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A TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO JURÍDICA COMO PROCEDIMENTO DO

DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA DO DISCURSO

ALBUQUERQUE, Alex da Cruz (G/FACINAN)


SILVA, Daniele Alves da (G/FACINAN)
CAPUCI, Jussara Melo de Castro (G/FACINAN)
TURRA, Cláudia de Campos Dias (Professora Orientadora/FACINAN)

RESUMO:
Considerando que a atividade jurídica incide, essencialmente, em argumentar e que há pouco mais
de meio século, essa discussão renasce no mundo jurídico em consequência da crescente
modificação dos sistemas jurídicos positivistas para os denominados constitucionalismos, questiona-
se então qual o papel e a importância a ser exercido pela argumentação jurídica. Os profissionais do
direito sejam eles juízes, advogados, legisladores, hoje, precisam oferecer boas razões para as suas
decisões que devem ser justificadas diante a realidade e os valores sociais. Nessa nova sociedade
cheia de valores que se contradizem em virtude de conflitos de gerações é possível perceber a
dificuldade que qualquer cidadão possui em se expressar. Fato este comprovado pela busca
incessante pela Justiça, tanto em casos com menor importância, quanto em assuntos que poderiam
render um discurso grandioso. Entende-se que o Direito é a fundamentação da argumentação.
Argumentação esta que em seu uso corrente deve ter traços característicos, lógicos, claro, preciso,
conciso, harmônico e estético. Desta forma a teoria da argumentação jurídica se relaciona
diretamente com a teoria dos discursos, que visa acima de tudo demonstrar e questionar as várias
possibilidades e a validade de uma fundamentação racional. E esta racionalidade tem por obrigação
ser lógica, pois é esta lógica que tornará o discurso organizado, fazendo com que o uso da retórica
seja eficiente em busca do objetivo. Então far-se-á um estudo comparado dos termos
“Argumentação”; “Lógica” e “Retórica”, onde a junção destes itens trará uma ordem ao discurso.

Palavras–chave: Lógica. Argumentação. Retórica.

Sumário: 1. Introdução – 2. A importância da lógica – 3. A importância


da argumentação – 4. A importância da retórica – 5. Conclusão –
Referências.

Introdução

O presente artigo demonstrará que o discurso se utiliza da argumentação, da


lógica e da retórica como arma eficaz na busca de justiça. O discurso é um ato entre
homens e deve ser concebido como ação linguística. O homem não está, apenas,
no mundo, mas se orienta nele, pois achar-se inserido no mundo não significa
aceitar sem questionar. O fato é que o discurso está relativamente ligado ao desejo
e ao poder, nisto há um tabu, onde nem tudo que deseja-se dizer pode-se de fato
dizer, causando ao locutor uma certa inquietação. Inquietação esta transitória, sem
duração permanente, que só se afasta quando o discurso se exterioriza. Quanto ao
discurso dentro da justiça, o mesmo tem a função de fundamentar as normas
presentes no ordenamento jurídico, uma vez que a prática jurídica operacionaliza-se
e se fundamenta pelo uso da palavra verbal ou escrita. Para isso, em um primeiro
momento será feita uma análise geral e especifica sobre a lógica, a argumentação e
da retórica e posteriormente a junção das mesmas, como forma de exemplificar o
discurso jurídico, desenvolvendo seus conceitos e suas particularidades. Logo após,
serão apresentados os pontos positivos e negativos acerca da teoria.

A Importância da Lógica

A lógica é um ramo da filosofia que cuida das regras do pensamento, ou seja,


ciência que infere no estudo do raciocínio, desta forma, é o estudo que faz analogia
a outros estudos, por meio da dedução. Cabe lembrar que a etimologia da palavra
lógica em grego, logos significa pensamento, proposição, palavras ou razão. Alguns
autores utilizam os vocábulos “lógica” e “dialética” como sinônimos, todavia, cabe
observar que na etimologia há contradições. A dialética é o diálogo levado para o
terreno dos argumentos contrapostos (contestados, respondidos) que geram novas
ideias, novas argumentações, não se espera uma ordem, não há regras, dessa
forma, aceita-se a que vem fluindo junto com as ideias. A lógica é a ordenação de
nosso pensamento antes de emitir um argumento, pois como toda ciência tem
regras.

A lógica pode se dividir em duas maneiras; Lógica Formal e Lógica Filosófica.


A Lógica Formal preocupa-se, basicamente, com a estrutura do raciocínio. Ela
lida com a relação entre conceitos e fornece um meio de compor provas de
declarações. Na Lógica Formal os conceitos são rigorosamente definidos, e as
sentenças são transformadas em notações simbólicas precisas, compactas e não
ambíguas. Já a Lógica Filosófica não estuda problemas levantados por lógicas
particulares, mas problemas filosóficos gerais, que se situam na intersecção da
metafísica, da epistemologia e da lógica, ou seja, estuda o ser enquanto ser.
Esses são problemas centrais de grande abrangência, correspondendo à
disciplina medieval conhecida por “Lógica e Metafísica” e abrangendo uma parte dos
temas presentes na própria Metafísica, de Aristóteles: a identidade de objetos, a
natureza da necessidade, a natureza da verdade, o conhecimento, a priori, etc. De
maneira mais sintetizada a Lógica Formal codifica argumentos, destaca as
demonstrações de consistência e validade, e a Lógica Filosófica estuda os
problemas despontados e circunscritos na própria lógica, enquanto dialética.
Contudo para um raciocínio ser lógico é necessário atender a três princípios
que são: identidade, princípio do terceiro excluído e o princípio da não contradição.
Podemos defini-los da seguinte forma:

 O princípio da identidade: é a veracidade das ideias;

 O princípio da não contradição: afirma que nenhum pensamento pode


ser, ao mesmo tempo, verdadeiro e falso;

 O princípio do terceiro excluído: é a não contradição das idéias.

Assim a Lógica Jurídica é o estudo do emprego da lógica ao judiciário,


portanto, o que existe são estudos sobre a aplicação. A lógica do direito pode ser
interpretada como metodologia jurídica, isto tem sentido se for considerado uma
lógica especial de um meio do conhecimento jurídico, como em um estudo de um
processo, onde as inferências - válidas ou não - devem seguir uma mesma lógica e
servem para exemplificar se um raciocínio está correto ou errado, clareando assim o
caminho para finalização do processo. Destarte o bom senso é um recurso para o
discurso lógico jurídico, destacando pensamentos, definições e probabilidades.

O conceito de Direito, por seu turno, advém da diversidade existente na


própria Teoria Geral do Direito: se cruzarmos as múltiplas concepções
teóricas do Direito com as várias escolar do pensamento lógica, certamente
teríamos uma gama incomensurável de probabilidades, todas elas com
nexos suficientes de tensão e causalidade. (CARNEIRO 1997, p. 23)

Diante de tantas minúcias do discurso científico do Direito pode-se afirmar


que as peculiaridades do conceito jurídico dentro da lógica resumem-se a
argumentação, ao pensamento e ao raciocínio jurídico como fundamento

A Importância da Argumentação

A célebre frase de Antônio Suarez Abreu “Argumentar é a arte de convencer e


persuadir” exemplifica categoricamente a função do ato na convivência social,
alterando a imaginação efetiva que leve a um entendimento ou total ausência.
Etimologicamente, significa vencer junto como o outro (com + vencer) e não contra o
outro. Porém, dentro do Direito, essa definição se torna vaga, contudo argumentar é
administrar informações; analisar livremente, convencer o outro de determinada
coisa no plano das ideias, é dar elementos, fatos, premissas que aquela pessoa tem
razão.

No Direito não se faz nada sem explicação, pois não se formula um pedido a
um juiz sem que antes se explique o porquê, caso contrário o pedido fica sem
fundamentação coerente. Sem argumentação o Direito é inerte e inoperante. Antes
de mais nada, a teoria da argumentação jurídica justifica-se na viabilidade de um
discurso racional e lógico dentro da própria fundamentação jurídica; desta forma
CARNEIRO destaca que “o ato de argumentar, portanto, liga-se à ideia de
desenvolver raciocínios capazes de comprovar uma conclusão almejada, com o fim
de torná-la preferível em relação a sua adversária”. (CARNEIRO 1997, p 157)

Desta maneira, uma argumentação somente é possível mediante à várias


teorias discursivas já previamente desenvolvidas, havendo um mesclado entre
discurso e argumentação sem que um prejudique o campo semântico do outro. Na
esteira desta discussão, é importante mencionar que para compreender a
argumentação deve-se deixar o conceito binário de “certo x errado”, pois para o
direito não existe a tese de verdadeiro e falso, o que de fato existe é, no momento
da decisão uma tese é mais convincente que as demais.

Argumentar é acima de tudo saber dosar na medida certa o campo das


emoções e das ideias. Por isso, seria conveniente o locutor gastar mais tempo em
persuadir do que em convencer. A partir deste conceito, a lógica jurídica advém de
uma lógica argumentativa e por meios da retórica constrói o saber jurídico, a justiça,
a equidade, a razoabilidade e a aceitabilidade das decisões judiciais.

A Importância da Retórica

A retórica, a grosso modo, é a arte de bem falar, de dominar bem as palavras.


Sabe-se que só domina bem as palavras aquele que muito lê e que possui um
amplo vocabulário capaz de compreender e de fornecer respostas coerentes e
convincentes para aquele que escuta. Em sentido amplo, a retórica bebe na fonte da
poética, unindo-as, consistindo assim, na construção da arte da eloquência, isso em
qualquer tipo de discurso. Entretanto, esse sentido da retórica, a princípio não nos
interessa, mas sim a concepção mais estreita que aborda a retórica como "a
faculdade de ver teoricamente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar a
persuasão", segundo a definição aristotélica.

A retórica em si mesma é neutra, podendo ser bem ou mal usada. A única


forma de alertar para o potencial lesivo da retórica e desta maneira evitar que ela
cause algum dano às pessoas é levar ao conhecimento do maior número possível
de pessoas as técnicas argumentativas, e esperar que com isso sejam evitados os
efeitos nefastos que a retórica pode causar dentro de um discurso.

Nesse sentido, a retórica é uma modalidade discursiva geral, possível de ser


aplicada às mais variadas disciplinas - uma atividade em que predomina a forma,
como a gramática e a dialética, e não o conteúdo. Todavia, a retórica se reconhece
nas mais diversas formas discursivas que foram surgindo com a complexidade das
relações e inter-relações humanas. Caem-se então na tão falada múltipla retórica,
que seria a retórica dos grupos que representam as massas, o poder, o governo e o
contra-governo, os meios de comunicação, o inconsciente, que se refere a
subjetividade do indivíduo. Sendo assim, é necessário para que haja um bom
emprego da retórica, em primeiro lugar, que se conheça o público a que se designa
a mensagem, este é um fator fundamental do discurso. Cada grupo acima citado
possui suas filosofias e características, à medida que se analisa o discurso desses
grupos percebe-se a necessidade de uma boa fundamentação para tornar o texto
eficiente. Vencer a luta retórica, nada mais é do que obter resultados.

Dentro do campo jurídico o advogado ou qualquer um que esteja inserido no


meio forense deve possuir uma boa retórica, pois os mesmos são responsáveis
linguisticamente por se fazer entender perante os leitores de senso comum. Assim a
retórica jurídica entende-se por:

(...) sabedoria, virtude de saber sopesar os argumentos, confrontar opiniões


e decidir com equilíbrio no espaço dos juízos de valor das operações
lógicas, o que exige do aplicador do Direito o senso de oportunidade e de
justiça, o apelo ao senso comum de, simplesmente, ao bom senso.
(CARNEIRO 1997, pp. 104 e 105)

De forma resumida a retórica pode se caracterizada fundamentalmente como


a arte da persuasão, principalmente quando diretamente atrelada à vertente jurídica.
No entanto mantém traços fortes nas questões filosóficas a ela relacionadas. Além
disso, a retórica como arte de persuasão acaba por culminar consubstancialmente
na teoria da argumentação.

Portanto, a arte da retórica não será apenas um instrumento para


convencimento, mas o termo racional pelo qual suficientemente precisa-se produzir
justiça e em cujo interior reside a ética.

Conclusão

Partindo das sábias palavras de Arquimedes de que “aquele que sabe falar
sabe também fazê-lo” pode-se concretizar que para uma aplicação da justiça
coerente é necessário que haja junção entre as três teorias aqui discutidas, lógica,
argumentação e retórica, levando em consideração todo o contexto jurídico,
podendo desenvolver lugares discursivos que influenciarão toda a sociedade e não
apenas o caso individual.

Enfim, a prática do discurso jurídico, por ser aplicada perante uma sociedade,
cujo conhecimento é proporcional ao conhecimento de seus interlocutores, pede
uma linguagem com certo status e de uma atividade linguageira, desenvolvida
através de particularidades técnicas, que se realiza no campo do conhecimento e do
saber de forma coerente e correspondente com seu discurso.

Referências

FOUCAULT, Michael. A origem do discurso. 16ª. Ed. São Paulo: Loyola, 2008.

FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Direito, retórica e comunicação: subsídios para


uma pragmática do discurso jurídico. 2. Ed. São Paulo: Saraiva, 1997.

CARNEIRO, M. F.; SEVERO, F. G.; ÉLE, K. Teoria e prática da argumentação


jurídica – lógica – retórica. Curitiba: Juruá, 1999.

Disponível acesso em: http://jusvi.com/artigos/37101

Disponível acesso em: http:// www .puc - rio.br/ sobrepuc/ depto/ direito/ pet_jur/
c1gpache.html

Disponível acesso em: http:// www.consciência.org/cursofilosofiajolivet2.shtml


FLEURY, Aidê Buzaid. Introdução à lógica jurídica: fundamentos filosóficos. São
Paulo: LTr, 2002

SUDATTI, Ariani Bueno. Raciocínio jurídico e nova retórica. São Paulo: Quartier
Latin, 2003.

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