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Uma vez que a pesquisa busca fazer uma análise do lazer e consumo dos
adolescentes e jovens do Santa Marta, surgiu a possibilidade abordar essas práticas
não apenas como uma forma de assimilição com as classes médias e altas - como
alguns estudos sobre consumo das classes populares fazem. Foi possível notar
durante as entrevistas algumas dessas práticas como forma de oposição. pruma
nova questão deparou com uma nova questão: diferente do senso comum que vê o
consumo das classes populares apenas como uma forma de assimilação às classes
médias e altas, Ao ouvir alguns entrevistados sobre suas escolhas de lazer e
consumo, o fator financeiro não é o único impedimento de acesso às opções
disponíveis fora do Morro. Conforme a fala de Larissa (16 anos), uma das
adolescentes do Grupo ECO, ao responder à pergunta sobre as opções de lazer
existentes em Botafogo:
"É legal esses eventos que tem aí fora, mas é
mais pra quem tem mais dinheiro, entendeu?
Porque se você for, tipo, eu, negra, chegar nesse
local, eu não vou ser tratada do mesmo jeito que
minha amiga, que é loira. Eu não vou ser tratada
do mesmo modo. Tipo eu com minhas tranças, se
alguém quiser falar comigo não vai falar se fosse
com ela. Não sei como explicar, é diferente. O
evento que tem lá fora é mais pra quem tem muito
dinheiro, pra quem tem o aspecto de ter dinheiro,
entendeu? É muito preconceito."
Nesse sentido, percebe-se que a segregação entre "morro" e "asfalto" não foi
superada e a integração da favela com os demais espaços da cidade ocorre de
forma muito limitada. A relação entre estes, embora redefinidas, continua
conflituosa. Embora a circulação de turistas e moradores de outras partes da cidade
tenha aumentado no morro, a circulação de moradores de favela em espaços de
lazer e consumo do “asfalto” ainda é marcada por conflitos derivados do estigma
que recai sobre o favelado. COLOCAR A PARTE QUE EU COLOQUEI DO
SHOPPING EM UM DOCUMENTO AVULSO.
Ao interpretar os modos de vida das classes populares pela perspectiva
simbólica e cultural, é possível notar que o lazer e consumo dos adolescentes e
jovens do Santa Marta são dotados de agência, ainda que o senso comum os vejam
como subalternos em relação às classes mais abastadas. Tais práticas das classes
populares é resultado de escolhas - em alguns momentos planejadas ou em alguns
momentos impulsivas - sobre o que comprar, qual a melhor marca, onde comprar e
como pagar (à vista, no crediário, ou parcelado no cartão de crédito etc.). Em última
instância, suas escolhas acabam por contribuir para a elaboração de identidades
que diminuem ou reforçam a diferença entre os moradores do Santa Marta e os
moradores do entorno, e também entre os moradores do próprio morro. Como diz
Scalco e Pinheiro-Machado (2010) [3]:
“A cultura material é responsável, desse modo,
por transmutar exclusão em inclusão. Os bens e
as marcas globais consumidas passam a ter
sentido no universo local, atuando um sinal
distintivo. Sob essa perspectiva, o consumo deve
ser tratado como uma forma de agência,
empoderamento e cidadania.” (p. 325)