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Curso PEDAGOGIA

Disciplina CONTEÚDOS E METODOLOGIA DE CIÊNCIAS


Nº da Aula 08

Título da Aula

Alfabetização Científica e sua importância no contexto escolar

Texto da aula (fonte Times New Roman – tamanho 12 e títulos 14), espaçamento

Introdução
No decorrer das aulas anteriores verificamos que ensinar Ciências para crianças, tanto
no contexto da Educação Infantil como nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, exige
estudo e reflexão por parte de todos os profissionais envolvidos com a educação, de modo a
desenvolver propostas de ensino coerentes com as características deste público infantil.
Pudemos perceber, ainda, que diversos estudos e pesquisas têm evidenciado mudanças
expressivas no modo como se trabalha os conteúdos científicos na escola, visando tornar o
processo de aprendizagem cada vez mais significativo para o aluno, favorecendo a
compreensão do mundo que o cerca e o desenvolvimento de uma cidadania consciente diante
de temas que envolvem Ciência e Tecnologia.
Para auxiliar nessa reflexão sobre o papel do ensino de Ciências desde o início da
escolarização, discutiremos, nesta aula, algumas considerações sobre a perspectiva da
Alfabetização Científica, pois a mesma corresponde a uma linha de estudos que tem se
destacado a proporcionar alguns caminhos possíveis e realizáveis para pensar a prática
pedagógica no cenário escolar.

Objetivos:
 Conhecer as principais ideias que fundamentam a perspectiva da alfabetização
científica no contexto escolar;
 Identificar as potencialidades da alfabetização científica para formação dos alunos e o
exercício consciente da cidadania;
 Refletir sobre novas posturas pedagógicas para o ensino de Ciências desde o início da
escolarização.

1 - Reflexões iniciais

Considerando os principais objetivos para ensinar Ciências na escola, em especial no


início da escolarização, percebe-se a estreita relação entre trabalhar os conteúdos da área
científica com o desenvolvimento da cidadania. Afinal, não há como ter participação ativa nas
discussões que envolvem Ciência e Tecnologia sem compreender como se processa a
produção e a divulgação desses conhecimentos, assim como a influência dos mesmos na vida
das pessoas.
Portanto, a formação científica dos alunos precisa ser desenvolvida de modo que
auxilie na compreensão das relações entre a Ciência, a Tecnologia, a sociedade e as possíveis
consequências no ambiente. Neste contexto, a perspectiva da Alfabetização Científica
oferece contribuições salutares para pensar o ensino de Ciências a partir propósitos.
Para auxiliar na compreensão deste conceito, segue um trecho do texto de Macedo,
Nascimento e Bento (2013, p. 18) que explica, de modo sintético, alguns aspectos sobre o
surgimento do termo Alfabetização Científica:

"Especificamente nos Estados Unidos, o incentivo à educação em ciência cresceu


exponencialmente na década de 50, durante a Guerra Fria, uma vez que os governantes
precisavam do apoio da opinião pública para o desenvolvimento de pesquisas científicas e
tecnológicas (Laugksch, 2000). Diante do avanço tecnológico russo e da ameaça de ser
ultrapassado tecnologicamente, o governo norte americano entendeu que o progresso
científico dependia do conhecimento sobre ciência da população e dessa forma era
necessário um grande investimento por parte do governo em educação em ciência para o
público geral (DeBoer, 2000). Nesse contexto surge o termo “Alfabetização Científica” (do
inglês “Scientific Literacy”), que designa o conhecimento mínimo que o público geral
deveria ter sobre ciência (Durant, 2005)".

Segundo Lorenzetti e Delizoicov (2001), existem diversos termos e abordagens para


tratar desse conceito no âmbito acadêmico, sendo que cada pesquisador procura reunir
argumentos e características que acredita ser de maior relevância para o desenvolvimento dos
conhecimentos científicos e suas relações nesta área de estudos. Tanto no contexto brasileiro
como no cenário internacional, podemos encontrar expressões como:

Alfabetização Científica e Tecnológica


Educação em Ciências
Cultura Científica
Compreensão pública de Ciência
Alfabetização em Ciências

Porém, de um modo geral, os objetivos de todas elas se aproximam, em alguns


aspectos.
Para Sasseron e Carvalho (2008), dentre os vários propósitos que essas abordagens
podem contemplar, destacam-se, principalmente:
 Compreensão básica de termos e conceitos científicos;
 Compreensão da natureza da Ciência e dos aspectos éticos e políticos envolvidos
na produção dos conhecimentos científicos;
 Compreender a relação Ciência, tecnologia, sociedade e ambiente.

No próximo tópico, aprofundaremos um pouco mais essa discussão, visando


compreender melhor essas questões e as implicações da Alfabetização Científica para o
cenário educacional.

Saiba Mais:

Sugestão de leitura: Artigo

LORENZETTI, L.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científica no contexto das séries


iniciais ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências v. 3 / n. 1, 2001.

Segue o link para acesso:


http://www.portal.fae.ufmg.br/seer/index.php/ensaio/article/viewArticle/35
2 - Alfabetização Científica e ensino de Ciências

Conforme diversos estudos já evidenciaram, ao ensinar Ciências aos estudantes, em


diferentes níveis de ensino, as práticas tradicionais, de caráter conservador, ainda têm grande
predomínio no contexto escolar. Tais práticas tratam o conhecimento científico de forma
descontextualizada, sendo que, muitas vezes, esses conceitos são trabalhados como verdades
absolutas, imutáveis e superiores aos outros conhecimentos. De tal modo, a Ciência é
concebida de forma fragmentada, sem relação com a construção histórica que desencadeou
tudo que se conhece hoje por meio do trabalho científico.
Essa evidências corroboram com o desenvolvimento de estudos e investigações para
atenuar essa situação complexa, ou seja, surgem correntes teóricas diversas que pretendem
fomentar discussões e análises que culminem em pressupostos orientadores das práticas
pedagógicas que favoreçam um ensino de Ciências significativo.
A revisão da literatura da área apresenta uma infinidade de temáticas que são
discutidas pelos pesquisadores com o intuito de contribuir com trabalho pedagógico do
professor. Dentre essas perspectivas, esta aula dedica-se a apresentar alguns dos aspectos que
fundamentam a linha de estudos conhecida como "Alfabetização Científica".
Conforme já explicitado nas reflexões iniciais, esta proposta vai na direção oposta ao
ensino de ciências memorístico, ou seja, centrado na aprendizagem de conceitos científicos de
forma isolada, sem estabelecer relações com aspectos históricos e sociais.
A perspectiva da alfabetização científica pode representar um caminho promissor
para fomentar, no contexto da escola, discussões que tratem a Ciência como produção
humana, incorporada à nossa vida em diversas situações. De tal modo, esses aspectos sugerem
mudanças nos objetivos relativos ao ensino de ciências, indicando, cada vez mais, a relevância
desta tendência para uma formação voltada para a cidadania.
Conforme já salientado, a literatura acadêmica apresenta uma variedade de termos que
expressam essa ideia de alfabetização científica, no entanto, ainda que sejam nomenclaturas
diferentes, buscam expressar preceitos semelhantes.
Dentre as diversas nomenclaturas disponíveis na literatura, Conceição; Vasconcelos e
Silva (2010, s/p) argumentam, fundamentados em Matthews (1994), que "[...] vão desde os de
caráter restrito, onde a alfabetização se configura apenas com a capacidade de reconhecer
fórmulas e dar definições corretas, até conceitos mais abrangentes, que incluem a necessária
aquisição de compreensões sobre a natureza da ciência e suas dimensões sociais e históricas".
Neste aspecto, é importante frisar que ao tratar do termo "alfabetização", torna-se
necessário analisar o modo como é utilizado, especialmente, ao ser transposto para a área
científica, pois poderá sofrer modificações no modo como se concebe essa ideia, resultando
em posturas diversificadas.
Sasseron e Carvalho (2008), utilizam a expressão “Alfabetização Científica” a partir da
concepção de alfabetização defendida por Paulo Freire. Conforme expressa o referido autor,
"a alfabetização é mais que o simples domínio psicológico e mecânico de técnicas de escrever
e de ler. É o domínio destas técnicas em termos conscientes" (FREIRE, 1980, p. 111).
De um modo geral, a ideia de propiciar a alfabetização científica dos alunos parte,
especialmente, da necessidade de promover uma educação científica que possa garantir
tanto o domínio dos conceitos científicos como o seu uso em situações diversas do cotidiano.
Ademais, espera-se que o indivíduo possa se posicionar diante da discussão de temas
voltados à produção e divulgação dos conhecimentos científicos e tecnológicos.
Contudo, essa perspectiva aproxima-se do desejo de propiciar um conjunto de
conhecimentos para que os indivíduos façam uma leitura do mundo onde vivem e
compreendam as necessidades de transformá-lo (CHASSOT, 2002).
Assim, a alfabetização científica pode ser compreendida como "[...] um processo que
tornará o indivíduo alfabetizado cientificamente nos assuntos que envolvem a Ciência e a
Tecnologia, ultrapassando a mera reprodução de conceitos científicos, destituídos de
significados, de sentidos e de aplicabilidade (LORENZETTI; DELIZOICOV, 2001, p. 8-9).
Importante:

"[...] a alfabetização científica que está sendo proposta preocupa-se com os conhecimentos
científicos, e sua respectiva abordagem, que sendo veiculados nas primeiras séries do
Ensino Fundamental, se constituam num aliado para que o aluno possa ler e compreender o
seu universo. Pensar e transformar o mundo que nos rodeia tem como pressuposto conhecer
os aportes científicos, tecnológicos, assim como a realidade social e política. Portanto, a
alfabetização científica no ensino de Ciências Naturais nas Séries Iniciais é aqui
compreendida como o processo pelo qual a linguagem das Ciências Naturais adquire
significados, constituindo-se um meio para o indivíduo ampliar o seu universo de
conhecimento, a sua cultura, como cidadão inserido na sociedade" (LORENZETTI;
DELIZOICOV, p.8-9, 2001).

As discussões aqui apresentadas, ainda que de forma breve, indicaram algumas das
principais ideias relativas à perspectiva da alfabetização científica. De tal modo, o ensino de
ciências, voltado para a formação para a cidadania, visa contemplar o estudo e a reflexão,
desde o início da escolarização, das implicações que envolvem a produção e a divulgação dos
conhecimentos científicos, de maneira contextualizada.

Saiba Mais:

Assista ao vídeo disponível no site YOUTUBE, que aborda a importância da alfabetização


científica para a compreensão do mundo em diversos aspectos e não só em relação à
Ciência.

Link para acesso:

https://www.youtube.com/watch?v=qjh9ZAB0rYg

Conclusão:
Vários estudos e pesquisas têm favorecido a construção de práticas pedagógicas mais
coerentes com o propósito de formar indivíduos que possam posicionar-se criticamente diante
das discussões que envolvem os conhecimentos científicos. Essas tendências sugerem a
inegável relação entre o ensino escolar e as possibilidades de promover o exercício consciente
da cidadania.
De fato, a perspectiva da Alfabetização Científica traz contribuições relevantes para
se repensar o ensino de Ciências, especialmente ao ser trabalhado com crianças pequenas. A
potencialidade dessa nova postura consiste, dentre várias outras, em levar para a sala de aula
discussões que tratem da presença da Ciência no cotidiano das pessoas, ou seja, situações reais
que exijam reflexão e análise sobre a produção e divulgação dos conhecimentos científicos e
tecnológicos. Portanto, o professor possui um importante papel diante dessas transformações e
precisa analisar essas novas concepções para fundamentar a sua prática pedagógica de modo
qualitativo.

Referências

CHASSOT, A. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista


Brasileira de Educação nº 21, seção Documentos, p. 157-158. 2002.

DEBOER, G.E. Scientific Literacy: Another Look at Its Historical and Contemporary
Meanings and Its Relationship to Science Education Reform. Journal of Research in Science
Teaching, v. 37, n.6, p. 582-601, 2000.
DURANT, J. O Que é Alfabetização Científica? In: MASSARANI, L.; TURNEY, J.;
MOREIRA, I.C. (Org.). Terra Incógnita: A Interface entre Ciência e Público. Rio de Janeiro:
Vieira & Lent : UFRJ, Casa da Ciência: FIOCRUZ, 2005.
FREIRE. P., Educação como prática da liberdade, São Paulo: Paz e Terra, 1980.
LAUGKSCH, R.C. Scientific Literacy: A Conceptual Overview. Science Education, v. 84, p.
71-94, 2000.
LORENZETTI, L.; DELIZOICOV, D. Alfabetização científica no contexto das séries iniciais
ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências v. 3 / n. 1, 2001.

MACEDO, M. V. de. NASCIMENTO, M, de S.; BENTO, L.. Educação em Ciência e as


“Novas” Tecnologias Revista Práxis Educacional v. 5, n. 9, 2013.

MATTHEWS, M. R. Science Teaching: The role of history and philosophy of science.


London: Routledge, 1994.
SASSERON, L. H.; CARVALHO. A. M. P. Almejando a alfabetização científica no ensino
fundamental: A proposição e a procura de indicadores do processo. Investigações em Ensino
de Ciências, 2008.

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