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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

MATEUS SIQUEIRA BEZERRA

PROJETO E SIMULAÇÃO DE ELETROCARDIÓGRAFO DE BAIXA


COMPLEXIDADE

FORTALEZA
2021
MATEUS SIQUEIRA BEZERRA

PROJETO E SIMULAÇÃO DE ELETROCARDIÓGRAFO DE BAIXA COMPLEXIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do
Centro de Tecnologia da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do
grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Orientador: Prof. Dr. Raphael Amaral


da Camara

FORTALEZA
2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Universitária
Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

B469p Bezerra, Mateus Siqueira.


Projeto e simulação de eletrocardiógrafo de baixa complexidade / Mateus Siqueira Bezerra. – 2021.
46 f. : il. color.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia,


Curso de Engenharia Elétrica, Fortaleza, 2021.
Orientação: Prof. Dr. Raphael Amaral da Camara.

1. Eletrocardiograma. 2. Amplificador de instrumentação. 3. React-Native. 4. Matlab. I. Título.


CDD 621.3
MATEUS SIQUEIRA BEZERRA

PROJETO E SIMULAÇÃO DE ELETROCARDIÓGRAFO DE BAIXA COMPLEXIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do
Centro de Tecnologia da Universidade Federal
do Ceará, como requisito parcial à obtenção do
grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Raphael Amaral da Camara (Orientador)


Universidade Federal do Ceará (UFC)

Prof. Dr. Fabrício Gonzalez Nogueira


Universidade Federal do Ceará (UFC)

Gabriel Braga Luz, Médico


Universidade Federal do Ceará (UFC)
A todos que acreditaram em mim e fizeram pos-
sível essa graduação, aos meus pais, Neudo e Ka-
tiana que estiveram sempre ao meu lado de todas
as formas e por me apoiarem quando até mesmo
eu duvidei de mim, também a Andressa castro, a
pessoa que inspirou o tema deste trabalho e me
apoiou profissionalmente e emocionalmente.
AGRADECIMENTOS

Durante meus muitos anos de universidade várias pessoas foram importantes para
que eu conseguisse chegar até aqui, queria agradecer do fundo do meu coração a:
Meus pais que estiveram comigo sempre e nunca por um momento me abandonaram
ou deixaram que eu duvidasse de meu potencial, Yohanna, que durante muito tempo me deu
apoio e me ajudou de diversas formas para que eu nao perdesse a sanidade durante a pandemia,
Isabele, grande amiga que também esteve comigo nessa reta final, Karla, que me ofereceu
hospitalidade e escutou minha angústias. Minhas duas avós Francisca e Cristina, meu irmão
Bruno, meu primo Fred e minhas primas Nayara e Vanessa.
Queria separar um parágrafo especial para meus amigos do grupo de estudos Stalin-
grado, amigos que me provaram o quanto a amizade é importante para conseguir encarar a vida,
obrigado por todas as palavras necessárias.
Obrigado, Carliana, estamos cada dia mais próximos dos 40. E obrigado a aqueles
que não estão aqui por questão de espaço e memória, mas que me ajudaram dentro e fora da
universidade para que essa graduação fosse possível.
“You, me, or nobody is gonna hit as hard as
life. But it ain’t about how hard you hit. It’s
about how hard you can get hit and keep mo-
ving forward; how much you can take and keep
moving forward. That’s how winning is done!”
(Rocky Balboa)
RESUMO

Este trabalho aborda sistemas de aquisição e tratamento de dados de biossinais, mais especi-
ficamente os sinais que compõe o eletrocardiograma, esses sinais provenientes do sistema de
excitação elétrico do músculo cardíaco podem, com o dispositivo adequado, ser lidos na pele do
paciente e ajudam o médico a realizar o diagnóstico de vários problemas cardíacos.
Este trabalho se propõe a discutir a abordagem atual presente na literatura para sistemas de
aquisição de sinais de ECG e propõe teoricamente uma nova topologia de aquisição desses sinais.
O software matlab foi utilizado para simular os filtros e o circuito de offset que compõe a parte de
aquisição e processamento de dados do ECG, dados do banco mit-bih com valores de aquisição
de sinais de ECG foram utilizados para simular as tensões a serem lidas na pele do paciente
e alimentar o sistema de processamento de sinais, ruídos foram adicionados para analisar o
comportamento do sistema frente a perturbações.
React-native foi utilizada para prototipar a aplicação de exibição dos dados no smartphone,
podendo ser implementada em Android e Ios.
Finalmente apresentamos as curvas de entrada e saída do sistema para fins de análise do sistema.

Palavras-chave: ECG. Filtragem ativa. Cardiologia. Eletrocardiograma. Eletrocardiógrafo.


React Native. Matlab
ABSTRACT

This work addresses biosignal data acquisition and processing systems, more specifically the
signals that make up the electrocardiogram, these signals coming from the electrical excitation
of the cardiac muscle can, with the appropriate device, be read on the skin of the patient and
help the doctor diagnose various heart problems. This work aims to discuss the current approach
present in the literature for systems of acquisition for ECG signals and theoretically proposes
a new topology for the acquisition of these signals. The matlab software was used to simulate
the filters and the offset circuit that makes up the part of ECG data acquisition and processing,
mit-bih database data with acquisition values of ECG signals were used to simulate the tensions
to be read on the patient’s skin and feed the signal processing system, noises were added to
analyze the behavior of the system against disturbances. React-naitve was used to prototype the
data display application on the smartphone, it can be implemented on Android and iOS. Finally,
we present the system input and output curves for system analysis purposes.

Keywords: ECG. Active filtering. Cardiology. Electrocardiogram. Electrocardiograph. React


Native. Matlab.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estruturas cardíacas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15


Figura 2 – Potenciais de ação rítmicos (em milivolts) de fibra de Purkinje e de fibra
muscular ventricular registrados por meio de microeletródios . . . . . . . . 16
Figura 3 – Organização do nodo atrioventricular (A-V). Os números representam o
intervalo de tempo desde a origem do impulso no nodo sinusal. Os valores
foram extrapolados para corações humanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Figura 4 – Transmissão do impulso cardíaco pelo coração, mostrando o tempo de apa-
recimento nas diferentes partes do órgão (em frações de segundo, após o
aparecimento inicial no nodo sinoatrial). A-V, atrioventricular; S-A, sinoatrial. 18
Figura 5 – Eletrocardiograma normal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 6 – Exemplo de hipertrofia ventricular direita . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 7 – Exemplo de arritmia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
Figura 8 – Circuito de Cabo Guarda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
Figura 9 – Filtro Passa-Banda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 10 – Função de transferência do filtro Passa-Banda . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 11 – Características do INA128 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 12 – Diagrama interno do INA128 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 13 – Montagem do circuito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 14 – Montagem do sistema, 1-Eletrodos, 2-Circuito de filtragem e amplificação,
3-USB6008, 4-Computador, 5-Fonte de 5V . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Figura 15 – USB6008 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 16 – Filtro ativo de segunda ordem com topologia Sallen-Key . . . . . . . . . . 29
Figura 17 – Circuito subtrator utilizando amplificador operacional . . . . . . . . . . . . 31
Figura 18 – INA188 esquemático simplificado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Figura 19 – Circuito de offset. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 20 – Sinal após saída do circuito de offset. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 21 – Tela do dispositivo rodando o app . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 22 – Montagem da simulação no simulink . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 23 – Subsistema do amplificador de instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 24 – Representação do sinal a ser lido pelos eletrodos na pele . . . . . . . . . . . 39
Figura 25 – Sinal ruidoso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Figura 26 – Sinal após o tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Figura 27 – . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 28 – Componente de renderização do gráfico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 29 – Estilos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.1 Estado da arte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.2 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3 Organização do texto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2 SISTEMA CARDIOVASCULAR E ELETROCARDIOGRAMA . . . . 15
2.1 Coração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1.1 Potenciais de ação no músculo cardíaco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.2 Eletrocardiograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.2.1 Exemplos de anomalias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2.2 Hipertrofia ventricular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2.3 Arritmias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3 ANÁLISE DE SISTEMAS DE BAIXA COMPLEXIDADE PARA ELE-
TROCARDIÓGRAFOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.1 Topologia proposta por Souza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.1.1 Circuito de Cabo Guarda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.1.2 Filtro passa-banda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.1.3 Circuito de amplificação utilizando INA128 . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.1.4 Obtenção dos dados e apresentação do ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2 Sistema proposto por Gao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2.1 Circuito de filtragem e amplificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2.2 Montagem e exibição do ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4 SISTEMA DE INSTRUMENTAÇÃO BIOMÉDICA ECG PROPOSTO 28
4.1 Topologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.2 Filtro passa-alta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.3 Filtro passa-baixa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.4 Amplificador de instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.4.1 Rejeição de modo comum . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.5 Circuito de offset . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
4.6 Conversor A/D e envio via Bluetooth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.6.1 Conversos A/D . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.6.2 Transmissão serial via módulo Bluetooth . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.7 Código do sistema embarcado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5 RESULTADOS DE SIMULAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS . . . . . . . . . . . . . . . 42
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
APÊNDICES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
APÊNDICE A – Script do Matlab . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
APÊNDICE B – Componentes utilizados no React-Native para programar
a aplicação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
13

1 INTRODUÇÃO

A aquisição de biossinais, um dos temas da engenharia biomédica, se resume a captar


sinais no corpo do paciente, tratá-los e apresentar os dados, de uma forma que o profissional
médico possa ter auxílio em sua tomada de decisão quanto ao disgnóstico, são desafios encarados
pela indústria de instrumentação biomédica a vários anos com muitas empresas se dedicando
exclusivamente a esse tema da engenharia, em 2018 o mercado de instrumentação biomédica era
avaliado em 100 bilhões de dólares mundialmente (WEBB, 2018).
Para a coordenação das fibras cardíacas o coração utiliza pulsos elétricos que polari-
zando e despolarizando as estruturas celulares causam a contração necessária para a operação
das câmaras que bombeiam o sangue pelo corpo (THALER, 2013) e (HALL, 2010). Através
do somatório dos potenciais aferidos na pele do paciente, normalmente no tórax tendo como
referência os pés ou mãos, é construído o eletrocardiograma, exame esse que pode ajudar a
identificar diversas anomalias no músculo cardíaco, tanto problemas estruturais como hipertrofias
quanto fisiológicos como arritmias.
Com os avanços tecnológicos das últimas décadas os sistemas de aquisição e tratamento
desses sinais ficaram mais simples e menos dispendiosos, dispositivos assim podem auxiliar no
atendimento de pacientes em locais de dificilmente acesso e carentes de recursos financeiros.
Hoje com a disseminação de sistemas computacionais móveis é possível desenvolver aplicações
para receber dados tratados por circuitos de instrumentação biomédica e exibir o exame ao
profissional médico que não conta com uma estrutura de diagnóstico muito avançada.

1.1 Estado da arte

Sinais como o eletrocardiograma e os de eletromiografia tem sido estudados em


sistemas portáteis, de baixa complexidade (SOUZA, 2015), trabalhos têm surgido mostrando
aplicações onde esses sinais são tratados por sistemas conectados a sistemas sem fio como
bluetooth e Wi-fi.
Fernandes, por exemplo (FERNANDES et al., 2017) trouxe uma topologia de eletro-
cardiógrafo utilizando o labview para filtrar digitalmente o sinal e exibir o exame, com um outro
módulo o autor faz o envio dessas leituras via wi-fi para que sejam visualizadas pela internet.
Farias traz em seu trabalho (FARIAS et al., 2010) um projeto utilizando FPGA para
implementar um monitor holter(aquisição de ecg que acompanha e monitora o paciente por 24
14

horas) e utilizando o algoritmo PPM o autor reduz a quantidade de dados através de compressão
para tornar o equipamento menos dispendioso e mais eficiente.
Oliveira (SILVA, 2019) em seu trabalho traz uma nova abordagem de controle e
tratamento de sinais para o circuito do driver da perna direita, circuito que tem como finalidade
colocar o paciente no mesmo potencial do sistema de aquisição de sinais.

1.2 Objetivos

Este trabalho tem como objetivos:


• Apresentar um resumo da fisiologia de interesse do eletrocardiograma
• Apresentar topologias presentes na literatura
• Discutir uma topologia autoral de tratamento de dados para eletrocardiógrafo de baixa
complexidade
• Analisar o comportamento do sistema de filtragem e ganho do sinal elétrico de eletrocardi-
ograma frente a ruídos simulados através do software Matlab

1.3 Organização do texto

Nos capítulos a seguir temos a apresentação rápida da anatomia e morfologia do


sistema cardiovascular e como funciona o sistema de excitação elétrica do músculo cardíaco
(capítulo 2), depois será apresentado o que compõe e as aplicações do ECG na sessão 2.2, uma
análise do estado da arte em sistemas de baixa complexidade será apresentada no capítulo 3, será
apresentada a topologia autoral para eletrocardiógrafo de baixa complexidade no capítulo 4 e no
capítulo 5 serão apresentados os resultados da simulação do sistema no software matlab com a
ferramenta simulink.
15

2 SISTEMA CARDIOVASCULAR E ELETROCARDIOGRAMA

2.1 Coração

O coração é o órgão responsável por bombear o sangue para o restante do corpo.


Segundo Guyton (HALL, 2010) ele é formado por duas bombas distintas, o coração direito,
que se encarrega da circulação pulmonar, e o coração esquerdo, responsável pela circulação
sistêmica, que irriga o restante dos órgãos e tecidos do corpo, na figura 1 podemos observar as
estruturas cardíacas. Cada uma dessas duas bombas é composta por duas câmaras, um átrio
e um ventrículo. Cada átrio é uma fraca bomba que ajuda a fornecer sangue suficiente para
um bombeamento ótimo dos ventrículos, esses por sua vez exercem a força de bombeamento
principal.

Figura 1 – Estruturas cardíacas

Fonte: (NETTER, 2018) plate 228


16

2.1.1 Potenciais de ação no músculo cardíaco

A amplitude do potencial de ação medido na fibra ventricular tem, em média, 105


milivolts, durante um ciclo cardíaco o potencial intercelular passa de um valor ligeiramente
positivo, cerca de +20mV a um valor muito negativo de cerca de -85mV, na figura 2 esses poten-
ciais são representados graficamente no tempo. Após a excitação elétrica inicial, a membrana
despolariza por aproximadamente 0, 2s, de acordo com Guyton (HALL, 2010) esse tempo que a
membrana permanece despolarizada faz com que a contração ventricular dure até 15 vezes mais
que a contração do músculo esquelético.

Figura 2 – Potenciais de ação rítmicos (em milivolts) de fibra de Purkinje e de fibra muscular
ventricular registrados por meio de microeletródios

Fonte: (HALL, 2010) página 348

Para o correto funcionamento do coração os átrios precisam esvaziar todo seu con-
teúdo dentro dos ventrículos antes que estes iniciem sua contração, o sistema condutor atrial é
organizado de forma que o impulso cardíaco gerado no nodo sinusal não se propague dos átrios
para os ventrículos tão rapidamente, os responsáveis por esse retardo na condução são o nodo
A-V e as fibras de Purkinje condutoras adjacentes a este (HALL, 2010).
A condução lenta é explicada pelo reduzido número de junções comunicantes entre as
sucessivas células das vias de condução, dessa forma há uma resistência para a passagem de íons
excitatórios de uma fibra condutora para a próxima, como pode ser observado na figura 3.
Os átrios são fisicamente separados dos ventrículos por uma barreira fibrosa contínua,
dessa forma a única passagem de estímulo elétrico dos átrios para os ventrículos é através
do feixe A-V, em estados normais o feixe A-V é incapaz de conduzir o impulso elétrico dos
17

Figura 3 – Organização do nodo atrioventricular (A-V). Os números representam o intervalo de


tempo desde a origem do impulso no nodo sinusal. Os valores foram extrapolados
para corações humanos

Fonte: (HALL, 2010) página 392

ventrículo em direção aos átrios, isso permite que o coração mantenha sua ordem de polarização
e contração, na Figura 4 está representado graficamente o atraso de propagação do impulso
cardíaco nas diferentes regiões do coração.
Esse atraso de propagação do pulso elétrico é fundamental para coordernar a correta
atuação do músculo cardíaco e para garantir que o fluxo sanguíneo corra no sentido correto, a
alteração nesses tempos de condução fariam com que o músculo entrassem em colapso e não
conseguisse manter o fluxo da forma correta, anomalias nesses atrasos de condução podem levar
a danos às válvulas cardíacas e até mesmo à morte

2.2 Eletrocardiograma

Durante o ciclo de excitação cardíaco uma corrente elétrica se propaga do coração até
a superfície do corpo, com eletrodos posicionados em lados opostos do coração será possível
registrar o potencial elétrico causado pela excitação elétrica do músculo cardíaco, esse registro é
chamado de eletrocardiograma.
À máquina responsável por essa leitura e amostragem dos resultados é dado o nome
de eletrocardiógrafo, a figura 5 é uma representação de ECG normal onde estão apontadas as
18

Figura 4 – Transmissão do impulso cardíaco pelo coração, mostrando o tempo de aparecimento


nas diferentes partes do órgão (em frações de segundo, após o aparecimento inicial
no nodo sinoatrial). A-V, atrioventricular; S-A, sinoatrial.

Fonte: (HALL, 2010) página 397

regiões de interesse do exame bem como sua nomeclatura.

Figura 5 – Eletrocardiograma normal

Fonte: (HALL, 2010) página 406


19

2.2.1 Exemplos de anomalias

Várias anomalias em ECG’s podem acusar um funcionamento anormal do coração o


paciente, aqui trago alguns exemplos de anomalias que podem ser observadas no exame de ECG
de pacientes com anomalias cardíacas.

2.2.2 Hipertrofia ventricular

O crescimento de um ventrículo leva ao deslocamento do eixo elétrico do ECG o


grupos QRS, normalmente visto entre 0 e 90 graus, pode ser visto entre 90 e 180 graus em casos
de hipertrofia ventricular. Na figura 6 Thaler indica as consequências de uma hipertofria no
exame de ecg e representa a dismorfia no músculo cardíaco (THALER, 2013).

Figura 6 – Exemplo de hipertrofia ventricular direita

Fonte: (THALER, 2013) página 82


20

2.2.3 Arritmias

Com a alteração do ritmo cardíaco normal são vistas anomalias no ECG, essas arritmias
podem ser causadas por diversos motivos. O ritmo normal cardíaco é de 60 a 100 batimentos por
minuto (bpm) se o ritmo se acelera além de 100 bpm, ele é chamado de taquicardia sinusal; se
ele fica abaixo de 60 bpm, é chamado de bradicardia sinusal. A figura 7 representa um desses
casos

Figura 7 – Exemplo de arritmia

Fonte: (THALER, 2013) página 107


21

3 ANÁLISE DE SISTEMAS DE BAIXA COMPLEXIDADE PARA ELETROCAR-


DIÓGRAFOS
3.1 Topologia proposta por Souza

Nesta sessão será feita uma análise da abordagem escolhida por Pedro Victor (SOUZA,
2015) em sua dissertação de mestrado na universidade federal de Pernambuco (UFPE). Para
tratar os ruídos na obtenção do sinal o autor utilizou um circuito de cabo guarda e um filtro passa
banda. Esses filtros associados com a alta rejeição de modo comum apresentada pelo INA128
tornam o sinal de ECG possível de ser plotado e lido.

3.1.1 Circuito de Cabo Guarda

Esse circuito tem como propósito reduzir o acoplamento da rede elétrica já mencionado
na seção 4.3, nessa técnica a blindagem do cabo é ligada à média da diferença de potencial do
resistor de ganho do circuito de amplificação, a figura 8 mostra como o circuito é conectado.

Figura 8 – Circuito de Cabo Guarda

Fonte: (SOUZA, 2015) pag. 32

3.1.2 Filtro passa-banda

Um filtro passa-banda é constituído da associação em cascata de um filtro passa-baixa


com um filtro passa-alta, o autor utilizou um filtro passa-alta de primeira ordem associado a um
filtro passa-baixa de segunda ordem do tipo Butterworth, figura 9, o autor não utilizou filtros
de maior ordem devido as limitações de tamanho e consumo impostas por sua proposta de
mobilidade e miniaturização do circuito.
22

Figura 9 – Filtro Passa-Banda

Fonte: (SOUZA, 2015) pag. 44

O filtro passa-alta teve sua frequência de corte obtida através da equação:

1
Fc = (3.1)
2π R1C1

com função de transferência:

sR1C1
H(s) = (3.2)
1 + sR1C1

A frequência de corte no passa-alta foi configurada para 0,028Hz utilizando um


capacitor de 1µ F e resistência de 5, 6MΩ.
No filtro passa-baixa foram utilizadas resistência de 15KΩ e capacitância de 100η F,
substituindo os valores na equação 3.1 temos uma frequência de corte de aproximadamente
106, 1Hz.
Como o filtro passa-baixa é de segunda ordem sua função de trasnferência fica:

G
H(s) = (3.3)
1 + (3 − G)RCs + (RC)2 s2

Em que G é o ganho do amplificador não inversor.


23

A função de transferência da associação do filtro passa-banda foi obtida pelo autor


como:

1, 560sRC
H(s) = (3.4)
(1 + 1, 44RCs + (RC)2 s2 )(1 + sR1C1 )

A figura 10 apresenta o gráfico da função de transferência do filtro passa-banda.

Figura 10 – Função de transferência do filtro Passa-Banda

Fonte: (SOUZA, 2015) pag. 49

3.1.3 Circuito de amplificação utilizando INA128

O circuito integrado INA128, produzido pela Texas instruments, foi escolhido devido a
sua baixa tensão de alimentação, baixo consumo de corrente e alta rejeiçao de modo comum, a
figura 11 apresenta as principais características do circuito em questão.

Figura 11 – Características do INA128

Fonte: (SOUZA, 2015) pag. 42

O circuito INA128 é muito similar ao INA188, a figura apresenta o diagrama interno


fornecido pelo fabricante no datasheet (INSTRUMENTS, 2009b).
24

Figura 12 – Diagrama interno do INA128

Fonte: (INSTRUMENTS, 2009b) pag. 1

3.1.4 Obtenção dos dados e apresentação do ECG

O autor (SOUZA, 2015) utilizou um microcontrolador MSP430G2553 (INSTRU-


MENTS, 2013) para configurar o conversor A/D e enviar os dados para o módulo Bluetooth
EGBT-046S, o módulo Bluetooth envia ao smartphone os valores das leituras, já no formato
digital, que serão tratados dentro do software do app para que seja exibido o ECG na tela do
smartphone.
Para desenvolvimento da aplicação o autor utilizou linguagem Java para programação
do app de forma nativa, o sistema embarcado faz parte do tratamento do sinal e exibe na tela do
smartphone.

3.2 Sistema proposto por Gao

No artigo (GAO et al., 2012) os autores adotaram o amplificador de instrumentação


INA118P e um amplificador AD602 para realizar parte da filtragem e amplificação, um filtro
passa-baixa e um filtro passa-alta realização a outra parte da filtragem e amplificação, uma
placa de aquisição de dados USB6008 (INSTRUMENTS, 2013) foi utilizada para enviar para o
computador os dados coletados pelo circuito.

3.2.1 Circuito de filtragem e amplificação

Nessa topologia adotada, os autores optaram por distribuir o coeficiente de amplificação


por diversos componentes. Na entrada do circuito temos o amplificador do sinal que vem da
perna direita do paciente (AD101) que foi utilizado para reduzir o ruído de modo comum,
25

AD102 é utilizado como circuito de cabo guarda, já discutido na seção 3.1.1, depois temos
um amplificador de instrumentação INA118P (INSTRUMENTS, 2009a) (A201) com ganho de
3,5, o filtro passa-alta (A301) foi configurado para ganho de 2, o filtro passa-baixa também foi
configurado para ganho de 2 (AD302) e o amplificador AD620 (A401) foi configurado para
ganho de 71,4. Da forma apresentada na figura 13 o ganho total do sistema ficou de 1000x.

Figura 13 – Montagem do circuito

Fonte: (GAO et al., 2012) pag. 763

3.2.2 Montagem e exibição do ECG

Os autores (GAO et al., 2012) utilizaram a placa de aquisição UBS6008 (INSTRU-


MENTS, 2013) para realizar a conversão A/D do sinal entregue pelo circuito de aquisição.
O circuito foi montado como mostra a figura 13. O sinal é obtido através de eletrodos
conectados ao circuito de filtragem e amplificação, a placa de aquisição recebe o sinal analógico
do circuito de amplificação, converte e envia para o computador que exibe o ECG através do
LAbView.
Os autores (GAO et al., 2012) obtiveram o resultado apresentado na figura 15 onde as
medições dos valores do sinal produzido no músculo cardíco é apresentado através do software
Labview.
26

Figura 14 – Montagem do sistema, 1-Eletrodos, 2-Circuito de filtragem e amplificação, 3-


USB6008, 4-Computador, 5-Fonte de 5V

Fonte: (GAO et al., 2012) pag. 763


27

Figura 15 – USB6008

Fonte: (GAO et al., 2012) pag. 763


28

4 SISTEMA DE INSTRUMENTAÇÃO BIOMÉDICA ECG PROPOSTO

O sistema proposto tem como finalidade tratar dados obtidos no exame de ECG para
que sejam enviados e mostrados no smatphone, as sessões a seguir descrevem as etapas do
sistema e explanam a teoria envolvida no projeto

4.1 Topologia

O sistema de tratamento de sinais consiste no circuito de filtros, passa-alta seguido por


um passa baixa, com um circuito de offset para evitar que frequências negativas cheguem até o
conversor A/D que é interno ao arduino, o microcontrolador irá se comunicar de forma serial
com o módulo Bluetooth, esse por sua vez envia os sinais digitais para serem plotados e exibidos
no smartphone.

4.2 Filtro passa-alta

A junção pele-eletrodo gera uma componente CC (corrente contínua) que pode interfe-
rir na leitura do sinal, desse forma é necessário um filtro passa-alta para eliminar essa componente
(SOUZA, 2015), mas a frequência de corte deve ser baixa o suficiente para deixar passar as
componentes de baixa frequência que formam a onda P do ECG (GUTIÉRREZ, 2006), dessa
forma foi construído um filtro passa alta de 0,07 Hz, com a já conhecida relação da frequência
de corte para o filtro passivo de primeira ordem, temos:

1
Fc = (4.1)
2π RC

foi utilizado R = 3, 3MΩ e C = 0, 47µ F


Para utilização no matlab precisamos da função de transferência do filtro no domínio
da frequência, o filtro em questão fica:

s
Hhp (s) = 1
(4.2)
s + RC

4.3 Filtro passa-baixa

Para os ruídos de alta frequência é necessário que seja implementado um filtro passa-
baixa, como as frequências de interesse no sinal de ecg estão entre 1Hz e abaixo dos 60Hz da
29

rede elétrica que é a maior responsável pelos ruídos de alta frequência (TEODORO et al., 2014)
e (GUTIÉRREZ, 2006).
Filtros de segunda ordem possuem uma maior rejeição de frequência, eles dão um
menor ganho a frequência mais próximas da frequência de corte, dessa forma temos uma melhor
rejeição da componente de ruído adicionada pela rede.
Foi utilizado um filtro com topologia Sallen-Key por se tratar de um filtro ativo, o que
dispensa o uso de indutores reduzindo o tamanho físico do circuito. A topologia Sallen-Key é
representada na figura 16.

Figura 16 – Filtro ativo de segunda ordem com topologia Sallen-Key

Fonte: (CHEN, 2018) página 228

Fazendo a análise do circuito temos:

V1 −Vn Vn −V2 Vn −V2


= + (4.3)
Z1 Z2 Z3
Colocando Vn em função de V2 , Z2 , Z4 temos:

Z2
Vn = V2 · ( + 1) (4.4)
Z4
Substituindo o valor de Vn em 4.3 obtemos a seguinte equação:

V2 Z3 Z4
= (4.5)
V1 Z1 Z2 + Z3 (Z1 + Z2 ) + Z3 Z4
Substituindo os valores da impedâncias e colocando no domínio da frequência obtemos
a seguinte função de transferência:

K
V2(s) R1 R2C2C4
= 2 (4.6)
V1(s) s + s( R 1C + R 1C + R 1C + R KC ) + R R 1C C
3 4 1 2 3 2 3 4 1 3 2 4
30

Analisando a função de transferência temos que a frequência de corte é:

1
ωo = √ (4.7)
R1 R3C2C4
Agora, obtendo a função de transferência no domínio da frequência para utilizar no
matlab temos:

1
Hl p (s) = (4.8)
1 +C2 (R1 + R3 )s +C2C4 R1 R3 s2
Utilizando frequência de corte de aproximadamente 40hz, já que os sinais de interesse
estão abaixo dessa faixa (SOUZA, 2015) e (GUTIÉRREZ, 2006), foram escolhidos R1 = R3 =
4kΩ e C2 = C4 = 1µ F.

4.4 Amplificador de instrumentação

O amplificador de instrumentação é um circuito com alta impedância de entrada, isso


faz com que o sinal medido não seja afetado pelo circuito de medição, ele também tem alto
CMRR como será explicado a seguir e pode ser utilizado para amplificar sinais biomédicos para
que esses sejam então passados por um conversor analógico-digital e posteriormente tratados
através de software
Uma importante característica do circuito diferencial presente no Amp-Op é a capa-
cidade de amplificar muito os sinais opostos nas entradas do dispositivo e amplificar pouco
os sinais comuns às duas entradas, dessa forma, segundo (BOYLESTAD, 2013), o circuito da
Figura 17 apresenta uma rejeição ao modo-comum que é representada por um valor numérico
chamado de razão de rejeição de modo-comum (CMRR, que em inglês significa common-mode
rejection ratio)
Na presença de sinais diferentes aplicados às entradas temos a seguinte saída:

Vd = Vi1 −Vi2 (4.9)

No caso de sinais comuns a saída é a média aritmética dos sinais de entrada:


1
Vc = · (Vi1 +Vi2 ) (4.10)
2
Quando os dois sinais de entrada do circuito apresentam componentes em fase e fora
de fase, o que é frequente nas aplicações práticas, a saída do Amp-op é dada por:

Vo = Ad ·Vd − Ac ·Vc (4.11)


31

Figura 17 – Circuito subtrator utilizando amplificador operacional

Fonte: (BOYLESTAD, 2013)

Onde:
Ad = Ganho diferencial do amplificador
Ac = Ganho de modo-comum do amplificador
Por sua vez, por definição o CMRR é:

Ad
CMRR = (4.12)
Ac

Que é o fenômeno importante para a aplicação e que levou à escolhe desse tipo de
amplificador, a rejeição de modo comum tem importante papel na filtragem dos ruídos associados
ao sinal de interesse.
O circuito integrado utilizado foi o INA188, o circuito foi escolhido devido à sua
alta precisão nos valores dos resistores e sua alta impedância de entrada, o próprio fabricante
recomenda para utilização ECG em seu datasheet (TEXAS INSTRUMENTS, 2015). De acordo
com a folha de dados do dispositivo temos que a saída pode ser equacionada da seguinte forma:

Vout = (Vin+ −Vin− ) · G +Vre f (4.13)

Onde o ganho é configurado com a variação da resistência externa RG da seguinte forma:

50kΩ
G = 1+ (4.14)
RG

O valor de Rg utilizado foi de 100Ω para obter um ganho de 500.


32

Figura 18 – INA188 esquemático simplificado

Fonte: datasheet INA188 (TEXAS INSTRUMENTS, 2015)

4.4.1 Rejeição de modo comum

A rejeição de modo comum (PALLÁS-ARENY; WEBSTER, 1991) é a capacidade


de amplificar pouco as componentes presentes nas duas entradas do amplificador operacional,
por causa dessa característica os AmpOp’s são utilizados em circuitos onde o acoplamento da
rede elétrica é relevante, como essa componente de ruído causada pela instalação elétrica está
presente nas duas entradas do AmpOp e apresentam pequena defasagem entre si, o dispositivo
irá amplificar pouco este ruído.
Por consequência dessa característica dos amplificadores operacionais eles são utiliza-
dos em muitos circuitos de aquisição e leitura de biossinais, onde o ruído causado pela rede é
relevante, entre essas aplicações temos o ECG.

4.5 Circuito de offset

Para fazer o deslocamento do sinal do eixo Y e fornecer um sinal sem partes negativas
para o conversor A/D foi utilizado um circuito somador com um inversor na saída. A figura 19
mostra o circuito montado no software LTspice.
No circuito temos uma fonte de tensão contínua representando a porta 3.3V do arduino,
essa tensão passa por um divisor de tensão e chega ao somador para dar um offset de aproxi-
madamente 1V no sinal que vem de um gerador de ondas que simboliza o sinal do ECG a ser
deslocado no eixo Y, na saída temos um circuito inversor já que a saída do somador é invertida,
a saída do circuito em comparação com o sinal de entrada está na figura 20, Vin é o sinal de
entrada e Vout é o sinal de saída.
33

Figura 19 – Circuito de offset.

Fonte: O próprio autor

Figura 20 – Sinal após saída do circuito de offset.

Fonte: O próprio autor

4.6 Conversor A/D e envio via Bluetooth

Após o tratamento do sinal pelos circuitos de amplificação e filtragem é necessária


a conversão analógico para digital dos sinais obtidos para que o sistema computacional do
34

smartphone possa processar os dados, depois da conversão o envio ficará por parte do módulo
Bluetooth gerenciado pelo arduino.

4.6.1 Conversos A/D

O processo de conversão A/D é composto de 2 etapas: amostragem e quantiza-


ção(TOCCI et al., 2007). A etapa de quantização depende da resolução do conversor A/D, que
no caso do arduino, utilzando o conversor embarcado do atmega328p, é de 10 bits(DATASHEET,
2011), e da tensão de fundo de escala do sistema, que no caso do arduino é de 3,3v, o sistema
pode utilizar uma tensão de referência embarcada de 1,1v ou uma provida externamente, a tensão
interna foi utilizada para fins de simplificação do circuito. Assim temos que a resolução do
conversor é de 3, 3/1023=3, 22mV .
A amostragem é a leitura do valor instantâneo do sinal analógico, no caso de sinais
variáveis no tempo é necessário atender ao teorema de Nyquist onde a frequência de amostragem
precisar ser o dobro da frequência máxima atingida pelo sinal a ser convertido, nesse caso
estamos trabalhando com frequências abaixo de 60hz (TEODORO et al., 2014) precisamos de
no mínimo 120hz de taxa de amostragem, No atmega328p o clock do ADC é de 16MHz/128 que
leva a um clock de 125KHz para o ADC, como uma única conversão toma 13 ciclos do clock de
ADC a taxa de amostragem fica aproximadamente 9600Hz atendendo o teorema de Nyquist e
tornando possível a reconstrução do sinal.

4.6.2 Transmissão serial via módulo Bluetooth

O arduino conta com sistema de transmissão serial USART (Universal Synchronous


Asynchronous Receiver Transmitter) dessa forma foi utilizado esse protocolo para comunicar o
atmega328p com o módulo Bluetooth HC-06, o módulo é pareado com o dispositivo móvel de
forma a enviar os dados da conversão A/D realizada pelo arduino e transmitidas via comunicação
serial ao HC-06, dessa forma o aplicativo móvel pode utilizar os dados obtidos pelo sistema de
aquisição para construir os gráficos do ECG.

4.7 Código do sistema embarcado

Desenvolvido utilizando o framework React-native, escolhido devido à sua facilidade de


compilação para implementação tanto em sistemas Androis como IOS, o aplicativo é responsável
35

por tratar os dados recebidos via Bluetooth e construir o gráfico que compõe o exame de ECG.
Todos os arquivos encontram-se armazenados na plataforma Github e acessíveis através
do endereço na referência (SIQUEIRA, 2020).
O aplicativo foi testado em um dispositivo virtual Android. De acordo com a topologia
empregada na aplicação o dispositivo Bluetooth envia os dados coletados pelo circuito para
o Smartphone e a aplicação, através da comunicação Bluetooth, plota os pontos nos gráficos
mostrados na imagem 21, o número de gráficos pode ser facilmente alterado no código para
suprir a necessidade de pontos de leitura que o circuito for projetado. Na parte superior da
aplicação fica o botão de configuração do dispositivo Bluetooth, próximo a ele está o botão
render que atualiza os valores do ECG já que a proposta é um resultado estático e não em tempo
real.
Foi utilizado o componente LineChart (figura 28) que cria gera a representação em
gráfico de linhas da string fornecida no parâmetro data, uma string simples com números
aleatórios apenas para gerar vizualização para fins de projeto.
Como boas práticas de clean code sugerem foi criado um arquivo separado para conter
os estilos em css a serem exportados para os componentes que são renderizados no arquivo
principal(figura 29).
O desenvolvimento do código foi feito de forma a tornar uma possível integração com
as bibliotecas de gerenciamento Bluetooth seja feita por outro pesquisador sem muitas dificulda-
des, toda a parte de exibição de dados (Front-End) foi implementada, as funcionalidades dos
componentes (Back-end) podem ser implementadas posteriormente utilizando alguma biblioteca
produzida pela comunidada para gerenciamento da comunicação Bluetooth. Alterações para
uma comunicação com API’s (Application Programming Interface) podem ser implementadas
quando for necessária uma comunicação da aplicação com um serviço web.
36

Figura 21 – Tela do dispositivo rodando o app

Fonte: (SIQUEIRA, 2020)


37

5 RESULTADOS DE SIMULAÇÃO

Para analisar o desempenho do sistema foi realizada uma simulação utilizando o


software Maltab/Simulink. O sinal real de ECG utilizado faz parte do conjunto de dados do
mit-bih arrhythmia database utilizado em (PŁAWIAK, 2018). O sinal foi então adicionado de
componentes condizentes com os esperados na operação real do sistema.
O conjunto de dados utilizado por (PŁAWIAK, 2018) consiste em mil fragmentos de
10 segundos de sinal provenientes da derivação MLII, modified limb II, obtida com um eletrodo
posicionado no peito. Dentre estes 1000 fragmentos temos 17 padrões de comportamento,
dentre eles ritmo normal sinusal (sinal saudável proveniente do nodo sino atrial) e ritmo com
marca-passo, além de mais 15 diferentes anomalias cardíacas. Para este trabalho foi escolhido
um dentre os 283 fragmentos de NRS (normal sinus rhythm), que correspondem aos sinais de
pessoas saudáveis.
O diagrama de blocos utilizado no Simulink é apresentado na Figura 22. Para simular
um sinal obtido por um eletrodo de ECG (a partir do bloco “Signal from workspace”) , foram
adicionados ao sinal ECG real uma componente CC de 0,1 mV para simular a interferência
causada pelo contato do eletrodo com a pele, ruído branco de banda limitada com potência de
10−5 e uma componente harmônica de 60 Hz, proveniente da rede elétrica, com amplitude de
0,05.
O circuito do ECG projetado é representado pelas funções de transferência dos filtros
passa-alta e passa-baixa (respectivamente nas eqs. (4.2) e (4.8)), o bloco amplificador de instru-
mentação contém o subsistema apresentado na figura 23, o resistor de ganho está configurado
em 100 Ohms para um ganho de 500, e um somador de 1V para representar o efeito do circuito
de offset.
Os dados utilizados são provenientes de uma máquina real de eletrocardiograma, logo,
os valores do banco de dados já são sinais de ECG tratados por uma máquina real que faz
exatamente aquilo que o sistema proposto se dispõe a fazer: filtrar os ruídos presentes no sinal
e apresentar um sinal proveniente apenas da excitação do músculo cardíaco. Dessa forma foi
necessário remover os efeitos de tratamento da máquina real como o offset e o ganho aplicado
por ela, o sinal remanescente então é adicionado de ruídos condizentes com os previstos. Após a
remoção do tratamento da máquina real e da adição de ruídos temos o sinal esperado na pele do
paciente e a ser lido pelo sistema proposto( Figura 25).
Esse sinal ruidoso então é tratado pelos filtros, pelo ganho e pelo circuito de offset para
38

Figura 22 – Montagem da simulação no simulink

Fonte: O próprio autor

Figura 23 – Subsistema do amplificador de instrumentação

Fonte: O próprio autor

ser entregue ao conversor A/D, na figura 26 temos o sinal a ser convertido.


Na figura 26 podemos observar o sinal após o tratamento dos ruídos presentes no ECG,
como era de se esperar, a diferença entra a figura 25 e a figura 26 é visível, o resultado obtido na
filtragem do sinal é muito semelhante ao sinal real, figura 24.
39

Figura 24 – Representação do sinal a ser lido pelos eletrodos na pele

Fonte: O próprio autor


40

Figura 25 – Sinal ruidoso

Fonte: O próprio autor


41

O objetivo inicial do sistema era tratar o sinal ruidoso, aqui montado com os ruídos
teóricos, a ponto de reconstruir o sinal real e proveniente somente da excitação cardíaca, na
comparação dos sinais das Figuras 26 e 24 fica claro a semelhança entre elas e a capacidade
do sistema proposto de filtrar somente os ruídos e entregar ao conversor A/D o sinal suficiente
para a plotagem no dispositivo móvel de forma que a leitura seja clara por parte do profissional
médico, dessa forma o sistema proposto resolve os problemas aos quais este trabalho se dispôs
a enfrentar: filtrar um sinal de ECG através de um sistema de baixa complexidade e entregar
um sinal legível ao médico na tela do dispositivo móvel. Na figura 26 é possível enxergar as
curvas presentes em um ECG normal apresentadas na figura 5, demonstrando um alinhamento
dos resultados da simulação com as afirmações teóricas (HALL, 2010) da literatura médica,
satisfazendo as expectativas deste trabalho.

Figura 26 – Sinal após o tratamento

Fonte: O próprio autor


42

6 CONCLUSÕES E TRABALHOS FUTUROS

Como já foi exposto durante o trabalho a área de instrumentação médica e aquisição de


bio-sinais avançou muito com o utilização da eletrônica e computação moderna, muitos exames
antes invasivos e caros hoje se tornaram mais confortáveis e baratos, foi com esse pensamento
em mente que esse trabalho foi desenvolvido, poderiam essas máquinas de exames médicos
ficarem ainda mais baratas e acessíveis com abordagens mais modernas e de menor custo?
Foi observado que sinais com boa confiabilidade conseguem ser obtidos com baixo
custo e sem utilização de tecnologias caras com altos custos agregados de royalties, e essa é
uma das contribuições deste trabalho, fortalecer a ideia de que saúde não deve estar vinculada a
patentes e que o conhecimento desenvolvido para melhorar a qualidade de vida da população
não deve ser motivo de lucro e sim patrimônio da humanidade.
Esse trabalha tem por objetivo ser o início de uma série de trabalhos para embasar
a produção de DEA (Desfibriblador Externo Automático) que hoje ainda custa entre 7 e 20
mil reais, esse aparelho socorre pacientes que estão tendo súbitos graves problemas cardíacos,
problemas esses que podem levar a óbito o paciente se não tratado corretamente, o aparelho
analisa os sinais de ECG do paciente, identifica a anormalidade e automaticamente gera o pulso
elétrico necessário para corrigir a anomalia no paciente.
Trabalhos futuros poderiam abordar a análise dos sinais de ECG através de redes
neurais, abordagem que está ficando comum no meio, assim como um trabalho em eletrônica de
potência para estudar e projetar um sistema capaz de produzir os sinais elétricos necessários a
um DEA, esses três trabalhos iriam fechar a cadeia de aquisição, análise e correção dos sinais do
ECG do paciente.
Dessa forma um projeto de DEA seria produzido em parceria com universidades
federais para disponibilizar o equipamento sem custo de patentes o que iria reduzir de forma
considerável o custo do aparelho e ajudando na popularização do equipamento visando atender
mais cidadãos e salvar mais vidas.
43

REFERÊNCIAS

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2013.

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WEBB, A. G. Principles of biomedical instrumentation. [S.l.]: Cambridge University Press,


2018.
45

APÊNDICE A – SCRIPT DO MATLAB

Figura 27

Fonte: O próprio autor


46

APÊNDICE B – COMPONENTES UTILIZADOS NO REACT-NATIVE PARA


PROGRAMAR A APLICAÇÃO

Figura 28 – Componente de renderização do gráfico

Fonte: O próprio autor

Figura 29 – Estilos

Fonte: O próprio autor

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