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TRIBUNAL DE JUSTIÇA

PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Registro: 2017.0000256313

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2005484-69.2017.8.26.0000, da Comarca de São José do Rio Preto, em que são agravantes
HENRI FERNANDO BERTELLI (JUSTIÇA GRATUITA) e NATÁLIA BERTELLI
(JUSTIÇA GRATUITA), é agravado MITSUI SUMITOMO SEGUROS S/A.

ACORDAM, em 27ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de


São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de
conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores MOURÃO


NETO (Presidente), SERGIO ALFIERI E CAMPOS PETRONI.

São Paulo, 4 de abril de 2017

MOURÃO NETO
RELATOR
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo

Agravo de Instrumento n. 2005484-69.2017.8.26.0000

Voto n. 12.999
Comarca: São José do Rio Preto (4ª Vara Cível)
Agravantes: Henri Fernando Bertelli e Natalia Bertelli
Agravada: Mitsui Sumitomo Seguros S/A
MM. Juiz: Paulo Sérgio Romero Vicente Rodrigues

Processual civil. Agravo de instrumento. Ação de


obrigação de fazer cumulada com indenização por danos
materiais e morais. Decisão que indeferiu pedido de
antecipação de tutela visando ao imediato pagamento,
pela ré, do IPVA do exercício de 2016, bem como a
imediata transferência dos salvados.
Não satisfeitos, em cognição sumária e sem
contraditório efetivo, os requisitos do artigo 300 do novo
CPC (perigo da demora e direito provável evidenciado),
é o caso de se manter o indeferimento da antecipação de
tutela. Sacrifício ao contraditório efetivo que por ora não
se justifica. Decisão mantida.
RECURSO DESPROVIDO.

I Relatório.
Trata-se de recurso de agravo de instrumento interposto por
Henri Fernando Bertelli e Natália Bertelli contra a decisão digitalizada a fls. 67
que, nos autos da ação de obrigação de fazer cumulada com indenização por
danos materiais e morais que propuseram contra Mitsui Sumitomo Seguros
S/A, indeferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela que visa o imediato
pagamento do IPVA do exercício de 2016, bem como a imediata transferência
dos salvados para o nome da seguradora.

Postulam a reforma do decisum ao argumento, em síntese, de


que “(...) após o encerramento do sinistro, com a devida entrega da documentação pelo
agravante à agravada e o devido pagamento da indenização pela Agravada ao Agravante, a

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Cia. Seguradora já deveria ter providenciado a quitação dos débitos, bem como a transferência
do bem para seu nome” (fls. 5).

O agravo foi processado sem intimação da parte contrária,


por se tratar de decisão proferida inaudita altera parte e com olhos postos na
inutilidade do contraditório.

II Fundamentação.
Henri Fernando Bertelli e Natalia Bertelli, ora agravantes,
ajuizaram ação de obrigação de fazer cumulada com indenização por danos
materiais e morais contra Mitsui Sumitomo Seguros S/A, ora agravada,
aduzindo que o agravante Henri ajuizou ação de cobrança contra a agravada,
processo n. 1006844-45.2015.8.26.0576, que tramitou perante a 1ª Vara Cível da
Comarca de São José do Rio Preto e que teve como objeto a indenização
relativa ao contrato de seguro do veículo marca GM, modelo Corsa Sedan,
ano/modelo 2002/2003, Placa DHG5581, na ocasião de propriedade da
agravante Natália.

Narram que a agravada, naquela demanda, foi condenada ao


pagamento da indenização securitária, com correção monetária a partir da
negativa de pagamento e com juros de mora de 1% a contar da citação. A
sentença foi parcialmente reformada apenas em relação à apresentação dos
documentos, entrega dos salvados e desconto referente ao prêmio em aberto.

Aduzem que, após o trânsito em julgado, o agravante enviou


todos os documentos necessários e o veículo sinistrado para a seguradora que,
por sua vez, pagou a indenização.

Os agravantes garantem que a seguradora agravada não


cumpriu com sua obrigação de pagar o IPVA do exercício de 2016 e que o valor
correspondente foi descontado da indenização devida. Sustentam, ainda, que a
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dívida foi lançada no CADIN e protestada pela Fazenda Pública do Estado de


São Paulo.

Com base nesta causa de pedir postulam a concessão de tutela


antecipada, consistente em ordem para que a agravada proceda ao imediato
pagamento do débito relacionado ao veículo objeto do contrato de seguro, bem
como a imediata transferência do bem para o nome dela e, ao final, a
confirmação da tutela a ser concedida e a condenação da agravada ao
pagamento de indenização por danos materiais e morais (fls. 11/27).

Sobreveio então a decisão agravada que, em síntese,


considerou: “A parte autora noticia que a requerida não cumpriu integralmente com
obrigação lhe imputada por decisão judicial já transitada em julgado no processo nº.:
1006844-45.2016. Contudo, em consulta à referido processo através do sistema SAJ, observa-
se que a requerida se recusou a depositar os valores com os abatimentos que o autor pediu (fl.
236). O autor, por sua vez, concordou com o depósito feito a fl. 283 (fl. 292) e o processo
restou arquivado (fl. 299). Assim, não presente a probabilidade do direito do autor, indefere-se
a tutela provisória de urgência” (fls. 67).

Pois bem.

O agravo não comporta provimento.

Consoante o artigo 300, caput, do novo CPC, “a tutela de


urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo”. Dois, como se vê, os requisitos indicados nesse dispositivo para a
concessão da tutela de urgência: perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo e probabilidade do direito.

Quanto ao primeiro requisito, é de se ressaltar que o


legislador visa obviar o “periculum in mora”.

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Ensinam Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery


que “Duas situações, distintas e não cumulativas entre si, ensejam a
tutela de urgência. A primeira hipótese autorizadora dessa antecipação é
o periculum in mora, segundo expressa disposição do CPC 300. Esse
perigo, como requisito para a concessão da tutela de urgência, é o mesmo
elemento de risco que era exigido, no sistema do CPC/1973, para a
concessão de qualquer medida cautelar ou em alguns casos de concessão
de tutela” (in Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2015, p. 857/858)

Quanto ao segundo requisito, é de se ressaltar que o legislador


exige o fumus boni iuris (ou seja, a probabilidade do direito).

E, nesse particular, a lição de Nelson Nery Júnior e Rosa


Maria de Andrade Nery é a de que “Também é preciso que a parte
comprove a existência da plausibilidade do direito por ela afirmado
(fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa assegurar a eficácia
do processo de conhecimento ou do processo de execução” (op. cit. p.
858).

Ainda quanto a esse segundo requisito da tutela de urgência, o


legislador não exige prova inequívoca, mas, sim, elementos que, em cognição
sumária, evidenciem a probabilidade do direito, ou seja, a partir de um
quadro probatório ainda incompleto (situação destes autos).

Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel


Mitidiero arrematam que “Quer se fundamente na urgência ou na
evidência, a técnica antecipatória sempre trabalha nos domínios da
'probabilidade do direito' (art. 300) e, nesse sentido, está comprometida
com a prevalência do direito provável ao longo do processo. Qualquer
que seja o seu fundamento, a técnica antecipatória tem com pressuposto

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a probabilidade do direito, isto é, de uma convicção judicial formada a


partir de uma cognição sumária das alegações da parte” (in Novo curso de
processo civil: tutela dos direitos mediante procedimento comum, volume II.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 202)

Ademais, a tutela de urgência não será concedida quando


houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, nos termos do artigo
300, § 3º, do novo CPC.

No caso concreto, entretanto, em cognição sumária, não se


vislumbram presentes elementos que evidenciem a existência de direito
provável.

É importante salientar que dos autos principais se extrai que a


ré já foi citada e já apresentou contestação (fls. 82/93 dos autos principais), de
modo a viabilizar, na origem, decisão quanto à medida de urgência à luz do
contraditório efetivo.

Não se pode perder de vista, ainda, que parte da pretensão


dos agravantes parece estar prejudicada, pois na contestação a ré informou que
quitou os débitos postulados pelos agravantes na petição inicial.

III Conclusão.

Diante do exposto, nega-se provimento ao recurso.

MOURÃO NETO
Relator

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