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Sempre tive, e ainda tenho, muito forte no meu mindset – pois afinal sou um

camaleão e gosto de palavras da moda – uma frase que ouço minha mãe falar desde que
tenho tentado me entender por gente: gaúcho nunca desiste, dá meia volta e segue
adiante. Pois bem, sou gaúcho. Comecei bem.
Em 2011 eu deixei de ser músico. Abandonei a faculdade de música e me dediquei a
dar aulas de música. E como disse um músico que tenho grande apreço: ele é só
professor.
Tá mas… Como dar aulas de música sem ser músico? Vivi esse paradoxo não sei
como. Aliás paradoxo é uma palavra importante pra mim. Sem ser músico dei aulas por
cerca de 5 anos no maior projeto de educação sócio musical do país. Vivi de música sem
ser músico. E sem fazer música já que eu era apenas professor. Há quem diga que dar
aulas de música não é um fazer musical. Pois é, Stravinsky e Fonterrada me deram a
impressão errada. Mas de fato, funcionou pra mim… Afinal sou um camaleão.
Preciso só dizer por aqui, que é mais fácil pra mim, que minha esposa acabou de me
trazer água morna. E esse é de fato um dos motivos pelo qual tenho certeza que ela me
ama. Sempre foi difícil me expressar e parece que não é nenhuma novidade. Incorrendo
ao erro de ser repetitivo: camaleão. Mas desde 2009 ela sabe também. Já falei uma vez.
Voltando um pouco mais no tempo.
Em 2002 estava certo que queria ser músico. Violonista. Até hoje sou incrivelmente
grato à Dona Bê por ter me dado a oportunidade de mudar do Tocantins para São Paulo e
estudar no famoso conservatório de Tatuí. Fiz meu recital de formatura em violão e hoje
sei que não sou violonista por que mesmo estando lá todos os dias e fazendo todas as
aulas/cursos/eventos possíveis e imagináveis que me ocorreram, não tenho um papel que
prove que toco. Ao que tudo indica me faltaram aulas. E como posso saber? já disse que
sou um camaleão, e nós quando lembramos, realmente lembramos, mas eu sou de outra
espécie, daquela que não se lembra de verdade das coisas.
Em 2008 entrei na USP: bacharelado em música com especialização em violão.
Sonhava com isso desde de 2002, e no 4º ano de graduação larguei a USP para trabalhar
com música. Já contei isso lá em cima. O que não contei é que a faculdade pública me
fazia perder mais dinheiro não conseguindo trabalhar do que não me cobrando uma
mensalidade – só quem nunca viveu o ambiente universitário de fato pode pensar que não
serve pra nada. Foi muito bom, mas não me formei.
Me formei em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e a leitura mais importante
que fiz na gradução em TI foi “Assim falou Zaratustra”. Me formei em TI para trabalhar
com jogos digitais. Mais uma frustração. Em 2015 até me dediquei com um certo afinco,
não virei desenvolvedor de jogos digitais, eu era só um professor da matéria.
Em 2017 comecei a estudar design e tudo na minha vida passou a ser design.
Comecei a ser então designer de interiores. Mas não virei, pois foi justamente quando
deixei em definitivo de ser um camelão: Minha filha nasceu!
Ter um filho é algo muito especial. Tem sido muito interessante, agora que tenho feito
psicoterapia, refletir sobre minha vida inteira sem saber o que realmente eu era.
Passei a sorrir espontaneamente, mas fiquei intolerante à lactose. As dores no corpo
pioraram bastante em especial quando os familiares vinham ver a pituca. Mas era bom
porque podia curtir uma depressão que não sabia que tinha e que honestamente não sei
desde quando começou porque sempre fui um camaleão. Basicamente: paradoxo.
Sempre me senti um paradoxo. Mas hoje entendo perfeitamente o que eu sou. Como
camaleão sou um músico designer formado em Análise de dados. E como eu mesmo, por
trás de todas as máscaras, sou pai e sou autista.

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