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REAPRENDIZAGEM CRIATIVA

MÓDULO IV

Introdução
Então vamos começar o quarto e último módulo do Curso de
Reaprendizagem Criativa, continuando a falar de bloqueios.

Só recapitulando: a gente falou de Bloqueios Educacionais que são o


Bloqueio do Gabarito, o Bloqueio do Sucesso e o Bloqueio do Tesão. Depois,
falamos dos Bloqueios Mercadológicos, que ocorrem com mais força e que
atingem o joelho da curva exponencial quando a gente entra no mercado de
trabalho: o Bloqueio do Especialista, o Bloqueio do Adulto e o Bloqueio do
Ocupado. E agora, vamos para os Bloqueios Cerebrais.

Eles ocorrem desde sempre e vão continuar ocorrendo para sempre. Por
isso que eu coloquei por último, porque eles meio que permeiam tudo. E vocês
vão ver como eles meio que explicam quase todos os outros bloqueios que a
gente falou até agora – os outros seis.

Então vamos falar de cérebro nesse módulo. Esse é o assunto que eu


mais gosto e, sem dúvida, o que eu mais me interesso porque é o que eu
menos sei. E por isso me interessa. Afinal, os que eu sei me interessam
menos. Me interessam também, mas o que eu não sei me interessa mais, né?

Tem uma frase famosíssima do Sócrates que eu só a entendi há pouco


tempo. Talvez apenas há dois ou três anos, que é “só sei que nada sei”. Todo
mundo aqui conhece, mas eu não sei se todo mundo já parou para pensar (o
Bloqueio do Adulto) – “você já parou para pensar?” – o que é o “só sei que
nada sei”?

Toda vez que você abre uma nova porta de um novo assunto ou quando
você quer aumentar aquela parte de cima do “T”, sabe? Quando você abre
uma nova porta – como, por exemplo, o assunto do cérebro – você descobre o
quanto você não sabe. Ou seja, quanto mais você aprende sobre assuntos
novos, mais aumenta a sua ignorância. Mais você ‘só sabe que nada sabe’,
porque você descobre o quanto falta você aprender ainda.
Isso é muito louco, né? É ao mesmo tempo desafiados e instigante. Isso
pode chegar a ser meio desmotivador. Você fica “’puta que o pariu’, tem coisa
‘pra caralho’ disso aí que eu não estou ‘ligado’”. Você quase pensa assim: “era
melhor eu nem ter aberto essa porta, sabe? Porque eu abri e agora que eu vi
que eu não sei. Eu vou ficar sempre pensando o quanto eu não sei com a ‘nóia’
de querer aprender”. É muito louco.

E muita gente também não sabe a continuação dessa frase. “Só sei que
nada sei” continua como “e o fato de saber disso me coloca em vantagem
sobre aqueles que acham que sabem alguma coisa”. Ou seja, a importância da
gente ter ciência do tamanho da nossa ignorância. Eu acho que os ignorantes
são aqueles que nem sabem o tamanho da sua ignorância. E eu acho que
saber o quanto você não sabe é o primeiro passo.

Bem, vamos falar de cérebro. Eu acho que a melhor e mais simples


explicação sobre o cérebro é a dos três tipos de cérebro: o Cérebro Reptiliano,
o Cérebro do Sistema Límbico e o Neocórtex. Então, eu vou chamar de
primeiro cérebro, segundo cérebro e terceiro cérebro.

O primeiro cérebro é esse aqui – pequenininho aqui do meio – que a


turma chama de cérebro reptiliano porque foi a primeira parte do cérebro a
surgir e essa parte é a que tem em comum entre os répteis, os mamíferos e a
gente. Então, é como se fosse o básico ali. Na verdade, é tão básico que esse
cérebro reptiliano basicamente só tem um comando; uma diretriz que é:
sobreviva.

É isso. O negócio do cérebro reptiliano é ‘sobreviver’. A todo e qualquer


custo, sobreviva. É como se fosse um software, só que tem uma linha de
programação de código: “survive”. Ponto. Acabou. O foco é em sobreviver.
Então é o instinto básico de sobrevivência.

A gente começa a ver o cérebro reptiliano quando você, por exemplo,


tem um sequestro ou uma situação que a sua vida está em jogo. O quê
acontece nessa hora? Não importa mais nada! O que importa é seguir a diretriz
primária. Você esquece o seu trabalho; você esquece a sua família; você
esquece-se de tudo. O seu foco é ‘como sair daqui vivo’. Ou seja, você volta à
sua diretriz primária de tudo, que é ‘sobreviver a todo e qualquer custo’

E o cérebro reptiliano reage de duas formas. Eu boto em inglês porque


fica bonitinho e meio que rima: “fight or flight”. Ou seja, encarar e brigar ou
correr e fugir. É assim que ele pensa. Então ele é binário; ou ele encara e briga
ou ele zarpa e voa.

O segundo cérebro, que surgiu depois na evolução – depois do reptiliano


– é o sistema límbico. Chamado de cérebro límbico ou de “cérebro mamífero”,
porque é o que há de comum entre nós e os mamíferos inferiores; todos eles
tem. “Inferiores” é um termo que se usa, tá?

O sistema límbico tem a ver muito com emoções. A gente percebe que
os mamíferos têm emoções, né? Diferentemente dos répteis que não tem
porque eles não têm o sistema límbico.

E, por último, o neocórtex, que é o cérebro primata. É o cérebro dos


mamíferos do tipo primata, que inclui aí os nossos irmãos próximos. Muita
gente fala que nós viemos dos macacos. Não. Nós temos um antecessor
comum com o macaco. Não é que a gente veio deles; dos gorilas e dos
orangotangos. Nós temos um antecessor em comum lá.

Aí você pensa: “poxa, mas quer dizer que nós e eles temos o mesmo
neocórtex?”. Não. Obviamente não é o mesmo neocórtex. E o quê que faz a
gente diferente, então? O quê que o nosso neocórtex tem de especial em
relação à desses outros animais aí?

Eu adoro uma teoria que diz que “o que nos faz humano é cozinhar”.
Cozinhar nos faz humano. “Invention of cooking made having a bigger brain na
asset for humans” (“A invenção do cozinhar nos permitiu termos cérebros
grandes”). Cérebros maiores – não é só o tamanho; é com mais neurônios.

Por que isso? Porque o cérebro ocupa um pequeno espaço no corpo,


mas ele consome muita energia. Então ele chega a consumir de 20 a 25% da
energia do corpo quando está parado; quando está “relax”. Isso é muita
energia. Então, ele é um extremo consumidor de energia.

E o que acontece? O cozinhar permitiu que a gente conseguisse gerar


mais energia de um alimento e permitiu ficar viável matematicamente termos a
quantidade de neurônios que nós temos. Os animais que vivem comendo
coisas cruas não conseguem as calorias suficientes para terem o nosso
cérebro. Se nós vivêssemos somente de comer coisas cruas, nós não teríamos
evoluído. O cozinhar foi necessário porque o cozinhar nos ganhou tempo. Eu
vou mostrar um vídeo que explica direitinho isso, que é um trechinho de um
TED Talk muito interessante. Veja aí:

“To cook is to use fire to pre-digest foods outside of your body. Cooked
foods are softer, so they're easier to chew and to turn completely into mush in
your mouth, so that allows them to be completely digested and absorbed in your
gut, which makes them yield much more energy in much less time. So cooking
frees time for us to do much more interesting things with our day and with our
neurons than just thinking about food, looking for food, and gobbling down
food all day long.

So because of cooking, what once was a major liability, this


large, dangerously expensive brain with a lot of neurons, could now become a
major asset, now that we could both afford the energy for a lot of neurons and
the time to do interesting things with them. So I think this explains why the
human brain grew to become so large so fast in evolution, all of the while
remaining just a primate brain.”

(Cozinhar é utilizar o fogo para pré-digerir alimentos fora do seu corpo.


Alimentos cozidos são mais macios, então são mais fáceis de mastigar e se
transformam completamente em mingau na sua boca, de modo que permite
serem completamente digeridos e absorvidos em seu intestino, e que os levam
a produzir muito mais energia em muito menos tempo.

Assim, cozinhar libera tempo para nós fazermos coisas muito mais
interessantes com nosso dia e com nossos neurônios, do que apenas pensar
em comida, procurar por comida e devorar comida o dia inteiro. Assim, por
causa do cozimento, o que uma vez era uma maior responsabilidade (sic), este
cérebro grande caro (sic) e perigoso com muitos neurônios pode agora se
tornar uma grande vantagem, agora que podemos dispor tanto de energia para
um monte de neurônios quanto o tempo para fazer coisas interessantes com
eles.

Então eu acho que isso explica por que o cérebro humano cresceu para
se tornar tão grande e tão rápido na Evolução, muito embora permanecendo
apenas um cérebro primata).

Palmas, né? Palmas. Eu acho “foda” essa teoria e eu cortei nessa parte
porque ela acaba com o quê? Com um gráfico exponencial. Lembra que eu
falei do gráfico exponencial? Do linear ao exponencial?

Isso aqui para você entender, são as espécies mostrando que, a partir
do surgimento do “cooking” (cozimento), o Homo erectus “bombou” de
evolução e chegou no Homo sapiens. Segundo o estudo dela, isso coincide
com o momento da invenção do cozinhar. Ou seja, em outras palavras, o
“cooking” – o cozinhar – foi o ponto de inflexão; foi o joelho da curva que fez o
crescimento exponencial do cérebro e evolução da espécie até chegar ao
Homo sapiens. “Foda”, né? Genial! Eu acho isso lindo!

E, como eu falei, esse final dela mostra exatamente a curva exponencial.


Quem quiser procurar, tem esse “paper” na internet completo: “Metabolic
constraint imposes tradeoff between body size and number of brain neurons in
human evolution”. Pesquisem pelo nome: Suzuna Herculano-Houzel é aquela
mulher, que é brasileira. Vocês já ouviram falar nela; ela é a mais famosa
neurocientista brasileira. Já fez muita coisa em televisão. Eu acho ela muito
legal.

Esse estudo dela repercutiu no mundo todo. Aquele TED Talk que ela
fez é uma apresentação global; não é aqueles TEDx (aquela franquia que eu
faço; aquelas coisas “trash”). “Trash”, não. Brincadeira. É um TED Talk global.
É um TED Talk “fodão”. Então, quem quiser procurar, busca Suzana
Herculano-Houzel e bota o título. Eu vou deixar aqui embaixo do vídeo o link de
referência para esse “paper” dela. Quem tiver a curiosidade para ver maior.
Então, o problema é o seguinte: se nós continuássemos comendo
comidas cruas, nós teríamos que comer (segundo os cálculos dela) mais ou
menos por nove horas por dia sem parar. Ficaria inviável termos chegado
aonde a gente chegou hoje; faltaria tempo e talvez faltaria até alimento no
mundo porque seria muito alimento para fazer. Então, o cozinhar foi o que fez
evoluirmos e termos mais tempo livre para fazermos outras coisas, pois
conseguimos em pouco tempo pegar as calorias e energias que precisamos.

Sempre que eu falo dessa curva exponencial, eu me lembro da minha


experiência lá na Singularity University; lá no NASA Research Park. E eu
queria compartilhar uma coisa: é engraçado que o nosso cérebro entrou numa
curva exponencial de crescimento e aquilo não para. Nós estamos
constantemente evoluindo e nossa capacidade de pensar tem cada vez mais
coisas no mundo para serem combinadas. A combinatividade também é
exponencial, pois quanto mais coisas se combinam, mais coisas novas têm
para serem combinadas. E por aí vai.

Tem um gráfico (também exponencial) que mostra até onde chegamos.


Eu acho muito louco. É o seguinte: essa aqui é uma foto que eu tirei lá de uma
aula lá na Singularity de um slide mostrando que em 1990 começou o processo
de sequenciar o genoma humano.

O que é sequenciar? Sequenciar o DNA é colocar o DNA em sequência,


logicamente. Mas, em outras palavras, é transformar o DNA num código; numa
linha de código; numa sequência de letras que são “ATCG” (os pares de DNA).
E o slide mostra que 13 anos atrás, custou três bilhões de dólares e um esforço
global para conseguir sequenciar. Esse gráfico está para baixo porque ele está
mostrando o preço diminuindo. Começou aqui – altíssimo – e vai diminuindo. E
você vê que aqui ocorreu o joelho da curva, percebe? Teve alguma mudança
(eu não sei qual foi) tecnológica; na forma de fazer; algum insight – insight é
um salto de horas, lembra? – ocorreu que começou a fazer o custo de uma
hora para outra cair. E, em 2014, por 1000 dólares você consegue sequenciar
o genoma humano. Uma coisa que custava três bilhões de dólares, com a
evolução exponencial, passou a custar 1000 dólares.
Mas aí você pensa: “e daí?”. E daí que quando você coloca o DNA – a
vida – num código, é como se a gente tivesse “hackeado” a vida. “Hackeado”
não no sentido de fazer mal. “Hackear” significa descontruir, né? Eu acho que
já falei sobre isso.

Quando a criança está lá com o brinquedo e quer quebrar e ver o que


tem dentro, ela está “hackeando” o brinquedo. Ela está “hackeando” aquele
brinquedo lá para ver o que tem dentro. Então, nós “hackeamos”; nós
descobrimos o que tem dentro da vida. São esses códigos aqui que parecem
muito com um código de computador.

O que isso implica? Isso implica que a partir do momento que a vida foi
“hackeada” e sequenciada, a vida passa a não mais ser regida pelas leis da
evolução biológica (que é uma evolução lenta) e sim pelas leis da evolução
tecnológica (que é exponencial – é muito mais rápida). Isso é muito louco. Volta
um pouco aquele papo “Matrix” que a gente teve lá em Mitos, não foi? Sobre a
robótica e a inteligência artificial.

O quê que se faz com o genoma? Aplicações médicas: milhares, né?


Vacinas personalizadas, tudo personalizado para o seu DNA. Até aplicações
pessoais mesmo. Por exemplo, você ter um shampoo para o seu DNA, que
você bote o seu DNA lá e receba em casa um shampoo feito especialmente
para você. É a customização genética do mundo. Tem coisas ruins também
porque os vilões vão usar essas informações para outras coisas.

O que eu quero mostrar aqui é até que ponto o nosso cérebro, ao


“startar” aquele processo exponencial com o “cooking” e subir naquela curva,
ele ficou tão poderoso a ponto de hacker ele mesmo. É o extremo da evolução.
Você começa se auto “hackear”, né? Lá no Vale do Silício, sabe aqueles
laboratórios das garagens do Vale do Silício, onde ocorria tudo? Hoje em dia só
tem laboratórios de biologia lá. Muito louco, né? Era um mundo que eu me
arrependi muito de ter faltado nas aulas de biologia e não ter prestado atenção.
Na verdade, eu larguei o colégio e no primeiro ano do Científico eu perdi muita
aula de biologia. Me fez falta.
Sabe aquele conhecimento que a gente nunca acha... “mitocôndria e
não sei o quê... ah, que ‘’bosta’”? Pois hoje em dia é o conhecimento da moda
no Vale do Silício – biotecnologia que eles chamam. Isso aqui é um “hacker
space” de biotech, um lugar para “hackear” a vida. É meio assustador, mas é
louco. Então está lá, laboratórios cheios dessas coisas.

Bem, eu queria fazer uma pequena polêmica aqui. Eu sempre faço um


aviso de polêmica, né? É o seguinte: já parou para pensar – já teve o tempo de
parar para pensar o seguinte – que o processo de evolução da espécie é
através da seleção natural; não os mais fortes, mas os mais adaptados àquelas
circunstâncias vão sobrevivendo. Não necessariamente os mais fortes, mas os
mais adaptados. E à medida que aquela espécie não sobrevive, ela não se
reproduz e, portanto, ela não se perpetua, enquanto as que vão ficando vão se
reproduzindo.

E eu vou falar uma coisa polêmica agora: já parou para pensar que aqui
está uma espécie e gera outras três. E aí, essa aqui não evolui. Ela tem algum
problema de adaptação; ela tem alguma coisa errada e não evolui. As outras
duas evoluem e aqui já acabou o caminho. Aqui, geram duas e aqui duas.
Porém, essas duas aqui também não evoluíram. Então, veio por aqui a
evolução e por aí vai. Já parou para pensar que o cérebro humano evoluiu
tanto que nós começamos a mudar o rumo da evolução natural? Por quê?
Porque hoje com a medicina, as espécies menos adaptadas não morrem mais
e elas se reproduzem.

Assunto polêmico. Não estou dizendo que isso é ruim, tá? Mas já parou
para pensar nisso? Já parou para pensar que na lógica natural da vida, as
espécies que nascem com problemas ou mal adaptadas deveriam morrer? É
muito escroto falar isso, né? Veja bem, eu não estou dizendo que eu torço para
isso e nem que eu apoio isso; eu estou apenas dizendo que analisando como a
vida funciona, essa era a regra. Mas nós evoluímos tanto que começamos a
mudar a vida e dizer “não, essa espécie vai sobreviver e ela vai se reproduzir
ainda”. E eu não sei o que isso vai dar. Só sei que é louco pensar isso. Eu
gosto de filosofar. “’Caralho’, como chegamos?”
E mais, não só em relação à medicina, mas mudar os alimentos
(alimentos geneticamente modificados). Estamos mudando a vida; estamos
sendo Deus e dizendo “não, agora não vai ser assim, não; agora vai ser assim.
Tem esse novo alimento aqui que, naturalmente, através de combinação e
seleção natural talvez não fosse existir, mas eu o fiz existir”.

E aí, fim da polêmica. Só para a gente refletir.

“Tá, Murilo. Legal saber do cérebro. Até agora meio curiosidade, Vale do
Silício, biologia e tal; falou polêmica”. E “ai, que absurdo o que ele falou. Não
acredito que o Murilo falou isso”. Por isso que eu falei que era polêmico. Mas o
quê criatividade tem a ver com essa história? Muito a ver!

O cérebro ocupa pouco espaço, mas consome muita energia. E


consumir muita energia vai totalmente contra a diretriz primária básica do
cérebro lá do reptiliano que é ‘sobreviver’. Para o cérebro reptiliano, tudo que
gasta energia não é bom porque sobreviver implica em poupar energia.
Quando eu falo em energia, é a caloria – a energia para o corpo. Nós temos
acesso à energia hoje em dia relativamente fácil. Pelo menos nós aqui (e
grande parte do mundo também). Relativamente em relação a mil anos atrás,
concorda? Acho que isso é unânime. É mais fácil porque temos como estocar
as coisas. Temos geladeira, temos técnicas de estocagem, de armazenagem,
de cozinhar e a produtividade barateou muitas coisas e por aí vai.

Só que se você traçar a linha do tempo da humanidade – da nossa


espécie – esse acesso fácil surgiu aos 45 minutos do segundo tempo. Surgiu lá
no finalzinho e o nosso cérebro básico talvez não atualizou essa informação
que “velho, não precisa ficar com essa ‘nóia’ obsessiva; essa ‘pirangagem’ de
energia’. Relaxa que a gente desenrola”. Ele não atualizou, então ele continua
obcecado.

O quê isso tem a ver com a criatividade? Tem a ver que criar soluções
inovadoras gasta muita energia; já usar soluções padrões e já conhecidas –
clichês – gasta pouca energia. Portanto, podemos concluir que o cérebro não
gosta de pensar criativamente. Louco, né?
O cérebro não gosta; a princípio, não interessa a ele. Ele é capaz, mas,
a princípio, não interessa. Se ele puder escolher, ele prefere ficar no padrão e
nós temos que puxar para que isso ocorra porque se depender dele, ele fica
“de boa” lá.

O nosso cérebro gosta mesmo é de caçar padrões. Nós somos


caçadores obsessivos de padrões; de coisas que você encontre um padrão que
já conheça. A gente começa a olhar o céu e depois de 30 segundos a gente
começa a ver um padrão: um elefante, uma casa, um negócio. E quando a
gente vê aquele padrão, a gente meio que se conforta. A gente vê pessoas na
rua e começa a dizer “fulano parece com fulano” porque ao ver um
desconhecido e encontrar uma semelhança com outro, nós encontramos um
padrão. E o cérebro fica “‘opa’, beleza”. Enquanto não encontrar um padrão,
para ele é um problema; encontrando o padrão, resolvido!

Então é louco concluir que o cérebro não gosta de pensar criativamente.


Entre os outros animais e a gente, o animal tem um instinto (que é o instinto de
sobrevivência) e nós podemos chamar isso de padrão. Nós temos padrões de
sobrevivência. A grande diferença é que os outros animais estão fadados a
terem que seguir os instintos; eles não têm muita opção. Nós, não. Nós
evoluímos ao ponto de termos o direito de, se quisermos, contestar os nossos
padrões e sair da caixa.

Então, vamos gastar energia? Vamos contestar? Lembrando que isso


não é o padrão do seu cérebro. Estamos falando agora de desafiar o cérebro.
Não agora, já vínhamos falando desde antes. Tudo que eu falei sobre não se
contentar com a primeira resposta certa. A primeira resposta certa gasta menos
energia. O cérebro prefere se contentar com ela – é mais fácil.

Fracasso e sucesso: só ir na boa é melhor, gasta menos energia porque


o fracasso requer tentar, errar, aprender, passar vergonha, ter que se
desculpar e ter que se explicar. Isso tudo gasta muita energia, entendeu?
Então, todos os bloqueios que a gente viu, é mais fácil ser adulto no mundo
corporativo, pois sendo criança as pessoas vão brigar e vão achar estranho.
Você vai ter que explicar e tal. Ser idiota e ter de gastar mais energia para
defender as suas posições é tudo mais difícil.

Se o mundo quer especialistas, ser especialista é mais fácil do que


querer ser generalista. Seguir o caminho básico do vestibular é mais fácil. Não
tem que falar com o seu pai, falar com ninguém e nem prestar conta a
ninguém. E falar “ah, não. Eu quero seguir esse caminho aqui”.

Novamente, o vestibular pode ser um bom caminho, sim. Para alguns


cursos e algumas pessoas. Eu só não acho que é um caminho obrigatório.
Esse é apenas o meu ponto.

A questão do tempo e parar para pensar. Ninguém aceita que eu pare


para pensar. A “mina” que trabalha lá em casa me olha e deve achar que eu
sou um vagabundo e fico sem fazer nada, pensando em casa porque o negócio
é trabalhar.

Então, todos os bloqueios que a gente falou tem a ver com mudar
atitudes, fazer outra formação na nossa vidam que requer gastar energia. “Hard
work na veia, papai”.

Então, eu só queria fazer agora essa introdução ao assunto “cérebro”.


Os outros bloqueios, eu fiz uma analogia do ‘descascar’; do ‘raspar’. E eu acho
que aqui não é uma questão de raspar o cérebro; aqui é mais ‘lutar’. Lutar
contra ele e contra a forma que ele funciona.

O software meio desatualizado que funciona e temos que lutar. “Não,


não, não. Ele quer que eu faça isso, mas eu não vou. Eu vou gastar mais
energia e vou por esse outro caminho aqui”.

Então, sobre Bloqueios Cerebrais, vamos ter uma aula sobre o Bloqueio
da Lógica, o Bloqueio da Tradição e o Bloqueio do Implícito. Os três têm a ver
com padrões. É como se fosse bloqueio dos padrões lógicos, bloqueio dos
padrões tradicionais e bloqueio dos padrões implícitos. Os três são padrões,
mas eu separei. Primeiro, porque eu tenho TOC e como cada módulo tinha
quatro aulas, esse também tinha que ter quatro. Eu poderia fazer uma aula
grande de uma hora e meia, mas eu preferi cortar porque é melhor para o meu
TOC, ficando tudo simétrico. Talvez, também, porque fica tudo mais organizado
para você poder consultar.

Beleza? Então era isso. Essa era só uma Introdução aos Bloqueios
Cerebrais e espero que gostem dos três bloqueios desse módulo.

Abraço.

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