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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Escola Politécnica

Departamento de Eletrônica e de Computação

Captação e Transmissão de Biopotenciais

Autor:
_________________________________________________
Rafael Estevam de A. P. da Silva
Orientador:
_________________________________________________
Prof. Marcio Nogueira de Souza, D. Sc.

Examinador:
_________________________________________________
Prof. Alexandre Visintainer Pino, D. Sc.
Examinador:
_________________________________________________
Prof. Fernando Antonio Pinto Barúqui, D. Sc.

DEL

Janeiro de 2014
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
Escola Politécnica – Departamento de Eletrônica e de Computação
Centro de Tecnologia, bloco H, sala H-217, Cidade Universitária
Rio de Janeiro – RJ CEP 21949-900

Este exemplar é de propriedade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que


poderá incluí-lo em base de dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar
qualquer forma de arquivamento.
É permitida a menção, reprodução parcial ou integral e a transmissão entre
bibliotecas deste trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja
ou venha a ser fixado, para pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem
finalidade comercial e que seja feita a referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do(s) autor(es).

ii
AGRADECIMENTO

Gostaria de agradecer à minha família, por sempre ter me dado condições e


apoio, desde o ingresso e até agora no fim do curso de Engenharia Eletrônica e
Computação. Aos meus amigos, incluindo os que encontrei durante a graduação e os que
fiquei longe durante a mesma.
Quero agradecer pela companhia, carinho e consultoria relacionada aos assuntos
de Medicina e Fisiologia, à doutora Bruna Pessoa.
Agradeço ao professor Marcio Nogueira de Souza e todos os alunos de
Graduação, Mestrado e Doutorado do Laboratório de Instrumentação Biomédica. Apesar
do pouco tempo que passei pelo LIB, sempre fui muito bem recebido e diversas vezes
aconselhado nos meus projetos.
Devo agradecer também à Universidade Federal do Rio de Janeiro e aos seus
professores, principalmente do Departamento de Eletrônica e Computação. Mesmo com
todos os problemas existentes com a educação pública e a política no país, a UFRJ e
seus professores são reconhecidos pelo valor que possuem e eu tenho a honra de ser um
aluno desta instituição.

iii
RESUMO

Uma das melhores possibilidades dos avanços tecnológicos é aplicá-los de modo


que haja ganhos em qualidade de vida. Este projeto veio do desejo de desenvolver um
dispositivo que seja capaz de captar informações do corpo humano de forma “rotineira”,
sem que o indivíduo seja obrigado a ficar sentado ou ligado à um aparelho fixo. Desta
forma, seríamos capazes de manter um diagnóstico “ao vivo” do paciente,
possibilitando que ele movimente-se e faça pequenos exercícios durante uma situação
de pós-cirúrgico, por exemplo, em que é necessário constante monitoramento.
Foi definido que o sistema captasse sinais elétricos do coração, conhecidos
como o Eletrocardiograma (ECG), que são informativos da normalidade da atividade
elétrica cardíaca do paciente. Este sistema consiste em um estágio de captação e
amplificação, responsável por tratar o biopotencial captado pelos eletrodos, eliminando
as parcelas de ruído e amplificando o sinal de ECG. A transmissão do sinal amplificado
para uma estação remota é realizada por protocolo Bluetooth através de um open-source
hardware, Arduino. A escolha destas tecnologias foi baseada no pequeno tamanho e
baixo consumo de energia que têm, características necessárias para um wearable device.
A recepção do sinal é feita em um notebook, aonde um programa é executado para
exibir graficamente as informações.

Palavras-Chave: Arduino, biopotencial, ECG, wearable

iv
ABSTRACT

One of the best possibilities in technology advances is applying them so there


are gains in quality of life. This project came from the desire to develop a device that is
able to capture information of the human body in a “routine” way, without the need of
keeping the individual remaining seated or connected to a fixed appliance. Thus, we
would be able to maintain a "live" diagnosis of the patient, allowing it to move up and
make small exercises during a post-surgical situation, for example, where it is needed
constant monitoring.
It was determined that the system would capture the heart’s electrical signals,
known as ECG, that are informative of a normal electrical activity of the patient’s
hearth. This system consists of a capture and amplification stage, responsible for
treating the biopotential captured by the electrodes, eliminating portions of noise and
amplifying the ECG. The signal transmission from the amplifier to the remote station is
performed through Bluetooth protocol via open-source hardware, Arduino. The choice
for these technologies was by the small size and low power consumption that they have,
needed characteristics for a wearable device. The signal reception is done using a
notebook, which an executing program graphically displays the information.

Key-words: Arduino, biopotential, ECG, wearable.

v
SIGLAS

AMP-OP – Amplificador Operacional


CMRR – Common-Mode Rejection Ratio
DRL – Driven Right Leg
ECG – Eletrocardiograma
EEG – Eletroencefalograma
EMG – Eletromiograma
ISM – Industrial, Scientific and Medical
LabVIEW – Laboratory Virtual Instrument Engineering Workbench
LIB – Laboratório de Instrumentação Biomédica
NI – National Instruments
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
VISA – Virtual Instrument Software Architecture

vi
Sumário

1. Introdução 1

1.1 - Tema ........................................... 1

1.2 - Delimitação ...................................... 1

1.3 - Localização ...................................... 1

1.4 - Justificativa ...................................... 2

1.5 - Objetivos ......................... ............... 3

1.6 - Metodologia ..................................... 3

1.7 - Descrição ....................................... 3

2. Fundamentos Teóricos 5

2.1 - Biopotencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5
2.2 - Eletrocardiograma. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
5
2.3 - Eletrodos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
6

2.4 - Captação de sinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2.5 - Rejeição de ruido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.6 - Transmissão sem fio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

3. Materiais e Métodos 11
11
3.1 - Visão Geral ........................................
12
3.2 - Amplificadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
12
3.2.1. - Amplificador de Instrumentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
3.2.2. - Amplificador Passa-Baixa e ajuste de DC . . . . . . . . . . . . . 13

vii
3.3 - Arduino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

16
3.4 - Bluetooth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
16
3.5 - Alimentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
17
3.6 - LabVIEW. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4. Resultados 21
4.1. - Hardware desenvolvido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

4.2. - Comparações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4.2.1. - Transmissor desligado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22


4.2.2. - Transmissor ligado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4.3. - Discussão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

Conclusão 25
Bibliografia
26

viii
Lista de Figuras
2.1 – Representação de um ciclo do Eletrocardiograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.2 – Derivações dos membros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.3 – Derivações precordiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3.1 – Diagrama do circuito de aquisição de ECG . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

3.2 – Diagrama de blocos do sistema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12


3.3 – Esquemático de um amplificador INA 128/129 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.4 – Esquema do amplificador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.5 – Arduino LilyPad e shield Bluetooth . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
3.6 – Bateria de ións de Lítio e Conversor DC/DC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3.7 – Configure Serial Port . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.8 – Buffer Size . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
3.9 – Read . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.10 – String to Number . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.11 – Close . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.12 – Painel frontal do aplicativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3.13 – Código fonte do aplicativo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.1 – Montagem final do dispositivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.2 – Imagem no Osciloscópio sem transmissão Bluetooth . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4.3 – Imagem do ECG na saída do circuito de captação durante a transmissão . . . 23
4.4 – Imagem do sinal de ECG transmitido e recebido no computador . . . . . . . . . 23
4.5 – Relação sinal/ruído durante a transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

ix
Capítulo 1

Introdução

1.1 – Tema

Este trabalho tem como tema o desenvolvimento de um sistema de captação e


transmissão sem fio para biopotenciais, envolvendo a utilização de diversas disciplinas
estudadas no Curso de Graduação. Mais especificamente, o projeto consiste na
captação, transmissão e recepção, para distância de uma dezena de metros, de sinais
elétricos do coração, biopotencial cujo registro é conhecido como Eletrocardiograma
(ECG).

1.2 – Delimitação

Apesar do sistema de captação, transmissão e recepção poder ser utilizado para


outros sinais biológicos, o biopotencial escolhido para a implementação deste projeto
foi a atividade elétrica do coração, ou seja, o registro a ser considerado é o ECG. Este
registro exibe a despolarização das células musculares cardíacas durante o batimento do
coração, permitindo a um profissional de saúde treinado a rápida identificação visual de
qualquer anormalidade relacionada a este órgão.
Este trabalho é parte de um dos projetos que vem sendo realizados no
Laboratório de Instrumentação Biomédica (LIB) do Programa de Engenharia Biomédica
da Coppe/UFRJ e que se refere ao desenvolvimento de um sistema de captação e
transmissão de biopotenciais que possa ser acoplado a uma vestimenta, sistemas
conhecidos como wearable. Outras partes do referido sistema, como, por exemplo, os
eletrodos de tecido e outras formas de transmissão para dispositivos móveis, estão sendo
desenvolvidos por outros projetos do Laboratório.

1
1.3 – Localização

Biopotenciais são sinais elétricos endógenos relacionados ao funcionamento de


células eletricamente excitáveis do sistema biológico, tais como neurônios e células
musculares. Sua monitorização é desejável e necessária em várias situações. Através da
capacidade de observar os biopotenciais obtemos informações do estado do corpo
humano, que auxiliam no acompanhamento de pacientes e de pessoas exercendo esforço
físico, por exemplo.

1.4 – Justificativa

Pacientes em recuperação de operações cardíacas precisam de acompanhamento


a todo o momento dos seus sinais vitais, principalmente do funcionamento do coração.
Para que haja esse acompanhamento, é necessário que o paciente fique ligado a
aparelhos, através de fios, impossibilitando o seu movimento e o limitando ao leito
hospitalar. No entanto, com o passar da recuperação, pequenos esforços físicos, como
simples caminhadas, são desejáveis, pois ajudam ao paciente a recuperar movimentos e
age também como uma fisioterapia. Este estado desejável pode ser alcançado com o uso
de um sistema de monitorização cardiológica à distância.
Atletas de alto rendimento, ou mesmo frequentadores normais de academia,
podem se beneficiar de um acompanhamento mais detalhado que o oferecido pelos
medidores de frequência cardíaca existentes. Com o desenvolvimento de sistemas de
monitorização à distância, as instituições como academias e clubes serão capazes de
oferecer aos seus clientes e atletas segurança e proximidade maiores.
Em ambos os casos (pacientes e atletas), o objetivo é dar condições para que a
pessoa possa se exercitar, porém, sob o constante monitoramento cardíaco. Graças aos
avanços tecnológicos na miniaturização de semicondutores, já é possível equipar o
indivíduo com eletrônicos junto à sua roupa [1], tornando possível captar seus
biopotenciais e transmiti-los sem fio para uma central de monitorização, o que liberta o
paciente de estar ligado fisicamente a um aparelho maior, tornando-o apto a realizar
outras atividades enquanto é monitorado.

2
Além da motivação sobre a utilidade do projeto a ser desenvolvido, este tema se
torna mais interessante, pois diversas áreas do conhecimento abordadas durante o Curso
de Graduação serão abordadas, instrumentação, processamento de sinais e
comunicações.

1.5 – Objetivos

Dispositivos ou sistemas conhecidos como wearable, são aqueles que podem ser
“vestidos” pelo paciente e que são capazes de obter informações fisiológicas ou
biomecânicas do sujeito, podendo também transmiti-las para um computador [2]. A
literatura aponta que tais sistemas wearable deverão ser amplamente usados nos
próximos anos. Neste sentido, este projeto faz parte de um esforço do Laboratório de
Instrumentação Biomédica (LIB) do Programa de Engenharia Biomédica da
Coppe/UFRJ em desenvolver tecnologia nacional de sistemas wearable. Mais
especificamente, o projeto que vem sendo desenvolvido no LIB diz respeito ao
desenvolvimento de um sistema de captação e transmissão de biopotenciais que possa
ser acoplado a uma vestimenta. O presente trabalho se insere neste contexto e investiga
os efeitos do acoplamento de um sistema de captação, transmissão e recepção de sinais
de ECG.

1.6 – Metodologia

Para investigar os efeitos de se acoplar um sistema de captação de biopotenciais


a um sistema de transmissão sem fios, foram utilizados eletrodos descartáveis
comumente usados na clínica para a coleta de ECG, uma topologia clássica para captar
e amplificar o sinal de ECG e um sistema de transmissão baseada na tecnologia
Bluetooth, pois possibilita o alcance desejado de dezenas de metros e consumo reduzido
de energia. Um programa para interface com o usuário foi desenvolvido para
estabelecer conexão com o sistema de captação e transmissão, junto com a exibição do
sinal de ECG. Além disso, com intenção de futuramente unir o sistema de captação e
transmissão a uma vestimenta, o protótipo deveria apresentar dimensões reduzidas.

3
1.7 – Descrição

No Capítulo 2 é discutida a fundamentação teórica, com descrições dos pontos e


conceitos que serão abordados no projeto. O Capítulo 3 contém os materiais e as
técnicas utilizados para captar, tratar, transmitir e exibir o biopotencial. Os resultados
deste projeto são apresentados no Capítulo 4, com comparações entre os sinais obtidos,
visto com um osciloscópio e o após a transmissão. Por fim, a Conclusão deste trabalho,
junto com possíveis projetos futuros sobre captação e transmissão de biopotenciais e
idéias para solucionar os problemas encontrados.

4
Capítulo 2

Fundamentos Teóricos

2.1 – Biopotencial

O potencial elétrico medido entre dois pontos de células vivas, tecidos e


organismos, é resultante de processos bioquímicos, sendo que no caso de células
eletricamente excitáveis, estes são conhecidos como biopotenciais.
Os biopotenciais mais conhecidos e utilizados na prática clínica são os
relacionados ao coração, cérebro e músculos, dando origem aos registros conhecidos
como Eletrocardiograma (ECG), Eletroencefalograma (EEG) e Eletromiograma
(EMG). Estes, respectivamente, representam os sinais elétricos provenientes dos
batimentos cardíacos, atividades cerebrais espontâneas e a condução de estímulos no
sarcolema (membrana celular que envolve o tecido muscular estriado).

2.2 – Eletrocardiograma

Segundo Houssay [5], o ECG “é o registro das variações de potencial criadas no


corpo pela atividade elétrica do coração. A onda de despolarização, devida à ativação
sequencial das câmaras cardíacas, gera uma diferença de potencial entre as zonas ativas
e em repouso, o que induz variações no campo elétrico que aparecem como ondas no
ECG”. Na Medicina, o ECG é considerado um registro barato, de rotina, não-invasivo,
sem contra indicações, que faz parte do check-up cardiológico, oferecendo muitas
informações ao médico.
Podemos constatar que o coração age como um gerador de correntes elétricas
durante sua atividade. Estas correntes, espalhando-se no meio condutor, que é o próprio
órgão e os músculos em volta, geram potenciais elétricos cuja evolução no tempo e no
espaço podem ser medidas externamente, na pele.

5
O ECG é utilizado para avaliar a frequência e o comportamento do batimento do
coração, permitindo a identificação de alterações do ritmo cardíaco e distúrbios na
condução elétrica na musculatura do órgão. O registro pode ser feito em papel termo-
sensível ou em monitores, sendo que distúrbios na sua forma podem representar
problemas como arritmias. A Figura 2.1 apresenta um ciclo do ECG, quando captado
com eletrodos nos braços direito e esquerdo, com uma referência de potencial na perna
direita.
A representação do ECG é bem reconhecida por meio dos sinais mais comuns
que o compõem, chamados de onda P, complexo QRS e onda T (Figura 2.1). Estes
sinais representam, respectivamente, a ativação elétrica nos átrios, a despolarização dos
ventrículos e a repolarização dos ventrículos. A morfologia do sinal no ECG, inclusive
os intervalos entre seus principais constituintes, são alguns indicadores de um
funcionamento normal do coração.

Figura 2.1 – Representação de um ciclo do Eletrocardiograma.

2.3 – Eletrodo

Os eletrodos proporcionam uma transferência de corrente iônica para corrente


eletrônica (onde os portadores de carga são os elétrons livres, como nos condutores
metálicos), tornando possível a conversão de biopotenciais em potenciais elétricos
captados e processados por circuito eletrônicos. Os processos que ocorrem na interface
entre o tecido biológico e o eletrodo metálico são complexos, mas de um modo geral
podemos dizer que para eletrodos metálicos que alcançam o chamado equilíbrio

6
termodinâmico, reações de oxirredução na superfície dos eletrodos são responsáveis
pela conversão iônica-elettrônica, dando ainda origem ao aparecimento de um d.d.p.
entre o tecido e o eletrodo, conhecida como potencial de meia-célula [11]. Tais
potenciais podem levar a efeitos indesejáveis na captação dos biopotenciais.
Um dos problemas comumente causados pelos potenciais de meia-célula é
aquele decorrente da movimentação relativa do eletrodo em relação ao tecido biológico.
Esta movimentação causa alterações no potencial de meia-célula, dando origem a sinais
indesejáveis conhecidos como artefatos de movimentos [12]. Logo, para que haja
melhor obtenção do biopotencial de interesse, é desejável que o contato eletrodo-pele
seja estável e apresente o mínimo de movimento relativo possível.
Outro problema associado a boa qualidade do biopotencial captado é a
eliminação da camada de células mortas existentes na superfície da pele, e que se
denomina estrato córneo. Tal camada, por apresentar células com modificação celular
em relação às células mais profundas, funciona como atenuador para os biopotenciais.
Deste modo, antes da captação de biopotenciais é sempre recomendado um
procedimento padrão para limpar a região da pele onde será fixado o eletrodo, que é
realizado esfregando a pele com uma gaze embebida em álcool e, se necessário, a
tricotomia (a retirada de pêlos da área de contato).
Mesmo com a extração do estrato córneo, é comum utilizar-se um gel condutivo
no eletrodo, que além de ajudar a fixar, melhora a interface eletroquímica eletrodo-pele.
As raras contraindicações ou complicações existentes com o uso de eletrodos
estão relacionadas com reações alérgicas leves a substâncias como álcool, o metal de
contato ou o gel condutor.

2.4– Captação de Sinais

A captação do biopotencial do coração é feita por meio de múltiplos eletrodos


aplicados no corpo do paciente. Existem locais padronizados aonde os eletrodos de
registro são colocados, de acordo com orientações pré-estabelecidas, originando as
várias derivações utilizadas nas investigações clínicas sobre o funcionamento elétrico
do coração.

7
O ECG usado nas investigações clínicas é composto por 12 derivações
separadas, sendo 6 nos membros e 6 precordiais. Cada derivação registra o vetor
elétrico cardíaco a partir de um ângulo diferente, de modo que cada uma delas
representa uma visualização complementar da atividade cardíaca. Os eletrodos estando
em posições diferentes em cada derivação captam, e assim traçam, sinais ligeiramente
diferentes, como pode ser visto na Figura 2.2 e Figura 2.3
Neste projeto usamos três eletrodos, sendo dois para captação diferencial do
biopotencial, colocados no quinto espaço intercostal direito e esquerdo (CC5), e o
terceiro como referência de potencial para os dois primeiros, colocado abaixo do
umbigo. Estas mudanças acarretam em um traçado um pouco diferente do ECG clássico
mostrado na Figura 2.1.

Figura 2.2 – Derivações dos membros.

.
Figura 2.3 – Derivações precordiais.

8
2.5 – Rejeição de Ruído

O sinal do ECG se caracteriza por ter amplitude entre 1 a 5 mV e possui banda


passante de 0,05 e 100 Hz. Por ser um sinal de baixa amplitude e frequência é propício a
sofrer interferências eletromagnéticas, principalmente as associadas à rede elétrica
(60Hz) e de outros sinais provenientes do corpo humano.
Com a intenção de melhorar a relação sinal-ruído, devemos utilizar técnicas
como realimentação do sinal de modo comum, aterramento e filtros ativos e passivos
para eliminar os sinais indesejáveis no registro do ECG.
Neste projeto, utilizamos uma técnica conhecida como Driven Right Leg Circuit
(DRL), que consiste em um eletrodo, aplicado na perna direita do paciente ou em outro
ponto “neutro”, que ao invés de conectar este ponto do sujeito ao terra do circuito de
amplificação, re-injeta no indivíduo uma voltagem que é uma estimativa do sinal de
modo comum do amplificador (a média entre as entradas diferenciais). Este é o sinal
aplicado no terceiro eletrodo da nossa disposição de captação. Pode ser mostrado [11]
que tal técnica reduz a magnitude da tensão efetiva de modo-comum, elevando o
CMRR efetivo.
Como o ECG está localizado em uma faixa de frequências conhecida, podemos
ainda utilizar filtros para eliminar sinais indesejáveis. Este conceito também foi
utilizado no presente trabalho.

2.6– Transmissão sem fio

Uma das principais questões deste projeto é testar a possibilidade de transmitir,


sem o uso de cabos, dados provenientes do corpo humano para um computador. O
padrão global de transmissão sem fio Bluetooth é considerado uma alternativa ao padrão
à cabo RS-232, operando na banda ISM (industrial, scientific and medical) com
frequências entre 2,4 GHz e 2,485 GHz. Este protocolo abrange hardware e software
para prover troca de informações seguras numa rede privada entre diferentes tipos de
dispositivos eletrônicos, desde carros até telefones móveis e computadores.

9
Curiosamente, esta tecnologia foi batizada em homenagem ao rei dinarmaquês,
do século X, Harold Bluetooth, que uniu as facções em guerra dos territórios hoje
compreendidos por Noruega, Suécia e Dinamarca. De forma similar, a padronização do
modelo de transmissão permitiu o desenvolvimento de produtos que se conectam entre
si, mesmo sendo de marcas e modelos diferentes.

10
Capítulo 3

Materiais e Métodos

3.1 – Visão Geral

O projeto foi dividido em blocos (Figura 3.1), sendo que o circuito de aquisição,
representado na Figura 3.2, inclui os amplificadores e filtros para tratamento do
biopotencial recebido em In1 e In2 e posterior saída do sinal em ECG_out, ponto aonde
podemos ligar o osciloscópio ou, neste caso, o sistema de transmissão.

Figura 3.1 – Diagrama de blocos do sistema.

O amplificador OA1 possui um ajuste de nível DC do sinal de saída para, por


motivos que serão explicados adiante, reposicionar o ECG dentro da faixa dinâmica do
bloco Transmissor (Arduino + shield Bluetooth). De acordo com os princípios
discutidos na seção 2.5, O sinal DRL é resultado da amplificação do modo comum das
entradas diferenciais In1 e In2 e será injetado no indivíduo para reduzir o sinal efetivo
de modo comum e aumentar o CMRR.
O bloco Transmissor é composto pelo Arduino LilyPad e o shield Bluetooth. O
microprocessador é o responsável por receber o sinal analógico de ECG e digitalizá-lo
(10 bits). Os valores que definem a faixa de tensão para as entradas analógicas do
Arduino são baseados na alimentação do chip, sendo que existe uma função no
processador que, através de comparações internas de voltagem, checa o valor exato da

11
alimentação. Deste modo, e visando aproveitar toda a faixa dinâmica para maximizar a
relação sinal-ruído, é conveniente posicionar o nível médio do sinal de ECG no meio da
faixa dinâmica (aproximadamente +VCC/2) e amplifica-lo de modo a ocupar toda ela
(de 0 a +VCC).
Além de ser responsável pela digitalização, o microprocessador também
configura os parâmetros necessários e inicializa a rotina de conexão e envio de dados,
executada pelo shield Bluetooth.

Figura 3.2 – Diagrama do circuito de aquisição de Eletrocardiograma.

A recepção e exibição dos sinais de ECG ficou a cargo de um notebook rodando


uma aplicação desenvolvida no ambiente de programação LabVIEW. Nesta aplicação,
os dados recebidos foram tratados para serem reproduzidos graficamente.

3.2– Amplificadores

3.2.1. Amplificador de Instrumentação

12
O diagrama do Amplificador de Instrumentação INA128 (Figura 3.3) possui
uma configuração clássica de amplificador de instrumentação com três operacionais.
Para cada uma das duas entradas (+ e -), existe um amp-op agindo como buffer do sinal
de entrada e oferecendo alta impedância de entrada. As saídas dos dois amplificadores
convergem para o último amp-op, configurado para ganho unitário da entrada
diferencial, e este ajusta a impedância a um valor adequado para os próximos estágios.

Figura 3.3 – Esquemático de um amplificador INA 128/129

O ganho neste amplificador é alterado somente através do resistor RG


(Figura 3.3), podendo ser calculado por meio da equação 3.1. No presente trabalho este
ganho foi feito igual a 93,6.

⁄ RG Equação 3.1

Uma opção que pode ser usada com este integrado é aquela onde ao invés de
utilizarmos um resistor RG , usamos dois resistores de valores iguais à metade do valor
projetado de RG (Figura 3.2). Com esta montagem, e como consequência do topologia
interna do circuito integrado, o ponto entre os dois resistores RG1 e RG2 nos dá uma
estimativa do sinal de modo comum das entradas diferenciais, que poderá ser tratada e
utilizada, injetando-a no indivíduo para implementar a técnica DRL [7][9].

13
Na saída do INA foi implementado um filtro passa altas, com o intuito de
bloquear variações de nível DC na saída deste amplificador de instrumentação, que
ainda estejam associadas a variações de potenciais de meia-célula dos eletrodos. A
frequência de corte deste filtro foi definida em 0,07 Hz por meio dos valores dos
componentes RC (Equação 3.2). Vale ressaltar que a ação do filtro somente é efetiva se
as alterações dos potenciais de meia-célula dos eletrodos alterar o nível DC de saída do
INA, mas não causar saturação do mesmo. Neste caso, o amplificador não fornecerá o
sinal de saída desejado e a saída depois do sinal passa altas será nula.

⁄ Equação 3.2

3.2.2. Amplificador passa baixa e ajuste de nível DC

O integrador degenerado formado pelo amp-op LF353 atua como um filtro passa
baixas de 1ª ordem e tem a função de amplificar o sinal em aproximadamente 68 vezes
dentro de uma banda passante de 48,2 Hz, além de controlar o nível DC do sinal que
será entregue ao bloco Transmissor (Figura 3.4). A maior preocupação nesse estágio é
definir o maior ganho possível, sem que haja saturação, e usar componentes passivos
dentro da faixa de valores comerciais, que satisfaçam a frequência de corte desejada. O
ganho na banda passante é determinado simplesmente pela relação dos resistores R 2 e
R1, e a frequência de corte do filtro passa baixa realizado por este circuito é dada pela
Equação 3.3.
Ao posicionar a frequência de corte (48,2 Hz) dentro da faixa de frequências do
ECG, parte da amplitude do complexo QRS foi cortada. No entanto, dessa forma foi
possível eliminar interferências de frequências mais altas, como 60 Hz.
O sub-circuito divisor resistivo formado pelos resistores R6 e R7 e pelo
potenciômetro R8 foi utilizado para ajustar o nível DC do sinal de saída, de modo a
melhor aproveitar a faixa dinâmica da entrada analógica do Arduino.

14
Figura 3.4 – Filtro de passa baixas 1ª ordem e ajuste de nível DC.

Equação 3.3

3.3 – Arduino

Arduino é o nome dado tanto a placa de protótipo de circuitos, que contém um


microcontrolador e interface facilitada para entrada e saída de dados, quanto a
linguagem utilizada para programar este dispositivo. É considerado uma plataforma
open-source para desenvolvimento de projetos, sendo capaz de captar dados de sensores
e switches, processá-los e responder através de displays e LED’s. Podemos também
conectar o Arduino à um computador, seja através de cabos ou por protocolos sem fio.
No caso deste projeto foi utilizado uma montagem de Arduino de dimensões
reduzidas, própria para dispositivos wearable, conhecida como LilyPad. Além do
microcontrolador ATmega328 da placa, foi utilizado um shield para a transmissão de
dados sem fio do ECG. Shields são como são denominadas as placas complementares
desse sistema, que podem exercer funções de sensores (luz, som, temperatura), GPS,
display LCD ou transmissão (Bluetooth, GSM, WI-FI).
O Arduino LilyPad requer tensão de alimentação entre 2,5-5,5V e referência
(terra) para operar. Estes valores são os limiares de amplitude máxima do sinal de

15
entrada. Buscando aproveitar ao máximo a faixa de amplitudes na qual o Arduino aceita
sinais de entrada, houve a necessidade de, antes de transmití-lo, adicionar um nível DC
ao sinal de ECG e ajustar o ganho do último estágio de amplificação para que o sinal
final apresentasse metade da tensão de alimentação e excursionasse toda a faixa de
tensão entre 0 e Vcc.

3.4 – Bluetooth

Para este projeto foi escolhido um shield Bluetooth (Figura 3.5) devido às suas
vantagens como baixo consumo de energia, pequenas dimensões e possibilidade de
transmitir o sinal adquirido do ECG para diferentes dispositivos como notebooks, PC’s
e celulares. Por outro lado, a desvantagem desta tecnologia é o seu pequeno alcance,
causado pelo uso em baixa potência e a ausência de uma antena direcional na
transmissão.

Figura 3.5 - Arduino LilyPad e shield Bluetooth

3.5 – Alimentação

Os amplificadores operacionais utilizados requerem alimentação simétrica,


positiva e negativa, para operarem. De forma a manter este protótipo com o menor

16
volume e peso, foi utilizada uma bateria de ións de Lítio de 3,7 V e 400 mAh, e um
conversor DC/DC DCH010505DN7. O conversor foi capaz de fornecer tensão de saída
de 4,1V, positiva e negativa, para os amplificadores operacionais e o Arduino.
Para alimentar o Amplificador de Instrumentação, foram utilizados diodos Zener
de threshould de 3,3 V. Essa alimentação regulada foi necessária para reduzir a parcela
de interferência que atingia o operacional e estava afetando a captação do biopotencial.

Figura 3.6 - Bateria de ións de Lítio e Conversor DC/DC

3.6 – LabVIEW

Foi desenvolvida uma aplicação em LabVIEW com funções para conectar-se ao


transmissor Bluetooth, receber e tratar os dados recebidos e representá-los em um
gráfico no tempo, além de exibir mensagens de erro caso haja problemas na conexão.
O software LabVIEW é uma boa opção para o desenvolvimento de aplicativos
que simulam instrumentos virtuais, incluindo a representação do seu painel. O
desenvolvimento do código fonte é feito em diagrama de blocos de execução aonde o
usuário tem a possibilidade de programar através de uma interface gráfica, utilizando de
funções já existentes chamadas de virtual instruments. É permitido ao programador
personalizar o painel de controles, escolhendo opções como botões e switches para
alterar parâmetros de entrada no sistema e indicadores numéricos, caixas de textos e
gráficos para exibir informações. O software utiliza VISA, linguagem de alto nível,
padrão de interface de I/O para programação de instrumentos. Cada bloco contém um
conjunto de instruções de baixo nível, já agrupadas, com as suas variáveis internas e
tipos já definidos.
A execução do programa é feita dentro de um loop, aonde a sequência de blocos

17
será executada até que haja uma interrupção, no caso, algum erro. As funções tem
entrada e saída de código de erro, facilitando a identificação do bloco que o ocasionou,
assim como há blocos responsáveis por interpretar e explicar estes erros.
Alguns blocos utilizados:
 Configure Serial Port – bloco aonde as configurações da conexão são
definidas, como a porta que será utilizada, baudrate, caracter de fim de
palavra e quantidade de bits de data. Como a maior parte desses atributos
são constantes, eles já foram definidos diretamente no código fonte. A
única variável é a VISA resource name, a porta em que será conectado o
dispositivo. Durante os testes com o notebook utilizado, houve conexões
com e sem fio, sendo, respectivamente, usadas as portas seriais COM7 e
COM5. Para a seleção da porta utilizada, foi inserido um controle no
painel frontal do aplicativo, e suas opções são atualizáveis sempre que há
uma nova conexão serial.

Figura 3.7 – VISA Configure Serial Port.

 Set I/O Buffer Size – após configurar a porta serial, utilizamos esta
função para definir o tamanho buffer de leitura de dados.

Figura 3.8 – VISA Set I/O Buffer Size.

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 Read – função de leitura de dados, aonde é definido o tamanho, em
bytes, a ser lido em cada execução.

Figura 3.9 – VISA Read.

 Fract/Exp String To Number – este bloco intepreta cada valor lido


como um número, possibilitando o uso destes no gráfico. Podemos
configurar quantas posições serão lidas e qual o símbolo que identifica o
começo das casas decimais.

Figura 3.10 – Fract/Exp String to Number.

 Close – função para fechar a conexão com o dispositivo caso haja


alguma interrupção por erro ou o botão de Stop seja pressionado. A
conexão deve ser fechada desta forma, senão será preciso reiniciar o
dispositivo.

Figura 3.11 – VISA Close.

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Figura 3.12 – Painel frontal do aplicativo

Figura 3.13 – Código fonte do aplicativo

20
Capítulo 4

Resultados

4.1 – Hardware desenvolvido

O circuito de aquisição foi acondicionado em uma caixa metálica, sendo possível


transportá-lo facilmente dentro de um bolso. A face interna da caixa foi coberta com um
revestimento não condutor, para que não houvesse curtos na placa. A bateria de íons de
Lítio e um switch de alimentação também foram acomodados dentro do recipiente. O
Arduino LilyPad ficou do lado de fora da caixa, somente protegido por um plástico, por
precaução.

Figura 4.1 – Montagem final do dispositivo.

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4.2 – Comparações
Nesta seção apresentaremos uma comparação entre o sinal de ECG captado com o
transmissor ligado ou desligado. O intuito é mostrar que, aparentemente, há
interferência do transmissor e o circuito de captação.

4.2.1. Transmissor desligado


A Figura 4.2 representa uma imagem do sinal de saída do circuito de aquisição,
sem haver transmissão sem fio. Nesta imagem é fácil reconhecer as ondas P e T, e o
complexo QRS. Deve ser mencionado que devido ao filtro passa baixas e à captação
do biopotencial na derivação CCS, o complexo QRS está sendo mostrado com a
amplitude equivalente ao da onda T.

Figura 4.2 – Imagem no Osciloscópio sem transmissão Bluetooth.

4.2.2. Transmissor ligado


Quando a transmissão é ligada, ocorre uma interferência do shield Bluetooth na
aquisição do biopotencial, e tanto a saída do circuito de captação (Figura 4.3), como o
sinal transmitido e recebido no computador (Figura 4.4) apresentam um sinal de
interferência de frequência próxima de 20Hz. Houve a tentativa de amenizar o efeito
deste sinal alterando a alimentação do amplificador de instrumentação, mas não foi
aconselhável filtrá-lo digitalmente, pois a sua frequência estava dentro da faixa do
sinal de ECG e isto levaria a perda de muita informação do ECG.

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Figura 4.3 – Imagem do ECG na saída do circuito de captação durante a transmissão.

Figura 4.4 – Imagem do sinal de ECG transmitido e recebido no computador.

A Figura 4.5 nos mostra os níveis pico a pico do sinal do ECG e da interferência
presente. A razão entre estes foi da ordem de 3,3.

Figura 4.5 – Relação sinal/ruído durante a transmissão.

23
4.3 – Discussão

Quando o módulo de transmissão está ativo, houve a ocorrência de um sinal de


interferência nos sinais do circuito de aquisição de ECG. Após alguns testes e
observações, foi constatado que a tensão proveniente do conversor DC/DC era afetada
por esta interferência, vindo do Arduino, causando perda na qualidade do sinal
proveniente do amplificador de instrumentação. O problema foi amenizado através da
regulação das tensões de alimentação deste amplificador com um diodo Zener de 3,3V.
Esta técnica foi capaz de manter a alimentação do INA128 constante e menos ruidosa,
eliminando parte do ruído no sinal captado.
Esta interferência não é de origem magnética, pois foi testado o circuito de
aquisição dentro e fora da caixa metálica aterrada, como também só mantendo o shield
Bluetooth fora, mas sem melhoras perceptíveis. Uma possibilidade seria testar filtrar a
alimentação nos pontos de conexão entre o estágio de aquisição e o de transmissão.
Como o sinal de interferência é originado no Arduino/Shield e está alcançando o
circuito por outros meios que não o magnético, resta a ligação entre fios desses dois
estágios. Esta interferência deve ser melhor investigada em projetos futuros.
Foram feitos poucos testes relativos ao alcance efetivo de transmissão. Neles foi
verificado que o alcance da transmissão sem erros ou perdas de comunicação varia de
acordo com o ambiente e o mobiliário. A transmissão foi testada em um corredor e em
uma sala aberta, e o alcance foi de até 12 m, sem interrupções. Já dentro do laboratório,
com equipamentos e baias de trabalho, o alcance caiu para 5 m. Uma ocorrência
interessante foi quando o dispositivo estava a uma distância maior que o limite obtido
nos testes e o computador receptor perdeu contato com o transmissor, fazendo com que
a transmissão de dados fosse interrompida e o sinal de ECG mostrado na tela fosse
“pausado”. Todavia, quando o contato foi restabelecido em poucos segundos, o
software recuperava os dados do Arduino e voltava a exibir os dados do sinal de ECG.
Caso a interrupção fosse muito longa, o aplicativo encerrava a recepção e exibe uma
mensagem de erro pela perda de conexão. Questões relativas às limitações de alcance,
assim como possíveis melhorias do mesmo, uma vez que o fabricante do shield
Bluetooth afirma que o alcance do mesmo é muito superior ao observado neste projeto,
também devem ser melhor investigadas em projetos futuros.

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Conclusões

Foi possível conhecer características sobre captação de biopotenciais, em


especial do sinal de ECG, assim como sobre o processamento relacionado ao seu
condicionamento, digitalização e transmissão/recepção pela tecnologia Bluetooth. A
ocorrência de interferência entre o circuito de captação e o transmissor mostra que o
projeto que vem sendo desenvolvido no LIB, para o desenvolvimento de tecnologia de
sistemas wearable, precisa investigar melhores alternativas para a solução deste
problema. Sugestões para novas abordagens dizem respeito ao desenvolvimento mais
detalhado do layout do circuito de captação, com uso de blindagens e planos de terra,
além do possível uso de filtragem seletiva para o sinal de interferência, como também
melhores protocolos de transmissão/recepção. A própria adaptação do aplicativo
desenvolvido para laptop para uso em sistemas de celulares pode ser um próximo passo,
que irá adicionar mais uma possibilidade de acompanhamento de sinais vitais.
Como faz parte de um projeto maior, espera-se que a captação de biopotenciais
por sistemas wearable possa ser incrementada com o uso de eletrodos ativos, que seria a
aplicação de pré-amplificadores em cada eletrodo para mitigar a influência de
interferências eletromagnéticas (principalmente 60Hz) no cabeamento até o wearable
device. Espera-se ainda que os eletrodos têxteis, projeto que vem sendo desenvolvido no
LIB por outra aluna do Departamento de Eletrônica e de Computação, possam ser
agregados ao presente sistema de captação e transmissão, criando um protótipo
completo do wearable sensor destinado à captação de ECG, e que futuramente possa ser
utilizado em clínicas de recuperação cardiológica ou em aplicações desportivas.

25
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into clothing." Physiological measurement 28.11 (2007): 1405.

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