTRIA

Com o crescente poder da Rússia ao Leste e da Prússia ao Norte, Metternich e


Áustria sentem-se vulneráveis. No Congresso, seu objetivo é assegurar o futuro da
nação contra potenciais ataques, preocupando-se com o potencial da Rússia em
substituir a França. Isto não significa, entretanto, que a Áustria deseja equilibrar o poder
da Rússia tornando a Prússia mais poderosa (índice 15). A Casa de Habsburgo possui
algumas reivindicações em partes da Holanda que historicamente pertenciam à família
anterior à fase de Napoleão, apesar de parecer estranho, para uma Áustria preocupada, o
interesse em um território tão longe de suas fronteiras e que seria vulnerável de em caso
de guerra.

Enquanto isso, a Áustria tem motivos para tentar anexar territórios dos Estados
germânicos não unificados e do norte da Itália, especialmente os estados de Lombardia
e Veneza, principalmente se os rivais Prússia e Rússia obtiverem consideráveis ganhos
territoriais. Outra possibilidade para o Império Austríaco é expandir seu território para
os Bálcãs, ao longo da costa da Dalmácia (índice 16). É difícil imaginar como o ganho
de novos territórios faria a Áustria sentir-se segura de um ataque, mas, apesar disso, este
é seu principal objetivo no Congresso.

PRÚSSIA

O principal objetivo da Prússia no Congresso pode ser resumido brevemente:


eles desprezam a França e gostariam de vê-la sendo tratada muito duramente pelas
outras potências. Também querem mais terras, pois seriam zonas neutras entre seu
território e o de outras nações agressivas, como Áustria, Rússia e França, apesar de que,
se eles puderem, não querem que a França tenha o potencial de se tornar agressiva no
futuro. Embora a Saxônia seja o principal território que Prússia objetiva anexar, está, na
realidade, interessada em todos os territórios germânicos fronteiriços. A reintegração de
suas fronteiras, por volta de 1806, antes de sua derrota para Napoleão satisfaria sua
vontade (índice 17). Evidentemente, a Prússia não se importaria de ganhar algum
território na fronteira despojado pela França, sendo uma expansão para Leste em
direção à Polônia também uma possibilidade (índice 18). Por último, os principais
objetivos da Prússia são ganhar terra e população, procurando liderar outros Estados
germânicos.

FRANÇA

A França foi há pouco derrotada, mas há motivos para que seja considerada uma
grande potência na Europa. Primeiramente, com a abdicação de Napoleão, a família
Bourbon mais uma vez ganhou o controle de toda a nação, ou seja, líderes que não
faziam parte da expansão agressiva de Napoleão agora estão no poder. Isto não seria
importante, a não ser pelo fato de que, na visão da poderosa Grã-Bretanha sobre o
equilíbrio de poder, uma França forte é de significativa relevância. Com uma grande
população e, consequentemente, um grande exército, a França equilibra muito bem a
Rússia no leste e ainda mantém uma Prússia expansionista sob controle (índice 19).
Além disso, com a memória da Revolução Francesa ainda presente e forte na
mentalidade das pessoas, a comunidade internacional está bem alerta com relação ao
que a França pode representar caso sua grande população fique descontente. Manter a
população satisfeita ao não exigir demandas extremas para a nação derrotada e apoiar
sua nova e aparentemente anti-napoleônica liderança poderia trazer estabilidade à
Europa.

Portanto, embora o Tratado de Paris deva ser respeitado, é evidente que com o
mapa da Europa se modificando, com territórios sendo trocados de uma potência para a
outra, ou se livrando do domínio estrangeiro, ou formando conglomerados, um
Congresso que realmente dedica-se para resolver a questão da Europa de maneira
pacífica não hesitaria em rever e discutir algumas cláusulas do tratado se isto fosse
considerado necessário. É o dever do representante da França no Congresso, Talleyrand,
mostrar aos outros representantes a necessidade destas negociações.

INTERESSES DAS POTÊNCIAS MENORES

Talvez um tanto quanto negligenciados e definitivamente sem os mesmos


recursos à sua disposição, delegados de potências menores foram mesmo assim
altamente influentes na determinação de diversas cláusulas do Congresso de Viena. É
verdade que os representantes dessas nações sabem que não podem simplesmente ir a
Viena e exigir retribuições e territórios, porque não possuem a riqueza ou os exércitos
para defender suas reivindicações como as grandes potências. Contudo, enquanto as
principais potências já citadas tentam impor suas ideias, é possível para esses delegados
manipular os processos dos bastidores, oferecendo a uma potência maior o seu apoio em
troca de outros favores. Talvez, essas nações precisem ser um pouco mais discretas no
que condiz com terem o que desejam, mas se forem diplomáticas o suficiente, não há
dúvidas de que sairão de Viena com resultados positivos.

DINAMARCA

A Dinamarca talvez não esteja na melhor das condições na conferência pelo fato
de ter sido aliada de Napoleão por tantos anos (índice 20). Portanto, a França não se
importaria em adquirir direitos na região, mas tal resultado parece improvável, dados a
posição francesa após a derrota de Napoleão e o fato de a Dinamarca ser capaz de se
governar sozinha. A questão talvez seja se a nação deve ou não ser punida por sua
aliança com o Imperador. Alguns podem também questionar o controle do vasto
território da Noruega ao norte (índice 21).

No entanto, à luz do argumento de balanço de poderes, uma moderadamente


forte Dinamarca pode ser desejada na Europa como modo de barrar a Prússia ao norte.
Assim, a Dinamarca está interessada em ganhar territórios no norte da região germânica,
principalmente pertos da Prússia, próximos a Hannover. Tem seus olhos principalmente
em Lauenberg. Também lhe pode interessar a Ilha de Rugen, atualmente sob controle
sueco²². Os territórios de Schleswig e Holstein lhe dão influência germânica, o que pode
lhe dar reivindicações em algum tipo de aliança germânica que possa se formar no
Congresso, ou, até mesmo, direito à anexação de mais territórios. A Dinamarca,
enquanto isso, é o único Estado europeu, além da Grã-Bretanha, a já ter banido a
escravidão em 1814²³.

ESTADOS PONTIFÍCIOS

É do desejo do Papado ver o retorno dos Estados Pontifícios ao tamanho


anterior à expansão e dominação napoleônica. Isso significa que gostaria de ver o
retorno do território de Avignon, no sul da França, para onde o papa uma vez fora
obrigado a fugir e onde os Estados ainda teriam reivindicações. O Papado não é mais a
força que já foi, mas, claro, ainda permanece uma instituição merecedora de respeito,
especialmente das nações católicas, mas também de qualquer uma que respeite esse
importante pilar de fé para tantas pessoas.

Talvez interessado também em ganhar novas garantias quanto à comitiva de


guardas suíços para a proteção da Cidade do Vaticano, o Papado está preocupado com a
expansão da Igreja Ortodoxa no continente europeu, a religião do czar que se preocupa
em forjar a “Santa Aliança” (índice 24). Além disso, o Papado iria desaprovar qualquer
eventual união dos Estados italianos adjacentes a seu território ou o ganho de poder de
qualquer outro estado italiano pelo medo de ameaça às suas posses.

PIEMONTE E SARDENHA

O Reino de Piemonte e Sardenha tem muito a ganhar com a queda de Napoleão.


A região no nordeste italiano e a ilha estiveram sobre controle francês por mais de uma
década até então, e a família real tem tudo para ser restituída com a abdicação do
Imperador. Mais importante, porém, é a oportunidade do Rei não só de reaver seu trono,
mas também de expandir seu poder. Sob a perspectiva de “balanço de poder”, as
maiores potências podem achar razoável ouvir às reivindicações de mais territórios,
tanto no sudeste da França quanto no norte da Itália, feitas por Piemonte e Sardenha
com a justificativa de que um reino forte agiria como obstáculo à expansão francesa no
Mediterrâneo (índice 25). Assim, as regiões de Savoia e Gênova estão certamente sob
seus olhos.

PORTUGAL

Portugal se provou participativo na derrota de Napoleão, com forças alinhadas


às de Wellington e Grã-Bretanha durante a Guerra Peninsular, quando a França
começou a experimentar as primeiras derrotas no continente. Portugal, por
consequência, teve presença oficial no Tratado de Paris em maio de 1814 (índice 26).
Séculos de declínio desde sua posição como potência colonial no século XVI, porém,
deixaram Portugal um tanto enfraquecido, mas talvez, devido à sua participação na
vitória aliada, possa reconquistar uma posição alta na comunidade europeia, muito além
se somente sair do mandato francês.

Particularmente, a região de Olivença na fronteira ocidental da Espanha é


buscada a retornar a Portugal. Quanto à Espanha, existe uma clara preocupação de que a
monarquia espanhola tente agora provar seu poder através de um avanço para Oeste
num ataque a Portugal, em uma tentativa de conquistá-lo. Talvez garantir assistência de
outras nações contra uma eventual tentativa de expansão espanhola deva ser
considerado pelo ministro de Portugal.

ESPANHA

A Espanha foi uma nação participativa na derrota de Napoleão e, tendo visto se


afundar como potência na Europa durante os últimos séculos, pode ver no Congresso
uma chance de se reafirmar como potência. A derrota da França no norte pode oferecer
uma oportunidade de ganhar novos territórios ou influência, apesar de os Prinieus
fornecerem uma formidável barreira física a qualquer tentativa de união de território.

Incidentalmente, com a restauração dos Bourbon na França, as famílias reais


dos dois países agora são a mesma e com relações bem próximas. Obviamente, as
potências do Congresso se preocupam com a potencial união entre os novos regimes na
França e na Espanha, sendo que tais preocupações talvez possam ser usadas a favor da
Espanha (índice 27).

A Oeste, encontra-se uma nação em declínio similar: Portugal. Entretanto,


também foi participativa na Guerra Peninsular que, de maneira discutível, levou à
derrota de Napoleão. Portugal está reclamando o território de Olivenza, atual possessão
espanhola, mas com laços portugueses. Na Itália, certos Estados passaram para o
controle e influência da monarquia espanhola. Com o caos de uma Europa pós-
napoleônica, talvez seja agora a hora de reclamar alguns desses Estados italianos
periféricos. E, diferentemente de outras potências menores presentes, a Espanha
definitivamente possui um exército organizado. Como nação, pode estar com uma boa
posição para ganhar com o Congresso. Contudo, isto deve estar balanceado com a
preocupação das potências influentes com o potencial da Espanha de se tornar forte
demais.

SUÉCIA

A Suécia, juntamente com Portugal e Espanha, foi uma das potências menores a
se unir com alguma Coalizão na derrota de Napoleão, além de ter assinado o Tratado de
Paris. Dessa forma, é claro que a Suécia espera benefícios por sua participação. Em uma
recente guerra contra a Rússia, acabou perdendo o território com a Finlândia, mas talvez
este possa ser reconquistado se outras concessões referentes à Rússia forem apoiadas
(índice 28). Entretanto, com a Rússia como uma dominante e perigosa potência neste
ponto, as chances podem ser pequenas. Olhando para Oeste, a Noruega, território que
está sob controle dinamarquês, pode se mostrar mais prudente para a Suécia (índice 21).
Na costa báltica alemã, a Pomerânia é uma região que fora tomada por Napoleão, mas
que previamente esteve sobre controle sueco. Esse território está sob olhares da Prússia,
então a Suécia deve considerar o quanto vale reclamar esse pedaço de terra. Antes de
expressar suas pretensões no Congresso, esta nação precisa decidir se prefere uma
Prússia ou uma Rússia mais forte, ou nenhuma. Em outras palavras, se o ganho de
territórios é mais importante do que a limitação da Prússia e da Rússia em seus
interesses expansionistas é uma questão crítica a ser discutida.

SUÍÇA

A Suíça gostaria acima de tudo de ser reconhecida como nação independente


cuja neutralidade é conhecida e inquestionável (índice 29). Claro, tais demandas são
sempre fáceis de se garantir em tempos de paz e tendem a ser esquecidas durante
tempos de guerra. O que a Suíça pode conquistar para melhor garantir essas medidas?
Deveria buscar uma “barreira” de territórios franceses e alemães em sua volta? Apoiar o
Papado pode ser benéfico? Talvez outras nações possam apoiá-la se souberem que a
Suíça é definitivamente neutra. Curiosamente, a Suíça pode ter algumas reivindicações
na região germânica. Finalmente, a Suíça não é a favor nem de uma França forte a Oeste
ou de uma Áustria forte a Leste.

INTERESSES DO RESTO DA EUROPA

Para Estados não representados oficialmente neste Congresso, existem algumas


preocupações de interesses nacionais que precisam ser representados. Se Viena realmente
provar ser uma reorganização massiva da Europa e se as potências se julgarem merecedoras de
fazer decisões soberanas por todos os Estados do continente, sabendo que poderiam impor pela
força a sua vontade a qualquer se a diplomacia não for viável, então preocupações dos Estados
não representados diretamente devem ser também consideradas.

Existe a notável questão da Alemanha, ou Sacro Império Romano Germânico, agora


com mais de 300 Estados reconhecidos diferentes reconhecidos ao invés de uma nação
unificada. Certas potências têm reivindicações a várias regiões, mas, no geral, nenhuma tem
como legitimar o direito de dividir a Alemanha como bem entender. Todas as potências, porém,
claramente condenam a organização dos territórios alemães, uma vez que uma Alemanha
unificada poderia se mostrar muito forte. O mapa da Alemanha deve certamente ser examinado
atentamente, assim como os interesses e influências prussianas e austríacas nesses Estados.

Similarmente, Estados italianos como o Ducado de Módena e o Grão-Ducado da


Toscana devem ser levados em conta. O que deveria ser feito com os territórios reclamados pela
esposa de Napoleão, Maria Luísa, de lealdade duvidosa ao Imperador e reivindicações dos
Ducados de Parma, Piacenza e Guastalla. Ademais, o rei de Nápoles, Murat, visa o Reino da
Sicília, mas ele não é um exemplo de governante no poder agora devido ao anterior apoio a
Napoleão? E quanto aos territórios fora da Europa? As colônias de outras potências além da
França – elas serão parte das mudanças territoriais enquanto a Europa é reorganizada pelo
Congresso? E quanto ao Congresso? A via diplomática se prova o suficiente para resolver os
problemas do continente? O Congresso de Viena é, de fato, um experimento para provar qual
sistema permanente para resolver problemas políticos se mostra sustentável na Europa e criar
mudanças duradouras. As consequências e resoluções do Congresso podem alcançar o que
delegados desejarem, seja tornar uma reunião bem-sucedida onde o continente da Europa será
cordialmente dividido e distribuído para o bem maior, ou deixar constantes discussões sem
relevância dissolverem a promessa do bem-estar e diplomacia.
CONSIIDERAÇÕES FINAIS

Para o melhor andamento possível do comitê, você deve abraçar sua nação e entender a
perspectiva e a agenda que ela trará para a conferência. É importante que você compreenda que,
apesar de haver certas potências que claramente terão a vantagem de poder exercer mais
influência nas discussões em Viena, isto não significa que qualquer representação é menos
importante que outra. Todos serão igualmente cobrados a representar os melhores interesses de
suas nações. Seu objetivo não é sair de Viena representando a nação mais poderosa – você é um
diplomata, um negociador e um realista, não um sonhador. Antes, cada um de vocês é
responsável pela tarefa de assegurar que o futuro da sua nação seja melhor depois do que antes
do Congresso. Por último, seu sucesso será medido por quão bem você usa suas manobras
diplomáticas para elevar a posição de seu país dados os recursos que você tem disponível. Desse
modo, todos vêm a Viena com o mesmo nível. Aprimorar a posição do seu país é o único
objetivo e pode ser atingido das mais variadas maneiras – não hesite em ser criativo.

Com esse pensamento, todos devem apresentar um documento sobre seu país, incluindo
suas pretensões e como você pretende cumpri-las. Conte detalhes específicos da sua posição nas
questões da França e da Saxônia/Polônia e como elas afetam os interesses de seu país. Pense
sobre questões como se você apoiaria a criação de “esferas de influência diplomáticas”.
Entretanto, podendo ser indireto ou bem direto, todo acordo territorial no Congresso de Viena
afeta a sua nação. Você deve ser aplicado na conquista dos objetivos de seu país e perceber que
até mesmo regiões que pareçam importar países remotos e sem importância irão afetar sua
própria nação quando aquele país decidir na soberania ou posição em alguma questão. Assim,
você deve demonstrar que entende como seu país pode ser indiretamente influenciado em
maneiras indiretas, mas significantes, ao explicar sua posição nacional na resolução entre dois
países aparentemente não relacionados e por que tal acordo lhe beneficia.

PRINCIPAIS QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS

1. Como as guerras Napoleônicas afetam seu país?


2. Seu país fez parte de alguma das coalizões?
3. Quais decisões você está preparado para tomar, e quais você não está preparado? Essa
questão pode estar relacionada a suas próprias reivindicações ou a objeções de outros
países para ganhar/perder territórios.
4. Como você, na posição de representante de sua nação, visualiza o futuro de seu país e
da Europa?
5. Quem representa a maior ameaça à sua visão? Como você negociará diante de tal
ameaça? Em outras palavras, o que você tem a ganhar e o que você tem a perder na
conferência?
6. Quem são seus aliados mais próximos? Como eles poderiam ajudá-lo na conferência?

NOTAS FINAIS

1 Pg. 12. Chapman, Tim. The Congress of Vienna: Origins, Processes and Results.
London, Routledge, 1998.

2 Pg. 13.

3 Pg. 30.
4 Pg. 99-100. Nicolson, Harold. The Congress of Vienna: A Study in Allied Unity
1812-22. London: Castle, Ltd.,

1946.

5 Pg 16. Chapman, Tim. The Congress of Vienna: Origins, Processes and Results.
London: Routledge, 1998.

6 Pg. 119-20. Dallas, Gregor. The Final Act: The Roads to Waterloo. New York: Henry
Holt and Company, Inc.,

1996.

7 Pg. 16-7. Chapman, Tim. The Congress of Vienna: Origins, Processes and Results.
London: Routledge, 1998.

8 Pg. 17.

9 Pg. 51-2.

10 Pg. 117. Nicolson, Harold. The Congress of Vienna: A Study in Allied Unity 1812-
22. London: Castle, Ltd.,

1946.

11 Pg. 43.

12 Pg. 46. Dallas, Gregor. The Final Act: The Roads to Waterloo. New York: Henry
Holt and Company, Inc.,

1996.

13 Pg. 18. Chapman, Tim. The Congress of Vienna: Origins, Processes and Results.
London: Routledge, 1998.

14 Pg. 44.

15 Pg. 17-8.

16 Pg. 45-8.

17 Pg. 24-5.

18 Pg. 50.

19 Pg. 18.

20 Pg. 11.

21 O Tratado de Kiel será desconsiderado neste Congresso

22 Pg. 28. Sked, Alan. Europe’s Balance of Power: 1815-1848. London: The Macmillan
Press Ltd., 1979.
23 Pg. 72. Dallas, Gregor. The Final Act: The Roads to Waterloo. New York: Henry
Holt and Company, Inc.,

1996.

24 Pg. 4. Sked, Alan. Europe’s Balance of Power: 1815-1848. London: The Macmillan
Press Company, Inc., 1996.

25 Pg. 39. Kissinger, Henry A. A World Restored: Metternich, Castlereagh and the
Problems of Peace 1812-22.

Boston: Houghton Mifflin Co., 1973.

26 Pg. 14. Sked, Alan. Europe’s Balance of Power: 1815-1848. London: The Macmillan
Press Company, Inc.,

1996.

27 Pg. 210. Nicolson, Harold. The Congress of Vienna: A Study in Allied Unity 1812-
22. London: Castle, Ltd.,

1946.

28 Pg. 44. Chapman, Tim. The Congress of Vienna: Origins, Processes and Results.
London: Routledge, 1998.

29 Pg. 29

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