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A espinha dorsal da narrativa diz respeito ao pintor Wyatt Gwyon, cujo pai é um presbítero da
Nova Inglaterra que abraçou o mitraísmo depois de perder a mulher — primeiro movimento de
irreconhecimento que irrompe do livro. Após sofrer um contratempo, Wyatt deixa-se aliciar pelo
mefistofélico Recktall Brown e passa a forjar telas “perdidas” de mestres como Bosch e Van Eyck,
integrando uma rede criminosa que inclui o crítico de arte Basil Valentine, responsável por
autenticar as pinturas depois que são “encontradas”.
Das ironias: o contratempo citado acima é fruto da honestidade de Wyatt, que se recusa a fazer
um “acerto” com um crítico (que elogiaria seu trabalho em troca de uma porcentagem sobre as
vendas); e seu insucesso como pintor também se deve à concepção anacrônica que possui do
fazer artístico, incorporando técnicas e crenças renascentistas segundo as quais o que ele faz é
algo deiformemente guiado e observado. Traduzo um trecho:
(…) Porque eles viam Deus em toda parte. Não havia nada que Deus não observasse, nada, e
então isso… e então cada detalhe da pintura reflete… a preocupação de Deus com os objetos
mais insignificantes da vida, com todas as coisas, pois Deus não descansa por um instante
sequer, e nem o pintor poderia descansar. Você vê a perspectiva nisso? — ele perguntou,
segurando a réplica amarrotada diante deles. — Não tem nenhuma.
Hilário e absurdo
Dezenas de outros personagens pipocam nas páginas, não raro em longos capítulos crivados de
diálogos — marca registrada do autor, que em romances posteriores radicalizaria tal
expediente. São aspirantes a poetas, aspirantes a dramaturgos, aspirantes a romancistas,
aspirantes à paternidade, viciados, falsificadores, editores, todos (se) debatendo com todos,
falando sem parar em festas, parques, bares, restaurantes e zoológicos.