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EDITOR:
Marcos Marcionilo
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CONSELHO EDITORIAL3
Ana Stahl Zilles [Unisinos]
Angela Paiva Dionisio [UFPE]
Carlos Alberto Faraco [UFPR]
Egon de Oliveira Rangel [PUC-SP]
Gilvan Müller de Ol¡veira [UFSC, lpol]
Henrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela]
Kanavillil Rajagopalan tUNICAMPI
Marcos Bagno [UnB]
Maria Marta Pereira Scherre [UFES]
Rachel Gazolla de Andrade tPUC-5Pl
Roberto Mulinacci [Universidade de Bolonha]
Roxane Rojo IUNICAMPI
Salma Tannus Muchail tPUC-SPI
Sírio Possenti tUNICAMPI
Stella Maris Bortoni-Ricardo [UnB]
r Capít 1&
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re:g:i.
lidar com estas questões. Segue-se também que iniciar a pesquisa apenas
observando as palavras em textos em plataformas específicas não é sufi-
ciente para informar uma compreensão do que a escrita online significa
na vida das pessoas. Em vista disso, surgiu a pesquisa sobre letramentos
'Ç,*--^,,^.,.-
das práticáa C'otidianas
eIgmPlq' ILo*eLøL-20tO- este as práticas como unidade
básica de análise. Os pesquisadores também consideram como a peda-
gogia p levar em conta as
Seguindo uma
mentos de 9¡til9 mais gtnoErifico-ao
pesqu_isa_1 de_talles
.daq p1áligaq cot¡{r*qlrel {igitafs das pessoas- Davies
e Merchant (2007), por exemplo, analisam blogs acadêmicos como uma
prática social. Eles adotam uma abordagem autoetnográft.ca na pesquisa
sobre as práticas de letramento de suas próprias atividades nos åtogs. (Cf.
Anderson, 2006, para uma explicação sobre esta abordagem na pesquisa
em ciências sociais, que também foi usada em Barton, 2077b.) Tal abor-
dagem também lhes permite realçar as vantagens da realização de pes-
quisas por um sujeito participante. Em particular, seu conhecimênto em
primeira mão das atividades emblogs não só lhes permitiu coletar dados
ricos sobre o que realmente acontece em blogs, como também levantou
questões sobre a etnografia como método de pesquisa online, tais como
os benefícios de realizar pesquisas autoetnográficas online e a relação
dos adores com a cultur-a digital que está sendo pesquisada;
se descreveu no capítulo l, nossa investigação sobre a
linguagem online se concentra em práticas de produção de texto, "as for-
mas pelas quais as pessoas escolhem e transformam recursos para re- j
presentar significados sob a forma de textos para diferentes fins" (Le9'
2007 c: 289).,CómpieénderãfprãîiðälTè produção'dëIêietõ"önf¿ñã nãò im-
aperias analisar características estruturais da língua, mas também
observar modos particulares de criação e utilização de textos e passar
a investigar o como e o porquê da produção de textos pela observação
de detalhes da vida dos participantes. Percepções, sentimentos e valo-
res das pessoas também são levados em consideração nessa construção
teórica. Em suma, a essência das práticas de produção de texto é estu-
dar textos em termos do que as pessoas fazem com eles. Como ponto de
partida diferente, uma abordagem baseada em práticas também pode
começar com a vida cotidiana das pessoas fora da tela. Isto constitui
uma maneira de examinar como as tecnologias transformaram essas
práticas já existentes.
22O L¡nguagem ontine: textos epráticas
dtgita¡s
cApfruLo 12 - A pesqulsa da llnguagem online 22f;::
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p Com esses enguadramentos conceituais em mente, argumentamos s-ua.pscrita online, não perceberÍamos a dinâmica
i da linguagem online.
que textos e práticas são inseparáveis quando se pesquisa a linguagem Pela lente das práticas de produção textual,
também somos capazes de
onlíne' No entanto, como temos enfatizado ao longo do livro, não vemos entender a linguagem onlíne na perspectiva
do usuário. Conectar tra_
a linguagem simplesmente como um conjunto d.e caracterÍsticas estru- dições de análise linguística com investigação
baseada na prática re-
turais, tampouco ela é apenas um modo de representação do discurso quer uma nova estrutura metodorógica
e a reformuração dos métodos
digital ao lado de outros modos. A linguagem online também é uma prá- tradicionais em resposta às mudanças nas virtualidades
das novas mí_
tica social situada. Diferentes maneiras d.e usar a linguagem servem a dias. Uma abordagem com métod.os mistos
é a preferida, pois não há um
uma variedade de funções discursivas em diferentes contextos sociais, único método que possa ser empregado para
resolver todas as questões
levando a diferentes significados ilocucionários que se pretende parâ o relativas aos textos e às práticas em torno
que é dito. As maneiras de aplicar recursos linguísticos são moldadas
deles. pr..ir"*o,
Às u"""r,
combinar métodos quantitativos.e qua¿¡Mivss;
em outros momentos,
por vários fatores situados nas vivências cotid.ianas do uso da lingua- transitamos entre métod.os face a face e métodos
onlíne. É importan-
gem e além. A esse respeito, nem a linguagem nem a prática devem ser te ser explícito sobre os métodos e instrumentos
de investigaçãopara
vistas como o único ponto de partida. Em vez disso, esses métodos vão e apresentar e discutir questões e desafios presentes
na pesquisa online
voltam entre dados linguísticos e dados de práticas Ao obser- de forma mais geral.
var as palavras num site, algo sobre a
vida dos produtores do texto: de onde eles são, o que fazem para ganhar
O estudo das MI
a vida, seus interesses e hobbies, seu repertório linguístico em situações
onlíne e offiíne, e assim por diante. Com o Flickr, por exemplo, o ato de O objetivo geral do projeto de MI era entender
como os jovens em
olhar os perfis das pessoas e a lingua usada em vários espaços de escrita Hong Kong dispunham de seus recursos
multimodais, multilÍngues e de
pode revelar muitas coisas sobre as identidades linguÍsticas e culturais múltiplos sistemas d.e escrita ao participar
do apricativo de MI. o objeti-
que elas estão apresentando. Esta combinação de análise dos discursos vo geral do estudo era compreender a natureza
situada do uso da rÍngua
online e das práticas das pessoas também é capturada pela etnografia nas MI, o gue exigiu, de modo geral, gJqlaaborOasem:de
r? estudo de caso
online centrada no discurso, feita porAndroutsopoulos (200g). .. \.'
" qualitativa e múltipla. os dados foram coretados
de um grupo de 19 jo-
r.r. vens em Hong Kong, entre z0 e 2g anos.
vale notar q,r" * dudos foram
coletados entre 2006 e 2007, e os métodos
Abordagem com métodos m¡stos adotados ã*p."grrr* o qu.
estava disponível naquela época. procurar
informantes parã este estudo
Ao longo do livro, vários estudos que realizamos foram citados como não foi tarefa fácil, dada a guantidade
de comunicação pessoal e privada
exemplos para ilustrar questões relacionadas com a linguagem online. presente em MI. Novos informantes
apareceram em diferentes momen-
Nesta seção, fornecemos descrições detalhadas dos métodos de coleta de tos. Alguns começaram a participar num
estágio muito inicial, enguan-
dados adotados em três dos projetos de pesquisa envolvend.o d.iferentes to alguns foram identificados posteriormente por
meio de informantes
formas de novas mídias online. os três estudos em questão são o estudo existentes, uma abordagem chamada de ..bola
de neve,,.
das práticas de produção de texto nas
l4I, a pesquisa sobre as práticas Dois pontos são dignos de nota em relação
à estrutura de pesquisa
multilíngues no Flickr e o estudo das atividades de escrita na web 2.0. do estudo de MI. Em primeiro lugar, nem
todos os participantes foram
! O pressuposto metodológico global em nossa pesquisa é que a com- pesquisados com os mesmos procedimentos.
Em vez disso, havia uma
preensão da escrita em ambientes na web implica conectar textos e metodologia ..sensível,,, como discutido abaixo.
Em segundo lugar, um
práticas, sendo ambos essenciais parâ compreender a produção e o uso mesmo participante pode ter se envolvido
no estudo por diferentes vias
de linguagem online. 'SËñt¡olhat a.tentamente para os textos, não com-r de coleta de dados. Arguns participantes
foram estud.ados pera primeira
produtos linguísticos concretos das atividad es onlinefi via a seguir, com uma mistura de etnografia
¡peenderíamos os tradicional e métodos onrf-
ftm observar a vida e as crenças dos usuários sobre o que fazem cont rm, incluindo as seguintes etapas:
a (ii)
uma lista do que foi coberto nesta sessão de observação.)
coleta de logs de bate-papo: pedia-se ao participante que impri-
importante para o compreensão das caracterÍsticas textuais, modali-
dades de dados qualitativos, como entrevistas e diários, permitiam ao
o çao numa
a internet ser um" elpgç-o*g-Þe;çp.e p¡lblico, a participa-
risco de tornar as infor-
a maçõ gq publicamente*conhecidas. Há, portanto, limites para a reivin-
o Que tipo
de espaço público é o mundo onlíne
direitos sobre o uso de textos publicamente
equem possui e tem
impacto sobre a naturalidade da interação, pois os participantes podem
estar conscientes de seu papel como participantes da pesquisa. Essas
a acessáveis na internet?
Quando e em que medida o anonimato deve ser asseguraaol quan_
preocupações e questões também são levadas em conta nos nossos pro-
jetos de pesquisa. Num contexto em que os dados não são sensíveis e
a do os nomes de telas dos participantes devem
guando aparecem online?
Quando rostos precisam
ser preservados os participantes não são vulneráveis, acreditamos poder preservar a
I
: por escrito. Em suma, embora ainda haja incertezas sobre a ética em alguns desses papéis de forma consciente, enquanto outros papéis foram
pesquisas online, adotamos uma abordagem flexível e tentamos prote- revelados quando analisávamos os dados. Davies e Merchant (2oo7:173)
prestaram um bom auxílio ao resumir as maneiras como os investigado-
res das novas mídias se posicionam:
formas d" p_q-"r.9ui"". > "Pesquisador como identificador de novos tropos,, (ou seja, ele
descobre a "novidade,' das tecnologias);
A postura do pesquisador > "Pesquisador como iniciado,' (ou seja, um usuário ativo.da tecno_
logia examinando outros usuários da tecnologia em qJuestão);
Por fim, destacamos nossos papéis e nossa posição como pesquisa- r "Pesquisador como analista,' (ou seja, analisa textos e práticas);
dores da linguagem online. Assim como a boa pesquisa qualitativa ex- > *Pesquisador como sujeito e objeto,, (ou seja, faz autoetnografias);
plicita outros aspectos de sua metodologia (Barton, 2}7la), acred.itamos > "Pesquisador como ativista' (ou seja, estuda o impacto social das
ser essencial que os próprios pesquisadores çxplicitem seu rela -
m.e"4to- coM+esquis4jsta é,_s pgstuË em_"suils-_A{lé,lise_$l*es"cri!+. À As fronteiras entre esses papéis podem ser imprecisas e muitas
medida que ocorriam a coleta e análise de dados, tomamos consciência vezes se sobrepõem. Em nossa experiência, o fato de sermos simultanea-
dos múItiplos papéis que desempenhávamos em diferentes estágios de mente participante e analista beneficiou bastante nossa pesquisa. Tal
nossos estudos. Antes de tudo, nossos interesses em pesquisar novas mí- como ocorre quando se faz pesquisa etnográfica em qualquer lugar, os
dias seja MI, Flickr, ou Facebook nasceram de nossa própria par-
- -
ticipação pessoal nesses sífes. Além de estudar os sifes e seus usuários,
pesquisadores online também precisam se familiarizar com o que se
passa em seus locais de pesquisa antes de poder estudá-los. Isto signifi-
refletimos constantemente sobre nossa própria participação, realizando ca mais do que apenas criar uma conta e espreitar
assim nossas próprias autoetnografias, ou para ser mais precisos, nossas constantemente participávamos como usuários ativos - em nossos casos,
e experientes. Já
autonetnografias, "reflexão pessoal autobiográfica sobre a adesão à co- possuiamos conhecimento participante antes dos estudos. Na pesquisa
munidade online" (Kozinets, 2010: 1gg ). sobre MI, por exemplo, a familiaridade da pesquisadora com recursos
Tomemos como exemplo a pesquisa sobre o Flickr. Nós dois éra- linguísticos específicos do MI em Hong Kong (como alternância de có-
mos usuários ativos do Flickr havia mais de seis anos. como discutido digos e uma série de emotícons asiáticos) permitiu-lhe comparar sua
anteriormente, fazemos upload. d.e fotos com regularidade para nossos própria experiência e conhecimento com as práticas d.os informantes, o
streams de fotos; adicionamos tag's e escrevemos sobre nossas fotos; es- que a levou a descobrir a diversidade das práticas de produção de texto
tabelecemos contato com outros usuários do Flickr e comentamos suas em torno d a s mens a gens inst a ntânea s. como*a4êülta.Lp-1{!ig}-Pareg:*g
fotos. AIém de nossa familiaridade com o Flickr, sabemos outra lÍngua fqto-,{.e"fef1-etlmoq ggbre nossas próprias práticas auxiliou na compre-
além do inglês uma de nós é bilíngue em chinês e inglês e o outro
-
tem conhecimento de espanhol, coincidentemente as duas línguas mais
ensão das práticas onltne de nossos informantes e nos permitiu com-
preender em na-lqr profundidade tanto os textos quanto as práticas de
usadas no Flickr depois do inglês. Nossas experiências multilÍngues no produgã"o
.9"qJe+¡o.
Flickr permeiam nossa compreensão da relação entre o inglês e outras Em suma, vemos a metodologia online como uma maneira adicional
línguas online, o que oferece certa perspectiva interna para nossa pes- de compreender a vida dos participantes online, em vez de algo que ri-
quisa. Em outras palavras, nossa posição como pesquisadores do Flickr valiza com ou desafia métodos rradicionais. lsto nãö'signiiiCá
foi parcialmente possibilitada por nosso papel como iniciados e usuários [ue ô pus-
qîir*ñ; Ëñü áË transferir seu rocal de pesquisa inteiramente para um
ativos do Flickr. Em relação aos participantes de nossa pesquisa, nós às contexto online
vezes éramos seus contatos ou amigos do Flickr; em outros momentos, - o onltne e o off7ine operam em estreita colaboração um
com o outro em nossa abordagem. Nossa abordagem da pesquisa de le-
éramos visitantes de suas páginas e pesquisad.ores. À medida que in- tramentos digitais se centra na linguagem, juntamente com uma infini-
teragÍamos com nossos informantes, refletÍamos imediatamente sobre dade de métodos de pesquisa tradicionais e onlíne, fornecendo uma rica
o
o
incorporado na vida cotidiana dos participantes,
compreensão da produção de textos
a maneira como o onlíne esfâ
o que é cruciar para a
dos participantes como letramen-
tos situados' Quando aplicada à linguística
discurso, a etnografia virtuar t"*¡é^
ou à investigação baseada no
Capít 13
o compreensão das funções sociais
se mostra extremamente útil na
do discurso mediado por computad.or. luxos gem
o on ee
o
o
o
o
o Presença offline da linguagem da internet
o HAMAMoS rsrn liwo principal interesse
de Linguagem onlíne. Nosso
o os textos e práticas no contexto de
9lP9ços de esçrita na in-
o 236
de produção de significado online para projètar difriÍëñtëbTdêñîîdãtiðs,