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AS CONTRIBUIÇÕES DO SOFTWARE ATLAS TI PARA A ANÁLISE

DE RELATOS DE EXPERIÊNCIA ESCRITOS

QUEIROZ, Tania Lucia de Araujo – UFPE


tania.queiroz2010@gmail.com

CAVALCANTE, Patrícia Smith – UFPE


patriciasmith@hotmail.com

Eixo Temático: Comunicação e tecnologia


Agência Financiadora: Bolsista CAPES

Resumo

Este artigo objetiva apresentar como foi desenvolvido o percurso metodológico da dissertação
em nível de mestrado, do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e
Tecnológica – UFPE, cujo objetivo foi conhecer como professores que participaram do Curso
Mídias na Educação fizeram uso das mídias em sala de aula. Focamos especialmente na
organização e análise dos dados utilizando o software Atlas TI. Em conformidade com a
abordagem qualitativa, optamos pela Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010) usada para
descrever e interpretar o conteúdo dos relatos de experiência escritos encontrados nos projetos
de ensino dos egressos do Curso de Mídias na Educação, na Paraíba. Como categorias de
análise dos dados utilizamos os elementos estruturantes da Teoria da Atividade propostas por
Leontiev (1978): necessidades, motivos, ações e operações. Essas categorias a priori
correspondem aos códigos usados na codificação dos dados. A análise permitiu demonstrar a
partir da descrição das etapas da Análise de Conteúdo com o uso do Atlas Ti e da
exemplificação de duas teias o processo de codificação, o estabelecimento de relações entre
os elementos analisados. Observamos que o uso do software Atlas TI foi de fácil manuseio e
bastante adequado às etapas metodológicas da análise de conteúdo. Por outro lado, permitiu a
inserção de nossas categorias de análise a priori, advindas da Teoria da Atividade sem
problemas. Assim, concluímos que o software Atlas TI correspondeu às expectativas de um
bom instrumento de análise de dados, favorecendo os cruzamentos dos dados e permitindo
uma análise mais profunda dos mesmos. Em relação aos resultados da nossa pesquisa foi
possível perceber até o momento a predominância das ações de discussão, sondagem,
interpretação em relação ao conteúdo abordado e em relação ao uso das mídias a exibição de
vídeos, leitura de textos de diferentes gêneros textuais, entre outras.

Palavras-chave: Atlas TI. Análise do Conteúdo. Teoria da Atividade.


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Introdução: o contexto da pesquisa

O Curso Mídias na Educação (doravante CME) é um programa oferecido pelo


Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação a Distância – SEED, destinado aos
profissionais da educação e tem como objetivo, segundo os documentos oficiais que
regulamentam o programa, colaborar para o desenvolvimento de uma prática pedagógica
crítica e reflexiva, com vistas à utilização integrada, cooperativa e autoral das diferentes
mídias (TV, informática, rádio e impressos). Este curso tem como objetivo contribuir com a
formação de professores da Educação Básica, para que sejam capazes de produzir e estimular
a produção dos alunos nas diferentes mídias, de forma articulada à proposta pedagógica e à
uma concepção interacionista de aprendizagem.
A análise dos relatos de experiência escritos apresentados neste artigo corresponde à
atividade final do ciclo intermediário do CME, ou seja, o projeto de ensino desenvolvido em
sala de aula com os alunos. A proposta do projeto visava integrar as mídias aos conteúdos a
serem ensinados aos alunos, atendendo a proposta do curso. Foram analisados quatro projetos
de quatro docentes egressos do referido curso.
Mediante o exposto buscamos responder a seguinte questão de pesquisa: como os
professores egressos do Curso Mídias na Educação usam as mídias em sala de aula? Esse uso
representa que as mídias foram integradas à sua prática pedagógica?

Percurso Metodológico da Pesquisa

Tendo em vista a natureza do problema de pesquisa, apresentado anteriormente,


optamos pela abordagem qualitativa que consiste na obtenção de dados em contato direto com
a situação estudada e na análise descritiva dos mesmos (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).
A abordagem qualitativa exige a utilização de uma metodologia sistemática, por isso
empregamos a técnica da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010) para descrever e interpretar
o conteúdo dos instrumentos usados para a coleta dos dados: relatos de experiência escritos
relacionados aos projetos de ensino. A análise qualitativa requer do pesquisador experiência
ao olhar para os dados, na perspectiva de não descartar nada dos documentos, pois tudo pode
ser importante.
A escolha de uma teoria para realizar a análise e proceder à codificação dos dados é
tão importante quanto à escolha da metodologia de análise. Nesse sentido, escolhemos o
software Atlas Ti para análise dos dados, devido à possibilidade de uso em diferentes tipos de
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pesquisa e emprego de estratégias de análise sistemáticas e complexas. Conforme os dados, os


objetivos e as estratégias de pesquisa, este software apresenta flexibilidade para geração de
dados. Acreditarmos nas vantagens do software quanto ao alcance na geração e estruturação
dos dados qualitativos; a análise e apresentação dos resultados, possibilitando a construção de
redes semânticas; a exportação de documentos em diferentes formatos (XML, HTML, RTF,
SSPS) em relação a outros, por exemplo, N-VIVO, Alceste, destinados a pesquisas
quantitativas, será muito importante na análise de nossos dados.
O software Atlas Ti permite a descoberta de fenômenos complexos, os quais,
possivelmente, não seriam detectáveis na simples leitura do texto, principalmente, em relação
à técnica tradicional de tratamento dos dados manualmente, com a utilização de lápis, tesoura
e cola, porque é possível integrar as unidades hermenêuticas (projetos primários) entre si.
Vale destacar, que nenhum software realiza todo o procedimento de análise
independente do pesquisador. É necessário, portanto, que este conheça as potencialidades do
software para adequá-lo à teoria de base utilizada para análise.
O nosso estudo privilegiou o contexto, os processos e a subjetividade em que estão
envolvidos os sujeitos: professores(as) de escolas da rede pública de ensino municipal e
estadual, da educação básica no estado da Paraíba, egressos do Curso Mídias na Educação.
Nos tópicos seguintes passaremos a relacionar a Teoria da Atividade à Análise de
Conteúdo e à aplicabilidade do software Atlas Ti, porém iniciaremos com a descrição do
software.

O Atlas Ti

O uso do software Atlas Ti é indicado para análise longitudinal em que se usam


instrumentos diversos e complementares, e tem como principal objetivo ajudar o pesquisador
a organizar, registrar e possibilitar o acompanhamento dos registros efetuados, contribuindo
para a confiabilidade do estudo.
Com o software Atlas Ti é possível na analisar e gerenciar distintos tipos de
documentos ou instrumentos de coleta de dados, tais como: respostas às questões abertas de
questionários, relatórios de observação, cartas, enfim todos os textos expressos na modalidade
escrita, além de áudio (transcrição de entrevistas não-estruturada, músicas, reuniões, palestras
e outros) imagens (fotos, desenhos, pinturas, e outros) e vídeos (gravações de reportagens
televisivas, de aulas, de filmes, e outros).
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Esse software é ideal para trabalhar grandes quantidades de dados textuais,


organizados em diferentes arquivos (Word, rich text, pdf). Além disso, o Atlas Ti permite,
ainda, codificar e analisar outros tipos de formatos como imagem, vídeo, áudio exibidos ou
não em sites desde que em HTML
O software permite algumas vantagens em relação a técnicas antigas empregadas na
empregadas na análise de conteúdo. É possível realizar anotações e comentários, elaboração
de relatórios, de memorandos, edição, disposição de dados em tabelas e matrizes, entre outros.
Os principais elementos interligados ao software Atlas Ti e que estão dentro de um
projeto, denominado unidade hermenêutica, são: os documentos primários (P-Docs), as
citações (Quotes), os códigos (Codes) e as notas (Memos). Esses elementos dão origem às
teias (ferramentas de análise que podem ser utilizadas para ilustrar as relações que foram
analisadas pelo pesquisador), conforme pode ser observada na figura 3 em relação ao código
“ação do professor”.

Teoria da Atividade e a relação com o Atlas TI

A opção pela Teoria da Atividade como aporte teórico-metodológico se justifica pela


pertinência ao objeto de estudo investigado, assim como é uma teoria que tem sido estudada
por muitos pesquisadores adquirindo um caráter multidisciplinar nos diferentes campos do
conhecimento.
Para Leontiev (1978, p. 68) atividade é definida como “[...] aqueles processos que,
realizando as relações do homem com o mundo, satisfazem uma necessidade especial
correspondente a ele. [...] coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a
executar essa atividade, isto é, o motivo.” O conceito de atividade, segundo Leontiev (1978,
p. 82) está necessariamente unido ao conceito de motivo. Esse autor defende que a atividade
surge a partir de necessidades, as quais impulsionam motivos orientados para um objeto.
De acordo com a Teoria da Atividade, sendo a atividade humana global, e
desdobrando-se em distintos tipos concretos de atividade, a diferenciação é dada pelo seu
conteúdo objetal. Cada tipo de atividade possui um conteúdo perfeitamente definido de
necessidades, motivos, ações e operações, elementos estruturantes da atividade. Nesse caso,
“o que distingue uma atividade de outra é o objeto da atividade [...] que confere à mesma
determinada direção” (LEONTIEV, 1978, p.83). No caso do exemplo, ora apresentado, o
objeto da atividade é o ensino caracterizado pelos projetos de ensino. Sendo o objeto da
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atividade o ensino por meio do uso de mídias, esta compreende duas etapas importantes: de
orientação (correspondendo às necessidades, aos motivos, ao objeto e às tarefas) e a de
execução (constituída pelas ações e suas operações). Assim, com base no pensamento de
Leontiev (1978, p. 83) “a atividade do sujeito é direcionada para a concretização do objeto ou
motivo, que surge em função de uma necessidade [...]”. Nessa perspectiva, a atividade não é
qualquer ação. Exige ações específicas que permite distinguir a atividade principal da
atividade geral.
É preciso destacar, também, que ao conceito de atividade estão associadas às ações e
as operações. A ação é um “processo cujo motivo não coincide com seu objetivo, mas reside
na atividade da qual ele faz parte”, Leontiev diz que as ações são conectadas às necessidades e
motivos. Enquanto que as operações consistem no modo de execução de uma ação, uma
mesma ação pode ser realizada por diferentes operações. As ações não garantem a satisfação
de uma necessidade, mas compõem e estruturam a atividade e, dessa forma, adquirem sentido.
A atividade de ensino, enquanto atividade principal do professor, pressupõe a
necessidade de determinados conhecimentos, bem como a intencionalidade, manifestada nos
objetivos estabelecidos. Esses objetivos para serem atingidos dependem do desencadeamento
de ações e operações, realizadas por estudantes e professores mediadas por instrumentos
materiais e ideias e oferecem as condições para a realização de tais ações (SERRÃO, 2006).
Nessa perspectiva, ensinar compreende o desenvolvimento de atividades específicas
relacionadas ao ensino, uma vez que nem todas as atividades que o professor realiza em sala
de aula, podem ser consideradas como de ensino. Enfim, para ser considerada atividade de
ensino deve-se levar em consideração o seu objetivo ou propósito, ou seja, a intenção
implicada na situação analisada. Isto nos leva a dizer que, uma atividade de ensino somente
pode ser caracterizada pela referência à sua intenção.
Bordenave e Pereira (s/d) afirmam que a escolha adequada das atividades de ensino é
uma etapa importante de sua profissão. É nesta tarefa que se manifesta a verdadeira
contribuição de seu papel. Por isso, a escolha acertada de materiais e métodos, manifestada na
escolha das atividades de ensino, deve estar adequada aos objetivos educacionais, aos
conteúdos da matéria e aos alunos. Vários são os fatores que afetam a escolha das atividades
de ensino e aprendizagem, conforme apontam esses autores.
Esta breve explanação sobre os pressupostos da Teoria da Atividade tem o objetivo de
possibilitar o entendimento dos elementos que envolvem a atividade de ensino e sua relação
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com o contexto educacional. São esses elementos que nos subsidiarão na análise do uso de
mídias em sala de aula, na perspectiva de responder as nossas questões de pesquisa.
Para a discussão dos resultados, neste artigo, privilegiamos, apenas, as categorias:
motivo(s), ação/ações e operações do professor por estarem relacionadas ao que nos
propomos discutir neste momento.

Análise de conteúdo e a relação com a Teoria da Atividade o Atlas Ti

Segundo Bardin (2010) a análise de conteúdo consiste em técnicas de análise de


mensagens por meio de procedimentos sistemáticos, quer sejam quantitativos ou qualitativos,
e admitem inferência a respeito do conteúdo da mensagem.
Na Análise de Conteúdo diferentes unidades de registro podem ser empregadas como:
a palavra, o tema, o documento, etc.. Em nosso estudo, as unidades de registro selecionadas
foram os elementos estruturantes da atividade com base na Teoria da Atividade (LEONTIEV,
1978). Conforme, explica Bardin (op. cit) a análise temática consiste em encontrar ‘núcleos
de sentido’ que sejam significantes para a mensagem analisada.
Para análise dos dados do projeto de ensino seguimos as etapas da Análise de
Conteúdo: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e
interpretação (BARDIN, 2010), as quais associadas ao uso do software Atlas TI, consistiram
em: (leitura flutuante, preparação dos materiais, identificação codificação dos documentos,
criação das unidades hermenêuticas, associação dos documentos primários, descoberta das
passagens relevantes, construção dos códigos e memos, contagem de palavras, seleção de
segmentos do texto, etc.).

Preparando as informações (pré-análise e exploração do material)

A preparação do corpus para a pesquisa se deu na reunião e organização dos


instrumentos de coleta de dados, a saber: os questionários, os relatos de experiência escritos
referentes aos projetos de ensino; os relatos orais (gravação em áudio) e as entrevistas. Destes
documentos apresentaremos, apenas, a análise de quatro projetos de ensinos de professores de
escolas públicas, municipal e estadual, das séries finais do ensino fundamental do estado da
Paraíba.
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É imprescindível a leitura de todo o material reunido e análise das informações que


contemplam os objetivos da pesquisa, isto é, devem conter dados significativos e relevantes
aos objetivos da análise e abranger o campo que será investigado.
Nessa etapa foi realizada a inserção de todos os materiais originais em pastas
separadas e a nomeação deles, de acordo com a natureza de cada instrumento de coleta de
dados, os quais foram usados para composição das unidades hermenêuticas (arquivos que
contém todos os dados de pesquisa, provenientes dos arquivos de origem) no software Atlas
Ti. Esses documentos foram salvos em pastas no computador com extensão RTF (Rich Text
Format).
Após reunirmos os documentos referentes à pesquisa nessas pastas, foi necessário
prepará-los para a análise, assim, identificamos as diferentes informações necessárias para dar
continuidade ao processo.
Ainda, nesta etapa iniciamos o processo de codificação dos materiais, ou seja, a
definição da nomenclatura usada para nomear os documentos identificando-os com letras e
números equivalentes as iniciais do documento e do sujeito investigado, por exemplo, (PDP19
– projeto didático, professor 19).
É aconselhável, também, organizar um arquivo no Excel para catalogação de todos os
documentos e a organização de pastas no computador para armazenamento desses
documentos. Esta codificação serve para identificar, de forma rápida cada elemento dos
materiais que receberão a análise.
Realizado de maneira primária, sem a utilização de software específico para análise de
conteúdo, o documento foi inserido no Word e com o auxílio de uma marca texto, foram
marcados nos textos, os aspectos relevantes sobre as categorias a priori definidas consideradas
a partir da Teoria da Atividade (Leontiev, 1978), que são os elementos estruturantes da
atividade humana, no caso particular da pesquisa, a atividade de ensino. Esses elementos são:
necessidades, motivos, ações e operações. A intenção era de facilitar o nosso olhar em relação
às categorias de análise definidas previamente.

Explorando os materiais

A etapa de exploração dos materiais corresponde a diferentes momentos da análise dos


dados. Nessa etapa acontece a transformação do conteúdo em unidades de registro, ou seja, a
unitarização (MORAES, 1999).
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Para submeter às informações em unidades foi necessário definir a unidade de análise


ou a unidade de registro. De acordo com Bardin (2010), a unidade de registro (UR), apesar de
dimensão variável, é na ordem semântica, o menor recorte que se extrai do texto, podendo ser
uma palavra-chave, um tema, objetos, personagens, etc. O resultado deste processo será
diferentes mensagens divididas em elementos menores, devidamente codificados.
O software Atlas TI, permite a utilização do recurso Contagem de Palavras, no qual se
pretende trabalhar com a análise a nível textual. Este recurso permite que o software tabule
todas as palavras contidas nos documentos, em ordem alfabética e com o número de
freqüência destas palavras, transpostas para uma planilha no Excel.
Este procedimento é necessário, pois o software Atlas TI trabalha com este protocolo
para gerar o código de análise. Com a criação do código e a inserção das palavras
relacionadas ao código, o Atlas TI fará a auto-codificação, isto é, todas as palavras
pertencentes ao código, serão selecionadas automaticamente no texto, que está inserido no
software. Logo, o software codifica automaticamente, sendo necessária uma etapa de
filtragem, pois nem tudo que foi codificado pela palavra isolada, se trata efetivamente do
contexto analisado.
A utilização da contagem de palavras para a análise dos relatos de experiências
escritos foi realizada considerando apenas as categorias motivos, ações e operações, visto que
nosso problema de pesquisa pretende conhecer como as mídias foram usadas em situações de
ensino. Nesse processo de codificação foram geradas 1646 palavras, as quais foram
transportadas para a planilha no Excel e classificadas as palavras em quatro grupos, que
correspondem aos códigos dos elementos estruturantes da atividade, já citados anteriormente,
e em destaque na figura 1.

Figura 1- Relação entre os elementos estruturantes da atividade

Na figura 1, podemos observar o esquema gerado que demonstra as relações


estabelecidas entre os elementos estruturantes da atividade de ensino (motivos, objetivos e
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ações), considerados para esta análise, e que estão representados no Atlas Ti como os código:
a) motivos, b) objetivo(s) e c) ação do professor.
O código motivos é referente a toda citação que indique os motivos que originaram as
ações realizadas pelos(as) professores(as).
O código ação refere-se a tudo que se relaciona com as ações planejadas e realizadas
pelo professor ou pelos alunos, para que os objetivos sejam atingidos. Em relação ao código
operação corresponde a toda citação que indique a(s) operação(ões) realizadas e relacionadas
às ações correspondentes.

Tratamento dos resultados, inferência e interpretação

Esta etapa consiste na categorização ou classificação das unidades em categorias. Para


isso é necessário tratar “os resultados brutos obtidos a fim de que sejam significativos e
válidos e possam proporcionar ao pesquisador propor inferências e adiantar interpretações a
propósito dos objetivos previstos [...]” (BARDIN, 2010, P. 101).
Podemos dizer que implica em agrupar os dados de acordo com as semelhanças, e
analogias previamente estabelecidas, por meio de critérios determinados, com base no
problema, nos objetivos e elementos utilizados na análise de conteúdo.
Cada código construído recebeu um nome correspondente à idéia expressa no
segmento de texto que foi selecionado. Ao lado de cada código aparecem algumas
informações, como podemos observar dentro de cada caixa de texto na figura 2. Por exemplo,
o código “ação do professor” apresenta a seguinte informação {16,0}. O primeiro número em
destaque significa que o código está ligado a dezesseis citações e o segundo número (0) indica
que o código não está ligado a outro código.

12.1-AÇÕES DO
PROFESSOR {16-0}

Figura 2 - Código ação do professor

À caixa central (Figura 2: código ação do professor) foram relacionadas todas as


citações dos projetos de ensino dos sujeitos investigados.
As citações que aparecem na figura 3 são representadas por um símbolo, seguido de
uma informação numérica, por exemplo [2: 25], localizada abaixo do símbolo. O 2 representa
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que a citação refere-se ao sujeito 2 e o 25 corresponde a citação desse sujeito, incluindo todos
os códigos gerados no documento analisado (unidade hermenêutica).
A análise das citações dessa rede permitiu-nos perceber que existem ações referentes:
a) ao professor (sintetizam as ações enfocadas pelos professores ao organizarem as situações
de ensino) e b) aos alunos (para o desenvolvimento das tarefas solicitadas pelos professores).
Entre as ações do professor, podemos, ainda, distinguir ações do professor para o uso das
mídias; relacionadas ao conteúdo e a orientação da tarefa realizada pelo professor.
Após identificarmos essa distinção, para cada uma dessas categorias, em relação ao
professor, foram gerados os seguintes códigos: a) ação do professor em relação ao conteúdo,
b) ação do professor para organização das tarefas e c) ação do professor para uso das mídias.
À medida que o pesquisador vai codificando o documento as citações ficam salvas e
podem ser usadas para a construção de uma árvore hierárquica demonstrando todas as
ocorrências dos códigos relacionados às citações, e podem ser gerados para formar a rede
representada nas figuras 3 e 4.
Na figura 3 estão representados os elementos estruturantes da atividade do Professor
P19, onde mostramos os códigos referentes ao motivo que gerou o projeto de ensino, e os
códigos o objetivo, as ações e as operações.
Esta família de códigos foi construída agrega dados previamente criados na
codificação e contribuem para compreensão de como os professores usam as mídias em sala
de aula. A partir do motivo que direcionou os objetivos de ensino e suas respectivas ações e
operações podemos perceber o percurso do professor e as ações e operações relacionadas ao
uso específico de cada mídia escolhida.
Podemos perceber na figura 3 que o objetivo estabelecido por P19 para realização do
projeto de ensino sobre os problemas ambientais “desenvolver nos alunos uma atitude de
consciência diante dos problemas ambientais” deve ser atingido por meio das ações e
operações realizadas. Nesse caso, as ações e operações do professor estão baseadas na
discussão, sondagem de conhecimento dos alunos sobre a temática, sendo complementada
pela exibição de vídeo do you tube sobre a temática, leitura e interpretação de música com o
uso de micro sistem. Essas ações e operações é que determinaram se houve integração das
mídias em salas ou se apenas elas estão inseridas no espaço da sala de aula.
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Figura 3 - Rede elaborada com os elementos estruturantes da atividade de ensino

O resultado desse processo de codificação está representado na figura 4, onde


podemos observar o código ação do professor e as citações a ele correspondentes.
A rede construída no Atlas Ti (figura 4) apresenta os códigos nas quatro caixas e a
cada caixa estão relacionadas às citações correspondentes.
Nessa figura 4, a rede construída representa a família do código “ação do professor” e
todas as citações marcadas nos relatos de experiência dos quatro sujeitos investigados estão
ligadas aos códigos pelas setas.
Essa teia permite que possamos visualizar todas as ações realizadas pelos sujeitos da
pesquisa e fazermos um paralelo entre elas, identificando quais as ações que prevalecem
quanto ao modo como as mídias foram usadas por eles.
11786

[1:51][41]
--------------------
discutir sobre a
importância da
preservação [4:55][108]
12.1.1-AÇÃO DO ambiental e as [1:45][54] --------------------
PROFESSOR - transformações -------------------- os alunos foram
CONTEÚDO {7-0} ocorridas no meio O professor fez estimulados a
ambiente. uma retomada das produzir oralmente
discussões sobre as a história,
questões orientados pela
ambientais, tratando sequência das cenas
sobre o
consumismo e o
desenvolvimento
[2:16][71] industrial, que tem [1:40][55]
-------------------- se tornados --------------------
Comparação das grandes vilões do exibiu umvídeo do
[1:30][60] meio ambiente.
opiniões dos alunos you tube
--------------------
sobre a situação dos
o professor discutiu
afro-descendentes
juntamente coma
no passado e na
[1:50][41] turma questões
atualidade [4:18][44]
-------------------- ligadas à
--------------------
discutir comos responsabilidade
os alunos foram
alunos os social e à cidadania
instigados a 12.1.2- AÇÃO DO
conhecimentos deles participar de um PROFESSOR -
acerca de questões reconto oral sobre MÍDIAS {6-0}
ligadas ao meio as histórias que
ambiente 12.1-AÇÕES mais gostaram.
PROFESSOR {16-0}
[1:52][42]
-------------------- [4:58][115]
realizamos uma --------------------
sondagemcomos [2:30][44] orientados a
alunos acerca dos -------------------- organizar, emuma
conhecimentos dos Problematizar cartolina, as
mesmos sobre questões relativas histórias que eles
questões ligadas ao ao preconceito produziram.
meio ambiente racial e a
consciência negra.

[1:34][60]
--------------------
[2:25][88] houve discussão
-------------------- [2:15][67] dos principais
Haverá uma -------------------- pontos de cada
apresentação e uma Apresentação da texto
exposição comtodos proposta emsala de
os trabalhos aula.
produzidos na sala
de aula. [4:25][59]
--------------------
Os alunos foram
estimulados a
participar da
12.1.3-AÇÃO DO construção de um
PROFESSOR - texto coletivo
ORIENTAÇÃO DA
ATIVIDADE {2-0}

Figura 4 - Rede elaborada para representação do código ação do professor

Como já foi dito, inicialmente, a pesquisa está em andamento e, por isso, não nos
detemos em apresentar, neste trabalho, as inferências e interpretação dos dados constatadas.

Algumas Considerações

A etapa da pesquisa denominada análise dos dados representa um dos passos mais
relevantes da pesquisa científica. Devendo, portanto, atender ao rigor do método científico e,
consequentemente, na escolha e uso correto dos recursos tecnológicos adequados para a
averiguação do fenômeno investigado.
Em nossa pesquisa, mesmo em andamento, acreditamos que a escolha pelo software
Atlas Ti está nos favorecendo em diferentes aspectos, um deles é perceptível: o tempo que
vamos ganhar devido ao conjunto de dados coletados. Além de sabermos que existe a
possibilidade de uma análise mais profunda e complexa com o software, considerando o
tempo que temos para concluir a dissertação.
11787

Vale ressaltar que o software Atlas Ti, como qualquer outro recurso tecnológico, tem
suas limitações e desvantagens para as quais o(a) pesquisador(a) deve estar preparado. Além
disso, deve ter consciência que se mal utilizado pode acarretar prejuízos à pesquisa.
Até o momento temos observado que o uso do software Atlas TI foi de fácil manuseio
e bastante adequado às etapas metodológicas da análise de conteúdo. Por outro lado, permitiu
a inserção de nossas categorias de análise a priori, advindas da Teoria da Atividade sem
problemas.
Esperamos, ainda, contribuir com a difusão do uso em pesquisas qualitativas que
empregam a análise de conteúdo.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa. Portugal : Edições 70, 1977.

BORDENAVE, J. D. e PEREIRA, A. M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. Petropólis,


RJ: Editora Vozes, s/d.

LEONTIEV, A.N. Actividad, consciência, personalidad. La Habana : Editorial Pueblo y


Educación, 1978.

LUDKE, Menga & ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens


Qualitativas. São Paulo, SP: EDU,1986.

MORAES, R. Análise de Conteúdo. Revista Educação. Porto Alegre, v.22, n.37, p.7-32,
1999.

SERRÃO, M. I. B. Aprender a Ensinar. Aprendizagem do ensino no curso de Pedagogia


sob o enfoque histórico-cultural. São Paulo: Cortez Editora, 2006.

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