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PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE
• • •
NO PRóXIMO NOMEIO :
« PERGUNTE E RESPONDEREMOS .
Assinatura anual ........ . ... .. ... . . . ... ,.. . Cr$ 100,00
Número avulso de qualquer mês Cr$ 10,00
REDAQAO DE PR ADl\IINISTRAÇAO
Livraria l\llsslon6.rla EdItara
Caln Postal :2.688 Rua México, 168-B (Cutelo)
ZC<lO 20.031 RIo de Jane Iro (RJ)
20 . 000 Rio de Ja neiro (Rd) Tel.: 224-0059
"HABEMUS PAPAM!"
Desde 6 de agosto pp., o mundo ocidental se Interessava
pelo conclave que se iniciaria no Vaticano aos 25/08. OS ter-
vilhantes prognósticos da imprensa recaiam sobre nomes de
CardeQ1.s tidos como papabW; até o computador foi moblll·
zaclo para indicar o futllfo Papa!
Ora o resultado do conclave foi surpreendente. O Se-
nhor fez sentir. de modo concreto e soberano, a sua ação na
Igreja. ~ o que enche de júbilo os corações cristãos e nos
inspira algumas reflexões:
1) Em poucas horas foi eleito o novo PonUfice. quando
se previa que o conc1ave seria longo e dificil... Merece
realce este testemunho de unidade e coesão do Colégio Car-
dinalício numa fase em que o mundo está CUvidido por pai-
xõeS e egolsmos; prevaleceram os critérios da fê e do Evan·
gelho. Se 4 própria Igreja vem sofrendo o embate de ten·
sões e correntes em seu seio, na hora decisiva Ela mostro.
que as pode tranqüilamente superar em favor da causa de
CrIsto. De resto. os encontros de Cardeais e bispos ocasio-
nados pelo Concilio Ecumênico e os sucessivos Sinodos Mun·
diais de Bispos têm facUltado grandemente o mútuo conheci-
mento dos pastores da Igreja.
2) O novo Papa, estando mais ou menos fora de cogl.
tações, não fora enquadrado pelos prognósticos em alguma
categoria cpolitlca. (conservador ou progressista). O seu
nome náo dera ocasião a isto. Tais classificações são. por
vezes, mesquinhas e deformantes.
3) A eleição do cardeal Albino Ludani concom! para
desmontar todas 6S cprofecias~ referentes ao Papado. Sn-
be·.se, aliâs, que a de S. Malaqulas nada tem que ver com
este bispo irlandês que viveu no século xn (t 1148) . Até o
século XVI nenhum autor ou documento mencionou tal «pro-
fecia~. Esta teve origem em 1590, durante o conclave que
devia eleger o sucessor de Urbano VUj entre os Cardeais
mais em vista estava Simoncelli. cidadão de Ometo e antigo
bispo dm8 cidade; ora os amigos de SlmoneelU quiseram tavQ.o
recer a eleicão deste prelado apresentando uma lista <pror~
tica» de 111 Papas. em que o SUfraga:d,o~ai.jpós~..u:;t.;rba:.i:in~0<RiVII!Íj
era o Papa De antlqulta.te urbls (Da an~ ...
isto, é o Papa de Orvieto (= Urbs ve 1::...'\::!&a6e"IIUf'Ie:8)
"101..1 n,.l'J.~L~
_ 405 _ C l':~ T C(.-\..)~
., • f l1tf I
em vista disto, forjaram wna sêrle de dIsUcos papais mais
ou menos condizentes com a realidade desde Celestino U
(1143-1144), mas assaz e.rbitrária após Urbano VIL Toda-
via essa fraude foi vã, pois quem saiu eleito do conclave em
1590 foi o Cardeal Sfrondate, arcebispo de Milão, que tomou
o nome de Gregório XIV.
Quanto a Nostradamus, fui pubUcado um artigo em PR
217/ 1978, pp. 22-35, que mostra não ter autoridade profética.
Os fatos recentes assim nos ensinam Q considerar a Igreja
com olhar de fé. .Embora seja hwnana, em virtude dos h0-
mens que a lnteeram, Ela não ê meramente humana; Cristo
na Igreja, e através dela, reallza a sua obra salvIfica. AJiâs,
o próprio Papa João Paulo I. ao receber os jornalistas após.
a sua eleica.o, lhes pedia Que procurem levar em conta as
questões que a Igreja. tem COmO essenciaIs, em vez de Et!
deterem em particularidades secundãrias. Em swna, 8. his·
tórla da Igreja é e serA, até o lim, surpreendente. de modo
que ela sempre avivará a fé.
4) O nome João Paulo I, por ser composto, foge ao
costume adotado pelos Pontlflces anteriores... Bem mostra
como o novo Papa sabe fugir aos cenquadramentos~, ao
mesmo tempo Que professa continuidade de obra iniciada por
sem dois predecessores.
Resta, pois, ~o povo de Deus o dever de agradecer ao
Senhor e. feliz elelcão do novo sucessor de Pedro. A COrl'iÍ-
deracão dos fatos recentes aviva nos fieis a consciência dI!
Igreja. Pertencemos à comunhão dos santos; esta expressão
não significa ccomunhão de pessoas santaS:t, mas, sim c . .. d~
valores santos ou de bens sagrados,. que Cristo adquiriu com
o seu sangue e que entregou à Igreja para serem oportuna-
mente dJspensados aos homens. Ê nessa Igreja que encon-
tramos os mananciais da santidade para cada um de nós c
para O mundo inteiro, pois na Igreja Cristo vive não apenas
como o mestre falecido continua a viver na sua escola, mas
como o tronco de videira continua a viver em seus ramos.
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"PERCiUNTE E RESPONDEREMOS-
Ano XIX - N' 226 - Outubro d, 1978
e a fecunda<âo em proveta?
e a engenharia genétl(a 1
Im ,Im.e: Aot 28 de Julho pp . o nuemento de lour' 8 Brown.
fecundada IITI provell, delplrtou numlfOSllI Indagaç6aa no pObllCCl. O p'"
•• nt• • rtlgo procura raapender-Ih" distinguindo o aspecto' fIIolónco • o
.specto é11co da lem'lIca.
Do ponto de vllta fllol611co. pergunt. ·•••e o 'elo obtido em provata
tava alma humana I • pertlr de quando I 'ave. - ~ 98 fria.' que o
procello reelf:ado "In vllro" foi exatam.nte .njlogo ao qUI .. diria no
leio matamo; OI m6dlcOI apenN f'fproduz:lram artificialmente .. condlçCes
di temperatura I IlImanlaçlo do or"anlamo feminino. Por ton"Ouln",
logo qUI NI provela o óvulo foi fecund.do pelo •• permalo.zoldl, lom.ndo-se
0110, dau-n • Infudo da respectiva alm. dlretamanle criada pilo Senhor
DInII,
Do ponto de: vlal. moral, de. . . dlt,r que. embora I flQ.lntu doa
DB. SIeplD8 a Edwards lanhe. procurado secundar 8 n'lureu. suprindo
auaa dallcl6nclas da manalr. homo06naa no casal Brown. du .. poncla"~a
ae ImpOem :
1) o caso Brown sagua-sa • canlan.. de outros em qua nIo ,.ro
o ambrllo humano '6 formado foi a.crlflcado a morto como .. 10 .... anlm.'
Irraclon.1 ou col.a. Os Ore, Slaploe a Edwarda, em IUI axperfrnenlaçlo.
admlt<tm a posalbllldade de pfOdullr . etea humanos defeltuOlOl, que alo
ellmlnadoa descle que constatados, Ora toda experiência "lua de .ntemlo
aceU. o homlcldlo como pourvel ,olu~lo para algum, Impu.... u, li nlo
._~; .
2) A lnlervençio do. cientistas no proclttto genaretlvo humlno nNela
esta 80 aua se dlli nos animaIs Irracionais. AlI conseq06nclQ ela tal Inler-
vencia vêm e ser as mala Imprevlslvels, ProOl108l1c.... a manlputaçlo da
a.mente vfl.1 humana • ponto de aa fabricarem ''homena aob tecelta".
Ue!'rno que os clentlslas t.nham relas Intançlles, a.blNa OUI o cultlvtl d.
elencla pel. ciência " raro, vlato que o. cIentistas dependem de financia-
dores que têm Inl8reasas prajlméllcoa nem sempre humanlata.". Oa' ..
drla. reservas a ser faltas l Engenharia o,"'Uo•.
• • •
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4 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 226/1918
1. A experi ên da
1 . Les1ey e GUbert John Brown viviam em Easton,
subúrbio de Bristol (Inglaterra), ele atualmente com 38 anos
de idade, como motorista de caminhão, empregado da British
RaIl.
"A Sr•. Lelley Brown do'lo ler lido . ubmlUda * mal. completa e
• • 1,11' vlglJ6ncl. que se pou. Ipllclr I um caIO de gravidez particular·
mente preciosa".
Qual sera. O resultado final da expeliência da qual nasceu
Loulse, ninguém o pode dizer até agora. Os próprios médio
cos observam toda reserva ao falar sobre o caso. Entre·
mentes multas questões ainda. ficam sem resposta: a famllia
Brown quer saber se Louise é criança saclla da qual se poss:.
esperar que leve vida nonnal. Os médIcos, por sua vez, inda·
gam se conseguiram fazer progredir a medicina ou se foram.
autores de mais um desastre de experimentacAo. Quanto à
humanidade ~m geral. ela pergunta se os médIcos devem
gozar de Uberdade para continuar suas ousadas experiências
OU se novas restrieõe8 se lhes devem impor a rim de que se
abstenham de arrombar e devassar o dominIo da natureza.
Jt .esta íaltima pergtUlta que nos interessará especialmente
sob os subtltulos 2, 3 e 4 do presente artigo.
2. Deve.se notar que as experiências de fecundação
artificial foram iniciadas em 1780 pelo prof. P. SpaUanzani, da
Universidade de Pavia, que retirou de wn cão alguns espero
matozoldes e os Injetou na vagina de wna cadela; esta, ses·
senta e dois dias mais tarde, deu à luz três cãezinhos de
todo normais.
~ experiências continuaram a ser efetuadas entre ani.
mais. Assim tem-se produzido a fecundacio no iltero de
uma vaca de boa raca, fazenda-se pouco depois o transplante
do embrião para o iltero de uma vaca menos qualüicadaj
desta forma o animal de boa raca se toma livre para poder
sem demora ser de novo fecundado em semelhantes "condi.
ções. Por tal v1a consegue-se aumentar extraordJnariamente
o número de cabeças de gado seleto.
A inseminação artlfIelal passou a ser praticada também
entre seres hwnanos, provocando certa perplexidade: as mu·
lheres têm sido fecundadas com sementes de doadores anO-
nimos! Em 1941, os médicos americanos "K erner e Seymour,
pioneiros da inseminação artlficlal, comunicaram ao mundo
os resultados das experiências que haviam feito em 9.580
casos humanos; tinham obtido 9.489 partos fellzesl
2. A alma hum.ana
Todo ser vivo é animado por um principio vital, que
no homem não é matet1a1. mas espiritual; comumente é dito
calma humana.. a. pp. 423-434 deste fasc!culo,
Esta, por sua indole mesma Imaterial ou espiritual. não
é gerada pelos genltores. Em outros termos, as almas dos
pais não se repartem nem desprendem de si uma semente
apta a tornar-se a alma de seu 'filho, visto que a alma espi-
ritual não tem extensão nem partes; é incorpórea. Em todo
processo de fecundação, os genltores fornecem as sementes
vitais. ou seja, o espermatozolde e o óvulo. Antes da fecun·
daCão, estes se comportam como instrumentos portadores da
vida dos respectivos genitore5i não têm princípio vital pró·
prlo, mas são vivificados pelOS dos gt'nltore.s, Caso se sepa·
rem dos organismos destes. a vida continua a existir neles a
titulo de entidade transitória (em todo instrumento 8S vir·
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ENGENHARIA GEN>:TICA 9
3. E os aspecto", morais?
Trata-se agora de saber se a façanha da feeundacão ~1n
vitro. é moralmente Jic1ta e, por conseguinte, pode ser tran.
Q.Ullamente repetida. ou mesmo institucionaUzada.
As respostas a esta pergunta são as mais diversas pos.
slvels. A Santa Sé ainda não se pronunciou oficialmente a
respeito, o que talvez slgniflque reserva ou desejo de estu·
dar mais a fundo a questão. As ponderações que abaixo pro-
poremos, não vIsam senão a ajudar o leitor a refletir sobre
a questão à luz dos principios da &ica cristã. AJj conclu-
sOes que delas tiraremos, são despretensiosas, ficando sujei·
tas ao c:referendwn. da autoridade da Igreja.
A fim de abordar o assunto com a posslveI clareza. dis-
tinguIremos cinco hIpOteses de fecundaçio artificial hoje aven-
tadas ou) em alguns casos, praticadas por cientistas:
1) Fecundação a.rtlllclal homogS.... I: injetam.se dire-
tamente dentro da vagina da esposa os espermatozoides do
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10 ePERGUNTE E RESPONDEREMOS' 226/1978
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1.2 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 226/1978
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ENGENHARIA. GEl'ttTICA 13
4. Engenharia Gen6tica
1. Por «Engenharia Genética,. entende-se a arte de
constru..lr o genótipo de wn ser hwnano segundo receitas ou
protótipos concebidos pelo próprio homem. Não somente o
sexo da crianca seria preconcebido pelos cIentistas e seus
mentores, mas também as caracterIstlcas pessoais da mesma
(lncUnaçôes para a arte. para a cIência, para o esporte, para
a vida militar, etc.). Tais realizações são tidas como possí-
veis desde que se anna:zenem em reservatórios ou Bancos
próprios as sementes v1tais masculinas e femininas de gran-
des intelectuais, cientistas, artistas, esportistas. militares, etc.
Tais sementes (óvulos, espennatozoldes ou mesmo genes iso-
lados) seriam comblnadas entre si, de modo a se construir
o genótipo almejado e pré-fabricar o tipo humano desejadO;
poder-se-I& assim produzir uma sérIe de homens ou mulheres
do mesmo padrão, destinados a servir a um plano predefi-
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ENGENHARIA GENtrICA
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16 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOSJl 226J197S
5. Reflexão finol
Proporemos Quatro pontos que nos parecem merecer
atencão:
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ENGENHARIA GENÊTICA 17
--------~~~~~~~------ ---
1) A inseminação artificial e a Engenharia Genética,
sob qualquer de suas formas. jogam com a semente vital
humana e. em muitos casos, com ovos fecundados, como se
tossem meros elementos qulmlcos suscetivels de ser manipu-
lados em proveta. Os cientistas que ~ dedicam a tais expe.-
riências, mostram a disposição (lndlscutlda e incontestada)
de extinguir o processo de laboratório, desde que este apre·
sente sinais de se encaminhar para o insucesso; estão, pois,
dispostos a matar o ser humano obtido artLflclalmente (caso
se trate de ovo fecundado); n~o querem dar origem a mons-
tros nem a criaocas que transtornem a sociedade.
Ora toda experiência ba.s~aaa em. tal premissa vem a "s er
degradação do ser humano ou nivelamento do homem e do
animal. Na verdade, o s:!r humano não se reduz a mera.
matéria; ele é animado por um princípio espiritual (a alma
intelectiva), que lhe confere a sua dignidade inconfundível.
2) S certo Que no caso ela fecundar;ão artificIal hom()o
gênea (por exemplo, no caso Brown) os cientistas foram mo-
vidos pela mais nobre al:lS Intenções. Todavia a sua faça·
nha não deve ser desvinculada da premissa que a orIenta e
das conseqüêncIas que outros cientistas (se não Steptoe e
Edwards) poderão dai tirar: se é licito dirigir artificialmente
a fecundação humana, por que não tentar as façanhas mais
ousadas que a imprensa vem noticiando? Uma Vf?l. que se
perca o respeito pelo que a fecundacão humana tem de espe-
cifico ou sagrado (doação de duas pessoas que se amam
reciprocamente), não há critérios para pôr limites à mamo
pulação do ser humano.
1:, pois, o principio filosófico da dignidade humana que
importa salientar neste momento .. . mais do QU~ a façanbn
de Steptoe e Edwards em relação ao casal Brown. Se o caso
Brown foi feliz (e quem é que o pode garantir desde já?),
outras experiências antel'iores efetuadas pelos mesmos ou
por outros médicos não tiveram o mesmo êxito, redundando
em autênticos homlcldios. Uma premissa filosófica que aceite
com igual tranqWlidaàe o bem e O mal, já não pode ser
tida como vâlida ou ética.
3) Afinal de contas, pode·se perguntar se as experiên.
cias de fecundacto artificial reverterão em maior humanlza·
ção ou em desumanizacão do gênero humano. A caminhada
dos biólogos que fi empreendem. dlrlge--sc para tennos alar.
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18 cPERGUNI'E E RESPONDEREMOS' 226/1978
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o mlll6r1o cio homom:
• • •
Comentário: A expressão calma esplritua.b encontra
pouca ressonánda no mundo de hoje, porque tanto o con·
celto de 81ma como o de esplrito estão prejudicados por cor-
rentes materialistas de pensamento. Além disto, o abuso ou
. o mau emprego de taIs vocá.bulos tem contrlblÚdo para que
suscitem idéiu erronêU em quem D!I ouve. Dal a. necesstdade
de um estudo esclarecedor do assunto. Ê o que proporemos
a seguir, abordando primeiramente algumas noeões bâsicas;
após o que, trataremos em particular da espiritualidade da.
alma humana. Em artigo do próximo número de PR, abor·
daremos a Imortalidade da mesma.
1. Espírito, alma
1. A palavra calma:t provêm do vocábulo latino a.n1maj
signUlca O principio vital ou o prJncipio animador (vivifica-
dor) de um corpo organizado. Isto quer dizer que
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20 cPERC~E E RESPONDEREMOS. 226/ 1978
Em conseqUêncla, distinguem-se
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22 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 226/1978
derar uma questão que nos últimos tempos se põe com insis-
tência:
2. A propósito observemos:
a) os autores bibUeos não pretenderam ccanonizar, ou
ofieiallzar algum sistema filosófico. Verdade é que os mais
antigos escritores sacros eram propensos a conceber o ser
hwnano como wn todo sempre integrado peta matéria ou,
depois da morte, por «sombras da matéria.» (rcpbalm). Os
&emitas dificilmente faziam abstração de imagens e noções 5en·
sIveis, de modo que não lhes era fácil conceber o ser humano
sem matéria. Todavia o autor blbllco do livro do. Sabedoria
(séc. n a .C.) serve·se de noções filosóficas gregas e concebe
a alma humana após a morte como um ser separado do corpo
(cf. Sb 5) . No próprio Evangelho segundo S. Mateus, lêem·se
as palavras do Senhor:
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EXISTE ALMA ESPIRITUAL? 23
"Nlo temala ela que mlLltn o c:orpo, ma !\IQ podem matu I .lmL
Tem. I, ,nl.., aquell qUI pode dntrulr I alma • o corpo nI Q. .na"
(MI 10,28).
b) Não há dúvida, a fliosofia platônica, herdeira de
concepções 6rticas, admitia duallsmo antagonista entre corpo
e alma. Todavia entre o dualismo platõrúco-órflco e o mo-
nlsmo contemporâneo existe uma posição intermed1Arla que
é a aristotélico-tomista: esta afirma a d.lstinção entre corpo
e alma, sem, porém, opâ-los ontologicamente ênt;re. si, antes:
concebendo.os como s~res complementannente unidos um ao,
outro. O próprio dIsclpulo de Platão, ArIstóteles (t 322 a .C.l,
superou o duall6mo de &eu mestre, estabelecendo os prindplos
do hllemorfiamoj estes, devidamente desenvolvidos, levam a
afirmar a distinçAo de corpo e alma que se unem entre si
como matéria e forma, constituindo um todo harmofÚoso. Os.
cristãos que seguiram a fllosofla de ArIstóteles, professaram
a dualidade de corpo e alma., Dia, porém, o dualismo de
Platão.!
3. A distinção de corpo e alma e, por conseguinte, 'Il
negação de todo monismo no ser hwnano evidencia.-se por
diversas vias. Realçaremos apenas o seguinte fato:
O corpo humano consta de Inúmeras partículas que vão
sendo renovadas constantemente, de modo que de sete em
sete anos a matéria do corpo humano é totahnente nova.
Não obstante, não muda o núcleo consclente da personali-
dade que se manifesta atmvés do corpo em mutação; um só
é o eu que pensa, fala e age dentro da matéria mutante do
organismo. Isto quer dizer que dentro do ser humano hi
algo que nio estA. simplesmente sujeito às leis da blo-fIslca.
e que se chama a alma Imml.DL
Os dois princlplos - corpo e alma - se unem entre si,
sem a medlaçio de um terceJro prJnclplo, mas por si mes-
mos, perfazendo um todo, que é uno. O corpo é o substrato
material e a expressão da. alma; a alma é o principio vivifi-
cante, que comunica sentido e finalidade às diversas partes.
e funcÕeS do corpo. O corpo está constituído de>. tal modo.
que corresponde às exJgenclas da alma; esta, por sua vez.
necessita do corpo a 11m de desenvolver as suas potendall-
dades.
Faz..se mister agora examinar a questão:
IA palal/ra dullldadl a!lrma doia prlnclplos, sem conotaçlo peJora-
ratlva ou antlgonlsta. O s ufixo lamo em dualismo acrescenla essa conolaçlo_
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24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 226/1978' -_ __
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EXISTE ALMA ESPIRITUAL? 2S
1 = n +1
2 = n +1
3 = n +1
4 = n +1
5 = n +1
Na coluna de. esquerda temos acima a Usta dos tenno!il
concretos, part1ru1ares, ao passo Que na coluna da direita
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26 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 226/1978
2) A IlIIgUCIgMn humana
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EXISTE ALMA ESPIRmIAL! 2T
41 A cOMcI&nda de $I mesmo
4. Uma obleção
Dirã alguém: como adm.Jtlr a cspirltualldade da alma
hwnana quando se sabe que as atividades mais sublimes do
ser hwnano não se realizam se o 0I'ianlsmo está lesado em
seu cérebro ou em .seu sistema nervoso ? Em. tais condições,
pode-se falar de alma imaterial ou espiritual?
A. resposta não é dlflcil. Todos os antropólogos reconhe-
cem 8 realidade psicossomâtlca do homem. A moderna psi-
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30 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS> 226/1978
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COmo .. explica .. ,
a riqueza do vaticano 7
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32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 226/ 1978
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34 _PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 226/ 1978
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J6 c}1ERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 22611978
2. A Cldad. do Vaticano
Quanto às propaladas crlquezas:t do Vaticano, é preciso
dizer que 0$ rumores a respeito ultrapassam de multo a
realidade.
A Cidade do Vaticano é, do ponto de vista territorial, a
m.lnlma do mundo. Quando após 1870 se discutia a cQuestão
Romana», diziam multas que, em caso de restauração da
soberania temporal. um Estado do tamanho da República. de
São Marinho (60.57 km') seria. sufIciente para os Pontifices:
ora o Estado Pontific1o ressurgiu com 0,44 IonJ apenas - o
-441-
38 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 226/1978
3.2 . A_
Distinguiremos três titulos de defesa.
3 .2 . I • Controcllsõ..
Os adversârios da Igreja nem sempre souberam ser coe-
rentes; ca1ram em contradição consigo mesmos, evidenciando
serem enfennas as suas posições. Assim, por exemplo, deter-
minado jornal italIano, em uma de suas páginas, acusava o
Vaticano e a Igreja de possuírem enormes bens Imoblliárlos
e financeiros, enquanto em outra página dizia que o VaUcano '
foi levado A crise económ1ca pela defecção da classe burguesa.
que segue o tradicionalismo e, por isto, não se aUa à Igreja
renovada. Os rendimentos da Santa Sé seriam, portanto,
lnsufidentes para equilibrar as suas despesas. MaJs: o mesmo
periódico asseverava, por um lado, que a Igreja é respon.sá.vel
pela desordem urbarústloe. da ddade de Roma; pOr' outro lado,
aflnnava que B desorden;t urbanlstlca começou com · os pie-
monteses (que eram os anti-romanos do século passado) e
foi continuada por todas as categorias de pessoas que tive-
ram interesses comerclals em Roma.
Na verdade, observa Virgilio Levt, comentar:lsta de cL'Os-
servatore Ramano,. que cuma avaliação objetiva dos bens da.
Santa Sé. da.a dioceses e das Ordens Religiosas na Itália, ...
leva não 80 reconheelmento de um Império opulento. exces-
sivo, luxuoso e Inútil», mas, pelo contrário, ã averiguação
de uma realida.de bastante Ilmltada, freqUentemente proble-
mAtica pela falta de rendimentos destinados à manutencáo
das obras de clérigos e Religiosos. Multas destas são real·
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40 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 226/1978
4. Conclusóo
Em última anâllse, os comentários feitos à crlqueza do
Vaticano., carecem geralmente de conhecimento de causa.
Quem considera a história passada e a realidade presente,
não os repete nos mesmos termos. O que impressiona no
Vaticano, é, sim, a riqueza artistJca conservada nos Museus,
nas Pinacotecas. na Bibhoteca, nos Arquivos., na basWea de
São Pedro... Como dito, tal riqueza artistica (pe(u raras
antigas, documentos, obras famosas da Renascenca .. . ) é, em
parte, fruto de doações, e, em parte, fruto do mteresse dos
Papas pelos valores culturais. Esse patrimOnlo pertence a
toda a hwnaniclade; a Igreja o guarda em favor de todO&
os homens Que se interessem por tais bens do esp1rito. Não
seria recomendável Que a Igreja se desfizesse de tais valores.
Os problemas da m.lséria e da fome hão de ser resolvidos
por soluções mals radicais e cabais do Que pela esmola, que
não atinge o Amago do problema da distribulcão das rique-
zas. Este problema requer espirJto novo entre os povos,
incluindo a capaCidade de renúncia aos interesses egolstas.
em favor do altruIsmo ou da compreensão dos irmãOs.
O visitante do Vaticano talvez seja impressionado pelo
cerimonial e as aHaias do respectivo culto sagrado. - Em
grande parte, tal. realidade é heranca de tempos remotos
(antigos e medievais); traz o estilo e a marca de épocas que
já não são a nossa. Por isto, o cerimonial pontltlclo passou
ultimamente por certa reConna, que o simplificou; está su-
jeito a ser ulterlonnente revisto, pois é algo de contingente
e secundârlo.
Note-se, porém, que não se poderá chegar à celebração
de um culto divino despojado de sinais sagrados. utens1lios e
vestes próprios_ Com efeito; o ser humano e psicossomático;
depende, pois, de sim bolos senslvels para se elevar espiritual-
mente; quando estes faltam, pode-se dizer que a crIatura
humana é violentada • .. Mais: leve-se em conta. que os uten-
sUios e as vestes do culto divino não visam a honrar 03
homens (nem os minIstros do altar nem os fiéis), nem a
lmpressionar a massa, mas dirigem·se a Deus, 8l1tes do mais.
O homem. rei da criacão. foi incumbido pelo Criador de esta-
belecer ordem no mundo (cf. Gn 1.28); toca-lhe, portanto,
a Incumbência de fazer que as ciiaturas inferiores, Inanima-
das. conCOl'ram do seu modo para proclamar a grandeza de
Deus ; é esta. a SUB fW1çáo quando utllizadas na arquitetura.
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