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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

LICENCIATURA EM ENGENHARIA E GESTÃO DE ENERGIAS

RENOVÁVEIS

ANALISE DOS DESAFIOS DA ELECTRIFICAÇÃO ATÉ 2030

Monografia apresentado em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção

do grau de Licenciatura em Ciências Tecnológicas com orientação em Engenharia e

Gestão de Energias Renováveis na Universidade Técnica de Moçambique

ORNILIA DA GRAÇA

Maputo, Fevereiro 2022


ANALISE DOS DESAFIOS DA ELECTRIFICAÇÃO ATÉ 2030

Monografia apresentado em cumprimento parcial dos requisitos exigidos para obtenção

do grau de Licenciatura em Ciências Tecnológicas com orientação em Engenharia e

Gestão de Energias Renováveis na Universidade Técnica de Moçambique

ORNILIA DA GRAÇA

LICENCIATURA ORIENTADA EM ENGENHARIA E GESTÃO DE ENERGIAS

RENOVÁVEIS

FACULDADE DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOCAMBIQUE

Tutor: Msc. Constantino Dombo

O JÚRI:

O Presidente O Tutor O Arguente

__________________ __________________ _____________________


DECLARAÇÃO DE HONRA

“Declaro que este Trabalho de Diploma nunca foi apresentado na sua essência para

obtenção de qualquer grau académico e ele constitui o resultado da minha pesquisa

pessoal”

A autora

_______________________________________

(Ornilia Da Graça)
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Elementos das Componentes 1 (densificação e extensão da rede existente) e 2

(mini-redes) sobrepostas à Rede Nacional de Transporte de Energia ............................... 10

Figura 2. Representação esquemática das infraestruturas do Pro-Energia (em laranja) .... 13

Figura 3. Organização Actual do Sector. ........................................................................... 15

Figura 4. Produtores Independentes de Energia ................................................................ 34

Figura 5. Mini Redes.......................................................................................................... 35

Figura 6. Características dos operadores privados de SSC em regime de PAYGO

actualmente em operação // Fonte: Consulta directa aos operadores ................................ 36

Figura 7. Caraterização de Moçambique. Fonte: AICEP (2012) ....................................... 41

I
LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Evolução da taxa de electrificação. Fonte: EDM, Estratégia Nacional de

Electrificação (ENE), Plano Director do Sector Eléctrico ................................................. 44

Gráfico 2. Capacidade instalada. Fonte: Adaptado do Plano Director do Sector Eléctrico

............................................................................................................................................ 44

Gráfico 3. Evolução da produção de electricidade por fonte // Fonte: EDM ................... 45

Gráfico 4. Evolução do consumo per capita vs evolução do PIB per capita e acesso à rede

eléctrica // Fonte: EDM e FMI ........................................................................................... 45

II
LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Analise SWOT – Eletrificação Rural em Moçambique. Fonte: Adaptado Autora,

(2022). ................................................................................................................................ 47

III
LISTA DE ABREVIATURAS

• AT Alta Tensão
• AEP Áreas de Expansão Própria
• APIE Administração do Parque Imobiliário do Estado
• BT Baixa Tensão
• CME Conselho Mundial de Energia
• CCE Comissão das Comunidades Europeias
• CNAH Comissão Nacional de Assentamentos Humanos
• CTASR Comissão Técnica de Acompanhamento e Supervisão de Reassentamento
• CO2 Dióxido de Carbono
• DUAT Direito de Uso e Aproveitamento da Terra
• EDM Eletricidade de Moçambique
• EIA Estudo de Impacto Ambiental
• EAS Estudo Ambiental Simplificado
• FUNAE Fundo de Energia
• GW Gigawatt
• GNESD Rede Global par Energia e Desenvolvimento Sustentável
• kWh Quilowatt
• MW Megawatt
• MIREME Ministério dos Recursos Minerais e Energia
• MT Média Tensão
• MDL Mecanismos de desenvolvimento Limpo PIB Produto Interno Bruto
• PEDs Países em Vias de Desenvolvimentos
• PGA Plano de Gestão Ambiental
• PROLER Programa de Leilões de Energias Renováveis
• PAYGO Pay as You Go
• PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento SSC Sistemas
Solares Caseiros
• SWOT Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats
• U.A União Africana

IV
RESUMO

O presente trabalho final do curso tem como objectivo analisar os desafios de electrificação

rural em Moçambique até 2030. Analisa a potencialização da implementação dos projectos

de electrificação de forma descentralizada suportada pelo uso das energias renováveis, e

por outro lado pretende avaliar quais os impactos destes projectos nas zonas rurais e

isoladas, e o impacto da eletrificação em Moçambique considerando o actual contexto

socioeconómico em Moçambique.

O objecto de estudo centrou-se nos desafios e na problemática da desigualdade no acesso

à energia eléctrica. A revisão da literatura começa por debater os conceitos de energia e da

eletrificação e do programa energia para todos, especifica os seus impactos nas zonas rurais,

enquadramento legal e institucional, relaciona a electrificação e o desenvolvimento,

retratando a importância da comercialização das tecnologias das energias renováveis pelas

pequenas e medias empresas e por última evidência a electrificação e o desenvolvimento

das zonas rurais no mundo.

Palavras-Chave: Desafios na electrificação, Impactos, Energias Renováveis.

V
ABSTRAC

This final course work aims to analyze the challenges of rural electrification in

Mozambique until 2030. It analyzes the potential of the implementation of decentralized

electrification projects supported by the use of renewable energy, and on the other hand

intends to assess what the impacts of these projects on rural and isolated areas, and the

impact of electrification in Mozambique considering the current socio-economic context in

Mozambique.

The object of study focused on the challenges and the problem of inequality in access to

electricity. The literature review starts by discussing the concepts of energy and

electrification and the Energy for All Programme, specifies its impacts on rural areas, legal

and institutional framework, relates electrification and development, portraying the

importance of commercialization of renewable energy technologies by small and medium

enterprises and finally highlights the electrification and development of rural areas in the

world.

Key-words: Electrification Challenges, Impacts, Renewable Energies

VI
ÍNDICE GERAL
LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ I

LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................................... II

LISTA DE TABELAS .................................................................................................... III

LISTA DE ABREVIATURAS ....................................................................................... IV

RESUMO ........................................................................................................................... V

ABSTRAC ....................................................................................................................... VI

CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1

1. Introdução .................................................................................................................... 1

1.1. Problematização .................................................................................................... 3

1.2. Objectivos.............................................................................................................. 4

1.2.2. Objectivos Específicos ................................................................................... 4

1.3. Justificativa............................................................................................................ 5

CAPÍTULO II– REVISÃO DA LITERATURA ............................................................. 6

2. Revisão de Literatura ................................................................................................... 6

2.1. Energia .................................................................................................................. 6

2.1.1. Energia eléctrica............................................................................................. 6

2.1.2. Acesso à Energia no Mundo .......................................................................... 6

2.1.3. Nos Países em Vias de Desenvolvimentos (PEDs)........................................ 7

2.1.4. Em Moçambique ............................................................................................ 7

2.2. A Eletrificação Rural – Conceitos Gerais ............................................................. 8

2.3. Projecto Energia para Todos ................................................................................. 9

2.3.1. Contextualização do Pro-Energia nas infraestruturas de sistemas de energia


11

2.3.2. Enquadramento Legal e Institucional .......................................................... 13

2.3.3. Potencial de projectos renováveis ................................................................ 31


2.3.4. Energias renováveis e electrificação rural ................................................... 31

2.3.5. Energias renováveis e o desenvolvimento de Moçambique ........................ 32

2.4. Produtores Independentes de Energia ................................................................. 32

2.4.1. Projectos actuais........................................................................................... 34

2.4.2. Operadores de mercado actuais ................................................................... 35

CAPÍTULO III - METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO ....................................... 37

3. Metodologia ............................................................................................................... 37

3.1. Enquadramento de Conceitos .............................................................................. 37

3.1.1. Estudo de caso.............................................................................................. 37

3.2. Metodologia Aplicada ao Presente Trabalho ...................................................... 38

3.2.1. Perguntas de Partida ..................................................................................... 40

CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS.............. 41

4. Eletrificação Rural - O Caso de Moçambique ........................................................... 41

4.1. Moçambique ........................................................................................................ 41

4.1.1. Caracterização das energias de Moçambique .............................................. 41

4.2. A Eletrificação Rural ........................................................................................... 42

4.3. Análise SWOT – Eletrificação rural em Moçambique ....................................... 45

4.4. Impacto da Eletrificação Rural ............................................................................ 47

4.4.1. Impacto Social (Comunidade Rural) ........................................................... 48

4.4.2. Impacto na Economia Rural......................................................................... 49

4.4.3. Impacto sobre o meio ambiente ................................................................... 51

CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES ........................................... 52

5. Conclusão................................................................................................................... 52

5.1. Recomendações ................................................................................................... 54

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 55


CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

1. Introdução
O potencial energético de Moçambique é vasto e não se resume apenas ao carvão ou
gás natural. Moçambique tem grandes rios com enorme potencial para produzir energia.
Tem ventos fortes e constantes junto ao mar e nas regiões altas do interior. Tem sol ao
longo de todo o território nacional. Tem florestas, arrozais, palmares e áreas extensas e com
condições óptimas para a produção de cana-de-açúcar. Tem fontes termais com água a
temperaturas elevadas. Todas estas fontes renováveis podem ser convertidas em energia.

O Governo de Moçambique assumiu o compromisso de providenciar energia de qualidade,


acessível e sustentável a todos os Moçambicanos até 2030, tendo para esse propósito
lançado o Programa Energia para Todos, coordenado pelo MIREME.

No final de 2020 a taxa de electrificação ligada à rede foi de 34%, previa-se que a taxa de
electrificação total fosse de 38%, segundo a Estratégia Nacional de Electrificação, e que a
população atingiria 32 milhões, segundo o FMI, ou seja, cerca de 20 milhões de
moçambicanos ainda não têm acesso à electricidade. Sob o Programa Energia para Todos,
o Governo vai assegurar que até 2024 mais 10 milhões de moçambicanos possam dispor
de electricidade pela primeira vez. O grande desafio será atingir a ambiciosa meta de acesso
universal até 2030 e implementar o considerável esforço adicional previsto entre 2025 a
2030, incluindo o contributo dos sistemas fora da rede.

Moçambique tem um extenso potencial para energias renováveis. O Atlas das Energias
Renováveis de Moçambique, publicado pelo FUNAE em 2014, indica um potencial total
de 23.026 GW que corresponde a 7.537 MW de projectos prioritários, entre os quais se
destacam 599 MW de solar, 5.645 MW de hídrica e 1.146 MW de eólica.

O consumo de electricidade per capita estabilizou em 2014 nos cerca de 200 kWh/ano, não
tendo sofrido o impacto nem da crise financeira que afectou o país entre 2014 e 2016 nem
do aumento da taxa de acesso à rede eléctrica. A taxa de acesso terá forçosamente
de aumentar nos próximos anos e a previsão do FMI aponta para um crescimento médio
anual do PIB per capita de 33% no próximo quinquénio, após uma quebra em 2021, que

1
compara com o crescimento médio anual de 54% entre 2000 e 2020, negativamente
influenciado pela crise financeira.

A maior parte do consumo ainda é doméstico, seguido de consumo industrial e


posteriormente comercial. O consumo agrícola ainda é marginal, o presente visa explicar
os desafios que o governo junto a electricidade de Moçambique tem no amito da
electrificação que esta previsto que ate em 2030 todo cidadão Moçambicano terá acesso a
energia eléctrica.

2
1.1. Problematização
A rede de distribuição de energia alinhado com novas políticas intersectoriais para a
expansão, nem sempre estão disponíveis nos novos bairros ou localidades. O acesso à
energia eléctrica é um dos objectivos do desenvolvimento sustentável para a década 2030.

Para ter energia eléctrica nas zonas remotas de difícil acesso, o sector privado junto com o
governo vem realizando vários projectos de produção, transmissão e distribuição de energia
eléctrica renovável. Em algumas régios onde a rede de distribuição não abrange a qualidade
de energia é muito péssima.

Alguma alternativa tem sido usada, como é o caso da adopção de geradores a diesel ou
gasolina. No seu funcionamento esses geradores libertam gases que contribuem para o
efeito estufa. Por outro lado, devido ao custo dos combustíveis, o consumidor acabar
pagando valores altos pelo serviço de fornecimento de energia.

Para a região escolhido como caso de estudo, a situação não é diferente. Neste contexto
surge então a seguinte pergunta de pesquisa:

• Até que ponto as novas fontes de energia são viáveis para a satisfação total das
necessidades do povo Moçambicano até o ano de 2030?

3
1.2. Objectivos
Para responder à pergunta de pesquisa foram traçados os seguintes objectivos:

1.2.1. Objectivo Geral


• Analisar os desafios da electrificação de Moçambique até 2030.
1.2.2. Objectivos Específicos
• Analisar os desafios da electrificação prevista até 2030;
• Identificar os tipos de desafios enfrentados na electrificação;
• Propor soluções eficientes no processo de electrificação das áreas periurbanas e
rurais a nível Nacional.

4
1.3. Justificativa
A presente proposta visa analisar os riscos os desafios na electrificação até 2030, com vista
a garantir a acesso à energia eléctrica nas áreas periurbanas e rurais a nível nacional,
aproveitando e ampliando as redes existentes e instalando mini-redes fotovoltaicas em áreas
distantes da rede nacional existente.

A pesquisa, encontra também sua relevância no contexto da implementação dos projectos


de expansão e promoção de uso de energias limpas e renováveis. Devido a magnitude e
delicadeza desses projectos, mapear os desafios e propor soluções mais eficientes, pode
ajudar a sociedade como um todo a adquirir uma cultura de gestão de energia e
desenvolvimento socioeconómico.

5
CAPÍTULO II– REVISÃO DA LITERATURA

2. Revisão de Literatura
Para a melhor compreensão dos assuntos que serão abordados mais adiantes nessa pesquisa
é preciso entendermos alguns conceitos relacionados com esses desafios, uma vez
que o trabalho tem como foco analisar os desafios na electrificação em que está previsto
que todos Moçambicanos terão acesso a energia eléctrica até 2030. Nesse capítulo será
apresentado o referencial teórico composto por assuntos relacionados ao tema.

2.1. Energia
O conceito científico de energia está associado a actividades comuns como queimar
combustíveis, carregar baterias ou máquinas a rodar. Estes e outros processos podem ser
descritos em forma de diversas formas de energia, tais como energia térmica (Calor),
energia química (em combustíveis ou baterias), energia cinética (em corpos em
movimento), energia eléctrica, energia potencial e várias outras.

2.1.1. Energia eléctrica


“A energia eléctrica é uma das melhores fontes de energia disponíveis actualmente, ela
pode ser convertida em outras formas de energia como, mecânica, térmica ou luminosa”.
(POMILO, 2013). As fontes de energia eléctrica encontradas na natureza são chamadas de
fontes primárias, sendo divididas em fontes convencionais e fontes alternativas. As fontes
convencionais são as principais fontes de energia eléctrica utilizadas, como energia hídrica,
térmica e nuclear. As fontes alternativas são utilizadas de forma descentralizada e são muito
importantes como fontes renováveis, como energia solar, energia eólica, energia oceânica,
energia geotérmica e energia da biomassa.

2.1.2. Acesso à Energia no Mundo


O acesso à energia é uma condição sine qua non da luta contra a pobreza: A energia é um
meio que intervém em todos os setores chave do desenvolvimento, quer se trate de água,
da saúde, da refrigeração de alimentos, da iluminação, e do aquecimento domésticos, dos
transportes, da agricultura, da produção industrial ou ainda dos meios de comunicação
modernos. Onde falta a energia, desenvolve-se a pobreza e instala-se um ciclo viciosa
“pobreza - energia". O acesso ao conhecimento (ensino e formação) depende em muito das

6
novas tecnologias e da sociedade de informação que constituem uma oportunidade que só
pode ser aproveitada com a energia. (CCE, 2002).

Actualmente, quase dois mil milhões de pessoas concentradas na periferia dos centros
urbanos e zonas rurais isoladas não têm acesso a serviços energéticos de base. É este o
paradoxo energético que carateriza o seculo XXI. Esta desigualdade perante a anergia afeta
nomeadamente dois terços da população africana, que em grande medida depende da
biomassa tradicional para o seu aprovisionamento energético (U.A, 2010)

Procurar a eficiência das energias renováveis nestas zonas é buscar a modernização das
zonas rurais e a longo prazo estas ações são benéficas a nível socioeconómico, (Cabraal,
2005).

2.1.3. Nos Países em Vias de Desenvolvimentos (PEDs)


Na maior parte dos PEDs é frequente a utilização de lenha para a preparação de alimentos
e para o aquecimento (biomassa tradicional). A recolha excessiva de biomassa é das
principais causas do aumento da taxa de desflorestação em Africa, que vem perdendo cerca
de 4 milhões de hectares de floresta por ano desde 2000, sendo África actualmente o
segundo continente com a maior taxa de desflorestação. (UNRIC, 2012).

Por outro lado, um dos desafios mais significativos para o desenvolvimento da economia
africana é o acesso à energia. Na realidade, diversos estudos sugerem que os recursos
energéticos de África são suficientes para cumprir a curto e médio prazo as necessidades,
tendo em conta os principais fatores como o crescimento demográfico e crescimento
económico ((CME), 2005). Salientar, ainda, as autoridades procuram a integração das
pequenas e medias empresas nos mercados locais para a promoção e comercialização das
tecnologias das energias alternativas nas zonas rurais e isoladas.

2.1.4. Em Moçambique
Em Moçambique, por exemplo, mais de 80% da população não tem acesso a energia
elétrica. Este problema é consequência da incapacidade de expandir a rede elétrica para
certas zonas mais distantes e isoladas. Por outro lado, é bastante oneroso para o governo
proporcionar acesso a eletricidade nestas zonas quando não existe perspetiva temporal de

7
retorno de capital investido uma vez que os seus habitantes são maioritariamente pobres.
((FUNAE), 2011)

A maior parte da população encontra-se concentrada num pequeno número de centros


urbanos. Aumentar o acesso a eletricidade nestas áreas tem-se mostrado difícil e
dispendioso (MEM, 2011). Por outro lado, nas áreas rurais a combinação de baixa
densidade populacional e a pobreza severa e persistente é um fator importante para os
custos de investimentos altos e a para uma procura baixa. Embora se reconheça que a
eletricidade é um fator chave para se alcançar a transformação socioeconómica nas zonas
rurais, esta necessária disseminação tende a ser protelada. Nesse sentido Mulder e Tembe
(2007) questionam se valerá a pena o investimento na eletrificação das zonas rurais em
Moçambique.

2.2. A Eletrificação Rural – Conceitos Gerais


A eletrificação rural é um instrumento da política energética usada em muitos países em
vias desenvolvimento como uma das formas encontradas para minimizar a escassez ou o
deficit do fornecimento das energias nas zonas rurais.

Um dos objetivos da eletrificação passa pela erradicação da pobreza, pelo alívio dos
problemas sociais e pelo impulso das prioridades da população, e deve ser parte de uma
estratégia de desenvolvimento rural.

Zomers (2001), define a eletrificação rural como um conjunto de actividades concebidas


para proporcionar energia elétrica a habitantes de zonas com características específicas,
incluindo nos seus recursos pequenas cargas de energia e a criação de oportunidades
específicas nestas áreas. O método de fornecimento de energia elétrica nestas zonas vária
e pode incluir geradores isolados que servem a consumidores coletivos ou individuais.

Contudo, a variação destes métodos é dependente das circunstâncias locais e do grau de


saturação do fornecimento da eletricidade. Todavia este conceito defronta-se com algumas
limitações na sua aplicabilidade associadas a questões de natureza cultural, económica e
social. Na realidade muitas vezes os habitantes destas zonas não estão em termos culturais
preparados para receber este tipo de tecnologias, ou não têm capacidades financeiras para
os suportar.

8
A eletrificação das zonas rurais nos países em desenvolvimento é complexa e requer uma
grande quantidade de competências e equipamentos específicos. Os objetivos, o
planeamento, a realização e a operação de projetos de eletrificação rural não podem ser
separados de problemas como a pobreza, as preocupações de degradação ambiental, o
desenvolvimento rural e as necessidades de energia em geral (Zomers 2001).

É de salientar que embora haja limitações de carácter social, a aplicação destes instrumentos
proporciona vantagens sociais e económicas aos habitantes destas zonas.

2.3. Projecto Energia para Todos


O projecto consiste na expansão do acesso à energia eléctrica nas áreas periurbanas e rurais
a nível nacional, aproveitando e ampliando as redes existentes e instalando mini-redes
fotovoltaicas em áreas distantes da rede nacional existente. Ele compreende três
componentes que consideram uma abordagem sustentável de electrificação que incorpora
experiências internacionais comprovadas, assistência técnica e suporte de capacitação.

I. Componente 1 – Densificação e extensão da rede nacional de energia


A rede de distribuição existente abrange todos os 154 distritos do país, no entanto, um
número significativo de estruturas (residências, empresas, etc.) ainda não está conectado à
rede. A componente 1 do Projecto irá usar a capacidade disponível da infraestrutura
existente para densificar e expandir redes de distribuição adicionais para incorporar e
fornecer novos consumidores. A electrificação na rede existente (Componente 1) será
implementada pela EDM em 500 assentamentos de 19 distritos predominantemente rurais
e periurbanos em todo o país. O projecto financiará todas as actividades
(projecto, fornecimento e construção) necessárias para conectar cerca de 150.000
domicílios (aproximadamente 900.000 beneficiários)3, dos quais cerca de 70% em áreas
rurais. Estima-se que serão construídos cerca de 1.500 km de linhas de distribuição de
média tensão (MT), instalados 1.200 transformadores de distribuição, extensos 3.500 km
de linhas de baixa tensão (BT) e instaladas de cerca de 11.000 km baixadas (conexão de
usuários). Quadros prontos serão instalados em domicílios de baixa renda sem condições
de pagar pela instalação eléctrica domiciliária.

9
Figura 1. Elementos das Componentes 1 (densificação e extensão da rede existente) e 2
(mini-redes) sobrepostas à Rede Nacional de Transporte de Energia
II. Componente 2 – Electrificação fora da rede nacional – através de mini-redes
A componente dois (2) consiste na implantação de mini-redes de produção e distribuição
de energia em áreas aonde a ligação à rede nacional não é viável a curto e médio prazo.

10
Esta componente será implementada pelo FUNAE através de parcerias público-privada
(PPP) com base em contractos de venda de energia a EDM.

O Projecto prevê 13 mini-redes constituídas por (i) central (ou planta) fotovoltaica, que terá
painéis solares e casa de baterias, e (ii) uma rede de distribuição de energia em média e
baixa tensão. Em termos indicativos, para efeitos do QPR, prevê-se que as centrais
fotovoltaicas poderão ocupar uma área de terreno que poderá variar de meio a um hectare,
e dependendo das condições locais cada rede poderá, por exemplo, ter 5 km de linhas
de média tensão para levar a energia da planta às comunidades e 16 km de baixa tensão
para entrega da energia às residências e negócios dos beneficiários.

III. Componente 3: Assistência Técnica e Suporte a Implementação


A componente 3 financiará várias actividades de assistência técnica, capacitação e apoio a
implementação pelo MIREME, EDM, FUNAE e Autoridade Reguladora de Energia, para
garantir a sustentabilidade do Projecto e a monitorização do impacto das intervenções
concebidas e implementadas nas componentes atrás referidas. Esta componente não tem
actividades que potencialmente requerem aquisição de terras, não sendo por isso alvo de
análise a nível do QPR.

2.3.1. Contextualização do Pro-Energia nas infraestruturas de sistemas de


energia
Por forma a facilitar a compreensão dos elementos do Projecto, na figura abaixo, apresenta
se um esquema que ilustra o enquadramento das diversas componentes de um sistema de
transporte e distribuição de energia, integrando a produção, linhas de transporte,
subestações e linhas de distribuição, para além da geração. Estes sistemas são constituídos
pelas seguintes principais componentes:

a) Produção – Geração de energia eléctrica em centrais hidroeléctricas,


térmicas, solares, eólicas entre outras. As principais centrais de produção do país
são as hidroeléctricas de Cahora Bassa, Chicamba e Mavuzi, localizadas no centro
do País, Barragem de Corrumana, Central Térmica de Ressano Garcia e a
recentemente inaugurada Central Térmica de Maputo localizadas no sul do País.
b) Transporte – Transmissão de energia eléctrica em Alta Tensão (AT), desde
os transformadores das subestações elevadoras ligadas a centrais geradoras de alta

11
potência (ex. Cahora Bassa) até às subestações abaixadoras ligadas à
distribuição, como é o caso da Subestação de Infulene. A energia em AT, por ter
tensão elevada, requer maiores servidões e distância de afastamento de
segurança a outros objectos e pessoas.
c) Distribuição – Transmissão de energia em Média Tensão (MT) e Baixa
Tensão (BT) a partir das subestações abaixadoras ou centrais de geração de baixa
potência (ex. as minicentrais fotovoltaicas previstas no PROENERGIA). Estas
subestações, assim como os postos de transformação e/ou de secionamento reduzem
progressivamente a potência da corrente eléctrica até que esteja apta para os
consumidores. A energia na rede de distribuição tem, portanto, uma tensão
reduzida, requerendo menores distâncias de afastamento de segurança a obstáculos,
como edifícios, árvores ou outras linhas aéreas, o que facilita a sua instalação e o
desvio a eventuais obstáculos.
Com base nas explicações acima e imagens abaixo, as actividades do PROENERGIA estão
na parte final da cadeia de energia, direccionadas a entrega/distribuição de energia aos
consumidores.
As infraestruturas do PROENERGIA consistem em linhas de distribuição de energia de 0.4
a 33 kV. O MIREME, EDM e FUNAE ainda estão a definir as especificações da rede que
seja uniforme para a densificação e para a mini-rede, todavia, considerando as normas da
EDM em vigor e conforme figura abaixo, prevê-se que os postes de média tensão (de 1 a
33 kV) poderão ter uma altura de 12 metros dos quais dois ficam enterrados (ver figura).
Os postes de baixa tensão (abaixo de 1 kV) poderão ter altura de 8 metros com fundação
em 1.5 metros. Ambos postes poderão ser em madeira.

Tecnicamente e em termos de segurança patrimonial e comunitária, os postes requerem


mínima ocupação do solo e, em áreas urbanas, podem ser instalados nos passeios conforme
ilustrado na figura abaixo. Esta infraestrutura será conectada à rede nacional de energia
existente através de postos de transformação ou, nos locais distantes da rede nacional, será
conectada a centrais fotovoltaicas que ocuparão até um hectare de terra.

Apesar da reduzida necessidade de espaço, a Lei de Terras (Art.º 8, alínea g) preconiza o


estabelecimento automático de uma Zona de Proteção Parcial (ZPP) de 50 m para cada lado
de condutores de energia sem especificar o nível de tensão dos condutores. Esta questão é
12
discutida abaixo, no quadro legal (Secção 3.2.1) e na definição de estratégias de
minimização de impactos de uso de terra (Secção 6.3).

Figura 2. Representação esquemática das infraestruturas do Pro-Energia (em laranja)


2.3.2. Enquadramento Legal e Institucional
A produção de electricidade de origem renovável em Moçambique está regulada pela Lei
de Electricidade (Lei no 21/91). A evolução do contexto nacional impôs uma revisão da
referida lei, tendo em consideração:

• O desenvolvimento tecnológico das energias renováveis;


• O aumento da participação do sector privado;
• A redefinição do papel das instituições do estado que actuam no sector;

13
• O estabelecimento de mecanismos tarifários compatíveis com a estrutura de custos
dos projectos;
• A necessidade de mecanismos simplificados para projectos de pequena dimensão;
O processo de revisão já foi iniciado em 2017, esperando-se que seja terminado em breve.
Entretanto em 2018 foi aprovada a Estratégia Nacional de Electrificação, que fixou o
objectivo de acesso universal até 2030. De acordo com a mesma, dentro das AEP – Áreas
de Expansão Própria (num raio <100m de uma linha de baixa tensão existente) a EDM é
obrigada a ligar qualquer cliente que solicite serviço. A construção de sistemas fora da rede
é da responsabilidade do FUNAE, sendo que a comercialização, operação e manutenção é
feita pela EDM, operadores privados ou pelas comunidades envolvidas. Tanto os projectos
do FUNAE como a extensão da rede da EDM fora das AEP são subsidiados por um novo
instrumento, a Conta de Electrificação, um fundo rotativo a criar pelo Governo com
recursos públicos, da Taxa de Electrificação e das receitas das concessões de produção de
electricidade. A nova abordagem da estratégia também prevê tarifas uniformes e
sustentáveis, que permitam recuperar os custos e que sejam periodicamente ajustadas.

Em termos mais amplos, o mercado da energia está abrangido pela Estratégia de Energia
aprovada em 2009, seguida da Estratégia de Desenvolvimento de Energias Novas e
Renováveis (2011). Também elas precisam de uma adaptação ao novo contexto, tendo já
sido iniciado o processo de revisão da Estratégia da Energia.

14
Figura 3. Organização Actual do Sector.
2.3.2.1. Contexto Nacional Legal e Regulador
O princípio fundamental da Constituição da República de Moçambique (2004) é que os
recursos naturais e os meios de produção são propriedade pública de interesse colectivo.
Especificamente, a terra pertence ao Estado e o direito de uso apenas pode ser atribuído
pelo Estado. O artigo 111 clarifica que o Estado concessiona títulos de direito de uso da
terra e também reconhece e protege os direitos adquiridos por herança e por ocupação por
comunidades e indivíduos nacionais salvo havendo reserva legal ou se a terra tiver sido
legalmente atribuída à outra pessoa ou entidade.

A Política Nacional da Terra (Conselho de Ministros, Resolução n° 10/1995) estabelece


que o Estado deve providenciar terra para cada família para ter ou construir a sua casa
própria e que é responsável pelo uso e o planeamento físico, embora os planos possam ser
feitos pelo sector privado. O solo urbano não pode ser transferido quando não tiver
construções ou outras infraestruturas de investimento instaladas. O seu valor aumenta
quando são providenciados serviços e infraestruturas públicas.

15
A Lei de Terras (Lei nº 19/1997) permite a todos os cidadãos moçambicanos, pessoas
colectivas (associações e empresas) e comunidades locais, o direito de uso e
aproveitamento da terra (artigo 10). O exercício deste direito pode ser feito de forma
individual ou coletiva. O referido diploma legal reconhece a legitimidade da ocupação sem
oposição em zonas rurais, pois neste caso de acordo com o artigo 12, constitui-se direito de
uso e aproveitamento da terra por meio do regime de ocupação sem oposição.
Os utentes da terra têm direito de possuir os respectivos títulos de uso e aproveitamento da
terra, sendo que estes são emitidos pelos Serviços Públicos de Cadastro, conforme disposto
pelo artigo 13 da Lei de Terras, mas deve-se ressalvar que não são necessários títulos para
confirmar os direitos de uso e aproveitamento da terra, aceitando-se apenas a posse sem
oposição por mais de dez anos no local, como garantia de uso e aproveitamento da terra.
Assim, a Lei reconhece e protege o direito de utilizar a terra adquirida por herança ou
ocupação, excepto em reservas designadas legalmente, ou em áreas que foram legalmente
transferidas para outra pessoa ou organismo. Todos os cidadãos têm direitos iguais e
deveres de acordo com a Lei, as mulheres têm direitos iguais aos homens em termos de
acesso à terra e à habitação.

Podem requerer o direito de uso e aproveitamento da terra para fins de exploração cidadãos
nacionais e estrangeiros, pessoas individuais e coletivas. A Lei estipula ainda que as
comunidades locais participam na gestão dos recursos naturais, na resolução de conflitos,
no processo de titularização, bem como na identificação e definição dos limites das terras
por elas ocupadas.

Os direitos existentes do uso e aproveito da terra podem terminar através de uma revogação
do direito por razões de interesse público, após o pagamento de uma compensação justa e,
no caso de benfeitorias existentes fixas, revertem a favor do Estado. Enquanto a Lei de
Terras confere a responsabilidade de alocação de direitos em diferentes níveis do Governo,
a revogação do direito de uso e aproveitamento da terra por motivos de interesse público
envolve a declaração de expropriação (DM nº 181/2010) que é emitida ao nível de Conselho
de Ministros.

A lei não refere a possibilidade de recorrer contra a revogação dos direitos. A Lei da Terra
refere que para a construção de infraestruturas pública incluindo linhas aéreas de

16
electricidade se cria automaticamente uma Zona de Protecção Parcial de 50 metros de cada
lado do eixo. Os direitos do uso e aproveito da terra dentro da Zona de Protecção Parcial
não podem ser adquiridos, e somente actividades específicas podem ser promovidas
mediante uma Licença Especial emitida pelo Governador Provincial. Esta lei não especifica
o tamanho da Zona de Protecção Parcial em função da capacidade da linha de transporte de
electricidade, por exemplo entre 66 kV e 400 kV.

O Regulamento da Lei da Terra (Decreto nº 66/1998 de 8 de dezembro) regula os


processos para obter os direitos de usar a terra. É aplicável para as áreas rurais e dentro dos
municípios, mas fora das áreas cadastradas. O regulamento também se aplica para áreas
periurbanas sem planeamento. É raramente aplicado em áreas urbanas. Os aspectos
relevantes do regulamento incluem:

• Onde existe uma cotitularidade, o título pertence a todos os titulares de forma igual.
Quando um dos titulares morre, os outros titulares continuam como legítimos
titulares;
• A consulta entre os requerentes da terra e a comunidade local é obrigatória antes da
decisão de cedência feita pelo Governador da Província ou a autoridade superior;
• Os ocupantes da terra em boa-fé e as comunidades locais podem requerer para a
delimitação e título da propriedade. O processo de requerimento é simplificado e
uma autorização definitiva é dada em vez de uma autorização provisória; e,
• Aos detentores de títulos solicita-se que paguem uma taxa de autorização para o
direito do uso da terra, acrescido de um imposto anual. Os negócios de família e as
comunidades locais estão isentos de tais impostos.
A compensação por perdas incorridas como resultado de relocação é recomendada no
Regulamento da Lei de Terra. O artigo 17 constitui uma das principais bases do contexto
legal, particularmente no que se refere corredores de passagem sendo instaurados no
interesse público. Este indica que quando por motivo de necessidade de utilização de parte
de um terreno objecto do direito de uso e aproveitamento da terra, seja para a instalação de
condutores aéreos, superficiais ou subterrâneos de electricidade ou de outros, e houver
restrição desse direito, deverá a entidade pública ou privada indemnizar o titular do direito,
em quantia que represente o efectivo prejuízo pela não utilização da parte afectada,

17
constituindo-se sobre ela a respectiva servidão. Esta servidão ainda deveria ser registada
no Cadastro Nacional de Terras e averbada no título. A expropriação para interesse público
e as modalidades de indemnização em Moçambique são orientadas pela legislação sobre a
terra bem como pelo Diploma Ministerial nº 181/2010 que se refere aos procedimentos para
implementação do processo de expropriação.

O Decreto-lei nº 15/2000 descreve a articulação das autoridades locais do Estado e a


liderança comunitária, na maioria em áreas rurais através dos conselhos locais e legitima
os líderes da comunidade – sendo líderes tradicionais e secretários da zona. Atribui poderes
sob o Art.º 24 da Lei de Terras para participar na resolução de conflitos, representar as
opiniões das comunidades nos requerimentos para terras e identificar e delimitar as
terras comunitárias.

O Regulamento do Solo Urbano (Decreto nº 77/2006) regula os planos urbanos de


estrutura, os planos de urbanização gerais e parciais e os planos de pormenor substituindo
a legislação sobre a terra rural nas áreas urbanas cadastradas e planificadas. Os vários tipos
de plano urbano são organizados hierarquicamente e uma vez aprovados a nível da
autoridade local / município, ratificados pelo Ministro da Administração Estatal e Função
Pública e publicados no Boletim da República regulam a gestão e o uso de terra.
O plano de urbanização tem enfoque nos usos e funções urbanas e define as necessidades
de serviços com atenção especial nas áreas de ocupação espontânea. A planificação urbana
é um processo participativo e consultivo. Para a tomada de decisões é usada informação de
base socio-espacial obtida da consulta com as partes interessadas e afectadas do governo e
da área sob planificação.

Os resultados da consulta são disseminados e disponibilizados publicamente, antes da


aprovação, e é organizada uma audiência pública para juntar os comentários. O processo
de urbanização é progressivo e os planos reflectem-se em termos de melhoramento e
actualização dos serviços urbanos, das infraestruturas e da ocupação ao longo do tempo.
Os direitos de uso da terra podem ser atribuídos por deferimento, sorteio, hasta pública,
(com 20% dos talhões reservado para as pessoas de baixa renda), negociação particular ou
ocupação de boa fé. O decreto define claramente os direitos de uso da terra dos titulares
que existiam previamente (incluindo os com direitos por ocupação em boa fé), que

18
cumprem com os planos de ordenamento territorial urbano, a continuarem a sua ocupação,
enquanto os que não podem ser razoavelmente incluídos devem ser priorizados na
atribuição de novas áreas de ocupação e compensados pelas suas perdas. A terra e a
propriedade urbana podem ser expropriadas para projectos de interesse nacional ou público,
e nestes casos a compensação é atribuída para a perda de propriedade.

A Lei do Enquadramento Municipal nº 2/1997 responsabiliza os municípios pela


urbanização, habitação e licenciamento da construção, de acordo com a sua capacidade
juntamente com outros órgãos do Estado. Aos municípios são também atribuídas
competências para exercer os poderes que lhes são atribuídos pelo Regulamento da Lei de
Terras.
A Lei das Finanças Municipais nº 11/1997 concede poderes aos municípios para preparar
e aprovar planos gerais e parciais de uso da terra, programas de desenvolvimento urbano e
esquemas de desenvolvimento da terra em colaboração com os organismos relevantes do
governo central. O cumprimento desses planos está sujeito a ratificação pelo governo. Os
municípios podem igualmente colectar taxas sobre as terras e edifícios
urbanos, incluindo terras não utilizadas que tenham sido atribuídas provisoriamente. O artº
56 estabelece que serão elaborados regulamentos apropriados para a avaliação do valor do
imobiliário urbano. Porém, enquanto esses regulamentos não estiverem disponíveis, a
avaliação provisória será feita de acordo com as normas para
a avaliação de estruturas urbanas destinadas à alienação pela Administração do Parque
Imobiliário do Estado (APIE). A Conservatória do Registo Predial é responsável pelo
registo independente do uso da terra e dos títulos de propriedade e transações.

O Decreto Nº 51/2014 cria a Comissão Nacional de Assentamentos Humanos (CNAH).


A CNAH é um órgão consultivo e de coordenação multissectorial para a implementação
das políticas e programas do governo relacionados com a planificação, desenvolvimento e
gestão de assentamentos humanos. Esta comissão terá um Conselho Técnico constituído
por vários intervenientes cuja finalidade é fiscalizar a coordenação das políticas e
programas relacionados com a planificação, desenvolvimento e gestão de assentamentos
humanos, bem como a sua implementação.

19
A Lei de Ordenamento Territorial nº 19/2007 é desenhada para promover o uso racional
e sustentável dos recursos naturais e a preservação do ambiente, através da providência de
instrumentos para o ordenamento e planeamento territorial, para promover qualidade de
vida em espaços rurais e urbanos, optimizar habitações, infraestruturas e sistemas de
serviços urbanos, segurança pública, e reduzir a vulnerabilidade a catástrofes
naturais e acidentes. Faz com que o ordenamento espacial seja obrigatório em áreas rurais
e identifica os mecanismos para a legalização de vários planos territoriais.

Os princípios de participação pública, a sensibilização sobre os direitos à informação e


igualdade de oportunidades de acesso à terra, infraestruturas e serviços, complementam o
objectivo do uso sustentável dos recursos. Onde ocorrem danos ou a degradação de uma
área territorial, afectando a sustentabilidade ambiental, o público ou a entidade responsável
pública é solicitada a reparar tais danos e a pagar compensação por danos
na qualidade de vida dos cidadãos afectados. O art. 20 da Lei refere que quando os projectos
de desenvolvimento identificados em solo rural ou urbano pelo sector público requerem a
expropriação com base no interesse público, necessidade ou uso, estes devem ser
amplamente justificados e uma compensação justa deve ser calculada e paga por perdas de
propriedade tangível e intangível, a quebra da coesão social e a perda de activos produtivos.

A Lei clarifica canais de recurso para os cidadãos com reivindicações justificadas contra o
uso de instrumentos de planeamento territorial, o direito de todos os cidadãos à informação,
incluindo detalhes do cadastro de planeamento e os processos, bem como os seus direitos
de participação na produção e implementação dos planos.

O Regulamento da Lei de Ordenamento Territorial (Decreto nº 23/2008) especifica nos


termos dos artigos 70 a 72 que a compensação tem de ser paga antes da transferência de
propriedade por expropriação. O processo deve assegurar que o valor real da propriedade
expropriada seja aplicado e que tome em consideração os danos indirectos e perdas de
lucros causados. A informação providenciada às partes afectadas tem de incluir uma cópia
da reivindicação legal do promotor à área de terra, a base proposta de cálculo da
compensação, os moldes de pagamento e o período até que o pagamento seja feito, quando
será tomada posse da propriedade pelo promotor e por último, o período em que

20
reivindicações das partes afectadas contra a proposta de compensação podem
ser apresentadas.

Directiva sobre o Processo de Expropriação para Efeitos de Ordenamento Territorial


(Diploma Ministerial Nº 181/2010, de 3 de Novembro). Este pacote legislativo veio definir
normas específicas para a aprovação e implementação dos instrumentos de ordenamento
territorial, definindo competências, objectivos, mecanismos, processo de expropriação,
regras para cálculo de indemnizações, entre outros aspectos, a serem observados
nesta situação em específico. É desencadeado pela aquisição de locais de interesse público
para a instalação de infraestruturas sociais ou económicas de maior benefício social. O
Diploma clarifica que a declaração de uma área para expropriação com base no interesse
público e com objectivo de planeamento territorial é levado a cabo pelo Concelho de
Ministros e deve ser publicado no Boletim de República.

Os guias orientadores básicos sobre compensação de culturas permanentes e anuais


providenciado e actualizado por algumas Direcções Provinciais de Agricultura e Segurança
Alimentar baseia-se nos formulários contidos na Directiva sobre expropriação. Estes
utilizam o preço corrente no mercado e factores de produtividade, idade, período de
crescimento, e um factor que cobre o valor intangível das condições de crescimento da
planta para várias culturas anuais e permanentes locais. A Directiva considera que a justa
indemnização cobre não só o valor real e actual dos bens expropriados à data
do pagamento, como também os danos emergentes e os lucros cessantes do proprietário,
decorrentes do despojamento do seu património. É elaborado o método de cálculo dos
valores para a indemnização dos imóveis e das culturas, e reconhece as modalidades de
pagamento em dinheiro numa só prestação, (salvo se houver acordo das partes para
pagamento em prestações) ou em espécie por ex.: através da construção de imóveis de valor
equivalente;

Os factores para avaliação dos imóveis incluem tipo, localização, idade, valor a data da sua
construção e actual considerando a depreciação relevante. Os imóveis previstos são para
fins de habitação, comércio, indústria ou serviços, praia ou campo. A compensação terá em
conta, também, valores intangíveis (vias de comunicação e acessibilidade aos meios de
transporte) e a ruptura da coesão social (aumento da distância do novo local de

21
reassentamento de estruturas sociais e do núcleo familiar habitual, cemitérios familiares,
plantas medicinais);

A Directiva ainda refere a orientações complementares a serem observadas para a definição


das compensações, destacando-se as seguintes:

O potencial expropriado tem 30 dias, após recebimento da notificação, para apresentar uma
contraproposta do valor da indemnização. A indemnização deve ser paga em 12 meses
contados da notificação e, a tomada de posse dá-se no prazo de 60 dias após o pagamento
ter sido efectuado;

O valor da compensação será actualizado na data em que o pagamento for efectivado; A


Directiva fixa, ainda, os termos de cálculo para a compensação de culturas, determinando
que será feito em atenção à vida útil, idade da planta, período de crescimento, produção
média anual e o coeficiente entre 0 a 1, atribuído com base no terreno, estado da planta,
entre outros factores que possam influenciar o seu rendimento.

O Diploma Ministerial Nº 181/2010 define o valor e as modalidades de pagamento das


compensações sendo relevante para os subprojectos do PROENERGIA. Os Planos de
Compensação deverão ser elaborados e implementados tendo em conta esta Directiva – até
que houver legislação mais específica para situações que não necessariamente requerem
um processo de expropriação.

De acordo com o Regulamento sobre o Processo de Reassentamento resultante de


Actividades Económicas (Decreto Nº 31/2012 de 8 de Agosto) o proponente da actividade
é responsável pelo desenvolvimento e implementação do plano de reassentamento, além de
suportar os custos do processo. A aprovação dos Planos de Reassentamento é da
responsabilidade do Governo Distrital (Artigo 9.1) e será precedida da emissão de parecer
técnico favorável do sector responsável pelo planeamento territorial ouvidos os
sectores da agricultura, administração local e obras públicas e habitação (Artigo 9.2). O
Decreto, no Artigo 10, estabelece os Direitos da População Afectada - entendida como
aquela que tenha perdido os seus bens (como casas, meios de subsistência e outro tipo de
infraestruturas) de ver restabelecido o seu nível de renda, igual ou superior ao anterior; ver
restaurado o seu padrão de vida igual ou superior ao anterior; ver transportada com os seus

22
bens para o novo local de residência; viver num espaço físico infraestruturado, com
equipamentos sociais; ter espaço para praticar as suas actividades de subsistência; e poder
dar opinião em todo o processo de reassentamento. De acordo com o Decreto nº 31/2012,
a aprovação do plano de reassentamento antecede a emissão da licença
ambiental afirmado no Art. 15, "a elaboração e aprovação do plano de reassentamento
precede a emissão da Licença Ambiental nos termos da legislação ambiental".
O Artigo 21 refere os seguintes elementos aos quais deve obedecer o Plano de
Reassentamento: A análise do perfil socioeconómico das famílias; A avaliação e análise
dos bens tangíveis e intangíveis; A definição do grau de afectação – quantitativa e
qualitativa; A definição de critérios de compensação; e a presentação de soluções que
permitam manter ou melhorar o actual nível de vida das famílias afectadas. Sobressai aqui
que, no âmbito do Projecto PROENERGIA, o proponente, a EDM, através da UIP, será
responsável pelo desenvolvimento e implementação dos Planos de Compensação e devera
suportar os custos do processo.

O Regulamento Interno para o Funcionamento da Comissão Técnica de


Acompanhamento e Supervisão de Reassentamento (Diploma Ministerial Nº 155/2014,
de 19 de Setembro) define que Comissão Técnica de Acompanhamento e Supervisão de
Reassentamento (CTASR) garante o acompanhamento e monitoria da preparação e
implementação dos processos de reassentamento da população, nomeadamente através da
criação de Comissões Provinciais e Distritais de Reassentamento.

Mais concretamente, conforme estipulado no artigo 18, compete às Comissões Provinciais


e Distritais de Reassentamento:

• Supervisionar ao seu nível o processo de Reassentamento e assegurar a observância


dos direitos dos afectados pelo processo;
• Comunicar aos órgãos competentes quaisquer actos ilícitos durante todo o processo
de reassentamento;
• Receber reclamações dos afectos e encaminhar aos órgãos competentes, os casos
que, por força maior não tenham soluções locais de litígios entre o proponente e os
afectados;

23
• Elaborar relatórios de monitoria e avaliação do processo de Reassentamento, tendo
em conta os planos previamente aprovados;
• Propor a notificação do proponente de uma actividade para prestar esclarecimentos
sobre o decurso do processo de Reassentamento;
• Mobilizar e sensibilizar a população sobre o processo de Reassentamento;
• Intervir em todas as fases do processo de Reassentamento, incluindo a respectiva
fiscalização;
• Consciencializar a população sobre os seus direitos e obrigações no processo de
Reassentamento;
• Dar uma apreciação dos relatórios de consulta pública e pronunciar-se sobre a
matéria de Reassentamento;
• Submeter a apreciação à CTASR e informação relativa ao seu funcionamento.
Note-se, no entanto, que, relativamente às competências das Comissões Provinciais e
Distritais de Reassentamento, o Decreto nº 155/2014 não define qualquer disposição
específica de supervisão de pequenos Planos de Compensação. No âmbito do
PROENERGIA estes serão tratados contemplando as disposições definidas para os Planos
de Reassentamento do Banco Mundial.

A Directiva Técnica para o Processo de Elaboração de Planos de Reassentamento


(Diploma Ministerial Nº 156/2014 de 19 de Setembro) tem por objectivo operacionalizar o
processo de Reassentamento Resultante de Actividades Económicas ao abrigo da alínea c)
do artigo 3 do Decreto n.º 31/2012, de 8 de Agosto, que aprova o Regulamento sobre o
processo de Reassentamento resultante de Actividades Económicas. Durante a elaboração
dos Planos de Reassentamento, a CTASR, através das suas Comissões Distritais e
Provinciais, faz o acompanhamento de todo o processo, devendo também se pronunciar em
relação à escolha do local para o reassentamento, compensações, consultas públicas e
implementação de todo o projecto de reassentamento.

A directiva técnica define os procedimentos e as etapas a seguir na elaboração do plano de


reassentamento. As etapas da elaboração do plano de reassentamento são as seguintes:

• Fase 1. Relatório de Pesquisa Física e Socioeconómica: De acordo com o Diploma


Ministerial Nº 156/2014, a elaboração do Relatório de Pesquisa Física e

24
Socioeconómica coincide com a elaboração do Relatório de Avaliação de Impacto
Ambiental. Ocorre antes que os detalhes de um projecto sejam conhecidos. Esta
etapa envolve a realização de censo da população e inventário da infraestrutura
potencialmente directa e indirectamente afectada, fazendo uma avaliação dos
potenciais impactos do projecto e do processo reassentamento e fazendo
recomendações sobre como melhorar e / ou mitigar tais impactos. A primeira fase
envolve também uma avaliação preliminar de áreas alternativas de acolhimento,
bem como a elaboração de disposições de planeamento e implementação para o
processo de reassentamento (i.e., mecanismos de reparação de queixas, arranjos
institucionais, critérios de elegibilidade e matriz de direitos, sistemas de consulta e
participação pública, acordos entre famílias afectadas e o proponente do projecto,
procedimentos de monitoria e acordos, etc.). Durante esta fase também são
redigidos os Termos de Referência para a elaboração do Plano de Reassentamento.
• Fase 2. Plano de Reassentamento: A segunda etapa, o Plano de Reassentamento,
inicia-se uma vez finalizado o Relatório do Estudo Físico e Socioeconómico e
seleccionadas as áreas de acolhimento (com base nas alternativas indicadas no
relatório da Fase 1). Esta etapa envolve a actualização do censo de pessoas e
inventário dos bens afectados, realizando estudos detalhados sobre áreas de
acolhimento seleccionadas (isto é, relacionadas a morfológica, ambiental,
sociocultural, uso da terra, ocupação e características históricas e os potenciais
impactos nas comunidades de acolhimento). Preparação e apresentação de projectos
técnicos e detalhes relacionados com o plano executivo e projecto executivo da
aldeia de reassentamento, casas de substituição e infraestrutura associada, bem
como a elaboração de directrizes para planos de desenvolvimento comunitário (que
é suposto também incluir restauração de meios de subsistência).
• Fase 3. O Plano de Acção para a Implementação do Reassentamento: A última fase
refere-se à elaboração do Plano de Acção para a Implementação do
Reassentamento, definido como o documento orientador do processo de
implementação do reassentamento e que deve incluir a matriz institucional (todos
os organismos envolvidos no processo do planeamento de implantação e das
respectivas tarefas e responsabilidades), o cronograma de execução, o orçamento

25
para implementação (incluindo os custos de construção da aldeia de reassentamento
e respectivas infraestruturas, bem como a compensação por bens tangíveis e
intangíveis perdidos para o projecto) para a transferência das famílias e dos
respectivos bens, a fase de obras civis, programas de capacitação e práticas
ambientais sólidas e programas de geração de emprego e geração de renda.
Participação e Consulta Pública: Um processo robusto de consulta pública durante o
processo de reassentamento é prescrito pelo Decreto nº 31/2012 e elaborado mais
amplamente pelo Diploma Ministerial nº 156/2014. O sistema de consulta pública deverá
criar condições para que as comunidades reassentadas e as comunidades de acolhimento
participem activamente durante todas as fases do processo de decisão em termos de
reassentamento e tenham acesso a todas as informações sobre o conteúdo dos estudos e o
processo de reassentamento. A participação inclui consultas e reuniões públicas e destina-
se a proporcionar às partes interessadas oportunidades para solicitar esclarecimentos e
formular sugestões e recomendações. O Decreto nº 31/2012 estabelece a exigência de pelo
menos quatro reuniões de consulta pública associadas ao processo de reassentamento, que
deverão ocorrer nos seguintes momentos:

• Primeira reunião de consulta pública - no início do processo, para informar as partes


interessadas sobre os objectivos, a pertinência e os impactos do processo;
• Segunda reunião de consulta pública - para apresentar e discutir locais alternativos
de acolhimento;
• Terceira reunião de consulta pública - após a conclusão do Plano de
Reassentamento, incluindo o orçamento e o cronograma de implementação; e
• Quarta reunião de consulta pública - no momento da finalização do Plano de
Reassentamento e da sua implementação.
Estas quatro reuniões de consulta pública associadas ao processo de reassentamento não
serão relevantes para os subprojectos do PROENERGIA que não demandarem
deslocamento físico. No caso de situações de perdas de propriedade que somente envolvem
deslocação económica, poderão ser administradas por meio de exercícios de expropriação
se forem projectos do interesse público e/ou os princípios de compensação explícitos na
Constituição da República e na legislação sobre a expropriação e de reassentamento.

26
Assim, no contexto do Projecto actual os pequenos Planos de Compensação farão parte dos
Planos de Gestão Social de subprojectos classificados como de Categoria B ou C.

O Decreto Nº 54/2015 de 31 de Dezembro - Regulamento sobre o Processo de Avaliação


de Impacto Ambiental estabelece que um dos instrumentos fundamentais para a gestão
ambiental é o processo de Avaliação de Impacto Ambiental e Social (AIAS), o qual visa
mitigar os impactos negativos que determinados projectos dos sectores público e privado
possam causar ao ambiente natural e socioeconómico, através da realização de estudos
ambientais e sociais antes do início do projecto.

• No âmbito do processo de Avaliação Ambiental, o Regulamento estabelece quatro


categorias:
Categoria A+: Projectos e actividades que devido à sua complexidade, localização
e/ou irreversibilidade e magnitude de possíveis impactos mereçam um elevado nível
de vigilância social e ambiental com envolvimento de especialistas nos processos
de AIA.
Estas actividades estão sujeitas a Estudo de Impacto Ambiental Completo sob supervisão
de Revisores Especialistas independentes com experiência comprovada;

• Categoria A: Projectos e actividades que afectem significativamente seres vivos e


áreas ambientalmente sensíveis, com impactos de maior duração, intensidade,
magnitude e significância, sujeitos a Estudo de Impacto Ambiental (EIA) Completo
e Plano de Gestão Ambiental (PGA);
• Categoria B; Projectos e actividades que não afectem significativamente seres vivos
nem áreas ambientalmente sensíveis; estando sujeitos a Estudo Ambiental
Simplificado (EAS) e PGA;
• Categoria C: Projectos e actividades que provoquem impactos negativos
negligenciáveis, insignificantes ou mínimos sujeitos à apresentação de
Procedimentos de Boas Práticas de Gestão Ambiental na sua implementação.
Alguns dos subprojectos do PROENERGIA poderão ser classificados como de categoria C
ou B. Isto implica a realização de EAS e PGA para os subprojectos de categoria B; e para
a categoria C, apresentação de Procedimentos de Boas Práticas de Gestão Ambiental na sua
implementação, não sendo necessário um processo de consulta pública a categoria C.

27
Acrescenta-se que, para além do que já disposto no QPR relativamente ao regulamento da
Lei da Terra no Decreto Nº 66/1998, estabelece que deve haver compensação justa paga
pela perda dos direitos de uso e aproveitamento da terra.

Projectos com impactos de deslocamento físico, independente de outros impactos, são


categorizados de A ou A+ consoante a cobertura pela legislação de reassentamento e estão
sujeitos a demais legislação sobre reassentamento involuntário. Um projecto com a
necessidade de realocação de famílias ainda que tenha impactos negligenciáveis em todos
outros descritores ambientais e sociais, ao invés de C, é categorizado por A
ou A+. O deslocamento económico não influencia que os projectos sejam categorizados de
A ou A+ pois tem tratamento estatutário diferente do reassentamento de abrigos.

A Lei da Família nº 10/2004 estipula que ambos os parceiros podem legitimamente tratar
de transaccionar a propriedade enquanto salvaguardam os direitos do outro. Os bens
imóveis, tanto da pertença da esposa individualmente ou em propriedade comum, poderão
ser apenas transferidos a outros com a expressa autorização de ambos os parceiros:

• A cotitularidade da propriedade, incluindo casas, é a tipologia mais comum e está


associada ao primeiro casamento. Neste caso, todas as propriedades trazidas ao
casamento pelos dois parceiros, e a casa e outros itens adquiridos durante o
casamento, incluindo direitos do uso e aproveitamento da terra, pertencem ao
marido e esposa em partes iguais.
• A comunhão de propriedade acumulada por direitos anteriores, especificamente
inclui propriedades adquiridas através de ocupação de terras em boa-fé que se
iniciou antes do casamento, embora a compensação pelas perdas possa ser paga
como propriedade comum (art. 1717, n° 2). No entanto, um parceiro, neste caso,
não ganha metade da quota da terra ou de outra propriedade adquirida através da
ocupação em boa-fé. A lei define este tipo de propriedade como o normal para
uniões de facto ou casamentos tradicionais, ou ainda no caso em que nada seja
especificado. Isto é importante dado que uma mulher pode reter titularidade das
suas posses de antes do casamento, bem como ser automaticamente titular de
metade da propriedade conjugal.

28
• Finalmente, sob o modelo de separação de bens, cada parte retém a posse dos seus
actuais e futuros activos e podem dispensá-los como entendem melhor.
A Lei da Protecção do Património Nacional nº 10/1988 tem como objectivo proteger
todo o património cultural, histórico e antiguidades nacionais. Este tipo de áreas protegidas
deve ser evitado na selecção dos sítios para os subprojectos.

O Guia Ambiental para Linhas de Transporte (Ministério de Energia, Dezembro de


2006) estabelece procedimentos ambientais para o estabelecimento de linhas de transporte
de energia incluindo de Avaliação de Impacto Ambiental. Ele define as servidões de linhas
eléctricas consoante a voltagem, ver tabela abaixo.

O Regulamento de Segurança das Linhas Eléctricas de Alta Tensão (Decreto nº


57/2011, de 11 de Novembro) estabelece a regras de segurança para as instalações elétricas
de alta tensão. Determina as caraterísticas dos materiais a serem usados, as distâncias entre
as linhas e destas com as várias infraestruturas. Através do artigo 136, o Decreto define as
distâncias mínimas recomendadas de afastamento de condutores eléctricos de alta tensão
em povoações.

No estabelecimento de linhas aéreas nas proximidades de edifícios isolados, ou fazendo


parte de aglomerados populacionais ou industriais ou por cima de arruamentos no interior
de povoações, deve observar-se os dispostos seguintes: Arts. 28 e 29 notam que deve
estabelecer-se ao longo das linhas uma faixa de serviço com uma largura de 5 m, dividida
ao meio pelo eixo da linha, na qual se efectua o corte e decote de árvores necessários
para tornar possível a sua montagem e conservação. Isto inclui as árvores que, por queda
ou outra razão, se reconheça constituírem um risco inaceitável para a segurança da linha e
não garantam em relação aos condutores, na hipótese de flecha máxima sem sobrecarga de
vento, a distância mínima de 1,5 m.

Com vista a garantir a segurança de exploração das linhas a zona de protecção deve ter a
largura máxima de 30 m, para linhas de tensão nominal inferior a 66 kV e 50 m, para linhas
de tensão nominal igual ou superior a 66 kV.

Em relação às coberturas, chaminés e todas as partes salientes susceptíveis de serem


normalmente escaladas por pessoas, os condutores nus devem ficar, desviados ou não pelo

29
vento a uma distância mínima de 4 m e nas condições de flecha máxima e simultaneamente
desviados pelo vento, as janelas, varandas e terraços deve-se manter a distância horizontal
mínima de 4 m.

Art. 80 trata de profundidade mínima de enterro dos cabos de linhas de tensão nominal
inferior a 66 kV, de um metro quando montados sob faixas de rodagem e de 0.7 m em todos
os outros locais. Os cabos de linhas de tensão nominal igual ou superior a 66 kV, devem
ser enterrados a uma profundidade mínima de 1,2 m quando montados sob faixas de
rodagem e de um metro em todos os outros locais. Todos os cabos enterrados devem ser
sinalizados por meio de um dispositivo de aviso colocado por cima deles.

Os condutores nas condições de flecha máxima, devem manter em relação às auto-estradas


e às estradas nacionais e municipais uma distância mínima de sete metros e os seus apoios
o mínimo de cinco metros. Para outros acessos viários os apoios devem ser colocados a
uma distância mínima de três metros da via.

Para os efeitos do PROENERGIA o rastreio dos subprojectos 33 kV bem como o


posicionamento dos postes de apoio das linhas, recomenda-se que se utilize a distância de
seguranças das linhas de média tensão de quatro metros, para garantir a segurança das
pessoas nos edifícios e realizando actividades não relacionadas com a
construção ou manutenção do sistema eléctrico.

Foi recentemente aprovado o Plano Director Integrado de Infraestruturas de


Electricidade 2018 – 2043 (PDIE) pelo Conselho de Ministro, a 16 de Outubro de 2018.
O PDIE que define as directrizes da expansão do parque de produção, transporte e
distribuição de energia, bem como a diversificação da matriz de produção de electricidade,
em resposta ao acentuado crescimento da demanda que se perspetiva para os próximos
anos.

Com uma projecção de 25 anos, o instrumento pretende assegurar o alinhamento


institucional na implementação dos diversos projectos de produção, transporte e
distribuição, com enfoque para a segurança energética, estabilidade, qualidade e fiabilidade
do sistema eléctrico nacional. Para o efeito, o Plano identifica e caracteriza os
investimentos necessários e prioritários para o desenvolvimento da Infraestrutura eléctrica,

30
servindo de suporte para a industrialização nacional, aumento do acesso à electricidade
através da Rede Eléctrica Nacional, e monetização dos recursos naturais com a exportação
de energia eléctrica para a região austral.

O PDIE prevê o aumento da demanda nacional, doméstica e industrial, de energia para


cerca de 8,000 MW em 2043 (10 vezes acima dos níveis actuais), representando uma taxa
média anual de crescimento da ordem dos 8.6%, a segunda na região austral depois de
Tanzânia, enquanto na exportação para região prevê-se atingir níveis acima dos 7,000 MW.
Esta demanda deverá ser satisfeita nos termos da Estratégia Nacional de Electrificação
2018 – 2030 (igualmente aprovada pelo Conselho de Ministro a 16 de Outubro de 2018),
no âmbito da qual cerca de 70% do acesso em 2030 será providenciado por sistemas da
Rede Eléctrica Nacional, que englobam na sua matriz de produção as fontes hídricas, a
carvão, solar, eólica e a gás.

2.3.3. Potencial de projectos renováveis


Em termos globais, Moçambique apresenta um enorme potencial de energias renováveis de
mais de 23 TW e milhares de possíveis projectos, desde pequenos projectos de
electrificação rural até às grandes hídricas do Zambeze. Deste potencial, cerca de 7 GW,
ou seja, mais de 500 projectos, maioritariamente hidroeléctricos, mas também eólicos,
solares, de biomassa e geotérmicos, constituem soluções e alternativas para o sistema
eléctrico de Moçambique a ponderar e possivelmente integrar em futuros planos de
expansão da rede eléctrica.

2.3.4. Energias renováveis e electrificação rural


Para além dos projectos de grande, média e pequena dimensão identificados, a
evolução tecnológica permite actualmente o aproveitamento das energias renováveis em
projectos de microescala, normalmente unidades de 5 a 100 kW apropriados para a
electrificação rural. Por exemplo, a utilização de painéis solares, com uma combinação de
baterias e gerador, ou a utilização de pico-hídricas em cerca de 300 locais identificados no
presente estudo, apresentam-se como as soluções de electrificação mais económicas
quando a rede eléctrica está distante. De referir, ainda, as soluções de electrificação rural
baseadas em unidades solares individuais, que apesar de apresentarem menores níveis de

31
serviço, constituem uma boa alternativa de electrificação e requerem reduzidos
investimentos.

2.3.5. Energias renováveis e o desenvolvimento de Moçambique


São inúmeras as vantagens das energias renováveis para o desenvolvimento sustentável
de Moçambique. Desde logo, os grandes projectos hidroeléctricos, para além de
constituírem projectos estruturantes de fins múltiplos, são as alternativas mais económicas
de geração de energia e Moçambique tem muitas alternativas ao seu dispor. Por outro lado,
os projectos de pequena e média dimensão constituem oportunidades de investimento, de
racionalização da rede, de melhoria de qualidade da energia, de criação de emprego e de
desenvolvimento regional. Finalmente, a electrificação rural, seja através de pequenas
centrais solares com backup de baterias e gerador, seja através da utilização de pico
hídricas, e as soluções solares descentralizadas de pequena dimensão são a alternativa
economicamente mais viável para levar a electricidade a milhares de moçambicanos.

Por todas estas razões as energias renováveis constituem e deverão continuar a constituir
uma prioridade da política energética de Moçambique.

2.4. Produtores Independentes de Energia


No âmbito do programa Energia para Todos, o Governo de Moçambique tem trabalhado
para garantir o aumento da disponibilidade de energia eléctrica, promovendo o
investimento público-privado em novas infraestruturas de geração, sendo que a
contribuição das energias renováveis na matriz energética nacional afigura-se cada vez
maior.

Em 2018, o Governo aprovou o Plano Director de Infraestruturas Eléctricas 2018-2043,


apontando como solução de menor custo a integração de 20% de energias renováveis na
matriz energética nacional, para garantir uma maior diversificação e segurança energética.

Em 2019 foi comissionada a primeiro central solar de Mocuba, a que se juntará em breve a
central de Metoro, já em construção, e posteriormente as centrais de Cuamba I, Cuamba II
e Mecufi, cujo CAE foi assinado, totalizando 147 MW de centrais solares, todas num
modelo de PPP. Entretanto surgiu a necessidade de criar um quadro regulatório mais
robusto para acelerar o investimento privado em projectos de energias renováveis.

32
Nesse sentido, o Governo de Moçambique lançou no final de Setembro de 2020 o primeiro
Programa de Leilões de Energias Renováveis, o PROLER.

Esta iniciativa inédita propõe tornar o sector das energias renováveis mais atractivo para o
investimento privado, aumentar a contribuição das fontes renováveis, garantir a
diversificação da matriz energética e assegurar o alcance do acesso universal. O programa
de leilões vai assegurar mais oportunidades para o sector privado, representando um novo
paradigma. O processo de licitação será transparente e visa promover uma competição entre
investidores que irá resultar na escolha de soluções de menor custo, assegurando assim
tarifas de energia eléctrica de menor custo possível para os consumidores finais. Foram
asseguradas condições atractivas ao investimento, nomeadamente: a existência de estudos
de viabilidade prévios; DUAT assegurado; facilitação de um pacote financeiro que visa
cobrir a participação da EDM no capital da joint-venture, a interligação a rede, a
implementação do plano ambiental e socioeconómico e assistência técnica adicional; para
além de garantias financeiras para cobrir o risco do off-taker.

Além do PROLER, que resultará em 160 MW adicionais até 2025, estão em


desenvolvimento outros dois programas de apoio. Neste momento, existem 275 MW de
projectos de energia solar ou eólica com estudos de pré-viabilidade.

A par deste processo de concursos, está em curso a revisão do quadro legal, nomeadamente
a Lei de Electricidade e o respectivo regulamento e a lei das Parcerias Público-Privadas,
numa perspectiva de simplificação. A revisão do código da rede eléctrica, incluindo
provisões para projectos de energias renováveis, também irá clarificar os requisitos deste
tipo de projectos.

33
Figura 4. Produtores Independentes de Energia
2.4.1. Projectos actuais
No segmento das mini-redes o envolvimento do sector privado ainda é muito diminuto e
apenas numa lógica de empreitadas públicas de construção e O&M, principalmente devido
a limitações de cariz regulatório. Para este segmento será especialmente importante a
revisão do quadro legal, para simplificação da concessão e licenciamento, clarificação de
questões tarifárias de operação e os limites de actuação de cada entidade. Dessa forma, às
76 mini-redes do FUNAE, correspondentes a mais de 6 MW, actualmente em
funcionamento ou construção, poderão rapidamente juntar-se novos projectos com maior
participação do sector privado, beneficiando do apoio de parceiros de cooperação e dos 7
programas por eles financiados, que já promoveram estudos de viabilidade para cerca de
50 locais.

34
Figura 5. Mini Redes
2.4.2. Operadores de mercado actuais
No passado, o mercado de SSC em Moçambique era insipiente, com a distribuição de
sistemas pelo FUNAE e venda de alguns equipamentos no mercado informal, de qualidade
variável e sem garantias ou instalação assegurada.

Desde 2017, que operadores privados começaram a comercializar SSC num esquema
PAYGO, já tendo vendido mais de 70.000 sistemas. Este valor está muito longe do
potencial de mercado estimado de 824 mil habitações com capacidade para os adquirir, que
poderia duplicar caso fosse adoptada uma política fiscal que isentasse este tipo de sistemas.

O programa EnDev é aquele que mais vinha a promover o desenvolvimento de um mercado


PAYGO sustentável, tendo fornecido acesso à energia através do apoio às empresas
privadas a 220.000 mil pessoas. Entretanto juntaram-se outros seis programas de apoio a
este segmento de mercado, todos numa lógica de RBF, que irão certamente aumentar a
capacidade dos operadores actuais e atrair novos operadores para o mercado moçambicano.

35
Figura 6. Características dos operadores privados de SSC em regime de PAYGO
actualmente em operação // Fonte: Consulta directa aos operadores

36
CAPÍTULO III - METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

3. Metodologia
No anterior capítulo foi apresentado a revisão da literatura do projecto de investigação. Este
capítulo retrata a metodologia que foi utilizada para o desenvolvimento deste trabalho,
enquadra e aborda a importância de determinados conceitos usados no processo de
investigação, especificamente aborda o método do estudo de caso aplicado na investigação.

3.1. Enquadramento de Conceitos


Segundo (Dos Reis, 2010), a palavra metodologia foi 3. originada na Grécia antiga pela
junção de duas palavras “méthodos” (organização) e logos (palavra, estudo, razão), tendo
como significado o “estudo da organização”. Indica ainda que para o desenvolvimento
duma pesquisa ou dum estudo, percorrem-se caminhos quanto à forma que podem
subdividir-se em metodologias de investigação quantitativa e a metodologia de
investigação qualitativa.

No entanto (Baptista C. S., 2011), vão mais longe, caraterizando a investigação


quantitativa, principalmente pela utilização do método experimental, com a seleção
aleatória duma amostra retirada duma população representativa, a formulação de hipóteses,
com relações casuais e a sua verificação através de análises estatísticas e utilização
exclusiva de medidas numéricas, a generalização dos resultados a partir da amostra, assim
como a procura das causas dos fenómenos sem atender a fatores subjetivos.

Contudo, (Carvalho, 2009) afirma que ao contrário da investigação quantitativa os métodos


qualitativos encaram a interação do investigador com o campo, e os seus membros como
parte explícita da produção do saber.

3.1.1. Estudo de caso


Para a (Costa, 2011)o estudo de caso é muito utilizado nas ciências sociais, na apresentação
de dados empíricos, podendo aplicar-se em estudos quantitativos e qualitativos. É muito
usado quando se pretende responder a questões do tipo “como” e “porque”; permite, ainda,
que o investigador possa observar detalhadamente um contexto ou indivíduo e um
acontecimento específico (caso). Requer a observação de diversas variáveis de modo a
comparar e constatar com outros casos – Estudo de casos múltiplos.

37
Entretanto, (Yin, 2013) aprofunda, e defende a escolha do estudo de caso para a
compreensão profunda de fenómenos de vida real, que sejam fortemente condicionados
pelo seu contexto. Permite ainda analisar um grande conjunto de variáveis, na medida em
que se baseia em múltiplas fontes convergentes e beneficia de desenvolvimentos teóricos
anteriores para conduzir a investigação. A distinção entre tipos de estudos de casos e para
a qual parece haver consenso entre autores. Segundo (Coutinho, 2011), será a classificação
em estudo de caso único e estudo de caso múltiplo. Assim como o próprio nome indica, o
primeiro tipo apenas analisa um único caso, enquanto o segundo debruça-se sobre vários
casos para a análise.

No entanto, asseguradas as condições para um bom desenvolvimento da investigação, o


estudo de caso torna-se um método muito rico para abarcar problemas no seu contexto e
oferece uma enorme possibilidade analítica. Geralmente, quando se está perante uma
questão de “como?” ou “porquê?”, o estudo de caso é uma boa opção, pois investiga um
fenómeno no seu contexto da vida real onde os limites entre o fenómeno e o contexto não
são claros (Yin, 2013).

Contudo, o estudo de caso do projeto de investigação em curso (sobre a eletrificação rural


– caso de Moçambique), como um estudo dum caso único através de casos múltiplos, ou
seja, os projectos de eletrificação rural em Moçambique vai ser o caso de estudo (único ou
isolado) onde sempre que possível e necessário se vão fazer referências a casos doutros
países para que se possa constatar e comparar factos.

3.2. Metodologia Aplicada ao Presente Trabalho


Abordou (Carvalho, 2009), que a investigação científica não se baseia numa conceção
teórica e metodológica unitária a sua prática e as suas análises são caraterizadas por diversas
abordagens teóricas e respetivos métodos. Existe uma variedade de perspetivas resultante
de diferentes linhas de evolução na história da investigação qualitativa as quais se
desenvolvem parcialmente em paralelo, e de forma sequencial.

Durante a realização deste trabalho os dados foram tratados duma forma qualitativa, foi
assim determinado pelo fato da diversa informação pesquisada ser proveniente de crenças,
hábitos e opiniões patentes nas obras de diversos autores na área da eletrificação rural. A
investigação do trabalho em curso tem um carater qualitativo, uma vez que são analisados

38
contextos sociais, empresariais, comportamentos e características, considerando os
desenvolvimentos teóricos anteriores. O objetivo principal é analisar a potencialização da
implementação das energias novas e renováveis nas zonas rurais e se a aposta neste tipo de
energias em Moçambique é uma alternativa económica, social e ambientalmente
sustentável.

Portanto, estudo de caso foi a alternativa escolhida para a análise e compreensão da situação
a estudar, ou seja, a análise qualitativa dos projetos de eletrificação rural em Moçambique.
Definiu (Ponte, 2006), que caso de estudo é uma investigação que se assume como
particularística, isto é, que debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se
supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspetos, procurando descobrir o que há
nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a
compreensão global de um certo fenómeno de interesse. Contudo, (Ribeiro & M.S, 2011),
citando (Yin, 2013), vai mais longe ao afirmar que o estudo de caso é uma investigação
empírica que estuda um fenómeno contemporâneo dentro do contexto de vida real,
especialmente quando as fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são absolutamente
evidentes e salienta que para tal se podem usar múltiplas fontes para recolher evidências e
informações desde que sejam apropriadas e possibilitem compreender o caso no seu
todo.

Contudo, (Paes, 2010), citando Yin, indica que o método do estudo de caso é o preferido
quando se pretende dar resposta a questões de, como? E porquê? Quando o investigador
tem pouco controlo sobre os acontecimentos, e quando o foco é um fenómeno a estudar no
seu contexto real.

Portanto, a investigação é um estudo de caso classificado no estudo de ações e interações,


visto que se procura uma compreensão profunda dum fenómeno fortemente condicionado
pelo contexto. É do tipo de estudo de caso único embora se recorra a outros casos como
guias de comparação e de referência, só se estuda um único caso (O caso de eletrificação
rural em Moçambique) com objetivo de se chegar a conclusões não só do caso em si como
também do fenómeno estudado.

39
3.2.1. Perguntas de Partida
Uma boa pergunta de partida deve exigir clareza, exequibilidade e pertinência, assim, como
anteriormente ilustrado (ponto 1.2. nos objetivos do capítulo da introdução) o presente
trabalho tem como perguntas de partida que representam um caminho a seguir neste
projecto de investigação:

• Até que ponto podem os sistemas de mini-redes hidroeléctricas ser eficientes na


melhoria da electrificação rural e na satisfação das necessidades locais em termos
de abastecimento energético?
• Será que vale a pena apostar nas energias novas e renováveis como alternativas
socioeconómicas na electrificação de Moçambique?
• Qual o impacto da electrificação rural no combate à desflorestação em
Moçambique?
Algumas organizações e alguns autores retratam a problemática da falta de electricidade
em alguns países, realidade alarmante nos países em vias de desenvolvimento,
nomeadamente alguns países da Asia, da América Latina e muitos em África.

De igual modo outras teorias abordam que o sucesso dos projectos de electrificação rural
depende em parte também das ações e das políticas governamentais. Sabe-se que o acesso
a energia é uma condição necessária para o desenvolvimento, o bem-estar, ou seja, e é uma
ferramenta essencial na luta contra pobreza.

Os processos de electrificação rural são complexos e muitas vezes devem ser


acompanhadas com medidas auxiliares, como difusão do comércio de tecnologias das
energias novas renoveis para que se crie uma plataforma capaz de suportar a sua evolução
a longo prazo. E é preciso perceber que impacto a curto, medio e longo prazo a
electrificação produz nessas zonas.

40
CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DE RESULTADOS

4. Eletrificação Rural - O Caso de Moçambique


Antes de se desenvolver o principal tópico “electrificação rural” deste capítulo, é necessário
e importante dar-se a conhecer, duma forma generalizada o vasto território Moçambicano.

4.1. Moçambique
Segundo a (OCDE, 2022), Moçambique continua a ser um exemplo de sucesso de transição
pós-conflito, com uma média de crescimento económico oito (8) porcento (%) desde o ano
2000 a 2006. O forte crescimento económico é principalmente impulsionado pelo
financiamento externo através de "mega - projetos" e de fluxos de ajuda de grande porte.

Figura 7. Caraterização de Moçambique. Fonte: AICEP (2012)

A figura acima mostra duma forma objetiva como Moçambique se encontra constituída
atualmente. De seguida, apresenta-se uma breve caraterização das energias de
Moçambique.

4.1.1. Caracterização das energias de Moçambique


Os vastos recursos energéticos de Moçambique, têm a capacidade de satisfazer a maioria
das necessidades da sua procura doméstica. Eles incluem a hídrica, o gás natural, o carvão,
a biomassa, o solar e a eólica. O país é dotado de um considerável potencial hidroelétrico
que tem sido amplamente estimada em 12.500 MW, com um potencial de geração anual de
energia correspondente de 60.000 GWh. Estima-se que cerca de um terço desse potencial

41
pode ser desenvolvido a um custo relativamente baixo. O maior potencial está na bacia do
rio Zambeze em pontos como Cahora Bassa Norte e Mphanda Nkuwa.

Até agora, foram desenvolvidos cerca de 2.200 MW. Além disso, o potencial de pequenas
centrais hidroelétricas é de 190 MW. Moçambique recebe uma quantidade considerável de
sol. Com uma radiação média anual de 5KWh / m² / dia, que oferece condições muito
favoráveis para a energia solar fotovoltaica e térmica de desenvolvimento.
Ao nível doméstico, a principal procura para a energia é para cozinhar e iluminar. A
principal fonte de energia para a maioria dos moçambicanos é a biomassa, especialmente
de combustível de madeira. Dentro das comunidades rurais, este recurso é responsável
por quase toda a energia consumida. Produção e utilização do carvão vegetal são difundidas
em pequenas aglomerações urbanas, capitais de distrito e cidades ao redor do maior e
cidades, (MEM, 2012).

A EDM (Eletricidade de Moçambique) é a empresa pública pela responsável eletrificação


(geração, transmissão e distribuição) em Moçambique, embora se considere uma
restruturação. A EDM compra na barragem de Cahora Bassa a maior eletricidade que
distribui a baixo custo e que limita a competitividade e a introdução de outras fontes de
energia no mercado. Contudo o setor privado é livre de colaborar. A EDM realiza a
eletrificação rural através da extensão da rede nacional onde as tarifas são cobradas pelo
Ministério de Energia.

A FUNAE surge como outra instituição pública, fundada em 1997, é suportada pelos
doadores, é na prática a responsável pela eletrificação rural fora da rede nacional,
principalmente usando sistemas geradores de diesel e Solares fotovoltaicos, poucas
Organizações não-Governamentais (ONGs) estão envolvidos na eletrificação rural
(Ahlborg, 2014)

4.2. A Eletrificação Rural


De acordo com FUNAE (2012) mais de oitenta porcento (80%) da população
Moçambicana ainda não têm acesso a energia elétrica, a maior parte desta população
pertence as comunidades rurais. Para melhor analisarmos as políticas energéticas de
Moçambique, em especial a eletrificação rural, é necessário compreender a evolução
histórica – Legal neste sector. A definição duma política energética consolidada, com

42
objetivos bem definidos foi desde sempre um compromisso a ser cumprido por parte do
governo.

A política energética aprovada em 1998, bem como a estratégia de energia aprovada em


Agosto do ano 2000 estabelecem como um dos principais objetivos promover o
desenvolvimento de tecnologias de conversão e aproveitamento energético ambientalmente
benéficas (energia solar, eólica e biomassa) (MEM, 2011). A necessidade de regular este
sector levou à definição de instrumentos políticos de gestão de energia, de mecanismos de
articulação, nomeadamente de coordenação e colaboração para atingir e manter a função
reguladora num alto grau de eficiência.

Actualmente, 99,22 % dos distritos têm fornecimento de energia eléctrica, entretanto após
uma análise da actual panorâmica da electrificação rural em Moçambique, constata-se que
o número de distritos com fonte eléctrica não se traduz no número de pessoas/famílias com
acesso as mesmas, existindo ainda uma enorme discrepância, ou seja, contudo, constata-se
que a percentagem de população a servir-se de energia elétrica baixa contínua. (MEM,
2012).

No final de 2020 a taxa de electrificação ligada à rede foi de 34%, previa-se que a taxa de
electrificação total fosse de 38%, segundo a Estratégia Nacional de Electrificação, e que a
população atingiria 32 milhões, segundo o FMI, ou seja, cerca de 20 milhões de
moçambicanos ainda não têm acesso à electricidade. Sob o Programa Energia para Todos,
o Governo vai assegurar que até 2024 mais 10 milhões de moçambicanos possam dispor
de electricidade pela primeira vez. O grande desafio será atingir a ambiciosa meta de acesso
universal até 2030 e implementar o considerável esforço adicional previsto entre 2025 a
2030, incluindo o contributo dos sistemas fora da rede.

O consumo de electricidade per capita estabilizou em 2014 nos cerca de 200 kWh/ano, não
tendo sofrido o impacto nem da crise financeira que afectou o país entre 2014 e 2016 nem
do aumento da taxa de acesso à rede eléctrica. A taxa de acesso terá forçosamente de
aumentar nos próximos anos e a previsão do FMI aponta para um crescimento médio anual
do PIB per capita de 33% no próximo quinquénio, após uma quebra em 2021, que compara
com o crescimento médio anual de 54% entre 2000 e 2020, negativamente influenciado
pela crise financeira.

43
A maior parte do consumo ainda é doméstico, seguido de consumo industrial e
posteriormente comercial. O consumo agrícola ainda é marginal

Gráfico 1. Evolução da taxa de electrificação. Fonte: EDM, Estratégia Nacional de


Electrificação (ENE), Plano Director do Sector Eléctrico

Gráfico 2. Capacidade instalada. Fonte: Adaptado do Plano Director do Sector Eléctrico

44
Gráfico 3. Evolução da produção de electricidade por fonte // Fonte: EDM

Gráfico 4. Evolução do consumo per capita vs evolução do PIB per capita e acesso à rede
eléctrica // Fonte: EDM e FMI
4.3. Análise SWOT – Eletrificação rural em Moçambique
A análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats) é uma ferramenta de
análise, onde se identificam elementos chave que permitem a elaboração de um diagnóstico
estratégico e o estabelecimento de prioridades de atuação de uma organização, de uma área
geográfica ou de um setor de atividade.

Esta abordagem tem em consideração a envolvente externa e interna, com intenção de


maximizar o potencial das forças e oportunidades e minimizar o impacto das fraquezas,
riscos e ameaças. (Pinho, 2012).

Pontos Fortes Pontos Fracos

45
- Existência dum governo que evidência - População maioritariamente pobre é um
todos os esforços, interna e externamente obstáculo para conclusão destes projetos;
no sentido de apoiar os seus parceiros para - Fraco nível de escolaridade da população
minimizar o déficit de fornecimento de e elevado nível de analfabetismo;
energia elétrica no país; - O mercado energético é relativamente
- Políticas e legislação que permite a recente, podendo mesmo afirmar-se que se
flexibilização de projetos de doadores encontra em fase embrionária;
internacionais, de empresas privadas - Existência de barreiras a eletrificação
nacionais e estrangeiras que convergem rural como: geração de energia a curto
com os objetivos da radicação de pobreza prazo, fraca capacidade execução, falta de
através de eletrificação das zonas rurais; incentivos apropriados, custos elevados de
- Moçambique encontra-se junto a zona fornecimento de energia as famílias peri
costeira do oceano índico (permite o uso do urbanas e rurais, crescimento populacional;
mar), possui recursos abundantes para o - A falta de rede elétrica em algumas zonas
desenvolvimento das energias renováveis e mais distantes do país;
usufrui duma quantidade suficiente anual - Falta de Indústria e falta de
de radiação solar para desenvolver painéis competitividade no setor face aos preços
solares; baixos praticados pela central hidroelétrica
-Estabilidade política e as recentes de Cahora Bassa.
descobertas de recursos energéticos
funciona como maior plataforma de
atração de investimentos.
Oportunidades Ameaças
- Mecanismos de desenvolvimento Limpo - Prolongamento do atual cenário de crise
(MDL) e os mercados voluntários que que esta afetar o mundo cria entraves a
podem proporcionar investimentos de níveis de financiamento;
novos projetos; - (Re) direcionamento de investimentos
- Investimento futuro de mais centenas de dos doadores internacionais para outras
bilhões de dólares até 2030 do Banco economias emergentes como os BRICs1
- Elevados custos de Diesel é um fator

1
Conjunto de Países denominados como novas potências emergentes – Brasil, Rússia, India e China (BRIC)

46
Mundial, ONU, entre outros, para tornar limitativo, da logística e comunicação com
acessível a eletricidade no universo; os clientes devido as infraestruturas
- Por outro lado o mesmo cenário de crise precárias.
traduz-se numa oportunidade de
investimentos em Moçambique que
poderiam ser mais caros por motivos
financeiros.

Tabela 1. Analise SWOT – Eletrificação Rural em Moçambique. Fonte: Adaptado Autora,


(2022).
Como foi referido no primeiro capítulo deste trabalho, no ponto (1.2 Objetivos), reforça-se
que um dos objetivos deste trabalho passa também por mostrar com recurso a análise
SWOT, duma forma generalizada, quais os pontos fortes, as fraquezas, as oportunidades e
ameaças da aplicação dos programas de eletrificação rural de forma descentralizada ou não,
recorrendo as fontes de energias renováveis/alternativas que se podem verificar no
envolvimento com os “stakeholders”2.

4.4. Impacto da Eletrificação Rural


Segundo (Zomers A. , 2003), um dos principais objectivos da electrificação rural passa pela
busca do desenvolvimento económico com vista ao crescimento da produção agrícola,
devendo ser avaliada de forma diferente e por razões de natureza puramente social.

O impacto da eletrificação rural ultrapassa as fronteiras físicas locais, proporcionando


benefícios de caráter social e ambiental, altera hábitos locais, melhora a condição de vida
das populações, impulsiona a indústria e dinamiza o comércio local. (Oliveira, 2001).
(Oliveira, 2001) e (Zomers A. , 2003), concluem que a eletrificação rural provoca um
impacto sobre o meio ambiente, sobre a sociedade (comunidade rural), nos serviços
públicos e sobre a economia local, e afirmam também que dois ou mais impactos podem
ser simultâneos e interligados.

2
Agentes interessados (diretos ou indiretos).

47
4.4.1. Impacto Social (Comunidade Rural)
Segundo a (UNESCO, 2022), com a eletrificação rural através dos sistemas
descentralizados, usando as novas energias renováveis é possível a promoção de igualdade
dos sexos, libertando as mulheres, e as crianças das cargas desproporcionais nas atividades
com as biomassas tradicionais. Contudo é importante citar que certas atividades evoluíram
duma natureza puramente obrigatória para uma natureza simplesmente de lazer explicada
pelas relações de teor antropológico.

Naturalmente, os objetivos sociais da eletrificação rural são dirigidos para a melhoria das
condições de vida da população rural, incluindo a criação de condições adequadas para a
educação e saúde, (Zomers 2001). Por outras palavras a eletrificação rural deve seguir, e
não conduzir, o desenvolvimento regional. Em ambos os casos a eletrificação rural é
planeados e executados em combinação com outras atividades de desenvolvimento rural,
sob certas circunstâncias sociais e políticas, e o seu êxito depende também do sucesso
doutras atividades. (Barnes, 1988).

(Oliveira, 2001), afirma que a chegada da eletricidade junto das comunidades rurais
provoca consideráveis modificações permitindo que a população tenha acesso a serviços
sociais básicos, tais como, fornecimento de água potável, saneamento, educação e sistemas
de comunicação, implicando uma modernização das zonas rurais e levando a um aumento
substancial da melhoria da vida das populações.

(Oliveira, 2001), explica ainda a forma como o acesso aos serviços sociais básicos se
desenvolve, nomeadamente:

• A eletrificação substitui as fontes de energia primitivas, proporcionado a preparação


de alimentos através de fogões elétricos e reduz drasticamente o uso de biomassas
para confeção de alimentos. Por um lado, os habitantes passam a ter tempos livres
para descanso abdicando de atividades fisicamente mais dispendiosa. Deste modo
são relegadas as “atividades duras” provocadoras de grande dispêndio de força e de
tempo. Por outro lado, com o surgimento de água potável pode-se desenvolver o
sistema de bombeamento de água impulsionada pela eletricidade (Irrigação
Agrícola);

48
• Com energia elétrica criam-se condições para o melhoramento da saúde de vida da
população com a construção de postos de saúde locais equipadas com tecnologias
necessárias; o nível de analfabetismo é colmatado com a construção de novas
escolas de ensino noturno passando a população disponível a dedicar-se
exclusivamente ao trabalho do campo e doméstico durante o dia;
• A eletricidade combate os fenómenos de migração êxodo-rural diminuindo a saída
da população jovem destas zonas para cidade mantendo assim uma força de trabalho
importante nas zonas rurais;
• Os habitantes passam a ter acesso a informação atualizada através do uso da
televisão e da rádio, a distância física entre as famílias torna-se reduzida com o
acesso aos serviços telefónicos, inicialmente não residências, com a instalação de
telefones públicos em locais estratégicos.
4.4.2. Impacto na Economia Rural
Uma gestão eficiente da eletrificação rural permite a promoção duma autoconfiança
económica das populações locais com a redução dos custos com as fontes importadas,
passando a gastar de forma racional parte das suas rendas em querosene, velas e baterias
no atendimento das suas necessidades energéticas, (UNESCO 2012).

De acordo com uma lista da NRECA2114 (1983), existem várias oportunidades nas zonas
rurais para melhorar a produtividade económica através do uso da eletricidade para se
conseguir benefícios sociais (Zomers 2001). Na sua análise, conclui este autor que a
eletrificação rural provoca um impacto maior sobre o desenvolvimento agrícola nos países
onde a irrigação é uma atividade abundante, e tem um impacto sobre o desenvolvimento
industrial e comercial com o surgimento de inúmeras empresas.

Ainda Zomers (2001), relata existência de provas que indicam que a eletrificação por si só
não é um catalisador de desenvolvimento económico e que existe pouca evidência que o
impacto da electrificação no crescimento agrícola por si só também não provoca o
aparecimento de atividades indústrias e comercias. Contudo é aceitável imaginar que ela
pode proporcionar um estímulo ao desenvolvimento da actividade económica
especialmente no sector dos serviços.

49
A electrificação das zonas rurais nos países em desenvolvimento promove o
desenvolvimento agrícola quando certos recursos complementares, tais como bombas
eléctricas e serviços financeiros são incluídos. Assim, e para (Zomers A. , 2003), é
importante selecionar zonas rurais preparadas para crescimento sustentado para a
electrificação uma vez que estas geralmente apresentam rápido crescimento da procura de
modo a melhor reafectação de recursos financeiros.

Entretanto Hourcade (1990) et al. argumentam que "quanto mais desenvolvida uma região,
maior o impacto da eletricidade no crescimento económico e "concluem que a eletrificação
rural é um" catalisador seletivo "no sentido em que as regiões com infraestruturas pré-
instaladas de energia (sistemas de transporte, água), colhem rapidamente os benefícios dos
efeitos estimulantes do que as zonas menos preparadas.

(Oliveira, 2001), indica que o aparecimento da eletricidade flexibiliza e intensifica o


sistema económico, dinamizando o mercado através da indústria e do comércio dos bens e
serviços. A necessidade duma procura efectiva de bens por parte dos habitantes destas
zonas é recompensada com a oferta efetiva das empresas, e com o surgimento do mercado
onde o comércio é suportado pela existência de equipamentos elétricos e mecânicos (e é
justificado pela elevada procura de televisão, rádios, aparelhos sonoros e domésticos e
eletrodomésticos).

Nestas zonas passa a existir uma procura efectiva dos serviços por equipamentos e
construções, por outro lado também há uma procura de equipamentos por parte de certos
vendedores de equipamentos que auxiliam as fontes de energia renováveis. Toda esta
interação entre a procura e a oferta de bens essências (lâmpadas, televisores, telefones
aparelhos elétricos, geradores, refrigeradores) é atraído pela existência da electricidade
nestas zonas, dinamizando-se, indiretamente, a economia de base local.

(Schramm, 1993), argumentam que, em geral, a electrificação das zonas rurais não
contribui para a redução da pobreza, nem para a contenção da migração das zonas rurais
para áreas urbanas. Porém, beneficia principalmente os grupos de renda mais alta, embora
em alguns casos, grupos de baixa renda são beneficiados, indiretamente, como
beneficiários secundários através da introdução simultânea de irrigação e de outras medidas
de geração de renda.

50
4.4.3. Impacto sobre o meio ambiente
Com o acesso à energia elétrica através das novas energias renováveis, como parte
importante dum sistema de energia administrado e controlado localmente, tende a criar-se
condições benéficas para a proteção e gestão do meio ambiente local. (UNESCO 2012).
(Zomers A. , 2003), citando por (Vogel, 1993), revela que a eletrificação das zonas rurais
geralmente não evita a desflorestação a curto prazo após a eletrificação. A troca do uso da
lenha pela eletricidade para fins domésticos acontece numa escala muito reduzida e
limitada, devendo-se esse fenómeno ao fato das populações rurais não possuírem recursos
financeiros para a compra de aparelhos elétricos numa fase inicial.

Por outro lado, os hábitos de confeção dos alimentos na cozinha, a oportunidade de comprar
pequenas quantidades de combustível tradicional, e certo tipo de práticas agrícolas são os
principais motivos para a deflorestação, sendo nestes casos a população um dos principais
responsáveis pelo sucesso ou insucesso da gestão ambiental local (Zomers A. , 2003).
Ainda na sua pesquisa, (Zomers A. , 2003), 0 indica que a procura de lenha e/ou carvão
pelas zonas urbanas também tem um impacto sobre a deflorestação das zonas rurais mais
próxima.

Segundo Oliveira (2000), os meios energéticos rurais são principalmente constituídos por
combustíveis tradicionais como a lenha, madeira, carvão, e certos resíduos agrícolas. As
suas utilizações são em muitos casos ineficientes, trazem grande desperdício dos recursos
naturais e provocam consequências indesejáveis a saúde humana através de libertação de
fumos que se concentram no interior das casas após o uso para a cozinha e bem como para
iluminação. Analisando os fundamentos acima expostos, podemos concluir que a
substituição das fontes primitivas de energia, a par duma utilização mais eficiente das
mesmas, pode ser benéfica para o meio ambiente.

A substituição da lenha reduz a emissão de fumaça poluente, além de contribuir para a


preservação das árvores que processam o dióxido de carbono (CO2) contido na atmosfera.
Outro exemplo é o controlo do desflorestamento para obtenção da lenha que evita a erosão
do solo, a melhoria da sua qualidade e a desertificação resultantes da destruição das
florestas.

51
CAPÍTULO V – CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES

5. Conclusão
O presente trabalho baseia-se no estudo de caso sobre a electrificação rural em
Moçambique no e pretende responder as questões como “Até que ponto podem os sistemas
de mini-redes hidroeléctricas ser eficientes na melhoria da electrificação rural e na
satisfação das necessidades locais em termos de abastecimento energético? Será que vale a
pena apostar nas energias novas e renováveis como alternativas socioeconómicas na
electrificação de Moçambique? Qual o impacto da electrificação rural no combate à
desflorestação em Moçambique?

Como podemos observar o número de famílias com acesso a electricidade ainda é baixo
embora 99% dos distritos já têm redes eléctricas e fontes de energias instaladas ainda,
verifica-se que mais de 80% da população ainda não tem acesso energia eléctrica.

O governo Moçambicano deve optar pelas práticas de Benchmarking 3 aos países que
tiveram algum sucesso na implementação dos programas de electrificação rural de forma
descentralizada.

O elevado nível de pobreza acompanhada com as elevadas taxas de analfabetismo, é um


entrave para o desenvolvimento de projectos de electrificação das zonas rurais por parte de
privados que pretendem, naturalmente, o retorno do seu investimento. Nestes casos o
governo tem de assumir o risco e procurar subsidiar estes projectos.

De seguida, e de forma resumida, destacam-se algumas determinantes consideradas como


relevantes para os processos de electrificação rural em geral, e também aplicáveis no caso
de estudo.

Primeiro: Conclui-se que o problema da escassez do acesso a energia eléctrica é um desafio


estruturante, que aumenta foço do nível de desenvolvimento entre os PDs e PEDs, do nível
da pobreza e a sua disseminação é importante para o bem-estar social e para qualidade de

3
Benchmarking é um processo sistemático e contínuo de avaliação dos produtos, serviços e processos de
trabalho das organizações que são reconhecidas como representantes das melhores práticas com a finalidade
de comparar desempenhos e identificar oportunidades de melhoria na organização que está realizando (ou
monitorando) o benchmarking.

52
vida das pessoas. É uma realidade que afecta mais de 20% da população mundial,
localizadas nas zonas rurais, maioritariamente do Sul de Asia, da América Latina e de
África, concretamente da Africa Subsaariana. Haanyika (2006), citando a PNUD
(Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) (2000) e GNESD (Rede Global
par Energia e Desenvolvimento Sustentável) (2004), reforça esta evidência indicando que
mais de 2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a formas comercias de energia,
incluindo a energia eléctrica e cozinham usando combustíveis tradicionais. Cita ainda que
a falta de acesso à energia eléctrica afecta a maioria das áreas rurais nos Países
Desenvolvidos;

Segundo: Está provado que a electrificação traz benefícios junto das


comunidades rurais, da economia, institucionais e a nível ambiental. Evidenciam esta
realidade, Oliveria (2000) e Zomers (2001), indicando que os benefícios do impacto da
electrificação rural fazem-se sentir junto das comunidades rurais (elevando o nível das
populações locais), impulsiona a economia local (dinamizando o mercado de bens
relacionados com a electricidade), protege o ambiente (com a troca de uso de combustíveis
tradicionais com fogões elétricos) e traz benefícios institucionais (ajuda no combate aos
fluxos de migrações êxodo rurais e cria empregos).

Terceiro: A metodologia de Investigação baseada no Estudo de Caso permitiu-nos abordar


duma foram mais profundo o tema em questão. O carácter qualitativo desta metodologia
facilita a análise dos contextos sociais, empresariais, comportamentos e características. O
objectivo principal é analisar a potencialização da implementação das energias novas e
renováveis nas zonas rurais e se a aposta neste tipo de energias em Moçambique é uma
alternativa económica, social e ambientalmente sustentável.

Portanto, estudo de caso foi a alternativa escolhida para a análise e compreensão da situação
a estudar, ou seja, a análise qualitativa dos projetos de eletrificação rural em Moçambique.

Quarto: Considerando a analise SWOT, abordando concretamente os pontos fracos


concluímos também que um dos principais objectivos da electrificação rural é
fundamentalmente a luta contra a pobreza. Mesmo considerando que o objetivo primário
da electrificação das zonas rurais é a “iluminação”, indirectamente luta-se também contra

53
a pobreza e outros tipos de problemas sociais, económicos e ambientais que afectam as
comunidades rurais.

Quinto: Para acelerar e construir a electrificação rural de uma forma sustentável, as


soluções fora da rede e da mini-redes devem constituir partes do sistema de importante
nexo água-alimentar-energético. As aplicações locais bem-sucedidas de sistemas fora da
rede e mini-redes existentes baseiam-se numa combinação de fornecimento de energia,
abastecimento de água (saneamento seguro), e produção ou transformação de alimentos.

5.1.Recomendações
É importante para trabalhos futuros que se dinamize a indústria e o comércio das
tecnologias de energias novas e renováveis, incentivando as pequenas e medias empresas a
apostarem nesta actividade, e simultaneamente subsidiando-as e concedendo-as de forma
controlada incentivos fiscais.

Um passo importante é facilitar uma expansão da produção de energia hidroeléctrica em


Moçambique, aumentando a colaboração económica com os países vizinhos e aumentar a
capacidade de transmissão de electricidade dentro e entre os países.

É necessário seleccionar tipos de biomassa com elevado teor energético a incluir na lista
de prioridades da biomassa desperdício de energia. Exemplos dessa biomassa são as cascas
de cocos e outros resíduos agrícolas (uso da energia de biomassa na produção de energia e
gás).

Também para este, é importante que os futuros estudantes pesquisadores estudem os tipos
possíveis de energias com maior potencial energético para produzir electricidade local.

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