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Cotidiano

As 10 escolas da Administração
Estratégica
Este artigo apresenta as dez escolas de estratégia,
segundo Mintzberg. A formação da estratégia de uma
empresa é de vital importância, sendo que a estratégia
adotada num determinado momento ou situação deverá
ser a que melhor atende a realidade e necessidade da
empresa.
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Na perspectiva de apresentar as escolas da Administração Estratégica relatadas por


Mintzberg no livro "Safári de Estratégia", foi realizado um estudo da filosofia de cada
uma das dez escolas de estratégia, a fim de perceber as principais contribuições
destas na administração das empresas e organizações.
As dez escolas da administração Estratégica
A estratégia organizacional é vital para o sucesso e perpetuação de uma empresa ou
negócio. Muitos pensadores debatem sobre como é o processo de formulação de uma
estratégia. As conclusões são divergentes, porém, consoante a cada realidade,
tornam-se complementares.
Mintzberg compilou as diferentes vertentes e pensadores num único livro, dividindo as
dez escolas de estratégia em três categorias:
Escolas Prescritivas: Escola do Design, Escola do Planejamento, Escola do
Posicionamento;
Escolas Descritivas: Escola Empreendedora, Escola Cognitiva, Escola do Aprendizado,
Escola do Poder, Escola Cultural e Escola Ambiental;
Escola Configurativa: Escola da Configuração.
Apresentamos a seguir, a filosofia de cada escola em relação à formação de
estratégia, bem como alguns exemplos concretos de como esta formação pode ser
visualizada no cotidiano das empresas e organizações.
10. Escola do Design

A formação de estratégia é vista como um processo de concepção. Busca uma


adequação entre as capacidades internas e as possibilidades externas, a fim de
posicionar a empresa em seu ambiente. A responsabilidade pela percepção e controle
da concepção estratégica é do executivo principal da organização, o que é criticado,
pois a plena participação de outros atores enriquece a análise e escolha da melhor
estratégia.
Exemplo: Fazer análise do ambiente utilizando a ferramenta Matriz SWOT, a fim de
avaliar os pontos fortes e fracos da situação interna e as ameaças e oportunidades da
situação externa, para criar/gerar a base da estratégia da empresa.
9. Escola de Planejamento

A formação da estratégia é vista como um processo formal, sustentado por técnicas,


programas, planos. É feito um estudo formal para "pensar a estratégia". Deriva da
escola de Design, mas é mais elaborada, com planos mais complexos e controles
específicos.
Exemplo: As atividades de controle desenvolvidas pelo setor de Planejamento e
Controle de Produção (PCP) de uma empresa. A partir de uma análise delas é possível
verificar os pontos a melhorar na empresa, como por exemplo, melhorar a
programação da produção de um setor químico com produção em bateladas.
8. Escola de Posicionamento

A formação de estratégia é vista como um processo analítico. O administrador é mais


analista, faz uma análise dos fatos passados e dos dados estatísticos, a fim de
planejar o futuro. Michael Porter foi o impulsionador desta escola, contribuindo com
ferramentas como as "cinco forças de Porter", que influenciam a concorrência, e as
"estratégias genéricas de Porter" que busca alcançar um desempenho acima da média
numa indústria. O papel desta escola é apoiar o processo de formulação de estratégia,
e não criar estratégias, pois a análise de dados é um processo estático e ordenado e
não dinâmico, rico e confuso como o de formulação de estratégia.
Exemplo: Fazer análise da atratividade/competitividade de um setor, descrevendo as
5 forças de Porter referente ao negócio, a fim de analisar a rivalidade dos
concorrentes, as ameaças de novos entrantes, a ameaça de produtos substitutos, o
poder de barganha dos fornecedores e dos clientes. A partir da análise dos resultados,
é possível pensar numa estratégia competitiva para entrar ou manter-se no mercado.
7. Escola Empreendedora:

A formação de estratégia é vista como um processo visionário. Este processo está na


mente do líder, o empreendedor que tem uma visão de futuro da organização e um
senso de direção a longo prazo. Assim, a visão estratégica é maleável, deliberada
(foco no controle) e emergente (foco no aprendizado). As estratégias visionárias são
pró-ativas, com liderança personalizada, o que possibilita inovações e diferenciação
para a organização. Contudo, por ser dependente de um único indivíduo – o líder – a
estratégia possui um processo obscuro, enterrado na cognição humana.
Exemplo: Pequenas empresas que são administradas pelo próprio dono e criador do
negócio são dependentes das idéias e visões dele para formular estratégias de
concorrência. Por exemplo, um posto de combustível num bairro, para aumentar suas
vendas ou manter seus clientes, o líder/empreendedor passa a comercializar GNV,
visto que é uma tendência de novo combustível que os clientes estão aderindo e não
há nenhum posto na região oferecendo este produto.
6. Escola Cognitiva

A formação de estratégia é vista como um processo mental. É o estudo de como os


indivíduos processam as informações vindas do ambiente e formulam uma estratégia
na mente, a fim de categorizar o processo em mapas, modelos, conceitos e esquemas.
Assim, o mundo visto pode ser modelado, emoldurado e construído. Compreender a
mente humana e como as várias áreas de conhecimento interage na mente do
estrategista é uma grande contribuição para psicologia cognitiva. Apesar deste
mapeamento ainda não ser possível, esta escola reconhece o processo criativo mental
do estrategista e o quanto esta subjetividade cognitiva é uma incógnita interessante a
ser desvendada.
Exemplo: Perante um ambiente em crise econômica, como por exemplo, a crise
mundial vivida em conseqüência do não pagamento das hipotecas nos EUA, o
estrategista de uma empresa utiliza seu conhecimento inconsciente e/ou consciente,
relacionando-o com a percepção do ambiente, e formula uma estratégia de
sobrevivência financeira para a empresa.
5. Escola de Aprendizado

A formação da estratégia é vista como um processo emergente, que procede do


comportamento que estimula o pensamento retrospectivo para que se possa
compreender a ação. A estratégia realiza-se ao longo do tempo, através de seus
membros, individualmente ou coletivamente. Assim, o papel da liderança passa a ser
de não preconceber estratégias deliberadas, mas de gerenciar o processo de
aprendizado estratégico, pelo qual novas estratégias podem surgir. A contribuição
desta escola é importante, pois nem sempre as empresas possuem um empreendedor
visionário e elas precisam construir estratégias levando em conta os diferentes
conhecimentos individuais e coletivos, para enfrentar ambientes dinâmicos e
imprevisíveis.
Exemplo: O conhecimento tácito de um indivíduo pode visualizar coisas ocultas e
formular idéias e estratégias que só pelo conhecimento explícito não seria possível.
Por exemplo, os operários que trabalhavam no processo de fabricação de creme
dental possuíam uma solução mais simples e barata do que os engenheiros para o
problema de caixas de creme dental vazias, pois obtinham o conhecimento tácito do
processo.
4. Escola do Poder

A formação da estratégia é vista como um processo de negociação, utilizando a


influência do poder e da política. As estratégias tendem a ser emergentes e assumem
mais a forma de posições e meios de iludir do que de perspectivas. É subdividida em
micropoder (formação de estratégia pela persuasão, barganha ou confronto direto
entre os atores que dividem o poder na empresa) e macropoder (utilza seu poder
sobre os outros e parceiros de alianças para negociar estratégias coletivas de seu
interesse). A dimensão política pode ter um papel positivo na organização, pois
possibilita mudanças necessárias bloqueadas pelas formas mais estabelecidas e
legítimas de influência. Por outro lado, também pode ser a fonte de muito
desperdício e distorção, pois as forças integradoras de liderança e cultura são
desprezadas pela escola.
Exemplo: Vários municípios solicitam recursos federias para financiar obras de
saneamento para a população. Todos se enquadram nos pré-requisitos definidos pelo
governo, porém os recursos são limitados e não será possível atender a todos. Os
prefeitos que possuem influência política com os governantes, geralmente por serem
do mesmo partido, terão mais probabilidade de conseguir os recursos para seu
município.
3. Escola Cultural

A formação da estratégia é vista como um processo coletivo, de interação social,


baseado nas crenças e nas interpretações comuns aos membros de uma organização,
as quais são adquiridas através de um processo de aculturação ou socialização. Assim,
a estratégia assume a forma de uma perspectiva inconsciente e de interação social.
Nesta visão, é difícil criar novas estratégias, pois dependem da aceitação cultural e
consenso de expectativas.
Exemplo: Uma estratégia de fusão de empresas pode acarretar em confronto de
diferentes culturas. As diferenças culturais menos evidentes podem servir para
desfazer a união.
2. Escola Ambiental

A formação da estratégia é vista como um processo reativo. A organização é passiva,


reage ao ambiente, isto é, cria estratégias a partir do que o ambiente apresenta. As
organizações não visam umas as outras diretamente; em vez disso, é o ambiente que
estabelece os critérios de adequação. Nesta escola, ambiente significa tudo o que não
é a organização. Assim, os processos de estratégias são desenvolvidos pela percepção
que se tem do ambiente.
Exemplo: Um pequeno mercado num determinado bairro trabalha a anos no mesmo
ritmo e forma. Não se preocupa em melhorar processos e inovar em produtos e
serviços. Num determinado momento, abre um novo empreendimento no bairro: outro
mercado concorrente, com maior diversidade de produtos e promoções atraentes. Ao
perceber que o ambiente mudou e que está perdendo clientes, o mercadinho antigo
reage com lançamento de promoções e busca adequar-se a nova realidade,
melhorando seu empreendimento.
1. Escola da Configuração

A estratégia é vista como um processo de transformação, através de mudanças


estruturais e inovações. As organizações são percebidas como configurações, ou seja,
agrupamentos coerentes de características e comportamentos. Para haver uma
mudança estratégica, a organização tem que mudar de configuração, ocorrendo
assim, uma transformação da organização.
Exemplo: A empresa Fugi trabalhava com filmes fotográficos e mudou radicalmente
sua estratégia a fim de adaptar-se às novas tecnologias do mercado fotográfico:
passou a comercializar máquinas digitais ao invés dos filmes fotográficos.
Consideraçãoes finais

Segundo Mintzberg, qualquer processo de formulação estratégica no mundo real


poderá incluir uma ou mais escolas de pensamento estratégico, dependendo da atual
conjuntura em que vive a empresa. Assim, as dez escolas de estratégia contribuem
para a formação da estratégia de uma empresa, pois elas se misturam e se
complementam, sendo que a estratégia adotada num determinado momento ou
situação deverá ser a que melhor atende a realidade da empresa.
MINTZBERG, H.; AHLSTRAND, B.; LAMPEL, J. Safári de estratégia. Porto Alegre:
Bookman, 1999.
MINTZBERG, H. O processo da estratégia. Porto Alegre: Bookman, 2001.3.

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