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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

Licenciatura em Engenharia e Gestão de Energias


Renováveis

ESTUDO DE VIABILIDADE DA PRODUÇÃO DE ENERGIA


ELÉCTRICA A PARTIR DE BIOGÁS NA PROVÍNCIA DE GAZA

Chensa Agnalda Bila

Maputo,2022
ESTUDO DE VIABILIDADE DE PRODUÇÃO DE ENERGIA
ELÉCTRICA A PARTIR DE BIOGÁS NA PROVÍNCIA DE GAZA

Monografia apresentada em cumprimento dos requisitos para obtenção do grau


de Licenciatura em Engenharia e Gestão de Energias Renováveis na
Universidade Técnica de Moçambique
Por:
Chensa Agnalda Bila

LICENCIATURA EM ENGENHARIA E GESTÃO DE ENERGIAS RENOVÁVEIS

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

Tutor: Msc.- Constantino Dombo


1190.32

O Júri:

O Presidente O Tutor O Oponente Data


DECLARAÇÃO DE HONRA
Eu, Chensa Agnalda Bila, declaro por minha honra que o presente trabalho foi elaborado por mim e
que constitui resultado da minha investigação pessoal, estando indicadas no texto e nas referências
bibliográficas, as fontes utilizadas.
Declaro que este Trabalho de Diploma nunca foi apresentado na sua essência para obtenção de qualquer
grau académico e ele constitui o resultado da minha pesquisa pessoal.

(Chensa Agnalda Bila)

I
DEDICATÓRIA
Eu dedico este trabalho

Ao meu Pai José Silva Bila, que mesmo em momentos de dificuldade econômica que a nossa
família passou na fase de trânsito de ensino secundário para a Universidade, não pagar minha
Faculdade nunca esteve dentro das opções. Meu muito obrigada Pai por este esforço que se
reflectiu no término dos meus estudos e aquisição de alguns conhecimentos e competências para
o mundo profissional.

À minha mãe Maria Madalena Gabriel que é e sempre será o meu suporte para qualquer área
da minha vida. Alguém que eu olho e vejo a força que um ser humano pode ter para enfrentar as
dificuldades da vida, inspiração esta que me guiou para manter sempre a cabeça em cima
principalmente para o ensino universitário. As minhas lindas e amorosas irmãs Shanaya José
Bila e Cheentha Isabeu Bila que, sempre faziam questão de fazer-me companhia durante as
madrugadas junto a minha mãe sempre que tivesse um trabalho a entregar na faculdade. Sou
bastante grata por sermos esse quarteto fantástico e sempre termos sorrisos na cara. Muito
obrigada meninas da minha vida.

II
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradecer a Deus por me dar o dom da vida para que eu possa alcançar os
meus objectivos.
Meu muito obrigada ao meu tutor, Msc Constantino Dombo que, aceitou engrenar nesta viagem
colocando-me sempre dentro das minhas metas e contribuindo com seu auxílio em qualquer
dificuldade durante a elaboração da monografia.

Agradecer os meus Denise, Aira, Malik, Dennis, Luquésio, Milton, Hóstina colegas da
Universidade, que fizeram com que os 4 anos de Faculdade fossem de pura alegria. Junto de vocês,
aulas cansativas, trabalhos complexos e até testes foram sempre levados com naturalidade e
vontade de terminar. Ao Açúrcio que sempre exigiu que a frase “se você não gosta de uma cadeira,
estuda, se esforça, para que passes com nota alta e não tenhas que repetir” estivesse sempre na
minha cabeça.

Agradecer aos meus amigos Natacha, Heider, Alfredo e que sempre me deram o apoio emocional
para que continuasse e finalizasse a monografia.

Sem esquecer da Mérie que me incentivou e me deu directrizes para o início na monografia, ao
Dércio que me deu seu suporte e ao António que despendeu seu tempo e sua internet para que
melhorasse o trabalho, auxiliando nas correcções.

Agradecer em especial a mim, sim a mim, por ser quem eu sou. Por ter sempre claro na minha
cabeça o esforço que meus Pais fazem e fizeram para que eu pudesse concluir os estudos. Por saber
quais são minhas responsabilidades e sempre me exigir para que tivesse sempre as melhores notas
e me destacar positivamente na carreira estudantil.

A todos que contribuíram directa ou indirectamente, muito obrigada!

III
LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS
ALER- Associação Lusófona de Energias Renováveis

ARENE- Autoridade Reguladora de Energia

EBA- European Biogas Association

EDM –Electricidade de Moaçambique

ESKOM- Empresa Pública de Electricidade da África do Sul

FRC- Factor de Recuperação de Capital

FUNAE- Fundo Nacional De Energia

HCB- Hidroeléctrica de Cahora Bassa

MIREME- Ministério dos Recursos Minerais e Energia

ODS- Objectivos de Desenvolvimento Sustentável

PCI – Poder Calorífico Inferior

TRI- Tempo de Retorno de Investimento

IV
UNIDADES
GW- Gigawatt

GWh- Gigawatt hora

Hz- Hertz

kW- Quilowatt

kWh-Quilowatt hora

MW- Megawatt

MWh- Megawatt hora

Rpm- Rotação por minuto

Wh- Watt hora

V
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Objetivos de desenvolvimento sustentáveis ligados a energias (adaptado pela autora) .. 3
Figura 2. Fontes de energias não renováveis e seus impactos (adaptado pela autora) ................. 10
Figura 3. Fontes de energias renováveis (adaptado pela autora) .................................................. 10
Figura 4. Produção de energia primária em Moçambique / Fonte: AIE, 2017-ALER ................. 11
Figura 5. Percentagem de energias renováveis no consumo total de energia final / Fonte:
(ALER,2017) ................................................................................................................................ 12
Figura 6. Evolução da taxa de acesso à rede eléctrica nacional / Fonte EDM, 2017 ................... 13
Figura 7. Potencial de energias renováveis em Moçambique / Fonte: FUNAE-ATLAS, 2013 ... 15
Figura 8. Etapas de produção de biogás dentro do biodigestor. / Fonte: SOSA;CHAO; RIO,
2004) ............................................................................................................................................. 26
Figura 9. Vista Frontal, em corte, do biodigestor de modelo Indiano (BENINCASA; ORTLANI;
LUCAS ......................................................................................................................................... 28
Figura 10. Vista tridimensional do biodigestor modelo Indiano (DEGANUTTI; PALHACI;
ROSSI) .......................................................................................................................................... 28
Figura 11. Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Chinês (DEGANUTTI; PALHACI;
ROSSI) .......................................................................................................................................... 29
Figura 12. Vista tridimensional do biodigestor modelo Chinês (DEGANUTTI; PALHACI;
ROSSI) .......................................................................................................................................... 30
Figura 13. Fluxograma do processo de produção de biogás a partir da biomassa / Fonte: adaptado
pelo autor ...................................................................................................................................... 31
Figura 14. Mapa da Província de Gaza (Plano Estratégico da Província 2018-2027) .................. 34
Figura 15. Exemplificação de um biodigestor Indiano para construção em zona rural. ............... 38
Figura 16. Grupo Motor gerador LS-80GFT 80/100 kW / Fonte: Diesel Eléctrica Maputo ........ 40

VI
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Classificação dos Biocombustíveis (Fonte: CARVALHO, 2008.) ............................... 17
Tabela 2. Percentagem dos gases que compõem o biogás. / Fonte: CETESB (2011) .................. 21
Tabela 3. Relação dejetos produzidos por proporção de água. / Fonte-(GIQUEREIDO,2017) ... 35
Tabela 4. Fatores de conversão de biogás e GLP. /Fonte: OLIVER et al., (2008) e FARRET
(2010) ............................................................................................................................................ 36
Tabela 5. Concentração de substratos em relação a densidade de biomassa diluída. Fonte:
AMONE,C.20013 ......................................................................................................................... 37
Tabela 6. Especificações técnicas do grupo gerador modelo LS-80GFT 80/100 kW / Fonte:
Diesel Eléctrica Maputo ................................................................................................................ 40
Tabela 7. Auditoria Energética numa residencial rural. Fonte: produzido pela autora ................ 42
Tabela 8. Custo estimado do investimento na planta. / Fonte: produzido pela autora ................. 43
Tabela 9. Conversão de biomassa animal em biogás, biogás para cozinha e energia eléctrica /
Fonte: Produzido pela autora ........................................................................................................ 50

VII
LISTA DE GRÁFICOS
Grafico 1. Percentagem do fornecimento total de energ1a primária por fonte. (Fonte: AIE, 2017)
....................................................................................................................................................... 14
Grafico 2. Relação entre poder calorífico do biogás e a percentagem em volume do metano
(ALVES 2000) .............................................................................................................................. 23

VIII
RESUMO
A energia é essencial para o desenvolvimento sustentável e um crescimento económico inclusivo
em qualquer parte do mundo. Por isso, é cada vez mais premente a necessidade de Moçambique
oferecer fontes de energia fiáveis e limpas para uma população crescente de cerca de 28 milhões
de habitantes, de forma a garantir que a maioria da população tenha acesso a energia. O presente
trabalho teve como objectivo geral estudar a viabilidade de produção de energia eléctrica a partir
de biogás na província de Gaza que, é uma das províncias com maior produção de suíno no País
que pode ser potencializado para a geração de energia eléctrica melhorando o acesso a mesma nas
zonas rurais. Para efeitos de concretização do estudo, a metodologia usada foi a revisão
bibliográfica que permitiu o enquadramento das abordagens, diretrizes, técnicas e processos ao
projecto, o benchmarking foi igualmente feito para fazer o levantamento dos biodigestores
disponíveis e seus preçários igualmente ao grupo motor gerador. No que concerne às tecnologias
de transformação de biomassa animal em biogás, foi considerado para o projecto 4132 suínos que
produzem 10330 Kg que é inserido a um biodigestor o qual passa por um processo anaeróbico até
a produção do biogás que, é direcionado ao grupo motor gerador de modelo LS-80GFT 80/100KW
a qual se ajusta ao potencial do projecto dado que o mesmo consome 26m3/h de biogás para gerar
1190.32 kWh/dia que pode sustentar mais de 200 casas rurais. Através do estudo de viabilidade
técnica e económica constata-se que o projecto é viável com um período de retorno de 6 anos para
as condições e recursos disponíveis nesta província, desde que se leve em consideração algumas
recomendações deixadas no trabalho.

Palavras Chaves: Energias Renováveis, Suinocultura, Biomassa animal, Biogás, Energia


Eléctrica,

IX
ABSTRACT
Energy is essential for the sustainable development and inclusive economic growth anywhere in
the world. For countries such as Mozambique with a growing population, it is more pertinent the
need to provide reliable and clean energy sources to its de 28 milion of habitants to suppress the
population basic services needs. The present project has the aim of studying the energy production
viability generated by biogas at Gaza Province which is one of the province with the major
production of swine in the country that can be potencialized to generate electricity providing its
access at the rural areas of Gaza province. For project realization purposes, the methodology used
was the literancy research which allowed the guidelines and techinics to sustent the project, another
methodology used was the benchmarking in order to have in data what are the biodigetors types
that are being used in its prices in conection with the electricity generator. Through perfomed
analysis about optional conversion technologies of animal biomass into biogas, it was considered
for the project 4132 swines that produce 10330 Kg of biomass which is inserted onto a biodigestor
that goes through an anaerobic process, until the production of the biogas which is allocated to an
generation set with LS-80GFT 80/100 KW model that perfectly suits on the project potencial since
it consume 26m3/h of biogas managing to generate 1190.32 kWh/day which a potencial to supply
more than 200 rural houses. According to the technical and economic viability studies, it’s possible
to ackowlodje that the project is sustainable for the conditions and available resources at Gaza
Province however, the recommendations advised at the project must be considered.

Key Words: Renewable energy, Swine Farming, Animal Biomass, Biogas, Electricity

X
ÍNDICE
DECLARAÇÃO DE HONRA .................................................................................................................... I
DEDICATÓRIA .......................................................................................................................................... II
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................................. III
LISTA DE ABREVIATURAS E ACRÓNIMOS .................................................................................... IV
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................................ VI
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................................. VII
RESUMO .................................................................................................................................................... IX
ABSTRACT ................................................................................................................................................. X
CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 1
1.1. Contextualização ......................................................................................................................... 1
1.2. Problematização .......................................................................................................................... 2
1.3. Objectivos .................................................................................................................................... 3
1.3.1. Objectivo Geral ................................................................................................................... 3
1.3.2. Objectivos específicos ......................................................................................................... 3
1.5. Estrutura do Trabalho ............................................................................................................... 4
CAPÍTULO II - METODOLOGIA........................................................................................................... 6
2.1. Métodos e Técnicas ..................................................................................................................... 6
CAPÍTULO III - REVISÃO DA LITERATURA .................................................................................... 8
3.1. Energia ......................................................................................................................................... 8
3.1.1. Energias Não-Renováveis ................................................................................................... 9
3.1.2. Energias Renováveis ......................................................................................................... 10
3.3. Evolução do sector elétrico em Moçambique ......................................................................... 12
3.4. Energia de Biomassa ................................................................................................................. 16
3.5. Biogás ............................................................................................................................................. 19
3.5.1. Factores que influenciam na formação do biogás .......................................................... 19
3.5.2. Composição ........................................................................................................................ 21
3.5.3. Poder Calorífico ................................................................................................................ 24
3.5.4. Riscos.................................................................................................................................. 25
3.6. Biodigestor ................................................................................................................................. 25
3.6.1. Modelos de Biodigestores convencionais ......................................................................... 27
3.6.2. Biofertilizantes................................................................................................................... 30
3.6.3. Motores geradores de Energia Eléctrica à Biogás.......................................................... 32
CAPÍTULO IV-RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................................. 34
4.2. Planeamento de uma planta para geração de Energia Eléctrica a partir do Biogás com
Implementação na província de Gaza ................................................................................................. 35
4.2.1. Levantamento da quantidade de dejetos produzidos .................................................... 35
4.2.2. Estimativa de quantidade de biogás ................................................................................ 36
4.2.3. Análise e correção de qualidade dos dejetos ................................................................... 36
4.2.4. Escolha de Biodigestor a ser implantado ........................................................................ 37
4.2.6. Estimativa de quantidade de energia eléctrica produzida ............................................ 41
4.3. Estudo de viabilidade técnica e económica ............................................................................. 45
4.4. Discussão .................................................................................................................................... 51
CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................... 52
5.1. Conclusões ................................................................................................................................. 52
5.2. Recomendações ......................................................................................................................... 53
6. Bibliografia ........................................................................................................................................ 54
Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO
1.1. Contextualização
“Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza.”.
Tema desenvolvido, do curso de Licenciatura em Engenharia e Gestão de Energias Renováveis,
ministrado na Faculdade de Ciências Tecnológicas, da Universidade Técnica de Moçambique. . A
Monografia enquadra-se por um lado nos objetivos do curso em cumprimento dos requisitos para
obtenção do grau de Licenciatura e no alcance da missão da faculdade de ciências tecnológicas na
geração de conhecimento.

Para o desenvolvimento sustentável são necessárias a busca, desenvolvimento e incentivo em


tecnologias que utilizem fontes renováveis de geração de energia eléctrica, possibilitando a criação
de fontes de suprimentos descentralizadas e em pequena escala (COLDEBELLA, et al. 2006).

Moçambique por sua vez tem um enorme potencial em termos de energias renováveis quer de
fonte hídrica que constitui actualmente o maior contribuinte na produção de energia eléctrica
ligada a rede, como também de fonte solar, eólica e de fonte de biomassa. Desta forma grande
parte deste potencial pode e deve ser utilizado para aumentar o acesso da população à energia
eléctrica destacando as zonas rurais que são as mais desfavorecidas.
De acordo com ALER (2017) os recursos de biomassa tradicional e biomassa moderna
representam 79.2% do consumo de energia total, usada exclusivamente para o consumo doméstico
na coinfecção de alimentos aquecimentos de água, predominante na população rural. Contudo a
geração de biogás e/ou produção de energia eléctrica a partir da biomassa ainda não é de
conhecimento efectivo para a população moçambicana.

As actividades de agropecuária em Moçambique geram um potencial de produção biomassa


animal o qual pode ser transformado em biogás no processo de digestão anaeróbica que através de
um grupo motor gerador adequado, pode ser transformado em energia eléctrica para suprir as
necessidades básicas das residências rurais.

Segundo MADER, DDP a província de Gaza, quando comparada às demais, é a segunda maior
produtora de suíno com um efectivo de 206.609 cabeças, factor crucial para o estudo de viabilidade
de geração de energia elétrica a partir do biogás oriundo da biomassa animal.

Chensa Agnalda Bila 1


Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

1.2. Problematização
Olhando numa perspectiva ampla, Moçambique tem uma das tarifas de electricidade mais altas da
África Austral (SAPP, 2019), não obstante a prerrogativa do País possuir uma das maiores
barragens de produção de energia eléctrica em África. As tarifas de energia aumentam
gradativamente para cobrir os custos de fornecimento e investimentos na rede e das dívidas com
os fornecedores, esses aumentos excedem os aumentos anuais do salário mínimo para a maioria
dos trabalhadores. (SAPP, 2015-2019). O acesso à energia eléctrica nas zonas rurais ainda é um
grande desafio. A demanda pela energia eléctrica, já há muito que ultrapassa a capacidade de
resposta da EDM em termos de expansão da rede eléctrica. Apenas 31% da população
moçambicana beneficia-se do acesso à energia eléctrica que é maioritariamente obtida por fonte
hídrica seguindo por um monopólio da produção e transporte da energia eléctrica pela EDM o que
faz com que cerca de 9.557.995 habitantes não se beneficiem da energia eléctrica.

Por outro lado, os produtores pecuários moçambicanos, distribuídos em várias regiões estão
inclusos na percentagem da população sem acesso à energia eléctrica sendo que os projectos de
energia eléctrica ligada a rede constituem um desafio pelas implicações estruturais e ecônomicas.
O nível de conhecimento sobre a produção de energia eléctrica a partir do biogás obtido pela
biomassa animal é quase inexistente para os produtores, os processos de conversão de biomassa
animal em biogás e seguido pela produção de energia eléctrica não se registra em várias fontes de
disseminação de informação segundo os estudos realizados na investigação da literatura
Moçambicana e, a suinocultura ainda apresenta um desafio no que tange ao maneio dos dejectos,
isto é , a biomassa animal, gerando um grande problema de poluição ambiental dada a falta de
maneio destes dejectos.

Diante deste cenário, este trabalho busca analisar a viabilidade da geração de energia eléctrica a
partir do biogás produzido por dejectos produzidos na prática de suinocultura a fim de
potencializar o acesso da energia eléctrica nas zonas rurais daquela província. Deste modo surge a
seguinte pergunta de pesquisa:

 Qual é a viabilidade técnica e económica de produção de energia eléctrica a partir de biogás


nas zonas rurais da Província de Gaza?

Chensa Agnalda Bila 2


Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

1.3. Objectivos
1.3.1. Objectivo Geral
Estudar a viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza.

1.3.2. Objectivos específicos


 Fazer um levantamento de tecnologias aplicadas na produção de biogás para geração da
energia eléctrica;
 Calcular a capacidade de produção de biogás, dimensionar o biodigestor e selecionar o
grupo motor gerador para geração de enrgia eléctrica a partir de biogás;
 Avaliar a viabilidade técnica e económica do projecto;

1.4. Justificativa

Os estudos sobre geração de energia eléctrica a partir do biogás é um tema de benefício devido ao
crescimento do agronegócio e consequentemente a quantidade de dejectos gerados, sendo que esses
necessitam de tratamento para um crescimento sustentável. O aumento da demanda de energia eléctrica
é de essencial análise sendo que faz parte do objetivo do governo de Moçambique o aumento da taxa
de cobertura de acesso à energia para 100% até 2030. (EDM, 2018).

A utilização do biogás para geração de energia eléctrica pode apresentar um crescimento


significativo no que tange a independência de geração de energia e garantir o desenvolvimento
sócio económico das zonas rurais, disponibilizando o acesso à energia elétrica para suprir as
necessidades básicas assim como contribuir para os objectivos de desenvolvimento sustentável,
destacando os objetivos 7, 8, 9, 11 e 13 relativos a energia limpa, crescimento económico e
inovação, comunidades sustentáveis e acção climática respectivamente.

Figura 1. Objetivos de desenvolvimento sustentável ligados a energias (adaptado pela autora)

Chensa Agnalda Bila 3


Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

A criação de animais (com principal ênfase para a suinocultura) é uma actividade importante no papel
sócio económico para as famílias rurais moçambicanas sendo de dupla função, renda e alimentação.

Se os produtores na área pecuária tivessem conhecimento sobre o potencial que a sua actividade
proporciona? Se estes tivessem acesso a tecnologia para a transformação da biomassa animal em biogás?
Se os dejectos gerados na actividade, em vez de constituir um problema tanto no maneio para a
higienização como no que concerne a poluição, fossem convertidos para solucionar um dos grandes
calcanhares para zonas rurais que é, o acesso à energia eléctrica para suprir as necessidades básicas?
Se todos produtores actuantes na área de pecuária, tivessem independência de micro geração de energia
e o governo não tivesse que incorrer esforços elevados para que, o acesso à energia incremente nos
próximos anos para essas áreas?

Diante não apenas da necessidade de ação sob o acesso de energia eléctrica em zonas rurais, mas
principalmente das vantagens competitivas apresentadas, a geração de energia eléctrica a partir de
biogás oriundo de dejectos de suínos ganha evidência pois além permitir a produção de biofertilizantes,
gera a não dependência da energia eléctrica da rede.

O estudo pretende contribuir para elucidação do potencial moçambicano para geração de energia
eléctrica a partir do biogás e abordar os processos, tecnologias de produção e transformação do biogás,
para energia eléctrica para que possa contribuir no desenvolvimento rural compactuando para o alcance
dos objetivos de desenvolvimento sustentável e a meta do governo para o sector eléctrico.

1.5. Estrutura do Trabalho


O presente trabalho está estruturado em cinco (V) capítulos em concordância com o regulamento
de trabalho de diploma em vigor na Universidade Técnica de Moçambique.

 Após uma introdução que compõe o capítulo I onde é feito um resumo sobre o
enquadramento do tema e a situação actual moçambicana no que tange a cobertura da rede
eléctrica, trazendo abordagem mundial para local no que tange as potencialidades,
características, abrangência e impacto deste tema no crescimento sócio econômico, segue-
se pelo capítulo II onde são apresentadas a abordagens estruturais do trabalho e as
metodologias.
 No capítulo III, é feita a revisão da literatura referente a conceitos de energia, energias
renováveis, energia de biomassa, biogás e os tipos de biodigestores para trazer bases de
desenvolvimento dos capítulos IV e V que debruçam sobre os processos para geração de

Chensa Agnalda Bila 4


Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

energia elétrica a partir do biogás, seus passos e desenvolvimento dos mesmo a fim de
obter resultados e discussão sobre os fundamentos da literatura em comparação com a
média de produção de energia eléctrica a partir de biogás pelo agropecuários.
 Em jeito de finalização apresenta-se o capítulo V, relativo a conclusões que serão deixadas
com base nos estudos apresentados nos capítulos anteriores e algumas recomendações. E
por fim e citada as referências bibliográficas no capítulo VI.

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

CAPÍTULO II - METODOLOGIA
2.1. Métodos e Técnicas
Para o presente estudo, foi feita uma análise dos principais factores que influenciam na geração de
energia eléctrica usando o biogás como fonte primária. Para alcançar os objetivos expressos acima,
foram usados os seguintes métodos e técnicas:

a) Pesquisa Virtual e Bibliográfica

Neste método foi feita uma pesquisa descritiva que possibilitou a análise de vários conceitos sobre
biogás e seu aproveitamento na geração de energia. Os principais conceitos e suas formas de
actuação foram de importante pesquisa e estudo para que pudesse fundamentar os factores e
métodos de geração de energia eléctrica. Vários livros e manuais do ramo eléctrico foram
consultados de modo a permitir que se aplicasse a tecnologia de aproveitamento de dejectos de
gado suíno na produção de biogás e geração de energia eléctrica no contexto moçambicano.

A pesquisa exploratória possibilitou a elaboração de uma análise comparativa sob os dados obtidos
a fim de obter dados e bases para estudar a viabilidade da projecto.

Foi levado em conta igualmente o método de benchmarking para encontrar junto ás empresas um
biodigestor e um equipamento motor-gerador com melhor custo-benefício e que tem as funções de
queimar o gás metano junto à câmara de combustão do motor por um sistema de união. Esse
procedimento apenas se completa quando é conhecida a quantidade de biogás a ser injectado na
máquina e a quantidade de biogás produzido no projecto a fim de analisar o tempo operacional o
qual a máquina estará disponível em termos de horas por dia.

Fazendo parte do último procedimento, calculou-se a viabilidade técnica e económica a qual


apresenta o tempo de retorno sobre o investimento do projecto. Esse procedimento apenas se
completa quando obtido os valores das componentes do projecto (biodigestor, grupo motor-
gerador) e custos que envolvem a implantação e manutenção de uma planta de biodigestão.

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

b) Limitações de Estudo

O acesso presencial a várias companhias de ramos de energias renováveis foi limitado dado a
conjuntura no novo normal, motivo este que emprega a pandemia COVID 19, as empresas
limitaram o acesso, porém enviavam em formato electrônico algumas matérias solicitadas.

Esta pesquisa está focada em uma análise nos processos e tecnologias de transformação e produção
de energia eléctrica usando o biogás como fonte primária sendo que existe um leque no que
concerne ao conhecimento sobre a potencialidade da biomassa animal. Foca-se na produção da
província de Gaza por meio de relatórios obtidos com dados necessários para o estudo. No entanto,
sem ter registrado entrevistas aos produtores localizados na provícia, foi levado a cabo a média
dos dados obtidos nos censos realizados pleo INE e DPA.

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

CAPÍTULO III - REVISÃO DA LITERATURA


3.1. Energia
Energia, em grego, significa “trabalho” (do grego enérgeia e do latim energia) e, inicialmente, foi
usado para se referir a muitos dos fenómenos explicados através dos termos: “vis viva” (ou “força
viva”) e “calórico”. A palavra energia apareceu pela primeira vez em 1807, sugerida pelo médico
e físico inglês Thomas Young. A opção de Young pelo termo energia está directamente relacionada
com a concepção que ele tinha de que a energia informa a capacidade de um corpo realizar algum
tipo de trabalho mecânico (Wilson, 1968).

Actualmente, energia é definida como sendo a habilidade de um sistema de realizar trabalho. Um


sistema realiza trabalho quando exerce força sobre um outro sistema sob uma certa distância,
quando o mesmo acontece, a energia é transferida de um sistema para o outro.

A energia pode ser transferida mantendo-se pela sua forma ou transformando-se para as seguintes
formas de energia: energia térmica, química, radiante, nuclear, mecânica e eléctrica.

 Energia Mecânica- proveniente do movimento (cinética, potencial, gravitacional e


elástica);
 Energia Nuclear- que pode ser aproveitada através da fissão do átomo de urânio nas
centrais nucleares para geração de electricidade;
 Energia térmica- representada pela quantidade de calor trocada entre sistemas de
diferentes temperaturas (radiação, convecção, condução)
 Energia Química- definida como energia potencial armazenada nas ligações químicas
entre átomos da matéria, sendo liberada a partir de quebra dessas ligações
 Energia Eléctrica – representada como a capacidade de trabalho de uma corrente eléctrica
e funciona através da conversão de energia por meio de diversos combustíveis, sejam eles
gerados pela força de água, do vento ou pela luz solar.

A energia eléctrica é desde há muitos anos uma prioridade das estratégias da União Europeia (EU)
para redução e erradicação de pobreza. As discussões sobre a agenda de desenvolvimento pós 2015
identificaram uma relação estreita entre energia e desenvolvimento e, em particular, com os novos
objetivos de desenvolvimento sustentável. Em cooperação com todos os seus parceiros

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

internacionais, a UE tem desenvolvido uma abordagem a vários níveis para enfrentar os desafios
associados à pobreza energética em todo mundo. (ALER, Outubro 2017)

Ao longo dos séculos, a matriz energética evoluiu bastante. Por muito tempo, nos primórdios da
humanidade, a força muscular foi a principal fonte de energia utilizada pelo homem. O
desenvolvimento tecnológico voltado à exploração de recursos energéticos foi notável entre os
séculos XVIII e XIX, principalmente no que tange à exploração e uso de carvão mineral e de outros
combustíveis fósseis. Essa energia era utilizada nos meios de transporte, na indústria e na geração
de energia eléctrica.

Até meados do século passado, o consumo de eletricidade em Moçambique era extremamente


reduzido, limitando-se a um número bastante pequeno de localidades com destaque para a então
Lourenço Marques e Beira. As décadas de 40 e 50 foram caraterizadoras por um assinalável
crescimento dos consumos de electricidade principalmente nas áreas de maior Desenvolvimento,
designadamente a área do hoje Maputo e o eixo de Manica e Sofala. A retrospectiva do consumo
bruto de electricidade desde o ano de 1955 mostra um crescimento assinalável, de 53 GWh em
1955 para 705 GWh em 1974 (incluindo centrais particulares de produção para consumo próprio),
implicando deste modo uma taxa de crescimento médio anual acima de 14%. Esta taxa elevada é
parcialmente explicada por se partir de níveis de consumo extraordinariamente baixos. (DIREÇÃO
NACIONAL DE ENERGIA, et al 1997).

Os Tipos de Energia podem igualmente se deferir em Energias Não-Renováveis e Renováveis.

3.1.1. Energias Não-Renováveis


As energias não renováveis são definidas por usarem fontes de energia que se esgotam na Natureza
e, portanto, causam diversos impactos ambientais, liberando inclusivamente os gases de efeito de
estufa que impactam nas mudanças climáticas sendo que, os combustíveis fósseis são processados
através da combustão.

Chensa Agnalda Bila 9


Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

Figura 2. Fontes de energias não renováveis e seus impactos (adaptado pela autora)

3.1.2. Energias Renováveis


Energias Renováveis são caraterizadas por usarem fontes de energia que são constantemente
restabelecidas pela Natureza. As águas, o vento, o sol as plantas são alguns exemplos destas fontes.
São nomeadas como amigas do ambiente pois o processo de transformação e conversão para
energia eléctrica, não impulsionam em maior escala na emissão dos gases de efeito de estufa que
provocam as mudanças climáticas.

Diferentemente dos combustíveis fósseis, as energias renováveis não se esgotam e comparando


com o percentual de gases de efeito de estufa (CO2, CH4, N2O, O3 , vapor de água entre outros) as
energias renováveis apesar de limpas, emitem em menor escala em relação as energias não
renováveis.

O sector de energia é responsável por 64% das emissões mundiais com 85% das emissões de CO2.
Deste modo, a energia pode ser considerada o centro de problema de mudanças climáticas mas por
outro lado o núcleo da solução, onde as energias renováveis desempenham um papel
importantíssimo

Figura 3. Fontes de energias renováveis (adaptado pela autora)

3.2. Produção de Energia Eléctrica em Moçambique

A energia hídrica tornou-se expressiva a partir de 1997, ano em que a HCB voltou a entrar em
funcionamento, por conseguinte Moçambique situa-se entre um dos maiores produtores de
electricidade da África Austral, sendo superado apenas pela África do Sul. A produção de energia
eléctrica em Moçambique ronda a uma Capacidade instalada de 2.279 MW (2017), sendo o
fornecimento de energia para o consumo de 911MW (2017). Esta produção deve-se, quase que em
exclusivo, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, responsável por cerca de 2.075 MW de produção

Chensa Agnalda Bila 10


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total, e o remanescente da energia produzida é gerada pela empresa pública Electricidade de


Moçambique. (ALER, 2017)

Figura 4. Produção de energia primária em Moçambique / Fonte: AIE, 2017-ALER

3.2.1. Contribuição das energias renováveis para o consumo de energia final

Dada a recente diversificação do sector energético em Moçambique, com maior incorporação de


combustíveis fósseis, a percentagem da contribuição das energias renováveis para o consumo total
de energia final tem vindo a decrescer gradualmente nos últimos anos, passando de 94,3% em
1991 para 88,9% em 2014, pela primeira vez abaixo do limiar de 90%. Não obstante, as energias
renováveis continuam a ser responsáveis pela grande maioria do consumo de energia.

Chensa Agnalda Bila 11


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Figura 5. Percentagem de energias renováveis no consumo total de energia final / Fonte: (ALER,2017)

3.3. Evolução do sector elétrico em Moçambique


Segundo a Direção Nacional de Energia (Agosto, 1997, p. 3) a história da evolução do sector
eléctrico em Moçambique merece um destaque particular ao empreendimento da barragem de
Cahora Bassa, quer pela sua dimensão relativa quer pelas razões que lhe dão origem. A barragem
de Cahora Bassa cuja construção foi tomada em 1969 pelo governo colonial após acordo assinado
com a ESKOM da África do Sul, com uma capacidade instalada superior ao consumo de
eletricidade em Moçambique tornou-se em mais um instrumento produtivo e gerador de riqueza.

Actualmente, Moçambique aumentou mais de 400MW à sua capacidade de fornecimento de


energia e, segundo a estratégia da EDM, espera-se aumentar e melhorar a disponibilidade do
sistema eléctrico, incrementando a capacidade de geração, expandir a rede e segurança de
fornecimento. (EDM, 2018)

A produção anual, maioritariamente de origem hídrica é proveniente de barragem da Cahora Bassa,


mas com uma contribuição cada vez maior dos produtores independentes de energia, atingiu
18.75TWh em 2016, apesar da electricidade para consumo interno ser apenas de 5.22 TWh
segundo os últimos dados de 2015. (ALER, 2017)

Segundo a CTA (2015, p. 23) a lei de eletricidade nº 21/97 reserva à EDM o monopólio do transporte,
distribuição e venda a retalho de electricidade, sendo esta responsável por um conjunto de centrais e
pequenos sistemas de produção de energia eléctrica, onde a maior oferta de 90% da energia consumida
é assegurada pela Hidroelétrica de Cahora Bassa. O mercado de eletricidade em Moçambique

Chensa Agnalda Bila 12


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progrediu significativamente com a entrada do novo governo saído das eleições gerais de 2004. Em
cinco anos o número de sedes distritais coberto com energia da rede nacional passou de 55 para 107.

Constitui um dos objectivos estratégicos do Programa Quinquenal do Governo (2015-2019), aumentar


o acesso com qualidade e disponibilidade de energia eléctrica, combustíveis e gás natural para o
desenvolvimento de actividades socioeconómicas, o consumo doméstico e a exportação. A sua meta
para 2019 é aumentar a taxa de electrificação do País 33% (Moçambique,2015) – (EDM, 2018).

Apesar de Moçambique possuir infraestruturas potenciais de geração de electricidade, a


electrificação do país é maioritariamente abrangente em zonas urbanas havendo carência para as
zonas rurais, pelo que, pressupõe a existência de um desiquilíbrio relativamente ao
desenvolvimento socioeconómico do País.

A Figura 4 demonstra que o acesso à rede eléctrica é bastante desigual por regiões, sendo 17.5%
no Norte, 17% no centro e 56.4% na região sul. Este desequilíbrio considerável entre a região sul
e as demais é uma preocupação imediata.

Figura 6. Evolução da taxa de acesso à rede eléctrica nacional / Fonte EDM, 2017

É cada vez mais premente a necessidade de Moçambique oferecer fontes de energias fiáveis e
limpas aos seus 28 milhões de habitantes e a uma população crescente, de forma a poder prestar
serviços básicos em certas áreas. Com mais de dois terços da população sem acesso a eletricidade
fiável e a maioria ainda dependente de biomassa para cozinhar. A transformação do sector de

Chensa Agnalda Bila 13


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energia é igualmente vital no contexto dos desafios das alterações climáticas a nível global. (ALER,
2017)

A matriz de produção de energia do País é composta maioritariamente por fontes de energias


renováveis (87.5% de acordo com os últimos dados disponíveis de 2014). A biomassa lenhosa
(carvão vegetal e lenha) constitui ainda, indiscutivelmente, a maior fonte de produção e consumo
de energia, uma vez que cerca de 80% da população moçambicana depende da biomassa para
satisfazer as suas necessidades energéticas, que são principalmente de caráter doméstico. (ALER,
2017).

- Biomassa
8% 1%
3%
12% Hídrica

Petróleo

Carvão
76%

Gás Natural

Grafico 1. Percentagem do fornecimento total de energ1a primária por fonte. (Fonte: AIE, 2017)

A estratégia de desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis (EDENR) foi adoptada em 2011,


em conformidade com as directrizes do extinto Ministério de Energia (agora MIREME) e é
resultado de uma reflexão interna (ao nível das instituições tuteladas e subordinadas), bem como
da consulta a um número extenso de intervenientes, considerações práticas e às experiências reais
de algumas regiões. A EDENR reconhece a necessidade de Moçambique desenvolver o
aproveitamento dos recursos de energias renováveis e estabelece como principais objectivos
estratégicos:

 Melhorar o acesso e serviços energéticos de melhor qualidade com base em fontes


renováveis;

Chensa Agnalda Bila 14


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 Desenvolver a tecnologia de uso e conversão das fontes de energia renovável;


 Promover e acelerar o investimento público e privado dos recursos renováveis;
 O aumento do acesso a serviços de energia de alta qualidade;
 A redução do dano ambiental associado aos consumos de biomassa lenhosa e de
combustíveis fósseis;
 A segurança energética.

O Atlas de energias renováveis de Moçambique faz menção que o País tem a capacidade de
geração de energia eléctrica de, 23.026GW, sendo que, a fonte solar constitui a fonte mais
abundante (23.000GW) seguida pela fonte hídrica (19GW), eólica (4GW) e biomassa (2GW).

Figura 7. Potencial de energias renováveis em Moçambique / Fonte: FUNAE-ATLAS, 2013

O desenvolvimento de fontes renováveis na geração eléctrica contribui, não só para aumentar a


produtividade e baixar os custos assim como para diversificação de fontes energéticas,
diversificando a matriz energética e sua distribuição geográfica, garantido a segurança energética
nacional. Nos últimos anos foram notórias as diversas iniciativas para promover o abastecimento
de energia nas zonas rurais das quais, são maioritariamente desenvolvidas pela FUNAE, mas,
infelizmente nem sempre estão disponíveis as famílias Peri urbanas de baixo rendimento (ALER,
2017).

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De acordo com a ANEEL (2008) a biomassa é considerada como uma das principais alternativas
para diversificação da matriz energética, reduzindo assim a dependência por combustíveis fósseis.
A biomassa merece destaque dentre as mais variadas fontes de energias renováveis pela sua
quantidade disponível e por ser a mais sustentável dentre as demais.

3.4. Energia de Biomassa


Segundo a ANEEL (2011) biomassa é todo recurso renovável oriundo de matéria orgânica (de
origem animal ou vegetal) que pode ser utilizada na produção de energia.

Como a biomassa designa-se, em geral a massa total de matéria orgânica que se acumula em um
espaço vital. Desta maneira, pertencem a biomassa todas as plantas e todos os animais incluindo
os seus resíduos bem como, em um sentido mais amplo, matérias orgânicas transformadoras como
resíduos de indústria transformadora da madeira e indústria alimentar. Estes elementos primários
de biomassa podem ser transformados pelas diferentes tecnologias de conversão em
biocombustíveis sólidos, líquidos ou gasosos e, finalmente, em produtos finais tais como energias
térmicas, mecânica e eléctrica (STAISS et al, 2001).

Tipo Derivados Definição


Combustíveis diretos da madeira Madeira produzida para fins
energéticos, usando diretamente ou
indiretamente como combustíveis
Combustíveis indiretos da Biocombustíveis sólidos, líquidos
madeira ou gasosos, subprodutos da
exploração florestal e resultantes de
processamento industrial da madeira
Biocombustíveis da madeira para fins não energéticos
(dendrocombustíveis) Madeira usada diretamente ou
indiretamente como combustível,
Combustíveis de madeira
derivada de atividades
recuperada
socioeconómicas que empregam
produtos de origem
Combustíveis de plantações Combustíveis sólidos e líquidos
energéticas produzidos a partir de plantações
anuais, como é o caso do álcool da
cana-de-açúcar

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Subprodutos agrícolas Resíduos de colheitas e outros tipos


de subprodutos de culturas, como
Agrocombustível palhas e folhas
Subprodutos animais Esterco de aves, bovinos, caprinos e
suínos
Subprodutos agroindustriais Subprodutos de agroindústrias como
bagaço de cana e casca de arroz
Resíduos Urbanos Resíduos sólidos e líquidos gerados
em cidades e vilas
Tabela 1. Classificação dos Biocombustíveis (Fonte: CARVALHO, 2008.)

A energia oriunda da biomassa pode ser classificada de diversas maneiras, entretanto deve-se
reconhecer que os fluxos de energia de biomassa são associados aos biocombustíveis os quais, por
sua vez, podem ser apresentados em três grupos principais, de acordo com a origem da matéria
que os constitui. Dessa forma, existem os combustíveis de plantação não florestal (agro
combustíveis), biocombustíveis da madeira (dendrocombustíveis) e os resíduos urbanos
(NOGUEIRA, LORA, 2003). Os agrocombustíveis apresentam um subgrupo descrito como
subprodutos animais onde está inserido o resíduo gerado pela caprino cultura.

Segundo ((NOGUEIRA, LORA, 2003)) a energia acumulada na biomassa está na forma de energia
química, sendo necessárias reações químicas para a sua liberação, podendo então ser usada para
realização de trabalho útil, que poder ser a produção de calor. Em muitas situações específicas o
emprego da biomassa requer uma conversão para uma melhor adequação do seu uso ou transporte,
devido principalmente à natureza sólida da biomassa. Pode-se citar como exemplo a utilização da
energia da biomassa em motores de combustão interna, pois a matéria prima deve sofrer processos
de conversão que a transformam em combustível gasoso ou líquido para serem usados nos motores.
Geralmente pode-se dizer que a utilização da energia da biomassa é o inverso da fotossíntese, pois
se procura resgatar a energia solar armazenada pelo vegetal, consumindo oxigénio atmosférico e
restituindo ao ar o dióxido de carbono.
Segundo a IEA (1998), devido ao uso não comercial da biomassa é difícil a contabilização da
quantidade mundialmente utilizada, estima-se que ela possa representar até 14% de todo o
consumo mundial de energia primária. Já em países em desenvolvimento essa percentagem
aumenta para 34% e chega a 60% em África.

Chensa Agnalda Bila 17


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Tanto os dejetos quanto os resíduos de criação animal, têm um alto potencial de poluição, e sem
orientações ou condições de dar outro destino a esses resíduos, o criador tem lançado directamente
no solo como fertilizantes, porém em algumas situações podem causar problemas ambientais como
contaminação de águas e solos, e além do odor desagradável. A partir dos dejetos animais, duas
opções foram estudadas na Europa, uma seria a digestão anaeróbica dos resíduos da suinocultura
e bovinicultura e a outra a combustão directa. Segundo DAGNALL (2000), potencial energético
mundial somente com a produção de esterco foi estimado em 20 EJ.

Segundo COUTO (2004) para o aproveitamento da biomassa para fins energéticos devem ser
considerados: o seu aproveitamento racional com as estratégias concedentes à proteção dos
recursos naturais, as potencialidades para promover a substituição das formas de energias não
renováveis, a valorização energética pelos segmentos interessados e a viabilidade económica.

A partir da biomassa, independentemente da forma e da fonte de energia utilizada, tem se mostrado,


ao longo das décadas como um dos determinantes factores de desenvolvimento económico e social.

Moçambique apresenta várias fontes de obtenção de biomassa, destacando as açucareiras, a


biomassa florestal, apresentando uma vantagem pelo clima predominante no País sendo tropical
húmido, e a biomassa proveniente de matéria orgânica animal, a qual, a par da agricultura, a
pecuária é uma das actividades com importante papel sócio económico para as famílias rurais
moçambicanas, tendo dupla função de renda e alimentação.

No que concerne às barreiras existentes para a utilização massiva das energias renováveis,
GOLDEMBERG et al (2007) argumentam que elas são principalmente de ordem económica. As
tecnologias empregadas são novas, ainda em desenvolvimento, e por isso têm custo de implantação
muito alto. Por isso o suporte do governo e investimentos em tecnologias é crucial para alcançar
ganhos em larga escala e se tornem economicamente competitivas. É neste diapasão que COELHO
(2005) acredita que aumentar a diversificação da matriz energética de um país e reduzir sua
dependência de combustíveis fósseis é uma medida estratégica importante para garantia de
suprimento de energia evitando a vulnerabilidade às oscilações dos preços do petróleo e às
instabilidades políticas dos países produtores.

Olhando para a matriz energética de fontes de energias renováveis, estatísticas indicam que pelo
menos 95% dos agregados familiares moçambicanos dependem da biomassa (lenha ou carvão)

Chensa Agnalda Bila 18


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como fonte de energia diária para cozinhar e aquecer alimentos. Nas cidades de Maputo e Matola,
cerca de 53% das famílias utilizam carvão vegetal como combustível principal e 33% como
combustível secundário (Ministério de Energia,2013).

Moçambique apresenta alguns pequenos projectos para o aproveitamento da biomassa, estando


subdividida em função do produto final. Sendo assim, existem: projectos de geração de energia
eléctrica, projectos de biogás, projectos de briquetes e pellets e projectos para produção de calor
(energia térmica). (ALER, 2017)

Uma das várias formas de aproveitamento da biomassa animal é transformá-la em biogás pelo
processo de digestão anaeróbica.

3.5. Biogás
De acordo com CRAVEIRO (1982) apud BECK (2007), biogás é um gás que resulta de
fermentação de matéria orgânica no processo de tratamento anaeróbico, por meio de
biodegradação feita por bactérias na ausência de oxigênio.

Quando a digestão anaeróbica é realizada em biodigestores especialmente planejados, a mistura


produzida por ser usada como combustível, o qual, além de seu alto poder calorífico, de não
produzir gases tóxicos durante a queima e de ser uma óptima alternativa para o aproveitamento de
lixo orgânico, ainda deixa como resíduo um lodo que é um excelente biofertilizante (PECORA,
2006).

Cada matéria prima ou fonte de resíduo possui um potencial de geração de biogás. Resíduos
altamente fibrosos, como bagaço de cana e casca de arroz, são considerados de baixa
digestibilidade, apresentam menos potencial para produção de biogás. Enquanto que as matérias
ricas em amidos, proteínas, celulose e carboidratos, como grãos, gramíneas, restos de batedouros
e fezes, apresentam alto potencial de produção de biogás. (GRYSCHEK; BELO, 1983).

3.5.1. Factores que influenciam na formação do biogás


Resumem-se abaixo os principais parâmetros da digestão anaeróbica relacionada à geração de
biogás:

Chensa Agnalda Bila 19


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 Impermeabilidade ao ar: as bactérias metalogénicas são essencialmente anaeróbicas. A


decomposição de matéria orgânica na presença de ar (oxigênio) irá produzir apenas dióxido
de carbono (CO2) (JUNIOR, 2000 apud. MARQUES 2012)
 Natureza do substrato: os substratos nutritivos devem prover as fontes de alimento aos
microrganismos, elementos químicos constituindo o material celular e os necessários às
atividades enzimáticas, particularmente os oligoelementos, como o cálcio, magnésio,
potássio, sódio, zinco, ferro, cobalto, cobre, molibdênio e manganês.
Em fortes concentrações, esses elementos têm um efeito inibidor sobre o processo de
fermentação. Por outro lado, os elementos majoritários como o carbono, nitrogênio,
oxigênio, fósforo e enxofre, têm uma importância fundamental no rendimento dos gases
de fermentação (PECORA, 2006 apud. MARQUES 2012).
 Composição dos resíduos: quanto maior a percentagem de material orgânico no resíduo,
maior o potencial de geração de metano e vazão de biogás. Os principais nutrientes dos
microrganismos são carbono, nitrogénio e sais orgânicos. Uma relação específica de
carbono para nitrogénio deve ser mantida entre 20:1 e 30:1. A principal fonte de nitrogénio
está nas dejeções humanas e de animais, enquanto os polímeros presentes nos restos de
culturas representam o principal fornecedor de carbono. A produção de biogás não é bem-
sucedida, se apenas uma fonte de material for utilizada (JUNIOR, 2000 MARQUES 2012).
 Teor de água: O teor de água dentro do biodigestor deve variar de 60 a 90% do peso do
conteúdo total (JUNIOR, 2000 apud. MARQUES 2012).
 Temperatura: A actividade enzimática das bactérias depende estritamente da temperatura,
visto que é conhecido que alterações bruscas de temperatura causam desequilíbrio nas
culturas envolvidas, principalmente nas bactérias formadoras de metano. Em torno de
10 °C essa actividade é muito reduzida e acima de 65 °C as enzimas são destruídas pelo
calor. Portanto, a faixa ideal para a produção de biogás é de 32 °C a 37 °C (bactérias
mesofílicas) e de 50 °C a 60 °C (bactérias termofílicas) (JUNIOR, 2000 apud. MARQUES
2012).
 PH: A concentração em íons OH- no meio exterior tem uma grande influência sobre o
crescimento dos microrganismos. Na digestão anaeróbia, observam-se duas fases
sucessivas: a primeira se caracteriza por uma diminuição do pH em patamares próximos
de 5,0 e a segunda por um aumento do pH e sua estabilização em valores próximos da

Chensa Agnalda Bila 20


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neutralidade. A redução do pH é devida à acção das bactérias acidogênicas, as quais


liberam rapidamente ácidos graxos voláteis. As bactérias metalogénicas, que têm taxas de
crescimento mais fracas que as primeiras, se instalam progressivamente e induzem a
elevação do pH através da catálise do ácido acético. No caso de tratamento anaeróbio em
biodigestores de processos contínuos, o PH permanece neutro, aproximadamente 7
(JUNIOR, 2000 apud. MARQUES 2012).

3.5.2. Composição
O Biogás é composto por uma mistura de gases, porém a percentagens desses gases variam de
acordo com os resíduos e as condições utilizadas no processo de biodigestão. Independentemente
da matéria prima usada na transformação de biogás, ele será essencialmente constituído por
metano (CH4-60%) e dióxido de carbono (CO2-35%).

Composição Percentagem do Volume de Gás produzido


Metano (CH4) 50-70%
Dióxido de Carbono (CO2) 25-50%
Nitrogénio (N2) 0-7%
Gás Sulfídrico (H2S) 0-3%
Oxigénio (O2) 0-2%
Hidrogénio (H2) 0-1%
Amoníaco (NH3) 0-1%
Tabela 2. Percentagem dos gases que compõem o biogás. / Fonte: CETESB (2011)

O poder calorífico do metano é de 8.500 kcal/m3, portanto a concentração de metano no biogás é


directamente relacionada ao poder calorífico do biogás. O potencial teórico de energia contido nos
combustíveis é determinado pelo poder calorífico inferior (PCI). O biogás altamente purificado
pode alcançar até 12 000 kcal/m3 (COPEL 2011).

A concentração de metano é proporcional à energia produzida por unidade de massa e


consequentemente maior seu poder calorífico, portanto quanto maior a concentração de metano,
mais energia por unidade de massa e maior o poder calorífico inferior (PCI) do biogás. A
concentração de metano influencia não somente o poder calorífico inferior como também a
densidade ou peso específico do biogás.

Chensa Agnalda Bila 21


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Dos gases que compõem o biogás, o gás carbónico e o gás sulfídrico devem receber atenção
especial. São considerados como principal problema na viabilização de seu armazenamento e na
produção de energia, interferindo principalmente na qualidade do biogás, acarretando problemas
de corrosão no sistema de condução do biogás até sua transformação como fonte de energia ou
térmica, necessitando de processos de tratamento (MAGALHÃES, 1986).

O gás sulfídrico, aparece em uma concentração aproximada de 10g/m3 no biogás. Portanto, existe
a necessidade do mesmo passar por um filtro purificador para evitar a mau cheiro gerado, mas
principalmente para retirar seu efeito corrosivo, devendo aparecer com uma concentração abaixo
de 1,5g/m3 (OLIVEIRAS, 1993).

O uso de biodigestão anaeróbica para produção de biogás demonstra um avanço importante como
tentativa de solução para o problema da disponibilidade energética no meio rural, tanto no uso para
aquecimento quanto para geração de energia eléctrica.

Para a produção de biogás a partir dos resíduos da suinocultura e bovinocultura, são utilizados
biodigestores, sendo que a biodigestão ocorre através do chorume, que é a diluição dos resíduos
com água de lavagem. Segundo SOUZA et al (2004) a conversão do chorume em biogás leva em
consideração a biodegradabilidade da matéria orgânica (equivalente a aproximadamente 75%), a
eficiência de conversão do biodigestor (equivalente a aproximadamente 85%) e a fração de matéria
orgânica utilizada pelas bactérias no seu próprio crescimento (equivalente a aproximadamente 5%).

3.5.2.1. Filtragem
Para aumentar o poder calorífico, rendimento térmico e eliminar a característica corrosiva devido
à presença de gás sulfídrico e água, é preciso tratar e purificar o biogás produzido (OLIVEIRA,
2005). A presença de substâncias não combustíveis no biogás, como água e dióxido de carbono,
prejudica o processo de queima tornando-o menos eficiente uma vez que, presentes na combustão
absorvem parte da energia gerada. Na medida em que se eleva a concentração de impurezas, o
poder calorífico do biogás torna-se menor. O gráfico 2 mostra a relação entre o poder calorífico
do biogás e a percentagem em volume de metano presente nele (ALVES, 2000, apud. MARQUES
2012)

Chensa Agnalda Bila 22


Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

Poder Calorico (Kcal/m3) x % Metano (V/V)


10000

8000

6000

4000

2000

0
0.2 0.4 0.6 0.8

Poder Calorico (Kcal/m3) x % Metano (V/V)

Grafico 2. Relação entre poder calorífico do biogás e a percentagem em volume do metano (ALVES 2000)

Assim como os gases puros, as características do biogás dependem da temperatura e da pressão,


variando com elas e com o teor de humidade. O fundamental, quando se trata de gases para fins de
geração de energia é conhecer seu volume, seu poder calorífico e a própria humidade (COELHO;
SILVA; VARKULYA; AVELLAR; FERLING, 2001 apud. MARQUES 2012).
Além da humidade, o volume de biogás, representado pelo peso específico, que é a relação entre a sua
densidade e a densidade do ar, é outro parâmetro importante quando se deseja manipular o gás para
armazenamento.
3.5.2.1.1. Retirada do gás sulfídrico por óxido de ferro
Consiste em passar a mistura gasosa por uma torre com preenchimento de óxido de ferro (Fe2O3)
e aparas de madeira. O gás é injetado pela base da torre e conforme vai circulando pela mesma vai
perdendo o gás sulfídrico que fica retido ao reagir com o óxido de ferro (CRAVEIRO, 1982). Esse
é possivelmente o processo mais simples e barato. A reação química é apresentada na equação 1:
Fe2O3 + 3H2S Fe2S3 + 3H2O
Eq. 1

Para regenerar o óxido de ferro basta expor ao oxigênio, como apresentado pela reacção química
da equação 2:
2Fe2S3 + 3O2 2Fe2O3 + 3S2
Eq. 2

Em vez de ser utilizado óxido de ferro também pode ser usado óxido de zinco, porém esse é mais
caro.

Chensa Agnalda Bila 23


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3.5.2.1.2. Remoção do gás sulfídrico e do dióxido de carbono por hidróxido


de sódio, potássio ou cálcio

Quando o gás carbônico entra em contato com a solução de hidróxido de sódio, potássio ou cálcio
ocorre à formação de bicarbonato, sendo essa formação irreversível conforme as equações 3 e 4.
Se houver tempo suficiente o gás sulfídrico também será absorvido conforme a equação 5
(CRAVEIRO, 1982).
2 NaOH + CO2 Na2CO3 + H2O
Eq. 3

Na2CO3 + CO2 + H2O 2NaHCO3


Eq. 4

H2S + Na2CO3 NaHS + NaHCO3


Eq. 5

Entre os hidróxidos, o de cálcio é o mais barato. Porém existe um problema na sua utilização, há
a precipitação do carbonato de cálcio, o que pode provocar o entupimento de tubulações, bombas
e os demais equipamentos utilizados, o que pode gerar transtornos (CRAVEIRO, 1982).
Podem ser utilizados outros dois processos para a remoção do dióxido de carbono e do gás
sulfídrico. Um é utilizar solventes orgânicos, mas devido à corrosão e perdas elevadas por
constituírem substâncias muito voláteis, e por periculosidade em geral este processo deve ser
evitado. Outro processo é utilizando carbonato de potássio a quente, mas como exige aquecimento
e operação a 110°C, demandando energia para esse aquecimento, também deve ser evitado
objetivando assim a eficiência energética (OLIVEIRA, 2009).

3.5.3. Poder Calorífico


Uma das características mais importante de um gás é que apresenta a quantidade de energia
liberada na combustão completa de uma unidade de massa ou volume no caso de gases é
denominada de poder calorífico, também conhecido como poder de queima, calor de combustão
ou potência calorífica (COSTA, 2006).
Quando se determina a composição de um combustível, verifica-se que o mesmo é geralmente
composto por carbono, hidrogênio e oxigênio. Quando há a combustão do mesmo, há a formação
de água como produto dessa reação devido à presença de hidrogênio, essa água pode estar no
estado líquido, gasoso ou ainda em ambos. Caso a água formada na combustão se condense é

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obtido o poder calorífico do combustível superior (PCS), mas se a água estiver no estado gasoso é
obtido o poder calorífico inferior (PCI), em consequência disso o biogás também terá ambos os
poderes caloríficos. De acordo com a concentração de metano no biogás o poder calorífico pode
variar entre 4,95 a 7,92 Kwh/m³ para o pode calorífico inferior e superior, respectivamente
(COSTA, 2006), após o devido tratamento o biogás pode atingir um poder calorífico próximo a
10.000 kcal/m³ (COSTA, 2006).

3.5.4. Riscos
O gás metano queima com uma chama luminosa quando puro, mas para o biogás a chama não é
tão luminosa. O biogás não é tóxico, mas atua sobre o organismo humano diluindo o oxigênio e
como consequência, pode provocar a morte por asfixia. Como é muito estável não é solúvel em
água (PECORA, 2006). O biogás é mais denso que o ar, possuindo uma relação de densidade de
0,55 (PARCHEN, 1979). Portanto, possui tendência de ficar mais próximo ao solo facilitando sua
inalação.

3.6. Biodigestor
O biodigestor é uma câmara na qual ocorre um processo bioquímico denominado digestão
anaeróbica, que tem como resultado a formação de biofertilizantes e produtos gasosos,
principalmente o metano e o biogás (MAGALHÃES, 1986).

De Acordo com ASSIS (2004) biodigestor é o sistema de tratamento de biomassa em estruturas


fechadas para onde são conduzidos, por tubulações, o esterco e a urina dos animais. Nesse local,
o material entra em processo natural de fermentação, por meio de bactérias anaeróbicas (que se
desenvolvem na ausência total de oxigênio), e ao fim do processo, são produzidos gases, resíduos
pastosos e efluentes líquidos. Os três subprodutos têm valor económico. O gás (metano, diferente
do GLP que é o butano) pode ser utilizado para os mesmos fins: geração de energia, aquecimento
de pocilgas e aviários no inverno e até em fogões domésticos. O material sólido vira adubo natural
para as lavouras. Já os efluentes líquidos alimentam algas em tanques que depois são utilizados
como comida para peixes criados em açudes.

No tanque de entrada, ou lagoa de sedimentação, o esterco é exposto a uma pré fermentação


aeróbia, ou seja, a digestão do resíduo na presença do ar, no qual somente proliferam bactérias
aeróbias. Neste processo a maior parte do oxigênio dissolvido na mistura é liberado para o meio

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ou consumido pelas bactérias aeróbias, viabilizando assim, o posterior desenvolvimento das


bactérias anaeróbias (MORAES,1980).
Pelo tubo de carga, o resíduo é introduzido no digestor em que será submetido a uma digestão
anaeróbia para a produção do biogás. A digestão anaeróbia é uma reacção bioquímica realizada
por bactérias na ausência de oxigênio e com bastante humidade. Essas bactérias são encontradas,
naturalmente, no estômago e nos intestinos dos animais. O grupo de bactérias mais importante no
processo são as denominadas bactérias metalogénicas, e são elas que formam o gás metano
(MORAES, 1980).

Esse processo é realizado basicamente em três etapas como exposto na figura 8:

Figura 8. Etapas de produção de biogás dentro do biodigestor. / Fonte: SOSA;CHAO; RIO, 2004)

Na primeira, a matéria orgânica é convertida em moléculas menores pela acção de bactérias


hidrolíticas e fermentativas. As primeiras transformam proteínas em peptídeos e aminoácidos,
polissacarídeos em monossacarídeos, gorduras em ácidos graxos, pela acção de enzimas
extracelulares, como a protéase, a amílase e a lípase. As bactérias fermentativas transformam esses
produtos em ácidos solúveis (ácido propanoico e butílico), álcoois e outros compostos
(SOSA;CHAO; RIO, 2004).
Na segunda fase, as bactérias acetogénicas transformam os produtos obtidos na primeira etapa em
ácido acético (CH3COOH), hidrogénio e dióxido de carbono. Essas bactérias são facultativas, ou

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seja, elas podem actuar tanto em meio aeróbio como anaeróbio. O oxigénio do material orgânico
não aproveitado no processo aeróbio do sistema é utilizado para ecfetuar essas transformações
(SOSA;CHAO; RIO,2004).
O metano é formado na última etapa da produção do biogás. As bactérias metalogénicas, que
formam o metano, transformam o hidrogénio, o dióxido de carbono e o ácido acético (CH3COOH)
em metano e dióxido de carbono. Estas bactérias anaeróbias são extremamente sensíveis a
mudanças no meio, como temperatura e PH. As bactérias produtoras do biogás são mesofílicas,
vivem entre 35° a 45º C e são sensíveis a alterações de temperatura. Variações bruscas de
temperatura fariam com que as bactérias metanogênicas não sobrevivessem, o que acarretaria na
diminuição considerável da produção de biogás (SOSA;CHAO; RIO, 2004).

3.6.1. Modelos de Biodigestores convencionais


i. Modelo Indiano

Este modelo de biodigestor caracteriza-se por possuir uma campânula como gasômetro, a qual
pode estar mergulhada sobre a biomassa em fermentação ou em um selo de água externo, e uma
parede central que divide o tanque de fermentação em duas câmaras. A função da parede divisória
faz com que o material circule por todo o interior da câmara de fermentação.
O modelo Indiano possui pressão de operação constante, ou seja, à medida que o volume de gás
produzido não é consumido de imediato, o gasômetro tende a deslocar-se verticalmente,
aumentando o volume deste, portanto, mantém a pressão em seu interior constante (DEGANUTTI;
PALHACI; ROSSI; TAVARES, 2002).
O facto de o gasômetro estar disposto ou sobre o substrato ou sobre o selo de água reduz as perdas
durante o processo de produção de gás.
O resíduo utilizado para alimentar o biodigestor Indiano deve apresentar uma concentração de ST
(sólidos totais) não superior a 8%, para facilitar a circulação do resíduo pelo interior da câmara de
fermentação e evitar entupimentos dos canos de entrada e saída do material (DEGANUTTI; et al).
O abastecimento deve ser contínuo, ou seja, geralmente é alimentado por dejectos bovinos e/ou
suínos, que apresentam uma certa regularidade no seu fornecimento.
Do ponto de vista construtivo, apresenta-se de fácil construção, contudo o gasômetro de metal
pode encarecer o custo final, e também à distância da propriedade onde o resíduo se forma pode

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dificultar e encarecer o transporte ao biodigestor, inviabilizando a implantação deste modelo de


biodigestor.
A figura 9 ilustra uma imagem relativa ao corte frontal de um biodigestor indiano.

Figura 9. Vista Frontal, em corte, do biodigestor de modelo Indiano (BENINCASA; ORTLANI; LUCAS

A figura 10, ilustra a vista tridimensional do biodigestor de modelo Indiano

Figura 10. Vista tridimensional do biodigestor modelo Indiano (DEGANUTTI; PALHACI; ROSSI)

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ii. Modelo Chinês

O biodigestor modelo chinês é formado por uma câmara cilíndrica em alvenaria para fermentação,
com tecto impermeável, destinado ao armazenamento do biogás. Este biodigestor funciona com
base no princípio de prensa hidráulica, de modo que aumentos de pressão em seu interior, devido
ao acúmulo de biogás, resultarão em deslocamentos do efluente da câmara de fermentação para a
caixa de saída, e em sentido contrário quando ocorre descompressão (DEGANUTTI; PALHACI;
ROSSI; TAVARES, 2002).
O modelo Chinês é constituído quase que totalmente em alvenaria, dispensando o uso de
gasômetro em chapa de aço, reduzindo os custos, contudo pode ocorrer problemas com vazamento
de biogás caso a estrutura não seja bem vedada e impermeabilizada. Neste tipo de biodigestor, uma
parcela de gás formado na caixa de saída é libertada para a atmosfera, reduzindo parcialmente a
pressão interna do gás.
Por este motivo às construções de biodigestores modelo Chinês não são utilizadas para instalações
de grande porte (DEGANUTTI; PALHACI; ROSSI; TAVARES, 2002). Semelhante ao modelo
Indiano, o substrato deve ser fornecido continuamente, com a concentração de ST em torno de 8%,
para evitar entupimentos do sistema de entrada e facilitar a circulação do material (DEGANUTTI;
PALHACI; ROSSI; TAVARES, 2002).
A figura 11 ilustra a vista frontal em corte de um biodigestor de modelo Chinês.

Figura 11. Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Chinês (DEGANUTTI; PALHACI; ROSSI)

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A figura 12 ilustra a vista tridimensional de um biodigestor de modelo Chinês.

Figura 12. Vista tridimensional do biodigestor modelo Chinês (DEGANUTTI; PALHACI; ROSSI)

3.6.2. Biofertilizantes
Biofertilizante é a denominação dada ao resíduo aquoso de natureza orgânica, que pode ser
utilizado na fertilização do solo, que tem origem na fermentação de resíduos vegetais e animais
em biodigestores com finalidade de se obter o biogás (SOUZA; PEIXOTO; TOLEDO, 1995).
Pelo processo de fermentação, o material orgânico utilizado para produzir o biogás transforma-se
em fertilizante orgânico. Este material é isento de causadores de doenças e pragas às plantas, não
apresenta odor e por isso não atrai moscas, insectos e roedores, agentes proliferadores e causadores
de doenças. Caso isso ocorra, é necessário aumentar o tempo de retenção hidráulica do material
(PARCHEN, 1979; SOUZA;PEIXOTO;TOLEDO, 1995; FILHO, 1981).
O biofertilizante contribui para aumentar o teor de húmus no solo, melhorando as propriedades
físicas e químicas, além de ajudar a melhoras as actividades microbianas do solo, podendo ser
aplicado directamente na forma líquida ou desidratada, dependendo das condições locais de
infraestrutura (FILHO, 1981).
O biofertilizante apresenta maior concentração de nutrientes do que o resíduo original, devido as
grandes perdas de carbono, hidrogénio e oxigénio (SOUZA; PEIXOTO; TOLEDO, 1995). A
composição média do biofertilizante é de 1,5 a 4,0% de nitrogénio, 1,0 a 5,0% de fósforo e 0,5 a

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3,0% de potássio, além de apresentar vários nutrientes como cálcio, magnésio, enxofre, boro, cobre,
ferro, manganês, molibdénio e zinco, o que lhe garante inegáveis vantagens para utilização como
complemento ou substitutos de adubos nitrogenados químicos (PARCHEN, 1979; SOUZA;
PEIXOTO; TOLEDO, 1995; FILHO, 1981). Além disso, apresenta um pH entre 7,0 a 8,0, ou seja,
levemente alcalino, propiciando o crescimento de microrganismos úteis a terra, que restabelecem
a vida do solo, levando ao equilíbrio do pH ( SOUZA; PEIXOTO; TOLEDO, 1995; BARRERA,
2003). Caso o efluente do biodigestor apresente o pH menor que 7,0, afluente ácido, deve-se
avaliar o processo, uma vez que este valor indica digestão incompleta ou sobrecarga do biodigestor.
Já se o afluente apresentar pH superior a 8,0, afluente alcalino, novamente deve-se avaliar a
operação, uma vez que este valor indica um excesso de retenção hidráulica (SOUZA; PEIXOTO;
TOLEDO, 1995).

Figura 13. Fluxograma do processo de produção de biogás a partir da biomassa / Fonte: adaptado pela autora

Para outras formas de aproveitamento do biogás, em escalas mais elevadas, é usada a combustão
direta, onde o biogás é queimado em câmaras de combustão de caldeiras, aquecedores, secadores
ou turbinas a gás, e o calor liberado na queima pode ser utilizado para geração de eletricidade

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3.6.3. Motores geradores de Energia Eléctrica à Biogás


De acordo com OLIVEIRA JUNIOR (1997), motores térmicos de combustão interna são aqueles
em que a mistura admitida para dentro do motor é queimada e sua energia ‘e transformada em
energia mecânica.

A conversão energética de biogás em energia eléctrica pode ser realizada de diversas formas, sendo
as mais utilizadas as microturbinas a gás e os motores de combustão interna de ciclo Otto e o ciclo
Diesel.

O ciclo Otto ou de ignição por centelha já possui unidades existentes e adaptadas para o uso com
gás natural, e o modelo mais facilmente adaptável, consistindo a principal alteração numa
regulagem no carburador para a queima de uma mistura e combustíveis mais fracos com velas para
a ignição, que passa a ser feita por centalha.

Os motores movidos à gasolina ou diesel, de ignição por centelha, já convertidos a ciclo Otto,
podem facilmente ser convertidos para motores a biogás. São utilizadas as mesmas técnicas de
conversão de motor à gasolina para motor a gás natural. Devido a concentração de metano ser
menor no biogás do que no gás natural, o poder calorífico do biogás corresponde a proximamente
a metade do gás natural, portanto deve-se dimensionar o sistema de carburação para que o fluxo
de biogás seja o dobro do fluxo do gás natural, mantendo-se a potência (MUELLER, 1995;
MACARI et al, 1987).

Os grandes grupos motores geradores a biogás, as quais possuem um sistema de resfriamento a


‘aguam onde os gases de exaustão e a água quente podem ser utilizados com o auxílio de trocadores
de calor (cogeração) para produção de ‘agua quente para o processo produtivo, aquecimento de
construções, resfriamento através dos sistemas de refrigeração por absorção, podem alcançar
potência da ordem de 1.6 MW. A eficiência do sistema é aumentada pelo uso de energia térmica

Os motores geradores a biogás podem ser utilizados tanto na área urbana com o biogás produzido
nos aterros sanitários ou no sistema de tratamento de esgoto doméstico e industrial, como também
na área rural com o biogás proveniente da biomassa animal, que é o cenário deste estudo.

Em um sistema motor gerador, cuja função é transformar energia mecânica em elétrica, o gerador
de eletricidade é considerado como equipamento secundário, sendo formado por duas partes, uma

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móvel chamada de rotor, onde aparece a força eletromotriz e outra parte fixa, responsável pelo
campo magnético onde são localizados os pelos do gerador, e é denominada de estator.

De Acordo com com BERNDSEN (2007), o motor é acoplado no gerador por meio de um
acoplamento elástico capaz de absorver pequenos desalinhamentos axiais e radiais e vibrações
geradas por variações de carga. Dependendo do tipo de ligação trifásica 200/127 V, 380/220V ou
440/254.

O tamanho dos geradores influencia no rendimento dos gerados, quanto menor o gerador, menor
também será seu rendimento. O rendimento de um gerador é variável e pode atingir valor máximo
com carga entre 80 a 100% da potência máxima.

Para se direcionar um gerador para uma determinada aplicação, devem ser conhecidos alguns
dados como a rotação (RPM), a frequência (Hz), a tensão nominal, a potência nominal, número de
fases e de polos, fator de potência, tipo de acoplamento no equipamento primário, dados
ambientais, entre outros.

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CAPÍTULO IV-RESULTADOS E DISCUSSÃO


4.1. Descrição da área de Estudo
Gaza é uma Província de Moçambique. Localizada no sul do País, a sua capital é a cidade de Xai-
Xai, situada a cerca de 210 quilómetros a norte da capital nacional, Maputo. Gaza é atravessada
pelo rio Limpopo, sendo o seu centro vital. É ele que torna a Província importante sobre diferentes
pontos de vista: agricultura, política e desenvolvimento
A densidade populacional é de 19,5 hab/km2, com uma área de 75.334Km2 e a população estimada
de 1.467.951 habitante, em 2017. Na última década a população cresceu cerca de 17%.
A província de Gaza detém um grande potencial na criação pecuária, ela adapta-se com facilidade
à criação de caprinos, ovinos, suínos, aves de capoeira e alguns asininos para serviços caseiros.
De acordo com o MADER/DDP no que tange a produção de suínos a província de Gaza tem um
potencial de 206.609 cabeças.

Figura 14. Mapa da Província de Gaza (Plano Estratégico da Província 2018-2027)

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4.2. Planeamento de uma planta para geração de Energia Eléctrica a partir do


Biogás com Implementação na província de Gaza
Para elaborar uma planta sustentada por biogás proveniente de biomassa animal, é necessário
analisar e considerar os pontos abaixo:

 Levantamento da quantidade de dejetos produzidos: passo que ajudará a estimar a


quantidade de dejetos produzidos em função de números de animais;
 Estimativa da quantidade de biogás: operação para obter a quantidade de biogás e a
análise da qualidade do biogás produzido;
 Escolha do Biodigestor a ser implantado: dimensionamento, tipo de biodigestor que seja
eficiente para a produção de biogás com os dejectos produzidos;
 Estudo da conversão de energia eléctrica: Escolha do motor a ser usado,
dimensionamento do motor e análise da conversão de biogás para energia eléctrica.
 Estudo de viabilidade técnica e econômica: analisar o rendimento da conversão, o tempo
de retorno sob o valor investido na planta.
 Análise do destino do biofertilizante

4.2.1. Levantamento da quantidade de dejetos produzidos


A tabela 3 apresenta a relação de dejetos produzidos por suíno em relação de esterco água:

Animal Esterco por dia (Kg) Relação esterco/agua


Suíno 2.5 1:2
Tabela 3. Relação dejetos produzidos por proporção de água. / Fonte-(GIQUEREIDO,2017)

Fazendo a interpretação da tabela, conclui que 1 suíno produz 2.5 Kg por dia, onde a sua diluição
com água deve ser duas vezes o peso do esterco produzido.

É importante salientar que para este estudo, foram considerados produtores pecuários com
característica de produção intensiva, que, é o melhor tipo de produção no que tange ao
aproveitamento de dejetos produzidos para conversão de biogás pois estes, encontram-se
concentrados em uma área confinada de fácil maneio. Desta forma, a produção de suíno na
província de Gaza é de 206.609, foi considerado para o projecto 2% desta produção oque faz
aproximadamente um efectivo de 4132 cabeças que, de acordo com a tabela acima, produz uma
quantidade biomassa animal de 10330 Kg visto que 1 suíno produz 2.5 Kg de esterco diário.

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4.2.2. Estimativa de quantidade de biogás


Para este estudo, foi usado parâmetro abaixo para o cálculo da estimação de quantidade produzida:

Animal Biogás (m3/kgesterco) GLP (kg/dia)


Suíno 0,075-0,089 0,084
Tabela 4. Fatores de conversão de biogás e GLP. /Fonte: OLIVER et al., (2008) e FARRET (2010)

A produção de biogás, pode ser estimada em função da alimentação diária de Sólidos Voláteis
(SV). Para o caso da produção de suínos, a produção especifica de biogás é de 0.075-0.089
m3/kgesterco, onde o biodigestor tem sua maior produção com um tempo de retenção hídrica (TRH)
de 22 dias, uma temperatura de operação de 35°C e uma concentração de 55 a 65 kg de sólidos
voláteis por m³ de dejetos afluentes no biodigestor (OLIVER et al., (2008) e FARRET (20100)).

Para este estudo, sendo que a média de produção é de 10330 kg/dia como foi acima mencionado,
para o cálculo da produção de biogás a fórmula abaixo irá ser considerada:

Pbiogás= Pesterco * 0.075

Eq. 6

e a produção de gás será de:

PGLP= (Pesterco * gáskg/dia)

Eq. 7

4.2.3. Análise e correção de qualidade dos dejetos


A fim de se obter uma maior eficiência no biodigestor deve-se analisar a composição dos dejetos
produzidos, sendo que estes influenciam diretamente no processo de geração de biogás, esta
análise será feita seguidamente.

 Filtragem: nos dejectos providos da granja estão presentes inúmeros tipos de materiais
que podem prejudicar a produção de biogás, para filtrar estes materiais indesejados é
necessário realizar filtragens através de peneiras, sendo estas dimensionadas de acordo com
a necessidade observada na análise dos dejectos.
Também se faz necessário o uso de uma lagoa de sedimentação, a qual é dimensionada
para que os dejetos providos da granja permaneçam na lagoa pelo período de um dia, neste

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intervalo de tempo os resíduos de maior densidade como a areia, restos metálicos e o


cimento devem sedimentar, evitando assim o seu acúmulo dentro do biodigestor.
 Concentração: outro factor a ser considerado é a diluição dos dejectos, pelo desperdício
de água utilizado na limpeza das baias dos animais, pelos vazamentos existentes nos
bebedouros, entrada de água da chuva nos sistemas de manejo dos dejectos e no caso da
suinocultura pelo uso de lâmina de água nos sistemas de produção. O grau de diluição pode
ser determinado pela observação da Matéria Seca (MS) ou Sólidos Totais (ST) presentes
nos dejectos, sendo que os Sólidos Voláteis (SV), que são os substratos para as bactérias
metalogénicas, representam entre 70% a 75% dos Sólidos Totais, para o caso dos dejectos
dos suínos. Os SV são os responsáveis directos pela produção de biogás (La Farge, 1995;
CCE, 2000).
A tabela 5 mostra a concetração de substractos em relação a densidades de biomassa diluída.
Densidade Matéria Seca Ntot. P2O5 K2O
(kg/m3) MS – (%) (kg/ m3) (kg / m3) ( kg / m3)
1008 1,24 1,60 1,14 1,00
1012 2,14 2,21 1,75 1,25
1016 3,04 2,83 2,37 1,50
1020 3,93 3,44 2,99 1,75
1024 4,83 4,06 3,60 2,00
1028 5,73 4,67 4,22 2,25
1032 6,63 5,28 4,84 2,50
1040 8,42 6,51 6,07 3,00
Tabela 5. Concentração de substratos em relação a densidade de biomassa diluída. Fonte: AMONE,C.20013

4.2.4. Escolha de Biodigestor a ser implantado


A escolha do modelo de biodigestor a ser implantado se deve principalmente ao fluxo de dejetos
fornecidos pela fonte, para a utilização do biogás gerado pelo biodigestor como fonte de energia
para a geração de energia eléctrica será necessário um fluxo de biogás diário capaz de tornar viável
esta geração. Os modelos de biodigestores Indiano e Chinês são indicados para um pequeno fluxo
de dejectos, pois um alto fluxo tornaria o custo de instalação biodigestor inviável.

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O modelo considerado para este estudo é o modelo indiano, sendo de fácil maneio e adaptável com
matérias de fácil aquisição para os moradores rurais afim de sustentabilizar o projeto e
independentemente contruírem o biodigestor.
O biodigestor indiano é constituído por:
 Caixa de Carga: é o local onde o esterco diluído com água deve ser colocado diariamente;
 Tubo de Carga: por gravidade a matéria orgânica diluída vai ser conduzida até o interior
do biodigestor;
 Câmara de biodigestão: Local onde a biomassa será fermentada sem a presença de ar.
Essa câmera é uma espécie de tanque que possui uma divisão para poder separar o dejeto
mais novo, daquele mais antigo que já foi fermentado;
 Gasômetro: esse elemento é responsável por armazenar o gás produzido e manter a
pressão constante do sistema;
 Tudo Guia: este componente é muito importante, pois ele tem a função de regular o
gasômetro, guiando para cima ou para baixo;
 Saída do Biogás: uma tubulação vai canalizar o biogás até o ponto de consumo desse
combustível (fogão ou motor Otto), esta tubulação sairá da parte superior do gasômetro;
 Caixa de saída: onde vai ser conduzido o material já degradado, ou seja, o biofertilizante
que vai ser retirado da caixa de saída e aplicado nas áreas de cultivo

Figura 15. Exemplificação de um biodigestor Indiano para construção em zona rural.

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4.2.4.1. Dimensionamento do Biodigestor


Para o dimensionamento do biodigestor deve-se levar em consideração o tempo de retenção hídrico
que será utilizado na planta e o volume diário de dejetos gerados conforme a fórmula:
Vb= VC * TRH
Eq. 8

Onde:
Vb= Volume do biodigestor
VC= carga diária de esterco diluído em agua
TRH= retenção hidráulica

A carga diária (VC) consiste na multiplicação da quantidade de dejeto diluído em água que será
inserido no biodigestor pelo volume de conversão, deste modo:

VC= Ddiluído * 0,001m3

Eq. 9

Onde:

Ddiluido = quantidade de biogás / pela proporção

A biomassa deve ser misturada 1:2 para suínos. Relativamente ao tempo de retenção foi adoptado
22 dias (AMARAL et al., 2004; QUADROS et al., 2007).

A caixa de entrada deve ser construída com o piso a 20cm de altura acima do nível do tanque de
fermentação, e deve ser dimensionada com no mínimo três vezes o volume da carga diária para
permitir o armazenamento do biofertilizante.

A caixa de descarga deve ficar 20 cm de altura abaixo do nível da borda do tanque de fermentação.

O tubo de descarga deve apresentar característica de corte diagonal no que concerne a extremidade
que será inserida dentro do biodigestor para que facilite a entrada do esterco.

O tubo de saída de estar conectado a medida de limite do esterco introduzido no biodigestor de


modo que, ao ser inserido o esterco, após o seu tempo de retenção o biogás começa a ser produzido
se guiando para o gasômetro, deste modo, o esterco antigo por apresentar densidade menor irá fica

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na parte superior e assim facilitando a saída do biofertilizante sem incorrer riscos de saída de
esterco mais recente.

4.2.5. Estudo da conversão de energia eléctrica:

Após estudos realizados por meio de Benchmarking com algumas empresas de venda de Motor
Geradores á Biogás, foi considerado o modelo LS-80GFT com potencial nominal de
80kW/100KVA à Biogás e com especificações técnicas abaixo, ao preço de 818.816,00 MZN.

Motor Gerador a Biogás


Modelo No. LS-80GFT Potência nominal 80KW/100KVA
Freqüência avaliado 50 HZ/60 HZ Fases Arranjo 3P4W
Tensão nominal 400 V/230 V Corrente nominal 144A
Fator de potência 0.8 Modelo do motor LS70-68G
A Potência do motor 90KW Velocidade nominal 1500 RPM/1800 RPM
Cilindro Qtde 6 Bore 126 milímetros
Regulação de velocidade Governador Começando O Método Partida elétrica
eletrônico
Método De Entrada de Natural Aspirado A Pressão do gás ≥2. 5Kpa
ar
Temperatura do gás ≤40℃ Dimensão (L * W * H) 2700*980*1680
milímetros
Peso líquido 1900 KG
Tabela 6. Especificações técnicas do grupo gerador modelo LS-80GFT 80/100 kW / Fonte: Diesel Eléctrica Maputo

A figura 16 ilustra a imagem de um grupo motor gerador, obtido através da solicitação a empresa
Diesel Eléctrica Moçambique.

Figura 16. Grupo Motor gerador LS-80GFT 80/100 kW / Fonte: Diesel Eléctrica Maputo

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

4.2.6. Estimativa de quantidade de energia eléctrica produzida


A conversão de energia deve ser analisada a cada caso, sendo que está normalmente será pelo ciclo
de Otto, utilizando motores ottolizados ou motores a gasolina convertidos para biogás.
Estimar a quantidade de energia eléctrica que pode ser produzida é importante para o estudo de
viabilidade económica do projecto.

Para esta análise, existem duas formas

 Estimativa por conversão de energia

Pge = Vb * Pcb * Rmt * Rge * FC / Ckw

Eq. 10

Onde:

Pcb = Poder calorífico do biogás (kcal) = 6.500

Rmt = Rendimento do motor (%) = 0,30

Rge= Rendimento do gerador (%) = 0.90

Ckw= Conversão de kcal para kwh = 859

Ou por:

PE= Pot * T

Eq. 11

Onde:

Pot= Potência nominal da planta (KW)

T= Disponibilidade anual da planta (horas/ano)

4.2.6.1. Análise do destino da energia eléctrica


Esta análise é necessária para que possamos saber quantas residências podem ser sustentadas por
este projeto de geração de energia eléctricas a partir do biogás.

Foi considerado para este estudo, uma casa Tipo 2 com 5 moradores que é a média das habitações
nas zonas rurais da província de gaza. (Plano Estratégico da Província de Gaza 2018-2027)

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

A mesma, tem o consumo de uma botija de propano butano (gás de cozinha) de 11kg mensal e
energia eléctrica abaixo auditada por compartimento:

# de Potência Potência Período Tempo Energia


Comparto. Item Equipamento Equip. Unitária Total do Dia de uso Diária
(W) (W) (h) (h) (Wh)

Varanda 1 Lâmpada 1 20 20 17h-05h 12 240


Frontal Fluorescente
2 Congelador 1 95 95 24h 24 2280
Cozinha 3 Lâmpada 1 20 20 18h-00h 6 120
Fluorescente
4 Lâmpada 2 20 40 18h-06h 12 480
Fluorescente
Sala 5 TV 1 75 75 11h-01h 15 1125
Quarto 1 6 Lâmpadas 1 20 20 18h-01h 7 140
Fluorescentes
Quarto 2 7 Lâmpada 1 20 20 18h-22h 4 800
Fluorescente
Total 8 270 290 - - 5185
Tabela 7. Auditoria Energética numa residencial rural. Fonte: produzido pela autora

Fazendo a interpretação da tabela, foram extraídos os dados seguintes:

Quantidade de Gás usado por mês: 11kg

Energia Eléctrica consumida (Wh)/dia= 5185,00 Wh

Energia Eléctrica consumida (Kwh)/dia= 5,185 Kwh

Energia Elétrica consumida mensalmente (kwh)/mês = 155,55 Kwh/mês

4.2.7. Estudo de viabilidade técnica e económica

Antes de o projecto ser implantado é necessária uma análise de viabilidade técnica e económica,
para identificar se o mesmo é viável. Nessa perspectiva utiliza-se a descrita por Souza et. al. (2004)
apud Coldebella (2006). Ainda, relatam que o custo está relacionado ao capital investido na
construção e manutenção do biodigestor e do sistema motor-gerador.

Para efeito de cálculo se utilizará para este estudo 2,2% do investimento total ao ano para adquirir
os gastos de manutenção periódicas e operação.

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A tabela apresenta o custo estimado do investimento dos principais componentes para produção
de biogás e geração de energia eléctrica.

Descrição Valor (MZN)


Biodigestor 526.361,00
Grupo Motor-Gerador 818.816,00
Total 1.345.177,00
Tabela 8. Custo estimado do investimento na planta. / Fonte: produzido pela autora

Para obtenção do custo de produção de electricidade utilizou-se a equação:

𝑪𝑨𝑮+𝑪𝑨𝑩
Ce =
𝑷𝑬

Eq. 12

Onde:

Ce = Custo de energia eléctrica produzida via biogás (MZN/kWh)

CAB = gasto anual com o biogás (MZN/ano)

PE = Produção de electricidade pela planta de biogás (kWh/ano)

CAG = Custo anualizado do investimento no conjunto motor-gerador (MZN/ano)

Em que:

𝑪𝑰𝑮∗𝑶𝑴
CAG = CIG* FRC +
𝟏𝟎𝟎

CAB = CB * CNB

Eq. 13

Onde:

CIG = Custo de investimento do motor-gerador (MZN)

OM = Custo de operação e manuntenção (% / ano)

CB = Custo de biogás (MZN/m3)

CNB = Consumo de biogás pelo conunto motor-gerador (m3/ano)

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Para o cálculo da produção de electricidade, foi usada a equação seguinte:

𝒋∗(𝟏+𝑱) 𝒏
FRC =
(𝟏+𝒋 ) 𝒏−𝟏 −𝟏

Eq. 14

Onde:

FRC = Fator de recuperação de Capital

j = taxa de desconto (% ano) e

n = Anos para amortização do investimento

Para calcular o custo de produção do biogás foi usada a equação 15:

𝑪𝑨𝑩
CB =
𝑷𝑨𝑩

Eq. 15

Onde:

CAB = Custo anualizado do investimento no biodigestor (MZN / ano)

PAB = Produção anual de biogás (m3 / ano)

𝑪𝑰𝑩∗𝑶𝑴
CAB = CIB.FRC +
𝟏𝟎𝟎

Eq. 16

CIB = Custo de investimento no biodigestor (MZN)

Para o cálculo da viabilidade de geração de energia eléctrica, determinou-se o tempo de retorno


de investimento (TRI):

𝒌
𝐥𝐧 ( − )
𝒋−𝒌
TRI =
𝐥𝐧(𝟏+𝒋 )

Eq. 17

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Em que:

𝑨 𝑶𝑴
k= −
𝑪𝑰 𝟏𝟎𝟎

Eq. 18

𝑶𝑴
A = CI * ( FRC * )
𝟏𝟎𝟎

Eq. 19

Onde:

CI = Custo de Investimento no sistema biodigestor/ motor-gerador (MZN)

A = gasto anual com energia eléctrica adquirida na rede (MZN / ano)

OM = Gastos com amortização e manunteção da planta (MZN / ano)

TRI = Tempo de retorno (anos)

4.2.8. Destino do Biofertilizante

O biofertilizante gerado pelo biodigestor pode ser utilizado para a adubação da própria propriedade
na produção de grãos e gramíneas possibilitando o aumento de produção de outro empreendimento.
Também pode ser utilizado, após desidratado, para dar volume à composição de rações animais.

4.3. Estudo de viabilidade técnica e económica


Para o estudo do potencial de geração de energia elétrica usando o biogás como fonte primária na
província de Gaza, foi considerado 2% da produção total da província como mencionado no ponto
4.2.1.

a) Estimativa de quantidade de dejetos

Número de animais = 4132

Quantidade de biomassa animal (dejetos) = 10330 kg

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

b) Quantidade de Biogás produzido:

Eq. 20

Pbiogás= Pesterco * 0.075 m3/kg * 80%

Pbiogás = 10330 kg * 0.075

Pbiogás = 774.75 m3

Pbiogás = 619.8 m3

c) Quantidade de gás de cozinha produzido:

Eq. 21

Pgás=Pesterco * 0.084

Pgás=10330* 0.084

Pgás= 867.72 kg / dia

d) Dimensionamento do Biodigestor

Ddiluido = 20660 l

Eq. 22

Vc = 20660 l * 0.001 m3

Vc = 20,66 𝑙 ⁄𝑚3

Vb = 20.66 * 22 dias

Vb = 454. 52 m3

e) Estimativa de quantidade de energia eléctrica produzida por mês

Eq. 23

Pge = Pb * Pcb * Rmt * Rge * FC / Ckw

Pge = (619.8 m3 *6500 kcal/m3 * 0.30 * 0.90 * 0.94) / 859

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Pge = 1190.32 kWh/dia

Ou

Pe = Pot * T

Sendo que o T é dada a disponibilidade anual da planta, a quantidade de biogás produzida é de


619.8 m3/dia e o consumo por hora de biogás pelo motor é de 26 m3 por hora, portanto, o motor
pode trabalhar 23 horas por dia e 6072 horas por ano em dias úteis (264 dias)

Eq. 24

Pe = 100 kW * 6072

Pe = 607.200 kWh / ano ↔ 50.600 kWh / mês ↔ 1686.67 kWh / dia

Desta forma, podemos observar que quando apenas considerado a quantidade de biogás produzida
no projecto o rendimento é maior pois não é considerado nenhuma perda. Por outro lado, quando
considerado a produção de energia de considerando o rendimento do motor, o coeficiente de perda
temos a produção de energia menor.

f) Estudo de viabilidade económica


 Cálculo do fator de recuperação

Para a concepção do sistema de aproveitamento do biogás, consideremos que o capital pode ser
obtido através de um financiamento parcelado em 8 anos com uma taxa de desconto de 8%.

Eq. 25

0.080∗(1+0.08) 8
FRC =
(1+0.080) 8−1 −1

FRC = 0, 207

 Cálculo do custo anualizado do investimento no conjunto motor-gerador

Sendo que foi considerado 2,2% do investimento total ao ano para as manutenções periódicas no
conjunto motor-gerador:

Eq. 26

818,816∗2,2
CAG = 818,816 * 0.207 +
100

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

CAG = 187508.86 MZN

 Cálculo do custo anualizado do investimento no biodigestor

Eq. 27

526,361∗2,2
CAB = 526,361 * 0.207 +
100

CAB = 120,536.67 MZN

 Cálculo do custo do biogás

Para encontrar o PAB na equação CB, foi levado em consideração a quantidade de gás diário
gerado na propriedade multiplicado pelos dias uteis anuais de geração, que é aproximado a 264
dias por ano.

Eq. 28

120,536.67
CB =
163,627.2

CB = 0,737 MZN / m3

 Cálculo do gasto anual com o biogás

Para encontrar o CNB na equação CAB, foi levado em consideração a quantidade de dias que gera
biogás no ano (264), multiplicado por 619.8 m3 que é o consumo aproximado por dia de biogás
pelo motor-gerador, já que irá trabalhar em torno de 23h/dia.

Eq. 29

CAB = 0,737 * 163,627.2

CAB = 120,593.25 MZN /ano

 Cálculo do custo de energia eléctrica produzida via biogás

Foi considerado para Pe, a energia eléctrica produzida por ano pelo grupo motor gerador que
incluem as perdas e o rendimento, sendo que a produção é de 1190.32 KWh/dia e o biodigestor
funciona 264 dias úteis/ano, a produção anual será de 314,244.48.

Eq. 30

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Estudo de viabilidade de produção de energia eléctrica a partir de biogás na província de Gaza

187508.86 +120,536.67
CE =
314,244.48

CE = 0.98 MZN / kWh

 Cálculo do gasto anual com energia eléctrica adquirida na rede

Eq. 31

29593.89
A = 1345177 * (0.207 + )
100

A= 398.368.653,32MZN/ano

 Cálculo do tempo de retorno de investimento

Eq. 32

398.368.653,32 29593.89
k= −
1345177 100

k = 0.21

 Cálculo do tempo de retorno (anos)

Eq. 33
0.21
ln(− )
0,08−(0.21)
TRI = ln(1+0,08)

TRI = 6.28 anos.

A tabela 9 resume os resultados alcançados na conversão da biomassa animal em biogás, biogás


para cozinha e energia eléctrica.

Suíno
Número de Animais 4132
Dejectos Produzidos/ dia 10330 Kg

Biogás Produzido 619.8 m3

Biogás para Cozinha Produzido 867.72 kg /mês


Energia Eléctrica Produzida/dia 1190.32 kWh
Tempo de Retorno de investimento 6 anos

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Gasto Mensal Com Energia Elétrica


1188,402 MZN
ligada a rede
Tabela 9. Conversão de biomassa animal em biogás, biogás para cozinha e energia eléctrica / Fonte: Produzido pela autora

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4.4. Discussão
Através dos estudos técnicos acima apresentado foi possível comprovar a viabilidade de instalação
do sistema para geração de energia eléctrica usando o biogás como fonte primária gerado por
biodigestor que após é acoplado a um grupo motor gerador.
O consumo de gás de cozinha como mencionado acima é de 11 Kg mensal ao preço de 670 MZN.
Podemos observar que o projecto produz 867.12 m3 de GLP por dia que dá para suprir
proximamente 78 casas com o mesmo consumo de gás neste caso substituído por biogás.

A utilização da energia eléctrica pelos vários compartimentos, constitui um consumo mensal de


155 KWh. Oactual sistema tarifário de Moçambique pressupõe um custo de 7,64 MZN/kW oque
faz com que o custo médio para obtenção de electricidade na residência é de 1184.2 MZN mensal.
Pelos cálculos apresentados, é possível obter 1190.32 kWh de energia eléctrica a partir de esterco
de suíno e assim suprir a necessidade eléctrica de aproximadamente 200 casas com o custo de
energia relativamente menor ao da energia adquirida na rede visto que, a fonte da mesma é obtida
através dos produtore. Entretanto, será um sistema que além de sustentabilizar a actividade
(agropecuária), traz consigo o benefício de acesso a energia eléctrica sem depender da rede e das
suas variações de preço.

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CAPÍTULO V - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES


5.1. Conclusões
Este trabalho teve como objectivo geral fazer um estudo de viabilidade de produção de energia
eléctrica a partir de biogás na província de Gaza com vista a avaliar os processos de produção para
obtenção de electricidade a partir deste recurso renovável onde foram considerados os objectivos
específicos para o alcance das metas por mim desenhadas para o projecto.

Com base nesta pesquisa, foram tiradas as conclusões seguintes:

 A tecnologia mais comum de conversão de biomassa animal em biogás é o biodigestor que


serve como local de armazenagem do esterco suíno que sob o processo anaeróbico gera
biogás e biofertilizantes.
 Por meio de análises e estudos, foi possível constatar que a partir de 4132 cabeças de suínos
é possível obter 619.8m3, que através do grupo motor gerador de modelo LS-80GFT com
potencia nominal de 80/100KW gera uma produção de 1190.32 kWh/dia que, supera o
consumo mensal da estimativa de consumo de uma residência rural acima mencionado que
é de 155.55 kWh/mês, desta forma, suficiente para alimentar 200 casas.
 No que concerne a viabilidade econômica, o projecto tem uma estimativa de retorno de
investimento de 6 anos e 2 meses. Por estes aspectos apresentados, conclui-se que o
projecto é viável tanto na perspetiva técnica e econômica.

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5.2. Recomendações
Uma vez que o trabalho foi focado na produção de 2% da capacidade total da província e
considerando que a biomassa animal se encontra no local do projecto, recomenda-se que:
 O sistema de produção seja intensivo, isto é, um sistema que foca na actividade pecuária
em meio de confinamento dos suínos num meio de fácil controle o que facilitará a coleta
de dejetos e assim menos perdas se for comparado ao sistema extensivo;
 Um estudo no que concerne a análise do sistema de colecta de dejectos suínos para um
local de fácil acessibilidade a qual estará destinada ao projecto e que seja considerado o
plano de distribuição desta energia eléctrica a partir do local de produção ás residências.
 Investimento por parte do governo e/ou entidades focadas na potencialização de energia
elétrica por fontes renováveis no que tange a infraestruturas, investimentos na área de saúde
dos animais para que a taxa de mortalidade seja baixa e o índice de produção de dejetos
sejam de gráfico constante.
 Treinamento aos produtores locais sobre a potencialidade que a sua actividade alberga,
para que os mesmos tenham um compromentimento e os objetivos do governo e a
sociedade sejam alcançados no que tange a eletrificação rural da província de Gaza e acesso
à energia eléctrica para todos oque, irá desenvolver o País.

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6. Bibliografia
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