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Sufo Bacar

Reaproveitamento dos Resíduos Orgânicos para a Geração de Biogás Através de


Estéricos Bovinos.

Universidade Rovuma

Montepuez

2022
1

Sufo Bacar

Reaproveitamento dos Resíduos Orgânicos para a Geração de Biogás Através de


Estéricos Bovinos.
Licenciatura em Ensino de Química Com Habilidades em Gestão Laboratorial

Monografia científica que vai ser apresentada ao


Departamento de Ciências, Tecnologia,
Engenharia e Matemática, curso de Química na
Extensão de Cabo Delgado, para obtenção do
grau de Licenciatura em Ensino de Química
com Habilitações em Gestão de Laboratório.

Supervisor:

Mestre Eduardo Priceiro

Universidade Rovuma
Montepuez
2022
2
ii

Índice

Lista de abreviaturas ou simbolos …………………………………………………………………………iv

Lista de figuras ........................................................................................................................................ v

Lista De Tabelas E Grafico .....................................................................................................................vi

Declaração.............................................................................................................................................vii

Agradecimentos ................................................................................................................................... viii

Dedicatória .............................................................................................................................................ix

Resumo ................................................................................................................................................... x

1.Introdução .......................................................................................................................................... 11

1.1. Delimitação do tema ....................................................................................................................... 11

1.2.Enquadramento do tema ................................................................................................................... 12

1.3. Problematização .............................................................................................................................. 12

1.4.Justificativa……………………………………………………………………………………………12

1.5. Hipóteses ........................................................................................................................................ 12

1.6. Questões científicas......................................................................................................................... 14

1.7. Objectivos ....................................................................................................................................... 14

1.7.1 objectivo geral .............................................................................................................................. 14

1.7.2 objectivos específicos .................................................................................................................... 14

Capitulo II: Fundamentação Teórica ...................................................................................................... 15

2. Fundamentação teórica....................................................................................................................... 15

2.1. A história do biogás ........................................................................................................................ 15

2.1.2. Biodigestão anaeróbia .................................................................................................................. 15

2.1.3. Formação do biogás ..................................................................................................................... 16

2.2. Propriedades físico-químicas ........................................................................................................... 22

2.3.Modelo indiano ................................................................................................................................ 25

2.3.1.Modelo chinês ............................................................................................................................... 26

2.4.Comparação entre os modelos chinês e indiano ................................................................................ 27

2.4.1.Modelo canadense ......................................................................................................................... 28


3iii

2.5. A produção de energia..................................................................................................................... 28

2.5.1.Uso do biogás em motores. ............................................................................................................ 30

2.5.2. O incentivo público. ..................................................................................................................... 31

2.6. Biomassa ........................................................................................................................................ 31

Capitulo III: Metodologia De Pesquisa ................................................................................................... 33

3.1.Tipo de pesquisa .............................................................................................................................. 33

3.2. Técnicas de colecta de dados ........................................................................................................... 33

3.3.Universo e amostra .......................................................................................................................... 34

3.4. Materiais e procedimentos ............................................................................................................... 34

3.4.2. Abastecimento dos biodigestores .................................................................................................. 35

Capitulo IV: Apresentação, Analise E Discussão Dos Resultados ........................................................... 40

4. Apresentação dos resultados............................................................................................................... 40

4.1. Resultados e discussão .................................................................................................................... 40

Conclusão .............................................................................................................................................. 44

Sugestões ............................................................................................................................................... 44

10. Referências bibliográficas ................................................................................................................ 45

Apendice ............................................................................................................................................... 48

Anexo .................................................................................................................................................... 50
iv
4

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS

CH4 – Metano
NO- Óxido de Nitrogénio
SO- Óxido de Enxofre
V - Volume
g - Gramas
kg - Quilograma
L– Litros
PVC – Policloreto de vinila
CO2 – Dióxido de Carbono
TRH – Tempo de retenção hidráulica
v5

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fluxograma do processo de digestão anaeróbia ……………………………………………….17

Figura 2: Biodigestor do tipo Indiano …………………………………………………………………….26

Figura 3: Biodigestor Modelo Chinês …………………………………………………………………….27

Figura 4: Curral de Bovinos na aldeia 25 de Setembro…………………………………………………...33

Figura 5: Materiais para Construção do biodigestor………………………………………………………35

Figura 6: Pesagem da câmara de pneu…………………………………………………………………….35

Figura 7: Entrada do biodigestor…………………………………………………………………………..36

Figura 8: Saída do Biogás…………………………………………. ……………………………………..36

Figura 9: Cámara de pneu conectado em uma das pontas de tee …………………………………………37

Figura 10: Biodigestor Montado…………………………………………………………………………..37

Figura 11: Biodigestor com biogás armazenado na câmara de pneu ……………………………………..39

Figura 12: Teste de Chama………………………………………………………………………………..42


6
vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Produção de biogás para diferentes tipos de substrato…………………………………………21

Tabela 2 - Composição típica do biogás …………………………………………………………………22

Tabela 3 - Comparação entre biogás e outros combustíveis ……………………………………………..23

Tabela 4 -Comparação entre os biodigestores chinês e indiano……………………………….................28

Tabela 5 - Materiais Para Construção Do Biodigestor ………………………………………...................34


7vii

DECLARAÇÃO

Declaro que esta monografia é o resultado da minha investigação individual e das orientações do
meu supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente
mencionados no texto e na bibliografia final deste trabalho. Declaro que este trabalho não foi
apresentado em nenhuma outra instituição para a obtenção de qualquer grau académico.

O Autor

------------------------------------------

(Sufo Bacar)
8Viii

AGRADECIMENTOS

A Deus, pelo dom da vida e porque acredito que para alcançar este patamar foi graças a ele. Ao
meu Supervisor, Mestre Eduardo Priceiro pelo apoio e disponibilidade para me orientar na
realização desta monografia e pelo carinho nos seus ensinamentos e, acima de tudo, pela
paciência durante todo o período do processo de ensino e aprendizagem. À minha família que
acompanhou durante o meu percurso académico, me incentivando e me dando suporte moral.

Aos docentes do curso de Licenciatura em ensino de Química, pelo apoio, atenção, paciência,
dedicação e acompanhamento durante o percurso dos 4 anos. Aos meus colegas de turma pelo
companheirismo, troca de experiências, compreensão, solidariedade e amizade durante o período
de formação na Universidade Rovuma extensão de Cabo delgado – Montepuez.
9
ix

DEDICATÓRIA

À minha irmã

Atija minha querida irmã, sua presença significou segurança e certeza de que não estou sozinho
nessa caminhada.
10
x

Resumo

O presente trabalho objectivou criar alternativas que devem ser usadas para o tratamento e reaproveitamento dos
resíduos orgânicos (dejectos de animais) na aldeia25 de Setembro, em que se verifica muita proliferação de matéria
orgânica (dejectos bovinos), provocando assim a poluição ambiental. Para isso construiu-se um biodigestor capaz de
tratar e reaproveitar resíduos. A operação do biodigestor consistiu em preparo do substracto onde colocou-se num
balde plástico cerca de 9 a 10 litros de estéricos de boi, adicionou-se água na mesma proporção e misturou-se bem
até ficar homogéneo e depois despejou-se aos poucos todo o substrato contido no balde e fechou-se para não
permitir a passagem de ar no interior do biodigestor, e, finalmente deixou-se o biodigestor exposto ao sol num
período de três semanas, nas instalações da universidade Rovuma extensão de Cabo delgado Montepuez. Passado
duas semanas após a exposição do biodigestor no sol, houve o início da geração de biogás, e para garantir o bom
funcionamento do biodigestor e a produção do biogás foi necessário observar algumas condições tais como:
alimentar o biodigestor com a matéria orgânica fresca na proporção de 1:1 num período de 2 em 2 dias. Agitar o
galão 3 vezes por semana, balançando manualmente, Adicionar água aquecida dentro do biodigestor, e por fim fez-
se o teste de chama que teve como objectivo identificar a presença do gás metano, em que deu um resultado
positivo, houve a presença do metano.

Palavras-Chave: Reaproveitamento, biodigestor, biogás, resíduo orgânico.

Abstract

The present work aimed to create alternatives that should be used for the treatment and reuse of organic waste
(animal waste) in the locality 25 de Setembro, a place where there is a lot of proliferation of organic material
(bovine waste), thus causing environmental pollution. . For this, a biodigester capable of treating and reusing waste
was built. The biodigestion operation consisted of preparing the substrate, where about 9 to 10 liters of ox manure
were placed in a plastic bucket, water was added in the same proportion and mixed well until homogeneous and then
gradually poured all over the substrate contained in the bucket and closed to prevent the passage of air inside the
digester and finally the digester was left exposed to the sun for a period of three weeks, in the premises of the
Rovuma university- extension of Cabo delgado Montepuez. Two weeks after exposing the digester to the sun, the
generation of biogas began, and to ensure the proper functioning of the digester and the production of biogas, it was
necessary to observe some conditions such as feeding the digester with fresh organic matter in the proportion of 1:1
in a period of 2 in 2 days. Shake the gallon 3 times a week, manually shaking, Add heated water inside the
biodigester, and finally the flame test was carried out, which aimed to identify the presence of methane gas, in which
it gave a positive result, there was the presence of methane.

Keywords: Reuse, biodigester, biogas, organic waste.


11

1.Introdução

O presente trabalho tem como tema, reaproveitamento dos resíduos orgânicos para a geração de
biogás através de estéricos bovinos. Um dos maiores problemas que esta ligado ao
desenvolvimento económico mundial está relacionado com a produção energética de cada país.
Tal dependência acontece devido ao uso de fontes de carbono fóssil, das quais 36%
correspondem ao petróleo; 23%, ao carvão, e 21%, ao gás natural que contribuem para a
poluição ambiental (Hernández, 2008). Por isso, é importante a produção de energias alternativas
para suprir a demanda energética das grandes nações e proporcionar a expansão dos países em
crescimento a partir de fontes provenientes da agricultura. (Vilela & Araújo, 2006: Paulillo et al.,
2006)
Existem hoje diversas alternativas tecnológicas de aproveitamento da biomassa para geração de
energia e formação do biogás, tecnicamente viáveis para a agricultura familiar. Uma das
alternativas que vem despertando grande interesse é a tecnologia de biodigestão anaeróbia de
resíduos dos animais, e particularmente de resíduos gerados com a criação animal, pela
implantação de biodigestores de implantação e operação, e redução da pressão sobre as matas
pelo consumo de lenha.

Os factores que afectam a geração de biogás são: a composição do resíduo, humidade, pH,
tamanho das partículas, idade do resíduo, temperatura, nutrientes, bactérias, compactação de
resíduos, dimensões do aterro (área e profundidade), operação do aterro e processamento de
resíduos variáveis. Neste contexto, a questão (problema) que orienta esta pesquisa é: que
alternativas devem ser usadas para o tratamento e reaproveitamento dos resíduos orgânicos
(dejectos de animais). Como objectivo principal pretende-se criar alternativas que devem ser
usadas para o tratamento e reaproveitamento dos resíduos orgânicos (dejectos de animais), e
como objectivos específicos visa construir um sistema biodigestor e através dela produzir o
biogás e por fim fazer teste de uma chama;
12

1.1. Delimitação do tema

O Presente trabalho decorreu no distrito de Montepuez, particularmente na aldeia 25 de


Setembro, no posto administrativo de Mapupulo, com o tema Reaproveitamento dos resíduos
orgânicos para geração de biogás através de estéricos bovinos, num período compreendido de
2021.

1.2.Enquadramento do tema
O presente trabalho, enquadrou-se no Departamento de Ciências, Tecnologia, Engenharia e
Matemática., curso de Química, e tem como linha de pesquisa Química, Meio Ambiente e
Educação Ambiental, que tem como a função Investigar os processos químico-físicos no Meio
Ambiente, dando ênfase aos ciclos e as inter-relações Matéria-energia-transporte-consumo-
equilíbrio.

1.3. Problematização

A poluição ambiental tem sido um dos factores muito preocupantes hoje em dia a nível mundial,
e é notória essa situação no nosso dia-a-dia.

No posto administrativo de Mapupulo, principalmente na aldeia 25 de Setembro, tem-se


verificado uns factores muito negativos na conservação de alguns resíduos orgânicos. Com o
aumento de curais de criação de bovinos, tem crescendo também a proliferação de dejectos de
animais principalmente de bois. Esses dejectos de animais são responsáveis por diversos
problemas, como a proliferação de moscas, roedores, vectores de doenças, poluição de rios,
emissão de Gases como CH4, NO, SO e outros.

E é bem sabido que a destinação inadequada de dejectos assim como outros resíduos orgânicos,
no meio rural é um problema sério para o meio ambiente e para as pessoas que vivem nas áreas
rurais. Os resíduos (dejectos) da propriedade rural, quando não tratados e dispostos
inadequadamente, podem causar prejuízos incalculáveis ao meio ambiente, sociedade e
economia, pois podem contaminar o ar, o solo e a água. O aproveitamento de restos de natureza
orgânica (animal e vegetal) é feito geralmente por meio de estrumeiras e câmaras de
fermentação.
13

Face a esses pronunciamentos, o pesquisador levanta a seguinte questão

 Que alternativas devem ser usadas para o tratamento e reaproveitamento dos resíduos
orgânicos (dejectos de animais) de modo a evitar a poluição do meio ambiente?

1.4. Justificativa
A escolha do tema em estudo tem essencialmente dois aspectos motivacionais, primeiro, o
aspecto da poluição ambiental que vem sendo um grande problema para a população a nível
global, segundo a questão de reaproveitar a matéria orgânica que produz essa poluição,
reduzindo assim a poluição de uma forma eficaz.

A produção de biogás é um meio para diminuir a poluição no planeta, pois assim podemos dar
um fim mais ecológico para os resíduos orgânicos, sendo um meio de combustível renovável
para automóveis ou até mesmo para servir de fertilizante em plantações. Os resíduos orgânicos,
que são mais encontrados em lixos, são grandes poluentes, emissores de gás metano (CH 4) e gás
carbónico (CO2) para a atmosfera, estes sendo provenientes da decomposição da matéria
orgânica que não teve um fim correcto, ou seja, que foi deixado a céu aberto para que tenha as
condições para que ocorra a fermentação da matéria e a emissão dos gases para a atmosfera.

Na sociedade, o estudo impactará positivamente visto que dará à população mais uma forma
custo zero no tratamento e reaproveitamento dos resíduos orgânicos.

No âmbito do ensino servirá como modelo de elaboração de trabalhos científicos ligados a gestão
e reaproveitamento dos resíduos orgânicos, diminuindo assim a poluição no planeta.

No âmbito científico irá desenvolver conhecimentos e habilidades sobre montagem dum sistema
capaz de tratar e reaproveitar os resíduos orgânicos, identificação do material necessário para a
sua montagem, teste de resíduos orgânicos através de aulas práticas no biodigestor.

Ainda irá motivar os estudantes para a aplicação de tecnologias que permitam um uso mais
racional dos resíduos orgânicos em geral e estéricos bovinos em particular;

Desenvolverá o espírito criativo e as aptidões científico-tecnológicas numa perspectiva de “saber


fazer” e de ciência aplicada permitindo a aplicação dos conhecimentos adquiridos em diversas
disciplinas.
14

1.5. Hipóteses

H0: Não existe nenhuma forma de tratamento e nem reaproveitamento dos resíduos orgânicos na
aldeia 25 de Setembro.

H1: Existe uma forma adoptada pela população para o tratamento e reaproveitamento dos
resíduos orgânicos.

1.6. Questões Científicas

 Como é que as comunidades fazem a gestão dos resíduos orgânicos (dejectos de animais)
na aldeia 25 de Setembro?

 Será que existe uma forma que é usada para tratar os resíduos orgânicos na aldeia 25 de
Setembro

1.7. Objectivos
1.7.1 Objectivo Geral
 Criar uma alternativa que deve ser usada para o tratamento e reaproveitamento dos
resíduos orgânicos (dejectos de animais);

1.7.2 Objectivos Específicos


 Construir um sistema biodigestor capaz de produzir um biogás a partir de resíduos
orgânicos.

 Produzir o biogás no sistema biodigestor.

 Testar o gás obtido através de uma chama;


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2. CAPITULO II: FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste capítulo são apresentados os aspectos inerentes ao tema, bem como os principais estudos
na área do trabalho, recorrendo diversas literaturas, tais como: livros, artigos científicos e
jornais, que serviram de suporte para dar sustento teórico ao tema.

2.1. A História do Biogás

O biogás foi descoberto, como “gás dos pântanos” em 1667 (Classen; et al., 1999), e, somente
um século depois, em 1776, Alessandro Volta reconheceu novamente a presença de metano no
gás dos pântanos. Já no século XIX, Ulysse Graynon, um aluno de Louis Pasteur, conseguiu
obter 100 litros de gás por m³ de matéria, ao realizar a fermentação anaeróbia de uma mistura de
estrume e água, a 35 °C (Nogueira, 1986). Pasteur apresentou os trabalhos do seu aluno à
Academia das Ciências em 1884 e considerou que esse gás poderia ser uma fonte de
aquecimento e iluminação.

Baseando se na explanação dos autores acima citados, é de afirmar que o biogás é uma
substância que existiu há décadas atrás, e que era antes de ser descoberto, porque era antes de se
efectuar a biodigestão para a possível comprovação da existência do gás metano nos pântanos.

Nas décadas de 50 e 60, Índia e China desenvolveram os seus próprios modelos de biodigestores
e começaram a utilizar mais intensamente o processo de biodigestão como fonte de energia
(Nogueira, 1986).

O primeiro relato da colecta de biogás proveniente de um processo de biodigestão anaeróbia é de


1895 na Inglaterra, numa estação de tratamento de efluentes municipais. Porém, somente em
1941, na Índia, apareceu o primeiro estudo de aproveitamento de biogás gerado através de
estrume e outros materiais numa pequena planta. Esse foi o início do desenvolvimento do
processo de biodigestão anaeróbica para tratamento de resíduos industriais, agrícolas e
municipais (Ross e Drake, 1996).

Biogás é o nome dado à mistura de gases, produzido por intermédio do processo fermentativo da
biomassa, tendo por constituinte energético o metano, além do gás carbónico e outros gases,
presentes em menor proporção, variável em função da composição do resíduo (Magalhães,
1986).
16

2.1.2. Biodigestão Anaeróbia

A biodigestão anaeróbia é um processo biológico, onde diferentes tipos de microorganismos, na


ausência de oxigénio, promovem a transformação de compostos orgânicos complexos
(carbohidratos, proteínas e lípidos) em produtos mais simples como metano e gás carbónico
(Nopharatana, et al., 2003).

Trata-se de um processo simples, que ocorre naturalmente com quase todos os compostos
orgânicos e é bastante utilizado no tratamento de dejectos orgânicos (estérico animal, resíduos
industriais etc.). Podem ser feitos pela digestão anaeróbica em biodigestores, onde o processo é
favorecido pela humidade e aquecimento provocados pela acção das bactérias acidogénicas e
metanogénicas (Aneel, 2010).

Em termos energéticos, o produto final é o biogás, composto essencialmente por metano (50% a
75%) e dióxido de carbono. O efluente gerado pelo processo pode ser usado como fertilizante
(Aneel, 2005).

A representação da biodigestão anaeróbica pode ser feita pela equação 1: (Kelleher et al., 2002).

Matéria Orgânica + H2 -------> CH4 + CO2 + Biomassa + NH3 + H2S + Calor (1)

De acordo com os autores acima citados e olhando aquilo que é a definição de biodigestão
anaeróbica, vale ressaltar que é um processo que ocorre num sistema fechado, e que muitas vezes
utiliza se para o tratamento de dejectos orgânicos.

2.1.3. Formação do Biogás

O biogás é uma mistura gasosa composta principalmente por dióxido de carbono (CO 2) e metano
(CH4). É produzido pela digestão anaeróbia, que é um processo fermentativo que tem a
finalidade de remover matéria orgânica, formar biogás e produzir biofertilizantes. Os
biofertilizantes são o que resta da biomassa após a fermentação. Ele apresenta teores de
nitrogénio (N), entre 1,5 e 2,0%, de fósforo (P), entre 1,0 e 1,5%, e de potássio (K), entre 0,5 e
1,0%, sendo um adubo orgânico com alta qualidade. (Deublein & Steinnhauser, 2008).
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A formação do metano ocorre de forma espontânea em ambientes isentos de ar, quando a


biomassa ou matéria orgânica cuja composição é feita por carbohidratos, lípidos, proteínas entre
outros nutrientes, ainda na presença de bactérias, se decompõem formando metano e impurezas.
Parte do dióxido de carbono produzido se liga à amónia, enquanto o enxofre fica como resíduo,
resultando em uma composição do biogás de CH4:CO2: 71%: 29%. idem

A formação do biogás a partir da biomassa resulta, em geral, da equação 2.

Estéricos bovino + H2O ––––––> CH4 + NH3 + H2S + CO2 (2)

O processo anaeróbico passa necessariamente por quatro fases a nível bacteriano sendo,
hidrólise, Fermentação ou acidogénese, acetogénese ou oxidação anaeróbica e metanogénese, na
qual a geração do biogás ocorre na última etapa do processo. Durante o processo de produção, é
indispensável que as reacções químicas ocorram de forma sinérgica, sendo que as fases 1-2 e 3-4
possuem uma relação íntima, logo as mesmas são organizadas em dois estágios, em que os níveis
de degradação devem ter o mesmo tamanho. (Deublein & Steinnhauser, 2008).

Na figura abaixo podemos ver o esquema da formaçao do biogas.

Matéria Orgânica
HIDRÓLISE
(Dejectos de Animais)
Formação de Subprodutos
(Aminoácidos, Açucares e
ácidos graxos)
FERMENTAÇÃO
Formação de Subprodutos
(amónia, Álcoois, Ácidos
gordos, Hidrogénio e CO2)
OXIDAÇÃO
ANAERÓBICA
Formação de Subprodutos
(Acido acético, hidrogénio e

FORMAÇÃO DE CO2)

METANO

BIOGÁS
18

Figura 1 - Fluxograma do processo de digestão anaeróbia (Fonte: Aquino e Chernicharo, 2005)

A Sua formação ocorre de forma espontânea em alguns ambientes na natureza, onde as


concentrações de oxigénio são baixas, como pântanos e lamas escuras, porém sua produção
também é possível a partir da fermentação de diversos resíduos orgânicos como estericos
animais, resíduos agrícolas, lixo urbano, efluentes industriais, entre outros. Podemos então
aproveitar essa mistura gasosa como combustível realizando a digestão anaeróbia em
biodigestores.

Este processo é influenciado por alguns parâmetros. Segundo Arruda et al. (2002), os parâmetros
importantes para a produção mais eficiente do biogás, são:

Hidrólise
Na hidrólise as ligações moleculares complexas como carbohidratos, proteínas e gorduras, são
quebradas por enzimas em um processo bioquímico, sendo libertadas por um grupo específico de
bactérias e dão origem aos compostos orgânicos simples (monómeros) como aminoácidos,
ácidos graxos e açúcares como mostrado na equação 3 e 4.

C12H22O11 + H2O ––––> C6H12O6 + C6H12O6 (3)

Sacarose Glicose Frutose

C4H6O3N2 – R1 – R2 + H2O ––––> C2H4O2N – R1 + C2H4O2N – R2 (4)

Di-peptídeo (Proteína). Aminoácido 1 Aminoácido 2

Acidogénese
Na acidogénese as substâncias resultantes da hidrólise são transformadas por bactérias
acidogénicas em ácido paranóico, ácido butanóico, ácido láctico e álcoois, assim como
hidrogénio e gás carbónico. A formação de produtos nesta fase também depende da quantidade
de hidrogénio dissolvido na mistura. Quando a concentração de hidrogénio é muito alta, esta
interfere negativamente na eficiência da acidogénese, o que causa o acúmulo de ácidos
orgânicos. Com isso, o pH da mistura é reduzido e o processo é afectado. (Pecora, 2006).
19

Nas equações a seguir, 5 e 6 destacam-se alguns exemplos das reacções na Acidogénese:

C₆H₁₂O₆ + 2H₂ ↔ 2CH₃CH₂COO- + 2H₂O + 2H₂ (5)

Glicose Propianato

C₆H₁₂O₆ ↔ CH₃CH₂CH₂COO- + 2CO₂ + H+ +2H₂ (6)

Glicose Butirato

Acetogénese

A acetogénese é a fase na qual os materiais resultantes da acidogénese são transformados em


ácido etanóico, hidrogénio e gás carbónico por bactérias acetogénicas. Essa é uma das fases mais
delicadas do processo, considerando que é necessário manter o equilíbrio para que a quantidade
de hidrogénio gerado seja consumida pelas bactérias arqueais responsáveis pela metanogénese.

Nas equações a seguir, 7 e 8 destacam-se alguns exemplos das reacções na Acetogénese:

CH₃CH₂COO⁻ + 3H₂O ↔ CH₃COO⁻ + H⁺ + HCO₃⁻ + 3H₂ (7)

Propianato Acetato

CH₃CH₂CH₂COO⁻ + 2H₂O ↔ 2CH₃COO⁻ + H+ + 2H₂ (8)

Butirato Acetato

Metanogénese

Durante a metanogénese na biodigestão anaeróbia, o ácido acéitico, o hidrogénio e dióxido de


carbono são finalmente convertidos em metano e gás carbónico através da acção de
microrganismos metanogénicas classificados no domínio das arqueas, conhecido como distinto
das bactérias devido a suas características genéticas.

As arqueas possuem características únicas e particulares que as permitem viver em ambientes


específicos onde são receptores de electrões como, por exemplo, oxigénio (O2) e Nitrato (NO3-)
20

são ausentes ou existentes em baixas concentrações. Desta forma, a metanogénese pode ser
considerada como sendo uma respiração anaeróbia onde o gás carbónico ou o grupo metil de
compostos C-1, ou carbono do grupo metil do acetato é o receptor de electrões. (Machado,
2016).

Exemplos:

CH₃COO⁻ + H₂O ↔ CH₄ + HCO₃⁻ (9)

CO₂ + 4H₂ ↔ CH₄ + 2H₂O (10)

a) Composição da matéria
Quanto maior a percentagem de material orgânico presente no resíduo, maior é o potencial de
geração de metano. Para a formação de biogás é necessário que exista uma relação entre 20:1 e
30:1, de carbono para nitrogênio. O excesso de nitrogênio pode levar a má produção de biogás,
com formação de compostos nitrogenados como a amônia (NH 3).

b) Teor de água
O teor de água deve estar ao redor de 90% do conteúdo total de biomassa, de acordo com a
origem da mesma. A diluição deve estar em torno de 1:1 e 1:2 de água para substracto. O
excesso de água pode atrapalhar a hidrólise, exigindo uma elevada carga de biomassa, e a falta
de água pode causar o entupimento da tubulação de carga do biodigestor.

c) pH
As bactérias envolvidas no processo são afectadas por alterações do pH no interior do
biodigestor. A média de valores está entre 6,0 e 8,0, tendo o pH 7,0 como ponto óptimo. Esses
valores são respeitados quando o processo acontece em condições normais.

d) Temperatura

As actividades enzimáticas das bactérias dependem da temperatura, e alterações bruscas causam


desequilíbrio nas culturas, principalmente nas bactérias formadoras de metano. Em torno de 10ºC
a actividade é muito reduzida e acima de 65ºC as enzimas são destruídas. Deve-se procurar
sempre manter a temperatura de 35 a 45 ºC, sendo esta a óptima temperatura para a biodigestão.
Para conter a variação da temperatura no interior do biodigestor, a maior parte do sistema se
21

encontra enterrado no solo, pois a variação de temperatura ali é muito menor do que na
atmosfera. A temperatura ideal, no entanto, dependerá do tipo de bactéria a ser utilizada, ou seja,
se forem termofílicas, mesofílicas ou psecrofílicas, além das condições locais.

e) Tempo de retenção

O tempo de retenção pode variar de reacção para reacção, porém normalmente leva de 30 a 45
dias para a formação do biogás. Entretanto, em algumas situações, na primeira semana de
retenção hidráulica, já é possível verificar a existência de biogás em menores proporções. Essa
variação é mais fácil de ser observada em biodigestores do tipo contínuo.

f) Concentração de sólidos voláteis

Quanto maior a concentração de sólidos voláteis da biomassa, maior será a produção de biogás,
já que são os que serão fermentados para produzir o biogás. Comastri Filho (1981) recomenda
pelo menos 120 g de sólidos voláteis por kg de matéria seca, sendo o teor de sólidos voláteis
presentes no estérico bovino variado entre 80 e 85%.

Portanto, vemos que podemos produzir biogás a partir de qualquer tipo de substrato orgânico,
desde que tenhamos as condições necessárias para o desenvolvimento das bactérias envolvidas
no processo. Porém, diferentes matérias orgânicas nos darão diferentes produções de biogás, o
que pode ser visto na tabela 1, abaixo

Tabela 1- Produção de biogás para diferentes tipos de substracto.

Espécie m 3 de biodigestor / kg de m 3 de biodigestor / 100 kg


estérico de estérico

Caprino/Ovino 0,040 – 0,061 4,0 – 6,1

Bovino de leite 0,040 – 0,049 4,0 – 4,9

Bovino de corte 0,040 4,0

Suinos 0,075 -0,089 7,5 – 8,9

Frangos de corte 0,090 9,0

Poederas 0,100 10,0


22

Codornas 0,49 4,9

Fonte: ( Lucas Júnior, 2005) e ( Quadros et al., 2007).

2.2. Propriedades Físico-Químicas

As propriedades do biogás dependem principalmente da concentração de metano presente. A


composição típica do biogás de estérico bovino é apresentada na tabela 2.

Tabela 2 - Composição típica do biogás.

Elemento Quantidade (%)

Metano ( CH4) 50 a 70

Dióxido de Carbono ( CO2) 30 a 40

Nitrogénio ( N) 0 a 10

Hidrogénio ( H ) 0a5

Oxigénio (O) 0a 1

Gás sulfídrico 0a1

Vapor de água 0,3

Fonte: (Walsh Jr. et al., 1998) e (Breton et al. ,1994).

Segundo Coldebela (2004), o uso do biogás como alternativa energética, com teor de metano
entre 50 e 80%, terá um poder calorífico entre 4,95 e 7,92 kWh/m3. Este factor deve-se
principalmente ao CH4, que puro e em condições normais de pressão e temperatura, pode obter
poder calorífico de aproximadamente 9,9 kWh/m³. A utilização dessa energia produzida pelo
biogás pode ser aproveitada para aquecimento, refrigeração, iluminação, cozimento, geradores de
energia eléctrica, misturadores de racção, entre outras utilidades.

Segunda a explanação referenciada acima conclui-se que a quantidade do teor do metano do


biogás produzido, interfere no poder calorífico, isto é, quanto maior teor do metano produzido
num biogás maior será o poder calorífico do biogás.
23

A tabela 3 abaixo mostra a equivalência energética entre 1 m³ de biogás comparado a outros


combustíveis. Podemos notar que o biogás equivale a menos de 1 litro dos derivados de
petróleo, porém a mais de 1 kg de lenha.

Tabela 3 - Comparação entre biogás e outros combustíveis.

Combustivel Quantidade equivalente

Gasolina 0,61 L

Querosene 0,57 L

Oleo diesel 0,55 L

Gas Liquefeito 0,45 kg

Etanol 0,79 L

Lenha 1,538 kg

Energia eletrica 1,428 kwh


Fonte: ( Deganutti et al., 2002).

2.3. Biodigestor

Biodigestores são compartimentos fechados, com seu interior protegido do contacto com o ar
atmosférico, para que toda biomassa contida em seu interior, sofra o processo de fermentação
através da actividade de bactérias anaeróbicas. Os produtos finais da digestão anaeróbica dessa
biomassa serão o biogás e também o fertilizante. (Arruda, M. H, et al., 2002)

Existem diversos tipos de biodigestores, cada um com suas vantagens e desvantagens e


características próprias de operação. A escolha de qual modelo utilizar depende das condições
locais, o tipo de substracto utilizado e da relação custo versos benefício apresentado, porém
todos eles levarão aos mesmos produtos finais. idem

A seguir veremos os principais modelos utilizados actualmente e suas principais características.

Os biodigestores tipo batelada são um sistema simples de fácil operação. É necessária apenas
uma carga inicial para que possamos produzir biogás. Por sua produção não ser contínua,
geralmente é utilizado em propriedades onde exista sazonalidade na produção de biomassa,
24

como por exemplo granjas avícolas de corte, onde o estérico é removido quando ocorre a
limpeza do galão após a venda das áves. idem

2.3.1.Biodigestor Contínuo

Nos biodigestores do tipo contínuo, ao contrário do tipo batelada, a produção de biogás e


biofertilizante enquanto o mesmo for alimentado com substracto, nunca cessa. Esse tipo de
biodigestor é alimentado continuamente com um substracto que seja de fácil degradação e
disponível abundantemente no local através de ductos de alimentação, enquanto o biogás é
extraído por tubulação na parte superior e o biofertilizante é removido através de ductos de saída.
(Deganutti, R, et al., 2002).

Os biodigestores contínuos são divididos em horizontais e verticais, de acordo com seu


posicionamento no solo, sendo que esses dois ainda são subdivididos em outras classificações
quanto ao modelo.

Os biodigestores contínuos verticais são compostos de tanques cilíndricos de alvenaria, na


maioria das vezes com sua maior parte enterrada no solo. A alimentação desse tipo de
biodigestor é feita pela parte inferior, enquanto o biogás sai pela parte superior. Quando esse tipo
de biodigestor é utilizado, é necessária atenção para não contaminação de lençóis freáticos, visto
que eles apresentam certa profundidade escavada na terra. Idem

Os biodigestores contínuos horizontais têm sua altura menor que seu comprimento e largura,
podendo assumir quaisquer formas. Eles podem ou não estarem submersos, o que faz com que os
mesmos sejam recomendados em áreas onde existem lençóis freáticos, com baixos riscos de
contaminação. A alimentação de biomassa é realizada por um dos lados do biodigestor, enquanto
do outro lado retira-se o biofertilizante. (Deganutti, R, et al., 2002).

Me auxiliando no trecho acima, os biodigestores podem ser vários tipos, e cada tipo tem a sua
vantagem e desvantagens, por exemplo o biodigestor continuo ele a sua produção nunca cessa,
no biodigestor de modelo canadense a sua produção cessa, e depois para onde se faz um novo
abastecimento, podemos também encontrar biodigestores circulares e horizontais. Idem

Os modelos mais utilizados de biodigestores contínuos são o Indiano, o Chinês e o Canadense.


Esses três tipos de biodigestores serão apresentados a seguir.
25

2.3.2. Biodigestor Batelada

No sistema do tipo batelada, a matéria-prima é inserida no biodigestor fechado, totalmente sem


ar, para que seja realizada a fermentação anaeróbica do material. O gás inserido é armazenado
num gasómetro acoplado no próprio recipiente ou permanece no biorreactor servindo de
digestor. Após o término da produção de biogás, o biodigestor é aberto e os resíduos são
retirados. A seguir, é feita a limpeza do sistema e é inserida uma nova quantidade de substracto,
reiniciando o processo (Comastri Filho, 1981).

2.3.3.Modelo Indiano

No biodigestor do modelo Indiano, existe uma campânula flutuante como gasómetro, sendo que
ela pode estar inserida sobre a biomassa em fermentação ou em um selo de água externo, e uma
parede central que divide o tanque em duas câmaras, para que o material circule de maneira
homogénea por todo o seu interior.

O modelo Indiano possui pressão de operação constante, ou seja, à medida que o volume de gás
produzido não é consumido de imediato, o gasómetro tende a deslocar-se verticalmente,
aumentando o volume deste, portanto, mantém a pressão em seu interior constante (Deganutti et.
al., 2002).

Esse modelo de biodigestor apresenta fácil construção, porém o gasómetro de metal pode
encarecer o custo final e inviabilizar o projecto de instalação do mesmo.

O resíduo utilizado para alimentar o biodigestor Indiano, deve apresentar uma concentração de
ST (sólidos totais) não superior a 8%, para facilitar a circulação do resíduo pelo interior da
câmara de fermentação e evitar entupimentos dos canos de entrada e saída do material (Deganutti
et. al, 2002).
26

Figura 2: Biodigestor do tipo Indiano.Fonte: (Deganutti et al, 2002).

Segundo Souza (2009), os principais componente de um biodigestor Indiano são:


 Caixa de carga – local de diluição dos dejectos;
 Tubo de carga – conduz dejectos da caixa de carga para o interior do biodigestor;
 Câmara de biodigestão cilíndrica – local de ocorrência da fermentação anaeróbica com
produção de biogás;
 Gasômetro – local de armazenamento do gás produzido, formado por uma campânula/
campana que se movimenta verticalmente;
 Tubo guia – guia o gasômetro quando este se movimentar para cima e para baixo;
 Tubo de descarga – conduz para a saída o material fermentado sólido e líquido;
 Caneleta de descarga – local de recebimento do material fermentado sólido e líquido;
 Saída de biogás – dispositivo que permite a saída do biogás produzido para ser e
caminhado para os pontos de consumo.

2.3.4.Modelo Chinês

O biodigestor modelo chinês é formado por uma câmara cilíndrica em alvenaria para
fermentação, com tecto impermeável, destinado ao armazenamento do biogás. Este biodigestor
funciona com base no princípio de prensa hidráulica, de modo que aumentos de pressão em seu
interior, devido ao acúmulo de biogás, resultarão em deslocamentos do efluente da câmara de
fermentação para a caixa de saída, e em sentido contrário quando ocorre descompressão
(Benincasa et al., 1990).
27

Podemos ver um biodigestor modelo Chinês na figura 3:Fonte: (Benincasa et al., 1990).

Por dispensar a campânula de metal, sendo esse biodigestor construído quase que totalmente em
alvenaria, os custos relativos à construção desse modelo de biodigestor são menores, porém, se a
vedação da estrutura não for bem realizada, podem acontecer problemas de vazamento para a
atmosfera. Ibid.

Neste tipo de biodigestor, uma parcela de gás formado na caixa de saída é libertada para a
atmosfera, reduzindo parcialmente a pressão interna do gás.

Me sustentando nos parágrafos acima, os biodigestores modelo indiano e chinês são muito
sofisticados e com todos componentes sob controlo, nesses biodigestores é capaz saber qual é a
quantidade do biogás que se formou durante dois dias sem precisar colher e ir pesar, ele mesmo
apresenta um instrumento capaz de medir a quantidade do biogás produzido diariamente.
(Benincasa et al., 1990).

2.4.Comparação entre os modelos Chinês e Indiano

Segundo Lucas Júnior (1984), ao compararmos esses dois modelos de biodigestor, notamos que
ambos apresentam desempenho semelhante. Contudo, o modelo Indiano apresenta maior
eficiência na produção de biogás e redução de sólidos, em determinados experimentos. Esses
resultados podem ser vistos na tabela 4.
28

Tabela 4- Comparação entre os biodigestores chinês e indiano.

Parámetros Comparativos Biodigestor

Indiano Chinés

Redução de Sólidos (%) 37 38

Produção Média ( m3 dia -1 ) 2.7 3.0

Produção média (l.m-3 de substrato) 489 538


Fonte: ( Lucas Júnior ,1984).

2.4.1.Modelo Canadense

O biodigestor modelo Canadense, segundo Souza (2009), também é chamado de biodigestor de


fluxo tubular, apresenta uma tecnologia mais moderna, mesmo possuindo uma construção
simples, com uma câmara de biodigestão escavada no solo e um gasômetro inflável feito de
material plástico ou similar.

Esse biodigestor é do tipo horizontal, com uma caixa de entrada em alvenaria, onde a
profundidade é menor que a largura, para que o substracto tenha maior exposição ao sol a fim de
aumentar a produção de biogás e evitar o entupimento do ducto de entrada.

Durante a produção de biogás, a cúpula de material plástico maleável inflama, acumulando o


biogás. Nesse tipo de biodigestor, podemos ainda enviar o biogás para um gasómetro separado
para obtermos um maior controle. idem

Me sustentando com a ideia dos autores, esse tipo de biodigestor é o mais difundido no mundo,
sendo largamente utilizado em propriedades rurais e, esse biodigestor apresenta construção
bastante simples, porém possui menor durabilidade e está sujeito a acidentes, como no caso de
haver perfuração da lona plástica, com vazamento de gás.

2.5.A produção de energia.

O sistema de produção de biogás além de produzir a energia necessária para as actividades agro-
pecuárias pode produzir excedentes energéticos.

1 m³ de biogás equivale a 6,5 kWh. Segundo Condebella (2005),


determina-se que a eficiência de transformação de biogás em energia
29

eléctrica é dada pela razão entre a energia produzida pela equivalência


de 1m³ de biogás, ou seja: Eficiência (%) = (energia produzida kWh/m³
/ 6,5 kWh/m³) * 100. (Catapan, 2011).

A produção de energia através do biogás pode gerar lucros para o produtor. Dados obtidos no
artigo “Formas alternativas de geração de energia eléctrica a partir do biogás: uma abordagem do
custo de geração de energia” pode mostrar que, de Agosto de 2009 à Julho de 2010, em duas
granjas no estado do Paraná, os donos das mesmas poderiam receber uma média de R$
842.737,12 a partir da produção de biogás. No estudo estão apresentados os valores usados para
fazer o levantamento de valores de biogás produzido. (Catapan, 2011)

Segundo a Escola de Governo do Paraná (2009), o preço médio pago pela empresa por este tipo
de energia vária de R$ 134,21 á R$ 135,91 por kWh gerado. Este é o chamado potencial
económico da produção de biogás.

Em Santa Catarina, o Acordo de Empréstimo entre o Governo Brasileiro e o Banco Mundial, deu
início ao PNMA II (Programa Nacional do Meio Ambiente II) que está direccionado para o
aperfeiçoamento do processo de gestão ambiental no País.

No âmbito desse Programa, foram implantados, com sucesso, projectos ambientais na produção
de suínos. O Projecto Suinicultura Santa Catarina é um desses projectos. Esse Projecto promoveu
a instalação de dois biodigestores em propriedades produtoras de suínos, com a finalidade de
implantação de unidades demonstrativas. (Lima, 2007).

Durante o tempo de produção de biogás, nas esterqueiras seleccionadas pelo programa no em


Concórdia SC, foram levantados dados para que pudessem ser feitos cálculos de energia
produzida durante um mês. No mês de Julho de 2007 a produção média de biogás observada, em
m³/dia, foi de 52 (10).

Para ser feita a conversão da energia eléctrica normalmente é usado um motor conectado um
gerador, que transforma energia mecânica em eléctrica.

O sistema é composto de um grupo gerador com um motor 1800 CC,


movido a biogás e refrigerado por trocador de calor a água, com
rotação de 3.600 RPM, controlado por regulador electrónico micro
processado acoplado a um economizador assíncrono com potência de
30

30 kW, trifásico, sem escovas, dois pólos, 220 V, 60 Hz, com


capacidade para produzir 25 kVA de potência eléctrica. (Lima, 2007).

Estudos feitos para avaliar o potencial de produção de energia a partir do biogás produzido na
região meio oeste catarinense pelo PNMA II, concluiu que o consumo médio de energia nas
propriedades é de 600 a 1800 kWh/ mês e uma produção média de 50 m³/dia de biogás pode
gerar 2160 kWh/mês.

2.5.1.Uso do biogás em motores.

Quimicamente a produção do biogás se assemelha muito com a produção do gás natural obtido a
partir dos combustíveis fosseis. A partir daí é possível conseguir a matéria principal que é o
biogás e também fazer uso dos resíduos da decomposição, que são normalmente usados como
fertilizantes por ser um resíduo altamente nutritivo.

OlaFredriksson, engenheiro na Gryaab, a estação de tratamento de esgoto em Goteborg, diz que


a quantidade média anual de dejectos eliminados por cada pessoa nas descargas do vazo sanitário
cria biogás suficiente para que um automóvel rode 120 quilómetros.

Existem grandes montadoras hoje que seguem a ideia de produzir novos modelos de carros
movidos a biogás. Conforme relata BoRamberg, director-executivo da FordonGas, uma empresa
com sede em Goteborg que opera a maior rede de postos de abastecimento de biogás na
Escandinávia:

A ideia é que a quantidade de gás utilizada pelos veículos seja


compensada pelo gás produzido a partir de resíduos orgânicos. Nós
queremos certificar as emissões presentes no ciclo de vida inteiro do
biogás, da produção ao uso. Mas já acreditamos que o biogás seja o
melhor combustível para reduzir as emissões. (Kanter, 2008).

Aparentemente a ideia proposta pelas montadoras é muito boa, mas existem ainda reclamações
de outras montadoras que começaram a produzir os veículos movidos a biogás e não tiveram os
lucros esperados, ou então que tiveram muitas reclamações de seus consumidores. Em geral, os
motoristas reclamam da dificuldade de encontrar um posto de abastecimento para motores
movidos a biogás. As críticas a tais motores incluem também o facto de os carros comportarem
31

uma quantidade de gás suficiente para rodar poucas horas, duas, três horas no máximo.
Motoristas também reclamam que os primeiros modelos de motores movidos os biogás
apresentam mau desempenho em ladeiras, eram lentos em manhãs húmidas e os tanques
ocupavam muito espaço no porta-malas. (Kanter, 2008).

2.5.2. O incentivo público.

O biogás por ser considerado como uma forma alternativa de energia, sendo que, por vezes
ocorre sua produção para utilização doméstica. No meio rural é possível verificar que há
disponibilidade para a produção de tal fonte alternativa de energia.
No meio rural, as fontes renováveis alternativas de energia podem ser
utilizadas em comunidades rurais isoladas, com o objectivo de
melhorar as condições de vida destas populações. A implantação
depende da disponibilidade dos recursos energéticos existentes em cada
região. Em locais onde há disponibilidade de resíduos animais, os quais
não podem ser dispostos na natureza antes de passarem por um
processo de tratamento, ocorre a disponibilidade de biogás. (Pereira;
Pavan, 2004).

No Brasil existe o PROINFA (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia) que tem
base na lei nº 10.438/02, tendo como objectivo incentivar a produção de energia a partir de
produtores independentes ou autónomos. O programa faz incentivo às fontes de energia eólica,
pequenas centrais hidroeléctricas, e biomassa. O programa pode ser visto como uma
oportunidade para que a produção de energia eléctrica com o biogás como sua fonte primária,
possua cada vez mais adesão e assim venha participar em maior escala na matriz energética
nacional.

2.6. Biomassa

O termo biomassa é considerado como qualquer matéria orgânica que possa ser transformada em
algum tipo de energia. Compreendida também como matéria vegetal gerada pela fotossíntese e
seus diversos produtos e subprodutos derivados deste fenómeno, tais como as florestas, as
culturas e os resíduos agrícolas, os dejectos animais e a matéria orgânica que é contida nos
resíduos industriais e urbanos (Malico, 2010).
32

Uma das primeiras utilizações humanas da biomassa como fonte de energia teve início com a
utilização do fogo para cozimento e iluminação. A posse desse recurso natural trouxe ao homem
a possibilidade de exploração dos minérios, minerais e metais (Portal São Francisco, 2010).

De acordo com alguns autores, a biomassa pode ser classificada de acordo com as fontes de
obtenção, como, vegetais não lenhosos, vegetais lenhosos e resíduos orgânicos (Cortez et al.,
2008) ou de acordo com o aproveitamento (biomassa sólida, biocombustíveis gasosos e
biocombustíveis líquidos).

Me sustentando dos autores acima, a biomassa podemos encontrar quase em toda parte
principalmente nas nossas comunidades, isso porque a biomassa ela pode ser classificada por
várias formas de resíduos, podemos encontrar a biomassa em forma de lixos orgânicos, em forma
de plantas e em forma de vegetais não lenhosos.
33

CAPITULO III: METODOLOGIA DE PESQUISA

Neste capítulo são descritos as metodologias de investigação utilizada, indicando e descrevendo


com detalhe os métodos e os materiais, bem como os procedimentos adoptados para a recolha e
processamento de dados que nortearam na realização do presente trabalho.

3.1.Tipo de Pesquisa

Para a elaboração do presente trabalho usou-se a pesquisa bibliográfica, mediante a revisão da


literatura sobre o tema em destaque. Classificando a pesquisa quanto a abordagem, baseia-se na
pesquisa quantitativa, quanto aos procedimentos, experimental, e no que concerne as
investigações realizadas por meio da colecta de dados utilizou-se a pesquisa de campo.

3.2. Técnicas de Colecta de Dados

“Técnica de colecta de dados é o conjunto de preceitos ou processos que se servem nas ciências
na obtenção dos seus propósitos”.Lacatos e Marconi (1992:107).

Esta técnica permitiu a colecta e a escolha da matéria orgânica que foi utilizada para a obtenção
do biogás. É através desta técnica que se conseguiu ir até os curais para a recolha dos resíduos
orgânicos que por sua vez foram postas num sistema biodigestor para ocorrer a bidigestão e a
posterior gerar o biogás.

Figura 4: Curral de Bovinos na aldeia 25 de Setembro (Fonte: Autor 2021).


34

3.3.Universo e Amostra

Universo
Fizeram parte do universo ou população desta pesquisa curais de bovinos existentes na aldeia 25
de Setembro.

Amostra
Trabalhou se com uma amostra probabilística de 10 kg de estéricos bovinos escolhidas
aleatoriamente nos 3 curais, da aldeia 25 de Setembro, no distrito de Montepuez.

3.4. Materiais e Procedimentos


Materiais

O processo inicial de trabalho consistiu na construção de um biodigestor. Os materiais utilizados


na produção dos biodigestores foram adquiridos em lojas de materiais de construção. A seguir
uma listagem de materiais utilizados e a quantidade necessária para construção do biodigestor.

Tabela 5: Materiais para construção do Biodigestor

Ordem Materiais Quantidades


1 Galão de água de 25 litros vazio, para o Um
Biodigestor
2 Câmara de pneu vazia, para o armazenamento de Uma
biogás
3 Tubulação de plástico maleável de diâmetro (6 mm) Dois metros
4 Tampas de PVC de diámetro (6 mm) Duas
5 Válvula de gás de diámetro ¼ (6 mm) Uma
6 Areia Fina 0,5 kg
7 Sacola Plástica Uma
8 Fita Adesiva Um rolo
9 Balde de plástico de 20 litros Um
10 Funil de Plástico Um
11 Isqueiro Um
12 Vela Duas
35

Figura 5: Materiais para Construção do biodigestor (Fonte: Autor 2021).

3.4.2.Etapas da Construção
O primeiro passo foi a aquisição do material que serviu para a montagem do sistema biodigestor.

Depois de se adquirir o material fez se a pesagem da câmara de pneu.

Figura 6: Pesagem da câmara de pneus (Fonte: Autor 2021).

Depois seguiu-se para o processo da construção do sistema onde:

Com ajuda de uma faca fez-se duas aberturas no galão (Uma na parte superior e a outra na parte
lateral), a parte superior, serviu como a entrada da matéria orgânica e a parte lateral a saída do
biofertilizante.

Depois cortou-se dois pedaços do tubo de PVC de (20 mm), um pedaço encaixou-se na parte
superior que serviu como a entrada da matéria orgânica e o outro pedaço do tubo PVC na parte
lateral (saída do biofertilizante).

Os tubos não foram conectados na sua totalidade, isto é, uma parte dos tubos PVC ficaram por
fora do galão para permitir a entrada da matéria orgânica assim como a saída do biofertilizante.
36

Depois do encaixe dos tubos conectou-se tampas de PVC na extremidade dos tubos que estão por
fora do galão para não permitir a entrada e a saída do ar.

Figura 7: Entrada do biodigestor (Fonte: Autor 2021).

De seguida fez se uma outra abertura lateral no galão, essa abertura serviu para encaixar a
tubulação, que serviu para o transporte do biogás até a câmara (armazenamento). A fixação da
tubulação fez se através de uma cola e areia. Como ilustra a figura:

Figura 8: Saida do biogas (Fonte: Autor 2021).

Depois cortou se a ponta da tubulação e fez se um tee, em que uma das pontas do tee conectou-se
um pedacinho da tubulação que depois foi encaixada a câmara de pneu, e na outra extremidade
do tee conectou-se a válvula
37

Figura 9: Cámara de pneu conectado em uma das pontas de tee (Fonte: Autor 2021).

Depois fechou-se completamente o bico do galão com um pedaço de plástico e passou-se fita
adesiva ao redor para vedar a entrada de ar.

Deixou-se o biodigestor em um local seguro e exposto ao sol durante uma a três semanas, pois a
primeira produção de biogás é mais lenta

O biodigestor foi montado nas instalações da universidade Rovuma- extensão de Cabo Delgado
– Montepuez.

Figura 10: Biodigestor Montado (Fonte: Autor 2021).


38

3.4.3.Operação Do Biodigestor

Para iniciar a operação do biodigestor foi necessário primeiramente preparar o substracto. Neste
caso colocou-se num balde plástico cerca de 10 litros de estéricos de boi, adicionou-se água na
mesma proporção e misturou-se bem até ficar homogéneo.

Para o abastecimento no biodigestor, Retirou-se a tampa da tubulação de entrada do biodigestor e


com o auxílio do funil despejou-se aos poucos todo o substracto contido no balde e fechou-se
novamente a tubulação de entrada com a tampa PVC.

Passado duas semanas após a exposição do biodigestor no sol, houve o início da geração de
biogás, e para garantir o bom funcionamento do biodigestor e a produção do biogás foi
necessário observar algumas condições tais como:

Alimentar o biodigestor com a matéria orgânica fresca na proporção de 1:1 num período
de 2 em 2 dias.

Alimentado o biodigestor diariamente ou mesmo num período definido, permite manter a


produção do biogás constante, caso ao contrário a geração do biogás no sistema pode cessar.

Agitar o galão 3 vezes por semana, balançando manualmente;

Segundo alguns autores o biodigestor deve ser agitado pelo menos 2 vezes por semana,
balançando manualmente o galão. A agitação é importante para manter um contacto total e
permanente das bactérias com os dejectos, uniformizar a temperatura e as camadas que existem
dentro do biodigestor. A agitação também destrói microbolhas de gases formadas no interior da
mistura e que aprisionam as bactérias, impedindo sua actuação na degradação dos dejectos e
formação do biogás.

Adicionar água aquecida dentro do biodigestor,

A temperatura é um factor muito importante para o funcionamento do sistema. As bactérias que


actuam na primeira fase da biodigestão anaeróbica se desenvolvem em temperaturas de 20°C a
25°C, enquanto as bactérias que produzem o gás metano se multiplicam em temperaturas mais
elevadas, de 35°C.
39

Uma maneira simplificada e não onerosa de manter a temperatura elevada dentro do biodigestor
é a adição de água aquecida dentro do mesmo. Para isto, coloca-se água em um tambor, cubra-se
com uma lona preta ou outro material isolante termicamente e deixa-se no sol. No final do dia
utiliza-se esta água aquecida para realizar a mistura entre esterco e água para a alimentação do
biodigestor que poderá manter a temperatura elevada.

Depois de se observar todas as condições que garantiram o bom funcionamento do biodigestor, o


biogás foi armazenado na câmara de pneu, montada no próprio biodigestor como ilustra a figura
11:

Figura 11: Biodigestor com biogás armazenado na câmara de pneu (Fonte: Autor 2021).

3.4.4.Teste de Chama

Fez se o teste de chama que tinha como objectivo identificar a presença do gás metano, em que
consistiu na abertura da válvula do biodigestor e com uma vela acesa aproximou-se a válvula na
vela e começou a queimar o biogás
40

CAPITULO IV: APRESENTAÇÃO, ANALISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

4. Apresentação dos resultados


A pesquisa envolveu em análise sobre o reaproveitamento dos resíduos orgânicos para a geração
de biogás através de estéricos bovinos, numa amostra de 10 kg de estercos bovinos, através da
instalação de um sistema biodigestor que permitiu de uma forma eficaz a obter os dados
credíveis da pesquisa.

4.1. Resultados e Discussão

4.1.1. Produção do biogás


A quantidade do biogás produzido pelo biodigestor durante 21 dias foi de 0,195 gramas
determinados pela diferença da câmara de pneu vazia e a câmara de pneu contendo o biogás.

Como mostra o cálculo abaixo:

Cámara Vazia: 0,310 g Biogás = Câmara com biogás – Cámara Vazia


Cámara com biogás: 0,505 g Biogás = 0,505 g – 0,310 g
Biogás =? Biogás = 0,195 g

Durante 21 dias o biodigestor construído nas instalações da universidade Rovuma extensão de


Cabo-Delgado - Montepuez, produziu uma quantidade de 0,195 g de biogás com uma quantidade
de 10 kg de Estéricos bovinos.

É importante realçar que a produção de biogás pode variar durante os testes realizados com o
mesmo substrato. Essa variação deve-se ao inóculo, em que estão concentrados os
microrganismos que realizam a degradação real do substrato, apresentando capacidades distintas
para decompor o material. A temperatura de degradação e o tipo de pré-tratamento utilizado
também influenciam na geração de biogás.

Trabalhos realizados utilizando o sistema biodigestão anaeróbico, de Nascimento e Lucas Júnior


(1995). Encontraram a produção de biogás na biodigestão anaeróbia de estrume de suínos com
cinco tempos de retenção hidráulica, de 0,0863 m3.kg-1 para TRH de 50 dias, 0,1152 m3.kg-1 para
TRH de 30 dias, 0,1145 m3.kg-1 para TRH de 20 dias, 0,1152 m3.kg-1 para TRH de 15 dias,
0,0931 m3.kg-1 para TRH de 10 dias.
41

As várias experiências já realizadas na área de biodigestão anaeróbica indicam uma correlação


entre a produtividade do processo e a faixa de temperatura de operação. Sendo o processo
eminentemente biológico, os microrganismos participantes devem ser então adaptados ao meio.

Segundo Ahn e Forster (2002), os microorganismos termofílicos suportam melhor os efeitos da


variação de temperatura em relação aos microrganismos mesofílicos. Castro e Cortez (1998),
estudando a influência da temperatura no desempenho de biodigestores com esterico bovino,
concluíram que a faixa de temperatura mesofílica (de 30 °C a 40 °C) mostrou-se a mais
favorável, não só em relação à produção de biogás, como também em relação à eficiência na
degradação de sólidos do esterco bovino.

Souza (2001) avaliou a eficiência da digestão anaeróbica no tratamento de resíduos de suínos em


terminação, estudando as temperaturas de 25, 35 e 40ºC, sob efeito ou não de agitação, com
tempos de retenção hidráulica de 30, 25, 15 e 10 dias. Concluiu que o melhor desempenho geral
foi verificado na temperatura de 35 °C .

Souza et al. (2002), avaliando a partida de biodigestores de bancada, alimentados com dejectos
de suíno, submetidos a três temperaturas diferentes (25, 35 e 40 °C) e agitação do substracto,
concluíram que as temperaturas de 35 e 40 °C favoreceram a partida dos biodigestores, pois
resultaram em maior produção acumulada de biogás.

Gorgati e Lucas Júnior (1996) avaliando a fracção orgânica de lixo urbano como substracto para
biodigestor encontraram o início de produção efectiva de biogás aos 35 dias, constatando-se o
pico de produção aos 98 dias.

Massé e Masse (2001), estudando o efeito das temperaturas de 20° C, 25 °C e 30 °C no


tratamento de águas residuárias de abatedouro em biodigestor anaeróbio sequencial, concluíram
que a produção de metano decai quando o biodigestor é operado na temperatura de 20° C.

Segundo MASSÉ et al. (2003), o desempenho do biodigestor anaeróbio diminui


significativamente quando a temperatura operacional cai de 20° C para 10° C.
42

4.1.2. Teste de Chama

Em relação ao teste de chama realizada com o objectivo de identificar a presença do gás metano,
o resultado foi considerado positivo, pois foi possível observar um aumento significativo do
tamanho da chama, o que nos leva a deduzir que realmente houve produção de metano.

Resultados semelhantes encontrados por Albuquerque, C. (2017) em uma alternativa para a


vinhaça, apontaram que por ter uma produção de gás maior, foi realizado um teste de chama.
Uma vela foi acesa e o gás presente no balão do biodigestor foi soprado sobre a chama houve um
aumento significativo do tamanho da chama.

Assim como os resultados de Almeida, G. V. B. P (2008) que mostram o teste de chama


realizado no laboratório, com uma parte da amostra do estracto de estéricos bovinos retirados de
um biodigestor, onde concluiu-se que houve produção de biogás a partir da matéria orgânica
utilizada no biodigestor, devido o crescimento da chama, ao entrar em contacto com o gás
proveniente do béquer contendo os dejectos

Figura 12: Teste de Chama (Fonte: Autor 2021).

Confrontação das hipóteses com os resultados de estudo

Depois de todos procedimentos experimentais realizados nesta pesquisa e posterior análise e


discussão dos resultados, foi importante validar as hipóteses que anteriormente estavam
previstas, portanto teve-se:

H0: Não existe nenhuma forma de tratamento e nem reaproveitamento dos resíduos orgânicos na
aldeia 25 de Setembro.
43

Salienta-se que esta hipótese, foi validada, visto que, os resultados obtidos durante a observação
exploratória, de formas de tratamentos dos resíduos orgânicos na aldeia 25 de Setembro, ditaram a
ausência de tratamentos e reaproveitamentos dos resíduos orgânicos.

H1: Existe uma forma adoptada pela população para o tratamento e reaproveitamento dos
resíduos orgânicos.

No que tange a essa hipótese, foi inválida, pois não existe nenhuma forma de tratamento e
reaproveitamento dos resíduos orgânicos adoptada na aldeia 25 de Setembro. O que quer dizer
que o resultado não corresponde ao que estava previsto.
44

Conclusão

Nas condições de estudo conclui-se que:

O sistema biodigestor construído, foi eficiente para o tratamento e reaproveitamento dos resíduos
orgânicos (estéricos bovinos), pois em 21 dias conseguiu produzir uma quantidade considerável
de biogás.

A produção de biogás no sistema biodigestor foi satisfatória, pois permitiu teores médios de gás
metano, que foi verificado a partir do teste de chama.

Não existe nenhuma forma que é usada para o tratamento e reaproveitamento dos resíduos
orgânicos na aldeia 25 de Setembro e uma das práticas mais comuns é a queima do lixo,
justamente por não haver um sistema de colecta;

Outra alternativa utilizada é a deposição dos resíduos sólidos em espaços a céu aberto nos
próprios terrenos a distância das residências, gerando depósitos sobre os quais provavelmente
não há técnica adequada e cujas práticas de manejo realizadas pela população são desconhecidas.

Sugestões

No âmbito de minimizar um problema de natureza sugere se aos moradores da aldeia 25 de


Setembro de modo que cada um tivesse uma consciência ambiental e que venha a saber sobre os
riscos de proliferação dos resíduos orgânicos.

 Sensibilizar a população sobre os riscos de proliferação dos resíduos orgânicos;

 Que se monte um biodigestor de maior dimensão capaz de tratar e reaproveitar os


resíduos orgânicos proliferados na aldeia 25 de Setembro;
45

10. Referências Bibliográficas

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https://udop.com.br/index.php? Item=noticias&cod=1151401. Acessado em 29/04/2021

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Tese (Doutorado em Zootecnia – Produção Animal) – Universidade Estadual Paulista,
Jaboticabal, 2001.
48

Apendice
49

Apêndice 1: Imagens do campo da pesquisa


50

Anexo

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