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Biomassa e Bioenergia

Allan Bobroski, Rodrigo Facenda

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Grandense
Engenharia Elétrica
Praça 20 de Setembro, Nr. 455, IFSul Campus Pelotas
Pelotas/RS, Brasil

Resumo – este trabalho visa apresentar as definições que permeiam os No que tange ao aproveitamento energético da biomassa,
temas da biomassa e bioenergia, tão quanto as principais tecnologias
observa-se que o mesmo pode ser feito através de processos
empregadas, aplicações, dados estatísticos nacionais e internacionais de
fontes de bioenergia com ênfase no biogás. Mostrando juntamente artigos
diretos, como por exemplo, a queima da matéria para obtenção
nas áreas, relacionando os temas com os principais trabalhos realizados de energia térmica e na sequência conversão em energia
por pesquisadores no mundo. elétrica, ou ainda, através de processos químicos e biológicos
para produção de combustíveis líquidos ou gasosos.
I. INTRODUÇÃO
A energia obtida através do uso da biomassa, seja para
Ao pesquisar-se a respeito da biomassa encontra-se diversos geração de calor, combustíveis ou eletricidade é denominada
conceitos que visam a definir, entretanto, em termos simplistas como bioenergia, uma energia de baixas emissões de gases e
podemos definir a biomassa como o recurso energético contribuem para o efeito estufa, gerada a partir de resíduos que
oriundo da matéria orgânica, seja ela de origem vegetal ou seriam descartados, reduzindo, portanto, o desperdício.
animal. Ainda, a biomassa pode ser dividida em duas grandes Na esteira da utilização da biomassa, a partir da bioenergia,
classes: biomassas tradicionais e biomassas “modernas”. atualmente a matriz elétrica nacional e internacional se utiliza
O uso da biomassa tradicional iniciou-se há muitos anos, da biomassa para geração de energia elétrica como alternativa
principalmente, para obtenção de calor para cozinhar a queima de combustíveis fósseis, uma vez que a biomassa,
alimentos ou aquecer ambientes, sendo a matéria orgânica como dito anteriormente, trata-se de uma fonte renovável de
utilizada para tal, principalmente, a lenha obtida através do energia. As Figura 1 e Figura 2 expõem a composição da
desmatamento de florestas naturais, ou seja, uma técnica matriz energia internacional e nacional.
ecologicamente incorreta. Ao que tudo indica, devido a este
legado histórico, equivocadamente durante muito tempo a
biomassa acabou sendo vista por leigos no assunto como uma
tecnologia agressora do meio ambiente.
Felizmente com a evolução da consciência ambiental e
evolução das tecnologias disponíveis, passou-se a utilizar as
biomassas modernas, que se tratam de fontes de energia
sustentáveis baseadas em processos tecnológicos avançados e
eficientes. Dentre as fontes consideradas como biomassas
Figura 1. Matriz elétrica internacional. Fonte: EPE.
modernas, destacam-se os resíduos de produtos agrícolas
(bagaço e folhas de cana de açúcar, palha da soja, casca de
arroz, etc.), madeira de reflorestamento, resíduos orgânicos
urbanos e industriais, onde destacaremos no presente artigo o
biogás.

Figura 2. Matriz elétrica nacional. Fonte: EPE
Como pode ser visto nas Figura 1 e Figura 2, quando
comparada com a matriz internacional, a presença da biomassa
na matriz nacional é cerca de quatro vezes superior. Aqui cabe
ressaltar que, na matriz nacional, segundo o PNE 2030, a
geração de energia através da biomassa ocorre
predominantemente através das seguintes fontes combustíveis:
bagaço de cana de açúcar, carvão vegetal, resíduos de madeira,
casca de arroz, licor negro e o biogás.
Para efeitos de comparação da atual representatividade da
biomassa no Brasil, de acordo com o Balanço Energético
Nacional – BEM, no ano base 2021 o país gerou 55,7 TWh de
energia elétrica a partir da biomassa, sendo esse total
representando a quarta maior fonte de energia utilizada no
país, conforme visto na Figura 3.
Figura 3. Fluxo de Energia Elétrica Nacional. Fonte: BEN
2022/ano base 2021.
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II. CONVERSÃO ENERGÉTICA DA BIOMASSA
Conforme já mencionado na seção anterior, o uso da
biomassa para geração de bioenergia faz parte da cultura
humana há muitos anos, quando a principal fonte de energia
era a madeira de desflorestamento. Entretanto, segundo José
Goldenberg, no livro Bioenergia no Estado de São Paulo:
Situação atual, Perspectivas, Barreiras e Propostas, foi com a
crise do petróleo em 1970 que o uso da bioenergia no setor
industrial passou a se tornar popular, uma vez que o alto custo
dos combustíveis derivados do petróleo forçou a indústria a
buscar fontes de energia mais viáveis economicamente,
voltando sua atenção para a energia obtida através da
biomassa: a bioenergia.
Existem diversas maneiras para produzir energia elétrica a
partir da biomassa, todavia, em todas elas existe a necessidade
de converter a matéria prima original em um subproduto, este
sim utilizado para abastecer a máquina primária que irá
fornecer energia cinética ao gerador de energia. A Figura 4
ilustra o fluxograma de conversão energética da biomassa em
energia elétrica, calor ou combustíveis.
Figura 4. Fluxograma de conversão energética da
biomassa. Fonte: PNE 2030.

A. Tecnologias de geração termelétrica a partir da
biomassa
A geração de energia elétrica a partir da biomassa ocorre
principalmente através do uso da energia térmica gerada na
combustão da matéria orgânica nas termoelétricas, que
atualmente ainda possuem um grande papel na matriz
energética brasileira. Cabendo ressaltar que, mesmo com o
avanço das usinas hidroelétricas, eólicas e solares
fotovoltaicas, as termoelétricas tendem a continuar tendo um
importante papel no sistema interligado nacional,
principalmente, no que tange à segurança do sistema, visto que
as demais usinas utilizam fontes não controláveis (água, vento
e radiação solar). Assim sendo, a biomassa se mostra muito
interessante para o uso nas termoelétricas, visando atender a
necessidade de capacidade e flexibilidade do sistema,
mantendo o viés ecologicamente correto.
No Estudo de Longo Prazo: Papel da Biomassa na
Expansão da Geração de Energia Elétrica, a EPE sintetiza as
diversas biomassas existentes, levando em conta as
tecnologias já presentes na matriz energética nacional e as que
apresentam grande potencial no médio e curto prazo, visando
a eficiência na obtenção de energia ou recurso energético para
geração termelétrica, da seguinte forma:
1. Resíduos da cana de açúcar (bagaço, palhas e pontas,
vinhaça e torta de filtro);
2. Resíduos da indústria madeireira (cavaco);
3. Palhas das culturas de soja e milho;
4. Cascas de arroz e café;
5. Resíduos de coco, feijão, amendoim, mandioca e
cacau;
6. Resíduos agroindustriais e pecuária de confinamento;
7. Lodo de estação de tratamento de esgoto;
8. Resíduos sólidos urbanos (RSU);
9. Resíduos das vinícolas.
As tecnologias termelétricas são classificadas de acordo
com o processo termodinâmico correspondente a cada
tecnologia. A Empresa de Pesquisa Energética – EPE, elenca
como as principais tecnologias comercialmente disponíveis as
seguintes:
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• Ciclo de Brayton: o combustível líquido ou gasoso é
queimado na câmara de combustão, gerando um gás
aquecido e sob pressão que é direcionado à turbina visando
a conversão da energia cinética do gás que colide com as
palhetas da turbina em potência mecânica que, por sua vez,
alimentará o gerador de energia elétrica. No Ciclo de Brayton
os recursos de biomassa apropriados são os combustíveis
obtidos através de processos de gaseificação, o biogás e os
biocombustíveis líquidos.
• Ciclo Rankine: a queima do combustível alimenta a caldeira,
onde um fluido de trabalho é aquecido até que se obtenha um
vapor de alta pressão e temperatura que será direcionado a
turbina a vapor visando a conversão da energia térmica em
energia eletromecânica. As biomassas utilizadas nesse tipo
de processo são as de estado sólido como o bagaço da cana
de açúcar, as palhas, os resíduos, as cascas, os resíduos
sólidos urbanos – RSU, briquetes e pelletes.
• Ciclo de Otto e Ciclo Diesel: são baseados na utilização de
motores de combustão interna para geração de energia
mecânica que supre a necessidade dos geradores de energia
elétrica. As biomassas passíveis de utilização nesse ciclo são
as em estado líquido ou gasoso, sendo que para o Ciclo
Diesel é necessário que a biomassa tenha autoignição ou
esteja misturada a um combustível com tal característica.
III. O BIOGÁS NA GERAÇÃO DE ENERGIA
A biomassa como já definida é toda e qualquer matéria bruta
derivada de organismos vivos, incluindo culturas alimentares,
gramíneas e plantas lenhosas, resíduos da agricultura e
silvicultura, componentes orgânicos de resíduos urbanos,
industriais e agroindustriais, ricos em carbono, que tem por
objetivo principal a produção de energia (RODIONOVA et al.,
2017).
Ampliando a respeito de rejeitos urbanos, tipicamente
biomassa na forma de resíduos sólidos e líquidos, no lixo
urbano se concentra em uma mistura heterogênea de metais,
plásticos, vidro, vegetais e matéria orgânica, as vias de
aproveitamento energético desses materiais são por meio de
combustão direta, gaseificação, por via termoquímica e a
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digestão anaeróbica, essa para a produção do biogás

(conhecido como gás do lixo) por via biológica.
O esgoto urbano, cuja o seu tratamento é uma imposição
sanitária, possui matéria orgânica diluída que por meio da rota
tecnológica de digestão anaeróbica encontra aplicação
energética. A digestão anaeróbica é uma tecnologia que
permite conter os efeitos adversos da disposição dos resíduos,
se encontra na via bioquímica de conversão energética de
biomassa, ela apresenta as melhores condições para a geração
de energia elétrica por meio do biogás. O processo para a
produção do biogás acontece pelo aproveitamento de resíduos
orgânicos diversos, que por meio da digestão anaeróbica
produz metano (𝐶𝐻! ) como gás combustível, realizada em
biodigestores, na qual a degradação natural da matéria Figura 6 - Processo de produção e conversão do biogás em
orgânica, como a biomassa, se efetua por populações
energia. Fonte: Silva, A. C. G, 2019.
bacterianas na ausência de oxigênio, nos chamados de Sistema de Biodigestão Anaeróbio
ambientes anaeróbios, nessas condições desenvolve-se micro- A tecnologia de biodigestão anaeróbia, na atualidade, é
organismos que consomem os resíduos orgânicos e produzem aplicada tanto no tratamento de resíduos agropecuários quanto
assim o biogás, que é uma mistura de metano (𝐶𝐻! ), dióxido agroindustriais e vem despertando grande interesse de uso,
de carbono (𝐶𝑂" ) e traços de outros compostos químicos que pois permite recuperar o potencial energético do resíduo na
podem variar sendo dependente diretamente do tipo de resíduo forma de biogás, realizando ao mesmo tempo o tratamento
orgânico tão quanto das características do processo da digestão adequado do material residual. É uma tecnologia simples, cuja
anaeróbia como mostrado na Erro! Fonte de referência não a principal preocupação é a manutenção das propriedades
encontrada.. fermentativas da biomassa. Consiste basicamente numa
câmara de fermentação, onde é processada a matéria orgânica
por biodigestão anaeróbia e armazenado o biogás produzido
(Silva, 2019).
O biodigestor é um equipamento utilizado para acelerar o
processo de decomposição da matéria orgânica por meio da
Figura 5 - Composição média do biogás. Fonte:
ausência de oxigênio, existe um grande leque de biodigestores
SGANZERLA, 1983.
nas quais as suas configurações dependem das características
A produção e aproveitamento energético do biogás pode ser
físico-química da biomassa. Os biodigestores mais usados são
divido em 6 etapas, iniciando com um pré-tratamento e
o tipo lagoa coberta (mais difundido mundialmente e no
desenvolve-se em busca de uma melhor eficiência na
Brasil) e mistura completa mostrados na figura 7 e figura 8.
conversão da energia e assim até o aproveitamento energético
Características, Vantagem/desvantagem
na geração de energia elétrica, na Figura 6 pode-se ver o
Modelo lagoa coberta: Construção simples; menor
processo de produção e conversão do biogás em energia.
durabilidade (sujeito a acidades que podem ocasionar
vazamento do gás); exposição mais eficiente ao sol e solo
(regulando a temperatura); menor rendimento em regiões frias;

menor custo de implementação e operação; utilizado em
projetos agroindustriais com baixo teor de sólidos totais.
Figura 7 - Biodigestor modelo lagoa coberta. Fonte:
SILVA, A. C. G.; TREVISAN, G. M..
Modelo mistura completa: Alto grau de homogeneização
(por meio de agitadores mecânicos); Concentração equilibrada
no interior do reator (aumentando assim o contato entre
matéria orgânica e microrganismos gerando uma produção
mais eficiente de biogás); Diversidade de configurações do
reservatório; indicado para efluentes com maior concentração
de sólidos.
Figura 8 - Biodigestor modelo mistura completa.
Purificação do Biogás
O biogás in natura possui elementos que podem reduzir
drasticamente a vida útil de equipamentos levando os
componentes mecânicos a degradação, dessa forma é essencial
que se faça a purificação de gás por meio da remoção das
impurezas, resultando também em um aumento do poder
calorífico do biogás e por consequência gerando o biometano
que é um biocombustível com características análogas ao do
gás natural.
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Figura 9 - Purificação do biogás. Fonte: Probiogás (2015)
A geração de energia elétrica no caso do biogás ocorre por
processos de conversão de energia, onde a energia química
contida nas suas moléculas é transformada em energia
mecânica por um processo de combustão controlada e com
essa energia se ativa um gerador para então converter em
energia elétrica. Na combustão controlada se destacam duas
tecnologias: Turbina a gás para biogás e Motores para biogás.
Biogás no Brasil
Por meio da geração centralizada que se caracteriza
principalmente por grandes centrais de geração de energia
elétrica conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN)
pode-se ver pela Figura 10 que o Brasil possui de Potência
outorgada (potência que a usina está autorizada à operar) cerca
de 244.777,80 kW com 48 usinas em funcionamento atuando
com diferentes tipos de resíduos orgânicos, sendo o estado de
São Paulo o principal expoente na geração, com capacidade
Outorgada correspondendo em cerca de 44,21% do total
outorgado.
Figura 10 Matriz por Tipo e Combustível Final. Fonte:
ANEEL, 27/11/2022.

Biogás no Mundo
Na tabela da figura 10 é mostrado os países com a maior
geração de energia elétrica com biogás, a capacidade leva em
conta tanto a Geração Distribuída (GD) quanto a Geração
Centralizada (GC).
Figura 11 - Países com maior geração elétrica por biogás.
Fonte: IRENA (2021)
IV. ANÁLISE DE ARTIGOS:
A. Potencial de produção de biogás a partir da Co-
digestão de dejetos da suinocultura e bovinocultura
O artigo foi publicado no dia 15 de setembro de 2017 pela
revista Ibero-Americana de Ciências Ambientais (ISSN 2179-
6858), revista que tem por objetivo promover discussões,
disseminar ideias e divulgar resultados de pesquisas com
enfoques nacionais e internacionais relacionadas às ciências
ambientais e áreas relacionadas possui Impact Factor
(2020/2021) de 1.52 e QUALIS (referência 2017-2020) B1 em
ciências ambientais. Os autores são Caroliny Matinc
(Universidade do Vale do Taquari), Jaqueline Fernandes
Tonetto (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Camila
Hasan (Universidade do Vale do Taquari) e Odorico Konrad
(Montanuniversit Leoben - Austria).
O artigo aborda que devido a produção de biogás estar
ligada diretamente com as características da biomassa e com a
quantidade de carga orgânica a ser digerida em um sistema, se
afirma que a co-digestão anaeróbia de uma mistura de
substratos pode ser mais eficiente do que a digestão anaeróbia
de somente um único substrato justificado com o fato de que
dessa forma se proporciona uma composição de biomassa de
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maior qualidade, aumentando o grupo de microrganismos e
otimizando o processo anaeróbio.
Com bases teóricas pesquisadas verificaram que a co-
digestão anaeróbia de dejetos de bovino com glicerina
aumentou o potencial do biogás em 206,07%, portanto o
trabalho desse grupo de pesquisadores analisou a produção de
biogás com o uso da co-digestão de dejetos da suinocultura e
bovinocultura e buscou identificar a melhor proporção desses
visando a produção de biogás da Granja Colombari que fica no
município de São Miguel do Iguaçu no Paraná.
A Granja Colombari foi a primeira micro central
termoelétrica a biogás no Brasil, com venda de energia elétrica
no sistema de geração distribuída no ano de 2012 geraram
cerca de 29MWh por mês.
Em relação a análise de parâmetros físico-químicos em
busca da proporção de maior eficiência os ensaios laboratoriais
foram desenvolvidos com 9 amostras, em diferentes
proporções dos dejetos da suinocultura e bovinocultura, na
tabela a seguir temos as proporções detalhadas.
Figura 12 - Proporção dos ensaios das 9 amostras
Nas análises laboratoriais eles retiraram os seguintes
parâmetros: Potencial Hidrogeniônico (pH); Sólidos totais
(ST); Sólidos Voláteis (SV); Demanda Química de Oxigênio
(DQO); Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) e potencial
metanogênico bioquímico específico.
Nesse momento vale destacar que os Sólidos Voláteis são
diretamente responsáveis pela produção do biogás, dessa
forma quanto maior o grau de SV, maior será o potencial de
produção de biogás da biomassa, além disso os
macronutrientes da biomassa também causam efeitos diretos
na produção do biogás tão quanto na concentração de metano
presente no composto.
Com o ensaio de determinação do potencial metanogênico
bioquímico específico, a partir da digestão anaeróbia das nove
amostras chegou-se no seguinte gráfico que mostra a
quantidade de biogás produzido e a concentração de metano
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presente no biogás produzido em cada uma das amostras aborda o potencial da geração de energia elétrica através do
descritas anteriormente. biogás, gerado através de biomassas provenientes da
agricultura e pecuária, para superar o déficit de energia no
Paquistão.
De acordo com os autores do artigo o Estado do Paquistão
possui um déficit de geração de energia que causa interrupções
no fornecimento de energia elétrica, principalmente na região
rural, de até 12 horas no verão, assim como, o país por ter sua
matriz energética predominantemente térmica, é dependente
da importação de gás natural e derivados de petróleo o que
Figura 13 Produção de Biogás e Metano por amostra.
acaba elevando o custo da energia elétrica e atrapalhando o
Fonte: MATINC, C.; TONETTO, J. F.; HASAN, C.;
ritmo de crescimento do país.
KONRAD, O.
Tendo tal situação em vista, uma vez que o Paquistão tem
Nesse momento foi constatado que ocorre uma maior
uma grande parcela da sua economia baseada na agricultura e
produção de biogás nos dejetos da bovinocultura em relação
pecuária e, portanto, é um grande gerador de biomassa, os
aos dejetos de suinocultura, inferindo assim um resultado
autores realizaram um estudo baseado na revisão de dados
oposto ao que a literatura afirmava até o momento, a qual
bibliográficos quanto ao potencial energético de cada tipo de
indicava que os dejetos da suinocultura possuíam maior
biomassa, avaliando a relação carbono e nitrogênio de cada
potencial de produção de biogás ao comparado com a
tipo, para avaliar a possível produção de biogás a partir desses
bovinocultura. Esse resultado os pesquisadores depositam ao
resíduos. Ainda, visando quantificar a quantidade de biomassa
fato de a alimentação dos bovinos ser realizada apenas por
produzida no país, os autores utilizaram o Censo Pecuário do
silagem do grão inteiro do milho, alimento do qual possui
Paquistão e relatórios de outros departamentos de estado do
menor concentração de lignina em relação ao feno e ao capim,
Paquistão.
dessa forma o teor de lignina infere diretamente no potencial
A Tabela 1 apresenta o compilado de dados sobre a geração
de produção do biogás e na presença do metano, ou seja,
de biomassa por fonte e a Tabela 2 apresenta os fatores de
quanto maior for o teor de lignina presente, maior será a
conversão utilizados pelos autores para realizar a conversão da
redução deste potencial.
biomassa em biogás, sendo que para o cálculo da energia
Os resultados mostraram que ocorre aumento da produção
elétrica gerada a partir do biogás, os autores consideraram que
de biogás e maior presença de metano a partir da co-digestão
um metro cúbico de biogás é capaz de gerar 2,5 kWh de
das biomassas residuais da suinocultura e bovino cultura, onde
energia elétrica com um fator de eficiência de conversão de
a amostra 5, que foi composta por 75% de dejetos de suínos e
35%.
25% de dejetos de bovinos obteve o maior potencial de
produção de biogás e presença de metano e assim se constata
que a co-digestão potencializará a produção em detrimento da
digestão isolada desses substratos.

B. The potential of sustainable biogas production from

biomass waste for power generation in Pakistan
O artigo publicado em 24 de abril de 2021 no Journal of
Cleaner Production por Haseeb Yaqoob, membro da School of
Mechanical Engineering, Universiti Sains Malaysia, e outros, Tabela 1. Estimativa de produção de biomassa por fonte.
Fonte: H. Yaqoob, YH Teoh, Z. Ud Din et al.

Tabela 2 Fatores de Conversão da biomassa para biogás.
Fonte: H. Yaqoob, YH Teoh, Z. Ud Din et al.
Assim sendo, com base nos dados expostos na Tabela 1 e na
Tabela 2, juntamente com as informações referente ao
tamanho dos rebanhos, área plantada e população do país os
autores chegaram ao potencial de geração de energia elétrica a
partir do biogás no Paquistão, sendo este 59,53 GWh por ano,
conforme visto na Tabela 3.
Tabela 3 Potencial de Geração de Energia Elétrica a partir
do biogás no Paquistão. Fonte: H. Yaqoob, YH Teoh, Z. Ud
Din et al.
Face ao acima exposto, os autores concluíram que o Estado
do Paquistão tem um enorme potencial de geração de energia
elétrica a partir do biogás, sendo este potencial, se utilizado
plenamente, suficiente para suprir o déficit de energia elétrica
do país. Além disso, os atores indicam que o uso do biogás na
geração de energia elétrica contribuirá, inclusive, para reduzir
a importação de gás e petróleo, ao mesmo tempo que poupará
o meio ambiente das emissões de gases de efeito estufa e
contribuirá na gestão de resíduos do país.
Todavia, os autores ponderam que o governo local necessita
implantar programas de apoio em termos de treinamento,
financiamento, estrutura regulatória amigável e políticas
publicas baseados no mercado, pois apesar do grande
potencial, a tecnologia ainda não está sendo totalmente
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utilizada no país, especialmente para geração de energia
elétrica devido à falta de incentivo. Além disso, os autores
observam que o desenvolvimento da tecnologia de geração de
energia através do biogás no país, além de proporcionar
segurança energética, tem potencial de geração de empregos e
oportunidades de negócios, contribuindo positivamente para o
desenvolvimento econômico da região.
C. Principais aspectos da produção de bioenergia por
meio de resíduos sólidos urbanos
O artigo publicado por Amanda Cristina Cruz Eschholz e
Luydson Ferreira Serêjo, Graduanda em Engenharia Química
e Graduando em Engenharia Elétrica, publicado na revista
Bionergia em Revista: Diálogos em 2022, através de um
levantamento bibliográfico expõe os principais aspectos da
produção de bioenergia através da parcela orgânica dos
resíduos sólidos urbanos, incluindo, uma análise da
viabilidade econômica do assunto.
Segundo o artigo, a população mundial produz cerca de 1,4
bilhões de toneladas de RSU por ano, sendo que no Brasil a
média diária de geração de RSU por pessoa é de 1 kg,
totalizando cerca de 80 milhões toneladas de RSU por ano,
dado que permite concluir que existe uma grande quantidade
de resíduos que podem ser aproveitados para gerar bioenergia,
ao passo que o uso desse resíduo contribui ainda para diminuir
o espaço utilizado nos aterros sanitários, atenuar os impactos
negativos do descarte dos resíduos e contribuir
ambientalmente com a sociedade.
Os autores trazem à tona dados que apontam que o RSU
brasileiro possui 50% de fração orgânica, 40% de embalagens
e 10% de inertes, representando uma disponibilidade de 40
milhões de tonelada de matéria orgânica por ano, ou seja, o
RSU brasileiro apresenta um bom potencial de geração de
energia a partir da biomassa dos RSU.
No Brasil, segundo os dados levantados pelos autores, em
2017 havia 15 usinas de geração de energia operando a partir
da bioenergia extraída de resíduos, sendo as usinas de São João
Biogás e a de Salvador as usinas com as maiores potências
ortogadas, 21.560 kW e 19.730 kW, respectivamente.
Entretanto, segundo a Associação Brasileira de Recuperação
de Energética de Resíduos – ABREN, em breve, o Brasil

poderá contar com a construção de outras 114 usinas de
produção de energia através de resíduos, tendo potencial para
suprir até 3% da demanda brasileira de energia elétrica.
Os aspectos financeiros da geração de energia através do
RSU foram expostos pelos autores do artigo através de dois
estudos de caso de implantação de usinas, sendo o primeiro de
uma biorrefinaria de RSU para produção de bioetanol; e o
segundo, para produção de bioetanol e biogás. Os dados
expostos na Figura 14 e na Figura 15, permitem concluir que
há viabilidade financeira na implantação de usinas de
processamento de RSU.
Figura 14. Estudo de caso, biorrefinaria de RSU para
bioetanol. Fonte: ESCHHOLZ, Amanda, et. al.
Figura 15. Comparação usina de bioetanol e usina de
bioetanol + biogás. Fonte: ESCHHOLZ, Amanda, et. al.
Entretanto, conforme exposto no artigo, apesar de se tratar
de uma estratégia de geração de energia que acarreta
viabilidade financeira e diversos benefícios sociais e
ambientais, devem ser levados em conta desafios como
restrições impostas pela legislação, aceitação social devido aos
riscos causados pelas substâncias manipuladas.
No entanto, felizmente, os autores concluem que há
viabilidade de implantação de projetos de conversão do RSU
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em bioenergia, sendo essa uma alternativa crescente e
promissora para geração de energia elétrica, possuindo
capacidade de transformar os resíduos em energia com
eficiência razoável e valores de R$ 561/MWh em projetos no
modelo VRES (representa o valor máximo que as
distribuidoras podem pagar pela geração distribuída e repassar
aos consumidores finais).
IV. ECONOMIA DA BIOENERGIA
Fontes de energia renováveis e de biocombustíveis recebem
cada vez mais atenção como substitutos dos combustíveis
fósseis. No entanto a sua implementação no mercado depende
principalmente em tornar estas fontes mais competitivas. Uma
opção para reduzir os custos dos biocombustíveis é utilizar os
subprodutos gerados em determinados processos produtivos,
como uma potencial fonte de energia, ao em vez de trata-los
como resíduos sem valor econômico e ambiental
(KOLESÁROVÁ et al., 2011).
Segundo Marcelo Gauto (analista de Inteligência de
Mercado da Petrobras e especialista em petróleo e gás) na sua
coluna na EPBR o Brasil tem papel de destaque no mercado
de bioenergéticos impulsionado principalmente pela presença
do etanol na matriz de combustíveis do país fomentando que
na esteira de crescimento das energias renováveis muitas
oportunidades de empregos estão sendo geradas, dessa
maneira o uso de fontes energéticas mais limpas não são
limitadas somente a ganhos ambientais, dados da IRENA 2021
mostram que o número global de empregos na área da energia
renovável saiu de 7,28 milhões em 2012 para 11,46 milhões
em 2019 resultando em um crescimento de 57%.
V. CONCLUSÃO
A geração de energia elétrica a partir da biomassa ocorre
principalmente através do uso da energia térmica gerada na
combustão da matéria orgânica nas termoelétricas, que
atualmente ainda possuem um grande papel na matriz
energética brasileira, em que pese a matriz ser
predominantemente hidroelétrica. Entretanto, as usinas
térmicas atualmente e, ao que tudo indica, no médio longo
prazo ainda terão um importante papel no sistema interligado

nacional, principalmente, no que tange à segurança do sistema,
visto que as demais usinas utilizam fontes não controláveis
(água, vento e radiação solar).
Face ao exposto no presente artigo observa-se que a geração
de energia elétrica através da biomassa, seja ela proveniente de
resíduos animais, da agricultura, resíduos sólidos urbanos, ou
demais fontes, apresenta-se como importante e com aspectos
muito interessantes que devem fazer com que as matrizes
energéticas mundiais passem a se valer desse recurso para
geração de energia elétrica, calor ou biocombustíveis.
O Brasil apesar de atualmente já se destacar na utilização da
biomassa para geração de energia elétrica, quando comparado
com a matriz energética internacional, possui ainda potencial
para elevar o uso da tecnologia visando suprir suas demandas
energéticas e, ainda, contribuir ambientalmente aperfeiçoando
a gestão de resíduos gerados em atividades industriais e
residenciais. Além disso, observa-se que além de contribuir
positivamente em termos energéticos e ambientais, a
exploração da biomassa contribui positivamente no
ecossistema econômico dos países que a utilizam, dados
indicam que a geração de empregos no mundo relacionados
com energia renováveis saltou de 7,28 milhões em 2012 para
11,46 milhões em 2019, dado que nos mostra que o mercado
está aquecido em busca de energia limpas.
No que diz respeito ao biogás, observou-se que o
biocombustível apresenta-se como uma fonte interessante de
energia que pode ser extraída da biomassa através de processos
bioquímicos, como a digestão anaeróbica, e utilizado na
geração de energia elétrica, evitando, dessa forma, a queima
de combustíveis fósseis nas usinas termelétricas e, em casos
mais críticos, reduzindo a necessidade de importação dos
combustíveis, como é o caso do Paquistão, que segundo o
artigo estudado, atualmente depende da importação de
derivados de petróleo com alto custo para geração de energia
elétrica, sendo que o país possui enorme capacidade de
conversão de biogás a partir das biomassas produzidas,
principalmente, na sua agricultura.
Portanto, tendo em vista que a maioria das fontes de energia
utilizadas internacionalmente causam impactos negativos no
meio ambiente e que a sociedade cada vez mais busca por
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alternativas que causem menores emissões de gases e resíduos
poluentes para suprir a crescente demanda por energia, as
bioenergias extraídas das biomassas modernas, fontes limpas
de energia e com bom potencial de geração de energia elétrica,
se torne cada vez mais popular.
SILVA, A. C. G.; TREVISAN, G. M.. Processo de produção e
aproveitamento energético do biogás: uma revisão dos
sistemas e tecnologias existentes no mercado. Revista Ibero
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DOI: http://doi.org/10.6008/CBPC2179-6858.2019.002.0017