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Palhoça
2020
PAULO RODRIGO ANDRADE
Palhoça
2020
PAULO RODRIGO ANDRADE
O fator de potência pode ser definido como um parâmetro de eficiência na utilização da energia
consumida. Ele demonstra basicamente se a energia está sendo eficientemente aproveitada num
sistema elétrico. A Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, autarquia responsável por
estabelecer as normas e regulamentos para os serviços de energia elétrica no Brasil determina
que o valor mínimo do fator de potência permitido para as unidades consumidoras do grupo A
é de 0,92. Portanto, os consumidores que estejam abaixo desse mínimo estabelecido devem
corrigir o fator de potência do seu sistema sob pena de incorrerem no pagamento de multa
cobrada pelas concessionárias de energia. Este trabalho de conclusão de curso traz um estudo
de caso voltado à análise das anomalias existentes no sistema elétrico que causam o baixo fator
de potência nas instalações do Camelódromo Floripa Center, comércio localizado no centro da
cidade de Florianópolis/SC, de forma a definir a melhor abordagem para a correção do baixo
fator de potência do comércio ora mencionado. Para a correção do fator de potência foram
coletados e analisados os dados constantes das faturas do consumidor, das grandezas elétricas
envolvidas, do projeto elétrico da estrutura, além de medições realizadas in loco com o auxílio
de um equipamento de analisador de energia elétrica. Para tanto, foi proposto o método da
correção localizada com um banco semi-automático, também conhecido como correção direta
para a correção do fator de potência. O método apresentado gerará benefícios tanto do ponto de
vista da melhora na qualidade de energia elétrica quanto na questão financeira e econômica do
comércio, eis que o consumidor não mais pagará multas pelo excesso de reativo em sua fatura
de energia e garantirá a durabilidade de todo o seu sistema elétrico e equipamentos nele
instalados, evitando-se o desgaste dos dispositivos e o prolongamento da vida útil.
The power factor can be defined as an efficiency parameter in the use of energy consumed. It
basically demonstrates whether energy is being used efficiently in an electrical system. The
National Electrical Energy Agency (ANEEL), the agency responsible for establishing the
norms and regulations for electrical energy services in Brazil, determines that the minimum
value of the power factor allowed for group A consumer units is 0.92. Therefore, consumers
who are below this established minimum must correct the power factor of their system under
penalty of incurring the payment of a fine charged by the energy concessionaires. This course
concludes with a case study aimed at analyzing the anomalies in the electrical system that cause
the low power factor at the Camelódromo Floripa Center, a business located in downtown
Florianópolis/SC, in order to define the best approach for correcting the low power factor of
the business mentioned here. For the correction of the power factor, data from consumer
invoices, the electrical quantities involved, the electrical project of the structure were collected
and analyzed, as well as measurements made on site with the help of an electrical energy
analyzer equipment. For this, the method of localized correction was proposed with a semi-
automatic bank, also known as direct correction for the power factor correction. The method
presented will generate benefits both from the point of view of the improvement in the quality
of electrical energy and in the financial and economic issue of commerce, so the consumer will
no longer pay fines for the excess of reactivity in their energy bill and ensure the durability of
the entire electrical system and equipment installed in it, avoiding the wear and tear of the
devices and the prolongation of the useful life.
1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 16
1.1 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 17
1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ......................................................................................... 17
1.3 OBJETIVOS .................................................................................................................... 18
1.3.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 18
1.3.2 Objetivos Específicos................................................................................................... 18
1.4 DELIMITAÇÕES ............................................................................................................ 18
1.5 METODOLOGIA ............................................................................................................ 19
1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO .................................................................................... 20
2 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................................... 21
2.1 BREVE RELATO HISTÓRICO SOBRE A ENERGIA ELÉTRICA ............................. 21
2.2 ENERGIA ELÉTRICA ATIVA E REATIVA ................................................................ 22
2.3 ENERGIA REATIVA INDUTIVA E CAPACITIVA .................................................... 23
2.4 POTÊNCIA ATIVA, REATIVA E APARENTE ........................................................... 23
2.5 LEGISLAÇÕES E ASPECTOS REGULATÓRIOS DO SISTEMA ELÉTRICO ......... 26
2.6 QUALIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA ..................................................................... 27
2.6.1 Tensão em regime permanente .................................................................................. 29
2.6.2 Harmônicos .................................................................................................................. 29
2.6.3 Desequilíbrio de Tensão .............................................................................................. 32
2.6.4 Flutuação de tensão ..................................................................................................... 33
2.6.5 Variação de frequência ............................................................................................... 33
2.7 FATOR DE POTÊNCIA ................................................................................................. 34
2.7.1 Causas do baixo fator de potência ............................................................................. 38
2.7.2 Consequências do baixo fator de potência ................................................................ 40
2.7.2.1 Perdas na instalação.................................................................................................... 40
2.7.2.2 Quedas de tensão ........................................................................................................ 40
2.7.2.3 Subutilização da capacidade instalada ....................................................................... 41
2.7.3 Métodos de correção do fator de potência ................................................................ 42
2.7.3.1 Aumento do consumo de energia ativa ...................................................................... 42
2.7.3.2 Utilização de máquinas síncronas .............................................................................. 43
2.7.3.3 Utilização de capacitores ............................................................................................ 43
2.7.4 Capacitores .................................................................................................................. 47
2.7.4.1 Banco de capacitores .................................................................................................. 49
2.7.4.1.1 Métodos de controle ................................................................................................. 49
2.7.5 Vantagens da correção do fator de potência ............................................................. 50
2.8 MODALIDADES TARIFÁRIAS E SEUS RESPECTIVOS CONSUMIDORES ......... 51
2.9 ANÁLISE DE INVESTIMENTOS FINANCEIROS ...................................................... 53
2.9.1 Fluxo de caixa .............................................................................................................. 54
2.9.2 Taxa mínima de atratividade (TMA) ........................................................................ 54
2.9.3 Método do valor presente líquido (VPL) .................................................................. 54
2.9.4 Método da taxa interna de retorno (TIR) ................................................................. 55
2.9.5 Período de recuperação do investimento (payback descontado - PB) ..................... 56
2.10 MOTORES ELÉTRICOS ................................................................................................ 56
2.10.1 Motor Monofásico ....................................................................................................... 58
2.10.2 Motor Trifásico (CA) .................................................................................................. 60
2.10.2.1 Motor Síncrono........................................................................................................... 61
2.10.2.2 Motor de indução assíncrono trifásico tipo rotor gaiola de esquilo ........................... 62
2.11 CICLO BÁSICO DE REFRIGERAÇÃO ........................................................................ 64
2.11.1 Self-contained remoto.................................................................................................. 66
2.11.2 Compressor scroll ........................................................................................................ 68
3 ESTUDO DE CASO ......................................................................................................... 70
3.1 ANÁLISES PRELIMINARES ........................................................................................ 71
3.1.1 Levantamento de dados .............................................................................................. 72
3.1.2 Diagrama unifilar do sistema elétrico ....................................................................... 73
3.1.3 Estudo das faturas de energia elétrica ...................................................................... 74
3.1.4 Medições realizadas em campo .................................................................................. 77
3.1.5 Sistema de correção existente ..................................................................................... 84
3.2 DIMENSIONAMENTO NO NOVO SISTEMA............................................................. 85
3.2.1 Desenvolvimento dos cálculos .................................................................................... 86
3.2.2 Definição do método de correção ............................................................................... 89
3.3 SISTEMA PROPOSTO ................................................................................................... 90
3.3.1 Viabilidade Técnica ..................................................................................................... 91
3.4 ANÁLISE DA VIABILIDADE FINANCEIRA E ECONÔMICA ................................. 92
3.4.1 Custos para a implantação do novo sistema ............................................................. 93
3.4.2 Viabilidade financeira e econômica do projeto ........................................................ 94
4 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 97
4.1 SUGESTÃO PARA NOVOS TRABALHOS ................................................................. 98
ANEXO A - TERMO DE AUTORIZAÇÃO ..................................................................... 103
ANEXO B - FATURAS DE ENERGIA ELÉTRICA ........................................................ 104
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1 INTRODUÇÃO
de orientação dos responsáveis para análise das faturas, faz com os consumidores do grupo A
sujeitem-se a pagar essas multas pelo baixo fator de potência.
Sendo assim, devido à fiscalização contínua ao qual é exposto e aos exorbitantes valores
das multas aplicadas, o consumidor é compelido a aprimorar o seu sistema elétrico e instalar
equipamentos capazes de corrigir o fator de potência. Todavia, existem benefícios nisso tudo e
que muitos consumidores desconhecem, e são os efeitos que uma melhor qualidade de energia
pode proporcionar às instalações e aos equipamentos, os quais serão demonstrados, avaliados
e testados ao final deste estudo de caso.
1.1 JUSTIFICATIVA
O presente estudo de caso aborda acerca do baixo fator de potência identificado através
de visitas técnicas realizadas no Camelódromo Municipal de Florianópolis, atualmente
renomeado como “Camelódromo Floripa Center”, localizado no centro da capital – SC, que
atua no ramo de comércio dos mais diversos produtos, contando com 134 boxes.
18
1.3 OBJETIVOS
1.4 DELIMITAÇÕES
Este trabalho limita-se ao estudo de caso com ênfase nos possíveis fatores que
ocasionam o baixo fator de potência nas instalações do Camelódromo Municipal de
Florianópolis.
Será estudada a atual configuração do sistema elétrico bem como a realização de
medições através de analisador de energia para se aferir a qualidade de energia.
O presente estudo de caso não tem como finalidade a implantação propriamente dita da
solução para a correção do fator de potência e nem como objetivo demonstrar as estruturas com
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alto grau de detalhamento ou com particularidades do sistema elétrico, mas sim, compor uma
visão macro da melhor abordagem e técnica para a resolução dos problemas encontrados no
tocante ao baixo fator de potência.
Outrossim, as sugestões e adaptações para as melhorias no sistema elétrico devem servir
como guia apenas para o dimensionamento das cargas reativas capacitivas, visando minimizar
as perdas causadas pelo baixo fator de potência.
1.5 METODOLOGIA
Este trabalho de conclusão de curso é uma pesquisa aplicada com abordagem quali-
quantitativa, sendo que, em relação ao objetivo ela é explicativa, utilizando-se de
procedimentos documentais e de estudo de caso. As técnicas utilizadas para a coleta e análise
de dados foram a análise documental e a observação participante.
Utilizou-se o método de estudo de caso a fim de obter uma adequada compreensão dos
assuntos, além de investigar todos os aspectos que estão relacionados ao caso.
Segundo Yin (2001), a principal intenção em estudos de caso é atrair esclarecimentos,
os quais demonstrem os motivos para definir quais as decisões devem ser tomadas em um
conjunto de motivos e quais resultados foram alcançados e implementados. Assim, ao se
investigar um fenômeno da vida real dentro de um contexto específico, o estudo de caso é a
forma ideal para se pesquisar.
Conforme descreve Gil (2008), o estudo de caso “consiste no estudo profundo e
exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado
conhecimento, tarefa praticamente impossível mediante outros delineamentos já considerados.”
No mesmo sentido, Godoy (1995) menciona que o estudo de caso consiste em analisar
profundamente um tipo de pesquisa cujo objetivo é detalhar um ambiente em uma situação
particular. Os dados de um estudo de caso são coletados pelo pesquisador por uma fonte
primária ou secundária da própria observação do problema, e os dados devem ser coletados em
pesquisas qualitativas, o que não quer dizer que não se possa usar também a pesquisa
quantitativa, dependerá da que vai ser aplicada.
Assim, quando alguém define por um estudo de caso que não se devem generalizar os
resultados obtidos, não se pode extrair nenhuma conclusão que extrapole a situação estudada,
portanto, essa técnica de pesquisa tem uma contribuição limitada para o avanço do
conhecimento (BERTUCCI, 2009).
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Trata-se também de uma pesquisa documental, que segundo Marconi; Lakatos (2010),
é fundamentada em documentos, escritos ou não, os quais denomina-se de fontes primárias, e
pode ser realizada quando o fato ou fenômeno ocorre, ou mesmo após já ter ocorrido.
Destaca-se que no desenvolvimento dessa pesquisa também foram utilizados
documentos de arquivos privados, que para Lakatos, et al. (2010) são chamados de fontes
primárias. Nesse sentido, frisa-se que o conceito de documento pode ser entendido como
qualquer objeto capaz de comprovar algum fato ou acontecimento (LAKATOS, et al., 2010).
A presente pesquisa pode ainda ser classificada como descritiva, pois conforme
menciona Triviños (2009), ela permite ao investigador ampliar a sua experiência em relação a
um determinado problema.
Trata-se também de uma pesquisa aplicada cujo objetivo é dar origem a conhecimentos
e contextualizá-los com a realidade vivenciada pelo Camelódromo Municipal de Florianópolis,
de forma a auxiliar na solução de problemas específicos, qual seja, a necessidade de se corrigir
o fator de potência das cargas existentes. Feita a identificação dessa necessidade, a referida
pesquisa é de cunho empírico e enquadra-se como descritiva (TRIVIÑOS, 2009).
Quanto à coleta de dados dessa pesquisa foi realizada por intermédio da observação
participante do autor, e possui como finalidade, identificar os problemas, realizar uma análise
crítica e buscar soluções adequadas (GIL, 2010).
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo apresenta a base teórica referente aos temas abordados e os principais
conceitos e elementos utilizados para uma melhor compreensão da pesquisa.
Sendo assim, se faz necessário um breve relato histórico a respeito do tema energia
elétrica, além de uma abordagem sobre correção do fator de potência e conceitos essenciais,
tais como energia ativa e reativa, potência ativa, reativa e aparente, legislação e aspectos
regulatórios essenciais do sistema elétrico, além da qualidade de energia elétrica.
No sistema elétrico, as cargas se caracterizam por demandar potência e absorver energia
elétrica do próprio sistema. Segundo Creder (2016), a energia elétrica absorvida por cargas
alimentadas em corrente alternada pode ser decomposta em energia ativa e energia reativa.
𝐸 = (𝑊𝑥 𝑇) (1)
De forma geral, observa-se esta grandeza com a unidade de medida e seus múltiplos
“Wh, kWh, MWh ou GWh”, que nada mais é que o produto da potência absorvida por uma
carga no intervalo de uma hora.
Assim, nas instalações onde os circuitos são alimentados por corrente alternada, a
energia elétrica absorvida pela carga pode ser dividida em energia ativa e reativa (COTRIM,
2008).
Pode-se conceituar a energia ativa como sendo a componente responsável em
transformar a energia elétrica em energia mecânica ou térmica, ou seja, é a energia que
realmente executa trabalho, e é medida em “kWh” (COTRIM, 2008).
Ao oposto, a energia reativa é a componente da energia elétrica que não realiza trabalho,
mas é absorvida com o intuito de formar os campos eletromagnéticos para o correto
funcionamento dos equipamentos indutivos. Sua unidade de medida é “kvarh” (COTRIM,
2008).
Importante mencionar que de acordo com as cargas que estão sendo alimentadas no
circuito, a energia reativa se subdivide em reativa indutiva e capacitiva.
Pode-se conceituar a energia reativa indutiva como sendo a energia consumida por
cargas indutivas, como por exemplo, motores de indução, reatores e transformadores
(COTRIM, 2008).
A energia reativa indutiva é consumida através de geração de campo magnético para
funcionamento de equipamentos.
Já, a energia reativa capacitiva é a energia fornecida por cargas capacitivas, e este tipo
de carga apresenta fator de potência dito reativo capacitivo (COTRIM, 2008).
A potência é uma grandeza que mensura a quantidade de trabalho que pode ser realizado
em um determinado espaço de tempo (BOYLESTAD, 2012).
Nesse sentido:
A potência [...] é a velocidade com que um trabalho é executado. Por exemplo, um
grande motor elétrico tem mais potência do que um pequeno porque é capaz de
converter quantidade maior de energia elétrica em energia mecânica no mesmo
intervalo de tempo.
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𝑃 = 𝑉. 𝐼. cos φ (2)
Para tanto, tem-se que o “V” representa o valor eficaz de tensão, “I” a corrente; o “cos
φ” é o fator de potência, e “P” é a unidade de potência ativa expressada em watt (W).
Assim, a potência ativa nada mais é que a componente da potência total que é convertida
em calor por efeito joule (SAMED, 2017).
A potência reativa, também chamada de potência magnetizante, é a potência total na
qual a energia é armazenada pela reatância. Ela é útil ao funcionamento de transformadores,
motores e dispositivos magnéticos em geral (SAMED, 2017).
A potência reativa é dada pela expressão:
𝑄 = 𝑉. 𝐼. sen φ (3)
𝑆 = 𝑉. 𝐼 (4)
𝑆 = √𝑃2 + 𝑄 2 (5)
𝑃
𝑆= (6)
𝐹𝑃
Sendo assim, nota-se que há uma íntima ligação entre os tipos de energia e de potência.
Segundo, Cotrim (2008), se a energia ativa consumida em uma certa carga, onde a sua unidade
de medida é dada em “kWh”, for dividida pelo mesmo intervalo de tempo que a gerou (h),
obtemos a demanda ativa ou potência ativa, e a sua unidade é dada em “kW”.
Paralelamente a isto, pode-se seguir o mesmo entendimento quanto a energia reativa
(kvarh), e então, obtemos a demanda reativa, ou potência reativa (kvar).
Dessa forma, a potência aparente (S), é a soma vetorial da potência ativa (P) e da
potência reativa (Q), ou seja, é a potência total absorvida pela instalação. Sua unidade de medida
é dada em “kVA” (COTRIM, 2008).
É possível ainda utilizar uma analogia muito conhecida a fim de compreender melhor
essa relação das potências, que é a do copo de cerveja com o colarinho, conforme demonstrado
na Figura 1. Obviamente, essa analogia tem como objetivo demonstrar de forma simplificada e
didática a relação das potências.
Observando a Figura 1, se definirmos que o copo cheio, incluindo o colarinho, será a
potência aparente, e a espuma, representando a potência reativa, ou seja, ocupa espaço no copo.
Já, a potência ativa é o líquido, que neste caso é o mais importante.
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Nesse sentindo, para que se pudesse manter a qualidade de energia, surgiu a necessidade
de se definir procedimentos e limitações na distribuição de energia. Assim, a ANEEL, criou o
PRODIST – Módulo 8, o qual define a terminologia e os indicadores, caracteriza os fenômenos,
estabelece os limites ou valores de referência, a metodologia de medição, a gestão das
reclamações relativas à conformidade de tensão em regime permanente e às perturbações na
forma de onda de tensão e os estudos específicos de qualidade da energia elétrica para fins de
acesso aos sistemas de distribuição (ANEEL, 2020).
Um sinal que possui boa qualidade apresenta-se na forma de onda senoidal, com
frequência e amplitude fixas, as quais variam conforme a forma transmitida ou distribuída, e
com deslocamento angular que se mantém durante todo o sinal. Dessa forma, a relação da
qualidade de energia não parte somente do fornecedor ou da concessionária, mas ela parte
também dos próprios clientes que solicitam a energia (TANIGUCHI, 2019).
Conforme a ANEEL (2017), os principais parâmetros que devem ser analisados para
uma boa qualidade de energia elétrica são os seguintes:
Assim, para que se averigue a qualidade da energia, a ANEEL (2017) esclarece que as
leituras de energia elétrica devem ser realizadas através de equipamentos que operem conforme
o princípio de amostragem digital e utilizando um único instrumento de medição para auferir
todos os fenômenos da qualidade da energia fornecida.
Nesse sentido (ANEEL, 2017):
O conjunto de leituras para gerar os indicadores da qualidade do produto de regime
permanente (distorções harmônicas, flutuação de tensão e desequilíbrio de tensão)
deve compreender o registro de 1008 (mil e oito) leituras válidas obtidas em intervalos
consecutivos (período de agregação) de 10 minutos [...] No intuito de se obter 1008
(mil e oito) leituras válidas, intervalos adicionais devem ser agregados, sempre
consecutivamente (ANEEL, 2017).
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2.6.2 Harmônicos
Va = 1,0 < 0º
Vb = 1,0 < - 120º
Vc = 1,0 < b + 120º
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sempre ocorrerá uma queda de tensão, e ao final da rede existirão diferenças consideráveis se
comparadas ao início desta.
O fator de potência pode ser definido como sendo a relação existente entre a potência
ativa e potência aparente consumidas por um dispositivo ou um equipamento, conforme
mostrada na equação abaixo, sendo que “P” é dado em quilowatt (kw) e “S” é dado em
quilovolt-ampère (kVA): (SAMED, 2017)
𝑃
𝐹𝑃 = 𝑆
(7)
Em outras palavras, é possível afirmar que o fator de potência é o índice que demonstra
quanto da energia foi utilizada em trabalho e quanto foi utilizada para a magnetização de
núcleos magnéticos, motores ou outras cargas indutivas.
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Outro ponto relevante e que merece destaque, refere-se ao Decreto nº 479 de 1992, o
qual determinou que o fator de potência deve ser mantido o mais próximo possível da unidade
(1,0), sendo que tal determinação deve ser cumprida tanto pelas concessionárias quanto pelos
consumidores (WEG, 2019).
Ademais, também devem ser observadas as orientações do Departamento Nacional de
Águas e Energia Elétrica (DNAEE) quanto ao limite de referência para o fator de potência
indutivo e capacitivo, além dos critérios de avaliação do faturamento da energia reativa, caso
ultrapasse os limites estabelecidos na legislação.
A nova legislação estabelecida pelo DNAEE determinou uma nova forma para o ajuste
do baixo fator de potência, com os seguintes aspectos relevantes (WEG, 2019):
• aumento do limite mínimo do fator de potência de 0,85 para 0,92;
• faturamento de energia reativa excedente;
• redução do período de avaliação do fator de potência de mensal para horário, a
partir de 1996 para consumidores com medição horosazonal.
Com isso muda-se o objetivo do faturamento: em vez de ser cobrado um ajuste
por baixo fator de potência, como faziam até então, as concessionárias passam a
faturar a quantidade de energia ativa que poderia ser transportada no espaço ocupado
por esse consumo de reativo.
Posto isso, além do novo limite e da forma de medição, merece destaque ainda, a
definição de que das 6h da manhã até às 24h, o fator de potência deve ser no mínimo de 0,92,
tanto para a energia quanto para a demanda de potência reativa indutiva fornecida. E, das 24h
até às 6h, fica estabelecido o mínimo de 0,92 para a energia e demanda de potência reativa
capacitiva recebida (WEG, 2019).
Conforme a ANEEL (2020), os valores de referência para que se obtenha um fator de
potência adequado são:
Para unidade consumidora ou conexão entre distribuidoras com tensão inferior a 230
kV, o fator de potência no ponto de conexão deve estar compreendido entre 0,92
(noventa e dois centésimos) e 1,00 (um) indutivo ou 1,00 (um) e 0,92 (noventa e dois
centésimos) capacitivo, de acordo com regulamentação vigente.
Quanto à sua classificação, o fator de potência pode ser: fator indutivo ou capacitivo.
O fator de potência indutivo é caracterizado quando a instalação elétrica absorve a
energia reativa. Os equipamentos elétricos, por exemplo, possuem características indutivas
justamente em razão das suas bobinas, pois induzem o fluxo magnético que exigem para o seu
adequado funcionamento. Dessa forma, o fator indutivo sempre terá a corrente atrasada se
comparada com a tensão, porque isso significa que a instalação elétrica está absorvendo a
energia reativa (MAMEDE FILHO, 2007).
Análogo ao que acontece com o fator indutivo, no fator de potência capacitivo, se carga
for predominantemente capacitiva, e obtiver pequenas parcelas resistivas e/ou indutivas, é
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possível considerar que o fator é capacitivo. Logo, se o fator de potência é capacitivo, a corrente
ficará adiantada em relação à tensão, e, isso significa que a instalação elétrica está gerando a
energia reativa no circuito (MAMEDE FILHO, 2007).
Assim, conforme elucida DE MOURA et al., (2018), “o fator de potência, além de
expressar a razão entre a potência ativa e a potência aparente, representa o cosseno do ângulo
entre a tensão e a corrente de um circuito. Portanto, é o mesmo ângulo da impedância
complexa.”
𝑃
𝐹𝑃 = cos 𝜃 = |𝑆|
; 0 ≤ cos 𝜃 ≤ 1 (8)
𝑘𝑊 𝑘𝑊
𝐹𝑃 = cos 𝜑 = = (12)
𝑘𝑉𝐴 √𝑘𝑊 2 +𝑘𝑉𝐴𝑟 2
Ainda, para uma melhor compressão do que é o fator de potência se faz necessária uma
abordagem fasorial no domínio do tempo. Assim, em razão do fator de potência indutivo ser o
distúrbio elétrico mais comumente encontrado nas instalações elétricas industriais da
atualidade, será desenvolvida uma argumentação baseada em uma carga puramente indutiva
para que o exemplo seja didático.
Portanto, se uma corrente alternada percorrer uma carga puramente indutiva, ocorrerá o
fenômeno chamado de defasagem da corrente em relação a tensão. Esta defasagem nada mais
é do que o atraso da corrente em relação à fase da tensão. Posto isso, quando ocorre este
fenômeno, pode-se dizer que o fator de potência é indutivo, e pode-se definir que o produto da
corrente atrasada pela tensão é a potência reativa indutiva.
Analisando a Figura 4 é possível concluir que quanto maior for a defasagem da corrente,
menor será o fator de potência, e, obviamente, menor será a eficiência do sistema. Ademais, a
carga é puramente indutiva, logo, o ângulo φ é de 90º - algo que não existe na realidade, mas
serve apenas como um exemplo didático.
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O baixo fator de potência demonstra que a energia está sendo mal aproveitada. Assim,
além do custo adicional cobrado por demanda reativa excedente, as instalações elétricas correm
diversos riscos. São eles: (CELESC, 2002).
a) redução de tensão;
b) perdas de energia dentro da instalação;
c) redução do aproveitamento da capacidade dos transformadores;
d) aquecimento dos condutores;
e) diminuição da vida útil da instalação elétrica.
Assim, a correção do fator de potência deve ser uma preocupação tanto dos profissionais
responsáveis pela manutenção e pelo gerenciamento de instalações industriais e comerciais,
quanto do próprio consumidor/proprietário.
(𝑃 = 𝐼 2 ∗ 𝑅) (15)
Ocorre que, em razão do baixo valor de potência, a corrente aumenta e as perdas são
mais acentuadas. Portanto, fica estabelecida uma relação entre o aumento das perdas e o baixo
fator de potência. Estas perdas, infelizmente, não podem ser zeradas, mas podem ser mitigadas
com o controle do fator de potência (WEG, 2019).
Destaca-se que a queda de tensão se acentua com o excesso de energia reativa, pois a
corrente é diretamente proporcional à energia reativa. Assim, sabendo-se que a tensão elétrica
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é o produto da resistência pela corrente (𝑉 = 𝑅 ∗ 𝐼), pode-se deduzir que parte da tensão que
deveria estar sobre a carga ficará sob o condutor.
Caso haja uma queda de tensão muito elevada sobre a carga, o condutor sofrerá uma
sobrecarga, o que pode causar uma ruptura no cabo e gerar interrupções no fornecimento de
energia elétrica e, consequentemente, impactar na capacidade de transmissão de energia.
Ademais, é importante mencionar que todos os eventos de queda de tensão relatados
anteriormente, podem ainda gerar o superaquecimento dos motores e transformadores e
ocasionar danos graves à rede.
0,50 1.600
800
0,80 1.000
1,00 800
maior flexibilidade na instalação, sendo, por isso, o método mais utilizado na indústria
(COTRIM, 2008).
A Figura 5 demonstra de forma simplificada a utilização de capacitores para a correção
do fator de potência.
Ademais, conforme é possível observar na Figura 6, antes da correção, tem-se uma alta
potência reativa indutiva; todavia, após a correção (Figura 7) é possível se obter um triângulo
de potências formado pela mesma potência ativa, por uma potência reativa corrigida, e,
consequentemente, uma potência aparente também corrigida (SAMED, 2017).
Visando obter o valor da potência reativa final (QB), parte da potência reativa inicial
(QA) deverá ser corrigida, sendo que, (QC) representa a potência reativa corrigida. Assim, tem-
se que: (SAMED, 2017)
𝑄𝐶 = 𝑄𝐴 − 𝑄𝐵 (16)
Outrossim, De Moura et al. (2018), chama atenção para o fato de que os valores de
potência reativa dos capacitores comerciais são discretos, e, portanto, os valores calculados de
modo contínuo devem ser adaptados para os valores discretos mais próximos, além de ser
necessário também observar a tensão em que os capacitores irão operar, uma vez que uma
tensão superior que a nominal pode causar a sua perfuração.
46
De mais a mais, destaca-se que a correção do fator de potência pode ser feita a partir da
instalação de capacitores de 4 (quatro) maneiras distintas, e, para tanto, leva-se em consideração
a conservação da energia e a relação custo/benefício (WEG, 2019). São elas: a correção na
entrada da energia em média tensão (que não será objeto do presente estudo), e a correção da
energia em baixa tensão, que subdivide-se em: correção localizada (também chamada de
individual), correção por grupo de cargas e correção mista (também chamada de correção
geral), todas detalhadas na sequência (Figura 8):
Por sua vez, a correção mista (ou geral), se analisada sob o ponto de vista da
“conservação de energia” é a melhor solução a ser utilizada. Dessa forma, conforme
minunciosamente detalhado pelo Manual da WEG (2019), para o tipo de correção mista deve
ser observado e analisado os seguintes critérios:
a) Primeiramente, instala-se um capacitor fixo diretamente do lado
secundário do transformador;
b) Para motores com aproximadamente 10 cv ou mais, deve-se corrigir
localmente.
c) Para motores com menos de 10 cv, a correção deve ser realizada por
grupos.
d) Nas redes próprias de iluminação com lâmpadas de descarga, deve-se optar
por reatores de baixo fator de potência, corrigindo na entrada da rede.
e) Na entrada, deve-se instalar um banco automático de pequena potência
para a equalização final.
Por fim, DE MOURA et al. (2018), chama atenção para o fato de que os valores de
potência reativa dos capacitores comerciais são discretos, e, portanto, os valores calculados de
modo contínuo devem ser adaptados para os valores discretos mais próximos, além de ser
necessário também observar a tensão em que os capacitores irão operar, uma vez que uma
tensão superior que a nominal pode causar a sua perfuração.
2.7.4 Capacitores
denominadas eletrodo (Figura 9), e separadas por um material dielétrico (material isolante). Ao
aplicar uma tensão sobre as faces externas destas placas, é gerado um campo eletrostático entre
eles, ou seja, ocorre o armazenamento de energia elétrica na forma de campo elétrico.
Pode-se dizer que os capacitores são elementos reativos que ao serem expostos à
passagem de uma corrente elétrica através de seus eletrodos, acumulam cargas elétricas, e é por
isso, que os capacitores são componentes capazes de armazenar energia eletrostática.
Nesse sentido, Mamede Filho (2007) esclarece:
Os capacitores são normalmente designados pela sua potência nominal relativa,
contrariamente aos demais equipamentos, cuja característica principal é a potência
nominal aparente.
A potência nominal de um capacitor em kvar é aquela absorvida do sistema quando
este está submetido a uma tensão e frequências nominais a uma temperatura ambiente
não superior a 20ºC (ABNT).
A forma como é injetada a energia reativa na rede para corrigir o fator de potência é
definida conforme o método mais conveniente para cada caso.
Nesse sentido, as células capacitivas ou bancos de capacitores podem ser conectados de
maneira fixa, ou de maneira controlada, utilizando-se para isto, de controlares e dispositivos de
manobra, tanto em configuração automática quanto semi-automática (COTRIM, 2008).
A seguir são citadas as particularidades de cada método de controle, conforme Cotrim
(2008):
50
a) subgrupo B1 – residencial;
b) subgrupo B2 – rural;
c) subgrupo B3 – demais classes;
d) subgrupo B4 – iluminação pública.
53
O termo investimento pode ser conceituado como sendo toda a aplicação de ativo capaz
de gerar resultados positivos a um longo prazo. Assim, a decisão de investir é vista como difícil
porque antes de se decidir devem ser analisados todos os fatores que envolvem direta e
indiretamente um projeto, eis que esses fatores podem influenciá-lo de maneira significativa.
(SOUZA; CLEMENTE, 2008).
Nesse sentido, para a implantação de um projeto de investimento devem ser avaliadas
todas as possibilidades e características do projeto a fim de se reduzir os possíveis prejuízos por
incertezas, além de conhecer os riscos mais prováveis que possam ocasionar o seu abandono
ou até mesmo o seu fim (LORENZET, 2013).
Lorenzet (2013) menciona:
A análise de toda a engenharia econômica necessária para avaliar o projeto de
investimento possui como finalidade evitar riscos para seus investidores. A análise de
investimentos serve como uma ferramenta segura para a definitiva tomada de decisão
de se investir, onde o próprio mercado acirrado e competitivo força naturalmente as
organizações a buscar essa análise de seus futuros investimentos.
Isto posto, serão apresentados a seguir os métodos mais atuais e aceitos para medir a
rentabilidade e analisar a viabilidade financeira e econômica para investimento num projeto,
utilizando-se de alguns dos conceitos da engenharia econômica que permitam avaliar o sistema
a ser implantado de forma quantitativa.
54
O método do valor presente líquido (VPL) busca calcular, em termos de valor presente,
o impacto dos eventos futuros associados a uma alternativa de investimentos. De uma forma
mais simples, diz-se que ele mede nada mais que o valor presente dos fluxos de caixa gerados
pelo projeto ao longo de sua vida útil (SAMANEZ, 2009).
55
O método da taxa interna e retorno (TIR) objetiva encontrar uma taxa intrínseca de
rendimento. Assim, por definição, a TIR é a taxa de retorno do investimento, mas é hipotética,
visto que ela anula o VPL, ou seja, é aquele valor de “i*” que satisfaz a seguinte equação:
(SAMANEZ, 2009).
𝑛
𝐹𝐶𝑡
𝑉𝑃𝐿 = −𝐼 + ∑ =0 (18)
(1 + 𝑖 ∗ )𝑡
𝑡=1
𝑇
𝐹𝐶𝑡
𝐼= ∑ (19)
(1 + 𝐾)𝑡
𝑡=1
O motor elétrico pode ser conceituado como um dispositivo que transforma a energia
elétrica em energia mecânica, na maioria das vezes a energia cinética. Assim, quando a corrente
elétrica está presente no motor, o eixo entra em movimento (FRANCHI, 2008).
57
São compostos de duas partes básicas, o rotor, que é a parte móvel, e o estator ou
carcaça, o qual possui a parte fixa, e subdividem-se em dois grandes grupos se considerarmos
o tipo de tensão: os motores de corrente contínua e os motores de corrente alternada
(FRANCHI, 2008).
• Necessita de alimentação em
corrente contínua.
O motor monofásico (Figura 12) recebe essa nomenclatura devido aos seus
enrolamentos de campo estarem ligados diretamente a uma fonte monofásica. Pelo fato de ter
apenas uma fase de alimentação, ele não possui um campo girante como os motores trifásicos,
e sim um campo magnético pulsante, o que acaba por impedir que tenham um torque de partida,
eis que no rotor se induzem campos magnéticos alinhados ao campo do estator. (FRANCHI,
2008).
59
Sendo assim, o motor síncrono pode ser uma possível alternativa para a correção do
fator de potência em relação ao método tradicional do uso de capacitores; todavia, exige-se
cautela no tocante ao tipo de carga que será utilizada, pois as variações no conjugado produzem
variações no fator de potência. Ademais, também não é recomendado a utilização de motores
síncronos para a correção do fator de potência com potência inferior a 50 cv (FRANCHI, 2008).
62
(velocidade do campo girante, também conhecida como escorregamento), fato esse que origina
o nome do motor assíncrono.
Destaca-se ainda, que o rotor é apoiado em uma cavidade que transmite à carga a energia
mecânica produzida, e o entreferro (distância localizada entre o rotor e o estator) é reduzido de
forma a diminuir a corrente em vazio, o que leva a perdas, mas também aumenta o fator de
potência em vazio (FRANCHI, 2008).
O motor de indução trifásico de rotor gaiola em esquilo (Figura 14) é uma máquina
elétrica de corrente alternada (CA) assíncrona com rotor em curto-circuito, na qual a sua
velocidade é dependente da frequência da fonte de alimentação e do número de polos do motor
(PROCEL, 2009).
Ele é caracterizado por ser muito eficiente e exige poucos cuidados de manutenção, o
que o torna de baixo custo. Além disso, é bastante utilizado como força motriz em máquinas
industriais (PROCEL, 2009).
3 ESTUDO DE CASO
Com o intuito de aprofundar mais o estudo a fim de que fossem analisados todos os
dados de forma minuciosa, levantou-se os dados que a seguir serão expostos a respeito da
instalação elétrica do Camelódromo, bem como as suas cargas mais relevantes.
O fornecimento de energia elétrica ao Camelódromo é realizado pela concessionária
Celesc Distribuição S.A., com tensão nominal de 13,8 kV.
A unidade consumidora do Camelódromo enquadra-se no grupo A, subgrupo A4, sendo
que a modalidade tarifária é a convencional com demanda contratada atual de 199 kW.
O transformador de entrada é 300 kVA, a relação de transformação é de 13,8kV/380V,
sendo do tipo pedestal.
Quanto às cargas, o parque de máquinas do sistema de climatização é composto por 97.5
TR, e a potência desses equipamentos é estimada em 185 kVA. Além disso, os demais circuitos
contam com outras cargas de menor potência, no entanto, não serão no presente estudo de caso.
73
Reat_exc_P_kvarh Reat_exc_FP_kvarh
Um ponto interessante e que merece destaque no que se refere à análise das faturas é
que dentre aquelas que foram analisadas dentro do período de setembro de 2019 a setembro de
2020, foi possível perceber que, em sua maioria, o fator de potência média/mês se mostrou igual
ou maior que 0,92, e mesmo assim, houve cobranças por excedente de reativo (Gráfico 3).
76
R$ 500,00 R$ 540,95
R$ 400,00
R$ 344,97
R$ 300,00 R$ 317,11
R$ 256,04
R$ 272,74
R$ 200,00
R$ 163,20 R$ 129,01
R$ 100,00
R$ 25,25R$ 18,50 R$ 3,18 R$ 1,33 R$ 18,34
R$ 0,00 0,99 0,99 0,92 0,92 0,92 0,90 0,89 0,91 0,90 0,99 0,99 0,95 0,99
09/19 10/19 11/19 12/19 01/20 02/20 03/20 04/20 05/20 06/20 07/20 08/20 09/20
Outrossim, com o decorrer do estudo das faturas, observou-se que os valores que se
encontravam acima de 0,92 na média mensal se deram porque os condicionadores de ar da
edificação não eram acionados aos fins de semana, o que fez com que elevasse o fator de
potência nesses intervalos para 1,00, contribuindo para a elevação do fator de potência na
média/mês.
A questão do fator de potência é um dos fatores que causam dúvidas nos consumidores,
pois estes acreditam (erroneamente) que se estiverem acima do fator de 0,92 na média/mês não
serão “penalizados” pelo baixo fator de potência. Ocorre que isso não é a realidade, tendo em
vista que, observando o Gráfico 3, é possível notar que os valores de fator de potência que estão
em cor verde (linha horizontal) estão de acordo com os valores desejados, ou seja, acima de
0,92. No entanto, ainda assim percebe-se que há cobrança por excedente reativo nos referidos
meses.
Dessa forma, analisando a situação em voga, o que se apresenta é que não existe uma
preocupação da concessionária em demonstrar com clareza aos seus consumidores como de
fato são executados os cálculos e qual os parâmetros analisados para a cobrança do fator de
potência proveniente do seu baixo fator. Assim, ao que parece, a concessionária acaba lucrando
com essa falta de clareza e omissão e, por esse motivo, permanecem tomando tal postura mês
após mês.
77
a) demanda (kW);
b) tensão (V) individual de cada fase;
c) frequência (Hz) individual de cada fase;
d) corrente (A) individual de cada fase;
e) corrente (A) total do circuito;
f) potência ativa (watts) individual de cada fase;
g) potência ativa (watts) total das 3 (três) fases;
h) potência reativa (var) individual de cada fase;
i) potência reativa (var) total das 3 (três) fases;
j) potência aparente (VA) individual de cada fase;
k) potência aparente (VA) total das 3 (três) fases;
l) consumo acumulado expresso em kWh de cada fase;
m) consumo acumulado em kWh total do circuito - 3 (três) fases;
n) fator de potência individual de cada fase;
o) média do fator de potência das 3 (três) fases;
p) análise de harmônicas (corrente e tensão) até a 41ª ordem.
KWh/dia
11/10/2020
12/10/2020
13/10/2020
14/10/2020
Kvarh/dia
15/10/2020
16/10/2020
17/10/2020
18/10/2020
DE ENERGIA
KVAh/dia
19/10/2020
Gráfico 4 - Dados da medição diária – Analisador de energia
20/10/2020
21/10/2020
FP/dia
22/10/2020
23/10/2020
24/10/2020
25/10/2020
26/10/2020
27/10/2020
28/10/2020
MEDIÇÃO DIÁRIA (1º/10/20 A 31/10/20) - ANALISADOR
29/10/2020
30/10/2020
31/10/2020
80
81
Figura 28 - Imagem 1 da leitura das grandezas elétricas capturadas pelo analisador de energia
Figura 29 - Imagem 2 da leitura das grandezas elétricas capturadas pelo analisador de energia
Já na Figura 31, observa-se a foto do quadro geral de baixa tensão (QGBT) e os seus
respectivos dispositivos de manobra, comando e célula capacitiva devidamente identificados.
Para a escolha do capacitor ideal, foi utilizado o método referido na Equação 16, pois
através dessa equação é possível encontrar o valor do capacitor a ser instalado (Qc) apenas
subtraindo da potência QA com o baixo fator pela potência QB, já como o fator ajustado.
Assim:
𝑄𝐶 = 𝑄𝐴 − 𝑄𝐵 (16)
Onde:
Utilizando-se a Eq. (6) para calcular a Potência Aparente após correção, obtemos:
𝑃 28800
𝑠 ′ = 𝐹𝑃 => 𝑠 ′ = => 𝑠′ = 30638,3 𝑉𝐴
0,94
Utilizando-se a Eq. (5) para encontrarmos a Potência Reativa resultante após correção,
obtemos:
Empregando-se a Eq. (16) para encontrar a Potência do Capacitor a ser utilizado, temos
o seguinte:
𝑄𝐶 = 19557 − 10453 => 𝑄𝐶 = 9103,99 𝑣𝑎𝑟
Com base nos cálculos realizados foi possível encontrar o valor da potência do capacitor
necessário para a referida correção (9,104 kvar). Ocorre que, sabendo que esse não é um valor
comercial, optou-se por utilizar uma célula capacitiva de 9,17 kvar para que se obtenha o fator
de potência superior a 0,92, e com isso, garantir a eficiência da correção.
Devido ao reajuste de potência do capacitor, espera-se obter o seguinte fator de potência
ao final da correção:
𝑃 28800
𝐹𝑃 = ; => 𝐹𝑃 = ; => 𝐹𝑃 = 0,952
𝑆 2
√(28800) + (9170)2 ;
Utilizando a Eq. (4) para encontrar a corrente, e tendo em vista que o módulo
capacitivo é trifásico, deve-se acrescentar na Equação 4 um fator √3, conforme abaixo
detalhado:
𝑆 9170
𝑆 = 𝑉. 𝐼. √3 ; => 𝐼 = ; => 𝐼 = ; => 𝐼 = 13,93 𝐴
𝑉. √3 380. √3
Com base no valor da corrente encontrada, juntamente com o auxílio da Tabela 5 que
se refere à condução de corrente de condutores, é possível definir que o condutor será o de seção
de transversal de 2,5mm por ser o mais adequado do ponto de visto técnico.
89
Tabela 5 - Condução de corrente de condutores (Método de instalação 16, conforme tabela 33)
TABELA DE CONDUÇÃO DE CORRENTE DE CONDUTORES
Corrente máxima suportada
Seção em mm² por cada condutor elétrico
1,5mm² 18,5
2,5mm² 25
4mm² 34
6mm² 43
10mm² 60
16mm² 80
25mm² 101
35mm² 126
50mm² 153
70mm² 196
95mm² 238
Fonte: NBR 5410, 2004.
Para definir o método de correção que deve ser aplicado, levou-se em consideração
diversos aspectos, tais como, o estudo do projeto elétrico, os dados obtidos através de
levantamento preliminar com o analisador de energia realizado no mês de outubro de 2020 e as
características das cargas. Dessa forma, chegou-se à constatação de que, de fato, as cargas que
possuem a maior parcela no consumo de potência reativa e, portanto, ocasionam a cobrança de
excedente reativo, são as que compõem o sistema de climatização da edificação.
Levando-se em consideração que a análise em questão foi executada sob uma máquina
trifásica (self-contained) e que o seu consumo de reativo indutivo é estático, pode-se concluir
que a demanda foi fixa no decorrer da medição. Logo, o método mais indicado para este caso é
o da correção localizada com um banco semi-automático, também conhecido como correção
direta. Esse método consiste na instalação do capacitor diretamente no equipamento, utilizando
o próprio dispositivo de controle do equipamento para injetar reativo na rede.
Dessa forma, a instalação direta no barramento de alimentação do equipamento
simplifica consideravelmente o método de correção e a instalação de um novo sistema de
correção.
Foi definida a utilização desse método, qual seja, o semi-automático, tendo em vista que
a instalação de um banco automático de capacitores (BAC) demanda um maior investimento,
além de ser recomendado somente para as instalações que possuam um consumo mais
diversificado, onde não seja possível uma correção direta.
90
Outro fator que influenciou na escolha da correção direta, foi a parte financeira, pois a
instalação de um BAC sairia muito mais onerosa, inviabilizando assim o projeto e a não
aceitação pelo cliente.
O novo sistema de correção do fator de potência foi idealizado levando-se em conta dois
fatores: a característica da carga e o fator econômico.
A carga possui aspectos relevantes na tomada de decisões quanto ao método de correção,
e, por esse motivo, é essencial coletar o máximo de informações possíveis quanto a ela, tais
como, o regime de trabalho, se são acionadas em grupo ou se podem ser acionadas
individualmente, se todos os elementos que pertencem ao barramento de força são trifásicos,
ou se existe motores monofásicos junto a eles. Ou seja, tudo deve ser minunciosamente
levantado e analisado antes de qualquer tomada de decisão.
Quanto ao fator econômico, pode-se dizer que ele é na maioria das vezes o fator
preponderante na elaboração dos projetos, de maneira que nada adianta o engenheiro se ater
apenas na viabilidade técnica do projeto e esquecer que são os recursos financeiros do cliente
que farão do projeto uma realidade.
Posto isso, após uma breve reflexão acerca dos quesitos relevantes para a tomada de
decisão, optou-se pela abordagem mais clássica para a correção do fator de potência, pois tanto
do ponto de vista técnico quanto do econômico parece ser a decisão mais acertada.
De mais a mais, acredita-se que a implantação do novo sistema de correção do fator de
potência traria um retorno financeiro muito mais rápido se não fosse a situação de pandemia
que se instalou em todo o mundo e que se prolonga ainda até o mês de novembro (prazo final
para o encerramento do presente estudo de caso), pois possibilitaria a obtenção dos dados do
consumo mais confiáveis.
Conforme expresso na Figura 32, tem-se o diagrama unifilar simplificado para o novo
sistema.
91
Gráfico 5 - Valores pagos à concessionária nos últimos 13 (treze) meses (referente ao reativo
excedente)
R$ 2.739,50
VALORES PAGOS À CONCESSIONÁRIA
648,88
540,95
344,97
317,11
272,74
256,04
129,01
163,2
25,25
18,34
18,5
3,18
1,33
Para a análise dos custos necessários à implantação do novo sistema para a correção do
fator de potência foi utilizada a Tabela 6, a qual demonstra o valor da mão de obra especializada
para a instalação do sistema e para a readequação do quadro de comando, além do levantamento
dos valores dos materiais necessários à instalação dos capacitores.
94
Conforme é possível notar no Gráfico 5, os valores que foram pagos no ano de 2020 à
concessionária de energia elétrica (Celesc) não foram tão expressivos, entretanto, o que deve
ser levado em consideração aqui é que, devido à pandemia do COVID-19, todas as pessoas
foram significativamente atingidas, incluídas as pessoas físicas, jurídicas e até mesmo os
trabalhadores autônomos, eis que foram surpreendidos pelo fechamento de todos os setores
(lockdown).
Com o lockdown, o Camelódromo teve de ser fechado por um longo período devido às
medidas restritivas determinadas por decretos emitidos tanto pela Prefeitura de Florianópolis
quanto pelo Governo de Santa Catarina, o que acabou por gerar um impacto relevante no
consumo de energia reativa do sistema de climatização, tendo em vista que este não foi ligado
durante todo este período.
Outrossim, para a aplicação dos métodos de análise de viabilidade financeira foi
elaborado um fluxo de caixa descontado levando-se em consideração o investimento inicial, os
fluxos de caixa negativos e positivos, além da taxa de desconto que é de 12% a.a. (Gráfico 6)
95
R$ 0,00
0 1 2 3 4 5
-R$ 1.000,00
-R$ 2.000,00
-R$ 3.000,00
Payback Descontado
Ano FC /simples Descontado Saldo
0 -R$ 3.621,82 -R$ 3.621,82 -R$ 3.621,82
1 R$ 2.739,50 R$ 2.445,98 -R$ 1.175,84
2 R$ 2.739,50 R$ 2.183,91 R$ 1.008,07
3 R$ 2.739,50 R$ 1.949,92 R$ 2.958,00
4 R$ 2.739,50 R$ 1.741,00 R$ 4.699,00
5 R$ 2.739,50 R$ 1.554,47 R$ 6.253,46
Fonte: Elaboração do autor, 2020
97
4 CONCLUSÃO
Destaca-se que foram diversos os aspectos das instalações não abordados por não fazer
parte do objeto de estudo deste trabalho, muito embora mereçam também análise e
desenvolvimento de estudos de trabalhos futuros para que também possam ser modificados e
melhorados. Pode-se citar, por exemplo, o correto enquadramento das instalações de segurança
em todo o sistema elétrico do Camelódromo Municipal de Florianópolis, conforme determina
a NBR-5410, eis que não estão de acordo com a norma mencionada.
Ademais, sugere-se a aplicação do método de correção de fator de potência com base
na metodologia apresentada neste estudo de caso para outros comércios e indústrias, de maneira
a testar a viabilidade técnica e financeira do método proposto neste trabalho em diferentes
cenários.
99
REFERÊNCIAS
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Prentice Hall, 2012.
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2008.
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100
DE MOURA, Ailson P.; DE MOURA, Adriano Aron F.; DA ROCHA, Ednardo P. Análise de
circuitos em corrente alternada para sistemas de potência. 1. ed. São Paulo: Artliber, 2018.
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103