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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

YGOR BRANDÃO DOS SANTOS

CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA COM MICROCONTROLADOR E TRIAC

Guarapari
2022
YGOR BRANDÃO DOS SANTOS

CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA COM MICROCONTROLADOR E TRIAC

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Coordenadoria do Curso de Engenharia Elétrica do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do
título de Engenheiro Eletricista.

Orientador: Prof. Me. Edemir Carlos Camargo de


Menezes

Coorientador: Prof. Me. Fabricio Bortolini de Sá

Guarapari
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Guarapari

S237c Santos, Ygor Brandão dos.


Correção de fator de potência com microcontrolador e TRIAC/ Ygor
Brandão dos Santos. – 2022.
71 f. : il.

Orientador : Edemir Carlos Camargo de Menezes.


Coorientador : Fabricio Bortolini de Sá.
Monografia (Graduação) – Instituto Federal do Espírito Santo,
Engenharia Elétrica, 2022.

1. Fator de potência . 2. Capacitadores . 3. Correntes alternadas . I.


Menezes, Edemir Carlos Camargo de. II. Sá, Fabricio Bortolini de. III.
Instituto Federal do Espírito Santo. IV. Título.

CDD: 621.3

Elaborado por Karla Matos Curto Valle CRB6-ES / 769


AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus pela minha vida, por me tornar capaz de superar
todas as dificuldades que enfrentei até aqui, me permitindo chegar até aqui.

Aos meus pais, Valdenil e Sivana, agradeço sempre e de todo coração por terem
me dado as condições de poder realizar esse curso e me incentivarem sempre nos
momentos difíceis quando eu me questionava sobre tudo. Sempre respeitosos e
compreensivos quando eu tinha minhas obrigações da graduação para cumprir, me
encorajando a jamais desanimar e ir até o fim deste trabalho. Sem vocês, pai e mãe, a
realização desse sonho jamais seria possível.

Agradeço também pelas amizades que fiz ao longo desses 5 anos, amigos com os quais
brinquei, ri, fiz trabalhos juntos e tive bons momentos, e que também me ajudaram
nas dificuldades, me mostrando que ali ninguém está sozinho, que ninguém se forma
sozinho.

É bastante tempo em um lugar, o Ifes se tornou minha segunda casa, e alguns


professores se tornaram grandes amigos, me ensinando e me corrigindo ao longo
do curso, melhorando meus conceitos e minha conduta de modo geral, ajudando a me
tornar uma pessoa melhor e um profissional melhor.

No geral, me encontrei em momentos de dificuldade e angústia que me fizeram


questionar a mim mesmo sobre meu motivo de estar ali, mas Deus me tornou forte,
não me deixou desistir, e meus pais me confortaram, e meus colegas e amigos me
ajudaram, e meus professores foram pacientes e presentes.

E a mim, pois sei que mesmo com todo apoio, esse sonho jamais seria possível sem
meu empenho, minha dedicação, minhas noites estudando e fazendo de tudo para hoje
estar aqui e poder usufruir desse momento maravilhoso em minha vida.

Agradeço por tudo, chegar aqui, mesmo com todo o cansaço envolvido, é uma sensação
maravilhosa de dever cumprido e poder orgulhar quem sempre esteve comigo. Só tenho
a agradecer por tudo e a todos que me ajudaram a realizar esse sonho. Obrigado!
RESUMO

O crescente uso de equipamentos de característica indutiva nos processos de produção,


como motores, eleva o consumo de potência reativa indutiva. Ainda, essas cargas
não costumam atuar todas em tempo integral, sendo conectadas e desconectadas
da rede a todo momento dependendo do processo de produção, fazendo com que os
níveis de reativos absorvidos pelo sistema variem muito durante o ciclo de produção.
Essa variação pode acarretar em perdas para o consumidor, perturbações na rede
elétrica e eventuais multas devido ao Decreto Federal Nº479 criado em 20 de março
de 1992 e regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica, que estabeleceu um
fator de potência mínimo de 0,92. A principal solução empregada para corrigir fator de
potência, e o manter dentro dos limites estabelecidos, é o uso de banco de capacitores.
Acrescentar capacitores em paralelo à carga, devidamente dimensionados, servem
como alimentadores de energia reativa para os motores sem que haja uso dessa
energia proveniente da rede e seu transporte por grandes distâncias, reduzindo custos
operacionais, diminuindo a seção de condutores necessária para transportar essa
energia e evitando multa, a qual acresce consideravelmente no valor da fatura final, e,
consequentemente, reduz custos. Como há variação das cargas a todo momento, se
faz necessário um sistema com banco de capacitores automático, injetando reativos no
sistema de acordo com a demanda solicitada a cada instante. Com isso, o presente
trabalho aborda os conceitos sobre o fator de potência, importância do seu controle
baseado na legislação vigente, causas e consequências do baixo fator de potência nas
instalações elétricas, os métodos existentes para sua correção. Tem ainda por objetivo
implementar um sistema de controle para correção de fator de potência utilizando
um microcontrolador, no caso, uma ESP32, para verificar as cargas conectadas ao
sistema e com isso controlar a injeção de potência reativa de um capacitor por meio
de um triodo de corrente alternada e analisar sua viabilidade em meio aos métodos
tradicionais.

Palavras-chave: Fator de potência. Capacitor. Controle. Correção. TRIAC. Reativa.


ABSTRACT

The growing use of inductive equipment in production processes, such as motors,


increases the consumption of inductive reactive power. Yet these loads do not usually
act all full-time, being connected and disconnected network at all times depending on
the production process, making the levels of reactives absorbed by the system vary
greatly during the production cycle. This variation can lead to losses for the consumer,
disturbances in the network electricity and possible fines due to Federal Decree Nº479
created on March 20, 1992 and regulated by the National Agency of Electric Energy,
which established a minimum power factor of 0.92. The main solution used for correcting
power factor, and keeping it within established limits, is the use of capacitors bank.
Add capacitors in parallel to the load, properly dimensioned, they serve as feeders of
reactive energy for the motors without that there is use of this energy from the grid
and its transport over large distances,reducing operating costs, reducing the section of
conductors needed to transport this energy and avoiding fines, which add considerably
to the value of the final invoice, and, consequently, reduces costs. As there is variation
of loads at all times, a system with a capacitor bank is necessary automatic, injecting
reagents into the system according to the demand requested at each instant. With this,
the present work approaches the concepts about the power factor, the importance of
its control based on the current legislation, causes and consequences. It also aims
to implement a control system for power factor correction using a microcontroller, in
this case, an ESP32, to check the loads connected to the system and thereby control
the reactive power injection of a capacitor through an triode of alternating current and
analyze its feasibility amid traditional methods.

Keywords: Power factor. Capacitor. Control. Correction. TRIAC. Reactive.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Representação do consumo da potência total de um motor . . . . . 20


Figura 2 – Diagrama do fator de potência (triângulo das potências) . . . . . . . 20
Figura 3 – Unidade consumidora utilizando energia ativa e reativa do
transformador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 4 – Unidade consumidora utilizando energia ativa do transformador e
reativa do banco de capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 5 – Unidades Capacitivas Monofásicas UCW da WEG . . . . . . . . . . 26
Figura 6 – Banco de Capacitores Trifásicos com Proteção BCWP da WEG . . . 27
Figura 7 – Controladores PFW01-M06 e PFW01-M12, à esquerda, e PFW01-
T06 e PFW01-T12, à direita, ambos da WEG . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 8 – Diagrama de instalação dos capacitores conforme os métodos
abordados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 9 – Painel de controle com banco de capacitores automático de 6 estágios 30
Figura 10 – Onda deformada e suas componentes harmônicas . . . . . . . . . . 32
Figura 11 – A comutação rápida não gera senóides perfeitas . . . . . . . . . . . 33
Figura 12 – Fator de potência em sistemas com sinais senoidais . . . . . . . . . 34
Figura 13 – Reator dessintonia DRW7-0,86V49 da WEG . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 14 – Montagem do banco de capacitores de 8 estágios com 2,4 kVAr em
220 V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 15 – Potência reativa (kVAr) em função do tempo, mostra a potência
consumida pela instalação e a fornecida pelo capacitor . . . . . . . 39
Figura 16 – Diagrama esquemático do projeto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 17 – Motores de indução monofásica de gaiola de 1/4 CV Nova . . . . . 43
Figura 18 – Diagrama esquemático de ligação das cargas de teste . . . . . . . . 44
Figura 19 – Ligação da bancada de teste com o osciloscópio . . . . . . . . . . . 45
Figura 20 – Valores de tensão, corrente, defasagem e potência reativa dos
motores à vazio obtidos no osciloscópio . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 21 – Valores de tensão, corrente, defasagem e potência reativa de todos
motores à vazio obtidos no osciloscópio . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 22 – Unidade Capacitiva WEG modelo UCW10045950 de 137 µF . . . . 49
Figura 23 – Ligação de todas cargas de com o capacitor em paralelo . . . . . . 49
Figura 24 – Dados de FFT para mensurar distorção harmônica . . . . . . . . . . 50
Figura 25 – Sinal do detector de passagem por zero e da senoide de tensão da
rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Figura 26 – Sinal de disparo do TRIAC e senoide de tensão em uma carga de teste 52
Figura 27 – Diagrama esquemático do circuito de aquisição de sinais e controle 52
Figura 28 – PCI do circuito de aquisição de sinais e controle . . . . . . . . . . . 53
Figura 29 – Bancada de cargas ligadas em painel de comandos elétricos para
testes iniciais do circuito de disparo em uma lâmpada incandescente 53
Figura 30 – Diagrama de força e controle da bancada de cargas de teste . . . . 54
Figura 31 – Teste de resposta do disparo do TRIAC com o acionamento dos
motores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
Figura 32 – Montagem do circuito para acionamento do capacitor com TRIAC . 55
Figura 33 – Diagrama esquemático do circuito LC com o TRIAC em série com o
indutor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Figura 34 – Transformador trifásico de parâmetros desconhecidos com os tapes
escolhidos no ensaio conectados a cabos de cobre de 2,5 mm² . . . 58
Figura 35 – Sinal de corrente do transformador à vazio com valor nominal de
9,396 A . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 36 – Painel com 5 resistores de potência em cerâmica de 68 Ω e 15 W cada 60
Figura 37 – Diagrama esquemático de ligação da carga de teste com o TRIAC e
o capacitor em série com a associação de resistores . . . . . . . . . 61
Figura 38 – Teste do circuito de disparo do TRIAC com o capacitor em série com
a associação de resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 39 – Resultados do teste de acionamento do TRIAC com o capacitor em
série com a associação de resistores com variação do valor do ângulo
de disparo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
Figura 40 – Circuito de disparo do TRIAC em série capacitor e associação de
resistores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Figura 41 – Resposta da variação das cargas com ângulo de disparo do TRIAC
fixado em 10◦ e em série com o capacitor e a associação de resistores 64
Figura 42 – Resposta da variação das cargas com ângulo de disparo do TRIAC
fixado em 90◦ e em série com o capacitor e a associação de resistores 65
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Variação da potência do transformador em função do fator de potência 22


Tabela 2 – Variação da seção relativa do condutor em função do fator de potência 22
Tabela 3 – Exemplo de cobrança percentual por consumo de energia reativa
excedente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Tabela 4 – Potências dos estágios do banco de capacitor em 220V . . . . . . . 38
Tabela 5 – Característica das cargas segundo as placas dos motores. . . . . . 44
Tabela 6 – Característica das cargas segundo ensaio dos motores . . . . . . . 46
LISTA DE SIGLAS

ANEEL Agência Nacional Energia Elétrica

FP Fator de potência

TRIAC Triodo de corrente alternada

CC Corrente contínua

CA Corrente alternada

RMS Root Mean Square

THD Total harmonic distortion

LC Indutivo capacitivo

CV Cavalo-Vapor

FFT Fast Fourier Transform

Ifes Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo

PCI Placa de circuito impressa

TC Transformador de corrente

TP Transformador de potencial
LISTA DE SÍMBOLOS

v(t) Tensão instantânea no elemento (V)

Vm Tensão máxima (V)

Ve f Tensão eficaz ou RMS (V))

i(t) Corrente instantânea no elemento (A)

Im Corrente máxima (A)

Ie f Corrente eficaz ou RMS (A)

t Tempo (s)

φ Ângulo de fase (rad)

f Frequência (Hz)

ω Frequência angular (rad/s)

R Valor da resistência do resistor (Ω)

L Valor da indutância do indutor (H)

C Valor da capacitância do capacitor (F)

S Potência aparente (VA)

Q Potência reativa (VAr)

QL Potência reativa indutiva (VAr)

QC Potência reativa capacitiva (VAr)

XL Impedância indutiva (Ω)

XC Impedância capacitiva (Ω)

m Mili, prefixo quantitativo equivalente a 10−3

µ Micro, prefixo quantitativo equivalente a 10−6

k Kilo, prefixo quantitativo equivalente a 103


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2 REFERENCIAL TEÓRICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1 POTÊNCIA ATIVA E REATIVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.3 CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA COM MOTORES SÍNCRONOS 25
2.4 CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA COM BANCO DE
CAPACITORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4.1 Capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4.2 Banco de capacitores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.4.3 Controlador automático de fator de potência . . . . . . . . . . . . 27
2.4.4 Métodos de correção de fator de potência . . . . . . . . . . . . . . 29
2.4.4.1 Correção individual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.4.4.2 Correção por grupo de cargas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.4.4.3 Correção geral automática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.5 QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.5.1 Distorções harmônicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.5.2 Fator de potência e distorções harmônicas . . . . . . . . . . . . . 34
2.5.3 Indutores de dessintonia para capacitores . . . . . . . . . . . . . 36
2.6 TRABALHOS RELACIONADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3 DESENVOLVIMENTO DO EXPERIMENTO . . . . . . . . . . . . . . 41
3.1 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2 VISÃO GERAL DO PROJETO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.3 LOCAL DE APLICAÇÃO DO CONTROLADOR DE FATOR DE
POTÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.4 BANCADA DE CARGAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.5 DIMENSIONAMENTO DO CAPACITOR . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.6 CIRCUITO DE DISPARO DO TRIAC . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
3.7 MONTAGEM E TESTE DO SISTEMA DE CORREÇÃO DE FATOR DE
POTÊNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
4 CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
12

1 INTRODUÇÃO

A cada dia tem se tornado mais evidente o problema da qualidade de energia elétrica
por causa da adição de cargas não lineares e reativas nas redes de energia elétrica. A
qualidade de energia pode ser definida como o nível no qual tanto a utilização quanto a
distribuição de energia elétrica afetam o desempenho dos equipamentos elétricos e
podem ser considerados como distúrbios na qualidade de energia (ANICETO, 2016). O
fator de potência (FP) implica diretamente na qualidade da energia elétrica e seu valor
baixo indica um mau uso dessa energia em uma instalação ou sistema como um todo.

O sistema elétrico é composto por um conjunto de equipamentos que são denominados


de cargas, de forma genérica, como motores, transformadores, reatores de iluminação,
dentre outros, assim como as linhas de alimentação e também seus condutores. Cada
componente possui uma característica de construção própria que, agregada às demais,
constituem as características do sistema elétrico com um todo. Já em uma instalação
elétrica industrial, os aparelhos utilizados são, em sua maioria, consumidores parciais
de energia reativa indutiva (energia que é consumida por equipamentos normalmente
providos de bobinas, tais como motores e transformadores) que é a componente da
energia elétrica que não realiza trabalho útil, mas é consumida pelos equipamentos com
a finalidade de formar os campos eletromagnéticos necessários para o funcionamento
dos mesmos.

O FP é um parâmetro para avaliar a qualidade da energia elétrica, é através dele que


se faz a relação entre a energia total consumida por determinado aparelho e a parte
da energia realmente transformada em trabalho útil, que é a energia ativa. Quanto
maior for o FP, menor é a energia reativa consumida, e quanto menor for o FP, maior
é a energia reativa necessária. Tal parâmetro tem implicação direta em questões
relacionadas à utilização, ao carregamento e planejamento das redes de distribuição
de energia elétrica.

O uso incorreto das instalações elétricas nas indústrias ou comércios leva a


desperdícios, riscos de acidentes por superaquecimento e outros impactos de
ordem econômica, como acréscimos na fatura e diminuição do aproveitamento dos
equipamentos e sua vida útil (AUGUSTO, 2010). Ainda, outras questões técnicas
13

ocasionadas por um baixo FP são:

• Aquecimento dos condutores;

• Aumento das perdas elétricas internas;

• Queda de tensão;

• Redução do aproveitamento da capacidade dos transformadores;

• Superdimensionamento de condutores para amenizar este efeito.

Para reduzir o impacto causado pelo baixo FP e, consequentemente, uma baixa


qualidade de energia, é de suma importância que as indústrias façam a correção do
FP de suas instalações para evitarem multas cobradas pela concessionária local por
excedente de consumo de potência reativa e ainda obter uma melhor utilização da
energia disponível. Além disso, é possível obter uma série de outros benefícios, como a
redução das perdas de energia em cabos e transformadores, liberação da capacidade
do sistema, entre outros.

Para Augusto (2010), devido à necessidade, a tecnologia para a correção do FP


se encontra em constante evolução. A implementação de técnicas para a correção
automatizada melhora a eficiência em relação à correção fixa (capacitores estáticos
por carga instalada), principalmente para ambientes com uma variação na demanda
por energia reativa, ou seja, cargas que são ligadas e desligadas constantemente. A
correção do FP pode reduzir custos e um controlador automático torna essa economia
mais notória.

A injeção de reativos é uma ferramenta importante para melhorar a regulação de tensão


e a eficiência de equipamentos, assim como para diminuir as perdas e as correntes
elétricas nos circuitos de instalações industriais e comerciais de grande porte (COTRIM,
2009).

O método mais utilizado para a correção do FP consiste na instalação de bancos


de capacitores em paralelo com a rede elétrica, por causa de seu menor custo de
14

implantação e também pelo fato de serem equipamentos estáticos de baixo custo de


manutenção (CREDER, 2016).

Um fator motivador deste projeto é o aumento nas pesquisas sobre qualidade da energia
elétrica, área na qual se inserem questões relativas ao FP, e que tem se mostrado ser
uma preocupação por suas influências nos processos produtivos e comerciais.

A importância do trabalho deve-se à relevância do uso de microcontroladores em


sistemas embarcados como plataformas de aquisição e processamento de dados
em um único chip e sua aplicação em controladores digitais de satisfatório poder de
processamento, no caso deste projeto para correção do FP. A complexidade do tema
da aplicação da tecnologia microcontrolada pode render diversos trabalhos acadêmicos
na área de sinais e controle.

A tecnologia para a correção do FP encontra-se em constante evolução. O uso de


técnicas automatizadas para a correção melhora a eficiência em relação à correção
fixa, principalmente para ambientes com uma média variação na demanda por energia
reativa.

Com o avanço tecnológico e aumento das cargas não lineares nas instalações elétricas,
a correção do FP passou a ter um rigor maior da Agência Nacional de Energia
Elétrica (ANEEL) que, por meio do Decreto Federal número 479 de 20 de março
de 1992, instituiu que o FP mínimo de referência teria de ser igual a 0,92, sendo válida,
atualmente, a resolução Nº 414/ANEEL de 9 de setembro de 2010.

Visando a necessidade de manter valor do FP próximo ao unitário e prezando pela


melhora na qualidade de energia, este trabalho tem como objetivo geral estudar a
viabilidade do emprego de microcontroladores para correção de FP ao controlar a
injeção de reativo dos capacitores através de um triodo de corrente alternada (em inglês,
triode of alternating current (TRIAC)), diferente dos métodos tradicionais empregados
que se baseiam em comutação de capacitores conforme a solicitação de potência
reativa.

Ainda, para a realização deste trabalho, tem-se os seguintes objetivos específicos:


15

• Projetar e construir um hardware que permita controlar o ângulo de disparo de


um TRIAC que conecta um capacitor à carga;

• Escolher e ensaiar motores monofásicos com um osciloscópio para montar a


bancada de teste;

• Dimensionar o capacitor necessário com base nas cargas escolhidas;

• Construir um circuito de disparo para o TRIAC;

• Medir potência reativa consumida por cada carga e ajustar esse valor no
microcontrolador para automatizar a resposta de saída e controlar o capacitor
variando o ângulo de disparo do TRIAC;

• Analisar os dados obtidos pelo osciloscópio, verificar os dados referentes à


qualidade da energia e avaliar sua viabilidade em meio aos métodos tradicionais.
16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O projeto em questão requer alguns conhecimentos da teoria elétrica, de qualidade


de energia elétrica, de correção de FP, de legislações e normas. Para isso, serão
abordados neste capítulo com detalhes as partes introdutórias de forma conceitual
e a relação com o projeto abordado. Será dado uma ênfase maior na parte com
mais peso no projeto, que são os conteúdos referentes a FP, problemas técnicos e
econômicos causados pelo seu baixo índice e formas de diminuir perdas (prejuízo
financeiro) relacionadas a isso.

2.1 POTÊNCIA ATIVA E REATIVA

Em um sistema elétrico existem dois tipos de potência: ativa, medida em Watts (W), e
reativa, medida em Volt-Ampère reativo (VAr), cuja soma vetorial resulta na potência
aparente, medida em Volt-Ampère (VA), que corresponde à parcela total gerada e
transmitida à carga e por ela consumida. Sabe-se que existem dois tipos de correntes
elétricas, a contínua (CC) e alternada (CA), sendo esta última a mais empregada e
considerada no estudo e aplicação do presente trabalho. Em CA, que apresenta um
gráfico senoidal no qual o sentido da corrente varia em função do tempo, a potência
total (aparente) instantânea se dá pelo produto da diferença de potencial na carga (v)
pela corrente elétrica (i) em um determinado instante de tempo, como mostra a eq.
(2.1):

p(t) = v(t).i(t) (2.1)

Sendo v(t) definido como:

v(t) = Vm . sin(ω.t + φ ) (2.2)

E i(t) descrito por:


17

i(t) = Im . sin(ω.t + φ ) (2.3)

Ainda, a definição de ω é dada por:

ω = 2.π. f (2.4)

Onde:

Vm = tensão elétrica máxima (V);

Im = corrente elétrica máxima (A);

φ = ângulo de fase (rad);

ω = frequência angular (rad/s);

f = frequência (Hz).

Desta forma, ao aplicar uma tensão v(t) numa carga puramente resistiva R (Ω), a i(t)
que por ela circula estará em fase com v(t), ou seja, sem defasagem entre elas, então
seu FP é unitário. Assim, quando a tensão for nula, a corrente será nula, e quando a
tensão for máxima, a corrente será máxima.

v(t) = R.Im . sin(ω.t) (2.5)

Vm = R.Im (2.6)

Desse modo, a potência instantânea é dada por:

Vm .Im
p(t) = v(t).i(t) = Vm .Im . sin2 (ω.t) = (2.7)
2.[1 − cos(ω.t)]
18

Sendo:

Vm .Im
= Ve f .Ie f (2.8)
2

Em circuitos puramente indutivos, quando se aplica uma tensão v(t) numa carga de
indutância L, medida em Henry (H), obtém-se uma corrente elétrica i(t) na carga com
fase atrasada em 90◦ em relação à tensão v(t), ou seja, fator de potência é nulo pois
a potência aparente é igual à potência reativa. A eq. (2.9) apresenta a tensão dessa
relação:

di
Vm . sin(ω.t + φ ) = L (2.9)
dt

A potência instantânea em circuito com característica indutiva é dada por:

p(t) = Vm . sin(ω.t).[Im . sin(ω.t − π/2)] = Ve f .Ie f . cos(2ω.t − π/2) (2.10)

Com essa equação pode-se observar que a potência dissipada é nula, porém o valor
instantâneo não é nulo, uma parte da energia se desloca da fonte para a carga,
e depois retorna à fonte. Essa potência não é consumida e é denominada potência
reativa indutiva (VAr) (FLARYS, 2006). Essa potência é representada por QL e calculada
conforme a eq. (2.11).

QL = XL .Ie2f (2.11)

Onde XL representa a impedância indutiva (Ω).

XL = 2.π. f .L (2.12)

Em circuitos puramente capacitivos, quando se aplica uma tensão v(t) numa carga de
capacitância C, medida em Faraday (F), obtém-se uma corrente elétrica i(t) na carga
19

com fase adiantada em 90◦ em relação à tensão v(t), ou seja, fator de potência é nulo
pois a potência aparente é igual à potência reativa. A eq. (2.13) apresenta a corrente
elétrica dessa relação:

dv
Im . sin(ω.t + φ ) = C (2.13)
dt

Nesses circuitos com característica capacitiva, a potência instantânea é dada pela eq.
(2.14) e seu valor médio é nulo.

p(t) = v(t).i(t) = −Ve f .Ie f . cos(2ω.t + π/2) (2.14)

Nesses circuitos a energia elétrica oscila entre a fonte de tensão e o capacitor, assim
como nos circuitos indutivos. A potência é reativa capacitiva (VAr) (FLARYS, 2006).
Essa potência é representada por QC e calculada conforme a eq. (2.15).

QC = XC .Ie2f (2.15)

Onde XC representa a impedância capacitiva (Ω).

1
XC = (2.16)
2.π. f .C

A potência ativa (P) é aquela que realiza trabalho útil, gerando calor, luz, movimento,
entre outros. Seu valor médio é calculado como mostra a eq. (2.17):

P = Ve f .Ie f . cos(φ ) (2.17)

A potência reativa (Q) é a parcela da energia que fica oscilando entre a fonte de tensão
e a carga, e é utilizada somente na criação e manutenção dos campos eletromagnéticos
das cargas indutivas, como os transformadores e motores de indução. Seu valor médio
é calculado por:
20

Q = Ve f .Ie f . sin(φ ) (2.18)

Na Figura 1 pode-se ver melhor a representação do consumo da potência de um motor


de indução, em que apenas a parcela ativa é aproveitada em seu eixo, ou seja, se
transforma em trabalho.

Figura 1 – Representação do consumo da potência total de um motor

Fonte: COELBA (2021).

As potências ativa, reativa e aparente podem ser apresentadas na forma vetorial no


chamado triângulo de potências (FILHO, 2013). Essa relação é tratada na Figura 2.

Figura 2 – Diagrama do fator de potência (triângulo das potências)

Fonte: WEG (2009).

A potência aparente é a soma vetorial das potências ativa e reativa.

S2 = P2 + Q2 (2.19)

Sendo assim:
21

p
S= P2 + Q2 (2.20)

A potência reativa total é a soma das parcelas de potência reativa indutiva e capacitiva,
e assim como nas eq. (2.11) e (2.15), esta pode ser calculada também por:

Q = (XL − XC ).I 2 (2.21)

Se XL > XC : Q será positivo e o circuito tem característica indutiva;

Se XL < XC : Q será negativo e o circuito tem característica capacitiva;

Se XL = XC : Q será nulo e o circuito tem característica resistiva, pois não há potência


reativa, diz-se então que há ressonância nessa frequência (FLARYS, 2006).

O FP indica a porcentagem da potência total fornecida (aparente) que é efetivamente


transformada em potência ativa. Sendo assim, o FP mostra o nível de eficiência de um
sistema elétrico e é denominado como o cosseno do ângulo φ (FILHO, 2013), ângulo
esse que indica a defasagem senoidal entre sinal de tensão e corrente elétrica em CA.

FP de altos valores, o mais próximo de 1,00 possível, evidenciam uso eficiente da


energia elétrica, enquanto que valores baixos indicam um mau aproveitamento dessa
energia, além de representar uma sobrecarga para todo o sistema (DUAILIBE, 2000).
De tal forma, as concessionárias se veem na condição de, segundo a legislação vigente,
cobrar uma multa caso constatado um FP de valor inferior a um mínimo prefixado, que
atualmente é 0,92, conforme a resolução Nº 414/ANEEL de 9 de setembro de 2010.

Segundo ANICETO (2016), a energia reativa, ao sobrecarregar uma instalação elétrica,


torna inviável sua plena utilização. O espaço ocupado pela energia reativa poderia ser
então utilizado para o suprimento de novas cargas. Os investimentos em ampliação
das instalações estão relacionados principalmente aos transformadores e condutores
necessários. A Tabela 1 mostra a potência total que deve ter um transformador para
atender uma carga útil de 800 kW para diferentes valores de FP.
22

Tabela 1 – Variação da potência do transformador em função do fator de potência

Potência útil (kW) Fator de potência Potência do transformador (kVA)


0,50 1600
800 0,80 1000
1,00 800

Fonte: WEG (2009).

Ainda, o custo dos sistemas de comando, proteção e controle dos equipamentos


também cresce com o aumento da energia reativa. Da mesma forma, para transportar
a mesma potência ativa sem o aumento de perdas, a seção dos condutores deve
aumentar à medida que o FP diminui. A Tabela 2 ilustra a variação da seção de um
condutor em função do FP.

Tabela 2 – Variação da seção relativa do condutor em função do fator de potência

Seção relativa do condutor (mm²) Fator de potência


1,00 1,00
1,23 0,90
1,56 0,80
2,04 0.70
2,78 0,60
5,00 0,50
6,25 0,40
11,10 0.30

Fonte: WEG (2009).

Observe que a seção necessária de uma carga ou instalação com um FP 0,70 é o


dobro da seção para o FP 1,00

ANEEL (2010) determina que o FP deve ser mantido o mais próximo da unidade,
porém permite um valor mínimo de 0,92, indutivo ou capacitivo, correspondente ao
valor de energia reativa consumida. À medida que o FP decresce, tem-se acréscimos
percentuais maiores, referentes à energia reativa consumida, ainda que a energia ativa
consumida permaneça constante.
23

Se o FP medido nas instalações do consumidor for inferior a 0,92, será cobrado o custo
do consumo reativo excedente decorrente da diferença entre o valor mínimo permitido
e o valor calculado no ciclo. Na Tabela 3 é apresentado um exemplo de cobrança
percentual acrescida devido ao consumo de energia reativa excedente.

Tabela 3 – Exemplo de cobrança percentual por consumo de energia reativa excedente

Fator de potência médio acréscimo de cobrança percentual


0,92 0
0,90 2
0,86 7
0,82 12
0,78 18
0,74 24
0,70 31
0,66 39
0,62 48
0,58 59
0,54 70
0,50 84

Fonte: COELBA (2021).

2.2 CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA

Apenas a correção do FP já libera capacidade para instalação de novos equipamentos,


sem que haja investimentos em transformador ou substituição de condutores para tal
(WEG, 2009). A correção do FP tem por objetivo especificar e compensar a potência
reativa necessária para a elevação do FP, de modo a evitar a ocorrência de cobrança
pela concessionária dos valores referentes aos excedentes de demanda reativa e obter
os benefícios adicionais em termos de redução de perdas e de melhoria do perfil de
tensão da rede elétrica (CREDER, 2016).

A Figura 3 representa o consumo de potência ativa e reativa de uma unidade


consumidora provenientes do transformador.
24

Figura 3 – Unidade consumidora utilizando energia ativa e reativa do transformador

Fonte: COELBA (2021).

Instalando-se capacitores junto às cargas indutivas, a circulação de energia reativa fica


limitada a estes equipamentos. Na prática, a energia reativa passa ser fornecida pelos
capacitores, liberando parte da capacidade do sistema elétrico e das instalações da
unidade consumidora, como mostra a Figura 4.

Figura 4 – Unidade consumidora utilizando energia ativa do transformador e reativa do


banco de capacitores

Fonte: COELBA (2021).

Com os capacitores funcionando como fonte de energia reativa, a circulação dessa


energia fica limitada aos pontos onde ela é efetivamente necessária, reduzindo perdas,
melhorando condições operacionais e liberando capacidade em transformadores e
condutores para atendimento a novas cargas, tanto nas instalações consumidoras,
como nos sistemas elétricos de distribuição.
25

2.3 CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA COM MOTORES SÍNCRONOS

Um motor síncrono pode ser instalado para correção do FP por fornecer potência
reativa capacitiva à rede. Nessa função ele deve funcionar para correção com uma
carga constante. Todavia, este método não é muito empregado devido a seu alto custo
e às dificuldades operacionais.

Usado para correção de FP, o motor síncrono pode operar em três condições (FILHO,
2013):

• Motor subexcitado: baixa corrente de excitação. Valor da força eletromotriz (f.e.m)


induzida nos pólos do estator é pequeno, o que provoca o consumo de potência
reativa da rede necessária para formação de seu campo magnético. Com isso, a
corrente do estator fica atrasada em relação à tensão;

• Motor excitado para condição de FP unitário: aumento da corrente de excitação.


Com isso, obtém-se um aumento da f.e.m no campo do estator, mantendo a sua
corrente em fase com a tensão de alimentação;

• Motor sobreexcitado: aumentando mais a corrente de excitação, o motor irá


fornecer potência reativa à rede em virtude do adiantamento da corrente do
estator em relação à tensão, sendo esta a forma empregada para a injeção de
reativos na rede, assim como os bancos de capacitores que são abordados no
presente trabalho.

2.4 CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA COM BANCO DE CAPACITORES

A instalação de banco de capacitores em paralelo com a carga é a solução mais


empregada na correção do FP de instalações industriais, comerciais e dos sistemas de
distribuição e de potência, a fim de reduzir a potência reativa demandada à rede e que
os geradores da concessionária deveriam fornecer na ausência destes capacitores,
uma vez que estes fornecem energia reativa ao sistema elétrico onde estão ligados. É
o método mais econômico e o que permite maior flexibilidade de aplicação (ANICETO,
2016).
26

2.4.1 Capacitores

É um componente cuja propriedade fundamental é armazenar cargas elétricas. São


dispositivos bastante simples que consistem de um meio dielétrico que separa duas
placas condutoras conectadas a potenciais elétricos distintos.

Em sistemas elétricos de potência em CA, a principal função do capacitor é suprir a


potência reativa ou a parte dela que é consumida pelo sistema que está ligado a esse
capacitor. Na Figura 5 tem-se um exemplo de capacitores para correção de fator de
potência:

Figura 5 – Unidades Capacitivas Monofásicas UCW da WEG

Fonte: WEG (2021).

2.4.2 Banco de capacitores

Banco de capacitores são dispositivos dedicados à correção de FP em instalações


elétricas, são construídos a partir da associação de um conjunto de unidades
capacitivas. Os bancos são dimensionados de acordo com as características e
necessidades das cargas conectadas a eles. Para uma boa correção do FP, é
importante conhecer bem as cargas que se pretende corrigir.

Estes capacitores podem ser instalados na entrada ou então próximos às cargas


individuais, reduzindo as perdas e aumentando a capacidade disponível no sistema,
bem como melhorar o nível de tensão (DUAILIBE, 2000). Existem três tipos mais
comuns de bancos de capacitores, são eles:
27

• Fixos: esses bancos têm o valor da sua capacitância fixo, normalmente são
dedicados a um circuito ou a um único equipamento pois são dimensionados para
correção de FP em condição singular;

• Programáveis: os bancos programáveis recebem a instrução via software para


atuar em determinado período pré-estabelecido;

• Automáticos: nesse modelo os valores da capacitância podem variar


acompanhando a oscilação dos reativos do sistema, ou seja, com a variação das
cargas instaladas e do FP total, corrigindo o valor deste FP simultaneamente por
meio de um controlador.

Na Figura 6 é mostrado um modelo de banco de capacitores trifásicos.

Figura 6 – Banco de Capacitores Trifásicos com Proteção BCWP da WEG

Fonte: WEG (2021).

2.4.3 Controlador automático de fator de potência

O controlador automático de FP é o equipamento responsável pelas medições


de grandezas elétricas como tensão (fase-fase ou fase-neutro) e corrente elétrica
provenientes da rede, com os quais calcula e indica em valor eficaz (em inglês, Root
Mean Square (RMS)) as grandezas elétricas de tensão, corrente, frequência, potências
ativa, reativa e aparente, fator de potência e distorção harmônica total (em inglês, total
harmonic distortion (THD)).
28

Com base nos sinais obtidos de tensão, corrente e FP, o equipamento faz o controle
do FP da rede elétrica, conforme a programação feita pelo usuário, adicionando ou
retirando bancos de capacitores do sistema, os quais são acionados por meio de
contatoras individualmente, fazendo assim a injeção de potência reativa conforme a
demanda.

No mercado atual existem vários modelos de controladores automáticos, apresentando


pequenas particularidades que diferem uns dos outros, como quantidade de estágios
de atuação (quantos capacitores conseguem atuar individualmente), canais de medição
(quantidade de fases, ou seja, se é monofásico ou trifásico), sistema de medição próprio
ou baseado nos dados fornecidos pelo medidor da concessionária, entre outros. A
Figura 7, apresenta dois modelos de controlador automático da empresa WEG.

Figura 7 – Controladores PFW01-M06 e PFW01-M12, à esquerda, e PFW01-T06 e


PFW01-T12, à direita, ambos da WEG

Fonte: WEG (2013).

Controladores da mesma linha, mas com pequenas diferenças entre si. Nos modelos
PFW01-M06 e PFW01-M12, tem-se quatro teclas, basicamente para programar, para
cancelar parametrização, para incrementar ou decrementar o valor. Já nos modelos
PFW01-T06 e PFW01-T12 percebe-se uma complexidade maior, pois este já apresenta
oito teclas. Além das funções permitidas no modelo anterior, pode-se agora visualizar
os valores de tensão, tipo de ligação, valores de corrente, FP, potência ativa, reativa
e aparente, potência reativa requerida pelo sistema, modo de funcionamento, THD,
frequência e número de comutações (chaveamento de capacitores).
29

2.4.4 Métodos de correção de fator de potência

No geral, os principais métodos utilizados são de compensação individual,


compensação por grupo de cargas e compensação geral, conforme a Figura 8:

Figura 8 – Diagrama de instalação dos capacitores conforme os métodos abordados

Fonte: WEG (2013).

2.4.4.1 Correção individual

A compensação individual é efetuada instalando os capacitores junto ao equipamento


cujo FP pretende-se melhorar. É a mais simples forma de correção porque cada
capacitor é responsável por fornecer a energia reativa para apenas uma carga, tornando
mais fácil o dimensionamento e o controle, porém, para instalações com muitas cargas
avulsas, se torna inviável.

2.4.4.2 Correção por grupo de cargas

Na correção por grupos de carga, o banco de capacitores é instalado de forma a


compensar um setor ou um conjunto de máquinas. É colocado junto ao quadro de
distribuição que alimenta esses equipamentos. Tem como desvantagem o fato de não
haver diminuição de corrente nos alimentadores de cada equipamento compensado
(ANICETO, 2016). Outra desvantagem é não permitir fazer o acionamento das
cargas individualmente, obrigando o sistema a acionar todas cargas em conjunto
ou permanecer desligado.
30

2.4.4.3 Correção geral automática

Na configuração de compensação geral, o banco de capacitores é instalado na saída


do transformador ou do quadro de distribuição geral. Utiliza-se em instalações elétricas
com número elevado de cargas com potências diferentes.

Por se tratar de várias cargas com potências e FP diferentes que podem ser ligadas
individualmente ou não, se torna impossível dimensionar um banco de capacitores fixo,
para isso é definido um valor para o banco de capacitor levando em consideração as
cargas da instalação, depois é ligado um controlador a estes capacitores e conectados
à rede, e conforme os parâmetros estabelecidos, ele faz o chaveamento de quais
capacitores serão ligados ao sistema por meio de contatores de acordo com os valores
de potência aparente e FP do sistema medidos. A Figura 9 apresenta um modelo de
painel montado com controlador de FP e um banco com 6 capacitores conectados à
rede de forma individual através de contatores (relés para potências maiores).

Figura 9 – Painel de controle com banco de capacitores automático de 6 estágios

Fonte: IFG (2019).

Para exemplificar, se pelos parâmetros definidos e medidos o banco de capacitores


tiver que injetar 20 kVAr de potência reativa na rede, o controlador vai chavear os
contatores de acionamento dos capacitores individualmente de forma que a potência
reativa total entregue seja mais próxima ao valor estimado pelo controlador.
31

Este sistema não controla a potência reativa enviada pelo banco de capacitor, mas
sim quais capacitores serão ligados à rede para controlar o FP da instalação. Então,
no caso de precisar de 20 kVAr e não tiver um capacitor que forneça esse valor
especificamente, mas sim um capacitor que forneça 5 kVAr e outro 15 kVAr, os
dois são chaveados em conjuntos para totalizar a potência reativa necessária. Além
desses dois capacitores, o banco conta com mais outros valores, que normalmente
são dimensionados previamente para que o sistema consiga fazer a correção dos
principais casos possíveis de ocorrer, contando com a presença de 1 a 10 capacitores
na bancada, podendo ter até mais.

Todavia, apenas essa comutação dos contatores já influencia na qualidade da energia


elétrica da instalação e da rede em que está inserido o controlador de FP. Outro
fator relevante é que apenas a inserção de um capacitor em paralelo com uma carga
de característica indutiva já adiciona distorções harmônicas ao circuito, como será
demonstrado no decorrer do trabalho de forma prática, o que torna mais relevante uma
abordagem mais minuciosa sobre qualidade de energia elétrica e sua relação com a
temática do trabalho.

2.5 QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA

A qualidade de energia elétrica é definida como sendo uma medida de quão bem a
energia elétrica pode ser utilizada pelos consumidores (DECKMANN; POMILIO, 2017).
Essa medida inclui características de continuidade de suprimento e de conformidade
com certos parâmetros considerados desejáveis para a operação segura, tanto do
sistema supridor como das cargas elétricas.

Problema de qualidade de energia pode ser qualquer problema manifestado na tensão,


corrente ou nas variações de frequência que resulte em falha ou má operação de
equipamentos que a utilizam. Essas alterações podem ocorrer em diversas partes do
sistema de energia elétrica, tanto nas instalações de consumidores finais como no
sistema da própria concessionária de fornecimento.

Problemas assim têm se tornado mais evidentes por diversos motivos, dos quais
podem-se destacar dois:
32

• Aumento de cargas de cargas não-lineares nas instalações;

• Maior sensibilidade dos equipamentos instalados aos distúrbios.

Esses distúrbios envolvem todos os fenômenos que afetam a qualidade da energia


elétrica, eles podem se originar na energia elétrica entregue pela concessionária de
energia, ou na rede interna de distribuição do próprio consumidor.

2.5.1 Distorções harmônicas

Dentre esses tipos de distúrbios, está a distorção da forma de onda, em regime


permanente, e a mais comum é causada por harmônicas, que são tensões ou correntes
senoidais de frequências múltiplas inteiras da frequência fundamental (no Brasil, 60
Hz) na qual opera o sistema de energia elétrica. Os fornecimentos de energia a
determinados consumidores que causam essas deformações no sistema supridor
prejudicam não apenas o consumidor responsável pelo distúrbio, mas também outros
conectados à mesma rede elétrica.

Na Figura 10 pode-se entender melhor tal definição, a qual apresenta três curvas: uma
onda senoidal normal (1), representando uma corrente e energia limpa, uma harmônica
também senoidal (5) e a soma das duas ondas (T).

Figura 10 – Onda deformada e suas componentes harmônicas

Fonte: Oliveira (2016).

Esta curva resultante representa a distorção da curva de corrente elétrica na presença


de harmônicas. As distorções harmônicas vão contra os objetivos da qualidade do
fornecimento de energia elétrica promovido por uma concessionária, a qual deve
33

fornecer aos seus consumidores uma tensão puramente senoidal, com amplitude e
frequência constantes.

Antigamente, cargas com características não lineares eram pouco utilizadas e os


equipamentos eram mais resistentes aos efeitos causados por harmônicas, por isso
não representava uma preocupação. Todavia, com o rápido desenvolvimento da
eletrônica de potência, e a utilização de métodos que buscam o uso mais racional da
energia elétrica nos dias atuais, as distorções harmônicas presentes nos sistemas
têm-se elevado devido à inserção de vários tipos de cargas não lineares em grandes
quantidades no sistema elétrico brasileiro, como os motores elétricos (SILVA, 2008).

Cargas lineares como as do tipo resistivo, indutivo ou capacitivo, mesmo tendo


defasagem entre correntes e tensões, as mesmas mantém a forma de onda senoidal.
No entanto, existem cargas que, pelo uso de dispositivos eletrônicos de comutação
rápida, como os da família dos tiristores, no caso do presente trabalho, o TRIAC, faz
com que as correntes e tensões em seus circuitos não sejam perfeitamente senoidais,
ou seja, distorcidas, conforme sugere a Figura 11.

Figura 11 – A comutação rápida não gera senóides perfeitas

Fonte: Eletrônica (2018).

As distorções harmônicas causam diversos prejuízos às plantas industriais. De


maior importância, são as perdas de produtividade e de vendas, devido às paradas
de produção causadas por inesperadas falhas em motores, acionamentos, fontes,
etc. Além de poder danificar os equipamentos alimentados com essas harmônicas,
reduzindo vida útil, causando medições errôneas, entre outros, um dos principais
problemas causados por harmônicos se dão junto a bancos de capacitores, os quais
originam condições de ressonância, causando uma sobretensão nos terminais das
34

unidades capacitivas (OLIVEIRA, 2016). Devido a essa sobretensão, ocorre uma


degradação do isolamento das unidades capacitivas e até uma completa danificação
dos capacitores em casos extremos. Além disso, consumidores conectados no mesmo
ponto ficam submetidos a tensões perigosas, mesmo não sendo portadores de cargas
poluidoras em sua instalação.

2.5.2 Fator de potência e distorções harmônicas

A Figura 12a mostra a relação de FP em um sistema senoidal puro e ideal. Porém,


quando há presença de harmônicas nesses sistemas, as grandezas elétricas não
são mais expressas por funções senoidais puras e lineares, criando um desvio entre
fator de potência e cosφ . Dessa forma, o fator de potência é expresso pela relação
entre a potência ativa e a potência aparente relativas ao sinal periódico não senoidal,
ou seja, o sinal distorcido, e o cosφ corresponde à relação entre a potência ativa e
a potência aparente relativas à cada uma das componentes harmônicas, que são
ondas senoidais (ISONI, 2004). Na presença de distorções harmônicas, as reatâncias
indutivas aumentam proporcionalmente com a elevação da frequência, alterando o
triângulo de potências, transformando-o no tetraedro de potências, o qual difere do
anterior pelo acréscimo de uma terceira dimensão decorrente dos VA’s necessários
para sustentar a distorção do sinal, como mostra a Figura 12b.

Figura 12 – Fator de potência em sistemas com sinais senoidais

(a) Triângulo de potências em sistemas (b) Tetraedro de potências em sistemas


senoidais puros e lineares senoidais distorcidos

Fonte: ISONI (2004).

A potência aparente com distorção, como nesse caso, é então calculada por:
35

q
SkVA = P2 + Q2 + D2kVAD (2.22)

O termo DkVAD (potência em kVA de distorção), como visto na eq. (2.22), representa
uma relação física com as perdas no sistema e, matematicamente, significa um
acréscimo (não linear) na potência aparente quando há componentes harmônicas
geradas pela carga (BRADLEY; BODGER; ARRILLAGA, 1985 apud SILVA, 2009).

Com isso, pode-se então concluir que o fator de potência só equivale ao cosφ para
senoides de tensão e corrente puras e lineares. Na presença de sinais senoidais
distorcidos, o fator de potência pode ser representado por duas grandezas:

• Fator de Potência Real: considera os ângulos de fase de cada harmônica e a


potência reativa necessária para produzí-las. Esse é o fator de potência real,
aquele que deve efetivamente ser corrigido;

• Fator de Potência de Deslocamento: considera apenas a defasagem entre tensão


e corrente para a frequência fundamental. Havendo a presença de harmônicas,
seu valor é sempre maior que o fator de potência real. Não havendo harmônicas,
o fator de potência de deslocamento equivale ao fator de potência real.

Quanto maior é a presença de distorção por harmônicos, mais difícil e complexo se


torna a correção do fator de potência de forma satisfatória. E, com isso, a inserção de
capacitores estáticos em paralelo com a rede pode se torna insuficiente haja vista que
o baixo fator de potência deixa de ser atribuído apenas à presenta de cargas indutivas,
pois há contribuição adicional da potência reativa necessária para sustentar a distorção
do sinal (ISONI, 2004)

É interessante e importante destacar que, em instalações elétricas com presença de


harmônicas, as medições de energia convencionais feitas pelas concessionárias de
energia elétrica que determinam o fator de potência apenas levando em consideração
a relação entre a potência ativa e a potência aparente em função da frequência
fundamental, estarão registrando fatores de potência superiores aos reais, uma vez
que o fator de potência real não estará sendo medido.
36

2.5.3 Indutores de dessintonia para capacitores

Quando se tem distorção nas formas de onda da tensão de alimentação de um sistema,


dependendo da impedância da rede, uma simples correção do fator de potência pode
causar a ressonância dos capacitores com as indutâncias do sistema elétrico, como as
dos transformadores, ocasionando efeitos indesejáveis:

• Sobrecarga nos capacitores;

• Sobrecarga no transformador e equipamentos de distribuição;

• Interferência com os medidores, o sistema de controle, computador e dispositivos


elétricos;

• Aumento nos níveis de distorção harmônica;

• Aumento na distorção da tensão da rede.

Este circuito ressonante tem uma frequência de ressonância, e se a corrente harmônica


desta frequência estiver presente, essa corrente levará o circuito a uma condição
de ressonância em que uma corrente de alto valor será conduzida pelas áreas do
circuito com indutor (como os transformadores de alimentação da rede) e capacitor,
sobrecarregando-os, aumentando suas tensões e de todo o sistema elétrico conectado
a eles em paralelo (STEFANO, 2016).

A filtragem dessintonizada com correção de fator de potência é o meio utilizado para


evitar a ressonância entre o circuito LC (indutivo capacitivo) formado pelo banco
de capacitores e pelo transformador de potência mais próximo, causada por uma
componente harmônica gerada pelas próprias cargas não lineares da instalação. Sem
o filtro de dessintonia pode haver a ocorrência de ressonância já citada e a circulação de
uma alta corrente sobre os ramos do circuito do banco de capacitores e transformador,
causando sobrecarga em ambos. A queima de fusíveis de proteção do banco e
até mesmo dano total de capacitores com ocorrência de explosão, são sintomas da
ressonância causada pela presença de harmônicos na instalação (PERETA; LANDIM;
NOGUEIRA, 2007).
37

O filtro consiste na inserção de um reator (indutor) em série com os capacitores,


obtendo-se um circuito ressonante com uma frequência de ressonância para o qual
o sistema oferece um caminho de baixa impedância e sintonizada abaixo da primeira
harmônica existente. Para o caso do retificador trifásico, tem-se a quinta harmônica
como primeira harmônica gerada existente. Ou seja o filtro de dessintonia opera
em ressonância abaixo da quinta harmônica. Porém, dependendo da frequência de
dessintonia, mais ou menos harmônicas serão absorvidas pelos filtros. A Figura
13 ilustra um reator de dessintonia do fabricante WEG utilizado junto a banco de
capacitores.

Figura 13 – Reator dessintonia DRW7-0,86V49 da WEG

(a) Vista I (b) Vista II

Fonte: WEG (2022).

Componentes para filtros dessintonizados para correção de fator de potência devem


ser cuidadosamente selecionados de acordo com o propósito desejado, de acordo
com as harmônicas presentes no sistema, de acordo com algumas características do
sistema (potência de curto circuito e impedância), de acordo com o efeito de filtragem
desejado e características do circuito ressonante configurado.

2.6 TRABALHOS RELACIONADOS

Em seu trabalho, Augusto (2010) desenvolveu um protótipo similar ao que se


comercializa atualmente utilizando um microcontrolador, o qual analisa os sinais de
tensão e corrente e, de acordo seu projeto, seleciona o capacitor adequado a ser ligado
38

em paralelo ao circuito por meio de acionamento de relés. Para isso, fez uso de um
banco de capacitores de polipropileno metalizados com valor total de 2,4 kVAr em 220
V, contando com oito estágios, ou seja, oito relés com um capacitor acoplado a cada
um deles, como pode-se ver no esquema de montagem na Figura 14.

Figura 14 – Montagem do banco de capacitores de 8 estágios com 2,4 kVAr em 220 V

Fonte: Augusto (2010).

Cada estágio conta com um capacitor, como é detalhado pela Tabela 4.

Tabela 4 – Potências dos estágios do banco de capacitor em 220V

Estágio Capacitância (µF) Potência (kVAr)


1 3 0,055
2 3 0,055
3 5 0,091
4 10 0,182
5 10 0,182
6 20 0,365
7 40 0,730
8 40 0,730

Fonte: Augusto (2010).


39

Neste trabalho foram abordadas cargas monofásicas, então todos os capacitores


tiveram um de seus terminais ligados ao neutro e o outro aos relés que os conectam às
cargas.

O resultado de seu trabalho foi satisfatório, mesmo o sistema de medição de FP que


foi usado para verificar o FP real e com base nos parâmetros programados fazer
o controle para corrigir o FP final tendo apresentado diferenças consideráveis em
relação a um equipamento de medição profissional, esses erros foram considerados
aceitáveis para demonstrar que é possível fazer a correção do fator de potência
utilizando microcontroladores. A etapa de maior dificuldade foi a de filtragem dos
distúrbios de energia elétrica, principalmente referentes às harmônicas.

Nota-se que no caso de carga reativa total alta ou baixa, os valores dos capacitores
do banco também mudam para se ter um controle mais preciso, ou seja, o
dimensionamento é feito de acordo com os valores de cada carga e o total instalado.

Com isso, pode-se ver que a correção de FP como desenvolvida por Augusto (2010)
e comercializada atualmente com módulos prontos é feita de forma discreta, ou
seja, ligam-se à rede os capacitores necessários para correção de acordo com a
parametrização, não havendo necessidade de precisão por ter, atualmente, uma
margem 8% de tolerância para não sofrer com multa, ou seja, FP de 0,92 indutivo ou
capacitivo, conforme o gráfico apresentado na Figura 15 que ilustra como isso ocorre.

Figura 15 – Potência reativa (kVAr) em função do tempo, mostra a potência consumida


pela instalação e a fornecida pelo capacitor

Fonte: Elaborado pelo autor.


40

O presente trabalho visa aplicar em um capacitor o conceito de controle de potência


ativa por meio da modulação do ângulo de disparo de um TRIAC para poder fazer
o controle de injeção de reativa de forma mais aproximada do que é efetivamente
consumida pelas cargas conectadas à mesma rede que o controlador, ou seja, que
tenham curvas bem próximas no gráfico de potência reativa (injeção e consumo) ao
longo de um período de tempo t. Além disso, pretende-se verificar a influência de
harmônicas e perdas presentes devido ao chaveamento para analisar a sua viabilidade,
além da necessidade de pôr a teoria em prática e confirmar sua funcionalidade.
41

3 DESENVOLVIMENTO DO EXPERIMENTO

Após definir os conceitos fundamentais, abordar as teorias relacionadas e as técnicas


e dispositivos já usados no mercado, passe-se para a etapa de desenvolvimento do
projeto. Neste capítulo estão detalhadas as etapas do projeto e a metodologia utilizada
em cada uma delas.

3.1 METODOLOGIA

Inicialmente, foram feitas simulações no software Proteus com disparo de TRIAC


com uma carga resistiva e depois o adequou para o sistema de compensação de
energia reativa com o capacitor. Com os testes no software não foi possível concluir a
viabilidade e funcionalidade do projeto, pois mesmo variando a potência com a variação
do ângulo de disparo, os gráficos ficaram muito distorcidos, impossibilitando saber
se trata de um erro de projeto ou problema de simulação, então prosseguiu-se para
a etapa posterior para visualizar os resultados práticos. Para isso, foram escolhidas
cargas com características indutivas do laboratório de comandos elétricos do Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) Campus Guarapari,
ao mesmo tempo em que foi imposto que, para fins de estudo e experimentação, não
seria necessário cargas de potências altas, pois o efeito de correção de potência reativa
seria semelhante, para não haver necessidade de utilizar capacitores de altos valores
de capacitância e potência reativa e com isso dificultar a elaboração do projeto devido
a seu alto custo e adversidade com aquisição de capacitores compatíveis.

3.2 VISÃO GERAL DO PROJETO

Para desenvolvimento do trabalho, é necessário estabelecer requisitos e atendê-los,


para assim corresponder às expectativas. A escolha dos componentes do trabalho
leva isso em consideração. Assim, deve-se revisar os requisitos propostos no início do
projeto. Para isso, o presente trabalho foi dividido em quatro blocos que funcionam em
conjunto:

• Realimentação: composto basicamente pela carga de teste, a qual é alimentada


pela rede e realimentada pelo controle de injeção de reativos com TRIAC;
42

• Entrada: são utilizados contatores nas cargas de teste que, ao serem acionados,
emitem um sinal que vai para o bloco de aquisição de sinais e processamento
para identificar seu estado (ligado ou desligado);

• Aquisição e processamento: consiste na parte central do projeto, é nela que se


localiza o microcontrolador, que é o componente que vai receber os sinais das
cargas acionadas do bloco de entrada e, através de algoritmos pré-estabelecidos,
determinar a potência reativa consumida pelas cargas e ajustar o controle da
injeção de potência reativa do bloco de controle ao variar o ângulo de disparo do
TRIAC;

• Controle: diretamente dependente do bloco anterior, o bloco de controle consiste


no uso de um TRIAC para acionar o capacitor, com seu terminal de disparo (gate)
ligado à saída do microcontrolador. Tal conexão permite controlar o acionamento
do capacitor, controlando a injeção de potência reativa ao sistema.

A Figura 16 mostra o diagrama de blocos do sistema proposto neste trabalho.

Figura 16 – Diagrama esquemático do projeto

Fonte: Elaborado pelo autor.


43

3.3 LOCAL DE APLICAÇÃO DO CONTROLADOR DE FATOR DE POTÊNCIA

O controlador de fator de potência normalmente é empregado na indústria, em sua


maioria, e também em redes comerciais, locais em que a energia possui distorções
na forma de onda provenientes de harmônicas em geral e/ou devido a dispositivos de
manobra de energia. Esses distúrbios podem prejudicar alguns métodos de medição
de fator de potência como o usado neste trabalho que é o de detecção de passagem
por zero (zero crossing detector ), o qual identifica quando as senoides de tensão e
corrente passam por zero no eixo y e mede a diferença de tempo entre elas, adquirindo
então a defasagem em graus (◦ ) obtendo assim o FP. Em locais com muitas distorções,
essas medições podem apresentar erros bastante evidentes, pois a aquisição desses
dados de corrente, tensão, potências e FP leva em consideração toda a forma de onda,
ou seja, inclui as componentes harmônicas.

3.4 BANCADA DE CARGAS

A bancada de cargas é composta por quatro cargas de característica indutiva. Estas


cargas são acionadas de forma aleatória, para assim variar a potência reativa
consumida e permitir testar a adaptação do controlador para a compensação de
reativo consumido. As cargas escolhidas para a bancada de teste foram quatro motores
de indução monofásicos de gaiola de 1/4 CV operando em tensão nominal de 220 V. A
Figura 17 ilustra a bancada de cargas utilizada neste trabalho.

Figura 17 – Motores de indução monofásica de gaiola de 1/4 CV Nova

(a) Vista I (b) Vista II (c) Placa do motor

Fonte: Elaborado pelo autor.


44

Para maior compreensão, foi feito um diagrama esquemático que mostra como as
cargas foram ligadas à rede. Este diagrama está mostrado na Figura 18.

Figura 18 – Diagrama esquemático de ligação das cargas de teste

Fonte: Elaborado pelo autor.

As características das cargas foram obtidas nas placas de identificação dos motores
advindas do fabricante. A Tabela 5 apresenta as principais características dessas
cargas.

Tabela 5 – Característica das cargas segundo as placas dos motores.

Motor de indução monofásico


Descrição
de gaiola de 1/4 CV Nova
Modelo M141004B00
Potência W (CV) 184 (1/4)
Tensão Nominal (V) 220
Corrente Nominal (A) 3,2
Fator de potência (cosφ ) 0,57

Fonte: Elaborado pelo autor.

O ensaio da bancada em laboratório apresenta alguns parâmetros de difícil aproximação


teórica, pois os motores foram ligados a vazio, ou seja, sem cargas acopladas em seus
eixos, logo, espera-se valores um pouco diferentes dos apresentados na Tabela 5.

Para essa análise, foi utilizado o osciloscópio digital de 4 canais isolados modelo
RTH1004 da Rohde & Schwarz, ilustrado na Figura 19. Com esse equipamento foi
45

possível visualizar as senoides de tensão e de corrente da carga. Para medir a corrente,


foi necessário ligar uma associação em paralelo de resistores de 0,25 Ω e 20 W em
série com os motores para medir a tensão em cima desse resistor e poder fazer a
conversão para corrente elétrica. Ainda, foi possível obter os valores de ângulo de
defasagem para calcular o FP, a potência reativa individual de cada carga e a potência
reativa total consumida pelas cargas. Vale salientar que essas medições iniciais foram
feitas sem qualquer tipo de compensação de reativos. Foram utilizados também um
multímetro digital modelo MD-720 da Instrutherm e um alicate amperímetro digital
modelo ET-3100a da Minipa para auxiliar nas medições e comparar com os dados
visualizados no osciloscópio.

Figura 19 – Ligação da bancada de teste com o osciloscópio

Fonte: Elaborado pelo autor.

Inicialmente, para uma melhor análise, optou-se por medir as cargas separadamente
para averiguar os dados obtidos por cada uma, pois, mesmo sendo de mesmo modelo
e especificações, outros fatores podem influenciar na mudança de seus parâmetros,
como maior tempo de uso em relação a outro e um maior desgaste consequentemente.
Para diferenciá-los, foi feita a marcação dos motores de um a quatro em ordem da
direita para a esquerda. Assim, a Figura 20 mostra os valores obtidos de cada motor
ligado à vazio vistos pelo osciloscópio.
46

Figura 20 – Valores de tensão, corrente, defasagem e potência reativa dos motores à


vazio obtidos no osciloscópio

(a) Motor 1 (b) Motor 2

(c) Motor 3 (d) Motor 4

Fonte: Elaborado pelo autor.

Após realizados os testes, foram obtidos então os parâmetros das cargas provenientes
de experimentação, os quais são apresentados na Tabela 6. Pode-se observar
que apesar dos motores possuírem as mesmas características nominais, todos
apresentaram valores de medição diferentes entre si, como esperado.

Tabela 6 – Característica das cargas segundo ensaio dos motores

Descrição Motor 1 Motor 2 Motor 3 Motor 4


Modelo M141004B00 M141004B00 M141004B00 M141004B00
Potência ativa (W) 175,4 170,1 165,1 171,8
Potência reativa (Q) 662,7 599,6 594,1 612,0
Tensão Nominal (V) 222,0 221,8 221,8 221,1
Corrente Nominal (A) 3,116 2,810 2,780 2,875
Fator de potência (cosφ ) 0,33 0,32 0,33 0,34

Fonte: Elaborado pelo autor.


47

Ao somar todas as cargas, ligando-as em paralelo e à vazio, conforme o esquema da


Figura 19, foram obtidos os seguintes resultados como mostra a Figura 21.

Figura 21 – Valores de tensão, corrente, defasagem e potência reativa de todos motores


à vazio obtidos no osciloscópio

Fonte: Elaborado pelo autor.

Com esses dados, pode ser feito um resumo que aborda o pior caso possível, ou seja,
quando o circuito vai consumir mais potência reativa, situação que ocorre quando todas
cargas estão acionadas. Os dados fornecidos pelo osciloscópio são os seguintes:

• Tensão eficaz: 220,7 V;

• Corrente eficaz: 11,55 A;

• Defasagem: 72,83◦ ;

• Potência Reativa: 2,439 kVA;

Com base nestes dados, foram obtidos os seguintes parâmetros:

• Fator de potência: 0,30;

• Potência Ativa: 0,741 kW;

• Potência Aparente: 2,549 kVAr.

Com base nestes dados, é possível dimensionar o capacitor, o circuito de disparo do


TRIAC para controle de injeção de potência reativa.
48

3.5 DIMENSIONAMENTO DO CAPACITOR

Como já dito, motores à vazio e com carga nominal apresentam valores de


funcionamento diferentes, então o dimensionamento do capacitor se deu por meio dos
valores reais obtidos em ensaios, como apresentado na Tabela 6, analisando o pior
caso possível, o que apresenta um maior consumo de potência reativa, que ocorre
quando todas as cargas estão ligadas. Assim, para o cálculo de dimensionamento, os
seguintes parâmetros já mensurados são necessários:

• Tensão Nominal: 220 V;

• Potência Reativa: 2,439 kVAr;

• Frequência da rede: 60 Hz.

Como a quantidade de potência reativa que o capacitor fornece corresponde ao


quadrado da tensão eficaz dividido pela sua reatância capacitiva. Utilizando esta
relação, consegue-se obter o valor da capacitância necessária. Substituindo a eq.
(2.16), que aborda reatância capacitiva (XC ), na eq. (3.1), obtém-se a variável da
potência reativa do capacitor em função dos parâmetros conhecidos, como mostra a
eq. (3.2).

V2
QCAP = (3.1)
XC

V2
QCAP = 1
= V 2 .2.π. f .C (3.2)
2.π. f .C

Como a variável que deseja-se obter é a capacitância (C), basta isolá-la conforme a eq.
(3.3).
QCAP
C= 2
(3.3)
V .2.π. f

Substituindo os valores pelos parâmetros conhecidos, tem-se:


2, 439.103
C= = 134 µF (3.4)
2202 .2.π.60
49

Assim, o valor mínimo do capacitor que vai atender o fornecimento da potência reativa
consumida pela carga quando todas forem acionadas é de 134 µF. O capacitor para
finalidade de correção de FP com valor mais próximo ao obtido e que atende a
especificação foi a Unidade capacitiva da WEG modelo UCW10045950 de 137 µF que
fornece 2,5 kVAr em 220 V e 60 Hz. Este capacitor está ilustrado na Figura 22.

Figura 22 – Unidade Capacitiva WEG modelo UCW10045950 de 137 µF

(a) Sem base (b) Com base

Fonte: Elaborado pelo autor.

Como o capacitor fornece uma quantidade de potência reativa quase igual à que
todos motores ligados ao mesmo tempo consomem, foi então feito um teste com esse
capacitor conectado em paralelo com a carga diretamente para visualizar os resultados
obtidos em comparação com o teste sem capacitor. Os resultados obtidos estão
apresentados na Figura 23.

Figura 23 – Ligação de todas cargas de com o capacitor em paralelo

(a) Amplitude normal (b) Amplitude aumentada

Fonte: Elaborado pelo autor.


50

É possível ver que o sinal senoidal da corrente ficou um pouco distorcido em


comparação com o sinal senoidal da rede. A escala do sinal de corrente foi aumentada
para facilitar sua visualização e permitir comparar com a da rede, já que o valor nominal
de corrente diminuiu. Outros aspectos a observar é a redução da corrente elétrica
advinda da rede que era 11,55 A. A potência reativa também diminuiu, com o capacitor
foi para -0,271 kVAr, ou seja, o capacitor fornece mais reativo do que a carga consome.
O FP total da carga também sofreu alteração, mudando de 0,30 atrasado sem o
capacitor para 0,99 adiantado com o capacitor.

Vale ressaltar que, como mostra a Figura 24, que em troca da diminuição da potência
reativa e corrente elétricas advindas da rede, foi causada uma distorção na forma da
onda senoidal da corrente elétrica, o que permite concluir que apenas o acréscimo
da unidade capacitiva de correção de FP em paralelo com a carga já acrescentou
distorções harmônicas ao sistema. Abaixo foi extraído do osciloscópio os dados da
Fast Fourier Transform (FFT) que mostra as harmônicas presentes no sistema, fazendo
ensaio dos motores com e sem o capacitor acoplado. Com o capacitor, além do sinal
da harmônica fundamental (60 Hz), pode-se ver sinais de harmônicas de outras duas
ordens no sistema que não são especificadas no osciloscópio, mas que são nada
significantes.

Figura 24 – Dados de FFT para mensurar distorção harmônica

(a) Sem capacitor (b) Com capacitor

Fonte: Elaborado pelo autor.


51

3.6 CIRCUITO DE DISPARO DO TRIAC

Essa é a parte que se refere à eletrônica de potência do presente trabalho. Foi separada
em três partes:

• Detector de passagem por zero: ligado à mesma rede de 220 V em CA na qual


as cargas são ligadas, é a parte responsável pela referência de disparo do TRIAC.
Toda vez que a onda senoidal de tensão passa pelo zero, é emitido um pulso de
3,3 V em CC através do optoacoplador 4N35, que é enviado ao microcontrolador;

• Microcontrolador ESP-32: este dispositivo recebe o sinal de referência do detector


de passagem por zero e também os sinais de quais motores estão ligados,
ajustando o ângulo de disparo do TRIAC para assim controlar a injeção de
potência reativa no circuito. A saída do microcontrolador é enviada à terceira
parte do projeto, através de um optoacoplador MOC3021. Este dispositivo é
necessário para separar a componente de tensão contínua do sistema em 3,3 V
da componente de tensão alternada em 220 V;

• TRIAC BTA24-600b: conectado à mesma rede 220 V em CA, é composto também


pela saida do optoacoplador MOC3021 que envia os pulso de disparo do TRIAC.

Na Figura 25 pode-se visualizar o pulso do circuito referente à detecção de passagem


por zero e comparar com o sinal senoidal de entrada da rede e verificar sua precisão
como sinal de referência para controle de disparo do TRIAC.

Figura 25 – Sinal do detector de passagem por zero e da senoide de tensão da rede

Fonte: Elaborado pelo autor.


52

A Figura 26 mostra o sinal de disparo do TRIAC enviado pelo microcontrolador em


resposta à variação manual do valor de entrada, que corresponde a um sinal analógico
limitado à resolução do conversor analógico digital de 0 a 4095, que corresponde ao
sistema da ESP32 com 12 bits. No primeiro caso é visto um ângulo de disparo pequeno,
variando pouco a potência da carga. No segundo caso foi aumentado o valor do ângulo
disparo, variando bastante a potência na carga para menos em relação à nominal.

Figura 26 – Sinal de disparo do TRIAC e senoide de tensão em uma carga de teste

(a) Ângulo de disparo pequeno, menor (b) Ângulo de disparo grande, maior
distorção na forma da onda distorção na forma da onda

Fonte: Elaborado pelo autor.

A junção de todas essas partes é vista na Figura 27, a qual mostra com detalhes as
ligações feitas no circuito e os componentes utilizados.

Figura 27 – Diagrama esquemático do circuito de aquisição de sinais e controle

Fonte: Elaborado pelo autor.


53

Com isso, foi então montado o circuito de disparo do TRIAC com a ESP32 em uma
placa de circuito impresso (PCI) desenvolvida no software Eagle da empresa Autodesk.
A Figura 28 ilustra esta PCI.

Figura 28 – PCI do circuito de aquisição de sinais e controle

Fonte: Elaborado pelo autor.

3.7 MONTAGEM E TESTE DO SISTEMA DE CORREÇÃO DE FATOR DE POTÊNCIA

Esta etapa foi desenvolvida no laboratório de comandos elétricos do Ifes Campus


Guarapari, para fazer os acionamentos dos motores de forma individual e ordenada
com uso de contatores e lâmpadas de sinalização. Inicialmente, foi conectada uma
lâmpada incandescente ao invés do capacitor para verificar a resposta de disparo do
TRIAC em função do acionamento das cargas, como ilustra a Figura 29.

Figura 29 – Bancada de cargas ligadas em painel de comandos elétricos para testes


iniciais do circuito de disparo em uma lâmpada incandescente

Fonte: Elaborado pelo autor.


54

Para melhor entendimento de como se fez a ligação, foi elaborado o diagrama de força
e controle do sistema, conforme a Figura 30.

Figura 30 – Diagrama de força e controle da bancada de cargas de teste

Fonte: Elaborado pelo autor.

Quando cada motor é ligado, o contator referente é acionada é feito um selo com
o contato normalmente aberto para manter o motor ligado após soltar o botão de
acionamento. Um desses contatos aciona a lâmpada de sinalização com 127 V em
CA e o outro contato é alimentado por cima com um sinal de 3,3 V em CC pelo
microcontrolador e o terminal de saída é ligado à entrada do microcontrolador para
sinalizar quais motores estão ligados. O resultado dos testes é visto na Figura 31.

Figura 31 – Teste de resposta do disparo do TRIAC com o acionamento dos motores

(a) Sem motores (b) Com motor 1 (c) Com motor 1 e 2

(d) Com motor 1, 2 e 3 (e) Todos motores

Fonte: Elaborado pelo autor.


55

Os testes iniciais se mostraram satisfatórios e pôde-se concluir que é possível utilizar


os contatos dos mesmos contatores que energizam os motores para enviar sinais em
baixas tensões e em CC para o microcontrolador. Vale destacar que o TRIAC não
pode operar com ângulo de disparo muito próximo de 0◦ e nem muito próximo de sua
amplitude máxima em 180◦ , pois apresenta instabilidade, para isso foram delimitados
os extremos em que o TRIAC pode trabalhar, de 10◦ a 170◦ .

Com a devida calibração feita, tendo o ajuste do ângulo de disparo do TRIAC em


função do acionamento de cada motor devidamente dimensionado com base na reativa
nominal fornecida pelo capacitor e a consumida por cada motor, pode-se então fazer a
ligação do circuito com acionamento do capacitor com o TRIAC, conforme a Figura 32
e avaliar os resultados obtidos.

Figura 32 – Montagem do circuito para acionamento do capacitor com TRIAC

Fonte: Elaborado pelo autor.

Todavia, ao verificar no osciloscópio o gráfico de tensão do capacitor e corrente da


carga, notou-se que o mesmo não teve variação alguma, permaneceu constantemente
em seu valor máximo, da mesma forma como pôde ser visto na Figura 23 já mostrada
anteriormente.

Fazendo os devidos testes, constatou-se que os terminais de anodo e catodo do TRIAC


estavam em curto-circuito, ou seja, virou apenas um condutor normal, fazendo com
que o capacitor ficasse conectado à rede de alimentação em paralelo com as cargas
como se não existisse circuito adicional.
56

Ao fazer uma análise minuciosa, foi abordado o conceito de corrente elétrica de um


capacitor, o qual é relacionado pela eq. (3.5):

dV
i=C (3.5)
dt

Constata-se com isso que a corrente elétrica do capacitor está relacionada diretamente
com a variação da tensão em um instante de tempo. Fazendo considerações com os
parâmetros do circuito trabalho, considerou-se a variação de tensão no pior caso, que
ocorre na amplitude máxima de tensão elétrica da rede em 220 V eficaz.

√ √
Vam = 2.Ve f = 2.220 = 311 V (3.6)

Outro parâmetro conhecido é a capacitância de valor 137 µF, e sabe-se que, pelas
informações do manual do fabricante, o TRIAC modelo BTA24-600b empregado neste
trabalho suporta corrente nominal de 24,00 A. Fazendo uma manipulação algébrica da
eq. (3.5) em função dos parâmetros conhecidos, obtém-se a eq. (3.7) que relaciona
o tempo de variação de estado do TRIAC de isolante para condutor em função dos
valores de capacitância, variação de tensão e corrente elétrica.

∆V 311
∆t = C = 137.10−6 . = 0, 00177529166 ≈ 2 ms (3.7)
i 24

Se o tempo de chaveamento do TRIAC for menor que 2 ms, a corrente se torna superior
à máxima suportada pelo TRIAC, e sabendo que um período de um sinal senoidal em
60 Hz dura 16,67 ms e o chaveamento do TRIAC ocorre num instante muito menor
como visto na Figura 31, percebe-se então que a corrente conduzida por ele será
sempre muito alta quando o capacitor for acionado pelo TRIAC diretamente devido à
variação abruta de tensão em um espaço de tempo muito curto. Com isso, chegou-se
à conclusão de que o projeto não pode ser executado seguindo o objetivo proposto.

Foram pensadas outras formas de fazer esse controle de reativo. A primeira forma
trata uma abordagem um pouco diferente: ao invés de controlar a injeção de reativa
57

do capacitor com a variação do ângulo de disparo do TRIAC em série, pensou-se em


colocar o capacitor fixo em paralelo com a carga e ligar o TRIAC em série com um
indutor, conectando esse conjunto em paralelo com o capacitor e com a carga. A ideia
é de que, tendo um capacitor e um indutor com mesmos valores de potência reativa, um
capacitiva e outro indutiva, os dois entrariam em ressonância e se anulariam quando
nenhuma carga fosse acionada, como visto anteriormente na eq. (2.21). Ao acionar,
por exemplo, um motor apenas, o capacitor forneceria toda reativa necessária para
o funcionamento dessa carga, e o ângulo de disparo do TRIAC seria ajustado para
permitir que o indutor consumisse apenas o excedente de potência reativa fornecida
pelo capacitor e assim evitar injeção de reativos na rede, que gera multas para o
consumidor da mesma forma quando se consome muito reativo rede. A Figura 33
ilustra o diagrama esquemático de ligação dos componentes.

Figura 33 – Diagrama esquemático do circuito LC com o TRIAC em série com o indutor

Fonte: Elaborado pelo autor.

Um indutor para funcionar em ressonância completa deve ter uma potência reativa
indutiva equivalente igual ou próxima à potência reativa capacitiva, e dados os demais
parâmetros iguais, a eq. (3.9) mostra o valor de dimensionamento do indutor.

V2 V2
QIND = = (3.8)
XL 2.π. f .L

Fazendo um rearranjo as variáveis em função de L:

V2 2202
L= = = 0.051 = 51 mH (3.9)
2.π. f .QIND 2.π.60.2, 5.103
58

Todavia, um indutor de 51 mH com potência de 2,5 kVAr em 220 V é mais complicado


de se conseguir ou mesmo projetar, então foi adquirido um transformador trifásico de
potência nominal e outros parâmetros desconhecidos, como visto na Figura 34, com
vários tapes para fins de experimentação.

Figura 34 – Transformador trifásico de parâmetros desconhecidos com os tapes


escolhidos no ensaio conectados a cabos de cobre de 2,5 mm²

(a) vista I (b) vista II

Fonte: Elaborado pelo autor.

Após ensaios e medições com todos os tapes, conseguiu-se uma conexão com um
valor de corrente eficaz próxima à nominal do capacitor, que é de 11,363 A, como
mostra a Figura 35.

Figura 35 – Sinal de corrente do transformador à vazio com valor nominal de 9,396 A

Fonte: Elaborado pelo autor.

Após os devidos ensaios, pôde-se então fazer algumas considerações. Primeiramente,


o indutor usado é a bobina de um transformador trifásico com entreferro de material
59

magnético e não um indutor linear, então sua forma de onda apresenta distorções
assim como em ensaios de transformadores à vazio. Esse tipo de forma de onda de
corrente, além de atrapalhar todos os cálculos de reatância, tornando-os bem mais
complexos e com um grau de incerteza maior, apresenta componentes harmônicas, o
que resulta em um problema adicional onde o indutor será instalado justamente para
solucionar um outro problema.

E nos testes do indutor com acionamento feito pelo TRIAC, na maioria das vezes,
não foi possível sequer visualizar os dados no osciloscópio pois, ao ligar, o disjuntor
do painel e energizar o transformador, o disjuntor era desarmado instantaneamente.
Novamente, tem-se uma problemática como a do capacitor, mas com o indutor.

di
v=L (3.10)
dt

Da mesma forma que a variação brusca de tensão no capacitor faz a corrente se elevar
e queimar o TRIAC, no indutor acontece de forma similar, porém é a variação abrupta
de corrente que faz a tensão se elevar muito. Assim, concluiu-se que nem o disparo
do TRIAC em série com o capacitor direto e nem em série com o indutor ligados em
paralelo ao capacitor em sua forma base são aplicáveis em estudo de correção de fator
de potência.

Vale ressaltar que em alguns momentos quando o ângulo de disparo ajustado foi
superior a 90◦ , o circuito apresentou algo no osciloscópio, foi possível ver a onda
deformada com o disparo, isso porque no enrolamento de um transformador real existe
resistência interna, o que permitiu o disparo funcionar em determinado momento, porém,
a corrente nominal dos tapes escolhidos do transformador que era de aproximadamente
9,396 A, com disparo de 90◦ foi para aproximadamente 1,121 A, e com disparo de
110◦ , foi para 0,345 A, ou seja, não é linear e há um decaimento muito alto do valor de
corrente, inviabilizando de todas as formas sua funcionalidade.

Todavia, foi testado mais um método, o qual ainda se baseia no chaveamento do


capacitor com TRIAC, com o diferencial do acréscimo de resistores de potência em
série para limitar a corrente de chaveamento e evitar a queima dos componentes.
60

Como o TRIAC usado suporta uma corrente nominal de 24 A e a maior tensão sobre
o capacitor em um instante de tempo é 311 V, foi então dimensionado o valor da
resistência necessária para que a corrente máxima não ultrapassasse o valor nominal
de corrente suportada pelo TRIAC no pior caso seguindo a Primeira Lei de Ohm:

V 311
R= = = 12, 96 Ω (3.11)
I 24

Claro que uma parte da tensão da rede fica sobre o capacitor, mas para fins
experimentais, não faz diferença esse dimensionamento e facilita devido à margem de
segurança para garantir que nenhum componente seja danificado por sobrecorrentes.
Na Figura 36 é possível ver um painel montado com cinco resistores de cerâmica de 68
Ω cada feitos para dissipar potência de 15 W individualmente. Esses resistores foram
associados em paralelo e obteve-se uma resistência equivalente de 13 Ω, valor muito
próximo ao que se procurava, atendendo assim ao requisito imposto.

Figura 36 – Painel com 5 resistores de potência em cerâmica de 68 Ω e 15 W cada

(a) Vista I (b) Vista II

Fonte: Elaborado pelo autor.

Foi montado uma bancada de teste contendo apenas um dos motores com o circuito
de disparo em série com o capacitor e os resistores para visualizar a possibilidade
de assim variar a potência reativa do capacitor no sistema. Na Figura 37 mostra o
diagrama esquemático de como foi feita a ligação para um mais claro entendimento e
na Figura 38 mostra como ficou disposta a montagem prática do circuito.
61

Figura 37 – Diagrama esquemático de ligação da carga de teste com o TRIAC e o


capacitor em série com a associação de resistores

Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 38 – Teste do circuito de disparo do TRIAC com o capacitor em série com a


associação de resistores

Fonte: Elaborado pelo autor.

Colocar os resistores em série com o capacitor para limitar a corrente tornou possível
a execução do trabalho, a potência reativa do capacitor variou conforme o ajuste do
ângulo de disparo. Um ponto de dificuldade que vale destacar é a curto tempo de
operacionalidade devido ao aumento da temperatura dos resistores que não foram
projetados para trabalhar com potências tão altas.

Os resultados dessa prática são apresentados na Figura 39. O sinal verde representa
a tensão em cima do capacitor, o sinal vermelho é a corrente vista pela rede e o sinal
amarelo mostra a senoide de tensão da rede.
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Figura 39 – Resultados do teste de acionamento do TRIAC com o capacitor em série


com a associação de resistores com variação do valor do ângulo de disparo

(a) 10◦ (b) 45◦ (c) 90◦

(d) 125◦ (e) 175◦

Fonte: Elaborado pelo autor.

Não se pôde chegar a resultados conclusivos apenas com esses gráficos porque o
capacitor foi ligado a apenas um motor que corresponde à um quarto de sua capacidade
de potência reativa, então essa diferença que o motor não consome é injetada na rede,
fazendo com que a corrente nominal vista pela rede se torna maior do que apenas com
o capacitor, mas para fins de demonstração e ensaio, são suficientes pois demonstram
como o circuito tende a se comportar.

Algumas constatações podem ser feitas, como a esperada redução do valor da tensão
eficaz em cima do capacitor com o aumento do ângulo disparo. Como abordado
anteriormente, pode-se ver graficamente o pico de corrente quando o ângulo de disparo
é mais próximo da região de pico da tensão de alimentação, por volta de 90◦ , e quanto
mais próximo do menor ângulo (0◦ ) ou do maior ângulo (180◦ ), menor é a variação da
tensão e consequentemente menor é o pico de corrente, provando que a justificativa
teórica para explicar o empecilho da prática inicial que fora abordado anteriormente
é coerente. Outro detalhe é que se tem uma perda da potência total fornecida pelo
capacitor devido à presença associação de resistores em série, tendo uma queda de
tensão sobre estes com a variação do ângulo de disparo do TRIAC, causando um
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aumento da corrente haja vista que a resistência é fixa e de baixo valor, não precisando
de tensões altas em cima dos resistores para gerar uma corrente elétrica significante.

É importante enfatizar o fato de que cada motor da bancada de cargas consome


aproximadamente 3 A de corrente nominal, então em nenhum dos ângulos de disparo
houve uma real compensação de reativa, fora as distorções harmônicas resultantes.
Agora não é somente o motor como carga, tem-se também os resistores, os quais
dissipam potência e elevam a corrente do circuito com esse consumo, mesmo que sua
função inicial nesse circuito seja de limitar a corrente do capacitor.

Para finalizar os testes, retornou-se para à bancada de cargas ligadas no painel de


comandos elétricos com a junção dos resistores em série com o capacitor e variou-se
o ângulo de disparo conforme acionamento de cada motor para poder visualizar os
dados de resposta e comparar com a ligação das cargas sem compensação.

Figura 40 – Circuito de disparo do TRIAC em série capacitor e associação de resistores

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os resultados dessa ligação são vistos na Figura 41. A tensão no capacitor variou
pouco, como o ângulo de disparo é pequeno, próximo ao que seria o circuito TRIAC
disparo, a tensão total ficou próxima à nominal da rede (220 V), uma parcela alta ficou
no capacitor e a diferença ficou nos resistores. Mesmo sem motor ligado, existe uma
corrente nominal considerável, o que esperava-se pois o circuito dissipa potência em
cima dos resistores e injeta reativa na rede devida à característica do capacitor.
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Figura 41 – Resposta da variação das cargas com ângulo de disparo do TRIAC fixado
em 10◦ e em série com o capacitor e a associação de resistores

(a) Sem motor (b) Com motor 1

(c) Com motores 1 e 2 (d) Todos motores

Fonte: Elaborado pelo autor.

Por fim, as correntes se comportam de maneira complexa, a começar pelo fato da


corrente quando não se tem motores ligados ser maior do que quando o motor 1 é
acionado, e ao acionar o motor 2 juntamente, ocorreu nenhuma variação no valor eficaz
da corrente, variou apenas a sua forma de onda, e ao ligar todos motores foi obtido uma
corrente de 9,249 A, o que é inferior à nominal consumida pelas cargas ao acionarmos
todos motores da mesma forma, que é de 11,55 A, como visto anteriormente na Figura
21.

Já no segundo teste, conforme é mostrado pela Figura 42, com ângulo de disparo
fixado em 90◦ , o circuito mostrou-se nada vantajoso. O aumento do valor da corrente
se mostrou diretamente proporcional ao aumento do número de cargas ligadas. Desde
o acionamento de apenas um motor a corrente já se mostrou de alto valor nominal,
sendo superior ao valor de corrente do caso anterior com ângulo de disparo em 10◦
com todos motores ligados. Com acionamento de todos motores, o valor da corrente
nominal foi de 13,76 A, sendo superior ao valor da corrente nominal consumida ao
acionarmos todas as cargas sem acoplar o capacitor em paralelo.
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Figura 42 – Resposta da variação das cargas com ângulo de disparo do TRIAC fixado
em 90◦ e em série com o capacitor e a associação de resistores

(a) Com motor 1 (b) Com motores 1 e 2

(c) Com motores 1, 2 e 3 (d) Todos motores

Fonte: Elaborado pelo autor.

Sabe-se que o conceito inicial abordado é de potência reativa e depois foi ponderado
muito sobre valores de corrente elétrica, pois com as ondas perfeitamente senoidais
foi possível fazer medição da potência reativa no próprio osciloscópio, mas com o
acréscimo de distorções harmônicas, tal medição se tornou muito mais complexa, se
tornando impossível de ser feita da forma como abordada inicialmente em sistemas
senoidais puros, e como a correção de potência reativa está diretamente ligada à
diminuição da corrente elétrica nominal advinda da rede, optou-se por trabalhar com tal
parâmetro.

Com os resultados apresentados, podem ser feitas algumas considerações finais sobre
a metodologia empregada. Inicialmente, é possível fazer variação da potência reativa
de um capacitor por meio de um TRIAC ao variar o ângulo de disparo desde que em
série com esses dois haja algum resistor para limitar a corrente do capacitor e evitar
a queima de componentes. Todavia, é um conceito testado inviável de ser concebido
na prática, pois os parâmetros obtidos por ensaios não apresentam seguir um padrão
de comportamento para entender seu funcionamento e criar um sistema de controle
em cima disso, além da problemática de necessitar de resistores de alta potência para
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suportar a ligação em série com o capacitor visando correntes ou tensões mais altas.

Como no ensaio a queda de tensão nos resistores era bem menor que a tensão nominal
da rede, poderia então empregar resistências menores para ter menos influência no
circuito e poder então visualizar melhor o circuito com ênfase que é o capacitor com
TRIAC. Outro fato a se abordar, é o emprego de um indutor em série com o capacitor
para atuar como um filtro dessintonizante e assim diminuir as harmônicas no sistema
em consonância com a limitação da corrente elétrica.

De toda forma, pode-se observar e comparar que, mesmo aplicando outras alterações
como sugerido e investir mais em estudos nesse segmento, é notório que a metodologia
atual empregada e comercializada para compensação de reativos é melhor para se
investir, tanto em facilidade quanto em quantidade de harmônicas, que é menor do que
com o comutação a todo instante de dispositivos de eletrônica de potência, e também
pela maior previsibilidade do circuito, o que os testes feito com o capacitor em série
com a associação de resistores mostraram que não possuem, já que o comportamento
da corrente em função do ângulo de disparo e das cargas acionadas em paralelo não
seguem um padrão.
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4 CONCLUSÃO

A energia elétrica é essencial para a sociedade e sua utilização eficiente deve ser
um objetivo importante. Junto a isso, existem as questões ambientais de eficiência
e aproveitamento energético que realçam esse fato. A redução da energia reativa
consumida por meio da correção do fator de potência ajuda a aumentar a oferta de
energia ativa por liberar espaço útil nas linhas de transmissão, mas deve-se tomar
certos cuidados para que a qualidade de energia não seja afetada.

Com isso, a correção do fator de potência tende a ter cada vez mais importância e
ser uma preocupação cada vez maior nos mais diversos setores de energia elétrica,
principalmente os industriais e comerciais, não se restringindo apenas ao Brasil, sendo
uma questão global.

A tendência, assim, é que e os equipamentos tenham valores de fator de potência


cada vez maiores (mais próximo do unitário), como já pode ser visto ao longo dos
anos, e também que esses equipamentos sejam capazes de realizar a correção do FP
internamente com filtragem das harmônicas resultantes, para que sejam vistos pela
rede de alimentação o mais próximo de cargas puras e resistivas possíveis, ou seja,
cargas ideais que consomem apenas potência útil para realização do trabalho e com
praticamente nenhuma distorção harmônica, principalmente cargas não-lineares como
motores de indução.

Este trabalho teve por objetivo realizar um estudo detalhado a respeito do tema
proposto e abordar um método de correção do fator de potência com microcontroladores
controlando um circuito com TRIAC em série com capacitor e ver sua possibilidade
de execução, juntamente com sua viabilidade e soluções alternativas. O objetivo
inicial de realizar um sistema de controle do sinal senoidal do capacitor mostrou-se na
prática impossível de ser realizado sem alguma impedância resistiva em série com o
próprio capacitor para limitar a corrente durante a variação da tensão abrupta causada
pelo disparo do TRIAC. Foi justificado teoricamente depois os motivos que impediram
a possibilidade disso acontecer, e tentado ainda uma abordagem com controle de
um indutor para colocar em paralelo com o capacitor fixo e causar assim um efeito
de ressonância, mas da mesma forma que o capacitor tem um problema de alta
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corrente com uma variação de tensão num intervalo muito pequeno, o indutor também
tem, mas com uma tensão muito alta com uma variação de corrente num intervalo
muito pequeno. Ainda, a abordagem de utilizar resistores em série com o capacitor
para limitar a corrente mostrou-se funcional, mas nada viável, uma vez que se faz
necessário resistores de alta potência e principalmente pela perda de tensão em cima
do capacitor, diminuindo sua potência reativa, e ainda pela limitação dessa potência
reativa devido aos resistores em consonância com a distorção harmônica injetada no
circuito, tornando-o um método muito inviável de ser empregado da presente forma.

Alguns objetivos não foram cumpridos pela complexidade do tema proposto juntamente
com a falta de alguns equipamentos para uma melhor abordagem. Uma das etapas com
dificuldade foi a medição dos valores de corrente e tensão usando bibliotecas do arduino
(que compartilha da mesma linguagem de programação utilizada na ESP32, que é
C++) com módulos de transformador de corrente (TC) e transformador de potencial
(TP), tendo uma difícil calibração desses módulos fisicamente e via software, os quais
apresentaram maiores erros de leitura em sinais com FP pequenos como foi abordado
no trabalho, em torno de 0,30. Por fim, o protótipo construído apresentou resultados
satisfatórios, mesmo não sendo o idealizado, pois por meio deste foi possível verificar a
funcionalidade e viabilidade da teoria tratada em questão e justificar de forma prática e
com embasamento teórico todos resultados obtidos.

Esse trabalho é importante por abordar o emprego de microcontroladores em


dispositivos embarcados de controle de potência utilizando programação mais básica,
mostrando sua viabilidade para projetos de menor custo. Também, foi feito um estudo
com ênfase em qualidade de energia elétrica e formas de correção de FP, além de
mostrar detalhadamente os motivos de não se fazer controle de reativo de capacitores
diretamente usando TRIAC, mas sim ligações alternadas de capacitores em um banco
composto por vários, deixando uma contribuição para a pesquisa acadêmica nessa área
de estudo, principalmente por ser uma abordagem não tratada antes que, mesmo sendo
inviável, se tem agora documentada para servir de apoio para outros pesquisadores
posteriormente.

Além do que, um dispositivo que controla FP por si só é algo que compensa muito
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seu uso, pois evita o desperdício de energia, poupa equipamentos, diminui seções de
condutores necessárias, e o meio ambiente, além de evitar pagamento de uma conta
de energia mais alta por multa, o que justifica por si só a continuidade de pesquisas
sobre esse tema.

Para projetos futuros é sugerido a implementação da correção do FP usando


microcontrolador para ajustar o ângulo de disparo de um TRIAC para regular a reativa de
um capacitor, como abordado no presente trabalho, mas com acréscimo de um indutor
em série para funcionar como um circuito LC em série e o indutor conseguir controlar
a alta corrente do capacitor durante o chaveamento e também filtrar as harmônicas
como um filtro de dessintonia, ou simplesmente abordar o método tradicional com
banco de capacitores e chaveamento por meio de contatoras conforme pré-programado
e propor melhorias, além de poder realizar uma abordagem prática de métodos de
atenuação de distorção harmônicas. Junto a isso, pode-se pensar no acréscimo de um
circuito de aquisição de valores de corrente com TC e tensão com TP para medição
do FP e conseguir fazer essa regulagem sem calibração dos equipamentos (cargas)
como abordado no presente trabalho, e também fazer uma maior análise de outros
parâmetros relacionamentos à qualidade de energia.
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REFERÊNCIAS

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