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MONOGRAFIA
CAMPINAS
2013
LARISSA GIACOMETTI PARIS
CAMPINAS
2013
ii
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Claudio e Francisca, os primeiros e mais importantes modelos docentes
em minha vida, que mostraram não só que uma família de professores pode, sim, viver
com dignidade, como também fizeram com que eu me apaixonasse pela docência.
Muito gratificante quando podemos atribuir algum sentido à nossa carreira profissional,
sendo assim, meus sinceros agradecimentos a vocês.
Aos meus irmãos, Lucas e Danilo, que cumprindo o papel de irmãos mais velhos
também acabaram por se tornar modelos em minha vida. Vocês iniciaram o caminho da
UNICAMP na família Paris, e, com toda a certeza, influenciaram a minha decisão em
continuar com essa “tradição”. Sinto-me honrada em afirmar que somos uma família de
professores.
Aos amigos do curso de Letras do IEL que sempre acompanharam e apoiaram minhas
angústias, mas que também estiveram presentes em muitos momentos prazerosos:
Bruno, Juliana, Poliana e Ricardo. Sinto-me honrada com nossa amizade e em poder
vivenciar tantas situações memoráveis com vocês.
iii
À Jéssica, companheira de orientação, e, acima de tudo, minha amiga. Percorremos esse
caminho lado a lado, e só tenho a agradecer pelo companheirismo, apoio, e conselhos.
Como foi bom poder compartilhar com você as alegrias e amarguras de nossa
monografia.
À Vitória, amiga que desde o início se mostrou solícita em ajudar. Só tenho a agradecer
pelo ombro amigo que me acolheu em sua casa, pelas histórias vivenciadas, pelos
conselhos ditos, e, claro, pelo prazer em ouvir a sua risada nos momentos de felicidade.
Serei sempre grata pela sua amizade.
Aos amigos de Ribeirão Preto: Isabella, Larissa, Lívia, Rafaella, Roberta, Vanessa e
Murilo. Apesar de vocês não participarem ativamente da minha vida acadêmica, o apoio
que forneceram a mim foi muito significativo. Mesmo seguindo caminhos profissionais
separados, permanecemos unidos, dividindo angústias, receios, alegrias (muitas),
risadas (muitas), “gordices”, e, acima de tudo, princípios e valores. Agradeço por
encontrar tão cedo amigos que, apesar de diferentes, mostram-se iguais naquilo que de
fato importa.
À memória da Vó Iva, que esteve presente em parte de minha graduação, e que contava
os dias, desejando que eu voltasse para casa para lhe fazer companhia. Em suas
pequenas atitudes, foi para mim uma grande guerreira, mostrando-me que não importa
qual seja o obstáculo, a superação sempre se torna um caminho possível. Fica a minha
admiração e eterna saudade.
iv
Por um mundo onde sejamos socialmente iguais,
humanamente diferentes e totalmente livres.
Rosa Luxemburgo
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
This report aims at analyzing and giving evidence of stereotype (re)production and
negative social representations of gender and sexual identities present in supposedly
humorous discourses of teaches in charge of preparing students to enter university
courses. The theoretical bases of the investigation here described derive from the field
of Cultural Studies that includes the notion of identity and social representation as found
in Hall (2006), Woodward (2009) e Silva (2009), as well as the concepts of gender and
sexual identities proposed by Louro (1997, 2000) and Moita Lopes (2002). The
analysed data was gathered, between March and June 2012, through audiotaped
classroom interaction that occurred in two “cursos pré-vestibulares”, and through field
notes. The study is characterized as a bing qualitative-interpretativist research in
Applied Linguistics since it investigates social language uses and practices taking
contextual factors into account. Considering that the school is one of the most important
institutional spaces for the identity construction of self, this study tried to show that
supposedly humorous discourses in the classroom can help spread non-official
discourses produced by society by means of other institutions and social relations. Data
revealed that people who experience their masculinity, their femininity and their
sexuality in ways that differ from hegemonic models are considered or represented as
not being “true” or “authentic” man and women.
vii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .........................................................................................................01
ANEXO ........................................................................................................................... 44
viii
1. INTRODUÇÃO
Em meu terceiro ano do ensino médio, tive aulas com professores que também
eram docentes em cursos pré-vestibulares. Assim, grande parte das minhas aulas seguia
o modelo utilizado nessa modalidade de ensino, em que o grande objetivo é expor o
aluno a uma enorme quantidade de conteúdos, sem haver preocupação com a formação
crítica do sujeito. Vale ressaltar que esse modelo, infelizmente, exerce a função de
propiciar a entrada de alunos em universidades com poucas vagas e muitos candidatos.
1
Irei, a partir de aqui, utilizar aspas no termo “humorístico” quando esse fizer referência aos discursos
produzidos pelos professores para evitar a repetição de palavras como “supostamente” ou “em tese”.
1
Após essa breve Introdução, faço, na seção 2, algumas considerações a respeito
do papel que a escola pode exercer na construção identitária de sujeitos sociais e
étnicos, deixando claro os motivos pelos quais as produções discursivas de professores
no contexto escolar são significativas nesse sentido. Também exponho o objetivo da
investigação relatada nesta Monografia e explicito quais são as perguntas que
orientaram a pesquisa em questão.
A seção 5, por sua vez, apresenta os dados gerados para a pesquisa, bem como a
análise dos mesmos, tendo por base, para o exame dos excertos selecionados, os
conceitos descritos na seção 3.
Finalmente, a seção 6 tem por objetivo expor algumas ponderações finais acerca
dos resultados da pesquisa realizada para compor esta Monografia. Esclareço que o
intuito não é o de apresentar ao leitor grandes conclusões, verdades ou certezas
incontestáveis, mas, sim, apenas trazer algumas reflexões baseadas na pequena análise
de dados por mim empreendida.
2
Ao me referir à conscientização de si e da alteridade, não estou pressupondo que as identidades do
sujeito ou dos outros contenham em si mesmas qualquer essência, como espero deixar claro na seção 3.
3
fundamental que o professor tenha consciência dos efeitos de sentido que seu dizer tem
em seus alunos.
Além disso, esta pesquisa também busca analisar algumas “verdades”, isto é,
alguns saberes instaurados e normatizados por meio desses discursos em relação às
questões de gênero e sexualidade envolvendo, principalmente, as identidades de
mulheres e de homossexuais. Nesse sentido, as análises têm como objetivo desnudar
aquilo que está sendo dito implícita ou metaforicamente nas falas dos docentes, isto é,
os discursos que são produzidos em outras instituições sociais e que são (re)produzidos
pelos professores.
4
3. Como a produção desses estereótipos e representações sociais podem
influenciar na construção identitária feminina, masculina, hetero e
homossexual?
3. REFERENCIAL TEÓRICO
Nesta seção, discuto as bases teóricas utilizadas na análise dos dados aqui feita.
Primeiramente, discorro sobre o discurso humorístico e sobre a sua presença no
contexto escolar. Em seguida, baseando-me em autores filiados aos Estudos Culturais,
reflito sobre a construção de identidades e de representações sociais. Finalmente,
conceitos relativos à identidades de gênero e sexualidade aqui adotados também são
discutidos.
Assim, são vários os aspectos positivos para o uso do humor como ferramenta
pedagógica. Contudo, o discurso humorístico também pode ser uma arma nas mãos do
professor quando utilizado, mesmo que não intencionalmente, para promover e
intensificar determinadas representações sociais estereotipadas. Com o objetivo de
conquistar a atenção de seu aluno e tornar a aula menos tensa, o professor pode produzir
efeitos de sentido que ratificam certos preconceitos presentes em nossa sociedade.
5
parcela do grupo é eleita, tornando essa característica como inerente a todo o grupo. A
identidade do grupo estereotipado, então, é atribuída a ele por um outro grupo, e
envolve relações de poder. Essa mesma autora, com base nas argumentações de Possenti
(2002), afirma que o estereótipo é concebido “como algo social, imaginário e
construído, e se caracteriza por ser uma imagem supersimplificada (frequentemente
negativa) ou convencional de um grupo ou assunto” (ÁVILA, 2009, p. 56). Assim, o
estereótipo é muitas vezes interpretado, segundo o senso comum, como uma verdade
universal, e não como uma construção histórica, social, e ideológica.
6
contexto informal em que o discurso humorístico está inserido. Contudo, apenas porque
foi produzido em um momento informal, não equivale dizer que ele não pode ser
entendido, também, como algo a ser aprendido pelo aluno, já que, como vimos, o
professor é também um modelo para seus alunos, que não aprendem somente em
situações formais de aprendizagem.
Além disso, o discurso humorístico em sala de aula tem, quase sempre, como
foco, grupos minoritários: mulheres, homossexuais, negros, entre outros. Mas por que
os exemplos envolvendo minorias são considerados tão engraçados?
7
identidade depende de outra para existir, para se afirmar como diferente do que ela é.
Desse modo, a diferença, e, consequentemente, a identidade, podem ser construídas
negativamente, por meio da exclusão e marginalização das pessoas que são definidas
como “Outros”.
Além disso, a identidade e a diferença são entendidas por Silva (2009) como o
resultado de atos de criação linguística. Esse conceito implica dizer que ambas não são
elementos da natureza, fatos da vida, essências pré-existentes que são apenas
“descobertas” pelo ser humano. Muito pelo contrário, a identidade e a diferença são
ativamente produzidas no contexto de relações culturais e sociais, determinadas pelos
sistemas discursivos e simbólicos que as definem, e criadas por meio de atos de
linguagem (SILVA, 2009). Sendo assim, elas são instituídas por meio de atos de fala, e
“não podem ser compreendidas fora dos sistemas de significação nos quais adquirem
sentido” (SILVA, 2009, p. 78).
Além disso, Hall (2006) afirma que as identidades são formadas e transformadas
no interior da representação. Por serem representadas como um conjunto de
significados, as identidades são consideradas pelo autor um sistema de representação
cultural, no qual a representação também é concebida como um sistema de significação.
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Seguindo esse raciocínio, a autora afirma que a construção da identidade é tanto
simbólica quanto social (WOODWARD, 2009). A marcação simbólica, então, é a
responsável por dar significado às práticas e às relações sociais. Em outras palavras,
damos sentido as nossas próprias posições por meio dos sistemas simbólicos.
Além disso, as classificações (“nós” e “eles”) são sempre feitas a partir do ponto
de vista da identidade, na medida em que dividir e classificar também envolve relações
hierárquicas. Classificar pressupõe deter o privilégio de atribuir diferentes valores aos
grupos que serão classificados (SILVA, 2009). As oposições binárias são formas de
classificação na qual um dos termos recebe um valor positivo, e o outro, um valor
negativo. Para Silva (2009), as relações de identidade e diferença são concebidas por
meio de oposições binárias, como masculino/feminino e heterossexual/homossexual.
Sendo assim, “questionar a identidade e a diferença como relações de poder significa
9
problematizar os binarismos em torno dos quais elas se organizam” (SILVA, 2009, p.
83).
Hall (2006), com base no que afirma Laclau (1990), ainda complementa a
concepção de sujeito pós-moderno com o conceito de deslocamento das estruturas
centrais de poder: nas sociedades pós-modernas, o centro de poder é deslocado, sendo
substituído por uma pluralidade de centros de poder. Assim, tais sociedades são
atravessadas por diferentes divisões e antagonismos sociais que produzem uma
variedade de identidades para os indivíduos.
11
“aqueles que reivindicam a identidade não se limitam a ser posicionados por ela, já que
são capazes de posicionarem-se a si próprios e de reconstruírem e transformarem as
identidades históricas, herdadas de um suposto passado comum” (WOODWARD, 2009,
p. 28). Essa perspectiva enfatiza as diferenças e as características comuns ou partilhadas
entre as diversas identidades.
12
O conceito de gênero, então, se refere ao modo como as características sexuais
são representadas e no qual essas diversas representações sobre homens e mulheres são
vistas de um modo plural. Assim, as concepções de gênero são distintas não apenas em
diferentes momentos históricos, como também dentro de uma própria sociedade,
levando em conta os diferentes grupos que a constituem.
Segundo Silva & Rezende (2005), o discurso essencialista, por ser amparado
institucionalmente, estabelece relações de poder nas quais em oposição à emotividade e
à passividade compreendidas como inerentemente femininas, por exemplo, é que se
concebe o gênero masculino. Assim, o homem passa a ocupar a posição de provedor do
lar por ser essencialmente racional e ativo, em uma visão fixa e naturalista das
identidades de gênero. O essencialismo, portanto, explica as propriedades de um todo
complexo por referência a uma suposta verdade ou essência interior. Essa abordagem
reducionista procura explicar os indivíduos como produtos automáticos de impulsos
internos (WEEKS, 2000).
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marcados e são denominados a partir da referência “normal” e “padrão”, isto é, do
homem branco, heterossexual, de classe média urbana e cristão (LOURO, 2000).
Moita Lopes chama nossa atenção para o fato de que pensar as identidades em
termos de polos rígidos de identificação (negro/branco, homoerótico/heterossexual,
pobre/rico) não é produtivo, pois “há outros matizes da identidade social como
bissexual, mulato, etc., e ainda que esses não sejam necessariamente fixos: as pessoas
podem não ter sempre o mesmo tipo de desejo sexual, por exemplo” (MOITA LOPES,
2002, p. 201). Desse modo, a perspectiva dicotômica e binária do gênero implica em
uma ideia singular de masculinidade e feminilidade, excluindo todos os sujeitos que não
se enquadram em uma dessas formas. Assim, mulheres e homens não são representados
ou reconhecidos como verdadeiros e autênticos por viverem feminilidades e
masculinidades diversas das hegemônicas. Nessa perspectiva, há um lugar natural e fixo
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para cada gênero, e há apenas uma forma permanente de relação entre o homem e a
mulher. Assim como Louro (1997), Moita Lopes (2002) defende que a oposição homem
x mulher não é fixa e nem inerente, já que ela é socialmente construída.
Ademais, não há como afirmar que apenas o polo masculino, de modo estável,
detém o poder. O exercício de poder envolve técnicas, manobras e disposições e é
contestado. Se não houver resistência, não é poder, mas apenas uma relação de
violência. Nessa perspectiva, na relação entre homens e mulheres há negociação,
avanços, recuos, consentimentos, revoltas e alianças, não sendo fixo o vencedor
(LOURO, 1997).
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identidades dos participantes discursivos, estamos também (re-)construindo as
identidades deles nas práticas discursivas nas quais estamos envolvidos e eles estão (re-)
construindo as nossas através do discurso” (MOITA LOPES, 2002, p. 94).
4. A METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
4.1.1 Os vestibulares
Com o golpe militar de 1964, foram criadas várias universidades por todo o
território com o intuito de modernizar um país que se urbanizava de modo acelerado e
gerar mão-de-obra para a realização do milagre brasileiro (WHITAKER, 2010). Assim,
precisava-se cada vez mais de profissionais capacitados. A procura pelo ingresso nas
universidades passa a ser maior que o número de vagas oferecidas, tornando o exame
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vestibular um mecanismo de contenção do acesso ao Ensino Superior e também um
mecanismo de seletividade social (PORTO JÚNIOR, 2002). Era preciso selecionar uma
minoria, e o vestibular se tornava cada vez mais elitizante.
Contudo, foi somente a partir da década de 1960, com a aplicação dos moldes de
exame vestibular classificatório, que os cursos pré-vestibulares se tornaram grandes
redes empresariais. Whitaker (2010) afirma que
Porto Júnior (2002) argumenta que o surgimento dos “cursinhos” se deu como
uma consequência da carência do Ensino Médio, já que os conteúdos cobrados nos
vestibulares não estavam inseridos na realidade do Ensino Médio da maioria das escolas
18
brasileiras. Assim, os cursos pré-vestibulares “forneciam aos candidatos um acúmulo de
conhecimentos e informações científicas cuja finalidade seria a aprovação no concurso e
não a formação científica e crítica” (PORTO JÚNIOR, 2002, p. 41).
Fica claro, então, que, uma vez que a pesquisa em LA supõe o estudo de práticas
específicas de uso da linguagem em contextos específicos, ela se constitui como um
campo de investigação que está longe de ser neutro (SIGNORINI, 1998). Isso porque,
as práticas discursivas envolvem “escolhas ideológicas e políticas, atravessadas por
relações de poder, que provocam diferentes efeitos no mundo social” (FABRÍCIO,
19
2006, p. 48). Desse modo, tanto as escolhas feitas pelo sujeito pesquisador quanto os
dados a serem por ele analisados não podem ser compreendidos de forma imparcial,
visto que a própria seleção dos dados já revela uma interpretação singular acerca do
contexto pesquisado: procura-se regularidades durante a geração dos dados que
possibilitem a formação de um arquivo de dados relacionados às questões investigadas
(MOITA LOPES, 1994). O sujeito pesquisador, então, não é neutro, assim como a sua
análise não é compreendida como uma verdade incontestável, já que ela é fruto de uma
interpretação de um sujeito historicamente situado em uma determinada sociedade.
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“que percebe questões de linguagem como questões políticas; que não tem pretensões a
respostas definitivas e universais, por compreender que elas significam a imobilização
do pensamento” (FABRÍCIO, 2006, p. 60). A produção do conhecimento, então, não é
neutra, mas, sim, resultado de uma interpretação que pode apenas ser aplicada ao
contexto da situação analisada.
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Disciplina Quantidade de aulas observadas por disciplina
Biologia 5
Física 6
Gramática (Língua Portuguesa) 2
História 4
Literatura (Língua Portuguesa) 2
Matemática 3
Química 3
É importante ressaltar que a escolha das aulas observadas foi feita de modo
aleatório e sem nenhum planejamento prévio; apenas ajustei os horários que eu mesma
tinha disponíveis com os horários das próprias escolas. Esse é o motivo pelo qual, por
exemplo, geografia e sociologia não aparecem entre as disciplinas observadas. A
seleção das salas de aula observadas também foi aleatória, deixando claro que em um
dos cursos pré-vestibulares só havia uma sala, e, no outro, havia três, sendo que
acompanhei as aulas pelo menos durante um período em cada uma das salas.
O quadro abaixo faz referência aos sujeitos cujos discursos foram efetivamente
analisados:
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Sujeitos de Pesquisa
Professor* Idade Disciplina que ministra
Aproximada
Professor 5.1 35 anos Física
Professor 5.2, 5.5, 5.6** 30 anos História
Professor 5.3, 5.4** 30 anos História
Professor 5.7 e 5.8** 50 anos Biologia
:: alongamento de vogal
23
5. ANÁLISE DE DADOS
24
teriam desejos de consumo tamanho que fariam com que elas se comportassem como
animais irracionais frente ao objeto de desejo.
Considerando que é a forma como as diferenças entre homens e mulheres são
representadas e valorizadas em discursos que constitui o que caracterizariam os gêneros
masculino e feminino em uma determinada sociedade em um determinado contexto
histórico (LOURO, 2003), temos, assim, no excerto acima, a construção da identidade
feminina como seres irracionais e consumistas. E mais: ser obcecada e irracionalmente
consumista seria uma característica exclusivamente de mulheres. O professor poderia
ter considerado que muitos homens também ficam obcecados por seus objetos de
desejo, mas ele não faz qualquer referência a isso – ele silencia sobre um
comportamento que seria semelhante para focalizar somente a mulher. Certamente há
mulheres consumistas em excesso, mas, ao tomar uma parte do contingente feminino
pelo todo, ele reforça o estereótipo de que apenas mulheres seriam adeptas desse tipo de
comportamento. Contudo, uma mulher pode exercer sua feminilidade de diversos
modos, já que as identidades de gêneros são plurais (LOURO, 2003, 2008). No entanto,
no discurso desse professor não há espaço para a existência de mulheres que são
bastante parcimoniosas quanto ao que consomem.
25
já que os alunos continuam não participando da aula, mesmo após o exemplo
supostamente engraçado ter sido proferido. Será, então, que as ratificações de
estereótipos e representações sociais negativas das minorias são realmente necessárias
no discurso de professores de cursos pré-vestibulares como ferramenta “humorística”
para tornar as aulas mais dinâmicas?
Professor: (...) nessa época a Inglaterra vivia uma era que na história inglesa eles
chamam de Era Elisabetana... que que é a Era Elisabetana? é a época que a
Inglaterra era governada por uma senhora conhecida como Isabel mas que
nós chamamos mais eh eh:: popularmente de Elizabeth I, conhecida pelo
apelido... pelo codinome de “A Virgem”... viu? ((em tom irônico)) “A
Virgem”... da orelha... esquerda... só se for, viu? ((risos de toda a sala))
porque o resto dos buraco ela dava que nem... vi::xi mas dava hein
((alguns alunos começam a assobiar fiu fiu)) dava... uma biscate hein...
aquela era saFAda mesmo... vocês já assistiram o filme? nunca viram o
filme? o filme Elisabeth, a era de ouro? nunca assistiram? no filme mostra
ela dando pra chuchu... ela tem um amante... um dos caras que vai para a
América do Norte... é um pirata... é um corsário inglês que comia ela... no
filme mostra ele comendo ela... BIScatona!
26
de Elisabeth I são ressaltadas nesse fragmento por não serem compatíveis com o ideal
hegemônico que uma mulher governante deveria demonstrar: a de uma mulher
assexuada. Além disso, ao deixar claro qual é o julgamento que faz a respeito do
comportamento sexual da rainha, o professor reitera a representação social de como
deve ser o comportamento sexual feminino a todas as mulheres, inclusive de suas
alunas.
27
empecilho ao ato sexual. No vocabulário popular, a mulher que é “biscate” é também
“safada” e “fácil”, no sentido de que os homens não precisam fazer muitos esforços para
ter relações sexuais com ela.
Professor: bom dia pra todos vocês... lembrando que hoje é o dia gay... porque hoje
todos os homens estão bichonas, sentimentais... ((risos de toda a sala))
aqueles que têm uma namorada... se eles não estão desse jeito ‘tão fodidos
((risos de toda a sala)) vão dormir no sofá durante O RESTO DO ANO...
melhor ficar gay MESmo... para os outros... ótimo... porque assim a gente
se livra desse dia gay... ótimo.
28
Fica evidente que, para o docente, a demonstração de sentimentos e emoções é
uma característica inerente exclusivamente a mulheres e a homossexuais: observa-se
que o professor utiliza como sinônimo de “sentimentais” a palavra “bichonas”, termo
utilizado popularmente para nomear homossexuais de forma pejorativa, e sugere que
homens que não se comportarem como gays, ou seja, que não externarem suas emoções
e sentimentos, deixarão de ser aceitos como parceiros das mulheres (se eles não estão
desse jeito ‘tão fodidos ((risos de toda a sala)) vão dormir no sofá durante O RESTO
DO ANO... melhor ficar gay MESmo...). A fala desse professor corrobora, assim, o
que afirmam Bonomo, Barbosa e Trindade (2008, p. 4):
29
não corresponderem às feminilidades e masculinidades hegemônicas. Manifestações
singulares de expressões diversas de masculinidade e feminilidades que não se
enquadram em uma dessas formas são desconsideradas, excluídas, negadas, como faz o
outro professor de história no excerto anteriormente analisado. Nesse fragmento, a
masculinidade hegemônica do homem heterossexual é construída como se esse jamais
apresentasse qualquer indício de sentimentalismo. Assim, todo homem que se comporta
de forma oposta estaria “fora” do padrão de “homem de verdade”, já que estariam se
comportando como homens homossexuais.
30
Contextualização: o mesmo professor de História cuja fala foi analisada no
excerto anterior discorre sobre o período do Renascimento em uma de suas aulas:
Professor: (...) é nesse processo renascentista que o homem volta a ter uma técnica do
uso da homem habilidoso... ((revirando os olhos para cima e adotando um
tom de voz e uma postura corporal frequentemente associada ao estereótipo
de homens homossexuais)) aDOro!
Aluno: que gay! ((risos de toda a sala))
Professor: que gay! ((risos de toda a sala))
Professor: (...) então vamos ficar íntimos de Léo... que gay! ((risos de toda a sala))
Primeiramente, vale ressaltar que os dois trechos de falas transcritos neste item
5.4 foram proferidas por esse professor de História na mesma aula em que proferiu o
discurso analisado no excerto 5.3, isto é, no “Dia dos Namorados”. Aqui é significativo
notar que a expressão “que gay!” é empregada quase como um jargão tanto pelos
alunos quanto pelo próprio docente, e vem sempre acompanhada de risos de todos. A
reação dos alunos, como anotado em meu diário de campo, leva-me a suspeitar que,
muito provavelmente, essa expressão seja utilizada diversas vezes durante as aulas desse
professor como um bordão, criando no alunado a expectativa de que em determinado
momento ele irá utilizá-la após a construção de um discurso supostamente
“humorístico” envolvendo atitudes e comportamento considerados típicos de
homossexuais.
31
que tanto um quanto o outro possam ser, de fato, habilidosos com as mãos ou emotivos,
sem que isso implique automaticamente em um certo tipo de sexualidade.
Professor: olha aqui, gente, oh, AINDA BEM que cês não tavam lá!... 11 ((foram
levados à Inquisição)) por pederastia... deram o cu... ((risos de toda a
sala)) não pode, gente... não pode dar o rabicó, véi ((risos de toda a sala)),
entendeu? não pode, tá vendo? até a Igreja fala... não podia dar o rabicó...
os cara deram o rabicó e se fuderam... foram pra Santa Inquisição.
32
É interessante notar o comentário inicial do professor em relação à prática da
pederastia: “AINDA BEM que cês não tavam lá”. Uma interpretação possível acerca
desse enunciado é que o professor sabe que pode ter alunos homossexuais na sua sala de
aula, o que o leva a apontar que, se esses alunos vivessem na época da Inquisição,
teriam sido alvo de castigo devido às suas práticas sexuais.
Ainda nesse excerto, “dar o cu” e “dar o rabicó” são expressões usadas como
sinônimo de “pederastia” pelo professor. O motivo que provavelmente provoca o riso
entre os alunos é a mudança, no discurso, de uma expressão formal (“pederastia”, que
segundo o dicionário online Michaelis significa homossexualismo masculino3) para
outras duas informais (“dar o cu” e “dar o rabicó”, expressões populares utilizadas que
se referem ao ato sexual praticado por homossexuais).
3
pederastia pe.de.ras.ti.a sf (gr paiderasteía) Sodomia entre homens; homossexualismo masculino.
Fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portuguesportugues&palavra=pederastia.
Acesso em 27.08.2013.
33
Considerando a proposição de Louro (2000), em que a autora afirma que os
outros sujeitos sociais se tornam marcados e são denominados a partir da referência
“normal” e “padrão” do homem branco, heterossexual, de classe média urbana e cristão,
vale ressaltar no fragmento em questão o momento em que o professor utiliza em seu
discurso a expressão “até a Igreja fala ((que não pode dar o rabicó))”. A preposição
“até”, nesse caso, indica inclusão. Assim, tomando como base este excerto, é como se a
maioria das pessoas já afirmasse que não se deve praticar atos homossexuais, incluindo
a Igreja Católica. Em outras palavras, se uma instituição milenar religiosa, que
supostamente prega apenas dogmas para o “bem” de seus fiéis, adverte que os atos de
pederastia são uma forma de cometer pecado, e, portanto, seus praticantes merecem
receber os castigos da Santa Inquisição, então é porque tais atos de fato não devem ser
exercidos por ninguém.
Professor: (...) quando a Holanda fica independente né? o Felipe II da Espanha decreta
o chamado embargo espanhol... que que é o embargo espanhol? o rei da
Espanha fala assim: ah tá bom... vocês ficaram independente? então vai
tomar no teu cu que a partir de agora vocês ((holandeses)) não vão mais
participar do negócio do açúcar no Brasil... ((muda o tom de voz como se
estivesse xingando os holandeses)) seus viADO!... seus BICHA! ((risos de
toda a sala)) entendeu?
Nesse excerto, as expressões populares “seus viado” e “seus bicha”, que fazem
referência aos homossexuais de um modo pejorativo, estão presentes no discurso do
docente como uma maneira de se dirigir ofensivamente aos holandeses. Assim,
34
qualificar alguém como homossexual é, para esse professor, o mesmo que insultar a
pessoa.
Novamente, a risada de grande parte dos alunos pode significar que a ideia de
ofensa presente no discurso do docente é identificada por eles como procedente. Desse
modo, não bastasse o valor negativo já socialmente presente em termos que se referem a
homossexuais, o professor ainda os (re)produz em um contexto formal de
aprendizagem, no qual não somente conteúdos das disciplinas são aprendidos e
interiorizados pelos estudantes, mas, também, determinadas representações sociais.
4
ninfeta nin.fe.ta sf (ninfa+eta) Menina adolescente, que desperta desejo sexual. Fonte:
http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=ninfeta.
Acesso em 08.09.2013.
36
em uma visão machista. Assim, tanto a representação do homem como objeto sexual,
quanto a representação da mulher como sujeito passível de também possuir desejos,
foram deixados de lado pelo professor.
Professor: (...) quem aqui nunca viu uma metamorfose completa em casa, né? pode ter
problemas psicológicos ((risos de toda a sala)) não preciso dizer... quem
nunca plantou o feijãozinho... viu a semente crescer no algodão... quem
nunca capturou uma lagarta, aprisionou essa lagarta, né? e viu ela se
transformar em uma borboleta ou em uma mariposa NÃO completou a
sua infância... ((risos de toda a sala)) então faça isso HOJE... saia daqui
correndo e vai atrás de uma lagarta pra você não ter problemas
psicológicos, tá? ((risos de toda a sala)) (...) você tem que fazer certas coisas
na vida que precisam ser feitas senão o trauma vem depois... mais velho...
“nunca plantei um feijão no algodão” (...) a criança ama isso... toda criança
adora isso... metamorfose pra criança é algo fantástico que faz ela embutir a
sua criatividade... então você pode tá com sua criatividade travada, né?
precisa soltar... se libertar (...) tem um macete que eu vou dar pra vocês...
quanto mais feia a lagarta mais bela será a borboleta ((risos de toda a
sala)) você pega aquela lagarta linda e maravilhosa e nasce aquela mariposa
horrorosa... e aí o outro... seu vizinho pegou uma lagartinha... feinha...
nasce uma bela de uma borboleta... mostrando que muitas vezes
desabrochar, né? pra vida adulta você se transforma... então é isso, né?
Aluna: ((rindo)) que demais!
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O fragmento 5.8 apresenta a continuação da explicação sobre metamorfose que
se iniciou no fragmento anterior, e, portanto, foi proferido na mesma aula que aquele.
Neste excerto, a sexualidade masculina é discursivamente abordada pelo docente.
Segundo ele, o menino que ainda não iniciou sua vida sexual pode desenvolver
problemas psicológicos. Considerando a hierarquia presente entre professor e aluno,
bem como a posição de educador e “detentor” do conhecimento que o docente ocupa, o
aluno pode pensar que de fato possui problemas psicológicos por não ser sexualmente
ativo. Vale ressaltar que é nessa faixa etária que os jovens desenvolvem determinadas
dúvidas e anseios a respeito da sexualidade, e, ao fazer essa afirmação, o professor pode
apenas tornar esse conflito ainda mais complexo para o seu aluno. Vejamos, a seguir,
algumas de suas afirmações.
Assim, fica claro nesse excerto que, para o docente, os meninos que ainda não
iniciaram sua vida sexual não podem se sentir totalmente completos, como se o ato
sexual fosse uma ação obrigatória a ser realizada por eles. E mais, esse “problema” pode
influenciar o desempenho cognitivo do estudante, já que pode travar a criatividade,
impedindo que esse se liberte. Considerando que, de acordo com Weeks (2000), as
atitudes em relação ao corpo e à sexualidade só podem ser compreendidas em seu
contexto histórico específico, e que as condições historicamente variáveis dão origem à
importância atribuída à sexualidade em um momento particular, é possível afirmar que a
cobrança existente em relação ao início da vida sexual dos meninos reflete os valores
socialmente construídos em nossa sociedade, já que para se mostrarem “verdadeiros”
homens, eles não devem apresentar nenhum tipo de insegurança, dúvidas ou anseios em
relação ao ato sexual. Assim, são instituídos comportamentos normais ou anormais,
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aceitáveis ou inaceitáveis (WEEKS, 2000) que fazem referência ao modo como homens
devem desempenhar a sua sexualidade.
Contudo, pode existir alunos que ainda não estão seguros ou preparados para
possuir uma vida sexual ativa, e que se sentem ainda mais pressionados em relação a
essa questão após as piadas serem proferidas pelo professor. Tal coação ainda se faz
presente quando o docente afirma que aprisionar uma lagarta e vê-la se transformar em
uma borboleta também faz parte do ciclo da infância, e aqueles alunos que não
realizaram essa ação devem sair correndo e ir atrás de uma lagarta para não
desenvolverem problemas psicológicos, pois caso não o façam, “o trauma vem
depois”. A metamorfose da lagarta em borboleta também apresenta duplo sentido, visto
que essa transformação pode ser análoga a da menina tornando-se mulher, isto é,
iniciando a sua vida sexual e perdendo sua virgindade.
Desse modo, o rapaz que ainda não contribuiu para que uma menina iniciasse a
sua vida sexual, na visão do professor, deverá procurar fazê-lo o mais rápido possível, a
fim de que não desenvolva traumas ou problemas psicológicos. Novamente, fica clara a
pressão existente acerca do ato sexual realizado por jovens, já que o menino deve
obrigatoriamente ser sexualmente ativo, mesmo para aqueles que não desejam isso.
Além disso, a virgindade feminina deve ser considerada quase como um troféu a
ser adquirido pelos rapazes, isto é, um desafio que eles devem vencer. Sendo o discurso
um meio eficaz e persistente para instituir as distinções e as desigualdades, pois
atravessa a maioria das práticas e parece, muitas vezes, “natural” (MOITA LOPES,
2002), o uso dos verbos “capturar” e “aprisionar” pelo docente na expressão “quem
nunca capturou uma lagarta aprisionou essa lagarta, né?” também reforçam essa
ideia de desafio, já que é necessário o empenho em capturar e aprisionar a lagarta, ou
em outras palavras, conquistar a mulher, para ganhar o troféu. Assim, tais escolhas
lexicais que, a primeira vista, parecem inofensivas, também denotam um
posicionamento discursivo em que a mulher é construída como um mero objeto sexual a
ser “capturado”.
É também significativa a reação de uma aluna, que, enquanto ri, afirma “que
demais!”, expressão popular que se refere a um reforço positivo ao discurso
“humorístico” do professor. Assim, alguns alunos incentivam essa conduta do professor
não só por meio de risadas, mas também por meio de expressões linguísticas que
demonstram que eles aprovam e, talvez, identificam-se com aquilo que o docente
profere. Considerando que não é somente o discurso do professor que produz e pretende
fixar as diferenças (LOURO, 1997), as construções das identidades femininas e
masculinas também são produzidos, reforçadas, e autorizadas pelo discurso e pelas
atitudes dos próprios colegas de classe, e não apenas em decorrência exclusivamente do
discurso “humorístico” do docente no ambiente escolar.
Primeiramente, penso ser válido deixar claro que os excertos analisados nesta
pesquisa fazem parte de um contexto específico, e, portanto, generalizações não são
oportunas. Assim, não cabe a mim como pesquisadora afirmar que as construções de
estereótipos e representações sociais fazem parte de todos os discursos humorísticos de
professores de cursos pré-vestibulares.
Além disso, sendo esta uma monografia de final de curso, ressalto que a breve
investigação que aqui foi discutida representa apenas uma interpretação pessoal a
respeito dos dados, e que outros estudos posteriores podem e devem dar continuidade a
ela. Desse modo, também pondero que aquilo que afirmo ao longo da pesquisa não deve
ser considerado como uma verdade ou certeza incontestável, mas, sim, reflexões
passíveis de questionamentos.
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dados que constituíram o corpus da pesquisa que empreendi, mas que esse enfoque foi
uma escolha feita por mim para delimitar de algum modo a sua seleção. Como exemplo,
transcrevo trechos de falas que se referem à representação social negativa dos judeus e
dos índios, respectivamente:
Professor: quando cê vai pra São Paulo na região dos Jardins tem uns cara que usa
uma/um negocinho ((apontando para o alto da cabeça)) aqui oh tampando
o/a cuca... o chamado quipá... ou que usa uma cartola com uns cachinho
riDÍculo aqui do lado assim... desculpa às vezes tem algum judeu aí... mas
aqueles cachinho lá é feio pra caralho né? ((risos de toda a sala)) na boa...
aquilo lá tá fora de moda né? mas tudo bem... ((risos de toda a sala)) esses
cara... esses judeu aí... essas judeuzada... eles não acreditam em Cristo.
Professora: cadê o menino, gente? cadê? ((referindo-se ao aluno que tem o apelido
de Índio)) gente, ele sabe muito! ele já dançou pra mim a dança da chuva
((risos de toda a sala)) é SUper lindo!
Como o objetivo não é analisar os dados acima, apenas chamo a atenção para o
fato de que o pedido de desculpas do professor no primeiro excerto (desculpa às vezes
tem algum judeu aí...) não deve ser entendido literalmente, pois ele continua
expressando uma visão preconceituosa da cultura judaica após ter se “desculpado”.
De acordo com Ávila (2009, p. 45), “todo processo discursivo, do qual o humor
também faz parte, pressupõe efeitos de sentido num processo interlocutivo afetado pela
situação, pelo contexto histórico-social, isto é, pelas condições de produção”. Assim
sendo, o discurso “humorístico” em sala de aula, no contexto analisado, pode produzir,
como já afirmei anteriormente, efeitos de sentido que propagam, ainda mais, os
discursos não oficiais que a própria sociedade, por meio de outras instituições e relações
sociais, produz.
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21). Nos dados analisados, as práticas discursivas “humorísticas” dos professores
revelam uma perspectiva hegemônica e, portanto, considerada “correta em relação às
manifestações de identidades de gênero e de sexualidade, acarretando na deturpação e
inferiorização de outras. As escolas, desse modo, “acabam repercutindo, sem qualquer
reflexão, as contradições que a habitam” (BRASIL, 2000, p. 21). Desse modo, o
professor pode, mesmo que não intencionalmente, ratificar por meio do seu discurso
“humorístico” tais contradições presentes no discurso de diversas instituições e grupos
sociais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FABRÍCIO, B. F. Linguística aplicada como espaço de “desaprendizagem”:
redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma linguística aplicada
Indisciplinar. São Paulo: Parábola Editorial, 2006.
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POSSENTI, S. Os humores da língua: análises linguísticas de piadas. Campinas, SP:
Mercado de Letras, 1998.
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ANEXO
Eu,________________________________________________, RG_______________,
dou meu consentimento, tendo sido informado/a e esclarecido/a sobre o assunto, para que dados
para a pesquisa “A construção de representações sociais no discurso de professores de
cursos pré-vestibulares” (título provisório), desenvolvida por Larissa Giacometti Paris, sob
orientação da Prof. Dra. Terezinha de Jesus Machado Maher (Instituto de Estudos da
Linguagem, Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP) sejam coletados nessa
instituição de ensino.
Fui ainda informado/a de que tenho toda liberdade de retirar meu consentimento em
qualquer momento do desenvolvimento da pesquisa. A pesquisadora em questão garante total
sigilo acerca de minha identidade e da identidade da instituição de ensino, uma vez que todos os
dados são considerados confidenciais. Além disso, a participação na pesquisa não envolve
riscos físicos ou morais previsíveis.
________________________________
Telefones para contato: (16) 99700 3098 (Larissa G. Paris) / (19) 3256-2142 (Terezinha J. M.
Maher).
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