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INSTITUTO DE RECURSOS

NATURAIS

ESTUDO DO POTENCIAL DE GERAÇÃO DE


ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DE BIOGÁS
DE DIGESTÃO ANAERÓBIA DE RESÍDUOS
SÓLIDOS DIVERSOS
PIBIC

RELATÓRIO FINAL

Aluno: Steve Angstrom dos Santos Ribeiro


Matrícula: 31142
Curso: Engenharia Ambiental
Orientador: Regina Mambeli Barros

Fase/Período:9

Vigência: De 01/08/2017 a 31/07/2018


CNPQ
Itajubá – MG
2018
RESUMO

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Brasil se destaca por fazer uso do
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), sendo este, um dos instrumentos do
protocolo de Quioto que tem como objetivo colaborar junto aos países desenvolvidos para
a redução de emissões de carbono. Assim, dispondo deste importante papel, é interessante
para o país a utilização de fontes alternativas de energia, sendo para geração elétrica ou
como fonte de calor, visando sempre a redução das emissões de carbono e gases de efeito
estufa. Assim, um grande percursor de energia alternativa e mais limpa é o Biogás, que é
um combustível caracterizado pela mistura de diversos gases, sendo predominante o gás
carbônico CO2 e o gás metano CH4, que podem ser obtidos por meio da digestão
anaeróbia da matéria orgânica em biorreatores. Neste contexto, o presente projeto tem
como objetivo a concepção de um sistema para biodigestão anaeróbia de dejetos bovinos,
tipo de substrato abundante em território Brasileiro devido a preponderância da pecuária
no país, e consequente captura e medição de biogás. A produção de gás registrada e a
energia possível de ser gerada por este gás, será comparada com valores presentes na
literatura. Além disso, o projeto busca identificar o tempo ideal de degradação da matéria
orgânica, identificar se ocorre de modo mais eficiente a degradação da matéria a seco ou
diluída em água e qual a proporção ideal de água, analisar se o dejeto deve ou não passar
por um processo de homogeneização no digestor e identificar a quantidade de gás gerado.
Dessa forma, espera-se contribuir de maneira eficiente com a literatura por meio de dados
coletados no protótipo do biodigestor. A metodologia aplicada consistirá no
acompanhamento da degradação com auxílio de aparelhos para medir a produção do
biogás, juntamente com sua purificação, além de análises químicas, como demanda
química de oxigênio (DQO) e demanda bioquímica de oxigênio (DBO) presentes nesse
material orgânico, além de teste de pH.

PALAVRAS-CHAVE: Biogás; geração de energia; biodigestor.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Gráfico de distribuição de energia elétrica no ano de 2016 e 2017 .................. 8


Figura 2: Biodigestores industriais ................................................................................. 12
Figura 3: Biodigestor urbano. ......................................................................................... 13
Figura 4: Biodigestores agrícola ..................................................................................... 14
Figura 5: Biodigestor modelo chinês. ............................................................................. 15
Figura 6: Modelo de biodigestor indiano ....................................................................... 15
Figura 7: Biodigestor modelo da marinha ...................................................................... 16
Figura 8: Primeiro Protótipo ........................................................................................... 19
Figura 9: Primeiro Protótipo ........................................................................................... 19
Figura 10: Segundo Protótipo ......................................................................................... 21
Figura 11: Segundo Protótipo ......................................................................................... 21
Figura 12: Esquema do biodigestor instalado................................................................. 22
Figura 13: Cobertura segundo protótipo......................................................................... 22
Figura 14: Esterco sendo preparado ............................................................................... 23
Figura 15: Amostra do Esterco ....................................................................................... 23
Figura 16: Preparação das variáveis ............................................................................... 23
Figura 17: Aparelho medindo a porcentagem constituinte do gás ................................. 25
Figura 18: Funcionamento do motor .............................................................................. 26
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Correspondência de 1 m³ com outras fontes de energia. 09


Tabela 2: Relação de dejetos para 1 m³ de biogás 12
Tabela 3: Principais formas de uso do biogás 17
Tabela 4: Potencial Energético Brasileiro de diversas fontes de biogás 17
Tabela 5: Variáveis analisadas antes e depois da carga 23
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

MMA Ministério do Meio Ambiente

ABNT Associação Brasileira Normas Técnicas

NBR Norma Brasileira Regulamentadora


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 7
2 OBJETIVOS PROPOSTOS........................................................................... 10
3 REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................ 11
4 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................... 19
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO..................................................................... 27
6 CONCLUSÕES ............................................................................................. 28
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 29
1 INTRODUÇÃO

Com bruscas variações no clima da Terra, a temperatura varia para o mais alto e
severo estado, atingindo toda a Biosfera do planeta e afetando a saúde de todos. Variações
tão altas que podem até mesmo secar rios e lagos; comprometendo um bem que além de
essencial para a dessedentação é fundamental para o desenvolvimento tecnológico no
Brasil onde as principais fontes de geração de energia vêm de usinas hidrelétricas, e estas,
influenciadas pelas variações térmicas diminuem o volume de água nos reservatórios,
comprometendo a sua eficiência.
Para tornar possível qualquer que seja o desenvolvimento tecnológico e
científico no mundo é necessário o uso de energia, podendo ser renovável ou não. No
Brasil, segundo o MME a Matriz Energética brasileira é a mais renovável do mundo
industrializado, sendo as usinas hidrelétricas ainda a mais predominante, responsável por
75% da eletricidade do País, e 45,3 % são de fontes renováveis, como energia solar, eólica
biomassa, etanol e recursos hídricos; o restante são provenientes de fontes não renováveis
como petróleo, gás, carvão e nuclear.
Mesmo com tantas tecnologias existente a demanda por energia sempre
aumenta, tornando necessário investimento científico em outras áreas para suprir a
necessidade da sociedade, tanto em consumo doméstico como industrial, e para atender
essa demanda as energias renováveis possuem diversas vantagens comparada às não
renováveis, seu impacto ambiental é menor quando comparado às fontes de combustíveis
fósseis pela produção mínima de dióxido de carbono e dos demais gases que colaborem
para o efeito estufa. Os riscos apresentados pelas fontes renováveis são menores
equiparados a energia nuclear, seu uso permite conduzir a investigação em novas
tecnologias que permitem melhor eficiência energética, além de reduzir a dependência
energética dos combustíveis fósseis. A Figura 1 apresenta a distribuição de energia
elétrica no Brasil segundo os dados extraídos do balanço energético nacional de 2014
apresentado pelo Ministério de Minas e Energia (MMA). Por esta observamos o destaque
do Brasil na utilização de energias renováveis, dado este que apresenta 74,6% da oferta
interna de eletricidade no país.
Figura 1: Gráfico de distribuição de energia elétrica no ano de 2016 e 2017

Fonte: Ministério de Minas e Energia (MME) (2017)


Conforme destacado na figura 1, biomassa (Bioenergia) é a segunda fonte
renovável mais utilizada de eletricidade no país. Esta é uma energia considerada limpa e
renovável que tem grande destaque no mercado atual. Dentre diversas formas de
bioenergia podemos citar aquela que pode ser obtida a partir da combustão do biogás
proveniente da biodigestão de matéria orgânica, fonte de potencial interessante sobretudo
no Brasil, onde a agricultura e a pecuária é preponderante e, dejetos de animais e restos
de culturas (Dentre outros resíduos) que podem ser utilizadas como substrato orgânico
para produção de biogás.
Esses dejetos são compostos orgânicos de alto teor energético com macro e
micronutrientes de grande importância sanitária, como nicho ecológico. Segundo Pereira
Neto (1992), esses vetores estão associados à transmissão de inúmeras zoonoses, além de
doenças respiratórias, epidêmicas e intestinais. Fezes bovinas tem sido identificada como
o principal reservatório de ESCHERICHIA COLI, sendo um potente veículo de
transmissão deste agente patogênico para o ambiente, gado e alimentos (WANG et al.
1996). Além disto, em sistemas de confinamento bovino, um volume considerável de
dejetos, os quais são ricos em matéria orgânica e agentes patogênicos, o que pode
influenciar na poluição de águas superficiais e subterrâneas devido ao carregamento desse
material pela ação das chuvas (DORAN & LINN, 1979).
Diante deste cenário, a biodigestão por meio de reatores anaeróbios representam
uma alternativa para o tratamento deste resíduo, pois além de permitir a redução do
potencial poluidor e dos riscos sanitários dos dejetos, promove a geração do biogás, que
pode ser utilizado como fonte de energia alternativa, além de permitir a reciclagem do
efluente, podendo ser utilizado como biofertilizante em plantações e lavouras. A tabela 1
apresenta a correspondência de 1 m³ de biogás com outras formas de energia.
Tabela 1: Correspondência de 1 m³ com outras fontes de energia.
Correspondência Fonte de energia
0,40 kg GLP (gás de cozinha)
0,61 a 0,70 L Gasolina
0,80 L Álcool
0,55 L Óleo diesel
1,25 a 1,43 KWh Eletricidade
1,60 a 3,59 kg Lenha
Fonte: Fundação Ecológica Nacional
2 OBJETIVOS PROPOSTOS

O objetivo principal do presente projeto é obter resultados experimentais acerca


da produção, maximização da geração e pureza do biogás a partir do biodigestor
anaeróbio de temperatura controlada, utilizando como substrato o esterco bovino diluído
em água. Efetuar testes do potencial do biogás gerado e utiliza-lo como combustível em
um motor estacionário afim de analisar seu consumo e rendimento, para fins de geração
de energia elétrica.
3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1 Resíduos Sólidos


A associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) na NBR 10004/2004
(ABNT,2004a) define os Resíduos Sólidos (RS) como resíduos em estado sólido ou
semissólido, oriundo de atividades de procedência doméstica, industrial, de serviços, de
varrição, comercial, agrícola e hospitalar. A referida norma brasileira ainda inclui na
definição os lodos originários de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em
equipamentos e instalações de controle de poluição, assim como determinados líquidos,
cujas características tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou
corpos de água, ou exijam para tanto, soluções econômicas e tecnicamente inexequíveis
em face da melhor tecnologia disponível. (BARROS, 2012).

3.2 Biomassa
Segundo o Ministério MME (2007) e a ANEEL, o termo biomassa compreende a
matéria vegetal gerada pela fotossíntese e seus diversos produtos e subprodutos derivados
das florestas, de culturas e os resíduos agrícolas, os dejetos animais e a matéria orgânica
que é contida nos rejeitos industriais e urbano. Essa matéria contém energia química
acumulada através da transformação energética da radiação solar e pode ser diretamente
liberada por meio da combustão, ou ser convertida através de diferentes processos em
produtos energéticos de natureza distinta, tais como: carvão vegetal, etanol, gases
combustíveis e de síntese, óleos vegetais combustíveis e outros. (MME, 2007).
Deste modo, todo e qualquer recurso renovável oriundo de matéria orgânica,
sendo esta de origem animal ou vegetal podem ser utilizadas na produção de energia. As
fontes mais utilizadas para obtenção de energia através da biomassa são: cana-de-açúcar,
lenha, carvão vegetal, restos de vegetais e dejetos de animais. No biodigestor as
biomassas mais utilizadas são: dejetos bovinos, dejetos suínos, dejetos de aves e resíduos
secos de vegetais como, por exemplo, fécula de mandioca ou vinhaça. A tabela 2
apresenta a quantidade desses materiais orgânicos necessários para produzir uma
quantidade de 1 m³ de biogás durante a biodigestão. A biomassa pode ser degradada a
seco ou diluída em água, é considerado que o teor de água seja em torno de 90% da
quantidade seca.
Tabela 2: Relação de dejetos para 1 m³ de biogás.
Matéria Orgânica Quantidade em quilo
Esterco fresco de bovino 25 Kg
Esterco seco de galinha 2,3 Kg
Resíduo seco de vegetais 2,5 Kg
Esterco seco de suíno 2,86 Kg
Fonte: Castanon (2002)

3.3. Biodigestores
Os biodigestores anaeróbios podem ser definidos como câmaras fechadas, nas quais
é colocado o substrato orgânico para ser decomposto na ausência de oxigênio molecular,
tendo como subproduto principal o biogás. Para que isso ocorra, é necessária a ação
conjunta de diversos microrganismos, o que pode exigir tempos de detenção elevados,
para que o substrato adicionado seja decomposto. De modo geral um biodigestor é
definido como sendo o meio onde ocorre o processo de degradação, transformação ou
decomposição de matéria orgânica, na ausência de oxigênio, tendo como produto final o
biogás.
Segundo Magalhães (1986) temos três tipos de biodigestores, sendo eles:
 Biodigestores Industriais: O biogás gerado por este tipo de biodigestor pode
ser utilizado para combustão de gás em caldeiras ou para combustão em
geradores elétricos para obtenção de energia. A figura 2 apresenta um
esquema de um biodigestor industrial.
Figura 2: Biodigestores industriais

Fonte SUSTENTAR (2015)


 Biodigestores Urbanos: O biogás gerado por este tipo de biodigestor pode
ser utilizado em geladeiras movidas a gás, em lamparinas a gás, na cozinha
substituindo o botijão convencional, em chuveiros a gás e também em
geradores para obtenção de energia elétrica. A figura 3 representa um
esquema de um biodigestor urbano.
Figura 3: Biodigestor urbano.

Fonte: PANAMÉRICA (2015)

 Biodigestores Agrícolas: O biogás gerado por este tipo de biodigestor pode


ser utilizado em caldeiras e em combustão em geradores para obtenção de
energia elétrica. A figura 4 representa um esquema de um biodigestor
agrícola.
Figura 4: Biodigestores agrícola

Fonte: NOTÍCIAS AGRÍCOLA (2015)

3.3.1 Modelos de Biodigestores


Segundo Magalhães, 1986, os digestores podem operar de forma continua ou
descontinua. O sistema feito de maneira contínua é aquele no qual o digestor pode ser
diariamente reabastecido por dejeto orgânico sem que isso prejudique a formação do
biogás, tal como vazamento ou entrada de oxigênio no digestor. O modo descontínuo
conhecido também como batelada é aquele que é preciso efetuar sua recarga de modo
alternado, ou seja, é inserido uma determinada quantidade de dejeto animal no digestor,
este, é degradado por um certo período produzindo o biogás, o dejeto excedente que fica
no fundo do digestor pode ser utilizado como biofertilizante, e somente este período pode-
se efetuar a limpeza do biodigestor e iniciar um novo ciclo.

3.3.2 Formas de Biodigestores


Os modelos mais conhecidos de biodigestores contínuos são o chinês (Figura 5) e
o indiano (Figura 6), ambas as construções possuem maior parte de sua estrutura abaixo
do nível do solo de forma vertical. Estes tipos de biodigestores são construídos de forma
horizontal utilizando material de alvenaria, sua vantagem é a economia de espaço na
superfície do solo, além de maior facilidade para executar a limpeza em seu interior. Já
os biodigestores do modelo da marinha (Canadense) (Figura 7) têm sua construção na
forma horizontal, sua cúpula é construída de plástico maleável, em sua parte superior
existe uma lona maleável que infla na medida que a produção de gás aumenta. O digestor
pode estar ou não totalmente enterrado, sua vantagem é a facilidade de limpeza, por sua
largura ser maior que a profundidade.

Figura 5: Biodigestor modelo chinês.

Fonte: CLUBDARWIN (2015)

Figura 6: Modelo de biodigestor indiano

Fonte: PORTAL RESÍDUOS. (2015)


Figura 7: Biodigestor modelo da marinha

Fonte FEB (2015)

3.4 O biogás
O biogás produzido a partir do biodigestor pode ser utilizado para diversas
finalidades, sendo estas, como por exemplo, iluminação através da queima do biogás,
cozimento de alimentos através da queima do biogás, geração de energia elétrica através
da combustão do biogás num determinado motor preparado para este tipo de combustível
e além disso, a energia excedente pode ser vendida para centrais de distribuição ligando-
a na rede de transmissão.
Existem diferentes alternativas de purificação aplicáveis ao biogás, devendo ser
definida a mais adequada para a aplicação energética que se pretende. Por exemplo, para
a aplicação no ramo automotivo, é necessária uma etapa de purificação em que o biogás
assa por um filtro de óxido de ferro, responsável pela retirara dos traços de enxofre. Livre
do H2S o biogás é enviado ao compressor de baixa pressão, que tem por finalidade forçar
a passagem do biogás através de uma torre de absorção de CO2. Este processo resultará
na dissolução de CO2, formando H2CO3, que é enviado para a caixa de eliminação, que
tem por finalidade separar o gás carbônico da água, em que o CO2 é liberado para a
atmosfera. Após este processo, a água é recalcada para a torre de absorção e o metano
purificado é submetido ao processo de armazenamento (COSTA, 2006). Quando se tem
interesse em elevar eficientemente a produção do biogás pode-se fazer uso de inoculos,
ou seja, são bactérias já formadas em outros processos de digestão, este processo acelera
a produção das colônias de bactérias, no qual a formação do biogás é feita num período
menor de tempo. (XAVIER,JUNIOR, 2004).
A Tabela 3 exemplifica o consumo em m³ para utilização em alguns tipos de energia
publicado pela CETEC o qual são válidos até o presente momento. Já a tabela 4 apresenta
o potencial energético Brasileiro que pode ser obtido pela combustão do biogás de
diversas fontes. Por meio desta pode-se observar o potencial energético extremamente
relevante do biogás no país, o que faz com que esta fonte deva ser estudada e incentivada.
Tabela 3: Principais formas de uso do biogás
Utilização Consumo
Cozinhar 0,33 m³ / dia / pessoa
Iluminação com lampião 0,12 m³ / hora / lampião
Chuveiro a gás 0,8 m³ / banho
Incubador 0,71 m³ / m³ espaço interno/hora
Motor a combustão interna 0,45 m³ / Hp / Hora
Aquecedor de água a 100ºC 0,08 m³ / litro
Gerador de eletricidade (1KWh) 0,62 m³
Fonte: CETEC (1981)

Tabela 4: Potencial Energético Brasileiro de diversas fontes de biogás


Fonte do Biogás Potencial Observações Referência
energético
Aterros sanitários Potencial próximo a Cenários mais Barros et al.
4 [TWhe]1 favoráveis para 2030 (2014)
Digestão anaeróbia Potencial superior a Digestão da vinhaça Santos et al.
da vinhaça 4 [TWh] devido a em reatores anaeróbios (2011)
produção de vinhaça e geração de energia
na safra da cana de em motores de Ciclo
2010/2011 Otto
Digestão anaeróbia 21,13 [MW] Geração de energia em Salomon e
das fezes de instalados Motores de combustão Lora (2009)
galinha interna
Digestão anaeróbia Produção de biogás Geração de energia em Instituto
de resíduos de de 72,73 [106 Motores de combustão Brasileiro de
abatedouros de m³/ano], o que interna Pesquisa
aves corresponde a um Econômica
potencial de 0,21 Aplicada
[TWhe/ano] (IPEA, 2012).
1
Barros et al. (2014) conclui também que a viabilidade do aproveitamento energético em aterro sanitários só é

assegurada para cidades com mais de 200.000 habitantes.

Fonte: Barros (2014)


4 DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Na primeira etapa do projeto de pesquisa foi realizado a revisão bibliográfica


acerca dos tipos de dejetos que poderiam ser inseridos no biodigestor, os tipos de bactérias
presentes no digestor, tempo de produção do biogás, procedimentos de filtragem do
biogás e rendimento da combustão do mesmo.
Em seguida, na segunda etapa se deu início ao processo de construção do primeiro
protótipo, já com os filtros de purificação e sistema de segurança, após a montagem já foi
realizado a carga no digestor com esterco bovino fresco na proporção de 8% de sólidos e
92% de umidade.
Figura 8: Primeiro Protótipo

Fonte: Autoria própria

Figura 9: Primeiro Protótipo

Fonte: Autoria própria


Após algum tempo de retenção hidráulica nesse protótipo foi detectado grande
número de vazamento de biogás e líquido nos recipientes metálicos devido a corrosão no
mesmo, sendo assim foi preciso fazer um novo protótipo; desta vez foi utilizado como
digestores dois tonéis de PVC de 50 litros cada, ligados em série por meio de tubo de 50
mm de diâmetro, para entrada e saída do dejeto foi utilizado flanges de caixa d`água,
como gasômetros foi utilizado duas câmaras de ar de caminhão de 70 cm de diâmetro,
também ligadas em série, ou seja, independente de qual tonel será produzido o biogás, ele
sempre será direcionado e distribuído para as duas câmaras ao mesmo tempo.
No segundo biodigestor foi feito um novo sistema de filtragem filtros para
remoção das impurezas, separado em dois módulos, no qual o primeiro módulo efetua a
remoção do gás carbônico e umidade; o segundo módulo faz a remoção do gás sulfídrico.
De acordo com a literatura as bactérias não podem sofrer variações térmicas superior a
3ºC, caso aconteça pode levar a morte de todas as bactérias, afim de evitar esse problema
foi feito um sistema de aquecimento nos dois tonéis, o qual ambos são controlados por
um sistema eletrônico que foi programado de acordo com as necessidades de fermentação
do dejeto; no entanto, para que a temperatura fique uniforme em toda a solução foi
acoplado na parte interna do tonel um agitador eletromecânico o qual é acionado
automaticamente a cada uma hora por um período de dois minutos, isso faz com que o
gradiente vertical de temperatura nos toneis se mantenha homogêneo. Depois de todo o
processo montado houve a necessidade em construir uma área coberta afim de proteger o
mesmo contra intemperes do sol e chuva para não danificar os componentes eletrônicos
Figura 10: Segundo Protótipo

Fonte: Autoria própria

Figura 11: Segundo Protótipo

Fonte: Autoria própria


Figura 12: Esquema do biodigestor instalado

Fonte: Autoria própria

Figura 13: Cobertura segundo protótipo

Fonte: Autoria própria


Após a construção do segundo biodigestor, este foi cheio de água e submetido a
uma pressão constante, afim de saber se o mesmo se encontrava com vazamentos ou
qualquer outro problema, após nada de anormal ser detectado foi feito uma nova recarga
para funcionamento definitivo, com esterco bovino a 8% de sólidos, sendo coletado parte
do conteúdo para ser amostrado em laboratório no início e final do tempo de retenção
hidráulica no digestor como Sólidos Totais e Voláteis, DQO, DBO, pH e Nitrogênio.
Figura 14: Esterco sendo preparado

Fonte: Autoria própria

Figura 15: Amostra do Esterco

Fonte: Autoria própria


Figura 16: Preparação das variáveis

Fonte: Autoria própria


Na terceira etapa e nas demais foi realizado a análise dos resultados juntamente
com a coleta do biogás já formado para inspeção de pureza e poder calorífico deste gás.
A primeira carga teve duração de 45 dias, e foi realizado a comparação das variáveis antes
e depois do tempo de retenção, como mostra a Tabela 5.
Tabela 5: Variáveis analisadas antes e depois da carga
Antes da carga Depois da carga
pH = 7,56 pH = 6,27
Sólidos Totais = 5,944g/L Sólidos Totais = 3,456g/L
Sólidos Totais Fixos = 1,783 g/L Sólidos Totais Fixos = 1,12 g/L
Sólidos Voláteis = 4,1495 g/L Sólidos Voláteis = 2,337 g/L
DQO = 11250 mg/L DQO = 1119,33 mg/L
DBO = 3880 mg O2/L DBO = 348 mg O2/L
Nitrogênio = 8,4 mg/L Nitrogênio = 5,6 mg/L
Fonte: Autoria própria
Como é de interesse somente o gás metano, é preciso filtrar o gás, e para isso o
sistema conta dois filtros para realizar a purificação e eliminar os demais tipos de gases.
Um dos filtros é responsável pela remoção do ácido sulfídrico o outro filtro é responsável
por remover a umidade e o gás carbônico da mistura do biogás. O biogás será direcionado
e armazenado no gasômetro, construído com duas câmaras de ar de caminhões e
adaptadas para este fim, com volume total aproximado de 0,5 m³. Para conhecer a pureza
do biogás e se os filtros realmente funcionaram efetuou-se um teste por meio de um
aparelho eletrônico para conhecer a composição do biogás produzido, sendo este
composto de 65% de metano, 8% de CO2 e 5% de H2sO4.
Figura 17: Aparelho medindo a porcentagem constituinte do gás

Fonte: Autoria própria


Feito a análise de pureza do gás, este foi queimado no maçarico e depois os
digestores esvaziados para uma nova recarga. O resíduo do dejeto foi diluído em água,
sendo uma parte de resíduo e 7 partes de água, e foi utilizado para adubar um pomar de
laranjeiras, plantações de cana e capim elefante.
No final do experimento foi adicionado um último teste no biodigestor, afim de
viabilizar o comportamento do biogás utilizando-o como combustível em motores
estacionários. O motor utilizado foi de 1/3 Hp de 2 tempos da marca Búfalo movido à
gasolina. Para ser possível fazer com que o motor funcionasse com o biogás foi preciso
construir uma válvula mecânica que transferisse o biogás para o carburador do motor.
Depois de vários testes percebeu-se que o motor funcionava de modo mais
eficiente no biogás quando estava aquecido, sendo assim, primeiramente fez-se a partida
do motor com a gasolina por um período de 10 minutos em velocidade máxima para que
este ficasse aquecido, e aos poucos a válvula mecânica foi-se fechando a gasolina e
permitindo a entrada do o biogás, até que o motor funcionasse cem por cento no biogás;
para que isso acontecesse foi preciso pressionar a câmara de ar para conduzir o biogás até
o motor, pois não foi feito a pressurização do mesmo em um cilindro de alta pressão, deste
modo, as duas câmaras cheias foram capazes de manter o motor em funcionamento por
um período de 5 minutos em velocidade máxima.
Durante todas as recargas feitas posteriormente no biodigestor, o processo de
combustão do biogás no motor estacionário foi o mesmo para todos testes, a combustão
no motor sempre se manteve próximo aos 5 minutos de funcionamento em velocidade
máxima, durante cada recarga os filtros do sistema eram substituídos por novos para
manter sempre a qualidade de pureza do biogás. Após todos os funcionamentos do motor
não se percebeu nenhuma alteração no funcionamento mecânico no mesmo, ou seja, o
torque e rotação foi mantido.
Figura 18: Funcionamento do motor

Fonte: Autoria própria


5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Decorrido o tempo de experimento do trabalho de iniciação cientifica e feito todos os


testes para a produção de biogás gerado a partir do biodigestor a produção de metano foi
significativa em todas as recargas, atingindo praticamente 65% de metano em sua
composição. Durante o funcionamento problemas de vazamentos de biogás foi a principal
causa de baixa capacidade de armazenamento do mesmo, influenciando no tempo de
funcionamento do motor estacionário.
Mesmo toda tubulação do biodigestor sendo de 50 mm, concentrações superiores a
8% de sólidos totais causaram entupimento nos canos, dificultando a entrada e saída do
dejeto, sendo preciso o uso de cabo de aço de 5 mm para aliviar novamente a tubulação.
O controle de temperatura foi essencial para melhor produção de biogás, sendo que a
faixa de temperatura escolhida foi de 35ºC, e para esse controle usou-se um termostato
mecânico, no entanto a precisão da peça varia 15 graus, prejudicando a sobrevivência das
bactérias, nesse caso foi necessário a substituição da peça mecânica por uma eletrônica
programada, com precisão térmica de 0,5 graus, evitando a mortandade das bactérias por
variações térmicas.
Após coletar amostras no final da retenção hidráulica e feito análise em laboratório,
percebeu-se que o nível de DBO e DQO reduziu quase dez vezes, o que mostra que a
degradação pelas bactérias no digestor foi bastante eficiente, o Ph também houve redução,
identificando que o meio já se aproxima do neutro; no entanto o nível de nitrogênio teve
um comportamento contrário ao esperado, pois abaixou sua concentração ao invés de
aumentar, isso significa que o chorume não poderia ser utilizado como fertilizante, já que
o nível de nitrogênio diminuiu, pois seria um fertilizante pobre em nutrientes, isso
aconteceu porque foi utilizado apenas esterco bovino como substrato, sendo este em alta
concentração de carbono e pobre em outros nutrientes, o que dificulta a degradação, visto
que o carbono é mais complexo de ser digerido pelas bactérias .
Analisando a foto tirada do aparelho eletrônico que quantifica o biogás, percebemos
que a porcentagem de metano é próxima dos 65% de pureza no reator, além de indicar
que o nível de gás sulfídrico e gás carbônico se reduziram, devido aos dois módulos de
filtragem desses contaminantes, identificando que é possível diminuir ainda mais as
impurezas.
6 CONCLUSÕES

Diante de todos os testes feitos, o biodigestor funcionou perfeitamente, conforme


previsto, produzindo o metano próximo a literatura, todos os testes exemplificaram que o
reator operou de forma eficiente produzindo o biogás; no entanto apenas o esterco bovino
não foi capaz de elevar o nível de metano, sendo necessário mais estudos com dejetos
distintos ou combinados, para que os diferentes tipos de composição contribuam para a
melhor degradação das bactérias. Os filtros foram capazes de remover os contaminantes
do biogás e operaram de modo muito eficiente, sendo necessário apenas um melhor
dimensionamento para o reator; quanto ao motor estacionário, este não funcionava em
um modo contínuo devido à falta de pressurização do biogás, sendo necessário o uso de
um compressor e um reservatório adequado para o processo, a potência do motor utilizado
também influencia no rendimento de combustão, de modo que se utilizasse um de menor
potência o consumo do biogás seria menor e facilitaria os estudos de rendimento.
Em suma, o experimento realizado pode ser aplicado como uma alternativa a
produção de energia, diante o cenário de crises hídricas, o uso do biogás poderia suprir
déficits de demandas enérgicas, já que seu funcionamento se baseia na degradação de
matéria orgânica, além disso o baixo investimento para construção do biodigestor
contribui para que seja implantado em comunidades carentes como fonte de energia limpa
para cozer alimentos, em regiões como o Nordeste onde as famílias não possuem
condições financeiras para adquirir um botijão de gás, a aplicação do biodigestor é
fundamental. Além disso pode ser aplicado em dimensão maiores em zonas rurais, onde
existe a criação de animais, podendo gerar energia suficiente para suprir a sua própria
demanda de fonte de calor ou energia elétrica, visto que nessas áreas de criação o volume
de rejeito é muito alto, e pode ser destinada de modo correto sem degradar o meio
ambiente, reciclando cem por cento do rejeito.
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