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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

LICENCIATURA EM ENGENHARIA E GESTÃO DE ENERGIAS


RENOVÁVEIS

Dimensionamento de Um Biodigestor de Pequena Escala Para o Uso


Doméstico Como Alternativa da Escassez de Combustíveis

Caso de estudo: Distrito de Boane

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para


obtenção do grau de Licenciatura em Ciências Tecnológicas com orientação em
Engenharia e Gestão de Energias Renováveis na Universidade Técnica de
Moçambique

Nayara Salima Ussene Mahalambe

Maputo, 2021
Dimensionamento de Um Biodigestor de Pequena Escala Para Uso Doméstico
Como Alternativa da Escassez de Combustíveis

Caso de Estudo: Distrito de Boane

Monografia apresentada em cumprimento dos requisitos exigidos para obtenção do


grau de Licenciatura em Engenharia e Gestão de Energias Renováveis na
Universidade Técnica de Moçambique

Nayara Salima Ussene Mahalambe

LICENCIATURA ORIENTADA EM ENGENHARIA E GESTÃO DE


ENERGIAS RENOVÁVEIS

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

Supervisor: PhD. Miguel Uamusse

Maputo, ___, ____________,2021

O JÚRI

O Presidente O Tutor O Arguente


_________________ ___________________ ___________________
DECLARAÇÃO DE HONRA

“Declaro que este Trabalho de Diploma nunca foi apresentado na sua essência
para obtenção de qualquer grau académico e ele constitui o resultado da minha
pesquisa pessoal”

Maputo, aos ____ de ________________ 2021

A autora

_______________________________________
(Nayara Salima Ussene Mahalambe)

ii
AGRADECIMENTOS

Antes de tudo agradeço a Allah. S.W (Deus), por ter-me concedido saúde, forças e
resiliência para enfrentar todos os momentos difíceis, pelos momentos bons e
proveitosos que também pude desfrutar durante esse percurso e ter chegado até aqui,
de seguida agradeço aos meus pais por estarem presentes na minha vida, por terem
batalhado imenso para que eu me formasse, agradeço em especial a minha querida e
amada mãe por tudo, porque se for para detalhar tudo o que ela fez por mim levaria a
minha vida toda que não é pouco tempo, ela foi e é uma peça chave no meu percurso
como aluna, estudante e hoje como engenheira, tiveram noites que não dormi por conta
certos trabalhos e ela nalgumas delas esteve comigo me fazendo companhia, trazendo
água e comida, conversando e dizendo ‘’ força estuda, hoje não se é nada sem escola,
abdiquei do meu ensino superior para vos criar, velar por vocês nas noites, minha
retribuição será ver-vos graduados e empregados’’.

Agradeço aos meus irmãos por todo apoio, compreensão e carinho que dedicaram a
mim durante os quatros anos de formação, a minha mana Zulma que fora os conselhos,
era quem satisfazia os meus caprichos, era mana quero isto, a moda agora essa, preciso
de tais canetas coloridas e tal. A minha mais nova Muniba que rezava sempre para que
eu terminasse o curso, por que muitas vezes ela tinha de fazer as minhas tarefas quando
eu me ausentava estudando, e ela sempre fazia nalgumas vezes de cara amarrada, mas
sempre fazia, quando eu estivesse cansada de digitar certos trabalhos ela ajudava-me;

Agradeço ao meu Yasserzinho meu casula tão doce companhia e chata noutros
momentos, ele era meu entregador, quase tudo que eu precisasse eu pedia e ele trazia,
fez-me rir muito quando eu lia em voz alta para poder digitar e ele falava coisas sem
‘’sentido’’ e eu acabava por me atrapalhar. Agradeço aos meus muitos amigos por todo
apoio que me dedicaram cada um do seu jeito; Mario Chelengo, Helder, Crisaldo,
Abrahamo, Afuade, Vilma, Emidio e todos meus ex-colegas companheiros de estudo
e laser. Agradeço em especial o meu melhor amigo Amade Iassine Damão pelo apoio,
companhia e carinho, esteve comigo nos meus estudos, na elaboração da parte prática
do meu trabalho, dando ideias e conselhos.

iii
"O impacto da tecnologia da informação é tão difuso que os executivos se defrontam
com um problema difícil: excesso de informação".
Michael porter

iv
ÍNDICE

DECLARAÇÃO DE HONRA ..................................................................................... ii


AGRADECIMENTOS ................................................................................................ iii
ÍNDICE DE FIGURAS ............................................................................................. viii
ÍNDICE DE TABELAS .............................................................................................. ix
LISTA DE ABREVIATURAS UTILIZADA .............................................................. x
RESUMO… ............................................................................................................... xii
ABSTRACT .............................................................................................................. xiii
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ................................................................................. 1
1. Introdução ................................................................................................................ 1
1.1. Contextualização ................................................................................................... 1
1.2. Descrição do problema .......................................................................................... 3
1.3. Pergunta de pesquisa ............................................................................................. 4
1.4. Hipóteses ............................................................................................................... 4
1.5. Objectivos ............................................................................................................. 4
1.5.1. Objectivo Geral .................................................................................................. 4
1.5.2. Objectivos Específicos ....................................................................................... 4
1.6. Justificativa ........................................................................................................... 5
1.7. Metodologia .......................................................................................................... 6
1.7.1. Descrição da área de estudo ............................................................................... 8
1.7.2. Dimensionamento do Biodigestor Caseiro (de pequena escala) ...................... 10
1.7.2.1. Materiais necessários param construção do biodigestor ............................... 10
1.7.2.2. Cálculo do custo da instalação ...................................................................... 10
1.7.3. Modelo de Desenvolvimento sustentável......................................................... 12
1.7.3.1. Sustentabilidade Ambiental .......................................................................... 12
1.7.3.2. Sustentabilidade Económica ......................................................................... 13
1.7.3.3. Sustentabilidade Social ................................................................................. 13
CAPÍTULO 2 – REVISÃO LITERATURA.............................................................. 14
2. Revisão Literatura .................................................................................................. 14
2.1. Gestão de energias em moçambique ................................................................... 14
2.1.1. Combustíveis fósseis em moçambique ............................................................ 14
2.2. Política de desenvolvimento de energias novas e renováveis (2009) ................. 16
2.2.1. Estratégia de desenvolvimento de energias novas e renováveis 2011-2025 .... 16

v
2.2.2. Objetivos da política de gestão de energias renováveis ................................... 17
2.2.3. Política e estratégia de biocombustíveis .......................................................... 18
2.3. Biomassas e bioenergias em Moçambique ......................................................... 18
2.4. Biogás e sua caracterização ................................................................................. 22
2.5. Composição do biogás ........................................................................................ 23
2.6. Etapas da Produção do biogás ............................................................................. 24
2.6.1. Digestão anaeróbica ......................................................................................... 24
2.6.1.1. Hidrólise ........................................................................................................ 24
2.6.1.2. Ácido génese ................................................................................................. 25
2.6.1.3. Acetogênese .................................................................................................. 25
2.6.1.4. Metanogênese................................................................................................ 25
2.6.2. Factores que influenciam na digestão anaeróbica ............................................ 26
2.6.3. Substrato para a produção de biogás ................................................................ 28
2.6.4. Potencial energético do biogás ......................................................................... 28
2.6.5. Uso do biogás ................................................................................................... 29
2.7. Biodigestor, breve historial ................................................................................. 31
2.7.1. Formas de abastecimento dos biodigestores .................................................... 32
2.7.2. Tipos de biodigestores ..................................................................................... 33
2.7.2.1. Biodigestor modelo Chinês ........................................................................... 33
2.7.2.2. Biodigestor modelo Indiano .......................................................................... 34
2.7.2.3. Biodigestor modelo Canadense ..................................................................... 35
2.7.2.4. Biodigestor modelo Caseiro .......................................................................... 36
2.8. Princípio de funcionamento dos biodigestores ................................................... 36
2.9. Biofertilizante ...................................................................................................... 37
CAPÍTULO 3 – ETAPA EXPERIMENTAL ............................................................ 38
3. Cálculo para o dimensionamento ........................................................................... 38
3.1. 1ª Experiência: .................................................................................................... 39
3.2. 2ª Experiência...................................................................................................... 39
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES .................................................. 41
4. Resultados .............................................................................................................. 41
4.1. Relação dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável com a produção do
biogás …………………………………………………………………………..41
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ....................................... 43
5. Conclusões e Recomendações................................................................................ 43

vi
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 45

vii
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1- Constituição e legenda do biodigestor.......................................................... 7


Figura 2- Excremento bovino ...................................................................................... 8
Figura 3- Mapa de localização da província de Maputo .............................................. 9
Figura 4- Especificação dos materiais........................................................................ 11
Figura 5- Modelo de Desenvolvimento Sustentável .................................................. 12
Figure 6- Carvão, Gás Natural e Petróleo…………………………………………...14
Figura 7- Matriz energética………………………………………………………………...15
Figure 8- Biomassa tradicional………………………………………………………19
Figura 9- Biomassa moderna………………………………………………………...19
Figura 10- Esterco e gado bovino……………………………………………………21
Figura 11- Matriz energética de Moçambique…………………………………..…..21
Figura 12- Fases da digestão anaeróbica .................................................................... 26
Figura 13- Formação de bio metano…………………………………………………29
Figura 14- Biodigestor modelo chinês ....................................................................... 34
Figura 15- Biodigestor modelo indiano ..................................................................... 35
Figura 16- Biodigestor modelo canadense ................................................................. 36
Figura 17- biodigestor modelo Caseiro ...................................................................... 36
Figura 18 -Esterco bovino…………………………………………………………...37
Figura 19- Mistura e enchimento do biodigestor ....................................................... 40

viii
ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1- Materiais para o biodigestor....................................................................... 10


Tabela 2 - Preço dos materiais ................................................................................... 11
Tabela 3 - Composição do biogás .............................................................................. 23
Tabela 4- Equivalência entre o biogás e outros combustíveis ................................... 29

ix
LISTA DE ABREVIATURAS UTILIZADA

CH₄ - Metano

CO₂ - Dióxido de Carbono

d - Diâmetro

E – Energia

EDENR – Estratégia de Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis

GEE - Gases de Efeito Estufa

H – Altura

Hb – Altura do biodigestor

H2 – Hidrogénio

H₂S – Gás Sulfídrico

m- Massa

N₂ - Nitrogénio

ODS – Objectivos do Desenvolvimento Sustentava

PDENR – Política de Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis,

P.A – Posto Administrativo

Pdf – Formato Portátil de Documento

r- Raio

REN – Rede Eléctrica Nacional

T – Tempo

Vb – Volume do biodigestor

Vf – Volume do fluido

x
xi
RESUMO

Nos últimos anos, no contexto mundial tem se notando uma corrida no


desenvolvimento de novas formas de produzir energia limpa e renovável, de modo que
a criar um equilíbrio entre a natureza e as necessidades do Homem. Em vista disto este
trabalho de conclusão de curso apresenta um método de produção de energia através
do excremento bovino, visto que Moçambique apresenta como uma das actividades
principais a agricultura e pecuária criando assim espaço para o empregue deste meio
de produzir energia principalmente para o uso doméstico.

Este trabalho terá como local de estudo o Bairro de Kampuane, Distrito de Boane na
Província de Maputo, numa residência familiar que se dedica a criação de gado bovino,
o que torna propício no desenvolvimento deste empreendimento. Será instalado um
biodigestor caseiro que tem a função de produzir gás metano para o uso doméstico.

Palavras-chave: Energias Renovável, Equilíbrio, Produção, Excremento Bovino,


Energia, Gás.

xii
ABSTRACT

In recent years, in the world context, there has been a rush in the development of new
ways of producing clean and renewable energy, in order to create a balance between
nature and the needs of man. In view of this, this course work presents a method of
energy production through bovine excrement, since Mozambique presents agriculture
and livestock as one of the main activities, thus creating space for the use of this means
of producing energy mainly for domestic use.

This work will have as study place the Bairro de Kampuane, District of Boane in the
Maputo Province, in a family residence dedicated to the breeding of cattle, which
makes it conducive to the development of this enterprise. A homemade biodigestor
will be installed which has the function of producing methane gas for domestic use.

Keywords: Renewable Energies, Balance, Production, Bovine Excrement, Energy,


Gas.

xiii
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1. Introdução
1.1. Contextualização
A energia eléctrica, como um direito básico de todo cidadão, é um insumo capaz de
promover o desenvolvimento social e económico regional (MOÇAMBIQUE, 2017).
O acesso à electricidade proporciona a integração da educação, saúde, saneamento,
abastecimento de água, melhoria nos processos produtivos de subsistência, a
estabilidade local, universalização da informação e a qualidade de vida (ALMEIDA,
et al., 2013; KAYGUSUZ, 2007).

Tem-se observado cada vez mais intensa e constante elevação da temperatura no nosso
planeta. Este aumento está relacionado à ação humana, especialmente após a revolução
industrial. Desde então houve um salto tecnológico e um crescimento sem precedentes
das civilizações, e consequentemente houve um aumento da poluição e consumo de
recursos naturais.

O carvão e o petróleo são muito utilizados pelas indústrias. Sua queima fornece a
energia que as indústrias necessitam para funcionar, impulsionando economias
gigantescas dos países industrializados. Porém a queima do carvão e do petróleo
também libertam quantidades muito grandes de dióxido de carbono (CO 2), um dos
gases poluentes que passa a fazer parte da atmosfera. Esses combustíveis fosseis são
fontes de energia esgotáveis e afectam negativamente o ambiente,

Por essa razão há necessidade de substitui-los por fontes renováveis e mais


sustentáveis de gerar energia limpa.

Apesar do alto custo de instalação de tecnologias de energias renováveis, a utilização


das fontes renováveis de energia pode reduzir a dependência dos combustíveis fósseis,
reduzir os desperdícios e ampliar o acesso à energia e, desta forma, influir na inserção
económica e social da população “excluídas”, gerando emprego e renda com custos
ambientais reduzidos (RIBEIRO, et al., 2002; Antunes, 2019)

É actualmente um dos maiores desafios a ser alcançado na sua totalidade. No que tange
“O objectivo do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) 7 que afirma
que o acesso a energia confiável, sustentável e moderna deve ser fornecido para todos
até 2030. Os efeitos sobre o desenvolvimento socioeconómico pelo acesso seguram,

1
acessível e limpo da electricidade se destaca como benefícios educacionais, melhoria
de renda e saúde progresso”. (UAMUSSE, 2019,p.8)

As energias renováveis são também consideradas inesgotáveis. Fazem parte delas as


energias Solar, Eólica, Hídrica, Biomassa, Nuclear, Geotérmica, Mareis/Oceânicas, e
de Hidrogénio.

Portanto, das energias renováveis acima citadas, a produção de biogás, faz parte da
energia da biomassa que é toda matéria orgânica de origem vegetal ou animal, utilizada
na produção de energia, ela é obtida através da decomposição de uma variedade de
recursos orgânicos, como plantas, madeira, resíduos agrícolas, restos de alimentos,
excrementos e até do lixo. Que a partir deles são derivados vários produtos como: o
Biogás, Etanol, Etanol celulósico, Biodiesel e Carvão vegetal.

O que, concerne o objectivo principal deste trabalho é dimensionar um biodigestor


com finalidade de produzir biogás, sendo o metano o principal componente, não tem
cheiro, cor ou sabor, mas outros gases da mistura podem conferir um ligeiro odor, que
através de um processo simples de filtragem podem ser facilmente eliminados da
composição do biogás. A matéria - prima para a produção do biogás é o excremento
bovino produzido na propriedade onde é instalado. Isso mantém a autonomia da
família em relação ao principal combustível doméstico. Além disso, a manutenção
simples não compromete as demais actividades da unidade de produção. Os volumes
de biogás, aliado às suas propriedades, atendem à demanda com qualidade e eficiência.

O processo de decomposição ou transformação da matéria, até posterior produção do


gás é realizado dentro de um biodigestor que é um equipamento que transforma a
matéria-prima em gás (Biogás) inflamável, que pode substituir a lenha, o carvão e
combustíveis fósseis. De acordo com (Deganutti, et al.2008). A produção do biogás é
baseada no processo de digestão anaeróbia, ou seja, no qual os dejectos que seriam
descartados são diluídos em água e sofrem um processo de bio digestão sem a presença
do oxigénio, devido às acções de bactérias anaeróbicas. Pode-se afirmar com
segurança que o uso do biogás na cozinha é higiénico, não desprende fumaça e não
deixa resíduos nas panelas.

A implantação do biodigestor responde positivamente as dificuldades, e desempenha


um papel crucial para o desenvolvimento do Bairro Kampuane, no Município de
Boane um dos Distritos da província de Maputo, local do estudo.

2
1.2. Descrição do problema
Segundo Manso e Williams (1996), citado por MABOTE (2011, p. 9) ‘’A exploração
de recursos florestais em Moçambique é uma das actividades económicas mais
importantes para a sobrevivência das famílias rurais. Apesar de o País produzir
electricidade e gás natural, estes combustíveis não são acessíveis em todos os pontos
do país, bem como a maioria da população’’. Por isso, a biomassa lenhosa é a fonte
mais importante de energia nas zonas rurais como o caso do Bairro Kampuane. Mas
também nalgumas zonas urbanas mais carenciadas.

Apesar do grande potencial florestal, Moçambique enfrenta enormes desafios na


gestão destes recursos, em parte devido a grande demanda da indústria florestal, e pelo
facto de cerca de 80% das necessidades energéticas serem satisfeitas pela energia de
biomassa. (Energia, 2011)

A destruição das florestas tem causado grande impacto nas mudanças climáticas do
nosso planeta. Como elas são responsáveis pelo armazenamento de grande parte do
carbono disponível no ambiente, a sua destruição afecta esse seu papel, contribuindo
para o aumento de carbono na atmosfera, na forma de gases, como o dióxido de
carbono. Além disso, o desmatamento é responsável por 12 a 20% das emissões
globais de gases de efeito estufa que contribuem para o aquecimento global.

Actualmente no Distrito de Boane existem 29 florestas numa área de 54 há. Algumas


árvores fornecem lenha e madeira para a produção de carvão, que são os combustíveis
mais utilizados pelas famílias. Apesar de estas árvores se encontrarem dispersas pelo
distrito, algumas aldeias não têm acesso fácil a fontes de lenha, obrigando os seus
habitantes a percorrer distâncias que variam de dois a sete quilómetros à sua procura.
Parte desta dificuldade é causada pela falta de desenvolvimento rural, que é notória
pelo facto das vias de acesso serem precárias e de longas distâncias o que condiciona
o acesso a diversos serviços de necessidade básica. O distrito enfrenta problemas sérios
de desflorestamento e erosão de solos. (Estatal, 2012, pp. 32-71).

3
1.3. Pergunta de pesquisa
De que forma a implementação do biodigestor pode impulsionar o desenvolvimento
do Município de Boane?

1.4. Hipóteses
H0: Através da implementação do biodigestor e posterior produção de biogás se pode
impulsionar o desenvolvimento do Município de Boane;

H1: A implementação do biogás pode não impulsionar o desenvolvimento do


Município de Boane caso não haja produção do biogás pelo facto de não haver
potencial necessário para produzir metano no excremento bovino.

1.5. Objectivos
1.5.1. Objectivo Geral
• Dimensionar um biodigestor para o uso doméstico como alternativa da escassez
de combustíveis no Distrito de Boane Província de Maputo.

1.5.2. Objectivos Específicos


• Fazer uma análise do potencial do esterco bovino na região de estudo;
• Dimensionar um biodigestor de pequena escala para o uso doméstico;
• Construir um protótipo de biodigestor dimensionado.

4
1.6. Justificativa
A biomassa é considerada uma das principais alternativas para a diversificação da
matriz energética nacional principalmente pelo facto de que o relevo, hidrografia e
clima tropical permitem o aproveitamento de diversas matrizes, como eólica, solar e
biomassa em destaque. Reduzindo a dependência dos combustíveis fósseis. Os
biocombustíveis são derivados da biomassa renovável que podem substituir, parcial
ou totalmente, combustíveis derivados de petróleo e gás natural em motores à
combustão ou em outro tipo de geração de energia. (NUBE, 2016; MABOTE, 2011)

O biogás é um gás combustível renovável, cuja atractividade é baseada por um lado


na geração descentralizada de energia, e por outro lado na redução de impactos
ambientais negativos. Em termos de impactos ambientais podem-se citar vários
aspectos relacionados à produção de biogás: a redução de emissões de gases de efeito
estufa, que pode ocorrer pela redução da emissão de dióxido de carbono pela
substituição dos combustíveis fosseis ou redução da emissão de óxido nitroso e
metano, os quais são liberados quando se tem um tratamento inadequado e não
controlado de resíduos orgânicos.

Por tanto a implementação do presente projecto visa a contribuir no desenvolvimento


ambiental e socioeconómico do Bairro Kampuane, como forma a mitigar aquilo que
são suas dificuldades referentes ao acesso de combustíveis como a lenha e carvão que
são utilizados como peça base para a satisfazer suas necessidades.

O uso do biodigestor é uma forma sustentável, simplificada e apropriada para o


saneamento rural, uma vez que tem como matéria-prima os excrementos de animais
bovinos. Que muitas vezes são descartados no meio de forma desordenada.

Sem deixar de lado seu papel de produzir o biogás que pode ser usado nas residências
como fonte de energia para a cocção de alimentos, pode ser usado como fonte de
iluminação através de cadeeiros e ainda fornecer biofertilizantes para o uso na
agricultura durante o processo de produção. Além disso é uma mais-valia na economia
das famílias, uma vez que a implementação deste projecto tem custos relativamente
baixos, e somente reflectiria no início (na compra dos materiais e montagem), daí por
diante pode considerar-se hipoteticamente como uma energia grátis.

5
1.7. Metodologia
Para o desenvolvimento deste trabalho de licenciatura recorreu-se aos métodos de
pesquisa para obtenção de melhores resultados tais como:
• Método de pesquisa explorativa – tem por objectivo proporcionar maior
familiaridade com um problema, envolve levantamento bibliográfico, entrevista
com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema (Clemente,
2007). Para efeitos nesse trabalho foram usadas pesquisas bibliográfica, com base
na leitura de arquivos em formato físico e electrónico como por exemplo a tese
de doutoramento: Electrification of rural Mozambique, (UAMUSSE);
Desenvolvimento Sustentável, (MOTA e MONTEIRO); Biodigestores Rurais,
(DEGANUT) entre outros, como constam na parte bibliográfica deste trabalho e
na revisão bibliográfica do mesmo, por serem fundamentais para a consolidação
dos termos teóricos e práticos.

• Método de pesquisa descritiva-Neste tipo de pesquisa objectiva-se caracterizar


um fenómeno, como as características de uma certa população. (Clemente, 2007)
Assim como foi descrito no desenrolar deste trabalho no ponto 1.5.1.

• Método de pesquisa explicativa- visa identificar os factores que determinam


fenómenos e explica o porquê das coisas, através da via experimental como
consta nos objectivos específicos deste trabalho.

Segundo (Clemente, 2007) uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra
descritiva, posto que a identificação de factores que determinam um fenómeno exige
que este esteja suficientemente descrito e detalhado.

Para produção do biogás, inicialmente dimensionou-se um biodigestor, portátil usando


material reciclável, isto é, reservatório ou embalagem de óleo com capacidade de 220
Litros como mostra a figura abaixo

6
Figura 1- Constituição e legenda do biodigestor

Este biodigestor consiste, basicamente, em uma câmara fechada na qual a biomassa é


fermentada anaerobiamente segundo a equação:
𝐌𝐚𝐭𝐞𝐫𝐢𝐚 𝐎𝐫𝐠𝐚𝐧𝐢𝐜𝐚 + H2 ⇒ CH4 + CO2 + 𝐁𝐢𝐨𝐦𝐚𝐬𝐬𝐚 + NH3 + H2S +
𝐂𝐚𝐥𝐨𝐫. (1)

O processo de biodigestor anaeróbico é uma das alternativas utilizadas para o


tratamento de resíduos, pois reduz o potencial de contaminação, produz biogás e
permite o uso dos dejectos como biofertilizante. Como biomassa utilizou-se dejectos
de bovino, ou seja, a produção de biogás é um processo de fermentação de dejectos
animais pelo método de armazenamento em um biodigestor caseiro como mostra a
Figura 2.

7
Figura 2- Excremento bovino

Por fim, o modelo de desenvolvimento sustentável que versa em três principais pontos
que são: Sustentabilidade Ambiental, Económico e Social no qual pensei no uso do
biodigestor como forma de melhorar a vida da população do bairro de Kampuane no
distrito de Boane. No que diz respeito ao combustível por eles utilizados para o uso
doméstico na cocção dos seus alimentos entre outras utilidades do mesmo, porém além
de beneficiar a eles directamente, também o uso desse mesmo biodigestor ajuda o
ambiente de tal forma que chega a reduzir a emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE).

1.7.1. Descrição da área de estudo


O Bairro Kampuane encontra-se no Distrito de Boane que está situado na província
de Maputo a 30Km da capital provincial (Maputo), com sede na vila de Boane. Tem
uma superfície de 820 km² localiza-se no extremo Sul da Província de Maputo entre
a latitude 26˚ 02΄ 36” Sul e Longitude 32˚ 19΄ 36” Este, com os seguintes limites
geográficos: Distritos de Moamba a Norte, Matuituine a Sul, Namaacha a Sul e Oeste
e Cidade da Matola a Leste. (Boane, 2010).O clima da região é SUB húmido e com
deficiência de chuva na estação fria, caracterizado por alternância entre as condições
secas, induzidas pela alta pressão subcontinental e as incursões de ventos húmidos do
oceano. Vagas de frio podem trazer tempestades violentas e chuvas torrenciais de curta
duração.

A temperatura média anual é de 23.7ºC verificando-se que os meses mais frios são os
de Junho e Julho e os mais quentes Janeiro e Fevereiro. A amplitude térmica anual é
de 8.8ºC. A humidade relativa média anual é de 80.5%, variando de um valor máximo
de 86% em Julho a um valor mínimo de 73.5% em Novembro. A pluviosidade média
anual é de 752 mm variando entre os valores médios de 563,6 mm para o período

8
húmido e os 43,6 mm no período seco. O período húmido estende-se de Novembro a
Março e o período seco de Abril a Outubro. O Distrito é propenso a ciclones,
depressões, secas e cheias. (Boane, 2010)

O distrito de Boane cota com uma população recenseada em 2017 de 210,498


habitantes, o que corresponde a uma densidade populacional de 256.7 habitantes/km².
(INE, 2017).A partir dos finais da década 90, o distrito de Boane registou grandes
projectos de impacto nacional sendo referência de grande destaque a construção da
Indústria de Fundição de Alumínio MOZAL, polo de atracção de outras empresas e
indústrias nacionais e estrangeiras que têm afluído ao Parque Industrial de Beluluane.
A agricultura é a base da economia distrital, tendo como principais culturas as
hortícolas, milho, mandioca, feijão, bananas e citrinos. As espécies de gado
predominantes são os bovinos, ovinos e aves, destinadas para o consumo familiar e
comercialização.

Figura 3- Mapa de localização da província de Maputo

9
1.7.2. Dimensionamento do Biodigestor Caseiro (de pequena escala)
1.7.2.1. Materiais necessários param construção do biodigestor
Sendo este um projecto de ordem sustentável, serão utilizadas matérias recicláveis para
a materialização do biodigestor caseiro. Usar-se-á como biodigestor um tambor de 220
Litros e como matéria-prima o excremento bovino, e serão acoplados a ele (tambor)
tubos que serviram de meio de entrada da matéria-prima, saída do gás e saída do
fertilizante. Abaixo seguem as tabelas 2 e 3 com os materiais necessários para o efeito
e seu preço no mercado.

Materiais Medidas Quantidade


Tambor 220 Litros 1
Tubo PVC Ø 110 1
Tubo PVC Ø 75 1
Curvas PVC Ø 110 2
Curvas PVC Ø 75 1
Válvula ‘’T’’ ¾ 1
Tubo ¾ 1 Metro
Mangueira transparente Ø 1/8 4 Metros
Cola para PVC - 1
Cola de Silicone - 1
Bujão ¾ 1
Fita isolante - 1
Tabela 1- Materiais para o biodigestor
1.7.2.2. Cálculo do custo da instalação
Foram feitos orçamentos para os materiais em comércio que podem ser encontrados
com facilidade nos mercados, ferragens. (Tabela 3).

Não será necessária contratação de mão-de-obra pois há um profissional na área de


canalização para realizar a ligação dos tubos. Há também o auxílio de um engenheiro
(tutor do projecto) que pode supervisionar a instalação, uma vez que ele é experiente
no assunto, não sendo necessária a contratação de um responsável técnico para isso.

10
Materiais Preços (em MT)
Tambor 1800
Tubo PVC Ø 110 750
Tubo PVC Ø 75 500
2 Curvas PVC Ø 110 165*2=330
Curvas PVC Ø 75 90
Válvula ‘’T’’ 45
Mangueira 200
Cola para PVC 100
Cola de Silicone 160
Bujão 10
Fita insolente 15
Tubo ¾ 100
Total 4.190.00
Tabela 2 - Preço dos materiais

Figura 4- Especificação dos materiais

De acordo com o proprietário do curral e da também da residência onde será instalado


o biodigestor um animal produz cerca de 2kg de esterco por dia, e o curral alberga 54
cabeças de gado bovino o que significa que diariamente se produz 108kg de
excremento.

Posteriormente serão calculadas a partir das seguintes formulas as medidas do


biodigestor e quantidades da matéria que serão processadas no biodigestor, Volume
do biodigestor (Vb) = Vb = h x π x r²; Energia (E) = eficiência (n) x Poder calorífico
(Hb) x Volume do biodigestor (Vb) [MJ] = ŋ x Hb x Vb; Volume do fluido: Vf = massa
total/50 (densidade kg/m3); Volume do biodigestor (esterco) = Vb? = Vf x 20 dias;
Volume do biogás produzido dia Vb = 0.2 x massa total.

11
1.7.3. Modelo de Desenvolvimento sustentável
A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento, da ONU, em 1987, definiu a
sustentabilidade como “aquele que atende às necessidades do presente sem
comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas necessidades”

De acordo com (MOTA & MONTEIRO, 2013):


“A sustentabilidade é o principal desafio do século XXI. O século
XIX viu o nascimento da revolução industrial, consolidação das práticas
industriais, ampliação do uso dos combustíveis fósseis e dos processos
produtivos em larga escala, que se desenvolveram com o avanço nas ciências.
O século XXI será o período da mudança de um modelo extractivista, que
pouco se preocupa com o meio ambiente e os efeitos de longo prazo, para um
modelo sustentável, que não abre mão das comodidades e benefícios que as
práticas industriais trouxeram para a vida de cada um de nós, mas se
preocupa em preservar o meio ambiente e os recursos naturais, para que as
gerações futuras possam desfrutar dos mesmos benefícios.

De acordo com (MOÇAMBIQUE, 2011) Uma sociedade moderna só ópera com o uso
de uma ou mais formas de energia. A racionalização do seu uso possibilita melhor
qualidade de vida, gerando competitividade, empregos e crescimento económico. Uma
política de acção referente à eficiência energética tem como meta o emprego de
técnicas e práticas capazes de promover o uso inteligente da energia, reduzir custos e
produzir ganhos na perspectiva do desenvolvimento sustentável.

O campo do desenvolvimento sustentável pode ser conceptualmente dividido em três


componentes: a sustentabilidade ambiental, sustentabilidade económica, e
sustentabilidade social. (Wikipédia, 2019).

Figura 5- Modelo de Desenvolvimento Sustentável

1.7.3.1. Sustentabilidade Ambiental


A sustentabilidade ambiental consiste na manutenção das funções e componentes do
ecossistema, de modo sustentável, podendo igualmente designar-se como a capacidade
que o ambiente natural tem de manter as condições de vida para as pessoas e para os

12
outros seres vivos, tendo em conta a habitabilidade, a beleza do ambiente e sua função
como fonte de energias renováveis.

1.7.3.2. Sustentabilidade Económica


A sustentabilidade económica, enquadrada no âmbito do desenvolvimento sustentável
é um conjunto de medidas e políticas que visam a incorporação de preocupações e
conceitos ambientais e sociais. O Bairro de Kampuane terá mais-valias económicas,
adicionando, como factores a se ter em conta, os parâmetros ambientais e
socioeconómicos, criando, assim, uma interligação entre os outros sectores. A venda
do fertilizante rico e livre do carbono pode ser comercializada com preço um pouco
acima habitual, visto que será de alta qualidade e pronto a usar. Assim, o lucro não é
somente medido na sua vertente financeira, mas igualmente nas suas vertentes
ambiental e social, o que potencia um uso mais correto quer das matérias-primas, como
dos recursos humanos.

1.7.3.3. Sustentabilidade Social


A sustentabilidade social concentra-se no equilíbrio social, tanto na sua vertente de
desenvolvimento social como socioeconómica. É um veículo de humanização da
economia, e, ao mesmo tempo, pretende desenvolver o tecido social nos seus
componentes humanos e culturais. (Wikipédia, 2019)

13
CAPÍTULO 2 – REVISÃO LITERATURA

2. Revisão Literatura

2.1. Gestão de energias em Moçambique

2.1.1. Combustíveis fósseis em Moçambique


Moçambique apresenta uma diversidade de fontes energéticas que são utilizados como
recursos para fornecer energia necessária para a satisfação das necessidades existentes,
essas fontes de energia constituem a matriz energética nacional, porém de entre essas
fontes de energéticas existe um grupo que são chamadas de fosseis, ou seja, são um
grupo de recursos naturais disponíveis na natureza utilizados para a produção de
energia por meio de sua queima e oriundos da decomposição de material orgânico ao
longo do tempo. Os três principais tipos de combustíveis fósseis são: o petróleo, o gás
natural e o carvão mineral, embora existam outros.

Figure 6- Carvão, Gás Natural e Petróleo


Os combustíveis fósseis têm um papel muito importante na sociedade como os que
conhecemos hoje, pois eles representam mais de 75% da demanda energética mundial
de acordo com a matriz energética abaixo, sendo usados em veículos, indústrias e
residências. Por outro lado, o uso de combustíveis fósseis está associado a diversos

14
problemas ambientais. A dependência da matriz energética mundial em relação
às fontes não renováveis de energia faz com que os reservatórios diminuam cada vez
mais devido à exploração intensa e desenfreada, criando uma escassez dos recursos
naturais. Por serem fontes não renováveis de energia, a disponibilidade dos
combustíveis fósseis está ameaçada, e, portanto, a produção de energia mundial
também.

Matriz energetica Mundial


1.60% 2.50%
4.90%

31.90% 9.80%

22.10%

27.10%

Outros Hidrica Nuclear Biomassa Gas Natura Carvao Mineral Petroleo

Figura 7- Matriz energética


Quanto mais reduzida a disponibilidade desses combustíveis, devido ao intenso uso de
seus reservatórios, mais elevados ficam seus preços no mercado;

Erros de armazenamento e extração, por exemplo, do gás natural e petróleo podem


causar inúmeros e graves problemas tanto ao meio ambiente quanto à saúde. (Fogaço,
n.d.) Por conta desses factos o mundo virou sua atenção em procurar meios mais
sustentáveis e acessíveis de gerar energia. Moçambique não ficando de fora criou
novas políticas e estratégias com o objectivo de promover e facilitar o acesso da
população às energias renováveis, expandir a cobertura da Rede Eléctrica Nacional
(REN), melhorar a eficiência tecnológica, aumentar a disponibilidade de energia
eléctrica a preços competitivos, promover a participação do sector privado e práticas
ambientalmente sustentáveis

15
2.2. Política de Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis (2009)
A Política de Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis (PDENR), aprovada
pela Resolução n.º 62/2009 de 14 de Outubro, foca-se na importância, no uso e
aproveitamento dos recursos energéticos renováveis disponíveis para a satisfação das
necessidades de energia e desenvolvimento sustentável em Moçambique, procurando
acelerar o acesso às formas modernas de energia, assim como criar uma plataforma de
investimento nesta área. Além de assumir que grande parte dos Moçambicanos
dependem da biomassa lenhosa, bem como da capacidade humana e animal, como
principais fontes de energia para satisfazer as suas necessidades energéticas básicas, a
PDENR reconhece que Moçambique não aproveita o seu potencial natural em energias
novas e renováveis e enfatiza a necessidade de melhorar o acesso da população
economicamente mais carenciada a essas energias. Segundo a PDENR, a noção de
energias novas e renováveis inclui, mas não está limitada, a energia humana e animal,
a biomassa, a energia hídrica, a radiação solar, o vento, as águas térmicas do subsolo
e as águas oceânicas. (ALER, 2017)

2.2.1. Estratégia de Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis 2011-2025


A Estratégia de Desenvolvimento de Energias Novas e Renováveis (EDENR) foi
adoptada em 2011, em conformidade com as diretrizes do extinto Ministério da
Energia (agora MIREME), na EDENR definiram-se como fontes renováveis
estratégicas para os Sistemas Isolados de Energia (SIE) a energia solar, a energia
eólica, a energia hídrica de micro e mini-escalas, e a promoção de outras fontes
renováveis à escala mini/micro. No que respeita à Rede Eléctrica Local (REL), são
consideradas estratégicas a energia eólica, a energia hidroelétrica de grande e média
escala, a energia de biomassa em co geração, a energia oceânica e a energia
geotérmica. A temática da biomassa é também acolhida nesta estratégia,
reconhecendo-se que a mesma é a fonte energética primária das famílias
Moçambicanas, e que o seu consumo constitui uma ameaça à conservação da cobertura
florestal, dado que a prática tem resultado em níveis de devastação significativos ao
redor das áreas urbanas e corredores rodoviários e ferroviários. Desta forma, a EDENR
apresenta as fontes de energia renováveis ou a electricidade como opções viáveis para
a desaceleração/contenção dos processos de desflorestação. A presente estratégia
aborda também possíveis mecanismos de promoção da utilização dos recursos

16
energéticos renováveis, como a tarifa de acesso à rede ou feed-in-tariff, identificando-
a como um instrumento regulamentar que permite um tratamento favorável ao
investimento no âmbito das energias novas e renováveis em rede e fora da rede,
diferenciando ambos os casos, e a implementação de incentivos e benefícios fiscais.

2.2.2. Objetivos da política de gestão de energias renováveis


Hoje, o principal desafio a este cenário é criar mecanismos de conservação do recurso
florestal que tem vindo a se tornar cada vez mais escasso, resultando em desequilíbrios
no sector doméstico, bem como no meio ambiente, por meio disso foi-se criada a
política de energias renováveis em moçambique que tem como objectivos no âmbito
da formulação e consolidação da mesma (politica),desenvolver iniciativas para
melhorar a informação de base nas seguintes áreas:
Recursos de biomassa;

Níveis de consumo de biomassa, tendência do sector doméstico;

Mercados de lenha e carvão;

Sistemas de gestão de florestas e terra, no contexto do sector familiar agrário;


Promover fornecimento de serviços de energia de qualidade a preços acessíveis, em
particular nas zonas rurais;
Promover a utilização de fontes de energias novas e renováveis,
Reforçar a segurança energética local e nacional;
Reduzir os impactos ambientais negativos locais e globais;
Impulsionar o desenvolvimento tecnológico do subsector de energias novas e
renováveis;
Criar um mercado competitivo para energias novas e renováveis;
Contribuir para a geração de receitas e emprego a nível local e nacional;
Contribuir para o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs).
(MOÇAMBIQUE, 2011)
A disponibilidade de recursos bioenergéticos justifica a necessidade de se realizar
pesquisas e adoção de estratégias para superar o atual déficit energético no País, visto
que, as tecnologias para a geração deste tipo de energia alternativa, limpa e renovável,
são ainda pouco conhecidas no seio das nossas comunidades (MONJANE &
BARROS, 2015)

17
2.2.3. Política e Estratégia de Biocombustíveis
A Política e Estratégia de Biocombustíveis foi aprovada pela Resolução n.º 22/2009
de 21 de Maio, e pretende promover os biocombustíveis através da criação de uma
plataforma adequada, tendo como base dois princípios fundamentais: (i) “A promoção
e aproveitamento dos recursos agro-energéticos para a segurança energética e
desenvolvimento socioeconómico sustentável, contribuindo ao mesmo tempo para a
redução das emissões de Gases de Efeito Estufa que agravam o fenómeno do
aquecimento global, através da selecção e adopção de tecnologias e metodologias de
produção na agricultura e na indústria mais adequadas”, e (ii) “a necessidade de fazer
face à instabilidade, imprevisibilidade e volatilidade dos preços dos combustíveis
no mercado internacional, bem como reduzir a dependência do país em relação aos
combustíveis fósseis importados e o peso da factura das importações sobre a economia
nacional”.
Esta política veio definir estratégias para o desenvolvimento dos biocombustíveis (em
especial etanol e biodiesel) como forma de aproveitamento dos recursos naturais do
país e promoção do combate à pobreza, diversificando o mercado energético nacional
e procurando fontes energéticas menos poluentes que os combustíveis fósseis
tradicionais. (ALER, 2017)

2.3. Biomassas e bioenergias em Moçambique


No contexto energético, o termo “biomassa” refere-se ao material biológico ou
orgânico, não fóssil, de origem vegetal, animal ou microbiana, que pode ser convertido
em energia chamada bioenergia. Este material inclui matéria vegetal gerado por
fotossíntese, resíduos agrícolas, florestal, dejectos de animais e a fracção
biodegradável dos resíduos urbanos e industriais. (MONJANE & BARROS, 2015)

A biomassa pode ser classificada em dois grandes grupos: (1) biomassa tradicional,
composta essencialmente pela lenha e resíduos naturais.

18
Figura 8-Biomassa tradicional
(2) Biomassa moderna, produzida a partir de processos tecnológicos avançados e
eficientes, tais como biocombustíveis líquidos e gasosos, briquetes, pellets, os cultivos
de espécies como o das florestas plantadas e o da cana-de-açúcar (MARAFON, 2016;
RAPOSO, 2015)

Figura 9- Biomassa moderna


Como referência, Moçambique é um dos dez maiores produtores de carvão vegetal do
mundo. Estima-se que os resíduos da actividade florestal a nível nacional poderiam
gerar 750 GWh de energia (Smeets et al., 2007) e só na Província de Maputo poderiam

19
gerar-se 236.520 MWh (Vasco & Costa, 2009). Além disso, estima-se que é possível
produzir 3,1 milhões de barris equivalentes de petróleo por dia de biocombustíveis sem
afectar a produção agrícola ou pôr em risco a biodiversidade (Vaz et al., 2011).
A biomassa florestal, utilizada para produção de energia eléctrica ou térmica, pode ser
proveniente de sobras ou resíduos de lenha da exploração convencional da madeira ou
proveniente de árvores que são colhidas após a plantação dedicada à exploração
florestal para fins energéticos. Segundo a avaliação da floresta do país existe um total
de 1,6 mil milhões de toneladas de biomassa lenhosa de origem natural disponível em
Moçambique, maioritariamente concentrada nas Províncias de Zambézia e Niassa
(Wisdom, 2007). Ainda de acordo com FUNAE e ATLAS (2013), o potencial
estimado para biomassa florestal residual com algum potencial para incorporação de
resíduos agro-industriais é de 1.006 MW. (ALER, 2017)

Moçambique apresenta um grande potencial também para a exploração da bioenergia,


sobretudo por produzir grandes quantidades de resíduos agro-pecuários, biomassa
florestal, cascas de arroz, cascas de castanha de cajú e cascas de coco. A superfície
florestal do País é cerca de 55 milhões de hectares o que constitui uma oportunidade
para a obtenção de benefícios através da gestão adequada, que contribui no
desenvolvimento socioeconómico do País. (NUBE, 2016)

Por outro lado, o País dispõe de uma grande parte de produção pecuária (gado bovino),
com cerca de 205 612.00 cabeças de gado. (Estatística, 2013) houve um acréscimo
consoante os anos que foram passando, mas ainda são dados dispersos.

A produção pecuária é uma actividade relevante no sector agrário, em virtude do papel


que desempenha na estratégia de redução da pobreza, e da sua crescente contribuição
para o desenvolvimento socioeconómico do País. Além destas potências vantagens
ainda se pode obter outras oportunidades como a de geração de bioenergia através do
esterco, mas devido ao fraco conhecimento das tecnologias não são aproveitados na
sua totalidade.

20
Figure 10- Esterco e gado bovino
Deste muitos anos, a biomassa tem sido uma das fontes de energia mais usada em
Moçambique, visto que aproximadamente cerca de 70% (maioria) da população
moçambicana habita nas zonas rurais (Estatistica, 2019), como mostra a matriz abaixo

Matriz energética de Moçambique(2014)


4.40%
11.70%

8.10%

75.80%

Biomassa petróleo Hídrica Carvão e gás

Figura 11- Matriz energética de Moçambique


Actualmente o pais possui cerca de 80% da sua matriz energética baseada em
biomassa, 13,2% Energia hidráulica e restantes 6.8% solar, eólica, combustíveis
fosseis (Republica, 2009)

Esta biomassa é usada de uma forma ineficiente, pela queima directa e constituindo
um perigo a saúde principalmente pela inalação do monóxido de carbono durante a
confeção dos alimentos, outro perigo é a emissão de dióxido de carbono para atmosfera
durante a sua combustão. Com a presente tecnologia proposto nesta tese de licenciatura
(Biodigestor) os resíduos agro-pecuários serão transformados em biogás pela reacção

21
de digestão anaeróbica (Eq 1), este gás é limpo e com menos efeitos para atmosfera
(WOOLLEN, 2016). Estima-se que os resíduos da actividade florestal a nível nacional
podem gerar energia atem 750 GWh (ALER, 2017).

A produção de bioenergia moderna em Moçambique está numa fase embrionária. O


biodiesel e biogás são fontes promissoras de energia, de longo prazo, com potencial
para minimizar os impactos ambientais e as preocupações de segurança, representadas
pela dependência atual dos combustíveis fósseis em Moçcambique.

Perante a atual crise na matriz energética mundial, a questão de sustentabilidade


bioenergética desempenha um fator importante no desenvolvimento socioambiental e
econômico do País. A inclusão do biogás e biodiesel na matriz energética nacional
pode resolver, em simultâneo, os problemas energéticos e de gestão sustentável dos
resíduos solidodos urbanos.

Porém, para alcançar esse patamar torna-se indispensável investimentos e pesquisas


voltadas a realidade nacional, com vista a adequar o uso de tecnologias eficientes, que
promovem serviços de maior qualidade, reduzem a quantidade da biomassa
transformada em energia e contribuem na sustentabilidade energética.

O uso de biocombustíveis na substituição dos combustíveis fósseis na matriz


energética nacional é urgente e oportuno sob perspectivas ambiental, econômico e
social. Esses vetores,representam uma contribuição aos esforços internacional para
redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE) que geram o aquecimento global.
Mas a sustentabilidade requer maior responsabilidade, austeridade e equidade nos
padrões mundiais de produção, de consumo e do uso da energia.

2.4. Biogás e sua caracterização


O biogás é uma mistura gasosa produzida a partir da decomposição anaeróbica
(ausência de oxigénio) de qualquer substância orgânica, como dejectos de animais,
resíduos vegetais e também do lixo que se dá através da acção de determinadas
espécies de bactérias. (Hermann, 2020) . O biogás tem origem em um processo
biológico e a sua ocorrência natural pode ser observada em sistemas como pântanos,
fundo de lagos e dejectos de animais. Porém em termos gerais, caracteriza-se por ser
incolor, inodoro, insolúvel e de densidade baixa. A matéria orgânica quando
decomposta em meio anaeróbio, é convertida na mistura gasosa chamada biogás por
meio de microorganismos fermentadores, produzindo energia em forma de calor.

22
Trata-se de um biocombustível renovável composto principalmente por metano (CH4)
apresentado na equação (1), dióxido de carbono e traços de outros gases. A bio
digestão pode reduzir o potencial poluente das emissões dos resíduos orgânicos com
alto teor de demanda bioquímica de oxigénio, dos gases do efeito estufa, óxidos de
nitrogénio e hidrocarbonetos, ao mesmo tempo em que é capaz de gerar como
subproduto do processo um adubo orgânico. O potencial energético do biogás esta
relacionado com a quantidade de metano presente no biogás, o que ira determinar o
seu poder calorífico.

O biogás apresenta um forte efeito corrosivo, sendo assim será necessário usar um
condensador e filtro antes de ser usado por consequência da presença de traços de
sulfeto de hidrogénio que por sua vez contem substâncias como enxofre que também
são consideras poluentes do ar de acordo com os padrões nacionais de qualidade do ar
(MICOA, 2012) mas também a reacção do enxofre produzido com humidade produzirá
o acido sulfídrico (H₂S) responsável pela corrosão (FNR, 2010; SALOMON; LORA,
2009) Citado por: (Mata, 2018)

2.5. Composição do biogás


A composição do biogás depende directamente do tipo específico da biomassa usada
no processo de produção. O biogás é constituído de vários gases, mas os principais
componentes são: metano (CH4), o dióxido de carbono (CO2), nitrogénio (N2),
Hidrogénio (H2), Oxigénio (O2), Gás Sulfídrico (H2S) apresentados abaixa pela tabela
(3). Na tabela estão representados componentes do biogás e concentrações em
percentagem. (Mata, 2018;Zenatti, 2019)

Componentes do biogás Concentração (%)


Metano (CH4) 65
Dióxido de Carbono (CO2) 35
Nitrogénio (N2) 1
Hidrogénio (H2) 1
Oxigénio (O2) 1
Gás Sulfídrico (H2S) 1

23
Tabela 3 - Composição do biogás

2.6. Etapas da Produção do biogás

2.6.1. Digestão anaeróbica


A digestão anaeróbica é um processo biológico causado pela acção bacteriana. As
bactérias anaeróbicas responsáveis pelo processo de digestão, geralmente não
sobrevivem em ambientes com oxigénio. O processo de digestão anaeróbia envolve a
degradação e estabilização da matéria orgânica levando à formação de metano,
produtos inorgânicos (dióxido de carbono) e resíduo líquido rico em minerais que pode
ser utilizado como biofertilizante (matéria orgânica estabilizada), A representação da
digestão anaeróbia é mostrada pela equação 1 abaixo (Kelleher et al., 2002).
𝐌𝐚𝐭𝐞𝐫𝐢𝐚 𝐎𝐫𝐠â𝐧𝐢𝐜𝐚 + H2 ⇒ CH4 + CO2 + 𝐁𝐢𝐨𝐦𝐚𝐬𝐬𝐚 + NH3 + H2S +
𝐂𝐚𝐥𝐨𝐫 (1)

O processo de digestão anaeróbico passa necessariamente por quatro fases a nível


bacteriano, sendo elas hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese, na qual
a geração do biogás ocorre na última etapa do processo de acordo com fluxograma
apresentado na figura 4. Durante o processo de produção, é indispensável que as
reacções químicas ocorram de forma sinérgica, sendo que as fases 1-2 e 3-4 possuem
uma relação íntima, logo as mesmas são organizadas em dois estágios, em que os
níveis de degradação devem ter o mesmo tamanho (Deublein e Steinnhauser, 2008).

2.6.1.1. Hidrólise
Na hidrólise a ligação molecular complexa como carbohidratos, proteínas e gorduras,
são quebradas por enzimas em um processo bioquímico, sendo liberadas por um grupo
específico de bactérias e dão origem há compostos orgânicos simples (monómeros)
como aminoácidos, ácidos graxos e açúcares como mostrado na equação 3.
𝐶4 𝐻6 𝑂3 𝑁2 − 𝑅1 − 𝑅2 + 𝐻2 𝑂 → 𝐶2 𝐻4 𝑂2 𝑁 − 𝑅1 + 𝐶2 𝐻4 𝑂2 𝑁 − 𝑅2
Proteínas Aminoácidos 1 Aminoácidos 2

Existem diversos tipos de hidrólise que variam em função da matéria orgânica


utilizada, como por exemplo, a hidrólise de glicosídeos para a formação de açúcares e
de proteínas para aminoácidos. Esse processo é de fundamental importância para a
produção de biogás, pois dada a quebra dos polímeros maiores, inicia-se o processo de
biodigestão.

24
2.6.1.2. Ácido génese
No ácido génese as substâncias resultantes da hidrólise são transformadas por bactérias
ácido génicas em ácido paranóico, ácido butanóico, ácido láctico e álcoois, assim como
hidrogénio e gás carbónico. A formação de produtos nesta fase também depende da
quantidade de hidrogénio dissolvido na mistura. Quando a concentração de hidrogénio
é muito alta, esta interfere negativamente na eficiência do ácido génese, o que causa o
acúmulo de ácidos orgânicos. Com isso, o pH da mistura é reduzido e o processo é
afectado.

2.6.1.3. Acetogênese
A acetogênese é a fase na qual os materiais resultantes da acidogênese são
transformados em ácido etanóico, hidrogénio e gás carbónico por bactérias
acetogênicas. Essa é uma das fases mais delicadas do processo, considerando que é
necessário manter o equilíbrio para que a quantidade de hidrogénio gerado seja
consumida pelas bactérias.

2.6.1.4. Metanogênese
Durante o metano génese na bio digestão anaeróbia, o ácido acético, o hidrogénio e
dióxido de carbono são finalmente convertidos em metano e gás entre os produtos
finais também são encontrados, o gás sulfídrico (H2S), água (H2O), a amónia (NH3)
carbónico, através da acção de microrganismos metano génicos. Nesta fase as bactérias
metalogenias metabolizam os ácidos voláteis produzidos na fase anterior. Desta forma,
a metano génese pode ser considerada como sendo uma respiração anaeróbia onde o
gás carbônico ou o grupo metil de compostos C-1, ou carbono do grupo metil do
acetato é o aceptor de electrões. A Figura 4 representa o conjunto dos processos
bioquímicos envolvidos na formação do biogás. (BARREIRA, 2003; Zenatti, 2019)

25
Figura 12- Fases da digestão anaeróbica

2.6.2. Factores que influenciam na digestão anaeróbica


Com base no descrito anterior é importante que se observe os factores que influenciam
na maior parte da produção de biogás. De entre estes factores são citados os seguintes:
• Impermeabilidade do ar: os microrganismos metalogénicos são essencialmente
anaeróbicos. A decomposição de matéria orgânica na presença de ar (oxigénio)
ira produzir apenas dióxido de carbono (CO2) (METZ, 2013)

• Natureza do substracto: os substratos nutritivos devem prover alimento aos


microrganismos, elementos químicos constituindo o material celular e as
necessárias as actividades enzimáticas, particularmente os oligo-elementos,
como o cálcio, magnésio, potássio, sódio, zinco, ferro, cobalto, cobre,
molibdénio e manganês (METZ, 2013)

• Temperatura: a actividade enzimática das bactérias depende estritamente da


temperatura, visto que é conhecido que alterações bruscas de temperatura causam
desequilíbrio sobre a velocidade do processo de produção, sendo comum dividi-
la em termofílica (entre 50ºC e 70ºC) ou mesofílica (entre 20ºC e 45°C).
Principalmente nas bactérias formadoras de metano. Em temperaturas
termofílicas, é possível produzir uma quantidade maior de biogás em menos

26
tempo de Retenção Hidráulica. Já a faixa mesofílica o tempo será maior devido
a faixa de temperatura reduzida (METZ, 2013)

• Tipo de resíduos: o tipo de resíduo é o alimento a ser utilizado pelas bactérias


uma vez que a relação carbono/nitrogénio é um factor muito importante, o
material vegetal é uma das melhores matérias-primas, pois é fonte rica em
carbono devido ao seu alto teor de carbohidratos (METZ, 2013)

• Relação carbono/nitrogénio: este factor é de grande importância para formação


de ácidos orgânicos utlizados pelas bactérias para a produção de biogás. Além
disso, o carbono é utilizado pelas bactérias como energia e o nitrogénio é usado
para a construção das estruturas celulares. A relação ideal está na faixa de 20 a
30 partes de carbono para uma de nitrogénio. (METZ, 2013)

• Tempo de retenção: é o tempo em que o material orgânico permanece no


interior do biodigestor. O tempo de retenção está relacionado a factores como a
granulometria, temperatura, entre outros. Em geral recomenda-se tempos de
retenção de 40 a 60 dias (METZ, 2013)

• Humidade: O teor de água presente no biodigestor deve variar entre 60% e 90%
do peso do conteúdo total, tanto o excesso, quanto a falta de água são prejudiciais.
O teor da água vária de acordo com as diferenças apresentadas pelas matérias-
primas destinadas à fermentação (Mata, 2018).

• pH: O Ph adequado situa-se na faixa entre 6 e 8, tendo 7 como o ideal. Ambientes


muito ácidos causam a morte das bactérias metalogénica (METZ, 2013, pp. 16-
17)

• Inibidores: A digestão anaeróbia contém diferentes grupos de bactérias que


estão ligados entre si em forma de encadeamento. Estes grupos trabalham em
sequência, com os produtos de um servindo como substratos para o próximo.
Caso a primeira fase seja inibida, os substratos para as segunda e terceira fases
serão limitados e a produção de metano diminuirá. Se a terceira fase for inibida,
os ácidos produzidos na acidogênese serão acumulados. A inibição da terceira
fase ocorre devido ao aumento dos ácidos e, consequentemente, perda de
alcalinidade e diminuição do pH. Porém, os principais problemas na digestão

27
anaeróbia ocorrem devido à inibição das bactérias formadoras de metano na
quarta fase (metanogênese) (Mata, 2018).

É importante ressaltar que existem divergências entre alguns autores referente aos
factores que influenciam a produção do biogás, porém existe uma proximidade nos
seus dizeres.

2.6.3. Substrato para a produção de biogás


De acordo com o Manual básico de biogás (2014) Diversos materiais orgânicos podem
ser decompostos em um biodigestor. Existem alguns materiais que têm mais potencial
do que outros, de acordo com a origem. Sendo assim, alguns dos substratos que podem
ser utilizados são listados abaixo:
• Resíduos verdes (gramas, folhagens, galhos);
• Óleos vegetais;
• Resíduos de origem animal (dejectos e rejeito de suinicultura, pecuária e
avicultura);
• Resíduos agrícolas (cascas, palhas e restos de cultura);
• Resíduos industriais (descartes, efluentes industriais, gorduras, restos de
restaurantes de unidades fabris, entre outros);
• Resíduos orgânicos municipais advindos da actividade humana (lodo de esgoto,
resíduo doméstico orgânico)
• Vinhaça (resíduo da produção de etanol);
• Amido (Mata, 2018).

2.6.4. Potencial energético do biogás


O biogás é considerado uma fonte de energia renovável, com conteúdo energético
semelhante ao gás natural. Pode ser utilizado como combustível para a geração de
energia eléctrica, térmica ou mecânica, com poder calorífico variando de 5.000 a 7.000
kcal/m³ (Silva & Oliveira, 2010). Pode- se produzir um metro cúbico de biogás com
25 kg de esterco fresco de vaca, 5 kg de esterco seco de galinha, 12 kg de esterco de
porco, 25 kg de plantas ou casca de cereais ou 20 kg de lixo (PAULA, 2006).

Traduzindo em termos práticos, apresento uma relação comparativa de equivalência


de 1 metro cúbico de biogás com os combustíveis usuais:
(Mata, 2018); (Silva & Oliveira, 2010); (Deganutti, et al., 2008)

28
Tabela 4: Equivalência entre o biogás e outros combustíveis (Mata, 2018); (Silva &
Oliveira, 2010); (Deganutti, et al., 2008)
Biogás Outros combustíveis
0,61 Litros de gasolina;
0,58 Litros de querosene
1 metro cúbico 0,55 Litros de óleo diesel
0,45 Litros de gás de cozinha
0,79 Litros de álcool hidratado
Tabela 4- Equivalência entre o biogás e outros combustíveis

2.6.5. Uso do biogás


As formas de uso de biogás dependem entre outras coisas, da concentração dos gases
que o compõem. Através da combustão o metano é utilizado para a geração de energia.
Dessa forma quanto maior for a concentração de metano, maior o valor agregado do
biogás. Quando a concentração do biogás passa de 95% o biogás é considerado bio
metano.

Figura 13- Formação de bio metano


Ele pode ser utilizado na própria atividade (curral de bois), em: iluminação,
aquecimento, refrigeração, secagem de grãos, incubadoras, misturadores de ração,
geradores de energia elétrica e nas residências como qualquer outro gás combustível.
Pode ser utilizado em redes de gás natural -como combustível veicular (GNV);
Também na forma de Gás Natural comprimido (GNC) ou como Gás Natural Liquefeito
(GNL).

29
Para isso é necessário retirar do biogás, além da umidade e sulfeto de hidrogénio,
também o dióxido de carbono. Este processo é conhecido como purificação do bigas
que passa então a ter o nome de bio metano.
Biogás como fonte de hidrogénio- no último estágio de aproveitamento do biogás, o
metano pode passar por um processo de reforma para gerar hidrogénio. Assim como o
gás carbónico o hidrogénio pode ser usado para diferentes fins, é considerado como o
combustível do futuro. (Machado, 2016)

2.6.6. Benefícios e Desvantagens do uso do biogás utilidade do biogás/biodigestor


O biogás apresenta grandes benefícios sobre outras formas de obtenção de energia:
• Polui menos a atmosfera, auxiliando na desaceleração do aquecimento global. Este
tipo de gás reduz principalmente a emissão de metano (CH4) e de dióxido de
carbono (CO2), gases causadores do efeito estufa;
• O uso do biogás em vez da lenha contribui significativamente no combate ao
desmatamento;
• Nas áreas rurais, a chegada do biogás poderá substituir os fogões à lenha, reduzindo
a poluição do meio ambiente;
• O uso de biodigestores para colecta de dejectos humanos e animais pode auxiliar
(ou até mesmo sanar) problemas de saúde pública decorrentes de dejectos
carregados de microrganismos;
• Reduz os odores desagradáveis do lixo;
• Produz combustível de boa qualidade;
• Produção descentralizada que pode ser realizada próxima aos locais de consumo,
abastecendo comunidades isoladas;
• Utilização de substratos renováveis;
• Baixo custo operacional e de implementação;
• Simplicidade de operação, manutenção e controle;
• Pode ser instalado em pequenas áreas e tem elevada vida útil;
• Produz biogás que pode ser transformado em energia térmica, mecânica ou
eléctrica;
• Também produz biofertilizante que tem alto poder fertilizante e pode ser usado na
agricultura em substituição aos adubos químicos SAMULAK et al (2010) citado
por: (Antunes, 2019); (Mata, 2018); (Silva & Oliveira, 2010)

30
Além do mais o biogás nota-se muito económico comparado com os combustíveis
(carvão/lenha) que são utilizados na localidade, conforme os dados a seguir:

Um saco de carvão de 75 Kg é adquirido a 500 MT com o intuito de ser utilizado num


mês, numa casa com 5 agregados. No entanto em média são diariamente utilizados
3Kg de carvão para satisfazer suas necedades, cozinhar e aquecer água. Essa
quantidade torna-se insuficiente para tais actos durante todo o mês, contudo seriam
necessários:

Se 1 mês tem 30 dias, 75Kg/30 =2.5 Kg. Nota-se um défice de 0.5Kg/ dia, o que num
mês contabiliza 15Kg. Daí que:

Se 75Kg -------------- 500 MT

15Kg------------------- X

X = 100 MT

Serão necessários mais 100 MT adicionais, o que contabiliza um total de 600 MT


por mês, por ano 7200 MT. Este valor anual é quase duas vezes o valor necessário
para o empregue de um biodigestor caseiro, tendo em conca que só será
desembolsado uma vez. Os valores estão fixados na tabela 3.

Desvantagens
• Necessidade de purificação do biogás para ser utilizado como biocombustível (bio
metano);
• Se a digestão anaeróbia for mal sucedida há a possibilidade de odor desagradável;
• Necessidade de uniformidade do substrato.

2.7. Biodigestor, breve historial


Os biodigestores são compartimentos fechados nos quais ocorre decomposição de
matéria orgânica, produzindo biogás e biofertilizante. (Deganutti, et al., 2008).

Biodigestores são equipamentos herméticos e impermeáveis dentro dos quais se


deposita material orgânico para fermentar por um determinado tempo de retenção, no
qual ocorre um processo bioquímico denominado bio digestão anaeróbica, que tem
como resultado a formação de biofertilizante e produtos gasosos, principalmente o
metano e o dióxido de carbono. (FERREIRA, 2013)

31
Índia foi o primeiro país a instalar biodigestores para a produção de biogás, de maneira
sistemática. A primeira unidade foi construída por volta de 1.908. Este país começou
seu programa de implantação de biodigestores em 1.951 e contava até 1.992 com cerca
de 160 mil unidades instaladas. A China, iniciou seu programa de implantação de
biodigestores na década de cinquenta e contava até 1.992 com cerca de 7,2 milhões de
unidades (BAUMANN & KARPE, 1980). Hoje a China possui cerca de 8 milhões de
unidades em funcionamento.
Apesar das diversas vantagens oferecidas por esses reatores, seu emprego apresenta
motivações específicas: no caso da China, destaca-se o biofertilizante como a razão
principal; nas Filipinas, o tratamento das águas residuárias de origem doméstica em
projetos de colonização; na Tailândia, para promover o saneamento; na Índia, a energia
do biogás e em Moçambique pode ser usado como forma de proporcionar a
diversificação no fornecimento de energia de forma acessível.

2.7.1. Formas de abastecimento dos biodigestores


Estes reatores podem ser projetados adequadamente ao tipo de carregamento que será
operado: alimentação em batelada, contínuo ou com alimentação mista.

O carregamento em batelada, apesar da simplicidade, pode ser útil em situações em


que o resíduo é obtido periodicamente, como é o caso de resíduos de restos de culturas,
poda de grama ou de cama de criações confinadas. O biodigestor de carregamento
contínuo deve ser projetado de acordo com o manejo dos animais e culturas agrícolas,
assim como da disponibilidade de mão-de-obra.

A alimentação contínua é apropriada para materiais de fermentação fluidos e


uniformes. A mão-de-obra necessária para sua operação deste tipo de alimentação
pode integrar-se mais facilmente nas tarefas diárias. A produção de gás é uniforme e
um pouco maior que a dos biodigestores alimentados em batelada.
Em um biodigestor contínuo, adiciona-se água ao material a ser fermentado para
aumentar a fluidez desta massa, o que é importante para o funcionamento hidráulico
do biodigestor. Também acelera o processo de fermentação, pois as bactérias
metalogénicas encontram o substrato com mais facilidade.
A alimentação mista geralmente os biodigestores são carregados com mais de um
material, como por exemplo palha e esterco de animais, sendo a degradação da palha
mais lenta.

32
Ressalta-se que, dentre as diversas possibilidades de utilização, os biodigestores rurais
poderão ser projetados com o objetivo principal de atendimento de uma ou mais
utilidades. Para tanto, são propostos diversos modelos que diferem, principalmente,
nas tecnologias associadas para obtenção de melhores rendimentos e nas
características que os tornam mais adequados ao tipo de resíduo que se pretende
utilizar e à frequência com que são obtidos, observando-se também a maneira como
serão operados os biodigestores. (Deganutti, et al., 2008)

2.7.2. Tipos de biodigestores


Existem vários tipos de biodigestores, porém os mais difundidos são Chineses,
Indianos e Canadenses e ‘’Caseiros’’. Cada um possui sua peculiaridade, mas também
apresentam semelhanças entre si, tem o corpo do biodigestor ligado a uma caixa de
carga para o abastecimento e uma caixa de descarga para remoção do resíduo
(biofertilizante). A diferença se dá no tipo de cúpula construída porém ambos têm
como objectivo criar condição anaeróbica, ou seja, total ausência de oxigénio para que
a biomassa seja completamente degradada.

2.7.2.1. Biodigestor modela Chinês


O modelo Chinês de biodigestor é formado por uma câmara cilíndrica em alvenaria
para a fermentação, com teto abobado, impermeável, destinado ao armazenamento do
biogás, e para economizar espaço é totalmente enterrado no solo. O funcionamento do
biodigestor baseia-se no princípio de prensa hidráulica. O aumento da pressão em seu
interior, devido ao acúmulo de biogás, resulta no deslocamento do efluente da câmara
de fermentação para a caixa de saída, e em sentido contrário quando ocorre
descompressão. (Silva & Oliveira, 2010)

33
Figura 14- Biodigestor modelo chinês

Geralmente uma parcela de biogás é liberada para atmosfera para evitar grandes
pressões internas, por isso esses biodigestores não são usados para instalações de
grande porte (DEGANUTTI et al., 2002). Esse tipo de biodigestor requer um
abastecimento contínuo de matéria orgânica, e o substrato para produção de biogás não
deve apresentar percentagem de sólidos totais superiores a 8%, para evitar que ocorram
entupimentos. Não é um modelo para acúmulo de gás, devido a sua construção de
cúpula fixa, ocupa pouco espaço e sua construção em solos superficiais não é indicada.
(Silva & Oliveira, 2010)

2.7.2.2. Biodigestor modela Indiano


Este modelo de biodigestor caracteriza-se por possuir uma campânula como
gasômetro, a qual pode estar mergulhada sobre a biomassa em fermentação, ou em um
selo d’água externo, e uma parede central que divide o tanque de fermentação em duas
câmaras. A função da parede divisória faz com que o material circule por todo o
interior da câmara de fermentação. O modelo indiano possui pressão de operação
constante, ou seja, à medida que o volume de gás produzido não é consumido de
imediato, o gasômetro tende a deslocar-se verticalmente, aumentando o volume deste,
portanto, mantendo a pressão no interior deste constante.

34
Figura 15- Biodigestor modelo indiano

O facto de o gasómetro estar disposto ou sobre o substrato ou sobre o selo d’água,


reduz as perdas durante o processo de produção do gás. O resíduo a ser utilizado para
alimentar o biodigestor indiano, deverá apresentar uma concentração de sólidos totais
não superiores a 8%, para facilitar a circulação do resíduo pelo interior da câmara de
fermentação e evitar entupimentos dos canos de entrada e saída do material. O
abastecimento também deverá ser contínuo, ou seja, geralmente é alimentado por
dejectos bovinos e/ou suínos, que apresentam uma certa regularidade no fornecimento
de dejectos

2.7.2.3. Biodigestor modelo Canadense


Trata-se de um sistema bastante simples e de pequena exigência operacional. Sua
instalação poderá ser apenas um tanque anaeróbio, ou vários tanques em série. Esse
tipo de biodigestor é abastecido de uma única vez, portanto não é um biodigestor
contínuo, mantendo-se em fermentação por um período conveniente, sendo o material
descarregado posteriormente após o término do período efectivo de produção de
biogás. (Deganutti, et al., 2008).

O modelo canadense é um biodigestor horizontal, com caixa de carga feita em


alvenaria e com o comprimento da largura maior que a profundidade, possuindo então,
uma maior área de exposição ao sol, possibilitando uma grande produção de biogás e
também evitando o entupimento (CASTANHO; ARRUDA, 2008). A câmara de
fermentação é subterrânea e revestida com lona plástica e a manta superior tem
objectivo de armazenar o biogás produzido de modo a formar uma campânula de
armazenamento, como nos outros biodigestores. Há uma caixa de saída onde o efluente
é liberado, um registo para saída do biogás e um queimador, que fica conectado a esse
registo (PEREIRA et al., 2009). Sua desvantagem é a maior sensibilidade às variações

35
térmicas que os outros modelos. Sua utilização é recomendada para locais de clima
tropical, onde predominam temperaturas altas e constantes (MARI, 2014) citado por
(Matos, 2016)

Figura 16- Biodigestor modelo canadense

2.7.2.4. Biodigestor modela Caseiro


O biodigestor caseiro, geralmente pode ser construído em tambores (reservatórios) de
200 litros que pode ser de PVC ou de metal. Possui entrada para matéria orgânica,
saída para biofertilizante, um canal para a retirada do gás. Este modelo possui uma
estrutura simples e de fácil manuseio, sendo o seu abastecimento contínuo, ou seja não
se precisa esperar o término do processo ou paragem de produção para que seja
alimentado.

Figura 17- biodigestor modelo Caseiro

2.8. Princípio de funcionamento dos biodigestores


O Biodigestor é formado principalmente por um tanque de armazenamento, depois de
preparada a biomassa (Substrato), esse material segue directamente para o fermentador

36
(biodigestor). Esse tem a função de acelerar o processo de bio digestão dando
condições ideais para a ação bacteriana responsável pelo processo.

Na maioria dos casos (depende do substrato usado), esse material passa cerca de 40
dias dentro do fermentador. Depois disso temos o biogás e o biofertilizante, esse
processo é baseado no princípio de prensa hidráulica. O biogás pode ser queimado em
motores especiais para a geração de energia térmica ou eléctrica.

2.9. Biofertilizante
Após o processo de obtenção de biogás no interior do biodigestor, o resíduo de
biomassa utilizada transforma-se em biofertilizante. O biodigestor libera carbono nos
elementos de CO2 e CH4, propiciando a geração de um biofertilizante rico em
nutrientes, com teores significativos de nitrogénio (N), fósforo (P) e potássio (K). É
um adubo orgânico livre de agentes causadores de doenças ou pragas, sem odores
desagradáveis, com potencial para melhorar as propriedades físicas, químicas e
biológicas do solo e de alta qualidade para uso agrícola, além de possuir baixo custo.
Este fertilizante pode substituir parcial oi totalmente o uso de adubos químicos.

O aproveitamento de biofertilizante na nutrição das plantas facilita a penetração em


suas raízes, aumentando suas tolerâncias a períodos secos, oferece alimentos mais
saudáveis com menor nível de aditivo químico e respeito ao meio ambiente, promove
a multiplicação de bactérias que trazem vida a solos já degradados, e reduz a presença
de coliformes fecais dos dejectos. (Silva & Oliveira, 2010)

Figura 18 -Esterco bovino

37
CAPÍTULO 3 – ETAPA EXPERIMENTAL

3. Cálculo para o dimensionamento


Cálculo para a determinação de algumas variáveis necessárias para efeitos de
dimensionamento e produção do biogás com base nas dimensões do nosso reservatório
que será usado como biodigestor.

➢ Determinação do volume do biodigestor (Vb):


Vb = h x π x r²
Vb = 89 Cm x 3.14 x (26.5) ²
Vb = 196250.7 m³

➢ Determinação da energia (E) = eficiência (n) x Poder calorífico (Hb) x Volume


do biodigestor (Vb) [MJ]
E = ŋ x Hb x Vb
E = 0.7 x 20Mj/m³ x 196250.7m³
E = 2747509.8 Mj

➢ Determinação da massa total = 2 kg x Nº


m = 2 Kg x 54
m = 108 Kg

➢ Determinação do volume do fluido


Vf = massa total/50 (densidade kg/m3)
Vf = 108Kg/ 50m³
Vf = 2.16Kg/m³/dia

➢ Determinação do volume do biodigestor que será ocupado pela mistura de água


e esterco Vb = Vf x 20 dias
Vb = 2.16Kg/m³/dia x 20 dias
Vb = 43.2 Kg/m³

➢ Determinação do volume do biogás produzido por dia


Vb = 0.2 x massa total
Vb = 0.2 x 108Kg
Vb = 21.6Kg

Depois destas observações (cálculos) dá-se em seguida ao processo de enchimento do


biodigestor.

38
3.1. 1ª Experiência:
Para tal foi feita a colecta do esterco, Daí com o auxílio de um balde de preferência o
20L (vasilhame que continha tinta) usado para fazer a mistura do esterco com a água
e também de um mexedor para auxiliar no processo de homogeneização.

No balde foi colocada a uma quantidade de esterco que ocupara cerca de 40% do
espaço do recipiente e os restantes 60% de água a cada mistura, esse processo foi
realizado até que o tambor (biodigestor) ficasse cheio de modo que não suportasse
mais enchimento (de acordo com os cálculos acima apresentados) e começasse a retirar
através do canal de saída.

NB: o biodigestor de facto não fica cheio, ele simplesmente quando chega a um ponto
ele não recebe mais a mistura de modo a deixar espaço de armazenamento do gás.

Isso ocorre por conta do princípio de vasos comunicantes Lei de Stevin que foi
empregue no processo de construção do biodigestor.

Posto isso é necessário verificar que não exista nenhuma saída ou entrada de ar, fora a
que foi dimensionada, fazer a ligação do tubo transportador do gás até ao fogão e
fechar a válvula.

Se possível deixar num ponto em que exista facticidade de receber radiação solar
sempre, porque como é sabido a temperatura é um dos factores chaves na produção
das bactérias produtoras deste gás e também diminui o tempo de retenção.

O primeiro enchimento foi realizado no dia 25 de Junho de 2020, posto isso aguardou-
se cerca de 25 dias para a deterioração da matéria orgânica. Posto isso fiz a primeira
experiência para apurar se houve produção ou não do biogás, e o resultado desta
experiência não foi satisfatório, aguardei mais 10 dias, fiz novamente o teste e não
houve combustão após a queima do gás.

Fiz uma verificação para apurar se não havia nenhum tipo de escapamento do gás.
Constatei que não havia ou não era visível por onde pudesse haver fuga. Levando em
consideração que eram excrementos meio seco, decidi fazer uma nova experiência com
excrementos mais hidratados (frescos) que os da primeira experiência.

3.2. 2ª Experiência
A segunda experiência deu início no dia 05 de Agosto do mesmo ano, no qual foram
seguidos os mesmos passos que o anterior, com a diferença de estado do esterco,

39
anteriormente usei esterco meio seco (nem tão seco nem tão húmido) em relação a esta
experiência que foram usados frescos.

Fiz a colecta do esterco que fora expelido pelos animais durante a noite e nessa mesma
manhã fiz a, mistura e posterior enchimento, isso para assegurar que não se
desidratassem consoante o tempo.

Posto o processo de enchimento é seguido o tempo de retensão que desta vez foram de
45 dias, preferi prolongar um pouco mais os dias por conta da temperatura amena que
se fazia sentir nesses dias. Portanto no dia 19 de Setembro fiz a experiência para saber
se houvera produção do biogás.

Fiz a abertura da válvula e acendi com recurso de um fósforo, notou-se uma chama
mas não era muito visível, daí conectei ao fogão a gás e dali já era bem visível. Essa
última experiência foi bem-sucedida.

Figura 19- Mistura e enchimento do biodigestor

40
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
4. Resultados
O processo de produção de biogás ocorre a partir do 20 dias em caso de temperatura e
qualidade do material bovino favorável, noutros casos a partir dos 30 dias já se tem
uma boa quantidade de gás considerável. Daí pode-se abrir a válvula para que o gás
passe por um processo de filtragem, para que as impurezas sejam eliminadas da
composição do gás, em seguida pode-se o fazer uso do gás limpo, seguro e sustentável.

Pode-se observar a eficiência do gás através do aquecimento da água até levantar


fervura, fritou-se um ovo. Como mostra a figura XXX.

Depois de ter produzido gás os substratos passam a flutuar dentro do biodigestor, e


quando é feito um novo enchimento esses substratos tende a serem evacuados através
do tubo de saída, posteriormente podem ser utilizados como fertilizantes para
adubarem as machambas. Esses é um processo contínuo nada se perde.

4.1. Relação dos Objectivos do Desenvolvimento Sustentável com a produção do


biogás
O biogás produzido em Boane enquadra-se nos ODS 7 que preconiza a energia como
sendo um pilar para desenvolvimento e também está correlacionado com outros
objectivos da seguinte maneira: o segundo (2º) objectivo é referente a agricultura
sustentável, pois como foi descrito após a produção do biogás os rezidos
remanescentes são utilizados como adubos nas plantações proporcionando ricos
benefícios podendo até multiplicar a produção e principalmente por serem livres de
agrotóxicos, tornando uma agricultura sustentável;

O terceiro (3º) objectivo refere-se a saúde e bem-estar para todos: com uso do
biodigestor caseiro é notória a melhoria na questão da diminuição de doenças tais
como a tosse que também pode ser originada através da fumaça emitida com o uso da
lenha, doenças cancerígenas pela inalação de fumaça e também causadas pela emissão
directa do CO₂, problemas na visão pelo contacto directo com o fumo. Fora que se
pode converter o biogás em energia eléctrica através de geradores, possibilitado a
melhoria no desempenho dos laboratórios e possibilitando pequenas cirurgias locais;

O quarto (4º) objectiva uma educação de qualidade: que se torna possível de se realizar
desde que se converta o biogás em energia eléctrica, proporcionando mais tempo de
estudos no período noturno, o uso de computadores, uso de fotocopiadoras e outras

41
novas formas de aprendizado que com a ausência de energia eléctrica não eram
possíveis de se realizar;

O décimo segundo (12º) objectivo: que pretende a melhoria no consumo de recursos


naturais, melhorias essas que podem ser observadas através da implementação do
biogás porque é uma fonte sustentável de gerar energia através de resíduas orgânicos,
e prevê uma diminuição de uso de recursos não renováveis como os combustíveis
fósseis;

O décimo terceiro (13º) objectivo que refente a tomada de medidas urgentes para
combater a mudança do clima e seus impactos: mas uma vez o biogás se torna um
meio bastante importante para sanar esses problemas climáticos, visto que com a
substituição de fontes fosseis e outras que emitam substâncias poluentes (que na sua
maioria são compostos por CO₂) para a atmosfera pelo biogás, haverá uma diminuição
dos buracos na camada de ozono o que irá reduzir a emissão directa de raios
ultravioletas que são bastante perigosos em todos os sentidos para os seres vivos.

O décimo quinto (15º) objectivo que reflete a necessidade de prover o uso sustentável
de recurso e ecossistemas terrestres e combater o desflorestamento: esse objectivo é
possível de se realizar usando o biodigestor um dos meios para a sua concretização
visto que não haverá necessidade do uso de lenhas bem como a do carvão que são
bastante utilizados como combustíveis domésticos na sua maioria em países em via de
desenvolvimento como Moçambique, será notória a redução no abate de árvores. Para
se ter em conta cerca de 217 000 hectares de floresta são convertidos anualmente para
outros usos, sendo a maioria para o uso como combustíveis, fazendo uma observação
é um número bastante elevado fora as que são abatidas noutros lugares do mundo.

Sem dúvidas a implementação do biodigestor é uma óptima aposta para satisfazer esse
e os outros ODSs aqui mencionados, não esquecendo que um dos principais papéis das
florestas é a de captar o CO₂, renovando o ar,

Recomendo um estudo mais aprofundado em relação ao potencial do esterco bovino,


através de análises laboratoriais para firmar com mais precisão a quantidade e
quantidade real equivalente de um 1m³ de biogás em relação a outros combustíveis;

O uso de esterco seco não é muito eficiente, sendo melhor utilizá-lo fresco.

42
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5. Conclusões e Recomendações
A ONU através ODS 7 recomenda que todas as nações ou todo ser humano deve ter
acesso a energia e essa energia deve ser confiável, sustentável e moderna até 2030.
Apesar de Moçambique ser dos países mais pobres do mundo e com elevado potencial
energético, há esperança de atingir esse objectivo, uma vez que o governo tem através
das universidades implementadas investigações científicas nas áreas de fontes novas
de energia como é o caso do presente trabalho. Nas pesquisas de fontes alternativas há
evidências claras, de que as energias dessas fontes, estão a criar mudanças no sentido
de desenvolvimento socioeconómico como é o caso da saúde e educação
principalmente nas zonas rurais onde é encontrada a biomassa de excrementos de
animais (bovino, suíno, avícola).

Do dimensionamento do biodigestor para produção de biogás de uso doméstico como


mostra a Figura TTT. Conclui-se tratar-se de óptimo meio de produção de energia para
cozinhas nas famílias de Boane ou simplesmente nas famílias Moçambicanas. Este
biodigestor é de material reciclado isto é, usa-se embalagens de óleos de 220 litros e
outros componentes para o fabrico do mesmo é de acesso fácil no mercado
Moçambicano e principalmente nas zonas rurais, reciclado é igualmente o resíduo
usado como biomassa que são excrementos de animais. Com este biodigestor,
produzir-se-á um biogás rico em metano CH4 que irá diminuir a dependência de uso
de combustíveis fósseis e uso de biomassa lenhosa que é largamente usada pelas
famílias para confecionar os alimentos causando desmatamento florestal.

O Processo de digestão anaeróbica é a tecnologia que é usada no Biodigestor para


produção de biogás. A tecnologia é acessível, simples e testamos ser de fácil uso
doméstico e um dos subprodutos é fertilizantes que pode ser usado na agricultura. Esta
tecnologia de conversão energética através da bio digestão pode contribuir para
sustentabilidade por ser uma energia limpa proveniente de resíduos orgânicos da
agricultura, avicultura e resíduos urbanos e municipais. A quantidade de resíduos
urbanos ou melhor municipais na cidade e província de Maputo são potencialmente
usável para produção de energia é bastante alto bastando o governo aderir a este
movimento científico de produção de energia. Usando estes resíduos de biomassa
nomeadamente excrementos animais, resíduos municipais e agrícola como fonte para

43
produção de biogás, pois pode contribuir para controlo de problemas ambientais
incluindo diminuição de poluição atmosférica, redução de gases de efeito de estufa e
diminuição do aquecimento global. Dentre vários benefícios de uso desta tecnologia,
destaca-se duas. Controlo ou gestão ambiental de resíduos orgânicos e municipais
igualmente a geração de energia limpa e renovável dentre outras vantagens
correlacionadas com outros objectivos de desenvolvimento sustentável (ODS).

44
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALER, 2017. Energias renováveis em Moçambique: Relatório Nacional do ponto de
situação , Maputo: Associação Lusofona de Energias Renováveis.

ALMEIDA, R. D. M., SOUSA, R. C. D. A. & MOUSINHO, M. C. A. D. M. B. e. Í.,


2013. Electrificação rural e energias de fontes renováveis. UNIFACS, Issue 12.

Antunes, M. Z., 2019. Viabilidade Da Produção de biogás a partir de dejectos


animais, Cachoeira do sul: s.n.

BARREIRA, P., 2003. Biodigestores: energia, fertilidade, saneamento para a zona


rural, São Paulo: Ícone.

Boane, G. D. d., 2010. Balanço Anual do Governo do Distrito de Boane, Maputo: s.n.

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