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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

RENATA SUELLEN ANJOS DA SILVA

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELA


FABRICAÇÃO E PELO DESCARTE DE MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

JUAZEIRO - BA
2023
RENATA SUELLEN ANJOS DA SILVA

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELA


FABRICAÇÃO E PELO DESCARTE DE MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Trabalho apresentado a Universidade Federal do


Vale do São Francisco – UNIVASF, Campus
Juazeiro-BA, como requisito parcial para obtenção
do título de Engenheira Eletricista.

Orientador: Prof. Dr. Manoel de Oliveira Santos


Sobrinho

JUAZEIRO - BA
Orientador:
2023 Prof.______________________

Co-orientador: Prof.____________________
Silva, Renata Suellen Anjos da.
S586a Avaliação de impactos ambientais gerados pela fabricação e pelo descarte de
módulos fotovoltaicos / Renata Suellen Anjos da Silva. – Juazeiro - BA, 2023.
xvi, 89 f.: il.; 29 cm.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Elétrica) -


Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Juazeiro, 2023.

Orientador: Prof. Dr. Manoel de Oliveira Santos Sobrinho.

1. Sistema solar. 2. Módulos fotovoltaicos. 3. Energia limpa. I. Título II. Santos


Sobrinho, Manoel de Oliveira. III. Universidade Federal do Vale do São Francisco.

CDD 621.473

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Biblioteca SIBI/UNIVASF


Bibliotecário: Márcio Pataro. CRB - 5 / 1369.
FUNDAÇÃ0 UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO UNIVASF
cOLEGIAD0 DO CURSO DE ENGENHARIA ELETRICA

PARECER DA BANCA EXAMINADORADE DEFESA DE TRABALHODE


CONCIUSÄO DE CURSODE

Renata Suellen Anjos da Silva

A Banca Examinadora composta por: Prof. Dr. Manoel de Oliveira Santos


Sobrinho (Orientador), Prof. Dr. Adeon Cecilio Pinto e pelo Prof. Dr.
Eubis
Pereira
com nota 8 S
Machado consideram a candidata
apAGVada

Juazeiro, 09/02/2023

Prof. Dr. Manoel de Oliveira Santos Sobrinho


(Orientador)

Prof Dr. Adeon C'ecilio Pinto

M ach
Prof. Dr. Eubis Pereira Machado
Dedico este trabalho à minha família, em especial
ao meu esposo, que sempre foi meu maior
incentivador, aos meus pais, que são meus maiores
exemplos de força e perseverança, e a minha avó
Maria Vilani, que já virou uma estrela, e sempre foi
exemplo de superação e amor.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus, que sempre me deu fé e força em todos os


momentos da minha vida, principalmente nos mais difíceis. E também, por trazer
tantas bênçãos na minha vida nos últimos anos.
À minha família, principalmente ao meu esposo, Rodrigo, à minha mãe, Silvandira, ao
meu pai, Renaldo, que são as pessoas que mais me incentivaram durante minha
trajetória acadêmica e nos outros campos da minha vida. E um agradecimento
especial para minha avó, Maria Vilani, que antes de falecer me pediu para continuar
estudando e me formar um dia. Agradeço a todos vocês, aos que estão presentes e a
minha avó que já se foi, por cada palavra de incentivo, pois foi o que não me deixou
desistir e o que me deu força para conquistar tudo que tenho hoje.
Ao Prof. Dr. Manoel de Oliveira Santos Sobrinho, pela excelente orientação e por se
dedicar ao máximo por nós, alunos, e ser um excelente professor.
Aos amigos que fiz ao longo da vida acadêmica, que estiveram presentes nos
momentos felizes, tristes e difíceis ao longo desse período.
"Nós somos aquilo que fazemos repetidamente. Excelência, então, não é um modo
de agir, mas um hábito". - Aristóteles
RESUMO

A avaliação dos impactos ambientais gerados pela fabricação e pelo descarte dos
módulos fotovoltaicos é um tema pouco estudado, apesar de relevante. A área da
energia solar está crescendo exponencialmente e, consequentemente, a fabricação
dos módulos fotovoltaicos, sendo assim a quantidade de resíduos que serão gerados
deve aumentar na mesma proporção. A importância do tema abordado deve-se ao
fato de que será necessário ter conhecimento da forma correta de fabricar e descartar
os módulos de maneira que cause o menor impacto ambiental possível. No estudo,
são apresentados dados atualizados referentes a potência instalada de energia solar
e uma previsão de quantas toneladas de resíduos serão descartados em 2050.
Também é apresentado como os módulos fotovoltaicos são fabricados e quais as
formas de descarte, com o objetivo de avaliar os impactos ambientais causados por
esses processos. Além disso, é exposto como os módulos podem ser reciclados e
quais as políticas de reciclagem que estão sendo utilizadas para diminuir os impactos
ambientais. Através do método de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), é possível fazer
um estudo para avaliar quais os impactos ambientais que podem ser causados. Sendo
concluído que a fabricação dos módulos fotovoltaicos causa maiores impactos
ambientais quando comparada ao descarte dos mesmos. Quando comparados os
métodos de descarte dos módulos, a reciclagem, mesmo causando grandes impactos,
é a melhor solução, pois traz muitos benefícios para o meio ambiente, podendo
devolver os materiais recuperados à cadeia de produção.
Palavras-chave: Módulos fotovoltaicos. Fabricação. Descarte. Impactos ambientais.
Reciclagem.
ABSTRACT

The assessment of the environmental impacts generated by the manufacture and


disposal of photovoltaic modules is a subject that has been little studied, although
relevant. The area of solar energy is growing exponentially and, consequently, the
manufacture of photovoltaic modules, so the amount of waste that will be generated
should increase in the same proportion. The importance of the subject is easy because
it will be necessary to know the correct way to manufacture and dispose of the modules
in a way that causes the least possible environmental impact. The study, presents
updated data regarding the electricity capacity of solar energy and a forecast of how
many tons of waste will be discarded in 2050. It also presents how photovoltaic
modules are manufactured and what are the ways of disposal, to evaluate the
environmental impacts caused by these processes. In addition, it is exposed to how
the modules can be recycled and which recycling policies are being used to reduce
environmental impacts. Through the Life Cycle Assessment (LCA) method, it is
possible to carry out a study to assess the environmental impacts that can be caused.
It concluded that the manufacture of photovoltaic modules causes greater
environmental impacts when they occur at their disposal. When compared to module
disposal methods, recycling, even causing major impacts, is the best solution, as it
brings many benefits to the environment, allowing the return of recovered materials to
the production chain.
Key-words: Photovoltaic modules. Manufacture. Disposal. Environmental impacts.
Recycling.
LISTAS DE FIGURAS

Figura 1 - Geração de energia solar fotovoltaica no cenário entre 2010-2021 19

Figura 2 - Capacidade de energia solar instalada no mundo entre 2011-2021 20

Figura 3 - Matriz elétrica brasileira 2023 21

Figura 4 - Evolução da energia solar no Brasil entre os anos 2012 e 2022 22

Figura 5 - Projeção da capacidade de energia fotovoltaica instalada no 23


mundo até 2050
Figura 6 - Célula fotovoltaica de silício cristalino 24

Figura 7 - Esquema dos componentes de um módulo fotovoltaico com 25


células de silício cristalino

Figura 8 - Tipos comuns de configuração de backsheet 26

Figura 9 - Produção da célula fotovoltaica de silício monocristalino 28

Figura 10 - Produção da célula fotovoltaica de silício policristalino 29

Figura 11 - Passo a passo do processo de fabricação do módulo fotovoltaico 30

Figura 12 - Estrutura de bandas de energia 32

Figura 13 - Níveis de energia em materiais tipo p e tipo n 34

Figura 14 - Representação do funcionamento de uma célula fotovoltaica 35

Figura 15 - Abordagem para quantificar os resíduos de módulos fotovoltaicos 37


até 2050

Figura 16 - Modelo de resíduos de módulos fotovoltaicos em duas etapas 38


Figura 17 - Resultado acumulado do resíduo anual provenientes dos painéis 38
fotovoltaicos até 2050

Figura 18 - Volumes acumulados de resíduos dos cinco principais países para 39


painéis fotovoltaicos em fim de vida em 2050

Figura 19 - Sugestões de destinação para os componentes de um módulo 41


fotovoltaico

Figura 20 - Fases de uma ACV 48

Figura 21 - Representação das etapas de estudo da ACV 50

Figura 22 - Inventário geral do ciclo de vida do módulo fotovoltaico 52

Figura 23 - Processos da ACV 54

Figura 24 - Inventário da ACV 55

Figura 25 - Impactos ambientais para o Cenário 1 (A) e Cenário 2 (B) a partir 61


das categorias de impacto de energia (Energia), Consumo de
água (Água), Potencial de Aquecimento Global (PAG), Potencial
de Acidificação (PA), Potencial de Eutrofização (PE) e Potencial
de Toxicidade Humana (PTH) e Depleção abiótica Fóssil (DAF)
respectivamente
Figura 26 - Gráfico dos impactos ambientais causados em cada etapa de 64
produção separados por categoria

Figura 27 - Fluxo do limite do sistema para o cenário 1 66

Figura 28 - Fluxo do limite do sistema para o cenário 2 67

Figura 29 - Fluxo do limite do sistema para o cenário 3 67

Figura 30 - Esquema de transporte dos resíduos de módulos fotovoltaicos 68


LISTAS DE TABELAS

Tabela 1 - Composição dos materiais de um módulo fotovoltaico de silício 29


cristalino
Tabela 2 - Resultados para cada categoria de impacto ambiental 56

Tabela 3 - Dados quantitativos das entradas e saídas no cenário 1 69

Tabela 4 - Dados quantitativos das entradas e saídas no cenário 2 70

Tabela 5 - Dados quantitativos das entradas e saídas no cenário 3 71

Tabela 6 - Comparação dos impactos entre os três cenários na categoria 71


Midpoint

Tabela 7 - Comparação dos impactos entre os três cenários na categoria 72


Endpoint

Tabela 8 - Valores de mercados dos materiais e tratamento de resíduos 73

Tabela 9 - Receitas e custos para a reciclagem de módulos fotovoltaicos 73


LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos


Especiais

ABSOLAR Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica

ACV Avaliação do Ciclo de Vida

DAF Depleção Abiótica Fóssil

DSSC Dye Sensitized Solar Cells

EVA Ethylene-Vinyl Acetate

EEE Equipamentos Elétricos e Eletrônicos

IEA International Energy Agency

IRENA International Renewable Energy Agency

ISO International Organization for Standardization

ITRI Instituto de Pesquisa de Tecnologia Industrial

LCA Life Cycle Assessment

MG Minas Gerais

PA Potencial de Acidificação

PE Potencial de Eutrofização
PR Paraná

PTH Potencial de Toxicidade Humana

REEE Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

SETAC Society of Environmental Toxicology and Chemistry

SP São Paulo

URE United Renewable Energy

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

WEEE Waste Electrical and Electronic Equipment


LISTA DE SÍMBOLOS

GWh Gigawatt-hora

TWh Terawatt-hora

MW Megawatt

% Porcentagem

© Copyright

CdTe Telureto de cádmio

CIGS Disseleneto de cobre índio e gálio

a-Si:H Silício amorfo hidrogenado

µc-Si Silício microcristalino

Si-fitas Silício crescido em fitas

PET Polyethylene Terephthalate

mm Milímetro

km Quilômetro

eV Elétronvolt

DALY Disability Adjusted Life Years

U$ Dólar

𝐶𝑂2 Dióxido de carbono


𝑆𝑂2 Dióxido de enxofre

NOX Número de oxidação

𝑁𝐻3 Amônia

N Nitrogênio

P Fósforo
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 16

1.1 OBJETIVOS 17

1.1.1 Objetivo Geral 17

1.1.2 Objetivos Específicos 17

2 ENERGIA FOTOVOLTAICA 18

2.1 FABRICAÇÃO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS 23

2.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS 31

3 DESCARTE DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS 36

3.1 POLÍTICAS DE RECICLAGEM 43

3.1.1 Políticas de reciclagem na União Europeia 43

3.1.2 Políticas de reciclagem no Brasil 44

4 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA 47

4.1 FASES DA ACV 48

5 REVISÃO BLIBIOGRÁFICA 53

5.1 METODOLOGIA EM KONZEN (2020) 54

5.2 METODOLOGIA EM OLIVEIRA (2017) 58

5.3 METODOLOGIA EM PUPIN (2019) 62

5.4 METODOLOGIA EM MIRANDA (2019) 65

6 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELA FABRICAÇÃO


DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS 75

7 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELO DESCARTE DOS


MÓDULOS FOTOVOLTAICOS 78

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 80

REFERÊNCIAS 83
16

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o mundo está passando por um período de transição na matriz


energética, no qual a matriz baseada em combustíveis fósseis está sendo substituída
pela matriz baseada em energias renováveis. Estas advêm de recursos naturais que
são naturalmente reabastecidos, como Sol, vento, chuva, marés e energia geotérmica.
Dentre as fontes de energias renováveis têm-se a energia solar, a qual produz energia
através da radiação eletromagnética emanada pelo Sol. Um módulo fotovoltaico é um
dispositivo responsável por converter a energia do Sol em energia elétrica. O nome
dado a esse processo de conversão é efeito fotovoltaico, o qual é um fenômeno onde
a luz do Sol se comporta como partículas, chamadas fótons, que ao incidir sobre um
material semicondutor, tem capacidade de criar corrente elétrica.

O efeito fotovoltaico, que foi descoberto primeiramente por Edmond


Becquerel, em 1839, implica no aparecimento de uma diferença de potencial nos
terminais de uma célula eletroquímica causada pela absorção de luz. Em 1877, foi
concebido o primeiro aparato fotovoltaico advindo dos estudos da física do estado
sólido. Em 1905, Albert Einstein, afirma que o efeito fotoelétrico explica como a luz de
alta frequência libera elétrons de um material. Apenas em 1956, iniciou-se a produção
industrial, seguindo o crescimento da área de eletrônica (PINHO; GALDINO, 2014).

Através do surgimento do módulo fotovoltaico, formou-se um mercado que


é voltado para a venda de sistemas fotovoltaicos, sendo eles utilizados para montar
usinas solares em residências, comércios, indústrias e dentre outros meios. As
pessoas que adquirem esse produto têm como objetivo investir em uma energia
renovável e, principalmente, economizar, uma vez que, instalando um sistema
fotovoltaico é possível gerar sua própria energia e assim, a fatura de energia pode ser
reduzida em mais de 90%. A venda dos módulos fotovoltaicos está aumentando de
maneira exponencial a cada ano, já que de acordo com os dados disponibilizados pelo
International Energy Agency (IEA), até 2008, estavam sendo gerados 11726 GWh e,
em 2021, já se tinha um total de 1002,9 TWh. Sendo a maior parte de todos os
módulos fotovoltaicos e usinas de energia solar instaladas após 2008.

Um módulo fotovoltaico é composto de vários materiais, como silício, vidro


e alumínio. Para a sua fabricação é necessário fazer a extração desses materiais na
17

natureza e, com o aumento na utilização desses módulos, é importante avaliar os


impactos ambientais provenientes da sua produção. Além disso, os módulos
fotovoltaicos têm uma vida útil, em média, de 25 anos, ou seja, após esse período a
sua eficiência diminui para menos de 80%, sendo necessário fazer o descarte dos
mesmos.

Existe um método para fazer a avaliação dos impactos ambientais


causados pelo ciclo de vida de um produto, o qual é chamado de Avaliação do Ciclo
de Vida (ACV), e é uma técnica que estuda os aspectos ambientais e os impactos
potenciais. Ela é normatizada pela NBR ISO 14040 que explica a metodologia e todas
as fases dessa técnica. Neste trabalho será realizada a revisão bibliográfica de quatro
ACV de módulos fotovoltaicos, elaboradas por quatro autoras distintas, para assim,
serem avaliados os pontos em comum entre eles. Sendo possível fazer uma avaliação
geral dos impactos ambientais gerados pela fabricação e pelo descarte dos módulos
fotovoltaicos.

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

O presente trabalho tem como objetivo avaliar os impactos ambientais


gerados pela fabricação e descarte dos módulos fotovoltaicos. Para isso, será usada
uma ACV desde o processo de produção até o descarte desse material.

1.1.2 Objetivos Específicos

● Analisar como os módulos fotovoltaicos são fabricados e avaliar os impactos


ambientais provenientes desse processo;
● Avaliar como as políticas de reciclagem estão sendo utilizadas no mundo para
diminuir os impactos ambientais causados pelo descarte dos módulos
fotovoltaicos;
● Apresentar a avaliação do ciclo de vida dos módulos fotovoltaicos.
18

2 ENERGIA FOTOVOLTAICA

Em 1839, Edmond Becquerel, um cientista francês, descobriu o efeito


fotovoltaico ao iluminar um eletrodo em uma solução eletrolítica, percebendo que se
gerava mais eletricidade quando a célula eletrolítica era exposta à luz solar. Em 1877,
as primeiras células fotovoltaicas de estado sólido haviam sido fabricadas a partir de
selênio e, posteriormente, desenvolvidas como medidores de luz para fotografia, mas
o entendimento adequado dos fenômenos foi fornecido pela teoria quântica. A
aplicação prática dos dispositivos fotovoltaicos úteis precisou aguardar a chegada da
eletrônica semicondutora na década de 1950. Assim, houve um intervalo de mais de
cem anos entre a descoberta inicial de Becquerel e o desenvolvimento da energia
solar como se conhece atualmente (FTHENAKIS; LYNN, 2018).

Em 1905, Albert Einstein, usou como base para seu trabalho sobre o efeito
fotoelétrico um trabalho feito pelo físico alemão Max Planck, que explicava as
características da radiação do corpo negro. Albert Einstein recebeu o Prêmio Nobel
por esse trabalho, no qual propôs que a luz fosse composta de pequenas partículas
ou pacotes de energia conhecidos como fótons. Depois disso, o desenvolvimento da
teoria quântica foi um dos grandes triunfos intelectuais do século XX. Assim, a visão
moderna é que a luz tem uma dualidade essencial, ou seja, para alguns propósitos,
pode-se pensar nela como um fluxo de partículas e, para outros, como um tipo de
onda.

A era moderna da energia solar só começou por volta de 1954, com o


trabalho de pesquisadores dos laboratórios Bell Telephone e RCA, que relataram
novos tipos de dispositivos semicondutores, baseados em silício e germânio, os quais
tinham uma ordem de magnitude mais eficientes que as células anteriores na
conversão de radiação diretamente em eletricidade. Oliveira e Júnior (2011) relataram
que a produção em nível industrial da tecnologia fotovoltaica foi somente iniciada em
1956 com a corrida espacial e mais impulsionada em 1973 com a crise do petróleo.

Durante a corrida espacial, em 1957, foi lançado o primeiro satélite


terrestre, o Sputnik da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Os
primeiros satélites precisavam de uma quantidade pequena de eletricidade, então
foram utilizados módulos fotovoltaicos para suprir esse consumo. Uma vez que o peso
19

e a área dos módulos, necessários para produzir energia, eram aceitáveis para os
projetistas de satélites, apesar do alto custo destas células. Em 1973, em meio à crise
do petróleo, quando os países produtores de petróleo aumentaram de forma
significativa o preço do petróleo bruto, foram descobertas novas tecnologias para os
módulos fotovoltaicos, como o silício cristalino e filme fino de Telureto de Cádmio.

Atualmente, existe uma crescente conscientização sobre o aquecimento


global. Assim, o ritmo da pesquisa, desenvolvimento e aplicação dos módulos
fotovoltaicos estão cada vez mais avançados. Além disso, os governos de países de
todo o mundo apoiam e incentivam a utilização das energias renováveis, pois é uma
forma de combate ao efeito estufa. Através de dados coletados pelo IEA, até 2021
tem-se um registro de 1002,9 TWh produzidos no mundo, como apresentado na
Figura 1.

Figura 1 - Geração de energia solar fotovoltaica no cenário entre 2010-2021

Fonte: International Energy Agency (IEA) (2022).


20

De acordo com dados coletados pela International Renewable Energy


Agency (IRENA), em 2021, foi registrado uma potência total de sistemas fotovoltaicos
instalados no mundo no valor de 848,405 GW, como segue na Figura 2.

Figura 2 - Capacidade de energia solar instalada no mundo entre 2011-2021

Fonte: International Renewable Energy Agency (IRENA) (2022).

No Brasil, que é um país que tem um grande potencial na área de energia


solar, devido ao seu alto índice de radiação solar, a utilização dessa fonte na matriz
energética tem aumentando cada vez mais. De acordo com a Associação Brasileira
de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), até o dia 06 de janeiro de 2023, a energia
solar correspondia a 11,2% da matriz energética brasileira, tendo 24 GW de potência
instalada no país, como apresentado na Figura 3. Tanto as usinas de grande porte,
quanto micro e minigeração podem ser sistemas conectados à rede ou isolados.
Então, a quantidade de energia solar instalada é maior do que se tem registrado, já
21

que não se tem registro da quantidade de sistemas fotovoltaicos off-grid que existem
atualmente, pois estes não estão ligados à rede.

Figura 3 - Matriz elétrica brasileira 2023

Fonte: Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) (2023).

A partir do gráfico da Figura 3 é possível verificar que a fonte “Solar


Fotovoltaica” está em terceiro lugar na produção de energia no Brasil, atrás apenas
das fontes hídrica e eólica. Na Figura 4 é apresentada a evolução da matriz energética
no Brasil entre os anos 2012 e 2022 de acordo com a ABSOLAR.
22

Figura 4 - Evolução da energia solar no Brasil entre os anos 2012 e 2022

Fonte: Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) (2023).

A partir dos resultados da Figura 3, pode-se inferir que ocorreu um


crescimento de forma exponencial na potência instalada de energia solar no Brasil.
Em 2012 havia 7 MW de potência instalada e, em 2022, chegou em 24 GW. A Figura
3 apresenta o valor total, somando a geração centralizada e a geração distribuída. Na
geração centralizada a energia é gerada em grandes usinas e enviada para os
consumidores através de linhas de transmissão. Na geração distribuída a energia é
gerada pelos próprios consumidores, próximo ou no local de consumo.

Além disso, em Weckend, Wade e Heath (2016, p. 25) foi feito um estudo
sobre a projeção de crescimento da capacidade instalada de energia fotovoltaica no
mundo até 2050, como mostra a Figura 5.
23

Figura 5 - Projeção da capacidade de energia fotovoltaica instalada no mundo até


2050

Fonte: Weckend, Wade e Heath (2016).

De acordo com a projeção exibida na Figura 5, feita em 2016, a previsão


era que em 2021 houvesse um pouco mais de 500 GW de capacidade fotovoltaica
acumulada. Porém de acordo com a Figura 2, gráfico divulgado pelo IRENA em 2022,
no ano de 2021 foi constatado 848,405 GW de capacidade fotovoltaica acumulada,
ou seja, valor muito superior ao projetado. Dessa forma, pode-se afirmar que o
crescimento da energia solar no mundo está sendo maior do que o estimado.

2.1 FABRICAÇÃO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Atualmente, as maiores fábricas de módulos fotovoltaicos se concentram


na China. De acordo com Casarin (2022b), dentre as dez fabricantes com maior
volume de módulos fotovoltaicos vendidos em 2021, seis são chinesas, as quais são,
em ordem crescente, Astroenergy, Risen Energy, Jinko Solar, JA Solar, Trina Solar e
Jinko Solar. Além disso, as dez maiores fabricantes chinesas foram responsáveis por
70% das exportações de módulos fotovoltaicos, em 2021. Ressaltando que, a PV
InfoLink é a responsável por fornecer informações atualizadas sobre o mercado
fotovoltaico. Estabelecendo, também, banco de dados de oferta e demanda do
mercado fotovoltaico global, publicando análises e previsões de mercado.

De acordo com Casarin (2022a), a China exportou, no primeiro trimestre de


2022, 37,2 GW em módulos fotovoltaicos e comparando com o mesmo período de
2021, teve um aumento de 112%. Esse aumento pode ser explicado pela guerra entre
24

Ucrânia e Rússia, que acelerou o desenvolvimento de energias renováveis. No


primeiro trimestre de 2022, o Brasil foi o terceiro colocado na lista de países que mais
importaram módulos fotovoltaicos, onde foram importados 4,9 GW em módulos
(CASARIN, 2022a).

Apesar do Brasil ser rico em reservas de silício, não tem tecnologia para
fazer a purificação desse material para o silício grau solar em escala comercial. O
silício grau solar é utilizado para produzir as células fotovoltaicas. O país vende o
minério bruto para países que fazem essa purificação, como a China, assim o Brasil
pode comprar desses países o módulo fotovoltaico pronto para comercialização ou as
células fotovoltaicas para fabricar os módulos no país. Porém, nesse processo, esses
materiais são comprados por um preço muito superior por conta do alto valor agregado
(BADRA, 2020).

No Brasil, existem algumas fábricas de módulos fotovoltaicos, dentre elas


a Globo Solar, inaugurada em 2015 em Valinhos-SP; a Canadian Solar, com sede no
Canadá e inaugurada no Brasil em 2016 na cidade de Sorocaba-SP; e a mais recente
é a Sengi Solar, inaugurada em 2022, com sede em Cascavel-PR. A maioria dos
módulos fotovoltaicos, fabricados atualmente, são compostos por células solares
produzidas a partir do silício cristalino, como apresenta a Figura 6.

Figura 6 - Célula fotovoltaica de silício cristalino

Fonte: Pinho e Galdino (2014).

Nos últimos anos foram desenvolvidas várias tecnologias para fabricação


de células fotovoltaicas. Porém, as células fabricadas a partir de lâminas de silício
cristalino, monocristalino ou policristalino, correspondem a mais de 87,9% da
produção mundial. As outras tecnologias comercializadas são baseadas em filmes
finos de telureto de cádmio (CdTe), disseleneto de cobre índio e gálio (CIGS), silício
amorfo hidrogenado (a-Si:H), silício microcristalino (µc-Si) e silício crescido em fitas
25

(Si-fitas). Células fotovoltaicas multijunção de alta eficiência, células baseadas em


corantes (DSSC – Dye Sensitized Solar Cells) ou polímeros também estão sendo
desenvolvidas (PINHO; GALDINO, 2014).

Na Figura 7, é apresentado um esquema dos componentes de um módulo


fotovoltaico, no qual o encapsulamento é feito por uma espécie de sanduíche de vidro
temperado de alta transparencia; acetato de etil vinila (EVA, do inglês Ethylene-vinyl
acetate) estabilizado para a radiação ultravioleta; células fotovoltaicas soldadas em
tiras, geralmente por iluminação com lâmpadas halógenas ou radiação laser; mais
uma camada de EVA estabilizado; e um filme posterior isolante. Este filme isolante é
conhecido como backsheet, e é uma combinação de polímeros, tais como fluoreto de
polivinila e o tereftalato de polietileno (PET) (PORTAL SOLAR, 2022c).

Figura 7 - Esquema dos componentes de um módulo fotovoltaico com células de


silício cristalino

Fonte: Portal Solar (2022c).

O processo de laminação é realizado a temperaturas de 120 °C a 150 °C,


quando o EVA se torna líquido e as eventuais bolhas de ar geradas são eliminadas.
No processo seguinte, é realizada a cura do EVA, que proporciona uma maior
durabilidade ao módulo fotovoltaico. Depois, coloca-se uma moldura de alumínio
anodizado e a caixa de junção, assim o módulo fotovoltaico está finalizado (PINHO;
GALDINO, 2014).

O vidro especial é o vidro fotovoltaico, que foi desenvolvido para refletir


menos e deixar o máximo de luz passar através dele. Além disso, é ultra puro com
26

baixo teor de ferro, sendo um vidro temperado especial de 3,2 mm ou 4 mm revestido


com uma substância antirreflexiva. Assim, é um vidro de alta resistência, feito para
suportar diferentes impactos, como chuvas de granizo, e corresponde a 10% do custo
de fabricação de um módulo fotovoltaico (PORTAL SOLAR, 2022c).

O EVA, como já citado e ilustrado, é utilizado como um filme encapsulante


e responsável por unir o vidro, as células fotovoltaicas, o backsheet e a caixa de
junção. Algumas das suas principais funções são proteger as células fotovoltaicas
contra o envelhecimento causado por raios UV, temperaturas extremas e umidade.
Assegurando que o máximo de luz visível atinja as células solares. Além disso,
representa aproximadamente 8% do custo de fabricação de um módulo fotovoltaico
(PORTAL SOLAR, 2022c).

O backsheet é um material plástico branco à base de PET (Politereftalato


de etileno) que fica na parte de trás do módulo fotovoltaico. A sua principal
característica é proteger os componentes internos do módulo, especificamente as
células fotovoltaicas, agindo como isolante elétrico. Assim como o EVA, representa
aproximadamente 8% do custo de fabricação de um módulo fotovoltaico. Apresenta,
também, uma característica robusta semelhante a um filme branco plástico grosso e
composto por três camadas. Aryan, Font-Brucart e Maga (2018) apresentaram alguns
tipos de composições de backsheets, como na Figura 8.

Figura 8 - Tipos comuns de configuração de backsheet

Fonte: Aryan, Font-Brucart e Maga (2018).

A caixa de junção fica na parte de trás do módulo fotovoltaico e é o local


onde as strings, células fotovoltaicas que estão interconectadas em série, estão
27

conectadas eletricamente. Dentro dessa caixa possui diodos de by-pass, também


conhecidos como diodos de passagem, que têm como objetivo evitar a formação de
hot spots, pontos quentes, que podem danificar as células fotovoltaicas. As caixas de
junção já vêm com os cabos e conectores especiais, que tradicionalmente são os
conectores MC4 ou MC3. Esses conectores são utilizados para interconectar os
módulos fotovoltaicos quando instalados. A caixa de junção representa
aproximadamente 6% do custo de fabricação do painel solar (PORTAL SOLAR,
2022c).

O diodo de by-pass entra em funcionamento quando ocorre um


sombreamento parcial no módulo fotovoltaico. Esse sombreamento pode acontecer
por causa de nuvens, árvores ou sujeiras. Independentemente de onde a sombra
acontece, modifica o funcionamento do módulo, pois as células são conectadas em
série. Porém, quando apenas uma parte das células é sombreada, o nível da corrente
de curto-circuito diminui. Assim, qualquer corrente que passe por uma célula, a um
nível acima da corrente de curto-circuito, causa sobreaquecimento (MOREIRA, 2020).

Como já apresentado anteriormente, existem diferentes tipos de células


fotovoltaicas, cada uma com características diferentes. Assim, a produção de cada
uma é feita de formas diferentes. Apesar disso, a maioria das células, têm o silício
cristalino como base de sua fabricação. Dessa forma, para produzir esse tipo de
células, é necessário extrair o silício da natureza, o qual pode ser encontrado em maior
concentração no quartzo. Para ser utilizado na fabricação das células, precisa passar
por um processo de purificação. Existem dois graus de purificação, o grau metalúrgico,
que possui 98% de pureza e é a partir dele que é produzido o de grau solar, com
99,9999% de pureza. As tecnologias utilizadas para fazer essas purificações são de
alto nível, por isso, quanto mais puro o silício, maior o valor dele.

Assim, para produzir uma célula de silício monocristalino, o minério de


silício purificado passa por um processo para ser monocristalizado. A forma mais
comum de fazer esse processo é o de Czochralski, no qual em um forno de fundição,
chamado cadinho de quartzo, o minério purificado é derretido a uma temperatura de
1420°C. É nesse momento que é adicionado uma semente de monocristal de silício.
A medida que o cadinho gira é produzido um monocristal com 30 centímetros de
diâmetro, podendo atingir altos comprimentos, o qual é conhecido como lingote de
28

silício e é cortado para formar uma barra quadrada para em seguida ser fatiado,
produzindo os wafers. Estes passam por um processo de dopagem, para formar as
camadas tipo p e tipo n, o que será explicado no capítulo 2.2, além de receber uma
camada antirreflexiva, os contatos frontais e traseiros. Por último, são feitos cortes nos
cantos das células para que fiquem com uma forma octagonal ou redonda, evitando a
ocorrência de curtos-circuitos (PORTAL SOLAR, 2022a).

Para as células de silício monocristalino, que são feitas de um único cristal


de silício, o processo de produção pode ser exemplificado a partir da Figura 9, na qual
cada uma das fotos, da esquerda para direita, representam o minério de silício
purificado, o forno de Czochralski, lingote de silício, os wafers e a célula fotovoltaica
monocristalina.

Figura 9 - Produção da célula fotovoltaica de silício monocristalino

Fonte: Portal Solar (2022a).

Para as células de silício policristalino, o processo de fabricação é um


pouco diferente do processo realizado para obtenção das células de silício
monocristalino. Neste processo o silício é derretido e moldado em forma de lingotes,
se tornando sólidos a partir de processos de aquecimento e resfriamento. O silício se
cristaliza livremente e forma vários cristais, por isso é chamado de policristalino. O
restante do processo de fabricação deste tipo de célula é semelhante ao da célula de
silício monocristalino, conforme ilustra a Figura 10. Da esquerda para direita,
representam o minério de silício purificado, a fundição em bloco do silício, os blocos
de silício cortados, os wafers e a célula fotovoltaica policristalina (PORTAL SOLAR,
2022a).
29

Figura 10 - Produção da célula fotovoltaica de silício policristalino

Fonte: Portal Solar (2022a).

As diferentes formas de fabricação das células fotovoltaicas de silício


monocristalino e policristalino, fazem com que esses dois tipos apresentem
características diferentes. Como por exemplo, as células de silício policristalino são
menos eficientes, pois os múltiplos cristais fazem com que os átomos se combinem
mais facilmente, aumentando as perdas por recombinação. Essas também são mais
baratas, pois o processo de fabricação é mais simples.

De acordo com Miranda (2019), é dado na Tabela 1 uma lista com a


porcentagem de cada material que compõe um módulo fotovoltaico de silício cristalino.

Tabela 1 - Composição dos materiais de um módulo fotovoltaico de silício cristalino

Material Porcentagem

Vidro 60,00 a 76,00%

EVA (encapsulamento) 6,00 a 7,00%

PVF (camada protetora) 3,00 a 4,00%

Plástico 0,60%

Cobre 0,27%

Alumínio 10,00 a 14,00%

Silício (Si) 3,00 a 5,00%

Contatos elétricos (Ag, Cu, Al, Sn, Pb) 0,50 a 1,00%

Outros (adesivo, selantes) 1,13%


Fonte: Miranda (2019).

Através da Tabela 1 é possível concluir que um módulo fotovoltaico de


silício cristalino é composto em sua maior parte por vidro. De acordo com relatório do
ITRPV-VDMA (2019), há uma tendência de redução e substituição de alguns tipos de
30

materiais para se garantir um aumento na eficiência, reduzir custos, minimizar


impactos ambientais e garantir a viabilidade do uso. Na fabricação dos módulos
fotovoltaicos são seguidos os passos apresentados na Figura 11.

Figura 11 - Passo a passo do processo de fabricação do módulo fotovoltaico

Fonte: Adaptado de ECOA energia renováveis (2019).

A limpeza do vidro é o primeiro passo para a montagem dos módulos


fotovoltaicos. Para realizar essa limpeza são necessárias uma máquina específica e
a água, usada para lavar o vidro. A água passa por um processo de osmose reversa,
o qual é uma tecnologia usada para remover a maioria dos contaminantes da água.
Esse processo de limpeza é importante para não serem formadas bolhas no painel
depois de pronto, o que pode danificar o funcionamento do módulo (PORTAL SOLAR,
2022c).

O segundo passo é a interconexão das células, que é um processo muito


importante e que exige bastante cuidado. Essa interconexão é feita utilizando fios
condutores, geralmente compostos por cobre banhado em estanho ou alumínio. O
lado inferior de uma célula é conectado ao lado superior da célula seguinte, formando
uma série de células interconectadas, conhecidas como strings. Nas células é
possível ver uma pequena quantidade de linhas longitudinais grossas, chamadas de
busbar, e várias linhas latitudinais finas. Então, é através do busbar que é feita a
interconexão das células. Para realizar esse processo, é necessária uma máquina de
solda especial de contato leve (PORTAL SOLAR, 2022c).

O terceiro passo é o posicionamento das células sobre o vidro e o EVA,


para isso é feito o sistema de montagem da matriz de células, conhecida como “layup”.
Também é um processo bastante delicado e precisa ser feito por uma máquina
31

especial, para assim evitar os danos às células e garantir um alinhamento perfeito nos
módulos. Com a matriz de células prontas, no quarto passo é feita uma interconexão
manual das strings de células, através de uma solda simples, na qual se forma a
ligação elétrica entre células e parte de trás do EVA e backsheet (PORTAL SOLAR,
2022c).

No quinto passo é feita a laminação do painel, processo onde o EVA derrete


para juntar as camadas de materiais que compõem o módulo. Para isso é usada uma
máquina de laminação que, geralmente, possui três câmeras para o processo. São
elas, a de pré-aquecimento e laminação, a de laminação e a de controle do processo
de resfriamento. Sendo essa última muito importante, uma vez que, proporciona um
resfriamento perfeito, evitando que o painel deforme (PORTAL SOLAR, 2022c).

No sexto e último passo, estão inclusos alguns processos, que são os


cortes da rebarba, a caixa de junção e a moldura de alumínio. Nos cortes da rebarba
é utilizado uma ferramenta especial para fazer o corte do backsheet e do EVA que
sobram nas laterais do painel depois da laminação. Depois, é instalada a caixa de
junção e fixada no painel com um silicone ou fita dupla-face especial. Por último, é
colocada a moldura de alumínio através de uma prensa, automática ou semi-
automática (PORTAL SOLAR, 2022c).

Com o módulo fotovoltaico pronto, são feitos alguns testes e inspeção para
garantir a qualidade e o seu funcionamento. Existem dois testes que são feitos
geralmente, o flash test e o teste de eletroluminescência. No flash test é feita uma
simulação solar, que consegue verificar se a potência, eficiência, tensão e corrente
estão de acordo com as especificações para tal módulo. No teste de
eletroluminescência é feita uma espécie de raio-X do painel, sendo possível ver se as
células são iguais e se existem fissuras. Além disso, existem vários outros testes que
são feitos em laboratório para garantir que o módulo fotovoltaico é seguro e durável.
Com todos os testes feitos e aprovados, o módulo está pronto para ser comercializado
(PORTAL SOLAR, 2022c).

2.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

O módulo fotovoltaico é utilizado para a captação da luz do sol, com a


função de converter a luz solar em energia elétrica fotovoltaica. As células do módulo
32

fotovoltaico são responsáveis pela geração da energia elétrica, já que, por meio do
efeito fotovoltaico, absorvem a energia da luz solar para que a corrente elétrica
percorra o caminho necessário. Para formar o módulo fotovoltaico, as células
fotovoltaicas são associadas eletricamente e encapsuladas. Um módulo pode ser
formado por um conjunto de 36 a 216 células fotovoltaicas associadas em série e/ou
paralelo.

A associação das células fotovoltaicas depende dos parâmetros elétricos,


tensão, corrente e potência, mais adequados à aplicação a que o módulo se destina.
Na conexão em série, o terminal positivo de um dispositivo fotovoltaico é conectado
ao terminal negativo do outro dispositivo. Para dispositivos idênticos e submetidos à
mesma irradiância, quando ligados em série, as tensões são somadas e a corrente
elétrica não é afetada. Na conexão em paralelo os terminais positivos dos dispositivos
são interligados entre si, assim como os terminais negativos. Dessa forma, as
correntes de cada dispositivo são somadas, enquanto a tensão permanece a mesma
(MORAES, 2020).

A principal matéria prima das células fotovoltaicas são materiais


semicondutores, que se caracterizam por possuírem uma banda de valência
totalmente preenchida por elétrons e uma banda de condução sem elétrons na
temperatura do zero absoluto. Entre as duas bandas de energia permitida, existe uma
separação chamada de banda proibida (gap), representada por Eg que pode atingir
até 3 elétronvolt (eV). O valor de Eg é o que diferencia estes materiais dos materiais
considerados isolantes, onde a banda proibida supera este valor, como apresentado
na Figura 12 (PINHO; GALDINO, 2014).

Figura 12 - Estrutura de bandas de energia

Fonte: Pinho e Galdino (2014).


33

Por conta da existência das bandas de energia, uma característica


relevante dos semicondutores é o aumento da condutividade com a temperatura, a
qual é causado pela excitação térmica de elétrons da banda de valência para a banda
de condução. Assim, a banda de valência fica com lacunas, as quais constituem
portadores de carga positiva, cuja mobilidade é cerca de um terço da mobilidade dos
elétrons na banda de condução. Para temperaturas superiores ao zero absoluto, há
sempre no semicondutor um certo número de elétrons ocupando a banda de
condução e o mesmo número de lacunas na banda de valência, denominados
portadores intrínsecos (PINHO; GALDINO, 2014).

Para o aproveitamento da corrente e da tensão é necessário aplicar um


campo elétrico, com a finalidade de separar os portadores de carga, o que pode ser
feito a partir da junção pn. Essa junção é formada após a dopagem do semicondutor,
que consiste na adição, de forma controlada, de impurezas no mesmo mudando
drasticamente as propriedades elétricas do material. Para explicação dos conceitos
sobre junção pn, considera-se uma célula fotovoltaica de monojunção de silício
cristalino, que é o material semicondutor mais usado na fabricação das células
(NASCIMENTO, 2004).

O silício cristalino é um elemento químico tetravalente, ou seja, possui


quatro elétrons na banda de valência e faz ligações covalentes com os átomos
vizinhos. Essas ligações resultam em uma rede cristalina com oito elétrons
compartilhados por cada átomo. O semicondutor tipo p pode ser obtido ao se introduzir
um átomo trivalente na estrutura, como o boro, assim ficará faltando um elétron para
completar as ligações da rede cristalina, essa falta é denominada de lacuna. Então, o
semicondutor tipo p possui excesso de lacunas e é a região receptora de elétrons. O
semicondutor tipo n pode ser obtido ao se introduzir um átomo pentavalente, como o
fósforo, assim haverá um elétron excedente ligado fracamente ao seu átomo de
origem na rede cristalina. Então, o semicondutor tipo n possui excesso de elétrons e
é uma região doadora de elétrons. Na Figura 13 é apresentada uma imagem que
ilustra os níveis de energia em materiais tipo p e tipo n (PINHO; GALDINO, 2014).
34

Figura 13 - Níveis de energia em materiais tipo p e tipo n

Fonte: Oldenburg (1994).

Na Junção pn, existe uma diferença de concentração de elétrons e lacunas


entre as duas regiões, os elétrons migram do semicondutor tipo n para o semicondutor
tipo p na região de interface. A junção é formada se, em uma metade de uma lâmina
de silício inicialmente puro, forem introduzidos átomos de boro e na outra metade
átomos de fósforo (PINHO; GALDINO, 2014).

O campo elétrico é responsável por interromper a migração de elétrons e


por fazer a separação dos pares elétron-lacuna quando a energia dos fótons é
absorvida pelos elétrons no momento em que a células é iluminada. Com as camadas
p e n integradas à célula fotovoltaica, é aplicado um revestimento antirreflexo que
maximiza a absorção da luz. Em seguida, as linhas de grade de contato e o
barramento são adicionados à superfície da célula, sendo responsáveis por recolher
os elétrons adicionais, gerados pela chegada de luz, que se movem livremente na
banda de condução, conduzindo-os para o circuito. Na Figura 14, é ilustrada a
representação do funcionamento de uma célula fotovoltaica (NASCIMENTO, 2004).
35

Figura 14 - Representação do funcionamento de uma célula fotovoltaica

Fonte: Blue Sol (2022).


36

3 DESCARTE DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

A maioria dos módulos fotovoltaicos tem vida útil de 25 anos, podendo


alguns chegar aos 30 anos dependendo da marca. As marcas afirmam que chegando
nesse prazo os módulos terão sua eficiência diminuída para, em média, 80%. Sendo
assim, eles podem funcionar após esse período, porém com a qualidade
comprometida. Na maioria dos casos, no final da vida, os módulos são desinstalados,
gerando uma preocupação quanto a sua forma de descarte. Apesar da maior parte
dos módulos serem compostos por materiais recicláveis, como o vidro e o alumínio,
eles possuem muitos tipos de metais pesados, ou seja, não podem ser descartados
de qualquer maneira ou em qualquer lugar.

O descarte de módulos fotovoltaicos ainda é um assunto pouco abordado


nos dias atuais, já que é uma tecnologia recente e mesmo nos países onde essa
tecnologia chegou primeiro, os primeiros módulos instalados ainda estão dentro do
prazo da vida útil. No Brasil, onde a energia solar começou a ganhar espaço após o
ano de 2012 com a REN 482, a vida útil dos módulos instalados nesse ano deve
chegar ao fim por volta de 2033. Em fevereiro de 2020, o governo federal assinou o
decreto nº 10240/2020, o qual obriga os fornecedores a arcarem com toda a logística
reversa de produtos eletroeletrônicos caseiros, entre eles os módulos fotovoltaicos.
Os fornecedores devem disponibilizar pontos de coleta e depois realizar o descarte
correto desses equipamentos. Porém, esse decreto é restrito somente aos módulos
instalados em residências, não incluindo as grandes usinas que possuem milhares de
painéis. Além disso, mesmo havendo o decreto, muitas vezes os fornecedores não
cumprem o seu papel.

Em alguns casos, os painéis fotovoltaicos que precisam ser descartados


ainda não atingiram a sua vida útil. Como, por exemplo, no processo de produção do
módulo fotovoltaico, pode ser necessário o descarte, caso o mesmo não passe nos
testes de qualidade ou tenha alguma avaria; no transporte e/ou na instalação do
sistema fotovoltaico, onde os módulos podem quebrar caso não sejam manuseados
corretamente; ou até mesmo quando em alguns casos eles perdem a eficiência antes
do prazo de vida útil.

Em Weckend, Wade e Heath (2016, p. 32), também foi feito um estudo


sobre a projeção de resíduos de painéis fotovoltaicos até 2050. Apesar do estudo ter
37

sido levantado em 2016, a projeção é válida para se ter uma base da quantidade de
resíduos que serão gerados futuramente. No estudo realizado, foi feita uma
abordagem de três etapas para quantificar os resíduos de módulos fotovoltaicos até
2050, apresentadas na Figura 15.

Figura 15 - Abordagem para quantificar os resíduos de módulos fotovoltaicos até


2050

Fonte: Weckend, Wade e Heath (2016).

A primeira abordagem sobre o crescimento global da energia solar foi


apresentada no gráfico da Figura 5, que representa a projeção da capacidade de
energia fotovoltaica instalada no mundo até 2050. A segunda abordagem refere-se ao
modelo de quantificação de resíduos. A maior parte dos resíduos são produzidos nas
fases de produção, transporte, instalação, utilização e descarte dos painéis
fotovoltaicos. Para o modelo estabelecido em Weckend, Wade e Heath (2016), não
foi levado em conta a fase de produção, visto que nessa fase os resíduos da produção
podem ser facilmente gerenciados, recolhidos e tratados. O fluxo de resíduos pode
ser quantificado de acordo com o modelo da Figura 16.
38

Figura 16 - Modelo de resíduos de módulos fotovoltaicos em duas etapas

Fonte: Weckend, Wade e Heath (2016).

Na Figura 17 é apresentado um gráfico do resíduo anual proveniente de


painéis fotovoltaicos até 2050, conforme projeção desenvolvida em Weckend, Wade
e Heath (2016).

Figura 17 - Resultado acumulado do resíduo anual provenientes dos painéis


fotovoltaicos até 2050

Fonte: Weckend, Wade e Heath (2016).

No ano de 2016 foi constatado que já existiam 250 mil toneladas de


resíduos provenientes de painéis fotovoltaicos no mundo. Fazendo a projeção,
considerando o cenário regular, é esperado que em 2050 se tenha aproximadamente
60 milhões de toneladas de resíduos. Já para o cenário de perda antecipada, é
esperado que em 2050 se tenha aproximadamente 78 milhões de toneladas de
39

resíduos. Essa diferença ocorre porque o cenário de perda antecipada assume uma
maior porcentagem de falhas precoces, comparado ao cenário de perda regular.

Ainda de acordo com Weckend, Wade e Heath (2016), na Figura 18 é


apresentado um gráfico que apresenta a quantidade de resíduos em 2050 para os
cinco principais países referências no setor de energia solar. Estes países são a
China, Estados Unidos, Japão, Índia e Alemanha, assim, é previsto que na China se
tenha a maior quantidade de resíduos.

Figura 18 - Volumes acumulados de resíduos dos cinco principais países


para painéis fotovoltaicos em fim de vida em 2050

Fonte: Weckend, Wade e Heath (2016).

Analisando, também, o gráfico da Figura 2, divulgado pelo IRENA em 2022,


o qual informa que em 2021 foi registrado 848,405 GW de capacidade fotovoltaica
acumulada no mundo. Pode-se afirmar que, por volta de 2046, 848,405 GW de painéis
fotovoltaicos deverão ser descartados.

Tendo em vista a enorme quantidade de resíduos, é necessário pensar em


formas adequadas para o descarte correto dos módulos. Na falta de empresas
especializadas em reciclagem de painéis fotovoltaicos, os resíduos podem acabar em
um aterro sanitário ou serem incinerados, sendo reciclado somente o alumínio de sua
estrutura. De acordo com Lunardi et al. (2018), quando comparadas as situações de
aterro e incineração, a incineração é o processo que causa maiores impactos.
40

Atualmente, existem tecnologias que conseguem fazer a reciclagem de


mais de 90% dos painéis fotovoltaicos. A reciclagem pode acontecer de forma
química, térmica, mecânica e a laser, as quais podem acontecer de forma separada
ou simultânea. Um exemplo é quando se utiliza o processo térmico para separar
alguns materiais, como vidro e polímero, enquanto o laser é utilizado para limpar os
equipamentos com silício, removendo metais e a camada anti-reflexo. Dessa forma,
alguns estudos afirmam que a melhor forma para reciclar um módulo fotovoltaico é a
partir do processo térmico, que seria a forma mais rápida, menos complexa e mais
vantajosa, economicamente. Apesar de que em algumas partes da reciclagem é
necessário utilizar outros tipos de processos, mas em menor quantidade.

Um exemplo de processo de reciclagem de módulos fotovoltaicos é,


primeiramente, retirar a estrutura de alumínio, a qual pode ser 100% reciclada. No
segundo passo, o vidro é separado, sendo possível reciclar por volta de 95% desse
material. No terceiro passo, a estrutura restante é aquecida em altas temperaturas,
para que seja possível retirar as células do painel, sendo os wafers de silício 85%
recicláveis. Dessa forma, a maioria dos componentes do módulo fotovoltaico são
vendidos para outras empresas, podendo ser reutilizados para produzir outros
produtos.

Nos processos de reciclagem que são necessários um processo químico,


especialistas consideram a pirólise como melhor alternativa. Sendo a pirólise um
processo de decomposição de materiais que acontece devido à exposição a altas
temperaturas, ocorrendo uma ruptura da estrutura molecular original do composto. Os
testes já realizados, utilizando esse tipo de processo, teve alta eficiência no uso com
o leito fluidizado, onde no mesmo é colocado areia muito fina e quando exposto ao
calor, adquire propriedades de líquido. Esse sistema possibilita a gaseificação da
camada de polímero e com complemento do meio térmico, é possível recuperar o
vidro e os semicondutores (ZENG; BORN; WAMBACH, 2004).

Na Figura 19 é apresentado um fluxograma que sugere a destinação dos


componentes de um módulo fotovoltaico.
41

Figura 19 - Sugestões de destinação para os componentes de um módulo


fotovoltaico

Fonte: Adaptado de Ghizoni (2016).

Na França, o grupo VEOLIA juntamente com a PV Cycle francesa lançaram


a primeira fábrica voltada para a reciclagem de módulos fotovoltaicos. A mesma foi
inaugurada em 2017, na cidade de Rousset, no sul da França e, em 2018, reciclou
1800 toneladas de materiais. Depois do processo de reciclagem, as matérias-primas
secundárias são enviadas para vários setores de acordo com os princípios da
economia circular. O vidro será utilizado na indústria vidreira, o alumínio nas refinarias,
o plástico será recuperado como combustível recuperado para cimenteiras e o silício
terá uma nova vida nas indústrias de metais preciosos, já os cabos e conectores serão
triturados e comercializados na forma de granalha de cobre. A VEOLIA e a PV Cycle
francesa cumprem a diretiva europeia Waste Electrical and Electronic Equipment
42

(WEEE), que obriga qualquer importador ou fabricante de painéis fotovoltaicos a


recolhê-los e tratá-los no final da sua vida útil (VEOLIA, 2022).

Nos Estados Unidos, existe a empresa First Solar, fundada em 1999, que
além de fabricante e fornecedora de módulos fotovoltaicos, faz a reciclagem desses
materiais. Essa empresa estabeleceu, voluntariamente, o primeiro programa global de
reciclagem de painéis solares da indústria, em 2005, reconhecendo a importância da
gestão responsável do ciclo de vida dos painéis. A First Solar atualmente opera com
instalações de reciclagem em Ohio, Malásia, Vietnã e Alemanha. Os módulos First
Solar são projetados para reciclagem de alto valor, maximizando a recuperação de
material no final da vida útil. Sendo possível recuperar mais de 90% dos materiais do
módulo para reutilização, fornecendo recursos secundários de alta qualidade para
novos painéis solares, vidro, borracha e produtos de alumínio (FIRST SOLAR, 2022).

Nas pesquisas realizadas, foi encontrada apenas uma empresa


especializada na reciclagem de módulos fotovoltaicos no Brasil, inaugurada em 2020,
a SunR Reciclagem fotovoltaica. Esta empresa foi a primeira, especializada na área,
na América Latina. Ela está localizada no interior de São Paulo, na cidade de Vinhedo
e, atualmente, consegue reciclar 92% dos resíduos de módulos fotovoltaicos. No
processo de reciclagem, após retirar as estruturas metálicas, o material é moído e
depois é separado por densidade, ou seja, ocorre uma separação granulométrica,
sendo separados o vidro, o plástico, metais ferrosos e não ferrosos. O vidro reciclado,
que tem entre 90 e 95% de pureza, é enviado para uma empresa que consiga absorver
esse material. Parte do material não ferroso, a SunR não consegue reciclar, além de
não conseguir fazer a separação do silício de forma perfeita. Então, essa parte não
reciclada é repassada para uma empresa que a envia para o exterior (SUNR, 2022).

É possível perceber que a gestão de fim de vida dos módulos fotovoltaicos


pode criar valor com a criação de empresas e indústrias, já que estas poderão criar
oportunidades de emprego. A reciclagem de painéis pode gerar um considerável
estoque de matérias-primas, além de componentes valiosos. Esses materiais podem
ser utilizados para produzir novos módulos fotovoltaicos, o que pode gerar segurança
em relação ao futuro fornecimento de matéria-prima. Algumas estimativas apontam
que, até 2050, a matéria-prima recuperada na reciclagem dos módulos pode gerar um
valor de maior que US$ 15 bilhões. Esse valor é equivalente a uma quantidade de
43

materiais suficientes para produzir cerca de 2 bilhões de novos módulos fotovoltaicos


(WECKEND; WADE; HEATH, 2016).
O processo de reciclagem é uma operação com alto custo financeiro,
fazendo com que empresas não invistam nessa área, mas existe uma preocupação
para se recuperar os semicondutores. Então, com o passar dos anos, a quantidade
de resíduos crescerá de forma exponencial e será preciso utilizar métodos eficientes
para recuperar o máximo de componentes possíveis. Dessa forma, deverá ocorrer um
avanço na área de reciclagem dos módulos fotovoltaicos e, assim, tornar esse
processo mais eficiente e vantajoso economicamente.

3.1 POLÍTICAS DE RECICLAGEM

O descarte incorreto de equipamentos, como os módulos fotovoltaicos,


pode afetar de forma significativa a natureza e, consequentemente, a população. Por
essa razão, existem as políticas de reciclagem, que consistem em garantir a
transformação de resíduos sólidos. Tal transformação pode envolver a alteração de
propriedades físicas e químicas, para que esses insumos retornem à cadeia produtiva.

3.1.1 Políticas de reciclagem na União Europeia

Atualmente, enquanto a maior parte do mundo classifica os módulos


fotovoltaicos como resíduos gerais ou industriais, a União Europeia adota
regulamentos específicos de resíduos fotovoltaicos. Sendo assim, é pioneira nesse
assunto, com regulamentos que cobrem a coleta, recuperação e reciclagem específica
dos módulos fotovoltaicos. No dia 04 de julho de 2012 foi publicada a diretiva
2012/19/UE do Parlamento Europeu e do Conselho, a qual fundamenta-se no princípio
da precaução e na otimização do fornecimento de recursos e apoia-se em outras
diretivas que têm como objetivo aproveitar as matérias-primas livres de substâncias
perigosas, tanto à saúde quanto ao meio ambiente. Dessa forma, essa diretriz
apresenta orientações que complementam a legislação geral da União Europeia,
quando se trata de gestão de resíduos (PARLAMENTO EUROPEU, 2012).

A diretiva 2012/19/UE do Parlamento Europeu e do Conselho é dirigida aos


resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE), na qual inclui os painéis
fotovoltaicos. Sendo assim, os painéis fotovoltaicos são classificados como REEE.
Esta diretiva abrange todos os equipamentos elétricos e eletrônicos (EEE) utilizados
44

pelos consumidores e os destinados à utilização profissional. Os utilizadores de EEE


do setor doméstico têm a possibilidade de entregar os REEE sem encargos.

De acordo com a diretiva, os produtores devem ser responsáveis


financeiramente pelos pontos de coleta, tratamento, valorização e eliminação dos
REEE. É de responsabilidade dos membros do bloco europeu incentivar os produtores
a assumirem a responsabilidade pela implementação e consolidação das coletas e
tratamentos desses resíduos. Além disso, devem tomar medidas adequadas para
reduzir a eliminação de REEE sob a forma de resíduos urbanos não triados.
Assegurando, assim, um tratamento correto e alcançando um elevado nível de recolha
seletiva dos REEE (PARLAMENTO EUROPEU, 2012).

A Diretiva também incentiva que um projeto de produto considere e facilite


possíveis manutenções, desmontagem e reciclagem de resíduos eletrônicos. Além de
incentivar produtores a integrar materiais reciclados em novos produtos e
equipamentos. Assim, orienta que: “Dever-se-ão utilizar as melhores técnicas
disponíveis de tratamento, valorização e reciclagem, desde que assegurem a proteção
da saúde humana e uma elevada proteção do ambiente” (PARLAMENTO EUROPEU,
2012, p. 40).

3.1.2 Políticas de reciclagem no Brasil

No Brasil, existe a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, que


caracteriza uma “destinação final ambientalmente adequada”, quando ocorre a
reutilização, reciclagem e compostagem dos resíduos. E caracteriza a “disposição
final ambientalmente adequada” quando é feita a distribuição ordenada de rejeitos em
aterros atendendo às normas específicas (BRASIL, 2010). Atualmente, no país, a
maioria dos resíduos é enviado para aterros sanitários, aterros controlados e lixões.
Sendo que a diferença entre esses destinos é que nos aterros sanitários é colocada
uma camada inferior impermeável, que evita a erosão, a contaminação do solo e dos
lençóis freáticos, além de recolherem o chorume e destiná-lo à estação de tratamento;
nos aterros controlados não existe essa camada inferior impermeável, assim os
resíduos são apenas cobertos por terra; e nos lixões, os resíduos são expostos a céu
aberto, sendo depositados e empilhados sem tratamento adequado. Comparando
essas formas de destinos dos resíduos, a mais agressiva ao meio ambiente é o lixão
(FERREIRA, 2018).
45

A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos


Especiais (ABRELPE) é responsável por apresentar relatórios anuais sobre o cenário
da gestão de resíduos no Brasil. A ABRELPE foi fundada em 1976, por um grupo de
empresários pioneiros nas atividades de coleta e transporte de resíduos sólidos, com
a missão de promover o desenvolvimento técnico-operacional da gestão de resíduos
sólidos no Brasil (ABRELPE, 2022). Então, segundo os dados do último relatório
publicado em 2021, foram gerados aproximadamente 82,5 milhões de toneladas de
resíduos sólidos urbanos (RSU), em 2020. Com isso, cada brasileiro gerou uma média
de 1,07 kg de resíduos por dia. Esse valor sofreu influência direta da pandemia da
COVID-19 (ABRELPE, 2021).

Ainda de acordo com os dados divulgados no Panorama dos Resíduos


Sólidos no Brasil, ocorreu um aumento na geração dos resíduos domiciliares.
Consequentemente, a quantidade de materiais dispostos para coleta junto aos
serviços de limpeza urbana também cresceu. Foi contabilizado 76,1 milhões de
toneladas coletadas, no ano de 2020, o que implica em uma cobertura de coleta de
92,2%. Desses RSU coletados, 60%, ou seja, 46 milhões de toneladas foram para
aterros sanitários, em 2020, e 40% foram para áreas de disposição inadequada, como
lixões e aterros controlados (ABRELPE, 2021).

A Lei nº 12.305, de 2010, instituída pela Política Nacional de Resíduos


Sólidos, determina que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos deve ser atualizado a
cada quatro anos. A cada ano deve-se estabelecer metas para o aproveitamento
energético dos gases gerados nas unidades de disposição final dos resíduos sólidos.
Assim, eliminando e recuperando os lixões e causando a redução, reutilização e
reciclagem dos resíduos. A lei também proíbe a prática do lançamento de resíduos a
céu aberto, ou seja, os lixões (BRASIL, 2010).

O Artigo 33, da Lei nº 12.305 de 2010, obriga os comerciantes, fabricantes,


importadores e distribuidores a estruturar e implementar sistemas de logística reversa,
de forma independente do serviço público de limpeza urbana. No Artigo 56 é
regulamentado que a logística reversa, relativa aos produtos de que tratam os incisos
V e VI do caput do art. 33, será implementada progressivamente segundo cronograma
estabelecido em regulamento. Em 2020, foi assinado o decreto Nº 10240 de
12/02/2020, que regulamenta o inciso VI do caput do art. 33 e o art. 56 da Lei nº
46

12.305, de 2 de agosto de 2010, e complementa o Decreto nº 9.177, de 23 de outubro


de 2017, quanto à implementação de sistema de logística reversa de produtos
eletroeletrônicos e seus componentes de uso doméstico. O decreto inclui os painéis
fotovoltaicos de uso doméstico na Política Nacional de Resíduos (BRASIL, 2010).

Além da Lei nº 12.305 de 2010, existe o acordo setorial de eletroeletrônicos


assinado no dia 31 de outubro de 2019, o qual é voltado para a responsabilidade da
gestão de resíduos eletrônicos no Brasil. Esse acordo estabelece termos e condições
para a implementação e operacionalização do sistema de logística reversa de
produtos eletroeletrônicos de uso doméstico. No acordo, são definidos como produtos
eletroeletrônicos “equipamentos de uso doméstico cujo adequado funcionamento
depende de correntes elétricas com tensão nominal não superior a 240 (duzentos e
quarenta) volts” (BRASIL, 2019, p. 5).

No acordo, é definido que o gerenciamento dos produtos eletroeletrônicos


descartados para atender ao sistema de logística reversa, deve atender às seguintes
etapas:

I. Descarte, pelos consumidores, dos produtos eletroeletrônicos nos pontos


de recebimento;

II. Recebimento e armazenamento temporário dos produtos eletroeletrônicos


descartados em pontos de recebimento ou dos recebidos em pontos de
consolidação, conforme o caso;

III. Transporte dos produtos eletroeletrônicos dos pontos de recebimento ou


dos pontos de consolidação até a destinação final ambientalmente adequada.
Alternativamente, transporte dos produtos eletroeletrônicos descartados dos
pontos de recebimento até os pontos de consolidação e, em seguida, até a
destinação final ambientalmente adequada; e

IV. Destinação final ambientalmente adequada. (BRASIL, 2019, p. 9)

Também no acordo, é permitida a participação de recicladores, autorizando


e incentivando a participação das cooperativas e associações de catadores
legalmente constituídas. Dessa forma, o acordo regulamenta que só farão parte do
sistema de logística reversa os licenciados pelos órgãos ambientais competentes e
após habilitação pelas empresas ou entidades gestoras.
47

4 AVALIAÇÃO DO CICLO DE VIDA

Os problemas ambientais começaram a ganhar notoriedade mundialmente


na década de 60, período no qual era cada vez mais maior a interdependência dos
países do planeta. Além disso, o uso dos recursos naturais também crescia, assim
políticos, industriais e estudantes fundaram o clube de Roma com o objetivo de
identificar os principais problemas que determinariam o futuro da humanidade. Em
1972, o grupo concretizou sua missão com o lançamento do estudo limites do
crescimento, no qual é feita uma previsão de cenários em que o mundo atingiria o
colapso devido ao desequilíbrio entre o consumo e a oferta de recursos naturais.
Neste contexto é que surge a Avaliação do Ciclo de Vida (ACV, 2022).

Nos anos seguintes o interesse pela ACV foi aumentando, assim


começaram a surgir alguns aprimoramentos para esse modelo. A Sociedade de
Toxicologia e Química Ambiental, (Society of Environmental Toxicology and Chemistry
– SETAC) faziam reuniões anuais para desenvolverem uma metodologia padrão para
a ACV. Na década de 90 foram fundadas instituições dedicadas a esse método,
publicados livros, guias e jornais científicos orientados para o tema. Em 1997, a
Organização Internacional para a Padronização (International Organization for
Standardization - ISO), lançou a ISO 14040 Gestão Ambiental – Avaliação do Ciclo de
Vida – Princípios e Estrutura. Uma série de outras normas foi publicada até a última,
ISO 14044:2006, com os requisitos e orientações para a execução de um estudo ACV.

A ACV é uma técnica que estuda os aspectos ambientais e os impactos


potenciais. Sendo estes impactos positivos ou negativos, ao longo da vida de um
produto ou serviço, desde a extração da matéria-prima até a destinação final. A ACV
pode ser aplicada para o desenvolvimento e melhoria do produto, definição de
planejamentos estratégicos e políticas públicas, indicadores de sustentabilidade,
gestão de impactos ambientais de produtos e serviços. De acordo com a ABNT (2001),
a ACV (em inglês, Life Cycle Assessment-LCA) é uma das várias técnicas de gestão
ambiental utilizadas para estudar aspectos que estão relacionados a um produto.
Principalmente aspectos ambientais e os impactos que são gerados ao longo de sua
produção e utilização. Então, é feita uma avaliação desde a extração da matéria prima,
a produção do insumo e o seu descarte.
48

Fazendo a avaliação do ciclo de vida de um produto, no caso deste


trabalho, de um módulo fotovoltaico, é possível identificar quais os impactos causados
pelos processos ao longo de sua cadeia produtiva. Analisando desde a produção até
o descarte, o que pode causar impactos ambientais negativos e assim fazer as
melhorias necessárias. Além disso, a ACV poderá ser usada para auxiliar na tomada
de decisões, definir planos estratégicos e prioridades para diminuir os impactos ao
meio ambiente. Outra área em que a ACV está crescendo é no marketing, já que
atualmente, muitas empresas, em busca de um diferencial, desejam possuir o Selo
Verde. Dessa forma, utilizam essa metodologia para diminuir impactos ambientais
causados na produção de determinado produto.

4.1 FASES DA ACV

De acordo com a NBR ISO 14040, que normatiza a Avaliação do Ciclo de


Vida - Princípios e Estrutura, a ACV é dividida em quatro fases. São elas, a definição
do objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação do impacto e a interpretação
das três fases anteriores. Um requisito desta norma é que o inventário e as definições
de objetivo e escopo obedeçam às prescrições respectivas da NBR ISO 14041. Essas
fases estão apresentadas na Figura 20.

Figura 20 - Fases de uma ACV

Estrutura da avaliação do ciclo de vida

Definição de
Objetivo e escopo
Aplicações diretas:
-Desenvolvimento e
melhoria do produto;
-Planejamento estratégico;
Interpretação -Elaboração de políticas
Análise de públicas;
inventário -Marketing;
-Outras.

Avaliação de
impacto

Fonte: ABNT (2001).


49

Na primeira fase, de definição de objetivo e escopo, o objetivo deve


declarar a aplicação pretendida, as razões para conduzir o estudo e para quem se
pretende comunicar os resultados do estudo. Já para definir o escopo:

Na definição do escopo de um estudo da ACV devem ser considerados e


claramente descritos os seguintes itens:
● As funções do sistema de produto ou, no caso de estudos
comparativos, dos sistemas; a unidade funcional;
● O sistema de produto a ser estudado;
● As fronteiras do sistema de produto;
● Procedimentos de alocação;
● Tipos de impacto e metodologia de avaliação de impacto e
interpretação subseqüente a ser usada;
● Requisitos dos dados;
● Suposições;
● Limitações;
● Requisitos da qualidade dos dados iniciais;
● Tipo de análise crítica, se aplicável; e
● Tipo e formato do relatório requerido para o estudo (ABNT, 2001, p.5).

Sendo assim, o escopo deve ser bem definido, para que dessa forma seja
garantido o grau de detalhe compatível e suficiente para atender o objetivo
estabelecido.

Na segunda fase, é feita a análise do inventário, etapa na qual são


coletados dados e procedimentos de cálculo para quantificar as entradas e saídas
referentes a um sistema de produto. As entradas e saídas se referem ao uso de
recursos e liberações no ar, na água e no solo associados com o sistema. A depender
dos objetivos e do escopo da ACV, podem ser feitas interpretações destes dados.
Além disso, esses dados compõem a entrada para a avaliação do impacto do ciclo de
vida (ABNT, 2001).

A avaliação do impacto é a terceira fase da ACV e é voltada à avaliação da


importância de impactos ambientais potenciais usando os resultados obtidos na
segunda fase, na análise de inventário do ciclo de vida. Sendo assim, a avaliação de
impactos envolve a associação dos dados do inventário com impactos ambientais
específicos, para que dessa forma se compreenda estes impactos.

A fase de avaliação de impacto pode incluir, entre outros, elementos como:


● Correlação de dados de inventário por categorias de impacto
(classificação);
● Modelagem dos dados de inventário dentro das categorias de impacto
(caracterização);
● Possível agregação dos resultados em casos muito específicos e
somente quando significativos (ponderação) (ABNT, 2001, p.7).
50

Na quarta fase tem-se a interpretação, que é a fase da ACV na qual as


constatações das três primeiras fases, definição de objetivo e escopo, avaliação do
inventário e avaliação de impactos, são combinados. Essa fase tem como objetivo
alcançar conclusões e recomendações. Dessa forma, convém que as constatações
da fase de interpretação reflitam os resultados de qualquer análise de sensibilidade
que seja realizada. Mesmo as decisões e ações posteriores podendo incorporar
implicações ambientais identificadas nas constatações da interpretação, elas ficam
além do escopo do estudo da ACV, uma vez que, outros fatores, como desempenho
técnico, aspectos econômicos e sociais, também são considerados (ABNT, 2001).

Na Figura 21 estão representadas as etapas de estudo da ACV, as quais


são ilustrados os processos de entrada e saída do sistema.

Figura 21 - Representação das etapas de estudo da ACV

MATERIAIS ENERGIA ÁGUA

Extração da Fabricação Distribuição Uso Disposição


Matéria Final
prima

Emissões Emissões Resíduo Resíduo


para o ar para a água sólido Tóxico

Fonte: Coltro (2007).

Dessa forma, é possível entender que as entradas são os processos


relacionados aos materiais, energia e água. Em seguida, tem-se o que ocorre durante
os processos, desde a extração de matéria prima até o final de sua vida útil. E nas
saídas tem-se emissões para o ar e para água, resíduo sólido e resíduo tóxico.
51

Em Konzen e Pereira (2020), foi elaborado um inventário fundamentado no


proposto por Pereira (2012) e nas orientações da NBR ISO 14040. Sendo assim, de
acordo com as orientações propostas em Pereira (2012), o inventário do sistema pode
ser organizado a partir de dados gerais para dados mais específicos, em três
principais elementos que se repetem: transição, processo e resultado. Dessa forma,
o inventário geral do ciclo de vida elaborado em Konzen e Pereira (2020) é
apresentado na Figura 22.
52

Figura 22 - Inventário geral do ciclo de vida do módulo fotovoltaico

Fonte: Konzen e Pereira (2020).


53

5 REVISÃO BLIBIOGRÁFICA

Neste capítulo será feita uma revisão bibliográfica dos estudos realizados
por quatro autoras distintas. Todos os estudos são relacionados ao ciclo de vida de
módulos fotovoltaicos. Cada um dos estudos faz a ACV considerando diferentes
processos e utilizando softwares diferentes, sendo possível fazer uma comparação
dos resultados encontrados. Esses resultados serão utilizados para fazer uma
avaliação geral dos impactos ambientais gerados pela fabricação e descarte dos
módulos fotovoltaicos. Para isso, será utilizado a ACV feita em Konzen (2020), que
faz a avaliação desde a produção até o fim da vida útil do módulo; a ACV feita em
Oliveira (2017), que faz a avaliação desde a produção até o uso dos módulos; a ACV
feita em Pupin (2019), que faz a avaliação somente da produção dos módulos; e a
ACV feita em Miranda (2019), que faz a avaliação do fim da vida útil dos módulos.

Inicialmente este estudo tinha como objetivo realizar uma ACV elaborada
considerando os processos desde da extração da matéria prima até a fase de
reciclagem de um módulo fotovoltaico. Para utilizar essa técnica seria necessário a
utilização de um software e bancos de dados que possuíssem dados sobre cada um
dos processos que seriam adotados. Foi feita uma tentativa com o software OPENLCA
e os bancos de dados da Ecoinvent, porém não se obteve êxito no momento da
simulação dos processos. Vários dados necessários para o estudo não estavam
presentes nos bancos de dados, não sendo possível concluir o estudo dessa maneira.

Então, foi realizada uma revisão bibliográfica de estudos referentes a ACV


de módulos fotovoltaicos. Em seguida, foi feita uma avaliação, comparando os
resultados encontrados nos estudos revisados, que possibilitará uma análise mais
conclusiva e geral dos impactos gerados pela fabricação e descarte dos módulos
fotovoltaicos. Apesar da ACV ser um método de estudo importante, os resultados
encontrados são influenciados por vários fatores, trazendo uma imprecisão em muitos
dos seus resultados. Essa imprecisão foi observada em cada um dos estudos que
foram apresentados já que, em vários momentos, foi necessário fazer estimativas para
alguns valores utilizados. O uso de estimativa foi necessário porque não são
encontrados dados exatos a respeito da quantidade de matéria-prima utilizada, do que
é gasto na produção, no transporte, no uso ou no descarte dos módulos fotovoltaicos.
54

5.1 METODOLOGIA EM KONZEN (2020)

Analisando a metodologia de Konzen (2020), na fase de definição do


objetivo e escopo, o objetivo é analisar o impacto ambiental do ciclo de vida de um
sistema fotovoltaico no Brasil. O estudo foi feito a partir de uma instalação realizada
pela Empresa Sonnen Energia. A unidade funcional foi definida por um sistema
composto por 228 módulos fotovoltaicos, da marca AmeriSolar e modelo AS-6P
composto por células policristalinas, que seriam instalados na cidade de Uruguaiana,
no Rio Grande do Sul. E o escopo envolve “a montagem do painel, transportes,
instalação, desmontagem, reciclagem do alumínio, e para os demais materiais
laminados, foram comparadas as situações de aterro sanitário e incineração”
(KONZEN, 2020).

Na segunda fase, de análise do inventário, os processos para esse estudo


são definidos como mostrados na Figura 23.

Figura 23 - Processos da ACV

Fonte: Konzen (2020).

A partir da definição dos processos indicados na Figura 23, foi elaborado


um inventário do ciclo de vida dos módulos fotovoltaicos para esse estudo, como
apresenta a Figura 24.
55

Figura 24 - Inventário da ACV

Fonte: Konzen (2020).

Para fazer esse estudo foi utilizado o software OpenLCA, junto com bases
de dados disponibilizadas para ele, além da base de dados fornecida pela Ecoinvent.
Na base de dados da Ecoinvent tem um processo pronto referente a produção de
56

módulos fotovoltaicos. Além desse processo pronto, do banco de dados, o estudo


utiliza uma tabela que possui uma estimativa de porcentagem de cada material que
compõe um módulo fotovoltaico para simular sua produção no software. Então,
Konzen (2020) decidiu adotar 4 cenários diferentes para realização deste estudo. No
cenário 1 é utilizado dados importados do banco de dados da Ecoinvent para produção
dos painéis e considera que o descarte será feito em aterro sanitário; no cenário 2
também é utilizado dados importados do banco de dados e considera que o destino
dos módulos será a incineração; no cenário 3 é utilizado os dados estimados para
produção dos painéis e considera que o destino deles são o aterro sanitário; e no
cenário 4 também é utilizado os dados estimados para produção dos painéis e
considera que o destino deles será a incineração (KONZEN, 2020).

Para fase de avaliação de impactos, “foi utilizado um método do cálculo


aberto, disponibilizado pela plataforma da OpenLCA (OPENLCA NEXUS, 2020),
compatível com a versão openLCA 1.8, no caso, a base “ecoinvent 3.5 LCIA methods”.
Nessa base, o método mais recente disponível é o ILCD 2.0 2018, que engloba 19
categorias de impacto” (KONZEN, 2020). Os resultados obtidos para cada categoria
estão apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Resultados para cada categoria de impacto ambiental

Categoria de impacto Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Unidade

Mudanças climáticas 7,49366e+2 7,49799e+2 7,35934e+2 7,36370e+2 kg CO2-Eq


biogênicas

Mudanças climáticas 1,04244e+5 1,07712e+5 1,18962e+5 1,22430e+5 kg CO2-Eq


(combustíveis fósseis)

Mudanças climáticas por 3,14730e+2 3,15042e+2 3,07314e+2 3,07626e+2 kg CO2-Eq


uso e transformação do
solo

Mudanças climáticas 1,05308e+5 1,08777e+5 1,20005e+5 1,23474e+5 kg CO2-Eq


totais

Qualidade do 6,55263e+2 6,78330e+2 7,66689e+2 7,89756e+2 mol H+-Eq


ecossistema (água doce
e acidificação terrestre)

Qualidade do 1,06608e+5 1,07389e+5 1,14091e+5 1,17872e+5 CTU


ecossistema
(ecotoxicidade da água)
57

Qualidade do 5,30409e+1 5,31123e+1 6,21278e+1 6,21992e+1 kg P-Eq


ecossistema
(eutrofização da água
doce)

Qualidade do 1,39421e+2 1,48761e+2 1,55428e+2 1,64767e+2 kg N-Eq


ecossistema
(eutrofização marinha)

Qualidade do 1,30932e+3 1,41224e+3 1,47498e+3 1,57790e+3 mol N-Eq


ecossistema
(eutrofização terrestre)

Saúde humana (efeito 2,65148e-3 2,66113e-3 2,87617e-3 2,88583e-3 CTUh


cancerígeno)

Saúde humana (radiação 9,65286e+3 9,86502e+3 1,01947e+4 1,04068e+4 kg U235-Eq


ionizante)

Saúde humana (efeito 2,76839e-2 2,78821e-2 3,28853e-2 3,308359e-2 CTUh


não cancerígeno)

Saúde humana 1,21640e-2 1,29205e-2 1,28550e-2 1,36115e-2 kg CFC-11-Eq


(destruição da camada
de ozônio)

Saúde humana 4,45091e+2 4,80797e+2 4,97305e+2 5,33010e+2 kg NMVOC-Eq


(produção de ozônio)

Saúde humana (agentes 6,61456e-3 7,09002e-3 6,60411e-3 7,07957e-3 disease


inorgânicos respiratórios) incidence

Recursos (água 1,68379e+5 1,68545e+5 1,80128e+5 1,80294e+5 m3 water-Eq


dissipada)

Recursos (fósseis) 1,56354e+6 1,61029e+6 1,74703e+6 1,79378e+6 MJ

Recursos (uso da terra) 7,27304e+5 7,31980e+5 7,28820e+5 7,33496e+5 points

Recursos (minerais e 5,02946e-4 5,03384e-4 1,78022e-4 1,78460e-4 kg Sb-Eq


metais)
Fonte: Adaptado de Konzen (2020).

Então, a partir dos resultados encontrados, foi possível fazer uma análise
geral dos resultados encontrados. Sendo assim, em 15 das 19 categorias de impactos,
o cenário 4 resultou em um maior impacto, enquanto o cenário 1 resultou em um
menor impacto. As quatro categorias que foram exceção para essa conclusão foram
mudanças climáticas biogênicas, mudanças climáticas por uso e transformação do
solo, agentes inorgânicos respiratórios e depleção de recursos metais e minerais.
Outros pontos observados foram que:

● A produção dos módulos nos cenários 1 e 2, e a produção nos cenários


3 e 4, são os processos que causam os maiores impactos em todos os
cenários e em todas as categorias. Sendo a única exceção a categoria de
58

impacto de mudança climática de uso e transformação do solo, na qual o


maior impacto resultante é a produção do alumínio primário para todos os
cenários;
● Os Cenários 1 e 2 representam os menores impactos e os cenários 3
e 4 os maiores, na maioria das categorias. As exceções são mudanças
climáticas biogênicas, mudança climática de uso e transformação do solo,
efeitos inorgânicos respiratórios e depleção de recursos metais e minerais,
nas quais os cenários 1 e 2 são maiores que os 3 e 4, ainda que os cenários
de incineração (2 e 4) representam maiores impactos que os cenários de
aterro (1 e 3); e
● Os cenários de incineração (2 e 4) sempre apresentam os maiores
impactos quando comparados aos Cenários de aterro (1 e 3), sem exceções.
Isso é justificado principalmente pelo aumento da distância a ser percorrida
nos cenários de incineração, como foi demonstrado pela análise específica
da gestão do fim de vida. (KONZEN, 2020, p. 101)

Considerando todos os processos que incluem a gestão do fim de vida, os


cenários 1 e 3, apresentam valores de impacto menores que os cenários 2 e 4. Isso
significa que tratar do resíduo em aterro causa menores impactos ambientais do que
o tratamento por incineração. Porém, fazendo a análise dos processos de aterro e
incineração isolados, conclui-se que o processo de incineração causa menores
impactos. Isso acontece porque nos processos estão inclusos os transportes, e o fato
de os locais de incineração serem distantes, para esse caso, faz com que na análise
geral os cenários para incineração tenham um maior impacto. Então, é importante que
todos os processos sejam pensados para percorrerem as menores distâncias
possíveis (KONZEN, 2020).

Além disso, é necessário analisar a variação dos impactos ambientais


quando a produção dos módulos é nacional ou importada, pois esses processos
envolvem os transportes internacionais, fontes de energia e processos produtivos
específicos de cada país. Para o estudo em questão, como os módulos são
produzidos na China, os impactos são maiores. Isso ocorre devido à matriz energética
da China, onde a principal fonte de energia é o carvão, ou seja, fonte de maior impacto
ambiental quando comparada às fontes predominantes no Brasil (KONZEN, 2020).

5.2 METODOLOGIA EM OLIVEIRA (2017)

Na metodologia apresentada em Oliveira (2017), são avaliados os


processos produtivos desde a extração do silício até a produção e fase de uso dos
módulos fotovoltaicos. Na primeira fase, o objetivo e escopo do sistema é a avaliação
do ciclo de vida da produção do módulo. É adotado o 1 kWh como unidade funcional
e realizado uma comparação da geração de energia solar e do mix de energia
brasileira para alimentar uma casa com consumo de, aproximadamente, 330
59

kWh/mês. A fronteira do sistema foi definida iniciando o processo na extração do silício


e finalizando na fase de utilização do módulo fotovoltaico.

O software utilizado para essa ACV foi o Thinkstep GaBi versão Education
2016. No inventário do ciclo de vida os dados quantitativos referentes à purificação do
silício policristalino, produção do wafer multicristalino, produção da célula de silício e
produção do módulo fotovoltaico, usados no software foram baseados em dados
secundários obtidos em Alsema e Wild-Scholten (2005). Além dos dados quantitativos
de inventário, também são importantes as especificações técnicas do módulo que
para esse estudo foi usado módulos de 165 Wp (OLIVEIRA, 2017).

Foram considerados dois cenários para essa análise. No cenário 1 foi


modelado com a extração do silício até a produção do módulo feito na China. Assim,
o módulo chega ao Brasil pronto para instalação, que será em Brasília. Além disso,
para modelagem das distâncias, foi assumido que a fabricação ocorreu na empresa
Yingli Solar; a purificação do silício foi feita na fábrica Fine Silicon; e a produção dos
wafers, células e módulos, na fábrica de Hainan. Após a finalização do módulo, este
foi levado via transporte rodoviário para o Porto Yangpu, onde foram enviadas para o
Porto de Itajaí-SC. Depois, saiu do Porto de Itajaí e seguiu via transporte rodoviário
para Brasília, onde os módulos foram instalados (OLIVEIRA, 2017).

Já o cenário 2 foi modelado assumindo que o wafer foi produzido na China


e a montagem dos módulos no Brasil. Sendo a Globo Brasil a empresa escolhida para
modelar a distância. Desta forma, o wafer veio da China, o módulo foi montado no
Brasil e enviado para os distribuidores nacionais. Analisando os dois cenários, foi feita
uma comparação assumindo uma residência alimentada pela energia solar e essa
mesma residência alimentada pela matriz elétrica brasileira. Então, para implementar
todos os processos no software Gabi, foi seguido o passo a passo a seguir:

● Ativar a base de dados Gabi;


● Criar um plano nomeado como ACV módulo fotovoltaico;
● Criar os processos a partir dos dados quantitativos;
● Adicionar as entradas e saídas de cada processo;
● Criar fluxos quando necessário;
● Criar objetos quando necessário;
● Definir os fluxos que são elementares no processo;
● Verificação do balanço de massa;
● Adicionar os processos ao plano dos fluxos elementares;
● Inserir os processos de transporte;
● Agregar os processos;
● Analisar os cenários no explorador de parâmetros Gabi;
60

● Geração dos resultados;e


● Analisar os resultados. (OLIVEIRA, 2017, p. 40)

Para a fase de avaliação de impactos, foram analisadas 7 categorias


baseadas na literatura que aborda ACV de sistemas de energia (ALSEMA, 2011), as
quais são:

● Consumo de Energia (kWh);


● Consumo de Água (kg);
● Potencial de Aquecimento Global [PAG (100 anos)];
● Potencial de Acidificação (PA);
● Potencial de Eutrofização (PE);
● Potencial de Toxicidade Humana (PTH); e
● Depleção Abiótica Fóssil (DAF). (OLIVEIRA, 2017, p. 43)

Então, a partir das simulações feitas no software são obtidos os resultados


apresentados na Figura 25. Esses resultados são sobre os impactos ambientais
causados em cada fase da produção para cada um dos cenários adotados.
61

Figura 25 - Impactos ambientais para o Cenário 1 (A) e Cenário 2 (B) a partir das
categorias de impacto de energia (Energia), Consumo de água (Água), Potencial de
Aquecimento Global (PAG), Potencial de Acidificação (PA), Potencial de
Eutrofização (PE) e Potencial de Toxicidade Humana (PTH) e Depleção abiótica
Fóssil (DAF) respectivamente.

Fonte: Oliveira (2017).


62

Analisando os resultados obtidos, é possível perceber que a produção dos


módulos fotovoltaicos é o processo com maior impacto ambiental em todas as
categorias e nos dois cenários. Ficando em segundo lugar a purificação do silício, a
extração, e a produção do wafer. O fato da purificação do silício ficar em segundo
lugar, deve-se ao fato de que esse processo é feito na China. Onde possui um mix de
energia com grande utilização do carvão, que contribui para os impactos avaliados.

Analisando a categoria de Potencial de Aquecimento Global, o cenário 1


apresentou 8,83 kg de CO2 Equiv, enquanto o cenário 2 apresentou um valor de 8,66
kg de CO2 Equiv. Quando analisada a categoria de consumo de energia, o módulo no
cenário 1 apresenta valor de 74,3%, enquanto no cenário 2 tem 72,8%. Assim, a
produção completa do módulo fotovoltaico, na China, consome mais energia elétrica
do que com a produção do módulo sendo finalizada no Brasil, pois a matriz energética
utilizada na China possui grande contribuição de carvão mineral (OLIVEIRA, 2017).

Para a categoria de Potencial de Acidificação (PA), o cenário 1 apresentou


uma contribuição maior, no módulo fotovoltaico, com 75,4% e o cenário 2 com 72,7%.
O Potencial de Eutrofização (PE) também teve sua maior contribuição no módulo
fotovoltaico com 69,3% no Cenário 1 e 69% no Cenário 2. O Potencial de Toxicidade
Humana (PTH), o módulo contribui com 95,4% no Cenário 1 e com 95,3% no Cenário
2. Para Depleção Abiótica Fóssil (DAF) no cenário 1 foi registrado 68,4% e 67,6% no
cenário 2 (OLIVEIRA, 2017).

Sendo assim, conclui-se que em todas as categorias, quando comparado


os dois cenários, o cenário 1 apresenta uma quantidade maior de impactos
ambientais. Assim, o cenário 2 possui menos impactos, que corresponde ao cenário
onde a produção é realizada entre a China e o Brasil. Isso se deve ao fato dos dois
países possuírem um mix de energia diferentes. Como o cenário 2 apresentou
menores impactos, é possível afirmar que a matriz energética brasileira é mais limpa
que a chinesa. Quando considerado o uso da matriz elétrica brasileira, os impactos
ambientais são maiores em comparação ao uso da energia solar (OLIVEIRA, 2017).

5.3 METODOLOGIA EM PUPIN (2019)

Na metodologia usada em Pupin (2019), na primeira fase da ACV, o


objetivo é considerar uma situação que englobe todos os processos que impactam o
63

meio ambiente durante a cadeia produtiva do módulo fotovoltaico. A unidade funcional


de todo sistema é o kWh, tratando-se do gasto energético mensal de uma residência
familiar média, de 250 kWh. O escopo desta avaliação será analisar os impactos
gerados em relação à emissão de gases de efeito estufa, o consumo de recursos
abióticos, a depleção do ozônio estratosférico, toxicidade humana, a ecotoxicidade de
ambientes aquáticos e terrestres, a poluição foto-oxidante, a acidificação de
ambientes e a eutrofização (PUPIN, 2019).

Para esse estudo serão considerados os processos de extração da sílica,


purificação do silício, produção dos wafers de silício, da célula solar e em seguida do
módulo fotovoltaico. Além disso, será adotado um módulo de potência de 224 Wp e
eficiência de 15,4%. Também foi considerado que o local de produção do painel foi na
China e quando pronto será transportado através de um navio para o porto de Santos
- SP, no Brasil, e então será transportado por um caminhão até a cidade de Itajubá -
MG, onde ocorrerá a instalação dos módulos. Nesse estudo, será considerada a
produção de um inversor de frequência de 500 W com uma eficiência de 93,5% e seus
componentes elétricos para uso em um sistema conectado à rede (PUPIN, 2019).

Para definir a quantidade de painéis foi feito os cálculos utilizando a


irradiância do local de instalação, o consumo de 250 kWh e as perdas, o que pode ser
feito através de softwares online. Na simulação é considerado que os módulos
fotovoltaicos seriam instalados voltados para o Norte, então seria necessário um
sistema de 1,5 kWp de potência. Assim, para fornecer energia para esta residência, 7
painéis de 224 Wp deverão ser instalados, resultando numa potência aproximada de
1,568 kWp (PUPIN, 2019).

Na segunda fase de análise de inventário, os processos que serão


analisados nesta ACV são a extração da sílica; a produção do silício metalúrgico;
produção do silício policristalino; produção do silício monocristalino; produção dos
wafers de silício; produção das células solares; produção do painel fotovoltaico;
transporte marítimo; transporte rodoviário; e produção do inversor de frequência. Em
cada processo foram descritas as entradas e as saídas com os dados quantitativos.
Para esse estudo foi utilizado o software SimaPro e o banco de dados da Ecoinvent
com a finalidade de simular e obter resultados referentes aos impactos ambientais dos
processos adotados (PUPIN, 2019).
64

Na terceira fase, de avaliação de impactos, foram escolhidas as categorias


de depleção abiótica; depleção abiótica de combustíveis fósseis; aquecimento global;
depleção da camada de ozônio estratosférico; toxicidade humana; ecotoxicidade
aquática (água doce); ecotoxicidade aquática (marinha); ecotoxicidade terrestre;
formação de compostos foto-oxidantes; acidificação; e eutrofização. Assim, foi obtido
o gráfico apresentado na Figura 26, o qual mostra o crescimento dos impactos
ambientais causados ao longo das etapas de produção, separados por categorias,
sendo que os processos pertencentes ao painel estão de forma cumulativa (PUPIN,
2019).

Figura 26 - Gráfico dos impactos ambientais causados em cada etapa de produção


separados por categoria

Fonte: Pupin (2019).

Analisando os resultados apresentados no gráfico, tem-se que a extração


de sílica, o transporte marítimo e o transporte rodoviário, possuem taxas de emissão
baixas ou nulas de acordo com os componentes, quando comparado ao restante do
processo. O processo de produção do silício metalúrgico, apesar de também não ter
impactos relevantes, possui uma maior participação na categoria de ecotoxicidade
aquática marinha (PUPIN, 2019).

A produção de silício policristalino, fase onde ocorre purificação do silício


metalúrgico para o silício grau solar, apresenta maior representatividade em todas as
categorias, menos na categoria de depleção abiótica. Na produção de silício
monocristalino, onde também ocorre a purificação do silício a grau solar, com pureza
65

de 99,9999%, é uma das etapas mais causadoras de impactos e emissões ao meio


ambiente. Sendo a produção de silício monocristalino responsável por mais de 10%
dos impactos na maioria das categorias, com exceção da depleção abiótica e da
depleção do ozônio estratosférico. Além disso, quando analisada isoladamente, sem
acumular os impactos anteriores de produção do silício solar, representa a etapa com
maior gasto energético, consumo de recursos e emissão de elementos ao ambiente
(PUPIN, 2019).

Na etapa produção de wafers, é possível afirmar que é mais prejudicial ao


meio ambiente que a extração de sílica e produção de silício metalúrgico. Na produção
de wafers a categoria de impacto toxicidade humana é a que tem maior
representatividade. Suas emissões e consumos causam mais de 20% da toxicidade
humana gerada por todo o processo de produção do painel fotovoltaico, quando
analisada isoladamente (PUPIN, 2019).

A produção das células solares apresenta maior consumo e emissões nas


categorias de depleção abiótica, depleção de ozônio estratosférico e eutrofização.
Apesar de serem apenas 3 das 11 categorias analisadas, sua contribuição nestas
categorias é altamente relevante. Então, para a categoria de depleção abiótica, os
impactos que a produção das células representa é de 55,7%; para a depleção de
ozônio estratosférico, esta etapa representa 58,3%; e para a categoria de
eutrofização, esta fase é responsável por 66,7% de todo impacto (PUPIN, 2019).

Já a etapa final, de produção do módulo fotovoltaico, é também uma fase


representativa em relação à geração de impactos ambientais nas categorias
analisadas. Sendo assim, tem maior contribuição na categoria de impacto de
ecotoxicidade aquática marinha, representando 30% de todo impacto gerado. Além
disso, a etapa de produção do inversor, mostra-se como a mais representativa em
duas categorias. São elas, a ecotoxicidade aquática de água doce, com 24,6%, e a
formação foto-oxidante, com 20,9% de representatividade (PUPIN, 2019).

5.4 METODOLOGIA EM MIRANDA (2019)

Na metodologia apresentada em Miranda (2019), a primeira fase da ACV


tem como objetivo a análise do fim de vida de módulos fotovoltaicos. Nesse estudo, a
ACV foi aplicada considerando três cenários para o tratamento dos resíduos dos
66

módulos fotovoltaicos no Brasil. Então, o escopo do cenário 1 considera o método de


tratamento de resíduos através do processo de reciclagem, processo no qual são
recuperados materiais que compõem os módulos fotovoltaicos. No cenário 2, “depois
da separação da moldura, parte dos resíduos é separado e parte passa por um
processo de controle e incineração, reduzindo o volume a ser descartado em aterro”
MIRANDA (2019). No cenário 3, o que diferencia do cenário 2 é a forma de descarte
dos resíduos não recuperados, não havendo nenhum tipo de separação e tratamento
antes do envio do resíduo para descarte em aterro. Ainda dentro da primeira fase da
ACV, a unidade funcional adotada é o tratamento de 1000 kg de resíduos de módulos
fotovoltaicos de silício cristalino (MIRANDA, 2019).

No limite do sistema, foi definida a análise de gestão dos resíduos desde


onde são gerados. Sendo assim, para todos os cenários, o processo se inicia na coleta
de resíduos na planta de geração. Serão contabilizados os impactos gerados pela
coleta até o processamento dos resíduos e o descarte dos resíduos finais. Nas Figuras
27, 28 e 29, estão representados os fluxogramas dos processos existentes em cada
cenário analisado (MIRANDA, 2019).

Figura 27 - Fluxo do limite do sistema para o cenário 1

Fonte: Miranda (2019).


67

Figura 28 - Fluxo do limite do sistema para o cenário 2

Fonte: Miranda (2019).

Figura 29 - Fluxo do limite do sistema para o cenário 3

Fonte: Miranda (2019).

Para ser possível dimensionar quantitativamente os processos de


transporte e analisar os impactos ambientais causados, foi considerado o tratamento
do descarte dos módulos fotovoltaicos nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio
Grande do Sul. Levando em conta, também, número de fornecedores, distribuidores
e recicladoras de REEE. Assim, para o estudo em questão, para cada um dos
cenários, após a desinstalação dos sistemas, os módulos desmontados retornarão
aos fornecedores. Para isso, foi estimado uma distância média de 100 km entre as
68

instalações das usinas fotovoltaicas e o ponto de coleta mais próximo. Depois de


coletados, os resíduos são levados para a instalação de tratamento de resíduos. Para
o cenário 1, foi adotada uma distância média de 500 km entre o ponto de coleta e o
local de reciclagem de módulos fotovoltaicos mais próximo. Já para os cenários 2 e 3,
após a coleta os resíduos foram enviados para unidades de reciclagem de REEE
genérica, adotando uma distância média de 300 km. Dessa forma, no esquema da
Figura 30 é possível analisar, de forma ilustrada, todo o processo de transporte dos
resíduos (MIRANDA, 2019).

Figura 30 - Esquema de transporte dos resíduos de módulos fotovoltaicos

Fonte: Miranda (2019).

A simulação da ACV foi feita através do software SimaPro versão 8.0 e o


método ReCiPe versão 1.10 foi selecionado para modelar o potencial impacto
ambiental, além de utilizar dados existentes do banco de dados Ecoinvent e da ELCD.
Na segunda fase da ACV, de análise de inventário, os dados quantitativos de entrada
e saída, para modelagem dos três cenários, foram adaptados do estudo de Latunussa
et al. (2016).

Na análise de inventário do cenário 1, de acordo com Miranda (2019) “o


processo de reciclagem do módulo é dividido em etapas em uma sequência de
desmontagem mecânica, separação do vidro, tratamento térmico, reciclagem da
69

célula FV através de tratamento químico e descarte dos resíduos”. Dessa forma, a


quantificação das entradas e saídas no cenário 1 é representada na Tabela 3.

Tabela 3 - Dados quantitativos das entradas e saídas no cenário 1

Fonte: Miranda (2019).


70

Na análise de inventário do cenário 2 “ocorre a reciclagem apenas de parte


dos componentes do módulo e tratamento dos demais resíduos dos módulos FV como
REEE através de incineração antes da disposição em aterro” (MIRANDA, 2019).
Assim, os dados quantitativos das entradas e saídas no cenário 2 são apresentados
na Tabela 4.

Tabela 4 - Dados quantitativos das entradas e saídas no cenário 2

Fonte: Miranda (2019).

Na análise de inventário do cenário 3, relativamente ao cenário 2, é a etapa


de tratamento térmico do resíduo para envio ao aterro. Depois da separação do
alumínio e dos cabos em cobre, o restante do resíduo é triturado e enviado para aterro
(MIRANDA, 2019). Dessa forma, os dados quantitativos das entradas e saídas no
cenário 3 são representados na Tabela 5.
71

Tabela 5 - Dados quantitativos das entradas e saídas no cenário 3

Fonte: Miranda (2019).

Na terceira fase da ACV, de avaliação de impactos, os resultados são


dados separadamente para cada cenário. Sendo representada nas 18 categorias de
impacto ambiental Midpoint. Assim, na Tabela 6 é apresentada uma comparação entre
as avaliações de impactos dos três cenários. Sendo os impactos representados pelos
indicadores positivos e os benefícios pelos indicadores negativos.

Tabela 6 - Comparação dos impactos entre os três cenários na categoria Midpoint

Fonte: Miranda (2019).

Analisando os resultados, foi possível concluir que o cenário de reciclagem


produziu maior quantidade de impactos nas categorias analisadas, quando
comparado com os cenários de incineração e aterro. A única exceção foi a categoria
72

de ecotoxicidade terrestre, onde a incineração apresenta maior contribuição. Apesar


disso, o cenário de reciclagem produziu percentuais maiores de benefícios
ambientais. Ainda sobre os dados obtidos “na categoria de ocupação do solo, por
exemplo, a contribuição negativa é produzida sobretudo pelo aproveitamento de
materiais que ocorrem no processo” (MIRANDA, 2019).

Além disso, é possível realizar a avaliação em nível Endpoint para os três


cenários. Assim “as pontuações dos indicadores expressam a gravidade relativa ao
impacto ambiental e são apresentadas em três categorias, ou seja, o dano à saúde
humana, expressa em DALY (ano de vida ajustado por incapacidade), ecossistemas,
expressa em espécie-ano e recursos, expressa em dólar (U$)” (MIRANDA, 2019). Na
Tabela 7 é apresentado os resultados obtidos para cada uma das três categorias.

Tabela 7 - Comparação dos impactos entre os três cenários na categoria Endpoint

Fonte: Miranda (2019).

Analisando a comparação na categoria Endpoint, a reciclagem também


apresentou maior impacto. Já o cenário de aterro foi o que apresentou menor impacto.

Também foi feita uma análise de viabilidade econômica para


implementação do cenário de reciclagem para tratamento dos resíduos dos módulos
fotovoltaicos. Na análise utilizou-se o valor de 24.656,00 toneladas como valor total
de resíduos estimados para 2033. A partir dos estudos, 1.000 kg de resíduo reciclado,
gerou 14,46 kg de resíduo comum e 70,41 kg de resíduo perigoso. Como esses
valores representam 1,4% e 7%, respectivamente, do total de 1.000 kg, o total de
resíduo comum estimados para 2033 será de 345,184 toneladas e o total de resíduos
perigosos será de 1.725,92 toneladas (MIRANDA, 2019).

A Tabela 8 foi utilizada na análise com os valores médios de mercado para


os materiais reciclados e custos de envio para os aterros.
73

Tabela 8 - Valores de mercados dos materiais e tratamento de resíduos

Fonte: Miranda (2019).

Dessa forma, foi possível calcular o total de receita através da venda dos
materiais recuperados na reciclagem; os custos do processo de reciclagem desses
materiais; e os custos para disposição em aterro dos resíduos gerados no processo a
partir de uma quantidade estimada de materiais que seriam recuperados e dos valores
apresentados na Tabela 8. Então, na Tabela 9 é apresentado o resultado da análise
de viabilidade econômica para o cenário de reciclagem.

Tabela 9 - Receitas e custos para a reciclagem de módulos fotovoltaicos

Fonte: MIRANDA (2019).

Sendo assim, é possível encontrar um valor negativo de R$107.578.129,36


quando foram subtraídas as receitas dos custos para reciclagem dos módulos
74

fotovoltaicos. Dessa forma, os custos para reciclagem são muito maiores que as
receitas obtidas pelo processo. Também foi verificado que o custo da disposição em
aterro é extremamente baixo em relação ao custo de reciclagem.
75

6 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELA FABRICAÇÃO


DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Através dos resultados encontrados nos estudos de ACV realizados em


Konzen (2020), Oliveira (2017) e Pupin (2019), é possível avaliar de forma geral os
impactos ambientais gerados pela fabricação dos módulos fotovoltaicos. As
categorias de impactos em comum entre esses três estudos, que podem ser avaliadas
durante a fabricação, são o consumo de energia, aquecimento global, potencial de
acidificação, potencial de eutrofização, potencial de toxicidade humana e depleção
abiótica fóssil. A fabricação dos módulos fotovoltaicos envolve vários processos, como
a extração e purificação do silício, produção dos wafers, produção das células
fotovoltaicas e a produção dos módulos fotovoltaicos. Dentre os processos que
envolvem a fabricação, foi constatado nos três estudos que a etapa de produção dos
módulos é a que causa maiores impactos ambientais.

A categoria de consumo de energia analisa a quantidade de energia


utilizada em cada processo. Nessa categoria, a localidade é muito importante, já que
a matriz energética do local interfere nos impactos ambientais. Quando se tem uma
matriz energética baseada em combustíveis fósseis, como por exemplo, o carvão, os
impactos ambientais são maiores do que quando comparados aos impactos gerados
pelo consumo de energia quando se tem uma matriz energética baseada em energias
renováveis. Dessa forma, a partir dos estudos apresentados, conclui-se que, quando
a produção dos módulos ocorre no Brasil, os impactos são menores, relativamente
aos módulos fabricados na China. Esse fato deve-se à matriz energética chinesa que
é baseada no carvão, causando maiores impactos ao meio ambiente.

Na categoria de aquecimento global considera-se a emissão de gases do


efeito estufa em cada processo de fabricação. O aquecimento global “é o aumento da
temperatura média dos oceanos e da camada de ar próxima à superfície da Terra que
pode ser consequência de causas naturais e atividades humanas" (WWF, 2022). A
maior causa do aumento da temperatura média do planeta é o aumento do efeito
estufa. O efeito estufa é um efeito natural causado pela concentração de gases na
atmosfera onde formam uma camada que permite a passagem dos raios solares e a
absorção de calor. Esse efeito é responsável por manter uma temperatura adequada
no planeta. Então, quando ocorre o aumento da emissão de gases causadores do
efeito estufa, como por exemplo, o dióxido de carbono (CO2 ) emitido durante a queima
76

de combustíveis fósseis, a temperatura média no planeta aumenta. Algumas das


consequências desse processo são o derretimento das geleiras, elevação dos níveis
do oceano, aumento dos desastres naturais, extinção de espécies, diminuição na
produção de alimentos e chuva ácida. As práticas humanas não sustentáveis estão
diretamente relacionadas ao aquecimento global, como por exemplo, o
desmatamento, as queimadas e a poluição.

Para explicar a categoria de potencial de acidificação, é necessário


entender o que é a acidificação, a qual refere-se a reação de alguns componentes
químicos com a umidade do ar. Esses componentes químicos são emitidos através
de ações executadas pelos seres humanos, sendo alguns deles o SO2 , NOX e o NH3 .
O processo de acidificação ocorre de forma natural no meio terrestre e no oceano,
porém a maior parte desse processo é causado pelos seres humanos. A queima de
combustíveis fósseis, realizadas por motores de combustão presentes nos transportes
e nas indústrias, é a principal causa da acidificação terrestre. O CO2 produzido através
da queima de combustíveis fósseis, causa a acidificação dos oceanos. Esse excesso
de acidez em um ecossistema pode causar chuva ácida, a perda de biodiversidade,
eliminar bactérias e microrganismos fundamentais para o equilíbrio ecológico.

Para explicar a categoria de potencial de eutrofização é necessário


entender o que é o processo de eutrofização. A eutrofização é o processo de poluição
dos meios aquáticos, como os rios, oceanos e lagos, causando uma multiplicação
excessiva de algas. A quantidade excessiva de nitrogênio (N) e fósforo (F) nos corpos
d’água ocasiona a rápida multiplicação de algas devido ao excesso de nutrientes. A
eutrofização é um processo natural quando ocorre em intervalos de tempos longos, já
quando ocorre em intervalos de tempos curtos é considerado causado por influência
humana. Essa grande quantidade de algas na superfície da água impede a passagem
de luz e, consequentemente, a falta de oxigênio, assim as plantas aquáticas não
conseguem realizar fotossíntese, diminuindo ainda mais a quantidade de oxigênio
nesse ecossistema. Todo esse processo provoca a morte de diversos organismos.
Além disso, o meio fica com incapacidade de uso da água, já que ela fica com várias
substâncias tóxicas, produzindo mau cheiro e alteração na coloração.

A categoria de potencial de toxicidade humana serve para mensurar o


possível dano que um produto químico pode causar no meio ambiente. A toxicidade
77

humana pode ser causada por atividades antrópicas que emitem substâncias que
podem atingir o ser humano e o meio ambiente. Algumas dessas atividades podem
ser a poluição do meio ambiente e a queima de combustíveis fósseis, atividades já
citadas anteriormente. Dessa forma, esse processo pode causar graves problemas
não só ao meio ambiente mas, principalmente, a saúde do ser humano, podendo
provocar danos físicos.

Para entender a categoria de potencial de depleção abiótica fóssil é


necessário entender o que são os recursos abióticos. Os recursos abióticos são
elementos não vivos que afetam organismos vivos do meio ambiente. Esses
elementos não vivos podem ser fatores físicos ou químicos. Os fatores físicos são os
que influenciam no clima do planeta, como a radiação solar que é responsável por
proporcionar a luz, a qual é utilizada pelas plantas para realizarem a fotossíntese.
Além disso, a radiação solar influencia na temperatura, a qual influência nos fatores
climáticos, como chuvas, ventos e umidade do ar. Os fatores químicos são
representados pelos nutrientes existentes, como os sais minerais, os fosfatos e
magnésio. Os ciclos biogeoquímicos do nitrogênio, do oxigênio e do carbono
contribuem para a manutenção dos nutrientes, garantindo o equilíbrio dos
ecossistemas. Então, entende-se que a depleção abiótica fóssil é a grande utilização
de combustíveis fósseis causando a diminuição desses recursos.

Dessa forma, analisando todas as categorias dos impactos estudados e


todos os processos de fabricação dos módulos fotovoltaicos, pode-se afirmar que a
etapa de produção, ou seja, montagem dos módulos, é a que causa os maiores
impactos ambientais. Esse grande impacto deve-se ao fato de ser uma produção feita
por indústrias, as quais são muito poluentes. Além disso, a maioria dos módulos são
fabricados na China, onde a matriz energética é baseada no carvão, o qual é um
grande poluidor do meio ambiente. A partir das pesquisas realizadas, não foram
encontradas informações sobre estudos que tenham a finalidade de diminuir os
impactos ambientais causados pela fabricação dos módulos fotovoltaicos.
78

7 AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELO DESCARTE


DOS MÓDULOS FOTOVOLTAICOS

Através dos estudos de ACV em Konzen (2020) e Miranda (2019), os quais


tratam da parte do fim da vida útil dos módulos fotovoltaicos, pode-se avaliar os
impactos ambientais gerados pelo descarte dos módulos fotovoltaicos. Em Konzen
(2020) é analisado os impactos causados pelo descarte dos módulos em aterros e
quando são enviados para incineração, sendo reciclado somente o alumínio de sua
estrutura. Já em Miranda (2019) é analisado os impactos causados quando os
materiais que compõem os módulos fotovoltaicos são reciclados; quando parte do
material é reciclado, outra parte é incinerado e o restante é descartado em aterro; e
quando todo o resíduo não recuperado é descartado em aterro.

Para ambos os estudos foram consideradas as distâncias percorridas para


coletar e deixar os módulos nos pontos de aterros, incineração e reciclagem. Algumas
categorias de impacto consideradas nesses dois estudos são as mudanças climáticas,
causadas pelo aquecimento global; a depleção da camada de ozônio, ou seja, a
destruição da camada de ozônio; acidificação terrestre; eutrofização de água doce,
eutrofização marinha; ecotoxicidade em água doce, que significa a reação de agentes
tóxicos com a água doce; depleção da água; depleção de recursos minerais; e
depleção de combustíveis fósseis.

Analisando os resultados encontrados nos dois estudos foi feita uma


comparação a respeito dos impactos ambientais causados pelas diferentes formas de
descarte dos módulos fotovoltaicos. Quando se compara o descarte em aterro com a
incineração, de forma isolada, ou seja, sem considerar as distâncias percorridas, o
processo de incineração causa menores impactos. Porém, quando comparados os
processos de aterro e incineração no contexto geral, considerando as distâncias
percorridas, a incineração causa os maiores impactos ambientais. Por fim,
comparando-se os três processos de descarte, a reciclagem, o aterro e a incineração,
a reciclagem é a que causa maiores impactos. O fato do processo de reciclagem
causar maiores impactos deve-se ao fato de ser um processo que consome muita
energia e outros recursos para fazer a separação dos materiais que compõem um
módulo fotovoltaico.
79

Com o processo de reciclagem dos materiais que compõem os módulos


fotovoltaicos é possível reutilizá-los em outros processos e até mesmo na produção
de novos módulos. Com isso, além de ser importante avaliar o impacto imediato que
as formas de descartes provocam, é necessário analisar os impactos a longo prazo.
Sendo assim, o excesso de módulos descartados em aterros ou incinerados, ao longo
do tempo, causa maiores impactos quando comparados ao processo de reciclagem.
Então, apesar da reciclagem causar elevados impactos, de forma imediata, é a forma
que mais beneficiará o meio ambiente a longo prazo. Dessa forma, é crucial a
reutilização dos materiais que compõem os módulos, pois apesar de existir enormes
reservas de silício, por exemplo, elas não são ilimitadas.

O processo de reciclagem dos módulos exige um grande gasto de energia,


pois são necessárias várias técnicas para realizar a separação dos materiais que os
compõem. Recentemente foi publicado que o Instituto de Pesquisa de Tecnologia
Industrial (ITRI) e a United Renewable Energy (URE) desenvolveram um módulo
fotovoltaico que pode ser facilmente desmontado para simplificar o processo de
reciclagem. De acordo com o ITRI, 96% dos materiais do módulo podem ser
recuperados, incluindo todas as células solares e o vidro de encapsulamento. A
solução utilizada é usar um composto de duas camadas de EVA/PO termofixo e
elastômero termoplástico como material de encapsulamento. Estima-se que esse tipo
de tecnologia pode valorizara reciclagem de módulos fotovoltaicos de cerca de US$
18 milhões para US$ 74 milhões por gigawatt (SANTOS, 2022).
80

8 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo abordou os principais tópicos necessários para avaliar os


impactos ambientais causados pela fabricação e pelo descarte de módulos
fotovoltaicos. Como o setor solar está crescendo de forma exponencial, estima-se que
haja um grande aumento na produção de módulos fotovoltaicos, podendo a
capacidade instalada chegar a 4500 GW, em 2050, no mundo. Além disso, estima-se
que até 2050, haja 60 milhões de toneladas de resíduos de módulos fotovoltaicos no
mundo. Para fazer a avaliação dos impactos ambientais, foi necessário fazer um
estudo sobre como funciona a fabricação dos módulos fotovoltaicos e sobre suas
formas de descarte.

Todos os objetivos específicos do presente trabalho foram alcançados.


Primeiramente, foi necessário detalhar as estimativas em relação a produção e
descarte de resíduos dos módulos fotovoltaicos, para ressaltar a importância do
estudo apresentado. Foi feita a análise de como os módulos fotovoltaicos são
fabricados, apresentando detalhadamente como funciona a sua produção. No geral,
foi constatado que o país com maior fabricação de módulos fotovoltaicos é a China.
O Brasil possui grandes reservas de silício, porém não possui tecnologia para fazer o
processo de purificação para o grau solar, sendo assim, o país exporta o silício de
grau metalúrgico e importa as lâminas de silício para conseguir fabricar os módulos
fotovoltaicos nacionais. Algumas das empresas que fabricam módulos fotovoltaicos
no Brasil são a Globo Solar, a Canadian Solar e a Sengi Solar. Apesar de existir
algumas fábricas no Brasil, a maior parte dos módulos utilizados são importados da
China.

Atualmente, é comum, nos países que não tem políticas de reciclagem,


descartar os módulos em aterros sanitários ou enviá-los para incineração e reciclar
somente o alumínio de sua estrutura. Porém, existem empresas que fazem a
reciclagem de mais de 90% dos materiais que compõem os módulos a partir de
tecnologias capazes, que geralmente utilizam processos químicos, térmicos,
mecânicos e a laser. Também, foi possível avaliar como as políticas de reciclagem
estão sendo utilizadas na União Europeia e no Brasil para diminuir os impactos
ambientais causados pelo descarte dos módulos fotovoltaicos. De maneira geral,
ambos os países conferem, aos fornecedores dos módulos, a responsabilidade por
81

sua coleta e reciclagem, porém no Brasil não existem muitos dados a respeito dessa
coleta e sobre o que são feitos com esses módulos.

Então, foi feita uma revisão bibliográfica sobre a ACV de módulos


fotovoltaicos, para que dessa forma fosse feita uma avaliação geral dos impactos
ambientais. Sendo a ACV uma técnica que estuda os aspectos ambientais e os
impactos potenciais. Para demonstrar a importância desse método, foi feita a revisão
bibliográfica de quatro estudos de ACV diferentes, nos quais cada um considera dados
diferentes, com o objetivo de fazer uma avaliação geral referente ao ciclo de vida dos
módulos fotovoltaicos. Foi apresentada uma ACV que faz a avaliação desde a
produção até o fim da vida útil do módulo; uma ACV que faz a avaliação desde a
produção até o uso dos módulos; uma ACV que faz a avaliação somente da produção
dos módulos; e uma ACV que faz a avaliação do fim da vida útil dos módulos.

Assim, foi possível realizar uma revisão bibliográfica dos impactos


ambientais gerados pela fabricação e pelo descarte de módulos fotovoltaicos. De
acordo com os resultados avaliados, pode-se inferir que o processo de fabricação, em
específico a fase de produção, ou seja, montagem, dos módulos, é a fase que causa
maiores impactos ambientais. Isso deve-se ao fato da fabricação ocorrer a partir de
indústrias, que geram grande emissão de CO2 a partir dos processos realizados. Além
disso, a maioria dos módulos são fabricados na China, onde a matriz energética é
baseada no carvão, o qual é um combustível fóssil, sendo assim, muito poluente.
Quando feita as comparações entre o descarte em aterro e a incineração, de forma
isolada, o processo de incineração causa menores impactos. Porém, quando
comparados os processos de aterro e incineração considerando as distâncias
percorridas, a incineração causa os maiores impactos ambientais.

A reciclagem é outro método de descarte dos módulos fotovoltaicos que,


atualmente, causa grandes impactos ambientais. Isso se deve ao fato do processo de
reciclagem ser um processo que consome muita energia, pois utilizam recursos
químicos, térmicos e mecânicos. Porém, é a melhor opção para o fim da vida útil dos
módulos fotovoltaicos quando analisado os benefícios a longo prazo, principalmente,
porque a tendência é que esses resíduos aumentem de forma exponencial ao longo
dos anos. Com o processo de reciclagem dos materiais que compõem os módulos
fotovoltaicos é possível reutilizá-los em outros processos, até mesmo na produção de
82

novos módulos. O semicondutor utilizado na fabricação das células fotovoltaicas


também pode ser reciclado, isso significa que a longo prazo, a extração do minério
para fabricação das células será reduzida. Dessa forma, é importante que sejam
estudas formas de reduzir os impactos ambientais causados pela reciclagem e
baratear os custos que envolvem esse processo.

O tema abordado neste trabalho diz respeito a um assunto ainda pouco


estudado, por isso existiu dificuldade para encontrar resultados concretos. A área de
energia solar é um ramo que está em constante crescimento atualmente, então não
existem muitos estudos que se preocupem com os impactos ambientais que o
acúmulo desses resíduos pode causar. Contudo, a partir de todo o estudo
apresentado, foi possível perceber a importância de existir mais estudos e pesquisas
que mostrem medidas concretas para impedir os impactos ambientais causados pela
fabricação e pelo descarte dos módulos fotovoltaicos.

A pesquisa realizada tem como principal contribuição apresentar um estudo


para a compreensão de que a energia solar, apesar de ser uma energia limpa e
renovável, causa alguns impactos ambientais. A energia solar é uma fonte de energia
que se utiliza de um recurso natural não esgotável que é o Sol. Para produzir energia
é necessário o módulo fotovoltaico, por isso é importante avaliar os impactos
ambientais causados pela fabricação e descarte desses módulos. Contudo, segue
como sugestão para trabalhos futuros:

 Fazer a ACV de módulos fotovoltaicos, incluindo os processos desde da


extração da matéria prima até a reciclagem, através de um software e banco
de dados que possam ser utilizados;
 Pesquisar as novas tecnologias para fabricação dos módulos fotovoltaicos e o
que estará sendo feito para diminuir os impactos ambientais desse processo;
 Pesquisar estudos que apresentem soluções para tornar a reciclagem um
processo de baixo impacto ambiental e barato.
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