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Reestruturação produtiva e seu impacto

ARTIGO ARTICLE
nas relações de trabalho nos serviços públicos de saúde no Brasil

Productive restructuring and its impact on labor relations


in the public health services in Brazil

Maria Inês Carsalade Martins 1


Alex Molinaro 1

Abstract The restructuring of productive systems Resumo A reestruturação dos sistemas produti-
and economic globalization are directly impac- vos e a globalização econômica vêm interferindo
ting the basic social rights of workers. In the semi- diretamente sobre os direitos sociais básicos dos
peripheral countries such as Brazil, where the trabalhadores. Em países semiperiféricos como o
wage-based society and the consolidation of social Brasil, onde a sociedade salarial e a consolidação
rights are not completely implemented, this pro- dos direitos sociais não se implantaram de fato,
cess of change in the world of labor contributes to este processo de mudança, nas formas e relações de
aggravate the inequality in the capital-labor rela- trabalho, assume características particulares,
tionship and hampers access to employment. By acentuando-se a desigualdade na relação capital-
means of a critical review of the scientific litera- trabalho e dificultando o acesso ao emprego. Atra-
ture regarding changes in the world of labor and vés de uma revisão crítica da produção científica
its impact on the organization and production of sobre as mudanças no mundo do trabalho e seu
health services in Brazil, this article pinpoints the impacto na organização e produção dos serviços
weakness of regulation of the labor market in Bra- de saúde no Brasil este artigo procurou mostrar a
zil, especially in the health sector. It also stresses fragilidade da regulação do mercado de trabalho
the need to increase the debate on new forms of no Brasil, principalmente na área da saúde. Apon-
institutionalization of the labor relationship in ta a necessidade de ampliar a reflexão sobre novas
order to ensure equity in the workplace and pro- formas de institucionalização das relações de tra-
tect the rights to work and in the workplace. balho, no sentido de garantir a equidade e o direi-
Key words (De)regulation of labor in Brazil, to ao e no trabalho.
Administrative reform in the health sector, Regu- Palavras-chave (Des)Regulação do trabalho no
lation of work in health, Equity in the workplace Brasil, Reforma administrava no setor saúde, Re-
gulação do trabalho em saúde, Equidade no tra-
balho.
1
Departamento de Ciências
Sociais, Escola Nacional de
Saúde Pública, Fundação
Oswaldo Cruz. Rua
Leopoldo Bulhões 1.480/
929, Manguinhos. 21041-
210 Rio de Janeiro RJ.
mines@ensp.fiocruz.br
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Introdução pondo neste novo cenário; Dedecca2, que analisa


do ponto de vista da regulação do mercado, a
As mudanças que temos presenciado no mundo fragilidade dos mecanismos de regulação no Bra-
contemporâneo, motivadas pelas novas formas sil e de como a modernidade vem se implantan-
de organização econômica, aliadas ao desenvolvi- do no Brasil de forma perversa no que se refere
mento tecnológico têm gerado impacto na orga- às conquistas e avanços sociais.
nização da produção, causando problemas, prin- No campo da saúde elegeu-se como interlo-
cipalmente nas áreas do trabalho e do emprego. cutores autores que discutem a gestão do traba-
Para Ferreira¹, assistimos ao desenvolvimen- lho em saúde em suas diferentes dimensões:
to de uma sociedade onde parte da população Machado3 que discute Trabalho e Emprego em
acede e dispõe de emprego remunerado, enquanto Saúde; Mendonça et al.7 que abordam os desafi-
outra parte se encontra excluída total ou parcial- os para gestão do trabalho no processo de ex-
mente do mundo do trabalho. pansão da Estratégia de Saúde da Família; No-
Considerando o trabalho como ato social e gueira et al.4 que colocam os Problemas de Ges-
atividade pública coletiva, julgamos importante tão e Regulação do Trabalho no SUS; e Pieranto-
recuperar as características políticas, sociais, pú- ni5, que discute os limites e as possibilidades da
blicas e coletivas do trabalho enquanto promo- Reforma do Estado, na Saúde e na área de Recur-
tor de cidadania social. sos Humanos.
Na área da saúde, a produção acadêmica em Analisar as relações de trabalho e contratuais
relação ao tema gestão do trabalho vem tendo que vêm sendo desenvolvidas no Sistema Único
como foco principal o processo de flexibilização de Saúde hoje no Brasil, com estas referências,
e de incorporação de pessoal no setor público e permitiu resgatar a centralidade do trabalho e da
privado, na perspectiva do direito à saúde e do qualificação profissional no processo de traba-
dever do Estado em provê-lo2-5. lho em saúde.
Neste artigo, pretendemos corroborar esta
discussão trazendo o foco para o direito no tra- A reestruturação produtiva e a busca de
balho e ao trabalho, discutindo as relações labo- novos paradigmas para a gestão do trabalho
rais no setor público de saúde do ponto de vista
da cidadania, na perspectiva de se construir no- A Terceira Revolução Industrial, marcada pela
vos horizontes para as políticas públicas neste reestruturação produtiva, pela internacionaliza-
campo. ção do mercado, com predomínio da esfera fi-
Este ensaio sobre as mudanças no mundo do nanceira, e pela revolução tecnológica, expande-
trabalho e seu impacto na organização e produ- se nos anos 80. Esta nova ordem econômica leva
ção dos serviços de saúde no Brasil, buscou pro- a um aumento dos custos da produção com que-
mover um diálogo entre autores que têm traba- da tanto do lucro total como do lucro unitário.
lhado esta temática a partir de diferentes pontos Para Dedecca2, qualquer tentativa de reverter
de vista: econômico, jurídico, social e da gestão esta situação implicava em que as empresas reor-
do trabalho em saúde. denassem as relações de produção estabelecidas
A partir de uma pesquisa bibliográfica nas com outras formas de capital, tanto internamen-
bases Scielo e Lilacs, usando como descritores a te, como na relação com o Estado e como na rela-
globalização e as ciências sociais, flexibilidade e ção com os trabalhadores. A regulação do traba-
regulação do mercado de trabalho, gestão do tra- lho implicava em custos diretos e indiretos já que
balho em saúde, ocupação no setor público brasi- parte dos impostos resultava desta regulação, ha-
leiro foram localizados trabalhos que aborda- vendo a necessidade de ajustar os custos do traba-
vam as mudanças no mundo do trabalho do lho às novas relações de produção, o que segundo
ponto de vista dos direito sociais e do trabalho este autor significava “flexibilizar a regulação”.
em saúde. No conjunto dos trabalhos identifica- As mudanças que ocorreram no cenário in-
dos foram selecionados: Cardoso Júnior6, que ternacional, de acordo com Dedecca2, foram: re-
discute na perspectiva econômica, a desregula- dução do seguro desemprego, perda da estabili-
ção do mercado de trabalho no Brasil, colocan- dade no emprego, desvalorização do poder de
do os determinantes e as consequências deste compra do salário mínimo, flexibilidade salarial
processo no cenário brasileiro; Ferreira¹, que e da jornada de trabalho, flexibilização das es-
aborda o tema na perspectiva do direito do tra- truturas ocupacionais na negociação coletiva e
balho, recuperando as origens dos direitos soci- redução do poder da esfera pública sobre o pro-
ais e a mudança de paradigmas que vem se im- cesso de alocação do trabalho pelas empresas.
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O novo modelo de desenvolvimento econô- no numero de postos de trabalho com carteira
mico rompe com os pressupostos do direito ao assinada nesse período8.
trabalho na relação salarial fordista, a saber: ca- A análise do rendimento médio real total da
ráter coletivo, efetividade do emprego e unifor- população ocupada nas regiões metropolitanas
mização dos estatutos sociais levando à crise do do conjunto das seis cidades que fazem parte da
contrato social, do estado Providência e da rela- PME8 apresenta também, uma melhora signifi-
ção salarial. Nos países desenvolvidos este pro- cativa para o ano de 2012 em relação a 2002, re-
cesso vai variar em função do grau de regulação presentando um acréscimo relativo de 11% no
pública do ponto de vista social, sendo que as rendimento real total da população ocupada.
mudanças mais substantivas ocorreram na In- Em que pese certa inflexão na estrutura do
glaterra, Estados Unidos, Itália e Espanha6. mercado de trabalho brasileiro na última década,
No Brasil este fenômeno ganha proporções as novas formas de organização laboral no cená-
maiores considerando as carências sociais, fazen- rio mundial continuam a pressionar no sentido
do com que a economia cresça mais do que o de mudanças nas suas relações que resultam en-
ingresso da população economicamente ativa tre outras estratégias gerenciais: na remuneração
(PEA) no mercado de trabalho e a marginaliza- por resultados, no enxugamento da estrutura de
ção da população menos escolarizada. cargos e salários, na redução dos salários e na
A desregulação de um mercado, que já era institucionalização do trabalho aos domingos.
precariamente regulado, em função das mudan- Estas demandas por flexibilização da regula-
ças na economia mundial e da globalização ga- ção pública, geram demandas de flexibilização
nha espaço no Brasil a partir da década de 80. de direitos que se expressam em medidas legais
Em um primeiro momento ela acontece de que instituem: contratos por tempo parcial ou
forma contraditória quando paralelamente à temporário, redução das contribuições sociais,
desestruturação do mercado de trabalho obser- diminuição da fiscalização sobre os contratos de
va-se uma tentativa de regulamentá-lo, que não trabalho, contrato de serviços de natureza de
dá conta de responder as exigências do novo pessoa jurídica – “trabalhador pessoa jurídica”,
modelo. Em um segundo momento, já na déca- medidas estas que resultam sempre em novas
da de 90, estes dois vetores passam a seguir na formas de contratação formal de trabalho sem
mesma direção, ou seja, no sentido das reformas proteção social2.
estruturais e trabalhistas. Em um mercado de trabalho estruturado,
Do ponto de vista estrutural destaca-se o cres- onde os direitos sociais são conquistas consoli-
cimento desordenado do setor terciário (comér- dadas e a sociedade organizada com capacidade
cio e serviços), aumento dos níveis de desocupa- de vocalização e negociação, o impacto das mu-
ção e desemprego, crescimento expressivo da in- danças é diferente do que naqueles como o Bra-
formalidade nas relações de trabalho, perda na sil, onde o modelo de regulação permitiu sempre
qualidade dos postos de trabalho e a estagnação uma elevada flexibilidade das relações e dos con-
relativa dos rendimentos médios oriundos do tratos. No nosso caso, a modernidade pode che-
trabalho. Estes dados são apresentados e discu- gar mais uma vez de uma forma perversa, como
tidos por Cardoso Júnior6 ao abordar a macro- coloca Dedecca2.
economia e o mercado de trabalho no Brasil.
Ao longo dos anos 2000, ainda que sem mo- A regulação do Trabalho no Brasil
dificar as condições mais gerais da flexibilização
das relações de trabalho, no bojo da melhora Para analisar o impacto das mudanças polí-
das condições econômicas, é possível observar ticas, econômicas e sociais que vêm acontecendo
uma tendência de maior formalização dos con- nos últimos 20 anos e seu impacto no mundo do
tratos de trabalho no Brasil expressa pelo au- trabalho, é importante ter um olhar sobre a re-
mento de empregos com carteira de trabalho as- gulação do mercado de trabalho e as mudanças
sinada. De acordo com a Pesquisa Mensal de que vêm ocorrendo nos últimos trinta anos.
Emprego8, para o conjunto de seis regiões me- O modelo da sociedade salarial no qual está
tropolitanas, em 2004, 39,5% dos empregados fundamentado o moderno direito do trabalho
do setor privado, tinham carteira de trabalho desenvolveu-se na base de um Estado e de Políti-
assinada percentual que sobe para 49,7% em fe- cas Públicas voltadas para a construção de uma
vereiro de 20128. Os dados da pesquisa mostram sociedade de pleno emprego e de bem estar social.
também uma tendência de diminuição no nível Ao discutir a flexibilidade e a precariedade do
de trabalho informal e um aumento significativo mercado de trabalho, Deddeca2, destaca que as
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mudanças técnicas e organizacionais produzidas Na área de saúde, do início do século XX a


pela II Revolução Industrial, contribuíram para 1945 a ação do governo estava voltada para as
a institucionalização do contrato de trabalho. campanhas sanitárias. O objetivo era manter os
Rompe-se com a dimensão individual, levando portos e pontos de circulação de mercadorias de
sua transferência da esfera privada para a públi- interesse econômico da época, livres da ação de
ca, reduzindo a assimetria capital trabalho2. vetores e “pragas” presentes nestes locais, já que
Este período, que vai dos anos 30 aos 40, ca- sua presença poderia representar uma grande
racteriza-se pela estruturação do mercado de tra- perda econômica na exportação de produtos.
balho, com a difusão do assalariamento da mão Através de uma política de saúde voltada para as
de obra pelo sistema econômico ao mesmo tem- ações coletivas, com foco no chamado sanitaris-
po com aceitação pela sociedade desta nova for- mo campanhista, a contratação de pessoal era
ma de relação que avança no sentido dos direitos dirigida para campanhas sanitárias, de forma
sociais. temporária e precária. As ações voltadas para o
Do ponto de vista da regulamentação insti- controle de doenças e de riscos a saúde indivi-
tuem-se normas legais que oferecem parâmetros dual, era realizada por profissionais liberais par-
mínimos de funcionamento do mercado de tra- ticulares e pelas Casas de Misericórdias manti-
balho em relação ao uso (condições de contrata- das pela igreja.
ção e jornada), à remuneração (políticas e rea- Na década de 40, com o início da estrutura-
justes salariais, salário mínimo) e de proteção ção do mercado de trabalho no setor saúde, seus
social (direitos sociais e trabalhistas). Para Car- profissionais, em sua grande maioria, passam a
doso Júnior6 a regulação do mercado de traba- estar inseridos no mercado de trabalho pela via
lho é a síntese desses dois fatores, estruturação e privada através das caixas e institutos de pen-
regulamentação, e vai depender do padrão de de- sões. Poucos eram aqueles contratados exclusi-
senvolvimento de cada sociedade. vamente pelo governo, sendo que esses focavam
O Brasil, país de desenvolvimento e industri- suas ações em praticas de saúde pública com ações
alização retardatária, não seguiu a mesma traje- voltadas para a atenção materno-infantil e pre-
tória de desenvolvimento industrial dos países ventivas nas campanhas sanitárias.
da Europa e dos EUA. No período em que estes No período de 1950 a 1964 com a democrati-
países iniciavam um processo de regulação do zação e o crescimento do país se inicia um pro-
mercado de trabalho, estávamos saindo de uma cesso de democratização da regulação do con-
sociedade escravocrata, com uma economia ain- trato de trabalho ampliando-se o sistema de pro-
da fortemente agrícola até a década de 50. Para teção social e ao trabalho. Este processo é inter-
Santos (apud Ferreira)1, “A normatividade do rompido com a instauração de um novo regime
trabalho é o resultado da correlação de forças autoritário em 1964, que mantém a natureza for-
sociais e reflete os modelos sociopolíticos domi- mal da regulação pública.
nantes, colocando-se como um fato político so- Neste período, impulsionado pelo desenvol-
cial, refletindo os avanços ou retrocessos do di- vimento da medicina científica no cenário inter-
reito do trabalho nas sociedades”. nacional, o foco da política de saúde do governo
Como aponta Dedecca2 o processo de indus- brasileiro passou a ser nas práticas curativas, es-
trialização no Brasil se inicia na década de 30, em timulando a formação de um complexo médico-
um contexto de governo despótico que procura industrial e hospitalar, respaldado em normas
consolidar o Estado Nacional, estimulando o que privilegiavam a contratação de serviços de
processo de industrialização nacional e amplian- terceirizados.
do a participação do Estado nas diversas esferas O modelo dos Institutos por categorias pro-
administrativas. Introduz-se alguma regulação fissionais foi substituído por um modelo centra-
sobre o contrato de trabalho ainda que manten- lizado que unificou todos os Institutos de Apo-
do uma relação assimétrica entre capital e traba- sentadorias e Pensões (IAP) no Instituto Nacio-
lho e implementa-se uma política pública pouco nal de Assistência Médica e Previdência Social
integrada e de baixa cobertura2. (INPS).
O instrumento de regulação utilizado é a No setor saúde, a ampliação da seguridade so-
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que cial e da assistência médica a novas categorias so-
restringe o conjunto de direitos aos trabalhado- ciais e a proliferação de contratos de serviços com
res urbanos e subordina a estrutura sindical ao empresas privadas, resultantes deste novo mode-
Estado promovendo o que passou a ser conheci- lo, reconfigura o mercado de trabalho. O que se
do como cidadania regulada. observa é uma tendência ao assalariamento da ca-
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tegoria médica e a proliferação de postos de traba- bilidade ou da capacidade política do governo
lho sem controle por parte da previdência, dos para intermediar interesses, garantir legitimida-
serviços e dos contratos praticados nas diferentes de e governar9.
formas de compra de serviços de saúde. Rompendo com a lógica de afastamento en-
As consequências deste modelo de atenção tre o público e o privado, a Reforma do Estado
no mercado de trabalho são a recessão, a rotati- introduziu no setor público o conceito de flexibi-
vidade exacerbada da força de trabalho e a con- lidade. Reflexos desta introdução são as mudan-
tenção salarial. A inflação e o desemprego com- ças na Constituição Federal, agregadas pela
prometem cada vez mais a ampliação real da re- Emenda Constitucional nº 19/199810. A quebra
gulação pública no mercado em geral trazendo do Regime Jurídico Único, com a permissão da
para a cena pública os sindicatos, na defesa do contratação pelas instituições públicas, de pes-
emprego e dos salários2. A maioria dos contra- soal regido pela CLT; a introdução de mecanis-
tos no setor público era realizada através da CLT, mos de redução e regulação do estatuto da esta-
situação que só vai se reverter na década de 80, bilidade do servidor público; e a criação do dis-
com a nova constituição. positivo do contrato de gestão, com atributos de
autonomia gerencial são algumas das evidências
A Reforma Administrava e a desregulação desta tendência flexibilizadora.
do mercado de trabalho Aprovada em junho de 1998 a Emenda Cons-
no setor público e privado titucional nº 19/199810, apesar de resguardar os
princípios do direito adquirido, introduz mais
A nova Constituição representa uma conquis- de 100 modificações legislativas, alterando o re-
ta política e um avanço no sentido da democra- gime da administração pública, com objetivo de:
tização, da equidade e da cidadania, sendo co- reduzir o quadro de servidores públicos; conter
nhecida como a “Constituição Cidadã”. Nela ins- os gastos públicos em virtude da crise fiscal; per-
titui-se entre outras conquistas sociais a univer- mitir aprovação de medidas para demissão vo-
salização da saúde através do Sistema Único de luntária; limitar despesas com pessoal; e ampliar
Saúde (SUS) e um novo arcabouço jurídico-ins- condições para contratação temporária.
titucional para o serviço público, o Regime Jurí- Esta nova legislação abre a possibilidade de
dico Único (RJU) que normatiza as contratações demissão do servidor por insuficiência de desem-
no setor público. penho ou excesso de quadros, promove mudan-
O RJU determinava a necessidade de subme- ças no regime previdenciário do servidor e abre a
ter o servidor público a um regime próprio, com possibilidade de contratação de Organizações
ingresso nas carreiras através de concurso públi- Sociais (OS), para a realização das atividades
co, fazendo com que, no início da década de 90, públicas inerentes ao Estado e a Lei de Responsa-
os vínculos celetistas fossem convertidos em vín- bilidade Fiscal-LRF n. 10111. A lei estipula a limi-
culos estatutários. tação em no máximo 60% do orçamento para
No entanto, as pressões econômicas e políti- gastos com folha de pagamento e determina que
cas nacionais e internacionais, na época, induzi- as despesas decorrentes de gastos com terceiriza-
am a opções por políticas de governo orientadas ção devem compor as despesas de pessoal na fo-
para a diminuição do Estado e para a flexibiliza- lha de pagamento, para efeito de limite de gastos.
ção das relações de trabalho, priorizando seu Outro mecanismo de flexibilização no setor
papel regulador em detrimento do seu papel exe- público que passa a ser utilizado com vigor é a
cutor, até então predominante. contratação de mão de obra, sob a forma de ter-
Compreender a conformação do fenômeno ceirização. Este instrumento legal de regulação
de flexibilização das formas de trabalho no setor dos contratos temporários criado em 1977, atra-
público brasileiro que ocorreram a partir da dé- vés do Decreto 227112, e utilizado de forma resi-
cada 90 pós-Constituição de 1988, pressupõe o dual na administração pública, ganhou maior
conhecimento da lógica introduzida pela Refor- centralidade frente às mudanças no cenário polí-
ma do Estado (1990) e a Reforma Administrati- tico e econômico.
va e Gerencial (1995). O objetivo central era a A política de redução do Estado, através da
delimitação do tamanho do Estado, a definição privatização e terceirização de serviços, do limite
de seu papel regulador, a recuperação da gover- com gastos de pessoal e a não realização de con-
nança ou da capacidade econômica e adminis- curso público pelo governo federal, foram fato-
trativa para implementar as decisões políticas res preponderantes para o crescimento do mer-
tomadas pelo governo e o aumento da governa- cado informal de trabalho em saúde, com gran-
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des prejuízos para o trabalhador. A introdução estrutura jurídica - administrativa de unidades


de modelos de contratação, se não precários, pois prestadoras de serviços de saúde. Conjugadas à
são na maioria das vezes feitos com amparo le- terceirização de alguns conjuntos de atividades
gal, certamente pouco regulados vai comprome- nestas unidades e à contratação de prestadores
ter direitos sociais historicamente conquistados individualizados, atualmente, são inúmeras as
pelos trabalhadores. modalidades de vinculação aos serviços públicos
de saúde5.
A regulação do mercado de trabalho A reforma administrativa levada a cabo pelo
no setor saúde governo Fernando Henrique Cardoso nos anos
de 1990, não foi capaz de produzir uma norma
Considerando que, no Brasil, embora o mo- geral para a administração pública que permitis-
delo de regulação, oriundo da Consolidação das se a definição clara de finalidade e modo de ges-
Leis do Trabalho (CLT) estabelecesse direitos tão entre os modelos jurídicos institucionais exis-
formais, a desregulação do mercado, ampliou a tentes no Estado brasileiro ou os criados nesse
flexibilidade dos contratos de trabalho, provo- período. Este é o caso das OS (Organizações So-
cando a redução da proteção social e a desvalori- ciais) e OSIP (Organizações Sociais de Interesse
zação dos rendimentos. Dedecca2, utilizando a Público) que, embora não pertencentes organi-
classificação de Burawoy13, considera que o país camente ao aparelho do Estado, são entidades
transitou nos últimos 18 anos, de um regime de prestadoras de serviços públicos que se relacio-
regulação assimétrico com forte subordinação nam com este através de um tipo de contrato
do trabalho ao capital, uma “regulação despóti- específico.
ca”, para um regime de “regulação despótico-he- Acrescenta-se a isto, segundo Machado3, o fato
gemônica”, igualmente assimétrico, mas negoci- de que o SUS vem operando segundo a lógica de
ado de forma coletiva, embora em condições de- parceria entre o público e o privado, este último
siguais, já que eram pautados pela garantia do representado pelo sistema de saúde suplementar
emprego e da sobrevivência. constituído por seguros e planos de saúde. Ao
A desregulação do trabalho afetou também analisar trabalho e emprego em Saúde, a autora
o setor público através da flexibilização do Regi- afirma que este conjunto de sistemas e subsiste-
me Jurídico Único (Emenda Constitucional nº mas vai estruturar o mercado de trabalho em saú-
19/199814), instituído pela Constituição de 198815, de vigoroso capaz de gerar mais de dois milhões e
e pelo estabelecimento de vínculos irregulares, quinhentos mil empregos diretos3. Configura-se,
gerando desigualdade e precarização, do ponto assim, dois mercados de trabalho que se estrutu-
de vista dos direitos sociais. ram e concorrem em uma conjuntura de empre-
Na área da saúde, o mercado de trabalho se- go fragmentada, precária, mal remunerada, apro-
gue a tendência geral da evolução (ou involução) fundando as heterogeneidades.
das relações de trabalho brasileiras nos últimos O Programa de Saúde da Família (PSF), im-
vinte anos. Este quadro tem levado a um desequi- plantado neste período, foi uma das áreas mais
líbrio entre a oferta e a demanda de postos de impactadas por este novo arranjo político-insti-
trabalho no Sistema Único de Saúde com impacto tucional como demonstram diversos estudos que
direto na quantidade e na qualidade dos mesmos. evidenciam um percentual elevado de trabalha-
A política de enxugamento da máquina pú- dores de saúde vinculados através de entidades
blica, evidenciada pela restrição de concursos diversas4.
públicos na década de 1990, aliada às demandas O PSF ao se expandir para os grandes cen-
sociais pelos serviços de saúde, em um cenário tros urbanos, onde encontrava uma estrutura
que já induzia a administração pública a contra- de serviços já consolidada, enfrentou o desafio
tar seus recursos humanos de forma não regu- de combinar diversas estratégias de emprego,
lar, encontrou no setor de saúde um ambiente utilizando-se de diferentes vínculos trabalhistas.
favorável para a rápida proliferação desta práti- Ao avaliar a implementação do Programa
ca, na medida em que os gestores de saúde da Saúde da Família em dez grandes centros urba-
época tinham necessidade de implementar e ex- nos do país16, os pesquisadores, encontraram
pandir o Sistema Único de Saúde, atendendo os diversos modelos de vinculação institucional para
aspectos do direito à saúde4. a gestão de recursos humanos, concomitante à
Alguns destes novos arranjos flexíveis apon- preservação do regime de servidor público esta-
tados são as fundações e organizações sociais de tutário. Esta diversidade de vínculos incluía con-
interesse público resultantes de modificações na tratos temporários, cooperativas, prestação de
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serviços, contrato com instituições filantrópicas, tas novas modalidades levam a uma diminuição
bolsas de pesquisa através de fundações de apoio ou mesmo ausência de regulação das condições,
e OSCIP. Para os autores as modalidades de con- carga horária e dos tempos de trabalho.
tratação de profissionais para compor a ESF se Este cenário remete a outro fator crítico em
caracterizaram, em alguns casos, pela informali- relação ao mercado de trabalho no setor que o
dade ou precariedade do vínculo empregatício, diferencia do mais geral que é a particularidade
que implicou numa relação jurídica que elimi- do processo e da estrutura ocupacional no cam-
nou os direitos sociais garantidos pela CLT16. po da saúde. Na saúde, existem funções e ativi-
Este quadro vem se revertendo parcialmente, dades diretamente relacionadas a determinadas
a partir do segundo mandato do Presidente Lula, categorias profissionais, que exigem uma quali-
(2005-2008), que estabelece como meta a regula- ficação própria e são reguladas externamente,
rização das relações de trabalho no setor público, com o controle do poder público2.
promovendo a realização de concursos públicos. A qualificação de recursos humanos se colo-
A pesquisa “Implementação da Estratégia de ca atualmente na literatura sobre gestão, como
Saúde da Família em Grandes Centros Urba- um diferencial competitivo no mercado de tra-
nos”17, reproduzida em 2008 em quatro municí- balho e como forma de garantir eficiência e eficá-
pios, aponta para uma reversão deste modelo cia às propostas e projetos institucionais. Na área
em alguns dos estudados (Aracaju /SE, Belo Ho- da saúde, considerando a sua especificidade e
rizonte /MG, Florianópolis /SC e Vitória /ES), objeto de trabalho, este é outro grande desafio
com a realização de concursos públicos. Em 2008, para a implementação das políticas de saúde.
93% dos médicos da ESF em Aracaju, 81% em Os avanços da ciência e o desenvolvimento tec-
Belo Horizonte, 66% em Florianópolis e 91% em nológico acelerado, característicos do novo modo
Vitoria eram servidores estáveis que ingressaram de produção, implicam na necessidade de uma
nos quadros das respectivas Secretarias Munici- constante atualização de seus profissionais e uma
pais de Saúde através de concurso público7. Pa- base de conhecimentos interdisciplinar sólida que
ralelamente, vem se aprofundando o debate so- lhe permita enfrentar a diversidade e a “adversida-
bre novos modelos de gestão pública de forma a de” do processo saúde no mundo atual7.
responder à demanda crescente pelos serviços de
saúde. Neste cenário volta a ganhar espaço o pro- A Gestão do Trabalho em Saúde
cesso de terceirização através de contratos de ges-
tão com Organizações Sociais e fundações esta- A discussão sobre os resultados deste debate
tais de direito privado. Municípios de grande porte recai sobre a fragilidade da regulação do mercado
como São Paulo e Rio de Janeiro, vêm adotando de trabalho no Brasil e a necessidade de ampliar a
estes novos modelos de gestão o que novamente reflexão sobre novas formas de institucionaliza-
coloca em questão, os vínculos e as contratações ção das relações de trabalho que garantam o prin-
num mercado privado, pouco regulado. cípio da equidade e a função social do trabalho.
O fato de não termos uma Lei geral para a Para Ferreira¹, a crise do emprego, a perda
administração pública traz consequências para a da dimensão coletiva do trabalho e o esvazia-
gestão e o desenvolvimento da força de trabalho, mento dos contratos constituem-se na questão
especialmente em um setor caracterizado pela central da crise dos direitos sociais e do modelo
necessidade de mão de obra extensiva como é o clássico do direito do trabalho.
caso da saúde. Não há uma norma geral baliza- As tensões geradas por este conflito entre de-
dora para os modelos jurídicos implementados mandas da economia globalizada e direitos so-
pela União, estados e municípios, para gerir ser- ciais por ele analisadas, partindo do modelo do
viços em geral e em especial os de saúde. Desta “ideal típico” em que o mundo do trabalho se
forma, uma Fundação Estatal de Direito Privado constitui de direitos laborais, elege oito categori-
criada em um determinado estado da federação as, as quais chama de dilemas ou “variáveis pa-
pode ser significativamente diferente da de outro drão” que refletem as tensões entre as lógicas
estado, também para gerir serviços de saúde. emancipatórias e regulatórias da atividade labo-
A avaliação e o monitoramento do trabalho ral, a saber: mercado de trabalho; emprego; con-
e dos trabalhadores são feitos através da avalia- formação do poder patronal; condições de tra-
ção do cumprimento das metas pré-estabeleci- balho; formação, educação e qualidade do em-
das, sem que haja normas reguladoras de ad- prego; rendimento; representação; igualdade.
missão, demissão e desempenho dos trabalha- Em sua análise Ferreira¹ evidencia o conflito
dores. Ainda em relação aos direitos sociais, es- e a dificuldade que o trabalho vem encontrando
1674
Martins MIC, Molinaro A

para sustentar a cidadania, em função do dese- derada, do ponto de vista legal, como uma res-
quilíbrio que se configura entre a ordem e a soli- ponsabilidade do Estado (empregador). No en-
dariedade social. tender dos Órgãos de Controle, tais como Con-
Nesta lógica, parâmetros como segurança, troladorias e Tribunais de Contas, não se pode
saúde e higiene, formação profissional e apren- alocar recursos públicos para formação e quali-
dizagem, horário de trabalho, acesso a formas ficação neste tipo de relação contratual. Este po-
de resolução de conflitos, salários mínimos e pro- sicionamento inibe a efetivação de um processo
teção social, constituem-se em garantias míni- permanente e necessário de qualificação trazen-
mas de cidadania no trabalho. do consequências tanto para o trabalhador quan-
Numa tentativa de trazer esta discussão para to para a qualidade do serviço prestado.
a realidade brasileira, na perspectiva das relações Adequar a força de trabalho às novas exigên-
de trabalho no setor público na área da saúde, foi cias do sistema produtivo em termos de forma-
feita uma adaptação do Quadro Variáveis Padrão ção e qualificação profissional coloca gestores e
do modelo do Direito do Trabalho1, apresentado formadores diante de um grande desafio que é
a seguir no Quadro 1, que procura sintetizar o manter a qualidade em termos de aquisição de
impacto das mudanças na sua regulação. competências imprescindíveis ao bom desempe-
Dentre as variáveis consideradas como fato- nho profissional, principalmente em áreas cuja
res de tensão em relação ao Modelo de Direito do natureza é a preservação do outro, do ser huma-
Trabalho na Área Social, além do que já foi discu- no, como é o caso da saúde, e, ao mesmo tempo,
tido anteriormente, cabe destacar o conflito gera- zelar para que possa haver uma ação de recupe-
do na área da saúde no setor público e contrata- ração social para que os ditos não competentes
do e que tem forte impacto: a oportunidade de possam, a curto ou médio prazos, tornarem-se
formação e qualificação para os trabalhadores. incluídos no rol dos competentes18.
As transformações do trabalho no mundo Do ponto de vista da regulação, a diferencia-
contemporâneo apontam para mudanças no ção dos vínculos e a intermediação dos contra-
campo da formação profissional, que passa a tos colocam o trabalhador numa posição vulne-
não se limitar, apenas, à preparação de pessoal rável na medida em que as negociações são feitas
para entrar no mercado de trabalho. O novo individualmente, pouco regulamentadas e os con-
modelo exige um processo contínuo de aperfei- tratos negociados pelas empresas, cabendo ao
çoamento durante a trajetória profissional dos trabalhador apenas aderir ao que já foi previa-
trabalhadores, além de uma interação entre ensi- mente acordado.
no e serviço, no sentido da construção de uma Tendo como princípio que o trabalho é um
base sólida de conhecimento, de forma a inte- ato social, Ferreira¹, identifica neste processo três
grar os princípios científicos que informam a fatores que contribuem para a descaracterização
prática cotidiana. do paradigma clássico do direito do trabalho e
No setor da saúde, a incorporação de novas das relações laborais que hoje no Brasil, no setor
tecnologias não pode abrir mão do trabalho vivo, saúde, são os grandes desafios para a gestão do
o que acentua a necessidade de formação e qua- trabalho: i) a crise do emprego; ii) a perda da
lificação permanentes dos trabalhadores desse dimensão coletiva do trabalho; iii) o esgotamen-
setor. to do contrato de trabalho.
No entanto, na forma como o mercado de
trabalho vem se estruturando, esta responsabili-
dade passa a ser do trabalhador, que tem o ônus Considerações Finais
de manter-se “empregável”, ou seja, manter-se
sempre atualizado, de maneira a garantir um Pensar prospectivamente a nova realidade do
“diferencial competitivo”. Transfere-se assim a mundo do trabalho implica em discutir a equida-
responsabilidade pelo desenvolvimento profis- de nos processos que conformam o campo da
sional e qualificação do trabalho das instituições gestão do trabalho, a saber: acesso e natureza dos
para os trabalhadores. postos de trabalho, proteção social, remunera-
Esta situação se agrava no setor público, con- ção, ambiente e condições de trabalho, qualifica-
siderando o fato de que parte considerável dos ção, participação política e acesso à tecnologia.
trabalhadores é contratada de forma terceiriza- Para isto faz-se necessário ampliar o leque de
da, através de OS, OSIP ou por empresas presta- investigações sobre as formas de regulação do
doras de serviço. A qualificação de profissionais, trabalho no setor público e privado de saúde no
com este tipo de vinculação, não tem sido consi- Brasil, através de uma agenda de pesquisa que
1675

Ciência & Saúde Coletiva, 18(6):1667-1676, 2013


Quadro 1. Variáveis Padrão do Modelo de Direito do Trabalho na Área Social aplicado às relações de
trabalho no Setor Público de Saúde no Brasil.

Variáveis padrão do
Modelo de Direito do Tensões na relação trabalho-emprego
Trabalho na Área Social no âmbito dos serviços públicos de saúde no Brasil

Mercado de trabalho Adequadas oportunidades de acesso Desigualdade de oportunidades e


ao emprego e garantias estatais de acesso ao emprego no setor público
emprego no setor público; em função da terceirização e
consequente multiplicidade de
formas de contrato.

Emprego Proteção contra demissão arbitrária: Ausência de normas reguladoras de


regulação das formas de contratação, admissão; demissão;
regulamentação dos contratos de desregulamentação nos contratos de
trabalho, etc. trabalho terceirizados; instabilidade
dos vínculos.

Condições de trabalho Proteção contra acidentes de Diminuição ou ausência de


trabalho e doenças profissionais regulação das condições de trabalho;
através da regulação das condições de flexibilização dos horários e dos
segurança, saúde e higiene no tempos de trabalho com a
trabalho; da limitação do tempo no intermediação dos contratos.
trabalho, trabalho noturno, etc.

Formação, educação Criação de oportunidades de Ausência de oportunidades de


e qualidade do emprego formação ao longo da vida, formação e desenvolvimento na
interrupções para a formação, perspectiva de carreira, de
formação profissional, contratos de mobilidade e ascensão profissional.
aprendizagem, etc.

Rendimento Proteção do rendimento, Não fixação de salários mínimos e


estabelecimento de salários mínimos, instâncias de negociação; ausência
rendimento de inserção, subsídio de de mecanismos de negociação
desemprego, incidência da carga coletiva; desigualdade de
fiscal sobre os rendimentos do mecanismos de proteção social.
trabalho, mecanismos de segurança
social, reformas, tipos de prestações
assistenciais, etc.

Representação Proteção da voz coletiva no mercado Não reconhecimento dos direitos


de trabalho, proteção do sindicais e de participação; não
reconhecimento como parceiro reconhecimento do direito à greve
social, proteção do diálogo social tanto dos vínculos estatais,
através de sindicatos livres e temporários e terceirizados.
independentes e associações de
empregadores, direitos à greve,
direitos de informação, participação
e consulta.

Fonte: Elaboração própria tendo como referência o Quadro Variáveis Padrão do modelo do Direito do Trabalho elaborado por
Ferreira1.

contemple as variáveis identificadas por Ferrei- conformação do poder patronal; condições de


ra¹ no padrão do modelo de direito do trabalho trabalho; formação, educação e qualidade do
na área social: mercado de trabalho; emprego; emprego; rendimento; representação; igualdade.
1676
Martins MIC, Molinaro A

Colaboradores

MIC Martins e A Molinaro participaram igual-


mente de todas as etapas de elaboração do artigo.

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nanças públicas e custeio de atividades a cargo do Artigo apresentado em 28/02/2013
Distrito Federal, e dá outras providências. Diário Aprovado em 05/02/2013
Oficial da União 1998; 5 jun. Versão final apresentada em 07/03/2013

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