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UNIVERSIDADE FEDERAL DO SUL E SUDESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS E ENGENHARIAS


FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA

JOZIVAN DE OLIVEIRA VILAS BOAS

ESTUDO DE CONEXÃO DE UMA MINIUSINA FOTOVOLTAICA


CONECTADA A REDE DE DISTRIBUIÇÃO: CONTRIBUIÇÃO A
CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO E AJUSTES DE PROTEÇÃO

MARABÁ-PA
2023
JOZIVAN DE OLIVEIRA VILAS BOAS

ESTUDO DE CONEXÃO DE UMA MINIUSINA FOTOVOLTAICA


CONECTADA A REDE DE DISTRIBUIÇÃO: CONTRIBUIÇÃO A
CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO E AJUSTES DE PROTEÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresen-


tado à Faculdade de Engenharia Elétrica do
Institudo de Geociências e Engenharias da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pará, como requisito para obtenção do grau
de Bacharel em Engenharia Elétrica.

Orientador:
Prof. Dr. Dione Jose Abreu Vieira

MARABÁ-PA
2023
JOZIVAN DE OLIVEIRA VILAS BOAS

ESTUDO DE CONEXÃO DE UMA MINIUSINA FOTOVOLTAICA


CONECTADA A REDE DE DISTRIBUIÇÃO: CONTRIBUIÇÃO A
CORRENTE DE CURTO-CIRCUITO E AJUSTES DE PROTEÇÃO

Trabalho de Conclusão de Curso, apresen-


tado à Faculdade de Engenharia Elétrica do
Institudo de Geociências e Engenharias da
Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pará, como requisito para obtenção do grau
de Bacharel em Engenharia Elétrica.

Data de aprovação: Marabá (PA), de de 2023

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Dione Jose Abreu Vieira


Orientador

Prof. Dr. Diorge de Souza Lima


Membro da Banca

Prof.ª Dra. Yonatha Marques de Albuquerque Melo


Membro da Banca
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a meu Deus Pai, pois sem Ele não teria conseguido chegar
até aqui. Sua força e virtude me guiaram pelos caminhos de dificuldade e me fizeram
chegar até este momento. Foram muitas graças alcançadas, um sonho está se realizando
e tudo foi uma grande experiência.
Agradeço também aos meus pais, Geovaldo Borges Vilas Boas e Gloria de Oliveira
Vilas Boas, que sempre me apoiaram e mesmo que longe fisicamente na maior parte
do tempo, estiveram ao meu lado me ajudando com suas palavras de ânimo e coragem
sempre. Agradeço a Deus todos os dias por eles.
Aos meus irmãos, Washington e Jozivaldo, por sempre me apoiarem e incentivarem
em todas as minhas decisões.
A todos os meus professores do curso Engenharia Elétrica pela grande contribui-
ção na minha vida, o que possibilitou a aquisição de conhecimentos essenciais para a
concretização deste trabalho.
Aos demais familiares e amigos que direta e indiretamente me incentivaram e me
apoiaram nesta jornada.
"Porque o Senhor é o que dá a sabedoria; da sua
boca é que sai o conhecimento e o entendimento."
Proverbios 2:6
RESUMO

Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo apresentar um estudo de


conexão de uma miniusina fotovoltaica conectada à rede de distribuição. O estudo apre-
sentará as contribuições às correntes de curto-circuito da miniusina mencionada no ponto
de acoplamento comum (PAC) entre a subestação e o alimentador da subestação. Além
disso, o estudo apresentará os ajustes das proteções de sobrecorrente de fase e neutro 50 e
51 da miniusina no PAC. Primeiramente será feita uma revisão bibliográfica abordando os
principais tópicos do tema. Será feita uma revisão dos conceitos de energia solar fotovol-
taica, curto-circuito, e das ferramentas utilizadas para o estudo dessas ocorrências, como
as componentes simétricas e a matriz impedância de barra. Será apresentado o software
ANAFAS desenvolvido pelo CEPEL, que permite o estudo de forma simplificada desses
eventos de curto-circuito. No final serão apresentados os resultados e conclusões sobre o
estudo.

Palavras-chave: Curto-Circuito, Estudo de proteção, ANAFAS.


ABSTRACT

This course completion work aims to present a connection study of a photovoltaic


mini-plant to the distribution grid. The study will present the contributions to the short-
circuit currents of the mentioned mini-plant at the point of common coupling (PAC)
between the substation and the substation feeder. In addition, the study will present the
adjustments of the phase and neutral overcurrent protections 50 and 51 of the mini-plant
in the PAC. First, a bibliographical review will be carried out addressing the main topics
of the subject. A review of the concepts of photovoltaic solar energy, short circuit, and
the tools used to study these occurrences, such as the symmetrical components and the
bus impedance matrix, will be carried out. The ANAFAS software developed by CEPEL
will be presented, which allows the study of these short circuit events in a simplified way.
At the end, the results and conclusions about the study will be presented.

Key words: Short circuit, Protection study, ANAFAS.


Lista de Figuras
Figura 1 – Matriz elétrica brasileira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Figura 2 – Visão geral do Setor Elétrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Figura 3 – Expansão da capacidade de MMGD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
Figura 4 – Detalhamento do efeito fotovoltaico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 5 – Composição do módulo fotovoltaico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 6 – Inversores fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Figura 7 – Sistema fotovoltaico com controlador de carga . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 8 – String Box CC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 9 – Sistema off-grid . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 10 – Sistema on-grid . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Figura 11 – Componentes de sequência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 12 – Zonas de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 13 – Relé de Indução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 14 – Relé Estático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 15 – Relés digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 16 – Curva de tempo definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 17 – Curva de tempo inverso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 18 – Curva normalmente inversa, muito inversa e extremamente inversa . . . 34
Figura 19 – Interface do ANAFAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Figura 20 – Barra de elementos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 21 – Interface do EditCEPEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 22 – Sistema modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 23 – Simulação de falta trifásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 24 – Relatório de falta trifásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 25 – Simulação de falta monofásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 26 – Relatório de falta monofásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Figura 27 – Simulação de falta bifásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 28 – Relatório de falta bifásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 29 – Diagrama Unifilar da Usina Fotovoltaica . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 30 – Simulação de falta trifásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Figura 31 – Simulação de falta monofásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Lista de Abreviaturas e Siglas

ABGD Associação Brasileira de Geração Distribuída


ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABRADEE Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica
ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica
ANSI Instituto Nacional de Padronização Americano
CEPEL Centro de Pesquisa de Energia Elétrica
CRESESB Centro de Referência para as Energias Solar e Eólica Sérgio de S. Brito
CA Corrente Alternada
CC Corrente Contínua
DPS Dispositivo de Proteção contra Surtos
EPE Empresa de Pesquisa Energética
GD Geração Distribuída
IRENA Agência Internacional de Energia Renovável
MME Ministério de Minas e Energia
MMGD Micro e Minigeração Distribuída
MPPT Seguidor do Ponto de Máxima Potência
NBR Norma Técnica Brasileira
ONS Operador Nacional do Sistema Elétrico
PDE Plano Decenal de Expansão de Energia
SFV Sistema Fotovoltaico
UFV Usina Solar Fotovoltaica
Sumário
1 INTRODUÇÃO 11
1.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.2 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.4 Estrutura do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

2 ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA 15


2.1 Efeito fotovoltaico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 Componentes básicos de sistemas fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2.1 Módulos Fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2.2 Inversores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.3 Baterias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.4 Controladores de carga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2.5 Dispositivos de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3 Classificação dos sistemas fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3.1 Sistemas off-grid . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.3.2 Sistemas on-grid . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3 CURTOS-CIRCUITOS 22
3.1 Métodos para cálculo de curto-circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2 Componentes Simétricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.3 Matriz Impedância de Barras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

4 PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS 28


4.1 Relés de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
4.1.1 Relés eletromecânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.1.2 Relés estáticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.1.3 Relés digitais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2 Funções de proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.2.1 Proteções de Sobrecorrente (Funções 50 e 51) . . . . . . . . . . . . 32

5 ANAFAS 35
5.1 Apresentação do Software . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
5.2 Solução de Casos de Falta no ANAFAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
5.2.1 Falta trifásica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
5.2.2 Falta Fase-Terra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
5.2.3 Falta Fase-Fase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

6 ESTUDO DE CASO: MINI USINA FOTOVOLTAICA 41


6.1 Materiais e metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.2 Modelagem do sistema fotovoltaico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.3 Dimensionamento de proteções do curto-circuito . . . . . . . . . . . . . . . 44
6.3.1 Corrente de magnetização dos transformadores . . . . . . . . . . . 44
6.3.2 Cálculo do ponto ANSI do transformador . . . . . . . . . . . . . . . 45
6.3.3 Dimensionamento do TC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
6.3.4 Ajuste de proteção de sobrecorrente temporizada de fase (51) . . . . 47
6.3.5 Ajuste de proteção de sobrecorrente instantânea de fase (50) . . . . 47
6.3.6 Ajuste de proteção de sobrecorrente temporizada de neutro (51N) . 48
6.3.7 Ajuste de proteção de sobrecorrente instantânea de neutro (50N) . . 48
6.3.8 Coordenograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

7 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS 50

8 BIBLIOGRAFIA 51
11

1 INTRODUÇÃO
1.1 Considerações Iniciais
A matriz elétrica brasileira é formada por um conjunto de fontes de energia, entre
elas, hidráulica, eólica, nuclear, solar, etc. Todavia, apesar da diversidade, a fonte que
contribui com maior parcela, devido as fartas bacias hídricas que facilitam a exploração
desse meio de geração de eletricidade em nosso país, é a hidráulica através de grandes
usinas hidroelétricas que, geralmente, ficam afastadas dos grandes centros de consumo.
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética EPE (2021), a geração de eletricidade por
fontes hídricas corresponde a mais da metade da geração total, conforme a Figura 1.

Figura 1: Matriz elétrica brasileira

Fonte: EPE. (2022)

Como já citado anteriormente, a geração de eletricidade por hidroelétricas tem


como principal característica a geração em grande escala e distante dos grandes centros
de consumo, o que é denominado de geração centralizada. De tal modo, partindo da
geração até chegar ao usuário final, existem três blocos que compõem os sistemas elétricos
de potência: geração, transmissão e distribuição, conforme detalha a Figura 2.

Figura 2: Visão geral do Setor Elétrico

Fonte: ABRADE.
12

Nesta configuração, o fluxo de energia possui como característica o sentido uni-


direcional, partindo dos pontos de geração e percorrendo longas distâncias através das
linhas de transmissão até chegar aos centros de consumo. Assim sendo, os consumidores
participam de forma passiva do sistema, apenas recebendo energia elétrica sem nenhuma
contribuição na geração.
No entanto, na última década a configuração apresentada anteriormente tem so-
frido um alto impacto. A geração distribuída, ou geração descentralizada, tem obtido um
grande crescimento nos últimos anos, chegando a atingir, segundo a Associação Brasileira
de Geração Distribuída (ABGD) a marca de 18 gigawatts de capacidade de geração, se
consolidando como a modalidade de energia que mais cresce no Brasil. Ademais, segundo
o último caderno do Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE 2032) publicado, pela
Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a MMGD (micro e minigeração distribuída) de-
verá agregar 37GW de capacidade instalada até o final do horizonte decenal, conforme
mostra o gráfico na Figura 3, o que corresponderá a quase metade da parcela total de
geração.

Figura 3: Expansão da capacidade de MMGD

Fonte: MME/PDE 2031.

Nesse novo modelo, o consumidor possui uma maior participação no sistema elé-
trico, participando também ativamente como gerador, ou seja, a geração não mais acon-
tece apenas nas grandes unidades geradoras, mas também em ínumeros pontos com baixa
escala, o que caracteriza a geração distribuida. De tal maneira, o fluxo de potência que an-
tes tinha sentido unidirecional, passa a ter múltiplos sentidos, podendo partir de qualquer
ponto da rede.
Todavia, apesar das ínumeras vantagens oferecidas pela geração distribuída, como
redução de perdas na trasmissão e menor impacto ambiental, a sua inserção no sistema
elétrico de potência também traz alguns pontos negativos, sendo um deles o aumento sig-
nificativo da complexidade da rede, podendo acarretar alterações na operação em termos
de segurança do sistema.
De tal modo, segundo afirma Miranda e Alves (2021), com a inserção de novas
unidades GDs é inegável a importância de um novo redimensionamento da rede elétrica,
13

projetando um novo sistema de segurança que garanta a proteção adequada à nova confi-
guração da rede, sendo uma das análises necessárias para tal redimensionamnto o estudo
de curto-circuito.
Com isto, é perceptível que para dimensionamento do sistema de proteção de uma
determinada rede elétrica e parametrização dos relés associados, devem-se tomar como
referência para ajuste os valores das correntes de curto-circuito calculadas, residindo neste
fato toda a importância da disponibilização de software para cálculo das intensidades das
correntes necessárias à implementação destes estudos.

1.2 Objetivo Geral


O objetivo geral deste trabalho consiste em apresentar as proteções e ajustes ne-
cessários no ponto de conexão de uma usina fotovoltaica caracterizada como minigeração
distribuída para curto-circuito, bem como apresentar as contribuíções de corrente de curto-
circuito e influência da geração fotovoltaica na falta através de simulação computacional
no software ANAFAS.

1.3 Objetivos Específicos


• Apresentar a mudança de característica da estrutura do sistema elétrico de potência,
com a entrada da geração distribuída;

• Demostrar o princípio de funcionamento do efeito fotovoltaico e detalhar as carac-


terísticas de uma célula fotovoltaica, além de apresentar os principais equipamentos
de um sistema de geração;

• Mostrar as características, efeitos e tipos de curtos circuitos, bem como apresentar


os métodos matemáticos para determinar sua magnitude;

• Apresentar os dispositivos de proteção utilizados no sistema elétricos de potência,


bem como suas características de fucionamento;

• Apresentar uma ferramenta utilizada no estudo de proteção de sistemas elétricos de


potencia;

• Demostrar o cálculo de dimensiomaneto das proteções de curto-circuito em um


estudo de caso;

1.4 Estrutura do trabalho


O presente trabalho está dividido em sete Capítulos, organizados de forma sequen-
cial e didática.
14

O primeiro Capítulo apresenta a contextualização e a relevância do assunto abor-


dado no trabalho, explorando os principais pontos associados ao Sistema Elétrico Brasi-
leiro e a GD, de forma que são abordados temas como: cenário atual do sistema elétrico
brasileiro e da GD, além da perspectiva de crescimeno desta, apresentando algumas van-
tagens e desvantagens desse tipo de geração. Para finalizar o Capítulo são abordados os
aspectos relacionados aos estudos de curto-circuito e coordenação das proteções, anali-
sando principalmente os impactos e a relevância destes estudos para que a conexão da
minigeração distribuída fotovoltaica não provoque problemas ao sistema de distribuição,
além de apresentar o objetivo principal, os objetivos específicos e estruturação desenvol-
vida no trabalho.
No segundo Capítulo é feito uma breve introdução sobre os sistemas fotovoltaicos.
Inicialmente é detalhado o princípio de fucionamento, apresentando o efeito fotovoltaico e
a estrutura física de uma célula fotovoltaica. Em seguida é apresentado alguns componen-
tes encontrados em uma instalação geradora com essa fonte. Por último, é apresentado
algumas das principais modalidades de instalação encontradas no mercado.
Já no terceiro Capítulo, é feita uma revisão bibliográfica que inicialmente apresenta
os conceitos associados ao curto-circuito, desde os princípiais motivos que o provoca,
destacando os danos causados, bem como, por último, apresentando os métodos para
calcular seu valor de corrente.
No quarto Capítulo é apresentando, inicialmente, a filosofia das proteções elétricas
através do releamento, em seguido é exposto um pouco da evolução dos relés, dispositivo
essencial para a proteção de sistemas elétricos, bem como detalhado as características de
parametrização e atuação deste dispositivos, através das funções de proteção.
O quinto Capítulo apresenta o software ANAFAS, que será utilizada para as simula-
ções desenvolvida neste trabalho. Inicialmente, é feito uma breve introdução apresentando
as pricipais características e utilidades da ferramenta. Em seguida é efetuado algumas
simulações com variações de faltas para demostrar os resultados obtidos.
No Capítulo seis é apresentado um estudo de caso de uma UFV, apresetando
inicialmente as características dos dispositivos elétricos instalados, bem como os dados de
falta da rede da concessionária. Ato contínuo é apresentado as simulações com faltas no
ponto de conexão e por último apresentado os dimensionamentos para proteções destas
faltas.
Por último, o sétimo Capítulo traz um resumo dos trabalhos desenvolvidos neste
projeto, bem como as conclusões obtidas. Ademais, apresenta ainda trabalhos futuros
que podem ser desenvolvidos em complementação as atividades aqui e desenvolvidas.
15

2 ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA


Uma das fontes que mais tem impulsionado o crescimento da GD no Brasil, como
comentado no capítulo 1, é a Geração Solar Fotovoltaica, tal crescimento se dá devido as
melhorias contínuas da eficiência dos módulos, assim como a redução dos preços. Segundo
a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), o Brasil superou no ano de 2022
a capacidade instalada de 24 GW dessa fonte de energia, o que elevou sua colocação no
ranking mundial de energia solar fotovoltaica para a oitava posição, ficando assim, pela
primeira vez na história, entre os dez primeiros colocados.

2.1 Efeito fotovoltaico


A energia solar fotovoltaica tem seu princípio de funcionamento baseado no "efeito
fotovoltaico", descoberto pelo físico francês Alexandre Edmond Becquerel no ano de 1839.
Conforme destaca Villalva, "o efeito fotovoltaico é o fenômeno físico que permite a con-
versão direta da luz em eletricidade. Esse fenômeno ocorre quando a luz, ou a radiação
eletromagnética do Sol, incide sobre uma célula composta de materiais semicondutores
com propriedades específicas".
Conforme citado anteriormente, esse fenômeno tem sua ocorrência em materiais
semicondutores, sendo, na maioria das vezes, na industria fotovoltaica utilizado o silício,
material em abundância na natureza. O material semicondutor possui como característica
a não capacidade de conduzir corrente elétrica em seu estado normal, sendo, todavia,
possível modificar essa propriedade através da adição de materiais dopantes.
De tal forma, a célula fotovoltaica é composta pela junção de duas camadas de
silício dopadas com materiais diferentes. A primeira camada, normalmente denominada
de camada tipo N, é dopada com algum elemento que contenha cinco elétrons de ligação
em sua estrutura, uma a mais que o silício, sendo utilizado normalmente o fósforo, de tal
modo este elétron ficará em excesso e com fraca ligação ao seu átomo de origem. Já a
outra camada, denominada de tipo P, é dopada com elemento que cotenha um elétron a
menos que o silício, sendo utilizado normalmente o boro, que contém apenas três elétrons
de ligação, passando a existir lacunas nas ligações atômicas da camada.
Villalva destaca ainda que quando duas camadas de materiais P e N são colocadas
em contato, formando o que se chama junção semicondutora, ou junção PN, os elétrons
da camada N migram para a camada P e ocupam os espaços vazios das lacunas. Assim
sendo, quando ocorre essa migração dos elétrons da camada N para a camada P, origina-se
um campo elétrico na junção PN que dificulta a passagem de mais elétrons do lado N
para o lado P, "este processo alcança um equilíbrio quando o campo elétrico forma uma
barreira capaz de barrar os elétrons livres remanescentes no lado N"(CRESESB).
Quando fótons com determinada capacidade de energia incidem sobre a camada N
penetrando até a junção das camadas, estes descarregam sua energia sobre os elétrons da
16

junção P, fazendo com que eles tenham energia suficiente para superar o campo elétrico
da junção e acelerando para o lado N, conforme detalha a Figura 4.

Figura 4: Detalhamento do efeito fotovoltaico

Fonte: CRESESB

Assim, Se as duas extremidades da célula de silício forem conectadas por um fio,


haverá uma circulação de elétrons, ou seja, uma corrente elétrica.

2.2 Componentes básicos de sistemas fotovoltaicos


2.2.1 Módulos Fotovoltaicos

Uma célula fotovoltaica tem capacidade de gerar apenas algumas unidades de cor-
rente elétrica, bem como valores unitários de tensão, não sendo capaz, portanto, de forma
individual, de produzir potência em valores ideais para aplicações residênciais ou indus-
triais. Assim sendo, as células fotovoltaicas são agrupadas em associações série e paralelo
para produzir corrente e tensão adequadas às aplicações elétricas a que se destinam. De
tal modo, o encapsulamento total de um conjunto de células denomina-se módulo foto-
voltaico. O encapsulamento é realizado com materiais especiais, de forma a proporcionar
a necessária proteção contra possíveis danos externos, conforme mostra a Figura 5.

Figura 5: Composição do módulo fotovoltaico

Fonte: BLUESOL
17

Os módulos podem possuir diversos tamanhos físicos, além de variar suas carac-
terísticas de flexibilidade podendo ser módulos fixos, os mais tradicionais, e flexíveis que
surgem de tecnologias de filmes finos. Ainda mais, existe também variações nas caracterís-
ticas elétricas dos módulos como a potência nominal, tensão de circuito aberto e corrente
de curto circuito, entre outras características que sempre são fornecidas na folha de dados
fornecida pelo fabricante do dispositivo.

2.2.2 Inversores

A corrente elétrica gerada nos módulos fotovoltaicos possuem característica con-


tínua, todavia, a maior parte dos equipamentos elétricos em geral são fabricados para
trabalhar em corrente alternada. Assim sendo, para alimentar esses aparelhos com um
sistema fotovoltaico é necessário a presença de um conversor de corrente contínua para
corrente alternada, conhecido popularente como inversor.
Os inversores são dispositivos estáticos, ou seja, sem partes móveis, e possue seu
príncipio de funcionamento em circuitos eletrônicos compostos por transístores que inter-
rompem ou permitem a circulação da corrente elétrica de acordo com seu estado ligado e
desligado. Ademais, cabe ressaltar que os inversores possuem variações em suas caracte-
rísticas elétricas dependendo do formato de conexão do sistema fotovoltaico podendo ser
conectado a rede ou isolado, conforme será detalhado no próximo subitem. Na Figura 6
é mostrado os dois modelos de inversores de fabricantes do mercado.

Figura 6: Inversores fotovoltaicos

Fonte: energyshop.

Por último, a escolha de um inversor passa ainda pelos seus parâmetros elétricos,
como potência de entrada, potência de saída, corrente máxima de entrada, corrente má-
xima de saída, tensão de entrada, tensão de saída, quantidade de MPPT, entre outras
variáveis.

2.2.3 Baterias

Conforme destaca Galdino e Pinho, em sistemas fotovoltaicos isolados da rede


elétrica, o uso de dispositivos de armazenamento de energia faz-se necessário para atender
18

a demanda em períodos nos quais a geração é nula ou insuficiente, como à noite ou em


dias, com baixos níveis de irradiância solar.
Uma bateria é um conjunto de células ou vasos eletroquímicos, conectados em série
e/ou em paralelo, capazes de armazenar energia elétrica na forma de energia química
por meio de um processo eletroquímico de oxidação e redução (redox) que ocorre em
seu interior. Quando uma bateria carregada é conectada a uma carga elétrica, ocorre o
processo reverso, ou seja, uma corrente contínua é produzida pela conversão de energia
química em energia elétrica.
As baterias para uso fotovoltaico costumam ser de chumbo-ácido ou de níquel-
cadmio. Por fim, as baterias também podem ser agrupadas, formando os bancos de
baterias, podendo esta associação ser em série, permitindo obter tensões maiores, ou em
paralelo, podendo fornecer uma corrente mais elevada para os circuitos.

2.2.4 Controladores de carga

O controlaldor de carga é o equipamento responsável por preservar a vida útil das


baterias estacionárias, protegendo-as dos efeitos da sobrecarga ou descarga abrupta. Esse
componente também é responsável por tornar o armazenamento da energia excedente
mais eficiente, diminuindo perdas energéticas.
Villalva afirma que os sistemas fotovoltaicos com baterias devem obrigatoriamente
empregar um controlador de carga. De acordo à forma como controlam a carga do banco
de baterias, os controladores podem ser classificados em: controladores série, controladores
shunt ou controladores com MPPT. De tal modo, ao projetar um sistema com contro-
lador de carga, algumas características devem ser consideradas no projeto,como tensão
nominal do sistema fotovoltaico, corrente de curto-circuito do arranjo e corrente de saída
do disposítivo. A figura 7 apresenta o formato de conexão de um sistema fotovoltaico com
controlador de carga.

Figura 7: Sistema fotovoltaico com controlador de carga

Fonte: Neosolar.
19

2.2.5 Dispositivos de proteção

A segurança em qualquer instalação elétrica é o fator mais importante, para garan-


tir tal segurança existem os dispositivos de proteção, sendo eles responsáveis por proteger a
instalação contra surtos de tensão, sobrecorrentes,entre outras causas. Assim, para garan-
tir a segurança e a proteção de um SFV é necessário ter todos os dispositivos de proteção
dimensionados e instalados da maneira correta, seguindo assim as exigências de normas
técnicas da área, como as normas ABNT NBR 5410:2004, ABNT NBR 16690:2019, ABNT
NBR 16149:2013 e a ABNT NBR 5419:2015.
Estes dispositivos são dispostos de duas formas no SFV, na parte de corrente
contínua, onde estão contidos dentro da String Box, e na parte de corrente alternada,
estes por sua vez ficam no Quadro CA. Entre os dispositivos de proteção que atuam na
corrente contínua podemos citar as chaves seccionadoras, disjuntores de corrente contínua,
dispositivos de proteção contra surtos de corrente contínua (DPS CC), fusíveis, entre
outros, conforme apresenta a Figura 8. Para a parte de corrente alternada os mais comuns
são os disjuntores de corrente alternada, dispositivos de proteção contra surtos de corrente
alternada (DPS CA).

Figura 8: String Box CC

Fonte: Enersolar.

2.3 Classificação dos sistemas fotovoltaicos


Os sistemas fotovoltaicos podem ser classificados em duas categorias principais:
isolados e conectados à rede. Em ambos os casos, podem operar a partir apenas da fonte
fotovoltaica ou combinados com uma ou mais fontes de energia.

2.3.1 Sistemas off-grid

O sistema de geração solar fotovoltaico off-grid ou isolado é aquele que não é conec-
tado à rede elétrica de distribuição. Por esta especificação, necessita armazenar energia
20

para períodos onde a irradiação solar não é suficiente para alimentar as cargas sem que
haja falha na operação do sistema. Para tanto, utiliza bancos de baterias estacionárias.
Além das baterias, este modelo requer o uso do controlador de carga e inversor de ten-
são CC-CA para alimentar as cargas de corrente alternada. A Figura 9 exemplifica, de
maneira simplificada, um sistema isolado.

Figura 9: Sistema off-grid

Fonte: Minha Casa Solar.

Este sistema é ideal para lugares remotos, que não têm acesso à alimentação elétrica
por outras vias, como, por exemplo, estações de monitoramento, sistemas de telecomunica-
ções, entre outras. Segundo Melo, embora seja uma opção aplicável em algumas situações,
ela se apresenta mais onerosa do que o modo grid-tie, tendo em vista que, além do custo
associado aos controladores de carga, a necessidade de baterias estacionárias torna o con-
junto gerador mais caro em seu custo inicial e, posteriormente, na manutenção, uma vez
que as baterias utilizadas têm vida útil entre 4 e 5 anos.

2.3.2 Sistemas on-grid

Geradores solares fotovoltaicos on-grid, também chamados por alguns escritores de


grid-tie, são aqueles que possuem conexão com a rede de distribuição da concessionária.
Diferentemente do off-grid, este modelo dispensa a necessidade de armazenamento de
energia e seu objetivo principal é mitigar custos de energia elétrica e/ou criar um saldo
positivo junto à concessionária, tendo a garantia de fornecimento de energia da rede
pública caso as condições de irradiação solar não sejam favoráveis.
Este modelo de geração difere do anterior pela ausência de baterias e controladores
de carga. O inversor CC-CA (Corrente Contínua para Corrente Alternada) é específico
para esta finalidade, contendo algumas propriedades importantes como sistemas anti-
ilhamento e de sicronismo elétrico com a rede de conexão. A Figura 10 mostra um
exemplo de sistema gerador on-grid.
21

Figura 10: Sistema on-grid

Fonte: Minha Casa Solar.

Por não precisar de armazenamento de energia no local de geração, sendo utilizado


a rede elétrica para injetar o excedente, os sistemas on-grid também costumam ter um
valor de investimento menor, ainda mais, reduz os custos e mão de obra com manutenções.
Tendo em vista estes benefícios, bem como a adoção de Leis e resoluções dos setores
responsáveis pela regulação, tem tornado essa modalidade a mais utilizada na últimas
década.
22

3 CURTOS-CIRCUITOS
A ocorrência do curto circuito surge quando dois pontos de potenciais diferentes,
por contato direto ou por ruptura do dielétrico do meio, proporcionam um caminho para
a passagem de corrente elétrica com resistência desprezível. Mamede Filho (2017) afirma
que se não forem limitados no seu módulo e no tempo, danificam os componentes elétricos
por meio dos quais são conduzidos. Nestes casos são necessárias ações que previnam
e/ou corrijam em tempo hábil para sanar ou limitar as consequências desses distúrbios.
“A magnitude da corrente de curto-circuito depende de vários fatores, tais como: tipo
de curto-circuito, capacidade do sistema de geração, topologia da rede elétrica, tipo de
aterramento do neutro dos equipamentos etc.” (SATO E WALMIR, 2015). Decourt (2007)
destaca que os principais motivos são:

• Dano mecânico – quebra de isoladores, quebra de suportes, queda de poste;

• Uso abusivo – exigir de um equipamento potência maior que a nominal, provocando


uma deterioração rápida da isolação, fazendo esta trabalhar a uma temperatura
mais alta que a de projeto;

• Umidade – isolantes porosos (orgânicos e inorgânicos) apresentam uma redução


rápida da sua rigidez quando absorvem umidade;

• Descargas parciais – as isolações sólidas sempre apresentam alguns vazios em seu


interior, e sob ação do campo elétrico, surgem nesses espaços descargas que por
vários mecanismos (erosão, corrosão) vão lentamente reduzindo a rigidez dielétrica
até sua perfuração;

• Sobretensões – as de manobra ou internas ocorrem quando se efetua um desliga-


mento (voluntário ou provocado) ou um ligamento de um circuito, enquanto as
atmosféricas surgem nos condutores de um circuito quando cai um raio nas proxi-
midades ou diretamente nas linhas do circuito

Os principais fenômenos que ocorrem durante o curto-circuito são: Sobrecorrente,


Subtensão na(s) fase(s) sob falta, Aumento do ângulo da corrente de curto, para sistemas
solidamente aterrados; Variação da frequência – Ocorre somente em sistemas que operam
com geração própria desconectados da concessionária; Aumento da tensão nas outras
duas fases sãs para curtos circuitos fase-terra em sistemas aterrados por impedância;
Sobretensões transitórias em sistemas não aterrados; Esforços térmicos nos equipamentos;
Esforços dinâmicos nos equipamentos; Esforços de interrupção.
O curto-circuito pode ser classificado em:

• Monofásico: Ocorre quando uma fase entra em contato direto com a terra, ou através
de algum meio condutor com resistência desprezível. Esta é a falta que ocorre
23

com maior frequência, conforme estudos cerca de 70%, e se caracteriza por ser
assimétrico, ou seja, desequilibrado.

• Bifásico: Pode acontecer quando a uma passagem de corrente direta entre duas fases,
somente, sendo chamado fase-fase, ou entre duas fases e a terra, fase-fase-terra. Esta
falta representa cerca de 25% e, assim como o curto monofásico, se caracteriza por
ser desequilibrada.

• Trifásico: Ocorre quando a um contato permitindo a passagem direta da corrente


entre as três fases de forma simultânea, ou seja, as três fases são igualmente solici-
tadas. Neste caso, temos uma falta equilibrada, isto é, simétrica. No entanto, este
possui a menor ocorrência nos sistemas elétricos, representando cerca de 5%.

3.1 Métodos para cálculo de curto-circuito


O cálculo de Curtos-circuitos de sistemas trifásicos equilibrados, pode ser feito
através de aplicação direta das Leis de Kirchhoff, bastante conhecidas e aplicadas nos
estudos de circuitos elétricos equilibrados. No entanto, torna-se inviável a aplicação das
referidas ferramentas citadas anteriormente quando o sistema analisado é desequilibrado,
sendo necessário a utilização de outras abstrações matemáticas especificas para a resolução
do problema.
Para estudos de circuitos elétricos desequilibrados, as ferramentas mais praticáveis
são componentes simétricas e matriz impedância de barras. O primeiro método usa de
artifícios matemáticos para simplificar o problema, usando como metodologia a transfor-
mação de um circuito desequilibrado com n fases em n circuitos equilibrados, tornando
viável a utilização de ferramentas comuns em estudos de circuitos monofásicos. A segunda
solução, como seu nome explicita, busca construir matrizes com as variáveis do problema,
o que torna mais viável para obter a solução do ponto de vista computacional, sendo esta
ferramenta bastante adaptável para aplicabilidade em softwares de estudos da área.

3.2 Componentes Simétricas


Como já citado anteriormente, a ocorrência de curto circuito em sistemas elétricos
de potência pode gerar o desbalanceamento do circuito. Neste sentido, sem a utiliza-
ção de ferramentas adequadas, torna-se bastante difícil obter resposta de forma analítica
em estudos. Segundo Geraldo Kinderman (1997), inicialmente “os estudos e análises de
comportamento dos sistemas às diversas solicitações e ocorrências eram feitas em réplicas
miniaturizadas”, ressalta ainda as dificuldades muitas vezes encontradas na metodologia.
À vista disso, em 1915, Dr. Charles LeGeyt Fortescue desenvolveu a teoria de com-
ponentes simétricas, também conhecido como Teorema de Fortescue. Em seu artigo, Dr.
Charles afirmou que um sistema com n fasores desequilibrados podem ser representados
24

por n sistemas com fasores equilibrados. A equação 1 mostra a expressão analítica para
um sistema desequilibrado com n fases.

Va = Va0 + Va1 + Va2 + Va3 + · · · + Van−1


Vb = Vb0 + Vb1 + Vb2 + Vb3 + · · · + Vbn−1
Vc = Vc0 + Vc1 + Vc2 + Vc3 + · · · + Vcn−1 (1)
.. .. ..
. . .
Vn = Vn0 + Vn1 + Vn2 + Vn3 + · · · + Vnn−1
Apesar do Teorema de Fortescue ser válida para qualquer quantidade de fases,
devido os sistemas elétricos serem em sua maioria trifásicos, é comum adotar a formulação
para tal quantidade de fases, conforme equação 2.

Va = Va0 + Va1 + Va2


Vb = Vb0 + Vb1 + Vb2 (2)
Vc = Vc0 + Vc1 + Vc2
A partir da equação 2, podemos afirmar que um sistema trifásico desbalanceado,
pode ser decomposto em três sistemas de três fasores balanceados. Estes fasores são
chamados de componentes simétricas de sequencias positiva, negativa e zero, com as
seguintes características:

• Sequência Positiva: Conjunto de 3 fasores de mesmo módulo e defasagem entre si


de 120◦ . Neste caso a frequência e a sequência segue os mesmos do sistema original;

• Sequência Negativa: Conjunto de 3 fasores de mesmo módulo e defasagem entre si


de 120◦ . A velocidade síncrona do sistema segue igual ao sistema original desbalan-
ceado, no entanto, neste caso a sequência dos fasores segue a ordem contrária;

• Sequência Zero: Conjunto de 3 fasores de mesmo módulo e fase. A frequência e a


sequência dos fasores segue os mesmos do sistema original.

A partir dessas características apresentadas anteriormente para as componentes de


sequência, é possivelmente representá-las graficamente, conforme a Figura 11.

Figura 11: Componentes de sequência

Fonte: Glover e et al. (2012).


25

Seguindo o teorema de Fortescue, onde afirma que as sequências são equilibradas,


ou seja, possuem vetores de mesmo módulo, bem como as sequências positiva e negativa
possuem defasagem entre vetores de mesmo valor; é de praxe em estudos de componentes
simétricas a utilização do operador a,também chamado por vetor operacional, sendo um
número complexo de magnitude unitária e fase de 120◦ , conforme mostra a equação 3.

a = 1 120◦ (3)

Com este operador podemos reescrever a equação 2 em função apenas das compo-
nentes equilibradas que compoem o vetor Va do sistema original, conforme mostra equação
4:

Va = Va0 + Va1 + Va2


Vb = Va0 + a2 Va1 + aVa2 (4)
Vc = Va0 + aVa1 + a2 Va2
Neste sentido, todas as componentes das demais fases, ficaram em função das
componetes da fase a, ou seja, Va0 , Va1 e Va2 . Nesta senda, sendo possível trabalhar
apenas com essas componentes, pode-se suprimir o índice a, ficando as componentes
representadas por V0 , V1 e V2 .
Com isso, reescreendo a equação 4, temos que:

Va = V0 + V1 + V2
Vb = V0 + a2 V1 + aV2 (5)
Vc = V0 + aV1 + a2 V2
A equação 4 pode ser representada matricilmente por:
    
Va 1 1 1 V0
2
 Vb  = 1 a a  V1  (6)
    

Vc 1 a a2 V2
Assim temos o vetor das tensões de fase, Vp , o vetor das tensões de sequência, Vs ,
e a matriz de transformação A:
 
Va
Vp =  Vb  (7)
 

Vc
 
V0
Vs = V1  (8)
 

V2
26

 
1 1 1
A = 1 a2 a  (9)
 

1 a a2
Com isso, podemos dizer que:

Vp = AVs (10)

Para acharmos as componentes de sequência, é necessário isolar o vetor Vs , sendo


necessário para isso utilizar a inversa da matriz de transformação, A.

Vs = A−1 Vp (11)

Sendo A−1 , igual a:


 
1 1 1
1
A−1 = 1 a a2  (12)

3
1 a2 a
Podemos dizer que:
    
V0 1 1 1 Va
  1 2
V1  = 1 a a   Vb  (13)
 
3
V2 1 a2 a Vc
Com isso, concluimos que:

V0 = 31 (Va + Vb + Vc )
V1 = 13 (Va + aVb + a2 Vc ) (14)
V2 = 31 (Va + a2 Vb + aVc )
Com a equação 14, conseguimos calcular as componentes de sequência positiva,
negativa e zero, de um sistema desequilibrado. Posto isso, sendo as componentes de
sequência equilibradas, como afirmado anteriormente no tópico 2.1, podemos aplicar as
Leis de Kirchhoff para resolução do problema.
A fundamentação matemática anteriormente mostrada, foi desenvolvida em função
da tensão. No entanto, o Teorema de Fortescue é igualmente válido também para a
corrente elétrica:

I0 = 13 (Ia + Ib + Ic )
I1 = 13 (Ia + aIb + a2 Ic ) (15)
I2 = 13 (Ia + a2 Ib + aIc )
27

3.3 Matriz Impedância de Barras


Em sistemas de grandes dimesões, caso uma barra sofra uma falta em que leve sua
tensão para próximo de zero, todas as barras vizinhas, que tenham conexão com a barra
faltosa, tendem a ter reduções de tensão também. Com isso, uma falta em uma barra de
um grande sistema, tende a provocar variações em todo o sistema.
Assim sendo, para análise de falhas nesses sistemas, geralmente se implementa com
a utilização de alguma ferramenta computacional adequada. Mariani afirma que, caso se
opte por utilizar uma ferramenta computacional que não utilize métodos iterativos, se
obteria um esforço computacional muito grande.
Uma saída para efetuar tal análise de forma eficiente é usar métodos matriciais
baseado na montagem da matriz de impedâncias de um sistema. Decourt destaca que “a
matriz Zbarra tem como principal objetivo representar a rede elétrica de corrente alternada
em regime permanente senoidal para utilização computacional eficiente em avaliações do
perfil de tensões na rede e das correntes durante condições de curto-circuito”.
Para construção da Zbarra , primeiro define-se uma barra de referência, e partir de
então se obtem as impedâncias própria de cada barra com relação a barra de referência,
bem como as impedâncias de transferência, também em relação a barra de referência.
Assim sendo, a matriz Zbarra de um sistema será uma matriz de dimensões n × n A
matriz Zbarra , segundo Neumann, pode ser obtida através da da matriz de admitância
Ybarra . Assim sendo, A equação de um sistema de n barras pode ser representada na
forma matricial abaixo:
    
I1 Y11 Y12 · · · Y1i · · · Y1n V1
    
 I2   Y21 Y22 · · · Y2i · · · Y2n   V2 
 
 ..   .. .. .. .. .. ..   .. 
  
.  . . . . . . 
 .  (16)
 
 =
I  Y
 i   i1 Yi2 · · · Yii · · · Yin  

 Vi 

.  . .. .. .. . 
 ..   .. ..
. ..   .. 

   . . .  . 
In Yn1 Yn2 · · · Yni · · · Ynn Vn
A matriz de admitância, Ybarra , pode ser montada através de uma simples inspeção
do sistema elétrico. Invertendo essa matriz obtém-se a matriz barra Z necessária para o
cálculo de curto-circuito utilizando o método da matriz Z.
28

4 PROTEÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS


Manter a continuidade do fornecimento de energia, é um dos objetivos principais
do sistema elétrico de potência, assim como a segurança e qualidade da energia. Por
isso é essencial os estudos, projetos e instalações das técnicas de proteção para que seja
garantido tais características.
Em um estudo de de proteção deve ser levado em consideração alguns fatores como
características elétrica, econômicas e físicas.
Caminha afirma que há dois princípios gerais a serem obedecidos, em sequência:

• Em nenhum caso a proteção deve dar ordens, se não existe defeito na sua zona de
controle;

• Se existe defeito nessa zona, as ordens deve corresponder exatamente aquilo que se
espera, considerada que seja a forma, intensidade e localização do defeito.

Assim sendo, esta proteção é normalmente efetuada por releamento. Dessa forma,
podemos dizer que o relé tem como função principal promover uma rápida retirada de
alguma parte parte do sistema em caso de alguma falta, evitando que a mesma avance
para o todo; bem como atua também, na função de indicar localização e tipo da falha,
aumentado a rapidez e eficiência na tomada de decisão para soluções das faltas do sistema.
Para que taís princípios gerais sejam obedecidos, e o sistema de proteção dese-
volva sua função conforme o esperado, Caminha (1977) define ainda alguns principios
fundamentais: releamento primário, releamento de retaguarda e releamento auxiliar.

• Releamento primário: ao redor de cada elemento do sistema é definido uma zona


de proteção, a qual será a primeira a atuar, se houver alguma falha dentro da zona
estabelecida;

• Proteção retaguarda: atua na falha da proteção principal

• Proteção auxiliar: é um multiplicador de contatos, utilizados como temporizador e


alarmes, auxiliando a proteção principal e retaguarda;

Para um bom fucionamento da proteção através de releamento estes devem ter


algumas características fucionais que são essenciais, como sensibilidade, seletividade, ve-
locidade e confiabilidade. Na Figura 12 é mostrado as zonas de proteção.
29

Figura 12: Zonas de proteção

Fonte: Caminha. (1977).

4.1 Relés de proteção


O relé de proteção é um dispositivo elétrico destinado a produzir modificações
súbitas e predeterminadas em um ou mais circuitos elétricos de saídas, quando alcançadas
determinadas condições no circuito de entrada, que é o que controla o dispositivo. Tais
condições variam conforme as caracteriticas do relé, ou funções de proteção, que podem
ser sobrecorrente, diferencial, distância, sobrecarga etc., dentro dos limites dos esquemas
de proteção e coordenação.
Segundo Mamede Filho e Mamede (2011), o primeiro relé de proteção foi um
dispositivo eletromecânico de proteção de sobrecorrente que surgiu em 1901. Sete anos
depois foi produzido o primeiro relé de proteção diferencial de corrente e dois anos após
30

a proteção diferencial foi desenvolvida a proteção direcional. A proteção de distância foi


desenvolvida em 1930.
Na década de 1930 surgiram os primeiros relés de proteção com tecnologia à base
de componentes eletrônicos, utilizando semicondutores. Na década de 1980, com o de-
senvolvimento acelerado da microeletrônica, surgiram as primeiras unidades de proteção
utilizando a tecnologia digital (MAMEDE FILHO; MAMEDE, 2011). Com o surgimento
e evolução dos relés digitais, o grau de sofisticação e confiabilidade do sistema de prote-
ção aumentou. Os relés eletromecânicos passaram a ser considerados inferiores aos relés
digitais, visto que esses possuem melhorias na sua funcionalidade, devido à tecnologia
microprocessada incorporada e ao seu funcionamento baseado em softwares (ALSTOM
GRID, 2011). Os softwares e lógicas de programação têm evoluído constantemente, tor-
nando os relés digitais cada vez mais desenvolvidos, fazendo com que os relés mais antigos
sejam substituídos aos poucos.

4.1.1 Relés eletromecânicos

Os relés eletromecanicos foram os primeiros utilizados na proteção de sistemas


elétricos, com mais de um século em atuação. Estes são compostos por bobinas, disco de
indução, molas, além de contatos fixos e móveis. De tal modo, a proteção é feita abrindo
e fechando os contatos existentes, através da movimentação do disco de indução, este
movimento por sua vez é estimulado quando o disco é submetido a um fluxo magnético
produzido pela passagem de uma corrente de estímulo pela bobina, conforme exemplifica
a Figura 13.

Figura 13: Relé de Indução

Fonte: Caminha. (1977).

Segundo afirma Rufato Junior (2006), apesar de não serem mais fabricados, os relés
eletromecânicos ainda são encontrados como tecnologia legacy nos esquemas de proteção
para consumidores industriais e residenciais das companhias de eletricidade no Brasil.
Devido o seu principio de funcionamento ser mecânico, o que denota o termo que
o caracteriza "eletromecânico", esse modelo de relé possui a desvantagem de ser pesado e
31

volumoso, ainda mais, esses dispositivos também apresenta como desvantagem o fato de
possuir apenas uma única função de proteção por relé, fazendo-se necessários muitos relés
para criar um esquema de proteção confiável.

4.1.2 Relés estáticos

O relé estático começou a ser inserido nas proteções de sistemas elétricos de potên-
cia a partir de 1960, logo após a invenção e aperfeiçoamento dos transistores, componente
que faz parte da estrutura deste relé. O termo estático origina-se da característica de
construção desse relé que não tem nenhuma parte móvel, conforme mostra a Figura 14,
ao contrário dos relés eletromecânicos (KINDERMANN, 2005).

Figura 14: Relé Estático

Fonte: Goés. (2013).

O fato de ter seu principio de funcionamento em materiais de estado sólido e não


conter partes móveis, faz a atuação deste relé possuir uma velocidade maior, comparado
ao relé eletromecânico, assim como o dá uma melhor sensibilidade de atução, caracteri-
zando algumas de suas vantagens em relação ao modelo anterior. Todavia, Devido à alta
sensibilidade dos componentes eletrônicos, os primeiros relés ocasionavam várias atuações
indevidas, pequenos harmônicos ou transitórios que são comuns em operações do sistema
eram o suficiente para ativar o equipamento de proteção (COTOSCK, 2007).

4.1.3 Relés digitais

Assim como a invenção e e evolução dos transistores foram fundamentais para a


implementação dos relés estáticos, a evolução da tecnologia digital e computacional com o
surgimento dos microprocessadores e microcontroladores tambem tiveram grande impacto
32

na revolução do cenário das proteções elétricas com a implementação dos relés digitais.
A Figura 15 mostra a inteface de alguns relés digitais comerciais.

Figura 15: Relés digitais

Fonte: Comprove engenharia.

Esses dispositivos de proteção apresentam muitas vantagens devido a flexibilidade


dos microprocessadores, que permitem um mesmo relé executar várias funções, como:
comunicação remota interna, controle, maior faixa de ajuste de parâmetros, medidas
elétricas e proteções auxiliares.

4.2 Funções de proteção


Como já citado ateriormente, uma das vantagens dos relés digitais, modelo mais
utilizados atualmente, é sua capacidade de exercer mais de uma função predeterminada
simultaneamente, as chamadas "Funções de Proteção". Essas funções são padrozinadas
pela American National Standards Institute (ANSI), a qual estabeleceu um código numé-
rico para cada uma, facilitando a identificação e padrinização dos projetos de proteção.

4.2.1 Proteções de Sobrecorrente (Funções 50 e 51)

O relé de sobrecorrente tem como grandeza de atuação a corrente elétrica do sis-


tema no qual está conectado. O relé irá atuar quando a corrente do circuito atingir
um valor igual ou superior ao valor de ajuste (corrente de pick-up) determinado. Ao
ultrapassar a corrente de ajuste, o relé pode atuar instantaneamente ou temporizado.
Dependendo do tempo de operação, o relé de sobrecorrente pode ser categorizado
nos tipos:

• Relé de sobrecorrente instantâneo: o tempo de fechamento dos contatos do relé é


praticamente instantâneo a partir da do momento que a corrente ultrapassa o valor
permitido.
33

• Relé de sobrecorrente temporizado: uma temporização intencional é introduzida no


relé, impedindo a sua atuação antes de um tempo pré-determinado.

A codificação ANSI dada aos relés de sobrecorrente instantâneos é 50 e para os


temporizados 51. Adiciona-se a letra "N"após o número para mostrar que o equipamento
será aplicado ao neutro do sistema e "G"quando aplicado no terra do sistema.
Os relés de sobrecorrente instantâneos tem o tempo de atuação da proteção prati-
camente instantâneo a partir da sensibilização do relé, tendo como atraso apenas o tempo
de operação do próprio dispositivo. Já o relé de sobrecorrente temporizado podem ter
curvas onde a proteção atua em um intervalo de tempo predefinido a partir da sensibi-
lização do relé, independente da variação de amplitude da corrente, sendo as curvas de
tempo definido; conforme mostrado na Figura 16.

Figura 16: Curva de tempo definido

Fonte: Miranda e Alves. (2021).

O relé de sobrecorrente temporizado tabém pode ter curvas onde, à medida que se
aumenta a corrente que circula pelo relé depois que ele sensibilizou, menor será o tempo
de atuação da proteção, sendo as curvas de tempo inverso, conforme mostra a Figura 17.

Figura 17: Curva de tempo inverso

Fonte: Miranda e Alves. (2021).


34

As curvas de tempo inverso podem ainda adotar outras três caractrísticas, as quais
são: normalmente inversa (NI), muito inversa (MI) ou extremamente inversa (EI), a
Figura 18 apresenta essas três configurações.

Figura 18: Curva normalmente inversa, muito inversa e extremamente inversa

Fonte: Miranda e Alves. (2021).

É possível percepcionar, em observação a Figura 11, que para valores de corrente


menores, a curva normal inversa possui um tempo de operação menor se comparado as
outras duas curvas. Já em casos de valores de correntes superiores, a curva extremamente
inversa possui um tempo de operação muito menor que o das outras duas curvas.
35

5 ANAFAS
5.1 Apresentação do Software
Segundo o Centro de Pesquisa de Energia Elétrica (CEPEL), o ANAFAS é um pro-
grama para cálculo de curtos-circuitos que permite a execução individual ou sequencial de
grande variedade de situações de faltas em sistemas de potência. Conforme afirma Mari-
ano (2017), esse software é utilizado por empresas do grupo Eletrobras, pelo Operador Na-
cional do Sistema Elétrico (ONS), pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que é vin-
culada ao Ministério de Minas e Energia, Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)
e empresas concessionárias que operam redes de transmissão ou sub-transmissão.
O manual do software destaca que são possíveis três tipos de estudos de curto-
circuito: EStudo individual, Estudo macro e Estudo de Superação de Disjuntores. Neste
trabalho será utilizado apenas o Estudo Macro, onde pode-se obter como resultado de
uma falta aplicada e um ponto todas as correntes que circulam no sistema durante o
curto-circuito.
Neste trabalho será utilizado a versão 7.5.0 do software, na versão educacional, que
possui limitações na quantidade de barras inseridas na simulação. Todavia, tal limitação
não causará impacto neste projeto tendo em vista que tal limite não será alcançado. Ao
acessar a ferramenta pela primeira vez o usuário se depara com a interface mostrada na
Figura 19.

Figura 19: Interface do ANAFAS

Fonte: Do autor.
36

A área de trabalho é a parte destinada a abrigar a representação do diagrama do


sistema que será estudado. Nas barras de menus e ferramentas encontram-se todas as
opções necessárias para a construção de diagramas e a simulação destes.
O Anafás é uma ferramenta que apresenta uma grande variedade de situações de
faltas em sistemas de potência. Este trabalho não tem como objetivo esgotar todas as
possibilidades de simulações no software. De tal modo, será apresentado a seguir apenas os
elementos essenciais para o desenvolvimento das simulações desenvolvidas neste projeto.
Para adicionar os elementos da simulação como gerador, transformadores, barras,
etc, usuário deve utilizar a opção Inserir ou desenhar elemento, ou utilizar o atalho F9
do teclado. Ao selecionar tal opção surgirá na tela uma lista com os elementos, conforme
mostra a Figura 20.

Figura 20: Barra de elementos

Fonte: Do autor.

Para adicionar um determinado item a área da simulação é necessário primeiro


selecionar o elemento desejado na Lista e em seguida efetuar um clique simples na área
de simulação para posiciona-lo. Por último, deve-se efetuar um duplo clique sobre o
elemento onde abrirá um popup com campos de preenchimento específicos conforme as
características do elemento.
Para salvar a simulação desenvolvida, deve-se salvar o dois arquivos, um com a
extensão .ANA, onde onde ficará registrado as informações pertinentes ao algorítmo que
calculará as informações, e o outro arquivo deve ser salvo com a extensão .LST, onde ficará
armazenado a parte gráfica do diagrama unifilar simulado. Vale ressaltar a importância
em salvar os dois arquivos com o mesmo nome e pasta, neste caso, ao abrir o arquivo com
.ANA no software, ele buscara automaticamente o arquivo gráfico do diagrama referente
a simulação.
O arquivo com as informações pode ainda ser aberto individualmente através do
software EditCEPEL, sofwtare auxiliar desenvolvido também pelo Centro de PEsquisa de
Energia Elétrica, conforme mostra a Figura 21.
O editor permite fazer alterações nas informações cadastradas de cada equipa-
mento manualmente, e em alguns casos se torna necessário sua utilização para efetuar
determinadas alterações que o ANAFAS não permite através da interface gráfia, como
por exemplo alterar a potência base da simulação para valores diferentes de 100MVA, que
é o valor padronizado da ferramenta.
37

Figura 21: Interface do EditCEPEL

Fonte: Do autor.

Após montado o diagrama na ferramenta, é possível executar a simulação simu-


lando as faltas. De tal modo, o software apresenta o resultado na área de simulação, bem
como gera um relatório com dados sobre as tensões e correntes de curto e sobre as tensões
e correnetes de contribuição.

5.2 Solução de Casos de Falta no ANAFAS


Para melhor entendimento do sofwtare e das simulações de curto-circuito, será
utilizado simulações simplificadas de faltas trifásicas, bifásicas e monofásicas, com base
no modelo mostrado na Figura 22.

Figura 22: Sistema modelo

Fonte: Do autor.
38

Cabe ressaltar que, nas simulações efetuadas no software ele considera automatica-
mente as reatâncias de sequência negativa iguais as de sequência positiva, de tal tal valor
já foi igualado no modelo anteior para efeitos de simplificação do modelo de estudo.

5.2.1 Falta trifásica

Após o curto-circuito entre os pontos trifásicos sólidos envolvendo a barra "C",


obtem-se o diagrama unifilar representado pela Figura 23, onde são mostrados a correntes
e tensões de curto na barra envolvida e as correntes e tensões de contribuição do sistema.

Figura 23: Simulação de falta trifásica

Fonte: Do autor.

Na Figura 24 é apresentado o relátorio gerado na falta simulada. É possível obser-


var que as correntes de falta das três fases (A, B e C) possuem o mesmo módulo, assim
como apresentam uma defasagem de 120◦ entre sí, registrando o que foi afirmado no Ca-
pítulo 2 deste trabalho, onde foi afirmado que a falta trífásica é a única equilibrada, ou
seja, simétrica.

Figura 24: Relatório de falta trifásica

Fonte: Do autor.
39

5.2.2 Falta Fase-Terra

Na Figura 25 é possível ver o curto-circuito fase terra do sistema obtido no ANA-


FAS, onde também estão mostradas as correntes e tensões de curto na barra envolvida e
as correntes e tensões de contribuição do sistema.

Figura 25: Simulação de falta monofásica

Fonte: Do autor.

Na Figura 26 é apresentado o relátorio gerado na falta simulada. É possível obser-


var que, por ser um curto-circuito monofásico, existe corrente apenas na fase A, enquanto
que os módulos de corrente nas outras duas fases são nulos, comprovando a assimetria do
curto-circuito bifásico.

Figura 26: Relatório de falta monofásica

Fonte: Do autor.

5.2.3 Falta Fase-Fase

Por último, na Figura 27 é apresentado o curto-circuito fase-fase do sistema obtido


no ANAFAS, onde estão mostradas as correntes e tensões de curto na barra envolvida e
as correntes e tensões de contribuição do sistema.
Assim, na Figura 28 é apresentado o relátorio gerado na falta simulada. De tal
modo, é possível observar que, por ser um curto-circuito bifásico, existe corrente nas fases
40

Figura 27: Simulação de falta bifásica

Fonte: Do autor.

B e C, enquanto que o módulo de corrente na fase A é nulo, comprovando a assimetria


do curto-circuito bifásico.

Figura 28: Relatório de falta bifásica

Fonte: Do autor.
41

6 ESTUDO DE CASO: MINI USINA FOTOVOLTAICA


6.1 Materiais e metodologia
Com o objetivo de verificar na prática como a conexão de uma GD altera a comple-
xidade da rede provocando alterações dos níveis de curto-circuito, com as contribuiçõs das
correntes de falta no ponto de acoplamento comum, será desenvolvida a simulação de falta
em uma Usina Solar Fotovoltaica classsifcicada na modalidade de minigeração distribuida
com potência instalada de de 1,5MW, instalada na região do Pará, área de concessão da
Equatorial Energia. Por ser um projeto particular, para manter a confidencialidade, não
será mostrado as coordenadas e identifiado o município.
A UFV da simulação é constituida por 15 inversores, modelo SUN-70-100k-G03
da marca DEYE, com potência nominal de 100kW e tensão de saída de 380V, cada.
Os inversores são conectados a rede em dois grupos separados, um com 8 inversores e o
outro com 7, onde a conexão de cada grupo a rede de distribuição se dá através de um
transformador de 1000kVA, com tensão de 0,38kV/13,8kV, impedância de 5,5%, possuindo
os enrolamentos da baixa tensão conectados em estrela com neutro aterrado, bem como o
enrolamento do lado de alta tensão conectados em triângulo. A rede interna alimentadora
de média tensão que vai dos transformadores, instalados em campo, a cabine de medição,
possue uma extensão de 20m e condutores com seção nominal de 50mm e isolação XLPE
90◦ .
Os níveis de curto-circuito da rede da concessionária no ponto de conexão são de
1,709kA para curto trifásico e de 0,932kA para curto monofásico.

6.2 Modelagem do sistema fotovoltaico


Para a execução da simulação do sistema no subtópico anterior, foi montado no
sofwtare ANAFAS o diagrama unifilar modelo de representação da UFV, mostrado na
Figura 29.

Figura 29: Diagrama Unifilar da Usina Fotovoltaica

Fonte: Do autor.
42

Para a representação dos grupos de inversores utilizou-se uma fonte de corrente


para cada, determinando como parâmetro o valor de corrente máxima fornecido pelo
fabricante do equipamento no datasheet com um acréscimo de 50%, multiplicado pela
quantidade de dispositivos em cada grupo. De tal modo, a corrente máxima para o grupo
1 é:
(1, 5) · (159, 4) · (8) = 1912, 8A (17)

e para o grupo 2:
(1, 5) · (159, 4) · (7) = 1673, 7A. (18)

Os condutores da rede interna, da saída dos transformadores até a cabíne de me-


dição, bem como da cabine de medição ao ponto de conexão da concessionária, possuem
impedância ZL0 = 0, 016 + j0, 006 Ω e ZL1 = ZL2 = 0, 01 + j0, 002 Ω. Todavia, esses
valores precisam ser convertidos para p.u. em valores percentuais. De tal maneira, pode-se
utilizar:
ZL Sbase
ZL(pu%) = · 100 = ZL · · 100. (19)
Zbase (Vbase )2
Assim, para a impedância de sequência zero, tem-se:

100M V A
ZL0(pu%) = (0, 016 + j0, 006) · · 100 = (0, 84 + j0, 315) p.u.% (20)
(13, 8KV )2

e para as impedâncias de sequência positivia e negativa:

100M V A
ZL1(pu%) = ZL2(pu%) = (0, 01 + j0, 002) · · 100 = (0, 525 + j0, 10) p.u.%. (21)
(13, 8kV )2

Por fim, para a simulação das correntes de falta fornecidos pela concessionária,
precisa-se descobrir os valores da impedância acunulada. Assim, primeiro é necessário
calcular a potência da falta. Para a corrente de curto-circuito trifásico, temos:
√ √
3 · VL · Icc(3f ) 3 · 13, 8kV · 1, 709kA
S3f (pu) = = = 0, 4085 p.u. (22)
Sbase 100M V A
então, pode-se determinar a impedância equivalente de sequência positiva com o valor
obtido:
1 1
Z1(pu%) = · 100 = · 100 = 244, 798 p.u. (23)
S3f (pu) 0, 4085
Conforme já citado no subtópico 5.2, o software ANAFAS adota automaticamente
os mesmos valores de impedância da sequencia positiva para a sequência negativa. Ade-
mais, para a falta monofásica, calcula-se:
√ √
3 · VL · Icc(1f ) 3 · 13, 8kV · 0, 932kA
S1f (pu) = = = 0, 223 p.u. (24)
Sbase 100M V A
43

de tal modo, com o valor obtido, pode-se determinar a impedância equivalente do gerador
para a sequência zero:
   
3 2 3 2
Z0(pu%) = − · 100 = − · 100 = 855, 695 p.u. (25)
S1f (pu) S3f (pu) 0, 223 0, 4085

Portanto, inserindo os valores calculados, pode-se simular a falta trifásica no ponto


de acoplamento comum (PAC), com a contribuição das correntes da geração local, con-
forme mostra a Figura 30:

Figura 30: Simulação de falta trifásica

Fonte: Do autor.

Conforme mostra os dados da simulação, a contribuição dos grupos de inversores


da usina fotovoltaica à corrente de curto-circuito trifásico no PAC é de 52,7A do grupo
1 e de 46,1A do grupo 2. A contribuição individual da UFV à corrente de curto-circuito
trifásico no PAC é de 98,8A e a contribuição total da usina com a concessionária à corrente
de curto-circuito trifásico é de 1806,6A. Ademais, importante também destacar os valores
em uma falta monofásica, conforme detalha a Figura 31

Figura 31: Simulação de falta monofásica

Fonte: Do autor.
44

A contribuição de cada grupo de transformador de acoplamento de 1000kVA da


usina fotovoltaica à corrente de curto-circuito trifásico no PAC segue o mesmo valor,
independente da característica do curto-circuito, que é de 52,7A do grupo 1 e de 46,1A do
grupo 2. A contribuição individual da UFV à corrente de curto-circuito trifásico no PAC é
de 98,8A e a contribuição total da usina com a concessionária à corrente de curto-circuito
monofásico é de 986,2A

6.3 Dimensionamento de proteções do curto-circuito


Considerando a importância do estudo de proteção e seletividade que visa garantir
a continuidade de operação, isolando as faltas o mais rapidamente possível, será apresen-
tado a seguir os cálculos de ajuste do relé de proteção do disjuntor geral da UFV de 1,5
MW para as funções 50, 51, 50N e 51N, de modo a obter coordenação e seletividade com
a proteção da Subestação. Cabe ressaltar que um estudo de proteção completo de um
sistema de geração distribuida, atendendo as recomendações e exigências da concessioná-
ria, necessita obter também outras funções da tabela ANSI, conforme as normas técnicas.
Todavia, considerando que o foco deste trabalho é sobre o estudo de curto-circuito, apre-
sentando os efeitos e proteções deste, será apresentando neste trabalho apenas as funções
essencias para a proteção desta falta.
Inicialmente, importante obter o valor da corrente nominal, considerando a de-
manda contratada de 1,5MVA:

1, 5M V A
In = √ = 68, 21A (26)
3 · 13, 8kV · 0, 92

6.3.1 Corrente de magnetização dos transformadores

A corrente de inrush é a corrente necessária para magnetização do núcleo do trans-


formador, quando este é energizado. Ocorre circulação da corrente inrush somente pelo
primário do equipamento e a mesma possui duração média de 100ms (0,1s), podendo va-
riar o valor de sua magnitude de acordo com o tipo de isolação do equipamento, a óleo ou
a seco (SARTORI, 2011). Para descobrir o valor desta corrente, é importante inicialmente
saber o valor da corrente nominal de funcionamento do transformador.

1000kV A
In(traf o) = √ = 45, 475A (27)
3 · 0, 92 · 13.8kV

Considerando que o tranformador é a óleo, com potência não superior a 1MVA,


para calcular a corrente Iinrush , pode-se considerar, seguindo a literatura, um valor dez
vezes superior a corrente nominal, conforme a mostra a equação abaixo:

Iinrush = 10 · In(traf o) = 10 · 45, 475 = 454, 75A (28)


45

Como a usina é composta de dois transformadores, há a necessidade de determinar


a corrente de magnetização parcial do sistema. Para determinar este valor, pode-se utilizar
o valor de Iinrush do maior transformador somado com a corrente nominal dos demais,
conforme a relação abaixo:
X
Iinrush(parcial)f ase = (10 · In(M aior_T raf o) ) + In(Demais_T raf os) (29)

Assim, utilizando a Equação 29 para calcular a corrente de magnetização parcial


da usina em estudo, tem-se:

Iinrush(parcial)f ase = (10 · 45, 475) + 45, 475 = 500, 225A. (30)

Para a corrente de magnetização residual parcial de neutro, pode-se utilizar 20%


do valor da corrente calculada de fase conforme a Equação a seguir:

Iinrush(parcial)neutro = 0, 2 · Iinrush(parcial)f ase = 0, 2 · 500, 225 = 100, 045A (31)

O cálculo da corrente de magnetização real do sistema pode ser obetido no formato


determinado:

1 1
Iinrush(real)f ase =  =  = 391, 753A (32)
1 1
1
+ 1
500,225
+ 1806,6
Iinrush(parcial)f ase Icc(3f )

Para a corrente de magnetização residual real de neutro, pode-se utilizar 20% do


valor da corrente calculada de fase.

Iinrush(real)neutro = 0, 2 · Iinrush(real)f ase = 0, 2 · 391, 753 = 78, 350 A (33)

6.3.2 Cálculo do ponto ANSI do transformador

O ponto ANSI determina a suportabilidade dinâmica do transformador, portanto a


proteção geral de fase das instalações deve estar abaixo desse valor. O valor do ponto ANSI
pode ser obtido através da relação entre a corrente nominal do transformador In(traf o) já
calculado na Equação 27, e a impedância, de 5,5%, multiplicado 100 vezes.

In(traf o) 45, 475


IAnsi = · 100 = · 100 = 826, 818A (34)
Z% 5, 5

6.3.3 Dimensionamento do TC

Para o correto dimesionamento do TC alguns critérios fundamentais precisam ser


atendidos, um deles é que a corrente de curto-circuito trifásico não pode ser superior a 20
46

vezes a corrente nominal do primário do TC. Considerando a corrente de falta obtida na


simulação conforme a Figura 30, temos que:

Icc(3f ) 1806, 6
= = 90, 33A (35)
20 20
De tal modo, a corrente nominal do primário do TC deve ser maior que 90, 33A.
Considerando a possibilidade de futuros acréscimos da Icc , será considerado RTC 300-5
A. De tal modo, a corrente de saturação (Isat ) do TC será:

Isat = 300 · 20 = 6 kA (36)

Como a corrente de curto-circuito assimétrica no ponto de entrega é menor que 10


kA, o cálculo de saturação dos TC’s será feito para 10 kA. A instalação dos TC’s serão
“On-Board”. Utilizando um relé com carga de 0,3 VA e 5 metros de condutores de cobre
de 2,5 mm², temos:
Ztotal = Zf iacão + Zrele + ZT C (37)

A impedância da fiação Zf iacão pode ser obtida atrávés da resistividade do cobre,


adotando o valor de 0, 02 Ω · mm2 / m, tem-se:

L 5
Zf iacão = 0, 02 · = 0, 02 · = 40 mΩ (38)
S 2, 5

Os dados de impedância do relé, são fornecidos pelo seu fabricante em sua folha de
dados. De tal maneira, o modelo utilizado neste trabalho tem o valor de Zf ase = Zneutro =
7 mA, assim:
Zrele = Zf ase + (3 · Zneutro ) = 7 + (3 · 7) = 28 mΩ (39)

A impedância do TC deve ser obtida com o fabricante. Na falta de maiores infor-


mações, e considerando-se um TC com baixa reatância de dispersão, apenas a resistência
é importante e pode ser considerada com 20% da carga do TC. Assim, para o TC que
estamos verificando, com impedância de carga de 1 Ω (obtido na tabela 10 da NBR
6856/1992): ZTC = 0, 2 Ω = 200 mΩ.

Ztotal = 40 + 28 + 200 = 268 mΩ (40)

Através do valor adotado para a corrente de saturação de 10kA, bem como do


RTC, , pode-se calcular a corrente de saturação no secundário do TC:

Icc(3f _sim) 10kA


Icc(sat) = = = 166, 66 A (41)
RT C 60
E então, a partir do valor de Icc(sat) , bem como do valor de Ztotal calculado na
47

Equação 40, chegar ao valor da tensão de saturação Vsat :

Vsat = Icc(sat) · Ztotal = 166, 66 · 0, 268 = 44, 66 V (42)

Assim, os TC’s terão as seguintes características técnicas:

• Relação: 300-5.

• Exatidão: 10B100 (25VA 10P20).

6.3.4 Ajuste de proteção de sobrecorrente temporizada de fase (51)

Conforme calculado na Equação 26, o valor da corrente nominal da usina é de


68,21A. Assim, pode-se determinar a corrente de partida de atuação do relé, também
conhecida como corrente de pick-up, multiplicando a corrente nominal da usina In por um
fator de sobrecarga sobre essa corrente, evitando a atuação devido a demanda do sistema.
De tal modo, temos:

Iajuste(51) = 1, 1 · In = 1, 1 · 68, 21 = 75, 031A (43)

Assim, podemos definir que a corrente de pick-up equivale a 75,031A, de sorte que,
quando uma corrente com valor superior a este passar pelos dispositivos de proteção, a
temporização do relé será acionada. A curva adotada neste projeto seguirá o padrão da
concessionária, que possui suas proteços ajustadas com a curva de característica muito
inversa. Ainda mais, considerando o dial de tempo da concessionária que equivale a 0,19s,
bem como a importância da proteção local apresentar resposta a faltas locais antes que as
proteções da concessionária, será adotado um dial de tempo menor, neste caso, utilizara
o valor de 0,1s.

6.3.5 Ajuste de proteção de sobrecorrente instantânea de fase (50)

Sabe-se que a corrente de curto-circuito trifásico no lado primário do transformador


vale 1806,6A e a corrente de energização do transformador Iinrush(real)f ase , conforme calcu-
lada na Equação 32, corresponde a 391,753A. Assim, para que essa proteção instantânea
não atue no momento de energização dos transformadores, mas que atue corretamente
para as faltas, utiliza-se um fator de carga, conforme abaixo:

Iajuste(50) = 1, 1 · Iinrush(real)f ase = 1, 1 · 391, 753 = 430, 928A (44)

Assim, pode-se afirmar que, quando uma falta ocorrer com uma corrente com valor
superior ao dimensionado para Iajuste(50) , o relé enviará sinal para que o disjuntor possa
ser aberto instantaneamente.
48

6.3.6 Ajuste de proteção de sobrecorrente temporizada de neutro (51N)

A corrente de partida de atuação do relé para o neutro pode ser calculada tendo
como referência a corrente de partida de fase:

Iajuste(51N ) = 0, 1 · Iajuste(51) = 0, 1 · 75, 031 = 7, 503A (45)

6.3.7 Ajuste de proteção de sobrecorrente instantânea de neutro (50N)

A corrente de atuação instantânea do relé para o neutro pode ser calculada tendo
como referência a corrente de atuação intantânea de fase:

Iajuste(50N ) = 0, 2 · Iajuste(50) = 0, 2 · 75, 031 = 86, 186A (46)

6.3.8 Coordenograma

Com os parâmetros calculados, é possível plotar os coordenogramas de fase e neutro


com os ajustes das proteções da usina fotovoltaica, conforme dimensionado nos subtópicos
anteriores, bem como os da concessionária com os dados de acesso do curto circuito e
proteção que foram fornecidos, detalhando tabém os pontos da corrente de inrush, bem
como ANSI, conforme mostra as Figuras: 32 e 33.

Figura 32: Coordenograma das proteções de fase

Fonte: Do autor.
49

Figura 33: Coordenograma das proteções de neutro

Fonte: Do autor.

É possível verificar, com base nos coordenogramas apresentados nas Figuras 32 e


33 que os ajustes estão bem coordenados, pois a curva de proteção do cliente possue tempo
de atuação menor que a curva de proteção da concessionária para valores específicos de
corrente. Destaca-se também o ajuste da proteção do cliente com o ponto de inrush em
ambos os coordenogramas, permitindo adequadamente a magnetização dos transforma-
dores dentro do tempo adequado de 100ms. Por último, a proteção para o Ponto ANSI,
impedindo que o transformador seja submetido a correntes acima de sua suportabilidade
máxina.
50

7 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS


A simulação de operação do sistema desenvolvido proporcionou a visualização de
como a conexão de uma unidade de geração distribuída altera os parâmetros de operação
da rede mesmo em condições normais de operação.
Além disso, as simulações de curto-circuito realizadas no sistema proporcionam a
visualização de resultados práticos e precisos de como os níveis de curto-circuito de uma
rede são alterados pela conexão de uma GD.
A junção destes conhecimentos é de extrema importância para que se compreenda
a importância da necessidade de adequação do sistema de proteção do sistema elétrico
no caso de conexão de uma nova unidade GD, a fim de garantir que o sistema de prote-
ção atenda as adequações exigidas legalmente pelas concessionárias de energia e, assim,
continue capaz de proporcionar a segurança adequada ao sistema.
Por fim, por meio da utilização dos principais dispositivos de proteção exigidos
pelas concessionárias, no caso de conexão de uma GD, pode-se exemplificar como deve-se
realizar a devida adequação do sistema de proteção por meio da proposta de proteção
apresentada para o sistema em estudo.
Analisando todos os aspectos abordados e os resultados adquiridos, o trabalho
apresentado contribuiu para um maior entendimento e conhecimento sobre como a conexão
de uma GD aumenta a complexidade de uma rede, alterando os níveis de curto-circuito no
sistema, e como o sistema de proteção deve ser ajustado para se adequar a essas alterações.
A partir desse projeto e como projeto futuro, pode-se efetuar estudo de outros
parâmetros de proteções também essencias, como subtensão e sobretensão e outros. Além
da vertente de protesões, pode se abordar também temas relacionados a GD, como por
exemplo, o impacto ao sistema elétrico ao longo dos anos, tendo em vista a perspectiva de
crescimento do setor e o impacto ao sistema elétrico conforme detalhado neste trabalho.
51

8 BIBLIOGRAFIA

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SARTORI, Renan. UFRGS. Projeto de diplomação. Proteção e seletividade de sistema elétricos,
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VILLALVA, Marcelo. g. Energia Solar Fotovoltaica: Conceitos e Aplicações. são paulo érica
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