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1.

Introdução

É o estudo dos processos biológicos e causas do desenvolvimento anormal e defeitos de


nascimento. Um teratógeno é qualquer agente (incluindo fatores ambientais) que causa um
anormal desenvolvimento pré-natal (O termo, terato-, vem da palavra grega que significa
monstro.). Um termo mais preciso para defeitos de nascimento é "malformação congênita".
Uma concepção equivocada comum sobre teratogenicidade é definir que um agente só é um
teratógeno se resultar em um distúrbio da morfogênese. Este é possivelmente um resultado, mas
existem muitos outros, incluindo a perda precoce da gestação, retardo do crescimento
intrauterino e prejuízo intelectual a longo prazo.

A investigação da teratogenicidade é extremamente limitada, por questões éticas não é


possível administrar a uma mulher grávida drogas com o propósito de avaliar a possível
anormalidade. Por conta disso outros métodos são utilizados, como a coleta de dados
retrospectivos (que não é tão eficiente por contar muitas vezes com informações incompletas
ou até mesmo equivocadas) coletados da paciente ou por meio de prontuários médicos.

1.1 - Exemplos de efeitos teratogênicos

 Morte do embrião levando a aborto precoce;


 Defeitos de morfogênese incluindo feições faciais características e anomalias
estruturais;
 Retardo de crescimento intrauterino e parto prematuro;
 Desenvolvimento cerebral anormal, resultando em microcefalia variável, distúrbios de
aprendizagem e/ou distúrbios comportamentais.

1.2 - Tempo de exposição

O período mais crítico e sensível para a organogênese é entre a quarta e a oitava semana
após a fecundação, embora a exposição até 12 semanas ou mais possa afetar o desenvolvimento
do sistema nervoso central, olhos, dentes e genitália externa. A exposição dentro de duas
semanas após a concepção tem como resultado a morte do embrião e aborto precoce ou a
sobrevida de um embrião normal devido à natureza totipotente das células (aquelas células que
são capazes de diferenciarem-se em todos os 216 tecidos que formam o corpo humano,
incluindo a placenta e anexos embrionários) neste estágio.

1.3 - Períodos críticos do desenvolvimento humano

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O embrião é propício a sofrer algum dano pelos agentes teratogênicos, dependendo do
estágio de desenvolvimento, os teratógenos podem causar limitações no desenvolvimento
mental tanto em período embrionário quanto fetal. O período mais crítico é quando a
diferenciação celular e a morfogênese estão em máxima atividade.
Para o desenvolvimento do encéfalo, o período crítico é de 3 a 16 semanas. No caso do
dente continua por longo tempo após o nascimento, portanto o desenvolvimento dos dentes
permanentes pode ser perturbados desde 18 semanas (pré-natal) até os 16 anos. O sistema
esquelético apresenta um período crítico de desenvolvimento prolongado.
Morte precoce e o aborto espontâneo do embrião podem ser causados, quando há
perturbações ambientais durante as duas primeiras semanas podendo interferir na clivagem do
zigoto e na implantação do blastocisto.
O desenvolvimento do embrião é mais facilmente perturbado pelos teratógenos quando os
tecidos e os órgãos estão se formando. Cada parte, tecido e órgão de um embrião apresentam
um período crítico durante o qual seu desenvolvimento pode ser perturbado. O tipo de defeito
congênito produzido depende de qual parte é afetado, tecidos e órgãos são mais suscetíveis no
momento da ação do teratógeno.
2. Agentes Infecciosos

2.1 - Rubéola (Sarampo alemão ou dos três dias)

Durante a gestação, o vírus da rubéola atravessa a membrana placentária, infectando o


embrião ou feto. No caso de infecção primária (primeiro trimestre da gestação) o risco geral de
infecção é de aproximadamente 20%. Catarata, glaucoma congênito, defeitos cardíacos e surdez
são características da rubéola congênita. Quanto mais precocemente ocorrer a infecção da
gestante, maior o perigo para o embrião ser mal formado.

2.2 –Citomegalovírus

Essa infecção parece ser fatal quando afeta o embrião, fazendo com que a maioria das
gestações termine em aborto espontâneo quando ocorre a infecção no primeiro trimestre da
gestação, em uma fase mais avançada da gestação a infecção pode resultar em anomalias fetais
graves. É a infecção viral mais comum do feto humano.

2.3 - Vírus do Herpes Simples

Quando a infecção ocorre no inicio da gestação a chance de aborto é triplicada, já a infecção


após a 20ª semana está associada a uma maior frequência de prematuridade, assim como de

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defeitos congênitos (microcefalia e retardo mental). Usualmente a infecção pelo vírus do
Herpes simples ocorre em um período muito tardio na gestação, com mais frequência durante
o parto.

2.4 - Varicela (catapora)

O vírus varicela-zoster é o responsável pela varicela e pela herpes-zoster. Há evidências de


que a infecção materna por varicela durante os quatro primeiros meses de gestação causa
defeitos congênitos graves como atrofia muscular e retardo mental. Há uma probabilidade de
20% de ocorrência dessas anomalias ou de outros defeitos quando ocorre a infecção durante o
período crítico do desenvolvimento.

2.5 - Vírus da imunodeficiência humana

O vírus da imunodeficiência humana é o retrovírus causador da síndrome da


imunodeficiência adquirida (AIDS). A infecção em gestantes pelo HIV está diretamente ligada
a problemas de saúde no feto, como por exemplo: a infecção do feto, parto prematuro, baixo
peso ao nascer, microcefalia e anomalias craniofaciais. A transmissão do vírus HIV pode
ocorrer durante a gravidez ou parto.

2.6 –Toxoplasmose

Toxoplasmose, ou “doença do gato”, como é popularmente conhecida, é uma doença


infecciosa, congênita ou adquirida, causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, encontrado
nas fezes dos gatos e outros felinos. Contudo, outros animais também podem hospedar o
parasita.
A infecção pode ocorrer de três maneiras:

 Ingestão de oocistos provenientes do solo, areia, latas de lixo contaminadas com fezes
de gatos infectados;
 Ingestão de carne crua e mal cozida infectada com cistos, especialmente carne de
porco e carneiro;
 Por intermédio de infecção transplacentária, ocorrendo em 40% dos fetos de mães que
adquiriram a infecção durante a gravidez.

No caso da infecção transplacentária, o protozoário penetra na membrana placentária,


infectando o feto e causando alterações destrutivas no encéfalo que resultam em retardo
mental e outros defeitos congênitos.

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2.7- SifilisCongenita

O Treponema pallidum, um micro-organismo espiralado causador da sífilis, atravessa a


membrana placentária entre a 9ª e 10ª semana de gestação. O feto pode ser infectado em
qualquer estágio desta doença ou em qualquer estágio da gravidez. As infecções maternas
secundárias - adquiridas antes da gravidez - raramente resultam em doença e anomalias fetais.
Se a mãe permanecer sem tratamento, ocorrem natimortos.

2.8– Zika vírus

Dado ao surto de infecções do vírus em 2015 no Brasil, surgiram diversos estudos a respeito
dos impactos desta infecção em gestantes, uma vez que casos de microcefalia começaram a ser
relacionados com o vírus. A transmissão do vírus da mãe para o feto se faz através da placenta.
A constatação referente à relação do vírus Zika com a microcefalia veio com a identificação do
vírus no líquido amniótico. A gravidade das alterações no feto são mais severas caso o mesmo
seja infectado pelo vírus no primeiro trimestre de gestação.

3. Teratogênese por compostos químicos ambientais

Nos últimos anos, a preocupação sobre a possível teratogenicidade de compostos químicos


do ambiente, da indústria e da agricultura, assim como dos poluentes e aditivos alimentares tem
aumentado.

3.1 - Mercúrio Orgânico

Quando uma gestante ingere altas quantidades de peixe contendo níveis anormais de
mercúrio orgânico, seu feto apresenta a forma fetal da doença de Minamata, apresentando
distúrbios neurológicos semelhantes aos da paralisia cerebral. Esse mercúrio é denominado
metilmercúrio, que é um teratógeno que causa atrofia do cérebro, espasticidade, convulsões e
retardo mental.

3.2 - Chumbo

A exposição ao chumbo durante a gravidez está relacionada a uma alta taxa de abortos,
anomalias no feto, RCIU e deficiências funcionais. Isso ocorre porque o chumbo tem a
capacidade de atravessar a membrana placentária e se aglomerar nos tecidos fetais.

3.3 – Bifenilas Policlorinadas

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Também chamadas de BPC, as bifenilaspoliclorinadas são compostos químicos
teratogênicos que causam restrição de crescimento intrauterino (RCIU) e despigmentação de
pele nas crianças que foram expostas às BPC ainda no útero. Esses compostos podem estar
presentes em peixes de águas contaminadas, sendo adquiridos pelas gestantes através da
alimentação.

4. Teratogênese por radiação

O retardo do crescimento físico e do desenvolvimento mental pode ser ocasionado pela


exposição do feto a altos níveis de radiação ionizantes que danificam as células embrionárias
lesando os cromossomos, causando até sua morte. Dependendo da dose e do estágio de
desenvolvimento embrionário em que a grávida foi exposta a radiação o risco de dano ao feto
pode ser maior ou menor.
Ainda não temos nenhum registro de alguma doença teratogênica causada no feto pelo uso
da radiação para fins diagnósticos, pois os exames de raio X em lugares distantes do útero não
produzem uma quantidade de miliards grande o bastante para ser teratogênica para o embrião.
Para a grávida 500 miliards é o máximo recomendado para qualquer parte do corpo.
Em altas doses a radiação ionizante pode causar uma variedade de anomalias no embrião,
desde defeitos de membros, fendas lábio-palatinas e até anormalidades do sistema nervoso
central A hipertermia materna também está relacionada com defeitos de fechamento do tubo
neural, microcefalia, micrognatia e fendas faciais.
5. Patologias

5.1 – Microcefalia

Nos primeiros anos de vida ocorre o processo de maturação do SNC, considerado crítico
para o desenvolvimento de habilidades motoras, cognitivas e sensoriais.
Após a criança ter o diagnóstico clínico estável inicia-se a intervenção para tratar as
deficiências primárias, tratar as secundárias e prevenir deformidades. A estimulação precoce
pode ser definida como um programa de acompanhamento de intervenção clínico-terapêutica
multiprofissional com bebês de alto risco e com crianças pequenas acometidas por patologias
orgânicas.
Atividades de estimulação sensorial tátil com objetos de diferentes cores, texturas e ruídos
são de fácil execução e aquisição pela família e são de suma importância para auxiliar no
desenvolvimento. A experiência de texturas diferenciadas nos pés, mãos, rosto com massinhas,

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geleias, farinhas, espumas de barbear, tinta, grama, terra e areia são importantes e diretamente
ligadas ao bom desenvolvimento neuropsicomotor precoce.

É necessário buscar o que mais se adapta as condições motoras do bebê, a estimulação das
funções motoras irá ocorrer através da abordagem proprioceptiva, visando proporcionar a
sensação de onde se localizam as partes do seu próprio corpo no espaço e também deve ser
trabalhado movimentos que favoreçam força muscular e adequação do tônus. Técnicas que
podem ser utilizadas: BOBATH, integração sensorial, estimulação sensorial de Rood.

5.2 – Toxoplasmose

A infecção materna com o parasita intracelular Toxoplasma gongii ocorre, usualmente,


por meio de uma das vias a seguir:

 Consumo de carne crua ou mal cozida (geralmente de porco ou de cordeiro contendo


cistos de Toxoplasma);
 Contado íntimo com animais domésticos infectados (usualmente gatos) ou com o solo.

O organismo T. gondii atravessa a membrana placentária e infecta o feto, causando


mudanças destrutivas no encéfalo que resultam em retardo mental e em outros defeitos
congênitos. As mães de crianças com defeitos congênitos frequentemente desconhecem serem
portadoras de toxoplasmose. Como os animais (gatos, cachorros, coelhos e outros animais
domésticos selvagens) podem estar infectados com este parasita, as mulheres grávidas devem
evitá-los. Além disso, o leite não pasteurizado deve ser evitado.

5.3 – Hemangioma*

Hemangiomas são neoplasias vasculares benignas comuns que ocorrem em 4% a 12%


dos lactentes. Eles variam de tumores pequenos e benignos a tumores fatais. O hemagioma
infantil (IH) pode aparecer ao nascer ou durante o primeiro ano de vida, e é caracterizado
pela rapidez inicial no crescimento seguido de regressão lenta e espontânea. A progressão
da IH é dividida em três fases:

• Fase proliferativa (do nascimento até 1 ano de idade): é notada como massas
celulares de endotélio sem arquitetura vascular definida.

• A fase involutiva (1–5 anos): é caracterizada vasos sanguíneos que se tornam mais
óbvios e ampliados.

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• A terceira fase (5 a 8 anos) é o ponto em que os vasos sanguíneos são substituídos por
resíduos fibrosados e canais de tamanho capilar.

O desenvolvimento de terapias definitivas requer um melhor entendimento da


manifestação do IH. No entanto, pouco são os conhecimentos sobre sua etiologia e
patogênese.

*Estudos recentes colocaram indicaram que o chumbo pode agir como um potencializador
no desenvolvimento de hemangiomas.

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