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COLÉGIO BOM JESUS

Fátima; Laura; Luanna

SEMINÁRIO ORWELL
Contextualização e atualização

Curitiba
2016
Delação

1. Denúncia, revelação intencional de crime ou de qualquer comportamento errado.

2. Revelação acidental ou não-intencional do que se procurava ocultar, ato de deixar perceber.

Delação: como aparece em “1984”?

Na obra “1984” de George Orwell, a população do estado de Oceânia vive sob um governo
totalitário que manipula as informações, o controle de alimentos e mercadorias, o certo e o
errado, e tenta criar uma nova língua, que se desprenda do inglês que antes era a oficial.

O estado é composto por quatro ministérios, sendo o Ministério do Amor o mais perigoso de
todos, porque ir para lá significava inortodoxia, pensamento-crime e sinais de ideais
contrarrevolucionários. Para controlar os crimes cometidos e monitorar todos os indivíduos, o
Partido contava com a ajuda das tele-telas, para vigiar constantemente a população, dos dois
minutos de ódio contra o “inimigo” Emmanuel Goldstein, da nova-fala e dos delatores.

Manipulada pelo Partido e sob um rígido controle oficial, a população se convenceu de que
devia abrir mão de suas liberdades individuais, em nome de uma boa causa: combater a
corrupção. Havia uma certa resistência. Mas as pessoas que, no decorrer de muitos anos,
foram educadas pelo Partido a delatar qualquer um que cometesse, por exemplo,
um pensamento-crime (o crime de ideia — ou de pensar diferentemente do pensamento
oficial), as denunciavam à Polícia das Ideias. Até vizinhos e familiares delatavam os
“criminosos” e os que praticavam atos proibidos pelo regime, mesmo os mais corriqueiros,
como amar ou fazer sexo.

O incentivo à delação visa corroer a confiança entre as pessoas, a destruir o elo social que
elas têm entre si, com sua família, seus vizinhos, e substituí-lo pelo vínculo com o Estado, pela
dependência e fidelidade cada vez maior a uma autoridade superior e impessoal.

Edward Snowden

Edward Joseph Snowden é um analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da CIA e


ex-contratado da NSA que tornou públicos detalhes de vários programas que constituem o
sistema de vigilância global da NSA americana.
Em 2013, Snowden, desencadeou um escândalo sem precedentes quando vazou para jornais
internacionais documentos sobre como a agência tem acesso a dados sobre milhares de
telefonemas e e-mails e outras mensagens enviadas ao redor do mundo. Em reação às
revelações o Governo dos Estados Unidos acusou-o de roubo de propriedade do governo,
comunicação não autorizada de informações de defesa nacional e comunicação intencional de
informações classificadas como de inteligência para pessoa não autorizada.
O presidente americano Barack Obama negou que o país faça espionagem em líderes
estrangeiros, mas anunciou mudanças na NSA, prometendo respeito às liberdades civis.

Após a delação, Snowden fugiu de sua casa no Havaí rumo a Hong Kong e, depois, à Rússia.
Nos Estados Unidos, ele é acusado de espionagem.

Edward Snowden e “1984”

Winston Smith, protagonista da obra, é apresentado como um trabalhador em uma das


muitas seções dentro do Ministério da Verdade, responsável pelo controle das informações.
Snowden é um analista de sistemas, ex-administrador de sistemas da CIA, e ex-contratado da
NSA, que participava de um sistema complexo de vigilância mundial. Winston vivia em uma
sociedade opressora e totalitária, onde até mesmo o pensamento era controlado pelo Partido.
Os cidadãos cresciam em um ambiente onde o amor e sexo eram crimes, considerados
perigosos pelo governo, que procurava criar indivíduos capazes de denunciar seus próprios
familiares e conhecidos, coisa que não seria possível com a criação de laços entre as pessoas.

Nos Estados Unidos, a delação já faz parte da cultura do país, porque é um costume antigo.
A existência e o sucesso do Centro Nacional dos Delatores (NWC – National Whistleblowers
Center), ao qual qualquer um pode se associar, como se fosse um “clube dos delatores”,
mostra que uma parcela considerável da população americana parece não se preocupar com a
possibilidade de chegar a um destino como o de Oceânia, descrito por Orwell em 1984. Não se
importam com o fato — ou não se dão conta — de que o fim das liberdades individuais, em
nome de uma boa causa objetivada por regimes totalitários, é mais facilmente alcançada com
a colaboração de delatores, de todos os tipos, uma vez que a cultura da delação esteja
sedimentada.

Porém, ao mesmo tempo que grande parte da população apoie o incentivo à delação dentro
do próprio país, visto como uma forma de adoração ao governo e à pátria, visando uma
sociedade justa, Edward é, para muitos americanos, um criminoso. Seus cidadãos acreditam
ser ético denunciar casos de corrupção, e crimes, mas não acham justo um único indivíduo
delatar uma rede de vigilância mundial envolvendo líderes de diversos países, simplesmente
por acreditar cegamente no governo, e em tudo o que faz. Algo muito presente na realidade
de Winston, que durante os dois minutos de ódio diário via de forma fanática a adoração ao
Grande Irmão, que mesmo estando errado e sendo contraditório, a população delatava o
menor sinal de inortodoxia, porque assim como no caso de Snowden, denunciar o próprio
Partido era errado, por isso eram denunciadas as pessoas que pensavam em agir contra o
mesmo.

Se Snowden fosse personagem do livro, seria um membro do Partido, assim como O’Brien,
que secretamente cometia o chamado pensamento-crime. Porém, diferente de O’Brien e
Winston, ele teve oportunidade, coragem e apoio para delatar todo o sistema que fazia parte.
Referências bibliográficas

João Ozorio de Melo, Governos compram liberdades individuais dos povos. Disponível em: <
http://www.conjur.com.br/2012-fev-27/lei-lei-governos-compram-liberdades-individuais-
povos>. Acesso em 7 de abril de 2016.

InfoEscola, 1984 - Nineteen-eighty-four. Disponível em:


<http://www.infoescola.com/livros/1984-nineteen-eighty-four/>. Acesso em 7 de abril de
2016.

Camilla Costa, ‘Quem é Snowden?’, perguntam internautas após entrada de delator no


Twitter. Disponível em:
<http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150929_snowden_salasocial_twitter_cc>
. Acesso em 7 de abril de 2016.

Bem O’Neill, Edward Snowden e a ética da delação. Disponível em: <


http://rothbardbrasil.com/edward-snowden-e-a-etica-da-delacao/ >. Acesso em 7 de abril de
2016.

Michaela Smith, Edward Snowden and George Orwell’s 1984. Disponível em: <
https://prezi.com/j8iidnog-32w/edward-snowden-and-george-orwells-1984/>. Acesso em 7 de
abril de 2016.

Hannah Osborne, George Orwell’s 1984 book sales sour 6000% on Edward Snowden NSA prism
data leak. Disponível em:< http://www.ibtimes.co.uk/george-orwell-sales-1984-rise-edward-
snowden-477262>. Acesso em 7 de abril de 2016.

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