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EA, NAS ESCOLAS E NAS UNIVERSIDADES

ISSN: 1887-2417
ISSN-e: 2386-4362
DOI: .

Ensino e aprendizagem da educação


ambiental: contribuições de disciplinas
na Universidade de São Paulo
Teaching and learning of environmental education:
contributions of subjects at the São Paulo University
Vivian Battaini, Marcos Sorrentino e Rachel Trovarelli. Universidade de São Paulo (Brasil)

Resumo
A partir de 1983, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, da Universidade
de São Paulo (ESALQ/USP), inicia-se um processo de desenvolvimento da área de
educação ambiental, que culmina com a criação, já nos anos 2000, de disciplinas
para graduações e pós-graduações. As disciplinas têm em comum a perspectiva de

cidadãs. Ancoradas em perspectivas teóricas relacionadas ao ambientalismo,


utopismo e educação emancipatória, desenvolvem duas técnicas destacadas no
presente artigo: Mínima/Máxima Intervenção Possível (MIP) e Diário de Bordo. A
pesquisa que fundamenta o presente artigo é qualitativa, utilizando a observação
participante, avaliações processuais e intervenções educadoras junto aos estudantes
das mencionadas disciplinas. Os resultados demonstraram-se positivos sob o ponto
de vista do envolvimento e participação, restando questionamentos sobre o real

protagonismo, autonomia e capacidade de articulação de conteúdos e ações nos


estudantes. O uso das técnicas citadas sugere favorecer o desenvolvimento de sujeitos
comprometidos com transformações de seu território e apresenta-se como proposta
de aprimoramento de processos de ensino aprendizagem na educação superior.
Astract
A process of development of the environmental education area began in 1983 at Escola
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, of Universidade de São Paulo (ESALQ/USP).
In the 2000s were creating subjects for graduation and post-graduation. The disciplines
have in common the perspective of students to carry out their own formation as
professionals and citizens. The theoretical perspectives are based to environmentalism,
utopianism and emancipatory education. They develop two techniques highlighted in
this article: Minimum / Maximum Possible Intervention (MIP) and Logbook. The research
that bases the present article is qualitative, using participant observation, procedural
evaluations and educative interventions with the students of the mentioned disciplines.
The results were positive from the point of view of involvement and participation,

the development of the protagonism, autonomy and capacity of articulation of contents


and actions in the students. The use of the mentioned techniques suggests in favor the
development of subjects committed with transformations of their territory and presents
itself as proposal of improvement of teaching learning processes in higher education.

UDC/ CEIDA/ UFMG

ambientalMENTEsustentable
ambientalMENTEsustentable, 2017, (I), 23-24 199
xaneiro-decembro 2017, ano XII, vol. I, núm. 23-24, páxinas 199-216
VIVIAN BATTAINI, MARCOS SORRENTINO E RACHEL TROVARELLI

Palavras chave
educação ambiental; universidade; ensino-aprendizagem.
Keyword
environmental education; university; teaching-learning.

Introdução multissetorialidade (SORRENTINO, 1988;


VIOLA & LEIS, 1992; CASTELLS, 1999) ca-
racterizada pela diversidade de atores so-
No ano de 1983 estudantes de engenharia ciais e estratégias de organização e ação.
-
ra “Luiz de Queiroz”, na Universidade de No Brasil e na América Latina, no contexto
São Paulo (ESALQ/USP), Brasil, reivindi- de governos autoritários das décadas de
cam disciplinas relacionadas à área social 70 e 80, o movimento foi marcado pela de-
- fesa e avanço da democracia. Dentre suas
biental. A partir de 1988, são contratados diversas vertentes, nos aproximamos da-
docentes para por elas se responsabiliza- quelas que lutam “por autonomia e eman-
rem. Adaptam conteúdos de disciplinas
existentes, apoiam grupos de extensão (CAR-
universitária e desenvolvem projetos de VALHO, 2006, p.48).
pesquisa, ensino e extensão na área so-
cioambiental (SORRENTINO, 1995). São Em 1992, em decorrência da Conferência
criadas disciplinas de caráter obrigatório Internacional de Meio Ambiente e Desen-
para os cursos de Gestão Ambiental e volvimento (Rio 92 ou ECO 92) realizada
Engenharia Florestal e de caráter optativo no Rio de Janeiro, o movimento ambien-
para as demais graduações. O mesmo se talista se fortalece e também a sua rela-
deu nos Programas de Pós Graduação em ção com educação ambiental por meio
Ecologia Aplicada e no de Recursos Flo- da construção do Tratado de Educação
restais da mesma universidade. As disci- Ambiental para Sociedades Sustentáveis e
plinas têm em comum a perspectiva dos Responsabilidade Global1.
estudantes protagonizarem a sua própria
O Tratado aproxima-se das vertentes do mo-
cidadãs ancoradas em perspectivas teó- vimento ambientalista relacionadas à busca
ricas relacionadas ao ambientalismo, uto-
pismo e educação emancipatória. 1 Tal documento foi resultado de um
amplo processo de mobilização social, por meio

A Educação Ambiental é parte de um mo- fóruns, conferências em cinco continentes,


vimento ambientalista marcado pela sua envolvendo diferentes setores e gerações da
sociedade.

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de um “projeto de sociedade alternativa”
(CASTELLS, 1999). A utopia de sociedades pensar próprio, porque se ajusta a um
padrão; repete frases e pensa dentro de
sustentáveis, bem como a do Bem Viver
uma rotina. Não se pode compreender a
(ACOSTA, 2016), entre outras, impulsionam
existência da forma abstrata ou teórica.
a atuar na busca pela transformação social. Compreender a vida é compreender a
-
neira geral, pode ser entendida como uma da educação. (...) A função da educação
capacidade de sonhar novas formas de é criar entes humanos integrados e, por
conseguinte, inteligentes. Podemos tirar
viver possíveis. Para SZACHI (1972, p. 8):
-
“Utopia é, aqui, sinônimo de ideal moral e
tes, sem ser inteligentes. A inteligência
social, e utópico é todo aquele que perce-
não é mera cultura intelectual (...). Inte-
be o mal e busca meios de curá-lo”. ligência é a capacidade de perceber o
essencial, o que é; despertar essa capa-
Dentre as diferentes categorias de uto- cidade, em si próprio e nos outros, eis

pias–heróica/escapista; pessimistas/ em que se resume a educação (KRISH-


NAMURTI, 1994, p. 12-13).
otimistas; distopia/eutopia; de tempo (re-
trospectiva/prospectiva) e de espaço; a
Na perspectiva de uma educação emanci-
visão da utopia como manifestação da
patória, é possível pensar:
esperança no Inédito Viável reforça a li-
berdade do utopista de misturar diferentes
que a razão de ser da educação não é
apenas o ato de capacitar instrumental-
insatisfação com a forma de organização mente produtores humanos através da
sociopolítica do momento presente e com transferência de conhecimentos consa-
a esperança de que o futuro possa ser me- grados e em nome de habilidades apro-
veitáveis. Antes disto, e para muito além
lhor, com planos que contribuam para esta
disto, ela é um gesto de formar pessoas
transformação.
na inteireza de seu ser e de sua vocação
de criar-se a si mesma e partilhar com os
Processos educadores podem ser impor- outros a construção responsável de seu
tantes aliados no caminho rumo às uto- próprio mundo social e vida cotidiana
pias, quando ajudam o educando a identi- (BRANDÃO, 2012, p.80).

mesmas: Uma educação permanente que valorize


a subjetividade, uma Educação Ambiental
Para instituirmos a educação correta, que incentive:
-
cado da vida com um todo, e, para tal, em todas e em cada pessoa a vontade
devemos ser capazes de pensar, não ri- e a capacidade de imaginar e enunciar
gidamente, mas de maneira direta e ver- o seu projeto de futuro e a disposição

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de dialogar sobre ele, aprimorá-lo e Enunciada a concepção de educação


construí-lo individual e coletivamente emancipatória, o recorte do presente tra-
(SORRENTINO, 2013, p. 146).
balho se dá em torno das disciplinas de
educação ambiental, do departamento de
Uma educação comprometida com a
Ciências Florestais.
emancipação humana e o envolvimento
de cada um e de todos com as transfor-
Em termos de metodologia, as referidas
mações de seu território (SORRENTINO,
disciplinas têm muitas semelhanças, sal-
2013). Alimentada pelo Tratado de Educa-
ção Ambiental para Sociedades Susten-
uma delas. Os programas das disciplinas
táveis e Responsabilidade Global (1992) e
são apresentados, dialogados e reformu-
pelos pilares identidade, diálogo, comuni-
lados de forma colaborativa entre profes-
dade, potência de ação e felicidade (SOR-
sor, monitores e estudantes. As atividades
RENTINO et.al. 2013).
propostas envolvem condução de parte
das aulas pelos estudantes, realização de
A inspiração metodológica é o Metodoca
pequenas intervenções educadoras de ca-
(OCA, 2016) que foi construído por meio
ráter ambientalista, passando pelo estudo
das vivências nestas disciplinas, dentre
de textos, auto-avaliações e elaboração
outras ações educadoras ambientalistas
de pequenos documentos escritos em
com as quais o Laboratório de Educação
seus diários de bordo.
e Política Ambiental-Oca (ESALQ/USP), se

anos 80, até 2016. A metodologia:


Alguns elementos da
sem a intenção de ser “fórmula pron- conjuntura na educação
conceitos e diretrizes, bem como de
superior
análises conjunturais com temáticas
geradoras socioambientais, do enunciar
das utopias individuais e coletivas, do Introduzidos os pressupostos do cam-
mergulho em si e no diálogo com o ou- po da utopia, ambientalismo e educação
tro, num processo educador e formador,
em cuja dinâmica estrutural seus doze
sobre a conjuntura da universidade públi-
componentes interagem de forma cir-
ca e algumas de suas consequências nos
cular e transversal. Sendo incremental o
método Oca deixa em aberto o convi- processos de ensino- aprendizagem2.

2 Seis disciplinas, todas com ofereci-


mento anual: 1) Educação Ambiental, oferecida
2016). no 1º semestre, obrigatória para o curso de

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Autores como SANTOS (1995, 2005, atividades de pesquisa e ensino superior
2007), HALFFMAN e RADDER (2017), e impulsionados pelos agentes econômicos
CHAUÍ (2017), ajudam a compreender a e estatais (SANTOS, 2005).
crise da universidade pública, não só no
Brasil, mas nas sociedades ocidentais. CHAUÍ (2017) analisa como o neoliberalis-
A crise posta, segundo os autores, está mo surgiu atrelado à ideologia capitalista e
contextualizada na forma de organização resgata os principais impactos desse siste-
social pautada pelo capitalismo, ou seja, ma na sociedade. No campo da ciência e
tecnologia a autora explicita como essas se
- tornaram forças produtivas, ou ferramen-
versidade pública. tas, sendo apenas um suporte para que os
agentes do capital incrementem sua acu-
Para SANTOS (1995) a universidade pú-
blica nas últimas décadas tem vivido três alterou-se a forma de inserção de cientistas
grandes crises: a crise hegemônica, a cri- e técnicos na sociedade, pois estão sub-
se de legitimidade e a crise institucional. metidos à força e poder capitalista.

A crise de hegemonia envolve a contradi- SAN-


ção entre produção de alta cultura, pen- TOS (2005), a crise de legitimidade, surgiu
à medida que deixou de ser consenso a
versus a pressão pela produção de co- posição de superioridade da universidade
nhecimento técnico e instrumental, para (pela produção de saberes especializados)
formar mão de obra para atuação no sis- em relação a outras formas de saberes.
tema capitalista. Nesse sentido, a univer- Tornou-se evidente que ao restringir o
sidade entrou numa crise de hegemonia acesso e ao credenciar as competên-
já que outras instituições têm realizado cias, a universidade não tem conseguido
atender às demandas sociais e políticas
graduação em Gestão Ambiental e optativa de democratização e igualdade de opor-
para demais cursos; 2) Tópicos de Educação
Ambiental, oferecida no 2º semestre letivo,
tunidades para as classes socioeconômi-
optativa a todos os cursos de graduação; 3) cas mais desfavorecidas. Nesse sentido,
Projetos de Educação Ambiental, oferecida no
1º semestre letivo, optativa a todos os cursos de
CHAUÍ (2017) reforça a prática neoliberal
graduação; 4) Política Pública, Legislação e Edu- na diminuição dos interesses públicos:
cação Florestal, oferecida no 2º semestre letivo,
obrigatória para o curso de Engenharia Florestal
e optativa aos demais; 5) Educação, Ambiente e Em resumo, o neoliberalismo é a deci-
Sociedade, oferecida para a pós graduação em são de investir o fundo público no ca-
Ecologia Aplicada e Recursos Florestais, optati-
pital e privatizar os direitos sociais, de
para a pós graduação em Recursos Florestais, -
optativa.

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VIVIAN BATTAINI, MARCOS SORRENTINO E RACHEL TROVARELLI

beralismo como alargamento do espa- Essa universidade, celebradora de “con-


ço privado dos interesses de mercado tratos de gestão”, CHAUÍ (2017) designa
e encolhimento do espaço público dos
como “universidade operacional”, já que
direitos (CHAUÍ, 2017, p. 56)
está voltada para si mesma, com foco na
estrutura de gestão e contratos. HALLF-
Analisando a crise da universidade pú-
MAN e RADDER (2017) nomeiam as ins-
blica na Europa, HALFFMAN e RADDER
tituições com essas características como
(2017) visualizam a “venda” de departa-
“universidade gerencial”.
mentos e universidades com a crença de
que dessa forma seria possível manter a
-
infraestrutura necessária para a produção
cípio que guia as ações propostas pela
de conhecimento. No entanto, através da Reitoria da USP, que confere um sentido
cooperação com as empresas, espera-se -
que a universidade produza descobertas e nomia universitária, e introduz no léxico

produtos comerciáveis em um curto perío- universitário termos como qualidade e


-
do de tempo. E continuam:
de (CHAUÍ, 2017, p. 57).

Essa promessa não apenas demonstra


uma crença ingênua em universidades Esta perspectiva de autonomia universi-
mercantilizadas, capazes de gerar alí- tária tem o gerenciamento empresarial da
vio econômico imediato, como também instituição com foco na gestão de recei-
uma redução chocante de benefícios tas e despesas, bem como indicadores de
sociais, em favor de ganhos econômicos
desempenho. A qualidade tornou-se si-
(HALFFMAN e RADDER, 2017, p. 12).
nônimo de “excelência” e “competência”,
com ênfase nas respostas às demandas
Evidentemente em uma contradição envol-
da economia. A qualidade é orientada por
quanto é produzido, em quanto tempo e
e objetivos da universidade e a reivindica-
com qual custo. Ou seja, mede-se quali-
ção de autonomia, e por outro, a crescente
dade pela produtividade, sem uma mínima
pressão para adaptar os objetivos e valo-
“o que se produz, como se
produz ou para quem se produz” (CHAUÍ,
e produtividade empresarial, instalou-se a
2007, p. 58).
crise institucional (SANTOS, 2005). Nessa
perspectiva neoliberal, as universidades
Com o pretexto da “qualidade”, as universi-
são consideradas pelo Estado como “or-
dades têm gerado um sistema intensivo de
ganizações sociais” prestadoras de servi-
competição entre si, entre departamentos,
ço e que portanto, assinam “contratos de
entre professores/pesquisadores e entre
gestão” (CHAUÍ, 2017).
-

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ciamento de projetos e reconhecimento Com um ensino pautado pela transmissão
(geralmente através da corrida incansável e adestramento, o “estudante consumidor”
por publicações de “alto impacto”): opta pela imagem da universidade com
uma vida estudantil mais atrativa e tende
“Isso leva a um estado de guerra per- a não se preocupar com a qualidade da
manente entre todas as partes, que des-
educação. Presos numa lógica que provê
trói a estrutura social da universidade”
-
(HALFFMAN e RADDER, 2017, p. 8).
timos, rasas perspectivas no mercado de
trabalho e o fascínio pela “ilusão de uma
A “qualidade acadêmica”, portanto, é en-
vida consumista”, os estudantes se torna-
tendida pelo número de teses e publica-
ram uma máquina treinada que é pouco
ções, estágios no exterior e participação
potente para incidir sobre a crise da uni-
em congressos, produzindo uma visão
versidade (HALFFMAN e RADDER, 2017).
simplista da pesquisa e deixando de lado
a docência (CHAUÍ, 2017). CHAUÍ (2017) e
Voltando a questão do permanente “esta-
HALFFMAN e RADDER (2017), observam
do de guerra”, fruto da competição enrai-
que a docência é, dentre os trabalhos aca-
zada na estrutura social universitária entre
dêmicos, a menos apreciada, e portanto,
áreas do conhecimento (ciências naturais
lecionar não entra na medida de produtivi-
versus ciências humanas, por exemplo),
dade docente, e logo, não é contabilizada
instituições, departamentos, laboratórios,
na qualidade universitária.
docentes e discentes, observa-se as di-

A docência é entendida como transmis-


são rápida de conhecimentos, consig- outros. Essa estratégia de “dividir para
nados em manuais de fácil leitura para controlar” fortalece a individualização e
os estudantes, de preferência, ricos em corrói a solidariedade, arruinando qual-
ilustrações e com duplicata em supor-
quer iniciativa de resistência e organiza-
tes eletrônicos. A docência é pensada
ção coletiva que se opõe a esse sistema
como habilitação rápida para gradua-
dos, que precisam entrar rapidamente da universidade gerencial ou operacional
num mercado de trabalho do qual serão (HALFFMAN e RADDER, 2017).
expulsos em poucos anos, pois tornam-
-se, em pouco tempo, jovens obsole- Nesse contexto, não há apoio da socie-
tos e descartáveis; ou como correia de dade ou apoio público para que a univer-
transmissão entre pesquisadores e trei-
sidade tenha recursos e força para atuar.
no para novos pesquisadores. Transmis-
Alguns dos governantes reconhecem a
são e adestramento. Desaparece, por-
tanto, a marca essencial da docência: a importância da ciência e da educação,
formação (CHAUÍ, 2017, p. 60). mas encontram outras prioridades de atu-
ação (HALFFMAN e RADDER, 2017).

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Diante deste cenário, as transformações ponderando vantagens e desvantagens


que vem acontecendo na universidade de cada uma delas que vão desde ações
são eminentemente políticas e associadas judiciais até sabotagem, manifestações de
a busca por um sistema educacional e um massa, greve, contra ocupações, recusa
projeto de país intrinsecamente ligado ao coletiva, ação dos sindicatos, etc (HALFF-
neoliberalismo (SANTOS, 2005). MAN e RADDER, 2017).

Para enfrentar a situação, SANTOS (2005) Diante desse cenário, o presente trabalho
sugere a necessidade de 1) resistências objetiva contribuir com transformações
com alternativas à pesquisa, extensão e
formação, com tomada de decisões co- sobre o potencial de estratégias pedagó-
letivas; 2) o reconhecimento da crise e gicas de ensino aprendizagem no ensino
busca de reformas que fortaleçam a legiti- superior utilizadas nas disciplinas de edu-
midade da universidade, bem como o for- cação ambiental na Esalq-USP.
talecimento da democracia, da extensão,
da pesquisa-ação, da ecologia de saberes
(SANTOS, 2007); 3) reformas institucio- Metodologia
nais; 4) aproximação da universidade com
as escolas públicas; 5) avaliação partici-
pativa; e a 6) ação do Estado no fortale- A perspectiva da presente pesquisa é qua-
cimento da universidade pública e regula- litativa (LUDKE & ANDRÉ, 1986; BATZAN,
ção das universidades privadas. 1995), em diálogo com vertentes partici-
pativas, em especial com a pesquisa-in-
HALFFMAN e RADDER (2017), na linha de tervenção (ROCHA & AGUIAR, 2003).
SANTOS (2005), sugerem outras vinte pro-
postas de mudança no sentido de provocar As técnicas de coleta de dados utilizados
uma reação frente a crise instalada que vão foram: observação participante (BOGDAN
desde o formato de tomada de decisões en- & BIKLEN, 1994; GOLDENBERG, 1999),
volverem mais participação social e menos avaliações processuais e intervenções
hierarquia, maior acessibilidade a estudan- educadoras.

produtividade como critério de análise de A observação participante permite:


pesquisas, a valorização da docência, apoio
ao conhecimento comunitário, entre outros. o acesso a informações privilegiadas,
incluindo aquela que ele recebe de sua

Os autores continuam com mais onze própria experiência (CAPLOW, 1970),


graças a uma compreensão mais intensa
possibilidades de ações emancipatórias,

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do vivido dos participantes observados mesma se sinta satisfeito com a sua con-
(LAPERRIÈRE, 1984 apud JACCOUND
& MAYER, 2008, p.264).
O caráter Máximo associa-se as capacida-

As avaliações processuais foram compos-


de problemática, criação de estratégias de
tas por diferentes técnicas de avaliação
ação, além do tempo e energia disponibili-
realizadas nas aulas e entre a equipe edu-
zado pelo seu promotor.

educadora ambientalista atuam na realidade


As MIPs realizadas ao longo destes anos
local por meio de processos que fomentam
vão desde ações no microlocal como: sala
a transição para sociedades sustentáveis,
de aula, moradia dos estudantes, Centros
o aprendizado pela práxis (BRASIL, 2006,
Acadêmicos, Universidade; até macrolo-
p.21) e a realização de pesquisas (OCA,
cais que atingem o município de Piracica-
2016, p.85). As intervenções realizadas nes-
ba ou outros e eventualmente territórios
ta pesquisa foram as disciplinas de gradua-
temáticos mais amplos.
ção e pós graduação ministradas na ESALQ.

Alguns exemplos foram: Um estudante


incomodado com a falta de segurança de
Resultados transportar-se de bicicleta na cidade de
Piracicaba escolheu a problemática Mobi-
lidade Urbana. A estratégia utilizada para
Mínima ou Máxima intervir foi adicionar na sua bicicleta uma
Intervenção Possível estrutura demarcando à distância de 1,5m
de cada lado (distância determinada por lei
Nas intervenções educadoras de caráter como obrigatória entre veículos motoriza-
ambientalista, denominada MIP, o estudan- dos e a bicicleta), locomover-se pela cida-
te planeja, executa e analisa criticamente de e observar a reação das pessoas.
uma intervenção em grupo ou individual-
mente. Entre os objetivos estão: projetar, Com a mesma temática, porém em outra
vivenciar e articular os conteúdos da dis- turma e ano, um estudante organizou uma
ciplina com a sua realidade. As temáticas passeata na cidade, motivado pela morte
e as técnicas utilizadas na MIP são esco- de um amigo naquele mesmo ano, vítima
lhidas pelos estudantes e acompanhadas de atropelamento numa avenida central da
pelo docente e monitores da disciplina. cidade.

Seu caráter Mínimo se relaciona ao míni- Alguns estudantes motivados pela ausên-
mo necessário para que o realizador da cia de áreas verdes e de lazer em um bair-

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ro de Piracicaba organizaram a construção


de uma área verde urbana no bairro. Es- desenvolvimento do protagonismo; (b) for-
talecimento da autonomia; (c) capacidade
espaços por meio de uma intervenção ar- de articulação de conteúdos e ações nos
tística em um Sarau da Cidade.
em políticas públicas.
A experiência nas disciplinas traz indícios
da contribuição desta ferramenta de en- A. A MIP baseia-se numa educação inte-
sino-aprendizagem com o incremento da gral que se caracteriza “pela ideia de
potência de ação dos estudantes: uma formação ‘mais completa possível’
para o ser humano” (MOLL, J. 2009,
Ao falarmos em potência de agir, refe- p.15) na qual os sujeitos são conside-
rados em sua totalidade, conectando
uma ação ética, libertadora, emanci-
suas diversas dimensões (cognitiva,
patória e não simplesmente ao ato de
afetiva, ética, social, lúdica, estética,
realizar algo. Estamos tratando de um
agir consciente e intencional para reali- biológica, espiritual). Nas intervenções
zar algo desejado (COSTA-PINTO, 2012, realizadas os estudantes são responsá-
p.85). veis por todo o conjunto de atividades
necessárias para a realização da mes-
Neste sentido, convidar os estudantes ma, desta forma são efetivamente os
protagonistas dela.
nela por meio de um processo educador
ambientalista pode contribuir para que os B. O desenvolvimento da autonomia dos
mesmos aumentem a sua potência de agir, estudantes se dá na relação que se es-
tabelece entre educador-educando ba-
sua importância no processo, se conecta-
rem com a sua realidade e ambientalizarem da autoestima, estimulando que cada
a sua prática. um seja capaz de desenvolver as suas
habilidades individuais. A intervenção é
Exercitar a educação ambiental como uma estratégia para vivenciar uma edu-
parte da prática que já construo, sem a
cação que diz respeito:
necessidade de inventar novos espaços

já existem (Estudante Disciplina de EA,


os seres humanos virem ao mundo, en-
2017).
contrarem sua própria voz, virem a se
constituir como seres únicos e singula-
As virtudes do processo de ensino apren- res (BIESTA, 2013, p.99).
dizagem promovido pelas MIPS identi-

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C. O estudante motivado a agir, se motiva continuidade dos objetivos da MIP na vida
a estudar, a entender a sua realidade dos estudantes,
e desta forma busca os conhecimen-
tos necessários para a sua realização. a. Sendo a técnica de ensino aprendiza-
gem diferenciada das habituais, em
e articulação dos conteúdos e ações. especial, por exigir que os estudantes
Dando sentido aos conteúdos, sejam sejam ativos no processo de ensino-
eles conceituais, atitudinais ou proce- -aprendizagem é necessário tempo
dimentais (ZABALA, 1998). para amadurecimento da propos-
ta. Sendo as disciplinas semestrais,
D. O caráter da ação é educadora, sendo mostrou-se importante dedicar tempo
assim, a aprendizagem e o alcance da desde o início da mesma para dialogar
ação estão diretamente relacionados sobre a MIP e assim possibilitar seu
com o amadurecimento e envolvimen-
to dos estudantes e grupos envolvidos, a não existência deste tempo pode pre-
porém as diferentes escalas de ação judicar a boa realização da proposta.
-
cia e importância de incidência em po- b. Na mesa direção é imprescindível o
líticas públicas para a sustentabilidade papel do educador no processo, en-
das intervenções. quanto, mobilizador. Desta forma, é im-
prescindível que ele esteja preparado e
Soma-se a isso a importância da valori- empolgado para apresentar a proposta.
zação das vivências dos estudantes, se- A falta de clareza do educador diante
gundo um estudante, a disciplina é “Um dos objetivos e alcances da MIP pode
local onde as minhas vivências fora da sala atrapalhar o processo.
de aula, minha militância, é valorizada e
não repelida como nos outros espaços da c. A MIP tem como objetivo potencializar
Gloriosa” (Estudante da Disciplina de EA, -
2017) cesso de ensino-aprendizagem e a vi-
sualizar o potencial da aprendizagem
- quando os educandos estão genui-
volvimento das MIPs, destacam-se três: namente envolvidos com o processo.
a) tempo necessário para compreensão Dessa forma, provoca um olhar para
e envolvimento com a proposta; b) ca- o ensino sobre o qual estão envolvi-
pacidade do educador de apresentar e dos almejando uma transformação dos
motivar; c) Falta de continuidade da ação processos de ensino aprendizagem na
desenvolvida na vida dos estudantes: des- Educação Superior. Apesar de não ha-

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ver uma sistematização metódica dos curso de pensamento, de sensibilidade

dados colimados ao longo dos anos e estética, com a seletividade de alguns


autores e suas formas de subjetivar, en-
que essas disciplinas são oferecidas,
-
para aferir os potenciais impactos da
namentos... tudo isso sempre planejado
MIP na visão de ensino-aprendizagem previamente, delimitando marcos zero e
dos estudantes, há indícios de que es- pontos de partida, mirando pontos de
tes objetivos se perdem quando obser- chegada e desperdiçando processos
va-se a participação deles em reuniões de extrema riqueza que acontecem no
cotidiano das salas de aula e fora delas
sobre revisão dos currículos da gradua-
(MELLO, 2016, p. 200).

provocá-los a defenderem outros mo-


Este trabalho indica cinco virtudes do di-
delos de educação?
ário de bordo: a) acompanhamento indi-
vidual da aprendizagem dos estudantes;
Diário de Bordo
b) aproximação entre educando e edu-
cadores; c) exercício e aprimoramento da
Outra estratégia pedagógica é o diário
escrita e estimula a organização de ideias
de bordo. Um instrumento de registro re-
-
gular, objetivo ou subjetivo, envolvendo
sociações entre a disciplina e o cotidiano;
conteúdos, sentimentos, insights e análi-
e) promove o exercício das habilidades e
ses motivadas a partir da disciplina e da
desejos individuais.
relação desta com a vida cotidiana dos
estudantes. O diário de bordo é realizado
A. No início do semestre letivo, os estu-
individualmente de acordo com interesses
dantes são apresentados à proposta de
e motivações de cada autor. Os registros
diário de bordo e convidados a utilizá-
são compartilhados com os responsáveis
-lo. Em alguns casos o diário de bordo
pela disciplina periodicamente.
é um dos instrumentos de avaliação de

A proposta de um Diário de Bordo nas-


ce deste desejo de romper com mais com critérios construídos coletivamente
uma engrenagem da linha de monta- entre professor, monitores e estudantes.
A avaliação das disciplinas é processu-
coletiva que ecoa em todas as salas de
al e iluminativa e, portanto, o diário de
aula: “Professor, isto é para copiar?”
bordo é um instrumento importante de
Em outras palavras, estamos na hora
acompanhamento do desenvolvimento
do lugar epistêmico do outro, no caso, discente. Alguns autores denominam
o professor, de sua lógica, com seus este tipo de avaliação formativa: “trata-
sentidos e suas paragens, com um per- -se de uma avaliação interativa, centra-

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da nos processos cognitivos dos alunos realidade, o processo de ensino apren-
e associada aos processos de feedba- dizagem busca o comprometimento
ck, de regulação, de auto-avaliação e dos educandos na transformação e
de auto-regulação das aprendizagens”
(FERNANDES, 2006, p.234 ).
envolvendo registro no diário de bordo
B. O diário de bordo pode se tornar um é uma estratégia que contribui o exer-
instrumento importante de aproxima- cício de leitura do mundo e busca de
ção entre os educandos e educadores, estratégias de transformação.
pois permite que os educadores “en-
trem no mundo” do educando, permiti- E. Sendo o diário de bordo um instrumento
do por ele mesmo através dos registros. de registro individual, permite que o au-
Essa aproximação frequentemente se tor exercite seus desejos e habilidades
que vão desde a forma de registro (poe-
comprometimento, elementos que po- sia, texto, desenho, colagem, etc) até o
dem potencializar o processo de ensino conteúdo dos mesmos (objetivo, subjeti-
aprendizagem. vo, abstrato, simbólico, linear, etc).

C. O diário estimula o exercício da escrita, Mas, o uso do diário de bordo também


tanto descritiva quanto analítica, con- vem acompanhado por gargalos. Dentre
tribuindo para organização de ideias eles: a) Compreensão dos estudantes do
- potencial do instrumento; b) exercício da
escrita; c) exercício de análise, para além
de compreensão de questões socio-
ambientais complexas, com muitas in- devolutiva dos educadores.
ter relações e conexões com diferentes
temáticas e áreas do conhecimento. A A. Algumas vezes os estudantes não
escrita periódica e analítica contribui compreendem no início do semestre
para a compreensão e visualização letivo o potencial deste instrumento.
dessas relações. Alguns enunciam que consideram cha-
to fazer os registros, ou que não tem
D. O fortalecimento da relação entre a esse hábito, ou ainda que se sentem
disciplina e o cotidiano é respaldada desconfortáveis em fazê-lo. Em muitas
por FREIRE (1987; 1997) enfatizando ocasiões, houve depoimentos de estu-
a construção de autonomia para que dantes que no início das aulas pensa-
os estudantes possam “ler o mundo”. vam dessa forma e com o passar dos
A partir do conhecimento da própria meses mudaram de opinião e se en-

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VIVIAN BATTAINI, MARCOS SORRENTINO E RACHEL TROVARELLI

volveram com o instrumento, reconhe- bordo seja entregue duas ou três vezes
cendo suas potencialidades. Mesmo no semestre, no entanto, muitas vezes
tal procedimento se torna inviável devi-
professor e monitores de apresentarem do a demanda de tempo de acompa-
as potencialidades do diário de forma nhamento e retorno ao material.
atrativa e clara.
O diário de bordo tem contribuído no for-
B. Frequentemente os estudantes apre- talecimento dos conceitos de identidade e
- diálogo nas disciplinas:
ta analítica e argumentativa, envolven-
Estimular o exercício do diálogo é um

Muitas vezes eles demonstraram ca-


Educação Ambiental que queremos
pacidade de oratória envolvendo es-
realizar: aquela que fortalece e confere
sas características, mas por outro lado
que promove a coexistência equilibrada
muitas vezes não se mostram abertos a entre as tradições, entre a tecnologia e

experimentá-la, praticá-la e exercitá-la. o jeito simples de ser. O diálogo é a via


de acesso para a democratização das
identidades e saberes diversos (SOR-
C. Algumas vezes o diário se torna um ins-
RENTINO et.al. 2013, p.37).
trumento burocrático, “para entregar”,
mesmo que não haja pressão direta dos Os resultados demonstraram-se positivos
educadores nesse sentido. O diário é sob o ponto de vista do envolvimento e
apresentado como uma oportunidade, participação, restando questionamentos
inclusive de avaliação processual. No sobre o real aprofundamento de conteúdos

da descrição de conteúdos e fatos,

É perceptível o desenvolvimento do pro-


ou então evidencia uma visão burocráti- tagonismo, autonomia e capacidade de
ca do instrumento. articulação de conteúdos e ações nos es-
tudantes. De forma geral, os estudantes se
D. Em turmas numerosas, de 30 ou mais envolvem na disciplina, em especial, nas
- intervenções educadoras ambientalistas.
cadores, especialmente para o profes-
sor quando não possui monitores, reali- Na página a seguir, apresentamos um qua-
zar a leitura atenta e dar uma devolutiva dro que sistematiza as considerações até
a cada um dos estudantes via diário de aqui apresentadas sobre as duas técnicas
bordo. É interessante que o diário de de ensino aprendizagem:

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Técnica Conceito Gargalos Virtudes

Mínima ou Máxima Potencia de Ação Necessidade de tempo para Desenvolvimento do pro-


Intervenção comprensão e envolvimento tagonismo e autonomia;
Possivel Comunidade dos estudantes com a pro- capacidade de articulação
posta; falta de continuidade de conteúdos e ações;
da ação desenvolvida; tempo Exercicio das habilidades e
de dedicação do professor
para além da hora de sala sobre planejamento e
de aula implantação de projetos e
sobre as suas possibilidades
de incidência em políticas
públicas
Diario de Bordo Identidade Demora na comprensão dos Acompanhamento individual
estudantes sobre o potencial da aprendizagem dos estu-
Diaálogo da ferramenta; exercicio dantes; aproximação entre
de análise, para além de educando e educadores;
descrições; monitoramento e estimula a organização de
peridicidade; sobrecarrega o
professor quando há muitos e sentimentos; exercicio e
estudantes em sala de aula; aprimoramento da escrita;
tempo de dedicação do associações entre a discipli-
professor para além da hora na e o cotidiano.
de sala de aula.

Considerações Finais ação dos estudantes que passaram pelas


disciplinas, no sentido de averiguar se ca-
minharam na busca por projetos de apro-
O uso das técnicas citadas pode favorecer ximação do futuro.
o desenvolvimento de sujeitos comprome-
tidos com transformações em seus terri- O compromisso com uma educação su-
tórios e apresenta-se como proposta de perior, pública, gratuita, de qualidade e
transformação dos processos de ensino com todos, deve apostar na construção
aprendizagem na educação superior. de autonomias, individuais e coletivas,
por meio de processos autogestionários
O papel desempenhado pelas disciplinas e autoanalíticos, nas salas de aulas e nas
em foco parece ser o de estimular quali- instituições como um todo. É importante
dades emancipatórias, tais como: apren- a compreensão de que o estudante é um
der a trabalhar em grupo, fundamentar adulto e como tal deve criar a capacidade
suas propostas e aprender a projetar. É de direcionar o seu próprio aprendizado.
necessária a realização de pesquisas re- Tal compreensão alicerça-se em uma vi-
lacionadas ao incremento da potência de são de Educação que exige a autonomia

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sendo cultivada em todas as dimensões O diário de bordo possibilita os registros


das unidades universitárias, distanciando- regulares sobre a disciplina e sobre a re-
-se de modelos neoliberais que compre- lação dela com a vida cotidiana dos es-
endem a educação superior apenas como tudantes, realizados individualmente, de
- acordo com seus interesses e motivações.
zantes que preparem mão de obra para o Os educadores responsáveis pela discipli-
mercado. na acompanham o registro nos diários.

A perspectiva de estudantes protagoniza- É perceptível o desenvolvimento do pro-


- tagonismo, autonomia e capacidade de
sionais e cidadãos/cidadãs que dialogam articulação de conteúdos e ações nos es-
com o campo do ambientalismo, utopias tudantes. De forma geral, os estudantes se
e educação emancipatória, possibilita a envolvem na disciplina, em especial, nas
construção de programas das disciplinas intervenções educadoras ambientalistas.
que sejam apresentados, dialogados e
reformulados de forma colaborativa entre O uso das técnicas citadas sugere favo-
professor, monitores e estudantes. recer o desenvolvimento de sujeitos com-
prometidos com transformações de seu
Atividades que envolvam a condução de território e apresenta-se como proposta
parte das aulas pelos estudantes, a rea- de aprimoramento de processos de ensino
lização de pequenas intervenções edu- aprendizagem na educação superior.
cadoras de caráter ambientalista - MIP, o
estudo de textos, as autoavaliações e ela-
boração de pequenos documentos escri-
tos em seus diários de bordo são técnicas
que se destacam pelo se potencial de pro- ACOSTA, A. Bem Viver: Uma oportunidade para
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escolhidas pelos estudantes e acompa-


nhadas pelo docente e monitoras(es) das
disciplinas.

214 ambientalMENTEsustentable, 2017, (I), 23-24


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