Você está na página 1de 72

UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA

CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

RECOMPOSIÇÃO DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL APÓS


BLECAUTE – ÁREA 440 kV DA USINA HIDRELÉTRICA DE JUPIÁ

VANDRIANNE GIANNE LEITE RODRIGUES

RIO DE JANEIRO
JUNHO / 2018
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
ENGENHARIA ELÉTRICA

RECOMPOSIÇÃO DO SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL APÓS


BLECAUTE – ÁREA 440 kV DA USINA HIDRELÉTRICA DE JUPIÁ

VANDRIANNE GIANNE LEITE RODRIGUES

Monografia apresentada como requisito da


disciplina Monografia II do curso de Engenharia
Elétrica
Orientador: Roberto Vaisman
Coorientador: João Marcelo Agueda Mendonça

RIO DE JANEIRO
JUNHO / 2018
FICHA CATALOGRÁFICA

R696 FICHA CATALOGRÁFICA


Rodrigues, Vandrianne Gianne Leite.
Recomposição do sistema interligado nacional após
blecaute – área 440 Kv da Usina Hidrelétrica de Jupiá / por
Vandrianne Gianne Leite Rodrigues. - 2018.
71 f.: il. color.; 30 cm.

Orientação: Prof. Roberto Vaisman e João Marcelo


Agueda Mendonça.
Monografia – Universidade Veiga de Almeida, Curso de
Graduação em Engenharia Elétrica, Rio de Janeiro, 2018.

1. Engenharia elétrica. 2. Blecaute. 3. Sistema


Interligado Nacional (SIN). 4. Usinas hidrelétricas – São
Paulo (Estado). I. Vaisman, Roberto (Orientador). II.
Mendonça, João Marcelo Agueda ( Coorientador). III.
Universidade Veiga de Almeida. Curso de Graduação em
Engenharia Elétrica. IV. Título.

CDD 621.3
BN
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
ENGENHARIA ELÉTRICA

Vandrianne Gianne Leite Rodrigues


Recomposição do Sistema Interligado Nacional após Blecaute – Área 440
kV da Usina Hidrelétrica de Jupiá

Monografia apresentada como


requisito final à conclusão do
curso de Engenharia Elétrica.

APROVADA EM: __/__/__

Grau conferido ao aluno: ________________________

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________
Prof. Eng. Roberto Vaisman
ORIENTADOR

_______________________________________________________________
Eng. João Marcelo Agueda Mendonça
COORIENTADOR

______________________________________________________________
Prof. Eng. Camilo Braga Gomes

_______________________________________________________________
Vandrianne Gianne Leite Rodrigues

Coordenação de Engenharia Elétrica

Rio de Janeiro
DEDICATÓRIA

A Deus, por nunca me desamparar e ser


o meu porto seguro, pelo dom da vida, saúde e
força para superar as dificuldades.
Aos meus pais, Luiz Carlos e Valdileia,
pela educação e suporte ao longo dos anos e
incentivo de sempre.
Ao meu irmão, Lianderson, e toda a
minha família, por compreenderem todos os
momentos de ausência, apoiarem minhas
decisões e serem referência.
Ao meu namorado, Marcus, pelo
companheirismo, apoio emocional e amor
desprendido em todos os momentos,
principalmente os de angústia.
AGRADECIMENTOS

Ao orientador Roberto Vaisman e ao coorientador João Marcelo, por todo


auxílio e incentivo na elaboração e finalização deste projeto e por aceitarem o
convite com prontidão.

Aos companheiros de trabalho do Operador Nacional do Sistema Elétrico,


por toda torcida ao longo dos anos, especialmente pela paciência e ajuda nas
dificuldades técnicas e pessoais.

Aos professores da Universidade Veiga de Almeida, por todo o


conhecimento compartilhado durante o curso que contribuíram direta ou
indiretamente para a minha formação.

Aos amigos que conheci durante o curso e que levarei por muitos anos
mais, Bruno da Silva, Hélio Santos, Júlio César, Marcos Ferreira e Thuany
Martins por encararem os desafios junto comigo e sempre estarem à disposição
para ajudar.
RESUMO

As usinas hidrelétricas constituem a principal fonte de produção da matriz elétrica


do Sistema Interligado Nacional brasileiro - SIN. Tais usinas tem como uma de
suas principais características estarem afastadas dos grandes centros de carga,
que estão majoritariamente localizados na região Sudeste do país. Para que esta
energia possa ser entregue com qualidade é necessário a utilização de linhas de
transmissão em extra alta-tensão capazes de transportá-la com o máximo de
segurança e o mínimo de perda possível.
No Brasil, os blecautes mais severos foram originados por conta do desligamento
de linhas de transmissão que estavam operando com carregamento elevado
devido a esse grande escoamento de energia desde as usinas até os centros de
carga. Após cada um destes blecautes, nos quais uma grande quantidade de
equipamentos desliga simultaneamente, deve-se restabelecer esta rede com a
maior agilidade e segurança possíveis. Com os dados dessas ocorrências
passadas, o Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS, empresa
responsável pela coordenação e controle da operação do SIN, elaborou
instruções de operação para auxiliar os operadores de sistema na normalização
do SIN após distúrbios de grande porte.
Em função do exposto, o objetivo deste trabalho é apresentar o atual processo
da recomposição da Área de 440 kV que é iniciada pela Usina Hidrelétrica de
Jupiá, no estado de São Paulo, assim como os principais conceitos envolvidos
no processo de recomposição, fragilidades encontradas no mesmo e indicar
possíveis melhorias.
Para a análise deste processo será utilizado o software Operator Training
Simulator – OTS – e os resultados nele obtidos com a sequência de manobras
relacionadas nas Instruções de Operação.

Palavras chaves: Sistema Interligado Nacional; Recomposição; Blecaute.


ABSTRACT

The hydro power plants are the main energy production source in the electric
matrix of the Brazilian Interconnected Power System - BIPS. One of the main
characteristics of these power plants is the long distance between them and the
load centre, that is mainly located in the Southeast region of the country. In order
to deliver the energy produced with quality is necessary to use extra high-voltage
transmission lines that ensures not only safety but also reduces energy losses.
In the BIPS the most severe blackouts happened after the outage of transmission
lines that were operating close to their nominal capacities. After each of these
blackouts, when a big number of equipment are simultaneously switched-off, the
system has to be restored as fast and, at the same time, as safe as possible.
With historical data obtained from the biggest brazilian blackouts, the Operador
Nacional do Sistema Elétrico (ONS), company responsible for coordinating and
controlling the BIPS operation, created a series of operation procedures in order
to help the dispatchers restore the grid after big events in the grid.
Based on all these specific characteristics, the main goal of this study is to
present the current restoration process of the 440 kV corridor that starts at the
Jupia power plant, located in São Paulo state, as well as the main concepts,
fragilities and improvements related to this process.
In order to make these analyses it will be used the software Operator Training
Simulator – OTS – and the results obtained with the maneuvers determined in
the operation procedures.

Key words: Brazilian Interconnected Power System; Power Grid


Restoration; Blackout.
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Extensão da rede de transmissão ................................................. 19


Figura 2.2 - Ampliação do consumo de energia no SIN em 12 anos ............... 20
Figura 2.3 - Curva de aversão à blecautes ...................................................... 20
Figura 2.4 - Configuração da subestação de Bauru em 1999 .......................... 25
Figura 2.5 - Configuração da subestação de Bauru em 2016 .......................... 26
Figura 2.6 - Configuração da malha de 440 kV em 21 de janeiro de 2002 ...... 27
Figura 2.7 - Tronco de 765 kV do SIN .............................................................. 28
Figura 2.8 - Início da tomada de carga em cada capital do Nordeste .............. 30
Figura 2.9 - Situação do sistema pós falta do dia 04/02/2014 .......................... 31
Figura 2.10 - Configuração da SE Xingu em 21/03/2018 ................................. 32
Figura 3.1 - Total de cargas recompostas na fase fluente ............................... 36
Figura 4.1 - Instrução de operação .................................................................. 41
Figura 4.2 - Corredores adjacentes à Área Jupiá ............................................. 42
Figura 4.3 - Áreas de recomposição separadas por cor................................... 43
Figura 4.4 - Corredor de Jupiá após blecaute .................................................. 44
Figura 4.5 - Sincronismo de unidades geradoras em Jupiá ............................. 45
Figura 4.6 - Energização radial para 1ª tomada de carga ................................ 46
Figura 4.7 - Tomada de carga na SE Centro-CTR ........................................... 46
Figura 4.8 - Energização radial para 1ª tomada de carga ................................ 47
Figura 4.9 - Tomada de carga na SE Sul ......................................................... 48
Figura 4.10 - Usina de Jupiá com 8 unidades geradoras ................................. 48
Figura 4.11 - SE Marechal Rondon preparada para energização expressa ..... 49
Figura 4.12 - Tomada de carga na SE Getulina ............................................... 50
Figura 4.13 - Tomada de carga na SE Bauru ................................................... 51
Figura 4.14 - Conclusão da fase fluente da Área Jupiá .................................... 51
Figura 4.15 - Duas áreas de recomposição distintas na SE Três Irmãos ......... 52
Figura 4.16 - Paralelo fechado entre as Áreas Jupiá e Ilha Solteira ................. 53
Figura 4.17 - Paralelo entre as Áreas Jupiá, Henry Borden e Ilha Solteira ...... 54
Figura 4.18 - Indicação por cor das áreas interligadas ..................................... 54
Figura 4.19 - Fechamento de paralelo na SE Água Vermelha ......................... 55
Figura 4.20 - Dois corredores de recomposição na SE Jupiá .......................... 56
Figura 4.21 - Fechamento de paralelo na SE Jupiá ......................................... 57
Figura 4.22 - Paralelos com a Área Jupiá concluídos ...................................... 57
Figura 4.23 - Alternativa na recomposição de Jupiá ........................................ 58
Figura 4.24 - Prosseguimento da recomposição fluente .................................. 59
Figura 5.1 - Tomada de carga na Instrução de Operação ................................ 62
Figura 5.2 - Transformadores 230 / 20 kV na SE Centro-CTR ......................... 63
Figura A.1 - Tela de controle do OTS ............................................................... 69
Figura A.2 - Posto de operação do COSR-SE ................................................. 70
Figura A.3 - Mesa telefônica do COSR-SE ...................................................... 70
Figura A.4 - Posto de simulação ou back-up do COSR-SE ............................. 71
Figura A.5 - Mesa telefônica de simulação ou back-up do COSR-SE.............. 71
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 - Faixas de Tensão na Recomposição ........................................... 34


Tabela 3.2 - Faixa de Frequência na Recomposição ....................................... 34
Tabela 3.3 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Sudeste .................. 36
Tabela 3.4 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Sul .......................... 37
Tabela 3.5 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Norte ...................... 38
Tabela 3.6 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Centro-Oeste.......... 39
Tabela 3.7 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Nordeste................. 39
Tabela A.1 - Possibilidades de Eventos no OTS .............................................. 67
Sumário

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 13
1.1 Objetivos gerais .................................................................................. 13
1.2 Objetivos específicos .......................................................................... 13
1.3 Justificativa e relevância do estudo ..................................................... 14
1.4 Delimitação do estudo ......................................................................... 15
1.5 Definição de termos ............................................................................ 15
1.6 Metodologia da pesquisa .................................................................... 16
2 SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL ............................................... 17
2.1 Operação do SIN ................................................................................ 18
2.2 Visão geral das perturbações do SIN .................................................. 21
2.3 Ocorrências de grande porte no Brasil ................................................ 22
3 RECOMPOSIÇÃO DO SIN ................................................................. 33
3.1 Conceitos principais ............................................................................ 33
4 ÁREA 440 kV DA UHE JUPIÁ ........................................................... 41
4.1 Recomposição Fluente........................................................................ 44
4.2 Recomposição Coordenada ................................................................ 52
4.3 Procedimentos Alternativos de Recomposição ................................... 57
5 CONCLUSÃO ..................................................................................... 61
5.1 Conclusões e recomendações ............................................................ 61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 65
APÊNDICE A – Operator Training Simulator – OTS .................................... 67
13

1 INTRODUÇÃO

Após um blecaute, é imprescindível que o restabelecimento do sistema e


das cargas interrompidas seja realizado no menor tempo possível, atendendo,
simultaneamente, os requisitos de segurança e confiabilidade do sistema elétrico
para que não sejam verificadas novas ocorrências, que podem acrescentar um
risco adicional à rede já fragilizada e / ou colocar em perigo vidas humanas e
equipamentos.

1.1 Objetivos gerais

O objetivo deste trabalho é apresentar a filosofia, técnicas e ferramentas


utilizadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), no âmbito da
operação em tempo-real, quando da necessidade de recompor a rede elétrica
após ocorrências de grande porte. Há muitos desafios quando se trata destas
recomposições e isso deve-se principalmente à impossibilidade de prever
exatamente quais equipamentos serão afetados, quais poderão retornar à
operação e quais permanecerão impedidos, dentre outros aspectos, o que
dificulta o andamento das ações corretivas para restabelecer o sistema, assim
como a própria elaboração das Instruções de Operação.
Com o presente estudo, serão levantados os ganhos para a operação em
tempo-real. As instruções são elaboradas levando em consideração possíveis
restrições no sistema que comprometeriam a recomposição padrão estudada de
forma a garantir a agilidade e segurança necessárias, sendo assim um
importante pilar de apoio para as equipes responsáveis pela restauração do
sistema e um facilitador para evitar a ocorrência de erros humanos em um
momento de grande pressão psicológica.

1.2 Objetivos específicos

Serão descritas todas as características relevantes do Sistema Interligado


Nacional (SIN) para melhor entendimento do processo de recomposição geral e
da área 440 kV da Usina Hidrelétrica de Jupiá (UHE Jupiá), especificamente,
cujas manobras previstas nas Instruções de Operação serão verificadas através
14

da simulação em software específico. Em seguida será apresentada uma análise


crítica com relação às dificuldades encontradas na simulação de um blecaute e
posterior recomposição da rede, e as manobras preconizadas nas instruções,
assim como sugestões de melhoria.

1.3 Justificativa e relevância do estudo

O blecaute é um evento de grandes proporções que afeta todas as esferas


da sociedade, a política, a empresarial, a comercial e a cidadania de modo geral.
A necessidade de energia elétrica dentro de padrões restritos de qualidade e alta
confiabilidade tem se mostrado cada vez mais frequente com a evolução da
humanidade e das tecnologias disponíveis. Qualquer interrupção neste
fornecimento de energia é prejudicial para a comunidade, desde o comerciante
dono do açougue, que fica sem refrigeração ocasionando a perda de seus
insumos; a fábrica sem gerador diesel, ou com gerador diesel inoperante, que
fica sem sua produção gerando prejuízos financeiros enormes e, às vezes,
incalculáveis; a população de maneira geral, que sofre com a falta de iluminação
nas ruas possibilitando uma maior incidência de delitos, dentre outros tipos de
intempéries. Com todos os problemas originados pela falta de energia elétrica, a
recomposição eficaz e rápida é de extrema importância quando da ocorrência de
um blecaute.
A atualização constante das Instruções de Operação, que normalmente é
feita por conta de alterações do sistema – construção de novas linhas de
transmissão, subestações ou, até mesmo, usinas, é essencial para que a
recomposição se mantenha eficiente e não cause danos irreparáveis à
sociedade. Um dos grandes desafios para a operação em tempo-real é o
treinamento permanente das equipes de operadores de modo que os mesmos
estejam sempre aptos a recompor a rede com a versão mais atualizada dos
procedimentos normativos.
Com o avanço das tecnologias disponíveis para a operação, a ferramenta
de simulação tem se tornado cada vez mais essencial no treinamento dos
técnicos responsáveis pela operação e controle do Sistema Interligado Nacional,
pois permite aos mesmos colocar em prática instruções que, em condições
normais, só seriam usadas em situações de crise, além de possibilitar o
15

desenvolvimento de aplicativos específicos para o auxílio à recomposição,


sugestões de melhorias nas próprias instruções, avaliação da interação entre os
operadores, divisão adequada de tarefas, entre outros benefícios.

1.4 Delimitação do estudo

A abordagem será específica para a Área 440 kV da UHE Jupiá, sendo


esta área apenas uma dentre outras 15 áreas de recomposição existentes na
região sudeste do país. Serão simulados todos os fechamentos de paralelo entre
a Área 440 kV da UHE Jupiá e as demais áreas, considerando que os processos
iniciais de recomposição destas já foram concluídos.

1.5 Definição de termos

A seguir será apresentada uma série de definições no intuito de explicar os


termos normalmente usados nos estudos de recomposição.
Um Sistema Especial de Proteção (SEP), consiste em um esquema que
atua para evitar um colapso, verificando condições anormais no sistema e agindo
de forma a afetar o menor número possível de clientes. 1
Consideraremos Esquema de Controle de Emergência (ECE), como um
SEP que, ao detectar uma condição anormal no sistema, atua de forma a
preservar a integridade de equipamentos e linhas de transmissão. 1

O Esquema Regional de Alívio de Carga (ERAC) é um Sistema de Proteção


que minimiza os efeitos da ocorrência de uma subfrequência na rede, por meio
de desligamentos automáticos escalonados de determinados blocos de carga
selecionados pelas concessionárias de distribuição. 1

O REGER é a Rede de Gerenciamento de Energia, usada pelo ONS. Uma


de suas funcionalidades é o sistema de supervisão e controle (SSC), baseados
no Sistema Aberto de Gerenciamento de Energia (SAGE), desenvolvido pelo
Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL), ferramenta amplamente
utilizada também nas salas de controle de concessionárias de distribuição,
transmissão e geração de energia elétrica. 2, 4
16

O Operator Training Simulator (OTS) é um software de simulação de última


geração usado para treinamento de operadores de sistemas. Este simulador foi
amplamente utilizado para a preparação das equipes de tempo-real do ONS e
dos Agentes para os grandes eventos sediados no Brasil nos últimos anos, como
a Copa do Mundo FIFA de 2014 e as Olimpíadas e Paralimpíadas Rio 2016, de
forma a aumentar a segurança da operação do Sistema Interligado Nacional -
SIN.

1.6 Metodologia da pesquisa

Este estudo utilizar-se-á da pesquisa descritiva com o objetivo de descrever


os fenômenos observados com posterior indicação do quanto benéfico para a
operação é o treinamento do processo de recomposição, sendo assim uma
avaliação de resultados. Será utilizada a pesquisa baseada em estudo de caso
da Área 440 kV da Usina Hidrelétrica de Jupiá, observada na simulação e nas
Instruções de Operação.
17

2 SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL

A usina de Furnas, localizada no rio Grande, foi a responsável pela primeira


forte interligação elétrica no Brasil, envolvendo os estados de Rio de Janeiro,
São Paulo e Minas Gerais. Com esta interligação também surgiram problemas
(de baixo impacto) de coordenação entre as empresas envolvidas. Para evitar a
reincidência das adversidades com a construção de novos empreendimentos (na
época já havia outros projetos para o suprimento de energia por meio de usinas
de grande porte como Jupiá e Ilha Solteira, localizadas no rio Paraná, e Estreito,
localizada no rio Grande), foi oficializado na região Sudeste, em 1969, o Comitê
Coordenador da Operação Interligada (CCOI) da Região Centro-Sul. Na Região
Sul também foi criado um comitê semelhante, em 1970, enquanto que no
Nordeste, o Comitê Coordenador de Operação do Nordeste (CCON), somente
foi criado em 1974. 5
Depois de acordo firmado entre os governos brasileiro e paraguaio para a
construção da usina hidrelétrica de Itaipu foram necessárias novas diretivas de
expansão e operação dos sistemas Sudeste e Sul de acordo com a dimensão
desta usina (o aumento da capacidade de geração de energia do SIN foi de 6.355
MW para 16.698 MW, contando com 12.577 MW pertencente a sistemas
interligados). A criação de Grupos Coordenadores para Operação Interligada
(GCOI), em 1973, em substituição aos CCOI, foi uma das principais mudanças
implantadas. 5
Após diversas ocorrências de racionamento e de condições críticas no
sistema brasileiro, em 1998 foi criado o Operador Nacional do Sistema Elétrico,
em substituição ao GCOI e ao CCON existentes, e estabelecida nova legislação
para o setor de energia elétrica, que trouxe regras básicas para o mercado
atacadista de energia. 5
Atualmente, o Sistema Interligado Nacional é composto pelos subsistemas
das regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e parte da região Norte, bem
como as interligações elétricas entre eles, sendo a coordenação e controle da
operação deste grande sistema realizado pelo ONS. A interligação destes
subsistemas possibilita um melhor aproveitamento energético das usinas nas
diversas regiões do país, pois consegue compensar a sazonalidade de seus
períodos chuvosos, o que reflete diretamente no custo da energia elétrica. 6
18

O período de maior incidência de chuva, também chamado de período


úmido, na região Sul, por exemplo, coincide com o período de estiagem, ou
período seco, das regiões Sudeste e Nordeste. É graças às interligações entre
as regiões que se torna possível escoar a energia produzida em uma região para
outra, sempre levando-se em consideração o nível de chuva das bacias
hidrográficas e os níveis dos reservatórios de cada uma das usinas existentes e
operadas pelo ONS.
Atualmente existem 4 interligações entre subsistemas no país, são elas:
Interligação Sul – Sudeste, Interligação Sudeste – Nordeste, Interligação Norte
– Sudeste e Interligação Norte – Nordeste; além das Interligações em Corrente
Contínua de Itaipu, conectando o setor de 50 Hz da usina, pertencente ao
Paraguai, com o sistema brasileiro que opera em 60 Hz; do Xingu, que leva a
energia da usina de Belo Monte até Minas Gerais; e do Madeira, que conecta as
usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio com a subestação de Araraquara,
no interior do estado de São Paulo.
Para que seja possível uma operação segura do SIN, o ONS estruturou a
operação em Tempo-Real por meio de quatro centros regionais e um centro
nacional, a saber:
a) COSR-SE: centro regional responsável pela operação dos
equipamentos de geração e transmissão da região Sudeste;
b) COSR-NCO: centro regional responsável pela operação dos
equipamentos de geração e transmissão das regiões Norte e Centro-
Oeste;
c) COSR-NE: centro regional responsável pela operação dos
equipamentos de geração e transmissão da região Nordeste;
d) COSR-S: centro regional responsável pela operação dos
equipamentos de geração e transmissão da região Sul;
e) CNOS: centro nacional responsável por controlar e coordenar a
operação das interligações entre as regiões brasileiras.

2.1 Operação do SIN


19

A divisão determinada pelo ONS para operação é importante e funcional


por conta das dimensões continentais do sistema elétrico brasileiro, conforme
pode ser visto na figura 2.1, da quantidade e complexidade de suas instalações,
do número de agentes de operação, dentre outros aspectos.

Figura 2.1 - Extensão da rede de transmissão

Fonte: ONS – Site 7

Com o crescimento regular do consumo de energia elétrica no país,


conforme ilustrado na figura 2.2, e a insatisfação da sociedade quando há uma
interrupção no fornecimento, conforme figura 2.3, o sistema elétrico brasileiro
está em constante mudança. Instalações já existentes são regularmente
reforçadas e novos empreendimentos estão sempre surgindo com o objetivo de
aumentar a confiabilidade do SIN.
20

Figura 2.2 - Ampliação do consumo de energia no SIN em 12 anos

Fonte: ONS - Site 7

Figura 2.3 - Curva de aversão à blecautes

Fonte: Artigo SNPTEE 8

Para que a demanda diária de energia elétrica seja atendida e / ou


restabelecida rapidamente e com segurança em situações de perturbações, o
ONS redige e disponibiliza um grande conjunto de Instruções de Operação. Tais
21

documentos são fruto de estudos de fluxo de potência, de curtos-circuitos, de


estabilidade eletromecânica, que permitem gerar documentos buscando
minimizar o risco de tomada de decisões e ações que possam ocasionar
consequências negativas para o SIN, ou agreguem risco de danificação de
equipamentos e / ou para vidas humanas.

2.2 Visão geral das perturbações do SIN

O SIN está, a todo instante, exposto ao risco de desligamentos


intempestivos de equipamentos. Estes desligamentos podem provocar variações
de tensão nos barramentos das instalações, sobrecargas em equipamentos, etc.
De acordo com a severidade das perturbações, tais variações podem até mesmo
acarretar a interrupção do fornecimento de energia para os consumidores.
A maioria das ocorrências verificadas no SIN são simples, ou seja, apenas
um equipamento é desligado e, normalmente, tais ocorrências não acarretam
grandes transtornos para o sistema. As principais causas destes desligamentos
são descargas atmosféricas, queimadas, ventos de alta intensidade e chuvas
fortes.
Para recompor o sistema elétrico, seja por conta de um desligamento
simples, múltiplo ou de uma perturbação geral, os operadores de sistema dos
agentes de geração, transmissão, distribuição e dos centros de operação do
ONS precisam, obrigatoriamente, de treinamento e familiarização com as
Instruções de Operação, caso contrário os operadores só poderiam praticar o
conteúdo das instruções de operação quando ocorressem as perturbações
efetivamente em tempo-real.
Uma grande ocorrência é um momento de grande ansiedade para os
operadores de sistema, uma vez que precisam recompor a rede elétrica com
agilidade e, simultaneamente, segurança. E erros e / ou situações inesperadas
podem acontecer. Para minimizar os efeitos dessas situações indesejadas são
realizados treinamentos periódicos de recomposição do SIN nos diversos
Centros de Operação do ONS, como meio de capacitar e orientar os operadores
de sistema.
22

2.3 Ocorrências de grande porte no Brasil

A maioria das ocorrências que ocasionou grandes impactos para o Brasil,


tanto em termos sociais quanto econômicos, deram-se devido à grande
exploração da sazonalidade das chuvas nas diferentes bacias hidrográficas,
fazendo com que as linhas de transmissão responsáveis pela interligação entre
áreas / regiões estivessem operando próximas dos seus limites operativos.
Segue abaixo um breve histórico com algumas das ocorrências de grande
relevância na história do setor elétrico brasileiro, nas quais havia sempre grandes
desbalanços de geração entre as áreas, para um maior aproveitamento
energético, e ocorreram desligamentos automáticos que acarretaram em perda
de grandes blocos de carga.

2.3.1 Abril de 1984

Em abril de 1984 ocorreu a primeira grande perturbação no Brasil após a


interligação de diversas áreas do sistema elétrico brasileiro. Esta ocorrência teve
início às 16h37min do dia 18 de abril, com o desligamento de um transformador
de 500 / 345 kV da subestação de Jaguara, que, na época, contava com 2
transformadores. A elevada geração nas usinas de São Simão, Itumbiara e
Emborcação, pertencentes à bacia do rio Paranaíba, com influência direta no
carregamento desta transformação, e a geração reduzida nas usinas das bacias
dos rios Paraná e Grande, influenciaram fortemente nas consequências da
perturbação. 3, 2, 9
Com o desligamento inicial de um dos transformadores, que operavam
naquele momento bem próximos de seu limite de carregamento nominal, houve
sobrecarga sustentada no transformador remanescente. Foram efetuados
remanejamentos de geração para sanar a sobrecarga, ação que foi suficiente
por um determinado período de tempo. Em seguida houve novamente alarme de
sobretemperatura e sobrecarga no transformador remanescente, resultando em
seu desligamento automático e, por configuração da subestação de Jaguara,
provocando também o desligamento de diversas linhas de transmissão
conectadas à esta. Após estes desligamentos, houve subtensão generalizada
23

nas subestações dos estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e
Espírito Santo, ocasionando perdas de carga e elevação na frequência da rede,
que atingiu 62 Hz. 3, 2, 9
Adicionalmente às cargas que foram interrompidas na região Sudeste,
houve também rejeição de carga no estado do Mato Grosso, totalizando
aproximadamente 13.600 MW de cargas interrompidas no SIN. A normalização
das cargas foi iniciada às 16h52min, apenas 15 minutos após o início da
perturbação, e todo o processo de recomposição do sistema e restabelecimento
de todas as cargas foi concluído em 2 horas e 48 minutos. 3, 2, 9

2.3.2 Agosto de 1985

No dia 18 de agosto de 1985 às 18h40min ocorreu o desligamento


automático e simultâneo dos dois circuitos da LT 500 kV Marimbondo /
Araraquara. Estes circuitos estavam desligando automática e alternadamente
devido a queimadas ao longo da LT. Após o desligamento, houve propagação
de oscilação por todo o sistema elétrico, acarretando em desligamentos em
cascata (inclusive da Interligação de 765 kV) e consequente perda de carga nos
sistemas Sudeste e Sul afetados. 10
No momento da perturbação, o elo de corrente contínua proveniente do
50 Hz da usina de Itaipu encontrava-se desligado para teste nas estações
conversores, a usina de Angra 1 estava desligada para manutenção corretiva e
a carga total no SIN era de 19.029 MW, sendo aproximadamente 3.800 MW
suprido pelas usinas do rio Paranaíba (São Simão, Itumbiara e Emborcação). 10
Com os desligamentos em cascata observados e a atuação do ERAC,
houve perda de aproximadamente 11.385 MW de carga, sendo este montante
restabelecido em 1 hora e 35 minutos após o início da perturbação. 10

2.3.3 Setembro de 1985

Os dois circuitos da LT 500 kV Marimbondo / Araraquara sofreram


desligamento automático devido a queimadas ao longo da LT, ocasionando
desligamento simultâneo de outras linhas de transmissão na subestação de
24

Araraquara, devido à configuração do barramento com arranjo em anel. As


gerações das usinas do Paranaíba encontravam-se elevadas e com o
desligamento anterior houve sobrecarga na transformação da subestação de
Água Vermelha, levando à atuação de sua proteção e seu posterior
desligamento. 11
As oscilações de potência provocadas pelos desligamentos, agravadas
pela abertura do transformador de Água Vermelha, provocaram desligamentos
sucessivos de outras linhas de transmissão e unidades geradoras, levando o
sistema ao colapso. As regiões de Goiás, Brasília, Triângulo Mineiro e a central
de Minas Gerais ficaram interligadas entre si e isoladas do restante do sistema
interligado. 11
Com a persistência das oscilações, provocadas pelos desligamentos que
ocorriam ao longo da rede, houve a abertura de linhas de transmissão do tronco
de 765 kV e da LT 230 kV Assis / Londrina, equipamentos que fazem a
Interligação Sul-Sudeste, ocasionando a desinterligação destes sistemas. Como
consequência, houve subfrequência no sistema Sul e posterior atuação do
ERAC, interrompendo aproximadamente 320 MW de carga na região. As
sobretensões verificadas na região Sudeste provocaram abertura de circuitos de
linhas de transmissão. Com tentativas de restabelecimento, seguidos de novos
desligamentos, houve atuação do ERAC também na região Sudeste. 11
O montante de carga interrompida estimado é de 9.867 MW que foi
restabelecido após 2 horas e 3 minutos do início da ocorrência. 3

2.3.4 Março de 1999

Esta ocorrência teve como ponto de partida um curto-circuito ocasionado


por uma descarga atmosférica entre uma chave seccionadora e o barramento da
subestação de Bauru. Houve atuação das proteções das linhas de transmissão
adjacentes como forma de isolar a falta. Conforme a configuração da
subestação, representada pela figura 2.4, houve o desligamento de cinco
circuitos de 440 kV e do transformador de 440 / 138 kV da subestação,
ocasionando oscilações nas usinas conectadas no setor de 440 kV. Estas
oscilações foram propagadas para o restante do sistema, tendo como
25

consequência uma série de desligamentos em cascata. Houve atuação, correta,


do ERAC e subtensão em diversas regiões, totalizando rejeição de carga no
sistema Sudeste de, aproximadamente, 20.637 MW e no sistema Sul de 4.307
MW. O processo de restabelecimento de carga foi concluído após 4 horas e 20
minutos do horário de início da ocorrência. 3, 2, 12

Figura 2.4 - Configuração da subestação de Bauru em 1999

Fonte: GCOI/ONS – Análise de perturbação 12

Com a integração de novos equipamentos no SIN (novas linhas de


transmissão, subestações e usinas), e o rearranjo de todo o setor de 440 kV da
SE Bauru (com a instalação de mais disjuntores que aumentaram a seletividade
do arranjo), conforme pode ser visto na figura 2.5, foi possível melhorar
consideravelmente a confiabilidade de todo o tronco de transmissão de geração
em 440 kV do estado de São Paulo. Prova disso foi a ocorrência do dia 23 de
março de 2016 às 18h08min, onde uma movimentação indevida de um
seccionador de aterramento, proveniente de falha do próprio equipamento,
acarretou no desligamento de toda a subestação de Bauru, desligando dez linhas
de transmissão do setor de 440 kV, dois transformadores de 440 / 138 kV e três
linhas de transmissão do setor de 138 kV. Para esta ocorrência seriam
esperadas consequências drásticas se levarmos em consideração o
desligamento ocorrido no dia 11 de março de 1999, entretanto, foi verificada
26

perda de carga de apenas 213 MW no estado de São Paulo, sem maiores


intempéries para a frequência da rede e para o SIN.

Figura 2.5 - Configuração da subestação de Bauru em 2016

Fonte: ONS – Análise da perturbação 13

2.3.5 Janeiro de 2002

No dia 21 de janeiro de 2002 às 13h34min ocorreu o desligamento


automático da LT 440 kV Ilha Solteira / Araraquara circuito 2, devido ao
rompimento de um dos quatro condutores desta linha de transmissão. Em
seguida houve também o desligamento automático do circuito 1 da referida linha
de transmissão, ocasionado pela falta de seletividade da proteção de distância.
Já se encontravam fora de operação dois circuitos de 440 kV no estado de São
Paulo: circuito Ilha Solteira / Bauru, desligado para atendimento de serviço
programado por parte do Agente; e circuito Ilha Solteira / Água Vermelha,
27

desligado para controle de carregamento da transformação de Água Vermelha,


conforme ilustrado na figura 2.6. 14

Figura 2.6 - Configuração da malha de 440 kV em 21 de janeiro de 2002

Fonte: ONS – Análise da perturbação 14

Com um processo oscilatório como consequência destes desligamentos


automáticos houve abertura de outras linhas de transmissão de 440 kV,
ocasionando desligamentos em cascata: abertura da Interligação Norte – Sul
(através do desligamento da LT 500 kV Serra da Mesa / Gurupi), abertura das
Interligações Sudeste – Sul (ocasionada devido interrupção do sistema de 765
kV que escoa a energia de Itaipu 60 Hz para Tijuco Preto, no estado de São
Paulo), desligamento do elo de corrente contínua que interliga o 50 Hz da usina
de Itaipu com o sistema elétrico brasileiro, e atuação do ERAC e de ECE’s por
todo o país. 14
Durante o processo de recomposição houve um novo distúrbio,
ocasionado pela explosão de um disjuntor na subestação de Pimenta, em Minas
Gerais, que ocasionou perda de 870 MW de carga no estado. Foi necessário
também o corte manual de cargas para possibilitar o fechamento de paralelo
entre algumas regiões. 14
O total aproximado de carga interrompida foi de 23.766 MW no SIN e as
cargas foram totalmente recompostas às 17h50min. 14
28

2.3.6 Novembro de 2009

No dia 10 de novembro de 2009 às 22h13min foi verificada perturbação


no sistema de transmissão de 765 kV. Houve incidência de curto-circuito na LT
765 kV Itaberá / Ivaiporã circuito 1 e, antes da eliminação da falta e de seu
restabelecimento, ocorreram duas faltas adicionais: curto-circuito na LT 765 kV
Itaberá / Ivaiporã circuito 2 e um curto-circuito monofásico na Barra A de 765 kV
da SE Itaberá, ambos acarretando em desligamento dos equipamentos. O
circuito 3 da LT 765 kV Itaberá / Ivaiporã desligou logo em seguida, devido à
sobrecorrente instantânea residual do reator shunt. 15

Com a perda destes circuitos, houve um desbalanço de frequência no


sistema Sudeste, provocado pela perda da interligação com a usina de Itaipu 60
Hz, conforme figura 2.7, ocasionando oscilações no sistema e fazendo com que
unidades geradoras de outras usinas e diversas linhas de transmissão
desligassem em cascata. 15

Figura 2.7 - Tronco de 765 kV do SIN

Fonte: ONS – Análise da perturbação 15

Houve interrupção de um total aproximado de 24.436 MW de carga,


correspondente a 40 % da carga do SIN. As cargas da região Sul foram
totalmente recompostas em 9 minutos, na região Norte o restabelecimento das
29

cargas durou 30 minutos e na região Nordeste a condição normal das cargas foi
verificada após 20 minutos da ocorrência. As regiões Sudeste e Centro-Oeste,
mais precisamente os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e
Mato Grosso do Sul, tiveram tempo médio de restabelecimento de 237 minutos
e 72 minutos, respectivamente. 15

2.3.7 Agosto de 2013

Às 15h08min do dia 28 de agosto de 2013 houve o desligamento


automático do circuito 1 da LT 500 kV Ribeiro Gonçalves / São João do Piauí. O
circuito 2 da referida LT encontrava-se desligado por conta de ocorrência às
15h06min. A causa destes desligamentos foi uma queimada ao longo da LT. 16
Com a contingência destes circuitos houve um desbalanço de potência
entre o Nordeste e o restante do SIN, ocasionando o desligamento de outras
linhas de transmissão, inclusive das interligações Norte / Nordeste e Sudeste /
Nordeste, evitando a propagação da falta para outras regiões. A região Norte
manteve-se em condições seguras de operação, com a frequência atingindo o
máximo de 60,9 Hz, retornando em seguida para o valor base de 60 Hz. Contudo,
na região Nordeste o desbalanço de geração e carga foi significativo e não foi
possível estabilizar a frequência em 60 Hz, ocasionando a interrupção total do
suprimento das cargas da região, que neste momento estava isolada do restante
do SIN. 16
Houve um total de aproximadamente 10.085 MW de carga interrompida e
o início do processo de retomada de carga das capitais foi iniciado às 15h50min,
conforme figura 2.8. 16
30

Figura 2.8 - Início da tomada de carga em cada capital do Nordeste

Fonte: ONS – Análise da perturbação 16

2.3.8 Fevereiro de 2014

Às 14h03min do dia 04 de fevereiro de 2014, após um curto-circuito


simultâneo em dois dos três circuitos da LT 500 kV Miracema / Colinas, houve
atuação de um SEP para perda dupla da Interligação Norte – Sudeste / Centro-
Oeste. A atuação deste esquema, corretamente, levou ao desligamento
automático de unidades geradoras nas usinas de Tucuruí e Estreito e do circuito
remanescente da LT 500 kV Miracema / Colinas. Adicionalmente, houve a
atuação da lógica para perda total da referida interligação, ocasionando o
desligamento de bancos de capacitores na SE Samambaia e da LT 500 kV
Samambaia / Serra da Mesa circuito 3. Para esta lógica seria esperado também
a abertura da LT 500 kV Serra da Mesa II / Rio das Éguas, o que não ocorreu de
imediato.
Os sistemas Norte e Nordeste permaneceram interligados entre si e
isolados do restante do SIN, conforme figura 2.9, e como se encontravam em
caráter de exportadores de energia, houve sobrefrequência nesses sistemas
após a perturbação (valor máximo de 60,97 Hz). Nas regiões Sudeste, Sul e
Centro-Oeste foram verificados cortes de carga por atuação correta do ERAC
devido à subfrequência, já que esses sistemas estavam importando energia.
31

Figura 2.9 - Situação do sistema pós falta do dia 04/02/2014

Fonte: ONS – Análise de perturbação 17

A interligação foi restabelecida às 14h41min e deu-se início ao


restabelecimento dos 3.911 MW de carga, que haviam sido interrompidos, sendo
concluído às 15h30min.

2.3.9 Março de 2018

A mais recente das grandes perturbações no SIN ocorreu no dia 21 de março


de 2018 e teve sua origem na Interligação entre as subestações de Xingu e
Estreito, uma interligação direta entre as regiões Norte e Sudeste feita por meio
de um elo de corrente contínua em 800 kV. O bipolo estava transmitindo
aproximadamente 3800 MW para o Sudeste, e em processo de elevação para
4000 MW, quando houve o desligamento.
A causa foi um ajuste incorreto da proteção de sobrecorrente em um
disjuntor da subestação de Xingu, limitando a corrente em 4000 Ampères,
conforme figura 2.10, valor este abaixo da corrente nominal do equipamento.
32

Adicionalmente, houve falta de revisão do SEP que efetua corte de geração


quando da perda do bipolo. 18

Figura 2.10 - Configuração da SE Xingu em 21/03/2018

Fonte: ONS – Acervo Digital 18

Esta perturbação apresentou reflexos de tensão e frequência em todas as


regiões: o sistema Norte, pelo excesso de geração que ficou concentrado em
seu subsistema, apresentou uma variação da frequência para o máximo de 70
Hz; e o sistema Sudeste, com falta de geração disponível para suprir a carga,
com frequência verificada de 58,47 Hz. No subsistema Norte houve sobretensão
nas linhas de transmissão (devido excesso de geração) seguido da perda destas,
ocasionando um efeito cascata e levando a região ao blecaute, com exceção dos
estados de Acre e Rondônia, alimentados pelas usinas do Rio Madeira e
interligados com o sistema Sul / Sudeste / Centro-Oeste. Nos sistemas Sudeste
e Sul houve atuação do ERAC, iniciando-se o processo de restabelecimento das
cargas cortadas pelo esquema, 3 minutos após o início da ocorrência. 18
33

3 RECOMPOSIÇÃO DO SIN

A definição da filosofia e dos critérios utilizados para recomposição do SIN


através de um plano estratégico unificado somente foi concluído em 1989, pelo
GTEO – Grupo de Trabalho de Estudos de Operação, criado pelo GCOI, que era
coordenado pela Eletrobrás, após as grandes ocorrências de 1984 e 1985. Este
plano estratégico foi necessário devido à observância de algumas dificuldades
durante o processo de recomposição, tais como a dificuldade de determinação
da topologia do sistema após a perturbação e a demora no restabelecimento dos
serviços auxiliares das usinas. 2

3.1 Conceitos principais

A recomposição do SIN atualmente é dividida em duas fases: fluente e


coordenada, e cada uma delas possui suas etapas detalhadamente descritas
nas Instruções de Operação do ONS. A fase fluente é realizada pelos agentes
de geração, transmissão e distribuição de forma autônoma, sem a necessidade
de qualquer contato prévio com os Centros Regionais de Operação do ONS, e
com todos os itens de controle descritos de acordo com os estudos realizados.
Caso alguma etapa da fase fluente não possa ser efetuada, seja por critérios de
tensão, conforme tabela 3.1 (caso os limites de tensão suportados pelo
equipamento sejam diferentes do informado na tabela, esta informação estará
descrita na Instrução de Operação correspondente), ou de frequência, conforme
tabela 3.2, estabelecidos em instrução ou por algum outro impeditivo, a
recomposição deixa de ser fluente e precisa ser coordenada pelo Centro
Regional responsável por aquela rede, obrigando os agentes a entrar em contato
com o ONS para que sejam tomadas as medidas necessárias para a
continuidade da recomposição do SIN. 19
34

Tabela 3.1 - Faixas de Tensão na Recomposição

Fases fluente / coordenada


Tensão nominal
de operação
Mínimo Máximo

(kV) (kV) (pu) (kV) (pu)

< 230 - -
230 207 253
345 311 380 1,1
440 396 0,9 484
500 475 550
525 475 550 1,05
765 690 800 1,046
Fonte: ONS – Procedimentos de Rede 20

Tabela 3.2 - Faixa de Frequência na Recomposição

Faixa de frequência (Hz)

Fase fluente Fase coordenada

Entre 58 e 62 Entre 59 e 61
Fonte: ONS – Instrução de Operação 21

Algumas usinas do SIN possuem um sistema de restabelecimento


conhecido como black-start ou autorrestabelecimento. Conforme os
procedimentos de rede definidos pelo ONS, existem 3 tipos de usinas para o
processo de recomposição: autorrestabelecimento integral,
autorrestabelecimento parcial e sem autorrestabelecimento. De forma resumida,
as usinas de autorrestabelecimento integral são aquelas capazes de se
autorrestabelecer quando suas unidades geradoras encontram-se desligadas,
alimentando seu serviço auxiliar por fonte própria, com a utilização de um
gerador a diesel, por exemplo; as usinas de autorrestabelecimento parcial são
35

capazes de alimentar seus serviços auxiliares através das tensões terminais de


suas unidades geradoras, que ficam desinterligadas do sistema, mas que
permanecem girando mecanicamente e excitadas, ilhadas, sendo capazes de
prosseguir com o processo de recomposição; e as usinas sem
autorrestabelecimento que apenas são capazes de sincronizar e interligar suas
unidades geradoras através da alimentação do serviço auxiliar por fonte externa,
normalmente oriunda do sistema de distribuição. 19
Para a fase de recomposição fluente há um conjunto de corredores de
recomposição, compostos por pelo menos uma usina de autorrestabelecimento
integral, linhas de transmissão e equipamentos em que a geração é compatível
com a carga prioritária mínima a ser atendida, definida em conjunto pelo ONS e
pelos agentes de distribuição. Cada área de autorrestabelecimento pode ter mais
de uma usina, sendo necessária a definição da usina que será responsável pelo
controle de frequência de determinado corredor. 3, 22, 23
No sistema elétrico brasileiro, as áreas de autorrestabelecimento são
definidas de acordo com as regiões a que pertencem as instalações. É possível
restabelecer 22,4% do total da carga do SIN (considerando a demanda máxima
de 72.890 MW verificada em 22 de março de 2017 às 14h30min) de forma
fluente, conforme figura 3.1.
36

Figura 3.1 - Total de cargas recompostas na fase fluente

Fonte: Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica 23

Os Centros Regionais devem supervisionar e controlar diversas áreas de


autorrestabelecimento, enquanto o CNOS é responsável pelo fechamento de
paralelo entre as interligações de áreas / centros. A região Sudeste possui 15
corredores de recomposição, conforme tabela 3.3; a região Sul possui 10
corredores de recomposição, conforme tabela 3.4; a região Norte possui 5
corredores de recomposição, conforme tabela 3.5; a região Centro-Oeste possui
5 corredores de recomposição, conforme tabela 3.6; e a região Nordeste possui
7 corredores de recomposição, conforme tabela 3.7.

Tabela 3.3 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Sudeste


Carga total
Usinas envolvidas na fase
Áreas de recomposição restabelecida
fluente
(aproximada, em MW)
Água Vermelha Água Vermelha 531
Chavantes
Chavantes Piraju 265
Jurumirim
Capivara
Capivara 180
Rosana
37

Carga total
Usinas envolvidas na fase
Áreas de recomposição restabelecida
fluente
(aproximada, em MW)
Emborcação Emborcação 390
Fontes Nova
Fontes Nova 185
Nilo Peçanha
Henry Borden Henry Borden 315
Ilha Solteira Ilha Solteira 566
Irapé Irapé 205
Jupiá Jupiá (440 kV) 539
Luiz Carlos Barreto
Mascarenhas de Moraes
Luiz Carlos Barreto Volta Grande 1668
Furnas
Jaguara
Marimbondo Marimbondo 330
Mascarenhas de Moraes Mascarenhas de Moraes 95
Porto Primavera
Porto Primavera 265
Taquaruçu
Três Irmãos
Três Irmãos 138 kV 183
Jupiá (138 kV)
Três Marias Três Marias 110
Total 5827
Fonte: Própria (2018)

Tabela 3.4 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Sul


Carga total
Usinas envolvidas na fase
Áreas de recomposição restabelecida
fluente
(aproximada, em MW)
Campos Novos
Campos Novos 326
Barra Grande
Foz do Chapecó
Passo Fundo
Foz do Chapecó 14 de Julho 152
Castro Alves
Monte Claro
Gov. José Richa Governador José Richa 195
Gov. Ney Aminthas de
Gov. Ney Aminthas de Barros Braga
1212
Barros Braga Gov. Bento Munhoz da
Rocha Netto
Gov. Pedro Viriato Gov. Pedro Viriato Parigot
40
Parigot de Souza de Souza
38

Carga total
Usinas envolvidas na fase
Áreas de recomposição restabelecida
fluente
(aproximada, em MW)
Itá
Itá 1064
Machadinho
Itaúba
Itaúba 270
Dona Francisca
Jacuí
Jacuí 159
Passo Real
Salto Osório Salto Osório 395
Salto Santiago Salto Santiago 510
Total 4323
Fonte: Própria (2018)

Tabela 3.5 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Norte

Usinas envolvidas na fase Carga total restabelecida


Áreas de recomposição
fluente (aproximada, em MW)

Balbina
Aparecida *
Cristiano Rocha *
Mauá *
Balbina (1)
Manauara *
Tambaqui *
Ponta Negra *
Jaraqui *

Coaracy Nunes
Coaracy Nunes Santana * 190 (2)
Aggreko Portuária
Samuel
Samuel Santo Antônio 130
Rio Acre *
Tucuruí Pará Tucuruí 745
Tucuruí
Tucuruí Tramo Oeste 136
Curuá Uma
Total 1201
Fonte: Própria (2018)
39

Tabela 3.6 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Centro-Oeste


Carga total
Usinas envolvidas na fase
Áreas de recomposição restabelecida
fluente
(aproximada, em MW)
Cana Brava Cana Brava 117
Itumbiara
Itumbiara - Goiás 419
Cachoeira Dourada
Itumbiara
Itumbiara - Mato Grosso 220
Cachoeira Dourada
Manso Manso 71
Serra da Mesa Serra da Mesa 345
Total 1172
Fonte: Própria (2018)

Tabela 3.7 - Áreas de Recomposição Fluente da Região Nordeste


Carga total
Usinas envolvidas na fase
Áreas de recomposição restabelecida
fluente
(aproximada, em MW)
Paulo Afonso IV
Paulo Afonso II
Paulo Afonso IV Apolônio Sales 760
Paulo Afonso III
Paulo Afonso I
Sobradinho - Oeste do Sobradinho
280
Nordeste Boa Esperança
Sobradinho - Sudoeste
Sobradinho 225
do Nordeste
Tucuruí
Tucuruí Maranhão 501
Estreito
Itapebi Itapebi 229
Luiz Gonzaga Luiz Gonzaga 575
Xingó Xingó 815
Total 3385
Fonte: Própria (2018)

Para a interligação entre os corredores de recomposição (fechamento de


paralelo) é necessário que sejam observados alguns critérios para que não haja
instabilidade no sistema já recomposto:
a) Diferença de frequência menor ou igual a 0,2 Hz;
b) Diferença de tensão menor ou igual a 10% da tensão nominal;
c) Diferença angular menor ou igual a 10 graus. 24
40

As manobras de fechamentos de paralelo pertencem à fase coordenada e


podem ser realizadas através dos disjuntores de transformadores, de linhas de
transmissão ou até mesmo os de interligação de barramento, sendo todos esses
procedimentos definidos através das Instruções de Operação. Durante a fase
coordenada também são realizados fechamentos em anel, com o intuito de
reforçar as interligações entre as áreas geoelétricas, além da tomada adicional
de cargas, sempre respeitando o limite de reserva das unidades geradoras das
usinas conectadas aos sistemas já recompostos.
41

4 ÁREA 440 kV DA UHE JUPIÁ

Nas ações descritas nas Instruções de Operação alguns itens de controle


devem ser observados, dependendo do tipo de ação a ser executada. Para
energização de linhas de transmissão, por exemplo, há limites dos valores de
tensão e no caso de transformadores com comutadores sob carga há a definição
da posição que o TAP deve estar para energização do equipamento, conforme
pode ser observado na figura 4.1. Neste estudo, todos os itens de controle serão
atendidos em sua totalidade.

Figura 4.1 - Instrução de operação

Fonte: ONS – Instrução de Operação 21

Para a simulação da área de recomposição Jupiá, será considerado que


todos os outros corredores de recomposição, que se conectam com esta ilha
através dos paralelos, já tenham concluído suas respectivas fases fluentes,
conforme pode ser observado na figura 4.2, com a indicação de frequência nos
demais corredores, e na figura 4.3, com a indicação gráfica separada por cores
designando cada corredor separadamente.
A figura 4.2 é parte da tela de resumo utilizada pelos operadores do
COSR-SE para facilitar o controle e visualização das fases da recomposição.
Uma linha entre as ilhas de recomposição significa que estas possuem
fechamento de paralelo entre si, representado por um círculo vermelho com a
letra D quando o paralelo está desligado e com um círculo verde com a letra L
quando o paralelo foi fechado. Os círculos maiores sinalizam a conclusão da fase
fluente de determinada área, utilizando o círculo vermelho com as letras RR
42

quando a recomposição fluente está em andamento e o círculo verde com as


letras OK quando a fase fluente foi concluída. Essas mudanças de cor não são
realizadas de forma automática, sendo necessária a interação do operador para
que haja a mudança de estado e a correta sinalização.
Ilhamento, por definição, é quando há o isolamento de uma parte da rede
do restante do sistema elétrico. No caso de um blecaute, há a formação de
diversas ilhas conforme andamento das fases fluentes. A ferramenta de
ilhamento, conforme figura 4.3, é utilizada para verificação macro do processo
de fase fluente das áreas de recomposição. Cada área é representada por uma
cor, de acordo com as barras e linhas de transmissão que são recompostas.
Quando há o fechamento de paralelo entre as ilhas os equipamentos destas
passam a ser sinalizados com a mesma cor.

Figura 4.2 - Corredores adjacentes à Área Jupiá

Fonte: Própria (2018)


43

Figura 4.3 - Áreas de recomposição separadas por cor

Fonte: Própria (2018)

A usina de Jupiá localiza-se no estado de São Paulo e está conectada ao


setor de 440 kV do estado. Na recomposição deste corredor, as cargas
restabelecidas inicialmente são as do centro da capital de São Paulo e do centro
financeiro localizado na Avenida Paulista, cuja alimentação provém da SE
Centro-CTR. Posteriormente, são restabelecidas cargas na SE Sul que alimenta
também parte da capital do estado. A figura 4.4 mostra todo o corredor da área
440 kV da UHE Jupiá, ilustrando as subestações envolvidas no processo de
recomposição fluente, locais de fechamento de paralelo com outras áreas de
recomposição e valor da carga recomposta em cada subestação especificada
pela Instrução de Operação.
44

Figura 4.4 - Corredor de Jupiá após blecaute

Fonte: Própria (2018)

4.1 Recomposição Fluente

No momento de um blecaute, com a ausência de fonte externa para


alimentação do serviço auxiliar, é necessário um gerador a diesel, a ser ligado
de forma manual ou automatizada, para que a recomposição possa ser iniciada,
com a sincronização de unidades geradoras.
As instruções de operação para recomposição da área 440 kV da Usina
Hidrelétrica de Jupiá são destacadas abaixo.

“Sincronizar, no mínimo, 6 unidades geradoras, energizando o barramento de


440 kV. ” (IO-RR.SE.JUP, página 6)
45

Figura 4.5 - Sincronismo de unidades geradoras em Jupiá

Fonte: Própria (2018)

“Recebendo tensão proveniente da SE Anhanguera por um dos circuitos da LT


230 kV Centro-CTT / Centro-CTR, normalizar o circuito, energizando as barras
1 e 2 de 230 kV e o transformador TR5 230/20 kV, disponibilizando 60 MW de
carga para a ELETROPAULO (reticulados IV e V). ” (IO-RR.SE.JUP, página 10)

Para que a energia disponível na usina de Jupiá chegue aos


consumidores é necessário que parte do sistema de transmissão esteja
recomposto. Como forma de otimização deste processo, após o sincronismo dos
geradores, há a energização radial de linhas de transmissão (entre as
subestações de Getulina, Bauru e Cabreúva no setor de 440 kV e as
subestações de Edgard de Souza, Anhanguera, Centro-CTT e Centro-CTR no
setor de 230 kV) e transformador (440 / 230 kV na SE Cabreúva, 230 / 20 kV e
230 / 88 kV na SE Centro-CTR), conforme figura 4.6, até o setor de 88 kV da SE
Centro-CTR, onde ocorre a primeira tomada de carga, como pode ser observado
na figura 4.7.
46

Figura 4.6 - Energização radial para 1ª tomada de carga

Fonte: Própria (2018)

Figura 4.7 - Tomada de carga na SE Centro-CTR

Fonte: Própria (2018)

“Recebendo tensão da SE 345 kV Embu-Guaçu, através da LT 345 kV Embu-


Guaçu / Sul, normalizar a LT, energizando o barramento de 345 kV. ” (IO-
RR.SE.JUP, página 13)

“Energizar um dos transformadores 345 / 88 kV (preferencialmente o TR-3 ou o


TR-4). ” (IO-RR.SE.JUP, página 14)
47

“Energizar a LT 88 kV Sul / ZF C3 e C4, disponibilizando 30 MW de carga para


a ELETROPAULO. ” (IO-RR.SE.JUP, página 14)

Com o atendimento do número de unidades geradoras é possível o


restabelecimento de um montante maior de carga, a ser realizado na SE Sul,
também através de energizações radiais de linhas de transmissão, a partir da
SE Bauru (subestações de Oeste, CBA 2, Embu-Guaçu e Sul) e transformadores
(440 / 345 kV na SE Embu-Guaçu e de 345 / 88 kV na SE Sul), conforme figura
4.8, até o setor de 88 kV da SE Sul, onde o segundo bloco de cargas é
recomposto, conforme figura 4.9.

Figura 4.8 - Energização radial para 2ª tomada de carga

Fonte: Própria (2018)


48

Figura 4.9 - Tomada de carga na SE Sul

Fonte: Própria (2018)

“Sincronizar mais duas unidades geradoras, totalizando 8 unidades geradoras. ”


(IO-RR.SE.JUP, página 14)

Para que novas cargas sejam recompostas é preciso que a geração da


usina de Jupiá seja compatível com a potência ativa exigida pela demanda.

Figura 4.10 - Usina de Jupiá com 8 unidades geradoras

Fonte: Própria (2018)


49

“Energizar a LT 440 kV Jupiá / Marechal Rondon C2 enviando tensão


diretamente para SE Getulina (são energizadas simultaneamente as LT 440 kV
Jupiá / Marechal Rondon C2 e LT 440 kV Marechal Rondon / Getulina, tendo em
vista ser expressa a recomposição na SE Marechal Rondon). ” (IO-RR.SE.JUP,
página 14)

“Energizar o segundo circuito da LT 440 kV Bauru / Getulina. ” (IO-RR.SE.JUP,


página 15)

Com a subestação Marechal Rondon preparada para a recomposição,


conforme figura 4.11, possibilitando a energização expressa de Jupiá até
Getulina, reforçando o sistema de transmissão de 440 kV, é possível evitar a
incidência de sobrecargas, que poderiam provocar novos desligamentos, e
realizar o restabelecimento de outras cargas.

Figura 4.11 - SE Marechal Rondon preparada para energização expressa

Fonte: Própria (2018)

“Energizar o transformador 440/138 kV. ” (IO-RR.SE.JUP, página 15)

“Energizar os dois circuitos da LT 138 kV Getulina / Marília com tape em Tarumã


disponibilizando 97,8 MW de carga para a CPFL. ” (IO-RR.SE.JUP, página 15)
50

Após estes reforços, novas tomadas de carga são realizadas, nessa


ocasião na SE Getulina, conforme figura 4.12. É importante destacar que essas
energizações e tomadas de cargas sempre respeitam os limites dos
equipamentos envolvidos e os de frequência e tensão já definidos.

Figura 4.12 - Tomada de carga na SE Getulina

Fonte: Própria (2018)

“Receber tensão pelo segundo circuito da LT 440 kV Bauru / Getulina e fechar a


LT em anel. ” (IO-RR.SE.JUP, página 16)

“Energizar um transformador 440/138 kV. ” (IO-RR.SE.JUP, página 17)

“Energizar o segundo circuito da LT 138 kV Bauru (CTEEP) / Bauru (CPFL) e


disponibilizar 61,3 MW de carga para a CPFL. ” (IO-RR.SE.JUP, página 17)

“Energizar o segundo transformador 440/138 kV e fechá-lo em anel. ” (IO-


RR.SE.JUP, página 17)

Na subestação de Bauru também são efetuadas manobras para retomada


de novas cargas e reforço da malha de transmissão, conforme figura 4.13.
51

Figura 4.13 - Tomada de carga na SE Bauru

Fonte: Própria (2018)

Concluídos todos esses itens e normalizando um total aproximado de 539


MW de carga, a fase fluente da área Jupiá é considerada concluída. Pela figura
4.14 abaixo é possível verificar os valores de frequência de cada corredor de
recomposição, todos isolados entre si.

Figura 4.14 - Conclusão da fase fluente da Área Jupiá

Fonte: Própria (2018)


52

4.2 Recomposição Coordenada

O corredor de Jupiá não possui fase coordenada para reforço da malha de


transmissão, as manobras necessárias para este fim são suficientemente
realizadas na fase fluente. A fase coordenada desta área de recomposição é
definida pelo fechamento de paralelos com as áreas adjacentes. Estas manobras
normalmente são realizadas na sequência em que os corredores concluem suas
fases fluentes. Para o escopo deste trabalho, será utilizada a sequência de ações
descritas na Instrução de Operação correspondente.

“Recebendo tensão, na SE Três Irmãos, pela LT 440 kV Jupiá / Três Irmãos,


normalizar a LT, energizando a barra-I de 440 kV e energizar a LT 440 kV Três
Irmãos / Ilha Solteira, enviando tensão para a SE Ilha Solteira. ” (IO-RR.SE,
página 74)

O primeiro procedimento de fechamento de paralelo será realizado entre


as áreas Jupiá e Ilha Solteira. Para isto, é necessário que a subestação Três
Irmãos esteja corretamente preparada, visto que a usina faz parte de outra área
de recomposição. O barramento 2 fica desinterligado do barramento 1 no setor
de 440 kV, atendendo, respectivamente, ao corredor de Três Irmãos e à conexão
expressa de Jupiá com Ilha Solteira, conforme figura 4.15.

Figura 4.15 - Duas áreas de recomposição distintas na SE Três Irmãos

Fonte: Própria (2018)


53

“Fechar o paralelo entre a área Jupiá e a UHE Ilha Solteira, na SE Ilha Solteira,
após o recebimento de tensão pela LT 440 kV Ilha Solteira / Três Irmãos. ” (IO-
RR.SE, página 74)

O paralelo entre as áreas é fechado na subestação Ilha Solteira e a partir


desta manobra é permitido a recomposição de equipamentos no setor de 345 kV
de São Paulo. Na figura 4.16 é possível observar o paralelo fechado entre as
áreas Jupiá e Ilha Solteira, indicadas pela mesma cor.

Figura 4.16 - Paralelo fechado entre as Áreas Jupiá e Ilha Solteira

Fonte: Própria (2018)

“Recebendo tensão na SE Baixada Santista, pela LT 345 kV Embu-Guaçu /


Baixada Santista, normalizar a LT, fechando o paralelo entre as Áreas Henry
Borden e Jupiá (com ou sem a UHE Ilha Solteira). ” (IO-RR.SE, página 74)

O próximo fechamento de paralelo será realizado entre os corredores de


Jupiá, já conectado com a área de Ilha Solteira, e Henry Borden, através da
subestação de Baixada Santista. A conclusão deste fechamento pode ser
observada através da figura 4.17, com a indicação dos mesmos valores de
frequência em Jupiá, Henry Borden e Ilha Solteira, e da figura 4.18, com
indicação por cor das áreas interligadas.
54

Figura 4.17 - Paralelo entre as Áreas Jupiá, Henry Borden e Ilha Solteira

Fonte: Própria (2018)

Figura 4.18 - Indicação por cor das áreas interligadas

Fonte: Própria (2018)

“Recebendo tensão na SE Água Vermelha, através da LT 440 kV Ilha Solteira /


Água Vermelha, normalizar a LT, fechando o paralelo entre as áreas Itaipu / Sul
/ Jupiá / Ilha Solteira / Henry Borden (já interligadas) com a área Água Vermelha.
” (IO-RR.SE, página 78)
55

Com o disjuntor da LT 440 kV Ilha Solteira / Água Vermelha fechado na


SE Água Vermelha, conforme figura 4.19, tem-se o fechamento de paralelo entre
as Áreas Jupiá (interligada com Ilha Solteira, Henry Borden) e Água Vermelha.

Figura 4.19 - Fechamento de paralelo na SE Água Vermelha

Fonte: Própria (2018)

“Energizar pelo lado de 440 kV o transformador TR-15 440 / 138 kV 300 MVA da
UHE Jupiá e normalizar o lado de 138 kV fechando paralelo entre as áreas Jupiá
e Três Irmãos. ” (IO-RR.SE, página 79)

O último fechamento de paralelo, a ser simulado neste estudo, é com a


Área Três Irmãos. Na figura 4.20 pode ser verificada a presença de dois
corredores de recomposição na SE Jupiá, sem conexão entre eles.
56

Figura 4.20 - Dois corredores de recomposição na SE Jupiá

Fonte: Própria (2018)

O fechamento em paralelo dar-se-á no lado de baixa tensão do


transformador da SE Jupiá, conforme figura 4.21. Com esta interligação, todos
os paralelos relacionados com o corredor de Jupiá estão concluídos, sendo
assim, possuem os mesmos valores de frequência, conforme figura 4.22. Na SE
Três Irmãos, que fazia a conexão direta de Jupiá com Ilha Solteira, os disjuntores
de interligação das barras poderão ser fechados, configurando fechamento em
anel das áreas.
57

Figura 4.21 - Fechamento de paralelo na SE Jupiá

Fonte: Própria (2018)

Figura 4.22 - Paralelos com a Área Jupiá concluídos

Fonte: Própria (2018)

4.3 Procedimentos Alternativos de Recomposição

Todas as Instruções de Operação de recomposição da rede possuem


procedimentos alternativos de recomposição que norteiam os Agentes de
Operação no caso de indisponibilidade de linhas de transmissão,
transformadores, ou até mesmo dificuldade de partida de unidades geradoras
58

das usinas de autorrestabelecimento. Para este estudo será apresentada a


alternativa para impossibilidade de partida de unidades geradoras na usina de
Jupiá.

“Energizar, a partir da SE Três Irmãos, a LT 440 kV Jupiá / Três Irmãos, enviando


tensão para SE Jupiá. ” (IO-RR.SE.JUP, página 34)

Num primeiro momento, a ausência de geradores em operação


caracterizaria a impossibilidade de recomposição de todo o corredor, entretanto,
segundo os procedimentos alternativos, a alimentação da SE Jupiá pode ser feita
através da LT 440 kV Jupiá / Três Irmãos, conforme figura 4.23.

Figura 4.23 - Alternativa na recomposição de Jupiá

Fonte: Própria (2018)

“Sincronizar pelo menos 4 unidades geradoras da UHE Jupiá e iniciar a


recomposição fluente da área Jupiá [...]. ” (IO-RR.SE.JUP, página 34)

Com a alimentação dos barramentos da SE Jupiá e posterior manobra


para energização dos transformadores das unidades geradoras que possuem
conexão com o serviço auxiliar, é possível retomar a recomposição fluente com
a energização de um circuito para Getulina, conforme figura 4.24. Neste
59

procedimento alternativo o fechamento de paralelo entre as Áreas Jupiá e Três


Irmãos não é realizado, visto que as áreas já se encontrarão interligadas.

Figura 4.24 - Prosseguimento da recomposição fluente

Fonte: Própria (2018)


61

5 CONCLUSÃO

As consequências, para a sociedade de forma geral, de um grande período


de tempo sem energia elétrica não são agradáveis e são imprevisíveis: um
hospital fica dependente de seus geradores de emergência, se possuir; um
comerciante adquire um prejuízo ao perder suas mercadorias que necessitam
de resfriamento; uma rua totalmente escura torna-se perigosa e atrai meliantes
para cometerem crimes de toda a espécie; dentre outros.
Para que sejam elaboradas as Instruções de Operação são realizados
diversos estudos que não visam apenas a rapidez e agilidade da recomposição,
também prezam pela segurança do sistema, de forma que não sejam esperados
novos desligamentos ou perturbações por instabilidade de tensão ou frequência.

5.1 Conclusões e recomendações

A simulação com a representação de um conjunto de elementos de rede


muito próximos do que existe na operação em tempo-real agregam grande valor
para os operadores que participam deste tipo de treinamento. Cabe destacar que
este tipo de exercício é feito periodicamente, com diversas outras áreas, e não
apenas para cenários de recomposição, tendo sido extremamente útil na
preparação para grandes eventos que ocorreram no Brasil nos últimos anos.
Existem diversas áreas de recomposição no SIN e todas elas podem ser
iniciadas a partir do momento que o blecaute ocorre. Os operadores dos centros
regionais do ONS ficam responsáveis por acompanhar a recomposição fluente
de mais de um desses corredores de recomposição, o que impossibilita que este
controle seja feito através dos diagramas unifilares de cada subestação no
sistema de supervisão. Portanto, a existência de uma tela específica para cada
área de recomposição é extremamente importante e útil, possibilitando que o
acompanhamento seja feito de forma clara e ágil.
Conforme pôde ser observado ao longo da simulação apresentada neste
trabalho, a ferramenta de ilhamento torna-se extremamente importante para
verificação do fechamento de paralelo entre as áreas. Conforme a fase fluente
das ilhas de recomposição é concluída e os paralelos entre essas áreas
fechados, há a possibilidade de tomadas de cargas adicionais e / ou
62

restabelecimento de outros equipamentos para reforço da rede de operação que


podem ser efetuados com maior agilidade por conta desta ferramenta.
As instruções de operação para recomposição costumam ser extensas e
contam com passos a serem seguidos (podendo ser de forma sequencial ou
concomitante com outros passos). Com isso, a dinâmica de leitura desses
documentos deve ser bem treinada para que os operadores sintam-se
completamente seguros no momento de coloca-las em prática. Portanto, toda a
simulação é importante para o aperfeiçoamento das instruções e dos próprios
operadores.
Uma das grandes dificuldades observadas é a limitação de modelagem da
rede no OTS. Mesmo passando por diversas atualizações e melhorias, as cargas
não são fielmente representadas no caso base. Um exemplo disto, é quando
tentamos efetuar a tomada de carga na SE Centro-CTR através dos
transformadores de 230 / 20 kV, conforme Instrução de Operação (figura 5.1), e
o fluxo de potência ativa dos transformadores permaneceu zerado (figura 5.2).
Esta dificuldade foi contornada, no ambiente de simulação, com tomada de carga
com valor equivalente na transformação 230 / 88 kV da mesma SE, entretanto,
a melhor solução seria uma melhor modelagem dessas cargas.

Figura 5.1 - Tomada de carga na Instrução de Operação

Fonte: ONS – Instrução de Operação 21


63

Figura 5.2 - Transformadores 230 / 20 kV na SE Centro-CTR

Fonte: Própria (2018)

Na prática, a principal dificuldade dos operadores do ONS é em relação à


normalização dos montantes de carga liberados pelas Instruções de Operação.
Isto acontece porque não há total controle por parte do ONS da distribuição e da
alimentação das cargas que está sendo realizada pelos Agentes. O limite
liberado é o contido nos procedimentos normativos, entretanto, pode ocorrer
uma tomada de carga com valor maior (o que pode provocar subfrequência e
subtensões no sistema recomposto, além de ocasionar novos desligamentos e /
ou ocorrências maiores) ou com valor menor (podendo provocar sobretensões
que dificultem a energização de outros equipamentos ou sobrefrequência). Visto
que a carga varia constantemente, os operadores, do Agente e do ONS, devem
acompanhar com cautela os momentos de tomada de carga e sempre verificar
os valores de frequência e tensão das ilhas de recomposição.
65

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 ONS. RT-CT.BR.EE.Rev.06 – Referência Técnica – Elaboração de


Instruções de Operação de Esquemas Especiais de Proteção;

2 PESTANA, Marcelo Martinho. Recomposição dos Sistemas Elétricos de


Potência, Treinamento e Ferramentas de Apoio à Recomposição. 2009.
231 p. Dissertação (Mestrado em Sistemas Elétricos de Potência) –
Universidade Federal de Itajubá;

3 FERNANDES, Daniel Dutra; CARIDADE, Leandro Tavares.


Recomposição de Rede após Blecaute – Análise de Conceitos e
Simulação da Área de 500 kV da UHE Emborcação – Área MG. 2014. 105
p. Monografia (Graduação em Engenharia Elétrica) – Faculdade de
Engenharia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro;

4 CEPEL. SAGE – Sistema Aberto de Gerenciamento de Energia.


Disponível em: <http://www.cepel.br/produtos/sage-sistema-aberto-de-
gerenciamento-de-energia.htm>. Acesso em: 01 jun. 2017;

5 CACHAPUZ, Paulo Brandi de Barros. História da operação do sistema


interligado nacional. Rio de Janeiro: Centro da Memória da Eletricidade
no Brasil, 2003;

6 ONS. O que é o SIN. Disponível em:


<http://www.ons.org.br/pt/paginas/sobre-o-sin/o-que-e-o-sin>. Acesso
em: 23 mar. 2018;

7 ONS. Carga de Energia. Disponível em:


<http://www.ons.org.br/Paginas/resultados-da-operacao/historico-da-
operacao/carga_energia.aspx>. Acesso em: 24 mar. 2018;

8 Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, 17,


2003, Minas Gerais. Otimização do processo de recomposição para o
Sistema Interligado Nacional;

9 GCOI. Relatório SCEL/CTP -S/GTAS/004/84. Análise de perturbação no


sistema interligado;

10 GCOI. Relatório SCO/GTAN 04/85. Relatório sobre a perturbação no


sistema interligado ocorrida dia 18/08/85 às 18h40min;

11 GCOI. Relatório SCEL//GTP-S/GTAS-06/85. Análise de perturbação no


sistema interligado;

12 GCOI/ONS. Análise da perturbação do dia 11/03/99 às 22h16min, 1999;

13 ONS. ONS RE 3/0057/2016: Análise da perturbação do dia 23/03/2016 às


18h08min que envolveu a SE Bauru e parte do estado de São Paulo;
66

14 ONS. ONS RE 3/045/2002. Relatório de análise da perturbação – do dia


21/01/2002 às 13h34min envolvendo o Sistema Interligado Nacional;

15 ONS. ONS RE 3/252/2009. Análise da perturbação do dia 10/11/2009 às


22h13min envolvendo o desligamento dos três circuitos da LT 765 kV
Itaberá / Ivaiporã;

16 ONS. ONS RE 3/0145/2013. Análise da perturbação do dia 28/08/2013,


envolvendo as interligações Sudeste-Nordestes e Norte-Nordeste com
origem nas LT 500 kV Ribeiro Gonçalves – São João do Piauí C1 e C2;

17 ONS. ONS RE 3/0026/2014. Análise da perturbação do dia 04/02/2014,


envolvendo as interligações Norte-Sudeste/Centro-Oeste e Sudeste-
Nordeste com origem na LT 500 kV Colinas – Miracema circuitos C2 e C3;

18 ONS. Coletiva sobre a perturbação de 21/03/2018. Disponível em:


<http://ons.org.br/pt/paginas/conhecimento/acervo-digital>. Acesso em 15
abr. 2018;

19 ONS. RO-RR.BR.01.Rev.23 – Rotina Operacional – Testes Reais de


Recomposição nas Usinas de Autorrestabelecimento;

20 ONS. Submódulo 23.3.Rev.2016.12 – Procedimentos de Rede –


Diretrizes e critérios para estudos elétricos;

21 ONS. IO-RR.SE.JUP.Rev.25 – Instrução de Operação – Recomposição


da Área Jupiá;

22 ONS. Submódulo 10.11.Rev.2016.12 – Procedimentos de Rede –


Recomposição da rede de operação após perturbação;

23 Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, 24,


2017, Paraná. Novos procedimentos e práticas para melhoria do processo
de recomposição dos sistemas após grandes perturbações;

24 ONS. IO-RR.SE.Rev.59 – Instrução de Operação – Recomposição das


Interligações das Áreas da Região Sudeste / Centro Oeste;

25 MOREALE, Michel dos Santos. Técnicas para treinamento de Operadores


de sistema elétrico utilizando simulador com base na interface de Tempo
Real. 2007. 145 p. Dissertação (Mestrado em Planejamento de Sistemas
de Energia Elétrica) – Universidade Federal de Santa Catarina.
67

APÊNDICE A – Operator Training Simulator – OTS

O OTS foi desenvolvido pelo EPRI – Electric Power Research Institute,


enquanto o ambiente de simulação e sua integração com o SAGE foram
desenvolvidos pelo CEPEL – Centro de Pesquisas de Energia Elétrica. Como
um software de fluxo de potência, há a necessidade de modelar todas as barras
e equipamentos do SIN para que seu uso seja efetivo, sendo possível obter
dados digitais e analógicos oriundos do ambiente de tempo-real e utilizar estes
casos para simulação. 3
Para a utilização do simulador, há a necessidade de carregamento de um
caso base, podendo este ser uma “fotografia” do estado dos diversos
equipamentos do SIN. Após qualquer manobra efetuada pelo usuário o
simulador executa novo fluxo de potência e sinaliza de forma gráfica, através da
interface SAGE, as consequências da ação, o que facilita a interpretação e a
tomada de decisão do operador de sistemas.
O OTS possui diversas funcionalidades e o número de eventos com
possibilidade de serem simulados é bastante extenso, conforme tabela A.1, além
da programação de proteções, como relés de religamento, sobrecorrente,
frequência, dentre outros.

Tabela A.1 - Possibilidades de Eventos no OTS

Código Nome Descrição

BAI Balancing Area Isolate Gera uma ilha no sistema, balanceando a mesma
BKC Close breaker Fecha o disjuntor
Fecha e torna a abrir o disjuntor (tentativa de
BKCO Close-open breaker
fechamento sem sucesso)
BKD Disable breaker Desabilita o comando no disjuntor (falha)
BKE Enable breaker Habilita o comando no disjuntor (tira falha)
BKT Trip breaker Abre o disjuntor
Abre e torna a fechar o disjuntor, realizando assim o
BKTC Trip-close breaker
religamento com sucesso
Abre, fecha e torna a abrir o disjuntor, realizando assim
BKTO Tripo-close-open breaker
um religamento sem sucesso
FLTL Line fault Gera uma falta em uma linha de transmissão
68

Código Nome Descrição

FLTS Bus fault Gera uma falta em uma barra


FLTX Transformer fault Gera uma falta em um transformador
Change generator unit
GOUT Modifica a geração de uma unidade geradora
output
GOVB Block signal to governor Bloqueio de comando para o gerador
GOVR Restore signal to governor Retira o bloqueio de comando para o gerador
Generator unit non-
GUNR Gerador não responde ao CAG
response to AGC
Restore unit from non-
GUR Normaliza a resposta do gerador ao CAG
response
LDC Change company load (step) Modifica a carga de determinada área em um degrau
Change company load
LDCS Modifica a carga de determinada área em uma rampa
(spike)
Change net interchange
NISC Modifica o intercâmbio programado
schedule
PAUS Pause simulation Pausa a simulação
Fonte: Dissertação 25

Além da indiscutível colaboração para amenizar os impactos que situações


de emergência e / ou blecautes causam nos operadores de sistema, as
consequências da implementação deste software foram mais abrangentes,
sendo possível identificar possíveis falhas em sistemas de supervisão e ajustá-
las antevendo a ocorrência no tempo-real, por exemplo. 3
Atualmente, este software é amplamente utilizado para a certificação
obrigatória dos operadores de sistema e treinamentos diversos, tanto em
situações de blecaute geral, parcial (onde há a desenergização parcial do SIN
ou ilhamento de regiões) ou, até mesmo, para desligamentos simples com
contingências significativas para o SIN. 3
Os engenheiros de tempo-real são responsáveis pela simulação nos
treinamentos realizados, controlando abertura e fechamento de disjuntores,
desligamentos dos equipamentos, atuação de ECE simulado, dentre outros.
Para que esse controle seja realizado da melhor forma, o OTS dispõe de uma
tela de controle, conforme figura A.1, onde todas as ações são mostradas para
o usuário simulador, inclusive a impossibilidade de efetuá-las ou novos
blecautes.
69

Figura A.1 - Tela de controle do OTS

Fonte: Própria (2018)

No Centro de Operação Regional Sudeste do ONS – COSR-SE, assim


como nos outros Centros Regionais, o ambiente de simulação foi estruturado
para ser o mais próximo possível do ambiente de tempo-real, podendo também,
em caso de emergência, ser utilizado como ambiente back-up na incidência de
algum infortúnio na sala de controle, conforme figuras A.1, A.2, A.3 e A.4.
70

Figura A.2 - Posto de operação do COSR-SE

Fonte: Própria (2018)

Figura A.3 - Mesa telefônica do COSR-SE

Fonte: Própria (2018)


71

Figura A.4 - Posto de simulação ou back-up do COSR-SE

Fonte: Própria (2018)

Figura A.5 - Mesa telefônica de simulação ou back-up do COSR-SE

Fonte: Própria (2018)

Você também pode gostar