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WORKSHOP
INSTITUTO DE PERMACULTURA DA PAMPA

TATI E JOÃO ROCKETT


ensinam
VIVER NO CAMPO
@rama.permacultura
Instituto de Permacultura da Pampa | Escola Rama Permacultura

idealização e conceituação
TATIANA CAVAÇANA

textos e imagens
TATIANA CAVAÇANA e JOÃO ROCKETT

Todos os direitos reservados.


Material exclusivo do Workshop Tati e João Rockett ensinam Viver no Campo
Citação e referência permitidas citando-se a fonte.
Editora Rama Permacultura
www.ipep.org.br | www.rama.org.br
instagram: @rama.permacultura
DAR O PRIMEIRO PASSO
Decisão é fundamental para qualquer coisa na vida. Muitos dos que pensam em mudar de cidade, ir para o campo, mudar de
emprego ou qualquer coisa em suas vidas, sentem insegurança e não dão passos rumo à mudança. A dúvida é um grande problema
quando permanecemos nela, questionar, avaliar e tomar algum rumo é positivo, mas demorar na dúvida é extremamente danoso.
Quanto mais parado na dúvida, mais o problema aumenta, pois quando estamos diante de uma escolha temos muita energia, a
energia que precisamos para fazer algo ou escolher um caminho, se não encaminhamos nossa energia ela sai por qualquer lado e de
qualquer jeito, e se o processo se repete maus hábitos se consolidam.
Energia é potencial de trabalho, quando não é conduzida para uma escolha consciente ela sai por escapes, para aliviar a
tensão e desopilar. Mas nem sempre trazem resultados reais e transformações, aliviam a pressão por um tempo, mas não resolvem e
ainda criam dívidas para o futuro, pois permanecer na dúvida e não decidir é procrastinar.
Para sair da dúvida, da insegurança e da procrastinação, basta um pequeno passo. Um pequeno movimento desencadeia
muitoas processos, e cada vez ^ica mais fácil chegar num outro ponto. Se o ponto que você deseja chegar é Viver no Campo comece
buscando informação e fazendo algo na prática. Quando você está caminhando, e lembra de olhar para trás, vai ver que, de passo em
passo, você percorreu longa distância e que o tempo passou. Seu caminho te levou onde queria chegar?
Por isso que a busca por viver no campo, começa com uma verdadeira investigação pessoal. É necessário saber quais as suas
habilidades, vontades, vocações e das pessoas que vivem com você, por um lado, e por outro buscar informações sobre o ambiente e
sobre as formas que se pode viver, e viver bem, no campo. Tudo começa com seu projeto pessoal e com as informações sobre as
ferramentas disponíveis, que é exatamente o que a Permacultura oferece, uma plataforma de conceitos e técnicas para criar sua vida
no campo trabalhando a favor da natureza, e não contra.

"A $iloso$ia da permacultura é trabalhar com, e não contra a natureza, de


observação prolongada e pensativa ao invés da contínua ação irre$letida; de
olhar para os sistemas em todas as suas funções em vez de exigir somente o
desempenho; e de permitir que os sistemas demonstrem sua própria evolução."
Bill Mollison (1928-2016) criador da Permacultura
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Existem muitas visões restritas sobre viver no campo, alguns só vêem possibilidades no agronegócio de commodities da
monocultura com veneno, outros vêem a vida no campo como lugar para ^icar trabalhando sem parar e nunca ter rendimentos
su^icientes. Nossa experiência, e a de muitos outros, provam que existem muitas alternativas aos esteriótipos difundidos e praticados,
que cristalizaram-se nas mentes impedindo uma visão mais real das possibilidades, e impedindo também a criatividade e liberdade
que o campo verdadeiramente oferece.
Muitos dos que já vivem no campo, organizam e desenvolvem suas atividades dentro de conceitos e práticas altamente
limitantes, por isso temos feito consultorias por mais de 20 anos, em diferentes unidades rurais: familiares, patronais, em reservas,
em sítios, fazendas e em ecovilas, otimizando e tranformando as condições já existentes no campo, implementando negócios rurais e
concatenando cadeias de produção, mudando tudo para melhor através da aplicação de conceitos e técnicas desenvolvidas nesse
tempo de trabalho e ferramentas fundamentais da Permacultura, vamos compartilhar algumas delas nesse workshop, aplicadas em
diferentes situações e biomas.
Aqueles que ainda não vivem no campo, mas que querem viver, são pessoas que podem ressigni^icar a vida no campo,
trazendo força produtiva e ideias novas. Por isso nos animamos de fazer esse workshop: oferecendo dicas, apontando caminhos e
encorajando passos, porque sabemos que a transição da cidade para o campo é possível para todos que se informam, esforçam e
persistem. Qualidade de vida elementar, ou seja, aquela feita das coisas essenciais e simples como ar, água e alimento limpos,
equilíbrio entre trabalho e descanso, espaço e lugar para sair ao Sol, vida que promove saúde, são fundamentais para todos.
Não é necessário ser agrônomo, técnico agrícola ou engenheiro ^lorestal, nem ser Permacultor ou ter qualquer formação
especí^ica, para viver no campo, se você estiver disposto a aprender, a entender processos naturais e conhecer técnicas que
constróem paisagens em harmonia com a natureza é possível estabelecer uma unidade rural, que funciona como um organismo
saudável. As ferramentas se aplicam aos diferentes projetos porque estão fundamentadas nas leis naturais e, tendo sido aplicadas
com sucesso repetidas vezes em diferentes lugares do mundo, mostram que é mais que possível produzir, rentabilizar, regenerar e
melhorar condições naturais e cultivadas.
Além das técnicas e ferramentas práticas, Viver no Campo é participar da unidade da vida. A técnica não é a essência da
técnica, ou seja, não é a intensão por detrás dela, que descreve os objetivos da técnica, mas é a ponte que permite realizar esses
objetivos. Portanto precisamos tanto dos conceitos como das técnicas, assim como precisammos do nosso pensar e do nosso fazer.
Essa é a essencia do curso Viver no Campo e da Permacultura da Escola Rama e do Instituto de Permacultura da Pampa: unir aspectos
fundamentais para criar e sustentar as paisagens das quais dependemos.

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QUATRO DICAS
Nessa primeira aula trouxemos 4 considerações sobre a atitude pessoal e sobre o terreno. No ^im tudo se trata de
harmonizar nosso projeto de vida no campo com as possibilidades do terreno, portanto precisamos entender os dois.

1. QUAL É O SEU TERRENO? Como decidir? Nada pode paralizar mais que o medo, a dúvida e a insegurança. Todos eles
nos fazem permanecer na dúvida. Observar é fazer ciência e é sobrevivência, não podemos sobreviver, muito menos viver e aprender,
com dúvida. Para decidir, informação ajuda muito. Portanto se você tem um terreno relacione-se mais com ele, observando com
liberdade. Se você não tem terra, mas realmente quer viver mais perto da natureza, simplesmente comece passar mais tempo fora da
cidade, visitando lugares onde gostaria de viver, com maior frequencia. Dentre tantas situações e possibilidades, falamos sobre
arrendar uma terra, criar estruturas leves, rentabilizar e depois adquirir terra, isso permite que você escolha melhor e que possa ir
para o campo mesmo sem ter muito dinheiro. Os arrendamentos podem ser de longo prazo, e exite também a opção de comodato,
grandes fazendas começaram em sistemas de comodato. O importante é lançar-se à experiência, como voluntário, alugando,
arrendando, comprando, conforme o seu caso e a sua aptidão de paisagem, ou seja, sua a^inidade pessoal com cada lugar. Cada
paisagem exige uma técnica e um conceito, conforme o solo, relevo, posição solar, bioma entre tantas características, por isso a
Permacultura é tão ampla e cheia de possibilidades, pois tendo aprendito com tantos povos, capazes de viver dos pólos gelados aos
áridos desertos, e unindo esses conhecimentos aos conhecimentos atuais é um verdadeiro elo forte entre passado e presente capaz
de crias os futuros que desejamos.
a. que tipo de lugar te atrai mais?
b. qual seu principal talento?
c. porque estou buscando viver no campo?

“Não é sinal de saúde estar bem ajustado à uma


sociedade profundamente doente.”
Krishnamurti
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2. ACESSO signi^ica aproximação, entrada. O acesso ao terreno e a distância que ele está dos lugares que você mais
frequenta é fundamental para a vida no campo funcionar. Imaginemos duas situações opostas: poder fechar a porteira e nunca sair
do sítio, ou ter que ir várias vezes por dia até algum lugar fora do seu terreno. No primeiro caso você precisa ser realmente
autossu^iciente, provendo todas as suas necessidades no lugar, no outro caso você usa apoios externos com maior frequência, ou faz
parte de uma rede de comércio e troca que precisa atender com intensidade, existem, entre esses dois extremos, graduações de
frequência de entrada e saída do terreno. Se seu terreno ^ica distânte 10 quilômetros da cidade e você precisa levar e buscar seu ^ilho
na escola, por exemplo, isso signi^ica 40 quilômetros de deslocamento diários. O deslocamento exige gasto de tempo, combustível e
veículo. Se você é produtor e sai com produtos com frequência, qual a frequencia? E qual a distância percorrida? Além da distância e
da frequencia, como é a estrada? Lama constante, muito seca e cheia de poeira, cheia de buracos, um rio corta a estrada? Esses
aspectos não só devem ser contabilizados no seu orçamento, como podem ser fatores determinantes na escolha do terreno e na
determinação da produção agrícola. Produtos perecíveis podem não resistir ao tipo de acesso que você tem, o que torna o comércio
oneroso. Considere o acesso, antes de comprar e na hora de implantar seus sistemas agrícolas.
a. descreva a frequencia de acesso ao terreno, mesmo que esteja na cidade, imagine como seria sua atividade de entrada e
saída do sítio, lembrando que no começo essa frequencia é maior, pois você está estabelecendo e implementando.
b. quais atividades externas quer eliminar?
c. quais atividades pretende ter na área e qual a exigência de acesso que elas pedem?

3. LOCALIZAÇÃO, seu terreno está inserido em um contexto, por mais que cuidemos da nossa parte, tudo está conectado e
tudo afeta tudo, em maior ou menor proporção. Observe o entorno do seu terreno, veri^ique como são os terrenos ao redor e quais
suas atividades, veja qual a proximidade de indústrias, ou de produções agrícolas de animais ou de lavouras que usam veneno. Antes
de comprar e empreender, veri^ique se está em área de expanção agrícola ou urbana, se existem restrições ambientais, como áreas de
reservas e preservação. Lembre que viver no campo com sucesso é a combinação harmoniosa entre suas aspirações e projeto e as
vocações, potencialidades e características da paisagem, terreno ou sítio.
a. visite o terreno em diferentes dias da semana, horários do dia e épocas do ano
b. converse com os vizinhos
c. circule pelas redondezas "O primeiro passo para chegar a algum lugar é
decidir que você não vai $icar onde está."
J.P. Morgan
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4. ESTRUTURA quais estruturas você precisa para dar o primeiro passo? Sempre aconselhamos começar com estruturas
que dêem suporte às decisões e resolvam dúvidas: informação é a primeira delas. Você pode ler aprender, fazer cursos e ir dando
passos para aplicar o que vai conhecendo sem comprometer totalmente seu orçamento, avançando conforme seu diálogo com o
terreno se estreita e conforme veri^ica as informações. Implemente aos poucos para ver o que realmente quer fazer, animais, por
exemplo, exigem dedicação, se quer ter animais domésticos lembre que eles precisam de atenção e cuidados, se quer ter plantas e
lavouras, a dedicação e necessidade de trabalho é maior nas de ciclos mais curtos e menos nas de ciclos mais longos da horta à
^loresta decrescendo em intensidade de trabalho e cuidado. Informação não aplicada é como água parada, se acumula desgastando
ou apodrecendo. Por isso a segunda estrutura é criar sistemas de aproximação e teste: faça algo na prática. Aplique alguma das
informações, pode ser construir uma pequena casa, cabana ou comece acampar no terreno. Faça algo no campo, seja ele seu, seja
como voluntário ou na terra arrendada, uma pequena horta, um plantio urbano. Mas á aprendendo e já vivendo no campo na
proporção e estrutura que tem agora. Com o tempo as estruturas tornam-se mais robustas, mais estáveis e prósperas, visualize a
meta, mas mova-se na direção dela mesmo que não tenha ainda todos os recursos ou que a situação não seja a ideal, pois as
capacidades se desenvolvem e oportunidades se apresentam conforme você se movimenta. Tudo vai ^icando mais claro com a
informação, e sua aplicação em alguma escala, faça o que pode
a. descreva suas necessidades atuais.
b. liste como poderia atender essas necessidades com estruturas leves.
c. faça agora o que pode fazer, onde estiver: estude e planeje, dê um passo na prática, mesmo que pequeno.

“Ação nem sempre traz felicidade, mas não há felicidade sem ação.”
William James
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www.ipep.org.br
www.rama.org.br
@rama.permacultura

TATIANA CAVAÇANA é designer e projetista industrial


(1999), permacultora (2010) e engenheira agrônoma com
especialização em agricultura biodinâmica (2017). Dirige o Instituto
de Permacultura da Pampa - IPEP, é escritora, consultora em
Permacultura, planejamento, sensibilização e educação ambiental.
Fundadora da Cia. Stromboli de teatro de animação (1996-2011), da
Escola Rama Permacultura de educação ambiental (2011) e do projeto
Materama Design de fotogra^ia e fenomenologia (2012).
www.materama.com.br.

JOÃO ROCKETT fundador e diretor do Instituto de


Permacultura da Pampa - IPEP, é produtor de sementes desde 1983.
Criou a BioNatur para resgate e produção de sementes agroecológicas
(1996), atua como permacultor diplomado por Bill Mollison desde
1998. Liderou diversos projetos de recuperação de áreas degradadas e
re^lorestamentos, capacitou centenas de agricultores e permacultores
no Brasil e no exterior. É consultor e instrutor em agroecologia,
Permacultura, manejo de resíduos sólidos, água e bioconstrução.
Dedica-se especialmente à produção agroecológica de sementes, de
grãos e de hortaliças, e ao trabalho com cavalos.

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2020 ipep 20 anos!

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aula 2
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AGUA

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Água, mais que um bem natural básico, é fonte de vida tão elementar. Mesmo assim, com toda nossa ciência e tecnologia,
ainda não lidamos bem com a água. Temos problema de falta de água tanto no campo como na cidade, temos problemas com
alagamentos, temos problemas de saneamento, temos poços, nascente e lencóis freáticos contaminados. A prova de que precisamos
aprender ou reaprender a Viver no Campo, é a forma como lidamos com a água. Em 2019 a humanidade comemorou 50 anos da
chegada do ser humano à Lua, mas ainda não podemos comemorar por termos as fontes de água limpas e disponíveis.
Água é básico para organizar sua vida no campo. Antes que realizar qualquer empreendimento, construção ou plantio, é
necessário organizar a água. Água é vital, é essencial, e água é sobre ]luxos, pois, entra e sai constantemente dos reservatórios e de
diferentes condições e estados na natureza. No terreno e na casa no campo, temos que organizar a entrada e a saída da água.
Diferente da cidade, onde existem redes de abastecimento e tratamento, no campo você é o prefeito da área, portanto, responsável
por organizar as fontes disponíveis (rios, poços, nascentes, água da chuva) e o estado de cevoloção dessa água para o ambiente.
É importante veri]icar quais são as fontes de água existentes, qual seu volume e vazão, é importante estimar o consumo.
Também é importante descrever qual vai ser o uso da água, quanto de água potável é necessária, quando para uso doméstico, para
irrigação, manutenção de sistemas com animais, lavagem e processamento de produtos.
Existem diversos tipos de águas e diversos tipos de contaminação, portanto os primeiros passos são:
1. listar as fontes de água do terreno, antes de comprar e se já tem o terreno, para decidir o uso.
2. analisar a água, qual a qualidade dela e quais os contaminantes.
3. medir vazão para saber a disponibilidade hídrica e possibilidade de gerar energia ou movimentar máquinas.
4. medir seu consumo de água doméstico e estimar o necessário para os sistemas agrícolas.

“A Defensora dos Ciclos, que sustenta toda a Vida, é a água. Em cada gota de água,
a Divindade a quem todos servimos; nessa gota, também habita a Vida, a Alma da
"Primeira" substância. Água cujos limites e margens são os capilares que a guiam
e nas quais ela própria circula. Mais energia está encapsulada em cada gota de
água de uma boa nascente do que em uma estação de energia…”
Viktor Schauberger."
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Lago com capacidade para 600.000 litros de água, coleta a água dos telhados e do escorrimento sobre o solo - Pará - Brasil

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Água tem uma relação direta com super]ície. Ela se adapta às super]ícies e ao mesmo tempo transforma essas super]ícies,
ao mesmo tempo que se conforma a um copo, jarro, calha ou cisterna, ela arredonda tudo que toca. É fundamental compreender essa
natureza intrínseca da água. Essa informação é relevante no cálculo de sistemas de irrigação, nos trabalhos de manejo de rios, para
puri]icar água, para construir cisternas, tanques, entre muitos outros elementos necessários para captar, conduzir, armazenar, usar e
tratar água. É por isso que podemos captar água, com as super]ícies, seja um telhado, seja o solo.
Um milímetro de chuva em um metro quadrado de telhado é igual a um litro de água. Essa é a conta para estimar a
capacidade de captação de água da chuva, conforme o índice pluviométrico de cada lugar. Em lugares áridos, ou com abundância de
chuvas em um período e escassez em outros, é fundamental coletar e armazenar água de chuva quanto ela está disponível, tanto água
dos telhados e super]ícies condutoras, como paredes e lajes de pedra, guardando-a em cisternas, como plantar e armazenar água no
solo, através de canais ou bacias de in]iltração.
Depois de captar, armazenar e usar, normalmente, dispensamos a água como se dalí para frente não fosse mais problema
nosso. É esse pensamento que permite que contaminemos a água, nas nossas casas, indústrias e na agricultura, usamos e "fogamos
fora”, porém não existe jogar fora num planeta redondo com força de gravidade atuante, nada sai estratosfera à fora contaminando o
espaço, mas ]ica aqui mesmo e retorna cedo ou tarde. Portanto é necessário devolver a água e não jogar fora. Assim como quando
alguém nos empresta um objeto, não podemos devolvê-lo estragado; não se trata apenas de usar a água, mas também de devolvê-la
em condições de ser reutilizada em outro lugar ou processo, seja dentro da sua unidade agrícola, seja fora dela.
Altos custos de saúde pública ainda decorrem de contaminações originadas de água sem tratamento. Hoje diversos
compostos de remédios, produtos de maquiagem, cafeína, entre outras substâncias, não são removidos pelo tipo de tratamento mais
comum nas cidades. Precisamos atentar para o que jogamos na água e como “jogamos" essa água no ambiente.
Vivendo no campo existem diversas formas de tratar a água, antes de mais nada é importante ver o tipo de água e quais os
elementos que precisamos remediar nela. Chamamos de águas servidas aquelas águas que foram utilizadas em sistemas domésticos
ou industriais. No campo, a menos que você tenha algum tipo de atividade agroindustrial que gere contaminação, elas são
principalmente de dois tipos: água cinza, e água de esgoto. As águas cinzas são as águas do banho, das pias de cozinha, banheiro e
lavanderia, da lavagem doméstica. As águas de esgoto são as que contêm dejetos humanos ou de animais. Cada uma delas tem um
tipo de tratamento diferente, assim como para tratamento de águas com metais pesados são necessários processos especí]icos, mas
que utilizam a lógica de trabalhar a favor da natureza, utilizando, plantas e processos bioquímicos no processo de ]iltragem e retirada
dos metais.
"Água é matéria e matriz da vida, mãe e médium. Não há vida sem água.” Albert Szent-Gyorgyi
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Bordas de galhadas feitas por João Rockett para manejar água no solo, usadas na recuperação e re]lorestamento do Instituto Terra - Brasil
Canais de in]iltração para manejo hídrico e recuperação de nascentes no Vale do Jequitinhonha - Brasil
Criando canais de in]iltração na escola agrícola para plantar água - Brasil

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Tanques para tratamento de águas cinzas com zona de raíz - Salto - Uruguai
Filtros de areia, carvão e plantas para tratamento de água cinza - Uruguai
SANEAMENTO
1. CÍRCULO DE BANANEIRAS OU PALMEIRAS: serve para tratar águas cinzas, nunca jogue o esgoto diretamente no solo,
seja com banheiros externos, seja com sumidouros, ou fossas sépticas, que não são sépticas, pois não tratam água, elas simplesmente
jogam os dejetos em partes mais profundas do solo aumentando a chance de contaminar águas subterrâneas como as águas dos
poços.
2. FILTRO DE ZONA DE RAÍZ: também serve para tratar águas cinzas, é um sistema de passagem que utiliza plantas de
banhado para ]iltrar a água, também são feitas camadas de areias em diferentes gramaturas e de carvão, para dar polimento à água.
Sistemas de ]lowforms, podem ser colocados no ]inal do ]iltro para sanear, dinamizar e para auxiliar no restabelecimento da tensão
super]icial da água.
3. VALA OU BACIA DE EVAPOTRANSPIRAÇÃO: é como um grande vaso, isolado por uma lona grossa que não deixa a água
contaminada tocar o solo. Esse contenedor recebe tanto águas cinzas quanto água de esgoto, o processo de vida do solo e as plantas
fazem o saneamento da água, contendo e transformando contaminantes, a água evapora pelo solo e transpira pelas plantas, sem
liberar odores no ambiente, pois os contaminantes estão retidos e sendo transformados no solo, é um sistema que se integra na
paisagem, podem ser usadas plantas de médio porte e é um excelente espaço produtivo também.
4. FOSSA BIODIGESTORA: é um sistema de tratamento de esgoto com uso de microorganismos e bactérias, que consomem
patógenos saneando a água. A primeira caixa é um separador de sólidos e líquidos, a segunda caixa é uma área com uma grande e
quantidade de super]ície, cheiade cacos de telhas ou tijolos perfurados, que criam super]icie e espaços onde alojam-se colônias de
bactérias que consomem os coliformes fecais.
5. BIODIGESTOR: embora pouco difundido no Brasil é uma base de produção de energia de gás metano na China, na Suíça
entre outros países. O Biodigestor é considerado um sistema elegante na Permacultura, pois desempenha várias funções:
saneamento de água, principalmente esgoto, pois têm fases aeróbia, anaeróbia, ácida e alcalina, criando situações críticas para os
patógenos, também promove geração de gás, produção de biofertilizante e redução de matéria orgânica.

"Milhares viveram sem amor, nenhum sem água." W. H. Auden


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Vala de evapotranspiração com bananeiras - amazônia paraense - Brasil
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TATIANA CAVAÇANA é designer e projetista industrial


(1999), permacultora (2010) e engenheira agrônoma com
especialização em agricultura biodinâmica (2017). Dirige o Instituto
de Permacultura da Pampa - IPEP, é escritora, consultora em
Permacultura, planejamento, sensibilização e educação ambiental.
Fundadora da Cia. Stromboli de teatro de animação (1996-2011), da
Escola Rama Permacultura de educação ambiental (2011) e do projeto
Materama Design de fotogra]ia e fenomenologia (2012).
www.materama.com.br.

JOÃO ROCKETT fundador e diretor do Instituto de


Permacultura da Pampa - IPEP, é produtor de sementes desde 1983.
Criou a BioNatur para resgate e produção de sementes agroecológicas
(1996), atua como permacultor diplomado por Bill Mollison desde
1998. Liderou diversos projetos de recuperação de áreas degradadas e
re]lorestamentos, capacitou centenas de agricultores e permacultores
no Brasil e no exterior. É consultor e instrutor em agroecologia,
Permacultura, manejo de resíduos sólidos, água e bioconstrução.
Dedica-se especialmente à produção agroecológica de sementes, de
grãos e de hortaliças, e ao trabalho com cavalos.

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