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FICHAMENTO Direito Processual Penal

T4A. Princípios e questões relativas aos inquéritos policiais e investigações criminais. Atribuições
da Polícia Federal.
Bibliografia utilizada: Renato Brasileiro

Falta o item em itálico.

1. A investigação preliminar é a fase pré-processual de apuração e investigação


criminal e se pratica no mundo em uma variedade de modelos (policial, juiz de
instrução e promotor investigador). A investigação preliminar é um gênero de que
são espécies o inquérito policial, as sindicâncias, as comissões parlamentares de
inquérito, etc. Possuem caráter prévio e natureza preparatória em relação ao
processo penal e buscam averiguar autoria e as circunstâncias de um fato
aparentemente delituoso.
2. A investigação preliminar busca trazer à luz um fato oculto relacionado com o
cometimento de um crime. Ela procura, desse modo, encontrar elementos
suficientes de autoria e materialidade (fumus commissi delicti) que justifiquem (se
forem encontrados) o oferecimento da denúncia ou (se não forem encontrados) o
pedido de arquivamento. Serve, desse modo, como um filtro processual para evitar
acusações infundadas, seja porque despidas de lastro probatório, seja porque
aparentemente inexiste conduta criminosa. Está vestida, assim, de dupla função:
a) preservadora: inibe a instauração de um processo penal infundado e temerário;
b) preparatória: fornece elementos de informação para que o titular da ação penal
ingresse em juízo, além de acautelar meios de prova que poderiam desaparecer
com o decurso do tempo.
3. Possui natureza jurídica de procedimento administrativo (não é nem processo
judicial, nem processo administrativo), pois dele não resulta imposição de sanção.
É um procedimento que, embora obedeça uma sequência lógica, é flexível. É mera
peça informativa que, se eivada de vício, não tem o condão de anular o processo
a que eventualmente deu origem, o que não exclui o fato de que provas ilícitas
produzidas durante o inquérito devam ser descartadas no curso da ação penal.
4. O inquérito policial busca elementos para a tomada de decisão por parte do titular
da ação penal sobre o oferecimento ou não da denúncia. Esses elementos sobre
autoria e a materialidade seriam provas? O art. 155 do CPP faz uma distinção entre
elementos de informação e provas, aclarando que o que se produz durante a
investigação preliminar são elementos informativos, que não precisam se
submeter ao crivo do contraditório e da ampla defesa, e não provas, que se
submetem a esse crivo. Durante o inquérito não existe ainda partes e nem
acusados, e é por isso que as exigências do contraditório e da ampla defesa não
se impõem ali. Em suma, toda prova só pode nascer sob o manto do contraditório
e da ampla defesa e, por isso mesmo, as provas, em regra, nascem durante o
processo e não nas fases pré-processuais, como é a do inquérito.
5. O juiz não pode formar sua convicção para condenar um réu baseado apenas em
elementos informativos produzidos na fase pré-processual. Isso não significa que
esses elementos não possam ajudar o juiz a formar sua convicção, mas que essa
conviccção não pode ser formada exclusivamente com base nesses elementos.
Eles podem se somar às provas produzidas em juízo e outros indícios para reforçar
o convencimento do juiz.
6. A polícia judiciária, que titulariza o inquérito policial, possui função repressiva de
apoio ao Poder Judiciário, e atua precipuamente para apurar as infrações criminais
e determinar a autoria dessas. A despeito do art. 4º, CPP dar a entender que polícia
judiciária e polícia investigativa são expressões sinônimas, Brasileiro afirma que
a CF distingue as figuras da polícia investigativa (que atua para apurar as infrações
penais e determinar sua autoria) e polícia judiciária (que atua apoiando o
Judiciário na execução de mandados de prisão, de busca e apreensão, de condução
coercitiva de testemunhas, etc).
7. Atribuição para titularizar o inquérito. Em relação a atribuição para titularizar
o inquérito policial, essa pode ser determinada pela natureza da infração penal:
se a natureza do crime é militar, a investigação incumbe à autoridade de polícia
judiciária militar, seja no âmbito das PMs e dos Corpos de Bombeiros, seja no
âmbito das três forças armadas; se a natureza do crime é comum e a competência
é da justiça estadual, a investigação incumbe às polícias civis, exceto se o crime
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme,
quando a competência será da polícia federal (essas situações foram reguladas
pela L 10.446/02); se a natureza do crime é comum e a competência é da justiça
federal ou da justiça eleitoral, a investigação incumbe à polícia federal, mas pode
ser realizada subsidiariamente pela polícia civil se o crime eleitoral foi cometido
em município que não possui sede da polícia federal. A atribuição pode ser
determinada também, cumulativamente com o primeiro critério, em face do local
da consumação da infração penal: firmada a atribuição da polícia civil, federal
ou da polícia judiciária militar, o passo seguinte é determinar a qual delegacia
incumbe a condução das investigações. O critério é o do local da consumação da
infração penal (nos crimes consumados) ou do último ato executório (nos crimes
tentados). A investigação pode ainda ser subdividida levando em conta a natureza
da infração penal. Isso ocorre com a criação de delegacias especializadas (drogas,
internet, mulheres, etc.). Investigação conduzida por autoridade policial que não
tinha, pela lei, atribuição para presidir o inquérito não tem o condão de anular
eventual processo penal. Trata-se de mera irregularidade.
8. Caractarísticas do inquérito policial. O inquérito é um procedimento escrito (isso
não anula o uso de outros meios, como gravações de depoimentos por meio de
recursos digitais ou mesmo audiovisuais). É, ainda, um procedimento
dispensável, uma vez que é mera peça informativa que subsidia a atuação do
titular da ação penal. Deve, todavia, acompanhar a denúncia ou a queixa, se servir
de base para uma ou outra. É procedimento sigiloso, embora a publicidade seja a
regra no serviço público em geral e nos processos judiciais, inclusive nas ações
penais. Essa publicidade é fundamental para o controle democrático e público da
atuação estatal. O bom termo do trabalho de investigação conduzido pela polícia
investigativa, no entanto, reclama uma restrição à cláusula geral da publicidade.
O efeito surpresa é fundamental na atividade de investigação, daí essa restrição.
O sigilo do inquérito está, assim, garantido pela lei processual (art. 20, CPP). Não
obstante essa garantia de sigilo, o Estatuto da OAB permite aos advogados,
mesmo sem procuração, consultar autos de flagrante e de investigações de
qualquer natureza, em curso ou conclusos. Se no inquérito constar informações
sigilosas como aquela resultante da quebra de sigilo telefônico ou bancário,
apenas advogados com procuração podem acessar essas informações. O STF
entende, e inclusive esculpiu esse entendimento em súmula vinculante (SV nº 14)
que “é direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos
elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório
realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao
exercício do direito de defesa.” Esse acesso do defensor apenas exclui os dados
de diligências não documentadas (ainda em andamento) ou informações sobre
diligências que ainda serão realizadas. É procedimento inquisitorial, onde não
opera (pelo menos não obrigatoriamente) o contraditório e a ampla defesa. Esse,
pelo menos, é o entendimento clássico, mas a doutrina hoje se divide quanto a
esse ponto. O Estatuto da OAB foi alterado em 2016 de modo a permitir aos
advogados dar assistência a investigados durante a apuração das infrações, sob
pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e de atos
deles decorrentes, podendo, inclusive, apresentar razões e quesitos. Essa alteração
se somou a uma interpretação que já existia de que o investigado no inquérito
policial é um “acusado em geral” e que o conceito de “processo administrativo”
inclui o de “procedimento administrativo”, de que o inquérito é uma espécie, nos
termos do art. 5º, LV, CF/88, e por essa razão, estaria assegurado, já na fase
inquérito, o direito à ampla defesa e ao contraditório. Fundamentada nessa
interpretação da Constituição, e amparada pela referida modificação no Estatuto
da OAB, uma corrente doutrinária sustenta que a investigação preliminar –
inquérito policial incluído – está sujeita ao contraditório diferido e à ampla
defesa, e, portanto, não se trata de um procedimento inquisitorial. O alcance do
contraditório e da ampla defesa na fase de investigação preliminar seria, porém,
menor que aquele da fase processual. Negar ao inquérito a condição de
procedimento inquisitorial seria uma decorrência de um sistema garantista e
democrático, que deve assegurar a todo o indivíduo o direito básico de ser
cientificado quanto à existência e o conteúdo de imputações contra si, ainda que
em fase pré-processual, e inclusive se defender delas, até mesmo com auxílio de
defesa técnica. O inquérito policial é uma peça que visa subsidiar a decisão do
titular de ação penal de oferecer ou não a denúncia; essa peça, assim, não tem
compromisso com a acusação, mas com a verdade dos fatos, o que demonstra a
importância da partipação ativa do advogado já na fase investigatória, de modo a
impedir denúncias temerárias baseadas em inquéritos frágeis ou conduzidos de
maneira autoritária. Como já foi adiantado, o entendimento clássico é, contudo, o
de que o inquérito policial é um procedimento inquisitorial, onde a ampla defesa
e contraditório não encontram lugar. O argumento mais importante dessa corrente
clássica escora-se no fato de que a produção do inquérito se dá numa fase
meramente preparatória e não processual, da qual não decorre nenhuma sanção
para o investigado – nem mesma a possibilidade de o juiz condenar apenas com
base nos elementos ali produzidos, art. 155, CPP –, e assim, não requeriria as
garantias do contraditório e da ampla defesa. A esse argumento de direito soma-
se um argumento de fato: permitir a participação do investigado durante o
inquérito policial, com direito à ampla defesa e ao contraditório, tornaria os
procedimentos investigatórios mais lentos e menos efetivos. Segundo essa
corrente clássica, as alterações no Estatuto da OAB a que fizemos referência não
tornam obrigatórias a presença do advogado no interrogatório policial, embora
garantam ao investigado esse direito. Não desnaturaria, portanto, a natureza
inquisitorial do inquérito policial. Uma exceção ao caráter inquisitorial do
inquérito se aplicaria ao processo de expulsão do estrangeiro, por força de
previsão expressa nesse sentido no Estatuto do Estrangeiro, que exige a presença
do contraditório e da ampla defesa no bojo do inquérito de expulsão. O inquérito
é, ainda, procedimento discricionário. O rumo que as diligências devem tomar no
inquérito não é presidido por procedimentos rígidos previstos em lei, mas pela
discricionariedade da autoridade policial, atendendo as peculiaridades de cada
caso. Os artigos 6º e 7º do CPP estabelecem algumas diligências que podem ser
tomadas pela autoridade policial no curso do inquérito, mas essa lista não é
taxativa e autoridade policial não precisa realizar todas aquelas diligências. Fica
a critério dessa autoridade escolher discricionariamente as diligências mais
adequadas a cada caso. Cumpre lembrar que o exercício do poder discricionário
não implica arbitrariedade. É procedimento oficial, porque conduzido por órgão
oficial do Estado e presidido por funcionário público de carreira, o delegado (civil
ou federal). É procedimento oficioso, pois ao tomar conhecimento de crime de
ação penal pública incondicionada, a autoridade policial deve agir de ofício,
instaurado o inquéirito policial independentemente da provocação da vítima ou de
qualquer outra pessoa. A análise de qualquer causa excludente de ilicitude ou de
culpabilidade não cabe à autoridade policial. É procedimento indisponível, a
significar que a autoridade policial não pode mandar, de ofício, arquivar autos de
inquérito instaurado. Diante de uma notícia-crime, o delegado, antes de instaurar
o inquérito, deve verificar a procedência das informações e aferir a tipicidade da
conduta. Não havendo conduta típica ou sendo improcedentes as informações, ele
não está, por óbvio, obrigado a instaurar o inquérito. Pode, para determinar a
procedência da informações, instaurar procedimento que tem sido admitido pela
jurisprudência: a verificação de procedência de informação (VPI). Instaurado o
inquérito, porém, o arquivamento dos autos somente será possível – e é por isso
que se fala em indisponibilidade – a partir de pedido formulado ao juízo pelo
titular da ação penal. É procedimento temporário. Embora o inquérito não seja,
como vimos, um processo, não há dúvidas, por se tratar de investigação, de que a
ele se aplica o princípio constitucional da duração razoável do processo. Um
investigado não pode ser submetido a permanecer nessa condição durante anos.
Se ficar verificada a impossibilidade da colheita de elementos suficientes para
embasar a denúncia do investigado, o inquérito deve ser arquivado. Nesse sentido,
o STJ já concedeu habeas corpus (HC 96.666) exigindo arquivamento de
inquérito envolvendo investigado solto, mas que durava mais de sete anos. No
julgado, o Tribunal esclarece que o trancamento de inquérito por HC é medida
excepcionalíssima, pois a regra é que o inquérito de investigado solto, por si só,
não configura constrangimento ilegal.
9. A forma de instauração do inquérito policial pode variar conforme a espécie de
ação penal do crime objeto de investigação. Nos crimes de ação pública
incondicionada (que são, como se sabe, a regra) o inquérito pode ser instaurado
das seguintes formas: a) de ofício pela autoridade policial. A peça inaugural do
inquérito, nesse caso, é uma portaria exarada por essa autoridade, e esse ato deve
conter o objeto da investigação, as circunstâncias já conhecidas e as diligências
iniciais a serem cumpridas; b) a requisição do juiz ou do MP. Parte da doutrina
considera que apesar da lei determinar que o juiz pode requisitar instauração de
inquérito, tal requisição não é admissível por força do princípio acusatório
adotado pela CF/88. Em relação ao juiz, o dispositivo do CPP que trata da
requisição não teria sido recepcionado pela CF/88. Quando o MP requisita, salvo
manifesta irregularidade e ilegalidade nessa requisiçao, o autor afirma que a
autoridade policial está obrigada a instaurar o inquérito, não por existir hierarquia
entre os órgãos, e sim por força do princípio da obrigatoriedade do inquérito
policial quando se está diante de uma notícia-crime; c) requerimento do ofendido
ou de seu representante legal: o inquérito também pode ser instaurado por
requerimento do ofendido ou de seu representante legal. Nesse requerimento deve
conter, sempre que possível, a narração do fato com as circunstâncias, a
individualização do indiciado ou seus sinais característicos, as razões da
convicção ou da presunção de ser ele o autor do delito, a nomeação de
testemunhas, com a devida qualificação. Considerando que a notícia-crime é
descabida, ou se trata de fato atípico ou alcançado por extinção de punibilidade, a
autoridade policial deve se recusar a instaurar o inquérito. O ofendido pode se
insurgir contra essa decisão, recorrendo ao chefe de policia (art. 5º, §2º, CPP); d)
notícia oferecida por qualquer do povo: é a chamado dalatio criminis simples, a
ser realizada por qualquer do povo, geralmente mediante uma ocorrência policial.
Verificada a procedência, o delegado deve instaurar o inquérito. O indivíduo do
povo não é obrigado a realizar a delatio, exceto em duas situações, caracterizadas
como contravenção, ambas relativas aos crimes de ação pública incondicionada:
crime sobre o qual o indivíduo tomou conhecimento no exercício da função
pública e crime de que teve conhecimento no exercício da medicina ou outra
profissão da área da saúde, salvo, nessa última hipótese, se com isso ele expor
paciente a procedimento criminal; e) auto de prisão em flagrante delito: nesse
caso, o próprio auto funciona como a peça instauradora do inquérito.
10. Nos crimes de ação penal pública condicionada e nos crimes de ação penal
privada a instauração do inquérito policial está subordinada à representação do
ofendido ou à requisição do ministro da Justiça (art. 5º, §4º). A representação é
uma delatio criminis postulatória, que demonstra interesse da vítima ou de seu
representante legal na persecução penal. Nos casos de ação penal privada a
instauração do inquérito reclama requerimento do ofendido ou seu representante,
no prazo de seis meses contados do dia em que o ofendido ou seu representante
tomar ciência do delito. Ultrapassado esse prazo, estará caracterizada a extinção
da punibilidade, razão pela qual o delegado não poderá instaurar o inquérito.
11. Nos casos de denúncia anônima (a chamada notitia criminis inqualificada) a
autoridade policial, antes de instaurar o inquérito, deve verificar a procedência e
a veracidade das informações prestadas. É que a vedação constitucional do
anonimato impede que autoridade policial instaure o inquérito baseado em
denúncia anônima sem antes fazer uma investigação preliminar sobre a
consistência da denúncia.
12. Os artigos 6º e 7º do CPP elencam, num rol meramente exemplificativo,
diligências que podem praticadas pelo delegado de polícia no curso do inquérito
policial. Em regra, a realização dessas diligências enquadra-se no poder
discricionário da autoridade policial, mas algumas entre elas são obrigatórias.
Seguem comentários sobre essas diligências.
13. Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e
conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais; a elucidação de um
crime será tanto mais ágil e fácil quanto mais preservado estiver o local onde o
delito ocorreu, e é isso que justifica a prática dessa diligência. Isso é importante
para tornar consistentes as provas periciais e, inclusive, testemunhais.
14. Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais; todos os objetos, lícitos ou ilícitos, desde que possam contribuir com a
investigação, podem ser apreendidos.
15. Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstâncias;
16. Ouvir o ofendido; o art. 201, §1º, CPP, permite a condução coercitiva do ofendido
para sua oitiva, caso ele deixar de comparecer perante à autoridade policial sem
motivo justo.
17. Ouvir o indiciado, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas
que lhe tenham ouvido a leitura; o suspeito, indiciado ou investigado não é
obrigado a produzir prova contra si mesmo (direito a não autoincriminação) razão
pela qual deve ser advertido pela autoridade policial sobre o seu direito de
permanecer em silêncio, e que do exercício desse direito não poderá decorrer
prejuízo para si.
18. Proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareações; as acareações
podem ser as mais diversas (entre investigado e o ofendido, testemunha e
investigado, testemunha e ofendido, entre ofendidos, quando divergirem em suas
declarações, etc). Por força do direito a não autoincriminação e o direito ao
silêncio que decorre do primeiro, o investigado nunca pode ser obrigado a
participar de acareações.
19. Determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer
outras perícias; essa é uma diligência obrigatória quando a infração deixar
vestígios.
20. Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e
fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes; o art. 5º, LVIII, CF/88, assegura
ao identificado civilmente o direito de não receber identificação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei. A maior doutrina entende que a identificação pelo
processo datiloscópico não pode ser considera uma exceção à regra constitucional,
e portanto a primeira parte desse dispositivo (a que se refere à identificação pelo
processo datiloscópico) não foi recepcionada pela CF/88.
21. Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar
e social, sua condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois
do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contribuírem para a
apreciação do seu temperamento e caráter;
22. Colher informações sobre a existência de filhos, respectivas idades e se possuem
alguma deficiência e o nome e o contato de eventual responsável pelos cuidados
dos filhos, indicado pela pessoa presa.
23. Reconstituição do fato delituoso; essa reprodução simulada dos fatos, segundo a
lei, não pode contrariar a moralidade ou a ordem pública. Pelo direito, já referido,
de não ser obrigado a produzir prova contra si, o investigado não pode ser
obrigado a participar dessa reconstituiçao.
24. Acesso aos dados de vítimas e suspeitos; em relação ao conjunto de crimes
elencados no art. 13-A, CPP, o delegado ou membro do MP podem requisitar, de
quaisquer órgãos do poder público ou de empresas privadas, dados e informações
cadastrais de vitímas ou suspeitos. Esses crimes incluem sequestro, cárcere
privado, tráfico de pessoas, extorsão mediante sequestro, tráfico de pessoas, etc.
25. Se necessário à prevenção e à repressão dos crimes relacionados ao tráfico de
pessoas, o membro do Ministério Público ou o delegado de polícia poderão
requisitar, mediante autorização judicial, às empresas prestadoras de serviço de
telecomunicações e/ou telemática que disponibilizem imediatamente os meios
técnicos adequados – como sinais, informações e outros – que permitam a
localização da vítima ou dos suspeitos do delito em curso; trata-se do acesso ao
posicionamento da chamada estação rádio base. Por esse dado é possível saber a
localização aproximada de qualquer aparelho celular ligado. A dubiedade do
dispositivo do CPP cria dúvidas sobre a necessidade ou não de autorização judicial
para o acesso a esses dados: enquanto o caput, citado, exige autorização, o §4º do
mesmo artigo, a dispensa. Parte da doutrina interpreta que o caput deve ser
interpretado de forma restritiva, pois à luz da própria ideia de requisição (que
aparece no caput) e dos parágrafos do artigo, o legislador não quis impor a
cláusula de reserva de jurisdição para o acesso aos dados em questão.
26. A identificação criminal é gênero de que são espécies a identificação
datiloscópica, a identificação fotográfica e a identificação do perfil genético. A
regra sobre a identificação criminal, estabelecida na CF (art. 5º, LVIII), é a de que
o civilmente identificado não deve ser submetido à investigação criminal, salvo
nas hipóteses previstas em lei. Identificação criminal não se confunde com a
qualificação do investigado (nome, estado civil, etc.) nem com o reconhecimento
de pessoas (que é feito por leigo ao passo que a identificação é processo técnico).
As hipóteses de identificação criminal estão previstas na Lei 12.037/09. Deve ser
submetido a essa forma mais rigorosa de identificação qualquer suspeito que não
se identifique civilmente ou cuja identificação civil não seja consistente
(documento com indícios de falsificação, sem fotos, documentos com dados
conflitantes, de expedição antiga, etc.) Além dessas hipóteses, também é possível
a identificação criminal se essa for essencial às investigações policiais, segundo
despacho da autoridade judiciária competente, que decidirá de ofício ou mediante
representação da autoridade policial, do Ministério Público ou da defesa. Não se
pode alegar que a identificação criminal é inconstitucional por submeter o
identificado à produção de provas contra si mesmo. É que existe dispositivo
constitucional, no mesmo art. 5º que garante o direito ao silêncio, permitindo à lei
estabelecer hipóteses de identificação criminal. Os dois dispositivos
constitucionais (o que estabelece a não produção de provas contra si e o que
permite à lei estabelecer hipóteses excepcionais de identificação criminal, devem
ser harmonizados segundo o princípio da concordância prática ou da
harmonização). Existe discussão na doutrina sobre a inconstitucionalidade da
identificação do perfil genético quando o identificado se nega a fornecer seu
material genético. A pergunta que se levanta é: essa negativa estaria garantida pelo
direito a não auto-incriminação? Brasileiro afirma que sim, exceto se o material
colhido (amostras de sangue, urina, cabelo) que dará origem ao pergil genético
estiver na cena do crime: nesse caso não há se falar em direito a não auto-
incriminação.
27. A incomunicabilidade do preso, prevista no art. 21 do CPP, não foi recepcionada
pela CF, que impede essa incomunicabilidade do preso até no regime
constitucional de crises (estado de defesa), quiçá em tempos de normalidade e,
ademais, garente no art. 5º, LXII que a prisão de qualquer um seja imediatamente
comunicada ao juiz competente e à família do preso ou pessoa por ele indicada.
28. Indiciar (indiciamento) é atribuir autoria (ou participação) de um delito a alguém:
apontar essa pessoa como provável autora ou partícipe do crime. O indiciado é
mais que o mero suspeito e menos que o acusado. Contra o suspeito existem
frágeis e esparsos indícios de autoria; contra o indiciado existem indícios
convergentes de autoria. A terceira figura, a do acusado, só surge quando o juiz
recebe a peça acusatória. A condição de indiciado pode ser atribuída já no auto de
prisão em flagrante ou até no relatório final do delegado. O indiciamento será
sempre ato pré-processual, estabelecido na fase investigatória. O indiciamento
pode ser direto (indiciado presente), e essa é a regra, ou indireto (indiciado
foragido). Reunidos elementos que apontem para a autoria da infração penal o
delegado de polícia deve cientificar o investigado, atribuindo-lhe, de maneira
fundamentada, a condição jurídica de indiciado. Não se trata de um ato
discricionário do delegado, vez que, reunidas os referidos elementos, não resta a
autoridade policial outra alternativa que não o indiciamento. O indiciamento deve
se dar por ato ato formal e fundamentado, constando indicação de possível autoria,
materialidade e as circunstâncias da prática do delito. Caso o indiciamento não
tenha elementos de informação consistentes, a jurisprudência tem admitido
impetração de HC para proceder a desindindiamento. O indiciamento é ato
privativo do delegado, e nenhuma outra autoridade tem poder de determinar ao
delegado a realização do indiciamento. A autoridade policial não pode indiciar
membro do MP nem do Judiciário (se houver indícios de prática de crime por
membro do MP ou juiz, o delegado deve encaminhar os autos para o PGJ ou PGR,
se membro do MP, ou Tribunal competente, se juiz). Do mesmo modo, a
autoridade policial não pode indiciar parlamentares com foro por prerrogativa de
função sem prévia autorização do ministro relator do inquérito. É o entendimento
do STF, que também firmou que o ministro relator, nesses casos, realiza a
supervisão de todo o inquérito, chancelando as diligências necessárias.
29. Quanto à conclusão do IP, segundo o art. 10, CPP, “o inquérito deverá terminar
no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso
preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a partir do dia em que se
executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante
fiança ou sem ela”. É possível a prorrogação desses prazos? O mesmo artigo (§3º)
informa que, caso o indiciado esteja solto e o caso seja de difícil elucidação, o
prazo (de 30 dias), pode ser estendido. Nessa situação, a autoridade policial,
visando fazer novas diligências, requisita ao juiz que devolva os autos do
inquérito, ocasião em que o juiz estipulará novo prazo. Brasileiro argumenta que
o MP também deve ser ouvido nessa requisição pelo delegado de novas
diligências, vez que é o titular da ação penal e pode considerar que o inquérito já
está maduro para o prosseguimento da ação penal. Quanto ao indiciado preso, a
doutrina majoritariamente considera que, se houve motivo para prisão
acauteladora é que já existem elementos suficientes para o oferecimento da peça
acusatória, de modo que a devolução do inquérito para a autoridade policial
proceder novas diligências é desnecessária. Parte da doutrina, Brasileiro incluído,
considera que o prazo para conclusão do inquérito é de natureza processual e não
material. Significa que se conta com a exclusão do primeiro dia e a inclusão do
último e, terminando domingo ou feriado, é prorrogado até o dia útil seguinte. O
prazo de 30 dias com indiciado solto é considerado impróprio, a significar que sua
inobservância não gera nenhuma consequência jurídica. Leis especiais preveem
prazos distintos (exemplo: lei de de drogas prevê prazo de 30 dias com indiciado
preso e 90 dias com indiciado solto, podendo ser dobrados pelo juiz).
30. O inquérito é concluído com a elaboração de um relatório pelo delegado. Trata-se
de peça descritiva onde constará as principais diligências levadas a efeito na fase
investigatória, justificativa do porquê outras diligências não foram realizadas, etc.
O relatório não deve conter juízo de valor, vez que a opinio delicti cabe, conforme
o caso, ao MP ou ao ofendido/representante. O CPP diz expressamente que os
autos do inquérito, concluídos, devem ser remetidos à autoridade judicial (art. 10,
§1º), mas a doutrina considera que esse dispositivo não foi recepcionado pela
Constituição, pois o titular da ação penal no sistema acusatório é o MP, e por isso
os autos do inquérito devem ser remetidos ao parquet. A relação direta entre a
autoridade policial e o juiz se dá apenas nos casos do exame e aplicação de
medidas cautelares (prisão preventiva, interceptação telefônica, etc) e nos casos
de ação penal privada.
31. Conclusos e remetidos os autos do inquérito, duas possibilidades se abrem: a) em
se tratando de crime de ação penal privada, os autos são remetidos ao juiz, que
deve determinar a permanência dos autos no cartório, aguardando a iniciativa do
ofendido ou de seu representante; podem, alternativamente, ser entregues ao
requerente, se solicitado; b) em se tratando de crime de ação penal pública, os
autos do inquérito são remetidos ao MP que: b1) oferecerá a denúncia; b2)
determinará o seu arquivamento; b3) devolverá os autos à autoridade policial,
solicitando novas diligências, que devem ser atendidas, desde que não sejam
manifestamente ilegais; b4) declinará de sua competência, solicitando ao juiz que
encaminhe os autos ao promotor natural; b5) suscitará conflito de competência.

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