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Instituto Missionário Palavra da Vida

Raidno Cavalcante de França Júnior

A Missio Dei no Profeta Jonas


Compaixão ou senso de justiça?

Artigo apresentado ao Prof. Marcos Ribeiro em


cumprimento parcial da disciplina Teologia Bíblica da
Missão no Antigo Testamento.

Benevides
2019

1
Sumário

Introdução.................................................................................................................................... 3
Contexto Histórico ...................................................................................................................... 4
Propósito do Livro....................................................................................................................... 5
Esboço do Livro ........................................................................................................................... 6
OS PERSONAGENS DA MISSÃO
Capítulo 01 ...................................................................................................................... 6
O que ensina sobre a pessoa de Deus .................................................................. 6
O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas ..................................................... 7
O que ensina sobre os gentios.............................................................................. 8
Capítulo 02 ...................................................................................................................... 9
O que ensina sobre a pessoa de Deus .................................................................. 9
O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas ................................................... 10
Capítulo 03 .................................................................................................................... 11
O que ensina sobre a pessoa de Deus ................................................................ 11
O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas ................................................... 12
O que ensina sobre os gentios............................................................................ 13
Capítulo 04 .................................................................................................................... 14
O que ensina sobre a pessoa de Deus ................................................................ 14
O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas ................................................... 15
O PROFETA, ISRAEL E DEUS
A relação do tema com o propósito bíblico da missão .............................................. 16
Jonas como reflexo de Israel ....................................................................................... 17

LIÇÕES MISSIOLÓGICAS PARA VIDA E MINISTÉRIO


Lições sobre a atitude do profeta ................................................................................ 18
Lições sobre pregação e conversão ............................................................................. 19
Lições sobre o caráter de Deus .................................................................................... 19
Lições sobre os ímpios .................................................................................................. 20

Conclusão ................................................................................................................................... 21

2
 Introdução
Apesar de a narração do livro ser em terceira pessoa do singular, as demais
informações autobiográficas ao longo do livro, apontam o próprio Jonas como autor do
mesmo. Olhando ao longo do Antigo Testamento, podemos ver que não é uma ocorrência
rara, há outros livros com a mesma estrutura que sempre apontam o próprio autor
denominando o livro.
O livro de Jonas gira inteiramente em torno da relação pessoal entre Deus e Seu
servo, Jonas. Essa relação se origina numa comissão profética, da qual Jonas procurou
evadir-se. Jonas descobriu que os pensamentos de Deus não eram os seus pensamentos e
que seus caminhos não eram os caminhos de Deus. Mas Deus não deixou Jonas sozinho.
Na primeira metade da história, Deus permite que Jonas chegue ao extremo de
quase perder a própria vida, somente para em seguida restaurá-lo à posição onde ele se
encontrava antes dele tentar, por meios físicos, evitar o mandado do Senhor. Na segunda
metade da história o Senhor permite que Jonas chegue ao extremo da depressão mental e
espiritual, somente para revelar a ele a correção essencial de Seus misericordiosos
propósitos.
Nosso foco, no entanto, vai muito além do que analisar tudo que ocorreu ao longo
do livro, mas também buscar respostas do porquê de cada situação e como encaixa-las
dentro da história maior da bíblia, visando sempre o propósito de Deus na vida desse
profeta. Por que Jonas fugiu de Deus? Por que a cidade escolhida era Nínive? Qual era o
propósito de Deus na vida de cada personagem na história? Como essa mensagem pode
ser usada nos dias de hoje?
O livro de Jonas é um tanto peculiar comparado com os outros livros proféticos,
aqui temos uma explicação bem clara disso:

“Enquanto os profetas desse tempo trazem ameaças de julgamento para as nações pagãs
inimiga, o livro de Jonas relata a conversão dos ninivitas e anuncia a misericórdia de
Deus para esse que foi um dos povos mais odiados por Israel. Os profetas estão
solidamente enraizados na situação político-social, tanto de Israel como das nações
vizinhas. Jonas, contudo, parece desconhecer as situações, não dizendo sequer quais são
os pecados da cidade de Nínive”.1

Estamos diante de não apenas um livro que narra uma história, mas um relato do
cuidado e da graça de Deus que ultrapassa barreiras, territórios, raças e povos sem

1
BALANCIN & STORNILO. Como Ler o Livro de Jonas. São Paulo. Edições Paulinas, 1990. (p. 8)

3
distinção, tudo para que Sua glória seja concretizada e Seu nome conhecido por todos
aqueles que Ele quer. E no meio de todo esse pecado de Nínive e também da
desobediência do profeta Jonas, é que vamos buscar entender com mais clareza esse
cuidado e preservação de Deus para com os seus.
Diante disso, não queremos apenas olhar e estudar a vida de Jonas, mas olhar
também a vida de todos os cristãos hoje que também recebem uma missão de Deus. Será
que há pessoas comprometidas sinceramente e dependentes de Deus? Ainda há “Jonas
fujões” hoje? Sim? Quais desculpas em geral temos visto para essa fuga? É essa a lição
que queremos não apenas estudar, mas incentivar a aplicar nas vidas dos cristãs.

 Contexto Histórico
É interessante olhar para o contexto de Jonas a luz de II Reis 14, tempo do reinado
de Jeroboão II ao Norte de Israel entre os anos de 787 e 747 a.C., Jonas foi um profeta
bastante ativo durante esse período. Possivelmente o nome do seu pai era Amitai. Se ele
viveu durante esse tempo então podemos afirmar que ele viveu numa época muito difícil,
e sob o regime de um rei perverso, que “fez o que era mal diante do Senhor” (II Reis,
14:24).
Apesar disso, ele não teve dificuldade em se sentir usado por Deus para dizer ao
rei Jeroboão que em razão das misericórdias do Senhor para com Israel, e apesar de suas
iniquidades, Deus iria restaurar as antigas fronteiras da nação. O que de fato veio a
acontecer, como resultado de guerras vitoriosas, de acordo com II Reis, 14:25-28.
A cidade para onde Deus manda Jonas ir, é Nínive. Na época Nínive era a capital
da Assíria, uma grande potência mundial naquele momento. Esse é um dos muitos fatores
para que tudo ocorresse naquele local, Deus tendo misericórdia de um povo corrupto e
promíscuo, para que todos vissem a transformação que Deus poderia operar numa
população pecadora, através de um profeta que desobedeceu ao Senhor.
Um ponto interessante, é que Jonas viveu no mesmo contexto histórico que o
profeta Amós em meio a Israel, que estava passando por períodos relativos de paz e
prosperidade. A fragilidade da Assíria e da Síria, foi ponto de partida para que Jeroboão
II restabelece-se as fronteiras de Israel ao norte, até onde chega. Apesar da condição
econômica boa na época, em termos espirituais foi tempo de muita pobreza. A religião
era ritualista e havia cada vez mais a prática idólatra, resultando no enfraquecimento da
justiça. A paz e riqueza, trazia a Israel um espírito, moral e eticamente corrupto.

4
Com todos esses problemas e desvios por parte de Israel, o castigo de Deus para
o povo era inevitável. O reino do Norte foi castigado, quando o Senhor permitiu que os
assírios os destruíssem e levasse Israel para o cativeiro em 722 a.C. A proclamação e
mensagem de Jonas, pode ter sido ajudada por duas pragas e um eclipse lunar que veio
antes ao povo, uma contribuição e preparação para o arrependimento de Nínive.

 Propósito do livro
O livro começa com Deus ordenando a Jonas, chamando-o a pregar para os
ninivitas (Jn 1.1-2); continua com Deus ordenando a Jonas, chamando-o, pela segunda
vez, a pregar para os ninivitas (Jn 3.1-2); e termina com Deus ordenando a Jonas,
questionando a dureza de coração do profeta (Jn 4.11).
Para Deus, o alcance dos ímpios é a tarefa primordial do seu povo. O povo de
Deus foi chamado com o único propósito de glorificar a Deus, levando outras pessoas a
conhecerem a Ele. Essa tarefa é tão importante, que o Senhor mesmo, como se pode ver
no livro de Jonas, está disposto a literalmente, a mover céus e terra, ventos e mares, peixes
e plantas, profetas e tudo o mais para que os perdidos tenham a oportunidade de ouvirem
a palavra de Salvação.
Se por um lado, o livro de Jonas nos mostra o amor de Deus pelos perdidos, por
outro lado, ele nos revela a dureza de coração do povo de Deus. Em todo o livro,
considerando-se todas as pessoas apresentadas, Jonas é o único que conhece a Deus. Além
de ser israelita, membro do povo de Deus, ele é profeta. Mas, apesar de ser profeta, e,
teoricamente tão espiritual, Jonas é relutante em obedecer a Deus, ou seja, o povo está tão
afastado de Deus quanto os seus profetas.
Em diversas ocasiões, o livro nos relata que Jonas ouvia a voz de Deus. O
problema de Jonas não era que ele não via os milagres de Deus. Nós lemos que Jonas
experimentou milagres extraordinários da parte de Deus. O problema era que ele estava
relutante em obedecer a Deus. Jonas não queria levar a Palavra de Deus aos não-
alcançados. Jonas não queria sair do meio do seu povo, do seu conforto. Jonas não queria
investir no alcance aos perdidos. Jonas estava com o coração endurecido e insensível aos
propósitos e missão de Deus.
A mensagem central do livro de Jonas não é a desobediência do profeta e nem a
história de um grande peixe. A mensagem central do livro de Jonas é o amor de Deus
pelos ímpios, a sua grande compaixão pelos perdidos, a sua imensa misericórdia em
favor daqueles que estão debaixo de condenação. Por causa da situação terrível em que

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se encontravam os ninivitas, Deus lhes enviou o profeta Jonas com a incumbência de
chamá-los ao arrependimento.

 Esboço do livro 2

1. Jonas foge da Vontade de Deus (1.1-17)


1.1. Deus comissiona Jonas (1.1-2)
1.2. Jonas foge de Deus (1.3)
1.3. Deus vai atrás de Jonas (1.4-16)
1.4. Deus preserva Jonas (1.17)

2. Jonas se sujeita a Vontade de Deus (2.1-10)


2.1. O desamparo de Jonas (2.1-3)
2.2. A oração de Jonas (2.4-7)
2.3. O arrependimento de Jonas (2.8-9)
2.4. O livramento de Jonas (2.10)

3. Jonas cumpre a vontade de Deus (3.1-10)


3.1. Deus renova a comissão (3.1-2)
3.2. Jonas obedece (3.3-4)
3.3. A cidade se arrepende (3.5-9)
3.4. O Senhor tem compaixão (3.10)

4. Jonas questiona a vontade de Deus (4.1-11)


4.1. O desprazer de Jonas (4.1-5)
4.2. Jonas é repreendido (4.6-11)

OS PERSONAGENS DA MISSÃO
Capítulo 01
 O que ensina sobre a pessoa de Deus
No início do capítulo podemos observar a ira de Deus. Quando Ele levanta Jonas
para profetizar ao povo, Deus demonstra repúdio para com o povo quando diz que
“maldade de Seu povo subiu até Sua presença”. Deus tem amor, misericórdia pelo Seu
povo, mas ao mesmo tempo e na mesma proporção, Ele tem ira para com as atitudes e

2
MACARTHUR, John. Bíblia de Estudo - Introdução de Jonas. São Paulo. Sociedade Bíblica do Brasil,
2010. (p. 1129)

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escolhas errada de todos nós, pois todos elas nos levarão cada vez mais para o pecado e
longe do propósito de dEle para nossa vida.
Outro ponto bastante importante dentro desse capítulo, é ligado com o propósito
dEle. Jonas era um profeta, um servo de Deus, tinha relacionamento com Ele, conhecia
seus mandamentos, mas mesmo assim não permitiu inicialmente que o propósito dEle se
alinhasse ao seu. É muito importante que os cristãos, tenham em mente que Deus não
pensa como o homem, não age como o homem e não opera como o homem.
É incrível ver como Deus opera, em quem Ele quiser, no tempo certo. Jonas
possivelmente se sentia incapaz, tinha medo e raiva dos ninivitas. Todos esses fatores
contribuíram para sua fuga da missão de Deus. Talvez a principal obra que Deus buscava
realizar naquele momento, não era na cidade de Nínive, mas sim, na vida de Jonas. Profeta
que não entendia o cuidado de Deus, que buscava refúgio na própria força, que a única
coisa em que confiava, era nele mesmo e não em Deus.
Às vezes, Deus não dá uma missão que as pessoas esperam. Por isso é importante
a completa satisfação nEle, para que haja entendimento, de que apesar das dificuldades
encontradas na realização do Seu trabalho, Ele vai estar ao lado de quem está sendo
enviado. E se não tiver esse cuidado, Ele vai levar essa pessoa ao sofrimento, ao
quebrantamento, fazer se sentir tão inútil, que a única coisa que é enxergada é a
necessidade de humilhação diante dEle, reconhecendo a dependência dEle, assim como
Jonas teve.
Conhecer a Deus é essencial, saber da grandiosidade do Seu poder sobre todos e
sobre tudo. Nesse capítulo, é visto o Senhor controlando a natureza quando manda uma
tempestade no mar, Ele controlando os próprios marinheiros para que Jonas fosse jogado
ao mar através de um jogo de sorte. Deus manda em tudo. Ele governa tudo. Jonas não
tinha essa noção, ou se tinha, realmente foi muito burro para fugir de Deus.
Até em meio um momento de tempestade, literalmente, Deus estende Sua graça
para quem Ele quer. Ele usa uma situação desesperadora para salvar vidas. Os marinheiros
jogam Jonas ao mar e contemplam o poder de Deus e se prostram diante dEle. Ele tinha
um plano na vida de cada pessoa ali, não somente na vida de Jonas.

 O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas


Jonas desobedeceu a Deus, essa é a verdade mais explicita desse capítulo. O caso
de Jonas, talvez seja muito comum ainda dentro do âmbito cristão. Ele conhecia os
mandamentos de Deus, tinha relacionamento com Deus, era um profeta de Deus, mas

7
mesmo assim não tinha total confiança em Deus. Se sentiu inseguro, com medo, incapaz,
com raiva, todos os sentimentos humanos negativos é imaginável, ele teve.
Após a ordem de Deus no verso 2, imediatamente Jonas resigna sua comissão
profética, de modo deliberado. É interessante analisarmos a definição da palavra
“resignar” no dicionário; quer dizer “demissão voluntária da graça recebida ou do cargo
exercido; renúncia. ” É muito forte dizer isso, mas Jonas rejeitou a graça de Deus para
com sua vida. Rejeitando a graça, Jonas também rejeita a missão de Deus, o cuidado de
Deus, a sabedoria de Deus, a capacidade de Deus e a provisão de Deus.
Jonas preferiu viver por si mesmo, ser o seu próprio provedor. Vemos isso no
verso 3, com um gesto de independência, ele escolhe seu destino, Társis, no outro extremo
do mar Mediterrâneo, bem longe de onde se encontrava. Passando a depender então de
seus recursos, ele pagou a sua passagem no navio e embarcou, fugindo da ordenança de
Deus.
A desesperada tentativa de Jonas para escapar de Deus, até o ponto de aceitar a
morte por afogamento e o fato de Deus ter recuperado Jonas, talvez seja o ápice do livro
e uma grande verdade, o profeta não pôde escapar de Deus. Não porque Ele precisava de
Jonas, mas porque Ele escolheu Jonas, Sua vontade soberana é suprema e definitiva. Ele
queria usar Jonas, mas Jonas desobedeceu.
A atitude de Jonas foi falha, desagradou a Deus. Que a falta de confiança que
Jonas teve inicialmente, possa servir de motivação a todos os cristãos, a buscar Deus, a
depender de Deus, a confiar em Deus, para que não fiquem com o pé atrás quando Ele
der uma missão, independente da dificuldade, que possam descansar nos Seus braços para
entender que a obra é dEle e não nosso.

 O que ensina sobre os gentios (marinheiros e ninivitas)


O comportamento de Jonas é contrastado com o comportamento dos marinheiros
ímpios. Eles estavam possuídos, de forte senso de obrigação religiosa e se admiravam da
temeridade de Jonas, que fugia da presença de Seu Deus. Mostraram-se escrupulosos
quando parecia inevitável que Jonas fosse lançado ao mar; e quando o mar finalmente se
acalmou, demonstraram temor apropriado para com Deus.
É muito interessante observar que as vezes, as pessoas que mais demonstram
temor a Deus e uma fé imensa, são os descrentes. Os marinheiros não conheciam
intimamente a Deus, não professavam uma fé a Ele, não tinham comunhão sadia um com
o outro, não liam as leis. Pelo contrário, tinham seus próprios ídolos. Mas se deparando

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com o grandioso poder do Senhor, vendo o que Ele podia fazer com o mar, se prostraram
diante dEle, reconheceram que seus deuses não valiam nada.
Deus governa tudo, sua vontade é soberana. Ele usa quem Ele bem quiser, no
devido tempo, para que a situação favoreça a Sua vontade. O Senhor usou a vida dos
marinheiros para confrontar Jonas. As perguntas que eles fizeram a Jonas, o jogo de sorte
que fizeram para descobrir quem era o culpado na embarcação, é muito irrelevante dizer
que todas essas iniciativas partiram deles mesmo. Deus, com Sua autoridade impôs todo
o seu querer naquela situação. Tudo para que Jonas entendesse que ele não podia se
esconder de Deus.
Desobedecer a Deus é possível, tentar fugir de Sua presença também, ir o mais
longe que a mente humana é capaz de imaginar. Mas isso de nada vai valer, se Ele for
atrás desses desobedientes. Ele vai vim, vai mostrar, vai confrontar, usando pessoas para
advertir, humilhar e concretizar cada vez mais, que quem manda em tudo, é Ele, e Ele
tem vários meios para fazer isso, até o uso de pessoas descrentes.

Capítulo 02

 O que ensina sobre a pessoa de Deus


O erro de muitas igrejas, pastores e cristãos hoje, é buscar mostrar um único
adjetivo a Deus, o amor. Deus tem sido muito romantizado nas nossas pregações. Sim,
Deus é amor, mas Ele não é somente amor, Ele é justiça, Ele é ira. No livro de Jonas
podemos observar isso. No início do livro, podemos ver Deus irado com a cidade de
Nínive, com a desobediência de Jonas, vemos que Deus usou uma tempestade para
confrontar Jonas. Tudo acontecendo debaixo de Sua soberania.
Jonas havia dado a costa para Deus, havia desistido de Deus e de Seus planos.
Mas Deus não, Ele foi atrás de Jonas. Não sabemos se Jonas, no momento que foi lançado
ao mar, imaginava que Deus ainda estava no direcionamento de tudo. Talvez, Jonas pen-
sava que se lançando ao mar, ele morreria e acabava com tudo de uma vez só. Mas Deus
fez surgir um grande peixe para salvá-lo. Deus montou uma operação resgate para trazer
de volta o profeta ao centro da sua missão.
O amor de Deus persegue implacavelmente Jonas e o encontra no fundo do mar e
o traz de volta ao ministério. O grande peixe que Deus deparou para engolir Jonas não foi
um castigo para ele, mas o instrumento do seu livramento. Estudiosos apontam, que o
peixe foi o meio pelo qual Jonas foi salvo da morte por afogamento. O peixe não foi usado

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para punição ou castigo, mas sim para preservação. Jonas ia ser usado por Deus de um
jeito ou de outro, Deus usou Sua própria criação para que Sua vontade fosse cumprida.
Deus gosta de nos ouvir, nossas tristezas, nossas alegrias, nossos pedidos e
agradecimentos. No ventre do peixe, no lugar mais improvável que Jonas poderia
imaginar, Deus conseguiu que Jonas se voltasse a Ele. Jonas clamou, e finalmente
entendeu que ele não poderia fugir de Deus. Deus ouviu o arrependimento e clamor de
Jonas, viu seu coração quebrantado e disposto a consertar seus erros.
Não devemos esperar que Deus nos leve a barriga de um peixe, mas se for
necessário, Ele vai nos levar até lá, para que entendamos que a vontade dEle é maior que
tudo. Vontade essa que está em toda a terra e na criação. No final do capítulo vemos que
apenas com um comando, Deus ordena que o peixe liberte Jonas. Que Deus Poderoso!

 O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas


Nesse capítulo, há uma atitude completamente diferente do profeta Jonas
comparado ao primeiro capítulo. Se por um lado ele tenta fugir da presença e ordenança
de Deus no capítulo 1, no capítulo 2 ele já está buscando Deus em oração querendo
obedece-Lo. Parece que Jonas precisou ter uma experiência desagradável dentro da
barriga de um peixe para que se voltasse para Deus.
Ao longo do capítulo 1, não lemos em nenhum momento Jonas direcionando a
palavra a Deus, apenas aos marinheiros da embarcação. É interessante observar que tudo
só começa a ocorrer bem para o profeta quando ele começa a clamar a Deus em oração.
Quantas vezes também, todos nós, assim como Jonas, precisamos que algo extraordinário
aconteça conosco para que possamos nos sentir forçados a orar?
Nesse capítulo temos um grande exemplo do quanto a oração sincera ao Pai é
importante. Jonas não estava preparado para ir a Nínive fazer a obra que lhe fora proposta
porque não sabia o que fazer ou porque ficou com medo, ele não estava preparado porque
ainda não havia falado com Deus, ele apenas ouviu e respondeu com a desobediência.
Ninguém é capaz de falar verdadeiramente de Deus, sem antes falar com Deus. Jonas se
deu conta disso na pior situação possível.
No verso 9, Jonas declara que o Senhor é sua salvação. Não a salvação apenas
daquela situação desagradável dentro do peixe, mas a salvação de sua própria alma. Ele
havia se distanciado de Deus, seu orgulho tomou conta de seu coração. Mas Deus, por
vontade própria, resolveu ir no íntimo de Jonas, quebranta-lo, para trazer de volta aos

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Seus braços. Temos um Deus salvador, que estende essa salvação todos os dias para nós,
para que possamos retornar ao Seu cuidado e proteção.
E finalmente depois de todo o ocorrido, Jonas que estava fugindo da presença de
Deus, que depois clamou a esse mesmo Deus por socorro, estava agora em terra firme, de
volta a centralidade do plano dEle. Jonas entende esse cuidado e soberania de Deus, por
isso atribui sua salvação a Ele em sua oração nesse capítulo. A angústia de Jonas não o
levou de volta apenas a sua missão, mas principalmente a presença de Deus.

Capítulo 03

 O que ensina sobre a pessoa de Deus


O livro de Jonas é algumas vezes chamado de o “evangelho da segunda chance”
no Antigo Testamento, pois nenhum outro profeta teve o privilégio de receber uma
segunda chance de Deus em determinada missão dada por Ele. Possivelmente o capítulo
3 foi que colaborou para tal referência. Logo no primeiro verso, lemos algo incomum de
se acontecer; “E veio a palavra do SENHOR segunda vez a Jonas, ...”. Não lemos em
nenhuma outra passagem da bíblia, Deus falando pela segunda vez uma tarefa dada a
alguém.
No verso 2, Deus diz para Jonas ir falar “a pregação que Ele (Deus) disse”, isso
intensifica que o pregador não fala de si mesmo, mas sim, o que Deus determina. Deus
não apenas sabia a hora certa de Jonas pregar a Nínive, mas também o que deveria ser
pregado. Uma pregação envolvida por uma compaixão imensa, foi uma mensagem de
confrontação, dura, mas necessária, o Senhor falou através de um profeta que não queria
ir lá, palavras de arrependimento, um poder sobrenatural.
A mensagem que foi pregada em Nínive, deixava claro apenas uma coisa; que
Deus derramaria Sua ira naquela cidade, caso não houvesse arrependimento. Uma palavra
de promessa de condenação, foi mais do que suficiente para Deus trabalhar por completo
nessa, que era uma das capitais mundiais no mundo da época. Houve um avivamento tão
grande naquele lugar, que em nenhuma outra passagem da bíblia teve.
Lemos nesse capítulo, uma situação que corre exatamente como Deus planejara.
Ele conduziu a mensagem através da pregação de Jonas, as pessoas estavam ouvindo,
temendo, compartilhando para outros, quando finalmente a mensagem chega ao rei de
Nínive. E de repente o rei incentiva a todo o seu povo ao arrependimento. Deus mais uma
vez mostra o quanto Ele é poderoso e soberano sobre tudo e todos. Jonas não estava

11
sozinho nessa, o Criador estava do seu lado, abrindo portas, o direcionando ao longo da
Sua missão de salvar aquele povo.
No final do capítulo, vemos a confirmação do plano de Deus realizado, o povo de
Nínive finalmente entendeu a necessidade de se prostrar diante do Senhor, e se
arrependeram das suas maldades. Deus vendo que tudo ocorrera de acordo com Sua
vontade, não derramou a destruição a aquela cidade, mas sim, a Graça. No último verso,
lemos que Deus se arrepende do mal que tinha dito que faria a eles, e resolveu não fazer
mais. Será que Deus não previa algo? Deus pode se arrepender de algo que fala? Se Ele
sabe de todas as coisas, do que ainda vai acontecer, por que fala algo que vai se
arrepender? O povo ninivita obrigou a Deus mudar de ideia?
No comentário bíblico Moody, diz o seguinte a respeito dessa passagem:

“Voltará Deus e se arrependerá. Estes dois verbos não significam que os ninivitas
pensassem que Deus fosse instável. Indicam que esses pagãos criam que o maior desejo
do Senhor era salvá-los e não destruí-los. A palavra arrependerá, quando usada para
com Deus, não indica tristeza pelo pecado. Antes aponta para uma decisão da parte de
Deus de mudar o Seu método de lidar com Suas criaturas. O total repúdio do pecado da
parte do homem é agradável a Deus e em resposta Ele derrama graciosamente o Seu
amor. “ 3

 O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas


Agora, Jonas recebe pela segunda vez a ordem de Deus para ir a Nínive pregar, e
sua atitude é de instantânea obediência. Castigado por suas experiências, ele agora
obedece, embora, aparentemente, não se sentisse mais caritativamente disposto para com
Nínive do que antes. Jonas sabia, desde o princípio, que lhe competia pregar a pregação
que Deus lhe tinha ordenado, sim, ele foi um profeta desobediente, mas conhecia a Deus.
Com um enorme censo de justiça, Jonas tinha em mente que era muito injusto
Deus estender compaixão para um povo tão ruim como os ninivitas. Mas muito maior do
que a justiça humana, é a graça do Pai. Quando estamos longe da presença de Deus e fora
da centralidade de Sua missão, nosso coração tende a querer que a compaixão e
misericórdia de Deus se limite apenas a nossa vida, e não temos sensibilidade nenhuma
para com o próximo. Mas mesmo com nossas ideias pecaminosas, nossa enorme vontade
carnal, a obra de Deus se sobressai sobre tudo isso.

3
PFEIFFER & HARRISON. Comentário Bíblico Moody – Vol. 1. São Paulo. Editora Batista Regular.
2017

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No comentário de Jonas, escrito por Hernandes Dias Lopes, ele escreve o seguinte
sobre essa luta:

“As motivações humanas não podem obstruir a obra divina. Jonas pregou em Nínive uma
mensagem de juízo sem derramar sequer uma lágrima. Ele não queria a salvação de seus
ouvintes, mas a condenação deles. Seu desejo estava em descompasso com o plano de
Deus. A Bíblia diz que Deus não tem prazer “[...] na morte do perverso, mas em que o
perverso se converta do seu caminho e viva” (Ez 33.11). O coração de Jonas, porém,
batia em descompasso com o coração de Deus. Mesmo assim prevaleceu a obra divina e
não as mesquinhas motivações de Jonas. “4

Quantas vezes é visto uma atitude como de Jonas? Que tem mais uma visão mais
de julgamento do que de compaixão? Um coração endurecido, com censo de
superioridade e de ódio por achar que alguém não merece a graça de Deus, não é de
exclusividade de Jonas. A verdade é que essa vontade de fazer as coisas como se acha
que deve ser, estar instalada em muitos corações hoje também.
O livro inteiro vemos Jonas lutando contra Deus. Vontade humano contra vontade
Divina. Assim como o coração de Jonas devia estar entregue a vontade de Deus, e não no
“achismo” dele, nossa submissão deve estar totalmente ao Senhor, mesmo que seja uma
missão complicada, devemos ter em mente que Deus está no direcionamento de tudo,
apesar das dificuldades em uma tarefa.
Jonas foi enviado por Deus a Nínive, mas o seu coração ainda estava em Tarsis.
Esse fato é importante para nos lembrar que apesar de alguém se declarar cristão, as vezes
vão fazer coisas que não concordam influenciados por seus pecados, porque nosso Deus
vai usar essas pessoas assim mesmo, não há que fazer contra Deus. Sua soberania vai
além do que podemos imaginar ou agir, exatamente porque nossas vidas não são nossas,
mas dEle. Jonas era desobediente, mas ainda pertencia a Deus.

 O que ensina sobre os gentios (marinheiros e ninivitas)


A Bíblia nos relata um despertamento enorme na cidade de Nínive no capítulo 3.
Jonas andava pela cidade pregando a palavra que o Senhor havia dito, e logo no verso 5
vemos o resultado que talvez ainda não era esperado por Jonas, mas por Deus sim, o
arrependimento em massa da cidade. Aquele povo que antes estava entregue ao pecado e
a todo tipo de promiscuidade, creu e se prostrou diante de Deus.

4
LOPES, Hernandes Dias. Jonas: Um homem que preferiu morrer a obedecer a Deus. São Paulo. Editora
Hagnos, 2008. (p. 90)

13
A atitude que tiveram de proclamarem jejum e se vestirem de saco em público
demonstrava que por conta do arrependimento, esse povo faria de tudo para que Deus
habitasse em suas vidas. Não foram levados apenas pelo medo de serem destruídos por
Deus, até porque a mensagem de Jonas falava dessa destruição como algo inevitável, eles
não sabiam que Deus iriam poupa-los ainda. Deus apenas permitiu que Seu espirito
fizesse que os ninivitas olhassem para dentro de si, e enxergassem suas maldades e
consequentemente a dependência que tinham de Deus.
Uma lição de arrependimento incrível. Apesar de estarem vivendo cegamente no
pecado, os ninivitas ouviram a mensagem de Deus e instantaneamente creram. Quantas
vezes, as pessoas ouvem a mensagem do Senhor e endurecem seus corações para crer?
Constantemente ouvem e leem, mas mesmo assim trancam a porta da alma. E não
limitamos esse erro apenas nessa área de conversão, existem muitos ensinamentos que as
vezes ouvimos de Deus, e pelo fato de que ter medo de abrir mão do nosso ego, não
ouvimos.
Arrependimento não é apenas reconhecer o quão dependente de Deus somos, mas
é se comprometer todos os dias em continuar essa mudança de vida, atitude, sentimento
e está admitindo constantemente que não merecemos o perdão pelos nossos pecados, mas
mesmo assim, Ele nos perdoa. O pecado não é para ser justificado, explicado ou
comentado, e sim para ser confessado a Deus.
A confissão dos pecados deve ser uma das prioridades na vida de um cristão, para
que estejam sempre dispostos a fazer o que é reto perante Deus. Qual tem sido as respostas
que Deus ouve quando chama alguém? Temos como exemplo a atitude dos ninivitas, que
ouviram, creram e se arrependeram, mesmo estando afundados em pecado.

Capítulo 04

 O que ensina sobre a pessoa de Deus


Nesse capítulo é intensificado cada vez mais a misericórdia e paciência de Deus
na vida de Jonas. O Senhor é questionado por Jonas do porquê de Sua compaixão por
uma cidade tão perversa como Nínive. A decepção de Jonas com a decisão de Deus de
preservar a cidade, nos mostra que o quanto o amor de Deus é perfeito e do ser humano
é falho. Nós não temos a capacidade de amar alguém incondicionalmente como Deus.
Deus, como Jonas mesmo afirmou no verso 2 desse capítulo, é misericordioso, a
alegria de Deus por estender essa misericórdia na vida daqueles pecadores, era para de
alguma forma ter contagiado Jonas, se não fosse pelo fato de Jonas ser egoísta e não

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amoroso. A alegria que Deus tem em salvar um ímpio da perdição, é a mesma alegria
quando nos salva. Por que é tão difícil estar satisfeito hoje também?
Depois de todo lamento e ira de Jonas por achar injusto a graça de Deus naquela
cidade, o Senhor pergunta se era um direito do profeta ficar irado. Não apenas para
advertir Jonas, mas para deixar bem claro para ele e para todos nós, que Deus não é como
o homem. E graças a Ele por isso. Se Deus fosse como nós, estaríamos perdidos ainda,
sem conhecer e viver o amor do Pai.
Vemos nessa história a obra redentora de Deus de uma forma bem clara. A eleição
incondicional que alcançou aquele povo. Eles não mereciam ser salvos, não faziam nada
de bom no mundo, não havia amor no meio deles, mas isso não foi determinante para a
salvação deles, e sim a graça de Deus. Deus os escolheu, assim como escolheu Jonas. A
soberania de Deus incomodou Jonas, que não estava vivendo pela graça dEle.
A lição maior desse capítulo é que Deus insiste e quer nos fazer viver pelo Seu
amor. Ele quer que tenhamos compaixão pelos perdidos, assim como Ele tem. Não
podemos ter êxito na obra de Deus sem antes viver no Seu amor. Apesar de Nínive ter
sido salva, Jonas não foi edificado por isso. O livro termina em aberto, com uma pergunta
de Deus para Jonas. Essa pergunta é feita para todos. Será que além de não ter compaixão,
ainda queremos impedir Deus de ter?

 O que ensina sobre a pessoa do profeta Jonas


Finalmente Jonas desabafa oralmente para Deus sua indignação, porque no seu
coração Deus já havia visto isso. A pergunta do porquê da fuga de Jonas no capítulo 1 é
respondida pelo próprio. Jonas foge não apenas com medo da crueldade em Nínive, mas
também por estar enfermo espiritualmente. Jonas não conseguia amar Jonas como amava
a nação de Israel.
Jonas não sentia compaixão por Nínive, não conseguia amar cada pessoa naquela
cidade, e sua enfermidade espiritual só aumentava junto com seu senso de justiça, por
achar que eles deviam todos morrer. Ele se auto impossibilitava em cumprir e obedecer
ao mandamento de Deus. Quando estamos vivendo em desobediência a Deus, é um sinal
claro de fraqueza espiritual, um sinal de ego inflamado. Lécio Dornas, em seu livro
expositivo de Jonas, nos ensina quanto a isso:

“O homem e a mulher saudáveis diante do Senhor, que tem Deus em suas vidas, não
questionam a vontade soberana do Senhor, porque a vontade de Deus não é para ser

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questionada, rejeitada pelo homem; a vontade de Deus é para servir de parâmetro, de
base, de bússola, de norteio para todos nós.”5

Jonas é um exemplo, de uma pessoa que conhece a Deus, trabalha para Deus,
ministra em nome de Deus, prega sobre Deus, mas mesmo assim, estava iludido
espiritualmente. Não sabemos o que acontece com Jonas depois do capítulo 4, mas até
aquele momento, ele estava cego espiritualmente, falava de Deus, mas não vivia para Ele.
Nossa oração deve estar para que Ele cada vez mais permita que nos aproximemos dEle
para aí sim, ter um relacionamento fiel e autentico com nosso Pai.

O PROFETA, ISRAEL E DEUS

 A relação do tema com o propósito bíblico da missão


A desobediência de Jonas e sua falta de fidelidade com a Missão de Deus não se
mantem como um caso único de crente sem visão missionária. Existem muitas pessoas
dentro das igrejas que se dizem cristãs, mas não conseguem ter uma atitude de compaixão
pelas pessoas perdidas como Deus exige. Missões não é apenas falar verbalmente do
evangelho de Cristo, mas viver esse evangelho tão intensamente que as pessoas se sentem
tocadas pelo seu modo de viver.
O trabalho missionário exercido por Jonas, talvez possa ter sido o mais bem-
sucedido em proporção de resultados na história. Mais de 120 mil homens foram salvos
Deus naquela situação. Jonas teve sucesso no trabalho, mas fracasso em sua própria vida.
Obedeceu a Deus no seu segundo chamado, pregou, disse a mensagem de
arrependimento, mas esperando que esse arrependimento não ocorresse.
Mas a pregação de Jonas foi em si importante para compreender a missiologia do
livro. Hernandes Dias Lopes nos fala porque;

“No livro de Jonas está a chave do coração das missões. E o maior livro missionário do
Antigo Testamento, se não de toda a Bíblia. Foi escrito para revelar o coração de um
profeta não tocado pela paixão divina pelas missões. George Robinson enfatiza que o
livro de Jonas prefigura a pregação do evangelho sobre toda a terra.”6

Cristo não chama os cristãos para fazerem um trabalho mal feito. A Missão
redentora de Deus foi perfeita na cruz. Não podemos negligenciar ou não dá o valor
devido, fazendo a obra de qualquer jeito como Jonas. O propósito da missão bíblica,

5
DORNAS, Lécio. Jonas pare! Não fuja de Deus. São Paulo. Editora Hagnos, 2001. (p. 65)
6
LOPES, Hernandes Dias. Jonas: Um homem que preferiu morrer a obedecer a Deus. São Paulo. Editora
Hagnos, 2008. (p. 122)

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requer que antes de pregarmos o evangelho salvífico, possamos vive-lo, para que não nos
frustremos como Jonas fez, e sim, nos alegremos na alegria de Deus em salvar mais
pessoas.

O livro termina com uma pergunta de Deus a Jonas: “E não hei Eu de ter
compaixão da grande cidade de Nínive? ”. Mas essa pergunta traz uma indagação muito
maior do que parece. Deus está confrontando e encorajando Jonas e a todos também, a
ser submissos a Sua vontade, buscar ser mais parecidos com Ele e viver pelo Seu amor.
Deus não precisa do homem na Missão dEle, mas se Ele está lhe chamando, é muito
melhor obedecer.
Deus convoca os cristãos para Sua missão, Ele não quer que fujam, assim também
como não quer que façam de qualquer jeito. Preparar e se satisfazer em Deus é essencial.

 Jonas como reflexo de Israel


Ao longo de toda a Bíblia, vemos Israel oscilante quanto a confiança e obediência
a Deus. Em muitas passagens vemos uma adoração um tanto condicional do povo a Deus.
Só adoravam a Deus caso Ele fizesse algo por eles. Podemos afirmar em que muitas
situações, Israel estava mais preocupado com o seu bem-estar e benefícios do que
priorizar Deus em seu meio.
Fazendo a ligação com Israel e o profeta Jonas, vemos atitudes um tanto parecidas.
Ambos orgulhosos, ambos entregues aos seus desejos e ambos queriam que as coisas
ocorressem da forma que eles mesmo achavam que era melhor. Uma nação inteira
refletida em apenas um profeta. Lemos essas histórias e percebemos o quão
misericordioso e paciente Deus é. Todos ignoram a vontade de Deus, fazem as coisas as
suas maneiras e mesmo assim o Senhor ainda cuida deles.
Na segunda ordenança que Deus dá a Jonas a ir a Nínive pregar, ele obedece.
Algumas vezes também, povo de Israel quando recebia uma ordem de Deus por meio dos
profetas obedeciam. Mas uma obediência sem amor. Israel rejeitou a Deus em 1Sm 31
quando pede um rei humano a eles. Jonas rejeita a Deus quando prega a mensagem de
Deus sem amor aos ninivitas.

É observado o quanto essas atitudes movidas pela vontade humana desagrada a


Deus. Israel conhece Deus, viu as maravilhas e milagres que Ele fez para com eles, a
libertação da escravidão no Egito, a fuga, o maná no deserto, tudo para que o povo
confiasse nEle firmemente, mas não aconteceu dessa forma. Jonas foi preservado por

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Deus na barriga de um peixe, viu uma cidade inteira receber a salvação do Senhor, mas
mesmo assim se manteve resistente ao amor por aquelas pessoas.
Ambos crentes, conhecendo a Deus, mas falhando na obediência genuína e fiel a
Ele.

LIÇÕES MISSIOLÓGICAS PARA VIDA E MINISTÉRIO

 Lições sobre a atitude do profeta


Não é segredo o fato de Jonas ter desobedecido a Deus. Ele ter lutado com seu
senso de justiça, desejando que Deus destruísse a cidade de Nínive. E também sua total
falta de amabilidade para com os ouvintes da mensagem de Deus. Buscamos de todas as
formas julgar Jonas por seus atos que desagradaram a Deus. Mas infelizmente, a atitude
egoísta de Jonas, tem se repetido hoje, nos nossos corações. Não acha?
É interessante observar que todos os outros personagens obedecem a Deus. Os
marinheiros, o peixe, os ninivitas, a planta e até o verme obedecem a Deus e o temem. O
único crente da história, não consegue se prostrar diante da grandiosidade de Deus, e nem
busca viver pelo Seu amor. Deus usa os incrédulos para nos forçar a enxergar nossos
pecados. E mesmo assim, ainda nos mantemos resistente quanto a confrontação de Deus.
A verdade é que não podemos está exercendo um ministério onde quer que for,
sem aprimorar a capacidade de ter compaixão e amar as pessoas. Um ministério onde
pregamos sobre o amor de Deus, mas não vivemos e nem praticamos esse amor, é um
ministério fracassado. Não damos a atenção devida ao nosso testemunho. A
evangelização consiste em que sua vida seja de influência para a vida de incrédulos.
A maior lição dada pelo profeta Jonas, é como não agir na obra do Senhor. Jonas
teve que passar por muitas coisas até entender que precisava ir para Nínive cumprir com
a ordem de Deus. E fez o trabalho esperando ter um resultado que agradece seu coração
e não de Deus. Há obediência a Deus de imediato? Se sim, é feito com o coração alegre
e com benevolência?
Esse deve ser o desejo de todos os corações, em estar satisfeito por agradar a Deus
e se sensibilizar com Sua compaixão para com os perdidos. Deus teve misericórdia e
estendeu Sua graça para o homem, Ele não pode ter amor por outros pecadores também?

 Lições sobre a pregação e conversão


Como já foi citado, a pregação de Jonas em Nínive pode ter sido uma das mais
bem-sucedidas na história. Mais de 120 mil pessoas levadas a Deus, por Ele próprio

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através de Jonas. E havia apenas uma mensagem na pregação: “Daqui a quarenta dias,
Nínive será destruída! ” (Jn 3.5).
Perceba que não há nenhuma menção ao amor de Deus, nem um incentivo ao
arrependimento. Há apenas uma promessa de destruição. Os ninivitas poderiam ter
qualquer atitude esperada aos olhos humanos, se desesperarem e ficarem aflitos, zombar
da cara de Jonas e até mesmo ignorar o que foi dito. Mas não, houve um avivamento, um
arrependimento em massa, que talvez nem Jonas que pregou, esperava.
Quantas pessoas por aí, nas ruas, nas baladas da vida e até nas igrejas, já escutaram
várias e várias vezes a mensagem de salvação, que fala não somente de arrependimento,
mas de amor, mas mesmo assim ignoram? Tem sido algo frequente na atualidade.
Conversões falsas, dureza nos corações, arrogância para com a Palavra, tudo isso, mesmo
conhecendo o plano de salvação como um todo.
Isso não quer dizer que os ninivitas eram mais privilegiados, mas sim, mostra que
não é o pregador que importa, mas sim a vontade de Deus. Hoje é moda ser pastor, é fácil
subir em um púlpito e ler a bíblia. Mas quantos desses pastores realmente tem buscado
mostrar Deus genuinamente, tendo uma exposição cristocêntrica? O poder vem do alto,
de Deus, não de seres humanos pecadores.
Portanto, a lição tirada desse assunto, é que nada vindo do homem importa, mas
sim a vontade de Deus, mesmo Jonas desobedecendo a Deus, ele entendia a vontade dEle,
só não aceitava. É importante saber se aquilo que estamos falando é realmente vindo de
Deus e de Sua vontade soberana.

 Lições sobre o caráter de Deus


Deus se mostra de maneira graciosa para com os ninivitas e de muita paciência
com Jonas. Mas também vemos o caráter de Deus irado. No início do livro, Ele se ira com
a maldade da cidade Nínive, e no final, mesmo mantendo seu cuidado com Jonas, Deus
demonstra indignação pelo fato de Jonas não conseguir aquilo que ele queria, a destruição
de Nínive.
Então, podemos ver um Deus que estende Sua graça aos perdidos, mas que de
alguma forma, quer compartilhar a alegria de salvar perdidos com os salvos. Jonas sentia
raiva do povo de Nínive, pelo mal que eles já haviam feito com Israel, o profeta queria
justiça, queria a destruição da cidade mesmo. Mas Deus teve compaixão e amou aquele
povo de uma tal forma, que o mal que habitava lá, foi jogado fora por Deus. O Senhor
quebrantou o povo para que se arrependesse e voltasse aos braços dEle.

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Deus queria que Jonas se alegrasse pelo que havia feito, mas ele não se alegrou.
A verdade é que precisamos nos alinhar ao propósito de Deus e não querer que Ele se
alinhe ao nosso. Sua vontade e plano são perfeitos. Os meios usados por Deus de fazer a
Sua vontade, são considerados impossíveis aos olhos humanos. Mas ao longo do livro,
lemos como Deus usa recursos da natureza para impor Sua vontade.
O ser humano não entende que até a ira de Deus sobre nós, é benéfica. Sabemos
que Deus nos ama, mas odeia o pecado, toda o tipo de maldade que cometemos. É
importante entender que quando Deus nos priva de algo que queremos, é algo bom para
nossa alma. O homem almeja apenas receber as coisas benéficas para a vontade da carne,
para satisfazer um querer próprio. Deus criou o homem para que o adore, Ele vai fazer de
tudo para o cumprimento desse querer.
Deus não precisa do homem, Ele não precisava de Jonas, mas mesmo assim Ele
foi atrás, para que Sua vontade perfeita fosse concretizada. O caráter de Deus é perfeito,
por isso o homem não consegue explicar isso e as vezes não se satisfaz nEle. Deus
trabalha como Ele quer, com quem Ele quer, tudo, para que Ele seja conhecido e posto
no centro de tudo no universo, pois Ele merece tudo isso, afinal, foi Ele que criou.

 Lições sobre os ímpios


Os ímpios são pessoas que não conhecem a Deus genuinamente e nem foram
alcançados por Sua graça, portanto, não exercem nenhum tipo de fé. Mesmo assim, isso
não impede que Deus os use para algum fim de Seu querer. Jonas tentou fugiu de Deus,
e Deus usou marinheiros que tinham seus outros deuses, para que Jonas voltasse para a
missão dada por Deus.
Havia uma cidade enorme, em extensão e população, onde a idolatria e
promiscuidade habitava, e mesmo assim Deus alcançou aquele povo, para que Jonas
entendesse que quem manda tudo é Ele. O que tem sido uma triste realidade para os
cristãos hoje, de serem confrontados por Deus por pessoas que ainda nem conhecem esse
Deus e não são salvas.
Todos os personagens obedecem a Deus no livro de Jonas, menos o próprio Jonas,
que era o único crente tendo relação com Deus. O cristão deveria ter mente, que todas
essas pessoas que chamamos de ímpios, podem se levantar no dia do juízo e nos acusar
da nossa incredulidade e total falta de confiança em Deus. Os marinheiros e os ninivitas
ainda não confiavam em Deus, até que Deus mostrou o Seu poder e eles temeram o
Senhor.

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Há uma lição sim quando lemos sobre os ímpios em Jonas. Temos um grande
exemplo de fé e confiança em Deus. Jonas estava tão desesperado para que Nínive fosse
destruída, que não lembrou de confiar em Deus e buscar entender Seu amor e querer,
mesmo presenciando os milagres de Deus, experimentado o Seu cuidado e amor. Os
ímpios por outro lado, ver apenas um milagre e ouvir uma mensagem vinda de Deus, se
renderam totalmente ao Seu trono.

 Conclusão
Ao longo do livro e da análise, vemos a luta de um homem que teme a Deus, sabe
que Deus é real e ódio que ele sentia pelos assírios contra a vontade soberana desse Deus.
Jonas tinha medo e raiva dos ninivitas. Eles eram um povo mal, já haviam matado muitos
israelitas, tudo isso fez com que Jonas buscasse agir com justiça e não com misericórdia,
muito menos compaixão.
Jonas conhecia muito bem a Deus, sabia do Seu poder, experimentava de Seu
amor e bondade. Conhecendo Ele, Jonas sabia que a bondade de Deus faria com que Ele
poupasse Nínive da destruição, o que realmente aconteceu. Essa luta tem se repetido
muito hoje. Cristãos que lutam com essa falta de perdão, mesmo tendo sido perdoadas. A
falta de compaixão é real, e deve ser levada a se pensar nas igrejas hoje.
É considerado como principal ensinamento didático, dois temas. O primeiro trata
da soberania de Deus sobre todas coisas. Toda Sua criação, a natureza, as pessoas, até os
gentios, estão debaixo da soberania de Deus, tudo acontece com Ele no direcionamento
dEle. Tudo obedece a Deus, menos o crente, Jonas. Em si só isso já é uma lição de
confrontação para muitas pessoas hoje.
O segundo tema está relacionado com a compaixão de Deus, o amor que Ele sente
não somente a Israel, seu povo, mas aos marinheiros, que clamaram a Ele e logo após o
ocorrido, o serviram. Teve compaixão para com os assírios, os poupando da morte e
trazendo eles para a vida com Ele. O livro mostra a compaixão de Deus o tempo todo
onde Ele quer.

Mas muito possivelmente, o tema maior do livro, é seu caráter messiânico. A


libertação do ventre do peixe é uma analogia da ressurreição de Cristo e o arrependimento
dos ninivitas é uma prévia da conversão dos gentios. Servindo também como repreensão
ao povo de Deus, pois os ninivitas pagãos se arrependeram, mas o povo de Deus
permaneceu endurecidos até a chegada de Cristo na terra.

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O livro encerra com um desafio. A compaixão que Deus tem, é transmitida em
meio ao seu povo hoje? A misericórdia tem se mostrado presente através das vidas de
quem realmente conhece a Deus, as outras pessoas perdidas, mesmo elas afundadas em
pecados?
A nossa oração deve ser, para que o tempo todo, tudo aquilo que é taxado como
certo e justo aos olhos humanos seja aniquilado, e que a justiça divina possa habitar em
todos nós. Deus tem compaixão pelos perdidos, mesmo eles não merecendo, Deus se
sente alegre quando traz eles para seus braços.
A questão deixada para todos é, a atitude que se deve adotar é de Jonas, alguém
que tem fé em Deus, mas não vive pelo Seu amor e compaixão? Ou a atitude de Deus, de
agir com benevolência e amor, com pobres pecadores que estão perdidos, assim como
muitos que já estiveram e hoje usufruem desse amor?

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Obras citadas

BALANCIN, E., & STORNILO. Como ler o livro de Jonas. São Paulo: Edições Paulinas. 1990
DORNAS, L. Jonas pare! Não fuja de Deus. São Paulo: Hagnos. 2001
LOPES, H. D. Jonas - Um homem que preferiu a obedecer a Deus. São Paulo: Hagnos. 2008
MACARTHUR, J. Bíblia de Estudo John MacArthur. São Paulo. 2010
PFEIFFER, C. Comentário Bíblico Moody. São Paulo: Batista Regular. 2017

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