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A Via Campesina na Economia Política Global: por um pensamento crítico na

produção agrícola1

Davi Matias Marra Demuner2

RESUMO: Após o declínio da hegemonia estadunidense (Pax Americana), o advento do


neoliberalismo se explica como uma reação de cima-para-baixo dos Estados
hegemônicos, principalmente os EUA, para a conservação do status-quo e manutenção
da acumulação de capital. A internacionalização da produção é colocada pelos centros
econômicos como processo intrínseco ao momento de globalização das economias, mas
se mostra como a base material de sustentação do bloco histórico do capital transnacional.
Contudo as forças sociais proporcionadas pelas políticas neoliberais são questionadas
pelas vozes do campo. O debate em torno do modelo da produção agrícola suscitou a
formação da articulação transnacional dos camponeses denominada Via Campesina, mas
qual o caráter propositivo desta articulação para se considerar como contra-hegemonia?
É possível a condução do nacional-popular com o ambiente internacional? Este artigo
analisa a estratégia política promovida pela Via Campesina a fim de estimular o debate
crítico entre os atores da Sociedade Civil Global contra o consenso neoliberal.

Palavras-chave: Ordem Mundial; Economia Política Global; Via Campesina; Sociedade


Civil Global; Contra-hegemonia.

La Vía Campesina in the Global Political Economy: for a critical thinking in


agriculture production
ABSTRACT: After the decline of US hegemony (Pax Americana), the advent of
neoliberalism explains as a top-down reaction of hegemonic states, especially the US, to
the satus-quo conservation and the maintenance of capital accumulation. The
internationalization of production is put by the economic centers as an intrinsic process
at the time of economic globalization, but appears as the material base for the
transnational capital historical block sustentation. However, the social forces provided
by neoliberal policies are questioned by agrarian voices. The debate around the rural
production model raised the transnacional peasant articulation called Via Campesina, but
what the propositional character os this articulation to be considered as counter-
hegemony? It is possible to do with a national-popular driving and the international
environment? This article analyzes the political strategy promoted by Via Campesina to
stimulate the critical debate on Global Civil Society actors against the neoliberal
consensus.

Key-words: World Order; Global Political Economy; La Vía Campesina; Global Civil
Society; Counter-hegemony.

1
Artigo apresentado no SimpoRI 2015 do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais
Santiago Dantas (UNESP, UNICAMP e PUC-SP), com o auxílio da FAPEMIG.
2
Aluno do curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da Universidade
Federal de Uberlândia (PPGRI-UFU).

1
1. Introdução

O campo da Economia Política Internacional (EPI) apresenta maneiras distintas


de se entender o objeto e a área de estudo. A agenda de pesquisa inicialmente foi
estimulada pelos trabalhos de autores como Keohane (1977), Nye (1977) e Gilpin (1983),
os quais abriram o espaço para o entendimento das relações econômicas entre os Estados
dentro da disciplina de Relações Internacionais (COHEN, 2007). A influência das obras
destes autores influenciaram a produção de diversos novos trabalhos, o que
posteriormente se consolidou nos Estados Unidos da América (EUA) enquanto a escola
estadunidense de EPI. Os modelos quantitativos e o rigor do positivismo serviu para a
consolidação do pensamento racionalista dentro do campo, devido ao caráter científico
próximo ao das Ciências Econômicas, o que pode ser observado pela expansão e domínio
do behaviouralismo sobre as Ciências Sociais, incluindo as Relações Internacionais (RI)
(COHEN, 3007; SMITH, 1996).

O tipo ideal da Interdependência Complexa de Keohane e Nye (1977) buscava


tornar mais evidente o momento de intensificação dos fluxos econômicos e de
comunicação no decorrer da década de 70. Considerando um modelo no qual existe
elevado grau de interdependência entre os atores envolvidos, o autor defende que o
interesse nacional do Estado não pode ser formulado sob a ótica do realismo, em que a
busca pela maximização do poder dentro das relações internacionais guia a política
internacional, mas por meio de redes e instituições capazes de absorver as demandas de
cada um. Já Gilpin (1987) em sua obra A Política Econômica das Relações Internacionais
apresenta três ideologias para a explicação dos fenômenos da EPI. A visão marxista,
liberal e realista3 são recorridas para expor os limites e avanços de cada corrente,
possibilitando o autor de traçar o seu argumento: a hegemonia de um Estado nas relações
econômicas internacionais possibilita a estabilidade econômica por meio das regras e
instituições criadas para regularem os fluxos econômicos do status-quo.

Apesar dos avanços para as RI proporcionados por estes autores, os seus estudos
não ampliam o espaço ontológico, restringindo o campo da EPI às relações interestatais
(KEOHANE, 2009) e tratando a globalização enquanto um fenômeno dado do momento
contemporâneo (GILL, 1993). Os questionamentos sobre o modelo da escola
estadunidense ganham espaço com as contribuições de Susan Strange (1997) e Robert

3
A denominação exata utilizada por Gilpin (1983) para se referir aos teóricos realistas é a neomercantilista.

2
Cox (1983), que estimularam o transbordamento da análise dos fenômenos econômicos
no cenário internacional para além do escopo teórico e empírico proposto pelos autores
anteriores, o que serviu para construir uma nova linha de pensamento na EPI, a escola
inglesa (COHEN, 2007). Este artigo se insere dentro desta corrente, e tem como objetivo
expandir o entendimento sobre os atores marginalizados pelos interesses da classe
hegemônica em âmbito global, além das possibilidades e alternativas existentes ao
modelo de desenvolvimento neoliberal.

Cox (1987) apresenta novas ferramentas analíticas, através do materialismo


histórico dialético de Marx, para a compreensão das RI, e por conseguinte a EPI, quando
recorre aos trabalhos de Gramsci no intuito de entender as relações internacionais. Assim,
o conceito gramsciano de hegemonia é reinterpretado para a leitura da internacionalização
da produção, bem como a manutenção da agenda da Instituições Internacionais favorável
ao interesses dos Estados centrais da economia internacional. Além disso, o subalterno
ganha espaço dentro do trabalho de Cox (1996), uma vez que as mudanças mais desejadas
só irão acontecer de baixo-para-cima. Tendo em vista o plano de pesquisa decorrente do
pensamento neogramsciano, dentro do que Gill (1993) classifica como Economia Política
Global (EPG), o estudo sobre a Via Campesina é importante pois assim é possível
aprofundar no entendimento dos efeitos desiguais causados pela globalização e a
emergência de projetos contra-hegemônicos no interior da Sociedade Civil Global. Quais
as propostas e como ocorre a articulação do movimento transnacional campesino?
Buscando responder esta pergunta se espera contribuir para o esforço intelectual de
compreender o projeto hegemônico neoliberal e os seus impactos, principalmente nas
regiões mais distantes dos grandes centros econômicos internacionais, as quais
apresentam os piores resultados da liberalização do mercado defendida pelas principais
Organizações Econômicas Internacionais (OEIs).

A partir da abertura ontológica praticada por Strange (1997) e Cox (1983) a EPI
possui caminhos distintos. Contudo, uma questão permanece ligando as diferenças
teóricas: como explicar a relação entre os atores e os efeitos causados por estes na
economia internacional em um contexto de globalização? (KEOHANE, 2009). O
pensamento neogramsciano ao relativizar a importância do ator estatal, vai além e
adiciona a participação dos excluídos no processo de construção das resistências regionais
e mundiais como reação popular de questionamento da globalização (GILL, 1990).
Portanto, os atores sociais também possui espaço dentro da EPI, o que antes era restrito

3
ao Estado e os agentes econômicos. Neste sentido a Via Campesina desempenha um
importante papel na sociedade civil global a fim de repensar o modelo de globalização
existente, e promover um economia pautada na soberania alimentar, isto é, na organização
social a partir da decisão popular.

Robinson (1998) e Ianni (1994) relatam a necessidade dos estudos sobre a


sociedade global transbordarem as fronteiras do Estado para compreender os fenômenos
proporcionados pela globalização – aqui entendida como o resultado da
internacionalização da produção. A relevância dos aspectos nacionais permanece, mas as
forças originadas pelo movimento de transnacionalização do capital apresentam efeitos
globais, ou seja, estes não se limitam ao local/regional. As características globais
precisam ser estudadas para aprofundar o conhecimento das Relações Internacionais
principalmente a respeito das diferenças neste momento de relativização das fronteiras do
Estado-nação.

2. A Ordem Mundial: um reflexo da internacionalização da produção

Como dito anteriormente, o pensamento de Cox a respeito das relações


internacionais é um desdobramento dos estudos elaborados a respeito da sociedade
italiana e a ascensão do fascismo por Antonio Gramsci4. O conceito gramsciano de
hegemonia no campo nacional-popular é levado para o internacional, a fim de entender
mais explicitamente quais são as forças sociais que constroem as estruturas da ordem
mundial. Aqui se faz necessário um entendimento maior sobre o pensamento de Antonio
Gramsci para poder avançar nas abordagens de Cox e Gill na EPG.

Gramsci (1995) apresenta uma nova leitura da organização do Estado dentro da


visão marxista. O autor considera o Estado como o conjunto de duas esferas: a sociedade
política e a sociedade civil. A primeira se trata do corpo burocrático-racional legal do
Estado, o qual possui o controle dos meios coercitivos, enquanto a segunda corresponde
aos diversos grupos políticos, empresas, movimentos sociais e instituições que compõem
a sociedade. A hegemonia surge quando se forma um determinado bloco histórico, de
modo que a classe detentora das bases materiais assume o comando da sociedade política,
além de possuir os recursos e o controle das instituições para a reprodução de ideias
favoráveis ao deu projeto hegemônico na sociedade civil. Deste modo, a classe dominante

4
Apesar de se basear nos escritos de Gramsci, o autor adiciona diversos elementos novos na sua análise
acerca da hegemonia internacional. (MCNALLY, 2008)

4
adquire o domínio do Estado através da sociedade política e o consenso no cerne da
sociedade civil, e quando ameaçada recorre aos recursos coercitivos por meio do aparato
estatal.

A sociedade civil neste contexto é caracterizada como heterogênea, ou seja,


existem diversos grupos políticos e opiniões diferentes, e quando insatisfeita com o
status-quo reage para a alteração da sociedade política. Entretanto, quando existe um
bloco histórico a apropriação dos espaços sociais pela classe hegemônico permite a
manutenção das incoerências por meio do consenso sobre os dominados, os quais não
questionam e adotam as políticas implementadas de maneira pouco representativas.
Portanto, a tomada do Estado através de um golpe pela classe oprimida – guerra de
movimento – pode não obter muitos resultados, visto que a sustentação do modelo
capitalista se encontra na sociedade civil. Por isso, o enfrentamento frequente da
divergência de opiniões e exposição das contradições do bloco histórico – guerra de
posição – para a conscientização dos indivíduos é o modelo mais importante de
desestabilização hegemônica (COUTINHO & TEIXEIRA, 2003).

Cox (1996) traz esta noção de hegemonia desenvolvida por Gramsci para as
relações internacionais para analisar principalmente o declínio do modelo de
desenvolvimento praticado pelas instituições de Bretton Woods no pós-guerra e a
implementação do neoliberalismo enquanto resposta hegemônica para a crise. Assim, o
autor demonstra que os principais Estados da economia internacional (EUA, Europa e
Japão) adotaram a internacionalização da produção para a manutenção da taxa de lucros,
e as Organizações Internacionais (OIs), o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário
Internacional (FMI), por exemplo, reproduzem o plano econômico neoliberal sobre os
demais Estados componentes da sociedade internacional5 (COX, 1983).

A crise do Estado de Bem-estar Social promoveu a reorganização do Estado, de


modo que a nova ideologia dominante é a expansão do espaço de atuação do mercado
para corrigir os erros macroeconômicos causados pela intervenção estatal. O
neoliberalismo retira o papel auxiliador do Estado dentro da economia, de modo que as
regras da economia internacional sejam as únicas políticas a serem consideradas legítimas
para a administração doméstica (COX, 1983). Sob o termo “hiperliberalismo”, Cox

5
O autor utiliza o termo “riot control” para definir a principal atividade das instituições econômicas
internacionais em relação à periferia (COX, 1996).

5
(1996) relata a formação desta revolução passiva6 através dos governos de Margaret
Thatcher (1979 – 1990) e Ronald Regan (1981 – 1989), os quais desintegraram as bases
da social-democracia firmada no acordo entre o mercado, a sociedade política e os
sindicatos, para realinhar a atuação estatal nas práticas keynesianas de controle da
demanda agregada.

O método materialista-histórico dialético coxiano interpreta o Estado como


reflexo das relações de produção contemporânea. Assim, as bases materiais – infra-
estrutura- desenvolvidas no decorrer da história constroem as formas de organização da
sociedade – super-estrutura –, a qual apresenta forças opostas ao estabelecido pelo status-
quo, estabelecendo um condição de hegemonia e contra-hegemonia. A leitura de Cox não
é estática, e portanto a estrutural social em análise é formada pelas forças sociais
resultante das interações contemporâneas, uma vez que estas forças são alteradas de
acordo com as mudanças na infra e super-estrutura historicamente7. Além disso, a visão
estruturalista do Estado enquanto ator racional (WALTZ, 1979), o que pressupõe o
interesse nacional teoricamente enquanto dado, é rejeitada, posto que deve-se entender
como as forças sociais internacionais e nacionais interagem entre si para construir a forma
do Estado e as suas decisões (LINKLATER, 1996). A hegemonia de uma classe8 se
manifesta internacionalmente através dos Estados-nação do centro econômico
internacional, e o consenso da sociedade civil global sustenta o projeto hegemônico
(WORTH, 2009).

A internacionalização da produção dentro do método de Cox é o processo de


reorganização da economia internacional para a sustentação dos interesses da classe
hegemônica (COX, 1987, 1983). Com a crise da legitimidade no Estado de Bem-estar
social provocada pelo débito negativo nas contas públicas do governo dos Estados
centrais, a classe capitalista em busca da manutenção dos lucros no mercado promove a
transnacionalização do capital, de modo que os bancos privados financiam a expansão de
multinacionais ao redor do globo, as quais dividem o processo de produção e se movem

6
A revolução passiva se trata da cooptação das classes inferiores pelo projeto hegemônico, agora de uma
nova forma, mas a dominação permanece (MORTON, 2007).
7
Isto justifica o caráter relativo dado por Cox ao sistema interestatal, posto que se trata de um determinado
modo de organização social na história, de modo que a mudança sempre é possível. (LINKLATER, 1996).
88
A transnacionalização das classes não é bastante explorada por Cox, uma vez que este acaba considerando
principalmente o ator estatal. Porém, baseado na abordagem crítica proposta por Cox, outros autores
avançam na exploração da classe capitalista transnacional e a sua articulação, como é o caso de Robinson
(2005).

6
para os pontos periféricos da economia internacional, visando os recursos dos Estados
periféricos: mercado consumidor, mão-de-obra e matéria-prima baratas, além de
impostos inferiores (COX, 1996).

Para realizar a adequação necessária das políticas domésticas a nível global o


modelo de desenvolvimento neoliberal surge como planilha a ser seguida nas relações
econômicas internacionais (GILL, 2008). Dessa maneira, o discurso da globalização
enquanto fenômeno inevitável dos elevados fluxos de capital e comunicação serve para
legitimar as práticas neoliberais voltadas para a abertura dos mercados nacionais e a
ausência declarada do Estados na administração de setores sociais e públicos. A
imposição de tais medidas se dava através da atuação do FMI, por exemplo, uma vez que
para receber os empréstimos é preciso aceitar o alinhamento interno com o projeto
proposto pela instituição (COX, 1983; GILL, 2008). Além disso, a Organização Mundial
do Comércio (OMC) realiza um importante papel na manutenção do status-quo
impedindo a aplicação de políticas consideradas imprescindíveis para o desenvolvimento
econômico (CHANG, 2006). No caso da América Latina o Consenso de Washington9
representa qual era o caminho colocado pelos EUA à região.

Em relação à periferia as condições de inserção nas relações econômicas


internacionais se tornam bastante limitadas, isto porque a classe hegemônica interna
desses Estados busca a obtenção dos seus interesses a partir do espaço marginal colocado
pelo centro detentor do domínio tecnológico e científico (GILL, 2008). O resultado é a
formação de Estados bem distantes da realidade social, visto que a sociedade política é
adequada de acordo com a hegemonia internacional, promovendo regimes autoritários ou
democracias pouco representativas, ambos baseados em baixíssima participação popular
– top down – e normalmente apoiados pelos interesses do centro na realização de
revoluções passivas (COX, 1987). Ademais, além do consenso ideológico reproduzido
nas instituições internacionais, os Estados centrais, assim como na análise nacional-
popular de Gramsci, possuem também o domínio bélico e coercitivo. Portanto, a
capacidade repressiva exercida pelo centro econômico é evidenciada quando algum
Estado periférico, de fato, desafia a lógica da liberalização global (COX, 1983).

9
O Consenso de Washington se trata de um pacote de medidas neoliberais elaboradas na capital dos Estados
Unidos em novembro de 1989 com o objetivo de solucionar os problemas macroeconômicos encontrados
na região da América Latina. Para a sua formulação estiverem presentes funcionários públicos dos EUA,
de organizações financeiras internacionais e economistas latino-americanos (BATISTA, 1994).

7
A Sociedade Civil Global para Cox (1999) e Gill (2008), assim como na visão
doméstica de Gramsci (1995), é caracterizada pelos diversos atores que agem na política
economia internacional desvinculados do poder estatal. Apesar de não estarem na
sociedade política diretamente, determinados atores muitas vezes interferem no
planejamento das decisões estatais, como é o caso das multinacionais, e reforçam o
consenso das idéias do projeto hegemônico na esfera da sociedade civil. Já aqueles que
resistem à hegemonia internacional também participam da Sociedade Civil Global, mas
muitas vezes são ignorados pelo poder estatal, devido aos seus interesses contrários ao
status-quo.

Desta maneira, a Ordem Mundial10 é o quadro resultante da interação entre as


forças sociais proporcionadas pela internacionalização da produção, as quais formam as
características dos Estados (COX, 1983). A globalização deve ser entendida como um
processo gerado pelo nível da internacionalização da economia, que vem acompanhada
do discurso neoliberal de maximização dos lucros através da abertura comercial e
garantias para o investimento externo direto. Entretanto, a visão neogramsciana proposta
por Cox deve-se atentar para os efeitos reversos causados pelo não-questionamento desta
ordem mundial, além de perceber a atuação de forças contra-hegemônicas na construção
de bases sociais mais justas e igualitárias (GILL, 2008), as quais partem das camadas
mais populares – bottom up – e que também são aquelas mais afetadas pelos efeitos da
interdependência assimétrica. Apesar da abertura teórica de Cox (1983) e do intenso
trabalho de Gill (1993, 2008) em fomentar uma agenda de pesquisa neogramsciana, os
trabalhos na EPG apresentam pouca observação sobre as forças contra-hegemônicas
causadas pelo movimento top-down do mercado, devido ao direcionamento focado
majoritariamente nas relações hegemônicas (WORTH, 2009). A análise sobre a
articulação transnacional do movimento social rural a seguir espera contribuir neste
sentido.

3. Soberania Alimentar em tempos de globalização

10
Apesar do autor utilizar o termo “ordem” para designar o status-quo contemporâneo nas relações
internacionais, o seu significado pode ser problematizado devido à dificuldade de coordenação nas relações
econômicas internacionais (LOPES & RAMOS, 2009).

8
A hegemonia dos EUA, Europa e Japão com base na internacionalização da
produção marginaliza o debate sobre os produtos agrícolas na OMC 11, porém ela
permanece responsável por regular as trocas comerciais dos bens primários no âmbito
internacional. O plano econômico para a agriculta deste órgão é bastante evidente: a
reforma agrária deve ser obtida através da vendas de terras não utilizadas, ou pouco
eficientes, para aquele que apresentar as melhores condições econômicas de produção,
através do financiamento de bancos privados (BORRAS, 2004). A aplicação do
neoliberalismo na agricultura excluí qualquer possibilidade de propriedades públicas ou
comunais, posto que a modernização da agricultura estabelece a privatização das
propriedades do Estado como estímulo para a entrada de investimento externo direto, o
que regulariza o fluxo do capital interno. O objetivo de tal modelo é fornecer a inserção
adequada da economia local no cenário internacional a partir da especialização e
modernização produtiva, mas intensifica a política de concentração de terras das regiões
periféricas. A mercantilização da terra no discurso e ação neoliberal suscitou vários
movimentos questionadores da legitimidade estatal, principalmente na América Latina
(COX, 1999; MORTON, 2007).

Os impactos desta abertura de cima-para-baixo sem a análise das condições


específicas de cada local/região são apresentados de diversas maneiras. O descaso das
autoridades econômicas com as organizações e o modelo de produção daqueles que não
são absorvidos pela globalização do capital resulta em indignações que se cruzam a partir
da negligência praticada pelas políticas neoliberais em relação à terra (DESMARAIS,
2008). Dentro do campo dialético de análise da Ordem Mundial proposto por Cox (1983)
a hegemonia não é completa, visto que o consenso nunca é obtido sobre todos, portanto
emergem da sociedade civil global novas formas alternativas de desenvolvimento e
resistência (ROBINSON, 1998; RAMOS, 2006), todavia existem grandes riscos de serem
corrompidas ou cooptadas pela classe hegemônica por meio do transformismo12, ou ainda
suprimidas pela força coercitiva do Estado (MORTON, 2007). Daí a dificuldade de se
pensar no Príncipe Pós-moderno, ou seja, o movimento popular capaz de mobilizar forças

11
Mesmo com as novas estratégias de negociação formadas pelos Estados do sul, liderados pelo Brasil e
Índia (NARLIKAR, 2003), a relação comercial dos produtos agrícolas continua como uma pauta
marginalizada na agenda da OMC. Chang (2006) demonstra que a omissão das decisões da OMC acerca
das pautas primordiais para os Estados do Sul, como a agrícola, fortalece o baixo grau de desenvolvimento
econômico da região.
12
Por transformismo se entende a capacidade da classe hegemônica de cooptar as demandas populares sem
alterar o status-quo (COX,1983).

9
contra-hegemônicas na arena internacional, sem perder o foco e o interesse primordial no
campo nacional-popular, o qual sustenta qualquer possibilidade de reação global
(MCNALLY, 2009).

A Via Campesina parece lidar com o dilema acerca do campo internacional e


nacional-popular por se constituir de diversos grupos e movimentos locais que se
organizam em redes transnacionais para articular um novo pensamento sobre a produção
agrícola na EPG (DESMARAIS, 2008; BORRAS, 2004). Deste modo, como colocado
por Borras (2004), a Via Campesina se trata de um “ator”, enquanto agente nas relações
econômicas internacionais, mas também de um cenário enquanto espaço para debate e
planejamento sobre a produção agrícola global. Portanto, os membros dos diversos
países13 que compõem a Via Campesina possuem relações firmes com as suas respectivas
regiões, mas entendem a importância de uma organização internacional para conter o
modelo de desenvolvimento neoliberal que afeta especificamente cada membro. A
projeção em escala global das medidas estabelecidas pela Via Campesina14 é possível
devido à organização em redes policêntricas (BORRAS, 2004), ou seja, vários polos de
comando horizontais relativamente autônomos, o que relata certo grau de
institucionalidade apesar do baixo grau de hierarquia dentro do movimento, além da
transição das decisões do comando internos para as organizações regionais subsequentes
(VIEIRA, 2015).

Mesmo com o enfoque na classe camponesa, os membros possuem


distanciamentos aparentes, mas se aproximam por estarem à margem das propostas do
centro para a agricultura. Assim, formam a Via Campesina desde médios produtores da
agricultura familiar, até indígenas que produzem em terras comunais (BORRAS, 2004;
DESMARAIS, 2008; VIEIRA, 2015). Isto demonstra o que Gill (2008), McNally (2009)
e Worth (2009) em suas leituras de Gramsci abordam como o Príncipe Pós-moderno e a
dificuldade de articulação no contexto da globalização devido a diversificação das classes
sociais com o advento do neoliberalismo e a internacionalização da produção. A Via

13
A Via Campesina surge em 1993 em uma conferência realizada pela ONG Fundação Paulo Freire em
Mons na Holanda. A maioria das 36 nacionalidades iniciais eram latino-americanos e europeus, mas no
decorrer das conferências a adesão de outras regiões do mundo, como o Sudeste Asiático, o Sul da Ásia e
a África expandiram o caráter global do movimento (VIEIRA, 2015).
14
Contudo, isto não quer dizer que o movimento esteja de livre de obstáculos para a articulação. O processo
de metagovernança gerada pelo movimento transnacional em redes tem se aperfeiçoado no decorrer do
processo de institucionalização, justamente devido a superação de frequentes dificuldades apresentadas
neste modelo de organização (DESMARAIS, 2008).

10
Campesina parece lidar criticamente com este fenômeno, explicitado por Cox (1999) na
comparação entre as condições da classe operária no Norte e no Sul, ao relativizar as
fronteiras sociais e aproximando os seus membros para a ação coletiva por meio do
interesse pela alteração da posição dada à terra dentro da agenda econômica global. Logo,
o movimento é movido pelas contradições locais interligadas com o contexto
internacional.

Colocado os esforços de conciliar o aspecto nacional-popular e o internacional,


faz-se necessário observar o ponto estratégico da contra-hegemonia aos moldes de
Gramsci para a formação de um projeto contra-hegemônico internacional. A atuação
transnacional do movimento dentro da Sociedade Civil Global é voltada para dois
princípios básicos: a contestação da imposição do modelo neoliberal através dos
organismos internacionais e a promoção da soberania alimentar como foco das relações
de produção. O projeto contra-hegemônico se revela na desconstrução da reforma agrária
guiada pelo mercado nas políticas neoliberais realizada pela Via Campesina (BORRAS,
2004; VIEIRA, 2015). O seguinte comunicado de julho de 2000 de uma conferência em
Honduras demonstra os objetivos contrários às recomendações das OEIs:

“[...] Renegamos então a ideologia que considera a terra como uma


mercadoria. Observamos com preocupação que as políticas agrárias
dominantes e implementadas a partir do neoliberalismo, pretendem
cada vez mais substituir a Reforma Agrária pelo mecanismo do
mercado de terras. Vimos em muitos países que os estados e os
organismos internacionais implementam políticas que acabam
privatizando a reforma agrária, o que desencadeia a contrarreforma
agrária, uma reconcentração escandalosa da terra em poucas mãos.
Assim, percebemos que as instituições financeiras internacionais, em
particular o Banco Mundial, promovem um modelo chamado de
‘reforma agrária guiada pelo mercado’, que segundo as experiências
que estamos vivendo ameaça e substitui os processos de Reforma
Agrária [...]” (BORRAS, 2004)

Percebe-se a Via Campesina enquanto ator/cenário na mobilização da Sociedade


Civil Global durante as conferências da OMC realizando pressões para a adesão nas
questões comerciais de assuntos como a produção de transgênicos, o uso de agrotóxico,
e produção agrícola familiar, assim como na fomentação da discussão do tema explorando
o afastamento do campo e da cidade causado pela divisão internacional do trabalho
defendida pelas OEIs. Além disso, a Via Campesina possui um forte ativismo em prol da

11
retirada do controle da OMC sobre a pauta agrícola, pois para o movimento o assunto
deveria ser tratado pela Organização das Nações Unidas (ONU)15 (BORRAS, 2004).

A agenda agrícola contra-hegemônica construída pela Via Campesina se baseia


principalmente na soberania alimentar, a qual se refere à autonomia da produção agrícola
dos povos de cada nação (DESMARAIS, 2008). Chegou-se a esta definição do termo
após alterações no decorrer da história do movimento sobre o que realmente significava
a soberania. O que antes era considerado uma responsabilidade do Estado em ofertar as
necessidades básicas da alimentação do seu povo, passou a ser o direito do povo o modelo
da organização produtiva de alimentos. Amplia-se então o caráter participativo dentro da
soberania alimentar, sendo esta formada pela sociedade em geral, relativizando a
centralidade do Estado (VIEIRA, 2015).

Isto demonstra o caminho do movimento para o entendimento da EPG sob uma


ótica popular, acreditando desta forma que a agenda econômica internacional deve
corresponder às reais necessidades de desenvolvimento e não a manutenção da taxa de
lucros de determinadas empresas multinacionais vinculadas aos interesses dos Estados
centrais. Ademais, o descaso dos agentes econômicos acerca da preservação ambiental
também é apontado como reflexo das políticas de mercado adotadas globalmente,
tornando-se relevante repensar as atividades de produção agrícola para a possibilidade de
um desenvolvimento sustentável real (VIA CAMPESINA, 2015) As mudanças mais
profundas na agricultura e reforma agrária só irão acontecer com o acesso aos recursos
de produção por parte das comunidades agrícolas locais (DESMARAIS, 2008).

Ao propor a defesa da soberania alimentar, a Via Campesina confronta os


interesses de importantes agentes econômicos da EPG, como a Monsanto e o McDonalds.
O projeto contra-hegemônico do movimento questiona a autoridade das corporações
internacionais em deter a patente de sementes (BORRAS, 2004) e empurrar na
alimentação dos consumidores os produtos transgênicos (VIEIRA, 2015). Quem
realmente possui o direito de produzir? Qual a relação do produtor com o seu produto?
Para a Via Camponesa os povos camponeses não podem mais serem excluídos destes
debates globais (DESMARAIS, 2008). O aspecto cultural no cultivo da terra carregada

15
A decisão não elimina uma visão crítica a respeito das reformas internas necessárias à ONU. Tanto que
apesar de ser uma decisão após debates sobre os rumos da agricultura na economia global, muitos membros
da Via Campesina questionam a legitimidade da organização na gerência dos assuntos internacionais
(BORRAS, 2004), como será mostrado adiante.

12
pelos camponeses e os indígenas é esquecido pelo controle do mercado no processo de
reforma agrária neoliberal. O significado da terra enquanto produto/propriedade privada
(BORRAS, 2004) no discurso globalizante das relações econômicas internacionais é
contraposto pela noção da soberania alimentar. Neste sentido, a Via Campesina se
caracteriza como um movimento social transnacional que se articula pela identidade
(campesina e indígena) e também pela relação com as forças produtivas, de modo que as
leituras pós-modernas referentes aos movimentos sociais enquanto desligados da
estrutura econômica (LYOTARD, 1984) é negada.

Um aspecto importante também a ser analisado é a abertura para a participação da


sociedade civil na ONU, a qual pode ser concebida pelo o conceito gramsciano de
transformismo. Apesar dos efeitos positivos da mobilização local/regional pelos membros
da Via Campesina na implementação de políticas públicas nacionais que garantam a
defesa do dinamismo na produção agrícola, Claeys (2014) demonstra a dificuldade de
institucionalizar a soberania alimentar no âmbito internacional através do Comitê de
Segurança Alimentar Mundial (CSAM) da ONU devido aos obstáculos colocados pela
instituição na convergência com o conceito de soberania alimentar. A legitimação dos
organismos da ONU para tratar da soberania alimentar dificulta e limita a ação da Via
Campesina, uma vez que os esforços gerados dentro desta corrente institucional não
garantem a transformação das estruturas socioeconômicas necessária para reduzir o papel
do neoliberalismo na agricultura global.

4. Considerações finais

Dentro do escopo analítico proposto por Gill (1993) e Cox (1983) é possível
perceber a emergência de forças sociais antagônicas àquelas colocadas pelo movimento
de cima-para-baixo sobre a sociedade civil global. O projeto contra-hegemônico da Via
Campesina se torna um ator na EPG ao resistir à aplicação das políticas econômicas e
sociais necessárias para a internacionalização da produção, principalmente na área
agrícola. O conceito pós-colonial de hibridismo16 no movimento se torna claro ao colocar
a classe camponesa, no seu sentido mais plural, para o centro da articulação de
contestação global ao neoliberalismo. Deste modo, os pequenos produtores e indígenas
marginalizados nas decisões da Ordem Mundial não ignoram a redução das fronteiras

16
Chowdry e Neir (2002) denotam o hibridismo como a capacidade dos povos subalternos em se
apropriarem das condições de opressão para poderem se emancipar.

13
temporais e espaciais proporcionada pela tecnologia contemporânea, mas a utilizam para
apresentar novas alternativas de organização política e de desenvolvimento econômico
para a sociedade civil global. A participação camponesa demonstra inclusive o
distanciamento de qualquer leitura ortodoxa, em que a via campesina seria subalterna a
outras classes trabalhadoras.

A transnacionalização da classe capitalista é acompanhada pelo movimento de


baixo-para-cima de criação de laços entre os diversos atores não-representados no
processo de globalização econômica (RAMOS, 2006). Devido às contradições causadas
pela reforma agrária guiada pelo mercado defendida pelas OEIs, o movimento rural
emerge com caráter transnacional no início dos anos 90 representando a negação da
mercantilização da terra como política global. A inserção na Ordem Mundial das
periferias de todas as regiões sob o domínio das hegemonias doméstica e internacional
faz com que estas encontrem no campo internacional uma maneira de fortalecer a
resistência nacional-popular. Contudo, como demonstrado por McNally (2009) no caso
do movimento Anti/Outra-globalização, as dificuldades de construção de um Príncipe
Pós-moderno capaz de sobrepor a ordem hegemônica global do neoliberalismo são
bastante elevadas, uma vez que os reflexos das relações internacionais ocorrem de
maneiras distintas em cada região do globo (COX, 1987). A Via Campesina no decorrer
do seu desenvolvimento histórico-institucional apresenta aperfeiçoamentos na
coordenação da ação coletiva camponesa, mas ainda precisa lidar com o aspecto pouco
sólido da metagovernança gerada pelas redes.

Por fim, o entendimento da soberania alimentar representa o princípio mais forte


do projeto contra-hegemônico e o possível motor para a promoção de resistências contra
o avanço do neoliberalismo na agricultura. A autonomia do povo defendida pela Via
Campesina ganha destaque em épocas de crise do capitalismo internacional, posto que o
modelo agroexportador sustentado pelos interesses hegemônicos, além dos efeitos
desastrosos para a reforma agrária, sofrem sérios impactos com a queda do preço
internacional, o qual não possui uma regulação firme. O modelo de produção da
agricultura familiar apresenta novas perspectivas para o cultivo da terra e é voltado para
o abastecimento das cidades. Por meio da soberania alimentar o oligopólio latifundiário
e a monocultura são contestados pelo direito do povo em promover a produção alimentícia
necessária para a população. Os movimentos de reafirmação das terras comunais e as
pressões realizadas sobre a agenda econômica global, através de ações diretas e da

14
construção de espaços democráticos, mostram que as forças sociais de resistência não
aceitam facilmente o movimento de cima-para-baixo e se constituem como vias para um
projeto de desenvolvimento igualitário.

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