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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

CÂMPUS EXPERIMENTAL DE SOROCABA


ENGENHARIA DE CONTROLE E AUTOMAÇÃO

TIAGO FRANCISCO DE OLIVEIRA SCALON

Estudo de caso: Modernização e otimização de


pequenas centrais hidrelétricas visando diminuição de
custos

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Sorocaba
2017
TIAGO FRANCISCO DE OLIVEIRA SCALON

Estudo de caso: Modernização e otimização de


pequenas centrais hidrelétricas visando diminuição de
custos

Trabalho de conclusão de curso apresen-


tado ao programa de graduação em Enge-
nharia de controle e automação, da Univer-
sidade estadual Paulista de Sorocaba.

Orientador: Galdenoro Botura Jr

Área de Conhecimento: Dr. em Engenharia


elétrica

Sorocaba
2017
Scalon, Tiago Francisco de Oliveira.

Estudo de caso: modernização e otimização de pequenas


centrais hidrelétricas visando diminuição de custos / Tiago
Francisco de Oliveira Scalon, 2017.
79 f.: il.

Orientador: Galdenoro Botura Junior.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade


Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Ciência e
Tecnologia (Câmpus de Sorocaba), 2017.

1. Modernização. 2. Pequenas centrais hidrelétricas. 3.


Automação. 4. Teleoperação. Universidade Estadual Paulista
"Júlio de Mesquita Filho". Instituto de Ciência e Tecnologia
(Câmpus de Sorocaba). II. Título.
Tiago Francisco de Oliveira Scalon

Estudo de caso: Modernização e otimização de pequenas centrais hidrelétricas


visando diminuição de custos

IMPORTANTE: ESSE É APENAS UM


TEXTO DE EXEMPLO DE FOLHA DE
APROVAÇÃO. VOCÊ DEVERÁ SOLICITAR
UMA FOLHA DE APROVAÇÃO PARA SEU
TRABALHO NA SECRETARIA DO SEU
CURSO (OU DEPARTAMENTO).

Trabalho aprovado. Sorocaba , DATA DA APROVAÇÃO:

Galdenoro Botura Jr
Orientador

Professor
Convidado 1

Professor
Convidado 2

Sorocaba
2017
Dedico este trabalho aos meus pais que sempre deram o melhor deles para que eu
pudesse dar o meu.
Agradecimentos

Agradeço a minha irmã Aline por sempre ter me incentivado a buscar meus
sonhos.
Agradeço a minha namorada Larissa Carrijo por todo apoio e incentivo que
me deu durante esses anos de faculdade e que foram de grande valia para que eu
conseguisse chegar até o fim dessa jornada.
Agradeço a todos os amigos de república que tive o prazer de compartilhar
muitos momentos bons, sempre com companheirismo e muitas risadas, sem os quais
minha estadia esses anos em Sorocaba não teria sido tão divertida. Um sincero
obrigado a todos: Vet, Tulio, Luke, Murilo, Madeira, Capi Jr, Daiane, Mega, Patriota,
Brandão, Lucas, Diego, Akita e Nakajima.
Agradeço a todos os amigos que fiz na 8ª turma de ECA e que pretendo levar
para a vida toda.
Agradeço ao Professor Galdenoro pela orientação neste trabalho e em todas
matérias que tive a oportunidade de ter com o mesmo.
“A mente não tem limite. Quando a mente
pode antever o fato de que você pode rea-
lizar algo, você realmente pode, desde que
acredite nisso 100%.” Arnold Schwarzenegger
Resumo

Este trabalho tem como objetivo elaborar uma proposta de padronização para projetos
de automação de pequenas centrais hidrelétricas, e otimizar a solução de forma que o
sistema atenda aos requisitos operacionais e de performance, do cliente e da ONS que
é a agência que regulamenta esse mercado de geração de energia.
O desenvolvimento deste trabalho é baseado no estudo e análise de um caso real
de projeto de modernização de uma pequena central hidrelétrica. Além do projeto,
foram pesquisados trabalhos que tratavam sobre diversos temas tais como: Moderniza-
ção de usinas hidrelétricas, custos envolvidos no projeto e construção de pequenas
centrais hidrelétricas e operação remota de centrais. Utilizando todo o conhecimento
aprendido das propostas apresentadas pelos respectivos autores e todo conhecimento
aprendido no dia a dia fazendo propostas de automação para pequenas e grandes
centrais hidrelétricas, o trabalho conclui com a apresentação de uma solução otimizada
para pequenas centrais hidrelétricas que atende a diminuição dos custos de hardware,
diminuição dos custos operacionais através da possibilidade de operação remota e
desassistida, e satisfazer as exigências de operação impostas pela ONS.
Palavras-chave: Pequenas centrais hidrelétricas, modernização, operação remota,
automação, otimização.
Abstract

This work aims to prepare a standardization proposal for automation projects for small
hydropower plants, and to optimize the solution so that the system meets the operational
and performance requirements of the client and ONS, which is the agency that regulates
this market of power generation.
The development of this work is based on the study and analysis of a real case of
modernization of a small hydropower plant. In addition to the project, research was
done on topics such as: Modernization of hydroelectric plants, costs involved in the
design and construction of small hydroelectric plants and remote operation of power
plants. Using all the knowledge from the proposals presented by the respective authors
and all the knowledge acquired in the day to day making proposals of automation for
small and large hydroelectric power plants, the work concludes with the presentation of
an optimized solution for small hydropower plants that attends the reduction of costs
Reduction of operating costs through the possibility of remote and unmanned operation,
and to meet ONS ‘operating requirements.
Keywords: Small hydropower plants, modernization, remote operation, automation,
optimization.
Lista de ilustrações

Figura 1 – Sistema interligado nacional SIN . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20


Figura 2 – PCH de acumulação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 3 – PCH fio d‘água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 4 – Esquema de uma PCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 5 – Principais motivos para modernização de usinas . . . . . . . . . . . 37
Figura 6 – Organização dos centros de controle e supervisão ONS . . . . . . . 47
Figura 7 – Solução padrão para UHE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 8 – Solução padrão para PCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
Figura 9 – O&M x Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Figura 10 – O&M x Idade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Lista de tabelas

Tabela 1 – Empreendimentos em operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19


Tabela 2 – Empreendimentos em construção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Tabela 3 – Empreendimentos com construção não iniciada . . . . . . . . . . . 22
Tabela 4 – Divisão custos de uma usina hidrelétrica . . . . . . . . . . . . . . . 27
Tabela 5 – Divisão custos de uma PCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Tabela 6 – Despesas pré-operacionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Tabela 7 – Investimento em ativos fixos em reais . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Tabela 8 – Custos O&M PCHs em R$/MWh . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Tabela 9 – Lista de materias solução padrão PCH . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Lista de abreviaturas e siglas

ANEEL Agência nacional de energia elétrica

BIG Banco de informações de geração

CA Corrente alternada

CC Corrente contínua

CD Concentrador de dados

CGH Centrais geradoras hidrelétricas

CLP Controlador lógico programável

CNOS Centro nacional de operação do sistema

COD Centro de operação de distribuição

COG Centro de operação de geração

COI Centro de operação da instalação

COL Centro de operação local

COR Centro de operação regional

COS Centro de operação do sistema

COSR Centro de operação regional do sistema

COT Centro de operação de transmissão

DMZ Demilitarized Zone

EOL Central geradora eólica

GD Geração distribuída

GE General Eletric

IED Intelligent electronic device

IHM interface Homem Máquina

MO Mensagens operativas

MTBF Mean time between fail


MTTR Mean time to repair

Oamp;M Operação e manutenção

ONS Operadora nacional do sistema elétrico

PCH Pequena central hidrelétrica

PLC Programabble Logic Controller

PTP Precision time protocol

RBE Report by exception

RT Regulador de tensão

RV Regulador de velocidade

SDSC Sistema de supervisão e controle

SIN Sistema interligado nacional

SNTP Sync network time protocol

SOE Sequence of events

SSC Sistema de supervisão e controle

SSCL Sistema de supervisão e controle local

TI Tecnologia da informação

UAC Unidade de aquisição e controle

UFV Central geradora solar fotovoltaica

UHE Usina hidrelétricas

UTE Usina termelétrica

UTN Usina termonuclear

UTR Unidade terminal remota


Lista de símbolos

GW Giga Watt

h Hora

km² Kilômetro quadrado

KWh kilowatt hora

kW Kilowatt

Mb Megabyte

m Metro

ms Milissegundo

MVar Mega Watt

MWh Mega watt hora

MW Mega Watt

R$ Reais
Sumário

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

2 REVISÃO DA LITERATURA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1 Setor energético no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2 Definição PCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3 Custos PCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4 Modernização PCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.5 Automação PCH . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.5.1 Serviços Auxiliares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.5.2 Supervisão e Automação de uma PCH . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.6 Centros de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.7 Protocolos elétricos de comunicação . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.7.1 Protocolo DNP 3.0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
2.7.2 Protocolo IEC 60870-5-104 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.8 Cyber security . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

3 MATERIAIS E MÉTODOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.1 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
4.2 Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

5 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.1 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.2 Trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

ANEXOS 78
15

1 Introdução

O crescimento populacional e o avanço tecnológico, geram um aumento da


demanda de energia cada vez maior. Quando o crescimento da demanda ultrapassa a
capacidade de geração do sistema de energia, torna-se necessário a construção de
novas unidades de geração de grande porte e também de sistemas para a transmissão
e distribuição desta nova parcela de energia. Tal modelo passou a ser questionado
com o surgimento de novas tecnologias que promovem a redução do custo da energia
gerada, e também por grandes obras de geração geram muitos impactos ambientais
associados à sua implantação. Com isso, a geração distribuída passou a ser cada vez
mais valorizada.
O uso do modelo de geração distribuída da energia tem vantagens tanto para o
consumidor final, quanto para as empresas de geração e transmissão de energia, sendo
algumas dessas vantagens consequência da proximidade aos centros consumidores.
Algumas das vantagens da utilização da geração distribuída são: criação de reservas
de geração e menores perdas na rede de transmissão/distribuição, maior estabilidade
ao sistema, redução dos riscos de planejamento, dos investimentos e do tempo para
implantação das centrais, devido ao tamanho reduzido das mesmas, aumento da
confiabilidade do fornecimento de energia aos consumidores próximos à produção local
por criar uma fonte menos suscetível a falhas na transmissão e distribuição, garantindo
a continuidade do fornecimento.
É de interesse mundial a geração de energia através de fontes renováveis e que
resultem em mínimo impacto ao meio ambiente, priorizando a geração sustentável, esta
é uma das principais vantagens no uso das PCHs. Em tempos onde é discutida a
diminuição da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera , já existem PCHs
que comercializam créditos de carbono, provando sua sustentabilidade. As PCHs
contribuem ainda, com a diminuição da emissão de gases de efeito estufa ao serem
uma alternativa para diminuir a utilização de fontes térmicas fósseis que ainda são
responsáveis por boa parte da geração no Brasil. Outra importante vantagem seria
que é um tipo de fonte de geração que se enquadra perfeitamente no modelo de
geração distribuída, possibilitando um melhor atendimento às necessidades de carga
de pequenos centros urbanos e regiões rurais, pois complementa o fornecimento
realizado pelo sistema interligado. Podemos citar ainda: custo acessível, menor tempo
de construção já que as obras civis necessárias são pequenas comparadas a grandes
usinas, disponibilidade de tecnologias eficientes, redução nas perdas do sistema elétrico
e desenvolvimento regional.
Fatores como a idade das pequenas centrais hidrelétricas, muitas com mais de
Capítulo 1. Introdução 16

30 anos, e o aumento da consciência ambiental, a modernização e a repotenciação


de pequenas centrais hidrelétricas tornam-se alternativas realmente atraentes para
atender à crescente demanda de energia no Brasil, que segundo dados da (ANEEL,
2008) aumenta em torno de 4 a 5% ano, contribuindo com a eficiência e confiabili-
dade do sistema de energia, com menores investimentos e impactos ambientais em
relação a construção de novas pequenas centrais hidrelétricas.Alguns dos benefícios
conseguidos com a modernização são: a redução de paradas não programadas e de
manutenções corretivas, a possibilidade de operar a usina de forma “desassistida” e
automática, bem como o aumento da vida útil dos equipamentos, possibilitando assim
uma redução dos custos com manutenção e operação que hoje compõem a maior
parte do gasto na operação de uma pequena central hidrelétrica.
Após muitos anos em operação, os sistemas de uma usina podem apresen-
tar problemas que comprometam a geração de energia. Além da queda na geração,
existem novos requisitos e necessidades a serem cumpridas pela geradora de ener-
gia, como por exemplo a lista de pontos que deve ser disponibilizada para controle
remoto da ONS que opera o SIN, tema que será abordado mais detalhado mais para
frente. Uma forma de resolver isso é através das modernizações. Segundo (MENDES,
2011) elas podem recuperar os índices de qualidade dos sistemas e também incluir
novos recursos neles. A falta de peças sobressalentes, a obsolescência dos equipa-
mentos, a baixa disponibilidade e os altos custos são frequentemente as forças que
levam as concessionárias de energia ao processo de modernização das usinas.
Nas pequenas centrais hidrelétricas, os recursos investidos para o processo
de automação ou semi-automação são disponibilizados levando em conta qual será a
redução dos custos operacionais destas instalações (maior parte recursos humanos) e
pelo ganho de receita em virtude do acréscimo de energia comercializada. Pode haver
alguns casos onde a implantação deste sistema não seja economicamente viável. Por
isso as empresas que fazem automação de PCH estão sempre em busca de soluções
técnicas que satisfaçam as necessidades e requisitos do processo de geração, porém
com custos menores quando comparados a grandes usinas.
O objetivo final do trabalho é elaborar uma solução de hardware de automação
que possibilite automatizar uma pequena central hidrelétrica, para trazer todas as
vantagens da automação, tais como operação automática da usina e redução dos
gastos com O&M, que possa cumprir com todas as exigências impostas pela ONS para
a operação e manutenção de uma PCH, além de melhorar a performance e produção
de energia, porém com um custo reduzido, para ser mais competitivo no mercado e
para poder tornar o processo de modernização economicamente viável e atrativo.
17

2 Revisão da Literatura

2.1 Setor energético no Brasil

O grande parque de geração de energia elétrica no Brasil é formado princi-


palmente pelas seguintes fontes de geração: hidráulica, eólica, térmica e solar. As
características geográficas e físicas do território brasileiro foram determinantes para
que a maior parte da geração de energia elétrica fosse proveniente de um sistema
hidrotérmico com a predominância hidráulica. Em conjunto com a geração hidráulica
temos a parcela restante que corresponde as termoelétricas que tem o objetivo de
complementar o atendimento do Sistema Interligado Nacional nos períodos onde a
uma menor quantidade de chuvas e os reservatórios apresentam um nível mais baixo,
e para suprir necessidades locais quando ocorrem restrições na transmissão. Os pro-
dutores de energia elétrica no Brasil são atualmente classificados em três grupos:
empresas concessionárias de geração, auto produtores e produtores independentes,
sendo que os dois últimos grupos são compostos por pessoa jurídica ou empresas
reunidas em consórcio, que recebam concessão e autorização para produzir energia,
diferenciando-se no fato que os auto produtores geram energia somente para consumo
próprio enquanto os produtores independentes geram toda ou parte da energia para
comercialização.
Segundo dados do Banco de informações de geração (BIG, 2017), a capacidade
de geração elétrica no Brasil foi de 151 GW, sendo que 98 GW se refere a capacidade
de geração hidrelétrica (64,6%). De acordo com (ANEEL, 2008) , no Atlas de Energia
Elétrica do Brasil, 3ª edição, o potencial hidráulico do parque gerador brasileiro é de
cerca de 260 GW, envolvendo 15% das reservas mundiais de água doce disponível. No
entanto apenas um quarto do potencial é utilizado atualmente. Boa parte de todo esse
potencial não utilizado está concentrado na Região Amazônica, que por questões ambi-
entais possui limitações para a exploração do potencial hídrico para empreendimentos
de geração de energia elétrica.
O potencial de geração dos rios nacionais é aproveitado através da construção
de reservatórios e de usinas hidrelétricas de grande (UHE) e pequeno (PCH) porte,
classificação feita por potencial instalado, e podendo ser classificadas como isoladas
ou em cascata. Há ainda as centrais geradoras hidrelétricas (CGH), que são usinas
hidrelétricas com potência de geração instalada igual ou inferior a 3 MW. Este grande
sistema de reservatórios tem importante influência econômica, hidrológica, ecológica e
social. Em muitas regiões do país, esses ecossistemas são utilizados como base para
o desenvolvimento regional. Os empreendimentos hidrelétricos segundo (BIG, 2017) ,
Capítulo 2. Revisão da Literatura 18

tanto as grandes usinas como as pequenas usinas hidrelétricas são responsáveis


por 64,6% da produção nacional de energia elétrica, o que corresponde a 98 GW.

Outra grande fonte de geração de energia elétrica são termoelétricas que, se-
gundo dados do (BIG, 2017), são divididas por tipos de combustíveis: fóssil, biomassa
e outros, e energia nuclear. Dentre os combustíveis fósseis temos os óleos combustível,
diesel e ultra viscoso, os gases natural e de refinaria, e o carvão mineral. A soma
da potência total instalada dessas termoelétricas que consomem estes combustíveis
representam 70,8% da capacidade total das usinas termelétricas em operação no país.
As usinas termelétricas que utilizam biomassa como fonte de energia (consumindo
carvão vegetal, resíduo de madeira, bagaço de cana-de-açúcar, casca de arroz, licor
negro e biogás) correspondem a 27,1% da capacidade total. Os demais combustíveis
classificados como “outros” totalizavam 2,1% da capacidade total das usinas terme-
létricas e são constituídos por: gás de alto forno, gás de processo, enxofre, efluente
gasoso e gás siderúrgico. A capacidade de geração das usinas nucleares Angra I e
II tem uma participação de 1,31%, correspondendo a 2 GW . Apesar do expressivo
potencial eólico, divulgado no Atlas do Potencial Eólico Brasileiro (ANEEL, 2008), o
país ainda explora pouco este potencial, representando hoje 6,96% da capacidade
total instalada, com 10,3 GW, agindo como complemento sazonal entre regimes de
vento e hidrológico, em especial na região Nordeste. A radiação solar pode ser utilizada
diretamente como fonte de energia térmica e, também, pode ser convertida em energia
elétrica. Recentemente têm sido investido no aproveitamento da energia solar no Brasil,
particularmente por meio de sistemas fotovoltaicos de geração de eletricidade, porém
ainda é uma fonte de geração muito pouco aproveitada se levado em conta todo o
potencial de geração que poderia oferecer de forma limpa. Atualmente segundo (BIG,
2017) , há 44 usinas fotovoltaicas em operação no país, contribuindo com 0,02% da
energia elétrica total produzida.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 19

Tabela 1 – Empreendimentos em operação

Potência Outorgada Potência Fiscalizada


Tipo Quantidade %
(kW) (kW)

CGH 604 517.024 517.695 0.34

CGH 421 10.316.138 10.564.542 6.96

PCH 435 4.962.787 4.951.503 3.26

UFV 44 27.761 23.761 0.02

UHE 219 101.138.278 92.605.229 61.02

UTE 2950 42.842.137 41.110.638 27.09

UTN 2 1.990.000 1.990.000 1.31

Total 4675 161.794.125 151.763.368 100

BIG - Banco de informações de geração

Geração distribuída
Segundo (VERGILIO, 2012), apesar do termo geração distribuída parecer ser
algo novo para nós, seu uso começou graças a Thomas A. Edison que em 1882,
criou o primeiro sistema de geração de energia em Nova York. A primeira central
de geração de energia elétrica foi construída na Rua Pearl Street, provia energia
para aproximadamente 59 clientes em uma área de 1km². Basicamente, este é o
conceito mais simples de geração distribuída: uma fonte de geração localizada próxima
à carga.Com o desenvolvimento dos transformadores, o uso da corrente alternada
logo conquistou seu espaço possibilitando o atendimento de cargas distantes do local
de geração. Surgiram assim, grandes sistemas de energia que apresentavam maior
confiabilidade, desde usinas geradoras de energia elétrica a sistemas de transmissão
capazes de atender a demandas de proporções continentais, como é o caso do Sistema
Interligado Nacional, apresentado na Figura 1.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 20

Figura 1 – Sistema interligado nacional SIN

BIG - Banco de informações de geração

O crescimento populacional e o avanço tecnológico, geram um aumento da


demanda de energia cada vez maior. Quando o crescimento da demanda ultrapassa
a capacidade de geração do sistema de energia, torna-se necessário a construção
de novas unidades de geração de grande porte, e também de sistemas para a trans-
missão e distribuição desta nova parcela de energia. Tal modelo passou a ser ques-
tionado com o surgimento de novas tecnologias que promovem a redução do custo
da energia gerada, além dos inúmeros impactos ambientais associados à sua im-
plantação. Com isso, a geração distribuída passou a ser cada vez mais valorizada.
Segundo (VERGILIO, 2012) há dois conceitos distintos de possibilidade da atuação
da GD: fonte de energia e reserva descentralizada. Atuando como fonte de energia,
o intuito é gerar energia para cargas próximas, seja para autoconsumo (industrial,
Capítulo 2. Revisão da Literatura 21

predial, público – hospitais, aeroportos), com ou sem produção de excedentes ex-


portáveis, seja para suprir necessidades locais de distribuição de energia. Já como
reserva descentralizada a GD tem o intuito de atender várias necessidades do sistema,
tais como: excesso de demanda de ponta, melhoria das condições qualitativas do
fornecimento em regiões com problemas de atendimento e cobertura de apagões.

O uso da geração distribuída apresenta vantagens tanto para o consumidor


final, quanto para a concessionária de energia e o gerador, sendo algumas dessas
vantagens em virtude da proximidade aos locais de consumo. (VERGILIO, 2012) cita
entre as vantagens do uso da geração distribuída as seguintes vantagens: existência
de reservas de geração e diminuição das perdas na rede de transmissão/distribuição,
proporcionando maior estabilidade ao sistema; redução dos riscos de planejamento,
dos investimentos e do tempo para implantação de novas centrais, devido ao tamanho
reduzido das mesmas; podem ser implementados geradores de emergência; aumento
da confiabilidade do suprimento aos consumidores próximos à produção local por adici-
onar fonte não sujeita a falhas na transmissão e distribuição, garantindo a continuidade
do mesmo. Além de suprir a energia localmente, a GD desempenha um papel impor-
tante para o conjunto do Sistema Interligado, até mesmo quando não é despachada,
pois aumenta as reservas de potência junto a essas cargas, reduzindo os riscos de
instabilidade e aumentando a confiabilidade do suprimento. Mas o uso da GD também
tem algumas desvantagens , como maior complexidade da coordenação da proteção
do SIN, maior necessidade de planejamento e operação do sistema elétrico, aumento
da complexidade em administrar o sistema , contratual e comercial; o aumento do custo
de geração de energia e também no custo de manutenção das centrais geradoras de
energia em virtude da quantidade e distância entre as mesmas.
Futuro da geração no Brasil
Segundo (EPE, 2017) até 2050, a demanda por energia elétrica no Brasil
deve triplicar. Para (COSTA, 2015) atendê-la com um sistema confiável, sustentável
e acessível aos consumidores é um desafio. E ao mesmo tempo, apresenta uma
série de boas oportunidades não só de negócio, mas de desenvolvimento da indústria
nacional, de formação de mão de obra qualificada e de inclusão social. Segundo
números de (COSTA, 2015), até 2020, projetos de produção descentralizada de energia
- em unidades menores, mais ágeis e próximas de quem vai usar a força produzida
- receberão investimentos da ordem de US$ 200 bilhões em todo o mundo. Trata-se
de uma boa opção no Brasil para complementar a oferta de energia em horários
de pico em indústrias. Segundo dados da (AMCHAM, 2016) os investimentos do
setor elétrico devem chegar perto de 500 bilhões de reais até 2026, de acordo com
Wilson Ferreira Junior, presidente da Eletrobras. “Estamos falando de 75 mil MW
Capítulo 2. Revisão da Literatura 22

(megawatts) a serem instalados nos próximos dez anos, o que equivale a quase oito
usinas de Itaipu. Para geração dessa energia, os investimentos necessários devem
chegar a 270 bilhões.Segundo (BIG, 2017) está prevista para os próximos anos uma
adição de 24.620.283 kW na capacidade de geração do País, proveniente dos 236
empreendimentos atualmente em construção e mais 584 em empreendimentos com
construção não iniciada.

Tabela 2 – Empreendimentos em construção

Tipo Quantidade Potência Outorgada (kW) %

CGH 2 1.298 0.01

EOL 151 3.549.100 38.81

PCH 28 373.411 4.08

UFV 21 616.000 6.74

UHE 7 1.922.100 21.02

UTE 27 1.332.502 14.57

UTN 1 1.350.000 14.76

Total 236 9.144.411 100

BIG - Banco de informações de geração 2017

Tabela 3 – Empreendimentos com construção não iniciada

Tipo Quantidade Potência Outorgada (kW) %

CGH 43 36.631 0.24

EOL 181 4.155.070 26.85

PCH 123 1.591.030 10.28

UFV 90 2.364.397 15.28

UHE 8 731.540 4.73

UTE 138 6.597.154 42.63

Total 583 15.475.872 100

BIG - Banco de informações de geração 2017


Capítulo 2. Revisão da Literatura 23

2.2 Definição PCH

Inicialmente a Resolução n° 394 de 04/12/1998 da ANEEL caracterizava como


PCH toda a usina hidrelétrica de pequeno porte cuja capacidade instalada fosse supe-
rior a 1 MW e inferior a 30 MW, com área de reservatório inferior a 3 km2. Por meio da
Lei n° 13.097/2015, que, entre outros assuntos, alterou a legislação do setor elétrico,
foram feitas mudanças na regulação das autorizações para as PCHs. A principal alte-
ração foi aumentar a capacidade mínima dos projetos desses empreendimentos de 1
MW para 3 MW. De acordo com a nova legislação, o aproveitamento de potencial hi-
dráulico destinado a produção independente ou autopromoção de energia, mantidas as
características de PCH, passou a ser de potencia superior a 3MW e igual ou inferior a
30 MW.
Segundo (MINASENERGIA, 2015) uma PCH típica normalmente opera a fio
d’água, isto é, o reservatório não permite a regularização do fluxo d’água. Com isso,
em ocasiões de estiagem, a vazão disponível pode ser menor que a capacidade das
turbinas, causando ociosidade. Em outras situações, as vazões do rio são maiores
que a capacidade nominal das maquinas, permitindo que parte da água passe pelo
vertedouro. Apesar de normalmente as PCHs operarem a fio d’água, em alguns casos
pode contar com um reservatório do tipo fio d’água ou de acumulação e ser classificada
pela área do reservatório, segundo o manual de Diretrizes para Estudos e Projetos de
PCHs (ELETROBRAS, 2000).

Figura 2 – PCH de acumulação

MINASENERGIA

As usinas a fio d’água são utilizadas quando as vazões de estiagem do rio são
iguais ou maiores que a vazão necessária para atender ao valor nominal de potência
instalada das turbinas. Nesse caso, despreza-se a área do reservatório criado pela
Capítulo 2. Revisão da Literatura 24

barragem. Esse tipo de PCH apresenta a não necessidade de estudos de regulariza-


ções das vazões e facilidades na elaboração do projeto. As PCHs de acumulação são
utilizadas quando a vazão de estiagem do rio é inferior a necessária para operação
nominal das turbinas ou quando é necessário o controle das vazões de cheia a fim de
se evitar as inundações e para contenção da água.

Figura 3 – PCH fio d‘água

MINASENERGIA

Funcionamento e descrição de uma PCH


As PCHs são construídas geralmente em rios de pequeno e médio porte que
possuam desníveis significativos o suficiente para gerar potência hidráulica para mo-
vimentar as turbinas da usina, a turbina por sua vez acionará o gerador elétrico,
transformando a energia cinética de rotação em energia elétrica. A energia gerada
então é levada, dos terminais do gerador até o transformador elevador, onde sua tensão
será elevada e levada por meio de linhas de transmissão, até os centros de consumo.
A tensão precisa ser elevada para reduzir as perdas através dos fios condutores das
linhas de transmissão. Os principais componentes que compõem a estrutura civil de
uma PCH, e suas respectivas funções, são citados a seguir:

• Reservatório: acumula água para regularizar o rio e garantir a vazão mínima para
funcionamento das turbinas.

• Vertedouro: controla o nível do reservatório impedindo que a água passe por cima
da barragem, danificando sua estrutura e inunde as instalações.

• Barragem: tem a função de reter a água, criando artificialmente um desnível. No


caso das PCHs podem ter a função de acumulação, ou só de desviar parte da
vazão para o canal de adução.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 25

• Tomada d’água: estrutura, geralmente construída de concreto, responsável pela


captação de água do reservatório.

• Canal de adução: sua função é levar a água do reservatório da tomada d’água à


câmara de carga.

• Câmara de carga: elemento que liga o canal de adução ao conduto forçado.

• Conduto forçado: conduz a água sob pressão do trecho mais inclinado até a casa
de máquinas, onde irá movimentar as turbinas.

• Casa de máquinas: onde são instalados os grupos geradores (turbina e gerador


elétrico) e os equipamentos de controle; em alguns casos pode abrigar ainda os
equipamentos elétricos de transmissão.

• Canal de fuga: devolve ao leito do rio a vazão de água que passou pela turbina.

Alguns dos principais componentes podem ser observados na figura abaixo,


que representa o esquema de operação de uma PCH.

Figura 4 – Esquema de uma PCH

CERPCH

Vantagens das PCHs e importância no setor brasileiro de energia


É de interesse mundial a utilização de fontes renováveis para a produção de
energia e, de preferência, que resultem em mínimo impacto ao meio ambiente, priori-
zando a geração sustentável; esta é uma das principais vantagens no uso das PCHs.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 26

Em tempos onde é discutida a diminuição da emissão de gases (CO2, CH4, entre


outros) na atmosfera terrestre, já existem PCHs que comercializam créditos de carbono,
provando sua sustentabilidade. Contribuem, ainda, com a diminuição da emissão de
gases de efeito estufa ao substituir fontes térmicas fósseis que ainda são responsá-
veis por boa parte da geração no Brasil. (VERGILIO, 2012) diz que outra importante
vantagem seria a descentralização na geração de energia, possibilitando um melhor
atendimento às necessidades de carga de pequenos centros urbanos e regiões rurais,
pois complementa o fornecimento realizado pelo sistema interligado. Podemos citar
ainda: custo acessível, prazo reduzido de construção devido às obras civis de pequeno
porte, disponibilidade de tecnologias eficientes, redução nas perdas do sistema elétrico
e desenvolvimento regional.
As facilidades oferecidas pela Legislação têm papel significativo; dentre os bene-
fícios, podemos citar: necessidade apenas de autorização da ANEEL para implantação;
redução de 50% para as tarifas de uso dos sistemas elétricos de transmissão e dis-
tribuição; garantida participação nas vantagens técnicas e econômicas da operação
interligada; isenção do pagamento da compensação financeira pelo uso dos recursos
hídricos.
Comparando com as UHEs, as PCHs tem vantagens e desvantagens. Por serem
menores,são mais baratas de construir e levam menos tempo para serem construídas,
trazem retorno mais rápido do investimento, causam um dano ambiental menor por
serem construções menores e principalmente por não terem reservatório ou quando
tem a área alagada é muito pequena quando comparada ao de uma UHE ,podem ser
construídas em rios com menor vazão e assim possibilitando o aproveitamento para
geração de rios que não comportam uma UHE, tem incentivos fiscais que as UHE não
tem , além de ter menos burocracia para serem liberadas para construção e operação.

2.3 Custos PCH

Quando falamos dos custos envolvidos na construção de pequenas centrais


hidrelétricas podemos de forma simplificada dividir os custos em três principais grupos
que compõem os custos da usina,que são: equipamentos eletro-mecânicos, obras civis
e sócios-ambientais. Esta divisão também se aplica a repotenciacao ou modernização,
obviamente com custos relativamente menores devido ao fato que muitos dos custos
principalmente com obras civis e equipamentos pesados não entram nos custos de
repotenciação ou modernização, ou tem um custo bem menor do que em usinas em
construção.
A Tabela a seguir apresenta a atual composição de custos para a construção
de novas usinas hidrelétricas (UHE, PCH e CGH) e, para titulo de comparação, e a
próxima tabela apresenta a composição de custos,especificamente, para uma pequena
Capítulo 2. Revisão da Literatura 27

usina hidrelétrica.

Tabela 4 – Divisão custos de uma usina hidrelétrica

Item de custo % do custo total

Custo direto 85,5

Meio ambiente 13,3

Obras civis 40,6

Equipamentos 31,6

Custo indireto 14,5

Custo total 100

EPE - Empresa de pesquisa


energética

Tabela 5 – Divisão custos de uma PCH

Custos médios % do custo


Item de custo
(R$/kW) total

Obras civis e componentes hidromecânicos 2153 42

Componentes eletromecânicos, acessórios e linhas


1600 30
de transmissão

Equipamentos diversos 103 2

Custos indiretos 870 17

Custos financeiros 465 9

Custos totais 5150 100

OLIVEIRA,M

Abaixo segue uma descrição mais detalhada de cada um dos três grupos que
compõem os custos de uma pequena central hidrelétrica:

• Custos com equipamentos eletro-mecânicos: Compreende os custos, principal-


mente, com: turbinas e geradores; ensaios, montagem e comissionamento de
turbinas e geradores; transformadores ; comportas, condutos forçados, grades
Capítulo 2. Revisão da Literatura 28

de proteção, equipamentos elétricos, relés de proteção, automação, equipamen-


tos dos serviços auxiliares,bombas, instalação e montagem dos equipamentos
elétricos e mecânicos e acessórios.

• Custos com obras civis: Engloba os custos, principalmente, com: construção da


barragem, diques, vertedouro, obras para desvio do rio (ensecadeiras, galerias,
tuneis), tomada d’água, casa de força, além da infraestrutura de acesso (estradas
e pontes), subestação, benfeitorias na área da usina, entre outros.

• Custos sócios-ambientais: Inclui custos, principalmente, com: aquisição de terre-


nos e benfeitorias, relocações de infraestrutura e população e programas socio-
ambientais, como limpeza do reservatório, conservação da fauna e flora e apoio
a comunidades indígenas e tradicionais.

Para demonstrar o peso de cada um dos itens relacionados acima, segue abaixo
demonstrativo dos custos de construção da PCH caçador no Rio Grande do sul de
25MW, os dados foram retirados do trabalho de (MORAES, 2010):

Tabela 6 – Despesas pré-operacionais

Consolidação projeto
530.000
básico

Projeto executivo 1.550.000

Administração 1.300.000

Engenharia do
1.700.000
proprietário

Seguros de engenharia 905.000

Seguro garantia 1.368.000

Licenciamentos 90.000

Topografia 80.000

Total em R$ 7.523.000

MORAES,B

Investimentos em ativos fixos:


Capítulo 2. Revisão da Literatura 29

Tabela 7 – Investimento em ativos fixos em reais

Acesso 7.500.000

Meio ambiente 4.950.000

Programas ambientais 1.750.000

Compra de terras 1.800.000

Recuperação das áreas


800.000
alagadas

Desmatamento do lago 600.000

Obras civis 51.864.610

Barragem/Tomada d’água 9.000.000

Casa de força 7.150.000

Subestação 286.680

Desvio do rio 820.000

Outros 4.920.000

Concretagem túnel e muretas 475.000

Cimento, aço, brita e areia 6.855.000

Execução dos túneis 15.700.000

Chaminé de equilíbrio 830.000

Tratamentos (encostas) 5.300.000

Serviços diversos 527.930

Equipamentos
28.355.788
eletromecânicos
Capítulo 2. Revisão da Literatura 30

Acesso 7.500.000

Turbinas e geradores 12.800.000

Equipamentos
4.850.000
hidromecânicos

Auxiliares mecânicos 1.370.000

Elétrica 5.200.000

Instalação e montagem 4.135.788

Linha de transmissão 2.841.000

Contingência 2.865.342

Investimento em ativos
98.376.740
fixos

MORAES, B

Vemos que os custos com obras civis realmente representam em torno de


50% do custo total do empreendimento e os equipamentos eletromecânicos em torno
de 30% sendo que quase metade disso vem dos custos das turbinas e geradores.
Também podemos ver que a PCH caçador segue o padrão de custos para PCH ficando
o investimento a cada MW entre 4 e 6 milhões de reais.

Custos O&M
Os custos operacionais de uma pequena central hidrelétrica é formado por todos
os custos e encargos necessários para a operação e manutenção da usina, (MORAES,
2010) enumera os seguintes custos operacionais:

• “ Manutenção e Operação: despesas referentes a serviços rotineiros de manu-


tenção e operação da usina. São gastos operacionais, como custos e salários
da produção, e também envolvem os desembolsos necessários para a manuten-
ção, como inspeções, gastos com conservação da usina e estradas, óleo diesel,
extintores, entre outros.

• Peças Sobressalentes: como qualquer empresa, algumas máquinas e peças se


desgastam com o tempo, as peças precisarão estar devidamente armazenadas
no almoxarifado, para que a geração não pare por qualquer problema.

• Ferramentas: também devem ser adquiridas no início da operação comercial.


Capítulo 2. Revisão da Literatura 31

• Seguros: anualmente deverá ser contratado o seguro para cobertura de ris-


cos operacionais/lucro cessante que assegurara o empreendedor contra algum
prejuízo ocasionado pela parada da operação da usina.

• Despesas Ambientais: além do primeiro projeto enviado a FEPAM, surgirão outras


necessidades ambientais que serão realizadas durante o período de operação
comercial.

• Despesas Administrativas: servem de apoio a atividade fim do projeto, gastos com


telefonia, informática, centro de controle, manutenção de veículos, combustível,
hotel, correios.

• Tarifas de Uso do Sistema de Distribuição: será paga a Taxa de Uso do Sistema


de Distribuição (TUSD) mensalmente. Esta taxa é cobrada de acordo com o kW
instalado. As PCHs tem uma vantagem nesse quesito, já que como forma de
incentivo o Governo Federal decretou que seja dado 50% de desconto. O valor
pago depende da distribuidora da região. O cálculo e feito dessa forma: TUSD x
Energia Instalada (kW) x 50%;

• Taxa de Fiscalização da ANEEL: é cobrada uma taxa fixa mensal de 0,5% sobre
a receita bruta pela ANEEL.”

De (SILVA, 2009) 1º seminário da ANEEL CEMAT podemos tirar os dados sobre


custo de O&M de algumas PCHs,segue abaixo:

Tabela 8 – Custos O&M PCHs em R$/MWh

PCH Pessoal Material Serv. terceiros Depreciação Outros Total

Juína (4,53 MW) 9,71 1 2,56 12,01 2,18 27,45

Braço
5,06 1,53 2,54 10,69 0,15 19,97
Norte(5,49 MW)

Casca III (12,42


8,8 0,81 3,74 11,46 2,5 27,31
MW)

Primavera (7,81
4,33 0,82 2,54 8,84 0,11 16,64
MW)

Eletrobras

Podemos notar que desconsiderando os custos referentes a depreciação, os


custos com pessoal são mais da metade do custo de O&M, mostrando que o gasto com
pessoal é o mais relevante na operação e manutenção das usinas. Segundo estudo
Capítulo 2. Revisão da Literatura 32

do (MELO; CASTRO, 2006) os custos de O&M variam de acordo com a idade da


Usina,quanto mais velha a usina maiores os custos, são inversamente proporcionais ao
nível de modernidade da usina e também inversamente a potência total, como podemos
verificar no anexo 1.

2.4 Modernização PCH

Fatores como a idade das pequenas centrais hidrelétricas, muitas com mais de
30 anos, e o aumento da consciência ambiental, a modernização e a repotenciação
de pequenas centrais hidrelétricas tornam-se alternativas realmente atraentes para
atender à crescente demanda de energia no Brasil, que segundo dados da (ANEEL,
2008) aumenta em torno de 4 a 5% ano, contribuindo com a eficiência e confiabilidade
do sistema de energia, com menores investimentos e impactos ambientais em relação
a construção de novas pequenas centrais hidrelétricas.
A geração de energia elétrica, através de pequenas centrais hidrelétricas, se-
gundo (RIBEIRO, 2005) tornou-se mais comum no Brasil a partir da década de 30 e
posteriormente década de 80. Se por um lado a instalação de novas pequenas centrais
propiciam o incremento de energia renovável e não poluente ao sistema elétrico brasi-
leiro, por outro, suas construções causam impactos ambientais que devem ser levados
em conta na prospecção de novas usinas.
Segundo (RIBEIRO, 2005) o crescente aumento da consciência ambiental pela
sociedade, de que a preservação da natureza é uma das bases do desenvolvimento
sustentável, acrescentada da necessidade de melhorar o desempenho das centrais
hidrelétricas com baixo impacto ambiental, motiva a consideração das práticas de
modernização e repotenciação.
O conceito de modernização para (RIBEIRO, 2005) pode ser explicado como
sendo a substituição de tecnologia, ou seja, a troca de equipamentos de controle
analógicos por equipamentos de controle digitais, substituição dos componentes eletro-
mecânicos antigos dos geradores e turbinas por novos componentes com tecnologias
mais recentes, substituição de componentes mecânicos por componentes hidráulicos,
os quais irão proporcionar um aumento da confiabilidade do sistema, sem que ocorra
um acréscimo de potência instalada à central. Por outro lado, entende-se a repoten-
ciação como sendo o aumento da potência instalada, acompanhada ou não de uma
modernização.
A busca em aumentar a confiabilidade dos equipamentos e do sistema de
forma geral e o aumento da geração total de energia, tornam a modernização e a
repotenciação, atrativas alternativas de investimentos, com custos menores que os da
construção de novas centrais, devido a diminuição muitas vezes total de custos com
Capítulo 2. Revisão da Literatura 33

obras civis.Alguns dos benefícios conseguidos com a modernização são: a redução


de paradas não programadas e de ações corretivas, a possibilidade de operação
“desassistida”, bem como o aumento da vida útil dos equipamentos, possibilitando
assim uma redução dos custos com manutenção e operação.
A análise econômica é um fator importante na decisão de se modernizar uma
usina , considerando a idade das centrais que necessitam de manutenção mais minuci-
osa e prolongada por fatores de obsolescência e mão de obra qualificada. O aumento
de geração torna-se outro fator importante, na maioria dos casos, não gerando custos
com desapropriação, da construção da barragem e demais estruturas civis. Outro ponto
positivo de um processo de modernização e o fato de que o projeto e a fabricação
dos equipamentos são executados com a central em operação e, por meio de paradas
programadas, permite a execução da modernização ou repotenciação em períodos
onde os custos do processo podem ser menores em virtude da indisponibilidade.
(RIBEIRO, 2005) cita como causa da alta indisponibilidade de algumas unidades
geradoras mais antigas e que usam tecnologias analógicas e mecânicas e possuem boa
parte do processo sem qualquer automação, a constante necessidade de manutenção
e reparos em equipamentos antigos, que cada vez mais são mais difíceis de manter
por falta de peças de reposição e mão de obra qualificada, além das paradas não
programadas por quebras dos equipamentos. (RIBEIRO, 2005) relata em um relatório
que antes dos trabalhos de modernização, o número de paradas não programadas e
programadas resultaram índices de disponibilidade abaixo de 73 %. Após a completa
realização da modernização, tendo em vista dados sobre o comportamento normal
das unidades, os índices de disponibilidade atingirão patamares em torno de 98%,
representando um aumento de 25%.
Após discutir as conceituações e considerações de vários autores sobre a moder-
nização de usinas hidrelétricas, (PINTO, 2009) afirma que o processo de modernização
não possui, de forma sistemática, uma metodologia especifica definida para sua analise
e avaliação, apesar de envolver, frequentemente, despesas anuais, superiores aquelas
gastas no processo rotineiro de manutenção. Contudo reforça que a modernização
permite uma sobrevida de 30 anos de uma central hidrelétrica, a um custo médio de
aproximadamente 14% do custo de uma nova central, com custos de O&M reduzidos.
É possível fazer a modernização sem repotenciação, porém é muito improvável
que se realize uma repotenciação sem um processo de modernização junto, visto que
os ganhos com a repotenciação dependem parcial ou integralmente das condições dos
controles e outros equipamentos da central, já que os processos são interligados e não
dependem de apenas um equipamento, mas sim do conjunto.
Um levantamento elaborado por (AMARAL, 1999), considerou que havia no
Brasil em torno de 1.858 PCH‘s (na época do estudo a legislação caracterizava como
Capítulo 2. Revisão da Literatura 34

PCH as centrais com mais de 1MW instalado,então muitas dessas PCHs citadas hoje
são classificadas com CGH, identificadas e que correspondiam a uma capacidade total
instalada de 1.111,3 MW. Deste total, 1.089 centrais tinham suas condições operacio-
nais desconhecidas, 428 estavam abandonadas, 7 centrais encontravam-se em fase
de reativação, 3 estavam sendo reformadas e apenas 331 centrais, correspondendo a
604,7 MW, encontravam-se em operação.
O custo gerado pela indisponibilidade deve ser considerado na análise de viabili-
dade econômica de um processo de modernização. Como o tempo de indisponibilidade
parcial ou integral da central, durante a implementação das mudanças, gera custos por
a receita estar parcialmente ou totalmente comprometida durante o processo, o custo
de indisponibilidade poderá pesar substancialmente no custo total da modernização,
podendo ate inviabilizá-la. O tempo de indisponibilidade na usina gerado pelo processo
de modernização,é curto se comparado ao tempo necessário para construção de
uma nova PCH podendo variar, teoricamente, de 2 a 12 meses. Uma vantagem na
modernização das PCHs em relação as UHEs, é que para UHEs como o montante
de energia que é comercializado é muito maior em relação a uma PCH e o tempo de
parada para se fazer uma modernização também é maior visto pelas proporções da
usina e dos equipamentos, tornando os custos de indisponibilidade um fator muito mais
relevante para as UHE do que para as PCHs.
Motivação
Após muitos anos em operação, os sistemas de uma usina podem apresen-
tar problemas que comprometam a geração de energia. Além da queda na geração,
existem novos requisitos e necessidades a serem cumpridas pela geradora de ener-
gia, como por exemplo a lista de pontos que deve ser disponibilizada para controle
remoto da ONS que opera o SIN, tema que será abordado mais detalhado mais para
frente. Uma forma de resolver isso é através das modernizações, segundo (MENDES,
2011) elas podem recuperar os índices de qualidade dos sistemas e também incluir
novos recursos neles. A falta de peças sobressalentes, a obsolescência dos equipamen-
tos, a baixa disponibilidade e os altos custos são frequentemente as forças que levam
as concessionárias de energia ao processo de modernização das usinas. Existem além
dos motivos já citados anteriormente para modernizar os sistemas das centrais, outros
que (MENDES, 2011) lista como sendo:

• “ acompanhar o estado da arte e usar novas tecnologias disponíveis no mercado;

• melhorar a supervisão, com a aquisição de mais estados binários e variáveis


analógicas e também com IHM mais amigável e flexível;

• aumentar a visibilidade e a comunicação com outros sistemas;


Capítulo 2. Revisão da Literatura 35

• facilitar a operação, até mesmo automatizar algumas atividades que eram manu-
ais;

• possibilitar operação remota plena, concentrando a supervisão e o controle;

• melhorar as respostas estática e dinâmica do processo de geração de energia


elétrica;

• diminuir a indisponibilidade programada, aumentando o período e reduzindo o


tempo de parada para manutenções periódicas (preventivas);

• diminuir a indisponibilidade forçada (devido a falhas);

• reduzir custos de manutenção;

• aperfeiçoar a operação da instalação reduzindo o numero de operadores neces-


sários (e reduzir custos de operação);

• aumentar a segurança operacional, para as pessoas e instalações;

• possibilitar a renovação do quadro de empregados (devido as aposentadorias,


por exemplo);

• estender o tempo de vida útil da instalação com melhor desempenho (em conjunto
com medidas similares nos outros sistemas e equipamentos);

• usar sensores e atuadores mais modernos (melhores que os antigos);

• aumentar a potencia e geração de energia, trabalhando mais próximo dos limites.”

Ao trocar um sistema de automação elétrica convencional ou até mesmo me-


cânico para um sistema numérico digital são obtidas também todas as vantagens
descritas por (LIMA, 2002):

• Exatidão: Os sistemas digitais como um todo, possuem a vantagem de possuir


grande exatidão na realização de medidas de grandezas analógicas. Utilizando
filtros e conversores analógicos com grande resolução (de 10 a 16 bits), consegue-
se a aquisição de sinais sem nenhum ruído ou interferência.

• Confiabilidade: Como se tratam de equipamentos que não possuem partes


mecânicas móveis ou excessivos contatos elétricos, não há desgastes no equipa-
mento digital, os custos e necessidades de manutenção ficam reduzidos quando
comparados aos convencionais analógicos e mecânicos. O próprio equipamento
emite alertas em caso de falhas de funcionamento ou problemas de operação,
facilitando a manutenção e prevenção.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 36

• Manutenção: Graças a rotinas internas de autodiagnóstico e checagem, os


equipamentos podem emitir alarmes ou sinalização em caso de falhas, indicando
os possíveis pontos de defeito, e os meios para reparo.

• Versatilidade: Os sistemas analógicos tradicionais possuem determinada função e


modo de operação.Um exemplo é o intertravamento de processos, ao invés de se
utilizar dispositivos como contatores e relés eletromagnéticos para realizar uma
lógica, pode-se utilizar um simples PLC com programação adequada. Em caso
de mudança no processo, não é necessário reconstituir toda a lógica de relés,
basta reprogramarmos o PLC. Diferentemente dos equipamentos analógicos,
os sistemas digitais são versáteis pois podem ser facilmente reconfigurados
para novas situações e mudanças na operação. Outro quesito a ser levado
em contra é o fato de um sistema digital poder exercer diversas funções. Por
exemplo, um mesmo equipamento de proteção diferencial de transformadores
pode fazer ainda a proteção de sobrecorrente, monitoração de temperaturas do
transformador,detecção de condições de “inrush” para evitar atuação indevida,
etc.

• Interoperabilidade: Um dos recursos mais notáveis dos equipamentos digitais são


suas capacidades de comunicação com os outros equipamentos e subsistemas.
Este é um fator importante para permitir a fácil automação do processo. As
informações digitais podem ser ainda facilmente armazenadas e eventualmente
transmitidas a outros sistemas de operação.

Apenas isso muitas vezes já justifica as modernizações de sistemas conven-


cionais. Segundo (MENDES, 2011) considerando o custo global de longo prazo, a
modernização de usinas hidrelétricas é um investimento lucrativo. Os custos do investi-
mento são rapidamente absorvidos pela redução do tempo de indisponibilidade das
unidades geradoras. O aumento da eficiência e diminuição dos custos de operação e
de manutenção, também contribuem para o retorno do investimento. De modo geral, o
investimento é recuperado dentro de 3 a 5 anos ou até mais cedo.
Motivos que levam a modernização
No trabalho de (MENDES, 2011), ele fez uma pesquisa com as principais
empresas do setor de geração de energia elétrica e fez um levantamento de quais eram
os principais motivos que levavam a empresa a querer realizar uma modernização em
suas centrais hidrelétricas, segue abaixo gráfico:
Capítulo 2. Revisão da Literatura 37

Figura 5 – Principais motivos para modernização de usinas

M MENDES 2011

Os 2 motivos que ficaram no topo foram obsolescência (não atende novas


funções /necessidades) e falta de peças sobressalentes com 97% de peso. Note que,
esses dois motivos estão atrelados: a falta de peças sobressalentes e um indicativo
que o sistema esta obsoleto. Em seguida, os motivos mais relevantes foram: falta de
assistência técnica no mercado, muitos anos em operação e alto custo de manutenção,
com em torno de 70% de peso cada. Os dois primeiros também estão associados a
obsolescência. O último, em parte, esta associado a falta de peças sobressalentes.
Verifica-se que pouco antes do desaparecimento completo das pecas sobressalentes
do mercado, o custo delas é bem elevado. Na sequência foi apontado como motivo
para a modernização, com 59%, a manutenção demorada - alto MTTR.

2.5 Automação PCH

2.5.1 Serviços Auxiliares

A segurança, o bom funcionamento e geração de uma central dependem em


grande parte da confiabilidade do fornecimento de energia aos serviços auxiliares.
Estes, por sua vez, necessitam de um sistema de alimentação eficiente e continuado,
tanto em corrente contínua como em corrente alternada, mesmo em condições de
Capítulo 2. Revisão da Literatura 38

parada total ou interrupção de fornecimento externo. As condições para partida, ope-


ração e parada de uma central passam necessariamente, pelo bom funcionamento
destes serviços. (LIMA, 2002) menciona que os sistemas auxiliares são responsáveis
pela alimentação de circuitos fundamentais para o bom funcionamento dos principais
componentes da central, dentre os quais pode-se citar: refrigeração de geradores e
transformadores, sistema de ar comprimido, unidades de óleo hidráulico, refrigeração
de óleo de mancais, circuitos de comando e controle de sistemas térmicos e elétricos,
sistema de excitação, etc.Tais sistemas são alimentados em corrente alternada e em
corrente contínua.

Corrente Alternada
O fornecimento de tensão em corrente alternada necessária aos sistemas
auxiliares normalmente é proveniente de uma ou duas fontes de alta tensão, para prover
uma maior confiabilidade a operação dos sistemas que dependem desse fornecimento.
Segundo (LIMA, 2002) os transformadores para serviços auxiliares devem
ser dimensionados para atender ao ciclo de carga mais desfavorável, nas diversas
condições de operação, não ultrapassar os valores de queda de tensão admissível para
continuidade de operação dos motores durante uma transferência automática e atender
às condições de ponta de carga sem redução da vida útil. Sendo assim, a seguir são
apresentadas algumas configurações adotadas para atender este objetivo:

• Conexão aos terminais do gerador à tensão de geração: Faz uso de um transfor-


mador abaixador ligado diretamente aos terminais do gerador elétrico e garante
elevado grau de segurança, contudo não pode ser usado para a partida, sendo
necessária a alimentação de um sistema externo

• Conexão dos terminais do gerador através de disjuntor: Neste caso, a partida é


viabilizada pelo sistema externo, já que o paralelismo do gerador será efetuado
pelo seu disjuntor.

• Conexão a partir do sistema principal de alta tensão: Esse esquema toma a


tensão do próprio barramento principal, implicando em maiores gastos com a
introdução de uma vão adicional à subestação, incluindo o transformador e o
disjuntor.

• Fontes de geração auxiliares: Esses tipos de arranjos, embora apresentem custos


adicionais em obras civis, elétricas e mecânicas, tornam-se alternativas bastante
confiáveis por utilizar um grupo diesel-elétrico acionado em casos de emergência
Capítulo 2. Revisão da Literatura 39

para partida ou parada de central. (LIMA, 2002) diz que geralmente o emprego
de grupos geradores atende a duas situações básicas. A primeira refere-se às
emergências: quando há uma interrupção da energia fornecida pela rede externa,
fazendo com que o equipamento entre em funcionamento automaticamente,
permitindo que a central continue a funcionar. Nesse caso, é comum o abaste-
cimento somente de pontos vitais, como as áreas coletivas e de segurança. No
segundo caso, é utilizado nos horários de ponta, das 17 às 20 horas, quando
o consumo é maior e o custo da energia é alto. Nesse período, o equipamento
entra em funcionamento, geralmente, para suprir parte da carga necessária para
o abastecimento.

Corrente Contínua
A necessidade de um sistema simples e de menor custo para o controle das
pequenas centrais, nos leva a escolha de um sistema constituído por uma única
bateria trabalhando em paralelo com uma unidade retificadora segundo (LIMA, 2002).
Quando for necessário uma maior confiabilidade deve-se adotar um sistema com
dois carregadores de baterias para dois conjuntos de baterias e barramentos e dois
retificadores.

2.5.2 Supervisão e Automação de uma PCH

Um dos principais quesitos a ser considerado para se escolher um sistema de


supervisão e controle para uma PCH é o custo da solução, e o retorno econômico que
ela pode trazer. Basicamente é escolhido entre duas possibilidades: a operação con-
vencional, feita de forma manual por operadores ou a automação ou semi-automação
da PCH.
Com o foco na eficiência e redução de custos da operação e manutenção, a
semi-automação ou automação das PCH apresentam algumas vantagens:

• Menores custos operacionais comparado a operação convencional.

• Mais qualidade no processo.

• Melhor utilização dos recursos humanos.

• Maior agilidade na operação da usina.

• Melhor aproveitamento dos recursos disponíveis.

• Maior produtividade.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 40

Nas pequenas centrais hidrelétricas, os recursos investidos para o processo


de automação ou semi-automação são disponibilizados levando em conta qual será a
redução dos custos operacionais destas instalações (maior parte recursos humanos)
e pelo ganho de receita em virtude do acréscimo de energia comercializada. Pode
haver alguns casos onde a implantação deste sistema não seja economicamente
viável. Por isso as empresas que fazem automação de PCH estão sempre em busca de
soluções técnicas que satisfaçam as necessidades e requisitos do processo de geração,
porém com custos menores quando comparados a grandes usinas. A automação ou
semi-automação de uma PCH normalmente pode ser dividida em duas partes:

• Controle da barragem ou reservatório.

• Controle da casa de força e subestação.

Semi-Automação da PCH
(LIMA, 2002) descreve a operação com semi-automação da central como: “geral-
mente as transições de estado até a sincronização da máquina na rede são realizadas
pelo operador da usina. Após a sincronização, a tomada de carga prefixada pode ser
realizada automaticamente pelo sistema de controle. O sistema propõe, ainda, a moni-
toração de algumas grandezas críticas, tais como, vibração, temperatura, velocidade,
etc, através de sensores adequados, equipamentos de aquisição de dados e indica-
dores de painel. Apesar de algumas limitações, essa opção também traz vantagens.
De posse de um sistema indicador do funcionamento do sistema, mais moderno, o
trabalho do operador se torna mais confiável e eficiente, promovendo a diminuição do
número de operações manuais na central.” Apenas algumas variáveis principais do
processo são monitoradas através de sensores e indicadores . Esses equipamentos
tem a capacidade de armazenar e mostrar o valor desejado da variável de controle,
o valor atual e um limite aceitável, tanto mínimo como máximo, que quando atingido
aciona um alarme para o operador poder ser avisado. Algumas variáveis normalmente
monitoradas são:

• Temperatura do enrolamento do estator.

• Temperatura dos mancais das máquinas.

• Velocidade do gerador.

• Temperatura do óleo.

• Pressão do óleo.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 41

• Falta no circuito dos relés.

• Nível de carga das baterias.

Segundo (LIMA, 2002) nessa semi-automação geralmente são considerados


dois procedimentos para a parada das unidades geradoras: parada de emergência,
quando existem condições que coloquem em risco a integridade da unidade geradora e
a parada automática que acontece com condições operacionais que permitam a parada
sem rejeição de carga. Esse procedimento de parada automática permite a parada da
unidade geradora de forma suave, evitando golpes de aríete causados pelo fechamento
repentino dos circuitos hidráulicos.

Automação da PCH
(LIMA, 2002) descreve a operação automatizada da central como: “tanto a
parada quanto a partida para a sincronização das máquinas são realizadas automatica-
mente pelo sistema de controle, independente da presença de operadores. Além disto,
em sistemas totalmente automáticos, é possível a realização da otimização da geração
considerando as vazões afluentes. Esta otimização pode ser feita pelo sistema de
controle do reservatório, cujo objetivo é manter o nível do reservatório na faixa normal
ou de equilíbrio, controlando o mesmo através do aumento ou diminuição da geração
das máquinas. Geralmente o sistema de controle do reservatório realiza a supervisão
do nível do reservatório, as vazões vertida, afluente e turbinada, além de programar
a geração das máquinas e o vertimento pelas comportas da barragem, de forma a
atender às restrições impostas pelos equipamentos (geração mínima por máquina) ou
pela legislação (vazão sanitária). Em situações em que o nível do reservatório atinja
limites de atenção, alerta ou emergência, o sistema de controle do reservatório pode
acionar as comportas no sentido de reverter a cota para a faixa de operação normal.
Essas variáveis podem ser informadas a um CLP localizado na casa de comando
próxima à barragem, que será responsável pelo controle e acionamento ON/OFF da
comporta. Utilizando-se um CLP, além das funções acima, ele estaria disponível para a
realização de futuras aplicações nas imediações do reservatório, tais como o controle
da limpeza da grade de proteção da comporta de superfície e o controle ininterrupto de
energia, e o controle das comportas de superfície e de entrada de água dos condutos.
Em situações de emergência, o sistema de automação deve prover o fornecimento
ininterrupto de energia, para o controle automático do nível do reservatório, garantindo
a disponibilidade do sistema de controle, que deve estar operante sob quaisquer condi-
ções, uma vez que as consequências de um mau funcionamento podem causar sérios
danos.”
Capítulo 2. Revisão da Literatura 42

Regulador de Velocidade

Segundo (LIMA, 2002) a função original do regulador de velocidade é manter


o grupo gerador em rotação constante a fim de que a frequência da tensão gerada
seja mantida em seu valor nominal, atuando sobre a vazão da turbina hidráulica.
Sendo a potência gerada função direta da vazão da turbina, o regulador de velocidade
desempenha também papel fundamental de controle da potência ativa. Os RV podem
ser encontrados com concepção hidromecânica, eletrônica analógica ou digital, sempre
utilizando um servo-motor para atuação no distribuidor ou injetor, dependendo do tipo
da turbina hidráulica. Os reguladores eletrônicos possuem a vantagem de oferecer
a possibilidade de alteração e ajuste de seus parâmetros de maneira fácil, podendo
incorporar diferentes funções e limites, principalmente microprocessados.
Funções Básicas

• Regulação automática de frequência/potência.

• Regulação manual para testes e manutenção.

• Limitador de abertura da turbina.

• Parada parcial sem rejeição de carga.

• Sequência automática da partida e parada.

• Supervisão de velocidade com relés de saída ajustáveis de 0 a 200% da veloci-


dade nominal.

• Indicadores de posição do servomotor e de rotação.

• Aceleração ajustável na partida da turbina.

• Comandos remotos através contatos externos.

• Saídas por contatos para interface com circuitos de comando, alarme e proteção.

Regulador de Tensão

Segundo (LIMA, 2002) o comando para excitatriz, que faz variar a corrente de
excitação fornecida ao rotor do alternador, é feito automaticamente pelo regulador
automático de tensão, que fica localizado no quadro de comando do sistema. Os
reguladores de tensão têm como função principal manter a tensão da armadura em
seu valor ajustado, atuando sobre a corrente de excitação do grupo gerador síncrono.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 43

São elementos fundamentais no controle da potência reativa gerada, principalmente


quando se deseja obter uma repartição apropriada da potência entre grupos geradores
conectadas a um mesmo barramento.
Funções Básicas

• Regulação automática de tensão/potência reativa.

• Regulação manual de tensão ou corrente de campo.

• Compensação de Corrente Reativa.

• Limitador de sobre-excitação.

• Limitador de sub-excitação.

2.6 Centros de operação

Segundo (QUEIROZ, 2010) entende-se por centro de operação um lugar onde


se tenha ferramentas e infraestrutura que possibilitem aos operadores supervisionar,
controlar e interagir com os sistemas e subsistemas que estejam sob sua hierarquia de
comando. O centro de operação de um sistema de geração de energia deve ser provido
de recursos para que o operador tenha a capacidade de controlar todos os sistemas e
equipamentos que envolvem o processo de geração na usina, desde as geradoras, ser-
viços auxiliares até a subestação, sempre tendo em vista a economicidade e segurança
da operação, para garantir a continuidade no fornecimento de energia. Os centros
de operação são organizados dentro de uma hierarquia de controle e classificados
de acordo com sua abrangência de operação. Os centros de menor abrangência são
chamados de centro de operação da instalação ou local (COI ou COL) e respondem aos
centros hierarquicamente acima , tais como os centros da transmissão, geração ou
distribuição (COT, COG e COD), que por sua vez respondem aos centros regionais e
de sistema (COR e COS).
A evolução dos sistemas computacionais e a necessidade de obter dados e
informações de processos produtivos foi responsável pelo aumento da adoção de ferra-
mentas de automação. Segundo (QUEIROZ, 2010) a evolução tecnológica associada
às facilidades de telecomunicações, tornou possível a comunicação e troca de dados
e informações com sistemas remotos, a partir dos sistemas locais de automação que
dependendo da sua aplicação podem ou necessitam ser controlado por sistemas remo-
tos. Esse controle remoto pode ser o comando de ligar ou desligar um equipamento,
o envio de um valor de referência (set-point) de uma variável de controle para que o
sistema local opere de forma adequada, segura e de forma mais eficiente se for o caso.
Esse procedimento de operação, em que um centro de operação centralizado recebe
Capítulo 2. Revisão da Literatura 44

informações e dados de vários COIs ou COLs e pode exercer sobre eles requisições
pré-estabelecidas, gera muitos benefícios para o processo de geração, tornando possí-
vel a gestão centralizada de recursos, melhorando desta forma a gestão dos recursos
envolvidos na operação, sendo recursos diretos e indiretos.
O processo de gestão, conforme descrito por (MORAES; TERENCE, 2004),
envolve atividades de planejamento, organização, direção, distribuição e controle de
recursos de qualquer natureza, com o objetivo de racionalizar e melhorar a eficiência de
um sistema, produto ou serviço. A aplicação desse conceito aos centros de operação do
setor de geração e transmissão de energia justifica os investimentos em TI e em
softwares de gerenciamento de energia. Investir em estrutura para viabilizar os centros
de operação remotos é uma decisão estratégica, conforme abordado por (MORAES;
TERENCE, 2004) e influencia diretamente no processo de tomada de decisão dos
operadores em tempo real.

Conforme descrito por (QUEIROZ, 2010) a dinâmica do SIN e o modelo seguido


pela ANEEL para remunerar e penalizar as empresas de geração e transmissão de
energia levam em conta a disponibilidade e continuidade na geração e transmissão
de energia. Portanto a demora para recompor a devida operação dos equipamentos
elétricos (linha de transmissão, transformadores, geradores, reatores, bancos de capa-
citores, etc.) se torna um dos pontos críticos para a saúde financeira dessas empresas.
Com o intuito de maximizar a disponibilidade das usinas e linhas de transmissão as
empresas do setor elétrico têm investido em TI e infra-estrutura para facilitar e agilizar
o processo de recomposição do sistema. Esse processo tem principalmente o intuito
de prover ferramentas que auxiliem o operador a tomar decisões a fim de tornar mais
fácil e ágil a disponibilização dos equipamentos para o SIN.
(QUEIROZ, 2010) propõe a divisão organizacional dos centros de operação
em três áreas básicas: Pré-operação, Operação em Tempo Real e Pós-Operação.A
área de pré-operação segundo (QUEIROZ, 2010) é responsável analisar e liberar inter-
venções para manutenção ou de intervenções para atender demandas de empresas
externas (outros agentes do SIN e prestadoras de serviço). Além do planejamento de
intervenções, a pré-operação fica responsável pela padronização dos procedimentos
operacionais de modo a garantir a precisão das manobras, aumentando a confiabili-
dade da operação, diminuir riscos ao fornecimento do serviço e erros operativos. Outra
função da pré-operação é de elaborar manuais internos para auxiliar na correta opera-
ção do sistema, documentos externos encaminhados para os outros agentes do SIN
(Mensagens Operativas - MO) e pelo processamento e cumprimento das instruções de
operação (IO) emitidas pelo ONS. A operação em tempo real por sua vez, é definida
por (QUEIROZ, 2010) como sendo a área responsável pelas atividades diretas da ope-
Capítulo 2. Revisão da Literatura 45

ração da usina, que compreende o controle dos limites operativos dos equipamentos,
controle de tensão, monitoramento do intercâmbio entre áreas, monitoramento de carga
e frequência, dentre outras. É responsável também pelo controle das intervenções
e programação das atividades durante sua execução. A pós-operação é definida por
(QUEIROZ, 2010) como sendo a área responsável pela análise das ocorrências e
perturbações do sistema elétrico, elabora relatórios e estudos com base nos resultados
da operação de tempo real. Faz a gestão dos bancos de dados, históricos e estatísti-
cos, bem como a apuração dos indicadores de qualidade da operação. É função da
pós-operação acompanhar, fiscalizar e auditar o trabalho da operação de tempo real.

SCADA
O Sistema de Supervisão, Controle e Aquisição de Dados, também conhecido
como sistema SCADA são sistemas que utilizam softwares para monitorar e supervi-
sionar variáveis, dispositivos, e equipamentos de controle conectados a ele através
de protocolos de comunicação específicos. De forma genérica o sistema SCADA ou
simplesmente SSC permite ao seu operador controlar partes ou o todo de um processo
qualquer. Esses sistemas são amplamente difundidos em ambiente industrial em fun-
ção das vantagens que ele oferece, como:aumento na qualidade, redução significativa
dos custos operacionais e maior desempenho na produção.
A qualidade é alcançada à medida que se pode monitorar variáveis do processo
produtivo (pressão, temperatura, vazão, etc.). É possível determinar níveis ótimos de
operação da planta e, caso esses níveis saiam da faixa aceitável, o SSC poderá gerar
alarmes em tela de forma que o operador intervenha no processo produtivo a fim
de restaurar o ponto de operação desejado para aquele processo. Uma das maiores
vantagens da automação na indústria é a redução nos custos de operação da planta.

SOE
As listas de alarme e eventos apresentam as ocorrências do sistema de forma
cronológica. Defini-se como evento qualquer ocorrência, variação de estado de uma
variável ou informação que seja gerada no sistema de automação da planta. Quando é
gerado um evento, além da informação sobre a mudança no estado da variável, ele
recebe um uma estampa de tempo que traz a informação do instante em que a variação
na variável ocorreu (dia, mês, ano, hora, minuto, segundo e milissegundo). A estampa
de tempo de um evento é gerada pelo equipamento que fez a aquisição da variá-
vel no campo (Relé de Proteção, Unidade de Controle, CLP, UTR, etc.), geralmente este
equipamento é sincronizado por um GPS, utilizando pulsos para manter sincronizado o
relógio do controlador, normalmente usando protocolos de tempo comuns no mercado,
Capítulo 2. Revisão da Literatura 46

tais como o SNTP , IRIG-B e PTP. A precisão para eventos digitais necessária é de
1 ms ou menos de precisão, para atender a requisitos da ONS e para ter uma boa
exatidão no sequenciamento dos eventos, e para eventos analógicos temos 5 ms de
precisão. Os eventos digitais recebem uma estampa de tempo tanto na subida (1)
quanto na descida (0). Já os analógicos são recebem estampa de tempo no caso
de falha ou na variação do valor. Segundo (QUEIROZ, 2010) essa estampa permite a
organização dos eventos do sistema proporcionando a análise temporal da sequência
dos acontecimentos. Alguns processos necessitam desse tipo de tratamento, como por
exemplo, aplicações de energia, em que a ordem dos eventos (atuação de proteção
de um equipamento, abertura de disjuntor, etc.) é fundamental para a análise de uma
perturbação. Essa funcionalidade recebe o nome de SOE (Sequence Of Events) e é
possível apenas através de protocolos de comunicação que sejam capazes de trabalhar
com estampa de tempo.

Os Recursos e Requisitos de Supervisão

Os recursos e requisitos de supervisão, bem como os requisitos para quaisquer


atividades/áreas do setor elétrico são definidos pelo conjunto de documentos deno-
minados procedimentos de Rede. São documentos de caráter normativo elaborados
pelo ONS, com participação dos agentes, e aprovados pela ANEEL, que definem os
procedimentos e os requisitos necessários à realização das atividades de planejamento
da operação eletro energética, administração da transmissão, programação e operação
em tempo real no âmbito do SIN.De acordo com (ONS, 2009), “a tele-supervisão é um
dos alicerces dos centros de operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico e é
fundamental para as equipes do NOS executarem suas atribuições” .Nesse documento
são estabelecidas as responsabilidades dos agentes e do ONS para a supervisão do
sistema elétrico.

A Figura abaixo ilustra a organização da infra-estrutura de supervisão e controle


do ONS. Nessa figura estão representados alguns níveis hierárquicos de operação.
Os concentradores de dados se relacionam com os COSRs do ONS, que por sua
vez se relacionam com o CNOS. Em alguns casos é possível o relacionamento direto
entre UTR/SSCL com o um COSR do ONS. Para as ligações de CAG, através das
quais trafegam informações específicas para o controle automático de geração, é
desejável que a comunicação seja diretamente com o COSR do ONS, através de canal
de telecomunicação independente daquele utilizado para os dados de supervisão.
Capítulo 2. Revisão da Literatura 47

Figura 6 – Organização dos centros de controle e supervisão ONS

R Queiroz 2010

A seguir alguns dos recursos exigidos pelo ONS para a interligação de dados
de supervisão, retirados de (ONS, 2009):

• “Ter seus relógios internos ajustados com exatidão melhor ou igual a 1 milisse-
gundo, com sincronismo por GPS;

• Ter tempo máximo de reinicialização de 5 (cinco) minutos;

• Ser dimensionado para não perder sequência de eventos. Em caso de avalanche


de informação, todos os eventos devem ser transferidos para o ONS em até
5 minutos;

• Todas as medições devem ser feitas de forma individualizada e transferidas peri-


odicamente aos centros de operação;

• Os sistemas devem ser projetados para suportar períodos de aquisição de


4 segundos;

• O tempo para a transmissão dos dados para o ONS, durante a operação normal
do sistema, deve ser de 4 segundos em média.

• 98,5% de disponibilidade para UTR ou SSCL de instalações críticas;

• 97,5% de disponibilidade para UTR ou SSCL das demais instalações;

• 99% de disponibilidade para CD.”

Complexidade da Operação
Capítulo 2. Revisão da Literatura 48

A operação é realizada em níveis distintos de responsabilidade. (QUEIROZ,


2010) descreve essa operação entre os níveis hierárquicos como: os operadores de
uma instalação local são a primeira instância de operação. Normalmente eles recebem
o nome de operadores mantenedores. Realizam a manutenção dos equipamentos e,
em caso de necessidade podem efetuar comandos localmente sobre os equipamentos.
No nível de operação imediatamente superior, seguindo a hierarquia dos agentes,
estão os operadores dos centros locais ou centros regionais/sistema (COL, COT, COG,
COR/COS). Esse operador tem visibilidade maior que o operador da instalação e é
capaz de avaliar a disponibilidade de equipamentos para a recomposição do sistema. O
operador do próximo nível está nos COSRs do ONS e a sua função é muito diferente
dos operadores de agentes. O operador do ONS se preocupa com questões sistêmicas.
É ele quem controla o despacho de geração e as recomposições dos equipamentos.

O operador do CNOS define as diretrizes para a operação do sistema e coor-


dena os operadores dos COSRs do ONS, que por sua vez, coordenam em tempo real
os centros de operação dos agentes. Segundo a (ONS, 2009) os agentes tem a res-
ponsabilidade de assegurar a integridade física e bom funcionamento do equipamento.
Eles devem seguir os procedimentos e as instruções de operação que são disponibili-
zadas pelas ONS, porém não é da responsabilidade do agente a operação sistêmica
dos equipamentos. O operador dos centros de controle dos agentes pode monitorar
todas as informações disponíveis nos SSCs locais das usinas . Os pontos disponíveis
variam desde pequenas atuações de abertura de mini-disjuntores para aquecimento de
painéis, passando por alarmes de falta de tensão em motores, problemas no serviço
auxiliar, falhas de comunicação com equipamentos de campo, até mesmo a atuação
de proteções e bloqueios que podem indisponibilizar equipamentos da rede básica,
como as partidas e disparos de proteções, alarmes de atuação de relés de gás em
transformadores e desligamentos de disjuntores. Segundo (QUEIROZ, 2010) o ope-
rador do ONS recebe um pequeno subconjunto dos pontos citados anteriormente.
Como a operação do ONS é sistêmica, os pontos de interesse se restringem apenas
às atuações que geram desligamento de equipamentos da rede básica. Em termos
quantitativos, esses pontos equivalem a aproximadamente 3,5% da quantidade total
de pontos dos agentes (incluindo também os estados de equipamentos e medições
analógicas em adição aos pontos de atuação de proteção). Todas as manobras são
coordenadas em tempo real entre o agente e o ONS. Essa comunicação é feita através
de linhas telefônicas dedicadas denominadas hot-lines. No momento em que ocorre
um desligamento, o operador do agente recebe uma avalanche de alarmes e eventos
referentes à ocorrência. Ele deve analisá-los e, dependendo do tipo de ocorrência,
disponibilizar imediatamente o equipamento para o ONS através de contato telefônico.
Após esse contato, o operador do ONS deve preparar o sistema para receber de volta
Capítulo 2. Revisão da Literatura 49

o equipamento que sofrera a falha, para então solicitar ao agente sua recomposição
ao sistema. Caso o operador do agente não consiga disponibilizar o equipamento
para o ONS em menos de um minuto, será cobrada multa por indisponibilidade desse
equipamento. A cobrança é feita por cada minuto de indisponibilidade, e o valor equivale
a cinquenta vezes a receita recebida por minuto de disponibilidade. Como exemplo
pode-se citar uma linha de transmissão que recebe uma receita de R$60,00 por minuto
de disponibilidade.Segundo (QUEIROZ, 2010) uma falha de 15 minutos custaria ao
investidor o equivalente a R$45.000,00 de prejuízo em sua receita presumida. Dessa
forma, o tratamento das informações para a operação do COR/COS é fundamental
para a rápida recomposição do sistema e para a saúde financeira do empreendimento.
Em caso de sinistro de equipamento (explosão de transformador, queda de torres de
transmissão, etc.) a multa máxima é fixada no valor de 12,5% da receita anual presu-
mida do agente (RAP). Esse limite foi estabelecido para evitar que o empreendimento
se torne inviável, levando à falência concessionárias de transmissão.

Requisitos da ONS para telesupervisão


Os recursos e requisitos de supervisão, bem como os requisitos para quaisquer
atividades/áreas do setor elétrico são definidos pelo conjunto de documentos deno-
minados Procedimentos de Rede. São documentos de caráter normativo elaborados
pelo ONS, com participação dos agentes, e aprovados pela ANEEL, que definem os
procedimentos e os requisitos necessários à realização das atividades de planejamento
da operação eletro energética, administração da transmissão, programação e opera-
ção em tempo real no âmbito do SIN. Nestes documentos, o ONS especifica alguns
requisitos técnicos para o sequenciamento de eventos. Os requisitos de agrupamento
e sequenciamento de eventos do ONS são descritos no Submódulo 2.7 (Requisitos
de telessupervisão para a operação), Item 8. Todos os proprietários de equipamentos
integrantes das redes de operação em usinas e subestações (agentes) deverão se
adequar a estes requisitos. Novas instalações já deverão ser comissionadas atendendo
a essas exigências. Os eventos descritos nesse Submódulo 2.7 são divididos em 3
grupos (A, B e C).
Definições dos grupos de eventos (ONS, 2009):

• “ Grupo A: compreende os eventos que devem ser enviados diretamente para o


ONS, em tempo real, através das mesmas interligações de dados utilizadas para
atender aos requisitos de supervisão e controle;

• Grupo B: compreende os eventos que devem ser enviados de forma agrupada


para o ONS, em tempo real, através das mesmas interligações de dados utilizadas
para atender aos requisitos de supervisão e controle. Os eventos disponíveis na
Capítulo 2. Revisão da Literatura 50

instalação do agente na forma individualizada devem ser enviados para o ONS,


quando solicitados por este, através de meio eletrônico, em até 24 horas;

• Grupo C: compreende os eventos que devem estar disponíveis na instalação do


agente e ser enviados para o ONS, quando solicitados por este, através de meio
eletrônico, em até 24 horas. ”

Além de requisitos sobre o sequenciamento de eventos de uma unidade gera-


dora de uma usina hidrelétrica, o ONS também exige alguns requisitos básicos sobre a
supervisão das centrais geradoras e estes requisitos estão descritos no Submódulo
2.7, Item 11.3.
São eles (ONS, 2009) :

• “Medições analógicas: Todas as medições deverão ser feitas de forma indivi-


dualizada e transferidas periodicamente aos centros de operação designados
pelo ONS. O período de transferência deverá ser parametrizável por centro, e
os sistemas devem ser projetados para suportar períodos menores ou iguais a 4
segundos.

• Posição dos tapes dos transformadores elevadores, quando equipados com


comutadores sob carga;

• Uma medição do módulo de tensão fase-fase em kV para os transformadores,


elevadores. Esta medição deve ser no lado ligado à barra de menor potência de
curto-circuito, geralmente o de menor tensão, caso o ONS não explicite que seja
no outro lado do transformador;

• Uma medição da tensão fase-fase (kV) em todas as seções dos barramentos da


subestação passíveis de formar um nó elétrico;

• Potência ativa trifásica em MW e reativa em MVAr do lado de baixa dos transfor-


madores elevadores;

• Potência ativa trifásica em MW e reativa em MVAr em ambos os terminais das


linhas de conexão à rede básica;

• Disponibilidade, em MW, de cada grupo de máquinas ou, mediante concordância


do ONS, o número de máquinas disponíveis e sincronizadas em operação, em
cada grupo de máquinas. Esta informação poderá passar por processamento
prévio;

• Sinalizações de estado dos controladores e relés de proteção;

• Todas as sinalizações devem ser transmitidas por exceção.”


Capítulo 2. Revisão da Literatura 51

O sistema de supervisão e controle da instalação devem estar aptos a responder


às varreduras de integridade feitas pelo ONS que poderão ser periódicas, com período
parametrizável, tipicamente a cada 1 (uma) hora, sob demanda ou por evento, como
por exemplo, uma reinicialização dos recursos de supervisão e controle do ONS.
As seguintes informações relativas à instalação coletora devem ser obtidas e
transferidas para o(s) centro(s) de operação designado pelo (ONS, 2009):

• “Posição de todas as chaves e disjuntores de interligação à rede do lado de alta


tensão da subestação;

• Sequência de eventos.

• Aplicam-se aos equipamentos da instalação coletora os mesmos requisitos de


sequência de eventos especificados neste Submódulo para a rede de operação.

• O agente (proprietário dos equipamentos da rede de operação) possui responsa-


bilidades descritas no Submódulo 2.7, Item 4.2, citadas a seguir (ONS, 2009, p.
6):

• Instalar os recursos de supervisão e controle e disponibilizar todas as informações


a um ou mais centros de operação designados pelo ONS, conforme os requisitos
especificados neste Submódulo, incluindo o protocolo de comunicação e os
tempos de aquisição;

• Garantir a qualidade e a disponibilidade dos recursos de supervisão e controle


fornecidos ao ONS desde sua origem até a disponibilização no(s) centro(s) de
operação designado(s) pelo ONS.

• Os agentes são responsáveis – com relação aos equipamentos na rede de


supervisão – por fornecer recursos de supervisão e controle em dois sistemas
de aquisição de dados designados pelo ONS, sendo um local e outro remoto. O
sistema local e o sistema remoto são sistemas de aquisição de dados (front-ends)
do ONS que operam numa arquitetura de alta disponibilidade, sendo o local
localizado no centro de operação de propriedade do ONS, e o outro, localizado
em outra instalação designada pelo ONS.

Para que estes requisitos sejam alcançados e repassados ao ONS é necessário


uma automação moderna que comporte todos os dados de uma operação.
Os protocolos mais utilizados pelos agentes do setor elétrico para comunicação
com o ONS são o DNP3.0 sobre ethernet e o IEC60870-5-104. O motivo da opção
ocorre devido à simplicidade da estrutura e o vasto domínio desses protocolos pelos
profissionais de automação. ”
Capítulo 2. Revisão da Literatura 52

2.7 Protocolos elétricos de comunicação

Protocolos de comunicação são definidos como sendo conjuntos de regras e


formatos que permitem a troca de informação entre dois ou mais dispositivos, garan-
tindo o endereçamento, a correta entrega e conteúdo das informações. De acordo com
Silveira (2006) protocolo de comunicação é o conjunto de regras, procedimentos e leis
que governam a troca de informação entre dois ou mais processos, incluindo o formato
e ações a serem executadas quando do envio e recebimento desses dados. A represen-
tação proposta pelo modelo das camadas OSI (Open Systems Interconnection), é uma
abstração conceitual criada pela ISO (International Organization for Starndardization)
para modelar a forma de implementação e interação dos protocolos de comunicação.
Seu objetivo é promover a interoperabilidade entre as diversas plataformas.
Os protocolos mais utilizados pelos agentes do setor elétrico para comunicação
com o ONS são o DNP3.0 sobre ethernet e o IEC60870-5-104. O motivo da opção
ocorre devido à simplicidade da estrutura e o vasto domínio desses protocolos pelos
profissionais de automação. O ONS aceita conexão com novos agentes através dos
protocolos IEC60870-5-101,IEC60870-5-104, DNP3.0 e TASE.2/ICCP, sendo o último
para a comunicação entre centros de operação(ONS).

2.7.1 Protocolo DNP 3.0

O DNP 3.0 (Distributed Network Protocol) segundo (MORAES, 2010) inicial-


mente foi desenvolvido pela Harris Control da GE, em 1993, sua especificação foi
transferida para um grupo de usuários que, a partir de então, passaram a ser pro-
prietários e responsáveis pelas suas atualizações e revisões, tornando-o assim um
protocolo aberto. É estruturado conforme as especificações da norma IEC 870-5 para
a transmissão de dados entre estações mestres e UTR’s ou IED’s , com exceção
para comunicação entre estações mestres. É um protocolo que possui três camadas:
Aplicação, Enlace de Dados e Física; sua arquitetura simplificada é denominada EPA
(Enhanced Performance Architecture) e está de acordo com o modelo OSI da ISO ,
onde a pseudo camada de transporte juntamente com a camada de aplicação, faz a
separação de mensagens superiores a 249 octetos.

Este protocolo possui uma série de características aplicáveis a arquiteturas


abertas de sistemas distribuídos destinados à área de energia elétrica, (SIQUEIRA,
2007) cita alguns:

• Endereçamento para mais de 65 mil dispositivos com até 65 mil pontos


Capítulo 2. Revisão da Literatura 53

• Pedir e responder múltiplos tipos de dados em uma mesma mensagem

• Quebrar mensagens em pacotes múltiplos para garantir uma excelente detecção


de erro (Report by Exception)

• Incluir apenas dados modificados numa resposta

• Dar prioridades a itens de dados

• Responder sem ser solicitado

• Sincronização automática dos relógios dos dispositivos

• Eventos com estampa de tempo (Unsolicited Messages)

A camada de aplicação do protocolo possui vários objetos de dados que podem


ser mapeados nos pontos de leitura (entrada) e comando (saída) de uma UTR típica
de automação do sistema elétrico. Estes objetos podem representar entradas digitais,
entradas analógicas, contadores, eventos com estampa de tempo (time-stamped),
saídas digitais e analógicas, seqüência de octetos (string), dentre outros.
(MORAES, 2008) descreve que o DNP 3.0 é implementado em 3 níveis nos
equipamentos e cada nível possui diferentes quantidades de objetos de dados disponi-
bilizados. Tal característica deve ser observada durante o processo de aquisição de
dispositivos que utilizam o protocolo DNP 3.0. Os equipamentos que utilizam o protocolo
DNP 3.0 possuem um documento de perfil do dispositivo, chamado Device Profile, este
contém informações que permitem a integração entre diferentes dispositivos mestres e
escravos.

2.7.2 Protocolo IEC 60870-5-104

A principal aplicação do protocolo IEC104 é a interconexão de sistemas de


supervisão, utilizando como meio físico interligações ethernet sob TCP/IP. Trata-se
de um protocolo tipo Cliente-Servidor que é estabelecido através da comunicação
entre um sistema “mestre” e outro “escravo”. O escravo é o servidor de comunica-
ção. Nele estão disponíveis os dados do sistema. O mestre (cliente) se conecta ao
servidor para obter as informações de interesse. Os protocolos antigos não previram a
implementação de envio espontâneo de mensagens. O mestre solicitava ciclicamente
(período de 1 a 5 segundos) todos os pontos do sistema escravo. Essa forma de
implementação de protocolo é muito rudimentar e não otimiza os recursos de rede,
uma vez que todos os pontos sempre trafegavam ciclicamente pelo meio físico. No
protocolo IEC104 , a implementação das mensagens espontâneas por variação de
Capítulo 2. Revisão da Literatura 54

dado, evita o trafego intenso de informação na rede. Nesse protocolo a ocupação dos
canais de comunicação será definida pela variação dos pontos no sistema escravo.
Durante a operação normal, apenas os dados analógicos sofrem variação. No momento
da manobra de algum equipamento ou durante um desligamento, ocorre a variação de
estado de vários pontos digitais (atuação de proteção,mudança de estado de disjuntor,
etc.) ocasionando elevação no tráfego da rede. Embora esse aumento seja significativo
quando a ocorrência envolve o desligamento de vários equipamentos, a ocupação dos
recursos de rede nesse caso nunca poderá ser comparada, por exemplo, à densidade
de dados que trafegam durante o pedido de integridade.De acordo com (MORAES,
2008), o protocolo IEC60870-5-104 utiliza 5 das 7 camadas do modelo OSI. São elas:
Física, Enlace, Rede, Transporte e Aplicação. As camadas de Sessão e apresentação
não são utilizadas nesse protocolo. Este protocolo possui uma série de características
aplicáveis a arquiteturas abertas de sistemas distribuídos destinados à área de energia
elétrica, assim como o DNP3, a seguir algumas características compartilhadas pelos 2
protocolos segundo (SIQUEIRA, 2007):

• Alta segurança na transmissão de dados

• Operação por polling e RBE

• Uso de Mensagens não solicitadas

• Definições de objetos de dados adequado para SCADA

• Sincronização de Tempo

• Estampa de Tempo

• Congelamento e Zeramento de Contadores

• Ação SBO

• Grupos de dados e Classes

• Download e Upload de Arquivos

O protocolo IEC104 se difere ao DNP3 nos quesitos citados abaixo:

• Maior faixa de endereçamento

• Uso de Mensagens não solicitadas somente ponto a ponto.

• Somente um tipo de dados por mensagem.


Capítulo 2. Revisão da Literatura 55

• Não tem procedimentos de testes e certificação.

• Objetos de Dados mais simples

• Endereçamento mais simples

• Configuração de baixo nível mais complexa

Pelas características citadas acima sobre os 2 protocolos elétricos, tanto o DNP3


como o IEC104 tem os requisitos para serem usados na comunicação de dados de
uma pequena central hidrelétrica, são confiáveis, tem estampa de tempo, sincronização,
definições de objetos adequados para o setor de energia e mensagens não solicitadas
para o sequenciamento de eventos. A escolha entre um protocolo e o outro mostra-se
mais influenciada por questões de padronização nas empresas e razões culturais, já
que o DNP3 é uma padrão predominante no mercado americano, enquanto que o
IEC104 predomina no mercado europeu.

2.8 Cyber security

A expansão das redes nas companhias de geração e transmissão de energia


elétrica, seja na adição de novos equipamentos, seja no oferecimento de novos serviços,
ou mesmo na permissão de acesso aos equipamentos à parceiros no negócio, tem
gerado um aumento ao risco de exposição a ataques cibernéticos. Este assunto, que já
é mais comum no setor de Tecnologia da Informação, ainda não teve a devida atenção
em instalações críticas do setor de Energia. A metodologia da defesa em camadas
garante vários níveis de proteção caso uma das camadas de segurança falhe ou tenha
alguma vulnerabilidade, consistindo em um processo contínuo de Proteção, Detecção
e Reação frente a uma possível invasão ou ataque.
Infraestrutura crítica se refere a bens e ativos que desempenham funções
que, se interrompidas, podem causar sérios impactos sociais, econômicos e políticos.
Segundo (SOUZA; KIEFER, 2015) infraestruturas críticas também são definidas como
os ativos que se afetados por fenômenos da natureza, como terremotos, inundações ou
por ações de terrorismo, causam grandes impactos em toda uma nação e sua sociedade
. São definidas também como os subconjuntos de ativos que afetam a continuidade da
missão do Estado e a segurança da sociedade. Cada vez mais sistemas de automação
de energia de infraestruturas críticas como as usinas hidrelétricas começaram a contar
com redes Ethernets e conectividade com redes externas das empresas de geração,
transmissão e distribuição de energia. Diversos benefícios apareceram com a aplicação
de redes ethernet e conexão externa nesses ambientes, tais como: facilidade no acesso
remoto aos equipamentos instalados nas usinas como CLPs, IEDs e IHMs, agilidade
na obtenção dos arquivos de oscilografia, facilidade de diagnósticos de problemas
Capítulo 2. Revisão da Literatura 56

remotamente, etc. Porém, esse aumento do perímetro de rede dos equipamentos


das empresas que atuam no segmento de energia elétrica tem aumentado o risco
de exposição desses sistemas e, com isso, a possibilidade de ataques cibernéticos.
Como citado anteriormente este problema que já é comum e bastante discutido
no setor de TI, ainda não teve a devida atenção nos ambientes industriais e nas
instalações críticas, mas isso vem mudando e a preocupação do setor de energia com
segurança cibernética vem aumentando nos últimos anos.Durante os últimos anos,
casos conhecidos de ataques a infraestruturas críticas no mundo mostraram que esses
tipos de sistemas são de elevado interesse no espaço cibernético, seja por motivações
ideológicas, militares, pessoais ou outras.
(SOUZA; KIEFER, 2015)cita que dado a importância do sistema elétrico para
o correto funcionamento de outras infraestruturas críticas, tais como sistema de dis-
tribuição de água, sistemas de transporte, entre outros, é necessária uma atenção
especial para que o mesmo não comprometa a continuidade da missão do estado e da
segurança nacional. Levando em conta esses problemas relacionados a segurança das
instalações críticas com maior conectividade a rede, esse capítulo aborda soluções de
segurança cibernética e meios de mitigar as vulnerabilidades de maneira a tornar o
sistema de automação de energia mais seguro e confiável, seja ele aplicado a unidades
de geração, transmissão ou distribuição de energia. Um conceito bastante efetivo, e já
aplicado em sistemas de TI, é a defesa em profundidade (Defense In-Depth).
O Conceito de Defesa em Profundidade (Defense In-Depth) se baseia na apli-
cação de diversas camadas de controles de segurança em um sistema, seus ativos e
informações. O mecanismo, inicialmente aplicado a sistemas de Tecnologia da Informa-
ção, é totalmente adaptado a arquiteturas de rede de instalações críticas em sistemas
de automação de energia. A implementação da defesa em camadas garante vários
níveis de proteção caso uma das camadas de proteção falhe ou apresente alguma
vulnerabilidade, que possa ser usada para explorar entradas para conseguir acessos
não autorizados a sistemas de automação de energia. A idéia por trás da defesa em
profundidade é proteger o sistema contra qualquer ataque particular, independente de
qual tipo de ataque cibernético esteja sendo usado. É uma tática de utilização de ca-
madas, projetada pelo NSA – National Security Agency para segurança da informação
e de sistemas eletrônicos.
A aplicação direta dessa filosofia em uma arquitetura de um sistema de automa-
ção de energia consiste na aplicação de diversos mecanismos de proteção, desde o
ponto de acesso da usina com a reda da empresa, até os CLPs usados para o controle
e monitoramento do sistema de geração de energia elétrica. Diversos mecanismos são
implementados para garantir camadas de segurança na rede Ethernet de uma pequena
central hidrelétrica. Eles são citados por (SOUZA; KIEFER, 2015):
Capítulo 2. Revisão da Literatura 57

• Segmentação de rede via DMZ (Demilitarized Zone), consiste em agrupar


elementos de rede com necessidades frequentes com a intenção de isolar equi-
pamentos críticos de acessos indevidos;

• Firewalls para proteger a rede de automação contra ataques que explorem os


protocolos elétricos;

• Hardening dos equipamentos de automação, quanto mais funções e opções de


comunicação e acesso, mais vulnerabilidade para o sistema. Logo, diminuir as
opções de acesso a equipamentos, reduz as possibilidades de acesso indevido
ao sistema;

• Criptogografia dos protocolos de comunicação utilizados para controle remoto


da instalação;

• Monitoramento e controle dos acessos,com o uso de Radius Server (Remote


Authentication Dial In User Service), é possível realizar uma validação remota
através de um servidor Radius;

• Gestão de senhas;

• Firmwares dos CLPs com assinatura digital para evitar que um firmware errado
ou malicioso seja instalado;

Tipos de Ameaças para Sistemas de automação conectados a rede


Algumas ameaças podem ser ocasionadas por falhas não intencionais, geradas
por equipamentos com defeito ou até mesmo desastres da natureza. De um modo geral,
tais falhas podem ter um impacto ainda mais significativo nas instalações e demandam
soluções , como maior robustez da estrutura e confiabilidade das instalações físicas por
exemplo. Outras ameaças são provenientes de ataques realizados intencionalmente por
agentes internos ou externos ao sistema. Para o correto entendimento das ameaças
existentes em sistemas de automação em unidades de Geração, Transmissão e Distri-
buição de energia, apresenta-se algumas das situações de equipamentos conectados
a rede que podem servir de entrada para ataques:

• Computador corporativo conectado remoto ao sistema de automação;

• Roteador de Interface com a Intranet;

• CLP para controle dos equipamentos e envio de dados da PCH para um COR
ou centro da ONS

• IHM para supervisão e controle local;


Capítulo 2. Revisão da Literatura 58

• Estação de Engenharia, para configuração e acesso dos ativos;

• IEDs para proteção e controle do sistema elétrico, comunicando via protocolos


TCP/IP, como o ModBus e DNP3.0;

• GPS , para realizar a sincronização do sistema de automação;

Foram apresentados apenas alguns dos mecanismos que podem ser emprega-
dos para melhorar a segurança em sistemas de automação de centrais hidrelétricas.
Vale ressaltar que a segurança cibernética do sistemas não depende apenas de equi-
pamentos, mas também da maneira como usuário utiliza e interage com o sistema.
59

3 Materiais e Métodos

O trabalho foi realizado usando um caso real de pedido de cotação de hardware,


que foi enviado para a empresa que atua em projetos de automação para o setor
de energia, para um processo de modernização de uma pequena central hidrelétrica.
A empresa que fornecerá o hardware é uma multinacional de origem americana,
reconhecida como uma empresa com muitos anos de tradição e atuação no mercado
de energia. O cliente solicitou que fosse feito uma proposta de solução de hardware
incluindo os Controladores lógicos programáveis, software de programação, switches
industriais, interfaces homém máquina e todo equipamento ou software que fosse
necessário para poéder implementar o sistema de automação tanto das unidades
geradoras como dos serviços auxiliares da usina.
A solução de hardware deveria proporcionar funcionalidades e atender requisitos,
para que fosse possível atender as exigências do cliente e da ONS, entre esses
requisitos questões como disponibilidade dos equipamentos e protocolos elétricos de
comunicação para seguir os padrões exigidos pelo setor de energia.
O primeiro passo foi ler a especificação técnica do cliente para se informar de
qual era a idade, situação, nível de automação e características da PCH que necessitava
de modernização. Segue abaixo uma descrição da PCH que serviu como objeto de
estudo para esse trabalho, sem o nome da mesma ou do cliente final por questões de
confidencialidade:
A Pequena Central Hidrelétrica estudada aproveita as águas do Rio Taquari
Mirim e iniciou sua operação com uma unidade geradora em 1933, sendo ampliada
entre 1953 e 1956 com o acréscimo de duas novas unidades. Localizada no município
de Passo Fundo, RS. O Grupo Gerador nº 1 com turbina de fabricação sueca, SKF, e
gerador da ASEA, de potência de 700 kVA, encontra-se atualmente desligado. Os Gru-
pos Geradores nº 2 e nº 3 com turbinas Francis de fabricação Francesa, Neyret-Beylies
e Piccard-Pictet e geradores de fabricação da GE de potência 2000 kVA, encontram-se
em operação normal. Segundo dados do BIG(2017), a Potência Outorgada (kW) é
de 4470 e a Garantia Física / Energia Assegurada (MW médios) de 0,69. A energia
gerada é destinada ao serviço público. Trata-se de uma pequena central hidrelétrica
de potência instalada não muito alta, e também percebemos que a garantia física ou
energia assegurada da central é baixa, em torno de 15% apenas da potêncial total
instalada na usina.

O segundo passo do trabalho foi o de analisar quais eram os motivos, objeti-


Capítulo 3. Materiais e Métodos 60

vos e requisitos do processo de modernização o qual a empresa desejava fazer na


PCH, segue abaixo retirado da própria documentação técnica do cliente os motivos e
requisitos para a modernização da central: A modernização da PCH tem a finalidade
de permitir a supervisão e o comando destas usinas a partir do Centro de Operações
Regional. Atualmente o controle destas usinas é feito de forma manual, a partir da sala
de máquinas. Atualmente a PCH opera de forma assistida, com operador em turno
único, dentro do horário comercial. A unidade geradora 2 (UG02) possui operação
totalmente manual, através de painéis de controle obsoletos, a unidade geradora 3
(UG03) possui parte da operação automatizada, mas necessita de uma modernização
para total automação e controle remoto. Os sistemas comuns e auxiliares da usina e
subestação serão controlados e supervisionados por um terceiro painel de automa-
ção, denominado UAC-C. Esta configuração garante a padronização dos sistemas de
supervisão e controle das UGs e facilita o processo de manutenção destas unidades
e da usina. O Sistema Digital de Supervisão e Controle tratado por esta Especifica-
ção Técnica cobrirá os equipamentos de automação, supervisão e controle para as
unidades geradoras 2 e 3, visado à integração dos seus sistemas auxiliares como adu-
ção, frenagem, lubrificação, regulação de velocidade e tensão, conjuntos de manobra,
medição e proteção. Também são tratados nesta especificação os equipamentos de
automação, supervisão e controle dos sistemas comuns da usina, que englobam os
serviços auxiliares CA e CC, a água de resfriamento, os conjuntos de manobra do
transformador de serviço auxiliar e transformadores elevadores, os equipamentos da
subestação e a supervisão das barragens de Captação e Principal.

O CLP deverá possuir módulos de comunicação específicos com as seguintes


características:
a) Para a comunicação entre os CLPs das UACs G2, G3 e UAC-C e o Sistema
Remoto de Supervisão e Controle: Porta Ethernet com pelo menos o Protocolo IEC
60870-5-104;
b) Para a comunicação entre os CLPs das UACs G2, G3 e UAC-C e os Regu-
ladores de Velocidade, Tensão e Relés de Proteção (IEDs): Porta Ethernet com pelo
menos os
Protocolos IEC 60870-5-104 e IEC 60870-5-103 (proteção) ou DNP 3.0;
c) Para a comunicação entre os CLPs das UACs G2 e G3 e os Multimedidores
de Grandezas Elétricas dos geradores e Indicadores/Controladores de Temperaturas:
Ethernet ou RS485 com pelo menos os protocolos Profibus ou ModBus;

As UACs G2 e G3 deverão ter como função principal os automatismos de partida


Capítulo 3. Materiais e Métodos 61

e parada das unidades geradoras. Elas deverão ser responsáveis também por todas
as aquisições de medidas analógicas e eventos digitais necessários para permitir a
supervisão e o controle das unidades geradoras, que serão executados localmente a
partir da IHM da UAC-C e remotamente através do SRSC. Todos os eventos analógicos
e digitais necessários para a supervisão e controle das unidades geradoras alimentarão
as UACs, ou seja, eventos originários:
a) No gerador e no seu regulador de tensão;
b) Na turbina, na adução e no seu regulador de velocidade;
c) No sistema de frenagem;
d) Nos conjuntos de manobra e proteção dos grupos;
e) Nos mancais e seu sistema de lubrificação.

A UAC-C deverá ter como função principal a monitoração e controle das barra-
gens de captação e principal, dos serviços auxiliares de CA e CC, dos conjuntos de
manobra dos transformadores elevadores e de serviço auxiliar, da subestação e dos
sistemas de água de resfriamento e ar comprimido.
Na área da casa de força, a UAC-C tem como função a aquisição dos eventos
analógicos e digitais necessários para a supervisão e controle dos sistemas comuns
das unidades geradoras.
Resumidamente estes sistemas são:
a) Serviços Auxiliares CA e CC;
b) Conjuntos de manobra e proteção dos transformadores elevadores;
c) Conjunto de manobra do transformador de Serviço Auxiliar;
d) Sistemas de água de resfriamento;
e) Sistema de ar comprimido;
f) Subestação (transformadores elevadores, barra 44 kV e disjuntor de linha)

Tendo um levantamento sobre a situação em que a usina se encontrava, e tendo


quais eram os requisitos que o cliente exigia para o sistema,mais os requisitos que
uma pequena central deveria atender quanto as normas da ONS, o passo seguinte
foi fazer um levantamento teórico de todos os temas pertinentes e que pudessem
ajudar na elaboração do sistema e do processo de defesa da solução quer seria ofere-
cida, esse levantamento de informações baseou-se na procura de artigos, trabalhados
acâdemicos e manuais da ONS para posterior leitura e entendimento dos temas. Os
Capítulo 3. Materiais e Métodos 62

temas que foram abordados são os temas que encontram-se no cápitulo 2 desse
trabalho, dentre eles os mais relevantes foram o estudo sobre casos de modernização
de usinas, tanto grandes usinas como pequenas usinas, a fim de entender melhor o
processo de modernização,tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista
econômico, levantou-se quais seriam as vantagens de um processo de moderniza-
ção. Outro tema que foi abordado e de grande importância foi o centro de operação
remoto, já que um dos objetivos do cliente com a modernização era justamente fazer
o controle da usina em um centro remoto a fim de aproveitar melhor os recursos da
empresa, diminuir os gastos com O&M e melhorar a performance da usina em questão.
Segurança cibernética foi outro tema estudado para o trabalho, pois cada vez mais se
há uma preocupação com a segurança dos ativos nas empresas, visto que o mesmo
avanço tecnológico que possibilita esse monitoramento e controle da usina poderia ser
usado para danificar,prejudicar ou até mesmo parar o processo de geração de energia
na usina , gerando prejuízo econômico e até riscos de segurança as instalações e
funcionários.Outros temas como custo, estrutura de uma PCH, protocolos elétricos e
automação de serviços auxiliares foram estudados e incluidos nas referência,a fim de
proporcionar um embasamento teórico mais amplo sobre o assunto, proporcionando
assim mais propriedade para defender a solução junto ao cliente.

Após estudo teórico sobre os diversos temas que envolvem os processos de


modernização, automação e operação remota de uma pequena central hidrelétrica, foi
feito um levantamento dos projetos que haviam sido feitos na empresa para grandes
usinas hidrelétricas, pois na teoria os princípios seriam os mesmos, e as soluções
de hardware que foram elaboradas para as UHE poderiam ser usadas nas PCH. Foi
analisado então se a solução para uma UHE seria adequada para uma PCH tanto
do ponto de vista técnico,como do ponto de vista econômico. Chegou-se a conclusão
de que a solução padrão para UHE superava as exigências técnicas para uma PCH,
porém o custo seria elevado demais, então a proposta principal desse trabalho foi
de elaborar uma solução de hardware que atendesse tecnicamente aos requisitos
mas que em questões de custo tivesse uma redução para atender a necessidade
do cliente. Por meio dos conhecimento adquiridos durante todo o estágio realizando
propostas de soluções para usinas hidrelétricas, o autor deste trabalho elaborou uma
solução de hardware para PCH para ser posteriormente comparada tecnicamente e
economicamente com a solução de harwdware que era o padrão adotado pela empresa,
o novo padrão escolhido para as PCH bem como a comparação com o padrão antigo
encontra-se no próximo capítulo deste trabalho.
63

4 Resultados e Discussão

4.1 Resultados

Solução técnica padrão

Muitas das grandes empresas de automação que atendiam a projetos de ge-


ração de energia, estavam acostumadas a trabalhar com projetos de grandes usinas
hidrelétricas, em alta nas últimas 2 décadas. Esses projetos envolviam investimentos
altos, e se beneficiaram da crise de energia no começo dos anos 2000 e com isso havia
mais investimentos para os projetos. A solução técnica de hardware para esses projetos
envolvia o que tinha de melhor em tecnologia de automação, visando maximizar o
sistema e prover uma grande disponibilidade ao sistema. Segue abaixo como era a
configuração:

Figura 7 – Solução padrão para UHE

Autoria própria

Lista de materias solução padrão UHE


Capítulo 4. Resultados e Discussão 64

Hardware padrão UHE - UG


4 Rack de 12 slots
2&3

CPU de alta performance para


4
redundância

8 Fonte de alimentação 24Vdc

4 Módulos de redundância

Links de fibra óptica para


4
redundância

4 Módulos de comunicação IEC104

4 Módulos de comunicação serial

Hardware padrão UHE - SOE


2 Rack de 12 slots
+ I/O

2 Fonte de alimentação 24Vdc

2 CPU de alta performance

2 Módulos de comunicação Ethernet

6 Módulo de entradas digitais

6 Módulo de saídas digitais

2 Módulo de entradas analógicas

Módulo de contagem rápida


2
(IRIG-B)

12 Borneiras removíveis

Hardware padrão UHE - Serv.


1 Rack de 12 slots
Auxiliares

1 Fonte de alimentação 24Vdc

1 CPU de alta performance

3 Módulo de entradas digitais

3 Módulo de saídas digitais

1 Módulo de entradas analógicas

1 Módulos de comunicação IEC104

6 Borneiras removíveis

Hardware padrão UHE - Switches gerenciáveis com fibra


4
Switches óptica

Autoria própria
Capítulo 4. Resultados e Discussão 65

Descrição:
Para as unidades geradoras eram usados controladores redundantes, que
operam em hot stand-by, e fazem o sincronismo das informações entre os controladores
através de módulos de redundância que fazem o espelhamento de memória entre os
controladores. A disponibilidade dos controladores nessa configuração é de 99,999%.
O sequenciamento de eventos é feito no rack que tem os módulos de I/O e envia os
dados com estampa de tempo via rede Ethernet para ambos os controladores, que
enviam via protocolo 104 os dados estampados para o supervisório com exatidão de
1ms. A rede de dados entre as unidades geradoras, serviços auxiliares e o supervisório
é feita via anel de fibra óptica, tendo redundância na comunicação com o sistema de
supervisão.
Custo da solução de hardware padrão para UHE,considerando 2 unidades
geradoras, é de R$ 677000 sem considerar impostos.
Solução técnica adotada para atender aos requisitos da PCH mas com diminui-
ção dos custos do hardware.

Figura 8 – Solução padrão para PCH

Autoria própria
Capítulo 4. Resultados e Discussão 66

Tabela 9 – Lista de materias solução padrão PCH

Hardware padrão PCH - UG 2&3 2 Rack de 12 slots

2 CPU de alta performance

2 Fonte de alimentação 24Vdc

2 Módulos de comunicação IEC104

2 Módulos de comunicação serial

Hardware padrão PCH - SOE + I/O 2 Rack de 12 slots

2 Fonte de alimentação 24Vdc

2 CPU de alta performance

6 Módulos de comunicação Ethernet

6 Módulo de entradas digitais

2 Módulo de saídas digitais

2 Módulo de entradas analógicas

2 Módulo de contagem rápida (IRIG-B)

12 Borneiras removíveis

Hardware padrão PCH - Serv. Auxiliares 1 Rack de 12 slots

1 Fonte de alimentação 24Vdc

1 CPU de alta performance

3 Módulo de entradas digitais

3 Módulo de saídas digitais

1 Módulo de entradas analógicas

1 Módulos de comunicação IEC104

6 Borneiras removíveis

Hardware padrão PCH - Switches 1 Switch não-gerenciável

Autoria própria

Descrição:
Para as unidas geradoras os controladores redundantes foram substituídos
por controladores simples, a disponibilidade dos controladores nessa configuração
Capítulo 4. Resultados e Discussão 67

é de 99,9% que atende sem problemas os requisitos de ONS e também atende as


expectativas do cliente final que precisa aumentar a disponibilidade. O sequenciamento
de eventos é feito no rack que tem os módulos de I/O, envia os dados com estampa de
tempo via rede Ethernet para o controlador, que enviam via protocolo 104 os dados
estampados para o supervisório com precisão de 1ms. A rede de dados entre as
unidades geradoras, serviços auxiliares e o supervisório é feita via arquitetura em
estrela, não há necessidade de fibra óptica para evitar os problemas com ruídos
gerados pela interferência de ondas eletromagnéticas em cabos elétricos, já que a
distância entre áreas em uma PCH geralmente são menores que 100m, portanto as
interferências não serão suficiente para gerar problemas na comunicação.
Custo da solução de hardware padrão para PCH,considerando 2 unidades
geradoras, é de R$ 367000 sem considerar impostos.

4.2 Discussão

Comparando as duas soluções, podemos perceber que a nova proposta de


solução para PCHs, cumpriu o propósito de ter um custo menor quando comparada
com a solução padrão para UHE, a diminuição foi de R$ 310000 ou 45% a menos,
uma redução muito boa e que deixa a solução muito mais competitiva e adequada para
esse novo crescente mercado de modernização e novas PCHs, visto que a solução
de hardware proposta serve tanto para casos de modernização, quanto para casos de
novos empreendimentos.
Do ponto de vista técnico podemos comparar alguns quesitos entre as 2 solu-
ções, entre eles podemos discutir quanto a disponibilidade das duas soluções. Para
a solução padrão de UHE o uso de controladores redundantes para as unidades
geradoras tem um nível de disponibilidade atestado pela fábrica de 99,999%, uma
porcentagem muito alta, praticamente podemos considerar que o sistema não pararia
por falhas dos controladores, como vantagem além da redundância proporcionar alto
índice de disponibilidade, também traz vantagens ao processo de manitenção, por
poder fazer mudanças em um dos controladores ou reparos, enquanto o outro assume.
Já o índice de disponibilidade para a solução elaborada para PCHs é de 99,9% segundo
o fabricante, é menor que a disponibilidade da solução anterior, porém devemos notar
que 99,9% atende aos requisitos de disponibilidade da ONS, não sofrendo portanto
penalidades por indisponibilidade do sistema, além de satisfazer as necessidades do
cliente, que hoje trabalha com índices de disponibilidade do sistema muitos menores,
tendo em vista diversos fatores como operação manual de parte do processo, parte do
processo não opera quando o operador não esta presente e equipamentos antigos que
tem baixa disponibilidade pela idade e por falta de peças de reposição ou mão de obra
especilizada para reparos.
Capítulo 4. Resultados e Discussão 68

Outro fator importante a ser analisado é a questão da segurança cibernética,


que cada vez mais se torna uma preocupação das empresas do setor de energia, pois
hoje com a necessidade de conectar os ativos a redes externas, a fim de monitorar e
controlar remotamente os ativos, acaba que as instalações e ativos tornem-se vulnerá-
veis a ataques intencionais e não intencionais. Portanto tanto a solução padrao para
UHE como a proposta como padrão para PCH apresentam certificação Achilles 2 de
segurança cibernética. A plataforma Achilles é um produto de uma renomada empresa
no ramo de segurança cibernética, chamada Wurldtech, essa produto é uma plataforma
de testes usada pela maioria das empresas de automação a redor do mundo, esse
produto funciona testando os controladores e equipamentos simulando diversos tipos
de ataques virtuais que os mesmos possam sofrer em campo, testes envolvendo diver-
sos protocolos de comunicação, até mesmo protocolos elétricos como DNP3 e IEC104,
testes de performance contra avalanche de tentativas de acessos e dados errados
enviados ao controlador, além testar outros inúmeros protocolos de rede. Os dois
certificados emitidos aos equipamentos são Achilles 1 e 2, que só é dado ao fabricante
caso o equipamento passe por todos os testes sem falhas, o certificado Achilles 2 é o
maior nível de segurança dado pela wurldtech atualmente. Então podemos assegurar
que mesmo tendo simplifcado o escopo de hardware para atender as necessidades do
mercado de PCH não diminuimos o nível de segurança envolvido na solução.
Na solução para PCH mantemos a comunicação IEC104 para enviar dados
para o centro de controle da empresa ou diretamente para os centros de controle
da ONS, a redundância de módulos de comunicação que antes existia na solução
para UHE foi trocada por um cartão simples a fim de reduzir custos, porém com um
cartão conseguimos atender aos requisitos de ter um protocolo confiável, robusto e
com estampa de tempo, e também a disponibilidade do controlador como um todo ,
incluindo o cartão de comunicação mantem-se em 99,9%, atendendo aos requisitos de
disponibilidade exigidos pela ONS.O módulo possui uma banda de 100Mb, o suficiente
para enviar todos os dados digitais, analógicos e variáveis de sistema dos controladores
para os centros de operação, mais do que suficiente se considerarmos que o máximo
de memória que é possível ser usada pelo controlador é de 64Mb, e dificilmente essa
quantidade de memória é usada, mesmo em unidades geradoras de grandes usinas
que normalmente tem mais sensores e equipamentos ligados.
A solução usada para atender ao requisito do SOE com precisão de 1ms, foi
a mesma nas duas propostas de hardware, onde um cartão de contagem rápida é
usado para receber o sinal de um GPS, através do protocolo de sincronismo IRIG-B,
então uma lógica no controlador usara esses pulsos recebidos no cartão de contagem
rápida para sincronizar o relógio da CPU, e assim ter todos os controladores da planta
com o mesmo sincronismo de tempo, e assim ter confiabiidade no sequenciamento
dos eventos de toda a usina. As entradas digitais tem um tempo de resposta de 0,5ms
Capítulo 4. Resultados e Discussão 69

para garantir que nenhuma mudança nas entradas seja perdida, após ocorrer algum
evento esse dado sera estampado e enviado para o controlador, que organizará esse
dado para colocá-lo no cabeçalho do protocolo IEC104 e enviá-lo para os centros de
operação.
Na solução para PCH manteve-se os cartões de comunicação serial,que tem
a capacidade de comunicação nos padrões RS-232 e RS-485, além de falar diversos
protocolos seriais como o Modbus RTU, um protocolo amplamente usado no mercado,
e assim possibiliar a comunicação com equipamentos antigos que usem esse protocolo
na usina, ou equipamentos novos mas que por serem de menor custo ainda utilizam
protocolos seriais como o Modbus RTU.
O fato de ter sido usado uma CPU na remota de I/O, se deve a uma questão de
garantia para atingirmos 1ms de precisão na estampa do SOE, pois esse procedimento
requer um processamento adequado para manter a precisão, além de poder ser imple-
mentadas lógicas locais, para no caso de perder-se a comunicação com o controlador
principal a remota possa atuar em alguns pontos para manter o sistema funcionando ou
levá-lo para alguma situação que não apresente riscos aos ativos, assim melhorando a
disponibilidade do processo e segurança.
A escolha de manter a CPU de mais alta performance nos controladores das
unidades geradoras se deve ao fato de que, por serem CPUs de alta performance
com uma memória de armazenamento grande para o mercado de controladores, que
contam com processadores dual core, possibilitam ao cliente processamento suficiente
para que o mesmo possa implementar junto com a lógica de controle das geradoras,
as lógicas para que o controlador desempenhe também as funções de regulador de
tensão e regulador de velocidade, podendo iassim diminuir a quantidade de hardware
envolvidos nesses dois equipamentos, que em usinas antigas costumam ter muitas
partes mecânicas, com um menor desempenho,maior índice de quebra e necessidade
de manunteção e de ajustes mais difíceis do que um regulador de tensão e velocidade
implementado via lógica digital.
A rede de comunicação que na solução para UHE era um anel em fibra óptica,
proporcionando redundância da rede pois usava protocolo MRP dando maior dispo-
nibilidade a comunicação, e o uso da fibra óptica evitava problemas por interferência
eletromagnéticas a que cabos elétricos de par trançado estão sujeitos. Porém para
a solução da PCH para atender ao intuito de redução de custos, a rede em anel foi
trocada por uma rede em estrela, assim foi possível diminuir o número de switches,
e os switches gerenciáveis que são mais caros foram trocados por um único switch
não gerenciável. Para a PCH não a necessidade de comunicação em fibra óptica, visto
que as distâncias entre unidades geradoras, serviços auxiliares e central de controle
não passa de dezenas de metros, podendo ser usado cabo elétrico normal sem ter
Capítulo 4. Resultados e Discussão 70

problemas com interferência.


Nas duas soluções os módulos dos CLPs tem a capacidade de serem trocados a
quente,isto é: caso algum módulo apresente defeito, é possível fazer a troca do mesmo
sem que o sistema precise ser desligado, e inserindo um novo cartão igual o sistema
automaticamente o reconhece, agilizando assim o processo de manutenção e evitando
uma parada total do sistema para troca de um módulo.
Essa solução de hardware vai proporcionar ao cliente a possibilidade de automa-
tizar todo o processo da usina, para que a mesma possa operar de forma automática
e desassistida caso haja necessidade.Como a usina só opera no período comercial,
pois maior parte da usina é manual e necessita de um operador para operar todo
o processo, e o a empresa optava por ter apenas um operador de segunda-feira a
sexta-feira, a usina só operava 40h por semana, visto que era inseguro e impraticável
deixar a usina operando sem ter alguém para realizar os devidos ajustes nos equipa-
mentos e certificar-se que não havia nada de errado, e por isso a energia assegurada
da usina é tão baixa. Com a automação total da usina haverá a possibilidade de operar
a mesma 24h por dia, 7 dias na semanas,mais do que quadruplicando o tempo de
operação da mesma, isso trará uma acréscimo considerável ao montante de energia
assegurada pela PCH, e o valor da energia assegurada vendida tem um valor de
mercado muito maior que o da energia secundária vendida, só para termos uma idéia
dos ganhos podemos fazem um cálculo de quanto de renda a mais trará a empresa se
a energia assegurada for dobrada, lembrando que com a automatização da usina o
tempo de operação será mais que quadruplicado além da automação trazer um ganho
de performance, então a duplicação da energia assegurada não será uma meta difícil
de atingir:
Um ganho de 0,69 MW na energia assegurada pela usina, considerando 365
dias de operação, 24h por dia, e um preço médio da energia de R$ 150 por MW/h (
valor do MW/h varia entre R$ 100 e R$ 230 em 2017) , valor esse que não é o mais
alto conseguido.
0,69 x 365 x 24 x 150 = R$ 904176
Com o dobro da energia assegurada, teriamos um acréscimo de 904176R$ em
venda de energia para a empresa, lembrando que com a automação será possível
mais que dobrar a energia assegurada, além de termos que contabilizar o fato que
a produção de energia não assegurada também será maior, e apesar do valor de
venda desse energia ser bem menor, também trará um acréscimo significativo ao
faturamento da empresa. Podemos também concluir que o valor pago no hardware
de automação, lógico que para a automação da usina outros equipamentos serão
necessários, será pago em menos de um ano só pelo acréscimo do faturamento
causado pela modernização e automação da usina.
Capítulo 4. Resultados e Discussão 71

Outro ponto importante que será conseguido com esse hardware padrão para
PCH, é evitar que a empresa leve multas por indisponibilidade do sistema e por não
cumprir com os requisitos da ONS como SOE de 1ms e envio dos pontos para controle
e supervisão da mesma, lembrando que no sub cápitulo sobre centros de operação
remota deste trabalho,vimos que as multas aplicadas pela ONS podem ser da casa de
dezenas de milhares de reais até valores maiores.

Características Padrão UHE Padrão PCH

Disponibilidade sistema de
99,999% 99,9%
controle

Custo R$ 677000 R$ 367000

Requisitos ONS Cumpre Cumpre

Rede de comunicação Anel Estrela

RV e RT Digital Digital

Segurança cibernética Achilles 2 Achilles 2

SOE 1ms 1ms

Automação Atende Atende

Novas funcionalidades Sim Sim

Autoria própria
72

5 Conclusão

5.1 Conclusão

É possível adotar uma solução de menor custo, a fim de viabilizar o processo


de modernização e automação de uma PCH e tornar a solução mais competitiva no
mercado, sem deixar que o sistema final não tenha condições de atender as exigência
impostas pela ONS, e sem deixar que o novo sistema não traga inúmeras vantagens
ao processo de manutenção e operação da PCH, além de aumentar signtificamente
a disponibilidade da central, gerando acréscimo de renda pela adição na geração de
energia. O sistema mesmo com redução de custo possibilita que o processo seja
teleoperado, trazendo a possibilidade da empresa em concentrar o controle das usinas
em um único centro de comando, concentrando recursos e dimunuindo custos.
Para que o novo sistema traga todos os benefícios que as novas tecnologias
tem a oferecer, é necessário fazer alterações e implementar novas funções ao projeto
original, talvez até refazer do zero muitas coisas em virtude do antigo sistema apresen-
tar processos manuais ou automatizados com equipamentos antigos. O sistemas de
automação proposto têm arquitetura e características muito diferentes do sistema que
era usado na PCH em questão, principalmente nos quesitos de comunicação e distri-
buição de funções dos equipamentos. O sistema elaborado se aplica tanto para casos
de modernização como para novas instalações. Um modelo com a arquitetura básica
do sistema de automação foi apresentado, ele pode ser ajustado para atender diferen-
tes casos de PCH, dependendo do número de geradoras, investimento disponível e
exigências do cliente quanto a performance e disponibilidade.
A solução proposta oferece muitas vantagens, uma das principais é a maior
disponibilidade e volume de dados para operação e para manutenção, ajudando os
operadores na tomada de decisão. Todos os dados do sistema são enviados através
de uma única rede de comunicação até um controle central que envia os dados para o
centro de operação centralizado e posteriormente para ONS. Assim eliminamos a anti-
gas “ilha de dados” existentes no sistema anterior que não tinha comunicação com o
centro de controle centralizado da empresa e assim não podia ser teleoperado nem
disponibilizava seus dados de forma automática e em tempo real. O desafio atual das
PCHs é a otimização dos processos e diminuição dos custos de O&M durante todo
o período de concessão. Por serem empreendimentos de longo prazo necessitam
de um planejamento sob risco de aumentos dos custos de O&M e consequentemente
diminuição dos lucros da empresa até levar o empreendimento a uma inviabilidade
econômica.
Capítulo 5. Conclusão 73

Fatores como a distância de grandes centros, com pouca infra-estrutura e de


difícil acesso o que dificulta e encarece a construção de uma usina , necessidade de
investimentos em novas linhas de transmissão para conectar a nova usina ao SIN, cus-
tos com obras civis, desapropriação e burocracia com questões ambientais, fazem da
modernização uma alternativa viável para acrescentar energia ao sistema elétrico, com
investimentos, tempo de desenvolvimento e tempo de retorno dos investimentos meno-
res, quando comparados ao da construção de uma nova PCH.
O estudo realizado nesse trabalho aborda alguns dos benefícios que uma
modernização tem em relação à construção de uma nova PCH. Essa comparação tem
o objetivo de mostrar que a modernização é uma alternativa viável e que apresenta
seus benefícios, mas não de substituir completamente a alternativa de se construir
novas PCHs, e que as duas alternativas podem ser complementares para suprir a
demanda de energia necessária ao desenvolvimento do país.
As antigas PCHs brasileiras, que tem papel fundamental para o fornecimento
de energia do país, tiveram sua concepção adequadas à legislação e exigências da
época, contudo com o estabelecimento da consciência ambiental nos últimos anos,
houve um aumento da burocracia para liberação de novas PCHs, além de mudanças
nas legislação que tornam a modernização um processo menos burocrático do ponto
de vista ambiental, e de menores custos do que a construção de novas PCHs. E
também a fim de diminuir os impactos ambientais gerados ao longo dos anos pelos
empreendimentos, é de interesse das companhias uma melhor utilização desses
recursos naturais, com a otimização do desempenho das PCH, otimização que pode
ser conseguida através da modernização.
Os sistemas de automação tiveram uma grande evolução nas últimas décadas.
Essa evolução se deve principalmente aos grandes avanços em hardware, com o uso
de microprocessadores que possibilitam maior velocidade e capacidade, e de software
com o aumento da inteligência embutida nos equipamentos, com novas linguagens
e funcionalidades. As novas exigências de melhorias na operação e manutenção do
processo de geração nasusinas hidrelétricas e também a necessidade de melhorar a
qualidade e aumentar a con
fiabilidade do processo foram as motivações para o uso dessas novas tecnolo-
gias e capacidades no sistema de supervisão e controle principalmente.
A preocupação em se ter sistemas padronizados é maior, tendo em vista tornar
mais fácil a interoperabilidade e a intercambiabilidade entre sistemas distintos. Isso
proporciona maior flexibilidade para as empresas de geração e tempo de vida mais
longo para os sistemas das usinas. Além de tudo, a normatização proporciona inúmeros
benefícios desde a operação até a manutenção, tornando mais fácil o treinamento das
equipes de operação e manutenção.
Capítulo 5. Conclusão 74

A modernização dos sistemas auxiliares de PCHs são de extrema importância


para o processo de modernização e automção das usinas, ainda mais pelo fato de que
as PCHs brasileiras têm em média 30 anos de operação. Para garantir boas condições
operacionais é necessário modernizar, principalmente o sistema de automação. Os
novos sistemas de automação garantem supervisão e controle do processo muito
melhores que os antigos sistemas muitas vezes não automatizados das PCHs. Con-
siderando a idade da tecnologia utilizada nas PCHs antigas, é natural que em algum
momento da vida dessas PCHs os sistemas de automação necessitem de moderniza-
ção devido a muitos fatores,e um dos principais é a obsolescência dos equipamentos.
Essas modernizações proporcionam pelo menos, prolongamento da vida útil da usina e
aumento da disponibilidade, o que já seriam por si só bons motivos para o investimento.
Alguns motivos para a modernização se destacaram, a obsolescência e a falta
de peças sobressalentes, que elevam os custos de manutenção da usina além de
provocar menor disponibilidade e necessidade frequente de paradas programadas e
forçadas. O novo sistema pode ajudar a diminuir esses problemas: hardware e software
modulares e padronizados, fazendo com que a tecnologia usada tenha uma vida útil
maior e demore mais tempo a se tornar obsoleta, além de maior facilidade em reparar
ou substituir peças pelo fato da modularidade e possibilidade de trocar equipamentos
sem parar o sistema.
Com o novo sistema é possivel a implementação de novas funcionalidades e
aumento da qualidade da operação, facilita-se a integração entre sistemas, contanto
que faça-se uso das novas funcionalidades, principalmente no quesito software, com
um software mais moderno que atende aos padrões e tem mais funções tanto de progra-
mação como de comunicação com equipamentos externos. Essa nova solução deverá
gerar ao sistema menos paradas : tanto as programadas para manutenções de rotina
como também as forçadas, em virtude de que com a aquisição e análise de mais dados
do processo, esses procedimentos tornam-se mais eficientes, consequentemente ela
aumenta a disponibilidade do sistema.
As vantagens do novo sistema automatizado em relação ao sistema manual
anterior justifi
cam o investimento necessário para a modernização. O custo de operação e
manutenção do sistema automatizado, em especial com manutenção, tende a diminuir
quando comparado com os custos antes da modernização. Espera-se que após a
modernização do sistema. seja necessário apenas fazer atualizações simples, mais
caracterizadas como manutenções, e que sejam mais fáceis, em virtude das caracte-
rísticas do novo sistema. Além do fato de o novo sistema apresentar maior facilidade
para substituição dos componentes do sistema, trazendo melhorias ao processo de
manutenção e assim aumento da disponibilidade.
Capítulo 5. Conclusão 75

5.2 Trabalhos futuros

Seria interessante para um trabalho futuro, o acompanhamento da implementa-


ção do novo sistema na usina, a fim de estudar mais afundo quais são as dificuldades
geradas na prática em um processo de modernização de uma PCH, e também estudar
quais são as melhorias e como usar as novas funcionalidades (maior quantidade de
dados aquisitados, novas telas de supervisão, automatismo de processos, histórico de
dados e novas linguagens de programação) do sistema de automação proposto a fim
de melhorar a performance e trazer mais melhorias ao processo da usina.
76

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Anexos
Referências 79

Anexo 1

Figura 9 – O&M x Potência

Figura 10 – O&M x Idade

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