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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

CENTRO DE TECNOLOGIA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA

JOÃO VICTOR MALHEIROS TENÓRIO

IMPACTOS DA MICRO E MINIGERAÇÃO DISTRIBUÍDAS DE ENERGIA


ELÉTRICA NO BRASIL

TERESINA
2022
JOÃO VICTOR MALHEIROS TENÓRIO

IMPACTOS DA MICRO E MINIGERAÇÃO DISTRIBUÍDAS DE ENERGIA ELÉTRICA NO


BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do
Centro de Tecnologia da Universidade Federal
do Piauí, como requisito parcial à obtenção do
grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Orientador: Prof. Dr. Rafael Rocha Ma-


tias

TERESINA
2022
JOÃO VICTOR MALHEIROS TENÓRIO

IMPACTOS DA MICRO E MINIGERAÇÃO DISTRIBUÍDAS DE ENERGIA ELÉTRICA NO


BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Engenharia Elétrica do
Centro de Tecnologia da Universidade Federal
do Piauí, como requisito parcial à obtenção do
grau de bacharel em Engenharia Elétrica.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Rafael Rocha Matias (Orientador)


Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Prof. Dr. Xxxxxxx Xxxxxx Xxxxxxx


Universidade Federal do Piauí (UFPI)

Prof. Dr. Xxxxxxx Xxxxxx Xxxxxxx


À minha família, que sempre acreditou em mim
e me apoiou na busca dos meus sonhos. Mãe,
Pai, que um dia eu seja exemplo pra alguém
como vocês são para mim.
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. Rafael Rocha Matias, por me orientar nesse trabalho e por não desistir
de mim.
Ao aluno de graduação em Engenharia Civil e meu melhor amigo, Pedro Henrique
Santana Sousa, pela amizade e companheirismo desde antes mesmo da minha graduação. Junto
com ele, meus amigos Paulo, Gabriel, Otávio Augusto, Iarhel, Celso, Renan, Pedro Celso e
Pedro Vitor, que me lembraram que existe mais na vida que apenas estudar e trabalhar.
A minha melhor amiga e namorada, Danielle Borges Xavier. Por estar comigo em
todos os momentos, e me acompanhar na busca dos meus sonhos.
Aos amigos de sala, Abraão, Atos, Brendon, Julyana, Lucas, Luiz Matheus, Maxwell,
Paulo César, Rhúlio, Sergio, Wanderson, Washington e demais integrantes da turma de 2015.1,
que dividiram alegria, raiva, tristeza, sucessos e fracassos comigo desde o primeiro dia de aula.
Aos amigos Felipe, Felipe, Jean, João Victor, Vitor, Aurysllan, Breno e demais
integrantes da RINHA.
Aos meus pais, João e Maria, que sempre me incentivaram na busca de conhecimento
e em toda minha trajetória acadêmica, e ao meu irmão, Vinicius. Se sou hoje quem sou, é graças
a vocês.
Agradeço a todos os professores do curso de Engenharia Elétrica, que me forneceram
conhecimento, habilidades e experiências diversas durante esses anos. Agradeço também aos
professores Dra. Simone Hoefel, Dra. Mayra Carvalho, Dr. Jean Prost e Dra. Sandra Saraiva e
também a meus colegas de trabalho Rodrigo, Daniel, Lucas S., Lucas L., Andrei, Alexandre,
Vinicius, Pedro, Pâmela, Paola, Pauline, Hugo, Adolfo, Sabrina, Analia e Ivan. Todos vocês
fazem parte do profissional que me tornei.
E à Universidade Federal do Piauí, por me receber durante todos esses anos e me
tornar, acima de tudo, uma pessoa melhor.
“Ninguém pode saber fazer tudo sem primeiro
aprender.”
(Takehiko Inoue)
RESUMO

O presente trabalho é uma revisão integrativa que possui como tema os impactos da micro e
minigeração no sistema elétrico brasileiro. Onde o objetivo é explicitar os impactos da alta micro
e minigeração distribuída fotovoltaica no cenário brasileiro atual e futuro. Foram analisados
diferentes trabalhos sobre impactos da geração distribuída, e dados sobre a geração distribuída
no Brasil. Também são analisadas as legislações vigentes e dados sobre geração distribuída e
como elas afetam o cenário brasileiro atual e futuro. Com essas análises, foi possível encontrar
os impactos mais importantes da presença de geração distribuída fotovoltaica e a presença deles
no cenário atual e futuro do brasil, além de sugestões sugeridas.

Palavras-chave: Microgeração. Minigeração. Geração Distribuída. Energia Fotovoltaica.


ABSTRACT

The present work is an integrative review which theme is the impacts of micro and mini-
generation in the Brazilian power system. Where the objective is to make an analysis of the
Brazilian scenario of micro and minigeneration and the relevance in it of the impacts of distributed
photovoltaic generation in different studies. During the work fundamental concepts are explained
for the understanding of the same. Current legislation and data on distributed generation are also
analyzed, and how this affects the Brazilian scenario in the present and in the future, along with
a bibliographic review of relevant works on the subject. With these analyses, it was possible
to describe the most common impacts associated with the presence of distributed generation
and their presence in the current and future scenario in Brazil, in addition to citing suggested
solutions.

Keywords: Microgeneration. Minigeneration. Distributed Generation. Photovoltaic Energy


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Exemplo de um Diagrama Unifilar do Sistema Elétrico de Potência . . . . . 15


Figura 2 – Exemplo de um Sistema Radial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Figura 3 – Exemplo de um Sistema em Anel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
Figura 4 – Quantidade de empreendimentos de microgeração distribuída no Brasil . . . 26
Figura 5 – Quantidade de empreendimentos de minigeração distribuída no Brasil . . . 27
Figura 6 – Dados da EPE sobre geração distribuída de energia fotovoltaica no Brasil . . 27
Figura 7 – Divisão de empreendimentos de geração distribuída no Brasil entre micro e
minigeração (quantidade) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 8 – Potência instalada de Micro e Minigeração no Brasil pela data da última
atualização cadastral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 9 – Quantidade de empreendimentos de microgeração distribuída no Piauí . . . 29
Figura 10 – Quantidade de empreendimentos de minigeração distribuída no Piauí . . . . 30
Figura 11 – Dados da EPE sobre geração distribuída de energia fotovoltaica no Piauí . . 30
Figura 12 – Divisão dos empreendimentos de geração distribuída no Piauí entre micro e
minigeração (quantidade) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 13 – Potência instalada de Micro e Minigeração no Piauí pela data da última
atualização cadastral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
Figura 14 – Dados da EPE sobre minigeração distribuída de energia fotovoltaica no Piauí 33
Figura 15 – Dados da EPE sobre minigeração distribuída de energia fotovoltaica no Brasil 33
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados Potência Instalada Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29


Tabela 2 – Dados Potência Instalada Piauí . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
Tabela 3 – Artigos relevantes com os descritores Impacts AND microgeneration AND
photovoltaic . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Tabela 4 – Artigos relevantes com os descritores Impacts AND distributed generation
AND photovoltaic . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica


BT Baixa Tensão
CNPJ Cadastro de Pessoa Jurídica
CPF Cadastro de Pessoa Física
EPE Empresa de Pesquisa Energética
GD Geração Distribuída
IEEE Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos
microF Microgeração Fotovoltaica
MT Média Tensão
RN Resolução Normativa
UC Unidade Consumidora
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.1 Revisão integrativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.2 Energia Fotovoltaica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.3 Transmissão e distribuição de Energia Elétrica . . . . . . . . . . . . . . 15
2.3.1 Sistema radial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3.2 Sistema em Anel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.4 ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.5 SIN - Sistema Nacional Interligado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.6 Qualidade de energia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.6.1 Oscilação de tensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.6.2 Oscilação de frequência na geração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.6.3 Harmônicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.6.4 Fluxo reverso de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.6.5 Confiabilidade de um sistema de distribuição energia elétrica . . . . . . . 19
2.6.6 Regime Transitório e Regime Permanente . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.7 Geração Distribuída . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.8 Penetração da Geração Distribuída . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.9 Micro-redes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
3 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.1 Análise das Legislações ANEEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
3.2 Análise dos dados de geração distribuída . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 Pesquisa Bibliográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4.1 Resultados das análises das legislações ANEEL . . . . . . . . . . . . . . 24
4.2 Evolução e características da geração distribuída brasileira . . . . . . . 26
4.2.1 Análise dos dados de geração distribuída no Brasil . . . . . . . . . . . . . 26
4.2.2 Análise dos dados de geração distribuída no Piauí . . . . . . . . . . . . . 29
4.2.3 Comparação entre micro e minigeração nos cenários piauiense e brasileiro 32
4.3 Impactos encontrados nos trabalhos revisados . . . . . . . . . . . . . . . 33
4.3.1 Primeira busca: Impactos, microgeração e fotovoltaico . . . . . . . . . . . 34
4.3.2 Segunda busca: Impactos, minigeração e fotovoltaico . . . . . . . . . . . 35
4.3.3 Terceira busca: Impactos, Geração Distribuída e fotovoltaico . . . . . . . 35
4.3.3.1 Impactos positivos encontrados na revisão bibliográfica . . . . . . . . . . . 40
4.3.3.2 Impactos negativos encontrados na revisão bibliográfica . . . . . . . . . . . 40
5 CONCLUSÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
13

1 INTRODUÇÃO

A Micro e Minigeração tem sido uma opção ao consumidor brasileiro desde 17 de


abril de 2012. A possibilidade de gerar sua própria energia elétrica foi introduzida na Resolução
Normativa ANEEL no 482/2012, alternativa que se torna cada vez mais popular.
As diversas possibilidades e facilidades de financiamento, os casos de sucesso e a
economia gerada são fatores que incentivam os consumidores a optar cada vez mais por esse
serviço. Já pelo lado da ANEEL, o baixo impacto ambiental, a redução no carregamento das
redes de transmissão, a minimização das perdas e a diversificação da matriz energética são
algumas das vantagens ocasionadas por essa febre.
A análise dos dados da Micro e Minigeração distribuídas de energia elétrica no Brasil
é necessária tanto para entender a transformação do setor energético brasileiro nos últimos 10
anos, como para vislumbrar o futuro dele. A geração distribuída representa a cada dia uma
parcela maior da matriz energética e em breve, será indispensável no planejamento e operação
do sistema energético brasileiro.
Almejamos nesse trabalho analisar dados técnicos sobre a micro e minigeração
distribuída nesse período. Afinal, a geração distribuída afeta diretamente fatores de potência,
custos de operação, fluxos de potência e outras métricas da geração e distribuição.
O objetivo desse trabalho é encontrar os impactos da micro e minigeração distribuídas
encontrados em artigos internacionais, e fazer uma análise sobre a relevância e presença desses
impactos no cenário brasileiro, baseado nos artigos pesquisados, em dados e na legislação vigente
sobre geração distribuída.
14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A seguir temos alguns conceitos fundamentais para melhor compreensão desse


trabalho.

2.1 Revisão integrativa

Revisão integrativa é um método que determina o conhecimento atual sobre uma


técnica que consiste em identificar, analisar e sintetizar resultados de estudos sobre o mesmo
assunto. Ela é composta de algumas etapas:
1. Elaboração da pergunta norteadora
2. Busca ou amostragem na literatura
3. Coleta de dados
4. Análise crítica dos estudos incluídos
5. Discussão dos resultados
6. Apresentação da revisão integrativa
A principal diferença da revisão integrativa é o uso de dados científicos incorporado
a revisão bibliográfica para a análise de resultados relacionados ao assunto/tema escolhido
(ERCOLE; MELO; ALCOFORADO, 2014).

2.2 Energia Fotovoltaica

Energia fotovoltaica é a energia elétrica produzida a partir de luz solar. Ela é


gerada pelo efeito fotovoltaico, a criação de uma corrente elétrica após a exposição do módulo
fotovoltaico.
A primeira vez que o efeito fotovoltaico foi demonstrado foi em 1839, pelo físico
francês Alexandre-Edmond Becquerel. Entretanto, apenas em 1883 surgiu o primeiro painel
solar, inventado por Charles Fritts. Já em 1954, a companhia americana bell labs apresentou
a célula fotovoltaica moderna, que com o passar dos anos tem sido modernizada, barateada e
popularizada.(NEOSOLAR, 2022)
Os sistemas fotovoltaicos atuais são atualmente classificados em On e Off-Grid, ou
seja, conectados ou não a rede de distribuição. Um sistema Off-Grid é um sistema isolado, que
gera energia para consumo naquele local, enquanto um sistema On-Grid está conectado a rede
de distribuição.(NEOSOLAR, 2022)
15

A energia fotovoltaica tem se popularizado intensivamente tanto por ser uma energia
que gera menos impactos ambientais do que outras formas de geração, como por ser um investi-
mento que gera economia ao consumidor. "Diminuir a conta luz"tem se tornado popular entre os
brasileiros: a instalação de sistemas de geração fotovoltaicos que compensa ou parcialmente o
consumo daquela unidade consumidora.

2.3 Transmissão e distribuição de Energia Elétrica

Os sistemas elétricos de potência são subdividos em três partes: Geração, Transmis-


são e Distribuição.(UNESP, 2022)
A Transmissão é uma parte do sistema elétrico responsável pelo transporte da energia
elétrica dos grandes centros de produção aos de consumo.
Já a Distribuição, por sua vez, é o bloco responsável por distribuir a energia elétrica
recebida do sistema de transmissão aos consumidores, sejam eles de grande, médio e pequeno
porte.

Figura 1 – Exemplo de um Diagrama Unifilar do Sistema Elétrico de Potência

Fonte – Unesp (2022)

Redes de distribuição podem ter várias configurações, de acordo com sua geração,
transmissão e distribuição. Essas configurações são definidas com base no fluxo da energia
(geração para a carga) nas redes, e a mais comum no sistema elétrico brasileiro é o sistema radial.
16

2.3.1 Sistema radial

Em um sistema radial, a alimentação é feita em apenas uma extremidade do sistema.


Esse tipo de sistema pode ser comparado a uma árvore, no qual o recurso vem da base e vai
sendo distribuído pelos galhos.
Esse tipo de sistema possui baixo custo e é mais simples. Entretanto, no caso de
falhas, tudo além do ponto de falha é desligado até a mesma ser solucionada.
Abaixo vemos um exemplo de um sistema radial. Nele a energia flui da subestação
pelos ramos até as cargas (representadas como setas).

Figura 2 – Exemplo de um Sistema Radial

Fonte – Unesp (2022)

2.3.2 Sistema em Anel

Já nos sistemas em anel, a alimentação possui mais de um caminho até a carga. No


caso da falta por uma caminho, o outro pode assumir, e vice-versa.
Esse tipo de sistema é mais caro: requer elementos mais robustos, preparados para
possíveis mudanças no direcionamento da energia e análises mais complexas, com mais casos
a serem considerados, que geram custo computacional maior. Mas, devido a sua configuração,
faltas completas de energia são mais difíceis.
Abaixo vemos um exemplo de sistema em anel. Como existe mais de um caminho
da fonte até a carga, no caso de uma falha não existe a interrupção do fornecimento de energia.
Redes com grande quantidade de sistemas de geração distribuída possuem um
17

Figura 3 – Exemplo de um Sistema em Anel

Fonte – Unesp (2022)

comportamento similar ao de um sistema em anel. Devido a presença de mais de um gerador na


rede, o fornecimento de energia não é interrompido por uma falha na rede de transmissão. Tais
redes também precisam de elementos mais robustos e análises mais complexas.

2.4 ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é o órgão responsável pela coor-


denação e controle da operação das instalações de geração e transmissão de energia elétrica
no Sistema Interligado Nacional (SIN) e pelo planejamento da operação dos sistemas isolados
do país, sob a fiscalização e regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) (ONS,
2022a).
Criado em 1998, ele é composto por empresas de geração, transmissão, distribuição,
consumidores livres, importadores e exportadores de energia, elém do Ministério de Minas e
Energia dos representantes dos Conselhos de Consumidores.

2.5 SIN - Sistema Nacional Interligado

O sistema de produção e transmissão de energia elétrica do Brasil é um sistema


hidro-termo-eólico de grande porte, com predominância de usinas hidrelétricas e com múlti-
plos proprietários. O Sistema Interligado Nacional é constituído por quatro subsistemas: Sul,
Sudeste/Centro-Oeste, Nordeste e a maior parte da região Norte (ONS, 2022b).
A interconexão desses subsistemas permite a transferência de energia entre os
mesmos, distribuindo os recursos de geração e transmissão.
O SIN é composto principalmente por usinas hidrelétricas. Entretanto, com o
aumento da geração por fontes renováveis, usinas eólicas e solares apresentam cada vez maior
18

participação na matriz energética nacional.

2.6 Qualidade de energia

A qualidade de energia elétrica está relacionada com o funcionamento adequado de


um circuito sem falhas, oscilações (de tensão, frequência, corrente), ruídos e/ou interferência
eletromagnética, ou qualquer outro fenômeno que possa atrapalhar o fornecimento de energia ou
causar danos aos elementos daquele circuito/sistema.
Em estudos, esse conceito depende bastante da análise do circuito/sistema apre-
sentado, podendo ser relacionado com o fenômeno analisado/medido: a tensão, a potência, a
frequência, etc.
Alguns fenômenos que afetam a qualidade de energia e são importantes para este
trabalho são discutidos a seguir.

2.6.1 Oscilação de tensão

A oscilação de tensão diz respeito a variação no valor da tensão. Valores de tensão


acima da tensão nominal caracterizam a sobretensão. Valores abaixo, a subtensão.
A oscilação de tensão é um problema em sistemas de energia elétrica. Tanto a sub
como a sobretensão são prejudiciais para os elementos presentes no sistemas, visto que os coloca
para operar fora dos parâmetros de tensão esperados.
Tais fenômenos podem causar desde avarias no sistema até acidentes como incêndios.

2.6.2 Oscilação de frequência na geração

A oscilação de frequência na geração diz respeito a variação no valor da frequência


da tensão gerada. Assim como a oscilação no valor da tensão, oscilações na frequência também
são prejudiciais aos elementos presentes no sistema.
Mudanças na frequência acarretam mudanças no comportamento e resposta dos
elementos de circuitos elétricos. Tais mudanças podem causar desde avarias no sistema até falhas
e acidentes, e são tão graves quanto as oscilações no valor da tensão.
19

2.6.3 Harmônicos

Harmônicos são componentes de uma onda periódica cuja frequência é um múltiplo


inteiro da frequência fundamental (PAULILO; TEIXEIRA, 2013).
A presença de harmônicos é indesejada em sistemas de energia elétrica. Essas
ondas indesejadas geram respostas indesejadas em componentes sensíveis a frequência, como
capacitores e indutores, além de alterar a frequência e o valor de tensão da onda.

2.6.4 Fluxo reverso de potência

O fluxo reverso de potência ocorre quando a potência flui no sentido contrário ao


esperado em um sistema de energia elétrica.
Sistemas com mais de um caminho entre a geração e a carga podem sofrer mudanças
repentinas no sentido da potência durante falhas. Isso é um risco: tanto para trabalhadores do
sistema, que numa situação de solução de falhas, necessitam se preocupar com alimentação
proveniente tanto da carga como da geração; como para os equipamentos do sistema, que, se não
robustos os suficiente, podem ser avariados.

2.6.5 Confiabilidade de um sistema de distribuição energia elétrica

Confiabilidade é a capacidade de um dispositivo desempenhar seu propósito durante


o período de tempo desejado, sob as condições operativas encontradas (PUC-RIO, 2022).
Em sistemas de distribuição, confiabilidade está ligada a capacidade daquele sistema
fornecer energia elétrica com qualidade e de forma ininterrupta. Um sistema de distribuição não
é confiável se existem faltas frequentes no mesmo, tampouco se a energia possui oscilações de
tensão que podem vir a danificar os elementos do mesmo.

2.6.6 Regime Transitório e Regime Permanente

A resposta de qualquer sistema, quando fornecida uma variação na entrada, pode ser
dividida em duas partes:
• Uma delas acontece enquanto a saída apresenta variações até chegar a um valor fixo.
Podemos dizer que durante esse período, o sistema reage a nova entrada;
• A outra é uma resposta fixa, estável, que se mantém até que exista uma nova variação;
A primeira parte é o que chamamos de regime transitório. Em sistemas elétricos,
20

variações nas entradas são variações nos parâmetros do circuito, e estes podem ocasionar
oscilações nos valores de corrente e tensão que podem gerar problemas nos elementos presentes
naquele circuito.
Por isso, a análise de regimes transitórios em circuitos elétricos é crucial.
Já a segunda parte da resposta é o que chamamos de regime permanente, e apre-
senta as condições normais do funcionamento daquele circuito. Limitações também devem ser
analisadas, visto que na maior parte do tempo, aquele vai ser o funcionamento do sistema.

2.7 Geração Distribuída

Geração Distribuída (GD) é uma expressão usada para designar a geração elétrica
realizada junto ou próxima do(s) consumidor(es)independente da potência, tecnologia e fonte de
energia.(INEE, 2022).
Exemplos de geração distribuída são os sistemas residenciais, comerciais, industriais
e rurais de geração fotovoltaica e eólica. São sistemas extremamente próximos ao ponto de
consumo, entretando, a energia gerada por eles é injetada diretamente na rede de distribuição.
De acordo com a potência instalada de geração, essa modalidade de geração pode
ser classificada em vários portes, comoa micro e minigeração.

2.8 Penetração da Geração Distribuída

O conceito de penetração da geração distribuída pode ser definida como a razão entre
a soma da potência instalada nos sistemas de geração e o total da potência de geração presente
no sistema a ser analizado (STECANELLA et al., 2020).
Em uma rede de distribuição, seria a razão entre o fornecido pelos estabelecimentos
de geração distribuída e a soma entre o fornecido por estes e pela distribuidora.

2.9 Micro-redes

Micro-redes são um conjunto de cargas e micro-fontes operando como um único


sistema controlável que fornece energia e calor para a área local (LASSETER, 2002).
Com micro-redes, os parâmetros de geração distribuída podem ser controlados para
otimizar a qualidade na rede de distribuição. Isso é uma maneira muito abordada na literatura
para amenizar alguns dos impactos da alta penetração de geração distribuída na tensão.
21

3 METODOLOGIA

O presente estudo tratou-se de uma revisão integrativa de literatura, com abordagem


qualitativa. Foram pesquisados artigos que abordassem o objetivo de redigir sobre impactos da
micro e minigeração distribuídas de energia fotovoltaica, principalmente nas redes de distribuição
de baixa e média tensão.
O levantamento bibliográfico para seleção dos trabalhos foi realizado no período de
julho a setembro, por meio da consulta na base do IEEE (Instituto de Engenheiros Eletricistas
e Eletrônicos) Xplore Digital Library. Além disso, também foram consultadas legislações da
ANEEL referentes a geração distribuída, e analizados dados fornecidos pela mesma e pela EPE
sobre empreendimentos de geração distribuída no Brasil.
Para os trabalhos selecionados, utilizaram-se como critério de inclusão os estudos
que tinham entre seus descritores:
• geração distribuída de energia elétrica
• microgeração
• minigeração
• impactos
delimitados pela data de publicação entre os anos 2012 (ano do início da geração distribuída no
Brasil) a 2022, nos idiomas inglês e português.
Como critério de exclusão, preferiu-se por não utilizar artigos que não correspondiam
ao objeto de estudo, textos que se encontravam incompletos, que não forneciam informações
suficientes para a temática, artigos que não estivessem disponíveis na íntegra online e aqueles
que não possuíam os descritores determinados pelos pesquisadores.

3.1 Análise das Legislações ANEEL

Para compreender melhor a posição governamental brasileira quanto a geração


distribuída, as seguintes resoluções da ANEEL foram lidas:
• RESOLUÇÃO NORMATIVA No 482, DE 17 DE ABRIL DE 2012
• RESOLUÇÃO NORMATIVA No 517, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2012
• RESOLUÇÃO NORMATIVA No 687, DE 24 DE NOVEMBRO DE 2015
• RESOLUÇÃO NORMATIVA No 786, DE 17 DE OUTUBRO DE 2017
• RESOLUÇÃO NORMATIVA ANEEL No 1.000, DE 7 DE DEZEMBRO DE 2021
22

• ANEXO III DA RESOLUÇÃO NORMATIVA ANEEL No 956, DE 7 DE DEZEMBRO


DE 2021
Tais legislações são necessárias para compreensão dos conceitos de micro e minige-
ração no Brasil, além dos direitos e deveres dos participantes dessa forma de geração.
Serão analisados os impactos resultantes destas leis no aumento da penetração de
geração distribuída no Brasil.

3.2 Análise dos dados de geração distribuída

Na etapa seguinte, dados disponibilizados pela ANEEL e pela EPE foram baixados,
organizados e analisados com o objetivo de compreender e apresentar melhor o panorama
da mesma nos últimos 10 anos. Tais dados foram organizados em gráficos com intuito de
mostrar a evolução da geração distribuída no Brasil e no Piauí e da microgeração e minigeração
isoladamente. O critério para separação entre micro e minigeração foi o mesmo usado pela
ANEEL:
• Microgeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada
menor ou igual a 75 kW e que utilize cogeração qualificada (ANEEL, 2015)
• Minigeração distribuída: central geradora de energia elétrica, com potência instalada
superior a 75 kW e menor ou igual a 5MW e que utilize cogeração qualificada (ANEEL,
2017)
A comparação desses dados com as legislações analisadas anteriormente também será
realizada, afim de ver as consequências de cada legislação no número de unidades consumidoras
de geração distribuída, entre outros dados.

3.3 Pesquisa Bibliográfica

A pesquisa bibliográfica foi realizada na plataforma de busca escolhida, utilizando


as seguintes combinações:
• impacts AND microgeneration AND photovoltaic
• impacts AND minigeneration AND photovoltaic
• impacts AND distributed generation AND photovoltaic
A seguir, por meio de análise dos resumos dos artigos encontrados, os trabalhos
mais relevantes que tratavam sobre impactos, mitigação de impactos e estudo dos mesmos foram
23

separados para discussão e estudo mais profundo.


Os impactos descritos nos resultados da pesquisa foram organizados em duas classi-
ficações principais:
• Impactos Positivos: consequências positivas do uso da micro e minigeração distribuída
nas redes de distribuição que incetivem o mesmo;
• Impactos Negativos: consequências negativas do uso da micro e minigeração distribuída
em redes de distribuição de forma que não incentivem o mesmo;
Dentro dessas classificações, foram feitas análises comparando os impactos encon-
trados com o cenário da micro e Minigeração distribuída no Brasil e no Piauí. A probabilidade e
relevância de cada impacto no cenário brasileiro também é analisada. Também são discutidas
algumas propostas para mitigação desses impactos.
Por fim, a correlação da análise dos impactos causados das legilações, dos impac-
tos encontrados na literatura revisada e dos dados fornecidos pela EPE gerou as conclusões
apresentadas neste trabalho.
24

4 RESULTADOS

Os resultados foram divididos em três seções, de acordo com o material base dos
mesmos.
Na primeira seção, tratamos dos resultados obtidos pela análise das resoluções
normativas da ANEEL. Estes nos fornecem informações sobre a relação entre os consumido-
res/geradores presentes nos portes de micro e minigeração distribuída e o sistema energético
brasileiro.
A segunda seção fala sobre a análise dos dados de geração distribuída, sobre a
evolução e características da mesma no Brasil.
A última seção fala sobre os impactos encontrados nos trabalhos revisados, classifi-
cados em impactos positivos ou negativos de acordo com o critérios estabelecidos previamente.
Além disso, nessa seção também são citados possíveis soluções para alguns impactos, de acordo
com o material revisado.

4.1 Resultados das análises das legislações ANEEL

As resoluções normativas da ANEEL possibilitaram aos cidadãos brasileiros o acesso


a micro e minigeração distribuída, e, com o passar dos anos, tem favorecido cada vez mais a
prática das mesmas, principalmente da minigeração.
As normas para geração distribuída foram introduzidas com a RN no 482 de abril de
2012, além do sistema de compensação de energia elétrica (artigo 2o , inciso 3):
"III - sistema de compensação de energia elétrica: sistema no qual a energia ativa
gerada por unidade consumidora com microgeração distribuída ou minigeração distribuída
compense o consumo de energia elétrica ativa."(ANEEL, 2012a)
Tal sistema é um enorme incentivo para a conexão dessas unidades geradoras a rede.
A geração compensaria o consumo de energia ativa, diminuindo os gastos com contas de energia
daquela unidade geradora. A microgeração, em especial, foi extremamente incentivada nessa
legislação.
Em seguida, a RN no 517 de 2012 trouxe alterações a regulamentação que continua-
ram favorecendo a geração distribuída:
• A mudança na definição do sistema de compensação de energia elétrica, que agora poderia
ser usado para abater unidades de um mesmo CPF ou CNPJ
25

• A energia ativa gerada se tornou um crédito que poderia ser usado em até 36 meses
• Algumas responsabilidades e custos passaram a ser da distribuidora de energia
Entretanto, a mesma também limitou o máximo de potência instalada de geração distribuída a
ser participante do sistema de compensação a ser igual a carga instalada.(ANEEL, 2012b)
A RN no 687 de novembro de 2015 seguiu favorecendo a GD, aumentando os limites
de minigeração (antes de 1MW para 3MW). Além disso, criou novos modelos de geração:
empreendimento de múltiplas unidades consumidoras, geração compartilhada e autoconsumo
remoto.(ANEEL, 2015)
Também aumentou a validade do crédito gerado de 36 para 60 meses, e definiu
faturas mais detalhas para os consumidores do sistema de compensação.
A RN no 786 de outubro de 2017 aumentou novamente os limites de minigeração,
desta vez para 5MW.(ANEEL, 2017)
Boa parte dessas políticas de incentivo ao uso da geração distribuída estão relaci-
onadas aos impactos positivos da geração distribuída no sistema de distribuição: diminuição
da carga nos transformadores de distribuição, principalmente. Em áreas urbanas, a variação de
tensão causada pela alta penetração de GF é menor, devido aos comprimentos menores das linhas
de distribuição, e a presença da GD nelas acaba aliviando os transformadores sobrecarregados
destas.
Por fim, RN no 1000 de dezembro de 2021 atualizou a regulamentação sobre direi-
tos e deveres do consumidor, e regulamentou melhor alguns trâmites e responsabilidades da
GD(ANEEL, 2021b). O anexo 3 do prodist fala sobre o Relatório Operacional necessário para
empreendimentos de GD e o contrato que envolve o consumidor e distribuidora(ANEEL, 2021a).
Ambos adicionam cláusulas regulamentadoras em cima da micro e minigeração dis-
tribuída, e trazem mais condições para a participação do consumidor no sistema de compensação.
Com o aumento exponencial dos empreendimentos, um controle mais minunscioso se tornou
necessário para garantir a saúde econômica do sistema energético brasileiro.
Alguns pontos interessantes da política utilizada pela ANEEL na GD são:
• A energia por geração distribuída não pode ser comercializada, tampouco pode ser usada
como moeda ou pagamento. Isso mantém os leilões e o comércio de energia inalterados
pela geração distribuída, mantendo o pilar principal do custo da energia elétrica.
• Os geradores não podem ser consumidores livres, o que os prende as taxas cobradas pelas
distribuidoras e pelas políticas públicas, sem possibilidade de negociação.
26

Além disso, na previsão dos impactos econômicos do aumento da GD publicada no


artigo de Lenzi Castro e Marco Aurelio, o aumento da geração distribuída incluindo as formas
de geração adicionadas na RN no 687/2015 é economicamente favorável ao governo. O cenário
mais lucrativo para o governo brasileiro cita ajustes nas taxas sobre a geração distribuída, algo
que talvez vejamos em breve (CASTRO, 2015).

4.2 Evolução e características da geração distribuída brasileira

Os dados fornecidos pela ANEEL e pela EPE sobre empreendimentos de geração


distribuída nos permite visualizar a evolução e a distribuição da geração distribuída tanto no
Brasil como no Piauí (ANEEL, 2022) (EPE, 2022).

4.2.1 Análise dos dados de geração distribuída no Brasil

Inicialmente, vamos analisar os números de empreendimentos de geração distribuída


no Brasil. A quantidade de empreendimentos está organizada pelas datas de alteração cadastral,
e é acumulativa nos anos seguintes. Para maioria dos empreendimentos dessa natureza, essa data
é alterada apenas na criação do registro da mesma.
É visível que o crescimento do número de empreendimentos de microgeração acom-
panha uma curva exponencial, como mostrado na Figura 4. A partir de 2016, esse número tem
quase duplicado anualmente.
Ele teve seu maior crescimento percentual de 2015 para 2016, um reflexo da RN
687/2015 e suas facilitações na geração distribuída.

Figura 4 – Quantidade de empreendimentos de microgeração distribuída no Brasil

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)


27

A minigeração começou um maior desenvolvimento após as alterações da RN


786/2017, como exibido na Figura 5. Nos dias atuais, ela corresponde a 10 % de toda a potência
instalada da GD brasileira, como pode ser visto na Tabela 1.

Figura 5 – Quantidade de empreendimentos de minigeração distribuída no Brasil

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

No gráfico exibido na Figura 6, podemos ver que a maior participação em potência


são dos estabelecimentos de geração distribuída de natureza comercial ou residencial.

Figura 6 – Dados da EPE sobre geração distribuída de energia fotovoltaica no Brasil

Fonte – Disponibilizado pela Epe (2022)

Isso é também um reflexo da maior parte dos empreendimentos de geração distribuída


brasileiros serem de microgeração, como mostrada na figura 7. São empreendimentos menores,
cujo objetivo é compensar a energia gasta por esses consumidores.
28

Figura 7 – Divisão de empreendimentos de geração distribuída no Brasil entre micro e minige-


ração (quantidade)

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

Também podemos ver na Figura 8 que a microgeração é responsável pela maior parte
da potência instalada, e o crescimento dessa potência com o passar dos anos.
Além disso, a geração na própria Unidade Consumidora (UC) ser a forma de modali-
dade de empreendimento mais popular também nos informa que a maioria desses consumidores
instala os sistemas em seu próprio endereço.
Com base nisso, temos um perfil do nosso consumidor principal da GD brasileira:
um microgerador, de sistema instalado em sua própria residência ou ponto comercial.

Figura 8 – Potência instalada de Micro e Minigeração no Brasil pela data da última atualização
cadastral

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)


29

Tabela 1 – Dados Potência Instalada Brasil

Ano Microgeração Minigeração

2012 64,22 kW 403 kW


2013 489,8 kW 1,370 MW
2014 2,108 MW 2,351 MW
2015 9,716 MW 4,024 MW
2016 49,776 MW 12,458 MW
2017 151,727 MW 34,278 MW
2018 477,945 MW 106,490 MW
2019 1,791 GW 343,671 MW
2020 4,022 GW 904,226 MW
2021 7,737 GW 1,478 GW
2022 11,480 GW 1,908 GW

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel


(2022)

4.2.2 Análise dos dados de geração distribuída no Piauí

Com os mesmos dados, também podemos entender melhor a situação do Piauí na


geração distribuída ao longo dos anos, a divisão entre micro e minigeração e a característica das
unidades consumidoras piauienses.
Podemos ver que, assim como no panorama brasileiro, o número de empreendimentos
tanto de micro como de minigeração também cresceu de forma exponencial.
Entretanto, como visto nas Figuras 9 e 10, o Piauí teve um aumento mais lento na
quantidade desses empreendimentos quando comparado ao ritmo brasileiro.

Figura 9 – Quantidade de empreendimentos de microgeração distribuída no Piauí

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

Os gráficos das Figuras 9 e 10 mostram que tanto a microgeração como a minigeração


só começaram a ficar mais populares após a implementação da RN 786/2017. No cenário
30

brasileiro, vemos o maior aumento percentual no salto entre os anos de 2015/2016, enquanto no
cenário piauiense vemos esse aumento acontecendo entre os anos 2018/2019.

Figura 10 – Quantidade de empreendimentos de minigeração distribuída no Piauí

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

Analisando o gráfico de participação de potência da Figura 11, percebemos que o


panorama piauiense é muito parecido com o panorama brasileiro: modalidade de empreendi-
mento principal sendo geração na própria UC, maioria de consumidores de natureza comercial e
residencial.

Figura 11 – Dados da EPE sobre geração distribuída de energia fotovoltaica no Piauí

Fonte – Disponibilizado pela Epe (2022)

Também podemos ver a predominância de empreendimentos de microgeração no


número total na Figura 12.
31

Figura 12 – Divisão dos empreendimentos de geração distribuída no Piauí entre micro e minige-
ração (quantidade)

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

Na figura 13 vemos a distribuição da potência instalada de geração distribuída entre


empreendimentos de micro e minigeração.
O número de empreendimentos aproximadamente 182 vezes menor que o número
de empreendimentos de microgeração, o que é próximo dessa mesma razão no cenário brasileiro,
que é de 189 (aproximadamente).
O cenário piauiense é bastante parecido com o cenário brasileiro. As semelhanças e
diferenças entre ambos serão mais detalhadas na próxima seção.

Figura 13 – Potência instalada de Micro e Minigeração no Piauí pela data da última atualização
cadastral

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)


32

Tabela 2 – Dados Potência Instalada Piauí

Ano Microgeração Minigeração

2012 3 kW 0 kW
2013 3 kW 0 kW
2014 3 kW 0 kW
2015 75 kW 0 kW
2016 2,060 MW 249,4 kW
2017 2,748 MW 337,4 kW
2018 6,895 MW 897,9 kW
2019 25,297 MW 7,714 MW
2020 72,427 MW 15,006 MW
2021 154,419 MW 28,147 MW
2022 222,806 MW 39,000 MW

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel


(2022)

4.2.3 Comparação entre micro e minigeração nos cenários piauiense e brasileiro

Podemos destacar algumas semelhanças e diferenças entre os cenários piauiense e


brasileiro com base nas nossas análises realizadas anteriormente.
Ambos cenários possuem consumidores comerciais e residenciais como predomi-
nância de participação em potência, assim como a maior quantidade dos empreendimentos de
geração distribuída ser empreendimentos de microgeração. Outra semelhança é o comportamento
exponencial do aumento da quantidade de UC.
Entretanto, o cenário piauiense tem algumas peculiaridades: a micro e minigeração se
popularizaram no Piauí apenas em 2018/2019, enquanto no Brasil isso aconteceu em 2015/2016.
As razões entre a potência instalada de microgeração e a potência instalada de
minigeração é parecida para ambos os cenários, sendo 5,71 no cenário piauiense e 6,01 no
cenário brasileiro. Entretanto, existem algumas diferenças entre a minigeração nos cenários.
Podemos ver uma diferença nas participações em potência as Figuras 14 e 15,
exibidas a seguir. Enquanto apenas uma pequena parte dos empreendimentos de minigeração é de
natureza rural no cenário brasileiro, uma fatia considerável do mesmo tipo de empreendimentos é
dessa natureza no cenário piauiense. Podemos ver isso comparando as Figuras 14 e 15, exibidas
a seguir.
33

Figura 14 – Dados da EPE sobre minigeração distribuída de energia fotovoltaica no Piauí

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

Figura 15 – Dados da EPE sobre minigeração distribuída de energia fotovoltaica no Brasil

Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

4.3 Impactos encontrados nos trabalhos revisados

Foram realizadas 3 buscas na IEEE Xplore Digital Library, com as combinações


descritas na metodologia. Após realizada a pesquisa, os resumos e as conclusões dos trabalhos
encontrados foram analisados para descobrir a adequação dos mesmos ao objetivo desse trabalho.
Os impactos encontrados nos trabalhos relevantes foram, por fim, classificados em
impactos positivos e negativos, e foram listados nas últimas seções desse capítulo.
34

4.3.1 Primeira busca: Impactos, microgeração e fotovoltaico

Na primeira busca foi utilizada a combinação de descritores Impacts AND micro-


generation AND photovoltaic. Esta retornou 17 resultados, dentre os quais 2, após as análises,
foram considerados relevantes.
Camilo, Almeida, Castro and Fernão Pires. falam sobre as mudanças na operação
nas redes de distribuição de baixa tensão. Essas mudanças são causadas principalmente pelo
crescimento da penetração de microF próximo aos consumidores.
O trabalho discute bastante sobre o o aumento da tensão, que, devido ao pico
de geração no horário de almoço, pode chegar a valores acima do máximo estipulado pelas
distribuidoras.
Tal problema o é agravado pelos harmônicos introduzidos por cargas não lineares, e
presentes em circuitos trifásicos não balanceados. Como solução, os autores defendem o uso de
algoritmos de fluxo de potência trifásicos (CAMILO et al., 2022).
O problema de aumento da tensão representa um risco tanto aos aparelhos do sistema
de distribuição quanto aos eletrodomésticos dos consumidores. A sobretensão pode causar
também avarias a condutores que podem gerar incêndios.
Gawlak, Anna também discorre sobre o mesmo problema da oscilação de tensão. O
pico de geração não coincide com o pico de demanda, e um possível controle sobre essa geração
possibilitaria a optimização da operação do sistema de forma que esse impacto fosse minimizado
(GAWLAK, 2017).
Problemas relacionados ao valor da tensão foram muito abordados por diversos
trabalhos analisados. A oscilação da tensão influencia diretamente na vida útil do sistema, como
já citado anteriormente.
Alguns artigos que não foram selecionados citavam sobre a integração de sistemas
de geração fotovoltaicos a sistemas de armazenamento de energia para mitigação dos impactos
na rede de distribuição. Por ser uma análise muito específica de um caso isolado, o estudo não
foi relevante para esse trabalho. Entretanto, é uma possível solução para o controle da injeção de
potência na rede de distribuição.
A Tabela 3 lista os artigos relevantes encontrados.
35

Tabela 3 – Artigos relevantes com os descritores Impacts AND microgeneration AND photovol-
taic

Título Autor Ano de Publicação


Multi-conductor Line Models
for Harmonic Load-flow Cal- Camilo, Fernando M. and Al-
culations in LV Networks with meida, M. E. and Castro, Rui 2022
High Penetration of PV Gene- and Fernão Pires, V.
ration
Impact of microgeneration in
a low-voltage network on the
Gawlak, Anna 2017
quality parameters of electri-
cal energy
Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)

4.3.2 Segunda busca: Impactos, minigeração e fotovoltaico

Na segunda busca foi utilizada a combinação de descritores Impacts AND minigene-


ration AND photovoltaic. Esta busca retornou apenas 2 resultados, dentre os quais nenhum era
relevante a esse projeto. Então nenhum trabalho dessa busca foi analisado a fundo.

4.3.3 Terceira busca: Impactos, Geração Distribuída e fotovoltaico

Por fim, na última busca foi utilizada a combinação de descritores Impacts AND
distributed generation AND photovoltaic. Esta foi a que retornou mais resultados. Inicialmente,
essa pesquisa trouxe 1580 trabalhos relacionados.
Esses trabalhos foram filtrados pelo tipo de publicação, e apenas aqueles publicados
em periódicos(jornais e revistas) foram analisados nesse trabalho. No final, foram analisados
resumos de 224 trabalhos, dentre os quais os 11 foram considerados relevantes.
Abaixo temos resumos dos trabalhos relevantes dessa busca, e os impactos encontra-
dos neles.
Stecanella, Vieira, Vasconcelos, Marcos V. Leite e Ferreira Filho estabelecem relação
entre o nível de penetração de geração distribuída fotovoltaica e a oscilação de tensão fora dos
níveis aceitáveis. Acima de 30 % de nível de penetração, as tensões de mais da metade dos
consumidores da rede de distribuição analisada aumentam no horário de pico.
Também são discutidas perdas técnicas, e como a geração distribuída as diminuiu
com níveis de penetração de até 50 % na rede de distribuição. Acima disso, porém, elas
aumentaram para um quarto dos consumidores, além de aumento nas demandas de pico (em
36

áreas residenciais) (STECANELLA et al., 2020).


Perdas são um problema constante em sistemas de potência. Elas estão diretamente
ligadas ao custo total da operação e a demanda de energia.
Kou, Phelps, Deverick, Brandis, McVey, Valdez, LaVigne, Reynolds, Diong e
VanSant apontam a presença de tensão no sentido contrário que é gerada nas UC com microF, e
defende que a rede de distribuição e seus equipamentos devem ser dimensionados prevendo esse
fenômeno (KOU et al., 2020).
Demazy, Alpcan e Mareels discorrem também sobre esse fluxo reverso de potência,
e como isso pode causar danos aos equipamentos dos consumidores, diminuição da qualidade de
potência e confiabilidade do sistema, tempo maior para restauração após faltas e riscos potenciais
para a segurança pública e dos trabalhadores envolvidos (DEMAZY; ALPCAN; MAREELS,
2020).
O fluxo reverso de potência em uma linha, demanda equipamentos mais robustos,
que são mais caros, e cuidados e análises mais complexas em um sistema. Isso também pede
mais cuidado em casos de manutenção da linha, visto que os trabalhadores tem preocupação de
alimentação tanto do lado da geração como da carga.
Blaabjerg, Yang, Yang e Wang discutem sobre o ilhamento acidental, causado
durante faltas de energia por parte da concessionária, principalmente em áreas urbanas com
grande penetração de GD (BLAABJERG et al., 2017).
Além disso, eles apontam a variabilidade da geração eólica e solar, dependentes de
fatores climáticos.
Entretanto, defendem que a presença de geração distribuída em uma rede pode
aumentar a resiliência da mesma, podendo operar tanto conectada como desconectada, se
preparada para isso. Além disso, as gerações distintas, tanto da concessionária como dos
consumidores, pode auxiliar a restaurar o sistema de distribuição após uma falha (BLAABJERG
et al., 2017).
Tonkoski, Turcotte e EL-Fouly falam sobre o fluxo reverso de potência e a influência
disso no aumento da tensão. Esse fenômeno é ainda maior em consumidores rurais, devido a
maior impedância nas linhas longas (TONKOSKI; TURCOTTE; EL-FOULY, 2012).
Algumas soluções foram sugeridas no estudo: controle da potência das UC, armaze-
namento da energia para uso futuro, uso de auto-transformadores/reguladores de tensão na linha,
entre outros (TONKOSKI; TURCOTTE; EL-FOULY, 2012).
37

Eftekharnejad, Vittal, Heydt, Keel, e Loehr citam novamente o problema do aumento


de tensão, relacionando ele ao nível de penetração da geração fotovoltaica e aos limites dos
componentes do sistema de transmissão. Outra consequência dessa alta penetração é a limitação
da avaliabilidade de potência reativa ao sistema, o que gera pertubações maiores nas tensões de
barramento durante os transientes.
No trabalho, os autores fizeram analises da alta penetração de geração fotovoltaica
influência em duas categorias de estabilidades:
• Estabilidade no regime permanente
• Estabilidade no estado transiente
Os resultados encontrados apontam diversos impactos, tanto positivos, como a
maior resiliência a faltas, e negativos, como perdas maiores e oscilações maiores de tensão
(EFTEKHARNEJAD et al., 2013).
O trabalho de Enslin, Johan H. R. cita diversos impactos relacionados a transmissão
em distribuição em sistemas com alta penetração. Neles, consumidores se tornam circuitos ativos
e injetam potência de volta no sistema de transmissão (ENSLIN, 2014).
Alguns dos impactos positivos são a diminuição da sobrecarga e liberação da capaci-
dade nos transformadores de distribuição e de subestações. Em um sistema bem planejado, a
qualidade da energia e a resiliência da rede também são melhoradas.
Já dentre os impactos negativos temos oscilação de tensão, harmônicos e variações
na frequência de operação (dependendo do meio de instalação) (ENSLIN, 2014).
Aziz and Ketjoy defendem que a GD fotovoltaica pode ser uma alternativa para a
evolução da rede. Um impacto positivo citado a influência do pico de geração na redução das
perdas de distribuição.
Porém, também falam de diversos problemas causados pela integração das mesmas
ao sistema: oscilação de tensão, harmonicos, perdas maiores, fases desbalanceadas, ilhamento,
flutuação de potência e variações de frequência.
Além disso, ele avalia impactos tanto na rede de média tensão como na rede de baixa
tensão. Para MT, o controle de tensão se torna difícil a partir de 20% de penetração na rede. Já
para BT, esse valor de penetração pode chegar ate 90%, em certas condições (AZIZ; KETJOY,
2017).
Parchure, Tyler, Peskin, Rahimi, Broadwater, e Dilek estabelecem regras e notas
sobre a oscilação da tensão causada pela penetração da geração fotovoltaica. Eles estabele-
38

cem relações entre o comprimento da linha, o tamanho da geração, o compartilhamento de


transformadores, entre outros (PARCHURE et al., 2016).
No estudo de Shirek, Greg J. e Lassiter, Brian A., o aumento da tensão nos picos de
geração são mais uma vez observados, junto com o fluxo reverso de potência no final da linha de
transmissão.
Também é observado como o aumento da GD mudou o método tradicional do
planejamento e operação do sistema, de sistemas exclusivamente em linha para sistemas que ora
podem operar em linha ora em anel (SHIREK; LASSITER, 2013).
Stetz, von Appen, Niedermeyer, Scheibner, Sikora, e Braun discussem sobre diversos
desafios e impactos da geração fotovoltaica ligada a redes de distribuição e transmissão.
Em linhas de comprimento longo, como em casos de UC rurais, existem casos de
oscilação de tensão mesmo em baixos níveis de penetração. As limitações da rede para esses
impactos podem ser mitigadas pela criação de novas subestações ou pelo uso de reguladores de
tensão.
O aumento da quantidade de sistemas fotovoltaicos acaba influenciando em custos
em reforços da rede (STETZ et al., 2015).
A GD tem um impacto direto na estrutura da rede e nos custos associados a ela, e
vem influenciando mudanças nas matrizes energéticas de diversos países, como na Alemanha,
Austrália e Brasil.
Podemos ver tanto impactos positivos quanto negativos na literatura, e na seção a
seguir apresentamos od impactos de todas as buscas, separados nas duas categorias, e comentados
considerando a realidade brasileira e piauiense apresentadas anteriormente.
A Tabela 4 lista os artigos relevantes encontrados.
39

Tabela 4 – Artigos relevantes com os descritores Impacts AND distributed generation AND
photovoltaic

Título Autor Ano de Publicação


Kou, Gefei and Phelps, Kevin
and Deverick, Jonathan and
Load Rejection Overvoltage Brandis, Roland and McVey,
of Utility-Scale Distributed Mark and Valdez, Ariel and 2020
Solar Generation LaVigne, Richard and Rey-
nolds, Aaron and Diong, Ma-
madou and VanSant, Philip
Statistical Analysis of Photo-
Stecanella, Priscilla A. Juá
voltaic Distributed Generation
and Vieira, Daniel and Vas-
Penetration Impacts on a Uti- 2020
concelos, Marcos V. Leite and
lity Containing Hundreds of
Ferreira Filho, Anésio De L.
Feeders
A Probabilistic Reverse Power
Demazy, Antonin and Alpcan,
Flows Scenario Analysis Fra- 2020
Tansu and Mareels, Iven
mework
Blaabjerg, Frede and Yang,
Distributed Power-Generation Yongheng and Yang,
2017
Systems and Protection Dongsheng and Wang,
Xiongfei
PV Penetration Limits in Low
Voltage Networks and Voltage Aziz, Tariq and Ketjoy, Nipon 2017
Variations
Parchure, Abhineet and Tyler,
Investigating PV Generation
Stephen J. and Peskin, Me-
Induced Voltage Volatility for
lissa A. and Rahimi, Kaveh 2016
Customers Sharing a Distribu-
and Broadwater, Robert P. and
tion Service Transformer
Dilek, Murat
Stetz, Thomas and von Appen,
Twilight of the Grids: The Im- Jan and Niedermeyer, Fabian
pact of Distributed Solar on and Scheibner, Gunter and Si- 2015
Germany?s Energy Transition kora, Roman and Braun, Mar-
tin
Integration of photovoltaic so-
lar power - the quest towards Enslin, Johan H. R. 2014
dispatchability
Eftekharnejad, Sara and Vit-
Impact of increased penetra-
tal, Vijay and Heydt, Gerald
tion of photovoltaic genera- 2013
Thomas and Keel, Brian and
tion on power systems
Loehr, Jeffrey
Photovoltaic Power Genera-
tion: Modeling Solar Plants’ Shirek, Greg J. and Lassiter,
2013
Load Levels and Their Effects Brian A.
on the Distribution System
Impact of High PV Penetra- Tonkoski, Reinaldo and Tur-
tion on Voltage Profiles in Re- cotte, Dave and EL-Fouly, Ta- 2012
sidential Neighborhoods rek H. M.
Fonte – Dados fornecidos pela Aneel (2022)
40

4.3.3.1 Impactos positivos encontrados na revisão bibliográfica

A literatura consultada citou os seguintes impactos positivos:

1. Aumentar a resiliência da rede a faltas (confiabilidade do sistema) (BLAABJERG et al.,


2017) (EFTEKHARNEJAD et al., 2013);
2. Aumento na qualidade de potência (ENSLIN, 2014);
3. Diminuição da sobrecargas em transformadores (ENSLIN, 2014);
4. Diminuição das perdas de distribuição durante pico de geração (AZIZ; KETJOY, 2017);
Destes, a diminuição das sobrecargas em transformadores e a diminuição das perdas
de distribuição durante o pico de geração são os mais relevantes e aplicáveis no cenário brasileiro.
O perfil do consumidor brasileiro é um microgerador com sistema instalado em
sua própria residência ou ponto comercial. As UC próximas entre si (característica de redes
urbanas) contribuem para a diminuição da sobrecarga nos transformadores de distribuição, e,
consequentemente, diminuem os gastos totais com manutenção da rede de distribuição.
Quanto a diminuição das perdas de distribuição, Aziz e Ketjoy citam que em áreas
quentes, o pico de demanda acaba acompanhando o pico de geração. Tal condição diminui as
oscilações de tensão e também as perdas na rede de distribuição, e é o caso da maior parte do
Brasil, principalmente as regiões norte e nordeste.
O cenário piauiense é o mesmo do brasileiro, então os mesmos impactos positivos
são mais relevantes.
Quanto aos demais impactos positivos, eles dependem principalmente de reforços
e melhorias na rede de distribuição e transmissão. Dado o tamanho do brasil e do SIN, essa
rede é muito extensa, e necessitaria de uma logística e de um investimento muito grande para tal
reforço. Outras abordagens, como a utilização de reguladores de tensão e auto-transformadores,
são mais viáveis economicamente.

4.3.3.2 Impactos negativos encontrados na revisão bibliográfica

A literatura consultada citou os seguintes impactos negativos:

1. Oscilação nos valores de tensão em regime permanente (CAMILO et al., 2022) (GAWLAK,
2017) (EFTEKHARNEJAD et al., 2013) (PARCHURE et al., 2016) (ENSLIN, 2014);
41

2. Ilhamento acidental - tensão e potência reversa injetados no sistema durante falha (KOU
et al., 2020) (DEMAZY; ALPCAN; MAREELS, 2020) (TONKOSKI; TURCOTTE; EL-
FOULY, 2012) (ENSLIN, 2014);
3. Tensões de barramento com maior oscilação sobre transientes (EFTEKHARNEJAD et al.,
2013);
4. Variações na frequência de geração (ENSLIN, 2014);
5. Desbalanceamento de fases (AZIZ; KETJOY, 2017);
6. Aumento de custos na manutenção e reforços das redes de transmissão e distribuição
(STETZ et al., 2015).
Considerando o crescimento exponencial do número de UC, a alta penetração de
energia fotovoltaica é uma realidade futura ao sistema de distribuição do nosso país. A predomi-
nância da microgeração comercial e residencial em nosso país mostra o quão forte é esse tipo de
geração distribuída nos centros urbanos, mais concentrados demograficamente.
No Piauí, existe também a grande presença de UC rurais, nas quais a oscilação da
tensão no final da linha é maior com níveis de alta penetração de GD.
Problemas como a oscilação nos valores de tensão, tanto em regime permanente como
transitório, e desbalanceamento de fases irão acontecer em redes urbanas com alta penetração de
geração distribuída.
A variação na frequência de geração pode causar danos em equipamentos sensíveis
a frequência presentes no sistema. Tanto esse impacto como a oscilação de tensão obrigam as
redes a usar equipamentos mais robustos e menos sensíveis a variações nos parâmetros de tensão.
Além disso, o ilhamento acidental pode causar danos tanto em equipamentos do
consumidor, na rede de distribuição e transmissão, e apresenta riscos para trabalhadores das
concessionárias.
Por fim, o aumento nos custos relacionados ao sistema transmissão e distribuição
de energia é economicamente insustentável. A legislação atual prevê que esses custos são de
responsabilidade apenas das concessionárias, e não do consumidor. Isso causará mudanças
na legislação de taxas, como já previsto por Lenzi Castro e Marco Aurelio em seu trabalho
(CASTRO, 2015)
42

5 CONCLUSÕES

A análise das legislações, dos dados obtidos e dos trabalhos revisados nos mostra que
tanto os impactos positivos como os negativos são mais presentes em sistemas de alta penetração
de geração distribuída, que é o cenário brasileiro atual e seguirá no futuro, principalmente nos
grandes centros urbanos.
A penetração de geração distribuída nas redes de distribuição irá aumentar com o
aumento do número de empreendimentos de geração distribuída. Os impactos explicitados nesse
trabalho, tanto positivos como negativos, serão consequências do aumento dessa penetração, e
serão cada vez mais relevantes tanto para as concessionárias como para os consumidores.
Os impactos negativos representam risco de avarias em elementos do sistema, em
eletrodomésticos dos consumidores, e até de acidentes (como incêndios por pontos de calor
causados pelas oscilações nos parâmetros da tensão). Além disso, eles geram custos adicionais
para a manutenção e gestão do sistema como um todo.
Devido as legislações vigentes, as melhorias e/ou reforços necessários para mitigação
dos impactos negativos são de total responsabilidade da distribuidora. Isso aumenta os custos do
sistema como um todo, e já é responsável pelo aumento de taxas atuais. Num futuro próximo
acarretará também em mudanças nas taxas e/ou na regulamentações.
Os impactos positivos são interessantes para o sistema de distribuição, principalmente
de grandes centros urbanos (onde, como citado anteriormente, eles serão mais presentes). A alta
densidade de consumidores gera sobrecarga nos transformadores da rede, e a alta penetração de
geração distribuída diminuirá essa sobrecarga.
As condições climáticas e geográficas das regiões brasileiras também influenciam
nesses sistemas: estados nordestinos como o Piauí e o Ceará, cujas condições climáticas são
favoráveis a geração fotovoltaica, são menos afetados por alguns desses problemas. Como o
clima possui baixo índice de chuvas, o pico de geração coincide com o pico de demanda, o que
diminui a necessidade de controle e optimização da geração distribuída nesses locais.
A irradiação solar constante proporciona uma geração estável e previsível, o que
atrai investimentos maiores na geração solar. Isso é refletido no grande número de UC rurais de
minigeração distribuída, empreendimentos de maior potência instalada.
Os impactos negativos podem ser mitigados e os impactos positivos podem ser
melhor extraídos com alterações nas redes de distribuição. Tais mudanças deixariam o sistema
mais robusto e preparado para os impactos causados pela alta penetração de GD.
43

Os estudos analisados nesse trabalho sugerem diversas alterações: uso de reguladores


de tensão, controle da energia ativa e reativa na geração distribuída, armazenamento de energia,
aumento do número de subestações, separação dos empreendimentos em micro-redes, etc.
O cenário brasileiro é extremamente favorável para a micro e minigeração distribuída,
e o aumento de empreendimentos dessa natureza (que já acontece e continuará acontecendo)
causa impactos no sistema brasileiro. Entretanto, sem alterações no sistema, os impactos
negativos são mais relevantes e presentes que os positivos.
44

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