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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

Maurício Silveira do Carmo

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO
COMPUTACIONAL DE UM INVERSOR
TRIFÁSICO CONECTADO À REDE COM
GERAÇÃO FOTOVOLTAICA

Juazeiro - BA
2019
DECLARAÇÃO DE CONFORMIDADE

Eu, MAURÍCIO SILVEIRA DO CARMO, declaro que este Trabalho de Conclusão de


Curso (TCC) intitulado:

PROJETO E IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL DE UM INVERSOR


TRIFÁSICO CONECTADO À REDE COM GERAÇÃO FOTOVOLTAICA

é de minha autoria e confirmo que:

1. Nenhuma parte deste trabalho foi submetida a nenhum tipo de avaliação de


qualificação nesta ou em qualquer outra Universidade;

2. Todas as obras, artigos e/ou divulgações, de qualquer natureza, de outros autores


ou de co-autoria utilizadas para elaboração deste trabalho têm seus créditos
devidamente atribuídos;

3. A versão denominada versão final, contém as solicitações de correção exigidas


pela Banca Examinadora por ocasião da defesa deste trabalho, e atende as nor-
mas contidas no Manual de Normatização de Trabalhos Acadêmicos da UNIVASF
em vigor.

Juazeiro - BA, 28 de março de 2019.

Maurício Silveira do Carmo


Matrícula: 025.572.915-44
AGRADECIMENTOS

Agradecer é um dom. É uma expressão de respeito e de reconhecimento pelas


pessoas que nos acompanham nos momentos mais desafiadores da vida, e eu tenho
muito a agradecer!
Emilson e Marta, vocês são incríveis! Obrigado por todo o apoio, todo o
carinho e todas as outras demonstrações de afeto que vocês me dedicaram. Essa
conquista só é possível graças ao empenho de vocês. Agradeço a minha mãe pelo
apoio incondicional, pelas orações e pelos conselhos e ao meu pai, pelo amparo e por
todo o amor demonstrado em suas ações.
Também não poderia esquecer de mais uma pessoa que veio para completar
a minha família! Irmã, obrigado pela paciência, pela preocupação e por todos os
momentos que passamos juntos no desafio da engenharia. Fico feliz que você tenha
encontrado o seu caminho e torço muito para que você seja feliz.
Aos meus colegas de turma, tenho uma imensa satisfação por ter iniciado essa
jornada juntamente com vocês, foram anos de muito aprendizado e de muitos desafios,
mas tenho certeza que isso tudo foi parte do nosso crescimento pessoal e profissional.
Aos colegas do laboratório de pesquisa, Daniel, Osvaldo, Lucas Damião e
tantos outros que passaram por essa mesma experiência, agradeço por todo o auxílio
e ajuda que recebi ao longo desses anos.
Para a equipe da Energize Jr., gostaria de agradecer por esses anos. Vocês
me fizeram viver experiências fantásticas e contribuíram para que eu pudesse mudar a
minha forma de ver o mundo. Continuem fazendo a diferença aonde quer que vocês
vão, torço muito para que essa empresa continue a prosperar e a formar profissionais
cada vez mais capacitados para o mercado de trabalho.
Aos amigos que a Univasf me deu, Diocleciano, Kevney, Vitor, Tássio, Gabriel,
Thales, Geovane, Gabriela, acreditem, vocês fazem parte desta história. Quero que
saibam que levarei todos na minha memória e continuarei a contar com o apoio de
vocês. Também preciso agradecer a algumas pessoas que não atuaram na esfera
profissional da minha formação, mas que sempre estiveram comigo ao longo desses
anos: Ana Flávia, Janiele, Lucas, Kaíque, vocês contribuíram em muito mais do que
podem imaginar.
Gostaria de agradecer ao meu orientador, professor Adeon Cecílio Pinto, pelo
auxílio, paciência e pelos anos de orientação na iniciação científica.
Também agradeço a Deus, por me capacitar, por me fazer acreditar que eu
poderia cumprir esse desafio e por nunca desistir de mim, mesmo em todas as vezes
em que eu falhei.
A todos àqueles que passaram pela minha estrada pessoal e profissional, a
minha eterna gratidão!
"Não te mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes, porque o
SENHOR, teu Deus, é contigo por onde quer que andares."
Josué 1:9
RESUMO
Os sistemas fotovoltaicos representam uma opção viável e inovadora para a produção
de energia elétrica uma vez que são uma fonte renovável e limpa. Nesse contexto, o
presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um inversor de potência trifásico
utilizado para fazer a interface entre os painéis solares fotovoltaicos e a rede elétrica.
Dessa forma, são exploradas as metodologias de controle do inversor, que é composto
por duas malhas, sendo a primeira responsável pelo controle da corrente injetada
na rede e a segunda, pela regulação de tensão no barramento CC. Além disso, as
principais topologias e estruturas dos conversores CC-CA são averiguadas para definir
a melhor metodologia a ser utilizada no trabalho. Por fim, realizaram-se simulações
para verificar o funcionamento do inversor, assim como para analisar a qualidade de
energia injetada pelo mesmo.

Palavras-chave: Inversores Trifásicos. Energia Solar. Qualidade de Energia.


ABSTRACT
Photovoltaic systems represent a viable and innovative option for the production of
electricity since they are a renewable and clean source. This work presents the devel-
opment of a three-phase power inverter used to interface the photovoltaic solar panels
and the electrical grid. In this way, the inverter control methodologies are explored,
which is composed of two stages, the first one being responsible for the control of the
current injected into the grid and the second, for the voltage regulation on the CC bus. In
addition, the main topologies and structures of the CC-CA converters are investigated to
define the best methodology to be used in the work. Finally, simulations were performed
to verify the operation of the inverter, as well as to analyze the electrical power quality
injected by the inverter.

Keywords: Three-Phase Inverters. Solar Energy. Power Quality.


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABSOLAR Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica.

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica.

BEN Balanço Energético Nacional.

CA Corrente Alternada.

CC Corrente Contínua.

CSI Current Source Inverter.

DDTi Distorção Harmônica Total de Corrente.

DDTv Distorção Harmônica Total de Tensão.

EIA International Energy Statistics.

FTMA Função de Transferência de Malha Aberta.

FTSC Função de Transferência do Sistema Compensado.

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers.

MATLAB MATrix LABoratory.

PRODIST Procedimentos de Distribuição de Energia Elétrica no Sistema Elé-


trico Nacional.

P+RES Proporcional Ressonante.

PAC Ponto de Acoplamento Comum.

PI Proporcional Integral.

PLL Phase Locked Loop.

PSIM PowerSim.

PWM Pulse Widht Modulation.

VSI Voltage Source Inverter.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 –Consumo energético mundial entre os anos 2006 e 2016. . . . . . . 19


Figura 2 –Consumo energético no Brasil entre os anos 2006 e 2013. . . . . . 19
Figura 3 –Oferta interna de energia elétrica no Brasil por fonte. . . . . . . . . . 20
Figura 4 –Geração de eletricidade no contexto mundial no ano de 2017. . . . . 21
Figura 5 –Evolução global da capacidade instalada de energia solar entre os
anos 2007 e 2017. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
Figura 6 – Distribuição, em porcentagem, dos países que mais geram energia
fotovoltaica no mundo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
Figura 7 – Potência instalada acumulada no Brasil até o ano de 2018 e projeção
para 2019. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
Figura 8 – Irradiância horizontal global. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
Figura 9 – Esquema de sistema solar fotovoltaico isolado de acoplamento direto. 26
Figura 10 – Diagrama de um sistema fotovoltaico isolado com armazenamento
de energia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 11 – Sistema solar fotovoltaico ligado à rede elétrica. . . . . . . . . . . . 28
Figura 12 – Inversor trifásico com estrutura CSI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 13 – Inversor trifásico com a estrutura VSI. . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 14 – Sistema fotovoltaico conectado à rede com o conversor de um estágio. 32
Figura 15 – Sistema fotovoltaico conectado à rede com o conversor de dois
estágios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Figura 16 – Sistema empregando o conversor de um estágio com geração foto-
voltaica organizada com o conjunto 12 x 2. . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 17 – Inversor trifásico com filtro passivo LCL e geração fotovoltaica. . . . 38
Figura 18 – Esquema resumido do sistema proposto. . . . . . . . . . . . . . . . 42
Figura 19 – Diagrama de blocos do controle utilizado no inversor CC-CA. . . . . 43
Figura 20 – Sistemas de coordenadas: (a) dq, (b) αβ e (c) abc . . . . . . . . . . 45
Figura 21 – Conversor CC-CA trifásico conectado à rede com filtros indutivos. . 46
Figura 22 – Circuito equivalente do inversor CC-CA trifásico conectado à rede. . 46
Figura 23 – Controle das correntes em coordenadas naturais abc. . . . . . . . . 51
Figura 24 – Malha de corrente no sistema estacionário com controlador PI. . . . 51
Figura 25 – Controle das correntes em coordenadas estacionárias αβ com con-
trolador PI. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
Figura 26 – Controle das correntes em coordenadas estacionárias αβ com con-
troladores P+RES. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
Figura 27 – Malha de corrente no sistema estacionário com controlador P+RES. 54
Figura 28 – Diagrama de bode da função de transferência Ginv (s)Giv (s)Hi em
malha aberta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
Figura 29 – Diagramas de Bode do compensador P+RES com diferentes valores
de Ki . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Figura 30 – Diagramas de bode do compensador P+RES com diferentes valores
de Kp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Figura 31 – Diagramas de bode do compensador P+RES na forma tradicional e
do P+RES na forma básica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
Figura 32 – Respostas em frequência da malha aberta F T M Ai (s) e da mesma
malha compensada com o compensador P+RES (forma básica). . . 61
Figura 33 – Diagrama de blocos da malha de tensão. . . . . . . . . . . . . . . . 61
Figura 34 – Circuito equivalente para análise da malha de tensão. . . . . . . . . 62
Figura 35 – Malha de controle equivalente da tensão do barramento CC. . . . . 64
Figura 36 – Diagrama de blocos de um circuito de sincronismo. . . . . . . . . . . 65
Figura 37 – Diagrama de blocos de um circuito PLL. . . . . . . . . . . . . . . . . 66
Figura 38 – Controlador da tensão do barramento CC com o circuito de sincronismo. 67
Figura 39 – Diagrama de bode da função de transferência de malha aberta F T M Av . 69
Figura 40 – Comparativo entre o sistema compensado e não compensado para a
malha de tensão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
Figura 41 – Sistema fotovoltaico simulado no software PSIM. . . . . . . . . . . . 71
Figura 42 – Característica P -V de um único módulo fotovoltaico. . . . . . . . . . 73
Figura 43 – Característica P -V do arranjo fotovoltaico na configuração 12 x 2. . 73
Figura 44 – Perfil da potência em função do tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . 74
Figura 45 – Perfil da corrente em função do tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Figura 46 – Tensão no barramento CC. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
Figura 47 – Sinais de tensão obtidos de um circuito de sincronismo. . . . . . . . 76
Figura 48 – Tensões no PAC sem filtro LCL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
Figura 49 – Correntes no PAC para uma potência de 6 kW e sem filtro LCL. . . . 78
Figura 50 – Correntes no PAC para uma potência de 8 kW e sem filtro LCL. . . . 78
Figura 51 – Correntes no PAC para uma potência de 3,95 kW e sem filtro LCL. . 79
Figura 52 – Correntes no PAC para uma potência de 1,5 kW e sem filtro LCL. . . 79
Figura 53 – Tensões no PAC com filtro LCL. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
Figura 54 – Correntes no PAC para uma potência de 6 kW e com filtro LCL. . . . 81
Figura 55 – Correntes no PAC para uma potência de 8 kW e com filtro LCL. . . . 82
Figura 56 – Correntes no PAC para uma potência de 3,95 kW e com filtro LCL. . 82
Figura 57 – Correntes no PAC para uma potência de 1,5 kW e com filtro LCL. . . 83
Figura 58 – Fator de potência entre a tensão e a corrente no PAC. . . . . . . . . 83
Figura 59 – Potência de entrada X potência de saída do sistema proposto. . . . 84
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Especificações para o projeto do inversor . . . . . . . . . . . . . . . 34


Tabela 2 – Principais características do painel solar fotovoltaico utilizado . . . . 37
SUMÁRIO

1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.2 Justificativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
1.3.2 Objetivos Específicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2 Revisão Bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 Utilização da Energia Elétrica no Brasil e no Mundo . . . . . . . . . . . 18
2.3 A Energia Solar no Brasil e no Mundo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.4 Fatores que Influenciam no Crescimento da Energia Solar no Brasil . . 24
2.4.1 Influência da Política e da Economia . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4.2 Influência do Clima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.5 Sistemas Fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.5.1 Tipos de Sistemas Fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.5.1.1 Sistemas Fotovoltaicos Isolados . . . . . . . . . . . . . 26
2.5.1.2 Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede . . . . . . . 27
2.5.2 Considerações Sobre as Distorções Harmônicas . . . . . . . . . 29
2.6 Inversores Para Sistemas Fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.6.1 Estrutura do Conversor CC-CA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.6.1.1 Inversor Fonte de Corrente (CSI) . . . . . . . . . . . . . 30
2.6.1.2 Inversor Fonte de Tensão (VSI) . . . . . . . . . . . . . . 31
2.6.2 Topologia dos Sistemas Fotovoltaicos . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.6.2.1 Sistemas com o Conversor de um Estágio . . . . . . . . 32
2.6.2.2 Sistemas com Conversor de Dois Estágios . . . . . . . 33
3 Projeto do Inversor Trifásico Conectado à Rede . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2 Especificações dos Componentes do Inversor . . . . . . . . . . . . . . . 34
3.2.1 Cálculo do Valor da Indutância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.2.2 Cálculo do Valor da Capacitância . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.3 Definições Sobre a Metodologia a ser Utilizada no Trabalho . . . . . . . 36
3.4 Projeto do Filtro LCL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.4.1 Dimensionamento do Capacitor Cf . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
3.4.2 Dimensionamento do Indutor de Acoplamento L1 . . . . . . . . . 39
3.4.3 Dimensionamento do Indutor de Conexão com a Rede L2 . . . . 40
3.4.4 Dimensionamento do Resistor de Amortecimento Rf . . . . . . . 40
3.5 Controle do Inversor Trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.5.1 Exigências do Controle do Inversor . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.5.2 Descrição das Partes Envolvidas no Controle . . . . . . . . . . . 42
3.5.3 Descrição das Etapas e Funcionamento do Controle do Inversor 43
3.5.4 Principais Estratégias de Controle . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
3.5.5 Sistema de Controle da Corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.5.5.1 Modelagem do Inversor CC-CA em Variáveis Trifásicas
Estacionárias abc . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
3.5.5.2 Modelagem do Inversor CC-CA em Variáveis Ortogonais
Estacionárias αβ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
3.5.5.3 Considerações Sobre a Modelagem . . . . . . . . . . . 50
3.5.6 Controle da Malha de Corrente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
3.5.6.1 Controlador PI Utilizado Para Coordenadas Naturais . . 50
3.5.6.2 Controlador P+RES Uutilizado para Coordenadas Esta-
cionárias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.5.6.3 Projeto da Malha de Corrente . . . . . . . . . . . . . . . 54
3.5.6.3.1 Análise do Comportamento da Malha de Cor-
rente para o Sistema não Compensado . . . . 54
3.5.6.3.2 Avaliação do Desempenho do Controlador P+RES
com diferentes valores de Kp e Ki . . . . . . . 56
3.5.6.3.3 Definição das Formas de Representação do
Controlador P+RES . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.5.6.3.4 Avaliação da Estabilidade do Sistema Compen-
sado com o Controlador P+RES . . . . . . . . 59
3.5.7 Controle da Malha de Tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.5.7.1 Controle da Tensão do Barramento CC . . . . . . . . . 62
3.5.7.2 Modelagem da Planta Gcc (s) . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.5.7.3 Sistema de Referências da Rede . . . . . . . . . . . . . 64
3.5.7.4 Determinação dos Parâmetros do Controlador de Tensão
e Análise de Estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
4 Simulação Computacional do Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede . 71
4.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.2 Simulação da Gerador Fotovoltaica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.3 Análise da Simulação do Inversor Trifásico Conectado à Rede . . . . . 75
4.3.1 Análise das Tensões e Correntes Injetadas na Rede sem a Utili-
zação do Filtro LCL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4.3.2 Análise das Tensões e Correntes Injetadas na Rede com a Utili-
zação do Filtro LCL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
5 Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
15

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações Iniciais


Ao longo dos últimos anos, a demanda de energia tem crescido de maneira
vertiginosa em todo o mundo. Apenas no ano de 2009, a contribuição das fontes
renováveis de energia proveniente das fontes primárias alcançou a marca de 16% em
relação ao contribuição total das fontes energéticas (REN21, 2011). Mesmo que os
combustíveis fósseis ainda sejam a principal forma de geração de energia, contribuindo
com 81% da produção, não há como negar que as energias renováveis estão atingindo
um novo patamar no cenário mundial (MARANGONI, 2012).
Desde o ano de 1990, o uso das fontes renováveis tem crescido com uma taxa
média anual de 1,9%, o que é igual à taxa de crescimento de todas as fontes primárias
de energia (EIA, 2019). Esse dado traz um indicativo de que, em um futuro não muito
distante, os combustíveis fósseis, que são recursos limitados, serão substituídos. Seja
por conta da alta demanda de geração ou até mesmo pela necessidade de conservação
do meio ambiente, é evidente que haverá uma mudança na matriz energética.
Essa transformação da matriz energética já tem ocorrido, ainda que de forma
gradual, com uma contribuição cada vez mais expressiva das fontes renováveis. Vi-
sando facilitar essa mudança surgiu a Geração Distribuída (GD), que permite a um
consumidor gerar a sua própria energia elétrica a partir de fontes renováveis ou co-
geração qualificada e inclusive fornecer o excedente para a rede de distribuição de
sua localidade (ANEEL, 2012b). Essa mudança foi incentivada no Brasil através da
resolução normativa ANEEL n◦ 482/2012, e tem estimulado a utilização das energias
renováveis, com destaque para a energia solar e a energia eólica.
A energia fotovoltaica, foco deste trabalho, possui um grande potencial no Brasil
já que os índices de irradiação do país são favoráveis para a utilização dos sistemas.
Além disso, destaca-se a facilidade de implementação e os custos que estão cada vez
mais acessíveis, justificando assim o investimento nesta tecnologia.
No entanto, com esse aumento na procura por novas formas de produção
energética, há uma grande preocupação com a qualidade da geração. O processo que
envolve a conversão de energia pode gerar harmônicos, que são indesejáveis e afetam
o pleno funcionamento de um sistema. É por essa razão que todo o sistema solar
conectado à rede precisa ser verificado para que esteja em acordo com as normas e
os padrões estabelecidos pelos órgãos regulamentadores e pelas concessionárias de
energia.
16

1.2 Justificativa
Analisando a situação energética brasileira e mundial, onde as fontes tradicio-
nais de geração de energia elétrica trazem grandes impactos ambientais, é possível
compreender a necessidade da implementação de fontes alternativas de energia. Uma
das opções para a implementação de uma nova forma de geração é a energia foto-
voltaica, uma vez que o Brasil possui um alto nível de irradiação, muito maior do que
muitos países da união europeia, por exemplo, onde a tecnologia está mais difundida e
recebe maiores investimentos (PEREIRA et al., 2006).
Com a implementação desta tecnologia é necessário avaliar a qualidade da
energia que está sendo produzida, afinal em sistemas conectados à rede, há a possibili-
dade da inserção de harmônicos, o que pode ser muito prejudicial devido as distorções
que podem ser causadas na forma de onda senoidal da rede.
Visando manter os padrões de qualidade de energia, utiliza-se o inversor de
frequência, que nada mais é do que um dispositivo utilizado para converter a Corrente
Contínua (CC) gerada pelos módulos, em Corrente Alternada (CA) e fazer a conexão
com a rede elétrica. É extremamente importante que este dispositivo atue de forma
correta e segura, afinal ele é um componente fundamental entre a geração fotovoltaica
e a rede de distribuição.
Como o inversor é composto de dispositivos semicondutores de potência que
necessitam de comandos para funcionar, é necessário encontrar a melhor controlá-
lo, amenizando as perdas, buscando obter a máxima transferência de potência e
estabelecendo a melhor metodologia de controle.
Portanto, este trabalho terá como foco o estudo da tecnologia dos inversores
de frequência trifásicos, a escolha do melhor arranjo a ser utilizado para a geração
fotovoltaica e a implementação computacional deste modelo. Dessa forma, será
possível avaliar se a metodologia escolhida condiz com os resultados esperados e se
está de acordo com outros modelos já consolidados no mercado.

1.3 Objetivos
1.3.1 Objetivo Geral

• Projetar e implementar, computacionalmente, um inversor trifásico conectado à


rede com geração fotovoltaica.

1.3.2 Objetivos Específicos

• Especificar os componentes de operação do inversor;


17

• Avaliar o comportamento e desempenho do inversor trifásico conectado à rede;

• Escolher a topologia do inversor para obter a alternativa mais viável economica-


mente;

• Definir e descrever a metodologia de controle do inversor;

• Simular o sistema fotovoltaico conectado à rede atravé do software PSIM.


18

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Considerações Iniciais


Este capítulo apresenta uma breve análise sobre a utilização da energia elétrica
no Brasil e no mundo, destacando aspectos voltados para a geração tradicional e a
geração renovável de energia. Uma maior ênfase é dada para a energia solar e suas
vantagens, abordando os tipos de sistemas fotovoltaicos e inversores empregados.

2.2 Utilização da Energia Elétrica no Brasil e no Mundo


Desde o momento em que a energia elétrica foi descoberta e utilizada em
grande escala, ela tem sido uma grande aliada no desenvolvimento de muitos países
ao redor do mundo. Seja pelo conforto ou pela praticidade que ela proporciona, a
verdade é que já não é mais possível imaginar um mundo onde a eletricidade não
esteja presente. Além disso, a energia elétrica apresenta uma facilidade de geração,
transporte, distribuição e utilização, com as consequentes transformações em outras
formas de energia, o que atribui à eletricidade uma característica de universalização
(LEÃO, 2009).
Essas razões são suficientes para mostrar que a sociedade está cada vez mais
dependente deste subsídio, como pode ser visto na Figura 1, que mostra o consumo
estimado de energia elétrica no mundo entre os anos 2006 e 2016. Pode-se observar
que houve um aumento no consumo energético mundial de cerca de 32, 6% entre 2006
e 2016, saindo de um valor de 16432, 61 bilhões de kW h em 2006 para 21801, 17 bilhões
de kW h em 2016.
Em relação ao Brasil, também se observa um crescimento em relação ao
consumo de energia. A Figura 2 traz alguns dados que compreendem os anos de 2006
a 2013, onde foi registrado um aumento de cerca de 29, 11%, revelando assim uma
tendência de crescimento que acompanhou o mundo.
19

Figura 1 – Consumo energético mundial entre os anos 2006 e 2016.

Fonte – (EIA, 2019)

Figura 2 – Consumo energético no Brasil entre os anos 2006 e 2013.

Fonte – (EPE, 2014)

O Brasil dispõe de uma matriz elétrica de origem predominantemente renovável,


com destaque para a fonte hídrica que responde por 65, 2% da oferta interna, segundo
dados do Balanço Energético Nacional (BEN) de 2017 (EPE, 2018). A Figura 3
apresenta um gráfico com a oferta interna de eletricidade do Brasil no ano de 2017.
20

Figura 3 – Oferta interna de energia elétrica no Brasil por fonte.

Fonte – (EPE, 2018)

Além da geração hídrica, outras fontes também se destacam, a exemplo da


eólica, biomassa e gás natural. Embora ainda não sejam tão expressivas, as energias
solar e nuclear também estão presentes neste levantamento e contribuem com a
composição da matriz energética brasileira.
Esses dados mostram que o Brasil utiliza uma quantidade significativa de fontes
renováveis, as quais representaram cerca de 80% da oferta interna no ano de 2017. No
entanto, como a geração renovável no Brasil é predominantemente hídrica, o regime
de chuvas acaba afetando a disponibilidade de energia elétrica (GIACOMINI, 2015).
Apesar de haver predominância de fontes renováveis, o Brasil também possui
fontes não renováveis, a exemplo do carvão natural, petróleo e seus derivados, gás
natural e energia nuclear, que apresentam um impacto ambiental negativo devido à
emissão de gases tóxicos na atmosfera. Além disso, a queima de petróleo provoca o
aquecimento global, que afeta o clima e o ecossistema do planeta.

2.3 A Energia Solar no Brasil e no Mundo


Diante dos cenários apresentados e da possibilidade de escassez dos com-
bustíveis fósseis, há um movimento mundial para que as mais diversas economias se
adequem e busquem incentivar a utilização das fontes renováveis de energia e, dentre
estas fontes, uma que tem ganhado bastante destaque devido ao crescimento nos
últimos anos é a energia solar.
21

A Figura 4 apresenta um gráfico que relaciona a capacidade instalada das mais


variadas fontes de geração de energia elétrica ao redor do mundo no ano de 2017.

Figura 4 – Geração de eletricidade no contexto mundial no ano de 2017.

Fonte – (EPIA, 2018)

Por meio dos dados apresentados, nota-se que a energia solar se destacou
em relação às outras fontes energéticas já que foi a tecnologia com a maior potência
instalada, chegando aos 98 GW , superando a energia eólica (52 GW ) e o gás natural
(38 GW ). A Figura 5 exibe dados compreendidos entre os anos de 2007 e 2017,
evidenciando o expressivo crescimento da energia solar em um intervalo de 10 anos.
Pela análise da figura, percebe-se que até o ano de 2016, a capacidade instalada total
de energia solar no mundo era de 306, 5 GW , porém com o resultado do ano de 2017,
o valor total passou a 404, 5 GW , representado assim um aumento de 32% de um ano
para outro.
O que explica esse crescimento e busca por energia solar são as vantagens
associadas a esta tecnologia, pois este tipo de sistema utiliza a energia do Sol para
produzir energia elétrica por meio dos módulos fotovoltaicos. Além disso, não produz
ruído, não contribui sensivelmente para a poluição, pode ser instalada próxima ao local
de consumo, apresenta elevada vida útil e é de fácil instalação devido a sua estrutura
modular (LUQUE; HEGEDUS, 2011).
22

Figura 5 – Evolução global da capacidade instalada de energia solar entre os anos


2007 e 2017.

Fonte – (EPIA, 2018)

A Figura 6 expõe, em porcentagem, a participação dos principais países que


contribuíram, no ano de 2017, para o crescimento da capacidade instalada de energia
solar. Destaque para a China, líder do seguimento e responsável por basicamente um
terço da produção total. Além da China, os EUA (13%), o Japão (12%) e a Alemanha
(11%) também tem investido de forma vertiginosa na energia solar, fazendo com que
esta tecnologia seja uma parte importante e integrante das suas respectivas matrizes
energéticas.
Com relação ao Brasil, em 2017, foi alcançada uma marca histórica na ca-
pacidade instalada de energia solar. Foram mais de 1 GW conectados, incluindo a
geração centralizada e a geração descentralizada. Esses números indicam um vasto
potencial de energia fotovoltaica no país, bem como uma crescente competitividade da
tecnologia entre as fontes de eletricidade disponíveis (EPIA, 2018). Em 2018, o Brasil
ultrapassou a marca de 2 GW de potencial instalado da energia fotovoltaica conectada
na matriz elétrica nacional e segundo as projeções, até o final do ano de 2019, o setor
ultrapassará a marca de 3 GW (ABSOLAR, 2019).
23

Figura 6 – Distribuição, em porcentagem, dos países que mais geram energia


fotovoltaica no mundo.

Fonte – (EPIA, 2018)

A Figura 7 mostra uma perspectiva de crescimento para o ano de 2019, além de


um levantamento da geração solar, tanto distribuída quanto centralizada, entre os anos
de 2012 e 2018. Observa-se que a geração distribuída, que vinha com um crescimento
tímido nos primeiros anos do levantamento, ultrapassou a geração solar centralizada
no ano de 2016, evidenciando que o investimento em energia solar também se tornou
viável para o público residencial e empresarial.
Todos esses dados contribuem para a afirmação de que a energia solar é uma
tecnologia com grande potencial para contribuir com a matriz energética brasileira.
Além disso, já existe uma movimentação pelos órgãos governamentais quanto pelas
instituições do país para que haja um maior investimento no setor.
24

Figura 7 – Potência instalada acumulada no Brasil até o ano de 2018 e projeção


para 2019.

Fonte – (ABSOLAR, 2019)

2.4 Fatores que Influenciam no Crescimento da Energia


Solar no Brasil
2.4.1 Influência da Política e da Economia
O Brasil tem apresentado grande crescimento na utilização da energia solar,
como apresentam os dados da Figura 7, no entanto, ainda está longe de figurar entre
os líderes do segmento. Isso se deve a alguns fatores que poderiam ser descritos
como econômicos e até mesmo políticos.
Um dos motivos que contribuiu para que a energia solar tivesse um crescimento
retardado é o abundante potencial hídrico que o Brasil possui. Potencial este, que
ainda não foi totalmente explorado e que continua a atrair diversos investimentos. Além
disso, uma das razões da preferência pela geração hídrica em relação a solar é que o
custo com a energia fotovoltaica ainda é considerado muito alto (VILLALVA; GAZOLI,
2012).
Mas, apesar desses pontos que podem ser vistos como negativos, desde o
ano de 2012, o Governo tem incentivado o uso da energia solar, por meio da resolução
normativa n◦ 482 da Agencia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que estabelece
condições gerais para o acesso da microgeração e minigeração distribuída aos sistemas
de distribuição de energia elétrica (ANEEL, 2012b).
25

Esta resolução também definiu os critérios para o sistema de compensação de


energia, que permite ao consumidor possuir uma fonte geradora em sua propriedade
para o seu próprio consumo. Além disso, quando houver excedente, possibilita o
abatimento em contas futuras de energia elétrica. Portanto, ações como essa fizeram
com que se observasse um crescimento no interesse por parte de órgãos competentes
em tornar os sistemas fotovoltaicos competitivos e difundidos na matriz energética
brasileira (GIACOMINI, 2015).

2.4.2 Influência do Clima


A Figura 8 apresenta um mapa com a irradiação horizontal global, no qual
é possível observar que o Brasil possui uma localização geográfica privilegiada em
relação a muitos países. Citando apenas alguns exemplos, países como a Alemanha,
Itália e EUA, que são líderes em investimentos no setor fotovoltaico, possuem níveis de
irradiação bem menores do que o Brasil.

Figura 8 – Irradiância horizontal global.

Fonte – (3TIER, 2019)

Para que se tenha uma noção do quão grande é essa diferença, com base nos
valores mínimos e máximos anuais de irradiação solar anual para o plano horizontal, a
região menos ensolarada do Brasil recebe, aproximadamente, 25% a mais de radiação
solar do que a região mais ensolarada da Alemanha, que é um dos países com maiores
potências fotovoltaicas instalada (RÜTHER; SALAMONI, 2011). Portanto, esta é mais
uma característica positiva para a implementação da energia fotovoltaica no país,
embora também evidencie o pouco aproveitamento deste recurso por parte do Brasil.
26

2.5 Sistemas Fotovoltaicos


Os sistemas solares fotovoltaicos podem ser projetados para alimentar cargas
de corrente contínua (CC) ou de corrente alternada (CA), podendo funcionar, tanto
ligados à rede elétrica quanto isolados. Eles também podem ser conectados a outras
fontes de energia ou nos sistemas de armazenamento de energia. No que diz respeito
a qualidade da energia produzida, existem normas nacionais e internacionais que
precisam ser atendidas para que os sistemas de geração fotovoltaicos possam ser
conectados à rede.

2.5.1 Tipos de Sistemas Fotovoltaicos


Os sistemas fotovoltaicos são categorizados de acordo com a sua constituição,
as necessidades do consumidor e com a forma de ligação, sendo assim, podem ser
classificados em dois tipos principais: isolados (Off-Grid) ou conectados à rede elétrica
(On-Grid) (ZEMAN, 2012).

2.5.1.1 Sistemas Fotovoltaicos Isolados

Este tipo de sistema é geralmente empregado em lugares remotos, onde não


há acesso à rede de distribuição ou onde a utilização de outro meio de suprimento
de energia possua um custo elevado. Neste caso, a carga é alimentada somente
pelos painéis fotovoltaicos, que são projetados de acordo com a disponibilidade de
armazenamento de energia (GIACOMINI, 2015).
O tipo de ligação mais simples dentre os sistemas isolados é conhecido como
acoplamento direto, onde a saída dos painéis fotovoltaicos é ligada diretamente à
carga. Neste arranjo, não existe armazenamento de energia e, por essa razão, as
cargas só podem ser alimentadas enquanto existe luz solar, o que consequentemente,
influencia na produção de energia elétrica. Este tipo de sistema é utilizado, apenas, em
aplicações muito específicas que não necessitam de energia ininterrupta (RODRIGUES,
2014). O diagrama de um sistema solar fotovoltaico isolado de acoplamento direto é
exibido na Figura 9.

Figura 9 – Esquema de sistema solar fotovoltaico isolado de acoplamento direto.

Fonte – (RODRIGUES, 2014)

Por outro lado, existem outros tipos de sistemas solares isolados que utilizam
baterias para o armazenamento de energia, permitindo a alimentação das cargas
27

mesmo quando não há luz solar (ZEMAN, 2012). Neste sistema, considerando que
as baterias foram carregadas e armazenam energia suficiente, utiliza-se a energia
produzida durante o dia em aplicações noturnas. Uma configuração para este tipo de
esquema pode ser observada na Figura 10.

Figura 10 – Diagrama de um sistema fotovoltaico isolado com armazenamento de


energia.

Fonte – (RODRIGUES, 2014)

Neste sistema, nota-se que há um controlador de carga responsável por gerir o


carregamento das baterias (durante o dia) e protegê-las das sobrecargas. As baterias,
por sua vez, são utilizadas para obter uma tensão mais estável, tanto para as cargas
CC quanto para o barramento CC do inversor, permitindo que este possa operar sob as
mínimas condições exigidas para o seu pleno funcionamento (FSEC, 2019). Observa-
se também que, nos sistemas isolados com baterias, os inversores são utilizados
quando existe a necessidade de fornecer energia para as cargas que tenham o seu
funcionamento em corrente alternada.

2.5.1.2 Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede

Os sistemas fotovoltaicos conectados à rede injetam a energia gerada pelos


módulos na rede de energia elétrica. Eles podem ser divididos em sistema de grande e
pequeno porte, sendo a geração classificada, respectivamente, como centralizada e
distribuída. A ANEEL define duas categorias para sistemas de geração distribuída, de
acordo com a sua potência, são elas (ANEEL, 2012a):

• Microgeração: com potência instalada menor ou igual a 75 kW para fontes


renováveis de energia elétrica conectada na rede de distribuição por meio de
28

instalações de unidades consumidoras;

• Minigeração: com potência instalada menor ou igual a 5 M W para cogeração


qualificada para as demais fontes renováveis de energia elétrica conetada na
rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras.

Uma outra categoria se refere às usinas de grande porte que geram uma grande
quantidade de potência a ser inserida na rede elétrica com o auxílio de inversores
e transformadores. Estas estruturas necessitam de uma grande área para a sua
instalação e se localizam relativamente distantes dos grandes centros de consumo, o
que exige a utilização de extensos sistemas de transmissão (GIACOMINI, 2015).
No que diz respeito aos sistemas de microgeração e minigeração, são instala-
dos próximos do local de consumo, sendo que a energia gerada por eles é utilizada
como fonte complementar à rede de distribuição. Isso faz com que as perdas associa-
das a transmissão e distribuição sejam bem menores (GIACOMINI, 2015). Os sistemas
de minigeração são mais empregados em aplicações comerciais e industriais, enquanto
que os sistemas de microgeração são mais comuns em instalações residenciais onde
o consumo de energia é menor (VILLALVA; GAZOLI, 2012).
A Figura 11 mostra um diagrama simplificado de um sistema fotovoltaico
conectado à rede elétrica. Assim como observado para o caso dos sistemas isolados,
para a utilização da potência gerada pelos módulos fotovoltaicos, é necessário a
utilização de um dispositivo conhecido como inversor que converte a corrente contínua
(CC) em corrente alternada (CA) para injetar na rede, levando em consideração os
parâmetros da qualidade de energia elétrica.

Figura 11 – Sistema solar fotovoltaico ligado à rede elétrica.

Fonte – (RODRIGUES, 2014)


29

2.5.2 Considerações Sobre as Distorções Harmônicas


Este é um tema fundamental quando se trata de dispositivos conectados à
rede elétrica de distribuição, devido as consequências que a má qualidade da energia
elétrica pode trazer tanto para as concessionárias quanto para os consumidores.
As distorções harmônicas, termo frequentemente ligado à qualidade da ener-
gia, são fenômenos associados às deformações nas formas de onda das tensões
e correntes em relação à onda senoidal da frequência fundamental (ANEEL, 2018).
Portanto, a existência de harmônicos é responsável por grandes perdas de potência
nos sistemas elétricos, problemas de ressonância e mau funcionamento de vários
equipamentos (JRPENERGY, 2019).
É por conta dessas situações que existem normas que tratam especificamente
sobre a temática da qualidade de energia para o acesso e a conexão com a rede. Uma
dessas normas é o módulo 8 do PRODIST (Procedimento de Distribuição de Energia
Elétrica no Sistema Elétrico nacional) da ANEEL, que regulamenta o nível de Distorção
Harmônica Total de Tensão (DTT) que pode estar presente na tensão. Além dessa
norma, também há uma outra regulamentação, a IEEE 1574, que prevê um limite
máximo para diversas faixas de frequência harmônica tanto para as tensões quanto
para as correntes.
Embora já exista uma regulamentação no Brasil que estabelece uma distorção
máxima de 10% para a tensão de saída do inversor, ela ainda não é muito criteriosa se
comparada com a norma do IEEE. É por essa razão que, no decorrer deste trabalho, o
parâmetro que vai nortear a qualidade da energia também terá como base a norma
internacional, que estabelece um valor máximo de 5% de distorção harmônica total
para a tensão e para a corrente injetada na rede pelo conversor (IEEE-519, 1992).
No que diz respeito ao tratamento matemático, a expressão para o cálculo das
grandezas de distorção harmônica total de tensão são dadas pela equação abaixo:

pP∞
k=2 Vk2
DT Tv = .100[%] (2.1)
V1
De forma similar, a expressão para o cálculo da distorção harmônica total de
corrente é dada por:

pP∞
2
k=2 Ik
DT Ti = .100[%] (2.2)
I1
Sendo:

• Vk ; a tensão eficaz para o harmônico de ordem k;


30

• V1 ; o valor eficaz da componente fundamental de tensão;

• Ik ; a corrente eficaz para o harmônico de ordem k;

• I1 ; o valor eficaz da componente fundamental de corrente.

Portanto, como este é um parâmetro importante na definição da qualidade da


energia, ele será fundamental na análise dos resultados deste trabalho.

2.6 Inversores Para Sistemas Fotovoltaicos


Os painéis fotovoltaicos produzem energia em corrente contínua (CC), no
entanto, nas aplicações onde existem cargas que operam em corrente alternada (CA)
é necessário utilizar um dispositivo que faça a conversão CC-CA, a este dispositivo
dá-se o nome de inversor. A função do inversor na geração distribuída inclui a garantia
da qualidade da energia, a existência de circuitos de proteção, além do controle do
sistema que o compõe (HERTZ, 2010).
O inversor utilizado em sistemas fotovoltaicos, pode ser construído de diversas
maneiras, no entanto, a escolha pela melhor configuração pode ser determinante para
a obtenção de bons resultados. Portanto serão apresentados os tipos de inversores
mais comuns, a faixa de potência em que eles atuam, além de uma análise sobre a
quantidade de estágios de um conversor CC-CA.

2.6.1 Estrutura do Conversor CC-CA


Basicamente, existem duas estruturas utilizadas em inversores de potência,
sendo a primeira denominada de Inversor Fonte de Corrente (CSI, do inglês Current
Source Inverter ) e a segunda, Inversor Fonte de Tensão (VSI, do inglês Voltage Source
Inverter ). Ambas as estruturas são apresentadas abaixo (OMORI, 2007).

2.6.1.1 Inversor Fonte de Corrente (CSI)

Neste arranjo, o componente armazenador de energia do inversor é um indutor,


por essa razão, o barramento de corrente contínua se comporta como uma fonte de
corrente. A Figura 12 ilustra um inversor CSI trifásico conectado à rede. Esta estrutura é
utilizada com vantagens em configurações que normalmente envolvem circuitos de alta
potência, como por exemplo, em sistemas de transmissão de energia, principalmente
com a função de correção do fator de potência e na minimização das perdas em regime
permanente (JOÓS, 1999).
31

Figura 12 – Inversor trifásico com estrutura CSI.

Fonte – (AUTOR, 2019)

2.6.1.2 Inversor Fonte de Tensão (VSI)

Neste inversor o componente de armazenamento de energia é o capacitor,


por essa razão o barramento de corrente contínua se comporta como uma fonte de
tensão. A Figura 13 apresenta o inversor trifásico com conexão VSI interligado à
rede elétrica. Nota-se que na saída do inversor há indutores de acoplamento que
efetuam a atenuação e o intercâmbio entre o dispositivo e o sistema elétrico, sendo
que a definição do valor deste elemento é de suma importância para o desempenho do
inversor. Essa estrutura possui vantagens importantes tais como o pequeno volume e
peso empregado, além de ter um custo inferior se comparado ao CSI para faixas de
pequenas e de médias potências (SINGH, 2006).

Figura 13 – Inversor trifásico com a estrutura VSI.

Fonte – (AUTOR, 2019)


32

2.6.2 Topologia dos Sistemas Fotovoltaicos


Os conversores eletrônicos para sistemas fotovoltaicos podem ser construídos
de diversas maneiras, sendo que cada uma delas influencia nos parâmetros que
compõem o sistema. Basicamente, os conversores dividem-se em monofásicos e
trifásicos, sendo usados de acordo com a faixa de potência ou aplicação desejada.
Dentre as categorias, encontram-se sistemas que podem ser classificados como de
um ou dois estágios.

2.6.2.1 Sistemas com o Conversor de um Estágio

A tensão de entrada de inversores conectados à rede se encontra, normal-


mente, entre 180 V e 500 V (FEMIA et al., 2008). Portanto, nas aplicações de um
estágio, um determinado número de painéis é necessário para alimentar o inversor
dentro da sua faixa de operação. Se a tensão de entrada fornecida pelos painéis for
grande o suficiente para atender a tensão de operação mínima do inversor, então um
único estágio de conversão pode ser empregado (BLAABJERG et al., 2006a). A Figura
14 mostra um esboço dessa configuração.

Figura 14 – Sistema fotovoltaico conectado à rede com o conversor de um estágio.

Fonte – (VILLALVA, 2010)

Um inversor de um único estágio representa um sistema caracterizado por


englobar as diversas funções que seriam realizadas por estágios individualizados em
um único estágio de processamento de potência (GARCIA, 2015). Esta configuração
traz vantagens, pois reduz o número de componentes e a complexidade do sistema,
porém, dificulta a isolação entre os painéis e a rede elétrica, fazendo com que, em
muitas situações, seja necessário utilizar um transformador que opere na frequência
da rede.
Embora a utilização de um transformador traga a desvantagem do aumento
no custo de um sistema fotovoltaico, existem algumas vantagens que não devem ser
ignoradas, como: a possibilidade de adaptação de níveis de tensão, maior segurança
pessoal contra choques elétricos, uma vez que o isolamento criado pelo transformador
impede que a corrente circule pelo corpo humano, caso uma pessoa entre em con-
tato com a carcaça metálica não aterrada do módulo fotovoltaico, evita a injeção de
corrente contínua na rede e também a circulação de correntes de fuga oriundas das
capacitâncias parasitas do sistema (GONZALEZ et al., 2008) (FARIAS, 2011).
33

2.6.2.2 Sistemas com Conversor de Dois Estágios

A Figura 15 representa um sistema fotovoltaico que utiliza dois estágios de


conversão.

Figura 15 – Sistema fotovoltaico conectado à rede com o conversor de dois está-


gios.

Fonte – (VILLALVA, 2010)

Este tipo de sistema proporciona o desacoplamento entre os painéis fotovoltai-


cos e a rede elétrica, além de permitir que a faixa de tensão de entrada do sistema seja
independente da tensão da rede (VILLALVA, 2010). Nesta configuração, o primeiro
estágio fica responsável por alimentar o barramento CC, constituído por um capacitor
de desacoplamento de potência e, o segundo estágio, onde está presente o inversor
de frequência, faz a conexão do sistema fotovoltaico com a rede. Embora essas sejam
vantagens consideráveis, este sistema apresenta custo elevado, necessidade de uma
estrutura mais complexa e baixa eficiência (XUE et al., 2004).
34

3 PROJETO DO INVERSOR TRIFÁ-


SICO CONECTADO À REDE

3.1 Considerações Iniciais


Como a energia proveniente do arranjo entre os módulos fotovoltaicos é dada
em corrente contínua se faz necessário utilizar um inversor para fazer a conversão
para corrente alternada. Este capítulo tratará da metodologia de controle associada
ao inversor, descrevendo a etapa de dimensionamento dos elementos passivos do
inversor, as funções de controle a serem implementadas e a lei de controle empregada
para obter uma conexão com à rede de forma a atender os padrões da qualidade da
energia.

3.2 Especificações dos Componentes do Inversor


Para o projeto do inversor trifásico, as especificações das características de
operação devem ser feitas, sendo algumas delas definidas com base em valores
encontrados em outras literaturas que tratam da mesma temática (FENILI, 2007),
(LINDIKE, 2003), (SILVA, 2012). A Tabela 1 apresenta tais especificações.

Tabela 1 – Especificações para o projeto do inversor

Especificações Valores
Tensão eficaz da rede (Vabc,rms ) 220 V
Tensão do barramento CC (Vcc ) 450 V
Potência de entrada (Pin ) 6 kW
Ondulação de corrente no indutor de saída (∆iLo ) 10%
Ondulação de tensão no barramento (∆Vcc ) 10%
Frequência de operação da rede (f ) 60 Hz
Frequência de comutação das chaves (fs ) 10 kHz
Fonte – (AUTOR, 2019)

Com o intuito de avaliar o desempenho do sistema nas mais variadas condições,


admite-se uma margem de ± 15% sobre a tensão eficaz, o que possibilita a tensão
atingir um valor mínimo de 187 V e um valor máximo de 253 V . A tensão do barramento
CC, deve ser pelo menos 30% maior que o pico da tensão efetiva da rede para garantir
o fluxo unidirecional de potência (FENILI, 2007). Como Vcc é igual a 450 V , a condição
35

estabelecida é atendida, mesmo considerando o maior valor de Vabc,rms , que é igual a


253 V .
A ondulação de corrente no indutor de saída (∆iLo ) foi definida com base em
uma faixa usualmente empregada para inversores de tensão (VSI), portanto, adotou-se
um valor de 10% (SILVA, 2012). De forma similar, a ondulação da tensão no barramento
(∆Vcc ) também foi definida, com valor especificado em 10%.
No que diz respeito a frequência da rede (f ) e a frequência de comutação
(fs ), foram definidos valores de 60 Hz e 10 kHz, sendo que o primeiro parâmetro leva
em conta a frequência de operação usualmente empregada no Brasil e o segundo,
as perdas totais nos semicondutores que compõem a estrutura do inversor (LINDIKE,
2003).
Com as especificações já definidas, parte-se agora para o cálculo dos elemen-
tos passivos do inversor, mais especificamente: o indutor de acoplamento e o capacitor
do barramento CC.

3.2.1 Cálculo do Valor da Indutância


A indutância L de interface na saída do inversor é encontrada através da
expressão abaixo (SILVA, 2012):

(Vcc − Vabc,m )Mi


L= (3.1)
2fs ∆iLo Ipico

Sendo:

• Vabc,m ; o valor médio da tensão da rede elétrica;

• Mi ; o índice de modulação do inversor;

• Ipico ; o valor de pico da corrente injetada na rede.

As outras variáveis são Vcc , fs e ∆iLo que já tiveram os seus respectivos valores
apresentados na Tabela 1. A corrente a ser injetada na rede, Ipico , é dada pela equação
3.2. √
Pin 2
Ipico = (3.2)
Vabc,rms

Ipico = 38, 57 A
36

Com a corrente calculada e sabendo que o valor máximo (tensão de pico) da


tensão da rede Vabc,m é igual 311, 13 V a única variável até então desconhecida é o
índice de modulação Mi , que é dado por:

Vabc,m
Mi = (3.3)
Vcc
O maior índice de modulação é obtido considerando o maior valor que a tensão
de pico da rede pode apresentar (Vabc,m = 358 V ). Assim, Mi ∼ = 0, 8. Substituindo
todos os valores na equação (3.1), encontra-se o valor da indutância L, que é igual a
aproximadamente 1, 5 mH.

3.2.2 Cálculo do Valor da Capacitância


Uma estimativa inicial para o capacitor do barramento do inversor pode ser
encontrado por meio da equação (3.4) (FENILI, 2007):

Pin
C= (3.4)
f (Vcc2 max
− Vcc2 min )

A potência ativa Pin na entrada do inversor é oriunda do arranjo fotovoltaico


que o precede. Já os valores Vccmax e Vccmin são obtidos a partir da ondulação de tensão
no barramento, apresentado na Tabela 1. Tomando por base o valor estabelecido para
a tensão Vcc , que é igual a 450 V , têm-se que Vccmax = 472, 5 V e Vccmin = 427, 5 V .
Substituindo esses valores na equação (3.4), encontra-se o valor da capacitân-
cia, que é igual a 2, 47 mF .

3.3 Definições Sobre a Metodologia a ser Utilizada no Tra-


balho
Neste trabalho, todas as menções que forem feitas sobre o inversor terão como
referência os inversores controlados fonte de tensão (VSI) e serão associados a um
conversor de um único estágio. Essa escolha faz com que seja necessário obter uma
certa tensão no barramento CC que permita ao VSI injetar corrente na rede.
Para garantir o nível de tensão no barramento CC, de 450 V , basta ligar um
conjunto de painéis solares fotovoltaicos em série até obter a tensão pretendida. A
Tabela 2 apresenta as principais características de um único módulo fotovoltaico,
presentes no datasheet do fabricante Canadian Solar.
37

Como Vmp = 37, 2 V , podem ser utilizados 12 módulos em série, o que fornece
uma tensão total de máxima potência (Vmptotal ) igual a 446, 4 V . Este valor é muito
próximo de 450 V , previamente definido.
No que diz respeito à potência de entrada, para este sistema de 12 módulos,
tem-se Pmaxtotal = 3, 96 kW . Este valor está abaixo da potência de entrada (Pin = 6 kW )
utilizada como base para o cálculo da capacitância na seção anterior. Portanto, para
manter a tensão do barramento CC e aumentar a potência do sistema, utiliza-se a
organização do conjunto fotovoltaico 12 x 2 que possui 2 blocos, paralelos entre si, com
12 módulos fotovoltaicos conectados em série, sendo ligados ao inversor trifásico. A
Figura 16 ilustra o modelo proposto, incluindo a organização do conjunto fotovoltaico.

Tabela 2 – Principais características do painel solar fotovoltaico utilizado

Parâmetros Valores
Potência máxima (Pmax ) 37, 2 V
Tensão em Pmax (Vmp ) 37, 2 V
Corrente em Pmax (Imp ) 8, 88 A
Tensão de circuito aberto (Vsc ) 45, 6 V
Corrente em circuito aberto (Isc ) 9, 45 A
Eficiência do módulo 16, 97%
Coeficiente de temperatura de Isc 0, 053% /◦ C
Coeficiente de temperatura de Voc −0, 31% /◦ C
Fonte – (AUTOR, 2019)

Figura 16 – Sistema empregando o conversor de um estágio com geração fotovol-


taica organizada com o conjunto 12 x 2.

Fonte – (AUTOR, 2019)

Nessa configuração, com 24 placas, Pmaxtotal = 7, 92 kW na condição de máxima


potência. Embora este valor esteja acima de 6 kW , ele não está fora da capacidade
de processamento do inversor, uma vez que, em escala comercial, este dispositivo
pode trabalhar com robustez de 34% acima da sua capacidade nominal. Além disso,
no projeto do controle, são consideradas as possíveis variações tanto no nível da
38

tensão do barramento CC quanto na potência fornecida pelos módulos. Assim, mesmo


que algumas variações venham a ocorrer, o sistema tende a buscar um ponto de
estabilidade.

3.4 Projeto do Filtro LCL


Nesta seção é apresentado o projeto do filtro passivo LCL. De início, são
calculados os principais parâmetros do filtro, sendo eles a indutância de saída do
inversor (L1 ), a capacitância total do filtro (Cf ) e a indutância de conexão com a rede
(L2 ). Por fim, é definida uma resistência de amortecimento (Rf ), sendo esta uma
solução viável e barata para eliminar a possibilidade da ocorrência de ressonância
entre o filtro e o inversor (QUEIROZ, 2014).
O filtro LCL é inserido entre a saída do inversor e a rede elétrica para atenuar
os harmônicos de corrente injetados na rede, que são gerados pelo chaveamento no
processo de conversão da corrente contínua (CC) em corrente alternada (CA). A Figura
17 apresenta o circuito completo de um inversor trifásico conectado à rede elétrica,
incluindo o filtro passivo LCL e a geração fotovoltaica.

Figura 17 – Inversor trifásico com filtro passivo LCL e geração fotovoltaica.

Fonte – (AUTOR, 2019)

3.4.1 Dimensionamento do Capacitor Cf


Para dimensionar a capacitância Cf , optou-se por estabelecer um parâmetro
que considera a máxima variação do fator de potência visto da rede, sendo este valor
de 5%. Esta é uma porcentagem típica para inversores conectados à rede elétrica
(LISERRE et al., 2005).
39

Utiliza-se a expressão da equação (3.5) para calcular Cf (QUEIROZ, 2014):

Cf = 5%Cbase (3.5)

Sendo Cbase é dado por:

1
Cbase = (3.6)
2πf Zb

Sendo f a frequência da rede, e Zb dado pela equação (3.7).

2
Vabc,rms
Zb = (3.7)
Pin
Como Vabc,rms = 220 V e Pin = 6 kW , têm-se que Zb = 8, 06 Ω. Substituindo Zb
na equação (3.6), encontra-se o valor da capacitância base. Assim, Cbase = 0, 329 mF .
Por fim, substituindo o valor de Cbase na (3.5) obtem-se o valor da capacitância do filtro
que é dada por:

Cf = 0, 05(0, 329mF )

Cf = 16, 4 µF

3.4.2 Dimensionamento do Indutor de Acoplamento L1


O indutor L1 apresenta uma ondulação de corrente maior que o indutor L2 , uma
vez que o capacitor Cf forma um caminho de baixa impedância para os harmônicos de
alta frequência. Assim, a indutância L1 é projetada para limitar a ondulação de corrente
na saída do inversor em um determinado percentual em relação a corrente nominal
(GIACOMINI, 2015).
Para o dimensionamento do indutor L1 utiliza-se a equação (3.8) (QUEIROZ,
2014):

Vabc,m
L1 = (3.8)
4fs ∆iLo Ipico

Substituindo Ipico , ∆iLo , Vabc,rms e fs na equação (3.8) encontra-se a indutância


de acoplamento L1 , que é igual a 2, 01 mH.
Embora tenha-se utilizado dois métodos diferentes, esta indutância é a mesma
calculada pela equação (3.1). Pela primeira metodologia, a indutância de interface da
saída do inversor resultou em um valor de 1, 5 mH, por outro lado, na metodologia da
equação (3.8), foi encontrada uma indutância de 2, 01 mH.
40

Após algumas simulações computacionais onde foram testados os valores


compreendidos entre 1, 5 mH e 2, 01 mH, percebeu-se que com valores maiores de
indutância o sistema apresentou melhores resultados. Assim ficou definido que a
indutância seria dada por:

L = L1 = 2 mH

3.4.3 Dimensionamento do Indutor de Conexão com a Rede L2


O indutor L2 é calculado a partir da equação (3.9) (QUEIROZ, 2014):

q
1
Ka2
+1
L2 = (3.9)
Cf ωs2

Sendo:

• Ka ; o fator de atenuação, normalmente adotado em 20% para os filtros passivos


presentes na configuração dos inversores interligados à rede (REZNICK et al.,
2014);

• ωs ; a frequência angular de chaveamento para uma frequência de chaveamento


fs de 10 kHz, que corresponde a 62831, 85 rad/s..

Como Cf já é conhecido, o valor de L2 pode então ser calculado:

L2 = 92, 6 µH

3.4.4 Dimensionamento do Resistor de Amortecimento Rf


O amortecimento do filtro LCL tem como objetivo atenuar o pico de ressonância
de modo a evitar uma possível instabilidade da malha de controle do inversor, facilitando
também o projeto dos controladores (GIACOMINI, 2015). Este amortecimento pode ser
ativo ou passivo, sendo que o ativo é realizado por uma malha de controle, enquanto
que o passivo utiliza elementos adicionais ao filtro (indutores, capacitores e resistores).
Dentre as técnicas de amortecimento, a passiva é bastante utilizada devido
ao baixo custo e, principalmente, pela facilidade de implementação (WEIMIN et al.,
2013). Essas razões fizeram com que esta tenha sido a metodologia escolhida para o
amortecimento, sendo o resistor Rf o elemento passivo a ser integrado na estrutura do
LCL.
41

Para calcular o valor de Rf , utiliza-se a equação (3.10) (QUEIROZ, 2014):

1
Rf = (3.10)
6πfres Cf

Da equação (3.10), a única constante desconhecida até então é a frequência de


ressonância fres , mas que pode ser calculada por meio da equação (3.11) (GIACOMINI,
2015):

s
1 L1 + L2
fres = (3.11)
2π L1 L2 Cf

Sabendo que L1 = 2 mH, L2 = 92, 6 µH e Cf = 16, 4 µF , encontra-se o valor


da frequência de ressonância, fres = 4, 17 kHz. De modo a evitar problemas de
ressonância, muitos trabalhos sugerem a limitação da frequência de ressonância no
seguinte intervalo (LISERRE et al., 2005).

1
10f < fres < fs (3.12)
2
Pelo resultado encontrado verifica-se que a condição acima é atendida, uma
vez que, 4, 17 kHz é maior que 600 Hz e menor do que 5 kHz. Assim, substituindo fres
na equação (3.10), encontra-se:

Rf = 0, 78 Ω

3.5 Controle do Inversor Trifásico


3.5.1 Exigências do Controle do Inversor
O controle do inversor deve garantir que toda corrente injetada na rede de
distribuição tenha um formato senoidal, com o mínimo de distorções e com um baixo
nível CC associado. A fase da corrente deve ser controlada de forma que o fluxo de
potência do sistema ocorra do estágio CC-CC em direção à rede, mantendo assim um
fluxo unidirecional (AYRES et al., 2015).
Para que essas exigências sejam atendidas, esta etapa do trabalho terá como
foco o estudo do controle do estágio de conversão CC-CA, modelando a etapa de
inversão de um sistema fotovoltaico e projetando o compensador de tensão que deve
regular o barramento CC e as correntes que são injetadas numa rede trifásica à três
fios.
42

3.5.2 Descrição das Partes Envolvidas no Controle


O esquema proposto, incluindo a etapa de controle do inversor pode ser
observada na Figura 18.

Figura 18 – Esquema resumido do sistema proposto.

Fonte – (AUTOR, 2019)

Através da análise da Figura 18, as seguintes funções podem ser observadas


(HAUSER, 2014):

• Controle da tensão do barramento CC: tem como objetivo manter a tensão do


barramento CC em um nível constante, mesmo que hajam perturbações oriundas
da rede, além disso também se responsabiliza por determinar as amplitudes das
correntes injetadas pelo conversor na rede.

• Controle das correntes injetadas na rede: fornece as referências de tensão


para o modulador de pulsos do inversor trifásico, além disso, atua em um sistema
de realimentação, o que permite a verificação da corrente que está sendo injetada
na rede.

• Sincronização com a rede elétrica: realiza o sincronismo do conversor com a


tensão da rede elétrica.

Todas essas funções fazem parte das estratégias de controle que são proje-
tadas em duas malhas: a de corrente e a de tensão. A malha de corrente deve ser
implementada com o intuito de controlar a forma de onda da corrente que passa pelos
43

indutores do filtro de saída, garantindo que estas estejam em fase com a referência
senoidal de tensão. Quanto a malha de tensão, deve ter um comportamento dinâmico
lento se comparada a malha de corrente, sendo projetada para gerar a referência de
amplitude para as correntes injetadas na rede, além da regulação do barramento CC
(HAUSER, 2014).
O projeto das duas malhas é feito de forma independente, uma vez que a faixa
de frequências em que cada uma opera é diferente.

3.5.3 Descrição das Etapas e Funcionamento do Controle do Inversor


A Figura 19 apresenta um diagrama de blocos composto pelos controladores
de tensão e corrente, além da referência de rede. Deste sistema é obtido o sinal de
ativação das chaves do inversor.

Figura 19 – Diagrama de blocos do controle utilizado no inversor CC-CA.

Fonte – Adaptado de (FREITAS, 2013)

A Figura 19 apresenta as etapas que compõem o sistema de controle do


inversor. O controlador de tensão é responsável por manter a tensão do barramento
CC constante, para isso é medido o valor da tensão Vcc que é comparado com um
valor de referência Vcc,ref . Desta comparação, resulta um erro ev que é enviado ao
controlador da malha de tensão. O controlador atua então para minimizar o erro em
regime permanente entre o valor de referência e o valor medido. Portanto, o sinal ui
da saída do controlador corresponde ao valor de corrente que pode ser extraída do
barramento CC, de forma a manter a tensão Vcc constante. Entretanto, este não é o
sinal de referência de corrente que se pretende fornecer à rede, uma vez que este deve
ser senoidal e deve estar em fase com a tensão. Assim, a maneira mais fácil de obter
esta corrente de referência é multiplicando o sinal de saída do compensador de tensão
por uma referência da rede (FREITAS, 2013).
Esta referência pode ser obtida, por exemplo, por um circuito PLL (Phase
Locked Loop), que deve fornecer uma senoide pura com uma tensão de 2 V de pico a
pico. Na Figura 19, o bloco está representado apenas como referência da rede pois
existem outras formas de obter este sinal.
44

Da multiplicação de ui com o sinal de referência da rede têm-se a corrente


de referência iref . Este sinal é comparado com a corrente de saída do inversor, que
neste caso é i, e o erro resultante ei corresponde a entrada do controlador da malha
de corrente, que atua no sentido de anular esse desvio. O sinal resultante é então
enviado para um modulador PWM (Pulse Width Modulation) do qual resultam os sinais
de comando que controlam as chaves semicondutoras do inversor de frequência.

3.5.4 Principais Estratégias de Controle


A implementação da estratégia de controle para um inversor trifásico pode ser
realizada em três diferentes sistemas de coordenadas (YANG et al., 2006):

• Referência natural (Coordenadas abc): o princípio do controle em coordenadas


abc é de ter três controladores individuais para cada uma das fases da corrente. O
que difere de um projeto para outro são as estratégias de conexão com um sistema
trifásico, que pode ser estrela com neutro aterrado ou não, delta, dentre outras
possibilidades, mas todas essas considerações devem ser feitas no momento do
projeto do controlador. Aliás, no que diz respeito ao controlador, eles podem ser
de vários tipos, à saber, o Proporcional Integrativo (PI), o Proporcional Ressonante
(P+RES), o controlador repetitivo, dentre outros.

• Referência estacionária (cordenadas αβ): uma outra forma de implementação


do controle pode ser feita por meio da manipulação do sistema de coordenadas
estacionárias. Nesta situação, as variáveis de controle são convertidas do sistema
de coordenadas abc para o sistema de coordenadas αβ. Para este tipo de
coordenada o controlador PI não possui um bom desempenho na remoção do erro
em regime permanente de sinais variantes com o tempo, por isso o controlador
P+RES é mais utilizado, uma vez que possui a capacidade de eliminar o erro em
regime permanente de sinais senoidais como é o caso do controle αβ.

• Referência síncrona (coordenadas dq): como existe uma grande dificuldade de


rastrear sinais senoidais em relação a sinais constantes, utiliza-se a transformada
de Park a fim de realizar a projeção das variáveis no plano dq (eixo direto e em
quadratura). Neste caso, a transformada é utilizada para que as variáveis trifásicas
como a tensão e a corrente da rede, sejam operacionalizadas no plano dq, assim o
sistema de coordenadas gira em sincronia com a tensão da rede. A consequência
disso é que qualquer desvio na tensão ou corrente da rede será refletido nas
componentes d e q. Dessa forma, a utilização dos controladores do tipo PI é mais
indicado, uma vez que estes controladores possuem um desempenho satisfatório
na regulação de variáveis constantes. A desvantagem desta técnica consiste no
45

fato de que os controladores PI possuem pouca capacidade para compensar os


harmônicos de ordem baixa.

A Figura 20 exibe um resumo comparativo entre as coordenadas, indicando a


caraterística de cada uma das estratégias de controle.

Figura 20 – Sistemas de coordenadas: (a) dq, (b) αβ e (c) abc

Fonte – (HAUSER, 2014)

3.5.5 Sistema de Controle da Corrente


O sistema de controle da corrente injetada na rede se responsabiliza pela
qualidade de energia disponibilizada à rede e pela proteção da corrente do conversor,
portanto a compensação harmônica e dinâmica são as prioridades do controlador de
corrente (BLAABJERG et al., 2006b).

3.5.5.1 Modelagem do Inversor CC-CA em Variáveis Trifásicas Estacionárias abc

A Figura 21 ilustra o inversor CC-CA trifásico conectado à rede através de


indutores de acoplamento.
46

Figura 21 – Conversor CC-CA trifásico conectado à rede com filtros indutivos.

Fonte – (VILLALVA, 2010)

Esse inversor, com estrutura VSI, será utilizado como base para a obtenção
dos parâmetros dos controladores e também servirá para facilitar o entendimento
no que diz respeito aos comandos dados pelo modulador para ativação das chaves
semicondutoras. A tensão Vcc é um valor fixo refente ao barramento CC e va , vb e vc
são as tensões de saída do inversor conectadas pelos indutores de acoplamento às
fases a, b e c. Quanto as tensões da rede de distribuição, essas são representadas por
vsa , vsb e vsc .
O circuito equivalente da Figura 21 é exibido na Figura 22, onde o inversor e a
rede foram substituídos por fontes de tensão equivalentes.

Figura 22 – Circuito equivalente do inversor CC-CA trifásico conectado à rede.

Fonte – (VILLALVA, 2010)

Para simplificar a modelagem, considera-se que as tensões e as correntes do


sistema são senoidais e equilibradas, dessa forma os dois neutros virtuais, um do lado
do inversor e o outro do lado da fonte, são equipotenciais. Assim, a conexão virtual
47

entre os dois neutros permite a obtenção das equações por fase deste circuito (BROD;
NOVOTNY, 1985).
Sabendo que o circuito possui uma parcela resistiva e uma parcela indutiva,
as equações de corrente podem ser obtidas, conforme as equações (3.13), (3.14) e
(3.15), sendo va,b,c as tensões fase-neutro na saída do inversor e vsa,sb,sc as tensões
fase-neutro da rede:

d
−va + Ria + L ia + vsa = 0 (3.13)
dt

d
−vb + Rib + L ib + vsb = 0 (3.14)
dt

d
−vc + Ric + L ic + vsc = 0 (3.15)
dt
As equações (3.13), (3.14) e (3.15) exibem uma relação entre tensões e
correntes instantâneas do circuito. Para analisar o circuito sob pequenas variações de
sinais pode-se recorrer as seguintes expressões (VILLALVA, 2010):

va = Va + v̂a (3.16)

ia = Ia + îa (3.17)

vsa = Vsa + v̂sa (3.18)

As variáveis Va , Ia e Vsa representam valores de regime permanente no ponto


de operação e as variáveis v̂a , îa e v̂sa representam variações de pequenos sinais em
torno do ponto de operação.
Como as tensões e correntes variam continuamente no tempo, não existindo
um ponto de operação, as variáveis de regime perdem o significado. Dessa forma,
substituindo as equações (3.16), (3.17) e (3.18) na equação (3.13) e depois aplicando
a transformada de Laplace, é possível encontrar a seguinte equação no domínio s:

−v̂a (s) + Rîa (s) + sLîa (s) + v̂sa (s) = 0 (3.19)

De maneira semelhante, pode-se encontrar as equações para as fases b e c:

−v̂b (s) + Rîb (s) + sLîb (s) + v̂sb (s) = 0 (3.20)


48

−v̂c (s) + Rîc (s) + sLîc (s) + v̂sc (s) = 0 (3.21)

As equações (3.19), (3.20) e (3.21) podem ser reescritas, sendo Giv (s) a função
de transferência da tensão de fase do conversor para a corrente de fase e Givs (s) a
função de transferência da tensão de fase da rede para a corrente, sendo assim, tem-se
que:

îa (s) = Giv (s)v̂a (s) − Givs (s)v̂sa (s) (3.22)

îb (s) = Giv (s)v̂b (s) − Givs (s)v̂sb (s) (3.23)

îc (s) = Giv (s)v̂c (s) − Givs (s)v̂sc (s) (3.24)

A dedução destas equações tem como principal objetivo encontrar uma expres-
são que possibilite o controle da corrente de saída através da tensão fornecida pelo
inversor. Dessa forma, o termo v̂sa , que é a variável referente aos possíveis distúrbios
que possam vir a ocorrer no sistema, pode ser desconsiderada. Considerando v̂a , que
é a variável de controle, encontra-se uma função para a tensão de fase do inversor:

îa (s) îb (s) îc (s)


Giv (s) = = = (3.25)
v̂a (s) v̂b (s) v̂c (s)

1
Giv (s) = (3.26)
R + sL

3.5.5.2 Modelagem do Inversor CC-CA em Variáveis Ortogonais Estacionárias αβ

Assim como na seção anterior, esta seção apresenta uma metodologia para
obtenção da função de transferência da fase do inversor, no entanto a modelagem
será feita utilizando o sistema de coordenadas αβ. Para obter a função Giv (s) neste
sistemas de coordenadas, é necessário conhecer as matrizes de transformação que
convertem um sistemas de coordenadas abc em um sistema αβ.
A transformada de Park, como também é conhecida, é regulada pelas seguintes
equações (AKAGI et al., 2004):

    
χ0 r √1 √1 √1 χa
2 2 2
1
2
1
χα  =  1 − 2 − 2 .χb  (3.27)
   
3 √
3

3
χβ 0 2
− 2
χc
49

A transformada inversa, por sua vez, é dada por:

  
r √12 1
 
χa 0 χ0
2 √ 
 √1 − 1 3 
χb  = .χα  (3.28)
   
3 1
 2 2 2
√ 
1 3
χc √
2
− 2
− 2
χβ

Sendo, χ uma variável que pode representar tanto a tensão quanto corrente.
Agora, tomando as equações (3.13), (3.14) e (3.15), e as escrevendo na forma matricial,
têm-se:

       
ia ia va va
d  R  1   1  
 i  = −  ib  +  vb  +  vb  (3.29)
dt b L L L
ic ic vc vc

Aplicando a transformada de Park na equação (3.29), obtêm-se a equação


matricial do circuito para o eixo de coordenadas αβ:

" # " # " # " #


d iα R iα 1 vα 1 vα
=− + + (3.30)
dt iβ L iβ L vβ L vβ

Destas deduções, fica evidente que o circuito da Figura 22 também pode


ser descrito, matematicamente, pelo sistema de coordenadas αβ, porém com uma
diferença importante já que apenas duas variáveis foram necessárias, ao contrário das
variáveis no sistema de coordenadas abc onde foram utilizadas três equações.
Este aspecto traz uma informação importante sobre as vantagens da utilização
do sistema αβ, pois a diminuição dos termos que descrevem o sistema faz com que
menos variáveis estejam envolvidas no controle. Além disso, as variáveis αβ são
particularmente úteis no controle do inversor CC-CA com modulação por vetores
espaciais (VILLALVA, 2010).
A matriz (3.30) ainda pode ser descrita em duas equações diferenciais nas
coordenadas αβ:

dy
−v α + Riα + L iα + vsα = 0 (3.31)
dx

dy
−v β + Riβ + L iβ + vsβ = 0 (3.32)
dx
A partir deste ponto, o manuseio com as equações (3.31) e (3.32) seguiu os
mesmos passos apresentados na seção anterior, porém utilizando as coordenadas αβ.
50

Obtém-se, portanto, a função de transferência Giv (s), válida para a corrente de saída
do inversor nas coordenadas αβ:

îα (s) îβ (s)


Giv (s) = = (3.33)
v̂ α (s) v̂ β (s)

1
Giv (s) = (3.34)
R + sL
Convém destacar que a equação (3.34) é igual a equação (3.26). Isso mostra
que os valores de R e L não se alteram, independentemente do sistema de coordenadas
utilizado.

3.5.5.3 Considerações Sobre a Modelagem

Assim como foi apresentado nas seções anteriores, também é possível encon-
trar a função de transferência Giv (s) para as coordenadas dq, sendo o resultado similar
ao que já foi visto nas equações (3.26) e (3.34), porém este trabalho terá como foco a
comparação entre as coordenadas abc e αβ abordando as vantagens e desvantagens
de cada metodologia e explorando a atuação do controle para cada uma delas.

3.5.6 Controle da Malha de Corrente


Para a obtenção de um sistema de controle eficaz, é necessário não apenas
definir o sistema de coordenadas, mas também entender quais os tipos de controladores
que podem ser utilizados. Dessa maneira, a eficiência do sistema pode ser alcançada
de forma mais satisfatória. As seções a seguir vão apresentar um comparativo entre
o controlador Proporcional e Integral (PI) e o controlador Proporcional e Ressonante
(P+RES) para o sistema de coordenadas abc e αβ. Por fim, a eficiência de cada uma
dessas coordenadas será levada em consideração para definir qual controlador será
utilizado no projeto final.

3.5.6.1 Controlador PI Utilizado Para Coordenadas Naturais

A Figura 23 apresenta um diagrama de blocos referente ao controle utilizado


para a malha de corrente. Além do bloco que representa o inversor trifásico, há também
o bloco Civ (s) que corresponde ao controlador PI Civ (s), o qual atua individualmente
nas fases gerando as referências de tensão para o inversor, um indutor, que faz a
conexão com à rede elétrica, e um ganho (Hi ), que é utilizado para amostrar a corrente
através do indutor e fornecer uma realimentação ao sistema da malha relacionado as
correntes de saída (ia,b,c ) do inversor.
51

Figura 23 – Controle das correntes em coordenadas naturais abc.

Fonte – (VILLALVA, 2010)

Neste esquema, cada uma das fases possui controle independente umas das
outras. Existem 3 correntes de referência (iref,a , iref,b e iref,c ) oriundas da malha de
tensão, que são constantemente comparadas com as correntes medidas nos indutores
(ia , ib e ic ). Desta comparação, obtem-se os erros de corrente que são processados
pelos controladores PI. O controlador trabalha com o objetivo de reduzir esses erros,
para isso, gera referências de tensão (ua , ub e uc ) para a modulação do inversor.
A definição de cada uma das equações matemáticas que regem o controle
da malha de corrente será importante para encontrar os melhores parâmetros do
controlador. Por essa razão, todo este ciclo pode ser resumido na Figura 24, que exibe
o esquema de controle de malha fechada utilizando o controlador Civ (s).

Figura 24 – Malha de corrente no sistema estacionário com controlador PI.

Fonte – (AUTOR, 2019)

A função de transferência Ginv (s) representa a tensão de fase na saída do


inversor, enquanto que Giv (s) se refere a planta composta pelo indutor e pelo resistor
52

que estão conectados ao ponto de acoplamento. O inversor ainda fornece uma tensão
para o indutor, cuja corrente é realimentada por um ganho Hi (s).
O compensador Civ (s) é projetado com base nos critérios da largura de banda
e da margem de fase. Normalmente, para que se obtenha um resultado satisfatório, a
largura de banda neste tipo de controle é limitada a 1/10 da frequência de chaveamento
e a margem de fase tem de tomar um valor superior a 45◦ (KAZMIERKOESKI et al.,
2002).
O controlador PI possui ganho infinito apenas de frequência zero e ganho
finito nas demais frequências, o que permite obter erro nulo de regime somente para
variáveis em corrente contínua. Portanto, esta é uma desvantagem do esquema de
controle em coordenadas estacionárias empregando este tipo de compensador (COLIN;
CADDY, 1982). Embora este problema possa ser amenizado com o ajuste do ganho do
compensador, o erro nunca é eliminado. Além da questão do erro de regime, presente
nos controladores do tipo PI, sempre existe a possibilidade de ocorrer a saturação
do integrador do compensador, o que pode deteriorar o desempenho do controle
(VILLALVA, 2010).
Na seção anterior, foi mostrado que as equações do circuito do inversor co-
nectado à rede também podem ser descritas pelas coordenadas αβ. A Figura 25
representa um diagrama de blocos, seguindo a mesma linha observada no sistema da
Figura 23, no entanto, foram incluídos os blocos de transformação entre as coordenadas
abc e αβ.

Figura 25 – Controle das correntes em coordenadas estacionárias αβ com contro-


lador PI.

Fonte – Adaptado de (VILLALVA, 2010)

Como os valores de R e L permanecem os mesmos, os compensadores


53

também são. Como desvantagem, observa-se que as mesmas limitações apresentadas


pelo controlador PI no sistema de coordenadas abc terão o mesmo efeito no sistema
estacionário αβ.

3.5.6.2 Controlador P+RES Uutilizado para Coordenadas Estacionárias

Como pôde ser observado na seção anterior, o controlador PI apresenta


algumas desvantagens em relação a sua operação com as variáveis estacionárias.
Portanto, é necessário encontrar um controlador que atenda de forma satisfatória a
operação das coordenadas abc e αβ. É pensando nesta possibilidade que o controlador
Proporcional Ressonante (P+RES) será avaliado.
A Figura 26 exibe, em diagrama de blocos, o controlador de correntes em
coordenadas estacionárias com os controladores P+RES.

Figura 26 – Controle das correntes em coordenadas estacionárias αβ com contro-


ladores P+RES.

Fonte – Adaptado de (VILLALVA, 2010)

O seu funcionamento é similar ao que já foi apresentado anteriormente na


Figura 25, com exceção, da inclusão dos controladores P+RES. Este tipo de compen-
sador possibilita o erro de regime nulo em coordenadas abc ou αβ, podendo inclusive
ser utilizado em sistemas monofásicos, onde as transformações de coordenadas não
são aplicadas. Uma outra característica deste tipo de controlador é que ele apresenta
uma resposta idêntica ao controlador PI quando trabalha com coordenadas síncronas
(ZMOOD et al., 2001).
A equação do controlador P+RES é dada pela equação (3.35), sendo que o
ganho proporcional Kp é escolhido de forma que o inversor seja estável e tenha boa
resposta dinâmica e o ganho da parte ressonante Ki do regulador P+RES é encontrado
54

de forma a corrigir o erro de amplitude e fase sem comprometer a margem de fase


(ZMOOD; HOLMES, 2003). Além disso, ωo é a frequência de ressonância e ωb é a faixa
de frequência em torno da frequência de ressonância, sendo ela um indicativo que atua
quando há pequenas variações na frequência ωo .

2ki ωb s
Civ,res (s) = kp + (3.35)
s2 + 2ω 2b + ω 2o

3.5.6.3 Projeto da Malha de Corrente

O projeto da malha de corrente pode ser dividido em duas partes, a primeira


consistindo na definição da frequência de cruzamento fc e da Margem de Fase M F e
a segunda na determinação dos ganhos do compensador escolhido, levando em conta
o comportamento do sistema compensado e não compensado.

3.5.6.3.1 Análise do Comportamento da Malha de Corrente para o Sistema não


Compensado

A Figura 24 apresenta um diagrama completo referente ao sistema da malha


de corrente, no entanto, o controlador da ilustração utilizado foi um PI. Por motivos
de eficiência de projeto, o controlador escolhido para compor o sistema da malha de
corrente foi o P+RES, como mostra a Figura 27.

Figura 27 – Malha de corrente no sistema estacionário com controlador P+RES.

Fonte – (AUTOR, 2019)

Para garantir a estabilidade do projeto, deve-se escolher uma frequência de


cruzamento fc para o sistema compensado de forma que se obtenha uma boa velo-
cidade de resposta da malha. Adotando uma frequência de cruzamento fc da malha
compensada como 1/10 da frequência de chaveamento fs , têm-se que (VENABLE,
1983):

fs
fc = (3.36)
10
55

fc = 1 kHz

Além da frequência de cruzamento, um outro parâmetro que deve ser definido


é a margem de fase. De acordo com (KAZMIERKOESKI et al., 2002), sabe-se que
um valor seguro para garantir a estabilidade do sistema deve ser superior a 45◦ . Uma
outra definição que pode ser encontrada em (VENABLE, 1983), em que o autor afirma
que a escolha da margem de fase deve casar uma estabilidade razoável para uma
reposta adequadamente rápida, sendo que um valor seguro pode ser encontrado entre
30◦ e 90◦ onde, 30◦ significa o limite mínimo para a estabilidade e 90◦ indica uma
excelente estabilidade. Com base nesses parâmetros, para o projeto do compensador
de corrente, definiu-se a margem de fase mínima para o sistema compensado como
60◦ .
Da Figura 27, têm-se que a função de transferência de malha aberta é composta
pela equação que relaciona a tensão de fase na saída do inversor e a referência de

entrada, dada pelo ganho Ginv (s) = Vcc / 3, e pela função:

1
Giv (s) = (3.37)
R + sL
Sabendo que a tensão no barramento CC é dada por Vcc = 450 V , com ganho
de realimentação de corrente de Hi = 1/40 e com os valores de R = 0, 3 Ω e L = 2 mH,
encontra-se a seguinte função de transferência de malha aberta F T M Ai (s):

6, 495
F T M Ai (s) = Ginv (s)Giv (s)Hi = (3.38)
0, 002s + 0, 3

O diagrama de bode da Figura 28 revela o comportamento do sistema em


malha aberta. Percebe-se que na frequência de cruzamento, dada em rad/s, destacada
pela seta vermelha, o ganho AV e o atraso de fase P são, respectivamente:

AV = −20log(|F T M Ai (2πfc )) (3.39)

AV = 5, 73 dB

e,

P = 6 (|F T M Ai (j2πfc )) (3.40)

P = −90◦
56

Figura 28 – Diagrama de bode da função de transferência Ginv (s)Giv (s)Hi em


malha aberta.
Bode Diagram
30

25
Não compensado
20

15
Magnitude (dB)

10

-5

-10
0
Phase (deg)

-45

-90
101 102 103 104
Frequency (rad/s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

3.5.6.3.2 Avaliação do Desempenho do Controlador P+RES com diferentes valores


de Kp e Ki

A equação (3.35) representa a forma original do controlador P+RES, no entanto,


a porção da equação que relaciona o ganho ressonante do controlador é dada pela
equação (3.41). Para mensurar o efeito do ganho ressonante Ki , foi necessário
descobrir os dados referentes a frequência de ressonância ωo e a faixa de frequência
em torno da frequência de ressonância ωb .

2ki ωb s
Civ,res (s) = (3.41)
s2 + 2ω 2b + ω 2o

Para este trabalho, deseja-se obter como saída do inversor uma onda senoidal
com um frequência de 60 Hz (componente fundamental), assim o valor de ωo é encon-
trado transformando a componente da frequência fundamental em frequência angular,
resultando em um ωo com um valor aproximado de 377 rad/s.
Como os inversores necessitam de um sinal de sincronismo oriundo da rede
da concessionária, eles trabalham dentro de uma frequência tolerável. Quando a
frequência da rede atua fora deste valor, o inversor deixa de operar em sincronismo até
que esta retorne a um limite que esteja dentro de uma faixa aceitável (RODRIGUES,
2010).
Sabendo que a frequência da rede da concessionária pode variar em torno do
valor nominal, a norma EN50160 (European Standard) estabeleceu um limite de ±1Hz,
57

onde a maioria das cargas funciona satisfatoriamente (AWAD et al., 2005). Neste
trabalho será considerado um desvio de frequência tolerável de ±0, 8Hz, assim, ωb
será igual a aproximadamente 10 rad/s.
Conhecendo os valores de ωo e ωb e substituindo-os na equação (3.41) foi
possível testar uma série de valores para o ganho de ressonância Ki . Para isso, foi
utilizado o programa MATLAB, que permite uma análise através do diagrama de Bode,
para avaliar o efeito da variação dos valores de Ki . A Figura 29 apresenta os resultados
encontrados.

Figura 29 – Diagramas de Bode do compensador P+RES com diferentes valores


de Ki .
Bode Diagram
60

50
ki = 500
40
ki = 300
30
ki = 100
Magnitude (dB)

20 ki = 50
10

-10

-20

-30

-40
90

45
Phase (deg)

-45

-90
101 102 103 104
Frequency (rad/s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Pela análise da Figura 29, percebe-se que a margem de fase foi igual para
todos os valores, no entanto, a margem de ganho apresentou variações, sendo que o
maior valor foi obtido quando Ki = 500.
O ganho Ki é responsável pelas características do pico ressonante na frequên-
cia de ressonância, portanto, o aumento de Ki eleva a magnitude do pico, o que
consequentemente eleva o ganho do controlador na frequência de sincronismo. Um
elevado ganho possibilita pequeno erro de regime no controle das variáveis na frequên-
cia de ressonância, o que implica em uma maior estabilidade por parte do controlador
e consequentemente na resposta do sistema (VILLALVA, 2010).
Quanto ao ajuste de ganho proporcional Kp , deve-se levar em conta o posicio-
namento da frequência de cruzamento de forma a possibilitar a largura de banda e a
margem de fase desejadas. Considerando que Ki = 500 e assumindo valores distintos
para Kp , utilizou-se o diagrama de Bode, na Figura 30, para avaliar o comportamento do
58

controlador em valores distintos de frequência, inclusive na frequência de ressonância.

Figura 30 – Diagramas de bode do compensador P+RES com diferentes valores


de Kp .
Bode Diagram
60

kp = 2
50
kp = 3.5
kp = 6
40
kp = 9
Magnitude (dB)

30

20

10

0
90

45
Phase (deg)

-45

-90
100 101 102 103 104 105
Frequency (rad/s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

A frequência de cruzamento do sistema é definida principalmente, ou exclusiva-


mente, pela parcela proporcional. Portanto, este valor deve assumir um comportamento
de forma a manter a largura de banda e margem de ganho obtida pela parte ressonante.
Além disso, Kp deve possibilitar uma frequência de corte igual em praticamente todo
espectro, com exceção a uma seleta banda próxima à frequência de ressonância
(CASTILLA et al., 2009).
Diante das condições analisadas e por meio da análise do diagrama de Bode
da Figura 30 observou-se que para valores de Kp maiores do que 4 já foi possível
identificar indícios de instabilidade. Assim, para manter este controlador operando
dentro de uma faixa estável é necessário que Kp possua um valor menor do que 4.
A análise individual do P+RES não fornece os valores finais de Kp e Ki para
o sistema compensado, uma vez que a depender da função de malha aberta, estas
medidas podem precisar ser ajustadas. No entanto, esta investigação viabiliza uma
melhor escolha dos ganhos do controlador, uma vez que os efeitos desta seleção já
são conhecidos e isto possibilita a condição de estabilidade do sistema.

3.5.6.3.3 Definição das Formas de Representação do Controlador P+RES

Existe uma forma básica de expressar a função P+RES através da equação


(3.42). Na prática, as equações (3.35) e (3.42) produzem resultados semelhantes, no
entanto a equação (3.42), que desconsidera o efeito ωb , possibilita um pico ressonante
59

de largura maior, tornando o compensador menos sensível as variações de frequência,


apresentando elevado ganho não somente na frequência ressonante ωo , mas também
em frequências próximas (ZMOOD; HOLMES, 2003).

2ki s
Civ,res (s) = kp + (3.42)
s2 + ωo2
Essas razões fazem com que a forma básica seja priorizada em relação a
forma original do controlador P+RES. A Figura 31 apresenta um diagrama de Bode
com um comparativo entre os compensadores P+RES representados pelas equações
(3.35) e (3.42). Os valores de Kp e Ki utilizados foram, respectivamente, 500 e 3, 5.

Figura 31 – Diagramas de bode do compensador P+RES na forma tradicional e do


P+RES na forma básica.
Bode Diagram
200

180
P+RES (Forma Básica)
160
P+RES (Forma Tradicional
140
Magnitude (dB)

120

100

80

60

40

20

0
90

45
Phase (deg)

-45

-90
100 101 102 103 104 105
Frequency (rad/s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Na Figura 31, nota-se que a margem de ganho tende ao infinito para o P+RES
na forma básica, ao contrário do que acontece na forma original. Além disso, deseja-
se que em sistemas que tem como base conversores chaveados, o ganho para as
frequências acima da frequência de ressonância sejam reduzidos, impedindo que ruídos
de alta frequência causados pelo chaveamento sejam propagados para a saída do
sistema (PRESSMAN, 1997). Dessa forma, a melhor opção entre os dois controladores
acaba sendo o P+RES na forma básica.

3.5.6.3.4 Avaliação da Estabilidade do Sistema Compensado com o Controlador


P+RES

A equação (3.38) representa a função de transferência de malha aberta não


compensada, enquanto que a equação (3.42) representa o controlador escolhido
60

para o sistema da malha de corrente. A função de transferência para o sistema


compensado F T SCi (s) é dada pela multiplicação das equações (3.38) e (3.42), onde
os ganhos Kp e Ki do controlador P+RES foram encontrados de acordo com a análise
do comportamento do sistema. Desta forma, para Kp = 3, 5 e Ki = 500, encontra-se a
equação (3.43):

F T SCi (s) = F T M Ai (s)Civ,res (s) (3.43)

F T SCi (s) = (22, 73s2 + 6495s + 3231000)/(0, 02s3 + 0, 3s2 + 2843s + 42640)

Através do diagrama de Bode da Figura 32, que faz um comparativo entre o


sistema sem compensação e compensado pelo controlador P+RES, pode-se avaliar a
condição de estabilidade do sistema. A Margem de Fase (MF) é dada pela diferença
entre o módulo do atraso de fase (P ) na frequência de cruzamento e ângulo de 180◦ ,
portanto, para a frequência de cruzamento definida, fc = 1kHz, e sabendo que P =
−92, 5◦ , tem-se que:

|M F | = |P | − 180◦ (3.44)

M F = 87, 5◦

Com este valor, a M F mostra conformidade com as condições de estabilidade


estabelecidas por (KAZMIERKOESKI et al., 2002) e consequentemente com a condição
desejada neste projeto, dessa forma, pode-se concluir que a malha de corrente é
estável.
61

Figura 32 – Respostas em frequência da malha aberta F T M Ai (s) e da mesma


malha compensada com o compensador P+RES (forma básica).

150

Sistema Compensado
100
Não compensado
Magnitude (dB)

50

0 Bode Diagram

-50

-100
0

-45
Phase (deg)

-90

-135

-180
101 102 103 104
Frequency (rad/s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

3.5.7 Controle da Malha de Tensão


O controlador de corrente, apresentado na seção anterior, permite a injeção de
corrente na rede de acordo com o que está sendo produzido pela etapa de geração, no
entanto, para que o inversor funcione de forma correta é necessário garantir um nível
mínimo de tensão no barramento CC, o que pode ser obtido através da inclusão de um
controlador de tensão que imponha um valor mínimo desejado (FREITAS, 2013).
A Figura 33 apresenta um esquema representativo da malha de tensão.

Figura 33 – Diagrama de blocos da malha de tensão.

Fonte – (AUTOR, 2019)

É possível observar que esta etapa conta com um controlador, um sistema


para gerar as referências da rede, além de um ganho Hv que atua como um medidor
de tensão para amostrar a tensão do barramento CC. Cada um desses estágios será
explorado para garantir que o sistema atue de maneira estável e garanta o correto
funcionamento do inversor.
62

3.5.7.1 Controle da Tensão do Barramento CC

O controlador de tensão, Cv , responsabiliza-se pela regulação das amplitudes


de corrente que serão fornecidas a malha de corrente. Portanto, para que a tensão do
barramento CC possa se manter constante, é essencial que toda a malha do sistema
esteja em equilíbrio e que garanta, na saída do inversor, correntes que estejam em
fase com a tensão da rede.
A injeção de potência na rede é ligada à entrada de energia no barramento,
oriunda do estágio de corrente contínua. Na ausência de injeção de energia no estágio
anterior, o controlador de tensão regula a tensão do barramento com a energia retirada
da rede em quantidade suficiente para suprir as perdas do sistema (VILLALVA, 2010).
Uma outra característica do compensador de tensão diz respeito ao seu com-
portamento, que deve ser lento em comparação à malha de corrente, podendo ser
sintonizado com valor da frequência de cruzamento entre 10 e 20 vezes menor do que
a frequência de cruzamento da malha de interna (FREITAS, 2013). Esta ação fará com
que a tensão do barramento CC se mantenha estável e constante, e dessa forma não
provoque oscilações nas amplitudes das correntes de saída do inversor.
Em algumas situações pode ser difícil projetar um compensador que atenda
o limite de sobretensão do barramento CC e, ao mesmo tempo, possibilite o controle
com oscilações lentas. Portanto, deve-se firmar um compromisso entre a largura de
banda e a quantidade de sobretensão no barramento quando há variações bruscas de
injeção de potência (VILLALVA, 2010).
É por essa razão que a escolha dos parâmetros que compõem o controlador
de tensão são de extrema importância para a estabilidade do inversor. Assim, para que
não ocorram resultados indesejados, o sistema da malha de tensão será modelado e
testado com o compensador.

3.5.7.2 Modelagem da Planta Gcc (s)

Para uma modelagem adequada da planta da malha de tensão, considera-se o


circuito da Figura 34.

Figura 34 – Circuito equivalente para análise da malha de tensão.

Fonte – (AYRES et al., 2015)


63

Neste circuito, o inversor trifásico é substituído por uma fonte de corrente


equivalente onde o balanço entre as cargas da fonte aumenta ou diminui a tensão do
capacitor C, que opera como interface do sistema. A potência de entrada e saída do
conversor e, consequentemente, as correntes de entrada e saída, devem manter o
equilíbrio para que a tensão no capacitor seja constante (AYRES et al., 2015).
Para projetar o controlador, será necessário determinar a função de transfe-
rência que relaciona a variável de controle do balanço de potência, que é o valor da
amplitude da corrente de saída do controlador ui , com a variável que se quer controlar,
neste caso, a tensão do barramento CC.
Portanto, da Figura 34, têm-se que as variáveis iL , v cc e iinv , que são represen-
tadas com a barra para identificar o valor médio da variável dentro de um período de
chaveamento do inversor, são analisadas por meio do balanço de potência do circuito
e podem ser representadas pela equação abaixo:

v cc iinv = 3Vabc,rms Iabc,rms (3.45)

Prosseguindo com a dedução, isolando iinv , tem-se:

3Vabc,rms Iabc,rms
iinv = (3.46)
v cc
Sabe-se que a valor da corrente eficaz, Irms , é igual a corrente média, Im ,

dividida pela 2, portanto, substituindo Irms por Im na equação (3.47), encontra-se:

3Vabc,rms Iabc,m
iinv = √ (3.47)
v cc 2
A equação (3.47) pode ser modificada devido ao fato da tensão do barramento
CC ser praticamente constante, assim:

3Vabc,rms Iabc,m
iinv = √ (3.48)
Vcc 2
Outra definição ainda pode ser encontrada com a análise do circuito da Figura
34. Considerando a corrente de entrada constante, iL =IL :

dv cc
IL − C − iinv = 0 (3.49)
dt

dv cc
IL − C = iinv (3.50)
dt
64

Igualando as equações (3.48) e (3.50), têm-se:

dv cc 3Vabc,rms Iabc,m
IL − C = √ (3.51)
dt Vcc 2

Substituindo v cc = Vcc + v̂cc e Iabc,m = Iabc,m,s + Iˆabc,m na equação 3.51, onde Vcc
e Iabc,m,s são valores constantes de regime permanente e v̂cc e Iˆabc,m são variações
de pequenos sinais em torno do ponto de operação, na equação (3.51) e aplicando a
transformada de Laplace obtem-se a equação de pequenos sinais no domínio s:

3Vabc,rms Iˆabc,m (s)


sC v̂cc (s) = √ (3.52)
Vcc 2
Da equação 3.52, têm-se:

v̂cc (s)
Gcc (s) = (3.53)
Iˆabc,m

3Vabc,rms
Gcc (s) = √ (3.54)
sCVcc 2
Portanto, o esquema que representa o controlador e a planta, além dos ganhos
associados a este sistema pode ser observado na Figura 35.

Figura 35 – Malha de controle equivalente da tensão do barramento CC.

Fonte – (AUTOR, 2019)

3.5.7.3 Sistema de Referências da Rede

Alguns equipamentos de potência, tais como os inversores e os filtros ativos,


precisam operar de forma sincronizada com a rede elétrica. Para detectar a fase da
tensão da rede e permitir a injeção de corrente com o fator de potência desejado,
é necessária a utilização de um circuito de sincronismo. Eles precisa ser capaz de
detectar o conjunto de tensões que formam a componente de sequência positiva
(SANTOS, 2014).
65

Uma das formas de se obter um sinal de sincronismo é por meio da utilização


de um circuito gerador de referências da rede. Ele é responsável por obter os sinais de
sincronismo de cada uma das fases diretamente da rede elétrica e apresentam uma
amplitude de 1 V. Esses sinais são responsáveis por dar forma, fase e a frequência
para cada uma das fases. A Figura 36 apresenta o circuito responsável pela obtenção
dos sinais de sincronismo, onde R = 1 kΩ, Va , Vb e Vc são as tensões da rede e Vref A ,
Vref B e Vref C são as tensões de sincronismo fornecidas (HERTZ, 2010).

Figura 36 – Diagrama de blocos de um circuito de sincronismo.

Fonte – (HERTZ, 2010)

Uma outra forma de se obter um sinal de sincronismo é por meio da utilização


de um sistema PLL (Phase Locked Loop), que fornece o ângulo de sincronismo θ e da
frequência ω empregados na geração das referências de corrente do controlador de
tensão. A Figura 37 ilustra um circuito conhecido como q-PLL, que rejeita altos níveis
de ruídos e de harmônicos presentes na rede elétrica e produz, em sua saída, um sinal
sincronizado em fase e em frequência com a componente fundamental da tensão de
entrada (RODRIGUES, 2014).
66

Figura 37 – Diagrama de blocos de um circuito PLL.

Fonte – (SANTOS, 2014)

Neste circuito, o sinal de saída (I 0 α ), que é uma corrente fictícia utilizada como
variável auxiliar, também é vista como uma referência senoidal. Além disso, a potência
resultante é imaginária (q 0 ) e é comparada com uma referência nula. O sinal resultante
desta operação ainda passa por um controlador PI e por um integrador, fornecendo
assim um angulo de sincronismo, θ, que é utilizado como referência para a geração
dos sinais de referência trifásicos.
A metodologia proposta pelo circuito PLL é utilizada em diversas aplicações,
sendo muito difundida em diversos trabalhos acadêmicos (MARAFÃO et al., 2005)
(KUBO et al., 2006). No entanto, como o foco deste trabalho não é de fazer um estudo
profundo sobre os tipos de PLL e suas aplicações, optou-se pela utilização de um
circuito mais simples. Portanto, o circuito de geração de referências adotado foi àquele
proposto na Figura 36.
Portanto, para a obtenção da corrente de referência que será entregue ao
circuito da malha de corrente, têm-se a operação ilustrada na Figura 38. Nesta
representação, os sinais oriundos do controlador de tensão Ui são multiplicados pelos
sinais senoidais de amplitude unitária oriundos do circuito de referência e dessa forma
são obtidas as correntes de referência iref,abc .
67

Figura 38 – Controlador da tensão do barramento CC com o circuito de sincro-


nismo.

Fonte – Adaptado de (VILLALVA, 2010)

3.5.7.4 Determinação dos Parâmetros do Controlador de Tensão e Análise de Estabi-


lidade

Com a dedução da equação (3.54), que se refere ao sistema a ser controlado


com o objetivo de regular a tensão do barramento CC, foi possível encontrar valores
para o controlador de forma a manter a estabilidade do sistema e fornecer as referências
para as correntes. Como já foi definido na Tabela 1, a tensão eficaz Vabc,rms = 220 V ,
a tensão do barramento CC (Vcc ) é igual a 450 V e a capacitor do barramento possui
uma capacitância de C = 2, 47 mF . Substituindo esses valores na equação (3.54),
encontra-se:

660
Gcc (s) = (3.55)
1, 571s

Analisando a Figura 35, que mostra a malha de controle equivalente da tensão


do barramento CC, percebe-se que além do bloco Gcc , que representa a relação entre a
tensão de entrada e saída do inversor, também há um ganho Hv = 1/600 que realimenta
a tensão de saída para que esta possa operar no circuito de controle. Através da
multiplicação destes dois termos, encontra-se a função de transferência de malha
aberta (F T M Av (s)), dada por:

1, 1
F T M Av (s) = Hv Gcc (s) = (3.56)
1, 571s

Para o projeto do compensador de tensão, é preciso garantir o desacoplamento


entre a malha de tensão e a malha de corrente, portanto a frequência de cruzamento
da malha de tensão deve ser entre 10 e 20 vezes menor do que a frequência de
68

cruzamento da malha de corrente (FREITAS, 2013). Dessa forma, sabendo que a


frequência de cruzamento fc da malha de corrente foi definida em 1 kHz, têm-se que:

fc
fcv = (3.57)
20

fcv = 50 Hz

No entanto, também há uma outra recomendação quanto a frequência de


cruzamento da malha de tensão que deve ser menor do que metade da frequência da
rede, que é de 60 Hz (FREITAS, 2013). Portanto, a frequência de cruzamento definida
para este trabalho foi de 25 Hz.
O diagrama de Bode representado na Figura 39 mostra o comportamento da
equação (3.56) para uma determinada faixa de frequências. A linha tracejada vermelha
sobre a frequência de cruzamento escolhida revela que o sistema não compensado
possui um ganho AV e um atraso de fase P iguais a:

AV = −20log(|F T M Av (2πfc )) (3.58)

AV = 47, 02 dB

e,

P = 6 (|F T M AV (j2πfc )) (3.59)

P = −90◦

Além disso, utilizando a mesma Marge de Fase utilizada para a malha de


corrente, que foi igual a 60◦ , pode-se obter o avanço de fase requerido, que é dado pela
equação (3.60).

α = M F − P − 90◦ (3.60)

α = 60◦

O avanço de fase determina o tipo do controlador a ser utilizado, assim, para


0 < α≤90◦ , faz-se necessário um controlador PI (OGATA, 2011). Portanto, para a malha
de corrente será utilizado um controlador deste tipo.
69

Figura 39 – Diagrama de bode da função de transferência de malha aberta


F T M Av .

Bode Diagram
0

-10 Sistema não Compensado


-20

-30
Magnitude (dB)

-40

-50

-60

-70

-80

-90

-100
-89

-89.5
Phase (deg)

-90

-90.5

-91
100 101 102 103 104
Frequency (rad/s)

Fonte – (AUTOR, 2009)

Como o controlador de tensão do barramento CC atua diretamente nas ampli-


tudes das correntes do inversor, a exigência é que o controle possua uma largura de
banda estreita a fim de evitar flutuações nas amplitudes das correntes injetadas na rede.
A ideia do projeto do controlador de tensão é obter uma frequência de cruzamento
pequena, determinada pelo ganho proporcional, e escolher um ganho integral que
possibilite a margem de fase adequada para que o controle não apresente overshoot
excessivo.
No entanto, pela necessidade de obter um controle lento, por vezes é necessá-
rio estabelecer uma relação entre a largura de banda e o overshoot. Dessa forma, com
a eliminação do overshoot, se faz necessário um aumento do ganho proporcional, o
que faz com que haja um aumento da largura de banda (VILLALVA, 2010).
A equação (3.56) fornece as informações para o sistema sem compensação.
Para a análise em malha fechada, a equação (3.56) foi multiplicada pela equação (3.61),
que representa um controlador PI. Assim como foi feito para o controlador da malha de
corrente, foram realizados vários testes com os valores de Kp e Ki de forma a observar
o comportamento do sistema nas mais variadas situações. Assim, foram definidos os
valores do ganho proporcional Kp e integral Ki como 5 e 500, respectivamente.

500
Cv (s) = 5 + (3.61)
s
A Figura 40 apresenta o diagrama de Bode para o sistema compensado. A
linha tracejada de cor vermelha está sobre a frequência de corte inicialmente definida.
70

Neste ponto, nota-se que o atraso de fase P é igual a −123◦ . Da mesma maneira como
foi feito na equação (3.44), têm-se que a margem de fase é dada por:

M F = 57◦

Este valor é muito próximo dos 60◦ inicialmente definidos, portanto este sistema
é estável. De posse dos valores dos ganhos dos controladores de tensão e corrente e,
além disso, dos dispositivos passivos que compõem a estrutura do inversor, é possível
fazer a simulação computacional para avaliar eficiência do sistema proposto.

Figura 40 – Comparativo entre o sistema compensado e não compensado para a


malha de tensão.
Bode Diagram
60

Sistema Compensado
40

20
Magnitude (dB)

-20

-40

-60

-90
Phase (deg)

-135

-180
100 101 102 103 104
Frequency (rad/s)

Fonte – (AUTOR, 2019)


71

4 SIMULAÇÃO COMPUTACIONAL DO
SISTEMA FOTOVOLTAICO CONEC-
TADO À REDE

4.1 Considerações Iniciais


Ao longo dos capítulos anteriores foram apresentadas várias informações re-
ferentes ao sistema proposto, incluindo as topologias mais comumente utilizadas, as
metodologias de controle mais comuns e o dimensionamento de alguns dos compo-
nentes dos sistemas fotovoltaicos de um estágio conectados à rede elétrica. Essas
informações trouxeram uma base para a implementação computacional deste mesmo
sistema, podendo assim validar todo o estudo realizado.
Este capítulo tem como objetivo apresentar a simulação computacional de
um inversor trifásico interligado ao sistema elétrico, com configuração VSI, que utiliza
uma metodologia de controle baseada em coordenadas αβ e que possui um gerador
fotovoltaico em sua alimentação.
O software utilizado na simulação foi o PSIM, uma vez que esta ferramenta
possui uma interface dinâmica e permite a obtenção de resultados de maneira rápida. O
circuito da Figura 41 é composto pelo gerador fotovoltaica, pelo capacitor do barramento
CC, pelo inversor trifásico, além do filtro e a rede elétrica.

Figura 41 – Sistema fotovoltaico simulado no software PSIM.

Fonte – (PSIM, 2019)


72

Uma das características do PSIM é a possibilidade utilizar circuitos conca-


tenados, permitindo que circuitos isolados possam ser tratados como subcircuitos
integrantes do sistema principal. Isto pode ser observado na Figura 41 onde o circuito
do inversor trifásico, do filtro e da rede estão representados por blocos inseridos no
sistema completo.
Esta foi a metodologia computacional utilizada para obtenção do sistema
proposto. Ao longo deste capítulo, serão apresentados outros dados referentes a este
sistema, incluindo a análise das tensões e correntes injetadas no Ponto de Acoplamento
Comum (PAC).

4.2 Simulação da Gerador Fotovoltaica


A etapa da geração fotovoltaica, representada na Figura 41, é composta por
dois blocos, paralelos entre si, com 12 módulos ligados em série, em uma configuração
conhecida como conjunto 12 x 2. Embora essas informações já tenham sido abordadas
em capítulos anteriores deste trabalho, convém notar que cada um desses módulos
possui características específicas que definem a sua operação.
A Tabela 2 apresentou as principais configurações de um painél solar, incluindo
a tensão e a corrente em condição de máxima potência e de circuito aberto. Além disso,
também foram exibidos dados relacionados a eficiência do módulo e dos coeficientes
de temperatura. Conhecendo esses valores, tornou-se viável uma implementação com-
putacional, de forma que a atuação destes dispositivos apresentassem características
muito próximas do seu funcionamento real.
Uma das maneiras de verificar o comportamento de um dispositivo fotovoltaico
é por meio da análise da curva P -V , que ilustra o comportamento da potência em
função da tensão. A Figura 42 ilustra o desempenho de um único módulo fotovoltaico
com base nos dados da Tabela 2, enquanto que a Figura 43 mostra a curva P -V para
o arranjo fotovoltaico ilustrado na Figura 41.
É possível Observar na Figura 42, que no ponto de máxima potência Pmax ,
aproximadamente 330 W , a tensão de operação é de 37, 2 V . A partir desse ponto, o
valor da potência decai até chegar a zero, quando o módulo opera com a tensão de
circuito aberto (45, 6 V ), que é o limite máximo de operação da placa. De forma similar,
a Figura 43 ilustra a curva P -V , no entanto, o comportamento da curva se baseia na
corrente fornecida por todo o arranjo fotovoltaico visto na Figura 41, que possui 24
módulos e fornece uma potência máxima de aproximadamente 8 kW .
A tensão de entrada do inversor corresponde a soma dos valores individuais
de tensão dos 12 módulos que estão em série, uma vez que, por razões definidas na
etapa do projeto do inversor trifásico, a tensão de entrada deve se limitar a um valor
73

Figura 42 – Característica P -V de um único módulo fotovoltaico.

350

300

250
Potência (W)

200

150

100

50

0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Figura 43 – Característica P -V do arranjo fotovoltaico na configuração 12 x 2.

9000

8000

7000

6000
Potência (W)

5000

4000

3000

2000

1000

0
0 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600
Tensão (V)

Fonte – (AUTOR, 2019)

próximo de 450 V . Portanto, a curva P -V se comporta exatamente como previsto, já


que atinge o ponto de máxima potência quando a tensão é de aproximadamente 446, 4
V.
De posse das informações sobre o comportamento do arranjo fotovoltaico
e sobre a potência do sistema, utilizou-se o software PSIM para coletar os dados
referentes à simulação. Esta ferramenta computacional possui um recurso conhecido
como Piecewise Linear, que permite ao usuário inserir seguimentos lineares com
74

valores especificados em um determinado intervalo de tempo, possibilitando a inserção


de dados que podem ser tratados como a irradiância solar sobre um módulo fotovoltaico.
Para verificar o comportamento do sistema proposto, são consideradas varia-
ções na irradiância e, consequentemente, na potência gerada pelos módulos, como de
fato ocorre durante um dia de sol. A simulação foi realizada tomando um período de
6,5 segundos e a Figura 44 ilustra o desempenho da potência do sistema fotovoltaico
em função do tempo.

Figura 44 – Perfil da potência em função do tempo.

10000

9000

8000

7000

6000
Potência (W)

5000

4000

3000

2000

1000

0
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Analisando a Figura 44, é possível notar que existem quatro valores de potência
que se mantém constantes durante um determinado período, sendo fornecida pelo
gerador fotovoltaico ao inversor trifásico, são elas: 6 kW , 8 kW , 3, 95 kW e 1, 5 kW .
A variação desses valores é diretamente proporcional a irradiância solar, que na
simulação, assumiu quatro valores diferentes, a saber: 200 W/m2 , 500 W/m2 , 750
W/m2 e 1000 W/m2 . O gráfico da Figura 44 também possui períodos de transição entre
os valores de potência registrados, por exemplo, entre 1,0 e 1,5 segundos e entre 3,5 e
4,0 segundos, no entanto a análise do sistema fotovoltaico conectado à rede levou em
consideração apenas os períodos em que a potência possui um valor constante.
De forma complementar, a Figura 45 ilustra a corrente oriunda do arranjo
fotovoltaico que é injetada no inversor. Seguindo o mesmo comportamento observado
no gráfico da Figura 44, nota-se que, a medida que a irradiância solar aumenta, a
corrente também aumenta. Da mesma forma, quando a irradiância passa a ter um um
valor inferior, decaindo de 1000 W/m2 para 500 W/m2 , a corrente diminui.
75

Figura 45 – Perfil da corrente em função do tempo.

20

15

10
Corrente (A)

-5
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (s)
Fonte – (AUTOR, 2019)

4.3 Análise da Simulação do Inversor Trifásico Conectado


à Rede
Um dos indicadores que determinam a estabilidade de um conversor CC-
CA conectado à rede é a tensão em seu barramento CC. A Tabela 1 expôs alguns
parâmetros relacionados ao projeto do inversor, dentre as especificações apresentadas,
a tensão Vcc foi definida em 450 V , uma vez que este valor atende aos critérios mínimos
para garantir o fluxo unidirecional da potência. Sendo assim, é muito importante que o
controlador da malha de tensão atue no sentido de manter a tensão do barramento CC
constante, mesmo quando não houver geração.
A Figura 46 ilustra o comportamento da tensão no barramento CC durante o
período de simulação. É possível notar que a tensão se mantém constante em prati-
camente toda a simulação, mesmo nos momentos em que a geração solar apresenta
variações na potência. Além disso, observa-se que o sistema de controle atua de forma
que o regime permanente seja alcançado no menor tempo possível.
Um outro aspecto importante sobre a utilização do inversor se relaciona ao
fato do seu funcionamento estar condicionado à existência de um sinal de sincronismo
oriundo da rede elétrica. Assim, para permitir que esse dispositivo injete corrente na
rede com um fator de potência desejado, é necessário utilizar um circuito de sincronismo.
A Figura 47 ilustra os sinais de sincronismo obtidos pelo circuito. Esses sinais são
responsáveis por formar um sinal de referência, que esteja em fase com a tensão
da rede e que opere com a mesma frequência (HERTZ, 2010). Assim, este é um
76

parâmetro muito importante para que o controlador da malha de corrente possa atuar
no sentido de anular o desvio existente entre a corrente injetada na rede e a corrente
de referência.

Figura 46 – Tensão no barramento CC.

600

500

400
Tensão (s)

300

200

100

0
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Figura 47 – Sinais de tensão obtidos de um circuito de sincronismo.

1.5

0.5
Tensão (s)

-0.5

-1

-1.5
0.5 0.525 0.55
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)


77

4.3.1 Análise das Tensões e Correntes Injetadas na Rede sem a Utili-


zação do Filtro LCL
A análise da tensão no Ponto de Acoplamento Comum (PAC) e das correntes
injetadas na rede elétrica pelo inversor são um parâmetro muito importante para avaliar
a eficiência do sistema proposto. Portanto, toda a metodologia de controle empregada
tem como objetivo a obtenção de formas de onda que atendam os parâmetros normati-
vos referentes a qualidade da energia. A Figura 48 apresenta as tensões trifásicas no
PAC.
Figura 48 – Tensões no PAC sem filtro LCL.

500

400

300

200

100
Tensão (V)

-100

-200

-300

-400

-500
2.5 2.505 2.51 2.515 2.52 2.525 2.53 2.535 2.54 2.545 2.55
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

A partir da figura anterior, percebe-se que as tensões no PAC apresentaram


um valor eficaz de 248, 17 V e uma DT Tv de 22, 33%. Esta distorção é muito superior
àquela estabelecida pelo módulo 8 do PRODIST, que admite uma distorção de tensão
de até 10%, e pela norma IEEE std. 519-1992, que estabelece um valor máximo de
distorção de 5%, tanto para as tensões quanto para as correntes.
Como já especificado em seções anteriores, este projeto tem como objetivo a
avaliação do comportamento do inversor quando submetido às três potências distintas.
No entanto, as tensões do PAC só serão avaliadas em um único intervalo, uma vez que
durante a análise ficou evidente que, independentemente da potência fornecida pelos
módulos fotovoltaicos, a distorção harmônica e a amplitude da tensão eficaz possuem
praticamente os mesmos valores.
Esta afirmação não é válida para as correntes injetadas no PAC, uma vez que
elas sofrem variações devido aos valores distintos de potência. As Figuras 49, 50, 51
e 52 apresentam as corrente medidas em quatro intervalos distintos: de 0, 4 a 0, 45
78

segundos, com potência de 6 kW , de 2, 5 a 2, 55 segundos, com potência de 8 kW , de


4, 5 a 4, 55 segundos, com potência de 3, 95 kW e de 6 a 6, 05 segundos, com potência
de 1, 5 kW .

Figura 49 – Correntes no PAC para uma potência de 6 kW e sem filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
0.4 0.405 0.41 0.415 0.42 0.425 0.43 0.435 0.44 0.445 0.45
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Figura 50 – Correntes no PAC para uma potência de 8 kW e sem filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
2.5 2.505 2.51 2.515 2.52 2.525 2.53 2.535 2.54 2.545 2.55
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)


79

Figura 51 – Correntes no PAC para uma potência de 3,95 kW e sem filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
4.5 4.505 4.51 4.515 4.52 4.525 4.53 4.535 4.54 4.545 4.55
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Figura 52 – Correntes no PAC para uma potência de 1,5 kW e sem filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
6 6.005 6.01 6.015 6.02 6.025 6.03 6.035 6.04 6.045 6.05
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

As correntes apresentadas na Figura 49 possuem uma amplitude de 18, 93


A e uma DT Ti de 5, 98%, já as correntes da Figura 50 dispõem de uma amplitude
de 24, 41 A e uma DT Ti de 5, 36%. Para potências muito abaixo da potência nominal
de operação, a distorção harmônica é ainda maior, assim as correntes da Figura 51
apresentam uma amplitude de 13 A e uma DT Ti de 8, 25% e as correntes da Figura 52
exibem uma amplitude de 5, 94 A e uma DT Ti igual 22, 75%.
Nenhuma das distorções harmônicas totais de corrente apresentadas pelas
80

Figuras 49, 50, 51 e 52 estão de acordo com os valores estabelecidos pela norma IEEE
std. 519-1992. No entanto, neste análise não foi incluído o filtro LCL, que tem a função
de atenuar os harmônicos injetados na rede, portanto, espera-se que a inclusão do
filtro forneça resultados melhores, tanto para as tensões quanto para as correntes.

4.3.2 Análise das Tensões e Correntes Injetadas na Rede com a Utili-


zação do Filtro LCL
A simulação em questão consiste na mesma metodologia utilizada no tópico
anterior, no entanto a análise do sistema levou em consideração a inserção do filtro
LCL para minimizar o conteúdo harmônico no PAC. Assim, as tensões de saída do
inversor podem ser analisadas por meio da Figura 53.
O valor eficaz das tensões observadas na Figura 53 é igual a 228, 7 V enquanto
que a DT Tv apresentou uma redução considerável se comparada com o valor encon-
trado pela análise do circuito do inversor sem o filtro LCL, reduzindo de 22, 33% para
1, 49%

Figura 53 – Tensões no PAC com filtro LCL.

500

400

300

200

100
Tensão (V)

-100

-200

-300

-400

-500
2.5 2.505 2.51 2.515 2.52 2.525 2.53 2.535 2.54 2.545 2.55
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

No que diz respeito as correntes, as Figuras 54, 55, 56 e 57 apresentam o


desempenho das correntes do inversor para diferentes valores de potência de entrada,
a saber: 6 kW , 8 kW , 3, 95 kW e 1, 5 kW . Da Figura 54, têm-se que o valor da corrente
eficaz medido foi de 18, 40 A e a DT Ti igual 4, 33%. Com relação a Figura 55, a corrente
eficaz medida foi de 23, 98 A e a DT Ti igual a 4, 31% A. A Figura 56 apresentou uma
81

corrente eficaz de 12, 81 A e a DT Ti igual a 6, 72%. Por fim, a Figura 57 teve um módulo
de corrente igual a 5, 39 A e a DT Ti igual 15, 29%.
Analisando o valor da distorção harmônica total de corrente das Figuras 54,
55, 56 e 57 percebe-se que apenas duas delas se enquadram dentro das exigências
normativas do IEEE std. 519-1992, uma vez que apenas as correntes das Figuras 54 e
55 apresentam distorção harmônica abaixo dos 5% exigidos. No entanto, nota-se que,
embora as outras duas correntes não tenham atendido a condição estabelecida, houve
uma redução significativa na distorção harmônica de ambas as correntes.
Fica claro, portanto, que o filtro LCL altera sensivelmente o comportamento
do sistema original, fazendo com que tanto a tensão quanto a corrente possuam uma
distorção harmônica inferior.

Figura 54 – Correntes no PAC para uma potência de 6 kW e com filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
0.4 0.405 0.41 0.415 0.42 0.425 0.43 0.435 0.44 0.445 0.45
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)


82

Figura 55 – Correntes no PAC para uma potência de 8 kW e com filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
2.5 2.505 2.51 2.515 2.52 2.525 2.53 2.535 2.54 2.545 2.55
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Figura 56 – Correntes no PAC para uma potência de 3,95 kW e com filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
4.5 4.505 4.51 4.515 4.52 4.525 4.53 4.535 4.54 4.545 4.55
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)


83

Figura 57 – Correntes no PAC para uma potência de 1,5 kW e com filtro LCL.

50

40

30

20

10
Corrente (A)

-10

-20

-30

-40

-50
6 6.005 6.01 6.015 6.02 6.025 6.03 6.035 6.04 6.045 6.05
Tempo(s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Um outro parâmetro importante a ser verificado diz respeito ao Fator de Potên-


cia (FP) medido entre a tensão e a corrente do inversor no PAC. A Figura 58 ilustra
a tensão e a corrente em um mesmo gráfico, sendo que a tensão foi multiplicada por
uma constante com valor menor do que 1 para que a sua amplitude tivesse um valor
menor e a visualização entre as duas variáveis fosse facilitada.

Figura 58 – Fator de potência entre a tensão e a corrente no PAC.

40
Corrente da fase A
Tensão da fase A
30

20

10

-10

-20

-30

-40
0.4 0.405 0.41 0.415 0.42 0.425 0.43 0.435 0.44 0.445 0.45
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)

Através da análise da figura anterior, percebe-se que a tensão e a corrente


84

estão, praticamente, em fase, e possuem um fator de potência igual a 0, 997. Este é


um indicativo de que o inversor "enxerga" a rede elétrica como uma carga totalmente
resistiva. Assim, uma vez que o efeito capacitivo e o efeito indutivo da rede são
praticamente nulos, a potência entregue à rede pelo inversor é muito próxima do valor
de potência de entrada fornecida pelo gerador fotovoltaico, comprovando que o sistema
proposto possui uma boa eficiência.
A Figura 59 mostra o valor das potências de entrada e de saída do sistema.
Percebe-se que quando a potência de entrada atingiu o maior valor (P in = 8, 04 kW ),
a potência de saída foi igual 7, 81 kW . Portanto, há um aproveitamento de 97, 13% da
potência de entrada. Essa tendência se mantêm, mesmo para valores menores de
potência.

Figura 59 – Potência de entrada X potência de saída do sistema proposto.

9000

Potência de Entrada
8000 Potência de Saída

7000

6000
Potência (W)

5000

4000

3000

2000

1000
1 2 3 4 5 6
Tempo (s)

Fonte – (AUTOR, 2019)


85

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho consistiu no estudo e na implementação computacional de um


inversor fonte de tensão (VSI) e do seu sistema de controle para fazer a conexão entre
painéis fotovoltaicos e a rede elétrica.
Em relação a análise das tensões e das corrente injetadas no PAC, foram
avaliados os resultados em um sistema sem e com filtro LCL. As tensões apresen-
taram uma distorção harmônica muito grande no sistemas sem filtro, com um valor
aproximado de 22, 33%. Com a inclusão do filtro LCL no sistema fotovoltaico, o valor da
distorção passou a ser de 1, 49%, mostrando que a atuação do dispositivo passivo foi
de fundamental importância para a redução harmônica.
As correntes do inversor foram medidas em quatro momentos distintos, sendo
que essas variações estão associadas as mudanças no valor da potência de entrada
do inversor, assim, as correntes apresentaram amplitudes diferentes em cada uma das
medidas. Com relação as distorções harmônicas, para o sistema sem filtro, obteve-se
valores de 5, 98%, 5, 36%, 8, 25% e 22, 75% para as respectivas potências, 6 kW , 8 kW ,
3, 95 kW e 1, 5 kW .
Convém notar que a utilização desses valores de potência abaixo da potência
nominal do inversor tiveram como objetivo a verificação do comportamento do disposi-
tivo para situações diversas. No entanto, na prática, os inversores de potência tem um
limite de tensão de entrada e consequentemente, uma potência mínima de operação,
de forma que para um valor abaixo dessa tensão não há fluxo de potência. Portanto,
para a potência de entrada de 1, 5 kW é natural que a distorção harmônica seja muito
maior, uma vez que este valor foge da região de operação natural do inversor.
Com a inclusão do filtro LCL no sistema do inversor conectado à rede, constatou-
se uma redução no valor das distorções harmônicas de corrente que passaram a ser,
respectivamente, 4, 33%, 4, 31%, 6, 72% e 15, 26% para os mesmos valores de potência
utilizados como referência no sistema sem filtro.
Como as distorções harmônicas foram reduzidas, tanto para a tensão quanto
para a corrente, nota-se que o filtro LCL atua de forma eficaz, cumprindo assim o
propósito para o qual foi projetado. Além disso, estas reduções representaram uma
adequação de duas das potências testadas às normas do IEEE st. 519-1992, uma vez
que se mantiveram abaixo dos 5%, quanto aos outros valores, embora não tenham
atingido a condição, apresentaram uma redução significativa mostrando que um ajuste
nos parâmetros de controle pode englobar outras faixas faixas de frequência.
86

De um modo geral, conclui-se que a metodologia utilizada para o sistema con-


trole, a escolha da topologia e os elementos passivos que foram adotados contribuem
de forma harmoniosa para o funcionamento do sistema, validando assim o trabalho
proposto.
87

REFERÊNCIAS

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<http://www.3tier.com/static/ttcms/us/images/support/maps>. Acesso em: 08
Jan. 2019. Citado na página 25.

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de 300 megawatts no Brasil em 2019. 2019. Disponí-
vel em: <http://www.absolar.org.br/noticia/noticias-externas/
energia-solar-fotovoltaica-ultrapassara-a-marca-de-3000-megawatts-no-brasil-em-2019.
html>. Acesso em: 08 Jan. 2019. Citado 2 vezes nas páginas 22 e 24.

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- prodist, módulo 3. Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, 2012. Citado
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. Resolução normativa n 482, de 17 de abril de 2012. 2012. Citado 2 vezes nas


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. Procedimentos de distribuição de energia elétrica no sistema elétrico nacional -


prodist, módulo 8. Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, 2018. Citado na
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Rede para Aplicação em Sistemas Fotovoltaicos de Geração Distribuída. 2015.
Citado 3 vezes nas páginas 41, 62 e 63.

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connected photovoltaic inverters with damped resonant harmonic compensa-
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//www.eia.gov/beta/international/data/browser>. Acesso em: 08 Jan. 2019. Citado 2
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