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30 anos de SUS: relação público-privada e os impasses para o direito universal à

saúde

No Brasil, nas últimas décadas, com o processo de redemocratização política, pode-se


notar uma série de avanços sociais. Nesse contexto emerge a Saúde na Constituição
Federal como “direito de todos e dever do Estado”. É importante ressaltar que antes da
efetivação da saúde como política pública a mesma não era considerada um direito social,
este reconhecimento se dá após anos de lutas, com o Movimento da Reforma Sanitária
Brasileira (MRSB) mobilizado e articulado, com um projeto alternativo voltado para a
democratização da saúde e a participação social.
Ao final dos anos 70, no Brasil e com a crise da ditadura, os movimentos populares
começam a ocupar espaços evidenciando a necessidade de participação da sociedade
sobre as decisões do Estado.
A democratização na saúde fortaleceu-se no movimento pela Reforma Sanitária,
avançando e organizando suas propostas na VIII Conferência Nacional de Saúde, de
1986, que conferiu as bases para a criação do Sistema Único de Saúde. Neste evento, os
participantes denunciavam os desmandos na saúde e clamavam por ações de garantia dos
direitos da população. É neste cenário que a saúde tem seu conceito ampliado como
resultado da luta progressista da classe trabalhadora.
O movimento social reorganizou-se na última Constituinte, com intensa luta travada pela
afirmação dos direitos sociais. Em 1988, nova ordem jurídica, assentada na Constituição,
define o Brasil um Estado Democrático de Direito, proclama a saúde direito de todos e
dever do estado.
A Constituição Cidadã ampliou o conceito de saúde, mas nesse contexto podemos notar
uma dualidade, nos anos de 1990 o papel do Estado é redimensionado influenciado pela
ideologia neoliberal, se constitui um projeto de saúde articulado com o mercado, que visa
à focalização da saúde, tirando o seu caráter universal e desresponsabilizando o Estado
de suas funções.
No Brasil o ideário neoliberal tem sido responsável pela redução dos direitos sociais e
trabalhistas, através da precarização das relações e condições de trabalho, e do desmonte
da saúde.
Nos governos de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff é importante considerar que
houve conquistas sociais com a criação de programas e serviços, contudo, os fatores de
continuidade da política neoliberal vistos nos anos 1990 permaneceram. Faltaram
reformas essenciais em seus governos para impactar diretamente na saúde, como: a
reforma fiscal, política e agraria e também bandeiras do MRSB.
Portanto, com a ofensiva neoliberal e a precarização da política de saúde no Brasil, torna-
se necessário o processo de resistência e organização da classe trabalhadora, que a
sociedade ocupe os espaços de controle social, tal participação dos usuários na defesa dos
princípios do SUS é de fundamental importância na luta contínua por um sistema de saúde
democrático que possa assegurar melhorias nas condições de vida para toda população.
A Emenda Constitucional nº. 95, de 15 de dezembro de 2016 – EC nº. 95/2016, instituiu
o Novo Regime Fiscal no âmbito dos Orçamentos Fiscal e da Seguridade Social da União,
que vigorará por vinte exercícios financeiros, com início em 2017 e final em 2036. No
campo da saúde, o objetivo da EC nº. 95/2016, é reforçar, com o limite dos investimentos
públicos, o sistema de saúde privado, aprofundando dois principais obstáculos à
efetividade e à universalidade do SUS, que não são propriamente motivos ligados à gestão
do Sistema, ou seja, a concorrência dos planos privados de saúde e os subsídios generosos
que eles recebem do próprio Estado.
A EC nº. 95/2016 representa a reação dos setores políticos e econômicos conservadores
da sociedade brasileira, que nunca aceitaram uma Constituição que pretendeu ser
dirigente e que pretendeu implantar um Estado Social no Brasil. É, portanto, uma ofensiva
conservadora de retirada de direitos sociais, tendo como alvo prioritário o projeto
constituinte de 1988, que exige a intervenção do Estado para a redução das severas
desigualdades sociais e econômicas, necessária para uma economia verdadeiramente
soberana.
No entanto, a aprovação da Emenda Constitucional – EC nº. 29, de 13.09.2000, definiu
montantes mínimos a serem aplicados anualmente pela União, Estados, Distrito Federal
e Municípios em ações e serviços públicos de saúde – ASPS.
As diretrizes sobre a aplicação da EC nº. 29/2000, foram aprovadas no Conselho Nacional
de Saúde – CNS pela Resolução nº. 322, de 08.05.2003. Os cálculos nesta resolução
representam os percentuais mínimos a serem aplicados pelos Estados, Distrito Federal e
Municípios durante regra de transição, de 2000 a 2004, passando a vigorar já no ano da
sua aprovação, quando a União respondia por quase 60% do recurso público total, a EC
nº. 29/2000 trouxe mais recursos e promoveu o aumento da participação de Estados,
Distrito Federal e Municípios no financiamento do SUS.

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