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Curso de Engenharia Elétrica

Monografia do Projeto de Fim de Curso

Desenvolvimento de um Protótipo de Baixo Custo para


Medição e Correção de Fator de Potência

Felipe Mazuco

2019-1
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense

Departamento de Ensino de Graduação e Pós-Graduação

Campus Pelotas

Curso de Engenharia Elétrica

Felipe Mazuco

Orientador: Prof. José Ubirajara Núñez de Nunes

Co-orientador: Prof. Paulo Eduardo Mascarenhas Ugoski

Desenvolvimento de um Protótipo de Baixo Custo para Medição e Correção de


Fator de Potência

Monografia do Projeto de Fim de Curso

Pelotas, RS

2019
3

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense

Departamento de Ensino de Graduação e Pós-Graduação

Curso de Engenharia Elétrica

Monografia do Projeto de Fim de Curso

Desenvolvimento de um Protótipo de Baixo Custo para


Medição e Correção de Fator de Potência

Felipe Mazuco

Relatório submetido como requisito parcial


para obtenção do grau de Engenheiro Eletricista

Banca Examinadora

Prof. José Ubirajara Núñez de Nunes, Dr.


(Orientador)

Prof. Adilson Melcheque Tavares, Dr.


(Examinador)

Prof. Marcel de Souza Mattos, Ms.


(Examinador)
4

CESSÃO DE DIREITOS

AUTOR: Felipe Mazuco


TÍTULO: Desenvolvimento de um Protótipo de Baixo Custo para Medição e Correção de Fator
de Potência.

GRAU: Engenheiro Eletricista ANO: 2019

É concedida ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense


permissão para reproduzir cópias desta monografia de graduação e para emprestar ou vender
tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O(s) autor(es) reserva(m)
outros direitos de publicação e nenhuma parte desta monografia de graduação pode ser
reproduzida sem autorização por escrito do(s) autor(es).

Felipe Mazuco
Rua José do Patrocínio 341/201
CEP 96010-500 – Pelotas – RS – Brasil
5

Dedico este trabalho aos meus pais, irmãos e amigos, pelo apoio e incentivo no
decorrer dessa jornada. ...
6

Agradecimentos....

➢ Gostaria de agradecer primeiramente a meus maiores exemplos, meus pais Maria


Lucia e Mario Mazuco, obrigada pelo incentivo e por sempre acreditarem que eu seria
capaz;

➢ À minha namorada, Rita, pelo apoio e compreensão durante o período de provas no


decorrer do curso;

➢ Ao meu orientador, professor José Ubirajara, pelo auxílio para realização deste
trabalho.

➢ Aos colegas de classe e professores do curso de Engenharia elétrica do Instituto


Federal Sul Rio Grandense, obrigado pelo aprendizado, discussões em sala de aula e
esforços para que o conhecimento foi adquirido da melhor forma possível;

➢ Aos colegas de serviço, em especial ao eng. Romildo pela disponibilização de algumas


imagens para o presente trabalho.

➢ Aos meus gestores, em especial Hildernando Martinelli pela flexibilização de horários


e pelas valiosas folgas em dia de avalições ao final do semestre.

➢ A todos que colaboraram, de uma forma ou de outra, na elaboração deste trabalho


7

Resumo

Instalações industriais e comerciais de médio e grande porte normalmente possuem cargas


elétricas que demandam contingentes significativos de energia elétrica. Essa energia nem
sempre é convertida em trabalho, devido ao fator de potência relativamente baixo apresentado
por essas cargas. O baixo fator de potência representa um alto consumo de energia reativa, que
acarreta elevadas quedas de tensão e perdas de energia no sistema de potência como um todo.
Consequentemente, a unidade consumidora que apresenta um baixo fator de potência terá que
arcar com os gastos relativos ao consumo de energia reativa excedente, e ainda, está sujeita a
penalização em forma de multa, aplicada pela concessionária de energia elétrica que supre tal
unidade, conforme as diretrizes estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica. No
mercado podem ser encontrados diversos equipamentos destinados à correção do fator de
potência em sistemas industriais e/ou comerciais. Apesar disso, esses equipamentos possuem
custos elevados e o seu investimento, em alguns casos, não se justifica em unidades
consumidoras de pequeno porte. Tendo em vista os inconvenientes causados pelo baixo fator
de potência e os altos custos de equipamentos comerciais para a sua correção, o presente
trabalho propõe o desenvolvimento de um equipamento de baixo custo para a solução deste
problema. Este trabalho foi dividido em duas etapas. A primeira etapa consiste na construção
do protótipo capaz de medir e controlar do fator de potência de uma planta comercial que possui
carga instalada em torno de 250 kW, cujo controle é feito através da inserção de bancos de
capacitores quando necessário. O protótipo em questão possui como unidade de processamento
um ATmega 5026, além de periféricos como transformadores de corrente, transformadores de
potencial e módulos de potência para acionamento dos bancos. A segunda etapa consiste na
validação do protótipo desenvolvido através de medições diárias realizadas por uma
controladora de demanda, cujas informações foram transcritas na forma de gráficos no decorrer
do trabalho. Os resultados satisfatórios obtidos em fase de operação indicam que o protótipo
desenvolvido apresenta uma ótima relação custo/benefício e um grande potencial para aplicação
em instalações industriais e/ou comerciais de diferentes proporções.

Palavras-chaves: Protótipo; Fator de potência; Compensação de reativos; Baixo custo.


8

Abstract

Industrial and commercial facilities of medium and large size usually have electric loads that
demand significant contingents of electric energy. This energy is not always converted into
work due to the relatively low power factor presented by these loads. The low power factor
represents a high reactive energy consumption, which results in high voltage drops in the power
system as a whole. Consequently, the consumer unit that has a low power factor will have to
bear the expenses related to the consumption of surplus reactive energy, and is also subject to
financial penalty, applied by the electric utility that supplies such unit, as the guidelines
established by the National Electric Energy Agency. In the market can be found several
equipment for the correction of power factor in industrial and/or commercial systems. In spite
of this, these equipments are usually very expensive and their investment, in some cases, is not
justified in small and medium-sized consumer units. Considering the disadvantages caused by
the low power factor and the high costs of commercial equipment for its correction, the present
work proposes the development of a low cost equipment for the solution of this problem. This
work was divided into two stages. The first step consists in the construction of a prototype
capable of measuring and controlling the power factor of a commercial plant with a load
installed around 250 kW, which is controlled by the insertion of capacitor banks when
necessary. The prototype in question has as its processing unit an ATmega 5026, as well as
peripherals such as current transformers, potential transformers and power modules for driving
the banks. The second step consists in validating the prototype developed through daily
measurements performed by a demand controller, whose information was transcribed in the
form of graphs in the course of the work. The satisfactory results obtained indicate that the
developed prototype presents an excellent cost/benefit ratio and a great potential for application
in small and medium-sized industrial and/or commercial installations.

Keywords: Prototype; Power factor; Reactive compensation; Low cost.


9

Lista de Figuras

Figura 1 Tensão e corrente com excitação sinusoidal................................................18

Figura 2 Deslocamento angular para diferentes tipos de carga. ................................. 19

Figura 3 Triângulo das potências. ............................................................................... 21

Figura 4 Variação das perdas de energia em condutores em função do FP................ 23

Figura 5 Tarifação de reativos por horário. ................................................................ 24

Figura 6 Conceituação DCMR e UFER. .................................................................... 25

Figura 7 Distorção harmônica de 3ª e 5ª ordem em excitação senoidal. .................... 27

Figura 8 Tetraedro de potências. ................................................................................ 28

Figura 9 Estágios de desenvolvimento. ...................................................................... 30

Figura 10 Esquemático para obtenção do sinal de tensão. ......................................... 32

Figura 11 TP de alta precisão modelo ZMPT107. ...................................................... 33

Figura 12 Circuitos para obtenção do sinal de tensão. ............................................... 34

Figura 13 Formas de onda com e sem offset. ............................................................. 35

Figura 14 Circuito para medição de tensão. ............................................................... 36

Figura 15 Transformador de corrente tipo janela. ...................................................... 37

Figura 16 Circuito para medição de corrente. ............................................................ 38

Figura 17 Sinal recebido pelo microprocessador. ....................................................... 38

Figura 18 Diagrama de blocos para obtenção de variáveis. ....................................... 40

Figura 19 Esquemático para acionamento de compensadores. .................................. 42

Figura 20 Curva de calibração para tensão. ................................................................ 43


10

Figura 21 Curva de calibração de corrente (bancada). ............................................... 44

Figura 22 Curva de calibração do FP. ........................................................................ 45

Figura 23 Protótipo para medição e correção de FP .................................................. 46

Figura 24 Principais tipos de configuração em BT. ................................................... 48

Figura 25 Medição de circuito utilizando Wattímetro ET-4055. ............................... 49

Figura 26 Curva diária de carga da UC. ..................................................................... 50

Figura 27 Fator de potência horário da UC. ............................................................... 50

Figura 28 Redução de correntes inrush através de resistores de pré-carga. ............... 56

Figura 29 Diagrama esquemático do projeto. ............................................................. 58

Figura 30 Avaliação de TDH de uma UC. ................................................................. 60

Figura 31 Medição horária do FP antes da instalação do protótipo. .......................... 61

Figura 32 Medição horária do FP após instalação do protótipo. ................................ 62

Figura 33 Medição do FP após instalação do protótipo ............................................. 62

Figura 34 Medição dominical do FP. ......................................................................... 63

Figura 35 Potência reativa indutiva registrada. .......................................................... 64

Figura 36 Quantização de energia reativa tarifada. .................................................... 66


11

Lista de Tabelas

Tabela 1 Principais características do TP ................................................................... 32

Tabela 2 Banco de compensação dimensionado ........................................................ 52

Tabela 3 Capacitâncias das células compensadoras. .................................................. 52

Tabela 4 Corrente nominal dos bancos ....................................................................... 54

Tabela 5 Dimensionamento dos fusíveis .................................................................... 54

Tabela 6 Seção dos condutores ................................................................................... 55

Tabela 7 Contatores para manobra de bancos de capacitores ..................................... 56

Tabela 8 Medições de harmônicas individuais. .......................................................... 59

Tabela 9 Consumo de energia elétrica em período comparativo. ............................... 65

Tabela 10 Faturamento de energia excedente ............................................................. 66

Tabela 11 Custo do projeto. ........................................................................................ 67

Tabela 12 Custo do projeto com controlador comercial ............................................. 67


12

Lista de Abreviaturas e Siglas

CA Corrente Alternada

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

BT Baixa Tensão

CC Corrente Contínua

FP Fator de potência

LED Light Emitting Diode

MT Média Tensão

AT Alta Tensão

Q Potência reativa

QGBT Quadro Geral de Baixa Tensão

RT Relação de Transformação

SEP Sistema Elétrico de Potência

TC Transformador de Corrente

TP Transformador de Potencial

UC Unidade Consumidora

USB Universal Serial Bus


13

Sumário

1 Introdução............................................... ................................................................... 15

1.1 Objetivos ............................................................................................................................... 16

1.2 Estrutura do trabalho ........................................................................................................... 16

2 Fundamentação Teórica........................................................................................ 18

2.1 Fator de Deslocamento e Fator de Potência. ....................................................................... 18


2.1.1 Causas e Problemas Ocasionados por um Baixo Fator de Potência. ............................... 22

2.2 Legislação ............................................................................................................................. 23


2.2.1 Tarifação .......................................................................................................................... 24

2.3 Fator de Potência na Presença de Cargas Não Lineares ...................................................... 27

3 Desenvolvimento do Protótipo para Correção do Fator de Potência.................... 30

3.1 Etapas de Desenvolvimento do Protótipo ............................................................................ 30

3.2 Aquisição e Tratamento de Sinal .......................................................................................... 31


3.2.1 Medição de Tensão ......................................................................................................... 31
3.2.2 Medição de corrente ....................................................................................................... 36

3.3 Unidade de processamento .................................................................................................. 39


3.3.1 Obtenção de variáveis ..................................................................................................... 39

3.4 Acionamento dos compensadores. ...................................................................................... 41


3.4.1 Lógica de funcionamento ................................................................................................ 41

3.5 Ensaios ................................................................................................................................. 43


3.5.1 Medição de tensão. ......................................................................................................... 43
3.5.2 Medição de corrente ....................................................................................................... 44
3.5.3 Medição de fator de potência e compensação ............................................................... 44

4 Projeto de Compensação de Energia Reativa. ...................................................... 47

4.1 Determinação do Fator de Potência da Unidade Consumidora ........................................... 49


4.1.1 Dimensionamento dos Bancos de Compensadores ........................................................ 51
4.1.2 Liberação da Carga Instalada........................................................................................... 56

4.2 Aplicação na Unidade Consumidora. ................................................................................... 57


4.2.1 Observações Sobre Harmônicas ...................................................................................... 59
14

5 Resultados............................................................................................................. 61

5.1 Resultados do Protótipo ....................................................................................................... 61

5.2 Redução da Tarifação .......................................................................................................... 64

6 Conclusão...................................... ....................................................................... 69

6.1 Melhorias ............................................................................................................................. 70

7 Referências Bibliográficas........... ......................................................................... 72

Apêndice A – Layout de Circuito Impresso ................................................................. 74

Apêndice B - Fonte de Alimentação.......................................................................... ... 75

Anexo A – Esquemático do Arduino Mega .................................................................. 76

Anexo B- Esquemático do módulo de Acionamentos .................................................. 77

Anexo C – Valores Comerciais de Fusíveis NH – Siemens ......................................... 78

Anexo D – Capacidade de condução de corrente NBR_5410-2004 ............................. 79

Anexo E - Dados para Instalação de bancos de Capacitores - Engematec ................... 80

Anexo F - Tabela de Contatores Schneider para Manobra de Bancos de Capacitores . 81


15

1 Introdução

Determinados equipamentos elétricos, tais como motores, transformadores, etc.


necessitam, para sua operação, de certa quantidade de energia reativa que pode ser suprida pelo
sistema elétrico no qual estão conectados. Os sistemas elétricos, de modo geral, são fontes de
energia reativa, que podem ser classificadas como: energia reativa indutiva e energia reativa
capacitiva.

A energia reativa indutiva é consumida por aparelhos normalmente dotados de bobinas,


tais como motores de indução, reatores, transformadores etc., ou que operam com formação de
arco elétrico, como os fornos a arco. Este tipo de carga apresenta fator de potência dito reativo
indutivo. Já a energia reativa capacitiva pode ser gerada por motores síncronos superexcitados
(compensadores síncronos) ou por capacitores. Neste caso, estas cargas apresentam fator de
potência dito reativo capacitivo (MAMEDE, 2018).

Os equipamentos usados em uma Unidade Consumidora (UC)1 são geralmente


consumidores parciais de energia reativa indutiva, a qual, não produz trabalho útil. A energia
reativa indutiva apenas é responsável pela formação do campo magnético necessário para o
funcionamento desses equipamentos. O alto consumo de energia reativa, seja ela indutiva ou
capacitiva, acarreta em baixo Fator de Potência (FP) no ponto de conexão entre a UC e a rede
distribuidora de energia elétrica. Consequentemente, a UC pode pagar altos custos relacionados
ao consumo excedente de energia reativa, além de ser penalizada em forma de multa pela
concessionária de energia elétrica, caso o FP esteja abaixo de um valor mínimo preestabelecido.

Existem vários equipamentos disponíveis comercialmente no mercado com o propósito de


corrigir o FP, a fim de reduzir consumo de reativos da rede e também os custos associados a
esse consumo. Entretanto, esses equipamentos possuem custos elevados e o seu investimento
muitas vezes não é facilmente justificado em UCs com restrições financeiras para grandes
investimentos.

1
Conjunto composto por instalações, equipamentos elétricos, condutores e acessórios, incluída a subestação,
quando do fornecimento em tensão primária, caracterizado pelo recebimento de energia elétrica em apenas um
ponto de entrega, com medição individualizada, correspondente a um único consumidor e localizado em uma
mesma propriedade ou em propriedades contíguas (ANEEL, 2014).
16

Tendo em vista os problemas associados ao baixo FP em UCs e os custos dos equipamentos


disponíveis comercialmente para a sua correção, o presente trabalho propõe um protótipo de
medição e de correção de FP de baixo custo. A UC usada como objeto de estudo deste trabalho
é a planta comercial situada no centro da cidade de Pelotas, que contém um grande número de
compressores para climatização do ambiente, além de motores de indução para acionamento de
escadas rolantes, elevadores, etc. A partir de análises de faturas de energia mensais da planta,
foi possível observar os altos custos associados ao consumo de energia reativa e às multas
impostas pela concessionária devido ao baixo FP.

1.1 Objetivos

O presente trabalho tem como objetivo principal a construção de um protótipo


microprocessado de baixo custo que seja capaz de assegurar que a planta em questão atenderá
os requisitos de FP dentro das regulamentações da Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL). Além do objetivo principal, o trabalho possui os seguintes objetivos específicos:

• Efetuar as medições das variáveis envolvidas como tensão, corrente e potência com
índice de confiabilidade;
• Avaliar, comparativamente, os gráficos do histórico de tarifas mensais da
concessionária antes e após a implementação do protótipo de correção de FP na
planta em questão.

1.2 Estrutura do trabalho

Além da introdução, o trabalho é composto pelos seguintes capítulos:

• O segundo capítulo é constituído de uma breve fundamentação teórica, como


conceitos gerais envolvendo, fator de potência, causas, métodos de correção,
benefícios da correção;

• O terceiro e quarto capítulo mostram de forma detalhada a construção do


protótipo e do projeto de compensação;

• O quinto capítulo descreve a análise dos resultados e validação do


funcionamento do protótipo em campo.
17

• O sexto capítulo é constituído das conclusões, limitações e algumas sugestões


para trabalhos futuros.
18

2 Fundamentação Teórica

O FP é um índice de utilização de energia cujo controle adequado em instalações


consumidoras é extremamente importante, não apenas do ponto de vista técnico, mas também,
por ser monitorado pelos sistemas de medição das concessionárias, podendo incorrer em ônus
(muitas vezes significativos) nas contas de energia elétrica (ISONI, 2009).

Este capítulo apresenta conceitos iniciais mais relevantes relacionados ao FP, onde serão
abordadas causas e desvantagens de um baixo valor de FP, assim como seus métodos de
tarifação, caracterizando a importância de seu monitoramento e controle em UCs de médio e
grande porte.

2.1 Fator de Deslocamento e Fator de Potência

Fator de deslocamento é a defasagem entre as componentes fundamentais da tensão e


da corrente em um circuito elétrico, conforme ilustrado na Figura 1. Este deslocamento
normalmente é referido como Ф (graus elétricos).

Figura 1 Tensão e corrente com excitação sinusoidal.

Fonte: SANKARAN (2002).

A Figura 1 demonstra o comportamento característico de cargas classificadas como


lineares, ou seja, quando a corrente elétrica que percorre o circuito limita-se a sua frequência
de linha fundamental (50 ou 60 Hz). Essas correntes são puramente sinusoidais, isentas de
componentes harmônicas de frequências superiores, múltiplas da frequência fundamental.
19

Em um circuito de corrente alternada (CA), a energia total absorvida é composta de uma


parte real e outra imaginária. A parte real é fruto da energia ativa e a imaginária de uma energia
reativa. Uma carga linear pode ser encontrada na forma resistiva, indutiva ou capacitiva.

Uma carga puramente resistiva está associada a uma energia de dissipação térmica
devido a sua propriedade de opor-se a passagem da corrente elétrica e essa oposição faz com
que se dissipe energia na forma de calor por efeito Joule.

Como ilustra Figura 2 (a), em circuitos puramente resistivos, a tensão e a corrente, estão
em fase, ou seja, o fator de deslocamento é nulo.

Figura 2 Deslocamento angular para diferentes tipos de carga.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Cargas indutivas ou capacitivas, se comportam de diferente maneira, pois tratam-se de


elementos armazenadores de energia. Como ilustra Figura 2(b) e Figura 2(c), essas impõem
uma defasagem entre corrente e tensão.

Em uma carga puramente indutiva, a energia é armazenada na forma de campo


magnético. Nesse caso, a corrente está atrasada em noventa graus elétricos em relação à tensão,
ou seja, o ângulo de fase é de –90 ºE.
20

Para uma carga puramente capacitiva, a energia é armazenada na forma de campo


elétrico. Nos circuitos puramente capacitivos, a corrente está adiantada de noventa graus
elétricos em relação à tensão, ou seja, o ângulo de fase é de 90 ºE.

Na prática todo circuito elétrico apresenta mais de uma característica podendo até
apresentar as três características simultaneamente, entretanto uma delas normalmente é
predominante.

Em um ambiente desprovido de distorções harmônicas o FP é obtido a partir do cosseno


do ângulo correspondente a defasagem entre corrente e tensão, ou seja, o FP é igual cosseno do
fator de deslocamento, e pode ser obtido conforme (1).

𝐹𝑃 = cos Ф (1)

Onde:

𝐹𝑃- Fator de potência;

Ф - Fator de deslocamento (defasagem entre a tensão eficaz e a corrente eficaz).

O FP também pode ser definido como a razão entre a potência ativa e a potência
aparente conforme (2). Ele indica a eficiência do uso da energia (em uma escala de 0 a 1). Um
alto fator de potência, próximo ao unitário, indica uma eficiência alta, e o inverso, uma baixa
eficiência energética.

𝑃 (2)
𝐹𝑃 =
𝑆

Onde:

𝑃 – Potência ativa, em kW;

𝑆 – Potência aparente, em kVA.

A potência ativa (𝑃) é a potência que efetivamente realiza trabalho, é convertida em


energia mecânica, calor ou em outra modalidade. Sua unidade de medida no S.I. (Sistema
Internacional) é o Watt, e é expresso matematicamente para sistemas trifásicos por:

𝑃 = √3𝐼𝑙 𝑉𝑙 cos Ф (3)

Onde:

𝑉𝑙 - Tensão de linha;

𝐼𝑙 - Corrente de linha.
21

A potência reativa indutiva (𝑄) é utilizada apenas para criar e manter os campos elétricos
e magnéticos das cargas indutivas e capacitivas. Sua unidade no S.I. é o Volt-Ampere reativo
(VAr). Para sistemas trifásicos é expresso por:

𝑄 = √3𝐼𝑙 𝑉𝑙 sen Ф (4)

A potência aparente é o produto entre as correntes e as tensões eficazes, sendo composta


pelas energias ativa e reativa e definida matematicamente por (5). Sua unidade de medida é o
Volt-Ampere (VA).

𝑆 = √3𝑉𝑙 𝐼𝑙 = 3𝑉𝑓 𝐼𝑓 (5)

Em síntese o FP é um indice adimensional que indica a representatividade de energia


ativa que é absorvida em relação a energia total absorvida pela UC. O triângulo retângulo
mostrado na Figura 3 é frequentemente utilizado para representar as relações entre potência
ativa (𝑃), potência reativa (𝑄) e potência aparente (𝑆).

Figura 3 Triângulo das potências.

Fonte: Adaptado de ISONI (2004).

Pode-se observar na Figura 3 que o triângulo é constituído por vetores que representam
𝑆, 𝑄 𝑒 𝑃 onde a soma vetorial das duas últimas formam a potência aparente. Aplicando relações
trigonométricas ao triângulo de potências da Figura 3 é possível definir que :

𝑆 2 = 𝑃2 + 𝑄 2 (6)
22

2.1.1 Causas e Problemas Ocasionados por um Baixo Fator de Potência

Conforme, (WEG, 2009), (COTRIM, 2008), (MAMEDE, 2018), (CREDER, 2016), as


causas mais comuns de um baixo FP são:

• Cargas com predominância de motores elétricos de indução, principalmente em


baixas condições de carregamento ou operando a vazio;
• Transformadores operando a vazio ou com pequenas cargas;
• Reatores de lâmpadas de descarga;
• Máquinas de solda, operação de fornos de indução e a arco;
• Tensão acima da nominal em equipamentos baseados na geração de campo
magnético, pois a energia reativa é proporcional ao quadrado da tensão;
• Acionamentos eletro-eletrônicos tiristorizados;
• Excesso de capacitores em horários de cargas leves (00h as 6h).

Segundo (WEG, 2009), (CODI, 2004), baixos valores de FP são decorrentes de grandes
quantidades de potência reativa. Essa condição, resulta em aumento na corrente total que circula
nas redes de distribuição de energia elétrica da concessionária e das unidades consumidoras.
Esse aumento de corrente pode sobrecarregar subestações, linhas de transmissão e distribuição,
prejudicando a estabilidade e as condições de aproveitamento dos sistemas elétricos, trazendo
inconvenientes como:

• Favorecimento de sobrecargas elétricas;


• Quedas de tensão: o aumento da corrente devido ao excesso de energia reativa
pode acarretar quedas de tensão acentuadas, ocasionando o mau funcionamento
de equipamentos, principalmente em períodos nos quais a rede é fortemente
solicitada;
• Subutilização do sistema elétrico: a energia reativa, ao sobrecarregar uma
instalação elétrica, inviabilizando sua plena utilização, aumentando o custo dos
sistemas de comando, proteção e controle dos equipamentos, de modo que para
transportar a mesma potência ativa, a seção dos condutores deve aumentar à
medida que o FP diminui;
23

• Perdas por Dissipação: as perdas de energia elétrica ocorrem em função da


potência dissipada em forma de calor e são proporcionais ao quadrado da
corrente total conforme:

𝑃𝑑𝑖𝑠 = 𝑅. 𝐼 2 (7)

Como a corrente cresce com o excesso da energia reativa, estabelece-se uma


relação entre o incremento das perdas e o baixo FP, provocando o aumento do
aquecimento de condutores e equipamentos. A Figura 4 ilustra a variação das
perdas em função do FP.

Figura 4 Variação das perdas de energia em condutores em função do FP.

Fonte CODI (2004).

2.2 Legislação

De acordo coma a ANEEL, em sua Resolução nº 414/2010 – Condições Gerais de


Fornecimento de Energia Elétrica, de 9 de setembro de 2010, em seus artigos 95, 96 e 97,
alterada pela resolução 569 de 23/07/13, o FP deve ser igual ou superior a 0,92 indutivo ou
capacitivo. Para os casos onde este limite não for atingido, a quantia correspondente a essa
energia reativa, incorrerá em ônus para o consumidor. A legislação tem como função principal
instigar o uso racional de energia elétrica, liberando a capacidade do sistema elétrico com a
compensação de reativos indutivos, e de mesmo modo evitar sobretensões no sistema elétrico
ocasionados pelo excesso de reativos capacitivos em horários de cargas leves. Na legislação
consta que no período de 6 horas consecutivas compreendido a critério da distribuidora entre
23 horas e 30 minutos e as 6 horas e 30 minutos, apenas serão registrados valores para FP
inferiores a 0,92 capacitivo, verificados em cada intervalo de uma hora. O período diário
24

complementar ao definido anteriormente, ou seja, entre 6 horas e 00 hora (critério da


distribuidora), apenas será registrado valores referentes a medições FP inferiores a 0,92
indutivo.

A Figura 5, ilustra uma curva de carga de potência reativa de uma instalação industrial
típica, cujo intervalo de avaliação de energia reativa indutiva no período entre 6 e 24 horas e o
de energia reativa capacitiva entre 0 e 6 horas.

Figura 5 Tarifação de reativos por horário.

Fonte: Adaptado de CODI (2004).

A Figura 5 mostra um exemplo de como é aplicada a tarifação, em que a área hachurada


corresponde a energia reativa excedente tarifada, que no intervalo das 4 às 6 horas, será
contabilizado o excedente de energia reativa indutiva; já nos intervalos das 11 às 13 horas e das
20 às 24 horas, há excedente de energia reativa capacitiva e, para qualquer valor do FP
capacitivo, não será cobrado nenhum valor adicional na fatura de energia elétrica, considerando
os intervalos de avaliação definidos pela concessionária. Na avaliação do FP não são
considerados os sábados, domingos e feriados (MAMEDE, 2018).

2.2.1 Tarifação

A cobrança referente a baixos valores de FP em consumidores atendidos em tensão


primária, em Média Tensão (MT) ou em Alta Tensão (AT), e enquadrados nos sistemas de
tarifação horo-sazonal se faz de forma indireta, aplicando-se as tarifas sobre os valores de
energia e demanda ativas, correspondentes aos valores de energia e demandas reativas
excedentes, medidos no mesmo intervalo de integração (1 hora).
25

Os medidores das concessionárias passam assim a monitorar o FP médio horário e


calcular a UFER (Unidade para Faturamento de Energia Reativa Excedente) e a UFDR
(Unidade para Faturamento de Demanda Reativa Excedente) sendo esta última obtida através
da DMCR (Demanda Máxima Corrigida Registrada).

A partir do gráfico da Figura 6 é possível compreender os conceitos de UFER e DMCR.

Figura 6 Conceituação DCMR e UFER.

Fonte: ISONI (2009).

Com base na Figura 6 é possível determinar as parcelas horárias a serem faturadas que
ocorrem da seguinte forma:

• Calcula-se a cada hora os valores referentes a P1, Q1 e S1 no intervalo e


determina-se o ângulo entre P1 e S1;
• Calcula-se o FP para o intervalo considerado, (α1 =45º no exemplo gráfico);
• Calcula-se uma nova potência ativa P2 mantendo-se a aparente S1, considerando-
se o ângulo de α2 =23,07º (associado ao fator de potência de referência de 0,92);
• Calcula-se a UFER em kWh através da diferença P2-P1;
• Obtém-se a DMCR (em kW) através da multiplicação de S1 por 0,92;
26

• Obtém-se o FER (Faturamento de Energia Reativa Excedente) mensal através


de (8), onde os termos entre colchetes correspondem à UFER no intervalo de
uma hora;

𝑛
0,92 (8)
𝐹𝑒𝑟(𝑝) = ∑ [ 𝐶𝑎𝑡 ( − 1)] 𝑇𝑒𝑎(𝑝)
𝐹𝑃(𝑝)
𝑡=1

Onde:

𝐹𝑃(𝑝) – Fator de potência horário, por posto tarifário (de ponta (p) ou fora de ponta (fp));

𝐹𝑒𝑟 – Faturamento de consumo de energia reativa excedente por posto tarifário;

𝑇𝑒𝑎 – Tarifa de energia ativa, em R$/kWh;

𝐶𝑎𝑡 − Consumo de energia ativa, kW/h;

• Obtém-se o FER mensal através de (9), onde os valores entre parênteses


correspondem à DMCR;

𝑛
0,92 (9)
𝐹𝑑𝑟(𝑝) = [𝑚á𝑥𝑡=1 (𝐷𝑎𝑡 ) − 𝐷𝑓(𝑝) ] 𝑇𝑑𝑎(𝑝)
𝐹𝑃(𝑝)

Onde:

𝐹𝑑𝑟 – Faturamento de demanda reativa excedente por posto tarifário;

𝐷𝑎𝑡 – Demanda de potência ativa medida em cada intervalo de 1 hora, em kW;

𝐷𝑓 – Demanda de potência ativa faturada em cada posto horário, em kW;

𝑇𝑑𝑎 – Tarifa de demanda de potência ativa, em R$/kW;

𝑇𝑒𝑎 – Tarifa de energia ativa, em R$/kWh;

𝑡 – Intervalo de uma hora;

𝑛 – Número de intervalos de 1 hora por posto horário no período de faturamento;

𝑚á𝑥 – Maior valor no intervalo.

Conforme relatado anteriormente na Figura 5, os valores tarifados serão apenas os que


estão em desacordo com os horários anteriormente mostrados.
27

2.3 Fator de Potência na Presença de Cargas Não Lineares

Processos de controle por chaveamento ou extinção angular, utilizados frequentemente


em equipamentos eletrônicos podem resultar em uma deformação significativa nas formas de
ondas de corrente e tensão. Essa deformação causa um grande contingente de problemas no
âmbito da qualidade de energia, esses equipamentos são classificados como cargas não lineares.

Quando uma carga não linear é ligada a uma fonte de tensão senoidal, além da
componente em 60 Hz existem componentes harmônicas em valores de frequência múltiplos
da frequência fundamental. Essas harmônicas são normalmente representadas por uma série de
Fourier, que é uma onda periódica composta pela soma do valor médio da onda e uma série de
valores senoidais, sendo expressa matematicamente por:

𝑎0
𝑓(𝑡) = + ∑( 𝑎𝑛 cos 𝑛𝜔1 𝑡 + 𝑏𝑛 sen 𝑛𝜔1 𝑡) (10)
2
𝑛=1

Onde 𝑎0 , 𝑎𝑛 e 𝑏𝑛 são os coeficientes da série, 𝑛 corresponde a ordem da harmônica e 𝜔1


a frequência angular da componente fundamental. A deformação imposta pela THD (Total
Harmonic Distortion), é ilustrada na Figura 7 cujas formas de onda da componente fundamental
e das componentes harmônicas de 3º e 5º ordem foram simulados através do software MATLAB
resultando na soma de todas as componente supracitadas.

Figura 7 Distorção harmônica de 3ª e 5ª ordem em excitação senoidal.

Fonte: Elaborado pelo Autor.


28

Em uma carga não linear o FP passa a ser diretamente influenciado pela THD, portanto
é necessário via de regra, determinar o ângulo da componente fundamental da tensão e da
componente fundamental da corrente, juntamente com a medição da magnitude da THD. Pois,
com a presença de distorções harmônicas os valores das reatâncias indutivas e capacitivas se
alteram proporcionalmente a variação da frequência. Por isso, a análise do triângulo de
potências torna-se impreciso, e agora a análise deve ser feita através de um tetraedro de
potências como mostra Figura 8, introduzindo-se uma nova dimensão decorrente dos VArs
necessários para sustentar a distorção do sinal.

Figura 8 Tetraedro de potências.

Fonte: ISONI (2004).


Com base na Figura 8, a potência aparente de uma instalação elétrica com distorção
harmônica é calculada através de:
1
2
𝑆𝑘𝑉𝐴 = (𝑃2 + 𝑄 2 + 𝐷𝑘𝑉𝐴𝐷 )2 (11)

Onde:

𝐷𝑘𝑉𝐴𝐷 - Acréscimo de potência reativa não linear referente a distorções harmônicas.

Tais distorções são um fenômeno contínuo e estacionário, ou seja, estarão presentes


sempre que a sua fonte causadora esteja em operação desde que não haja implementações para
que estas sejam minimizadas ou extinguidas.
29

A THD da corrente e a THD tensão são determinadas respectivamente por (12) e (13).

√ ∑∞ 2
𝑛=2 𝐼𝑛 𝑟𝑚𝑠
𝑇𝐻𝐷𝐼 = 100% (12)
𝐼1 𝑟𝑚𝑠

√∑∞ 2
𝑛=2 𝑉𝑛𝑅𝑀 𝑟𝑚𝑠
𝑇𝐻𝐷𝑉 = 100% (13)
𝑉1 𝑟𝑚𝑠

Onde:

𝑇𝐻𝐷𝐼 − Distorção harmônica total de corrente;

𝑇𝐻𝐷𝑉 − Distorção harmônica total de tensão;

𝐼1 𝑟𝑚𝑠 − Componente fundamental da corrente, valor eficaz;

𝑉1 𝑟𝑚𝑠 − Componente fundamental da tensão, valor eficaz;

𝑛 − Ordem da harmônica de tensão ou corrente.

Para o cálculo do fator de potência para cargas não lineares utiliza-se de (14) que
depende dos ângulos de fase de cada harmônica e da potência reativa necessária para reproduzi-
las considerando apenas as harmônicas de ordem ímpares presentes.

cos(𝜙)
𝑓𝑝 = (14)
√1 + (𝑇𝐻𝐷)2

Através destas informações conclui-se que o FP real é sempre inferior ao FP de


deslocamento na presença de THD. Além disso, sabe-se também que a THD pode causar vários
efeitos indesejados em um sistema elétrico, e que existem maneiras de minimizá-los, mas este
assunto não será explorado nesta monografia.
30

3 Desenvolvimento do Protótipo para Correção


do Fator de Potência

Como o principal objetivo do protótipo é o controle do fator de potência de uma carga


variável ao longo do dia, este deverá realizar um monitoramento instantâneo das principais
grandezas como potência ativa e potência aparente. A UC na qual o equipamento será instalado
apresenta uma rede trifásica levemente desbalanceada. Deste modo, para a obtenção do valor
do fator de potência, o presente trabalho adotará como referência a média ponderada das
potências ativa e aparente medidas nas três fases. De posse desses dados, é dimensionada a
potência reativa do banco de compensação de reativos a ser instalado, a fim de corrigir o fator
de potência da instalação.

Na primeira parte deste capítulo são apresentados os estágios de desenvolvimento do


protótipo incluindo as etapas de aquisição e tratamento de sinais. Na segunda etapa, são
apresentados os ensaios realizados para a calibração do equipamento para medição de tensões
e de correntes trifásicas no ponto de conexão entre a UC e a rede distribuidora.

3.1 Etapas de Desenvolvimento do Protótipo

O desenvolvimento do protótipo para correção do FP proposto divide-se basicamente


em três estágios, como mostra o diagrama de blocos na Figura 9:

Figura 9 Estágios de desenvolvimento.

Fonte: Elaborada pelo autor.

No primeiro bloco da Figura 9 temos o processo de aquisição e tratamento de sinais.


Essa é uma etapa crucial do projeto, pois é através da fidelidade desses sinais adquiridos e
posteriormente condicionados que o processador realizará as operações necessárias para
obtenção das variáveis fundamentais envolvidas no cálculo do FP. A escolha dos sensores
envolve alguns requisitos de projeto como, por exemplo, a faixa de operação do equipamento,
a influência que este pode provocar na carga e as classes de exatidão. Como o microcontrolador
apenas faz medições envolvendo grandezas de potencial, a corrente deve ser convertida em
31

tensão antes de ser aplicada em uma de suas portas de entrada. Além disso, os níveis de tensão
coletados através da rede elétrica são muito elevados, necessitando assim, da utilização de
dispositivos ou métodos para que sejam adequados conforme a faixa de trabalho suportada pelo
microcontrolador.

Após a primeira etapa, no segundo bloco da Figura 9, temos o processamento do sinal,


que consiste na discretização do sinal recebido do primeiro estágio através de conversor A/D
de 10 bits. A partir desse sinal torna-se possível realizar o processamento matemático para
obtenção das grandezas envolvidas.

Na sequência, o terceiro bloco da Figura 9 representa o estágio responsável pelo


acionamento dos compensadores de reativos, no qual, foi realizado um entrelace lógico
contendo importantes considerações para que os bancos possam ser acionados de forma correta.

3.2 Aquisição e Tratamento de Sinal

Nesta subseção serão apresentadas de forma subsequente e detalhada as etapas referentes


a aquisição e tratamento de sinais do protótipo.

3.2.1 Medição de Tensão

Existem inúmeras configurações de medição capazes de adequar a tensão medida à porta


de entrada do microcontrolador. Dentre as configurações apresentadas na literatura, as mais
usuais são baseadas em níveis de tensão2 CC (Corrente Contínua).

Foram realizados alguns experimentos com acopladores ópticos e amplificadores


operacionais para condicionamento do sinal, mas devido a problemas como excesso de ruído e
falta de linearidade foi adotado o modelo ilustrado no diagrama de blocos apresentado na Figura
10.

2
Circuito de medição de corrente alternada baseadas em nível de tensão CC (Mukhopadhyay,2012) disponível
em: https://www.researchgate.net/figure/Circuit-schematic-for-voltage-measurement
32

Figura 10 Esquemático para obtenção do sinal de tensão.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Conforme mostra o primeiro e segundo bloco da Figura 10, a primeira etapa da medição
de tensão consiste na transdução do sinal da rede elétrica. Para realizar este procedimento
inicialmente foi utilizado um transformador de potencial (TP) comercial com relação de
transformação (RT) de aproximadamente 25:1. Esse TP tem a finalidade de reduzir a tensão da
rede para níveis compatíveis com a máxima tensão suportável pelas portas do microcontrolador,
além de promover a isolação galvânica. Esta isolação se mostra fundamental quando dois ou
mais circuitos devem se comunicar, entretanto seus terminais de aterramento devem estar em
diferentes potenciais, prevenindo que correntes indesejadas fluam entre duas seções que
compartilham um mesmo ponto de aterramento. Embora essa configuração proporcione
medições de tensão com bastante precisão, ao analisar curvas de calibração levantadas com o
auxílio de um Variac, notou-se uma não linearidade dos valores quando esses ultrapassam
220 V(RMS) que ocorre devido a saturação do núcleo do transformador. O problema foi
solucionado com a substituição do TP comercial por um de alta precisão, o qual utiliza a
corrente como referência. Algumas de suas principais características são listadas na
Tabela 1.

Tabela 1 Principais características do TP.

Especificações Elétricas
Corrente (entrada/saída) 2/2mA
Relação de Espiras 1000:1000
Erro de Ângulo de Fase <30'
Tensão de Isolação 3000V
Classe de Precisão 0.2
Linearidade 0.1%
Faixa Linear 0 a 3mA
Fonte: Catálogo do fabricante Zeming Eletronic.
33

O TP de alta precisão, mencionado anteriormente, é mostrado na Figura 11.

Figura 11 TP de alta precisão modelo ZMPT107.

Fonte: Catálogo do fabricante Zeming Eletronic.

Para adequação do valor da corrente do TP foi necessária a imposição de um resistor em


série com sua bobina, de modo a limitar a corrente do primário a valores dentro da faixa de
trabalho do transformador. O valor da resistência desse resistor, com base na lei de Ohm, pode
ser calculado através de:

𝑉 (15)
𝑅=
𝐼

Onde:

R - Valor da resistência em Ω (Ohms);

V - Tensão primaria de fase, em Volts (V);

I - Corrente desejada na bobina do TP, em Amperes (A).

Com o auxílio de um osciloscópio foi possível observar uma elevada distorção


harmônica para correntes do TP próximas de seu valor nominal. A partir dessa análise, foi
possível ajustar a curva de resposta do TP, e a distorção foi eliminada quase que por completo
através da limitação da corrente secundária para 1 mA. O cálculo do resistor limitador foi
realizado desprezando-se a indutância da bobina do transformador. Após esse procedimento,
foram usados dois canais do osciloscópio a fim de medir os sinais de entrada e de saída do TP
e analisá-los comparativamente. A partir dessa análise, foi observado o comportamento
sinusoidal de ambos sinais, comprovando a inexistência de uma possível interferência causada
pela saturação do núcleo do TP.
34

Após a transdução da tensão, o terceiro bloco da Figura 10 mostra o processo de


adequação do nível de tensão. Para a aquisição do sinal no secundário do TP, poderiam ser
usadas as configurações apresentadas na Figura 12 uma saída ativa, cuja vantagem seria a alta
tensão de saída e a desvantagem seria a presença de ruídos e de componentes harmônicos de
ordem mais elevada; e uma saída passiva, cuja vantagem seria a simplicidade de construção e
a desvantagem seria uma amplitude limitada do sinal.

Figura 12 Circuitos para obtenção do sinal de tensão.

Fonte: Catálogo do fabricante Zeming Eletronic.

Diante das duas configurações apresentadas na Figura 12, no presente trabalho foi
adotado circuito secundário do TP com saída passiva (Figura 12(b)) formado por um divisor de
tensão resistivo, conforme mostra a Figura 14. A partir dessa configuração, foi possível obter
na saída os níveis de tensão requeridos pelo microcontrolador numa faixa entre 0 e 5 V(CC).

A tensão de pico aplicada a porta de entrada do microcontrolador é calculada por:

𝑉𝑝𝑝 (16)
𝑉𝑝 =
2

onde 𝑉𝑝𝑝 é a tensão de pico a pico, que corresponde a tensão máxima na saída do TP. Essa
tensão deve ser definida para um valor pouco abaixo do valor máximo de entrada na porta do
microcontrolador.

O valor da tensão eficaz, que corresponde a tensão de pico obtida em (16), é calculado
conforme a seguinte equação:

𝑉𝑝 (17)
𝑉𝑟𝑚𝑠 =
√2

A tensão 𝑉𝑟𝑚𝑠 obtida através de (17) é usada para o dimensionamento do resistor a ser
usado para limitar a tensão na porta de entrada do microcontrolador.
35

Para o entendimento do método empregado, considere uma tensão de fase de 250 V


(RMS), pouco acima do valor nominal de 220 V(RMS) da rede elétrica. Se for estabelecido que
𝑉𝑝𝑝 = 3,5 V(CC) na entrada do microcontrolador, por razões de segurança, então a tensão 𝑉𝑝
seria igual a 1,75 V(CC) e a tensão 𝑉𝑟𝑚𝑠 seria igual a 1,23 V(RMS), conforme as equações (16)
e (17) respectivamente. A partir do valor da tensão 𝑉𝑟𝑚𝑠 obtido, aplica-se a equação (15) para
calcular o valor das resistências dos resistores.

No quarto e quinto bloco da Figura 10, como o microprocessador não identifica valores
de tensão negativa é usado um circuito grampeador de tensão3 no secundário do TP, que aplica
um offset de 2,5 V(CC), adquirido a partir de um divisor de tensão em uma fonte independente
de 5 V(CC). A Figura 13 demostra as formas de onda correspondentes ao sinal sem e com offset
obtidas no secundário do TP. Esta forma de onda será recebida nas portas do microprocessador.

Figura 13 Formas de onda com e sem offset.

Fonte: Elaborada pelo autor.

3
Grampeadores de tensão são circuitos utilizados como restauradores de nível CC após acoplamento capacitivo,
apenas acrescentam um nível de tensão contínua ao sinal sem modificar a forma de onda de entrada. São
compostos de diodos, capacitores e algum elemento resistivo, podendo também ser utilizada uma fonte
independente para adicionar nível CC ao sinal.
36

O circuito final para medição de tensão pode ser visto na Figura 14.

Figura 14 Circuito para medição de tensão.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Como visto na Figura 14 , para proteção do circuito foi utilizado um varistor em paralelo
com um P6KE220CA. Esse componente é um transil4, que tem como função proteger o circuito
contra surtos de tensão de intervalo muito pequeno, na ordem de microssegundos. Esse modelo
garante com que a tensão na entrada do circuito não seja superior a 231 V(RMS).

3.2.2 Medição de corrente

Para que seja possível medir o valor eficaz da corrente é necessário que um transdutor o
converta em um sinal de tensão proporcional. Para isso, utilizou-se um TC tipo janela da marca
ABB da série TC-HB606, mostrado na Figura 15 cuja relação de transformação é de 2000/5 A.
Os referidos TCs situam-se em torno dos barramentos do Quadro Geral de Baixa Tensão
(QGBT). Como não trabalham em série com o circuito, apenas por indução magnética, são
imunes a interferências elétricas e são pouco alterados pela variação de temperatura (ABB,
2006).

4
Transil ou (diodo de supressão de tensão transitória) é um dispositivo que opera desviando o excesso de
corrente, quando a tensão sobre ele inserida excede seu potencial de ruptura da avalanche de elétrons. Tem
como função suprimir todas as sobretensões acima de sua tensão de ruptura, respondendo a surtos mais
rapidamente do que outros componentes comuns de proteção contra sobretensão.
37

Figura 15 Transformador de corrente tipo janela.

Fonte: Catálogo do Fabricante (ABB,2006).

Como o microprocessador realiza em suas entradas, apenas leituras de sinais de tensão,


a metodologia usada para medições de correntes é similar àquela anteriormente descrita para
medições de tensões. Entretanto, neste caso, a corrente oriunda do TC é elevada em comparação
com a do circuito da Figura 14. Deste modo, é desejável que seja dissipada a menor quantidade
de potência possível, a fim de evitar interferências e problemas com soldas frias no circuito
impresso e, ao mesmo tempo, ter um sinal de tensão com amplitude suficiente para ser
mensurada.

Considerando que o TC em questão é superdimensionado para a planta e que a corrente


de carga por fase da UC nunca ultrapassou o valor de 900 A(RMS), o circuito da Figura 16 foi
projetado para uma corrente máxima de 1000 A(RMS). Deste modo, a corrente máxima no
secundário do TC dificilmente ultrapassaria o valor de 2,5 A(RMS), que correspondente aos
1000 A(RMS) em seu circuito primário, garantindo assim, melhor exatidão na faixa de corrente
usual.

Para o dimensionamento do resistor de carga do circuito de medição de corrente a


análise é semelhante à mostrada no circuito de medição de tensão. Utiliza-se como a referência
tensão de 1,75 V(RMS) como parâmetro de segurança, devido a transitórios resultantes de
acionamentos de cargas. Como dito anteriormente o TC é superdimensionado, portanto, utiliza-
se como corrente máxima no secundário do TC o valor de 2,5 A(RMS). Utilizando-se de (15),
obtém-se o valor do resistor de carga de 0,68 Ω. Calculando a potência dissipada pelo resistor,
38

através de (7) , tem-se o valor da potência dissipada pelo resistor igual a 4,25 W. Portanto, o
resistor utilizado será de 0,68Ω/5 W (valor comercial). O circuito final para medição de corrente
pode ser visto na Figura 16.

Figura 16 Circuito para medição de corrente.

Fonte: Elaborada pelo autor.

O sinal a ser discretizado pelo microcontrolador é apresentado na Figura 17, onde


mostra-se na cor verde a sinusoide correspondente aos valores de tensão e, na cor amarela, a
onda correspondente aos valores de corrente. Para obtenção das curvas foi utilizado como carga
um banco de resistências o que justifica os valores estarem em fase além de comprovar que não
existe influência dos sensores na medição no que se refere à fase.

Figura 17 Sinal recebido pelo microprocessador.

Fonte: Elaborada pelo autor.


39

3.3 Unidade de processamento

Para a unidade de processamento foi utilizado um microcontrolador ATmega 2560,


levando em consideração parâmetros como baixo custo e simplicidade na programação.
Atualmente é muito utilizado para prototipação experimental, além de possuir bibliotecas HMI
(Human-Machine Interface) de código aberto.

O ATmega conta com um conversor A/D de 10 bits e 16 Mhz de clock sendo o suficiente
para a implementação do projeto em ênfase. Além de possuir um grande número de portas para
pinos de entrada/saída de hardware, o software programado pode ser facilmente carregado no
microcontrolador através de uma conexão USB (Universal Serial Bus), e pode ser alimentado
por tensões CC de 7 a 12 V.

3.3.1 Obtenção de variáveis

O sinal oriundo do circuito de medição é recebido pelo microcontrolador, mas este


sinal ainda está na forma contínua. Para que esse sinal seja representado no meio digital, ele
deve ser convertido em uma série de valores discretos, isso é feito pelo conversor A/D do
microcontrolador. A conversão do sinal analógico para o digital é realizada por uma sequência
de amostras da variação de tensão do sinal original, onde cada valor é arredondado para o
número mais próximo da escala, no caso, o ATmega possui uma resolução de 10 bits o que
nos dá uma escala de 1024 diferentes valores.

Após a discretização dos sinais, os circuitos digitais processam as informações e


calculam as grandezas elétricas de interesse. Um dos parâmetros importantes no processo de
um medidor eletrônico é a taxa de amostragem, que se refere a frequência com que os
conversores A/D capturam os sinais analógicos de tensão e corrente em 1 ciclo completo (16
milissegundos para 60Hz). Segundo o artigo 14 da resolução 505 (ANEEL,2001) para obter
valores de tensão e corrente satisfatórios são necessários no mínimo 16 amostras por ciclo.
Para o projeto foi utilizado 20 amostras por ciclo o que equivaleria a uma frequência de
amostragem de 1200 Hz, pois quanto maior a taxa de amostragem mais precisa é a
representação do sinal.

Para obtenção de variáveis foi utilizado como referência uma biblioteca desenvolvida
pela openenergymonitor (Trystan, 2017). Trata-se de uma empresa de dispositivos de
monitoramento de energia, de código aberto. Essa biblioteca gratuita foi desenvolvida para
monitoramento de potências residenciais monofásicos. A partir de algumas modificações na
biblioteca o funcionamento ficou como mostra Figura 18.
40

Figura 18 Diagrama de blocos para obtenção de variáveis.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Para realizar a medição, o programa tem como referência as leituras de tensão e corrente
contidos em uma janela de amostras. Essa janela é definida pelo número de passagens por zero
de cada sinal (valor equivalente a cada meio ciclo de onda), onde cada ciclo é referido como
duas passagens por zero. O protótipo utiliza para medição uma janela de 10 ciclos, ou 20
passagens por zero, e esses valores são armazenados através de um acumulador. Após o
janelamento o sinal passa por um filtro para retirar o offset de 2,5 V inserido no processo de
condicionamento de sinal.

Os valores de tensão e corrente (RMS) são calculados através de:

𝑁
1
𝑋𝑟𝑚𝑠 = √ ∑ 𝑥𝑖 2 (18)
𝑁
1

Onde:

X = tensão ou corrente;

N = número de semiciclos amostrados;


41

𝑥𝑖 = valor de cada semiciclo.

A potência aparente é calculada através do produto dos fasores de tensão e corrente


obtidos conforme (5).

Cria -se uma nova variável interpolando a tensão com intuito de compensar a defasagem
entre tensão e corrente gerando um novo valor de tensão. Com o produto entre essa variável e
a corrente (RMS) calcula-se a potência instantânea. A potência ativa é obtida através do valor
médio da potência instantânea.

O fator de potência é calculado através da divisão entre os valores da potência ativa pela
potência aparente conforme (2), anteriormente apresentada.

3.4 Acionamento dos compensadores

Para o acionamento dos bancos de capacitores foi utilizado um módulo de relés 5 V(CC)
com 4 canais modelo “2ph63083a”. Esse módulo permite integração com uma ampla gama de
microcontroladores, inclusive o ATmega, a partir de suas saídas digitais (nível lógico baixo).
Pode-se, através desse módulo de relés controlar cargas maiores, tais como, as bobinas dos
contatores. O dispositivo de acionamento conta com isolamento da rede por meio de opto-
acopladores e proteção contra sobrecarga além da luz indicadora de status de energização.

3.4.1 Lógica de funcionamento

O sistema de controle de acionamento dos bancos contará com quatro saídas, ou seja
2𝑛 com n=4 diferentes combinações possíveis de acionamento. A lógica de acionamento deverá
prever alguns fatores conforme NBR5060 NB209 (ABNT, 2010), sendo os principais:

• A tensão nos capacitores pode ser particularmente elevada em período de baixa


carga e, portanto, uma parte ou a totalidade dos capacitores deve ser desligada
do circuito;
• Se a elevação de tensão em períodos de baixa carga é mantida pelos bancos de
capacitores, a saturação do núcleo dos transformadores pode ser significativa,
produzindo harmônicas de amplitude anormal, que podem ser amplificadas por
ressonância entre o transformador e o capacitor;
• O tempo de religamento muito pequeno poderá elevar a tensão no capacitor,
provocando danos ao mesmo (redução de sua vida útil).
42

As combinações foram referenciadas a um vetor de mesmo tamanho, onde cada posição


do vetor, tem uma equivalência de acionamento correspondente em uma matriz. As variáveis
que são monitoradas instantaneamente são FP e Q.

O FP foi ajustado para uma faixa de trabalho entre 0,94 a 0,999 sendo o limiar superior
muito importante para evitar que os bancos de reativos sejam acionados em horários de baixa
corrente. A lógica de controle pode ser analisada através da Figura 19.

Figura 19 Esquemático para acionamento de compensadores.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Como mostrado na Figura 19, a lógica de acionamentos funciona no modo descrito a


seguir. Inicialmente existe um laço de comparação entre a faixa de trabalho do FP que foi
previamente ajustada com os valores medidos instantaneamente. Quando o valor do FP, não
está de acordo com o especificado, inicialmente verifica-se o valor de Q. Com a posse do valor
de Q, percorre-se o vetor com intuito de verificar se já existe algum valor de Q já injetada pelo
controlador. Se não houver Q injetado, encontra-se a posição no vetor que possui a quantia
43

menor e mais próxima a do solicitado pelo circuito e faz-se o acionamento. Para o caso onde o
controlador já possui um valor inserido, soma -se esta quantia ao valor de Q, e com o resultante
procura-se a posição no vetor correspondente ao valor menor e mais próximo.

3.5 Ensaios

Após o desenvolvimento do controlador, foram realizados vários procedimentos em


bancada para validar seu funcionamento, como medições das principais variáveis envolvidas e
da lógica de acionamento dos compensadores. Além disso, essas medições foram usadas para
verificar o grau de precisão do equipamento e evitar maiores problemas quando ele for instalado
em definitivo na unidade consumidora.

Para a aferição do protótipo foi utilizado um multímetro FLUKE modelo 305 e um


wattímetro MINIPA modelo ET-4055.

3.5.1 Medição de tensão

Os ensaios para aferição de tensão foram realizados com auxílio de um Variac JNG
modelo TDGC2, o qual possui uma faixa de saída tensões que pode variar de 0 a 250 V. O
ensaio de tensões foi realizado para as três fases do controlador, a fim de evitar erros referentes
a falta de exatidão das resistências dos resistores. Através das medições foi traçado a curva de
calibração mostrada na Figura 20.

Figura 20 Curva de calibração para tensão.

CALIBRAÇÃO DE TENSÃO
Protótipo fluke

250
200
TENSÃO (V)

150
100
50
0
0 2 4 6 8 10 12 14
MEDIÇÕES

Fonte: Elaborada pelo autor.


44

A partir da Figura 20 é possível observar a curva de tensão obtida com o protótipo e a


curva de tensão obtida com o multímetro sobrepostas.

3.5.2 Medição de corrente

Para simulação de corrente foram utilizados bancos de resistências nas configurações


série, paralelo e série-paralelo. Através dessas configurações foi possível simular correntes
altas, médias e baixas. Para o levantamento da curva de calibração foi utilizado um
transformador de corrente tipo janela com RT de 500/5 A. Este foi escolhido por possuir a
mesma corrente de saída do TC presente na UC. Como o TC transforma o valor de corrente que
circula em seu interior para um valor proporcional em seus terminais de saída. Com intuito de
aumentar a sensibilidade do TC a baixas correntes, foi aplicado trinta voltas de um condutor
em torno do TC aumentando em trinta vezes o valor da corrente que flui em seu interior. A
partir disso, foi possível simular em bancada correntes de aproximadamente 300 A com apenas
3 bancos de resistências. A curva de calibração ficou como mostra Figura 21.

Figura 21 Curva de calibração de corrente (bancada).

CALIBRAÇÃO DE CORRENTE
Protótipo Fluke Linear (Protótipo)

300 259,7
250 199,8
CORRENTE (A)

200 153,7
150 118,3
91
100 50,4
50 20,2
0 0
0
0 2 4 6 8 10
MEDIÇÕES

Fonte: Elaborada pelo autor.

A partir da Figura 21, percebe-se que os valores medidos pelo protótipo e o alicate
amperímetro possuem valores idênticos sobrepondo os pontos de medição.

3.5.3 Medição de fator de potência e compensação

Para simulação de diferentes valores de fator de potência foram utilizados como carga:

• Um motor de ½ cv;
• Banco de resistências;
45

• Banco de capacitores.

A partir das combinações das cargas supracitadas foram realizadas várias configurações,
utilizando desde um motor a vazio até um banco puramente resistivo, a fim de simular diversos
valores de FP. Com o resultado das medições foi traçado a curva de calibração para o FP. Os
valores medidos pelo protótipo foram confrontados com as medições efetuadas pelo wattímetro
e a curva ficou conforme mostra Figura 22.

Figura 22 Curva de calibração do FP.

CALIBRAÇÃO FP
Protótipo ET-4055

1,2
1
FATOR DE POTÊNCIA

0,8
0,6
0,4
0,2
0
-0,2 0 1 2 3 4 5 6 7 8
MEDIÇÕES

Fonte: Elaborada pelo autor.

Esse ensaio foi importante para verificar a funcionalidade da lógica de acionamentos


dos compensadores. Pois através da inclusão e exclusão de cargas e da verificação dos valores
de FP e Q mensurados pelo controlador, foi analisada a quantidade de potência reativa do banco
a ser injetado para compensação. Isto foi feito através da observação do módulo de relés,
verificando se o valor correspondente a compensação de energia solicitada pela medição estava
de acordo com o acionamento dos LEDs do módulo, sabendo que cada LED acionado
corresponde a um respectivo banco.

A partir da análise em bancada observou-se que o protótipo teve um excelente resultado


nas três variáveis simuladas. Principalmente no que se refere a faixa de medições de corrente
(RMS), pois mesmo com uma faixa de trabalho ampla foi capaz de efetuar medições de
correntes inferiores a 20 A. Sabendo que durante o intervalo de vinte e quatro horas a corrente
na planta pode variar de 20 a mais de 800 A. Pode-se dizer que o protótipo é capaz de medir
tensões de fase de até 250 V e correntes de 20 a 1000 A.
46

O protótipo montado e em fase de operação é ilustrado na Figura 23.

Figura 23 Protótipo para medição e correção de FP

Fonte: Elaborada pelo autor.


47

4 Projeto de Compensação de Energia Reativa

A compensação de energia reativa em uma instalação deve ser feita com devido cuidado
evitando soluções imediatistas que muitas vezes podem levar a resultados técnicos ou
econômicos não satisfatórios. São necessários critérios para efetuar uma compensação
adequada analisando cada caso, pois não existe uma solução padronizada (COTRIM, 2009).

O projeto de compensação do presente trabalho refere-se a uma UC dotada de uma


própria subestação abaixadora. O transformador de potência presente na subestação possui
capacidade nominal de 500 kVA, mas a capacidade instalada da planta é de aproximadamente
250 kVA. O transformador recebe tensão primária em 13,8 kV e reduz para 127/220 V. Como
trata-se de um imóvel comercial, possui vários tipos de equipamentos, sendo que a maioria
desses equipamentos são cargas reativas indutivas. Essa carga é constituída por
condicionadores de ar (SELFs5 ), elevadores, escadas rolantes e iluminação entre outros.

A compensação de reativos pode ser realizada tanto em MT, como em BT. Para escolha
ideal do projeto, devem ser considerados aspectos como custos para implementação
(investimento), facilidade de manutenção e os benefícios que a planta terá após a compensação.
Através de uma breve análise, mostra-se mais vantajosa a compensação em BT, principalmente
pelos benefícios relacionados a manutenção e a diminuição das correntes reativas nos cabos,
transformadores de potência, etc., os quais, não são obtidos com a compensação em MT.

Segundo (WEG, 2009), (COTRIM, 2009), a correção do FP em BT é realizada


normalmente de três diferentes maneiras, que são ilustradas através de seu diagrama unifilar na
Figura 24. As configurações mais usuais de compensação em BT são:

a) Correção localizada: é obtida instalando-se os capacitores junto ao equipamento


que se pretende corrigir o FP, tal como mostra Figura 24(a);
b) Correção por grupos de cargas: o capacitor é instalado de forma a corrigir um
setor ou um conjunto de pequenas máquinas (<10cv), como mostra a Figura
24(b);
c) Correção na entrada da energia de BT: permite uma correção bastante
significativa. Utiliza-se esse tipo de correção em instalações elétricas com

5
SELFs: equipamentos de ar condicionado compactos de médio porte, que une os conjuntos mecânicos
condensador e evaporador no mesmo contêiner (motores e compressores no mesmo gabinete).
48

elevado número de cargas com potências diferentes e regimes de utilização


poucos uniformes, tal como mostra Figura 24(c).

O projeto em questão utilizará o método de compensação na entrada de energia (saída


do transformador de potência). Isto é feito por um banco de capacitores centralizado fracionado
em estágios, onde por intermédio de uma central eletrônica inteligente, os estágios são
acionados conforme a necessidade. Isso evita que em horários de carga mínima o fator de
potência se torne capacitivo.

O acionamento dos estágios pode ser realizado através de contatoras ou de tiristores.


Nesta aplicação, é necessário ter cuidado com transitórios na rede causados por manobras de
capacitores. Segundo NBR 5060 NB209 (ABNT, 2010) essas manobras podem causar
interferência em outras cargas e a redução da vida útil dos capacitores, além de efeitos de
sobretensão no caso de uma sobrecompensação de reativo, uma vez que que a resposta do
sistema pode ser lenta, e os capacitores podem ser desligados dezenas de segundos após o
desligamento da carga.

Figura 24 Principais tipos de configuração em BT.

Fonte: Manual para Correção do Fator de Potência WEG (2009).


49

4.1 Determinação do Fator de Potência da Unidade Consumidora

Para estimação do FP da instalação, foi realizado um levantamento de carga da UC


utilizando o método do ciclo de carga operacional. Esse levantamento baseia-se no ciclo de
operação diário da instalação, levando em conta as principais cargas e seus respectivos horários
de funcionamento (MAMEDE, 2018).

Este levantamento foi realizado com o auxílio de um alicate wattímetro trifásico Minipa
modelo ET-4055 mostrado na Figura 25.

Figura 25 Medição de circuito utilizando Wattímetro ET-4055.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Através da medição de todos os circuitos da UC com o wattímetro, foi possível obter


valores reais das potências ativa e reativa dos equipamentos. Com o conhecimento dos horários
de funcionamento das cargas e a previsão de inclusão ou exclusão de cargas significativas, foi
traçado através dos valores medidos e posteriormente tabelados, a curva característica de
comportamento diário da carga da UC, conforme mostra a Figura 26.
50

Figura 26 Curva diária de carga da UC.

Curva diária de carga


300

250

200
Potência

150

100

50

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
Horas

KW kva

Fonte: Elaborada pelo autor.

A curva foi traçada para casos de consumo máximo, ou seja, todos os equipamentos
operando com corrente nominal, deixando de fora apenas cargas de uso esporádico, como
bombas de sprinklers, hidrante, recalque, chuveiros etc. Através das medições também foi
traçado a curva característica do FP horário da UC como mostrado na Figura 27.

Figura 27 Fator de potência horário da UC.

Fator de Potência Horário (indutivo)


1

0,95
Fator de Potência

0,9

0,85

0,8

0,75

0,7
Horas

Fonte: Elaborada pelo autor.


51

A curva característica do FP da planta pode ser explicada pelo fato de em alguns horários
a carga é composta quase que exclusivamente pelo circuito de iluminação, predominada por
reatores com alto FP. Em horários mais próximos ao horário comercial, a partir das 8 horas
entram as grandes cargas indutivas, primeiramente as escadas rolantes que trabalham de forma
similar a um motor a vazio e possuem um baixíssimo FP e a ventilação dos SELFs, que
permanecem ligados por um período pré-estabelecido por temporizadores.

O valor da potência reativa pode variar muito em função da temperatura externa


(ambiente, clima), pois os SELFs possuem termostatos e seus estágios de compressores são
acionados conforme necessidade por intervalos indeterminados de tempo.

Através dos somatórios das potências aparentes e das potências ativas, aplicadas em (2)
foi possível levantar o valor médio do FP da planta, obtendo o valor de 0,85 indutivo.

4.1.1 Dimensionamento dos Bancos de Compensadores

Para dimensionamento das células foi realizado uma análise dos horários em que o fator
de potência se encontra abaixo do mínimo exigido 0,92 e suas respectivas correntes. Pois os
estágios serão calculados de acordo com a máxima potência reativa em períodos significativos
de tempo. A partir do conhecimento do valor do FP da instalação, foram calculadas as potências
reativas necessária para suprir a deficiência da planta através de (19).

𝑄𝑐𝑎𝑝 = 𝑃[tan(𝑎𝑟𝑐 cos(𝐹𝑃1 )) − tan(𝑎𝑟𝑐 cos(𝐹𝑃2 ))] (19)

Onde:

𝑄𝑐𝑎𝑝 - Potência necessária em capacitores (kVAr);

P - Potência ativa máxima demandada pela carga (kW);

F𝑃1 - fator de potência antes da correção;

F𝑃2 - fator de potência requerido após a correção.

Para o dimensionamento do banco, foi utilizado para F𝑃1 o valor de 0,85 estimado a
partir do levantamento e para F𝑃2 foi atribuido o valor de 0,94. Através dos cálculos a potência
reativa necessária encontrada foi de 53,97 kVAr (total). Para realizar o fracionamento dos
bancos levou-se em consideração a potência reativa horária da planta. Como a inserção de um
banco de capacitores pode gerar correntes de surto com proporção de até 100 vezes sua corrente
nominal, a potência capacitiva recomendada a ser chaveada, por estágio do controlador,
52

segundo (MAMEDE, 2018) preferencialmente não deve ser superior a 15 kVAr para bancos
trifásicos de 220 V. Levando em conta que o controlador possui apenas quatro saídas e que já
a UC já possuía um banco fixo de 20 kVAr, optou-se por manter bancos de 20 kVAr mesmo
sabendo dos riscos de queimas de fusíveis e desgaste de equipamentos de manobra. O banco
(que será instalado em arranjo delta) foi dividido em múltiplos de 5 kVAr, conforme
especificação na Tabela 2.

Tabela 2 Banco de compensação dimensionado.

Banco especificado
Potência total (kVAr) 55
Número de estágios 4
Potência por estágio (kVAr) 5 10 20 20
Tensão nominal (V) 220
Fonte: Elaborada pelo autor.

O banco de 5 kVAr foi dimensionado de modo a permitir o ajuste fino do fator de


potência.

O valor da capacitância das células capacitivas pode ser calculado segundo


(MAMEDE,2018) através de:

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑑𝑜 𝑐𝑎𝑝𝑎𝑐𝑖𝑡𝑜𝑟(𝑘𝑣𝑎𝑟) (20)


𝐶= 2 (𝜇𝐹)
𝑉𝑙 ∗ 𝜔 ∗ 10−9

Onde:

𝐶 − Capacitância dada em 𝜇𝐹;

𝑉𝑙 – Tensão de linha, em volts;

𝜔 – Frequência angular, em rad/s.

A partir de (20) foram obtidos os valores de capacitâncias mostrados na Tabela 3.

Tabela 3 Capacitâncias das células compensadoras.

Potência Capacitância
(kVAr) (μF)
5 274,1
10 745,9
20 1096,1
Fonte: Elaborada pelo autor.
53

A seguir vamos exemplificar o benefício da correção do FP. Suponha-se que em certo


horário a potência ativa esteja em 92 kW e a potência aparente em 100 kVA. Através da equação
(2) calcula se o FP obtendo o valor de 0,92 indutivo. A potência reativa pode ser calculada
através da equação (6), obtendo para o exemplo o valor de 39,19 kVAr. O valor do FP não é
crítico, mas encontra-se abaixo do limiar inferior do protótipo em questão, que foi fixado em
0,94. Portanto, o protótipo acionará o banco de modo a suprir a deficiência da planta, a
combinação de valores menor e mais próxima da potência reativa medida no caso 35 kVAr,
acionando assim os três primeiros bancos 5,10 e 20 kVAr. Com a inserção do banco a nova
potência reativa indutiva será de 4,2 kVAr sendo assim a nova potência aparente será 92,09
kVA. O novo valor do FP será 0,99, e o controlador só irá acoplar ou desacoplar os bancos se
o valor do FP entrar novamente nos limiares programados no controlador de fator de potência.
Através de (21) pode-se calcular a corrente elétrica que flui pelo circuito antes e depois da
correção como parâmetro de comparação.

𝑆3∅ (21)
𝐼=
3𝑉𝑓

Onde:

𝑉𝑓 – Tensão de fase.

A partir dos valores do exemplo descrito, efetua-se os cálculos através de (21), e obtém-se para
a corrente antes da correção o valor de 282 A, e para a corrente após a correção o valor de
259,94 A. Isso resulta em uma redução de corrente de aproximadamente 22 A.

A partir desta simples demonstração pode-se concluir os benefícios da compensação


pois além de evitar a tarifação da energia reativa obtém-se a redução da corrente em
aproximadamente 10 %. Tal redução é benéfica para a rede, havendo uma menor dissipação de
energia em componentes e cabos além de aliviar o transformador de potência.

Para proteção dos bancos foram utilizados fusíveis do tipo NH, comumente encontrados
em instalações elétricas industriais. Estes possuem elevada capacidade de interrupção quando
submetidos a sobrecorrentes de curto-circuito. Para dimensionamento dos fusíveis
primeiramente calculou-se a corrente nominal de cada banco através de (22).
54

𝑃𝑜𝑡ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑣𝑎 𝑑𝑜 𝑏𝑎𝑛𝑐𝑜 (𝑉𝐴𝑟) (22)


𝐼𝑛𝑐 = (𝐴)
√3𝑉𝑙

Onde:

𝐼𝑛𝑐 – Corrente nominal do banco;

𝑉𝑙 – Tensão de linha.

Os valores obtidos os para a corrente nominal dos respectivos bancos podem ser
visualizados na Tabela 4:

Tabela 4 Corrente nominal dos bancos

Potência Corrente
(kVAr) (A)
5 13,12
10 26,24
20 52,48
Fonte: Elaborada pelo autor.

Em posse do valor das correntes dos bancos, dimensiona-se os fusíveis (corrente


nominal do fusível) de proteção do circuito de compensação. Esse valor é obtido segundo
(MAMEDE,2018) a partir de:

𝐼𝑛𝑓 = 𝐼𝑛𝑐 1,65 (23)

Onde:

𝐼𝑛𝑓 – Corrente nominal do fusível.

Após cálculo do 𝐼𝑛𝑓 , o dimensionamento realizado com auxílio do Anexo C (Siemens).


Os modelos comerciais para fusíveis NH que atendem a especificação do projeto são mostrados
na Tabela 5:

Tabela 5 Dimensionamento dos fusíveis

Potência 𝐼𝑛𝑓 Modelo


(kVAr) (A) (Siemens)
5 21,6 3NA3 810
10 41,98 3NA3 820
20 89,96 3NA3 824
Fonte: Elaborada pelo autor.
55

No dimensionamento dos condutores de acordo com a NBR 5060, deve-se considerar


condutores sobredimensionados em 1,43 vezes para calcular a corrente de projeto, e levar em
consideração outros critérios, tais como: maneira de instalar, temperatura ambiente, entre
outros. De acordo com ABNT NBR 5410 deve-se aplicar fatores de correção para a corrente
em função do agrupamento (𝐾𝑎 ) e da temperatura (𝐾𝑡 ). Estes valores encontram-se nas tabelas
40 e 42 da norma. Os valores encontrados para o projeto são de 0,94 para a temperatura e 1 para
a fator de agrupamento. Portanto para dimensionamento da seção nominal dos condutores usou-
se a equação:

𝐼𝑠𝑒𝑐 = 𝐼𝑛𝑏 1,43𝐾 (24)

Onde:

𝐼𝑠𝑒𝑐 – Corrente utilizada para dimensionamento da seção dos condutores

𝐼𝑛𝑏 – Corrente nominal dos bancos de capacitores


1
𝐾 – Fator de correção = 𝐾 𝐾
𝑡 𝑎

A seção dos condutores foi dimensionada de acordo com a tabela do Anexo D à partir
do método F para três condutores XLPE unipolares. Os valores de 𝐼𝑠𝑒𝑐 e a seção dos condutores
ficaram de acordo com a Tabela 6:

Tabela 6 Seção dos condutores

Potência Corrente Seção do condutor


(kVAr) (A) (mm2 )
5 21,6 2,5
10 41,98 6
20 89,9 16
Fonte: Elaborada pelo autor.

Todos os valores obtidos anteriormente para o projeto são comprovados por valores
tabelados mostrados no Anexo E .

A escolha dos contatores, para as manobras de acionamento dos bancos de capacitores


foi realizada de acordo com o Anexo E (Schneider). Estes contatores são diferenciados, pois
possuem resistores de pré-carga. Os terminais destes resistores de pré-carga estão ligados em
paralelo com os contatos principais da contatora, e mecanicamente adiantados em relação aos
contatos principais. Isso permite que no momento da manobra, os contatos de pré-carga sejam
56

acionados antes dos contatos principais. Atenuando conforme ilustra Figura 28, os fenômenos
transitórios ocorridos como elevadas correntes inrush no momento da energização dos bancos.

Figura 28 Redução de correntes inrush através de resistores de pré-carga.

Fonte: EPCOS, (2009).

Os modelos comerciais de contatores escolhidos de acordo com cada banco estão


dispostos na Tabela 7:

Tabela 7 Contatores para manobra de bancos de capacitores

Potência Contator
(kVAr) (Schneider)
5 LC1DFK
10 LC1DLK
20 LC1DTK
Fonte: Elaborada pelo autor.

4.1.2 Liberação da Carga Instalada

Após o dimensionamento do banco de compensação podemos obter a quantidade de


potência liberada na instalação que pode ser calculada segundo (25). (MAMEDE, 2018).
Obtendo-se o valor de 23,1 kVA.

(25)
𝑃𝑐2 cos Ф12 𝑃𝑐 sin Ф1
𝑃𝑙 = [√1 − + − 1] 𝑃𝑡
𝑃𝑡2 𝑃𝑡
57

Onde:

𝑃𝑙 - Potência, em kVA, liberada em transformação;

𝑃𝑐 - Potência dos capacitores utilizados, em kVAr;

Ф1- Ângulo do fator de potência original;

𝑃𝑡 - Potência instalada em transformação, em kVA.

De modo semelhante calculamos o ganho de capacidade percentual da instalação,


através de (26), (COTRIM,2008).

𝐹𝑃1 (26)
𝛥𝑐𝑎𝑝% = (1 − ( )) 100%
𝐹𝑃2

Onde:

𝛥𝑐𝑎𝑝% - Ganho de capacidade em %, 𝐹𝑃2 - FP depois da correção, 𝐹𝑃1 - FP antes da


correção.

Com base em (26), utilizando 𝐹𝑃1 = 0,85 (valor estimado no item 4.1) e 𝐹𝑃2 = 0,94
(menor valor permitido pelo controlador), obtém-se o valor de 𝛥𝑐𝑎𝑝% = 9,57 %. Isso significa
que para o projeto em questão haverá uma liberação superior a 10 % no carregamento do
transformador de potência.

Em casos onde a subestação está operando com a sua capacidade plena para um dado
fator de potência, para efeito de aquisição de uma nova carga, em vez de ampliar a potência da
subestação com gastos elevados, pode-se instalar um banco de capacitores, liberando a potência
reativa fornecida através da subestação.

4.2 Aplicação na Unidade Consumidora

Para a aplicação do projeto em questão, foi utilizado um quadro elétrico próximo ao


QGBT situado na subestação da UC. Como citado anteriormente, este quadro possuía um banco
fixo de 20 kVAr instalado. O quadro em questão é composto internamente por barramentos de
cobre robustos de 25x5 mm e dimensão de 1m de altura por 0,9 m de largura. Isto possibilitou
que o mesmo quadro e barramentos sejam utilizados, mesmo com a expansão do banco. A
instalação seguiu-se de acordo com o dimensionado anteriormente no item 4.1.1 com a exceção
dos contatores. Para manobras dos bancos foram utilizados os modelos Siemens 3TF-47. Isso
58

é justificado por dispor de algumas unidades desse modelo em estoque e devido aos elevados
custos dos mesmos. Os bancos de capacitores foram ligados em arranjo triângulo paralelo o
esquemático unifilar pode ser analisado na Figura 29.
Figura 29 Diagrama esquemático do projeto.

Fonte: Elaborada pelo autor.


A partir da Figura 29, à esquerda do QGBT ilustra-se o bloco de acionamento, onde são
recebidos os sinais de tensão e corrente proveniente de cada fase, eles são conectados as
entradas de medição do controlador automático de FP. Este realiza a medição das grandezas e
controla o FP conforme índices estabelecidos. O controle é realizado a partir das saídas
numeradas de 1 a 4 que alimentam as bobinas dos contatores.

Entretanto, o lado direto do QGBT, temos o diagrama de força que mostra os


barramentos, juntamente com os equipamentos de proteção e manobra para a alimentação dos
bancos. Esses barramentos estão ligados em paralelo com os barramentos principais do QGBT.
59

4.2.1 Observações Sobre Harmônicas

Como citado anteriormente, nem todas as cargas são de origem linear. Para efetuar um
projeto de compensação eficiente, é de conhecimento que deve-se levar em consideração a
distorção harmônica presente no sistema elétrico, fazendo assim uma análise através do
tetraedro de potências como mostrado no item 2.3. Para o projeto em questão foi realizado uma
breve análise a respeito da distorção harmônica presente na UC. Como referência foi utilizado
o fluxograma retirado no manual de compensação de reativos da (WEG, 2009), mostrado na
Figura 30.

Seguindo o fluxograma mostrado na Figura 30, este primeiramente nos alerta para a
quantidade de cargas não lineares presente em uma UC, sendo essa ,igual ou superior a 20 %
do total instalado, faz-se necessário um estudo sobre THD. No projeto em questão sabe-se que
as maiores cargas são provindas de reativos indutivos e através da comparação das medições
realizadas em circuitos de energia estabilizada (onde estão ligadas cargas não lineares), com o
total da planta foi constatado que o total de cargas não lineares é de aproximado de 7 %. Como
o valor de cargas não lineares é inferior aos 20 %, foram realizadas com auxílio do wattímetro
mostrado na Figura 25 medições referentes a presença de harmônicas individuais de tensão e
corrente. Com base em percentual foram disponibilizados dados conforme Tabela 8.

Tabela 8 Medições de harmônicas individuais.

Harmônicas
ordem tensão corrente
(%) (%)
3ª 0,23 2.1
5ª 3,09 3,26
7ª 0 3,7
9ª 0 0,56
Fonte: Elaborada pelo autor.

Através de (13) foi calculado os valores de THD para a tensão conforme solicita o
fluxograma e o valor encontrado corresponde a 3,09 %. Já no espectro individual a medição da
5ª harmônica da tensão tem valor superior a limite estipulado. Quando se pergunta sobre a
impedância da rede, esta é baixa pois a maior parte da carga da UC é oriunda de equipamentos
provindos de enrolamentos (espiras).
60

Como mostra o fluxograma é muito pouca a probabilidade de haver ressonância no


projeto em questão, por isso não faz se preocupação com indutores anti-harmônicas e reatores
anti-ressonates.

Figura 30 Avaliação de TDH de uma UC.

Fonte: Adaptado de WEG (2009).


61

5 Resultados

Os resultados do projeto em questão são constituídos por duas etapas:

• Validar o funcionamento do protótipo de correção de FP;


• Analisar sua efetividade através de demonstrativos mensais de medição de
energia reativa excedente.

5.1 Resultados do Protótipo

A primeira etapa da análise de resultados, consiste na validação do protótipo de correção de


FP. Para validar seu funcionamento, serão utilizadas medições realizadas pela controladora de
demanda (ACS CE0032) presente na UC. Essas medições serão exibidas na forma de gráficos. Estes
relatórios de medição são gerados pela plataforma do grupo ENGIE, empresa contratada que
supervisiona a controladora de demanda.

A proposta inicial do trabalho era de realizar uma medição quinzenal do FP, com intuito de
avaliar o comportamento do protótipo em um intervalo de tempo moderado. Isso foi impossibilitado
pelo fato de o controlador de demanda armazenar apenas as maiores medições em intervalos de
tempo pré-estabelecidos. Portanto, a análise em questão será diária e utilizará como referência
valores de medições horários,” plotando” apenas o máximo valor registrado a cada hora, conforme
mostra Figura 31, onde a linha horizontal em vermelho indica o valor de FP em 0,92.

Figura 31 Medição horária do FP antes da instalação do protótipo.

Fonte: Elaborada pelo autor.


62

A Figura 31 demonstra o comportamento do FP horário da UC antes da instalação do


protótipo de correção de FP. Nota-se, que em grande parte dos horários de tarifação de exedente
reativo indutivo, a UC está em desacordo com a legislação.

Na Figura 32 ilustra-se as mediçoes do FP após a instatalação do protótipo. percebe-


se claramente uma melhora no FP da UC.

Figura 32 Medição horária do FP após instalação do protótipo.

Fonte: Elaborada pelo autor.

A Figura 33 ilustra medições correspondentes a Figura 32, entretanto para intervalos de


medição de um quarto de hora.

Figura 33 Medição do FP após instalação do protótipo

Fonte: Elaborada pelo autor.


63

Como verificado nas figuras 32 e 33, após a instalação do equipamento desenvolvido, o


FP da UC encontra-se na maior parte do dia em acordo com os limites previstos pela legislação.
Contudo, nota-se que em horários distintos entre 22 horas até 1 hora a controladora de demanda
registrou valores referentes a absorção de reativos indutivos. No entanto, o consumo de energia
da UC é mínimo nestes horários.

Após a constatação desses valores inesperados, foi realizado uma medição dominical
do FP da planta, pois em um dia sem atividades a UC permanece com carga mínima ao longo
do dia. O intuito dessa medição é comparar o comportamento do FP de um domingo, com FP
dos horários distintos mostrados nas figuras 32 e 33, pois em ambos os casos a carga da UC é
semelhante. O resultado das medições pode ser visualizado na Figura 34. Nota-se que o FP
permanece quase que constantemente em um valor próximo a 0,75 indutivo. Esta demanda
constante de energia reativa é justificada pelas correntes de magnetização do transformador de
potência, que está trabalhando sem carga. Este valor erroneamente não foi considerado no
projeto de compensação.

Figura 34 Medição dominical do FP.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Apesar, da existente demanda de energia reativa indutiva absorvida em horários de carga


mínima, o protótipo não efetuou nenhuma inserção de bancos de capacitores para corrigir o FP.
A justificativa é obtida a partir da medição efetuada pela controladora de demanda, cuja
correspondência é ilustrada na Figura 35. Através dessa medição é possível avaliar a quantidade
de reativo indutivo presente nestes horários.
64

Figura 35 Potência reativa indutiva registrada.

Fonte: Elaborada pelo autor.

Nota-se através da Figura 35, que para os horários anteriormente citados, a quantidade
de energia reativa é inferior a 3 kVAr. Entretanto, o menor banco de compensação é de 5 kVAr
o que tornaria a energia excedente capacitiva. A partir desta análise pode-se mais uma vez
comprovar a funcionalidade do protótipo, pois ele só realizará a inserção de bancos para
compensação de valores superiores 5 kVAr.

5.2 Redução da Tarifação

A segunda parte dos resultados, é voltado a redução da tarifação mensal que incide sobre
o excedente de energia reativa. Os dados utilizados para comparação são referentes aos meses
iniciais de 2018, (período em que a UC tinha apenas um banco fixo de compensação de 20
kVAr), e o período inicial do ano de 2019, este com o controlador instalado na planta. A UC
em questão é um consumidor de classe comercial do subgrupo de tensão A4. Esta é classificada
segundo resolução Normativa (ANEEL n. 414, de 9 de setembro de 2010) como instalações
com tensões entre 2,3 kV e 25 kV, no caso a UC possui tensão de 13,8 kV e uma demanda
contratada de 300 kW. A modalidade tarifária da UC é a horária verde, esse tipo de tarifação é
aplicado às unidades consumidoras do grupo A, sendo caracterizada por tarifas diferenciadas
de consumo de energia elétrica, de acordo com as horas de utilização do dia, assim como de
uma única tarifa de demanda de potência.
65

Os postos tarifários são definidos de modo a permitir a contratação e o faturamento da


energia e da demanda de potência diferenciada ao longo do dia, conforme as diversas
modalidades tarifárias. A regulamentação consta na Resolução Normativa ANEEL - REN nº
414/2010:

Horário de ponta refere-se ao período composto por 3 (três) horas diárias consecutivas
definidas pela distribuidora considerando a curva de carga de seu sistema elétrico, aprovado
pela ANEEL para toda a área de concessão, com exceção feita aos sábados, domingos, e
feriados nacionais;

Horário fora de ponta refere-se ao período composto pelo conjunto das horas diárias
consecutivas e complementares àquelas definidas no horário de ponta e intermediário (no caso
da Tarifa Branca).

Através da tabela 9 pode-se analisar o consumo de energia elétrica nos períodos


anteriormente especificados.

Tabela 9 Consumo de energia elétrica em período comparativo.

Faturas de energia elétrica


jan/18 fev/18 jan/19 fev/19 mar/19 abr/19
DemandaPta 164,02 133,15 127,34 130,1 158,2 128,2 kW
Demanda F.Pta 186 188,24 185,16 219,86 196,69 179,54 kW
Ener.reat.Exed.Pta 128 345 8 14 0 0 kVArh
Ener.reat.Exed.F.Pta 1234 1658 220 258 220 200 kVArh
Dem.Reat.Exed.Pta 88,32 68,26 111,78 118,66 144,96 121,04 kVAr
Dem.Reat.Exed.F.Pta 159,7 173,88 187,63 201,8 189.2 171,3 KVAr
TUSD-Energia Ponta 3931 1673 3552 2961 4792 4471 kWh
TUSD-Energia F.Ponta 43228 39576 43843 42683 35860 36831 kWh
Fonte: Elaborada pelo autor.

Através da análise das faturas foi quantizado a energia reativa excedente a partir da soma
dos valores da energia reativa de ponta e fora de ponta, pois possuem valor de tarifação muito
próximos. Com a posse destes valores, foi traçado o gráfico mostrado na Figura 36, esse,
demostra de forma resumida quantidade de energia reativa tarifada nestes períodos.
66

Figura 36 Quantização de energia reativa tarifada.

Energia reativa tarifada


2000 1803
1800 1592
1600
1400
1200
KVArh

1000
800
600
400 228 272 220 200
200
0
jan/18 fev/18 jan/19 fev/19 mar/19 abr/19
Meses de referência

Fonte: Elaborada pelo autor.

Analisando a Figura 36, e comparando os dois primeiros meses de cada ano. Constata-
se uma brusca redução no montante de energia reativa faturada pela concessionária, ilustrando
resultados de forma positiva. Percebe-se que em ambos os anos analisados os meses de
fevereiro possuem maior quantidade de energia reativa, pois nestes meses a demanda total de
energia solicitada pela UC é maior.

O valor atual da energia reativa excedente em R$ é 0,498/kVArh. Multiplicando este


valor pela quantidade de energia registrada nas faturas obtemos a importância em reais a ser
pago por esta energia conforme mostra Tabela 10.

Tabela 10 Faturamento de energia excedente

Tarifação
Meses Valor(R$)
jan/18 792,8
fev/18 897,9
jan/19 113,5
fev/19 135,4
mar/19 109,5
abr/19 99,6
Fonte: Elaborada pelo autor.
67

A partir da média aritmética dos dois primeiros meses de cada ano obtém-se o valor de
845,35 para 2018 e 124,45 para 2019. Subtraindo o valor inicial do ano de 2018 pelo de 2019
contabiliza-se uma diferença de 720 reais mensais. Este é o valor médio economizado com a
implementação do projeto em questão.

Os custos referentes a implementação projeto são demostrados na Tabela 11. Esses


valores estão de acordo com os componentes especificados no item 4.1.1. Como citado
anteriormente, não foram necessários investimentos para aquisição e montagem do quadro o
que de certa forma facilitou a implementação do projeto.

Tabela 11 Custo do projeto.

Valor do investimento
Item Quantidade Valor
Bancos 4 R$ 3.053,80
Controlador 1 R$ 200
Contatores 4 R$ 1.467
Cabos*6 4 R$ 302,58
Total R$ 5.003,38
Fonte: Elaborada pelo autor.

A partir do custo total do projeto, pode estimar-se o tempo de retorno do investimento,


considerando que o problema não foi solucionado por completo (não foram consideradas as
correntes de magnetização do transformador), optou-se por utilizar para a estimativa o valor da
diferença entre as médias de tarifação que totaliza o valor de 720 reais mensais. Portanto o
tempo estimado para retorno do investimento ficou em aproximadamente 7 meses.

Utilizando em contraposto um controlador comercial, no caso o PFW01-T06 WEG o


valor total do mesmo projeto, ficaria em aproximadamente oito mil reais conforme Tabela 12.

Tabela 12 Custo do projeto com controlador comercial

Valor do investimento
Item Quantidade Valor
Bancos 4 R$ 3.053,80
Controlador 1 R$ 3.163
Contatores 4 R$ 1.467
Cabos/infra 4 R$ 302,58
Total R$ 7.986,38
Fonte: Elaborada pelo autor.

*
Juntamente com os cabos foram contabilizadas despesas com eletrodutos, terminais, fusíveis e porta-fusíveis.
68

A partir da comparação dos montantes das tabelas 11 e 12 constata-se uma notável


diferença de valores. O protótipo possui um valor de aproximadamente 10 % do controlador
anteriormente mencionado. Isso afeta diretamente na estimativa de retorno do investimento do
projeto, o que refletiria em aproximadamente quatro meses a mais.

De modo a compensar a demanda de energia reativa absorvida pelo transformador a


vazio, pretende-se instalar um banco fixo de 2,5 kVAr. Essa solução foi adotada pelo fato de
todas as saídas do controlador já estarem ocupadas.
69

6 Conclusão

Este trabalho apresentou dois principais objetivos: i) Validação do método de


compensação utilizado, e a funcionalidade do protótipo ii) Economia de energia e valores de
tarifação.

O presente trabalho apresentou uma aplicação de correção de FP em BT, utilizando o


método de compensação dinâmica. Essa medida torna -se cada vez mais comum entre os
grandes consumidores, através desta, aprimora-se um melhor aproveitamento da energia
elétrica, sendo notável não somente a redução da quantia e energia faturada, mas liberação do
SEP, assim como a diminuição da corrente dentro da UC. Para o estudo proposto estima-se que
a compensação impactará em uma liberação da carga instalada em torno de 10%. Esta melhoria
provavelmente não seria de tal grandeza, caso fosse utilizada um método de compensação
estática, ressalvando a importância do controlador eletrônico.

Existem diversos modelos de controladores eletrônicos disponíveis comercialmente,


com valores entre dois e quatro mil reais, o protótipo utilizado para a execução do estudo trata-
se de um sistema embarcado de baixo custo. E através deste, apresentou-se resultados finais
semelhantes aos controladores consagrados no mercado, ressaltando que para confecção do
protótipo foram realizados investimentos inferiores a trezentos reais. Concluímos com estas
informações, que além da economia no consumo de energia, o controlador presente neste estudo
reflete no custo do projeto de compensação, o que resultará em um retorno mais rápido do
investimento. Além do custo, também podemos ressaltar outros fatores relevantes do protótipo,
um deles é a customização. O controlador pode ser customizado e ser programado com
exatidão, a fim de resolver os problemas e as necessidades especificas do consumidor.

Em relação a tarifação, conclui-se que os valores atingidos com o protótipo são


extremamente satisfatórios, mesmo com a identificação de alguns erros no momento do projeto
de compensação. Esses erros identificados não foram sanados a tempo de validar os resultados.
No entanto, o montante de energia reativa excedente foi reduzido em aproximadamente seis
vezes após a instalação do projeto, utilizando como comparação o mesmo período de diferentes
anos. Em referência apenas aos encargos provindos da concessionaria de energia, obteve-se
uma economia média, próxima aos setecentos e cinquentas reais mensais, ou seja, nove mil
reais anuais.
70

Após expostos os valores de economia e diminuição do consumo de energia conclui-se


que os objetivos principais e específicos do trabalho foram atingidos com êxito. O protótipo
tem resultado semelhantes aos controladores disponíveis no mercado e atinge resoluções para
o consumidor final de forma satisfatória.

6.1 Melhorias

Mesmo dotado de bons resultados, qualquer equipamento pode ser provido de


melhorias, principalmente quando se diz respeito a um protótipo, foram listadas algumas
melhorias que podem agregar ou até mesmo dar continuidade a este projeto.

Após a instalação do controlador na UC foram constatados alguns problemas no que diz


respeito a desenergização do equipamento. O módulo de acionamentos é excitado com nível
lógico baixo, portanto, no caso de uma reenergização, enquanto acontece o processo de
inicialização do microcontrolador (em torno de três segundos) todas as saídas são ativadas
simultaneamente. Esse fenômeno é indesejado, pois por um curto período de tempo toda a
energia reativa provinda dos bancos é aplicada no circuito. Isso pode provocar sobretensões na
rede, além de da queima dos bancos no caso de uma reenergização em um curto intervalo de
tempo. Portanto é de suma importância utilizar para acionamento dos bancos nível logico alto.

No protótipo implementado foi utilizado para exibição dos dados medidos um display
LCD 4x20 com comunicação via protocolo I2C. Este pode ser substituído por um display
Touchscreen LCD TFT 2.4” de modo a facilitar a leitura das variáveis medidas.

Com a aquisição desse display é possível a


implementação de uma interface HMI, onde será possível
além de mostrar parâmetros mensurados em tempo real,
alterar variáveis como por exemplo a faixa de trabalho do
FP, escalar a razão de transformação dos TPs via software
e até mesmo configurar a quantidade de reativo capacitivo
presente em cada saída. A partir disso pode-se criar um
protótipo “universal”, ou seja, mais próximo de um modelo
comercial. Com este display, o usuário apenas ajusta a relação de transformação de acordo com
sua necessidade.
71

Também como melhorias, pode-se atribuir outras funcionalidades ao protótipo como:

• Acesso remoto ao dispositivo para leitura e armazenamento de parâmetros em


nuvem gerando históricos e alarmes para gerenciamento;
• Armazenamento local de leituras a partir de um cartão de memória com
exportação para arquivos .csv e .xls para obter curvas de análise;
• Implementar uma UPS com baterias de lítio ou Polímero Lítio afim de registrar
históricos de falta de energia bem com surtos e sobretensões da UC.
72

7 Referências Bibliográficas

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instalação e operação de capacitores de potência – Procedimentos, 2010.

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 5410, Instalações Elétricas de


baixa tensão, 2008.

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Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica, de 23 de julho de 2013.

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, Resolução ANEEL nº 456, de 29 de


novembro de 2000.

ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, Resolução ANEEL nº 505, de 15 de


dezembro de 2001.

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International Journal ring Research and Applications. pp.393-395 Feb. 2014

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ISONI, Marcos. A moderna eficientização energética e seus possíveis efeitos sobre o


desempenho operacional de equipamentos e instalações elétricas. Distorções harmônicas
– uma revisão de conceitos gerais. 39 f. ,2004.

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Consumidores Energia Reativa Excedente, 2004.

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MAMEDE, João. Instalações elétricas industriais. 7º Edição. Rio de Janeiro. Editora LTC
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73

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e fator de potência. São Carlos. Escola de engenharia de São Carlos, 2008.

WEG, Manual para Correção do Fator de Potência, 2009.


74

Apêndice A – [Layout de Circuito Impresso]

Nesta figura é possível observar o circuito impresso na sua versão final. Esse layout foi
desenvolvido à partir do software EAGLE. No layout pode ser identificado o circuito de medição
de cada fase e da fonte de alimentação, onde as trilhas mais “grossas” pertencem ao circuito de
medição de corrente.
75

Apêndice B - [Fonte de Alimentação]

A figura ilustra o esquemático da fonte de alimentação desenvolvida para compor o


protótipo. Essa possui duas saídas distintas, uma serve para alimentar os módulos de
compensação do controlador e outra é responsável pelo offset o circuito de medição.
76

Anexo A – [Esquemático do Arduino Mega]


77

Anexo B- [Esquemático do módulo de


Acionamentos]
78

Anexo C – [Valores Comerciais de Fusíveis NH


– Siemens]
79

Anexo D – [Capacidade de condução de


corrente NBR_5410-2004]
80

Anexo E – [Dados para Instalação de bancos


de Capacitores - Engematec]
81

Anexo F – [Tabela de Contatores Schneider


para Manobra de Bancos de Capacitores]

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