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Introdução
1) A meta estratégica do Partido Comunista Brasileiro é a conquista do poder político pela classe
trabalhadora e seus aliados fundamentais, organizados no Bloco Revolucionário do Proletariado, cujo
objetivo central é a construção da sociedade socialista, período transitório para a emancipação do
proletariado na sociedade comunista. A conquista revolucionária do poder político envolve dois
aspectos fundamentais: a) a participação dos trabalhadores como sujeito da ação histórica contra o
capitalismo e a sociedade burguesa; b) a organização e o fortalecimento dos instrumentos políticos
revolucionários capazes de dirigir a disputa pela hegemonia do proletariado na sociedade, fazendo
uso das formulações teóricas e políticas que embasam a teoria social desenvolvida por Marx, Engels,
Lênin e outros revolucionários.
2) É no terreno concreto da luta de classes que o PCB trabalha para consolidar-se como um dos
principais instrumentos revolucionários, desenvolvendo uma plataforma política capaz de construir
uma alternativa real de poder para os trabalhadores. Neste processo histórico, o Partido objetiva se
tornar um dos aglutinadores da radicalidade da transformação socialista, contribuindo para a unidade
de ação de todas as forças do Bloco Revolucionário, como um formulador de uma política de classe,
avançada e independente, política esta que dirija as forças anticapitalistas para a revolução
socialista.
3) Desde 1992, quando demos início ao processo de reconstrução revolucionária do PCB, logo após
a ruptura com setores que queriam liquidar o partido seguindo uma linha abertamente de direita,
vimos afirmando a estratégia da Revolução Socialista como o caminho a ser trilhado pela classe
trabalhadora e seus aliados fundamentais para a tomada do poder e a superação da sociedade
burguesa, no rumo do socialismo no Brasil. A estratégia da Revolução Socialista consolidou-se
definitivamente entre nós no XIV Congresso, realizado em outubro de 2009. Nossas resoluções
políticas e de organização foram aprofundadas nas Conferências de Organização (2008) e de Tática
(2011).
4) Se no XIII Congresso (2005) já havíamos rompido com o governo Lula, no XIV Congresso
avançamos para a formulação da necessidade de construção do Bloco Revolucionário do
Proletariado, visando ao aprofundamento das lutas contra o bloco dominante, formado hoje,
fundamentalmente, pela burguesia monopolista, pelo monopólio capitalista da terra e pelo
imperialismo. A orientação central da estratégia do PCB pode ser assim resumida: “uma vez
constatado que o capitalismo no Brasil já atingiu a etapa monopolista, fica claro que o processo
revolucionário brasileiro é de caráter socialista” (Resoluções do XIII Congresso).
5) No XIV Congresso, consideramos que o Brasil se tornou um país capitalista completo, ou seja,
uma formação social capitalista na qual predominam as relações de trabalho assalariadas, a
propriedade privada burguesa dos meios de produção, as formas de produção e acumulação
ampliada de capitais que completaram seu caminho até a formação dos oligopólios, formas estas
inseparavelmente ligadas ao imperialismo, que determina as relações econômicas mundiais. O Brasil
desenvolveu um parque industrial oligopolista, setores de infraestrutura de mineração, energia,
armazenagem, transporte, portos e aeroportos, malhas urbanas, um comércio nacional e
internacional, capitalizou o campo, gerou a estrutura moderna da agricultura, um sistema financeiro
interligado ao mercado mundial e uma malha logística de serviços e ações públicas necessárias à
reprodução das relações burguesas de produção.
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6) Trata-se de uma economia capitalista que já atingiu sua completude, ou seja, já consolidou
plenamente seu parque industrial, seu mercado interno, estendeu à produção agrícola as mais
avançadas técnicas de organização e exploração capitalistas, criou e desenvolveu o capital
financeiro. Toda essa estrutura, altamente complexa e diversificada, está plenamente integrada aos
fluxos internacionais de reprodução do capital. Tal integração ao sistema capitalista mundial verifica-
se na reprodução de práticas imperialistas, que podem ser observadas através da exportação de
capitais de empresas brasileiras pelo mundo afora, tal como Vale do Rio Doce, Santista, Friboi,
Odebrecht, Gerdau, Votorantim, Petrobras, entre outras, fato que não elimina a sua subordinação
aos polos centrais do capitalismo mundial.
7) Próprio do desenvolvimento desigual e combinado desse modo de produção, a particularidade
brasileira absorve e reproduz o capitalismo em toda sua complexidade atual, mas não elimina a
posição de autonomia relativa da economia do país frente ao imperialismo mundial, pois o caráter da
integração reproduz a histórica associação subordinada da burguesia que se constituiu no país –
mesmo que com novos formatos históricos. É preciso, pois, reconhecer a existência de inúmeras
relações de interdependência entre a estrutura econômica brasileira e o sistema capitalista
internacional, como em certas áreas do comércio exterior e na constituição de diversas cadeias
produtivas. Podemos afirmar, enfim, que a formação social brasileira atual, em todas as suas
dimensões, produz e reproduz a forma própria da sociedade capitalista, na qual o eixo central da luta
de classes passa pelo confronto de interesses entre o proletariado e a burguesia.
8) A burguesia brasileira é formada por diversas frações: a industrial, a bancária/financeira, a
comercial, a agrária, o grande empresariado do setor de transportes, a oligarquia que controla as
comunicações no Brasil (toda a rede de TV, controlada por 8 famílias, e os maiores jornais e rádios
do país) e uma facção que contrata serviços diversos formados pela mercantilização crescente de
setores como os da saúde, educação e outros. Ao mesmo tempo, o capital subordina ao mercado e
ao processo ampliado de acumulação de capitais todos os setores que mantêm relações não
capitalistas. É o que ocorre no campo, onde predomina a proletarização promovida pela grande
produção agrária oligopolista (o chamado agronegócio) associada à formação de um proletariado
precarizado, combinadas ou não com a pequena propriedade dedicada à agricultura familiar ou com
formas coletivas de trabalho (cooperativas, assentamentos), as quais cada vez mais são forçadas a
se vincular ao mercado e à lógica do capital. A expansão agroindustrial promove também a expulsão
de comunidades camponesas, quilombolas e indígenas, transformando terras antes dedicadas à
produção de alimentos em áreas produtoras de “commodities”. Ao mesmo tempo, consegue
combinar um alto nível tecnológico com a precarização da força de trabalho, promovendo, em
algumas regiões do país, trabalhos análogos à escravidão.
9) Com o crescimento e a consolidação da moderna economia industrial monopolista, generalizou-se
o assalariamento e formou-se um numeroso proletariado, caracterizado como o conjunto dos
trabalhadores que só podem viver mediante a venda de sua força de trabalho. O núcleo central dos
assalariados é o setor operário, formado pelos trabalhadores produtivos, explorados diretamente pelo
capital e que passou por grandes transformações a partir dos anos 1990. Ao contrário do que se
apregoou com o suposto “fim do trabalho”, o operariado industrial brasileiro cresceu em números
absolutos e desconcentrou-se territorialmente, tendo ainda se fragmentado com a terceirização e a
descentralização das empresas. O operariado industrial é o setor da classe trabalhadora
estrategicamente posicionado no coração da economia capitalista, do ponto de vista da luta de
classes.
10) A urbanização crescente e a criação de uma infraestrutura para o desenvolvimento da
acumulação capitalista geraram camadas urbanas intermediárias que vão desde setores gerenciais,
profissionais assalariados, pequenos e médios comerciantes, técnicos especializados, professores,
pesquisadores, médicos, advogados e outros profissionais. Parte destas camadas médias passou,
nos últimos anos, por uma intensa proletarização, transformando-se em assalariados do capital. Ao
lado destes profissionais proletarizados, somam-se funcionários públicos nos diferentes setores de
ação do Estado, compondo uma numerosa camada heterogênea, com condições de trabalho e
remuneração diversas, a qual sofreu uma precarização crescente nos últimos governos neoliberais.
11) O exército industrial de reserva é formado por um proletariado precarizado, submetido a relações
de trabalho cada vez mais precárias e incertas. Estes trabalhadores estão inseridos nas condições
gerais da acumulação de capitais, como força de trabalho abundante e barata, de diferentes modos:
como operadores da chamada economia informal, como consumidores e agentes da economia
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política da criminalidade ou como base de massa e objeto de ação de uma rede de assistencialismo
e de “filantropia” formada pelo chamado terceiro setor. Parte desta superpopulação relativa mantém
vínculos políticos e culturais com o proletariado, uma vez que se forma constantemente de
expropriados, funcionalmente utilizados pelo capital como forma de manter o valor da força de
trabalho em níveis aceitáveis para a acumulação de capitais. Há ainda uma massa de trabalhadores
desempregados, sem perspectiva de retorno ao mercado de trabalho, que, em condições de pobreza
absoluta, sobrevive da precária proteção oferecida pela assistência estatal. Essa massa tende a ser
manipulada politicamente pelo Estado burguês.
12) Assim, a estrutura de classes no Brasil apresenta um polo burguês, hegemonizado pela grande
burguesia monopolista, e um polo proletário, composto pela imensa massa de assalariados urbanos
e rurais, constituindo, assim, as duas classes antagônicas da luta de classes no Brasil. Do lado delas
coexistem segmentos ou setores médios que tendem ao assalariamento, um campesinato
heterogeneamente formado pela agricultura familiar, cooperados, assentados e pequenos
proprietários e um proletariado precarizado imerso em uma superpopulação relativa inserida de
maneira precária e brutal nas condições do mercado capitalista.
a) A luta pelo Poder Popular se expressa nas ações independentes da classe trabalhadora em
seus embates contra as manifestações mais evidentes da ordem do capital, os quais ganham
a forma mais expressa de mobilizações, greves e movimentos que colocam em marcha os
diferentes segmentos do proletariado e da classe trabalhadora em geral. Neste aspecto
afirmamos que o Poder Popular existe já em germe na construção da autonomia e da
independência de classe destes movimentos que se chocam com o bloco conservador e sua
política em defesa da ordem burguesa, através das organizações próprias da vida cotidiana,
da organização e da resistência da classe trabalhadora (movimentos sociais, sindicatos,
organizações e partidos de esquerda, fóruns de luta pela saúde, educação, moradia,
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transporte, etc.), ainda que, neste momento, atuem de forma fragmentada e sem a unidade
política necessária.
b) Essas lutas e os enfrentamentos tendem a se intensificar e, diante da reação esperada do
poder burguês, caminhar no sentido da necessária unidade programática em torno de eixos
comuns de luta que unifiquem as demandas setoriais apresentadas de forma fragmentada em
uma pauta cada vez mais precisa de bandeiras e reivindicações, sob as quais o movimento
de massas define sua independência em relação aos governos da ordem e ao bloco
dominante, dando forma ao campo popular e de esquerda.
c) A culminância das lutas de massas e das resistências desenvolvidas aponta para o
aprofundamento da autonomia do campo popular expressa nas bandeiras de luta, na pauta
das demandas apresentadas e em formas organizativas capazes de se configurar como força
política contraposta ao bloco dominante e como alternativa de poder, formulando um
programa político de transformações necessárias de caráter anticapitalista. Neste momento, o
Poder Popular encontrará as formas organizativas necessárias que não podem ser
antecipadas (Conselhos, Assembleias Populares, Comitês, etc.).
d) No quadro de uma situação revolucionária ou pré-revolucionária, esta construção política
pode e deve assumir a forma de uma dualidade de poderes que prepare as condições para
os enfrentamentos decisivos contra as classes dominantes e seu Estado – a ditadura da
burguesia –, combinando formas diretas de luta que possibilitem a constituição de uma real
alternativa de poder dos trabalhadores. Neste momento, o Poder Popular assume toda sua
potencialidade como germe de um novo Estado sustentado pelas massas populares e pela
classe trabalhadora, na perspectiva da transformação radical da sociedade. Plenamente
desenvolvido em seu potencial, o Poder Popular se converte em germe de um Estado
Proletário – a Ditadura do Proletariado – que conduzirá a transição socialista visando
erradicar a propriedade privada, as classes e, portanto, o próprio Estado através da livre
associação dos produtores.