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Aplicando as Normas IFRS

IFRS 15 - Receitas de Contratos com Clientes

TM Rio 2016
Uma análise detalhada
da nova norma para
reconhecimento de receitas
Junho de 2014

Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 1


2 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 3
Uma grande conquista
A emissão, em maio deste ano, da nova norma para reconhecimento de
receitas, a IFRS 15 – Receitas de Contratos com Clientes (Revenue from
Contracts with Customers) – por parte dos órgãos reguladores IASB e FASB
representa um grande avanço para as normas contábeis. Ao mesmo tempo,
tal fato inédito traz muitos desafios para as empresas no momento de divulgar
suas demonstrações financeiras.
Aplicando as Normas IFRS Além de afetar as demonstrações financeiras, a IFRS 15 provavelmente
IFRS 15 - Receitas de Contratos com Clientes impactará também os processos de negócios e os controles internos
das empresas. A complexidade na implantação da nova norma vai variar
em função do segmento de indústria e da estrutura de controles internos
das organizações. Portanto, a norma irá afetar as empresas de forma
desigual, e uma avaliação preliminar será essencial para gerenciar sua
implantação.

Pelo fato de os novos requisitos de divulgação serem extensos e representarem


uma mudança importante com relação às normas de IFRS existentes, é

Uma análise detalhada


fundamental que as empresas se preparem o quanto antes para a sua aplicação.
Mesmo que a data de vigência da IFRS 15 seja a partir de janeiro de 2017, é de
extrema importância que as organizações preparem um diagnóstico para então

da nova norma para decidirem sobre o melhor momento para a sua adoção e estabeleçam quando
será a transição para a nova norma.

reconhecimento de receitas Pretendemos, com essa publicação, elucidar os principais aspectos da IFRS 15,
trazendo análises a respeito de mudanças nas práticas correntes de vários
segmentos de indústria. Esperamos que essa publicação represente mais uma
colaboração para o entendimento das normas IFRS e contribua para a maior
Junho de 2014 transparência e qualidade das informações reportadas pelas empresas
brasileiras que adotaram as normas internacionais de contabilidade.

Boa leitura.

Sergio Romani
Sócio-líder de Auditoria

4 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 5
Visão geral
O Comitê de Normas Internacionais de Contabilidade (International Accounting Standards •• Dentro do processo de convergência com o IFRS, e para se adequar às exigências regulatórias,
Board – IASB) e o Comitê de Normas de Contabilidade Financeira dos EUA (US Financial o Brasil adota a versão dos pronunciamentos emitida pelo IASB. Espera-se que o Comitê de
Accounting Standards Board – FASB) emitiram em conjunto uma nova norma para Pronunciamentos Contábeis (CPC) emita o pronunciamento equivalente ao IFRS 15 em breve,
reconhecimento de receitas, a IFRS 15 – Receitas de Contratos com Clientes (Revenue que será aprovado por cada regulador que possua autoridade para regulamentação de normas
from Contracts with Customers). A norma substituirá praticamente todas as regras contábeis. Os reguladores definirão a data de vigência e aprovarão as regras de transição.
para reconhecimento de receitas segundo IFRS e US GAAP. Historicamente, a adoção antecipada de uma nova prática contábil não tem sido aceita no Brasil.

Cientes das diversas questões envolvendo as regras existentes para reconhecimento A norma descreve os princípios a serem aplicados pela entidade na mensuração e reconhecimento
de receitas segundo os princípios de contabilidade geralmente aceitos nos EUA (US GAAP) das receitas e seus respectivos fluxos de caixa. O princípio fundamental é que a entidade
e as normas internacionais de contabilidade financeira (IFRS), os Comitês decidiram reconhecerá a receita por um valor que reflita a contraprestação que ela espera receber pela
desenvolver uma norma de receita conjunta com o intuito de: transferência de bens ou serviços para um cliente.
•• Remover as inconsistências e deficiências percebidas nas normas existentes sobre Os princípios da IFRS 15 serão aplicados em cinco passos:
reconhecimento de receitas;
1. Identificar o contrato com o cliente;
•• Fornecer uma estrutura mais robusta para abordar questões sobre reconhecimento
de receitas; 2. Identificar as obrigações de desempenho (performance obligations) previstas no contrato;

•• Aprimorar a comparabilidade das práticas de reconhecimento de receitas entre setores, 3. Determinar o preço da transação;
entidades que operam nesses setores, jurisdições e mercados de capitais; 4. Alocar o preço da transação às obrigações de desempenho previstas no contrato;
•• Reduzir a complexidade da aplicação das regras de reconhecimento de receitas, reduzindo o 5. Reconhecer a receita quando (ou conforme) a entidade atende a cada obrigação de desempenho.
volume de normas e interpretações sobre o assunto;
As entidades precisarão exercer julgamento ao considerar os termos dos
•• Fornecer informações mais úteis para os usuários com base em novas exigências contratos e todos os fatos e circunstâncias, inclusive termos contratuais implícitos. As entidades
de divulgações.1
terão de aplicar as exigências da norma de forma consistente para contratos com características e
A Norma IFRS 15 especifica o tratamento contábil para todas as receitas de contratos com circunstâncias semelhantes. Em resposta ao feedback recebido, os Comitês incluíram mais
clientes. É aplicável a todas as entidades que assumem contratos de fornecimento de bens exemplos na norma final do que haviam incluído no projeto (exposure draft) proposto em
e serviços para os clientes, a menos que esses contratos estejam incluídos no escopo de novembro de 2011. Incluímos uma relação desses exemplos no Apêndice B a esta publicação.
outras normas IFRS, como a IAS 17 Leases, que trata de contratos de arrendamento. A norma
A IFRS 15 exige adoção retrospectiva integral para todos os períodos apresentados no período
também prevê um modelo para mensuração e reconhecimento de ganhos e perdas na venda
de adoção (com determinadas isenções durante a transição) ou adoção retrospectiva modificada.
de certos ativos não financeiros, como propriedades ou equipamentos.
Para aqueles que preparam informações financeiras de acordo com as normas IFRS, a adoção
Por conseguinte, a IFRS 15 provavelmente afetará as demonstrações financeiras, os processos da IFRS 15 é obrigatória para exercícios a partir de 1º de janeiro de 2017. Para aqueles que as
de negócios e os controles internos sobre a apresentação financeira das entidades. Embora preparam segundo US GAAP, a nova norma entra em vigor a partir de 15 de dezembro de 2016.
algumas entidades possam implantar a norma com esforços mínimos, outras podem considerar A adoção antecipada é permitida para as entidades que apresentam suas informações financeiras
sua implantação significativamente complexa. Uma avaliação preliminar será fundamental para de acordo com as normas IFRS, exceto companhias abertas (como definido na versão US GAAP
gerenciar a implantação dessa norma. da norma) que apresentam suas informações financeiras segundo US GAAP.

Embora os Comitês tenham emitido duas normas separadamente, nesta publicação elas são Esta publicação destaca os principais aspectos da IFRS 15. Também pretendemos emitir
tratadas como uma única norma. As normas segundo IFRS e US GAAP são idênticas, salvo publicações específicas para cada setor que abordarão, de maneira mais detalhada, mudanças
as seguintes exceções: nas práticas correntes do setor. Recomendamos aos preparadores e usuários de demonstrações
financeiras uma leitura cuidadosa desta publicação e dos suplementos por setor, bem como
•• Os Comitês usam o termo “provável” para descrever o nível de confiança necessário ao a devida consideração dos efeitos potenciais da norma.
avaliar a capacidade de realização do valor na identificação de contratos com clientes, nível
este mais baixo segundo IFRS do que US GAAP (conforme discutido na Seção 3.1.5); As opiniões expressas nesta publicação são preliminares. Outras questões poderão ser
identificadas à medida que desenvolvermos nossa análise da norma e as entidades começarem
•• O FASB exige mais divulgações nas demonstrações financeiras intermediárias do que o IASB;
a adotá-la; portanto, nossas opiniões podem evoluir durante esse processo.
•• O IASB permite a adoção antecipada;
•• O IASB permite reversões de perdas por desvalorização (impairment), já o FASB não as permite;
•• O FASB prevê isenção para companhias fechadas (como definido na versão da norma segundo
US GAAP) com relação a exigências de divulgação específicas, data de vigência e transição.

1. IFRS 15.IN5.

6 Uma análise
análise detalhada
detalhadada
danova
novanorma
normapara
parareconhecimento
reconhecimentodedereceitas
receitas Uma
Umaanálise
análisedetalhada
detalhadada
danova
novanorma
normapara
parareconhecimento
reconhecimentode
de receitas
receitas 7
Índice 7 | Satisfação das obrigações de desempenho.............................................................. 95
7.1 Obrigações de desempenho satisfeitas ao longo do tempo...............................................95
Visão geral.................................................................................................................... 6
7.2 Controle transferido em um determinado momento......................................................107
1 | Data de vigência e transição................................................................................... 11
7.3 Acordos de recompra.................................................................................................109
1.1 Data de vigência...........................................................................................................11
7.4 Contratos de venda para entrega futura.......................................................................113
1.2 Abordagem para o período de transição.........................................................................12
7.5 Aceitação pelo cliente.................................................................................................115
1.3 Considerações sobre aplicação......................................................................................17
7.6 Licenciamento e direitos de uso..................................................................................116
2 | Escopo.................................................................................................................... 20 7.7 Reconhecimento de receita quando existe um direito a devolução..................................116
2.1 Definição de cliente......................................................................................................20 7.8 Quebras e pagamentos antecipados de bens ou serviços futuros....................................117
2.2 Acordos de colaboração................................................................................................21 7.9 Contratos onerosos....................................................................................................118
2.3 Interação com outras normas........................................................................................22
8 | Outros tópicos de mensuração e reconhecimento.................................................. 119
3 | Identificar o contrato com o cliente......................................................................... 24 8.1 Garantias...................................................................................................................119
3.1 Atributos de um contrato..............................................................................................25 8.2 Contratos onerosos....................................................................................................122
3.2 Combinação de contratos.............................................................................................30 8.3 Custos de contratos...................................................................................................123
3.3 Modificações contratuais..............................................................................................31 8.4 Licenças de propriedade intelectual.............................................................................128
3.4 Acordos que não se enquadram na definição de contrato segundo a norma......................38
9 | Apresentação e divulgação.................................................................................... 137
4 | Identificar as obrigações de desempenho previstas no contrato............................... 39 9.1 Apresentação de ativos de contratos, passivos de contratos e receita............................137
4.1 Identificação de bens e serviços prometidos no contrato.................................................40 9.2 Objetivo de divulgação e exigências gerais...................................................................138
4.2 Obrigações de desempenho separadas ..........................................................................43 9.3 Exigências específicas de divulgação............................................................................139
4.3 Bens e serviços que não são distintos............................................................................48
10 | Considerações sobre implementação................................................................... 148
4.4 Considerações sobre principal e agente .........................................................................49
10.1 Não se trata apenas de uma mudança contábil...........................................................148
4.5 Contratos de consignação.............................................................................................53
10.2 Implementação de mudança contábil.........................................................................149
4.6 Opções do cliente de adquirir bens ou serviços adicionais................................................54
10.3 Fase de avaliação.....................................................................................................150
4.7 Venda de produtos com direito a devolução...................................................................55
10.4 Processo de implementação remanescente................................................................154
5 | Determinar o preço da transação............................................................................ 57 10.5 Comunicação com os principais stakeholders..............................................................155
5.1 Contraprestação variável..............................................................................................58
Anexo A: Transcrição da Lista de Verificação de Divulgações segundo
5.2 Contabilização de tipos específicos de contraprestação variável......................................68 as normas IFRS (IFRS Disclosure Checklist) da EY........................................... 156
5.3 Componente de financiamento significativo....................................................................70
Anexo B: Exemplos incluídos na norma........................................................................ 165
5.4 Contraprestação não monetária....................................................................................73
5.5 Contraprestação paga ou a pagar para um cliente...........................................................75
5.6 Taxa antecipada não reembolsável................................................................................78

6 | Alocar o preço da transação às obrigações de desempenho..................................... 80


6.1 Estimativa dos preços de venda individuais....................................................................80
6.2 Aplicação do método de preço de venda individual relativo..............................................88
6.3 Alocação de contraprestação variável............................................................................89
6.4 Alocação de um desconto.............................................................................................91
6.5 Mudanças no preço da transação após a data da assinatura do contrato...........................94
6.6 Alocação do preço da transação a componentes fora do escopo da IFRS 15......................94

8 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 9
1 Data de vigência e transição
O que é importante saber
•• A IFRS 15 cria uma fonte única de regras que tratam de receitas, para todas as entidades, 1.1 Data de vigência
em todos os setores. A nova norma para reconhecimento de receitas representa uma A IFRS 15 entra em vigor para exercícios iniciados a partir de 1º de janeiro de 2017. A adoção
mudança significativa com relação às normas IFRS existentes. antecipada é permitida para as entidades que apresentam suas informações financeiras de acordo
com as normas IFRS, desde que esse fato seja divulgado, e para aquelas que adotam a norma pela
•• A nova norma é aplicável a receitas de contratos com clientes e substitui todas as normas
primeira vez.
e interpretações do IFRS que tratam de receita, inclusive IAS 11 - Contratos de
Construção (Construction Contracts), IAS 18 - Receita (Revenue), IFRIC 13 - Programas A data de vigência da norma para companhias abertas que aplicam US GAAP é 15 de dezembro de
de Fidelização de Clientes (Customer Loyalty Programmes), IFRIC 15 - Contratos para 2016, que é essencialmente a mesma data para aquelas que preparam suas informações financeiras
Construção do Setor Imobiliário (Agreements for the Construction of Real Estate), IFRIC segundo as normas IFRS. Contudo, a adoção antecipada não é permitida para companhias abertas
18 - Recebimento em Transferência de Ativos de Clientes (Transfers of Assets from dos EUA.2 No Brasil, historicamente os reguladores também não tem permitido adoção antecipada
Customers) e SIC-31 - Receita – Transações de Permuta envolvendo Serviços de para novos pronunciamentos contábeis.
Publicidade (Revenue – Barter Transactions involving Advertising Services). No Brasil,
quando o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitir a norma equivalente à IFRS A tabela abaixo é um exemplo da data de vigência das novas exigências para aqueles que
15, serão substitudas as seguintes normas: CPC 30 - Receita, CPC 17 - Contratos de preparam suas informações financeiras segundo as normas IFRS com encerramentos de exercício
Construção, ICPC 02 – Conrtatos de Construção do Setor Imobiliário e ICPC 11 – diferentes e assume que as entidades apresentam suas informações financeiras duas vezes ao
Recebimento em Transferência de Ativos de Clientes.A IFRS 15 é baseada em princípios ano (anual e semestralmente).
consistentes com as regras existentes aplicáveis a receitas, porém fornece mais
orientações sobre sua aplicação. A falta de regras claramente definidas implicará a
Encerramento Adoção antecipada (Aguardando definição
necessidade de maior julgamento. Adoção obrigatória
do exercício de aplicação no Brasil)
•• A nova norma terá pouco efeito em algumas entidades, mas exigirá mudanças 31 de dezembro Data de vigência: 1º de janeiro Possíveis datas de adoção incluem:
significativas em outras, especialmente naquelas para as quais as normas IFRS existentes de 2017. Apresentada pela •• Data de vigência: 1º de janeiro de 2015.
fornecem pouca orientação sobre aplicação. primeira vez nas demonstrações Apresentada pela primeira vez nas
•• A IFRS 15 também especifica o tratamento contábil para determinados itens normalmente financeiras intermediárias de demonstrações financeiras intermediárias de
30 de junho de 2017 e nas 30 de jun ho de 2015.
considerados como receitas – por exemplo, certos custos associados à obtenção e ao
demonstrações financeiras anuais
cumprimento de um contrato e à venda de certos ativos não financeiros. •• Data de vigência: 1º de janeiro de 2016.
de 31 de dezembro de 2017. Para
Apresentada pela primeira vez nas
companhias de capital aberto no
demonstrações financeiras intermediárias de
Brasil, a adoção será mandatória
30 de junho de 2016.
para informações trimestrais do
trimestre a findar-se em 31 de
março de 2017.

30 de junho Data de vigência: 1º de janeiro de Possíveis datas de adoção incluem:


2017. Apresentada pela primeira •• Data de vigência: 1º de julho de 2014.
vez nas demonstrações financeiras Apresentada pela primeira vez nas
intermediárias de 31 de dezembro demonstrações financeiras intermediárias de
de 2017 e nas demonstrações 31 de dezembro de 2014 e nas demonstrações
financeiras anuais de 30 de junho financeiras anuais de 30 de junho de 2015.
de 2018.
•• Data de vigência: 1º de julho de 2015.
Apresentada pela primeira vez nas
demonstrações financeiras intermediárias de
31 de dezembro de 2015 e nas demonstrações
financeiras anuais de 30 de junho de 2016.
•• Data de vigência: 1º de julho de 2016.
Apresentada pela primeira vez nas
demonstrações financeiras intermediárias de
31 de dezembro de 2016 e nas demonstrações
financeiras anuais de 30 de junho de 2017.

2. As companhias fechadas dos EUA serão obrigadas a aplicar a nova norma para os períodos de apresentação financeira
a partir de 15 de dezembro de 2017. A adoção antecipada é permitida, porém não antes de períodos de apresentação
financeira a partir de 15 de dezembro de 2016.

10 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 11
1.2 Abordagem para o período de transição Extraído da IFRS 8
A IFRS 15 exige aplicação retrospectiva. Os Comitês decidiram permitir a adoção “retrospectiva
integral”, na qual a norma é aplicada para todos os períodos apresentados, ou uma adoção
Limitações à aplicação retrospectiva
“retrospectiva modificada”.
23. Quando a aplicação retrospectiva for exigida pelos itens 19(a) ou (b), uma mudança na política
Os Comitês esclareceram os seguintes termos:3 contábil deve ser aplicada retrospectivamente, exceto quando for impraticável determinar os efeitos
do período ou o efeito cumulativo da mudança.
•• A data da aplicação inicial – o início do período-base em que a entidade aplica a IFRS 15 pela
primeira vez. Por exemplo, para uma entidade cujo período-base anual se encerra em 30 de 24. Quando for impraticável determinar os efeitos específicos do período decorrentes da mudança na
junho, a data da aplicação inicial obrigatória será 1º de julho de 2017. política contábil na informação comparativa para mais um ou mais períodos anteriores
apresentados, a entidade deve aplicar a nova política contábil aos saldos contábeis de ativos e
•• Contrato concluído – um contrato em que a entidade tenha transferido integralmente todos os passivos de abertura do período mais antigo para o qual seja praticável a aplicação retrospectiva,
bens e serviços identificados antes da data da aplicação inicial. Como resultado, as entidades que pode ser o período corrente, e deve proceder ao ajuste correspondente no saldo de abertura de
não precisam aplicar a IFRS 15 aos contratos se tiverem concluído todas as obrigações de cada componente do patrimônio líquido afetado desse período.
desempenho neles previstas antes da data da aplicação inicial, mesmo que ainda não tenham 25. Quando for impraticável determinar o efeito cumulativo, no início do período corrente, da aplicação
recebido a respectiva contraprestação e essa contraprestação ainda esteja sujeita a da nova política contábil a todos os períodos anteriores, a entidade deve ajustar a informação
variabilidade. comparativa para aplicar a nova política contábil prospectivamente a partir do período mais antigo
que for praticável.
1.2.1 Adoção retrospectiva integral
26. Quando a entidade aplicar a nova política retrospectivamente, ela deve aplicar a nova política
As entidades que optarem pela adoção retrospectiva integral aplicarão as disposições da IFRS 15
contábil à informação comparativa para períodos anteriores tão antigos quanto for praticável. A
a cada período apresentado nas demonstrações financeiras de acordo com a IAS 8 Políticas aplicação retrospectiva a um período anterior pode ser considerada não praticável se não for
Contábeis, Mudanças de Estimativas e Retificação de Erros (Accounting Policies, Changes in praticável determinar o efeito cumulativo nos montantes dos balanços de abertura e de
Accounting Estimates and Errors), sujeitas aos expedientes práticos criados para permitir encerramento desse período. O valor do ajuste resultante, relacionado com períodos anteriores aos
isenções, conforme discutidas abaixo. apresentados nas demonstrações contábeis, é registrado no saldo de abertura de cada componente
do patrimônio líquido afetado do período anterior mais antigo apresentado. Geralmente, o ajuste é
registrado em lucros ou prejuízos acumulados. Contudo, o ajuste pode ser feito em outro
Extraído da IAS 8 componente do patrimônio líquido (por exemplo, para cumprir uma IFRS). Qualquer outra
informação sobre períodos anteriores, tal como resumos históricos de dados financeiros, é também
Aplicação de mudanças de políticas contábeis ajustada para períodos tão antigos quanto for praticável.
19. Definições sujeitas ao item 23: 27. Quando for impraticável à entidade aplicar a nova política contábil retrospectivamente, porque não
pode determinar o efeito cumulativo da aplicação da política a todos os períodos anteriores, a
(a) a entidade deve contabilizar uma mudança na política contábil resultante da adoção inicial de
entidade, de acordo com o item 25, deve aplicar a nova política prospectivamente desde o início do
uma IFRS de acordo com as disposições transitórias específicas, se existirem, expressas nessa
período mais antigo praticável. Portanto, ignora-se a parcela do ajuste cumulativo em ativo,
IFRS; e
passivos e patrimônio líquido correspondente a períodos anteriores àquela data. A mudança na
(b) quando a entidade muda uma política contábil na adoção inicial de uma IFRS que não inclua política contábil é permitida mesmo que seja impraticável aplicar a nova política a qualquer período
disposições transitórias específicas que se apliquem a essa mudança, ou quando muda uma anterior. Os itens 50 a 53 oferecem orientação sobre quando é impraticável aplicar a nova política a
política contábil voluntariamente, ela deve aplicar a mudança retrospectivamente. um ou mais períodos anteriores.
20. Para fins desta Norma, a adoção antecipada de uma IFRS não deve ser considerada como mudança
voluntária na política contábil.

21. Na ausência de uma IFRS que se aplique especificamente a uma transação, outro evento ou Isso significa que as entidades terão de aplicar a IFRS 15 como se ela sempre tivesse sido aplicada
circunstância, a administração pode, de acordo com o item 12, aplicar uma política contábil desde a assinatura de todos os seus contratos com clientes que são apresentados nas
derivada de pronunciamento recente emanado de outros órgãos técnicos normativos que se demonstrações financeiras. Durante as deliberações, os Comitês aparentemente preferiram a
utilizem de estrutura conceitual semelhante no desenvolvimento de normas contábeis. Se, ao seguir adoção retrospectiva integral, na qual todos os contratos com clientes são reconhecidos e
uma mudança do referido pronunciamento, a entidade optar por mudar uma política contábil, essa mensurados de forma consistente em todos os períodos apresentados nas demonstrações
mudança deve ser contabilizada e divulgada como mudança voluntária na política contábil. financeiras, independentemente da data em que os contratos foram assinados. Essa abordagem
também fornece aos usuários das demonstrações financeiras informações úteis sobre tendências
Aplicação retrospectiva
para todos os períodos apresentados.
22. Observado o disposto no item 23, quando uma mudança na política contábil é aplicada
retrospectivamente, de acordo com os itens 19(a) ou (b), a entidade deve ajustar o saldo de
abertura de cada componente do patrimônio líquido afetado para o período anterior mais antigo
apresentado e os demais montantes comparativos divulgados para cada período anterior
apresentado, como se a nova política contábil tivesse sempre sido aplicada.

3. IFRS 15.C2.

12 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 13
Contudo, para aliviar o ônus potencial de aplicar a nova norma em base retrospectiva integral, os Uma entidade que opta por aplicar a norma retrospectivamente também deve apresentar as
Comitês previram as seguintes isenções: divulgações exigidas na IAS 8, conforme segue:

Extraído da IFRS 15 Extraído da IAS 8

C3. A entidade aplicará esta Norma utilizando um dos seguintes métodos: Divulgação

(a) retrospectivamente para cada período-base anterior apresentado de acordo com a norma IAS 8, 28. Quando a adoção inicial de uma norma IFRS tiver efeitos no período corrente ou em qualquer
Políticas Contábeis, Alterações de Estimativas e Erros (Accounting Policies, Changes in período anterior, exceto se for impraticável determinar o montante a ser ajustado, ou puder ter
Accounting Estimates and Errors). efeitos em períodos futuros, a entidade deve divulgar:

(b) retrospectivamente com o efeito cumulativo da aplicação inicial desta Norma reconhecido na (a) o título da norma IFRS;
data da aplicação inicial de acordo com os itens C7-C8.
(b) quando aplicável, que a mudança na política contábil é feita de acordo com as disposições
... transitórias na adoção inicial da norma IFRS;

(c) a natureza da mudança na política contábil;


C5. A entidade pode fazer uso de um ou mais dos seguintes critérios práticos ao aplicar esta Norma
retrospectivamente de acordo com o item C3(a): (d) quando aplicável, uma descrição das disposições transitórias na adoção inicial da norma IFRS;

(a) para contratos concluídos, a entidade não precisa reapresentar os contratos iniciados e (e) quando aplicável, as disposições transitórias que possam ter efeito em futuros períodos;
finalizados dentro do mesmo período-base anual apresentado;
(f) o montante dos ajustes para o período corrente e para cada período anterior apresentado, até o
(b) Para contratos concluídos que tenham contraprestação variável, a entidade pode usar o preço da ponto em que seja praticável:
transação na data em que o contrato foi concluído em vez de estimar os valores da
(i) para cada item afetado da demonstração contábil; e
contraprestação variável nos períodos-base comparativos; e
(ii) se a IAS 33 Lucro por Ação (Earnings per Share) se aplicar à entidade, para resultados por
(c) para todos os períodos-base apresentados antes da data da aplicação inicial, a entidade não
ação básicos e diluídos;
precisa divulgar o valor do preço da transação alocado às obrigações de desempenho
remanescentes nem uma explicação de quando a entidade espera reconhecer esse valor como (g) o montante do ajuste relacionado com períodos anteriores aos apresentados, até o ponto em
receita (vide item 120). que seja praticável;

(h) se a aplicação retrospectiva exigida pelos itens 19(a) ou (b) for impraticável para um período
C6. Para qualquer um dos critérios práticos descritos no item C5 que a entidade venha a utilizar, ela
anterior em particular, ou para períodos anteriores aos apresentados, as circunstâncias que
aplicará esse critério de forma consistente a todos os contratos dentro de todos os períodos-base
levaram à existência dessa condição e uma descrição de como e desde quando a política tem sido
apresentados. Além disso, a entidade divulgará todas as seguintes informações: aplicada.
(a) os critérios que foram utilizados; e As demonstrações contábeis de períodos subsequentes não precisam repetir essas divulgações.
(b) na medida do possível, uma avaliação qualitativa do efeito estimado da aplicação de cada um
desses critérios.
O IASB previu algumas isenções adicionais de divulgações para a entidade que opta pela adoção
retrospectiva integral da IFRS 15. Ainda que lhe seja permitido, a entidade não precisa apresentar
As entidades podem optar por aplicar nenhum, alguns ou todos esses critérios. Contudo, se a as informações qualitativas exigidas pela IAS 8.28(f) para outros períodos que não o período
entidade utilizar qualquer um deles, ela deverá aplicar esse critério de forma consistente a todos anual imediatamente anterior ao primeiro exercício para o qual a IFRS 15 é aplicada (o “período
os contratos dentro de todos os períodos-base apresentados. Não seria apropriado aplicar o imediatamente anterior”).
critério selecionado a alguns dos períodos apresentados, mas não a todos. As entidades que
escolherem utilizar algumas ou todas as isenções deverão apresentar divulgações qualitativas 1.2.2 Adoção retrospectiva modificada
adicionais (ou seja, os tipos de isenções que a entidade aplica e o efeito provável dessa aplicação). As entidades que optam pela adoção retrospectiva modificada aplicarão a norma
retrospectivamente apenas para o período mais recente apresentado nas demonstrações
financeiras (ou seja, o período inicial da aplicação). Para tanto, a entidade terá de reconhecer o
feito cumulativo da aplicação inicial da IFRS 15 como um ajuste ao saldo de abertura dos lucros
ou prejuízos acumulados (ou outros componentes apropriados do patrimônio líquido) na data da
aplicação inicial.

14 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 15
Segundo esse método, a IFRS 15 será aplicada aos contratos que ainda não foram concluídos O exemplo a seguir mostra os efeitos potenciais do método de adoção retrospectiva modificada:
na data da aplicação inicial (por exemplo, 1º de janeiro de 2017 para uma entidade cujo
encerramento do exercício seja 31 de dezembro). Ou seja, os contratos que não estejam
Exemplo 1-1 — Efeito cumulativo da adoção retrospectiva modificada:
concluídos antes da data da aplicação inicial terão de ser avaliados como se a entidade sempre
tivesse aplicado a IFRS 15 a esses contratos. Segundo esse método,
Um fornecedor de software cujo encerramento do exercício seja 31 de dezembro adota a IFRS 15
a entidade:
em 1º de janeiro de 2017. O fornecedor adota a norma aplicando o método de adoção retrospectiva
•• Apresentará períodos comparativos de acordo com as normas anteriores para reconhecimento modificada.
de receitas (por exemplo, IAS 11, IAS 18, etc); O fornecedor frequentemente celebra contratos para fornecimento de licença de software, serviços
•• Aplicará a IFRS 15 a contratos novos e já existentes a partir das respectivas datas de vigência; profissionais e serviços de suporte pós-venda. Anteriormente, ele contabilizou seus contratos de acordo
com a IAS 18, considerando a IAS 18.IE19. Como resultado, ele reconheceu taxas de desenvolvimento
•• Reconhecerá um ajuste de atualização cumulativa no saldo de abertura de lucros ou prejuízos do seu programa de software com base na etapa de conclusão do desenvolvimento, que incluía a
acumulados na data de vigência dos contratos existentes que ainda exijam cumprimento por conclusão dos serviços de suporte pós-venda. De fato, o fornecedor tratou o desenvolvimento de
parte da entidade no ano de adoção, divulgará o montante pelo qual cada item da demonstração software e o suporte pós-venda como um único produto.
financeira foi afetado como resultado da aplicação da IFRS 15 e uma explicação das mudanças
Segundo a IFRS 15, o fornecedor pode chegar a uma conclusão diferente com relação
significativas. ao número de produtos do que chegaria aplicando a IAS 18, pois a IFRS 15 fornece regras mais
detalhadas para determinar se os bens e serviços prometidos são obrigações de desempenho distintas
(discutido em detalhe na Seção 4.2).
Nosso ponto de vista Por conseguinte, a análise de contratos em andamento do fornecedor em 1º de janeiro de 2017 pode
Dependendo das políticas contábeis anteriores da entidade, aplicar a adoção retrospectiva resultar na identificação de obrigações de desempenho distintas daquelas anteriormente utilizadas para
modificada pode ser mais difícil do que a entidade poderia esperar. Entre reconhecimento de receitas. Como parte dessa avaliação, a entidade precisa alocar o preço estimado da
as situações que podem tornar a aplicação desse método mais complexa, podemos citar: transação, com base no método de preço de venda relativo individual (vide Seção 6.2), às obrigações de
desempenho distintas recém-identificadas.
•• As obrigações de desempenho individuais identificadas segundo a IFRS 15 são diferentes
dos elementos/resultados (deliverables) identificados segundo as regras atuais. O fornecedor compararia a receita reconhecida para cada contrato, desde a data da sua assinatura até
31 de dezembro de 2016, ao montante que teria sido reconhecido se a entidade tivesse adotado a IFRS
•• A alocação do preço de venda relativo individual exigida pela IFRS 15 resulta em valores 15 desde a assinatura do contrato. A diferença entre esses dois montantes seria contabilizada como
diferentes da contraprestação que estão sendo alocados a obrigações de desempenho ajuste de atualização cumulativa e reconhecida em 1º de janeiro de 2017 no saldo de abertura de lucros
distintas das que tinham sido alocados no passado. ou prejuízos acumulados. A partir de 1º de janeiro de 2017, o reconhecimento de receitas seria baseado
na IFRS 15.
•• O contrato contém contraprestação variável, e o valor da contraprestação variável que
pode ser incluído na contraprestação alocável difere do valor segundo as regras atuais.
Além disso, o método de adoção retrospectiva modificada requer efetivamente que a 1.3 Considerações sobre aplicação
entidade mantenha dois conjuntos de livros no ano da adoção a fim de atender à exigência Independentemente do método de transição escolhido, muitas entidades terão de aplicar a norma
de divulgar todos os itens das demonstrações financeiras como se eles fossem preparados a contratos celebrados em períodos anteriores. A população de contratos será maior pelo método
segundo as regras atuais. de adoção retrospectiva integral. Contudo, pelo método de adoção retrospectiva modificada, as
entidades terão de aplicar a IFRS 15 a todos os contratos que estejam em andamento na data da
aplicação inicial da norma, independentemente de quando eles tenham sido iniciados.

Embora os Comitês tenham previsto certas isenções referentes à adoção retrospectiva integral,
bem como a opção da adoção retrospectiva modificada, diversas questões relativas à aplicação
ainda persistem, as quais podem tornar a aplicação da IFRS 15 difícil e/ou morosa. Por exemplo:
•• No caso da adoção retrospectiva integral, provavelmente será exigido às entidades que façam
uma alocação do preço da transação devido a mudanças nos produtos identificados, no preço
da transação ou em ambos. Se a entidade anteriormente fez uma alocação pelo valor justo
relativo, esse passo pode ser simples e direto. Não obstante, a entidade deverá determinar o
preço de venda individual de cada obrigação de desempenho distinta na data da assinatura do
contrato. Dependendo da idade do contrato, essa informação pode estar imediatamente
disponível e os preços podem diferir significativamente dos preços de venda individuais atuais.
Embora a norma seja clara sobre quando seria aceitável aplicar uma análise a posteriori a
respeito da contraprestação variável para determinar o preço da transação (vide Seção 5.1
para uma discussão sobre contraprestação variável), ela é omissa no tocante ao uso da análise
a posteriori para outros aspectos do modelo (por exemplo, para fins de alocação do preço da
transação) ou se seria aceitável usar as informações atuais de determinação de preço se essas
fossem as únicas informações disponíveis.

16 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 17
•• Estimar a contraprestação variável para todos os contratos de períodos anteriores Além disso, quando a entidade não tiver aplicado uma nova norma que tenha sido publicada mas
provavelmente exigirá julgamento significativo. A norma é clara ao determinar que a análise a que ainda não esteja em vigor, a IAS 8 requer que a entidade divulgue tal fato e a informação
posteriori não pode ser utilizada para contratos em andamento caso seja aplicado o método de disponível ou razoavelmente estimável que seja relevante para avaliar o possível impacto da
adoção retrospectiva integral. A norma é omissa sobre se o uso de análise a posteriori seria aplicação da IFRS 15 nas demonstrações contábeis da entidade no período da aplicação inicial.5
aceitável para entidades que aplicam o método de adoção retrospectiva modificada. Contudo, a Ao apresentar a divulgação acima, a entidade deve proceder à divulgação:6
discussão dos Comitês na – Base para Conclusões (Basis for Conclusions) implica que não existe
•• do título da nova norma;
nenhum expediente prático para a adoção retrospectiva modificada.4 Adicionalmente, uma vez
que as entidades que aplicam a adoção retrospectiva modificada somente estarão ajustando •• da natureza da mudança ou das mudanças iminentes na política contábil;
contratos em andamento, parece provável que o uso de análise a posteriori não seja aceitável.
•• da data em que é exigida a aplicação da norma;
Por conseguinte, as entidades devem fazer essa estimativa somente com base nas informações
que estavam disponíveis na assinatura do contrato. Documentação contemporânea •• da data em que ela planeja aplicar inicialmente a norma;
esclarecendo que informações estavam disponíveis para a administração, e quando elas •• da avaliação do impacto que se espera que a aplicação inicial da norma tenha nas
estavam disponíveis, provavelmente será necessária como suporte para essas estimativas. demonstrações contábeis da entidade ou, se esse impacto não for conhecido ou razoavelmente
Além de estimar a contraprestação variável utilizando o valor esperado ou o método do valor estimável, da explicação acerca dessa impossibilidade.
mais provável, as entidades terão de fazer conclusões sobre se essa contraprestação variável
está ou não sujeita a restrições (vide Seção 5.1 para uma discussão mais detalhada). Vide Seção 10 para uma discussão detalhada de algumas das considerações mais significativas
sobre implantação.
•• A adoção retrospectiva modificada não exige que as entidades reapresentem os valores
reportados em períodos anteriores. Contudo, na data da aplicação inicial da norma, as
entidades que optam por esse método terão ainda de calcular as receitas que elas teriam
reconhecido para quaisquer contratos em aberto como se elas sempre tivessem aplicado a IFRS Nosso ponto de vista
15. Isso é necessário a fim de determinar o efeito cumulativo da adoção da nova norma. É Em princípio, nossa expectativa é que as entidades podem não saber ou não serem capazes
provável que isso seja mais desafiador para contratos nos quais os elementos/entregáveis de fazer uma estimativa do impacto que se espera que a adoção da IFRS 15 tenha nas
identificados ou a contraprestação alocável mudem quando as novas regras são aplicadas. demonstrações financeiras e apresentem uma explicação acerca dessa impossibilidade. Por
exemplo, a entidade pode divulgar o seguinte (atentar para o fato de que no Brasil não tem
Por fim, as entidades precisarão considerar uma série de outras questões à medida que se preparam sido permitida adoção antecipada):
para adotar a IFRS 15. Por exemplo, as entidades com saldos significativos de receita diferida
segundo as normas IFRS atuais podem sofrer “perda de receita” se esses valores foram diferidos •• Em maio de 2014, o IASB publicou a IFRS 15 Receitas de Contratos com Clientes
na data de adoção da IFRS 15 e estiverem, em última análise, refletidos nos períodos anteriores (Revenue from Contracts with Customers), que substitui a IAS 11 Contratos de
reapresentados ou como parte do ajuste cumulativo na data da adoção da nova norma, porém Construção (Construction Contracts), IAS 18 Receita (Revenue) e respectivas
jamais apresentados como receita num período corrente retratado nas demonstrações financeiras. Interpretações. A IFRS 15 entra em vigor para exercícios iniciados a partir de 1º de
janeiro de 2017, e sua adoção antecipada é permitida. A entidade atualmente está
4. Vide IFRS 15.BC439-BC443. avaliando o impacto da nova norma.
Os órgãos de regulamentação, contudo, podem ter a expectativa de que as divulgações da
entidade evoluam a cada período-base apresentado à medida que haja mais informações
disponíveis sobre os efeitos da nova norma.

5. IAS 8.30.
6. IAS 8.31.

18 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 19
2 Escopo A IFRS 15 não define o termo “atividades ordinárias”, uma vez que ele já é amplamente utilizado
nas normas IFRS.
O escopo da norma inclui todos os contratos com clientes para fornecimento de bens ou serviços
no curso normal das operações, à exceção dos seguintes contratos, os quais são especificamente
excluídos: Exemplo 2-1 — Identificação de um cliente

•• Contratos de arrendamento incluídos no escopo da IAS 17 Leases; Uma entidade presta serviços de publicidade baseados na internet para outras companhias. Como parte
desses serviços, a entidade compra espaços para banner em vários sites de um grupo seleto de editores.
•• Contratos de seguros incluídos no escopo da IAS 4 Insurance Contracts;
Para certos contratos, a entidade fornece um serviço sofisticado, que envolve combinar a colocação
•• Instrumentos financeiros e outros direitos ou obrigações contratuais incluídos no escopo da do anúncio com critérios previamente identificados do anunciante (ou seja, do cliente). Além disso, a
IFRS 9 Financial Instruments ou IAS 39 Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e entidade compra antecipadamente o espaço para banner dos editores antes de identificar anunciantes
Mensuração (Financial Instruments: Recognition and Measurement), IFRS 10 Demonstrações para esse espaço. Assuma que a entidade conclui apropriadamente que ela atua como principal nesses
Financeiras Consolidadas (Consolidated Financial Statements), IFRS 11 Empreendimentos contratos (vide Seção 4.4 para uma discussão detalhada sobre esse tópico). Com base nessa conclusão,
a entidade verifica que o seu cliente nessa transação é o anunciante e que a receita bruta será
Conjuntos (Joint Arrangements), IAS 27 Demonstrações Financeiras Individuais (Separate
reconhecida à medida que os serviços sofisticados de publicidade forem fornecidos.
Financial Statements) e IAS 28 Investimentos em Coligadas e Empreendimentos Controlados
em Conjunto (Investments in Associates and Joint Ventures); Em outros contratos, a entidade simplesmente combina os anunciantes com os editores que fazem
parte da sua carteira, mas não fornece quaisquer serviços sofisticados de ad-targeting. Assuma que
•• Trocas não monetárias entre entidades na mesma linha de negócios com o objetivo de facilitar a entidade conclui apropriadamente que ela atua como agente nesses contratos. Com base nessa
as vendas para clientes ou clientes potenciais. conclusão, a entidade verifica que o seu cliente é o editor e a receita líquida será reconhecida à medida
que esses serviços de representação forem fornecidos ao editor.
Para certos contratos, as entidades terão de avaliar seu relacionamento com a contraparte a fim
de determinar se existe um relacionamento fornecedor-cliente. Alguns acordos de colaboração,
por exemplo, são mais semelhantes a uma parceria, ao passo que outros apresentam um 2.2 Acordos de colaboração
relacionamento fornecedor-cliente. Somente transações que efetivamente sejam realizadas com
Em certas transações, uma contraparte nem sempre é um “cliente” da entidade. Em vez disso, a
clientes estão incluídas no escopo da IFRS 15 (vide Seção 2.2 para uma discussão sobre acordos
contraparte pode ser uma colaboradora ou parceira que compartilha os riscos e os benefícios do
de colaboração).
desenvolvimento de um produto a ser comercializado. Isso é comum nos setores farmacêutico, de
Certos contratos incluem cláusulas de recompra, seja como parte de um contrato de venda, seja biotecnologia, petróleo e gás e de serviços de saúde. Contudo, dependendo dos fatos e
como um contrato separado que se refere aos mesmos bens ou a bens semelhantes no contrato circunstâncias, esses acordos também podem conter um componente de relacionamento
original. A forma do acordo de recompra e a questão de se o cliente obtém controle do ativo fornecedor-cliente. Esses contratos poderiam ainda estar incluídos no escopo da IFRS 15, pelo
determinarão se o contrato está ou não incluído no escopo da norma (vide Seção 7.3 para uma menos em parte, se a colaboradora ou parceira se enquadrar na definição de cliente para alguns
discussão sobre acordos de recompra). ou todos os aspectos do acordo.

As entidades podem celebrar transações que estejam incluídas em parte no escopo da IFRS 15 e em Os Comitês decidiram não fornecer orientação adicional sobre a aplicação da IFRS 15 para
parte no escopo de outras normas. Nessas situações, a norma requer que a entidade aplique determinar se certos acordos de colaboração geradores de receita estariam incluídos no escopo
primeiramente quaisquer exigências de separação e/ou mensuração previstas na outra norma antes da norma. Na Base para Conclusões, os Comitês esclarecem que não seria possível fornecer
de aplicar as exigências contidas na IFRS 15 (vide Seção 2.3 para uma discussão mais detalhada). orientação sobre a aplicação da norma aplicável a acordos de colaboração.8 Portanto, as partes
desses acordos precisam considerar todos os fatos e circunstâncias para verificar se existe um
relacionamento fornecedor-cliente que esteja sujeito à nova norma.
2.1 Definição de cliente
A norma define cliente “como parte que tenha contratado uma entidade para obter bens ou Contudo, os Comitês verificaram que, de fato, em algumas circunstâncias, pode ser apropriado
serviços que sejam produto das atividades ordinárias da entidade mediante contraprestação”.7 para a entidade aplicar os princípios contidos na IFRS 15 a colaborações ou parcerias (por
Em muitas transações, o cliente é facilmente identificável. Contudo, em transações envolvendo exemplo, quando não houver quaisquer outras exigências aplicáveis ou mais pertinentes que
diversas partes, fica menos claro que contrapartes são clientes da entidade. Para alguns poderiam ser aplicadas).
contratos, as diversas partes poderiam, todas elas, ser consideradas clientes da entidade.
Contudo, para outros contratos, somente algumas das partes envolvidas são consideradas
8. IFRS 15.BC54.
clientes. O Exemplo 2-1 a seguir mostra como uma parte considerada cliente pode diferir,
dependendo dos fatos e circunstâncias específicas. A identificação das obrigações de desempenho
no contrato (discutida em detalhe na Seção 4.1) pode ter um efeito significativo ao se determinar
qual parte é cliente da entidade no contrato.

7. IFRS 15 Anexo A.

20 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 21
Se um componente do contrato é tratado em outra norma ou interpretação, mas aquela norma ou
Nosso ponto de vista interpretação não especificar como separar e/ou fazer a mensuração inicial daquele componente,
Segundo as normas IFRS atuais, identificar o cliente pode ser difícil, especialmente quando a entidade aplicará a IFRS 15 para separar e/ou mensurar cada componente. Por exemplo, não
diversas partes estiverem envolvidas na transação. Essa avaliação pode exigir julgamento existem exigências específicas para a separação e mensuração de partes diferentes de um
significativo, e a nova norma não fornece outros fatores a serem considerados. contrato quando uma entidade vende um negócio ou também celebra um contrato de
Além disso, as transações entre parceiros em acordos de colaboração não estão incluídas no fornecimento de longo prazo com outra parte (vide Seção 6.6 para uma discussão detalhada a
escopo da IFRS 15. Portanto, as entidades precisarão exercer julgamento ao verificar se as respeito do efeito sobre a alocação da contraprestação do contrato quando um contrato incluir
transações são entre parceiros que atuam na qualidade de colaboradores ou refletem um componentes de receita e itens não componentes de receita).
relacionamento fornecedor-cliente.
A norma também especifica as exigências contábeis para certos custos, como custos incrementais
de obter um contrato e os custos de cumprimento do contrato. Contudo, a norma é clara ao
2.3 Interação com outras normas afirmar que essas exigências se aplicam somente se não houver outras exigências aplicáveis a
esses custos nas normas IFRS (vide Seção 8.3 para uma discussão detalhada sobre as exigências
A norma estabelece exigências para contratos que estejam incluídos em parte no escopo da
relativas a custos contratuais na norma).
IFRS 15 e em parte no escopo de outras normas.
Além disso, como parte das alterações consequentes associadas à norma IFRS 15, as exigências
existentes para o reconhecimento de ganho ou perda na venda de um ativo não financeiro (por
Extraído da IFRS 15
exemplo, os ativos incluídos no escopo da IAS 16 Ativo Imobilizado – Property, Plant and
Equipment ou da IAS 38 Ativos Intangíveis – Intangible Assets) foram alteradas. As exigências de
7. Um contrato com cliente pode estar incluído em parte no escopo desta Norma e em parte no escopo
de outras Normas relacionadas no item 5.
reconhecimento e avaliação contidas na IFRS 15 serão aplicáveis ao se reconhecer e mensurar
quaisquer ganhos ou perdas na venda desses ativos não financeiros quando essa alienação não
(a) Caso as outras Normas especifiquem como separar e/ou fazer a mensuração inicial de uma ou ocorrer no curso normal das operações da entidade.
mais partes do contrato, então a entidade aplicará primeiramente as exigências de separação e/
ou mensuração contidas nessas Normas. A entidade excluirá do preço da transação o montante
da parte (ou partes) do contrato que sejam inicialmente mensuradas de acordo com as outras O que muda com relação às normas IFRS atuais?
Normas e aplicará os itens 73–86 para alocar o montante do preço da transação remanescente As entidades que celebram transações que estejam incluídas no escopo de diversas normas
(se houver) a cada obrigação de desempenho incluída no escopo desta Norma e a quaisquer precisam separar essas transações em componentes de modo que cada componente possa ser
outras partes do contrato identificadas pelo item 7(b). contabilizado de acordo com as normas aplicáveis. A IFRS 15 não muda essa exigência.
(b) Caso as outras Normas não especifiquem como separar e/ou fazer a mensuração inicial de uma
ou mais partes do contrato, então a entidade aplicará esta Norma para separar e/ou fazer a
Contudo, segundo as normas IFRS atuais, as transações atuais frequentemente devem ser
mensuração inicial da parte (ou partes) do contrato. separadas em componentes que são contabilizados segundo normas de reconhecimento de
receita e/ou interpretações diferentes (por exemplo, uma transação envolvendo a venda de bens
e um programa de fidelização de clientes que se enquadra no escopo tanto da IAS 18 como da
Somente após aplicar as outras normas aplicáveis é que a entidade aplicará a IFRS 15 aos IFRIC 15). Segundo a IFRS 15, essa separação não será exigida, pois existe um único modelo de
componentes remanescentes do contrato. Alguns exemplos em que a separação e/ou alocação reconhecimento de receitas.
são tratadas em outras normas IFRS são descritos a seguir:
A IAS 18 atualmente especifica o tratamento contábil para o reconhecimento e a mensuração de
•• A IAS 39 exige que um instrumento financeiro seja reconhecido pelo valor justo no juros e dividendos. Receitas de juros e dividendos são excluídas do escopo da IFRS 15. Em vez
reconhecimento inicial. Para contratos que incluem a emissão de um instrumento financeiro e disso, as exigências de reconhecimento e mensuração pertinentes foram transferidas para a IFRS
componentes de receita, o valor justo do instrumento financeiro é primeiramente mensurado e 9 ou IAS 39.
o valor remanescente da contraprestação estimada do contrato é alocado entre os outros
componentes do contrato de acordo com a IFRS 15.

•• A IFRIC 4 Determinação sobre se um Contrato contém um Arrendamento (Determining whether


an Arrangement contains a Lease) exige a alocação da contraprestação de um contrato entre
um arrendamento e outros componentes incluídos num instrumento contratual utilizando o
método de valor justo relativo.9

9. Vide IFRIC 4.13.

22 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 23
3 Identificar o contrato com o cliente 3.1 Atributos de um contrato
Para auxiliar as entidades a determinar se (e quando) seus contratos com clientes são contratos
Para aplicar o modelo previsto na IFRS 15, a entidade deve primeiramente identificar o contrato, ou
incluídos no escopo da IFRS 15, os Comitês identificaram certos atributos que devem,
contratos, para fornecimento de bens e serviços para os clientes. Quaisquer contratos que criem
obrigatoriamente, estar presentes. Esses critérios são avaliados na data de início do contrato. Se
direitos e obrigações exigíveis se enquadram no escopo da norma. Esses contratos podem ser
os critérios são atendidos naquela data, a entidade não reavalia esses critérios, a não ser que haja
escritos, verbais ou implícitos de acordo com as práticas comerciais usuais da entidade. Por exemplo,
uma indicação de mudança significativa nos fatos e circunstâncias.11 Por exemplo, se a
o histórico de práticas comerciais da entidade pode influenciar sua verificação para determinar
capacidade de pagamento do cliente sofrer deterioração significativa, a entidade teria de avaliar
se um acordo se enquadra na definição de contrato com cliente. Uma entidade que tenha a prática
se é possível que a entidade realize a contraprestação à qual tem direito pela transferência dos
estabelecida de iniciar suas obrigações de desempenho com base em acordos verbais com os
bens e serviços remanescentes prevista no contrato. A avaliação atualizada é de natureza
clientes pode verificar que esses acordos verbais se enquadram na definição de contrato.
prospectiva e não alteraria as conclusões associadas aos bens e serviços já transferidos.
Na Base para Conclusões, os Comitês reconhecem que a determinação sobre se um acordo cria
Caso os critérios não sejam atendidos, o contrato não é considerado um contrato de receita e as
direitos exigíveis é uma questão de direito e que os fatores que determinam a exigibilidade podem
exigências discutidas na Seção 3.4 devem ser aplicadas. Contudo, exige-se que as entidades
variar entre as jurisdições.10 Os Comitês também esclareceram que, embora o contrato deva ser
continuem a avaliar os critérios ao longo do prazo do contrato para verificar se, posteriormente,
legalmente exigível para estar incluído no escopo da norma, as obrigações de desempenho
eles serão atendidos. Uma vez atendidos, o modelo descrito na IFRS 15 seria aplicável, em vez
previstas no contrato podem ser baseadas em expectativas válidas do cliente, ainda que a
das exigências discutidas na Seção 3.4. A IFRS 15 inclui os seguintes critérios:
promessa não seja exigível.

Por conseguinte, a entidade pode precisar contabilizar um contrato tão logo se iniciem suas Extraído da IFRS 15
obrigações de desempenho em vez de postergar o reconhecimento de receitas até que o acordo
seja documentado em um contrato assinado, como frequentemente ocorre de acordo com a 9. A entidade contabilizará um contrato com cliente que esteja incluído no escopo desta Norma
prática corrente. Certos acordos podem exigir um contrato por escrito para atender ao direito somente quando atendidos todos os seguintes critérios:
jurisdicional ou a regras comerciais. Essas exigências devem ser consideradas ao se determinar se
(a) as partes do contrato aprovaram o contrato (por escrito, verbalmente ou de acordo com outras
existe um contrato.
práticas comerciais usuais) e assumiram o compromisso de desempenhar suas respectivas
obrigações;
Exemplo 3-1 – Contrato verbal (b) a entidade pode identificar os direitos de cada parte referentes aos bens ou serviços a serem
transferidos;
A IT Support Co. fornece suporte tecnológico online para clientes remotamente via internet. Por uma
(c) a entidade pode identificar os termos de pagamento referentes aos bens ou serviços a serem
taxa fixa, a IT Support Co. escaneará o computador pessoal (PC) do cliente para detectar vírus, otimizará
transferidos;
o desempenho do PC e resolverá quaisquer problemas de conectividade. Quando um cliente liga
solicitando os serviços de escaneamento, a IT Support Co. descreve os serviços que fornece e informa (d) o contrato tem substância comercial (ou seja, espera-se que o risco, a época ou montante dos
o preço desses serviços. Quando o cliente concorda com os termos informados pelo representante, o fluxos de caixa futuros da entidade mudem em consequência do contrato); e
pagamento é feito por telefone. A IT Support Co., então, dá ao cliente as informações que ele necessita
(e) é provável que a entidade realize a contraprestação à qual tem direito pelos bens ou serviços que
para obter os serviços de escaneamento (por exemplo, o código de acesso para o website). Ela fornece
serão transferidos para o cliente. Ao avaliar se a realização do valor da contraprestação é
os serviços quando o cliente conecta a internet e acessa o website da entidade (o que pode ser naquele
provável, a entidade considerará somente a capacidade e a intenção do cliente de pagar esse
mesmo dia ou em uma data futura).
valor da contraprestação no vencimento. O valor da contraprestação à qual a entidade tem
Nesse exemplo, a IT Support Co. e o seu cliente estão celebrando um acordo verbal, que é legalmente direito pode ser inferior ao preço informado no contrato se a contraprestação for variável, pois a
exigível nessa jurisdição, no qual a IT Support Co. deve consertar o PC do cliente e o cliente deve entidade pode oferecer ao cliente um desconto especial (vide item 52).
fornecer a contraprestação transmitindo um número válido de cartão de crédito e sua autorização
por telefone. Todos os critérios exigidos para um contrato com um cliente (discutidos em detalhe na
transcrição abaixo) são atendidos. Portanto, esse acordo estaria incluído no escopo da IFRS 15 por 11. IFRS 15.14.
ocasião da conversa telefônica, mesmo que a entidade ainda não tenha fornecido os serviços
de escaneamento.

10. IFRS 15.BC32.

24 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 25
3.1.1 As partes aprovaram o contrato e assumiram o compromisso de desempenhar suas A despeito da prevalência da substância sobre a forma nas normas IFRS, o tratamento de acordos
respectivas obrigações verbais ou implícitos como contratos pode ser uma mudança significativa na prática para algumas
Antes de aplicar o modelo descrito na IFRS 15, as partes devem ter aprovado o contrato. Como entidades. Isso pode levar à contabilização antecipada de contratos verbais, ou seja, sem
indicado na Base para Fundamentação de Conclusões, os Comitês incluíram esse critério porque um aguardar que esses contratos sejam formalmente documentados.
contrato poderia não ser legalmente exigível sem a aprovação de ambas as partes.12 Além disso, os
Comitês decidiram que a forma do contrato (ou seja, verbal, escrito ou implícito) não determina, em 3.1.2 Os direitos de cada parte podem ser identificados
si e por si só, se as partes aprovaram ou assumiram compromisso em relação ao contrato. Em vez Esse critério é relativamente simples e direto. Se os bens e serviços a serem fornecidos em razão
disso, a entidade deve considerar todos os fatos e circunstâncias pertinentes ao avaliar se as partes do contrato não puderem ser identificados, não é possível concluir que a entidade possui um
pretendem respeitar os termos e condições do contrato. Em alguns casos, as partes de um contrato contrato que esteja incluído no escopo da IFRS 15. Os Comitês indicaram que se os bens e
verbal ou implícito podem ter a intenção e o compromisso de desempenhar suas respectivas serviços prometidos não puderem ser identificados, a transferência do controle desses bens e
obrigações. Em outros casos, porém, um contrato escrito pode ser exigido para verificar que as serviços não pode ser avaliada.
partes aprovaram o contrato e assumiram o compromisso de cumprir esse contrato.

Além de aprovar o contrato, a entidade também precisa ser capaz de concluir que ambas as
3.1.3 Os termos de pagamento são identificados
partes assumiram o compromisso de desempenhar suas respectivas obrigações. Em outras A identificação de termos de pagamento não requer que o preço da transação seja fixado ou
palavras, a entidade deve estar comprometida com o fornecimento dos bens ou serviços. Na informado no contrato com o cliente. Desde que haja um direito exigível ao pagamento (ou seja,
Base para Conclusões, os Comitês esclareceram que a entidade e o cliente nem sempre têm de exigibilidade como questão de direito) e o contrato contenha informações suficientes que
assumir o compromisso de cumprir todos os seus respectivos direitos e obrigações para atender permitam à entidade estimar o preço da transação (vide uma discussão detalhada na Seção 5), o
a essa exigência.13 contrato se qualificaria para a contabilização segundo a norma (assumindo que tenham sido
atendidos os demais critérios descritos no item IFRS 15.9 acima transcrito).
Por exemplo, os Comitês citaram o caso de um contrato de fornecimento entre duas partes que
estipula a aquisição de quantidades mínimas. O cliente nem sempre compra a quantidade mínima 3.1.4 Substância comercial
exigida, e a entidade nem sempre faz jus ao direito de exigir que o cliente adquira a quantidade
Os Comitês incluíram esse critério para que as entidades não sejam capazes de inflar
mínima. Não obstante, os Comitês declararam que, nessas situações, ainda é possível que a
artificialmente as receitas. Um contrato que não tenha substância comercial (ou seja, não se
entidade determine a existência de evidências suficientes que demonstram que as partes estão
espera que o risco, a época ou montante dos fluxos de caixa futuros da entidade mudem em
substancialmente comprometidas com o contrato.
consequência do contrato) não é contabilizado segundo a IFRS 15. Historicamente, algumas
Disposições rescisórias são uma consideração importante ao se determinar se ambas as partes entidades em setores de alto crescimento atuam em transações nas quais bens e serviços foram
estão comprometidas com o cumprimento do contrato e, consequentemente, se existe um transferidos de volta e retransferidos entre as mesmas entidades, numa tentativa de exibir um
contrato. Se cada parte tiver um direito unilateral de rescindir um contrato “totalmente volume de transações e uma receita bruta mais elevados (prática por vezes denominada “idas e
descumprido” sem compensar a outra parte, a norma determina que, para fins da IFRS 15, não voltas”). Isso também é um risco nos contratos que envolvam contraprestação não monetária.
existe contrato e suas exigências de contabilização e divulgação não seriam aplicáveis.
Determinar se um contrato tem substância comercial para fins da IFRS 15 pode exigir julgamento
Entretanto, se apenas uma das partes tiver o direito de rescindir o contrato, esse contrato está
significativo. Em todas as situações, a entidade deve ser capaz de demonstrar o objetivo
incluído no escopo da IFRS 15. Se o fornecedor não forneceu quaisquer dos bens ou serviços
comercial substantivo para a natureza e a estrutura de suas transações.
contratados e não recebeu (ou não tem o direito de receber) qualquer montante da
contraprestação contratada, o contrato é considerado “totalmente descumprido”. Numa mudança com relação às exigências existentes na SIC-31, a nova norma não contém
exigências específicas para transações de troca direta envolvendo serviços de publicidade. Nossa
Esse critério não aborda a capacidade de realização da contraprestação. Esse tópico é tratado em
expectativa é que as entidades precisarão considerar cuidadosamente o critério de substância
um critério separado discutido na Seção 3.1.5.
comercial ao avaliar esses tipos de transações.

O que muda com relação às normas IFRS atuais?


As normas IFRS atuais não fornecem orientação específica sobre a aplicação a contratos verbais.
Contudo, exige-se que as entidades considerem a substância e a realidade econômica subjacentes
ao contrato, e não apenas sua forma jurídica. A Estrutura Conceitual para Apresentação
Financeira (The Conceptual Framework for Financial Reporting) estabelece que representar uma
forma jurídica que difere da substância econômica do fenômeno econômico subjacente pode não
resultar numa representação fiel.14

12. IFRS 15.BC35.


13. IFRS 15.BC36.
14. Vide parágrafo BC3.26 de The Conceptual Framework for Financial Reporting.

26 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 27
3.1.5 Capacidade de realização A norma oferece o seguinte exemplo para ilustrar quando existe um desconto especial implícito no
Segundo a IFRS 15, a capacidade de realização se refere à capacidade e à intenção do cliente de preço e, como resultado, o valor da contraprestação não corresponde ao valor declarado no contrato:
pagar o valor da contraprestação ao qual a entidade espera ter direito. Os Comitês concluíram que
avaliar o risco de crédito do cliente é uma etapa importante ao se determinar se um contrato é Extraído da IFRS 15
válido ou não. Ou seja, os Comitês entendem que essa é uma etapa fundamental ao se determinar
em que medida o cliente tem a capacidade e a intenção de pagar a contraprestação esperada.
Exemplo 2: A contraprestação não corresponde ao preço declarado – desconto implícito no preço
Esse critério atua, em essência, como um nível da capacidade de realização. A norma exige que a Uma entidade vende 1.000 unidades de um medicamento sujeito a receita médica para um cliente pela
entidade avalie na data de início do contrato (e quando houver mudança em fatos e circunstâncias contraprestação prometida de UM (Unidade Monetária) 1 milhão. Essa é a primeira venda da entidade
significativos) se é provável que ela realize a contraprestação a que espera ter o direito de para um cliente naquela nova região, que experimenta dificuldades econômicas significativas. Desse
receber pela transferência de bens ou serviços para um cliente. Isso está em linha com as modo, a entidade espera não ser capaz de obter do cliente o valor total da contraprestação prometida.
exigências atuais, segundo as quais o reconhecimento da receita é permitido somente quando a A despeito da possibilidade de não realizar o valor total, a entidade espera que a economia da região se
sua realização é provável (assumindo que os outros critérios básicos para reconhecimento de recupere nos próximos dois ou três anos e decide que o relacionamento com o cliente poderia ajudá-la a
forjar relacionamentos com outros clientes potenciais na região.
receitas tenham sido atendidos).
Ao avaliar o atendimento do critério descrito no item 9(e) da IFRS 15, a entidade também leva em
Para fins dessa análise, o significado do termo “provável” está de acordo com a definição consideração os itens 47 e 52(b) da IFRS 15. Com base na avaliação dos fatos e circunstâncias,
existente nas normas IFRS, ou seja, “mais provável do que improvável”.15 Vale ressaltar que, para a entidade verifica que espera oferecer um desconto especial e aceitar um valor mais baixo de
aqueles que preparam as demonstrações financeiras segundo US GAAP, a norma também utiliza o contraprestação do cliente. Diante disso, a entidade conclui que o preço da transação não é de UM 1
termo “provável”. Contudo, para US GAAP, “provável” é um nível mais alto do que segundo as milhão e, portanto, a contraprestação prometida é variável. A entidade estima a contraprestação variável
normas IFRS.16 A capacidade do cliente de pagar um valor específico de contraprestação (com e verifica que espera ter direito a UM 400.000.
base no valor que a entidade espera ter o direito de receber e na intenção do cliente de pagar a A entidade considera a capacidade e a intenção do cliente de pagar a contraprestação e conclui que
contraprestação no vencimento) é avaliada com relação ao prazo não cancelável do contrato. embora a região esteja experimentando dificuldades econômicas, é provável que ela obtenha UM
Todos os fatos e circunstâncias precisam ser considerados na análise. Caso não seja provável que 400.000 do cliente. Consequentemente, a entidade conclui que o critério descrito no item 9(e) da IFRS
a entidade realize os valores devidos, o modelo previsto na IFRS 15 não é aplicável ao contrato 15 é atendido com base em uma estimativa da contraprestação variável de UM 400.000. Além disso,
até que as questões em torno da realização sejam resolvidas (vide Seção 3.4 para uma discussão com base numa avaliação dos termos do contrato e de outros fatos e circunstâncias, a entidade conclui
mais detalhada). que os demais critérios descritos no item 9 da IFRS 15 também são atendidos. Desse modo, a entidade
contabiliza o contrato com o cliente de acordo com as exigências da IFRS 15.
Vale observar que a avaliação da capacidade de realização se refere ao valor da contraprestação
a que a entidade espera ter o direito de receber (ou seja, o preço da transação), e não ao preço
declarado no contrato. O preço da transação pode ser inferior ao preço do contrato porque, por
exemplo, a entidade pretende oferecer um desconto especial. Portanto, antes de determinar a Nosso ponto de vista
existência ou não de um contrato com o cliente, primeiramente a entidade pode precisar estimar Aplicar o critério de realização pode ser algo desafiador para as entidades. Os Comitês
o preço da transação para assegurar que os valores apropriados possam ser avaliados para fins indicaram que se uma entidade entender que receberá pagamento parcial pelo desempenho,
de realização. isso pode ser suficiente para determinar que o acordo se enquadra na definição de contrato
(e que a redução esperada da contraprestação assemelha-se mais a um desconto especial
O que muda com relação às normas IFRS atuais? implícito, vide Seção 5.1.1). Contudo, entendemos que essa avaliação exigirá julgamento
significativo. Em especial, pode ser difícil determinar ser um pagamento parcial é: (a) um
Embora essa exigência seja semelhante às exigências atuais previstas na IAS 18, a aplicação do
contrato com desconto especial implícito; (b) uma perda devido a redução ao valor
conceito a uma parcela do valor do contrato, e não à sua totalidade, representa uma mudança
recuperável (impairment); ou (c) um acordo sem substância suficiente para ser considerado
significativa. Antes que a receita possa ser reconhecida segundo a IAS 18, deve ser provável que
um contrato ao qual o modelo previsto na IFRS 15 seria aplicável. Além disso, pode ser
os benefícios econômicos associados à transação fluirão para a entidade.17 Na prática, as
necessário que as entidades avaliem e atualizem seus controles internos sobre a
entidades provavelmente consideram o total da contraprestação acordada segundo a IAS 18. Se
apresentação financeira no tocante à identificação de contratos, particularmente com
for esse o caso, as exigências da IFRS 15 poderiam resultar no reconhecimento antecipado da
relação aos critérios de realização.
receita associada a um contrato em que se considere que uma parcela do preço do contrato (mas
não o valor total) esteja exposta a risco.

15 IFRS 5 Anexo A.
16 Segundo US GAAP, o termo “provável” é definido no glossário principal do US Accounting Standards Codification
como “o evento ou eventos futuros que provavelmente ocorrerão”.
17. IAS 18. 14(b), 18, 20(b).

28 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 29
3.2 Combinação de contratos 3.3 Modificações contratuais
Na maioria dos casos, as entidades aplicarão o modelo a contratos individuais com o cliente. As partes do contrato frequentemente concordam em modificar o escopo ou o preço (ou ambos) de
Contudo, a norma exige que as entidades combinem contratos celebrados na mesma data, ou em seus contratos. Caso isso ocorra, a entidade deve verificar se a modificação gera um novo contrato
datas próximas, com o mesmo cliente quando esses contratos atenderem a um ou mais dos ou se ela é contabilizada como parte do contrato já existente. Em geral, é evidente quando ocorre
seguintes critérios: uma modificação contratual, porém, em determinadas circunstâncias, fazer essa verificação é mais
difícil. Para auxiliar as entidades a fazer essa verificação, a norma afirma o seguinte:

Extraído da IFRS 15
Extraído da IFRS 15
17. A entidade combinará dois ou mais contratos celebrados na mesma data, ou em datas próximas,
com o mesmo cliente (ou partes relacionadas do cliente) e contabilizará os contratos como um único 18. Uma modificação contratual é uma mudança no escopo ou no preço do contrato (ou em ambos) que
contrato quando um ou mais dos seguintes critérios forem atendidos: é aprovada pelas partes envolvidas. Em alguns setores e jurisdições, uma modificação contratual
pode ser descrita como um pedido de mudança, uma variação ou uma alteração. Uma modificação
(a) os contratos são negociados como um pacote com um único objetivo comercial;
contratual existe quando as partes do contrato aprovam uma modificação que gera para elas
(b) o valor da contraprestação a ser pago em um contrato depende do preço ou cumprimento do direitos e obrigações exigíveis novos ou altera os já existentes. Uma modificação contratual poderia
outro contrato; ou ser aprovada por escrito, verbal ou implicitamente de acordo com práticas comerciais usuais. Se as
partes do contrato não tiverem aprovado uma modificação contratual, a entidade continuará a
(c) os bens ou serviços prometidos nos contratos (ou alguns bens ou serviços prometidos em cada um
aplicar esta Norma ao contrato existente até que a modificação contratual seja aprovada.
dos contratos) constituem uma única obrigação de desempenho de acordo com os itens 22-30.
19. Uma modificação contratual pode existir mesmo que as partes do contrato estejam envolvidas em
uma disputa sobre o escopo ou o preço (ou ambos) da modificação, ou que as partes tenham
Na Base para Conclusões, os Comitês esclareceram que a negociação de múltiplos contratos na aprovado uma mudança no escopo do contrato mas ainda não tenham apurado a correspondente
mesma data não é considerada evidência suficiente para demonstrar que os contratos mudança no preço. Ao verificar se os direitos e obrigações que são gerados ou alterados por uma
representam um único contrato.18 modificação são exigíveis, a entidade considerará todos os fatos e circunstâncias pertinentes,
inclusive os termos do contrato e outras evidências. Caso as partes do contrato tenham aprovado
Pode haver situações nas quais a entidade opte por combinar múltiplos contratos a fim de facilitar uma mudança no escopo do contrato mas ainda não tenham apurado a correspondente mudança no
o reconhecimento das receitas. Por exemplo, a norma estabelece que a entidade pode contabilizar preço, a entidade estimará a mudança no preço da transação decorrente da modificação de acordo
juntos uma carteira de contratos semelhantes se espera que o resultado não irá diferir da com os itens 50-54, sobre como estimar a contraprestação variável, e com os itens 56-58, sobre
aplicação da norma a cada um dos contratos individualmente. Ao concluir que o “método de como restringir as estimativas da contraprestação variável.
carteira” não apresenta diferença material, os Comitês esclareceram que não pretendem que a
entidade avalie quantitativamente cada resultado possível. Em vez disso, eles indicaram que a
entidade deve ser capaz de adotar um método cabível para determinar as carteiras que seriam A transcrição acima mostra a intenção dos Comitês de que essas exigências sejam aplicadas de
adequadas aos tipos de contratos. Além disso, a entidade deve exercer julgamento ao selecionar forma mais ampla do que apenas para modificações finalizadas. Em outras palavras, a IFRS 15
o tamanho e a composição apropriados da carteira. indica que a entidade pode ter de contabilizar uma modificação contratual antes que as partes
cheguem a um acordo definitivo sobre mudanças no escopo ou no preço do contrato (ou em
ambos). Em vez de enfatizar a finalização definitiva de uma modificação, a IFRS 15 trata da
O que muda com relação às normas IFRS atuais? exigibilidade das mudanças nos direitos e obrigações previstos no contrato. Uma vez que a
A IFRS 15 oferece mais orientações sobre quando combinar os contratos do que a IAS 18. entidade determine que os direitos e obrigações modificados são exigíveis, ela contabiliza a
Atualmente, aqueles que preparam suas demonstrações financeiras segundo as normas IFRS modificação contratual.
estão sujeitos a uma exigência semelhante prevista na IAS 11. A principal diferença entre a
IAS 11 e a IFRS 15 é o critério descrito no item IFRS 15.17(c), que considera uma obrigação de
desempenho entre diferentes contratos. Em contrapartida, a IAS 11 considera a execução
simultânea ou sequencial dos contratos.19

No todo, os critérios são geralmente consistentes com os princípios descritos nas normas
existentes sobre receita no que diz respeito a combinação de contratos. Contudo, diferentemente
da IAS 18, a nova norma traz a exigência expressa de que a entidade combine contratos quando
atendidos os critérios descritos no item 17. Portanto, algumas entidades que atualmente não
combinam contratos podem precisar fazê-lo.

18. IFRS 15.BC73.


19. IAS 11.9(c).

30 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 31
A norma inclui o seguinte exemplo para ilustrar esse ponto:
Extraído da IFRS 15

Extraído da IFRS 15
20. A entidade contabilizará uma modificação contratual como um contrato separado se estiverem
presentes as duas seguintes condições:
Exemplo 9 – Mudança não aprovada no escopo e no preço (IFRS 15.IE42-IE43)
(a) o escopo do contrato aumenta devido à adição de bens ou serviços prometidos que são distintos (de
Uma entidade celebra um contrato com um cliente para construir um edifício sobre terreno de acordo com os itens 26-30); e
propriedade do cliente. O contrato prevê que o cliente fornecerá à entidade o acesso ao terreno no prazo
de 30 dias da assinatura do contrato. Contudo, a entidade não forneceu o acesso até 120 dias após a (b) o preço do contrato aumenta por um valor da contraprestação que reflete os preços de venda
assinatura do contrato devido a danos no terreno causados por tempestades ocorridas após a assinatura individuais da entidade de cada um dos bens ou serviços prometidos adicionais e quaisquer ajustes
do contrato. O contrato identifica especificamente qualquer atraso (inclusive por motivo de força maior) apropriados àquele preço que reflitam as circunstâncias do contrato em particular. Por exemplo, a
no fornecimento à entidade do acesso ao terreno de propriedade do cliente como evento que dá à entidade pode ajustar o preço de venda individual de um bem ou serviço adicional pelo desconto que o
entidade o direito a compensação em valor igual aos custos reais incorridos diretamente como resultado cliente receber, pois não é necessário para a entidade incorrer os custos relacionados à venda que ela
do atraso. A entidade é capaz de demonstrar que os custos diretos específicos foram incorridos como incorreria ao vender um bem ou serviço semelhante para um novo cliente.
resultado do atraso de acordo com os termos do contrato e entra com um pedido de compensação. De 21. Se uma modificação contratual não for contabilizada como um contrato separado de acordo com o
início, o cliente não concorda com o pedido da entidade. item 20, a entidade contabilizará os bens ou serviços prometidos que ainda não foram transferidos
A entidade avalia a base legal do pedido e verifica, com base nos termos do respectivo contrato, que na data da modificação contratual (ou seja, os bens ou serviços prometidos remanescentes) em
ela tem direitos exigíveis. Consequentemente, ela contabiliza o pedido como modificação contratual de qualquer uma das seguintes maneiras aplicáveis:
acordo com os itens 18-21 da IFRS 15. A modificação não resulta no fornecimento de quaisquer bens (a) A entidade contabilizará a modificação contratual como se fosse uma rescisão do contrato
ou serviços adicionais ao cliente. Além disso, todos os demais bens e serviços após a modificação não existente e a criação de um novo contrato, se os bens ou serviços remanescentes forem distintos
são distintos entre si e constituem uma única obrigação de desempenho. Consequentemente, a entidade dos bens ou serviços transferidos até a data da modificação contratual. O valor da contraprestação
contabiliza a modificação de acordo com o item 21(b) da IFRS 15, atualizando o preço da transação e a a ser alocado às obrigações de desempenho remanescentes [ou aos bens ou serviços distintos
medida da evolução do trabalho contratado até a completa satisfação da sua obrigação de desempenho. remanescentes em uma única obrigação de desempenho identificada de acordo com o item 22(b)]
A entidade leva em consideração a restrição sobre estimativas da contraprestação variável descrita nos corresponde à soma:
itens 56-58 da IFRS 15 ao estimar o preço da transação.
(i) da contraprestação prometida pelo cliente (inclusive os valores já recebidos do cliente) que
foi incluída na estimativa do preço da transação e que não tinha sido reconhecida como
Uma vez que a entidade verifique que os direitos e obrigações revisados são exigíveis, ela receita; e
contabiliza a modificação contratual. Certas modificações são tratadas como contratos individuais (ii) da contraprestação prometida como parte da modificação contratual.
separados, ao passo que outras são combinadas com o contrato original. A norma inclui as
(b) A entidade contabilizará a modificação contratual como se fosse parte do contrato existente se os
seguintes exigências para determinar o tratamento contábil apropriado:
bens ou serviços remanescentes não forem distintos e, portanto, constituam uma única obrigação
de desempenho que está parcialmente satisfeita na data da modificação contratual. O efeito da
modificação contratual sobre o preço da transação e a medida, calculada pela entidade, da evolução
do trabalho contratado até a completa satisfação da sua obrigação de desempenho é reconhecido
como um ajuste na receita (seja como aumento, seja como redução da receita) na data da modificação
contratual (ou seja, o ajuste na receita é feito em base de atualização cumulativa).

(c) Se os bens ou serviços remanescentes forem uma combinação dos itens (a) e (b), a entidade
contabilizará os efeitos da modificação sobre as obrigações de desempenho não satisfeitas (inclusive as
parcialmente não satisfeitas) no contrato modificado de forma consistente com os objetivos deste item.

32 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 33
O que muda com relação às normas IFRS atuais? 3.3.2 A modificação contratual não é um contrato separado
A exigência de verificar se uma mudança nos termos contratuais deve ser tratada como um contrato Modificações contratuais que não atendem aos critérios discutidos na Seção 3.3.1 são consideradas
separado ou como uma modificação em um contrato já existente está relativamente em linha com as mudanças no contrato original e não são tratadas como contratos separados. Entre elas estão
exigências da IAS 11 para contratos de construção.20 Por sua vez, a IAS 18 não oferece orientação modificações contratuais que modificam ou removem bens e serviços previamente acordados. A
detalhada para aplicação no que diz respeito a como verificar se uma mudança nos termos entidade contabilizaria os efeitos dessas modificações de forma diferente dependendo de qual dos
contratuais é tratada como um contrato separado ou uma modificação em um contrato já existente. três cenários descritos no item IFRS 15.21 (vide transcrição na Seção 3.3) está mais alinhado com os
Portanto, as exigências da IFRS 15 poderiam resultar numa mudança de prática para algumas fatos e circunstâncias em torno da modificação:
entidades. Vale observar, contudo, que ao avaliar como contabilizar a modificação contratual, a
entidade deve considerar como quaisquer revisões aos bens ou serviços prometidos interagem com o
•• Após a mudança contratual, se os bens e serviços remanescentes forem distintos dos bens ou
serviços transferidos até a data da modificação contratual, a entidade contabiliza a modificação
restante do contrato. Ou seja, embora uma modificação contratual possa adicionar um novo bem ou
como se fosse uma rescisão do antigo contrato e a criação de um novo contrato. Para tais
serviço que seria distinto numa transação individual, a nova obrigação de desempenho pode não ser
modificações, a receita reconhecida até a data do contrato original (ou seja, o valor associado às
distinta quando ela faz parte de uma modificação contratual. Por exemplo, em um projeto de reforma
obrigações de desempenho concluídas) não é ajustada. Em vez disso, a parcela remanescente do
de um edifício, o cliente pode solicitar uma modificação contratual para adicionar mais uma
contrato original e a modificação são contabilizadas conjuntamente em base prospectiva,
dependência. A firma de construção pode comumente vender a construção de uma dependência
alocando-se a contraprestação remanescente às obrigações de desempenho remanescentes
adicional separadamente, o que indicaria que o serviço é distinto. Contudo, quando aquele serviço é
(vide Caso B do Exemplo 5 da norma, na transcrição abaixo, que ilustra esse cenário).
adicionado a um contrato já existente e a entidade já verificou que o projeto todo constitui uma única
obrigação de desempenho, os bens e serviços adicionados normalmente seriam combinados com o •• Os bens e serviços remanescentes a serem fornecidos após a modificação contratual podem não
conjunto existente de bens e serviços. ser distintos dos bens e serviços já fornecidos e, portanto, constituem uma única obrigação de
desempenho, que está parcialmente satisfeita na data da modificação contratual. Se for esse o
3.3.1 A modificação contratual representa um contrato separado caso, a entidade contabiliza a modificação contratual como se fosse parte do contrato original. A
Certas modificações contratuais são tratadas como contratos separados. Para tais modificações, o entidade ajusta a receita anteriormente reconhecida (para mais ou para menos) de modo a
contrato original não é afetado pela modificação e a receita reconhecida até a data com base no refletir o efeito da modificação contratual sobre o preço da transação e a medida da evolução do
contrato original não é ajustada. Além disso, quaisquer obrigações de desempenho remanescentes trabalho contratado (ou seja, o ajuste na receita é feito em base de atualização cumulativa). Vide
em razão do contrato original continuam a ser contabilizadas de acordo com o contrato original. Exemplo B da norma, na transcrição abaixo, que trata desse tipo de modificação.

Dois critérios devem ser atendidos para que uma modificação seja tratada como um contrato •• Por fim, uma mudança no contrato também pode ser tratada como uma combinação de ambas
separado. A primeira é que os bens e serviços adicionais previstos na modificação devem ser distintos as formas: uma modificação do contrato existente e a criação de um novo contrato. Nesse caso,
dos bens e serviços previstos no contrato original. A avaliação é feita de acordo com as exigências a entidade não ajustaria a contabilização das obrigações de desempenho concluídas que fossem
gerais da IFRS 15 para verificar se os bens e serviços prometidos são distintos (vide Seção 4.2). distintas dos bens ou serviços modificados. A entidade, porém, ajustaria a receita anteriormente
Somente as modificações que adicionem bens e serviços distintos ao contrato podem ser tratadas reconhecida (para mais ou para menos) de modo a refletir o efeito da modificação contratual
como contratos separados. Contratos que reduzam o valor dos bens ou serviços prometidos ou que sobre o preço da transação e a medida da evolução do trabalho contratado (ou seja, o ajuste na
mudem o escopo dos bens e serviços prometidos originais não podem, por sua própria natureza, ser receita é feito em base de atualização cumulativa).
considerados contratos separados. Em vez disso, eles seriam considerados modificações dos
contratos originais (vide Seção 3.3.2).

A segunda exigência é que o valor da contraprestação esperada pelos bens e serviços adicionados
deve necessariamente refletir o preço de venda individual desses bens ou serviços. Contudo, ao
determinar o preço de venda individual, as entidades têm alguma flexibilidade para ajustar o preço de
venda, dependendo dos fatos e das circunstâncias. Por exemplo, um fornecedor pode dar a um cliente
já existente um desconto sobre bens adicionais, uma vez que o fornecedor não incorreria custos
relacionados à venda que normalmente seriam incorridos em transações com novos clientes. Neste
exemplo, a entidade pode determinar que a contraprestação da transação incremental atende à
exigência, mesmo que o preço descontado seja inferior ao preço de venda individual daquele bem ou
serviço para um novo cliente. Em outro exemplo, a entidade pode concluir que, com as compras
adicionais, o cliente se qualifica para um desconto com base em volume.

Vide Caso A do Exemplo 5 da norma (apresentado na Seção 3.3.2), que trata de uma modificação
contratual que representa um contrato separado.

20 IAS 11.13.

34 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 35
A norma inclui os seguintes exemplos para ilustrar esses conceitos:
Extraído da IFRS 15 (Continuação)

Extraído da IFRS 15 Exemplo 8 – Modificação que resulta em ajuste de atualização cumulativa da receita
(IFRS 15.IE37-IE41)
Exemplo 5 – Modificação de um contrato para bens (IFRS 15.IE19-IE24) A entidade, uma empresa de construção, celebra contrato para construir um edifício comercial para um
Uma entidade promete vender 120 produtos para um cliente por UM 12.000 (UM 100 por produto). Os cliente sobre terreno do próprio cliente, pela contraprestação prometida de UM 1 milhão e um bônus de UM
produtos são transferidos para o cliente ao longo de seis meses. A entidade transfere o controle de cada 200.000 se o edifício estiver concluído em 24 meses. A entidade contabiliza o conjunto de bens e serviços
produto em um determinado momento. Depois que a entidade transferiu o controle de 60 produtos para como uma única obrigação de desempenho satisfeita ao longo do tempo, de acordo com o item 35(b) da
o cliente, o contrato é modificado, exigindo a entrega de mais 30 produtos (um total de 150 produtos IFRS 15, uma vez que o cliente controla o edifício durante a construção. Na data da assinatura do contrato,
idênticos) para o cliente. Os 30 produtos adicionais não estavam incluídos no contrato inicial. a entidade espera o seguinte:

Caso A – Produtos adicionais por um preço que reflete o preço de venda individual UM

Quando o contrato é modificado, o preço da modificação contratual pelos 30 produtos adicionais Preço da transação 1.000.000
corresponde a um valor adicional de UM 2.850 (UM 95 por produto). A determinação do preço para os
Custos esperados 700.000
produtos adicionais reflete o preço de venda individual dos produtos por ocasião da modificação contratual,
e os produtos adicionais são distintos (de acordo com o item 27 da IFRS 15) dos produtos originais. Lucro esperado (30%) 300.000
De acordo com o item 20 da IFRS 15, a modificação contratual referente aos 30 produtos adicionais é, Na data da assinatura do contrato, a entidade deduz o bônus de UM 200.000 do preço da transação, pois é
de fato, um contrato novo separado para produtos futuros que não afeta a contabilização do contrato impossível concluir que seja altamente provável que não haja uma reversão significativa no valor da receita
existente. A entidade reconhece a receita de UM 100 por produto para os 120 produtos previstos no acumulada. A conclusão do edifício é altamente suscetível a fatores fora da esfera de influência da entidade,
contrato original e de UM 95 por produto para os 30 produtos previstos no novo contrato. inclusive condições climáticas e aprovações de órgãos reguladores. Além disso, a entidade tem experiência
Caso B – Produtos adicionais por um preço que não reflete o preço de venda individual limitada com tipos semelhantes de contratos.

Durante o processo de negociação da compra dos 30 produtos adicionais, as partes inicialmente A entidade verifica que o método de entradas (input method), baseado nos custos incorridos, oferece
concordam com o preço de UM 80 por produto. Contudo, o cliente descobre que os 60 produtos uma medida apropriada da evolução do projeto contratado até a satisfação completa da obrigação de
primeiramente transferidos para ele continham pequenos defeitos exclusivos daqueles produtos desempenho. Ao final do primeiro ano, a entidade cumpriu 60% da sua obrigação de desempenho com base
fornecidos. A entidade promete um crédito parcial de UM 15 por produto para compensar o cliente pela nos custos incorridos até a data (UM 420.000) com relação ao total de custos esperados (UM 700.000). A
má qualidade daqueles produtos. A entidade e o cliente concordam em incorporar o crédito no valor de entidade reavalia a contraprestação variável e conclui que o valor ainda está sujeito a restrições de acordo
UM 900 (crédito de UM 15 × 60 produtos) ao preço que a entidade cobra pelos 30 produtos adicionais. com os itens 56-58 da IFRS 15. Como resultado, a receita acumulada e os custos reconhecidos no primeiro
Consequentemente, a modificação contratual especifica que o preço dos 30 produtos adicionais é de ano são apresentados da seguinte forma:
UM 1.500 (UM 50 por produto). Esse preço engloba o preço acordado entre as partes pelos 30 produtos UM
adicionais, ou seja UM 2.400 (UM 80 por produto), menos o crédito de UM 900.
Receita 600.000
Na data da modificação contratual, a entidade reconhece o valor de UM 900 como uma redução do preço
da transação e, portanto, como uma redução da receita pelos 60 primeiros produtos transferidos. Na Custo 420.000
contabilização da venda dos 30 produtos adicionais, a entidade verifica que o preço negociado de UM
80 por produto não reflete o preço de venda individual dos produtos adicionais. Consequentemente, a Lucro bruto 180.000
modificação contratual não atende às condições descritas no item 20 da IFRS para ser contabilizada como No primeiro trimestre do segundo ano, as partes concordam em modificar o contrato, alterando a planta
um contrato separado. Como os produtos remanescentes a serem fornecidos são distintos daqueles já do edifício. Como resultado, a contraprestação fixa e os custos esperados aumentam em UM 150.000 e
transferidos, a entidade aplica as exigências descritas no item 21(a) da IFRS 15 e contabiliza a modificação UM 120.000, respectivamente. O total da contraprestação potencial após a modificação corresponde a
como uma rescisão do contrato original e a criação de um novo contrato. UM 1.350.000 (contraprestação fixa de UM 1.150.000 + bônus pela conclusão do trabalho contratado
Como resultado, o valor reconhecido como receita para cada um dos produtos remanescentes é um no valor de UM 200.000). Além disso, o prazo permitido para ter o direito ao bônus de UM 200.000 é
preço composto de UM 93,33 {[(UM 100 × 60 produtos ainda não transferidos previstos no contrato ampliado em seis meses sobre os 30 meses contados a partir da data de assinatura do contrato original.
original) + (UM 80 × 30 produtos a serem transferidos de acordo com a modificação contratual)] ÷ 90 Na data da modificação, com base em sua experiência e no trabalho remanescente a ser executado,
produtos remanescentes}. que é basicamente no interior no edifício e não está sujeito a condições climáticas, a entidade conclui
ser altamente provável que a inclusão do bônus no preço da transação não resulte em uma reversão
significativa no valor da receita acumulada reconhecida de acordo com o item 56 da IFRS 15 e, portanto,
inclui os UM 200.000 no preço da transação.

36 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 37
Até que isso ocorra, qualquer contraprestação recebida do cliente é inicialmente contabilizada como
Extraído da IFRS 15 (continuação)
passivo (não como receita) e o passivo é mensurado pelo valor da contraprestação recebida do cliente.
Ao avaliar a modificação contratual, a entidade avalia o item 27(b) da IFRS 15 e conclui (com base nos Na Base para Conclusões, o Comitê indicou que sua intenção era que essa contabilização fosse
fatores descritos no item 29 da IFRS 15) que os bens e serviços remanescentes a serem fornecidos “semelhante ao método de depósito previamente incluído nos US GAAP e aplicado quando não ocorria
utilizando o contrato modificado não são distintos dos bens e serviços transferidos até a data da
a consumação da venda”.22 A norma inclui o seguinte exemplo para ilustrar esse conceito:
modificação contratual; ou seja, o contrato permanece como uma única obrigação de desempenho.

Consequentemente, a entidade contabiliza a modificação contratual como se fosse parte do contrato


original [de acordo com o item 21(b) da IFRS 15]. A entidade atualiza a sua medida da evolução do trabalho Extraído da IFRS 15
contratado e estima ter cumprido 51,2% da sua obrigação de desempenho (custos reais incorridos de UM
420.000 ÷ total de custos esperados de UM 820.000). A entidade reconhece receita adicional no valor Exemplo 1 – Capacidade de realização da contraprestação (IFRS 15.IE3-IE6)
de UM 91.200 [(51,2% concluídos × preço da transação modificado de UM 1.350.000) - UM 600.000 de
A entidade, uma incorporadora de imóveis, celebra contrato com um cliente para a venda de imóvel por
receita reconhecida até a data] na data da modificação como um ajuste de atualização cumulativa.
UM 1 milhão. O cliente pretende abrir um restaurante no imóvel. O imóvel está localizado em uma área
em que novos restaurantes enfrentam altos níveis de concorrência e o cliente tem pouca experiência no
setor de restaurantes.

Nosso ponto de vista O cliente paga o depósito não reembolsável de UM 50.000 na assinatura do contrato e celebra um
financiamento de longo prazo com a entidade para os 95% remanescentes da contraprestação prometida.
As entidades precisarão avaliar cuidadosamente as obrigações de desempenho na data da O acordo de financiamento é celebrado sem direito de regresso, ou seja, se o cliente não pagar, a entidade
modificação para verificar se os bens ou serviços remanescentes a serem transferidos são pode recuperar a posse do imóvel, mas não pode buscar compensação adicional do cliente, mesmo que a
distintos daqueles previstos no contrato original. Essa avaliação é importante porque o garantia não cubra o valor integral do montante devido. O custo do imóvel da entidade é de UM 600.000.
tratamento contábil pode variar significativamente conforme os resultados. O cliente obtém controle do imóvel na data de assinatura do contrato.

Ao avaliar se o contrato atende aos critérios descritos no item 9 da IFRS 15, a entidade conclui que o
critério descrito no item 9(e) da IFRS 15 não é atendido, pois não é provável que a entidade realize a
3.4 Acordos que não se enquadram na definição de contrato segundo a norma contraprestação à qual tem direito pela transferência do imóvel. Tendo chegado a essa conclusão, a
Se um acordo não atende aos critérios para ser considerado um contrato segundo a norma, ele entidade observa que a capacidade e a intenção de pagamento do cliente podem ser duvidosas devido aos
deverá ser contabilizado da seguinte forma: seguintes fatores:

(a) o cliente tem a intenção de pagar o financiamento (que tem um saldo significativo) principalmente
com a renda obtida com as operações do restaurante (que é um negócio que enfrenta riscos
Extraído da IFRS 15
significativos devido à elevada concorrência e à experiência limitada do cliente no setor);

15. Quando um contrato com um cliente não atende aos critérios descritos no item 9 e a entidade recebe (b) O cliente não possui outras rendas ou ativos que poderiam ser utilizados para pagar o
contraprestação do cliente, a entidade reconhecerá a contraprestação recebida como receita somente financiamento; e
quando tiver ocorrido um dos seguintes eventos: (c) o passivo do cliente em razão do financiamento é limitado porque o financiamento é realizado sem
(a) a entidade não tem obrigações remanescentes de transferir bens ou serviços ao cliente e toda, ou direito de regresso.
substancialmente toda, a contraprestação prometida pelo cliente foi recebida pela entidade e não é Como os critérios descritos no item 9 da IFRS 15 não são atendidos, a entidade aplica os itens 15-16
reembolsável; ou da IFRS 15 para determinar a contabilização do depósito não reembolsável de UM 50.000. A entidade
(b) o contrato foi rescindido e a contraprestação recebida do cliente não é reembolsável. observa que nenhum dos eventos descritos no item 15 ocorreram – ou seja, a entidade não recebeu
substancialmente toda a contraprestação e não rescindiu o contrato. Consequentemente, de acordo com
16. A entidade reconhecerá a contraprestação recebida do cliente como um passivo até que um dos o item 16, a entidade contabiliza o pagamento não reembolsável no valor de UM 50.000 como passivo de
eventos descritos no item 15 ocorra ou até que os critérios descritos no item 9 sejam posteriormente depósito. A entidade continua a contabilizar o depósito inicial, bem como quaisquer pagamentos futuros
atendidos (vide item 14). Dependendo dos fatos e circunstâncias relacionados ao contrato, o passivo do principal e juros, como passivo de depósito até o momento em que a entidade concluir que os critérios
reconhecido representa a obrigação da entidade de transferir bens ou serviços no futuro ou de descritos no item 9 foram atendidos (ou seja, a entidade é capaz de concluir que é provável que ela realize
reembolsar a contraprestação recebida. Em ambos os casos, o passivo deverá ser mensurado pelo a contraprestação) ou um dos eventos descritos no item 15 tenha ocorrido. A entidade continua a avaliar
valor da contraprestação recebida do cliente. o contrato de acordo com o item 14 para verificar se os critérios descritos no item 9 são posteriormente
atendidos ou se os eventos descritos no item 15 da IFRS 15 ocorreram.

Como observado na Base para Conclusões, os Comitês decidiram incluir as exigências no texto acima
transcrito para impedir que as entidades buscassem orientação alternativa ou fizessem analogias
22 IFRS 115.BC48.
inadequadas com o modelo descrito na IFRS 15 para circunstâncias em que um contrato celebrado não
atenda aos critérios previstos no item IFRS 15.9 (como discutido na Seção 3.1).21 Dessa forma, os
Comitês especificaram que, nos casos em que o contrato não atenda aos critérios, a entidade reconhece
como receita somente a contraprestação não reembolsável recebida quando um dos eventos descritos
acima tenha ocorrido (ou seja, pleno cumprimento e substancialmente toda a contraprestação recebida
ou rescisão do contrato) ou que o contrato atenda posteriormente aos critérios descritos na IFRS 15.9.

21 IFRS 15.BC47.

38 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 39
4 Identificar as obrigações de desempenho previstas no contrato
Bens ou serviços distintos
Para aplicar a norma, a entidade deve identificar os bens e serviços prometidos no contrato e verificar 26. Dependendo do contrato, os bens ou serviços prometidos podem incluir, entre outros:
que esses bens e serviços constituem obrigações de desempenho separadas ou distintas (ou seja, a
(a) venda de bens produzidos por uma entidade (por exemplo, estoque de um fabricante);
unidade de conta para fins de aplicação da norma). Cada um desses conceitos é discutido a seguir.
(b) revenda de bens produzidos por uma entidade (por exemplo, estoque de um fabricante);

(c) revenda de direitos a bens ou serviços adquiridos de uma entidade (por exemplo, revenda de
4.1 Identificação de bens e serviços prometidos no contrato passagem por uma entidade que atua como principal, como descrito nos itens B34-B38);
A norma estabelece as seguintes exigências com respeito à identificação das obrigações de
(d) realização de uma ou mais tarefas previamente acordadas para um cliente;
desempenho previstas no contrato:
(e) prestação de um serviço de plantão para fornecimento de bens ou serviços (por exemplo,
atualizações não especificadas de software que são fornecidas quando e se disponíveis) ou de
Extraído da IFRS 15 disponibilização de bens ou serviços para um cliente para uso a critério do cliente;

(f) prestação de um serviço no qual se providencie que outra parte transfira bens ou serviços para um
22. Na data de assinatura do contrato, a entidade avaliará os bens ou serviços prometidos no contrato com
cliente (por exemplo, atuando como agente de outra parte, como descrito nos itens B34-B38);
o cliente e identificará como uma obrigação de desempenho cada promessa de transferir para o cliente:
(g) concessão de direitos a bens ou serviços a serem fornecidos no futuro que um cliente possa
(a) um bem ou serviço (ou um conjunto de bens ou serviços) que seja distinto; ou
revender ou fornecer para o seu cliente (por exemplo, uma entidade que vende um produto para
(b) uma série de bens ou serviços distintos que sejam substancialmente o mesmo e que tenham o um varejista promete transferir um bem ou serviço adicional para uma pessoa que adquire o
mesmo padrão de transferência para o cliente (vide item 23). produto do varejista);

23. Uma série de bens ou serviços distintos tem o mesmo padrão de transferência para o cliente se (h) construção, fabricação ou desenvolvimento de um ativo em nome de um cliente;
atendidos os dois seguintes critérios:
(i) concessão de licenças (vide itens B52-B63); e
(a) cada bem ou serviço distinto incluído na série que a entidade promete transferir para o cliente
(j) concessão de opções para aquisição de bens ou serviços adicionais (quando essas opções fornecem
atenderia aos critérios descritos no item 35 para ser uma obrigação de desempenho satisfeita ao
ao cliente um direito material, como descrito nos itens B39-B43).
longo do tempo; e

(b) de acordo com os itens 39-40, o mesmo método seria utilizado para medir a evolução do trabalho
executado pela entidade até a completa satisfação da obrigação de desempenho para transferir A norma exige que a entidade identifique, na data da assinatura do contrato, todos os bens e serviços
cada bem ou serviço distinto que integra a série para o cliente. prometidos e verifique que esses bens ou serviços prometidos (ou conjunto de bens ou serviços)
Promessas nos contratos com clientes representam obrigações de desempenho separadas. As normas IFRS atuais não tratam especificamente de
contratos com múltiplos entregáveis, em vez disso, mantém o foco na identificação da transação. Isso inclui
24. O contrato com um cliente geralmente estipula expressamente os bens ou serviços que a entidade identificar elementos separados de modo a refletir a substância da transação.23 Como resultado, muitos
promete transferir para o cliente. Contudo, as obrigações de desempenho identificadas em um contrato
preparadores que utilizam as IFRS têm buscado orientação sobre esse tópico nas normas US GAAP. As
com um cliente podem não se limitar aos bens ou serviços que estão expressamente especificados
normas US GAAP atuais exigem que as entidades identifiquem os “entregáveis” previstos no acordo, mas
naquele contrato. Isso porque um contrato com um cliente também pode incluir promessas que
são implícitas de acordo com as práticas comerciais usuais da entidade, suas políticas publicadas
não definem esse termo. Já a IFRS 15 indica os tipos de itens que podem ser bens ou serviços prometidos
ou declarações específicas se, por ocasião da celebração do contrato, essas promessas criam uma no contrato. Além disso, a norma esclarece que certas atividades não são bens ou serviços prometidos,
expectativa válida do cliente de que a entidade transferirá um bem ou serviço para ele. como atividades que uma entidade deva necessariamente realizar a fim de cumprir sua obrigação de
fornecer os bens e serviços prometidos (por exemplo, atividades administrativas internas).
25. As obrigações de desempenho não incluem atividades que uma entidade deva empreender para
cumprir um contrato, a não ser que essas atividades transfiram um bem ou serviço para um cliente. Os Comitês observaram que, em muitos casos, todos os bens ou serviços prometidos no contrato
Por exemplo, um prestador de serviços pode ter de realizar várias tarefas administrativas para fechar poderiam ser identificados expressamente naquele contrato. Em outros casos, porém, as promessas de
um contrato. A realização dessas tarefas não transfere um serviço para o cliente à medida que elas são
fornecer bens ou serviços poderiam estar implícitas de acordo com práticas comerciais usuais da
realizadas. Portanto, essas atividades de preparação não são uma obrigação de desempenho.
entidade. A norma indica que quando uma entidade identifica as promessas num contrato, ela
considera se existe uma expectativa válida por parte do cliente de que a entidade fornecerá um bem ou
serviço. Ou seja, a noção de obrigação de desempenho também inclui obrigações de desempenho
constituídas com base em fatores fora do âmbito de um contrato escrito (por exemplo, prática
comercial adotada no passado ou normas do setor). Os Comitês também observaram que promessas
implícitas num contrato não precisam ser legalmente exigíveis.24 Se o cliente tem uma expectativa
válida, ele consideraria essas promessas parte da troca negociada. Os Comitês forneceram exemplos
desses bens ou serviços prometidos em sua Base para Conclusões, que incluem aparelhos “grátis”
fornecidos por empresas de telecomunicações, manutenção “gratuita” fornecida por montadoras de
veículos e pontos em programas de fidelização atribuídos por supermercados, companhias aéreas e
hotéis aos seus clientes.25 Embora a entidade possa considerar esses bens ou serviços como incentivos
de marketing ou bens ou serviços incidentais, os Comitês concluíram que eles são bens ou serviços

23 IAS 18.13.
24 IFRS 15.BC87.
25 IFRS 15.BC88.
40 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 41
pelos quais o cliente paga e para os quais a entidade aloca a contraprestação (ou seja, identifica como
Extraído da IFRS 15 (Continuação)
obrigações de desempenho) para fins de reconhecimento da receita.

Como observado na Base para Conclusões, os Comitês decidiram que todos os bens ou serviços Caso C – Os serviços não são uma obrigação de desempenho
prometidos a um cliente, em razão de um contrato, geram obrigações de desempenho, inclusive uma No contrato com a distribuidora, a entidade não promete fornecer quaisquer serviços de manutenção.
promessa de fornecer um bem ou serviço no futuro.26 Um cliente pode ter o direito de receber bens Além disso, a entidade normalmente não fornece serviços de manutenção e, portanto, as práticas
ou serviços no futuro que ele pode revender ou fornecer para os seus próprios clientes. Esse direito comerciais usuais da entidade, suas políticas publicadas ou declarações específicas por ocasião da
poderia representar promessas para o cliente se ele existisse na data em que as partes firmaram o celebração do contrato não criam uma promessa implícita de que a entidade fornecerá bens ou serviços
contrato. Esses tipos de promessas existem nas redes de distribuição de vários setores e são comuns para seus clientes. A entidade transfere o controle do produto para a distribuidora e, portanto, o contrato
no setor automotivo. é concluído. Entretanto, antes da venda para o cliente final, a entidade faz uma oferta de fornecer serviços
de manutenção a qualquer parte que adquirir o produto da distribuidora, sem cobrar por esses serviços
qualquer contraprestação adicional.

Nosso ponto de vista A promessa de serviços de manutenção não está incluída no contrato entre a entidade e a distribuidora
A inclusão de orientações sobre os tipos de itens que podem ser bens e serviços prometidos em na data de assinatura do contrato. Em outras palavras, de acordo com o item 24 da IFRS 15, a entidade
não promete expressa ou implicitamente fornecer serviços de manutenção para a distribuidora ou para
um contrato (outros que não atividades administrativas internas que a entidade desempenhe
os clientes finais. Consequentemente, a entidade não identifica a promessa de fornecer serviços de
para fornecer os bens e serviços prometidos) é um aprimoramento em relação às normas IFRS
manutenção como uma obrigação de desempenho. Em vez disso, a obrigação de fornecer serviços de
atuais. Isso deve ser útil na aplicação da norma. manutenção é contabilizada segundo a IAS 37 Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes
(Provisions, Contingent Liabilities and Contingent Assets).

A norma inclui o seguinte exemplo que mostra como aplicar as exigências para identificar obrigações
de desempenho em vários cenários: 4.2 Obrigações de desempenho separadas
Depois de identificar os bens e serviços prometidos no contrato, a entidade verifica quais desses bens
Extraído da IFRS 15 ou serviços serão tratados como obrigações de desempenho separadas. Ou seja, a entidade identifica
unidades de conta individuais. Bens ou serviços prometidos representam obrigações de desempenho
Exemplo 12 – Promessas expressas e implícitas em um contrato (IFRS 15.IE59-IE65) separadas se os bens ou serviços forem distintos (individualmente ou como parte de um conjunto de
bens e serviços) ou se os bens e serviços forem parte de uma série de bens ou serviços distintos que
A entidade, uma fabricante, vende um produto para uma distribuidora (ou seja, seu cliente), que, por sua
vez, revende o produto para o cliente final. sejam substancialmente o mesmo e que tenham o mesmo padrão de transferência para o cliente (vide
Seção 4.2.2).
Caso A – Promessa expressa de serviço

No contrato com a distribuidora, a entidade promete fornecer serviços de manutenção sem qualquer 4.2.1 Determinação de “distinto”
contraprestação adicional (ou seja, “gratuitos”) a qualquer parte (ou seja, o cliente final) que adquirir o
produto da distribuidora. •• A IFRS 15 descreve um processo em duas etapas para determinar se um bem ou serviço (ou um
conjunto de bens e serviços) é distinto:
A entidade terceiriza a execução dos serviços de manutenção com a distribuidora e paga a ela um valor
acordado pelo fornecimento desses serviços em nome da entidade. Se o cliente final não utilizar os serviços •• Avaliação no âmbito do bem ou serviço individual (ou seja, os bens ou serviços têm a capacidade
de manutenção, a entidade não é obrigada a pagar a distribuidora. de serem distintos);
Como a promessa de serviços de manutenção é uma promessa de transferir bens ou serviços no futuro
e é parte da troca negociada entre a entidade e a distribuidora, a entidade determina que a promessa de
•• Avaliação sobre se o bem ou serviço é separadamente identificável das outras promessas
fornecer serviços de manutenção é uma obrigação de desempenho [vide item 26(g) da IFRS 15]. A entidade contidas no contrato (ou seja, o bem ou serviço é distinto no contexto do contrato).
conclui que a promessa representaria uma obrigação de desempenho independentemente de ser a entidade,
a distribuidora ou um terceiro quem fornece o serviço. Por conseguinte, a entidade aloca uma parcela do
Ambos os critérios devem, necessariamente, ser atendidos para se concluir que o bem ou serviço é
preço da transação para a promessa de fornecer serviços de manutenção. individualmente distinto, como discutido mais detalhadamente a seguir. Se esses critérios forem
atendidos, as unidades de conta individuais devem ser separadas.
Caso B – Promessa implícita de serviço

Historicamente, a entidade tem fornecido serviços de manutenção sem qualquer contraprestação adicional A norma prevê as seguintes exigências para determinar se o bem ou serviço é distinto:
(ou seja, “gratuitos”) para os clientes finais que adquirem o produto da entidade através da distribuidora. A
entidade não promete expressamente os serviços de manutenção durante as negociações com a distribuidora, e Extraído da IFRS 15
o contrato final entre a entidade e a distribuidora não especifica termos ou condições para esses serviços.

Contudo, com base nas práticas comerciais usuais, a entidade determina na data de assinatura do contrato 27. Um bem ou serviço que seja prometido a um cliente é distinto se atendidos os dois seguintes critérios:
que ela fez uma promessa implícita de fornecer serviços de manutenção como parte da troca negociada com
(a) o cliente pode se beneficiar do bem ou serviço em base individual ou em conjunto com outros
a distribuidora. Em outras palavras, as práticas historicamente adotadas pela entidade de fornecer esses
serviços criam expectativas válidas por parte dos clientes da entidade (ou seja, a distribuidora e os clientes recursos que estejam prontamente disponíveis ao cliente (ou seja, o bem ou serviço tem a
finais) de acordo com o item 24 da IFRS 15. Consequentemente, a entidade identifica a promessa de capacidade de ser distinto); e
serviços de manutenção como obrigação de desempenho à qual aloca uma parcela do preço da transação. (b) a promessa da entidade de transferir o bem ou serviço para o cliente é separadamente identificável das
outras promessas contidas no contrato (ou seja, o bem ou serviço é distinto no contexto do contrato).

26 IFRS 15.BC92.

42 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 43
Capacidade de ser distinto A entidade pode, por fim, contabilizar todos os bens ou serviços prometidos em um contrato como
A norma prevê que um cliente pode se beneficiar de um bem ou serviço se o bem ou serviço puder ser uma única obrigação de desempenho se o conjunto todo de bens e serviços prometidos for a única
usado, consumido, vendido por um montante superior ao valor de sucata ou mantido de qualquer obrigação de desempenho distinta identificada.
outra forma que gere benefícios econômicos.27 Um cliente pode ser capaz de se beneficiar de alguns Os exemplos abaixo mostram como uma entidade aplica o processo em duas etapas para determinar
bens ou serviços individuais ou em conjunto com outros recursos prontamente disponíveis. Um se os bens ou serviços prometidos num contrato são distintos:
recurso prontamente disponível é um bem ou serviço que é vendido separadamente (pela entidade ou
por outra entidade) ou um recurso que o cliente já obteve da entidade (inclusive bens ou serviços que
a entidade já terá transferido para o cliente em razão do contrato) ou de outras transações ou Extraído da IFRS 15
eventos. O fato de uma entidade vender regularmente um bem ou serviço separadamente indica que
o cliente pode se beneficiar daquele bem ou serviço em base individual ou em conjunto com outros Exemplo 11 – Determinar se os bens ou serviços são distintos (IFRS 15.IE49-IE58)
recursos prontamente disponíveis.
Caso A – Bens ou serviços distintos
Como observado na Base para Conclusões, a avaliação sobre se o “cliente pode se beneficiar do bem A entidade, uma desenvolvedora de software, celebra contrato com um cliente para transferir uma licença
ou serviço em base individual” baseia-se nas características próprias dos bens ou serviços em vez de de software, realizar um serviço de instalação e fornecer atualizações de software e suporte técnico
considerar como o cliente poderia usar os bens ou serviços.28 Como resultado, ao fazer essa inespecíficos (on-line e por telefone) pelo prazo de dois anos. A entidade vende a licença, o serviço de
avaliação, a entidade desconsidera quaisquer limitações contratuais que possam impedir que o cliente instalação e o suporte técnico separadamente. O serviço de instalação inclui modificar a tela da web para
obtenha esses recursos prontamente disponíveis de outra parte que não a entidade. cada tipo de usuário (por exemplo, marketing, gestão de estoques e tecnologia da informação). O serviço de
instalação é prestado rotineiramente por outras entidades e não modifica significativamente o software. O
software permanece funcional sem as atualizações e o suporte técnico.
Distinto no contexto do contrato
A entidade avalia os bens e serviços prometidos para o cliente a fim de determinar quais são os bens e
Uma vez que a entidade tenha verificado se um bem ou serviço é distinto com base em suas serviços distintos de acordo com o item 27 da IFRS 15. A entidade observa que o software é entregue antes
características individuais, ela considera se o bem ou serviço é separável das outras promessas dos outros bens e serviços e permanece funcional sem as atualizações e o suporte técnico. Logo, a entidade
contidas no contrato. A norma estabelece as seguintes exigências para fazer essa verificação: conclui que o cliente pode se beneficiar de cada um dos bens e serviços em base individual ou em conjunto
com os outros bens e serviços que estejam prontamente disponíveis e que o critério descrito no item 27(a)
da IFRS 15 é atendido.
Extraído da IFRS 15
A entidade também considera os fatores descritos no item 29 da IFRS 15 e determina que a promessa de
29. Os fatores que indicam que a promessa de uma entidade de transferir um bem ou serviço para um transferir cada bem e serviço para o cliente pode ser identificada separadamente de cada uma das outras
cliente é separadamente identificável [de acordo com o item 27(b)] incluem, entre outros: promessas [logo, o critério descrito no item 27(b) da IFRS 15 é atendido]. Em particular, a entidade observa
que o serviço de instalação não modifica nem personaliza o software e, por conseguinte, o software e
(a) a entidade não fornece um serviço significativo de integrar o bem ou serviço a outros bens o serviço de instalação são produtos (outputs) separados prometidos pela entidade em vez de insumos
ou serviços prometidos no contrato de modo a formar um conjunto de bens ou serviços que (inputs) usados para produzir um output combinado.
representam o produto/resultado (output) combinado que o cliente contratou. Em outras palavras,
a entidade não está usando o bem ou serviço como um insumo (input) para produzir ou entregar o Com base nessa avaliação, a entidade identifica quatro obrigações de desempenho no contrato para os
produto/resultado (output) especificado pelo cliente. seguintes bens ou serviços:

(b) o bem ou serviço não modifica nem personaliza outro bem ou serviço prometido no contrato. (a) a licença do software;

(c) o bem ou serviço não é altamente dependente de, nem altamente inter-relacionado com, outros (b) um serviço de instalação;
bens ou serviços prometidos no contrato. Por exemplo, o fato de que um cliente pudesse decidir (c) atualizações do software; e
não adquirir o bem ou serviço sem afetar significativamente os outros bens ou serviços prometidos
no contrato poderia indicar que o bem ou serviço não é altamente dependente de, nem altamente (d) suporte técnico.
inter-relacionado com, esses outros bens ou serviços prometidos. A entidade aplica os itens 31-38 da IFRS 15 para determinar se cada uma das obrigações de desempenho
para o serviço de instalação, atualizações do software e suporte técnico é satisfeita num dado momento ou
ao longo do tempo. A entidade avalia a natureza da promessa da entidade de transferir a licença de software
A Base para Conclusões observa que, normalmente, um bem ou serviço não é separadamente de acordo com o item B58 da IFRS 15 (vide Exemplo 54 nos itens IE276-IE277).
identificável das outras promessas contidas no contrato quando a entidade usa o bem ou serviço
como insumo (input) num único processo ou projeto que é o produto/resultado (output) do contrato.29
Por exemplo, em contratos de construção, a entidade pode fornecer um serviço de integração, além
de fornecer bens ou serviços para concluir as atividades de construção. Embora o indicador
apresentado no item IFRS 15.29(a) tenha sido desenvolvido com base no feedback recebido do setor
de construção, ele se aplica a todos os setores.

Se um bem ou serviço prometido não é distinto, a entidade deve combinar esse bem ou serviço com
outros bens ou serviços prometidos até identificar um conjunto de bens ou serviços que seja distinto.

27 IFRS 15.28.
28 IFRS 15.BC100.
29 IFRS 15.BC107.

44 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 45
4.2.2 Séries de bens e serviços distintos que sejam substancialmente o mesmo e que
Extraído da IFRS 15 (continuação)
tenham o mesmo padrão de transferência
Caso B – Personalização significativa Durante as deliberações, foram levantadas questões sobre como certos tipos de bens ou serviços
prometidos que são transferidos consecutivamente para um cliente seriam tratados segundo a norma.
Os bens e serviços prometidos são os mesmos do Caso A, exceto que o contrato agora Houve exemplos de como os contratos incluem um contrato de serviço de longo prazo ou a promessa
especifica que, como parte do serviço de instalação, o software deve ser substancialmente de uma série de bens idênticos. Por exemplo, para algumas pessoas, não ficou claro no projeto
personalizado de modo a adicionar uma nova funcionalidade significativa que permite ao (exposure draft) proposto em novembro de 2011 se um contrato de serviço de três anos seria
software estabelecer interface com outros aplicativos de software personalizados usados pelo contabilizado como uma única obrigação de desempenho ou uma série de obrigações de desempenho
cliente. O serviço de instalação personalizado pode ser fornecido por outras entidades. cobrindo períodos menores de tempo (por exemplo, anuais, trimestrais, mensais ou diários). Para
A entidade avalia os bens e serviços prometidos para o cliente a fim de determinar quais tratar dessa questão, os Comitês esclareceram que mesmo que se verifique que um bem ou serviço é
são os bens e serviços distintos de acordo com o item 27 da IFRS 15. A entidade observa distinto, se aquele bem ou serviço fizer parte de uma série de bens ou serviços que sejam
que os termos do contrato resultam em uma promessa de fornecer um serviço significativo substancialmente o mesmo e que tenham o mesmo padrão de transferência, aquela série de bens ou
de integração do software licenciado com o sistema de software existente, fornecendo um serviços deve necessariamente ser tratada como uma única obrigação de desempenho se atendidos
serviço de instalação personalizado como especificado no contrato. Em outras palavras, os dois seguintes critérios:
a entidade está usando a licença e o serviço de instalação personalizada como insumos
•• Cada bem ou serviço distinto na série que a entidade promete transferir consecutivamente
(inputs) para produzir o produto/resultado (output) combinado (ou seja, um sistema de
representa uma obrigação de desempenho que seria satisfeita ao longo do tempo, de acordo
software integrado funcional) especificado no contrato [vide item 29(a) da IFRS 15]. Além
com o item IFRS15.35 (vide Seção 7.1), se essa série fosse contabilizada separadamente.
disso, o software é modificado significativamente e personalizado pelo serviço [vide item
29(b) de IFRS 15]. •• A entidade mediria a evolução do trabalho contratado até a completa satisfação da obrigação de
Embora o serviço de instalação personalizado possa ser fornecido por outras entidades, desempenho utilizando a mesma medida de evolução do trabalho contratado para cada bem ou
a entidade verifica que, no contexto do contrato, a promessa de transferir a licença não serviço distinto que integra a série (vide Seção 7.1.4).
pode ser identificada separadamente do serviço de instalação personalizado e, portanto,
Vale observar que em contratos de serviço de longo prazo quando a contraprestação fixa, o
o critério descrito no item 27(b) da IFRS 15 (com base nos fatores descritos no item 29 da
tratamento contábil segundo a IFRS 15 geralmente não será diferente (assumindo que não haja
IFRS 15) não é atendido. Por conseguinte, a licença de software e o serviço de instalação
qualquer componente de financiamento significativo), independentemente de se identificar uma única
personalizada não são distintos.
obrigação de desempenho ou múltiplas obrigações de desempenho. Contudo, em contratos que
Como no Caso A, a entidade conclui que as atualizações do software e o suporte técnico envolvem contraprestação variável, concluir que há uma única obrigação de desempenho, e não
são distintos das outras promessas no contrato. Isso porque o cliente pode se beneficiar múltiplas obrigações de desempenho, poderia ter um efeito significativo (vide Seção 6.3).
das atualizações e do suporte técnico em base individual ou em conjunto com os outros
bens e serviços que estejam prontamente disponíveis e porque a promessa de transferir as Como destacado na Base para Conclusões, os Comitês observaram que essa exigência se aplica a bens
atualizações do software e a promessa de transferir o suporte técnico para o cliente podem ou serviços que sejam entregues consecutivamente, em vez de simultaneamente.30 Os Comitês
ser identificadas separadamente de cada uma das outras promessas. verificaram que a norma não precisava fornecer um expediente prático para bens ou serviços distintos
entregues simultaneamente que tivessem o mesmo padrão de transferência. Ou seja, nesses casos, os
Com base nessa avaliação, a entidade identifica três obrigações de desempenho no contrato Comitês entendem que a entidade não impediria a contabilização dos bens ou serviços como se eles
para os seguintes bens ou serviços: fossem uma única obrigação de desempenho, desde que o resultado fosse o mesmo caso os bens e
serviços fossem tratados como obrigações de desempenho individuais.
(a) o serviço de instalação personalizada (que inclui a licença de software);

(b) atualizações do software; e 30 IFRS 15.BC116.

(c) suporte técnico.

A entidade aplica os itens 31-38 da IFRS 15 para determinar se cada uma das obrigações de desempenho é
satisfeita num dado momento ou ao longo do tempo.

É importante observar que a avaliação para determinar se um bem ou serviço é distinto deve
considerar o contrato específico com o cliente. Ou seja, a entidade não pode assumir que um
determinado bem ou serviço seja distinto (ou não) em todos os casos. A maneira como os bens e
serviços prometidos estão agrupados em conjuntos em um contrato pode afetar a conclusão sobre se
um bem ou serviço é distinto. Nossa expectativa é que as entidades possam tratar os mesmos bens e
serviços de maneiras diferentes, dependendo de como esses bens e serviços estejam agrupados em
conjuntos no contrato.

46 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 47
Exemplo 4-1 — Agrupando bens e serviços inseparáveis (continuação)
Nosso ponto de vista
A IAS 18 indica que a entidade pode precisar aplicar seus critérios de reconhecimento a Cenário A – Todos os bens e serviços são vendidos separadamente
elementos separadamente identificáveis a fim de refletir a substância da transação. Contudo,
A Entidade Z verifica que todos os bens e serviços individuais no contrato são distintos, pois a entidade
ela não oferece orientação adicional sobre sua aplicação no que diz respeito
regularmente vende cada elemento do contrato separadamente. A Entidade Z também verifica que os bens
à determinação desses elementos separados. Desse modo, as exigências da IFRS 15 podem
e serviços podem ser separados das outras promessas no contrato, pois ela não está fornecendo um serviço
mudar a prática.
de integração dos bens e serviços, e o nível de personalização não é significativo. Além disso, como o cliente
Muitos preparadores que utilizam as normas IFRS têm desenvolvido suas políticas contábeis poderia adquirir (ou não) cada bem ou serviço sem que isso afetasse significativamente os outros bens e
com base nas normas US GAAP. Se a nova norma irá ou não resultar em uma mudança de serviços adquiridos, os bens e serviços não são altamente dependentes, nem altamente inter-relacionados
prática pode depender de quais exigências segundo US GAAP eles têm considerado ao entre si. Portanto, o hardware, os serviços profissionais e os serviços de hosting são contabilizados
individualmente como obrigações de desempenho separadas.
desenvolver suas políticas.
Cenário B – Hardware não é vendido separadamente
A primeira etapa do processo de duas etapas para determinar se os bens ou serviços são
distintos é semelhante aos princípios aplicados para determinar unidades de conta separadas A Entidade Z verifica que os serviços profissionais são distintos, pois ela frequentemente vende esses
segundo as atuais exigências US GAAP na Codificação de Normas Contábeis – Accounting serviços separadamente (por exemplo, a Entidade Z também presta serviços profissionais referentes a
Standards Codification (ASC) 605-25 Reconhecimento de Receitas – Contratos com Múltiplos hardware e software que não são por ela vendidos). Além disso, a entidade verifica que os serviços de
Elementos (Revenue Recognition – Multiple-Element Arrangements). Contudo, a segunda etapa hosting também são distintos, pois ela também pode vender esses serviços separadamente. Por exemplo,
clientes que tenham concluído seu prazo contratual inicial e optem a cada mês continuar adquirindo os
(determinar se os bens ou serviços são distintos no contexto do contrato) é uma exigência nova.
serviços de hosting estão adquirindo esses serviços separadamente. O hardware, contudo, é sempre
Portanto, as entidades podem chegar a diferentes conclusões sobre obrigações de desempenho
vendido num pacote com os serviços profissionais e de hosting, e o cliente não pode usar o hardware
separadas segundo a nova norma, o que não ocorreria aplicando a prática corrente. separadamente nem com recursos que estejam prontamente disponíveis. Como resultado, a Entidade Z
As entidades que têm se baseado em outras exigências segundo US GAAP para desenvolver suas verifica que o hardware não é distinto.
políticas contábeis, como ASC 985-605 Software – Reconhecimento de Receitas (Software – A Entidade Z deve identificar quais são os bens e serviços no contrato a serem agrupados em conjunto com
Revenue Recognition), também podem chegar a diferentes conclusões aplicando a IFRS 15. o hardware. A Entidade Z provavelmente concluiria que, como o hardware é parte integrante da entrega
do software hospedado, o hardware e os serviços de hosting deveriam ser contabilizados como uma única
obrigação de desempenho, ao passo que os serviços profissionais, que são distintos, seriam uma obrigação
4.3 Bens e serviços que não são distintos de desempenho separada.
Se um bem ou serviço não atende aos critérios para ser considerado um bem ou serviço distinto, a
entidade deve combinar esse bem ou serviço com outros bens ou serviços prometidos até identificar
um conjunto de bens ou serviços que seja distinto. A combinação de bens ou serviços múltiplos 4.4 Considerações sobre principal e agente
poderia resultar na entidade contabilizando todos os bens ou serviços prometidos no contrato como Alguns contratos resultam no cliente de uma entidade recebendo bens ou serviços de outra entidade
uma única obrigação de desempenho. Isso poderia resultar na entidade combinando um bem ou que não é uma parte diretamente envolvida no contrato com o cliente. A norma prevê que quando
serviço que não seja considerado distinto com outro bem ou serviço que, individualmente, teria outras partes são envolvidas no fornecimento de bens ou serviços para o cliente de uma entidade, a
atendido aos critérios para ser considerado distinto (vide Seção 4.2). entidade deve necessariamente verificar se a sua obrigação de desempenho é fornecer o bem ou
serviço diretamente (ou seja, a entidade é o principal) ou providenciar que outra parte forneça o bem
ou serviço (ou seja, a entidade é um agente). Verificar se a entidade está atuando como contratante
Exemplo 4-1 – Agrupando bens e serviços inseparáveis ou contratada afeta o valor da receita por ela reconhecida. Em outras palavras, quando a entidade é o
principal no contrato, a receita reconhecida é o valor bruto que a entidade espera ter o direito de
A Entidade Z é uma desenvolvedora de software que fornece serviços de hosting para diversas empresas receber. Quando o agente é a contratada, a receita reconhecida é o valor líquido que a entidade tem o
de produtos de consumo. A Entidade Z oferece um produto de software de gestão de estoques hospedado
direito de reter pelos seus serviços como agente. A taxa ou comissão da entidade pode ser o valor
que obriga o cliente a adquirir hardware da Entidade Z. Além disso, os clientes podem adquirir serviços
líquido da contraprestação que a entidade retém após pagar à outra parte a contraprestação recebida
profissionais da Entidade Z para migrar dados históricos e criar interfaces com os sistemas contábeis
pelos bens ou serviços a serem fornecidos por aquela parte.
existentes nas áreas operacionais. A Entidade Z sempre entrega o hardware primeiro, em seguida os
serviços profissionais e, por fim, os serviços de hosting contínuo.
As obrigações de desempenho de um principal no contrato diferem das obrigações de desempenho de
um agente. Por exemplo, se uma entidade obtém o controle dos bens ou serviços de outra parte antes
de transferir esses bens e serviços para o cliente, a obrigação de desempenho da entidade pode ser
fornecer os bens ou serviços diretamente. Daí se conclui que a entidade provavelmente está atuando
como principal e reconheceria a receita pelo valor bruto ao qual tem direito. A entidade que obtenha a
propriedade legal de um produto apenas momentaneamente antes de ela ser transferida para o
cliente não está atuando necessariamente como principal. Por sua vez, um agente facilita a venda de
bens ou serviços para o cliente em troca de uma taxa ou comissão e geralmente não controla os bens
ou serviços por nenhum período de tempo. Portanto, a obrigação de desempenho do agente é
providenciar um terceiro que forneça os bens ou serviços para o cliente.

48 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 49
Como a identificação do principal no contrato nem sempre é clara, os Comitês forneceram indicadores Em outros casos, os pontos podem dar aos clientes o direito de escolher entre bens ou serviços
de que uma obrigação de desempenho envolve um relacionamento com um agente. futuros ou serviços fornecidos pela entidade ou por um terceiro. Nessa situação, a natureza da
obrigação de desempenho da entidade pode não ser conhecida até que o cliente faça sua escolha.

Extraído da IFRS 15 Em outras palavras, até que o cliente tenha escolhido os bens ou serviços a serem fornecidos (e,
portanto, se a entidade ou o terceiro irá fornecê-los), a entidade é obrigada a permanecer de
B37. Os indicadores de que uma entidade é um agente (e, portanto, não controla o bem ou serviço antes de prontidão para fornecer os bens ou serviços. Portanto, a entidade pode não satisfazer sua obrigação
ele ser fornecido para o cliente) incluem: de desempenho até fornecer os bens ou serviços ou até não estar mais obrigada a permanecer de
(a) um terceiro é o principal responsável pelo cumprimento do contrato; prontidão. Se, posteriormente, o cliente vier a escolher os bens ou serviços de um terceiro, a
entidade precisaria considerar se ela estava atuando como agente. Em caso afirmativo, ela
(b) a entidade não possui risco de estoque antes ou depois de os bens terem sido pedidos por um
reconheceria a receita, mas somente referente à taxa ou comissão que a entidade recebe em troca
cliente, durante a expedição ou na devolução;
pelo fornecimento dos serviços para o cliente e o terceiro. Os Comitês observaram que isso está em
(c) a entidade não tem poder discricionário de estabelecer preços para os bens ou serviços da outra linha com as exigências atuais descritas na IFRIC 13 para programas de fidelização de clientes.32
parte e, portanto, o benefício que a entidade pode receber desses bens ou serviços é limitado;
Embora a entidade possa ser capaz de transferir sua obrigação de fornecer bens ou serviços a um
(d) a contraprestação da entidade é em forma de comissão; e
terceiro, os Comitês indicam que essa transferência nem sempre satisfaz a obrigação de desempenho.
(e) a entidade não está exposta a risco de crédito pelo valor a receber de um cliente em troca dos bens Em vez disso, a entidade avalia se criou uma nova obrigação de desempenho de obter um cliente para
ou serviços da outra parte. a entidade que assumiu a obrigação (ou seja, se a entidade agora está atuando como contratada).

Como observado na Fundamentação de Conclusões, os indicadores na transcrição acima se baseiam


Nosso ponto de vista
nos indicadores incluídos nas regras atuais para reconhecimento de receitas segundo IFRS e US
Em linha com a prática corrente, as entidades precisarão avaliar cuidadosamente se é apropriada
GAAP.31 Contudo, os indicadores segundo a IFRS 15 têm um propósito diferente daquele segundo as
a apresentação da receita pelo valor bruto ou líquido. A IFRS 15 inclui orientação sobre aplicação
normas IFRS atuais, uma vez que se baseiam nos conceitos de identificação de obrigações de
para determinar se a entidade atua como principal ou agente no contrato que é semelhante
desempenho e transferência de bens ou serviços. Identificar apropriadamente a obrigação de
àquela contida nas normas IFRS atuais. As entidades podem, portanto, chegar a conclusões
desempenho da entidade no contrato é fundamental para verificar se a entidade está atuando como
semelhantes àquelas segundo as normas IFRS atuais. Contudo, a norma inclui a noção que se
contratante ou contratada. Ou seja, para que a entidade conclua que está atuando como contratante
deve considerar se a entidade tem controle dos bens ou serviços como parte da avaliação, o que
no contrato, ela deve verificar que controla os bens ou serviços prometidos para o cliente antes da
inclui mais um princípio geral a ser avaliado pelas entidades além dos indicadores. Isso pode
transferência desses bens ou serviços para o cliente. Os indicadores descritos na IFRS 15 pretendem
afetar a avaliação sobre se a entidade atua como principal ou agente no contrato.
auxiliar a entidade a fazer essa verificação.

Depois que identificar sua promessa e verificar se atua como principal ou agente, a entidade
A norma inclui os seguintes exemplos que mostram a prática da orientação sobre sua aplicação para o
reconhece a receita ao satisfazer essa obrigação de desempenho (como discutido na Seção 7). Em
principal e para o agente:
alguns contratos nos quais a entidade atua como agente, o controle dos bens ou serviços prometidos
pelo agente poderia ser transferido antes de o cliente receber os bens ou serviços do principal. Por
exemplo, a entidade poderia cumprir sua promessa de fornecer aos clientes pontos por fidelidade Extraído da IFRS 15
quando esses pontos são transferidos para o cliente se:
Exemplo 47 – Promessa de fornecer bens ou serviços (a entidade é o principal)
•• A promessa da entidade é fornecer aos clientes pontos por fidelidade quando o cliente adquire
(IFRS 15.IE239-IE243)
bens ou serviços da entidade;
Uma entidade negocia com as principais companhias aéreas a compra de passagens a tarifas reduzidas
•• Os pontos dão aos clientes direito a descontos em futuras compras junto a um terceiro (ou seja, em comparação com o preço das passagens vendidas diretamente pelas companhias aéreas para o público
os pontos representam um direito material a um desconto futuro); em geral. A entidade concorda em comprar um número específico de passagens e deve pagar por essas
passagens independentemente de ser capaz de revendê-las. A tarifa reduzida paga pela entidade por cada
•• A entidade determina que atua como principal (ou seja, sua promessa é providenciar que os passagem adquirida é negociada e acordada previamente.
clientes recebam pontos) e ela não controla esses pontos antes que eles sejam transferidos para
A entidade determina os preços pelos quais as passagens aéreas serão vendidas para os seus clientes. A
o cliente. entidade vende as passagens e realiza a contraprestação recebida dos clientes quando as passagens são
adquiridas; portanto, não há risco de crédito.
Por sua vez, se os pontos dão aos clientes o direito a bens ou serviços futuros que devem ser
fornecidos pela entidade, a entidade pode concluir que ela não atua como agente. Isso porque a A entidade também auxilia os clientes na resolução de reclamações sobre o serviço fornecido pelas
promessa da entidade é fornecer esses bens ou serviços futuros. Logo, a entidade controla tanto os companhias aéreas. Contudo, cada companhia aérea é responsável por satisfazer as obrigações associadas
pontos como os bens ou serviços futuros antes que eles sejam transferidos para o cliente. Nesses com a passagem, inclusive pelas medidas cabíveis no caso de insatisfação do cliente com o serviço.
casos, a obrigação de desempenho da entidade só pode ser satisfeita quando os bens ou serviços
futuros são fornecidos.
32 IFRS 15.BC385.32
31 IFRS 15.BC382.

50 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 51
Extraído da IFRS 15 (continuação) Extraído da IFRS 15 (continuação)

Para determinar se a obrigação de desempenho da entidade é fornecer os bens ou serviços específicos Para determinar se a entidade atua como principal ou agente, ela considera a natureza da sua promessa e
diretamente (ou seja, a entidade é o principal) ou providenciar que um terceiro forneça esses bens ou se ela obtém controle do vale (ou seja, um direito) antes de o controle ser transferido para o cliente. Ao fazer
serviços (ou seja, a entidade é um agente), a entidade considera a natureza da promessa. A entidade verifica essa verificação, a entidade considera os indicadores descritos no item B37 da IFRS 15, a saber:
que sua promessa é fornecer ao cliente uma passagem, a qual lhe dá o direito de voar no voo especificado
(a) a entidade não é responsável por fornecer as refeições diretamente, pois elas serão fornecidas
ou em outro voo caso o voo especificado sofra mudança ou seja cancelado. Ao verificar se a entidade obtém
pelos restaurantes;
controle do direito de voar antes de o controle ser transferido para o cliente e se a entidade atua como
principal, a entidade considera os indicadores descritos no item B37 da IFRS 15, a saber: (b) a entidade não está sujeita a risco de estoque com relação aos vales, pois eles não são adquiridos
antes de serem vendidos para os clientes e os vales não são reembolsáveis;
(a) a entidade é a principal responsável pelo cumprimento do contrato, o qual concede o direito de
voar. No entanto, a entidade não é responsável por fornecer o voo diretamente, pois ele será (c) a entidade tem algum poder discricionário para estabelecer os preços de venda dos vales para os
fornecido pela companhia aérea; clientes, porém esses preços de venda são determinados em conjunto com os restaurantes; e

(b) a entidade está sujeita a risco de estoque com relação às passagens, pois elas são adquiridas antes (d) a contraprestação da entidade é na forma de comissão, pois ela tem direito a um percentual
de serem vendidas para os clientes da entidade, e está exposta a qualquer perda como resultado de estipulado (30%) do preço do vale.
não ser capaz de vender as passagens por um preço maior do que o custo da entidade;
A entidade conclui que sua promessa é providenciar que bens ou serviços sejam fornecidos aos clientes (os
(c) a entidade tem poder discricionário para estabelecer os preços pelos quais as passagens aéreas compradores dos vales) mediante uma comissão. Com base nos indicadores descritos no item B37 do IFRS
serão vendidas para os seus clientes; 15, a entidade conclui que ela não controla os vales que dão direito a refeições antes de sua transferência
para os clientes. Portanto, a entidade conclui que atua como agente naquele contrato e reconhece a receita
(d) como resultado da capacidade da entidade de estabelecer os preços de venda, o montante por ela
pelo valor líquido da contraprestação à qual ela terá direito pelo serviço, que é a comissão de 30% à qual ela
auferido não é na forma de comissão, mas sim depende do preço de venda que ela estipula e dos
tem direito na venda de cada vale.
custos das passagens que foram negociados pela companhia aérea.

A entidade conclui que a promessa é fornecer uma passagem (ou seja, o direito de voar) para o cliente. Com
base nos indicadores descritos no item B37 do IFRS 15, a entidade conclui que ela controla a passagem antes 4.5 Contratos de consignação
de sua transferência para o cliente. Portanto, a entidade conclui que atua como principal na transação e
As entidades frequentemente entregam estoque em consignação para outras partes (por exemplo,
reconhece a receita pelo valor bruto da contraprestação à qual ela tem direito pelas passagens transferidas.
distribuidora e concessionária). Ao enviar os estoques em consignação, os expedidores podem
Exemplo 48 – Providenciar o fornecimento de bens ou serviços (a entidade é um agente) comercializar melhor os produtos, transportando-os para mais perto do consumidor final. Contudo,
(IFRS 15.IE244-IE248) eles fazem isso sem vender os bens para o intermediário (destinatário).
Uma entidade vende vales que dão aos clientes o direito a futuras refeições em restaurantes específicos.
Os Comitês forneceram os seguintes indicadores de que um contrato é um contrato de consignação:
Esses vales são vendidos pela entidade, e o preço de venda do vale dá ao cliente um desconto significativo em
comparação com os preços de venda normais das refeições (por exemplo, o cliente paga UM 100 por um vale
que lhe dá direito a uma refeição em um restaurante que de outro modo custaria UM 200). A entidade não
Extraído da IFRS 15
compra os vales antecipadamente; em vez disso, ela adquire os vales somente à medida que sejam solicitados
pelos clientes. A entidade vende os vales por meio do seu website, e esses vales não são reembolsáveis.
B78. Os indicadores de que um contrato é um contrato de consignação incluem, entre outros:
A entidade e os restaurantes determinam em conjunto os preços pelos quais os vales serão vendidos para os
clientes. A entidade tem direito a 30% do preço do vale quando vende o vale. A entidade não está sujeita a (a) o produto é controlado pela entidade até que ocorra um evento específico, como a venda do
risco de crédito, pois os clientes pagam pelos vales assim que eles são adquiridos. produto a um cliente da concessionária ou até que expire o período especificado;

A entidade também auxilia os clientes na resolução de reclamações sobre as refeições e tem um programa (b) a entidade é capaz de exigir a devolução do produto ou transferir o produto para um terceiro (por
de satisfação do consumidor. Contudo, o restaurante é responsável por satisfazer as obrigações associadas exemplo, outra concessionária); e
com o vale, inclusive pelas medidas cabíveis no caso de insatisfação do cliente com o serviço. (c) a concessionária não tem qualquer obrigação incondicional de pagar pelo produto (embora possa
ser obrigada a pagar um depósito).

As entidades que celebram um contrato de consignação devem, necessariamente, verificar a natureza


da obrigação de desempenho (ou seja, se a obrigação é transferir o estoque para o consumidor final).
Essa verificação tem por base apurar se o controle do estoque passou para o destinatário por ocasião
da entrega. Normalmente, um expedidor não abdicará do controle do estoque em consignação até que
o estoque seja vendido para o consumidor final ou, em alguns casos, quando expira um período
especificado. Os destinatários comumente não têm qualquer obrigação de pagar pelo estoque, a não
ser pagar ao expedidor a parcela acordada do preço de venda uma vez que o destinatário venda o
produto para um terceiro. Como resultado, a receita geralmente não seria reconhecida para contratos
de consignação quando os bens são entregues ao destinatário, pois o controle ainda não foi transferido
(ou seja, a obrigação de desempenho de entregar os bens para o cliente ainda não foi satisfeita).

52 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 53
4.6 Opções do cliente de adquirir bens ou serviços adicionais Extraído da IFRS 15 (continuação)
Muitos contratos de venda oferecem aos clientes a opção de adquirir bens ou serviços adicionais.
Esses bens e serviços adicionais podem ser precificados com desconto ou podem, inclusive, ser Para estimar o preço de venda individual do vale-desconto de acordo com o item B42 da IFRS
gratuitos. As opções de adquirir bens ou serviços adicionais com desconto podem assumir as formas 15, a entidade estima uma probabilidade de 80% de que o cliente resgatará o vale-desconto e
mais variadas, entre elas, incentivos de venda, créditos de prêmio por fidelidade do cliente (por de que ele comprará, em média, UM 50 em produtos adicionais. Consequentemente, a entidade
exemplo, programa de milhas de viagens), opções de renovação do contrato (por exemplo, renúncia a estima o preço de venda individual do vale-desconto em UM 12 (preço médio de compra de UM
certas taxas, taxas futuras reduzidas) ou outros descontos em bens ou serviços futuros. 50 × desconto adicional de 30% × probabilidade de 80% de exercer a opção). O preço de venda
individual do Produto A e do vale-desconto e a resultante alocação do preço da transação de UM
A norma estabelece que quando a entidade concede a um cliente a opção de adquirir bens ou serviços
100 são descritos como segue:
adicionais, essa opção só é uma obrigação de desempenho separada se ela fornece um direito
material ao cliente. O direito é material se resulta em um desconto que o cliente não receberia sem Obrigações de desempenho Preço de venda individual
celebrar o contrato (por exemplo, um desconto que ultrapasse a faixa de descontos normalmente UM
dados para esses bens ou serviços para essa classe de cliente nessa região geográfica ou mercado).
Vale observar que, embora os Comitês não tenham definido regras claras sobre o que constitui um Produto A 100
direito “material”, eles indicaram na Base para Conclusões que o propósito dessa exigência é Vale-desconto 12
identificar e contabilizar opções pelas quais os clientes estão essencialmente pagando
Total 112
(frequentemente de forma implícita) como parte da transação.33
Preço da transação alocado
Se o preço descontado na opção refletir o preço de venda individual (separado de qualquer
relacionamento ou contrato existente), considera-se que a entidade fez uma opção de marketing em Produto A 89 (UM 100 ÷ UM 112 × UM 100)
vez de ter concedido um direito material. A norma estabelece ser esse o caso mesmo que a opção só Vale-desconto 11 (UM 12 ÷ UM 112 × UM 100)
possa ser exercida porque o cliente contratou a transação anterior. Avaliar se a entidade concedeu ao
cliente um direito material poderia exigir exercício de julgamento significativo em algumas situações. Total 100

A entidade aloca UM 89 ao Produto A e reconhece receita referente ao Produto A quando o controle é


transferido. A entidade aloca UM 11 ao vale-desconto e reconhece receita referente ao vale-desconto
Nosso ponto de vista quando o cliente faz seu resgate ao comprar bens ou serviços ou quando o vale expira.
As normas IFRS atuais não fornecem orientação específica sobre como fazer a distinção entre
uma opção e uma oferta de marketing. Tampouco abordam como contabilizar opções que
fornecem um direito material. Como resultado, algumas entidades podem ter contabilizado
4.7 Venda de produtos com direito a devolução
essas opções efetivamente como ofertas de marketing. A nova norma estabelece regras para a A entidade pode fornecer aos seus clientes o direito de devolver um produto transferido.
contabilização de opções para adquirir bens ou serviços adicionais. A avaliação cuidadosa dos O direito a devolução pode ser contratual, um direito implícito que existe devido às práticas comerciais
termos do contrato será importante para fazer a distinção entre opções e ofertas de marketing, usuais da entidade ou uma combinação dos dois (por exemplo, a entidade estipulou um período para
uma vez que isso poderia impactar a época do reconhecimento da receita referente à parcela do devolução, mas geralmente aceita devoluções por um período mais longo). Um cliente que exerça seu
preço da transação alocada para uma opção. As exigências da IFRS 15 sobre o valor do preço da direito de devolver um produto pode receber um reembolso total ou parcial, um crédito aplicado aos
transação a ser alocado para a opção diferem significativamente da prática corrente devido à montantes devidos, um produto diferente em troca ou qualquer combinação desses itens.
falta de orientação nas normas IFRS atuais (vide Seção 6.1.5).
Oferecer um direito a devolução em um contrato de venda obriga a vendedora a permanecer de
prontidão para aceitar qualquer produto devolvido. Os Comitês decidiram que essa obrigação não
A norma inclui o seguinte exemplo de como determinar se uma licença é distinta: representa uma obrigação de desempenho separada. Em vez disso, os Comitês concluíram que a
entidade faz um número incerto de vendas quando fornece bens com direito a devolução. Ou seja, até
Extraído da IFRS 15 que o direito a devolução expire, a entidade não tem certeza sobre quantas vendas não serão bem-
sucedidas. Portanto, os Comitês concluíram que a entidade não reconhece receita de vendas com
Exemplo 49 – Opção que fornece ao cliente um direito material (vale-desconto) (IFRS 15.IE250-IE253) expectativa de não serem bem-sucedidas devido ao exercício, por parte do cliente, do direito de
devolver os bens. Em vez disso, o potencial para devoluções dos clientes precisa ser considerado
A entidade celebra um contrato para venda do Produto A por UM 100. Como parte do contrato, a entidade quando a entidade estima o preço da transação, pois as devoluções potenciais são um componente da
dá ao cliente um vale-desconto de 40% para quaisquer compras futuras de até UM 100 nos próximos 30
contraprestação variável (vide Seção 5.2.2 para discussão mais detalhada sobre esse conceito).
dias. A entidade pretende oferecer um desconto de 10% sobre todas as vendas ao longo dos próximos 30
dias como parte de uma promoção sazonal. O desconto de 10% não pode ser usado de forma cumulativa Os Comitês indicaram que as trocas feitas pelos clientes de um produto por outro do mesmo tipo,
com o vale-desconto de 40%. qualidade, condição/estado e preço (por exemplo, de uma determinada cor ou tamanho por outro)
Como todos os clientes receberão um desconto de 10% nas compras ao longo dos próximos 30 dias, o único não são consideradas devoluções para fins da aplicação da norma. Além disso, contratos em que o
desconto que fornece ao cliente um direito material é o desconto que excede esses 10% (ou seja, o desconto cliente possa devolver um produto com defeito por outro que funcione precisam ser avaliados de
adicional de 30%). A entidade contabiliza a promessa de fornecer o desconto adicional como uma obrigação acordo com as exigências sobre garantias incluídas na IFRS 15 (vide discussão detalhada sobre
de desempenho no contrato pela venda do Produto A. garantias na Seção 8.1).

33 IFRS 15.BC386.

54 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 55
O que muda com relação às normas IFRS atuais? 5 Determinar o preço da transação
Segundo as normas IFRS atuais, a receita é reconhecida por ocasião da venda para uma transação
A norma prevê as seguintes exigências para determinar o preço da transação:
que forneça ao cliente o direito a devolução desde que a vendedora possa estimar com confiabilidade
as devoluções futuras. Além disso, a vendedora é obrigada a reconhecer um passivo pelas devoluções
esperadas.34 As exigências da nova norma, portanto, não representam uma mudança significativa Extraído da IFRS 15
com relação às normas IFRS atuais.
47. A entidade considerará os termos do contrato e suas práticas comerciais usuais para determinar o
Nossa expectativa é que não haja mudança significativa no impacto líquido desses contratos. preço da transação. O preço da transação é o valor da contraprestação que a entidade espera receber
Entretanto, pode haver algumas diferenças, uma vez que a IAS 18 não requer a apresentação de um pela transferência dos bens ou serviços prometidos para um cliente, excluindo quaisquer valores
passivo de reembolso e o débito correspondente. A nova norma exige que um ativo de devolução seja cobrados em nome de terceiros (por exemplo, alguns impostos sobre vendas). A contraprestação
prometida em um contrato com um cliente pode incluir valores fixos, valores variáveis ou ambos.
reconhecido com relação a possíveis devoluções de estoque. Além disso, o passivo de reembolso deve
ser apresentado separadamente do ativo correspondente (ou seja, em base bruta, não em base 48. A natureza, a época e o valor da contraprestação prometida pelo cliente afeta a estimativa do preço
líquida, vide Seção 5.2.2). da transação. Ao determinar o preço da transação, a entidade considera os efeitos de todos os itens
descritos a seguir:
34 IAS 18.17. (a) contraprestação variável (vide itens 50-55 e 59);

(b) restrições nas estimativas da contraprestação variável (vide itens 56-58);

(c) a existência de um componente de financiamento significativo no contrato (vide itens 60-65);

(d) contraprestação não monetária (vide itens 66-69); e

(e) contraprestação a pagar ao cliente (vide itens 70-72).

49. Para fins de determinar o preço da transação, a entidade assumirá que os bens ou serviços serão
transferidos para o cliente como prometido de acordo com o contrato existente e que o contrato não
será cancelado, renovado ou modificado.

A base para as novas exigências para determinação do preço da transação é o valor que a entidade
espera ter o direito de receber. Esse valor deve refletir o valor ao qual a entidade tem direitos de
acordo com o contrato existente. Ou seja, o preço da transação não inclui estimativas da
contraprestação resultantes de futuros pedidos de mudança referentes a bens ou serviços adicionais.
O valor ao qual a entidade tem direito também exclui valores cobrados em nome de terceiros, como
impostos sobre vendas.

Em muitos casos, o preço da transação pode ser determinado prontamente, pois a entidade recebe o
pagamento quando transfere os bens ou serviços prometidos e o preço é fixo (por exemplo, a venda
de bens em uma loja varejista). Em outras situações, determinar o preço da transação pode ser mais
complexo quando ele é variável, quando o pagamento é recebido em um momento diferente de
quando a entidade fornece os bens ou serviços, ou quando o pagamento é efetuado de forma não
monetária. A contraprestação paga ou a pagar pelo fornecedor para o cliente também pode afetar a
determinação do preço da transação.

Determinar o preço da transação é um passo importante no modelo, pois esse valor é alocado às
obrigações de desempenho identificadas e é reconhecido como receita à medida que essas obrigações
de desempenho são satisfeitas.

56 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 57
5.1 Contraprestação variável 5.1.1 Formas de contraprestação variável
O preço da transação reflete as expectativas da entidade sobre a contraprestação à qual ela terá Como indicado no item IFRS 15.51, a definição de “contraprestação variável” é ampla. Uma vez que a
direito de receber do cliente. A norma estabelece as seguintes exigências para determinar se a restrição sobre contraprestação variável (como discutido mais detalhadamente na Seção 5.1.3)
contraprestação é variável e, em caso afirmativo, como ela seria tratada: precisa ser considerada para cada tipo de contraprestação variável, é importante para as entidades
identificar apropriadamente os diferentes tipos de contraprestação variável dentro dos contratos.

Extraído da IFRS 15 Muitos tipos de contraprestação variável identificados na IFRS 15 são tratados de maneira semelhante
segundo as normas IFRS atuais. Um exemplo disso é quando uma parcela do preço da transação
50. Se a contraprestação prometida em um contrato inclui um valor variável, a entidade estimará o valor depende do atendimento, pela entidade, a condições de desempenho definidas e da existência de
da contraprestação que ela espera receber pela transferência de bens ou serviços prometidos para um incerteza sobre o resultado. Essa parcela do preço da transação seria considerada contraprestação
cliente. variável segundo as normas IFRS atuais e segundo a IFRS 15.
51. Um valor da contraprestação pode variar devido a descontos, abatimentos, reembolsos, créditos,
Contudo, certos valores que são considerados contraprestação variável segundo a IFRS 15
descontos especiais implícitos, incentivos, bônus por desempenho, multas ou outros itens semelhantes.
atualmente podem ser considerados “fixos”. Por exemplo, a definição de contraprestação variável na
A contraprestação prometida também pode variar se o direito da entidade à contraprestação for
contingente, ou seja, condicionado à ocorrência ou não ocorrência de um evento futuro. Por exemplo, IFRS 15 inclui variabilidade devido a reembolsos ou devoluções do cliente. Como resultado, um
um valor da contraprestação seria variável se um produto fosse vendido com direito a devolução ou um contrato para fornecer a um cliente 100 widgets a um preço fixo unitário incluiria um componente
valor fixo fosse prometido como bônus por desempenho pelo atingimento de uma meta definida. variável caso o cliente possa devolver os widgets (vide Seção 5.2.2).

52. A variabilidade relacionada à contraprestação prometida pelo cliente pode ser expressamente Em alguns contratos, a determinação de preço informada apresenta claramente componentes
informada no contrato. Além dos termos do contrato, variáveis. Em outros, porém, a contraprestação pode ser variável, já que os fatos e circunstâncias
a contraprestação prometida é variável se existir qualquer uma das seguintes circunstâncias:
indicam que a entidade pode aceitar um preço mais baixo do que o declarado no contrato. Isso
(a) o cliente tem uma expectativa válida, de acordo com as práticas comerciais usuais da entidade, poderia ocorrer como resultado da expectativa válida do cliente de que a entidade reduzirá seu preço
suas políticas publicadas ou declarações específicas, de que a entidade aceitará um valor de tendo em vista as práticas comerciais usuais da entidade, suas políticas publicadas ou declarações
contraprestação que seja inferior ao preço informado no contrato. Ou seja, espera-se que a específicas feitas ao cliente. Essa potencial redução de preço poderia existir porque fatos e
entidade oferecerá um desconto especial no preço. Dependendo da jurisdição, setor ou cliente, circunstâncias específicas indicariam que a entidade tem a intenção de oferecer um desconto especial
essa oferta pode ser denominada como desconto, abatimento, reembolso ou crédito. no preço para o cliente.
(b) outros fatos e circunstâncias indiquem que a intenção da entidade, ao celebrar o contrato com o
cliente, é oferecer um desconto especial no preço para o cliente. A IFRS 15 sugere que se a entidade tiver conhecimento de possíveis problemas relacionados à
capacidade de realização no início do contrato, mas permanece disposta a celebrar o contrato, ela
53. A entidade estimará o valor da contraprestação variável usando um dos seguintes métodos, dependendo pode incluir descontos especiais implícitos no preço. Esses descontos especiais implícitos são
de qual método ela espera que melhor estime o valor da contraprestação à qual terá direito:
considerados contraprestação variável segundo a IFRS 15. Contudo, como discutido na Seção 3.1.5,
(a) O valor esperado – o valor esperado é a soma dos valores ponderados em função da probabilidade uma entidade nessa situação também precisa determinar se o contrato celebrado com o cliente é
numa faixa de possíveis valores de contraprestação. Um valor esperado pode ser uma estimativa válido ou não. Se, no início do contrato, a entidade determina ser provável que ela receba o preço da
apropriada do valor da contraprestação variável se a entidade tiver um grande número de transação estimado do cliente (vale observar que o preço da transação estimado pode ser mais baixo
contratos com características semelhantes. do que o preço declarado no contrato), ela não pode concluir que o contrato é válido e o modelo
(b) O valor mais provável – o valor mais provável é o único valor mais provável numa faixa de possíveis apresentado na norma é aplicável (vide Seção 3.4). Ao avaliar a primeira etapa do modelo (ou seja,
valores de contraprestação (ou seja, o único resultado mais provável de um contrato). O valor mais identificar o contrato), também se exige que a entidade considere a terceira etapa do modelo (ou seja,
provável pode ser uma estimativa apropriada do valor da contraprestação variável se o contrato determinar o preço da transação).
tiver apenas dois resultados possíveis (por exemplo, a entidade atinge a meta definida para receber
um bônus por desempenho ou não). Ao determinar o preço da transação, a IFRS 15 exige que a entidade determine se o risco de
crédito (que era conhecido na data da assinatura do contrato) representa um desconto especial
54. A entidade aplicará um único método de forma consistente ao longo do prazo do contrato ao estimar
implícito (ou seja, uma forma de contraprestação variável). Se for um desconto especial implícito,
o efeito de uma incerteza sobre o valor da contraprestação variável à qual a entidade terá direito.
Além disso, a entidade considerará todas as informações (históricas, correntes e projetadas) que ele não é incluído no preço da transação estimado. Segundo as normas IFRS atuais, esses valores
estejam razoavelmente acessíveis à entidade e identificará um número razoável de possíveis valores de provavelmente são lançados em despesas como dívidas incobráveis, em vez de estarem refletidos
contraprestação. As informações que a entidade utiliza para estimar o valor da contraprestação variável como uma redução da receita.
normalmente seriam semelhantes às informações que a administração da entidade usa durante o
processo de propostas e concorrências e ao determinar os preços para os bens ou serviços prometidos. Contudo, na Base para Conclusões, os Comitês reconheceram que, em alguns casos, pode ser difícil
determinar se a entidade ofereceu implicitamente um desconto especial no preço ou se a entidade
optou por aceitar o risco de o cliente não pagar a contraprestação prevista em contrato.35 Os Comitês
Esses conceitos estão discutidos em mais detalhes a seguir. não desenvolveram orientação detalhada sobre a aplicação da norma que auxilie a fazer a distinção
entre descontos especiais no preço e perdas por redução no valor recuperável (impairment). Portanto,
as entidades precisarão considerar todos os fatos e circunstâncias pertinentes ao analisar a natureza
das questões relacionadas à capacidade de realização que sejam conhecidas na data da assinatura
(início) do contrato.

35 IFRS 15.BC194.

58 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 59
Uma vez calculada a estimativa da contraprestação variável, a restrição sobre a contraprestação
Nosso ponto de vista variável deve ser aplicada a essa estimativa (vide Seção 5.1.3).
Para as entidades, pode ser desafiador fazer a distinção entre descontos especiais implícitos (ou
seja, reduções da receita) e risco de crédito do cliente (ou seja, despesas com dívidas
incobráveis) considerando as questões relacionadas à capacidade de realização conhecidas no Nosso ponto de vista
início do contrato. As entidades precisarão avaliar cuidadosamente todos os fatos e Muitas entidades verão mudanças significativas na forma como elas contabilizam a
circunstâncias existentes no início do contrato, bem como quaisquer eventos subsequentes, que contraprestação variável. Essa mudança será ainda mais significativa para entidades que
possam ter afetado a capacidade de pagar do cliente. O exercício de julgamento significativo atualmente não tentam estimar a contraprestação variável e simplesmente reconhecem esses
será necessário ao se fazer essa análise. As entidades devem desenvolver políticas e valores quando recebidos ou quando a incerteza deixar de existir. Nossa expectativa é que, à
procedimentos claros para essas avaliações de modo a assegurar a aplicação consistente a medida que as novas exigências sejam implementadas, surjam questões sobre a determinação
todas as transações. da contraprestação variável.

5.1.3 Restringindo o valor cumulativo da receita reconhecida


A contraprestação variável também pode resultar da prorrogação dos prazos de pagamento em um
contrato (e qualquer incerteza decorrente sobre a capacidade da entidade de realizar esses valores no Após estimar o valor da contraprestação variável no preço da transação, a entidade deve aplicar a
futuro). Ou seja, a entidade deve avaliar se a prorrogação dos prazos de pagamento representa um restrição sobre a contraprestação variável. Os Comitês criaram essa restrição para abordar questões
desconto especial implícito caso ela não tenha a intenção, ou não venha a ter a capacidade, de realizar levantadas por vários membros sobre o possível reconhecimento da receita antes que houvesse
todos os valores devidos em períodos futuros. certeza suficiente de que os valores seriam efetivamente realizados.

Como fica claro de acordo com o trecho da norma transcrito a seguir, a restrição tem por objetivo
5.1.2 Estimativa de contraprestação variável impedir o reconhecimento a maior da receita (ou seja, a ênfase está nas potenciais reversões
A entidade deve estimar o preço da transação utilizando o método do “valor esperado” ou o método significativas da receita).
do “valor mais provável”. A entidade deve tomar a decisão com base no método que melhor estime o
valor da contraprestação à qual ela terá direito. Ou seja, o método selecionado não representa uma
Extraído da IFRS 15
“livre escolha”. Muito pelo contrário, a entidade seleciona o método que é mais adequado, com base
nos fatos e circunstâncias.
56. A entidade incluirá no preço da transação um valor, parcial ou integral, de contraprestação variável
A entidade aplica o método selecionado de forma consistente ao longo do contrato e atualiza sua estimado de acordo com o item 53 desde que seja altamente provável que não haja uma reversão
estimativa do preço da transação ao final de cada período-base. Uma vez escolhido o modelo, a significativa no valor da receita acumulada reconhecida quando, posteriormente, a incerteza associada
entidade é obrigada a aplicá-lo de forma consistente a tipos de contratos semelhantes. Na Base para à contraprestação variável deixar de existir.
Conclusões, os Comitês observaram que um contrato pode conter diferentes tipos de contraprestação 57. Ao avaliar se é altamente provável que não haja uma reversão significativa no valor da receita
variável.36 Desse modo, pode ser apropriado para a entidade utilizar métodos diferentes (ou seja, acumulada reconhecida quando, posteriormente, a incerteza relacionada à contraprestação variável
método do valor esperado ou do valor mais provável) para estimar tipos diferentes de contraprestação deixar de existir, a entidade levará em consideração tanto a probabilidade como a magnitude da
variável em um único contrato. reversão da receita. Fatores que poderiam aumentar a probabilidade ou a magnitude de uma reversão
da receita incluem, entre outros:
Segundo o método do valor esperado, a entidade identifica os possíveis resultados de um contrato e as
(a) o valor da contraprestação é altamente suscetível a fatores fora da esfera de influência da entidade.
probabilidades desses resultados. Os Comitês indicaram que o método do valor esperado pode estimar
Esses fatores podem incluir volatilidade do mercado, o julgamento ou ações de terceiros, condições
melhor a contraprestação quando a entidade tem um grande número de contratos com características
climáticas e alto risco de obsolescência do bem ou serviço prometido.
semelhantes. Os Comitês também esclareceram que a entidade que prepara um cálculo do valor
esperado não é obrigada a levar em consideração todos os resultados possíveis, mesmo que disponha (b) não há expectativa de que a incerteza sobre o valor da contraprestação deixe de existir a curto ou
de um grande número de dados e possa identificar muitos resultados possíveis. Em vez disso, os médio prazo.
Comitês indicaram na Base para Conclusões que, em muitos casos, um número limitado de resultados (c) a experiência da entidade (ou outra evidência) com tipos semelhantes de contratos é limitada ou
discretos e probabilidades pode fornecer uma estimativa razoável do valor esperado.37 essa experiência (ou outra evidência) tem valor preditivo limitado.

Os Comitês indicaram que o método do valor mais provável pode ser melhor quando a entidade (d) a entidade adota a prática de oferecer uma ampla faixa de descontos especiais no
espera ter direito a um de dois valores possíveis. Por exemplo, um contrato em que a entidade tenha preço ou de alterar os prazos e condições de pagamento de contratos semelhantes
direito ao recebimento integral ou ao não recebimento de um bônus por desempenho definido, mas em circunstâncias semelhantes.
não uma parcela desse bônus. (e) o contrato tem um grande número e uma ampla gama de possíveis valores de contraprestação.

A norma estabelece que, ao aplicar qualquer um desses métodos, a entidade considera todas as 58. A entidade segue o item B63 para contabilizar contraprestação na forma de royalties baseados no volume
informações (históricas, correntes e projetadas) que estejam razoavelmente acessíveis à entidade. de vendas ou uso da licença que é prometida em troca de uma licença de propriedade intelectual.
Embora não seja declarado expressamente, a norma dá a entender que a entidade sempre terá a
capacidade de estimar o valor da contraprestação variável à qual terá direito, exceto para royalties
baseados no volume de vendas (vide Seção 5.2.1). Para incluir a contraprestação variável no preço da transação estimado, a entidade tem de concluir
que é “altamente provável” que não haja uma reversão significativa da receita nos períodos futuros.

36 IFRS 15.BC202.
37 IFRS 15.BC201.

60 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 61
Ou seja, a restrição considera tanto a probabilidade como a magnitude da reversão da receita. Além •• Honorários contingentes com base em resultados de litígios ou disputas regulatórias (por exemplo,
disso, a restrição tem por base a possibilidade da reversão de um valor que seja “significativo” com honorários baseados no resultado favorável de litígio ou resolução de disputas com órgãos
relação ao total da receita no contrato, não só à contraprestação variável. governamentais).

Para fins dessa análise, o significado do termo “altamente provável” está alinhado com a definição Quando a entidade determina ser altamente provável que uma mudança na estimativa da
existente nas normas IFRS, ou seja, “significativamente mais provável do que improvável”.38 Vale contraprestação variável resulte em uma reversão significativa da receita, o valor da contraprestação
observar, para preparadores que utilizam US GAAP, que a norma usa o termo “provável” em vez de variável a ser incluído no preço da transação fica limitado ao valor que não resultaria em uma
“altamente provável”, que é definido como “o evento ou eventos futuros que provavelmente reversão significativa da receita. Em outras palavras, a entidade deve incluir o valor da
ocorrerão”.39 Contudo, o significado de “provável” segundo US GAAP pretende ser igual a “altamente contraprestação variável no preço da transação que não resulte em uma reversão significativa da
provável” conforme as normas IFRS.40 receita quando, posteriormente, a incerteza associada à contraprestação variável deixar de existir.

Como observado acima, a restrição considera tanto a probabilidade como a magnitude da reversão Os Comitês observaram, na Base para Conclusões, que as entidades não são obrigadas a seguir
da receita. estritamente um processo em duas etapas (ou seja, primeiramente, estimar a contraprestação
variável e, em seguida, aplicar a restrição sobre essa estimativa) se os seus processos internos
•• Probabilidade – avaliar a probabilidade da futura reversão da receita exigirá o exercício de
incorporarem os princípios das duas etapas em uma única etapa.41 Por exemplo, se a entidade já
julgamento significativo. As entidades desejarão assegurar que estão documentando
adota um único processo para estimar as devoluções esperadas ao calcular a receita da venda de bens
adequadamente a fundamentação de suas conclusões. A presença de qualquer um dos
de forma consistente com os objetivos de aplicação da restrição, ela não precisaria estimar a receita
indicadores citados na transcrição acima não significa necessariamente que seja altamente
e, depois, aplicar separadamente a restrição sobre a estimativa.
provável que uma mudança na estimativa da contraprestação variável resulte em uma reversão
significativa da receita. Os Comitês optaram por fornecer indicadores em vez de critérios para Quando um contrato inclui contraprestação variável, a entidade atualiza sua estimativa do preço da
sinalizar que a relação de itens a serem considerados não é um checklist em que todos os itens transação ao longo do prazo do contrato para descrever as condições existentes ao final de cada
precisam ser atendidos. Além disso, os indicadores fornecidos não pretendem ser uma relação período-base. Isso envolverá atualizar tanto a estimativa da contraprestação variável como a restrição
exaustiva de fatores, e as entidades podem observar fatores adicionais que sejam relevantes sobre o valor da contraprestação variável que pode ser incluído no preço da transação.
para suas avaliações.
A seguir, um exemplo que apresenta os dois métodos para estimar a contraprestação variável e o
•• Magnitude – ao avaliar a probabilidade de uma reversão significativa da receita, a entidade deverá
efeito da restrição em ambos.
também avaliar a magnitude daquela reversão com relação ao total da contraprestação no contrato
(ou seja, o total da contraprestação variável e fixa). Por exemplo, se a contraprestação por uma
única obrigação de desempenho incluir um valor fixo e um valor variável, a entidade avaliaria a Exemplo 5-1 — Estimativa da contraprestação variável
magnitude de uma possível reversão da receita referente ao valor variável com relação ao total da
contraprestação. Cenário A

A norma inclui uma única exceção aos princípios de mensuração para contraprestação variável A Entidade A fornece transporte de ida e volta a clientes de um parque temático hospedados na região, de
acordo com um contrato de um ano. Ela é obrigada a fornecer serviços de transporte programados ao longo
referente a royalties baseados em volume de venda associados a uma licença de propriedade
do ano pela tarifa fixa anual de UM 400.000. A Entidade A também tem direito a bônus por desempenho
intelectual. Esses valores não são incluídos no preço da transação ou reconhecidos como receita até
com base no fornecimento pontual do serviço e tempo médio de espera dos clientes. Seu desempenho pode
que ocorra a venda ou o uso subsequente (vide Seções 5.2.1 e 8.4.4). Além disso, a norma fornece o gerar um bônus no valor de UM 0 a UM 600.000, de acordo com o contrato. Com base no seu histórico
exemplo de um contrato de gestão patrimonial que inclui uma taxa de incentivo, a qual é baseada no com o parque temático, padrões de viagens dos clientes e suvas próprias expectativas atuais, a Entidade A
retorno sobre o fundo comparado com o retorno sobre um índice de mercado observável ao longo de estima as probabilidades relacionadas a diferentes valores do bônus dentro da faixa acordada da seguinte
um período de cinco anos. O exemplo mostra que a entidade não é capaz de concluir que é altamente maneira:
provável que não haja uma reversão significativa da receita caso a taxa de incentivo seja incluída no
Valor do bônus Probabilidade do resultado
preço da transação. Há outros tipos de contraprestação variável que são frequentemente incluídos em
contratos que apresentem incertezas significativas. Será difícil para uma entidade afirmar que é - 30%
altamente provável que esses tipos de valores estimados não sejam revertidos posteriormente. Esses UM 200.000 30%
tipos de contraprestação variável incluem: UM 400.000 35%
•• Pagamentos condicionados a aprovação regulatória (por exemplo, aprovação regulatória de um UM 600.000 5%
novo medicamento);
Análise
•• Contratos de longo prazo para fornecimento de commodities que são liquidados com base em
Valor esperado
preços de mercado na data da entrega futura;
Como a Entidade A acredita não haver um valor na faixa acordada cujo recebimento seja mais provável,
38 Como definido na IFRS 5 Anexo A. ela conclui que o método do valor esperado é o mais apropriado. Como resultado, a Entidade A estima a
39 Vide nota de rodapé 16 nesta publicação. contraprestação variável em UM 230.000 [(UM 200.000 x 30%) + (UM 400.000 x 35%) + (UM 600.000 x 5%)]
40 IFRS15.BC211. antes de considerar o efeito da restrição.

41 IFRS 15.BC215.

62 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 63
Exemplo 5-1 ­— Estimativa da contraprestação variável (continuação) Exemplo 5-1 ­— Estimativa da contraprestação variável (continuação)

Assuma que a Entidade A é uma entidade cujo exercício fiscal coincide com o ano calendário e que ela A norma não é clara sobre a forma como a entidade determinaria o valor mais provável se existissem
celebrou o contrato com o parque temático durante o segundo trimestre. O tempo de espera do cliente mais do que dois resultados potenciais e nenhum dos resultados potenciais fosse significativamente mais
ficou ligeiramente acima da média durante o segundo trimestre. Com base nisso, a Entidade A conclui ser provável do que os outros. Uma leitura literal da norma poderia sugerir que, neste exemplo, a Entidade A
altamente provável que não haja reversão significativa no valor da receita referente à contraprestação selecionaria o valor de UM 400.000 porque ele é o valor com a maior probabilidade estimada. Contudo,
variável de UM 200.000. Portanto, após aplicar a restrição, a Entidade A só inclui UM 200.000 na sua a Entidade A deve, em seguida, considerar o efeito da restrição sobre o valor da contraprestação variável
estimativa do preço da transação. Ao final do terceiro trimestre, a Entidade A atualiza sua análise e o incluído no preço da transação.
cálculo do valor esperado. A análise atualizada novamente resulta na contraprestação variável estimada de
Para incluir UM 400.000 no preço da transação estimado, a Entidade A precisa concluir ser altamente
UM 230.000, com probabilidade de resultado de 75%. Com base na análise dos fatores descritos no item
provável que o valor do bônus será, no mínimo, UM 400.000. Contudo, com base nas probabilidades
IFRS 15.57 e tendo em vista o tempo de espera do cliente ligeiramente melhor do que a média durante o
informadas acima, a Entidade A conclui que há uma probabilidade de apenas 40% de que ela receba um
terceiro trimestre, a Entidade A conclui ser altamente provável que não haverá reversão significativa no
bônus de, pelo menos, UM 400.000 (ou seja, 35% + 5%) e uma probabilidade de 70% de que ela receba um
valor da receita referente ao preço da transação estimado integral de UM 230.000. A Entidade A atualiza
bônus de, pelo menos, UM 200.000 (ou seja, 30% + 35% + 5%). Consequentemente, a Entidade A incluiria
sua estimativa para incluir o valor integral de UM 230.000 no preço da transação. A Entidade A continuará a
somente UM 200.000 na sua estimativa do preço da transação.
atualizar sua estimativa do preço da transação
no final de cada período-base.

Cenário B

Assuma os mesmos fatos descritos no Cenário A, a não ser pelo bônus potencial, que será um destes
Nosso ponto de vista
quatro valores: UM 0, UM 200.000, UM 400.000 ou UM 600.000. Com base no seu histórico com o parque Nossa expectativa é que a aplicação da restrição, incluindo a determinação de quando é
temático e padrões de viagens dos clientes, a Entidade A estima as probabilidades para cada um dos valores altamente provável que não haja uma reversão significativa da receita, possa levantar
do bônus da seguinte maneira: problemas na prática. Ao longo do tempo, provavelmente surgirão as melhores práticas, e
possivelmente orientação sobre a aplicação, no que diz respeito a como as entidades
Valor do bônus Probabilidade do resultado consideram o efeito da restrição sobre a contraprestação variável ao estimar o preço da
transação. Contudo, aplicar a restrição pode invalidar os resultados do cálculo do valor
- 30% esperado, como demonstrado no Exemplo 5-1.
UM 200.000 30%

UM 400.000 35% O que muda com relação às normas IFRS atuais?


Para muitas entidades, o tratamento da contraprestação variável segundo a nova norma representaria
UM 600.000 5%
uma mudança significativa com relação à prática corrente.
Análise
Segundo as normas IFRS atuais, os preparadores frequentemente adiam a mensuração da
Valor esperado contraprestação variável até que a receita possa ser mensurada com confiabilidade, o que poderia ser
A Entidade A concluiu que o método do valor esperado era o mais apropriado para estimar sua
quando a incerteza deixa de existir ou quando o pagamento é recebido.
contraprestação variável. Segundo esse método, a Entidade A estima a contraprestação variável em UM
Além disso, as normas IFRS atuais permitem o reconhecimento de contraprestação contingente,
230.000. Ela deve, em seguida, considerar o efeito da restrição sobre o valor da contraprestação variável
mas somente se for provável que os benefícios econômicos associados à transação fluirão para a
incluído no preço da transação. A Entidade A observa que, como existem apenas quatro resultados possíveis
previstos no contrato, a restrição essencialmente limita o valor da receita que a Entidade A pode reconhecer entidade e o valor da receita possa ser mensurado com confiabilidade.42 Algumas entidades,
a um dos quatro valores do bônus nele informados. Neste exemplo, a Entidade A estaria limitada a incluir portanto, diferem o reconhecimento até que a contingência seja solucionada. Algumas entidades
UM 200.000 no preço da transação estimado até que fosse altamente provável que o próximo nível do têm desenvolvido suas políticas contábeis nessa área com base nos US GAAP. Atualmente,
bônus (ou seja, UM 400.000) seria atingido. Isso porque qualquer valor acima de UM 200.000 estaria segundo US GAAP, o reconhecimento da contraprestação contingente é significativamente
sujeito a reversão subsequente, a não ser que o valor de UM 400.000 fosse recebido. limitado,43 embora certos setores tenham literatura específica do setor que permite o
Valor mais provável
reconhecimento de valores contingentes.44

Como há apenas um número limitado de resultados para o valor do bônus que pode ser recebido, a Entidade Em contrapartida, a restrição sobre a contraprestação variável na nova norma é uma forma
A está preocupada com o fato de que uma estimativa ponderada em função da probabilidade possa resultar inteiramente nova de avaliar a contraprestação variável, sendo aplicável a todos os tipos de
em um valor que não seja um resultado potencial. Portanto, a Entidade A conclui que estimar o preço da contraprestação variável em todas as transações. Como resultado, dependendo das exigências
transação identificando o resultado mais provável seria o melhor método. anteriormente aplicadas, algumas entidades poderão antecipar o reconhecimento da receita com a
nova norma, ao passo que outras poderão reconhecer a receita mais tarde.

42 IAS 18.14, IAS 18.18 e IAS 11.11.


43 Como discutido na ASC 605-25 e SEC Staff Accounting Bulletin Topic 13: Revenue Recognition.
44 Vide ASC 605-20, Revenue Recognition – Services, especificamente o item 605-20-S99-1.

64 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 65
A norma inclui os seguintes exemplos para demonstrar como a restrição funcionará na prática:
Extraído da IFRS 15

Exemplo 5-2 — Receita contingente – reconhecimento antecipado com relação à prática corrente
Exemplo 25 – Taxa de administração sujeita a restrição (IFRS 15.IE129-IE133)

A Entidade A opera call centers terceirizados para empresas de varejo e indústrias. Ela é remunerada Em 1º de janeiro de 20X8, uma entidade celebra um contrato com um cliente para fornecer serviços de
da seguinte forma: valores mínimos fixos, mais valores variáveis baseados na média do tempo de espera gestão patrimonial por cinco anos. Ao final de cada trimestre, a entidade recebe uma taxa de administração
do cliente. trimestral de 2% com base nos bens do cliente por ela administrados. A entidade também recebe uma taxa
de incentivo com base no desempenho correspondente a 20% do retorno do fundo acima do retorno de um
A Entidade A negocia um novo contrato de três anos com um cliente para o qual ela presta serviço há seis índice de mercado observável no decorrer do período de cinco anos. Consequentemente, tanto a taxa de
anos. O contrato declara que os valores fixos a pagar pelos serviços anuais somam UM 12.000.000 por administração como a taxa com base no desempenho previstas no contrato são contraprestações variáveis.
ano e UM 10 por chamada para chamadas acima de 1.200.000. A Entidade A também poderá receber
pagamentos referentes a bônus anual de UM 1.200.000 se a média anual do tempo de espera do cliente A entidade contabiliza os serviços como uma única obrigação de desempenho de acordo com o item 22(b)
for inferior a quatro minutos. A Entidade A apura que o serviço de call center para 3.600.000 chamadas da IFRS 15, pois ela está fornecendo uma série de bens ou serviços distintos que são substancialmente o
(1.200.000 chamadas/ano) é a única obrigação de desempenho no contrato. Ou seja, a opção de obter mesmo e que têm o mesmo padrão de transferência (os serviços são transferidos para o cliente ao longo
serviços sobre chamadas adicionais não é uma opção que forneça ao cliente um direito material (pois ela é do tempo e o mesmo método é adotado para medir sua evolução – ou seja, uma medida da evolução dos
precificada pela mesma taxa por chamada aplicada às 3.600.000 chamadas). serviços com base no tempo transcorrido).

Além disso, com base na experiência histórica, a Entidade A não espera que o volume de chamadas supere Na assinatura do contrato, a entidade considera as exigências descritas nos itens 50-54 da IFRS 15 sobre a
1.200.000 chamadas/ano. Para estimar o total do preço da transação, a Entidade A consideraria todas as estimativa da contraprestação variável, bem como as exigências descritas nos itens 56-58 da IFRS 15 sobre
informações razoavelmente acessíveis, inclusive o histórico do seu desempenho em contratos semelhantes. aplicação da restrição sobre estimativas da contraprestação variável, inclusive os fatores descritos no item
Com base nessas informações, a Entidade A espera que o tempo aguardado pelo cliente seja, em média, 57 da IFRS 15. A entidade observa que a contraprestação prometida é dependente do mercado e, portanto,
inferior a quatro minutos para cada ano ao longo do contrato de três anos. Portanto, a entidade estima o é altamente suscetível a fatores fora da esfera de influência da entidade. Adicionalmente, a taxa de incentivo
total do preço da transação em UM 39.600.000 [(UM 12.000.000 x 3) + (UM 1.200.000 x 3)]. tem um grande número e uma ampla gama de possíveis valores de contraprestação. A entidade observa
que, embora ela tenha experiência com contratos semelhantes, essa experiência tem pouco valor preditivo
A Entidade A contabilizaria o contrato de três anos como uma única obrigação de desempenho (vide Seção na determinação do desempenho futuro do mercado. Portanto, na assinatura do contrato, a entidade não
4.2.2 para uma discussão sobre a identificação de uma série de bens ou serviços distintos como uma única é capaz de chegar à conclusão de que seja altamente provável que não haja uma reversão significativa no
obrigação de desempenho) e reconheceria a receita com base na proporção de chamadas completadas com valor da receita acumulada reconhecida se a entidade incluir sua estimativa da taxa de administração ou da
relação ao número total de chamadas esperado para chegar às 1.200.000 chamadas/ano. A Entidade A taxa de incentivo no preço da transação.
determina que tem direito ao valor integral do preço da transação estimado porque é provável que não haja
uma reversão significativa da receita referente a esse valor; desse modo, ela reconheceria como receita A cada data-base, a entidade atualiza sua estimativa do preço da transação. Consequentemente, ao
UM 11 (UM 39.600.000 / 3.600.000) por chamada à medida que o serviço é fornecido. Vale observar que final de cada trimestre, a entidade conclui que pode incluir no preço da transação o valor real da taxa de
se a Entidade A tivesse a expectativa de que o volume de chamadas superasse as 1.200.000 chamadas a administração trimestral porque a incerteza deixa de existir. Contudo, a entidade conclui que não pode
cada ano, ela teria de incluir essas chamadas (e a contraprestação esperada) no total do preço da transação incluir sua estimativa da taxa de incentivo no preço da transação nessas datas. Isso porque não houve
de modo que a contraprestação adicional esperada das chamadas acima das 3.600.000 chamadas seria uma mudança na sua avaliação desde a assinatura do contrato – a variabilidade da taxa com base no índice
alocada a todas as chamadas esperadas. de mercado indica que a entidade não chega à conclusão de que é altamente provável que não haja uma
reversão significativa no valor da receita acumulada reconhecida se a entidade incluir sua estimativa da
Segundo as normas IFRS atuais, as entidades podem ter o reconhecimento do bônus diferido para uma taxa de incentivo no preço da transação. Em 31 de março de 20X8, os bens do cliente administrados pela
data posterior, quando a incerteza sobre seu pagamento deixar de existir. Portanto, as entidades podem ter entidade somam UM 100 milhões. Portanto, o valor da taxa de administração trimestral correspondente e o
reconhecido somente a receita fixa de UM 10 (UM 12.000.000 / 1.200.000) por chamada e, ao final de cada preço da transação é de UM 2 milhões.
ano, reconheceriam o valor do bônus auferido. Isso levaria ao reconhecimento de uma receita mais baixa nos
primeiros três trimestres de cada ano (assumindo que o volume de chamadas seja relativamente o mesmo ao Ao final do trimestre, a entidade aloca a taxa de administração trimestral aos serviços distintos fornecidos
longo do ano) devido à incerteza sobre o pagamento do bônus. durante o trimestre, de acordo com os itens 84(b) e 85 da IFRS 15. Isso porque a taxa se refere
especificamente aos esforços da entidade para transferir os serviços referentes àquele trimestre, que
são distintos dos serviços fornecidos em outros trimestres, e a alocação resultante será de acordo com
A IFRS 15 cita o seguinte exemplo de reconhecimento de receita referente a taxas de incentivo com o objetivo da alocação descrito no item 73 da IFRS 15. Consequentemente, a entidade reconhece UM 2
base no desempenho em contratos para administração de investimentos que estão sujeitas à milhões como receita do trimestre findo em 31 de março de 20X8.
restrição. Para algumas entidades, o tratamento das taxas de incentivo com base no desempenho
segundo a IFRS 15 estará alinhado com a prática corrente. Contudo, em alguns casos, a receita pode
A IFRS 15 pode representar mudança de prática para muitas entidades que vendem seus produtos
ser reconhecida numa data posterior àquela em que seria reconhecida segundo a prática corrente.
através de distribuidoras ou revendedoras. Segundo a IAS 18.14, para que haja o reconhecimento, é
necessário que o valor da receita possa ser mensurado com confiabilidade e que seja provável que os
benefícios econômicos associados à transação fluirão para a entidade. Como resultado, quando o
preço de venda cobrado da distribuidora ou revendedora não é estabelecido até o produto ser
vendido para o consumidor final, as entidades podem esperar até que ocorra essa venda do produto
para reconhecer a receita.

Segundo a IFRS 15, esperar até que ocorra a venda final não será mais aceitável se a única incerteza
for a variabilidade na determinação do preço. Isso porque a IFRS 15 exige que a entidade estime a
contraprestação variável com base nas informações disponíveis, levando em consideração o efeito da
restrição sobre a contraprestação variável. Contudo, em alguns casos, os resultados obtidos de
acordo com os novos métodos ou com os métodos atuais podem ser semelhantes.

66 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 67
5.2 Contabilização de tipos específicos de contraprestação variável A classificação no balanço patrimonial de valores relacionados ao direito de devolver o ativo pode
representar uma mudança com relação à prática corrente. Segundo as normas IFRS atuais, a entidade
normalmente reconhece um passivo e a despesa correspondente, mas não pode reconhecer um ativo
5.2.1 Royalties baseados no volume de vendas ou uso de licenças
de devolução para o estoque que possa ser devolvido, como é exigido pela nova norma. Além disso a
de propriedade intelectual
IFRS 15 é clara ao determinar que o valor contábil do ativo de devolução (ou seja, o produto com
Os Comitês estabeleceram exigências expressas para o reconhecimento de royalties baseados no expectativa de ser devolvido) está sujeito ao teste de redução ao valor recuperável do ativo em base
volume de vendas ou no uso de licenças de propriedade intelectual. Especificamente, em vez de individual, separadamente do estoque disponível. A IFRS 15 também requer que o passivo de
seguir as exigências descritas acima para estimar a contraprestação variável, a IFRS 15 inclui uma reembolso seja apresentado separadamente do ativo correspondente (ou seja, em base bruta, não em
exceção para transações que envolvam royalties baseados no volume de vendas ou no uso de licenças base líquida).
de propriedade intelectual. Para essas transações, a norma declara que a entidade só inclui essa
contraprestação no preço da transação quando ocorre a venda ou uso subsequente (vide Seção 8.4
para uma discussão detalhada sobre licenças de propriedade intelectual). Extraído da IFRS 15

Exemplo 22 – Direito a devolução (IFRS 15.IE110-IE115)


5.2.2 Direito a devolução
Conforme discutido na Seção 4.7, um direito a devolução não representa uma obrigação de A entidade celebra 100 contratos com clientes. Cada contrato inclui a venda de um produto por UM 100
desempenho separada. Em vez disso, um direito a devolução afeta o preço da transação e o valor da (total de 100 produtos × UM 100 = contraprestação total de UM 10.000). O pagamento à vista é recebido
quando o controle do produto é transferido. A prática comercial usual da entidade é permitir que o cliente
receita que a entidade pode reconhecer com relação a obrigações de desempenho satisfeitas. Em
devolva qualquer produto que não tenha sido utilizado no prazo de 30 dias e receba reembolso integral. Para
outras palavras, o direito a devolução gera variabilidade no preço da transação.
a entidade, o custo de cada produto é de UM 60.
Embora o tratamento contábil proposto pela IFRS 15 para direito a devolução possa não representar A entidade aplica as exigências da IFRS 15 à carteira de 100 contratos, pois tem uma expectativa razoável de
uma mudança significativa na prática corrente, existem algumas diferenças dignas de nota. Segundo que, de acordo com o item 4 da referida norma, os efeitos sobre as demonstrações financeiras da aplicação
a IFRS 15, a entidade estimará o preço da transação e aplicará a restrição ao preço da transação dessas exigências à carteira não seriam significativamente diferentes daqueles resultantes da aplicação
estimado. Ao fazer isso, ela considerará os produtos que tenham a expectativa de serem devolvidos a dessas exigências aos contratos individuais que integram a carteira.
fim de determinar o valor da receita ao qual ela espera ter direito (excluindo os produtos com Como o contrato permite ao cliente devolver os produtos, a contrapre stação recebida do cliente é variável.
expectativa de serem devolvidos). Para estimar o valor da contraprestação variável ao qual ela terá direito, a entidade decide usar o método
do valor esperado [vide item 53(a) da IFRS 15], pois espera que esse método estimará melhor o valor da
Não está claro se essa exigência resultará em ajuste significativo nas devoluções da entidade contraprestação à qual ela terá direito. Aplicando o método do valor esperado, a entidade estima que 97
estimadas de acordo com as exigências atuais. De acordo com a IAS 18.17, a entidade reconhecerá o produtos não serão devolvidos.
valor das devoluções esperadas como um passivo de reembolso, que representa a sua obrigação de
A entidade também considera as exigências descritas nos itens 56-58 da IFRS 15 sobre aplicação da
devolver a contraprestação do cliente. Se a entidade estimar as devoluções e aplicar a restrição, a
restrição sobre estimativas da contraprestação variável para verificar se o valor estimado da contraprestação
parcela da receita sujeita à restrição não seria reconhecida até que os valores não estivessem mais
variável de UM 9.700 (UM 100 x 97 produtos sem expectativa de devolução) pode ser incluído no preço
sujeitos à restrição, o que poderia ocorrer no final do período para devolução.
da transação. A entidade considera os fatores descritos no item 57 da IFRS 15 e verifica que, embora as
devoluções estejam fora da esfera de influência da entidade, a entidade tem experiência significativa na
Como parte da atualização da sua estimativa dos valores que espera receber em razão do
estimativa de devoluções desse produto e tipo de cliente. Adicionalmente, a incerteza deixará de existir no
contrato, a entidade deve atualizar sua avaliação das devoluções esperadas e dos respectivos
curto prazo de tempo (ou seja, o período de devolução é de 30 dias). Desse modo, a entidade conclui ser
passivos de reembolso. Essa mensuração é revista ao final de cada período, refletindo quaisquer altamente provável que não haja uma reversão significativa no valor acumulado da receita reconhecida (ou
mudanças nas premissas sobre as devoluções esperadas. Quaisquer ajustes na estimativa levarão seja, UM 9.700), uma vez que a incerteza deixa de existir (a saber, ao final do período de devolução).
ao ajuste correspondente nos valores reconhecidos como receita referente a obrigações de
desempenho satisfeitas (por exemplo, se a entidade espera que o número de devoluções seja A entidade estima que os custos de recuperar os produtos não serão significativos e espera que os produtos
devolvidos possam ser revendidos com lucro.
inferior àquele originalmente estimado, ela teria de aumentar o valor da receita reconhecida e
diminuir o passivo de reembolso). Por ocasião da transferência do controle dos 100 produtos, a entidade não reconhece a receita referente aos
três produtos com expectativa de devolução. Consequentemente, de acordo com os itens 55 e B21 da IFRS
Por fim, quando os clientes exercem seu direito a devolução, a entidade pode receber o produto 15, a entidade reconhece os seguintes valores:
devolvido em condições que permitam sua venda ou conserto. Segundo a norma, no momento da
(a) receita de UM 9.700 (UM 100 × 97 produtos sem expectativa de devolução);
venda inicial (ou seja, quando o reconhecimento da receita é diferido devido à expectativa de
devolução), a entidade reconhece um ativo de devolução (e ajusta o custo dos produtos vendidos) (b) um passivo de reembolso de UM 300 (reembolso de UM 100 × 3 produtos com expectativa de
referente ao seu direito de reaver os produtos devolvidos pelo cliente. A entidade inicialmente devolução); e
mensura esse ativo pelo valor contábil anterior do estoque, menos quaisquer custos esperados para (c) um ativo de UM 180 (UM 60 x 3 produtos referentes ao seu direito de reaver os produtos
reaver os produtos. Ao mensurar novamente o passivo do reembolso ao final de cada período-base, a devolvidos pelos clientes ao liquidar um passivo de reembolso).
entidade atualiza a mensuração do ativo registrado refletindo quaisquer revisões do nível esperado de
devoluções, bem como quaisquer reduções potenciais no valor dos produtos devolvidos. Ou seja, um
item devolvido é reconhecido pelo custo original menos o custo de recuperar o ativo ou pelo valor
justo do ativo na data da recuperação, o que for menor.

68 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 69
Extraído da IFRS 15 (continuação)
Nosso ponto de vista
Pelos mais variados motivos, o tópico vendas de produtos com direito a devolução nunca 62. Não obstante a avaliação descrita no item 61, um contrato com cliente não teria um componente de
recebeu a mesma atenção que outros tópicos. Contudo, as mudanças nessa área (que trata financiamento significativo se qualquer um dos seguintes fatores estivesse presente:
principalmente do direito a devolução como um tipo de contraprestação variável sujeito às
(a) o cliente pagou pelos bens ou serviços antecipadamente, e a época da transferência desses bens ou
exigências aplicáveis a contraprestação variável, inclusive a restrição) podem afetar indústrias e
serviços fica a critério do cliente.
varejistas que, de outra forma, não seriam afetados significativamente pela IFRS 15. As
entidades precisarão avaliar se seus métodos atuais para estimar devoluções são apropriados, (b) Um valor substancial da contraprestação prometida pelo cliente é variável, e o valor ou época
dada a necessidade de levar em consideração o efeito da restrição. dessa contraprestação varia com base na ocorrência ou não de um evento futuro que não está
substancialmente dentro do controle do cliente ou da entidade (por exemplo, contraprestação na
forma de royalties baseados no volume de vendas).
5.3 Componente de financiamento significativo (c) a diferença entre a contraprestação prometida e o preço de venda à vista do bem ou serviço
Para algumas transações, a época do pagamento não coincide com a época da transferência dos bens (como descrito no item 61) surge por outros motivos que não o fornecimento do financiamento
ou serviços para o cliente (por exemplo, a contraprestação é paga antecipadamente ou é paga após o para o cliente ou para a entidade, e a diferença entre esses valores é proporcional ao motivo para
fornecimento dos serviços). Quando o cliente paga com atraso, a entidade está efetivamente tal diferença. Por exemplo, os termos de pagamento poderiam fornecer à entidade ou ao cliente
proteção contra o risco de que a outra parte deixe de concluir adequadamente algumas ou todas as
fornecendo financiamento ao cliente. Por sua vez, quando o cliente paga antecipadamente, a
suas obrigações previstas no contrato.
entidade efetivamente recebeu financiamento do cliente. A IFRS 15 estabelece o seguinte com
relação à existência de um componente de financiamento significativo no contrato: 63. Como um expediente prático, uma entidade não precisa ajustar o valor prometido da contraprestação
para refletir os efeitos de um componente de financiamento significativo se a entidade espera, na data
da assinatura do contrato, que o período entre o momento da transferência pela entidade de um bem
Extraído da IFRS 15 ou serviço prometido a um cliente e o momento em que o cliente paga por esse bem ou serviço será
igual ou inferior a um ano.
60. Ao determinar o preço da transação, a entidade ajustará o valor prometido da contraprestação de
modo a refletir os efeitos do valor do dinheiro no tempo se a época dos pagamentos acordados entre
as partes do contrato (expressa ou implicitamente) fornecer ao cliente ou à entidade um benefício A entidade não precisa avaliar se o contrato contém um componente de financiamento significativo a
significativo de financiar a transferência de bens ou serviços para o cliente. Nessas circunstâncias, o não ser que o período entre o pagamento do cliente e a transferência pela entidade dos bens ou
contrato contém um componente de financiamentov significativo. serviços seja superior a um ano. Não está totalmente claro na IFRS se as entidades fariam essa
avaliação no âmbito do contrato ou no âmbito das obrigações de desempenho. Também não está
Pode existir um componente de financiamento significativo independentemente de estar a promessa
de financiamento expressa no contrato ou implícita de acordo com os termos de pagamento acordados claro como a entidade que tem o contrato com mais de uma obrigação de desempenho trataria o
entre as partes do contrato. financiamento. Permanecem algumas questões sobre se a entidade alocaria os efeitos do
financiamento somente para aquelas obrigações de desempenho que sejam financiadas. Ou seja, não
61. O objetivo ao ajustar o valor prometido da contraprestação considerando um componente de está claro se a entidade verificaria se existe um componente de financiamento significativo no âmbito
financiamento significativo é que a entidade reconheça a receita por um valor que reflita o preço que
do contrato, mas alocaria os valores do financiamento no âmbito das obrigações de desempenho.
o cliente teria pago pelos bens ou serviços prometidos se o cliente tivesse pago à vista por esses bens
ou serviços quando (ou conforme) eles são transferidos para o cliente (ou seja, o preço de venda à Além disso, a não ser que o componente de financiamento seja considerado significativo para o
vista). Ao avaliar se um contrato contém um componente de financiamento e se esse componente contrato, não será exigido que as entidades ajustem o preço da transação considerando o
de financiamento é significativo, a entidade considerará todos os fatos e circunstâncias pertinentes,
componente de financiamento. A avaliação para determinar se o componente de financiamento é
inclusive os dois descritos a seguir:
significativo ou não é feita no âmbito de cada contrato individual. Os Comitês decidiram que seria um
(a) a diferença, se houver, entre o valor da contraprestação prometida e o preço de venda à vista dos ônus desnecessário exigir que uma entidade contabilize um componente de financiamento caso os
bens ou serviços prometidos; e efeitos desse componente de financiamento não fossem significativos para o contrato em base
(b) o efeito combinado dos dois seguintes itens: individual, mas os efeitos combinados dos componentes financeiros para uma carteira de contratos
semelhantes fossem significativos para a entidade como um todo.
(i) o período de tempo esperado entre a transferência, pela entidade, dos bens ou serviços
prometidos para o cliente e o pagamento do cliente por esses bens ou serviços; e •• O exercício de julgamento significativo provavelmente estará envolvido na determinação da
existência de um componente de financiamento significativo quando o período entre a transferência
(ii) as taxas de juros vigentes no mercado pertinente.
dos bens ou serviços prometidos no contrato e o recebimento da respectiva contraprestação for
superior a um ano. As entidades precisarão certificar-se de que tenham documentado
suficientemente suas análises para corroborar suas conclusões.

Quando a entidade concluir que um componente de financiamento é significativo para um contrato,


ela determina o preço da transação descontando o valor da contraprestação prometida. A entidade
usa a mesma taxa de desconto que ela usaria se fosse celebrar com o cliente uma transação de
financiamento separada. A taxa de desconto tem de refletir as características de crédito do mutuário
no contrato; usar uma taxa livre de risco ou uma taxa expressamente prevista no contrato que não
corresponda à taxa de um financiamento separado não seria aceitável. Embora isso não esteja
expresso na norma, entendemos que a entidade deva considerar o prazo esperado do financiamento
ao determinar a taxa de desconto com base nas condições de mercado vigentes na data da assinatura

70 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 71
do contrato. A entidade não atualiza a taxa de desconto para refletir mudanças nas circunstâncias ou
Extraído da IFRS 15
taxas de juros após a data da assinatura do contrato.

A norma inclui os seguintes exemplos para ilustrar esses conceitos: Exemplo 28 – Determinação da taxa de desconto (IFRS 15.IE143-IE147)

A entidade celebra um contrato com um cliente para vender equipamentos. O controle do equipamento é
transferido ao cliente na data de assinatura do contrato. O preço declarado no contrato é UM 1 milhão, mais
Extraído da IFRS 15 uma taxa de juros contratual de 5%, a serem pagos em 60 parcelas mensais de UM 18.871.

Caso A – A taxa de desconto contratual reflete a taxa de uma transação de financiamento separada
Exemplo 26 – Componente de financiamento significativo e direito a devolução (IFRS 15.IE135-IE140)
Ao avaliar a taxa de desconto no contrato que contém um componente de financiamento significativo, a
Uma entidade vende um produto a um cliente por UM 121, a serem pagos 24 meses após a entrega. O
entidade observa que a taxa de juros contratual de 5% reflete a taxa que seria aplicada em uma transação
cliente obtém controle do produto na data da assinatura do contrato. O contrato permite que o cliente
de financiamento separada entre a entidade e o cliente na data da assinatura do contrato (ou seja, a taxa de
devolva o produto no prazo de 90 dias. O produto é novo, e a entidade não tem evidência histórica relevante
juros contratual de 5% reflete as características de crédito do cliente).
das devoluções desse produto ou outras evidências disponíveis no mercado.
As condições de mercado do financiamento indicam que o preço de venda à vista do equipamento é UM 1
O preço de venda à vista do produto é de UM 100, que representa o valor que o cliente pagaria na entrega milhão. Esse valor é reconhecido como receita e como valor a receber do financiamento quando o controle
pelo mesmo produto vendido de acordo com termos e condições idênticos na data da assinatura do do equipamento é transferido ao cliente. A entidade contabiliza o valor a receber de acordo com a IFRS 9.
contrato. O custo do produto para a entidade é de
UM 80. Caso B – A taxa de desconto contratual não reflete a taxa de uma transação de financiamento separada

A entidade reconhece receita quando o controle do produto é transferido ao cliente. Isso porque a existência Ao avaliar a taxa de desconto no contrato que contém um componente de financiamento significativo,
do direito a devolução e a falta de evidência histórica relevante significam que a entidade não pode concluir a entidade observa que a taxa de juros contratual de 5% está significativamente abaixo da taxa de 12%
que seria aplicada em uma transação de financiamento separada entre a entidade e o cliente na data da
que não seja altamente provável que haja uma reversão significativa no valor de receita acumulada
assinatura do contrato (ou seja, a taxa de juros contratual de 5% não reflete as características de crédito
reconhecida de acordo com os itens 56-58 da IFRS 15. Consequentemente, a receita é reconhecida após
do cliente). Isso sugere que o preço de venda à vista do equipamento é inferior a UM 1 milhão.
três meses, quando expirar o direito a devolução.
De acordo com o item 64 da IFRS 15, a entidade determina o preço da transação ajustando o valor
O contrato inclui um componente de financiamento significativo, de acordo com os itens 60-62 da IFRS 15.
prometido da contraprestação para refletir os pagamentos contratuais utilizando a taxa de juros de 12%,
Isso fica evidente considerando a diferença entre o valor da contraprestação prometida de UM 121 e o preço
que reflete as características de crédito do cliente. Consequentemente, a entidade determina que o preço
de venda à vista de UM 100 na data em que os bens são transferidos ao cliente. de transação é UM 848.357 (60 pagamentos mensais de UM 18.871 descontados à taxa de 12%). A
O contrato inclui uma taxa de juros implícita de 10% (ou seja, a taxa de juros que no decorrer de 24 meses entidade reconhece receita e um valor a receber do financiamento por esse valor. A entidade contabiliza
desconta a contraprestação prometida de UM 121 ao preço de venda à vista de UM 100). A entidade avalia o valor a receber do financiamento de acordo com a IFRS 9.
a taxa e conclui que está compatível com a taxa que estaria refletida em uma transação de financiamento
separada entre a entidade e o cliente na data da assinatura do contrato. Os lançamentos a seguir
exemplificam como a entidade contabiliza esse contrato de acordo com os itens B20-B27 da IFRS 15.

(a) Quando o produto é transferido ao cliente, de acordo com o item B21 da IFRS 15:
Nosso ponto de vista
A IFRS 15 exige que a taxa de desconto seja semelhante à taxa que a entidade usaria caso
Ativo pelo direito de recuperar o produto a ser devolvido UM 80(a)
celebrasse com o cliente uma transação de financiamento separada na data da assinatura do
Estoque UM 80 contrato. A maioria das entidades não celebra contratos de financiamento separados com os
a) Este exemplo não considera os custos esperados para recuperar o ativo. clientes. Por conseguinte, pode ser difícil identificar uma taxa apropriada.

(b) Durante o período de três meses do direito a devolução, não são reconhecidos juros de acordo com
A maioria das entidades, contudo, realiza certo nível de análise de crédito antes de financiar as
o item 65 da IFRS 15, uma vez que nenhum ativo ou valor a receber do contrato foi reconhecido. compras para o cliente. Portanto, elas terão algumas informações sobre o risco de crédito do
cliente. Para entidades que tenham diferentes determinações de preço para os produtos
(c) Quando o direito à devolução expira (e o produto não é devolvido): dependendo do prazo do pagamento (por exemplo, descontos à vista), a IFRS 15 indica que a
Valor a receber UM 100(b) taxa de desconto apropriada poderia ser determinada identificando-se a taxa que desconta o
valor nominal da contraprestação proposta até o preço de venda à vista do bem ou serviço.
Receita UM 100

Custo dos produtos vendidos UM 80


5.3.1 Apresentação do componente de financiamento nas demonstrações financeiras
Ativo pelo produto a ser devolvido UM 80
b) O valor a receber reconhecido seria mensurado de acordo com a IFRS 9. Este exemplo assume que não há diferença
O componente de financiamento do preço da transação é apresentado separadamente da receita
reconhecida. Uma vez satisfeitas as obrigações de desempenho, a entidade reconhece o valor
significativa entre o valor justo do valor a receber na data da assinatura do contrato e o valor justo do valor a receber
presente da contraprestação prometida como receita. O componente de financiamento é reconhecido
ao ser reconhecido quando o direito a devolução expira. Além disso, este exemplo não considera a contabilização de
como despesa de juros (quando o cliente paga antecipadamente) ou receita de juros (quando o cliente
redução no valor recuperável (impairment) do valor a receber.
paga com atraso). A receita ou despesa de juros é reconhecida ao longo do período do financiamento
Até a entidade receber o pagamento à vista do cliente, a receita de juros seria reconhecida de acordo com a
utilizando o método de taxa efetiva de juros descrito na IFRS 9 ou IAS 39. Os Comitês observaram que
IFRS 9. Ao determinar a taxa efetiva de juros de acordo com a IFRS 9, a entidade levaria em consideração o a entidade pode apresentar receita de juros como receita somente quando a receita de juros
prazo contratual remanescente. representar receita auferida no curso normal das atividades da entidade (por exemplo, bancos que
regularmente celebram transações de financiamento e têm outras receitas de juros que representam
receita auferida no curso normal das suas atividades).

72 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 73
Perdas por redução ao valor recuperável (impairment) de valores a receber, com ou sem um A SIC-31 especifica que uma vendedora pode mensurar a receita com confiabilidade pelo valor
componente de financiamento significativo, são apresentadas de acordo com as exigências da IAS 1 justo dos serviços de propaganda que fornece em uma transação de troca direta, com base nas
Apresentação das Demonstrações Financeiras (Presentation of Financial Statements) e divulgadas de transações que não envolvem troca direta que atendem aos critérios especificados. A IFRS 15
acordo com a IFRS 7 Instrumentos Financeiros: Divulgações (Financial Instruments: Disclosures). não contém exigências semelhantes. Portanto, será necessário um maior grau de julgamento dos
Contudo, a IFRS 15 esclarece que essas perdas devem ser divulgadas separadamente das perdas por fatos e circunstâncias específicos ao se contabilizar transações de troca direta envolvendo serviços
redução ao valor recuperável de outros contratos.45 de publicidade.

5.4 Contraprestação não monetária Extraído da IFRS 15


A contraprestação do cliente poderia ser em forma de bens, serviços ou outra contraprestação não
monetária. Segundo esse método, a Entidade A estima a contraprestação variável em UM 230.000. Exemplo 31 – Direito a contraprestação não monetária (IFRS 15.IE156-IE158)
Ela deve, em seguida, considerar o efeito da restrição sobre o valor da contraprestação variável Uma entidade celebra um contrato com um cliente para prestar serviços semanais durante um ano. O
incluído no preço da transação. contrato é assinado no dia 1º de janeiro de 20X1 e o trabalho é iniciado imediatamente. A entidade conclui
que o serviço é uma única obrigação de desempenho de acordo com o item 22(b) da IFRS 15, pois ela está
A entidade aplica as exigências da IFRS 13 Mensuração do Valor Justo (Fair Value Measurement) ao fornecendo uma série de serviços distintos que são substancialmente o mesmo e que têm o mesmo padrão
mensurar o valor justo de qualquer contraprestação não monetária. Caso a entidade não possa de transferência (os serviços são transferidos para o cliente ao longo do tempo e o mesmo método é adotado
estimar com confiabilidade o valor justo da contraprestação não monetária, ela mensura a para medir sua evolução – ou seja, uma medida da evolução dos serviços com base no tempo transcorrido).
contraprestação não monetária indiretamente com base na estimativa do preço de venda individual Em troca pelo serviço, o cliente promete 100 ações ordinárias do seu capital por semana de serviço (um
dos bens ou serviços prometidos. total de 5.200 ações pelo contrato). Os termos do contrato estipulam que as ações devem ser pagas na
conclusão bem-sucedida de cada semana do serviço.
Para contratos que incluam tanto contraprestação não monetária como contraprestação monetária, a
entidade precisará mensurar o valor justo da contraprestação não monetária e se baseará em outras A entidade mede a evolução do serviço até a satisfação completa da obrigação de desempenho à medida
que cada semana de serviço é concluída. Para determinar o preço da transação (e o montante da receita
exigências contidas na IFRS 15 para contabilizar a contraprestação monetária. Por exemplo, para um
a ser reconhecido), a entidade mensura o valor justo de 100 ações, que são recebidas na conclusão de
contrato no qual a entidade receba contraprestação não monetária e royalty baseado no volume de
cada serviço semanal. A entidade não reflete quaisquer mudanças subsequentes no valor justo das ações
vendas, a entidade mensuraria o valor justo da contraprestação não monetária e consultaria as recebidas (ou a receber) na receita.
exigências contidas na norma aplicáveis a royalties baseados no volume de vendas.

O valor justo da contraprestação não monetária pode variar devido à ocorrência (ou não ocorrência)
5.5 Contraprestação paga ou a pagar para um cliente
de um evento futuro ou devido à forma da contraprestação (por exemplo, uma mudança no preço de
uma ação que a entidade tem direito a receber de um cliente). Segundo a IFRS 15, se o direito da Muitas entidades efetuam pagamentos a seus clientes. Em alguns casos, a contraprestação paga ou a
entidade a uma contraprestação não monetária prometida pelo cliente for variável por outros motivos pagar representa compras feitas pela entidade de bens ou serviços oferecidos pelo cliente que
que não a forma da contraprestação (ou seja, existir incerteza sobre o recebimento, pela entidade, da satisfazem uma necessidade do negócio da entidade. Em outros casos, a contraprestação paga ou a
pagar representa incentivos dados pela entidade para estimular o cliente a comprar, ou a continuar
contraprestação não monetária), a entidade deve considerar a aplicação da restrição sobre a
comprando, seus bens ou serviços.
contraprestação variável.
A norma apresenta as seguintes exigências aplicáveis a contraprestação paga ou a pagar a um cliente:
Em algumas transações, o cliente fornece bens ou serviços, como equipamentos ou mão de obra, a
fim de facilitar o cumprimento do contrato. Se a entidade obtém o controle dos bens ou serviços
fornecidos pelo cliente, ela consideraria esses bens ou serviços como contraprestação não monetária Extraído da IFRS 15
e contabilizaria essa contraprestação como descrito acima.
70. A contraprestação a pagar a um cliente inclui valores monetários que a entidade paga, ou espera
Os Comitês também observaram que quaisquer ativos reconhecidos como resultado de
pagar, ao cliente (ou a outras partes que compram do cliente os bens ou serviços da entidade). A
contraprestação não monetária são contabilizados de acordo com outras normas aplicáveis (por contraprestação a pagar a um cliente também inclui crédito ou outros itens (por exemplo, um cupom
exemplo, a IAS 16). ou vale) que possam ser utilizados contra valores devidos para a entidade (ou a outras partes que
compram do cliente os bens ou serviços da entidade). A entidade contabilizará a contraprestação a
pagar para um cliente como uma redução do preço da transação e, portanto, da receita, a não ser que
O que muda com relação às normas IFRS atuais?
o pagamento ao cliente seja em troca por um bem ou serviço distinto (como descrito nos parágrafos
O conceito de contabilização de contraprestação não monetária ao valor justo está alinhado com as 26-30) que o cliente transfere para a entidade. Se a contraprestação a pagar a um cliente incluir
normas IFRS atuais. A IAS 18 exige que a contraprestação não monetária seja mensurada pelo valor um valor variável, a entidade estimará o preço da transação (inclusive avaliando se a estimativa da
justo dos bens ou serviços recebidos. Quando esse valor não puder ser mensurado com confiabilidade, contraprestação variável está sujeita à restrição) de acordo com os itens 50-58.
a contraprestação é mensurada pelo valor justo dos bens ou serviços cedidos.46 A IFRIC 18 também 71. Se a contraprestação a pagar a um cliente for um pagamento por um bem ou serviço distinto recebido
exige que qualquer receita reconhecida como resultado de uma transferência de ativos do cliente seja do cliente, então a entidade contabilizará a aquisição do bem ou serviço da mesma maneira que
mensurada,47 de forma consistente com a exigência descrita na IAS 18. Portanto, não esperamos que contabiliza outras aquisições de fornecedores. Se o valor da contraprestação a pagar ao cliente
a IFRS 15 resulte em uma mudança na prática corrente. exceder o valor justo do bem ou serviço distinto que a entidade recebe do cliente, então a entidade
contabilizará esse excedente como uma redução do preço da transação. Se a entidade não puder
estimar com confiabilidade o valor justo do bem ou serviço recebido do cliente, ela contabilizará toda a
45 IFRS 15.113(b). contraprestação a pagar ao cliente como uma redução do preço da transação.
46 IAS 18.12.
47 IFRIC 18.13.

74 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 75
tipo de contraprestação para os seus clientes, as exigências sobre como estimar a contraprestação
Extraído da IFRS 15 (continuação)
variável indicam que esses valores precisam ser levados em consideração na data da assinatura do
contrato, mesmo que a entidade ainda não tenha fornecido essa contraprestação apara o cliente.
72. Por conseguinte, se a contraprestação a pagar a um cliente for contabilizada como uma redução do
preço da transação, a entidade reconhecerá a redução da receita quando (ou conforme) ocorra um dos A inconsistência surge uma vez que as exigências específicas sobre “consideração a pagar a um
seguintes eventos, o que ocorrer por último:
cliente” estabelecem que esses valores não sejam reconhecidos como uma redução da receita até que
(a) a entidade reconhece receita pela transferência dos respectivos bens ou serviços para o cliente; e um dos dois seguintes eventos ocorra por último:
(b) a entidade paga ou promete pagar a contraprestação (mesmo que o pagamento esteja •• Quando as respectivas vendas são reconhecidas;
condicionado a um evento futuro). Essa promessa poderia ser implícita de acordo com práticas
comerciais usuais da entidade. Ou
•• A entidade promete fornecer essa contraprestação.
A norma estabelece que a entidade contabilize a contraprestação a pagar ao cliente, Aparentemente, isso sugere que a entidade não precisa ter a expectativa de oferecer esses tipos de
independentemente de ser o comprador que recebe a contraprestação um cliente direto ou indireto da programas, ainda que ela tenha um histórico que indique isso, e só reconhece o efeito desses
entidade. Isso inclui contraprestação para quaisquer compradores de produtos da entidade a qualquer programas quando eles já tiverem sido pagos ou prometidos para o cliente. Esperamos que sejam
época ao longo da cadeia de distribuição. As exigências são aplicáveis a entidades que obtenham fornecidas orientações adicionais a fim de solucionar essa inconsistência.
receita de vendas de serviços, bem como entidades que obtenham receita de vendas de bens.
A contraprestação paga a um cliente pode assumir muitas formas diferentes. Portanto, as entidades
A contraprestação paga ou a pagar a um cliente comumente assume a forma de descontos, cupons, terão de avaliar cuidadosamente cada transação para determinar qual será o tratamento adequado
produtos ou serviços gratuitos e instrumentos patrimoniais, entre outros. Adicionalmente, algumas daqueles valores. Alguns exemplos comuns de contraprestação paga a um cliente incluem:
entidades efetuam pagamentos aos clientes de revendedoras ou distribuidoras que compram
diretamente da entidade (por exemplo, fabricantes de matinais oferecem cupons aos consumidores,
•• Taxas relativas ao espaço nas prateleiras – Os fabricantes de produtos de consumo normalmente
pagam aos varejistas taxas para terem seus produtos exibidos com destaque nas prateleiras das
muito embora seus clientes diretos sejam os mercados que vendem aos consumidores). Além disso, a
lojas. Essas prateleiras podem ser físicas (ou seja, dentro de um edifício em que a loja esteja
promessa de pagar a contraprestação poderia ser implícita de acordo com práticas comerciais usuais
localizada) ou virtuais (ou seja, representam espaço em um catálogo on-line da revendedora na
da entidade. Para determinar o tratamento contábil apropriado, a entidade precisa, primeiramente,
internet). Geralmente, essas taxas não representam fornecimento de um bem ou serviço distinto
verificar se a contraprestação paga ou a pagar a um cliente é um pagamento por um bem ou serviço
para o fabricante e são tratadas como uma redução do preço da transação.
distinto, uma redução do preço da transação ou uma combinação de ambos.
•• Acordos de propaganda cooperada – Em alguns acordos, um fornecedor concorda em reembolsar
Para que um pagamento da entidade para um cliente seja tratado de outra forma que não como uma
uma revendedora pela parcela de custos por ela incorridos para anunciar os produtos daquele
redução do preço da transação, o bem ou serviço fornecido pelo cliente deve ser distinto (como
fornecedor. Determinar se o pagamento é feito pelo fornecedor por um bem ou serviço distinto a
discutido na Seção 4.2).
valor justo dependerá de uma análise criteriosa dos fatos e circunstâncias do acordo.
Se a contraprestação paga ou a pagar a um cliente for um desconto ou reembolso por bens ou •• Proteção de preço – Um fornecedor pode concordar em reembolsar um varejista até um
serviços fornecidos para um cliente, essa redução do preço da transação (e, consequentemente, em determinado valor por quedas no preço de venda recebido pelo varejista pelos produtos daquele
última análise, da receita) é reconhecida no momento em que a entidade transfere os bens ou fornecedor ao longo de um período de tempo específico. Normalmente, essas taxas não
serviços prometidos ao cliente ou em que a entidade promete pagar a contraprestação, o que ocorrer representam o fornecimento de um bem ou serviço distinto para o fabricante e são tratadas como
por último. Isso é verdade mesmo que o pagamento esteja condicionado a um evento futuro. Por uma redução no preço da transação.
exemplo, se os bens sujeitos a um desconto mediante cupom já estiverem nas prateleiras dos
varejistas, o desconto seria reconhecido na emissão dos cupons. Contudo, caso seja emitido um •• Cupons e descontos comerciais – Um cliente indireto de um fornecedor pode receber um
cupom que possa ser utilizado com relação a uma nova linha de produtos que ainda não tenham sido reembolso de parte do preço de compra do produto ou serviço adquirido devolvendo um documento
vendidos aos varejistas, o desconto seria reconhecido na venda dos produtos para o varejista. que comprove o reembolso ao varejista ou ao fornecedor. Geralmente, essas taxas não representam
fornecimento de um bem ou serviço distinto para o fabricante e são tratadas como uma redução do
A contraprestação paga ou a pagar a um cliente pode incluir contraprestação variável na forma de preço da transação.
desconto ou reembolso pelos bens ou serviços fornecidos. Caso inclua, a entidade usaria o método do
•• Acordos “pay-to-play” – Em alguns contratos, um fornecedor paga ao cliente uma taxa antecipada
valor esperado ou do valor mais provável para estimar o valor ao qual ela espera ter direito e aplicaria
não reembolsável a fim de obter a renovação do contrato. Na maioria dos casos, esses pagamentos
a restrição à estimativa (vide Seção 5.1 para uma discussão mais detalhada) a fim de determinar o
não estão associados com qualquer bem ou serviço distinto a ser recebido do cliente e são tratados
efeito do desconto ou reembolso.
como uma redução no preço da transação.
Contudo, aparentemente há certa inconsistência entre a exigência sobre quando seria a época do •• Compra de bens ou serviços – As entidades frequentemente celebram contratos fornecedor-
reconhecimento da contraprestação a pagar ao cliente e a exigência de levar em conta descontos provedor com seus clientes nos quais os clientes fornecem a elas um bem ou serviço distinto. Por
especiais implícitos no preço. Ou seja, a definição de contraprestação variável segundo a IFRS 15 é exemplo, uma empresa de software pode comprar material de escritório de um de seus clientes de
suficientemente ampla para incluir valores como cupons ou outras formas de créditos que possam ser software. Nessas situações, a entidade tem de avaliar cuidadosamente se o pagamento feito ao
aplicadas aos valores devidos. A norma requer que toda contraprestação variável potencial seja cliente é exclusivamente pelos bens ou serviços recebidos, ou se parte do pagamento é de fato uma
incluída e refletida no preço da transação na data da assinatura do contrato e à medida que a redução do preço da transação pelos bens ou serviços que a entidade está transferindo ao cliente.
entidade satisfaz o contrato. Isso significa que se uma entidade tiver um histórico de fornecer esse

76 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 77
De modo geral, a contabilização da contraprestação a pagar a um cliente segundo a IFRS 15 está
Exemplo 5-3 — Taxa antecipada não reembolsável
alinhada com as normas IFRS atuais. Contudo, a novidade é a exigência de determinar se um
bem ou serviço é “distinto” a fim de tratar a contraprestação a pagar a um cliente de outra
Um cliente celebra um contrato com duração de um ano com um clube de serviços de saúde e é obrigado
forma que não como uma redução da receita. Embora isso esteja implícito em muitos exemplos
a pagar uma taxa inicial não reembolsável de UM 150 e uma taxa anual de adesão em parcelas mensais
apresentados na IAS 18, essa exigência não é discutida expressamente nas normas IFRS atuais. de UM 40. A atividade do clube de registrar o cliente não transfere qualquer serviço ao cliente e, portanto,
Consequentemente, algumas entidades podem precisar reavaliar o tratamento da não é uma obrigação de desempenho. Ao não exigir que o cliente pague novamente a taxa de adesão na
contraprestação paga ou a pagar a um cliente. renovação, o clube está efetivamente oferecendo ao cliente uma taxa de renovação com desconto.

A norma inclui o seguinte exemplo para ilustrar esse tópico: O clube apura que a opção de renovação representa um direito material, visto que ele oferece uma opção
de renovação a um preço mais baixo do que a grade de preços normalmente oferecida e, portanto, ela é
uma obrigação de desempenho separada. Com base na experiência, o clube verifica que os seus clientes,
Extraído da IFRS 15 em média, renovam a adesão anual duas vezes antes de encerrar seu relacionamento com o clube. Por
conseguinte, o clube verifica que a opção fornece ao cliente o direito a duas renovações anuais a um preço
Exemplo 32 – Contraprestação a pagar a um cliente (IFRS 15.IE160-IE162) com desconto.

Uma entidade que fabrica bens de consumo celebra um contrato com duração de um ano para vender Nesse cenário, o clube alocaria o total da contraprestação da transação de UM 630 [taxa antecipada de
bens a um cliente, a saber, uma rede global varejista de grande porte. O cliente assume o compromisso de adesão de UM 150 + UM 480 (UM 40 x 12 meses)] às obrigações de desempenho identificadas (serviços
comprar, no mínimo, UM 15 milhões em produtos durante o ano. O contrato também exige que a entidade mensais e opção de renovação) com base no método do preço de venda relativo individual. O valor
faça um pagamento não reembolsável de UM 1,5 milhão para o cliente na data da assinatura do contrato. alocado à opção de renovação seria reconhecido à medida que cada um dos períodos de renovação é
O pagamento de UM 1,5 milhão remunerará o cliente pelas mudanças que ele precisa fazer em suas exercido ou expira.
prateleiras para expor os produtos da entidade. Alternativamente, o clube poderia valorar a opção “vendo através da opção” e considerando os bens e
A entidade considera as exigências descritas nos itens 70-72 da IFRS 15 e conclui que o pagamento serviços opcionais. Nesse caso, o clube determinaria que o preço da transação total seria a soma da taxa
ao cliente não é feito em troca por um bem ou serviço distinto que o cliente transfere para a antecipada mais três anos de taxas de serviços mensais (ou seja, UM 150 + UM 1.440) e alocaria esse valor
entidade. Isso porque a entidade não obtém controle de quaisquer direitos às prateleiras do cliente. a todos os serviços cuja entrega seja esperada, ou 36 meses de adesão (ou seja, UM 44,17 ao mês).
Consequentemente, a entidade verifica que, de acordo com o item 70 da IFRS, o pagamento de UM 1,5 Vide Seção 4.6 para uma discussão mais detalhada sobre o tratamento de opções.
milhão é uma redução do preço da transação.

A entidade aplica as exigências descritas no item 72 da IFRS 15 e conclui que a contraprestação a pagar
é contabilizada como uma redução no preço da transação quando a entidade reconhece a receita pela
transferência dos bens. Consequentemente, à medida que a entidade transfere os bens para o cliente,
ela reduz o preço da transação para cada bem em 10% (UM 1,5 milhão ÷ UM 15 milhões). Portanto, no
primeiro mês em que a entidade transfere os bens para o cliente, ela reconhece receita no valor de UM 1,8
milhão (UM 2,0 milhões faturados menos UM 0,2 milhão de contraprestação a pagar para o cliente).

5.6 Taxa antecipada não reembolsável


Em certas circunstâncias, as entidades podem receber pagamentos dos clientes antes de fornecerem
o serviço contratado ou entregar o bem prometido. Taxas antecipadas não reembolsáveis geralmente
se referem à iniciação, ativação ou implantação de um bem a ser usado ou de um serviço a ser
fornecido no futuro. Taxas antecipadas não reembolsáveis podem ser pagas para conceder acesso a
uma instalação, produto ou serviço ou fornecer um direito de usar uma instalação, produto ou serviço.
Em muitos casos, os montantes pagos antecipadamente pelo cliente não são reembolsáveis. Exemplos
incluem taxas pagas para se tornar sócio de um clube de serviços de saúde ou de um clube de
compras e as taxas de ativação para serviços telefônicos, de cabo e internet.

As entidades devem, necessariamente, avaliar se as taxas antecipadas não reembolsáveis estão


relacionadas à transferência de um bem ou serviço. Em muitas situações, uma taxa antecipada
representa um pagamento antecipado por bens ou serviços futuros. Além disso, a existência de uma
taxa antecipada não reembolsável pode indicar que o contrato inclui uma opção de renovação para
bens ou serviços futuros a preço reduzido (se o cliente renovar o contrato sem o pagamento de uma
taxa antecipada adicional).

78 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 79
6 Alocar o preço da transação às obrigações de desempenho múltiplos elementos descritas na ASC 605-25. As novas exigências descritas na IFRS 15 para estimar
um preço de venda individual estão, de modo geral, alinhadas com a ASC 605-25, exceto que elas não
Uma vez identificadas as obrigações de desempenho distintas (ou separadas) e determinado o preço exigem que a entidade considere uma hierarquia de evidências ao fazer essa estimativa.
da transação, a norma requer que a entidade faça a alocação do preço da transação às obrigações
de desempenho. Isso normalmente é feito em proporção aos seus preços de venda individuais (ou Segundo US GAAP, algumas entidades têm adotado as disposições da ASC 605-25 ao desenvolver
seja, com base no preço de venda relativo individual). Como resultado, de modo geral, qualquer estimativas dos preços de venda para os elementos dentro do contrato que possam exibir uma
desconto no contrato é alocado proporcionalmente a todas as obrigações de desempenho separadas determinação de preço “altamente variável”, como descrito na Seção 6.1.2. A nova norma pode
no contrato. permitir que essas entidades revertam para um método residual (semelhante à contabilização desses
elementos antes que o FASB emitisse, em 2009, o que era então considerado como exigências
No entanto, como discutido mais adiante, existem algumas exceções. Por exemplo, uma entidade aplicáveis a contratos com múltiplos elementos).
poderia alocar a contraprestação variável a uma única obrigação de desempenho em algumas
situações. A IFRS 15 também contempla a alocação de qualquer desconto em um contrato A exigência de estimar um preço de venda individual pode representar uma mudança significativa
exclusivamente a certas obrigações de desempenho, se atendidos os critérios especificados. para entidades cuja apresentação financeira é de acordo com as normas IFRS e que têm desenvolvido
suas políticas contábeis para reconhecimento de receita com base em outras exigências segundo US
GAAP, como as aplicáveis a reconhecimento de receita de software descritas na ASC 985-605. Essas
6.1 Estimativa dos preços de venda individuais
exigências estabelecem um nível para a determinação do preço de venda individual, exigindo
Para alocar o preço da transação com base no preço de venda individual relativo, a entidade deve, evidências observáveis, e não estimativas da administração. Algumas dessas entidades podem
primeiramente, determinar o preço de venda individual de cada obrigação de desempenho. Segundo a considerar difícil a determinação de um preço de venda individual, particularmente para bens ou
norma, esse é o preço pelo qual uma entidade venderia um produto ou serviço em base individual na serviços que nunca sejam vendidos separadamente (por exemplo, direitos de atualização específicos
data da assinatura do contrato. com relação a um software). Em certas circunstâncias, uma entidade pode ser capaz de estimar o
preço de venda individual de uma obrigação de desempenho utilizando o “método residual” (vide
A IFRS 15 indica que o preço observável de um bem ou serviço vendido separadamente oferece a
Seção 6.1.2).
melhor evidência do preço de venda individual. Contudo, em muitas situações, os preços de venda
individuais não serão prontamente observáveis. Nesses casos, a entidade deve fazer uma estimativa
do preço de venda individual.
Nosso ponto de vista
A estimativa de preços de venda individuais é calculada na data da assinatura do contrato e não é As entidades que atualmente não estimam preços de venda individuais provavelmente
atualizada para refletir variações entre a data da assinatura do contrato e quando o cumprimento é precisarão envolver outros profissionais além daqueles dos departamentos de contabilidade e
concluído. Por exemplo, suponha que uma entidade determine o preço de venda individual para um financeiro. Nossa expectativa é que os responsáveis pelas políticas para reconhecimento de
bem prometido e, antes que ela possa fabricar e entregar esse bem, o custo dos materiais envolvidos receitas de uma entidade precisarão consultar os profissionais operacionais envolvidos nas
dobra. Nessa situação, a entidade ajustaria sua estimativa do preço de venda individual usado para decisões de determinação de preços da entidade a fim de estimar os preços de venda
esse contrato. Contudo, para contratos futuros envolvendo o mesmo bem, a entidade precisaria usar individuais, especialmente diante da falta ou escassez de dados observáveis.
um preço de venda individual ajustado (vide Seção 6.1.3). Adicionalmente, se o contrato é modificado
e essa modificação não é tratada como um contrato separado, a entidade atualizaria sua estimativa
Com relação à estimativa do preço de venda individual, a norma apresenta as seguintes exigências:
do preço de venda individual na data da modificação (vide Seção 6.5).

O que muda com relação às normas IFRS atuais? Extraído da IFRS 15


As novas exigências para alocação do preço da transação às obrigações de desempenho poderiam
resultar numa mudança de prática para muitas entidades. 78. Se um preço de venda individual não for diretamente observável, a entidade estimará o preço de venda
individual em um valor que resultaria na alocação do preço da transação de acordo com o objetivo da
A IAS 18 não recomenda um método de alocação para contratos com múltiplos elementos. Já a IFRIC alocação descrito no item 73. Ao estimar o preço de venda individual, a entidade considerará todas
13 menciona duas metodologias de alocação: alocação com base no valor justo relativo e alocação as informações (inclusive condições de mercado, fatores específicos da entidade e informações sobre
com base no método residual. A IFRIC 13, porém, não estabelece uma hierarquia. Portanto, o cliente ou classe de cliente) que estejam razoavelmente acessíveis à entidade. Isso permite que a
entidade maximize o uso dos dados observáveis e aplique os métodos para cálculo da estimativa de
atualmente uma entidade deve exercer seu julgamento ao selecionar a metodologia mais apropriada,
forma consistente em circunstâncias semelhantes.
levando em consideração todos os fatos e circunstâncias pertinentes e assegurando que a alocação
resultante esteja alinhada com o objetivo da IAS 18 de mensurar a receita ao valor justo da
contraprestação.

Dada a orientação limitada sobre contratos com múltiplos elementos nas normas IFRS existentes,
algumas entidades têm desenvolvido suas políticas contábeis nessa área com base nos US GAAP.

A exigência de estimar um preço de venda individual não será um conceito novo para as entidades
que têm desenvolvido as suas políticas contábeis com base nas exigências aplicáveis a contratos com

80 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 81
•• Práticas de preços utilizadas para estabelecer preços de conjuntos de produtos;
Extraído da IFRS 15
•• Efeitos da transação proposta sobre os preços (por exemplo, a dimensão do acordo, as
79. Métodos adequados para estimar o preço de venda individual de um bem ou serviço incluem, entre outros: características do cliente-alvo);
(a) Método da avaliação de mercado ajustada – uma entidade poderia avaliar o mercado em que ela •• A vida tecnológica esperada do produto, inclusive avanços tecnológicos específicos e significativos
vende bens ou serviços e estimar o preço que um cliente naquele mercado estaria disposto a do fornecedor esperados para o futuro próximo.
pagar por esses bens ou serviços. Esse método também poderia incluir referências aos preços de
concorrentes da entidade para bens ou serviços semelhantes e o ajuste desses preços, conforme •• A documentação de uma entidade do seu preço de venda individual estimado, especialmente se há
necessário, para refletir os custos e as margens da entidade. dados limitados ou se não há nenhum dado observável, precisará provavelmente ser
(b) O método do custo esperado mais margem – uma entidade poderia projetar seus custos esperados
suficientemente sólida para demonstrar como ela considerou os tipos de fatores relacionados acima
de satisfazer uma obrigação de desempenho e, depois, adicionar uma margem apropriada para ao fazer a sua estimativa.
esse bem ou serviço.

(c) O método residual – uma entidade pode estimar o preço de venda individual com base no total do 6.1.2 Possíveis métodos de estimativa
preço da transação, menos a soma dos preços de venda individuais observáveis de outros bens ou A IFRS 15 discute três métodos de estimativa: (1) o método da avaliação de mercado ajustada; (2) o
serviços prometidos no contrato. Contudo, uma entidade pode usar o método residual para estimar, método do custo esperado mais margem de lucro; e (3) um método residual. Cada um desses
de acordo com o item 78, o preço de venda individual de um bem ou serviço somente se atendido métodos é discutido mais detalhadamente abaixo. Ao aplicar a IFRS 15, uma entidade pode precisar
um dos seguintes critérios: usar uma combinação desses métodos para estimar o preço de venda individual. Além disso, esses
(i) a entidade vende o mesmo bem ou serviço para clientes diferentes (na mesma data ou em não são os únicos métodos de estimativa permitidos. A IFRS 15 permite qualquer método de
datas próximas) por uma variada faixa de valores (ou seja, o preço de venda é altamente estimativa razoável, desde que seja consistente com a noção de um preço de venda individual,
variável, pois não se pode discernir um preço de venda individual representativo a partir de maximize o uso de dados observáveis e seja aplicado consistentemente para bens, serviços e clientes
transações passadas ou outras evidências observáveis); ou semelhantes.
(ii) a entidade ainda não estabeleceu um preço para esse bem ou serviço e o bem ou serviço
Em alguns casos, uma entidade pode ter dados observáveis suficientes para determinar o preço de
ainda não foi anteriormente vendido em base individual (ou seja, o preço de venda é incerto).
venda individual. Por exemplo, uma entidade pode ter vendas individuais suficientes de um
determinado bem ou serviço que fornecem evidência contundente do preço de venda individual de um
6.1.1 Fatores a serem considerados ao estimar o preço de venda individual determinado bem ou serviço. Nessas situações, nenhuma estimativa seria necessária.

A norma afirma que, ao estimar o preço de venda individual, uma “entidade deve considerar todas as Em diversos casos, uma entidade pode não ter dados suficientes sobre vendas individuais para
informações (inclusive condições de mercado, fatores específicos da entidade e informações sobre o determinar o preço de venda individual somente com base nessas vendas individuais. Nesses casos,
cliente ou classe de cliente) que estejam razoavelmente disponíveis para a entidade”.48 Essa é uma deve maximizar o uso de quaisquer dados observáveis disponíveis para fazer a sua estimativa, ou
exigência muito ampla e demandará que uma entidade considere uma série de fontes de dados. seja, uma entidade não deixa de considerar quaisquer dados observáveis ao estimar o preço de venda
individual do bem ou serviço.
Apesar de não representarem uma relação exaustiva, os seguintes são exemplos de condições de
mercado a serem consideradas: Para fazer essa estimativa, uma entidade pode usar um dos seguintes métodos mencionados na
•• Potenciais limitações sobre o preço de venda do produto; norma, ou uma combinação desses métodos:

•• Preços de concorrentes para um produto semelhante ou idêntico; •• Método da avaliação de mercado ajustada – esse método dá ênfase ao valor que a entidade
acredita que o mercado intenciona pagar pelo bem ou serviço. Esse método se baseia
•• Conhecimento e percepção do mercado sobre o produto; principalmente em fatores externos, em vez de nas influências internas da própria entidade. Ao
•• Tendências atuais de mercado que irão provavelmente afetar os preços; usar o método da avaliação de mercado ajustada, uma entidade considera condições de mercado,
como as descritas na Seção 6.1.1. A aplicação desse método será provavelmente mais fácil quando
•• A participação de mercado e posição da entidade no mercado (ou seja, a capacidade de a entidade uma entidade já tenha vendido o bem ou serviço por algum tempo (de forma que tem dados sobre
ditar preços); demanda de clientes), ou um concorrente oferece bens ou serviços concorrentes que a entidade
•• Efeitos da área geográfica sobre os preços; pode usar como base para a sua análise. A aplicação desse método pode ser difícil quando uma
entidade está vendendo um bem ou serviço inteiramente novo, porque pode ser difícil prever a
•• Efeitos da personalização sobre os preços; demanda de mercado. Prevemos que as entidades possam desejar usar o método da avaliação de
•• Vida tecnológica esperada do produto; mercado, juntamente com outros métodos, para maximizar o uso de dados observáveis (por
exemplo, o método da avaliação de mercado combinado com as estratégias internas de preços de
Exemplos de fatores específicos da entidade incluem: uma entidade, se a obrigação de desempenho não tenha nunca sido vendida separadamente).

•• Objetivos de lucro e estrutura de custos internos; •• Método do custo esperado mais margem de lucro – esse método dá ênfase principalmente aos
fatores internos (por exemplo, a base de custos da entidade), mas tem também um componente
•• Práticas e objetivos de preços (inclusive margem de lucro bruto desejada);
externo. Ou seja, a margem incluída nesse método deve refletir a margem porcentual que o
•• Efeitos da personalização sobre os preços; mercado pretende pagar, e não apenas a margem desejada pela entidade. A margem pode precisar
ser ajustada por diferenças em produtos, áreas geográficas, clientes e outros fatores. O método do
48 IFRS 15.78.

82 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 83
custo esperado mais margem pode ser usado em várias situações, especialmente quando a
correspondente obrigação de desempenho tenha um custo direto de cumprimento determinável Nosso ponto de vista
(vide Seção 8.3.2). Contudo, esse método pode ser menos útil quando os custos diretos de A estimativa de preços de venda individuais pode requerer uma mudança na prática. A IAS 18 não
cumprimento da obrigação não forem claramente identificáveis ou não forem conhecidos. recomenda um método de alocação para acordos com múltiplos elementos. Como resultado, as
•• Método residual – o método residual assume que uma entidade pode estimar os preços de venda entidades têm usado vários métodos, que podem não ser baseados nos preços de venda atuais.
individuais para todos os bens ou serviços, menos para um deles. Nessas circunstâncias, o método Além disso, as entidades que desenvolveram as suas políticas contábeis com base nas exigências
residual permite que uma entidade aloque a parcela restante do preço da transação, ou valor de US GAAP na ASC 605-25 devem notar que não haverá mais uma hierarquia como a da
residual, ao bem ou serviço para o qual não pode fazer uma estimativa razoável. Uma vez que a referida norma, o que requer que considerem primeiramente evidências específicas de
norma indica que esse método somente pode ser aplicado para transações com múltiplos elementos fornecedores (vendor-specific objective evidence – VSOE), evidências de terceiros e finalmente a
quando o preço de venda de um único bem ou serviço não seja conhecido (porque o preço de venda melhor estimativa do preço de venda. Adicionalmente, as entidades que consideraram as atuais
histórico é altamente variável ou porque o bem ou serviço ainda não tenha sido vendido). Como exigências na ASC 985-605 para desenvolver as suas políticas contábeis não precisarão mais
resultado, prevemos que o uso desse método provavelmente será limitado. Contudo, a permissão estabelecer VSOE com base na maioria das suas transações significativas.
para que as entidades usem uma técnica residual fornecerá isenção para aquelas que raramente ou
nunca vendem bens ou serviços individuais, como entidades que vendem propriedade intelectual Como resultado, esperamos que várias entidades precisem estabelecer métodos para estimar os
apenas com bens materiais ou serviços. seus preços de venda individuais. Contudo, como essas estimativas podem ter dados observáveis
limitados, será importante para as entidades ter sólida documentação para demonstrar a
Assume-se, por exemplo, que uma entidade vende frequentemente software, serviços profissionais razoabilidade dos cálculos por elas realizados para determinar os preços de venda individuais.
e de manutenção, em conjunto, a preços que variam bastante. A entidade também vende serviços
profissionais e de manutenção individualmente, a preços relativamente estáveis. Os Comitês
indicaram que pode ser apropriado estimar o preço de venda individual para o software usando o 6.1.3 Atualização dos preços de venda individuais
método residual. Ou seja, o preço estimado para o software seria a diferença entre o total do preço A norma IFRS 15 não aborda especificamente a frequência com a qual os preços de venda individuais
da transação e o preço de venda estimado dos serviços profissionais e de manutenção (vide devem ser atualizados. Por outro lado, ela indica que uma entidade deve fazer essa estimativa para
Exemplo 34, Casos B e C, na Seção 6.4 para exemplos de quando o método residual pode ou não cada transação, o que sugere atualização constante dos preços.
pode ser apropriado).
Na prática, prevemos que as entidades serão capazes de considerar os seus próprios fatos e
Ao aplicar a IFRS 15, uma entidade pode precisar usar uma combinação desses (ou outros) métodos circunstâncias para determinar a frequência com que precisarão atualizar as suas estimativas. Se, por
para estimar o preço de venda individual. Ela menciona situações em que duas ou mais obrigações de exemplo, as informações utilizadas para estimar os preços de venda individuais para transações
desempenho têm preços individuais altamente variáveis ou incertos. Por exemplo, assume-se que semelhantes não tiverem mudado, uma entidade pode determinar que seria razoável utilizar o preço
uma entidade celebra um acordo com cinco obrigações de desempenho, duas das quais têm preços de venda individual anteriormente estimado. Contudo, para assegurar que mudanças nas
altamente variáveis. A entidade pode usar o método residual para determinar o valor total a ser circunstâncias sejam oportunamente refletidas na estimativa, prevemos que uma entidade atualizaria
alocado às duas obrigações de desempenho altamente variáveis. Assim, ela pode usar outro método formalmente a estimativa regularmente (por exemplo, mensal, trimestral e semestralmente).
para determinar como alocar o valor total entre as duas obrigações de desempenho.
A frequência das atualizações deve ser baseada nos fatos e circunstâncias da obrigação de
Independentemente se a entidade usa um método único ou uma combinação de métodos para desempenho para a qual a estimativa é feita. Uma entidade utiliza informações atuais cada vez que
estimar o preço de venda individual, a entidade avaliaria se a alocação resultante do preço da desenvolve ou atualiza a sua estimativa. Ainda que as estimativas possam ser atualizadas, o método
transação é consistente com o objetivo geral de alocação e as exigências para estimar os preços utilizado para estimar o preço de venda individual não muda (ou seja, uma entidade deve utilizar um
de venda individuais. método consistente), a não ser que haja mudança nos fatos e circunstâncias.

De acordo com a IFRS 15, uma entidade deve fazer uma estimativa razoável do preço de venda
6.1.4 Considerações adicionais para determinar o preço de venda individual
individual para cada obrigação de desempenho. Ao desenvolver essa exigência, os Comitês
acreditavam que, mesmo em situações em que as informações disponíveis fossem limitadas, as Ainda que não expressamente dito na IFRS 15, prevemos que um mesmo bem ou serviço poderia ter
entidades deveriam ter informações suficientes para desenvolver uma estimativa razoável. mais de um preço de venda individual. Ou seja, a entidade pode desejar vender bens ou serviços por
preços diferentes a diferentes clientes. Além disso, um fornecedor pode usar diferentes preços em
diferentes regiões geográficas ou mercados onde utiliza diferentes métodos para distribuir os seus
produtos (por exemplo, uso de um distribuidor ou revendedor em vez da venda direta ao cliente final).
Assim, um fornecedor pode necessitar estratificar a sua análise para determinar o seu preço de venda
individual para cada classe de cliente.

Além disso, pode ser apropriado, dependendo dos fatos e circunstâncias, para uma entidade
desenvolver uma faixa razoável de valores para o seu preço de venda individual estimado, em vez de
um único valor estimado.

Quando uma entidade estima o preço de venda individual, a norma esclarece que a entidade não pode
assumir que um preço contratualmente declarado ou um preço de lista de preços para um bem ou
serviço seja o preço de venda individual.

84 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 85
serviços adicionais opcionais com as obrigações de desempenho já identificadas no contrato e
Extraído da IFRS 15
incluindo a contraprestação relativa aos bens ou serviços opcionais no preço da transação estimado.

Exemplo 33 – Metodologia de alocação (IFRS 15.IE164-IE166) O exemplo a seguir ilustra os dois métodos possíveis para a avaliação de opções incluídas no acordo:
Uma entidade celebra um contrato com um cliente para vender os Produtos A, B e C em troca de UM
100. A entidade irá satisfazer as obrigações de desempenho para cada um dos produtos em diferentes Exemplo 6-1 — Contabilização de uma opção
momentos. A entidade vende regularmente o Produto A separadamente e, assim, o preço de venda
individual é diretamente observável. Os preços de venda individuais dos Produtos B e C não são Um prestador de serviços de manutenção de máquinas oferece uma promoção a novos clientes que pagam
diretamente observáveis. o preço integral do serviço no primeiro ano da cobertura de manutenção, concedendo-lhes uma opção de
Uma vez que os preços de venda individuais dos Produtos B e C não são diretamente observáveis, a renovação dos seus serviços por até dois anos com desconto. A entidade vende regularmente a cobertura de
entidade deve estimá-los. Para estimar os preços de venda individuais, a entidade usa o método de avaliação manutenção por UM 750 por ano. Com a promoção, o cliente seria capaz de renovar a manutenção de um
de mercado ajustada para o Produto B e o método do custo esperado mais margem para o Produto C. Ao ano no final de cada ano por UM 600. A entidade conclui que a capacidade de renovar é um direito material
fazer essas estimativas, a entidade maximiza o uso de dados observáveis (de acordo com o item 78 da IFRS porque o cliente receberia um desconto que ultrapassa qualquer desconto disponível aos outros clientes. A
15). A entidade estima os preços de venda individuais da seguinte forma: entidade determina também que não existe nenhum preço de venda individual observável para a opção de
renovação com desconto.
Produto Preço de Método
Cenário A – Estimativa do preço de venda individual da opção
venda
individual Uma vez que a entidade não tem nenhuma evidência diretamente observável do preço de venda individual
para a opção de renovação, ela estima o preço de venda individual de uma opção para um desconto de
Produto A 50 Diretamente observável (vide item 77 da IFRS 15)
UM 150 na renovação do serviço no segundo e terceiro anos. Ao desenvolver a sua estimativa, a entidade
Produto B 25 Método da avaliação de mercado ajustada [vide consideraria fatores como, por exemplo, a probabilidade de a opção ser exercida, o valor do dinheiro no
item 79(a) da IFRS 15] tempo (uma vez que o desconto somente estará disponível em períodos futuros) e o preço de ofertas com
Produto C 75 Método do custo esperado mais margem [vide item desconto comparáveis. Por exemplo, a entidade pode considerar o preço de venda de uma oferta para o preço
79(b) da IFRS 15] com desconto de serviços semelhantes, encontrados em um site na internet de “oportunidades do dia”.
Total 150 A opção será então incluída na alocação do preço de venda relativo. Nesse exemplo, haverá duas obrigações
O cliente recebe um desconto para a compra do conjunto de bens, uma vez que a soma dos preços de de desempenho: um ano de serviços de manutenção; e uma opção para renovação com desconto. A
venda individuais (UM 150) ultrapassa a contraprestação prometida (UM 100). A entidade considera se tem contraprestação de UM 750 é alocada entre essas duas obrigações de desempenho distintas com base nos
evidência observável sobre a obrigação de desempenho à qual o desconto integral pertence (de acordo com seus preços de venda relativos.
o item 82 da IFRS 15) e conclui que não tem. Consequentemente, de acordo com os itens 76 e 81 da IFRS
15, o desconto é alocado proporcionalmente aos Produtos A, B e C. O desconto e, consequentemente, o Cenário B – Assumindo o exercício da opção
preço da transação são alocados da seguinte forma: Assume-se que a entidade opta por avaliar a transação assumindo que o cliente irá exercer a opção. Segundo
essa alternativa, a entidade inclui os proventos associados à opção (assumindo que seja exercida) no preço
Produto Preço da
da transação e inclui os períodos de serviço opcionais nas obrigações de desempenho identificadas.
transação
alocado Assume-se que a entidade obtém 100 novos clientes na promoção. Com base na sua experiência, a
entidade prevê redução anual de clientes de 50% após considerar o efeito previsto do desconto de UM
Produto A 33 (UM 50 ÷ UM 150 × UM 100)
150. A entidade conclui que não é altamente provável que uma reversão significativa de receita não
Produto B 17 (UM 25 ÷ UM 150 × UM 100) ocorrerá. Assim, a entidade conclui que, para essa carteira de novos contratos, ela fornecerá serviços
Produto C 50 (UM 75 ÷ UM 150 × UM 100) de manutenção para todos os 100 clientes no primeiro ano, 50 clientes no segundo ano e 25 clientes no
Total 100 terceiro ano (um total de 175 contratos de manutenção).

A contraprestação total que a entidade espera receber é de UM 120.000 [(100 x UM 750) + (50 x UM
600) + (25 x UM 600)]. Assumindo-se que o preço de venda individual para cada período do contrato
de manutenção seja o mesmo, a entidade aloca UM 685,71 (UM 120.000 / 175) a cada contrato de
6.1.5 Mensuração de opções que são obrigações de desempenho separadas
manutenção vendido.
Uma entidade que determina que uma opção é uma obrigação de desempenho separada (uma vez
que a opção fornece ao cliente um direito material, conforme discutido na Seção 4.6) precisa A entidade reconheceria receita relacionada com os serviços de manutenção à medida que os serviços
forem prestados. Durante o primeiro ano, a entidade reconheceria receita de UM 68.571 (100 contratos de
determinar o preço de venda individual da opção. Se o preço de venda individual da opção não for
manutenção vendidos x preço alocado de UM 685,71 por contrato de manutenção) e receita diferida de UM
diretamente observável, a entidade o estima, levando em consideração o desconto que o cliente
6.429 (UM 75.000 recebidos à vista menos UM 68.571 de receita reconhecida).
receberia em uma transação individual e a probabilidade de o cliente exercer a opção.
Se as renovações efetivas nos anos dois e três diferirem das expectativas, a entidade teria que atualizar as
A IFRS 15 fornece uma alternativa para estimar o preço de venda individual de uma opção se o valor suas estimativas.
não for observável. Essa alternativa prática se aplica quando os bens ou serviços forem
cumulativamente: (1) semelhantes aos bens e serviços originais no contrato; e (2) fornecidos de
acordo com os termos do contrato original. A norma indica que essa alternativa abrangerá geralmente O que muda com relação às normas IFRS atuais?
opções para a renovação do contrato. Segundo essa alternativa, em vez de avaliar a opção A exigência para identificar e alocar a contraprestação do acordo a uma opção com base no preço de
propriamente dita, uma entidade pode assumir que a opção será exercida, incluindo os bens e venda individual relativo será provavelmente uma mudança significativa na prática para diversas
entidades que preparam demonstrações financeiras segundo as normas IFRS.

86 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 87
Para entidades que desenvolveram as suas políticas contábeis para a alocação de receita em um 6.3 Alocação de contraprestação variável
acordo de múltiplos elementos com base em US GAAP, as exigências são geralmente consistentes A norma fornece duas exceções para o método do preço de venda relativo de alocação do preço
com as atuais exigências na ASC 605-25. Contudo, a ASC 605-25 requer que a entidade estime o da transação.
preço de venda da opção (exceto se exista outra evidência objetiva do preço de venda) e não fornece o
método alternativo de assumir que a opção será exercida. A primeira se refere à alocação da contraprestação variável (vide Seção 6.4 para a segunda exceção).
Essa exceção permite que a contraprestação variável seja alocada integralmente a uma parte
6.2 Aplicação do método de preço de venda individual relativo específica de um contrato, como, por exemplo, a uma ou mais (mas não a todas) as obrigações de
desempenho no contrato ou a um ou mais (mas não a todos) os bens distintos ou serviços prometidos
Após a entidade ter determinado o preço de venda individual para os bens e serviços separados em
em uma série de bens distintos ou serviços que formam parte de uma obrigação de desempenho
um acordo, a entidade aloca o preço da transação a essas obrigações de desempenho. A norma
única (vide Seção 4.2.2). A norma permite a aplicação dessa exceção a uma única obrigação de
requer que uma entidade use o método do preço de venda individual relativo para alocar o preço da
desempenho, a uma combinação de obrigações de desempenho ou a bens distintos ou serviços que
transação, exceto nas duas circunstâncias específicas (contraprestação variável e descontos), que são
formam parte de uma obrigação de desempenho.
descritas nas Seções 6.3 e 6.4 abaixo.
Dois critérios devem ser satisfeitos para aplicar essa exceção, como segue:
Segundo o método do preço de venda individual relativo, o preço da transação é alocado a cada
obrigação de desempenho separada, com base na proporção do preço de venda individual de cada
obrigação de desempenho em relação à soma dos preços de venda individuais de todas as obrigações Extraído da IFRS 15
de desempenho no acordo.
84. A contraprestação variável prometida em um contrato pode ser atribuível a todo o contrato ou a uma
O que muda com relação às normas IFRS atuais? parte específica do contrato, como, por exemplo, um dos seguintes itens:

O método de alocação na IFRS 15 não é significativamente diferente do mecanismo de aplicação dos (a) uma ou mais, mas não todas, obrigações de desempenho no contrato (por exemplo, um bônus pode
métodos atuais, como, por exemplo, um método do valor justo relativo. Contudo, a metodologia pode ser contingente por depender da transferência pela entidade de um bem ou serviço prometido,
dentro de um período de tempo especificado); ou
ser complicada quando uma entidade aplica uma ou ambas as exceções previstas na IFRS 15
(descritas nas Seções 6.3 e 6.4 abaixo). (b) um ou mais, mas não todos, bens distintos ou serviços prometidos em uma série de bens distintos
ou serviços que é parte de uma única obrigação de desempenho, de acordo com o item 22(b) (por
Fornecemos o seguinte exemplo de uma alocação do preço de venda individual relativo: exemplo, a contraprestação prometida para o segundo ano de um contrato de serviço de limpeza
de dois anos aumentará com base na variação de um índice de inflação especificado).

Exemplo 6-2 — Alocação do preço de venda individual relativo 85. Uma entidade deve alocar um valor variável (e variações subsequentes desse valor) integralmente a
uma obrigação de desempenho ou a um bem distinto ou serviço que é parte de uma única obrigação de
desempenho, de acordo com o item 22(b), se os dois critérios abaixo forem satisfeitos:
A Manufacturing Co. celebrou um contrato com um cliente para vender uma máquina de UM 100.000. O
preço total do contrato incluiu a instalação da máquina e uma garantia estendida de dois anos. Assume-se (a) os termos de um pagamento variável se referem especificamente aos esforços da entidade para
que a Manufacturing Co. determinou que há três obrigações de desempenho distintas e que os preços de satisfazer a obrigação de desempenho ou transferir o bem distinto ou serviço (ou a um resultado
venda individuais dessas obrigações de desempenho são os seguintes: máquina – UM 75.000, serviços de específico da satisfação da obrigação de desempenho ou transferência do bem distinto ou serviço); e
instalação – UM 14.000 e garantia estendida – UM 20.000.
(b) a alocação do valor variável da contraprestação integralmente à obrigação de desempenho ou ao
O valor total dos preços de venda individuais (UM 109.000) ultrapassa o preço da transação total de bem distinto ou serviço é consistente com o objetivo de alocação no item 73, ao considerar todas
UM 100.000. Além disso, o acordo prevê um desconto. Esse desconto deve ser alocado a cada uma as obrigações de desempenho e termos de pagamento no contrato.
das obrigações de desempenho, com base no preço de venda individual relativo de cada obrigação
86. As exigências de alocação no item 73-83 devem ser aplicadas para alocar o valor remanescente do
de desempenho. Assim, o valor do preço da transação de UM 100.000 é alocado a cada obrigação de preço da transação que não satisfaz os critérios do item 85.
desempenho da seguinte forma:

Máquina – UM 68.807 [UM 75.000 x (UM 100.000 / UM 109.000)]


O texto da IFRS 15.85 na transcrição acima subentende que essa exceção é limitada a uma única
Instalação – UM 12.844 [UM 14.000 x (UM 100.000 / UM 109.000)]
obrigação de desempenho ou a um bem distinto ou serviço, já a IFRS 15.84 indica que a
Garantia – UM 18.349 [UM 20.000 x (UM 100.000 / UM 109.000)] contraprestação variável pode ser alocada a “uma ou mais, mas não todas, obrigações de
desempenho”. Entendemos que os Conselhos optaram por utilizar a convenção, ao longo da norma,
A entidade reconheceria como receita o valor alocado a cada obrigação de desempenho quando (ou à
medida que) cada obrigação de desempenho for satisfeita.
de usar a referência uma única vez, em vez de repetir “uma ou mais, mas não todas” na parte
remanescente da discussão. Esse entendimento é consistente com a IFRS 15.84.

Os Conselhos salientaram na Base para Conclusões que essa exceção é necessária, uma vez que pode
haver transações em que a alocação de valores contingentes a todas as obrigações de desempenho
em um contrato fornece um resultado que não reflete os aspectos econômicos da transação.49 Nessas
situações, a alocação da contraprestação variável integralmente a um bem distinto ou serviço pode
ser apropriada quando o resultado é o de que o valor alocado a esse bem ou serviço específico é
razoável em relação a todas as obrigações de desempenho e termos de pagamento no contrato.
Variações subsequentes na contraprestação variável devem ser alocadas de forma consistente.

49 IFRS 15.BC278.

88 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 89
É importante notar que a alocação da contraprestação variável a uma ou mais, mas não todas,
Extraído da IFRS 15 (continuação)
obrigações de desempenho é uma exigência, não uma política eletiva. Se os critérios acima forem
satisfeitos, a entidade deve alocar a contraprestação variável à(s) correspondente(s) obrigação(ões)
A entidade aloca o preço da transação de UM 300 às Licenças X e Y com base nos preços de venda
de desempenho.
individuais de UM 800 e UM 1.000, respectivamente. A entidade aloca também a contraprestação relativa
A norma fornece o seguinte exemplo para ilustrar quando uma entidade pode ou não ser capaz de aos royalties baseada no volume de vendas com base no preço de venda individual relativo. Contudo,
de acordo com o item B63 da IFRS 15, quando uma entidade licencia propriedade intelectual em que a
alocar contraprestação variável a uma parte específica de um contrato. Note-se que o exemplo dá
contraprestação é do tipo de royalties com base no volume de vendas, a entidade não pode reconhecer
ênfase a licenças de propriedade intelectual, que são discutidas na Seção 8.4:
receita até a data de ocorrência mais tardia de um dos seguintes eventos: as vendas subsequentes ocorrem
ou a obrigação de desempenho é satisfeita (ou parcialmente satisfeita).
Extraído da IFRS 15 A Licença Y é transferida ao cliente na data da assinatura do contrato, e a Licença X é transferida três
meses depois. Quando a Licença Y é transferida, a entidade reconhece como receita o valor de UM 167 (UM
Exemplo 35 – Alocação de contraprestação variável (IFRS 15.IE178-IE187) 1.000 ÷ UM 1.800 × UM 300) alocado à Licença Y. Quando a Licença X é transferida, a entidade reconhece
como receita o valor de UM 133 (UM 800 ÷ UM 1.800 × UM 300) alocado à Licença X.
Uma entidade celebra um contrato com um cliente para duas licenças de propriedade intelectual (Licenças X e
Y), que a entidade determina que representam duas obrigações de desempenho satisfeitas em um determinado No primeiro mês, os royalties devidos com base no primeiro mês de vendas do cliente são de UM 200.
momento. Os preços de venda individuais das Licenças X e Y são de UM 800 e UM 1.000, respectivamente. Consequentemente, de acordo com o item B63 da IFRS 15, a entidade reconhece como receita o valor de UM
111 (UM 1.000 ÷ UM 1.800 × UM 200) alocado à Licença Y (que foi transferida ao cliente, sendo assim uma
Caso A – Contraprestação variável alocada integralmente a uma obrigação de desempenho
obrigação de desempenho satisfeita). A entidade reconhece um passivo de contrato pelo valor de UM 89 (UM
O preço declarado no contrato para a Licença X é o valor fixo de UM 800 e, para a Licença Y, a 800 ÷ UM 1.800 × UM 200) alocado à Licença X. Isso porque, ainda que a venda subsequente pelo cliente da
contraprestação é de 3% das vendas futuras do cliente de produtos que usam a Licença Y. Para os fins de entidade tenha ocorrido, a obrigação de desempenho à qual os royalties foram alocados não foi satisfeita.
alocação, a entidade estima que os seus royalties com base no volume de vendas (ou seja, contraprestação
variável) são de UM 1.000, de acordo com o item 53 da IFRS 15.

Para alocar o preço da transação, a entidade considera os critérios no item 85 da IFRS 15 e conclui 6.4 Alocação de um desconto A alocação
que a contraprestação variável (ou seja, os royalties com base no volume de vendas) deve ser alocada Outra exceção para a alocação do preço de venda individual relativo (vide Seção 6.3 para a de descontos
integralmente à Licença Y. A entidade conclui que os critérios no item 85 da IFRS 15 são satisfeitos pelos primeira exceção) se refere a descontos inerentes a um contrato. Quando uma entidade vende um a uma única
seguintes motivos:
conjunto de bens e serviços, o preço de venda do conjunto é frequentemente inferior à soma dos obrigação de
(a) o pagamento variável se refere especificamente a um resultado da obrigação de desempenho de preços de venda individuais dos elementos individuais. Segundo o método da alocação do preço de desempenho
transferir a Licença Y (ou seja, as vendas subsequentes do cliente de produtos que usam a Licença Y). venda individual relativo, esse desconto seria alocado proporcionalmente a todas as obrigações de de acordo com
(b) a alocação dos valores esperados de royalties de UM 1.000 integralmente à Licença Y é consistente desempenho separadas.
a nova norma
com o objetivo de alocação no item 73 da IFRS 15. Isso se deve porque a estimativa da entidade
Contudo, a norma afirma que se uma entidade verificar que um desconto em um acordo não está representa
do valor dos royalties com base no volume de vendas (UM 1.000) se aproxima do preço de venda
individual da Licença Y e o valor fixo de UM 800 se aproxima do preço de venda individual da relacionado a todos os bens ou serviços prometidos no acordo, a entidade apenas aloca o desconto uma mudança
Licença X. A entidade aloca UM 800 à Licença X, de acordo com o item 86 da IFRS 15. Isso porque, aos bens ou serviços aos quais se refere. Uma entidade faria essa verificação quando o preço de significativa
com base na avaliação dos fatos e circunstâncias relativos às duas licenças, a alocação à Licença Y determinados bens ou serviços for amplamente independente de outros bens ou serviços no contrato. em relação à
de parte da contraprestação fixa, além de toda a contraprestação variável, não satisfaria o objetivo Nessas situações, uma entidade seria capaz de efetivamente “cindir” uma obrigação de desempenho atual prática.
de alocação no item 73 da IFRS 15. individual, ou algumas das obrigações de desempenho no acordo, e alocar o desconto a essa
A entidade transfere a Licença Y na data da assinatura do contrato e transfere a Licença X um mês depois. obrigação de desempenho ou grupo de obrigações de desempenho.
Na transferência da Licença Y, a entidade não reconhece receita porque a contraprestação alocada à
Licença Y não é do tipo de royalties com base no volume de vendas. Assim, de acordo com o item B63 da A norma diz o seguinte:
IFRS 15, a entidade reconhece receita pelos royalties com base em volume de vendas quando as vendas
subsequentes ocorrerem. Extraído da IFRS 15
Quando a Licença X é transferida, a entidade reconhece como receita o valor de UM 800 alocado à Licença X.
82. Uma entidade deve alocar um desconto integralmente a uma ou mais, mas não todas, obrigações de
Caso B – Contraprestação variável alocada com base nos preços de venda individuais desempenho no contrato se todos os critérios abaixo forem satisfeitos:

O preço declarado no contrato para a Licença X é o valor fixo de UM 300 e, para a Licença Y, a (a) a entidade regularmente vende cada bem ou serviço (ou cada conjunto de bens ou serviços distintos)
contraprestação é de 5% das vendas futuras do cliente de produtos que usam a Licença Y. A estimativa da no contrato em bases independentes;
entidade para os royalties com base no volume de vendas (ou seja, a contraprestação variável) é de UM
(b) a entidade também vende regularmente em bases independentes um conjunto (ou conjuntos) de
1.500, de acordo com o item 53 da IFRS 15.
alguns desses bens ou serviços distintos com desconto sobre os preços de venda individuais dos bens
Para alocar o preço da transação, a entidade aplica os critérios no item 85 da IFRS 15 para determinar se ou serviços em cada conjunto; e
deve alocar a contraprestação variável (ou seja, os royalties com base no volume de vendas) integralmente
(c) o desconto atribuível a cada conjunto de bens ou serviços descritos no item 82(b) é substancialmente
à Licença Y. Ao aplicar os critérios, a entidade conclui que, apesar de os pagamentos variáveis se referirem
especificamente a um resultado da obrigação de desempenho de transferir a Licença Y (ou seja, as vendas o mesmo que o desconto no contrato, e uma análise dos bens ou serviços em cada conjunto fornece
subsequentes do cliente de produtos que usam a Licença Y), a alocação da contraprestação variável evidência observável da obrigação de desempenho (ou obrigações de desempenho) à qual todo o
integralmente à Licença Y seria inconsistente com o princípio para a alocação do preço da transação. A alocação desconto no contrato pertence.
de UM 300 à Licença X e UM 1.500 à Licença Y não reflete uma alocação razoável do preço da transação
com base nos preços de venda individuais das Licenças X e Y de UM 800 e UM 1.000, respectivamente.
Consequentemente, a entidade aplica as exigências de alocação gerais nos itens 76-80 da IFRS 15.

90 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 91
Ao passo que a norma afirma que uma entidade pode alocar um desconto a apenas uma obrigação de
Extraído da IFRS 15 (continuação)
desempenho, os Comitês esclarecem, na Base para Conclusões, que acreditam que essa situação seria
rara.50 Por outro lado, os Comitês acreditam que é mais provável que uma entidade será capaz de
Caso B – O método residual é apropriado
demonstrar que um desconto se refere a duas ou mais obrigações de desempenho. Isso porque uma
entidade terá provavelmente dados observáveis de base para que o preço de venda individual de um A entidade celebra um contrato com um cliente para vender os Produtos A, B e C conforme descrito
grupo de bens ou serviços seja inferior aos preços desses itens quando vendidos separadamente. no Caso A. O contrato inclui também uma promessa de transferir o Produto D. A contraprestação total
Seria provavelmente mais difícil para uma entidade ter evidência suficiente para demonstrar que um no contrato é de UM 130. O preço de venda individual para o Produto D é altamente variável [vide item
desconto está associado a uma única obrigação de desempenho. 79(c) da IFRS 15], uma vez que a entidade vende o Produto D a diferentes clientes por uma ampla gama
de valores (UM 15-UM 45). Consequentemente, a entidade decide estimar o preço de venda individual do
A norma inclui o seguinte exemplo para ilustrar esse conceito: Produto D usando o método residual.

Antes de estimar o preço de venda individual do Produto D usando o método residual, a entidade determina
se qualquer desconto deve ser alocado às outras obrigações de desempenho no contrato, de acordo com os
Extraído da IFRS 15
itens 82 e 83 da IFRS 15.

Exemplo 34 – Alocação de um desconto (IFRS 15.IE167-IE177) Como no Caso A, uma vez que a entidade regularmente vende os Produtos B e C juntos por UM 60 e
o Produto A por UM 40, ela tem evidência observável de que UM 100 devem ser alocados a esses três
Uma entidade regularmente vende os Produtos A, B e C individualmente e estabelece os seguintes preços produtos e um desconto de UM 40 deve ser alocado às promessas de transferir os Produtos B e C, de acordo
de venda independentes: com o item 82 da IFRS 15. Usando o método residual, a entidade estima que o preço de venda individual do
Produto D é de UM 30, como segue:
Produto Preço de venda individual

UM
Produto Preço de venda Método
Produto A 40
independente
Produto B 55 UM
Produto C 45 Produto A 40 Diretamente observável (vide item 77 da IFRS 15)
Total 140
Produto B e C 60 Diretamente observável com desconto (vide item 82 da
IFRS 15)

Além disso, a entidade regularmente vende os Produtos B e C em conjunto por UM 60. Produto D 30 Método residual [vide item 79(c) da IFRS 15]
Total 130
Caso A – Alocação de um desconto a uma ou mais obrigações de desempenho

A entidade celebra um contrato com um cliente para vender os Produtos A, B e C em troca de UM 100. A A entidade observa que os UM 30 resultantes alocados ao Produto D estão dentro da faixa dos seus preços
entidade satisfará as obrigações de desempenho para cada um dos produtos em diferentes momentos. de venda observáveis (UM 15-UM 45). Assim, a alocação resultante (vide tabela acima) é consistente com o
objetivo de alocação no item 73 da IFRS 15 e as exigências do item 78 da IFRS 15.
O contrato inclui um desconto de UM 40 sobre a transação, que seria alocado proporcionalmente a
todas as três obrigações de desempenho, ao alocar o preço da transação usando o método do preço de Caso C – O método residual não é apropriado
venda individual relativo (de acordo com o item 81 da IFRS 15). Contudo, uma vez que a entidade vende
Os mesmos fatos como no Caso B se aplicam ao Caso C, exceto que o preço da transação é de UM 105,
regularmente os Produtos B e C juntos por UM 60 e o Produto A por UM 40, ela tem evidência de que todo o
em vez de UM 130. Consequentemente, a aplicação do método residual resultaria em um preço de venda
desconto deve ser alocado às promessas de transferir os Produtos B e C de acordo com o item 82 da IFRS 15.
individual de UM 5 para o Produto D (UM 105 do preço da transação menos o valor de UM 100 alocado
Se a entidade transfere o controle dos Produtos B e C ao mesmo tempo, então a entidade poderia, como uma aos Produtos A, B e C). A entidade conclui que UM 5 não retratariam fielmente o valor da contraprestação
questão prática, contabilizar a transferência desses produtos como uma única obrigação de desempenho. à qual a entidade espera ter direito por satisfazer a sua obrigação de desempenho de transferir o Produto
Ou seja, a entidade poderia alocar UM 60 do preço da transação a uma única obrigação de desempenho e D, uma vez que UM 5 não se aproximam do preço de venda individual do Produto D, que vai de UM 15 a
reconhecer receita de UM 60 quando os Produtos B e C forem simultaneamente transferidos ao cliente. UM 45. Consequentemente, a entidade revisa os seus dados observáveis, inclusive os relatórios sobre
vendas e margens, para estimar o preço de venda individual do Produto D usando outro método adequado.
Se o contrato requer que a entidade transfira o controle sobre os Produtos B e C em diferentes momentos,
A entidade aloca o preço da transação de UM 130 aos Produtos A, B, C e D usando os preços de venda
então o valor alocado de UM 60 é individualmente alocado às promessas de transferir o Produto B (com
individuais relativos desses produtos, de acordo com os itens 73-80 da IFRS 15.
preço de venda individual de UM 55) e o Produto C (com preço de venda individual de UM 45), da seguinte
forma:
Produto Preço da transação alocado
Conforme ilustrado no exemplo acima, essa exceção também permite que apenas uma parcela do
desconto total de um acordo seja alocada diretamente a um conjunto de alguns, mas não todos,
UM elementos de um acordo. Ou seja, no Cenário B descrito acima, parte do desconto inerente ao
Produto B 33 (UM 55 ÷ UM 100 preço de venda individual total × UM 60) acordo é alocada aos Produtos B e C, com base no preço descontado pelo qual o conjunto é
Produto c 27 (UM 45 ÷ UM 100 preço de venda individual total × UM 60) regularmente vendido. Qualquer desconto remanescente no acordo é alocado ao Produto D, com
base no método residual.
Total 60

50 IFRS 15.BC283.

92 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 93
O que muda em relação às normas IFRS atuais? Exemplo 6-3 — Acordos com componentes que devem ser contabilizados pelo valor justo
A capacidade de alocar um desconto a algumas, mas não todas, obrigações de desempenho em um
acordo com múltiplos elementos representa uma mudança significativa em relação à atual prática. A Companhia A, uma produtora de petróleo, concorda em vender 1.200 barris de petróleo ao Cliente B e
Essa exceção dá às entidades a capacidade de refletir melhor os aspectos econômicos da transação os entrega imediatamente. Como parte do acordo, a Companhia A também subscreve uma opção para a
em determinadas circunstâncias. Contudo, os critérios que devem ser satisfeitos para demonstrar que Companhia B comprar 1.000 barris adicionais de petróleo em seis meses. A opção é contabilizada como
um desconto está associado apenas a algumas obrigações de desempenho no acordo limitarão um derivativo dentro do escopo da IAS 39 (assume-se para os fins deste exemplo que os critérios de uso
provavelmente o número das transações que serão elegíveis para essa exceção. próprio não são satisfeitos).

O preço da transação total é de UM 50.000. O preço de venda individual do petróleo entregue e o valor
6.5 Mudanças no preço da transação após a data da assinatura do contrato justo da opção são de UM 48.000 e UM 7.000, respectivamente.

Mudanças no preço total da transação são alocadas às obrigações de desempenho separadas nas Análise
mesmas bases que na alocação inicial, sejam elas alocadas com base no preço de venda relativo (ou A IAS 39 requer que derivativos sejam inicialmente reconhecidos e subsequentemente remensurados ao
seja, usando a mesma parcela proporcional do total) ou nas obrigações de desempenho individuais, valor justo (sendo as mudanças reconhecidas no resultado). Assim, uma parcela do preço da transação igual
conforme discutido acima. Como foi mencionado na Seção 6.1, os preços de venda individuais não ao valor justo da opção é alocada ao derivativo. A alocação do preço da transação total é a seguinte:
são atualizados após a data da assinatura do contrato.
Preço de venda e % Desconto % Desconto alocado Alocação da
Contudo, se o contrato for modificado, as exigências relativas a modificações de contratos na IFRS valor justo alocado contraprestação
do acordo
15.18-21 devem ser seguidas. Dependendo dos fatos e circunstâncias, isso pode resultar na
necessidade de atualizar os preços de venda independentes (vide Seção 3.3 para uma discussão sobre Petróleo UM 48.000 100% UM 5,000 UM 43.000
modificações de contratos). Mudanças no preço da transação resultante da modificação estariam
Opção 7.000 0% — 7.000
também sujeitas a essas exigências.
UM 55.000 UM 5,000 UM 50.000
Contudo, quando os acordos incluírem contraprestação variável, é possível que mudanças no preço da
transação resultantes após a modificação podem (ou não) ser relacionadas às obrigações de
desempenho que existiam antes da modificação. Para mudanças no preço da transação resultantes
Para componentes que devem ser reconhecidos a valor justo na data da assinatura do contrato,
após a modificação do contrato, quando a modificação do contrato não for tratada como um contrato
qualquer remensuração seria feita de acordo com outras normas IFRS (por exemplo, IFRS 9 ou
separado, uma entidade deve aplicar um dos seguintes métodos:
IAS 39). Ou seja, ajustes subsequentes do valor justo desses componentes não têm nenhum efeito
•• Se a mudança no preço da transação for atribuível a um valor de contraprestação variável sobre o valor do preço da transação anteriormente alocado a quaisquer obrigações de desempenho
prometida antes da modificação e a modificação for considerada uma rescisão do contrato existente incluídas no acordo ou sobre a receita reconhecida.
e criação de um novo contrato, a entidade aloca a mudança no preço da transação às obrigações de
desempenho que existiam antes da modificação.

•• Em todos os demais casos, a mudança no preço da transação é alocada às obrigações de


desempenho no contrato modificado (ou seja, às obrigações de desempenho que não foram
satisfeitas e às parcialmente não satisfeitas imediatamente após a modificação).

6.6 Alocação do preço da transação a componentes fora do escopo da IFRS 15


Contratos para a venda de bens ou serviços frequentemente contêm múltiplos elementos, inclusive
alguns que não estão no escopo da IFRS 15. Conforme discutido mais detalhadamente na Seção 2.3,
a norma indica que, nessas situações, uma entidade deve primeiramente aplicar as outras normas se
essas normas abordam separação e/ou mensuração.

Por exemplo, algumas normas requerem que determinados componentes, como, por exemplo,
derivativos, sejam contabilizados pelo valor justo. Como resultado, quando um contrato de receita
incluir esse tipo de componente, o valor justo desse componente deve ser separado do preço da
transação total. O preço da transação remanescente é então alocado às obrigações de desempenho
restantes. A norma inclui o seguinte exemplo para ilustrar esse conceito:

94 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 95
7 Satisfação das obrigações de desempenho 7.1.1 O cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios à medida que
a entidade desempenha
Segundo a IFRS 15, uma entidade apenas reconhece receita quando satisfaz uma obrigação de
A IFRS 15 afirma o seguinte em relação ao primeiro critério, que é o do recebimento e consumo
desempenho identificada transferindo um bem ou serviço prometido a um cliente. Um bem ou serviço
simultâneo dos benefícios do desempenho da entidade:
é geralmente considerado transferido quando o cliente obtém o seu controle.

O reconhecimento de receita no momento da transferência do controle representa uma abordagem Extraído da IFRS 15
diferente do atual modelo de “riscos e benefícios” nas normas IFRS. A IFRS 15 afirma que “controle
de um ativo se refere à capacidade de dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios B3. Para alguns tipos de obrigações de desempenho, a avaliação de se o cliente recebe os benefícios do
remanescentes do ativo”.51 Controle também significa a capacidade de impedir que outros dirijam o desempenho de uma entidade à medida que a entidade desempenha e simultaneamente consome
uso e recebam os benefícios de um bem ou serviço. esses benefícios conforme forem recebidos será simples e direta. Exemplos incluem serviços de rotina
ou recorrentes (como serviço de limpeza) em que o recebimento e o consumo simultâneo pelo cliente
Segundo a IFRS 15, a transferência do controle a um cliente representa a transferência dos direitos dos benefícios do desempenho da entidade podem ser prontamente identificados.
relativos ao bem ou serviço. A capacidade de o cliente receber os benefícios do bem ou serviço é
B4. Para outros tipos de obrigações de desempenho, uma entidade pode não ser capaz de identificar
representada por seu direito a substancialmente todos os fluxos de entrada de caixa, ou à redução dos
prontamente se um cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios do desempenho da
fluxos de saída de caixa, gerados pelos bens ou serviços. No momento da transferência de controle, o
entidade à medida que a entidade desempenha. Nessas circunstâncias, a obrigação de desempenho
cliente é o único possuidor do direito de uso do bem ou serviço durante a sua vida econômica é satisfeita ao longo do tempo se uma entidade verifica que outra entidade não precisaria refazer
remanescente ou de consumir o bem ou serviço nas suas próprias operações. substancialmente o trabalho que a entidade concluiu até a data, se a outra entidade tivesse que
cumprir a obrigação de desempenho remanescente perante o cliente. Ao determinar se outra entidade
A norma indica que uma entidade deve determinar, na data da assinatura do contrato, se transferirá o
não precisaria refazer substancialmente o trabalho que a entidade concluiu até a data, uma entidade
controle de um bem ou serviço prometido ao longo do tempo. Se uma entidade não satisfaz uma deve adotar as duas premissas abaixo:
obrigação de desempenho ao longo do tempo, a obrigação de desempenho é satisfeita em um
determinado momento. Esses conceitos são explorados mais detalhadamente nas seções seguintes. (a) desconsiderar potenciais restrições contratuais ou limitações práticas que, de outra forma,
impediriam a entidade de transferir a obrigação de desempenho remanescente a outra entidade; e

7.1 Obrigações de desempenho satisfeitas ao longo do tempo (b) assumir que outra entidade que satisfaça a obrigação de desempenho remanescente não teria
o benefício de qualquer ativo que é atualmente controlado pela entidade e que permaneceria
Frequentemente, as entidades transferem os bens e serviços prometidos ao cliente ao longo do controlado pela entidade se a obrigação de desempenho fosse transferida para outra entidade.
tempo. A determinação sobre se os bens ou serviços são transferidos ao longo do tempo é simples e
direta em alguns acordos (por exemplo, diversos contratos de serviço), contudo ela é mais difícil em
outros acordos. Para ajudar as entidades a determinar se o controle é transferido ao longo do tempo Conforme discutido na Base para Conclusões, os Comitês criaram esse critério para esclarecer que,
(em vez de em um determinado momento), os Comitês forneceram os seguintes critérios: em contratos de serviço puros, as entidades transferirão, em geral, serviços ao longo do tempo.52
Além disso, pretendem que esse critério seja aplicado apenas a serviços, e não a bens. Como
Extraído da IFRS 15 resultado, salientam que uma entidade não aplica esse critério (para determinar se uma obrigação de
desempenho é satisfeita ao longo do tempo) se o desempenho da entidade cria um ativo que o cliente
35. Uma entidade transfere o controle de um bem ou serviço ao longo do tempo e, assim, satisfaz a não consome completamente quando o ativo for recebido. Em vez disso, uma entidade avalia essa
obrigação de desempenho e reconhece receita ao longo do tempo, se um dos seguintes critérios for obrigação de desempenho usando os critérios discutidos nas Seções 7.1.2 e 7.1.3.
satisfeito:
Para alguns acordos de serviço, o desempenho da entidade pode não resultar no reconhecimento de
(a) o cliente simultaneamente recebe e consome os benefícios fornecidos pelo desempenho da
um ativo à medida que a entidade desempenha, mas o cliente também não consome o benefício do
entidade à medida que ela desempenha (vide itens B3-B4);
desempenho da entidade até que o desempenho da entidade seja concluído. A norma fornece o
(b) o desempenho da entidade cria ou aprimora um ativo (por exemplo, trabalho em andamento) que o exemplo de uma entidade que presta serviços de consultoria que terão a forma de uma opinião
cliente controla à medida que o ativo é criado ou aprimorado (vide item B5); ou profissional no momento do término dos serviços. Nessa situação, uma entidade não pode concluir se
(c) o desempenho da entidade não cria um ativo com um uso alternativo para a entidade (vide item os serviços são transferidos ao longo do tempo com base nesse critério. Em vez disso, a entidade deve
36) e a entidade tem um direito exigível a pagamento por desempenho concluído até a data (vide considerar os dois critérios remanescentes no item IFRS 15.35.
item 37).
52 Vide IFRS 15.BC125-BC128.

Exemplos de cada um dos critérios na transcrição acima são incluídos nas seções seguintes. Se uma
entidade não for capaz de demonstrar que o controle é transferido ao longo do tempo, a premissa é a
de que o controle é transferido em um determinado momento (vide Seção 7.2).

51 IFRS 15.33.

96 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 97
Extraído da IFRS 15
Uso alternativo
A norma impõe as seguintes exigências para “uso alternativo”:
Exemplo 13 - O cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios (IFRS 15.IE67-68)
Extraído da IFRS 15
Uma entidade celebra um contrato para prestar serviços de processamento de folha de pagamento mensal a
um cliente durante um ano.
36. Um ativo criado pelo desempenho de uma entidade não tem um uso alternativo para uma entidade se a
Os serviços de processamento de folha de pagamento prometidos são contabilizados como uma única entidade estiver sujeita à restrição contratual de prontamente destinar o ativo para outro uso durante
obrigação de desempenho, de acordo com o item 22(b) da IFRS 15. A obrigação de desempenho é satisfeita a criação ou aprimoramento desse ativo ou à limitação prática de destinar prontamente o ativo no
ao longo do tempo, de acordo com o item 35(a) da IFRS 15, uma vez que o cliente recebe e consome seu estado concluído a outro uso. A avaliação de se um ativo tem um uso alternativo para a entidade
simultaneamente os benefícios do desempenho da entidade ao processar cada transação de folha de é feita na data da assinatura do contrato. Após a data da assinatura do contrato, uma entidade não
pagamento à medida que e quando cada transação for processada. O fato de que outra entidade não deve atualizar a avaliação do uso alternativo de um ativo, a menos que as partes do contrato aprovem
precisaria refazer os serviços de processamento de folha de pagamento, para o serviço que a entidade uma modificação do contrato que altere substancialmente a obrigação de desempenho. Os itens B6-B8
prestou até a data, também demonstra que o cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios fornecem orientação para avaliar se um ativo tem um uso alternativo para uma entidade.
do desempenho da entidade à medida que a entidade desempenha. (A entidade desconsidera quaisquer

limitações práticas ao transferir a obrigação de desempenho remanescente, inclusive as atividades de
preparação que precisariam ser realizadas por outra entidade.) A entidade reconhece receita ao longo do
B6. Ao avaliar se um ativo tem um uso alternativo para uma entidade de acordo com o item 36, uma
tempo, mensurando a sua evolução até a completa satisfação dessa obrigação de desempenho, de acordo
entidade deve considerar os efeitos das restrições contratuais e limitações práticas sobre a capacidade
com os itens 39-45 e B14-B19 da IFRS 15.
de a entidade destinar prontamente esse ativo para outro uso, como a sua venda a um cliente
diferente. A possibilidade de o contrato com o cliente ser rescindido não é uma consideração relevante
ao avaliar se a entidade seria capaz de prontamente destinar o ativo para outro uso.
7.1.2 O cliente controla o ativo à medida que ele é criado ou aprimorado
B7. Uma restrição contratual sobre a capacidade de uma entidade de destinar um ativo para outro uso
O segundo critério para determinar se o controle de um bem ou serviço é transferido ao longo do
deve ser substancial para que o ativo não tenha um uso alternativo para a entidade. Uma restrição
tempo é o de que o cliente controla o ativo à medida que ele for criado ou aprimorado. Para fins dessa contratual é substancial se um cliente possa exigir os seus direitos ao ativo prometido se a entidade
verificação, a definição de “controle” é a mesma que a anteriormente discutida (ou seja, a capacidade buscasse destinar o ativo para outro uso. Inversamente, uma restrição contratual não é substancial se,
de dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do ativo). Além disso, o por exemplo, um ativo é amplamente intercambiável com outros ativos que a entidade possa transferir
ativo que está sendo criado ou aprimorado pode ser tangível ou intangível. Por exemplo, em um para outro cliente sem infringir o contrato e sem incorrer custos significativos que, de outra forma, não
contrato para desenvolver um sistema de TI nas instalações do cliente, o cliente controla o sistema teriam sido incorridos em relação àquele contrato.
enquanto ele estiver sendo desenvolvido ou aprimorado e, assim, o controle é transferido ao longo do
B8. Uma limitação prática sobre a capacidade de uma entidade de destinar um ativo para outro uso existe
tempo. Alguns contratos de construção podem também conter cláusulas que indicam que o cliente se uma entidade incorresse perdas econômicas significativas para destinar o ativo para outro uso. Uma
possui trabalho em andamento à medida que o item contratado é construído. Os Comitês acreditam perda econômica significativa poderia ser gerada devido ao fato de que a entidade incorreria custos
que o controle do cliente sobre o ativo à medida que é criado ou aprimorado indica que o desempenho significativos de retrabalho com o ativo ou somente seria capaz de vender o ativo com um prejuízo
da entidade transfere bens ou serviços a um cliente ao longo do tempo. significativo. Por exemplo, uma entidade pode estar praticamente limitada para redestinar ativos que
tenham especificações de desenho que são únicas para um cliente ou que estejam localizados em áreas
remotas.
7.1.3 Ativo sem nenhum uso alternativo e direito a pagamento
O último critério para determinar se uma entidade transfere o controle de um bem ou serviço ao
longo do tempo envolve as duas exigências a seguir: Os Comitês concluíram que, quando uma entidade está criando algo que é altamente personalizado
•• O desempenho da entidade não cria um ativo com um uso alternativo para a entidade; para um cliente específico, é menos provável que a entidade possa usar o ativo para qualquer outra
finalidade.53 Ou seja, a entidade provavelmente precisaria incorrer custos significativos de retrabalho
•• A entidade tem um direito a pagamento exigível por desempenho concluído até a data. ou vender o ativo por um preço significativamente reduzido. Como resultado, o cliente poderia ser
visto como tendo controle do ativo. Contudo, nessa situação, os Comitês concluíram que não era
Cada um desses conceitos é discutido mais detalhadamente abaixo.
suficiente determinar que o cliente controla o ativo. A entidade precisaria também determinar que ela
tem um direito a pagamento exigível por desempenho até a data, como discutido abaixo.

Ao fazer a avaliação de se o bem ou serviço tem um uso alternativo, uma entidade deve considerar
quaisquer restrições contratuais substanciais. Uma restrição contratual é substancial se uma entidade
espera que o cliente exija os seus direitos ao ativo prometido se a entidade procurar destinar o ativo
para outro uso. Restrições contratuais que não sejam substanciais não são consideradas. É
importante notar que a norma também inclui uma limitação prática. Assim, um ativo não teria um uso
alternativo se a entidade incorresse prejuízos econômicos significativos para destinar o ativo para
outro uso. Após a data da assinatura do contrato, uma entidade não atualiza a sua avaliação de se um
ativo tem um uso alternativo por quaisquer mudanças subsequentes nos fatos e circunstâncias,
exceto se as partes aprovarem uma modificação do contrato.

53 IFRS 15.BC135-BC137.

98 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 99
Extraído da IFRS 15 (continuação)
O nosso ponto de vista
A avaliação na data da assinatura do contrato de se um bem ou serviço tem um uso alternativo B11. Em alguns contratos, um cliente pode ter um direito de rescindir o contrato apenas em momentos
requererá julgamento profissional significativo, levando em consideração todos os fatos e especificados durante o prazo do contrato ou o cliente pode não ter nenhum direito de rescindir
circunstâncias do contrato. Um importante fator a ser considerado é o efeito de quaisquer o contrato. Se um cliente agir para rescindir um contrato sem ter o direito de rescindir o contrato
restrições contratuais substanciais e/ou limitações práticas sobre a capacidade de uma entidade naquele momento (inclusive quando um cliente deixa de cumprir as suas obrigações conforme o
de prontamente destinar o ativo para outro uso, como a sua venda para um cliente diferente. prometido), o contrato (ou outras leis) pode dar o direito à entidade de continuar a transferir ao
cliente os bens ou serviços prometidos no contrato e requerer que o cliente pague a contraprestação
prometida em troca desses bens ou serviços. Nessas circunstâncias, uma entidade tem um direito
a pagamento por desempenho concluído até a data, porque a entidade tem o direito de continuar
Direito a pagamento exigível por desempenho concluído até a data a cumprir as suas obrigações de acordo com o contrato e de requerer que o cliente cumpra as suas
Ao avaliar se uma entidade tem um direito a pagamento exigível por desempenho concluído até a obrigações (que incluem o pagamento da contraprestação prometida).
data, a norma requer que a entidade considere os termos do contrato e quaisquer leis ou
regulamentos relacionados. A norma afirma que o direito a pagamento por desempenho concluído
até a data não precisa ser de valor fixo. Contudo, em qualquer momento durante o prazo do contrato, Entidades são solicitadas a considerar qualquer lei, legislação ou precedente legal que possa
uma entidade deve ter o direito a um valor que no mínimo remunere a entidade pelo desempenho suplementar ou se sobrepor aos termos contratuais. Além disso, a norma esclarece que a inclusão de
concluído até a data, mesmo que o cliente possa rescindir o contrato por outros motivos que não a um cronograma de pagamento em um contrato não indica por si só que a entidade tem o direito a
incapacidade da entidade de desempenhar conforme o prometido. Os Comitês concluíram que a pagamento por desempenho concluído até a data. A entidade deve examinar informações que possam
obrigação de um cliente de pagar por desempenho da entidade é um indicador de que o cliente obteve contradizer o cronograma de pagamento e possam representar o efetivo direito da entidade a
benefício do desempenho da entidade.54 pagamento por desempenho concluído até a data. Como salientado no exemplo abaixo, os
pagamentos de um cliente devem se aproximar do preço de venda dos bens ou serviços transferidos
A norma afirma o seguinte sobre o direito de uma entidade por desempenho concluído até a data:
até a data para serem considerados um direito a pagamento por desempenho até a data. Um
cronograma de pagamento fixo não pode satisfazer essa exigência.
Extraído da IFRS 15
A norma fornece o seguinte exemplo que ilustra os conceitos descritos na Seção 7.1.3:
B9. De acordo com o item 37, uma entidade tem um direito a pagamento por desempenho concluído até a
data se a entidade tiver direito a um valor que, no mínimo, remunere a entidade por seu desempenho
concluído até a data para o caso de o cliente ou outra parte rescindir o contrato por outros motivos que Extraído da IFRS 15
não a incapacidade da entidade de desempenhar conforme o prometido. Um valor que remuneraria uma
entidade pelo desempenho concluído até a data seria um valor que se aproximasse do preço de venda dos Exemplo 14 – Avaliação de uso alternativo e direito a pagamento (IFRS 15.IE69-IE72)
bens ou serviços transferidos até a data (por exemplo, recuperação dos custos incorridos por uma entidade
Uma entidade celebra um contrato com um cliente para fornecer um serviço de consultoria que resulta no
ao satisfazer a obrigação de desempenho mais uma margem de lucro razoável), em vez de remuneração
fornecimento pela entidade de uma opinião profissional ao cliente. A opinião profissional se relaciona aos
apenas pelo potencial lucro cessante se o contrato fosse rescindido. Remuneração por uma margem
de lucro razoável não precisa ser igual à margem de lucro esperada se o contrato fosse cumprido como fatos e circunstâncias que são específicos para o cliente. Se o cliente rescindir o contrato de consultoria
prometido, contudo uma entidade deve ter o direito a remuneração por um dos valores a seguir: por outros motivos que não a incapacidade de a entidade desempenhar conforme o prometido, o contrato
requer que o cliente remunere a entidade pelos custos por ela incorridos mais uma margem de 15%. A
(a) uma parcela da margem de lucro esperada no contrato que razoavelmente reflita a extensão do margem de 15% se aproxima da margem de lucro que a entidade recebe de contratos semelhantes.
desempenho da entidade segundo o contrato, antes da rescisão pelo cliente (ou outra parte); ou
A entidade considera o critério no item 35(a) da IFRS 15 e as exigências nos itens B3 e B4 da IFRS 15 para
(b) um retorno razoável sobre o custo de capital da entidade para contratos semelhantes (ou a margem determinar se o cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios do desempenho da entidade. Se
operacional típica da entidade para contratos semelhantes) se a margem específica para o contrato a entidade fosse incapaz de satisfazer a sua obrigação e o cliente contratasse outra firma de consultoria
for maior que o retorno que a entidade usualmente gera de contratos semelhantes. para fornecer a opinião, a outra firma de consultoria precisaria refazer substancialmente o trabalho que
B10. O direito a pagamento de uma entidade por desempenho concluído até a data não precisa ser um direito a entidade concluiu até a data, porque a outra firma de consultoria não teria o benefício de qualquer
presente e incondicional a pagamento. Em vários casos, uma entidade terá um direito incondicional a trabalho em andamento realizado pela entidade. A natureza da opinião profissional é tal que o cliente
pagamento apenas em um determinado marco acordado ou quando a obrigação de desempenho tiver receberá os benefícios do desempenho da entidade apenas quando o cliente receber a opinião profissional.
sido completamente satisfeita. Ao avaliar se tem um direito a pagamento por desempenho concluído Consequentemente, a entidade conclui que o critério no item 35(a) da IFRS 15 não é satisfeito.
até a data, uma entidade deve considerar se teria um direito exigível de requerer ou reter pagamento
Contudo, a obrigação de desempenho da entidade satisfaz o critério no item 35(c) da IFRS 15, sendo uma
por desempenho concluído até a data, se o contrato fosse rescindido antes da conclusão por outros
obrigação que é satisfeita ao longo do tempo devido aos seguintes fatores:
motivos que não a incapacidade da entidade de desempenhar como o prometido.
(a) de acordo com os itens 36 e B6-B8 da IFRS 15, o desenvolvimento da opinião profissional não
cria um ativo com uso alternativo para a entidade porque a opinião profissional se relaciona a
fatos e circunstâncias que são específicos para o cliente. Assim, há uma limitação prática sobre a
54 IFRS 15.B142. capacidade de a entidade prontamente destinar o ativo para outro cliente.

(b) de acordo com os itens 37 e B9-B13 da IFRS 15, a entidade tem um direito exigível a pagamento
por seu desempenho concluído até a data, pelos seus custos mais uma margem razoável, que se
aproxima da margem de lucro em outros contratos.

Consequentemente, a entidade reconhece receita ao longo do tempo mensurando a evolução até a


completa satisfação da obrigação de desempenho, de acordo com os itens 39-45 e B14-B19 da IFRS 15.

100 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 101
7.1.4 Mensuração da evolução A norma contém a seguinte orientação sobre aplicação dos métodos:

Quando uma entidade determina que uma obrigação de desempenho é satisfeita ao longo do tempo,
a norma requer que a entidade selecione um único método de reconhecimento de receita para a Extraído da IFRS 15
obrigação de desempenho relevante que melhor reflita o desempenho da entidade ao transferir os
bens ou serviços. A norma apresenta as seguintes exigências: Métodos de saídas

B15. Os métodos de saídas reconhecem receita com base em medidas diretas do valor para o cliente dos
bens ou serviços transferidos, até a data, em relação aos bens ou serviços remanescentes prometidos
Extraído da IFRS 15
segundo o contrato. Métodos de saídas incluem métodos como pesquisas de desempenho concluídas
até a data, avaliações dos resultados obtidos, marcos alcançados, tempo transcorrido e unidades
39. Para cada obrigação de desempenho satisfeita ao longo do tempo de acordo com os itens 35-37, produzidas ou unidades entregues. Quando uma entidade avalia a aplicação de um método de saídas
uma entidade deve reconhecer receita ao longo do tempo, mensurando a evolução para a completa para medir a sua evolução, a entidade deve considerar se as saídas selecionadas retratariam fielmente
satisfação dessa obrigação de desempenho. Ao mensurar a evolução, o objetivo é retratar o o desempenho da entidade até a completa satisfação da obrigação de desempenho. Um método
desempenho de uma entidade ao transferir o controle dos bens ou serviços prometidos a um cliente de saídas não forneceria uma imagem fiel do desempenho da entidade se as saídas selecionadas
(ou seja, a satisfação da obrigação de desempenho de uma entidade). deixassem de mensurar alguns dos bens ou serviços para os quais o controle foi transferido ao
40. Uma entidade deve aplicar um único método de mensuração da evolução para cada obrigação de cliente. Por exemplo, métodos de saídas com base nas unidades produzidas ou unidades entregues
desempenho satisfeita ao longo do tempo, e a entidade deve aplicar esse método consistentemente a não retratariam fielmente o desempenho de uma entidade ao satisfazer a obrigação de desempenho
obrigações de desempenho semelhantes e em circunstâncias semelhantes. No final de cada período- se, no final do período-base, o desempenho da entidade tiver produzido trabalho em andamento ou
base, uma entidade deve remensurar a sua evolução até a completa satisfação da obrigação de produtos acabados controlados pelo cliente que não estejam incluídos na mensuração das saídas.
desempenho satisfeita ao longo do tempo. B16. Como um expediente prático, se uma entidade tem um direito a contraprestação de um cliente, por
Métodos para a mensuração da evolução um valor que corresponde diretamente ao valor para o cliente do desempenho da entidade concluído
até a data (por exemplo, um contrato de serviço em que uma entidade fatura um valor fixo para cada
41. Métodos apropriados de mensuração da evolução incluem métodos de saídas (outputs) e métodos de hora do serviço prestado), a entidade pode reconhecer receita no valor que a entidade tem o direito
entradas (inputs). Os itens B14-B19 fornecem orientação para usar métodos de saídas e métodos de de faturar.
entradas para mensurar a evolução de uma entidade até a completa satisfação de uma obrigação de
desempenho. Ao determinar o método apropriado para a mensuração da evolução, uma entidade deve B17. As desvantagens dos métodos de saídas são que as saídas utilizadas para medir a evolução podem não
considerar a natureza do bem ou serviço que a entidade prometeu transferir ao cliente. ser diretamente observáveis e as informações requeridas para aplicá-los podem não estar disponíveis
para uma entidade sem custo indevido. Assim, um método de entradas pode ser necessário.
42. Ao aplicar um método para mensurar a evolução, uma entidade deve excluir da medida de evolução
quaisquer bens ou serviços para os quais a entidade não transfere o controle a um cliente. Métodos de entradas
Inversamente, uma entidade deve incluir na medida de evolução quaisquer bens ou serviços para os B18. Os métodos de entradas reconhecem receita com base nos esforços da entidade ou entradas para
quais a entidade transfere o controle a um cliente ao satisfazer aquela obrigação de desempenho. satisfazer uma obrigação de desempenho (por exemplo, recursos consumidos, horas gastas de
43. À medida que as circunstâncias mudam ao longo do tempo, uma entidade deve atualizar a sua medida mão de obra, custos incorridos, tempo transcorrido ou horas-máquina usadas) em relação ao total
da evolução para refletir quaisquer mudanças no resultado da obrigação de desempenho. Essas esperado de entradas para satisfazer essa obrigação de desempenho. Se os esforços da entidade ou
mudanças na medida por uma entidade da evolução devem ser contabilizadas como uma mudança nas entradas são gastos uniformemente ao longo de todo o período do desempenho, pode ser apropriado
estimativas contábeis, de acordo com a IAS 8 Políticas Contábeis, Mudanças nas Estimativas Contábeis para a entidade reconhecer receita linearmente.
e Erros. B19. Uma deficiência dos métodos de entradas é que pode não haver um relacionamento direto entre as
entradas da entidade e a transferência do controle sobre os bens ou serviços a um cliente. Assim,
uma entidade deve excluir de um método de entradas os efeitos de quaisquer entradas que, segundo
A norma fornece dois métodos para o reconhecimento de receita de acordos envolvendo a o objetivo da mensuração da evolução no item 39, não retratam o desempenho da entidade ao
transferência de bens e serviços ao longo do tempo: o método de entradas e o método de saídas. transferir o controle dos bens ou serviços ao cliente. Por exemplo, ao usar um método de entradas
baseado em custo, um ajuste da medida de evolução pode ser requerido nas seguintes circunstâncias:
Apesar de a norma requerer que uma entidade atualize continuamente as suas estimativas relativas à
medida da evolução selecionada, ela não permite uma mudança no método. Uma obrigação de (a) Quando um custo incorrido não contribui para a evolução de uma entidade ao satisfazer a
obrigação de desempenho. Por exemplo, uma entidade não reconheceria receita com base nos
desempenho é contabilizada usando o método que a entidade escolhe (ou seja, o método de entradas
custos incorridos que sejam atribuíveis a ineficiências significativas no desempenho da entidade
ou o método de saídas) desde a data da assinatura do contrato até que seja completamente satisfeita.
que não foram refletidas no preço do contrato (por exemplo, os custos de valores inesperados de
Não seria apropriado para uma entidade começar a reconhecer receita com base na medida de
materiais desperdiçados, mão de obra ou outros recursos que foram incorridos para satisfazer a
entradas e mais tarde mudar para uma medida de saídas. obrigação de desempenho).

102 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 103
Extraído da IFRS 15 (continuação) Exemplo 7-1 — Escolha da medida de evolução

(b) Quando um custo incorrido não for proporcional à evolução da entidade ao satisfazer a obrigação Uma entidade de construção naval celebra um acordo para construir 15 navios para um cliente em um
de desempenho. Nessas circunstâncias, o melhor retrato do desempenho da entidade pode ser período de três anos. O cliente desempenhou um papel significativo no desenho dos navios, e a entidade
o de ajustar o método de entradas para reconhecer receita apenas na extensão desse custo não construiu anteriormente nenhum navio dessa natureza. Como resultado, o acordo inclui serviços de
incorrido. Por exemplo, um retrato fiel do desempenho de uma entidade pode ser o de reconhecer desenho e serviços de produção. Além disso, a entidade espera que os primeiros navios possam demorar
receita por um valor igual ao custo de um bem usado para satisfazer a obrigação de desempenho mais para serem produzidos do que os últimos navios, uma vez que, à medida que a entidade ganhar
se a entidade espera, na data da assinatura do contrato, que todas as seguintes condições serão experiência construindo navios, ela espera ser capaz de construir os navios mais eficientemente.
satisfeitas:
Assume-se que a entidade determinou que os serviços de desenho e produção representam uma única
(i) o bem não é distinto; obrigação de desempenho. Nessa situação, é provável que a entidade não escolha um método de “unidades
de entrega” como uma medida da evolução, uma vez que esse método não capturaria com precisão o
(ii) espera-se que o cliente obtenha o controle do bem muito antes de receber os serviços
nível de desempenho. Ou seja, tal método não refletiria os esforços da entidade durante a fase de desenho
relacionados com o bem;
do acordo, porque nenhuma receita seria reconhecida até que o navio fosse entregue. Nessas situações,
(iii) o custo do bem transferido é significativo em relação ao total dos custos esperados para uma entidade provavelmente determinaria que um método de entradas seria mais apropriado, como, por
satisfazer completamente a obrigação de desempenho; e exemplo, um método da porcentagem de execução (PoC) baseado nos custos incorridos.

(iv) a entidade obtém o bem de um terceiro e não está significativamente envolvida no desenho
e fabricação do bem (contudo, a entidade atua como principal de acordo com os itens
Os Comitês afirmam, na Base para de Conclusões, que um método de unidades de entrega ou método
B34-B38).
de unidades de produção pode não ser apropriado se o contrato prevê a prestação de serviços de
desenho e também de produção, uma vez que cada item produzido “pode não transferir um valor
Ainda que a norma não indique uma preferência por um dos métodos, ela requer que o método igual ao cliente”.56 Ou seja, os itens produzidos mais cedo terão provavelmente um valor maior do que
escolhido seja aplicado a acordos semelhantes em circunstâncias semelhantes. Independentemente os produzidos mais tarde. Contudo, os Comitês indicaram que unidades de entrega pode ser uma
de qual método uma entidade escolhe, ela deve excluir da sua medida de evolução quaisquer bens ou abordagem apropriada para determinados contratos de fabricação de longo prazo de itens-padrão que
serviços para os quais o controle não tenha sido transferido individualmente transferem um valor igual ao cliente.

Ao determinar o melhor método para medir evolução, uma entidade precisa considerar a natureza 7.1.5 Ajustes da medida de evolução com base no método de entradas
dos bens ou serviços prometidos e também a natureza do desempenho da entidade. Para ilustrar esse
Quando uma entidade aplica um método de entradas que usa custos incorridos para medir a sua
conceito, a Base para Conclusões menciona um acordo para serviços de clube de assistência médica.55
evolução até a conclusão, o custo incorrido pode nem sempre ser proporcional à evolução da entidade
Independentemente de quando ou com que frequência o cliente usa o clube de assistência médica, a
na satisfação da obrigação de desempenho. Por exemplo, em uma obrigação de desempenho que
obrigação da entidade de estar sempre disponível para prestar o serviço durante o período contratual
compreende bens e serviços, o cliente pode obter o controle dos bens antes de a entidade prestar os
não muda.
serviços relacionados com esses bens (por exemplo, quando bens são entregues a um cliente mas a
A norma não relaciona o transcurso de tempo como um método separado para a medida da evolução. entidade ainda não integrou os bens no projeto geral). Os Comitês concluíram que, se uma entidade
Contudo, os Comitês incluíram especificamente “tempo transcorrido” como um exemplo de uma usar um método de porcentagem de execução baseado nos custos incorridos para medir a sua
medida das entradas que a entidade pode usar. evolução, ele pode ser inapropriadamente afetado pela entrega desses bens e que uma aplicação pura
dessa medida de evolução resultaria em receita apresentada a maior.
Os Comitês forneceram um expediente prático para uma entidade que tem um direito a pagamento de
um cliente, por um valor que corresponde diretamente ao valor do desempenho da entidade concluído A norma indica que, nessas circunstâncias, pode haver uma forma melhor de medir a evolução até a
até a data. Por exemplo, um contrato de serviço em que uma entidade fatura um valor fixo para cada conclusão da obrigação de desempenho. A norma fornece um exemplo de reconhecimento de receita
hora do serviço prestado. O expediente prático permite que uma entidade reconheça receita pelo por um valor igual ao custo dos bens utilizados, em vez do custo incorrido. A norma especifica que,
valor que ela tem o direito de faturar. para reconhecer receita nessas situações, as condições no item IFRS 15.B19(b) devem ser satisfeitas
(vide a transcrição na Seção 7.1.4).
Se uma entidade não tem uma base razoável para medir a sua evolução, os Comitês decidiram que
existe excessiva incerteza e, assim, receita não é reconhecida até que a evolução possa ser Além disso, situações podem surgir em que nem todos os custos incorridos contribuem para a
mensurada. Uma entidade pode ser capaz de determinar que um prejuízo não será incorrido, mas evolução da entidade na conclusão da obrigação de desempenho. Segundo um método de entradas,
pode não ser capaz de estimar razoavelmente o valor do lucro. Até que seja capaz de razoavelmente uma entidade deve excluir esses tipos de custos (por exemplo, custos relacionados a ineficiências
mensurar o resultado, a norma requer que a entidade reconheça receita, mas apenas até o valor dos significativas, materiais desperdiçados, retrabalho requerido) da medida da evolução, exceto se esses
custos incorridos. custos forem refletidos no preço do contrato.

56 IFRS 15.BC166.
55 IFRS 15.BC160.

104 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 105
Extraído da IFRS 15
O que muda com relação às normas IFRS atuais?
As exigências para materiais não instalados podem representar uma mudança significativa em relação
Exemplo 19 – Materiais não instalados (IFRS 15.IE95-IE100) à prática atual para algumas entidades. A IAS 11 contém uma exigência de que, quando o estágio de
execução é determinado com base nos custos do contrato incorridos até a data, apenas esses custos
Em novembro de 20X2, uma entidade contrata com um cliente a reforma de um edifício de três andares e a
do contrato que refletem o trabalho realizado devem ser incluídos.57 Assim, os custos relativos a
instalação de novos elevadores por contraprestação total de UM 5 milhões. O serviço prometido de reforma,
atividades futuras, como custos de materiais (que não sejam altamente específicos para o contrato)
incluindo a instalação dos elevadores, representa uma única obrigação de desempenho satisfeita ao longo
do tempo. O total dos custos esperados é de UM 4 milhões, incluindo UM 1,5 milhão para os elevadores.
entregues a um cliente em um local previsto no contrato ou separados para serem usados conforme
A entidade determina que atua como agente, de acordo com os itens B34-B38 da IFRS 15, uma vez que previsto no contrato, mas não ainda instalados, não fariam parte da avaliação dos custos incorridos
obtém o controle dos elevadores antes da sua transferência ao cliente. até a data. Quando instalados, esses seriam incluídos nos custos incorridos até a data. Segundo a
nova norma, qualquer margem relativa aos materiais não instalados seria atribuída aos outros bens e
Um resumo do preço da transação e custos esperados é o seguinte:
serviços e reconhecida conforme os custos desses bens e serviços forem incorridos.
UM
Preço da transação 5.000.000 7.2 Controle transferido em um determinado momento
Custos esperados Para obrigações de desempenho em que o controle não é transferido ao longo do tempo, o controle é
transferido em um determinado momento. Em diversas situações, a determinação de quando esse
Elevadores 1.500.000
momento ocorre é relativamente simples e direta. Contudo, em outras circunstâncias, essa
Outros custos 2.500.000 determinação é mais complexa. Para ajudar as entidades a determinar o momento em que um cliente
Total dos custos esperados 4.000.000 obtém o controle de um bem ou serviço específico, os Comitês forneceram as seguintes exigências:

A entidade usa um método de entradas baseado nos custos incorridos para medir a sua evolução até
a satisfação completa da obrigação de desempenho. A entidade avalia se os custos incorridos para o Extraído da IFRS 15
fornecimento dos elevadores são proporcionais à evolução da entidade ao satisfazer a obrigação de
desempenho, de acordo com o item B19 da IFRS 15. O cliente obtém o controle dos elevadores quando
38. Se uma obrigação de desempenho não é satisfeita ao longo do tempo de acordo com os itens 35-37,
eles forem entregues, em dezembro de 20X2, apesar de que os elevadores não serão instalados até junho
uma entidade satisfaz a obrigação de desempenho em um determinado momento. Para determinar
de 20X3. Os custos para o fornecimento dos elevadores (UM 1,5 milhão) são significativos em relação ao
o momento em que um cliente obtém o controle de um ativo prometido e a entidade satisfaz uma
total dos custos esperados para satisfazer completamente a obrigação de desempenho (UM 4 milhões). A
obrigação de desempenho, a entidade deve considerar as exigências para controle nos itens 31-34.
entidade não está envolvida no desenho ou fabricação dos elevadores.
Além disso, uma entidade deve considerar indicadores da transferência do controle, que incluem, mas
A entidade conclui que a inclusão dos custos para o fornecimento dos elevadores na medida da evolução sem se limitar, o seguinte:
resultaria na apresentação a maior da extensão do desempenho da entidade. Consequentemente, de
(a) A entidade tem um direito presente a pagamento pelo ativo – se um cliente tem a obrigação
acordo com o item B19 da IFRS15, a entidade deve ajustar a sua medida de evolução, para excluir os custos
presente de pagar por um ativo, então isso pode indicar que o cliente obteve a capacidade de dirigir
para o fornecimento dos elevadores da medida dos custos incorridos e do preço da transação. A entidade
o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do ativo em troca.
reconhece receita pela transferência dos elevadores por um valor igual aos custos para o fornecimento dos
elevadores (ou seja, considerando margem zero). (b) O cliente tem a propriedade do ativo – a propriedade pode indicar qual parte do contrato tem a
capacidade de dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes de um
Em 31 de dezembro de 20X2, a entidade observa que:
ativo ou de restringir o acesso de outras entidades a esses benefícios. Assim, a transferência da
outros custos incorridos (excluindo elevadores) são de UM 500.000; e propriedade de um ativo pode indicar que o cliente obteve o controle do ativo. Se uma entidade
retiver a propriedade apenas como uma proteção em caso de não pagamento pelo cliente, esses
o desempenho está 20% concluído (ou seja, UM 500.000 ÷ UM 2.500.000).
direitos da entidade não impediriam o cliente de obter o controle de um ativo.
Consequentemente, em 31 de dezembro de 20X2, a entidade reconhece o seguinte:
(c) entidade transferiu a posse de um ativo – a posse pelo cliente de um ativo pode indicar que o cliente
tem a capacidade de dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do
UM
ativo ou de restringir o acesso de outras entidades a esses benefícios. Contudo, a posse pode não
Receita 2.200.000 (a) coincidir com o controle de um ativo. Por exemplo, em alguns acordos de recompra e em alguns
Custo dos bens vendidos 2.000.000 (b) acordos de consignação, um cliente ou consignatário pode ter a posse de um ativo que a entidade
controla. Inversamente, em alguns acordos de venda para entrega futura, a entidade pode ter
Lucro 200.000
a posse de um ativo que o cliente controla. Os itens B64-B76, B77-B78 e B79-B82 fornecem
a) Receita reconhecida é calculada como (20% × UM 3.500.000) + UM 1.500.000 [UM 3.500.000 correspondem a UM orientação sobre a contabilidade de acordos de recompra, acordos de consignação e acordos de
5.000.000 (preço da transação) - UM 1.500.000 (custo dos elevadores)]. venda para entrega futura, respectivamente.
b) Custo dos bens vendidos corresponde a UM 500.000 de custos incorridos + UM 1.500.000 de custo dos elevadores.
(d) O cliente detém os riscos e benefícios significativos da propriedade do ativo – a transferência dos
riscos e benefícios significativos da propriedade de um ativo para o cliente pode indicar que o cliente
A IFRS 15 não impõe a abordagem que uma entidade deve usar nessas situações. Contudo, está claro obteve a capacidade de dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes
que uma entidade não pode usar um método de entradas baseado nos custos incorridos para medir do ativo. Contudo, ao avaliar os riscos e benefícios da propriedade de um ativo prometido,
uma entidade deve excluir quaisquer riscos que deem origem a uma obrigação de desempenho
evolução quando os custos não são proporcionais à evolução da entidade ao longo do prazo do
separada além da obrigação de desempenho para transferir o ativo. Por exemplo, uma entidade
contrato. Não usar um método de porcentagem de execução (em que os custos incorridos são usados
pode ter transferido o controle de um ativo a um cliente, mas ainda não satisfez uma obrigação de
para medir o estágio de execução) nessas situações pode representar uma mudança significativa para desempenho adicional de prestar serviços de manutenção relativos ao ativo transferido.
algumas entidades.

57 IAS 11.31.

106 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 107
Extraído da IFRS 15 (continuação) Extraído da IFRS 15 (continuação)

(e) O cliente aceitou o ativo – a aceitação pelo cliente de um ativo pode indicar que obteve a Na data da assinatura do contrato, a entidade aplica o item 35(c) da IFRS 15 para determinar se a sua
capacidade de dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do ativo. promessa de construir e transferir a unidade ao cliente é uma obrigação de desempenho satisfeita ao longo
Para avaliar o efeito de uma cláusula contratual de aceitação pelo cliente sobre quando o controle do tempo. A entidade determina que o ativo (unidade) criado pelo desempenho da entidade não tem um uso
de um ativo é transferido, uma entidade deve considerar a orientação nos itens B83-B86. alternativo para a entidade, uma vez que o contrato impede a entidade de transferir a unidade especificada
a outro cliente. A entidade não considera a possibilidade de uma rescisão contratual ao avaliar se a entidade
é capaz de destinar o ativo a outro cliente.
Nenhum dos indicadores acima se destina a determinar individualmente se o cliente obteve o controle A entidade também tem um direito a pagamento por desempenho concluído até a data, de acordo com
do bem ou serviço. Uma entidade deve considerar todos os fatos e circunstâncias relevantes para os itens 37 e B9-B13 da IFRS 15. Isso se deve ao fato de que, se o cliente deixar de cumprir as suas
determinar se o controle foi transferido. Os Comitês também esclareceram que os indicadores não obrigações, a entidade teria um direito exigível a toda a contraprestação prometida segundo o contrato se
representam uma lista de verificação (checklist). Além disso, nem todos os indicadores devem estar continuar a desempenhar como o prometido.
presentes para determinar que o cliente obteve o controle. De fato, os indicadores são fatores que Assim, os termos do contrato e as práticas na jurisdição legal indicam que há um direito a pagamento por
estão frequentemente presentes quando um cliente tenha obtido o controle de um ativo, e a lista se desempenho concluído até a data. Consequentemente, os critérios no item 35(c) da IFRS 15 são satisfeitos
destina a ajudar as entidades a aplicar o princípio de controle. e a entidade tem uma obrigação de desempenho que é satisfeita ao longo do tempo. Para reconhecer
receita por essa obrigação de desempenho satisfeita ao longo do tempo, a entidade mede a sua evolução
A norma inclui o seguinte exemplo para ilustrar o reconhecimento de receita ao longo do tempo (vide até a completa satisfação da sua obrigação de desempenho, de acordo com os itens 39-45
Seção 7.1) e em um determinado momento (vide Seção 7.2): e B14-B19 da IFRS 15.

Na construção de um conjunto residencial, a entidade pode ter diversos contratos com clientes individuais
Extraído da IFRS 15 para a construção de unidades individuais dentro do conjunto residencial. A entidade contabilizaria cada
contrato separadamente. Contudo, dependendo da natureza da construção, o desempenho da entidade ao
Exemplo 17 - Avaliação sobre se uma obrigação de desempenho é satisfeita em um determinado realizar os obras iniciais de construção (ou seja, a fundação e a estrutura básica), bem como a construção
momento ou ao longo do tempo (IFRS 15.IE81-IE90) das áreas comuns, pode precisar ser refletido ao medir a sua evolução até a satisfação completa das suas
obrigações de desempenho em cada contrato.
Uma entidade está desenvolvendo um conjunto residencial com múltiplas unidades. Um cliente celebra um
contrato de venda vinculante com a entidade para uma unidade especificada que está em construção. Cada Caso C – A entidade tem um direito a pagamento exigível por desempenho concluído até a data
unidade tem planta e tamanho semelhantes, contudo outras características das unidades são diferentes (por Os mesmos fatos que os do Caso B se aplicam ao Caso C, exceto que, no caso de um descumprimento
exemplo, a localização da unidade dentro do conjunto residencial). pelo cliente, a entidade pode requerer que o cliente desempenhe conforme requerido no contrato, ou a
Caso A – A entidade não tem um direito a pagamento exigível por desempenho concluído até a data entidade pode cancelar o contrato em troca de um ativo em construção, com o direito a uma penalidade
correspondente a uma parcela do preço do contrato.
O cliente paga um depósito no momento em que celebra o contrato, e o depósito é reembolsável apenas se
a entidade deixar de concluir a construção da unidade de acordo com o contrato. A parcela remanescente Apesar de a entidade poder cancelar o contrato (caso em que a obrigação do cliente perante a entidade seria
do preço do contrato deve ser paga no momento da conclusão do contrato, quando o cliente obtém a posse limitada à transferência do controle do ativo parcialmente concluído para a entidade e ao pagamento da
da unidade. Se o cliente descumprir o contrato antes da conclusão da unidade, a entidade terá apenas o penalidade prevista), a entidade tem um direito a pagamento por desempenho concluído até a data, uma vez
direito de reter o depósito. que a entidade poderia também optar por exigir os seus direitos a pagamento integral segundo o contrato. O
fato de a entidade poder optar por cancelar o contrato, no caso de o cliente descumprir as suas obrigações,
Na data da assinatura do contrato, a entidade aplica o item 35(c) da IFRS 15 para determinar se a sua não afetaria essa avaliação (vide item B11 da IFRS 15), uma vez que os direitos da entidade de requerer que o
promessa de construir e transferir a unidade ao cliente é uma obrigação de desempenho satisfeita ao longo cliente continue a desempenhar conforme requerido no contrato (ou seja, pagar a contraprestação prometida)
do tempo. A entidade determina que não tem um direito exigível a pagamento por desempenho concluído são exigíveis.
até a data porque, até que a construção da unidade esteja concluída, a entidade tem apenas o direito
ao depósito pago pelo cliente. Uma vez que a entidade não tem um direito a pagamento por trabalho
concluído até a data, a obrigação de desempenho da entidade não é uma obrigação de desempenho
satisfeita ao longo do tempo, de acordo com o item 35(c) da IFRS 15. Em vez disso, a entidade contabiliza 7.3 Acordos de recompra
a venda da unidade como uma obrigação de desempenho satisfeita em um determinado momento, de Certos contratos incluem cláusulas de recompra, seja como parte de um contrato de venda, seja como
acordo com o item 38 da IFRS 15. um contrato em separado que se refere aos mesmos bens ou a bens semelhantes no contrato original.
Caso B – A entidade tem um direito a pagamento exigível por desempenho concluído até a data A norma esclarece os tipos de acordos que se qualificam como acordos de recompra:

O cliente paga um depósito não reembolsável ao celebrar o contrato e fará pagamentos com base na
evolução durante a construção da unidade. O contrato tem termos substanciais que impedem a entidade Extraído da IFRS 15
de ser capaz de destinar a unidade para outro cliente. Além disso, o cliente não tem o direito de rescindir
B64. Um acordo de recompra é um contrato em que uma entidade vende um ativo e também promete ou tem
o contrato, exceto se a entidade deixar de desempenhar como o prometido. Se o cliente deixar de cumprir
a opção (no mesmo contrato ou em outro contrato) de recomprar o ativo. O ativo recomprado pode ser o
as suas obrigações, deixando de fazer os pagamentos prometidos à medida que e quando forem devidos, a ativo que foi vendido originalmente ao cliente, um ativo que é substancialmente o mesmo que esse ativo,
entidade teria o direito a toda a contraprestação prometida no contrato se concluir a construção da unidade. ou outro ativo do qual o ativo que foi originalmente vendido é um componente.
Os tribunais já reconheceram anteriormente direitos semelhantes das incorporadoras perante o cliente,
sujeitos à satisfação pela entidade das suas obrigações segundo o contrato. B65. Acordos de recompra geralmente aparecem em três formas:

(a) a obrigação de uma entidade de recomprar o ativo (um contrato a termo);

(b) o direito de uma entidade de recomprar o ativo (uma opção de compra); e

(c) a obrigação de uma entidade de recomprar o ativo a pedido do cliente (uma opção de venda).

108 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 109
7.3.1 Contrato a termo ou opção de compra mantidos pela entidade
Quando uma entidade tem a obrigação incondicional ou o direito de recomprar um ativo, a norma é Nosso ponto de vista
clara no sentido de que o cliente não obteve o controle do ativo. A norma fornece a seguinte Acreditamos que as exigências para acordos de recompra podem resultar em uma mudança
orientação sobre aplicação: significativa na prática para algumas entidades, dada a orientação limitada nas atuais normas IFRS.
As entidades podem achar as exigências desafiadoras para serem aplicadas na prática, uma vez
Extraído da IFRS 15 que a norma trata todos os contratos a termo e as opções de compra da mesma forma e não
considera a probabilidade de serem exercidas. Em determinadas transações, uma entidade pode
B66. Se uma entidade tem uma obrigação ou um direito de recomprar o ativo (um contrato a termo ou uma ter um direito incondicional de recomprar um ativo por um valor igual ou maior ao preço original
opção de compra), um cliente não obtém o controle do ativo, porque o cliente tem a sua capacidade de
de venda. Por exemplo, alguns designers de artigos de luxo têm o direito de recomprar os seus
destinar o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do ativo limitada, apesar de
produtos por um valor igual ao preço original de venda. Essa opção de compra serve como um
o cliente ter a posse do ativo. Consequentemente, a entidade deve contabilizar o contrato de uma das
seguintes formas:
direito de proteção da reputação da marca, no entanto, o designer provavelmente não exercerá a
opção. A norma, contudo, requer que o designer contabilize todas as transações, inclusive essa
(a) um arrendamento de acordo com a IAS 17 Arrendamentos se a entidade pode ou deve recomprar o opção, como um acordo de financiamento.
ativo por um valor que é inferior ao preço original de venda do ativo; ou

(b) um acordo de financiamento, de acordo com o item B68, se a entidade pode ou deve recomprar o
ativo por um valor que é igual ou superior ao preço original de venda do ativo. A norma fornece o seguinte exemplo de uma opção de compra:

A orientação sobre aplicação, na transcrição acima, requer que uma entidade contabilize uma Extraído da IFRS 15
transação, inclusive um contrato a termo ou opção de compra, com base na relação entre o preço de
recompra e o preço original de venda. A norma indica que, se a entidade tem o direito ou a obrigação Exemplo 62 – Acordos de recompra (IFRS 15.IE315-IE318)
de recomprar o ativo, por um preço inferior ao preço original de venda (levando em consideração os Uma entidade celebra um contrato com um cliente para a venda de um ativo tangível em 1º de janeiro de
efeitos do valor do dinheiro no tempo), a entidade contabilizaria a transação como um arrendamento 20X7 por UM 1 milhão.
de acordo com a IAS 17, exceto se o contrato for parte de uma transação de venda e leaseback. Se a
Caso A – Opção de compra: financiamento
entidade tem o direito ou a obrigação de recomprar o ativo por um preço igual ou maior que o preço
original de venda (considerando os efeitos do valor do dinheiro no tempo), a entidade o contabilizaria O contrato inclui uma opção de compra que dá à entidade o direito de recomprar o ativo por UM 1,1 milhão
como um acordo de financiamento. em 31 de dezembro de 20X7 ou em uma data anterior.

O controle do ativo não é transferido ao cliente em 31 de dezembro de 20X7 porque a entidade tem
Se uma transação é considerada um acordo de financiamento segundo a IFRS 15, a entidade um direito de recomprar o ativo, e assim o cliente tem a sua capacidade de destinar o uso e obter
continuaria a reconhecer o ativo. Além disso, ela registraria um passivo financeiro pela substancialmente todos os benefícios remanescentes do ativo limitada. Consequentemente, de acordo com
contraprestação recebida do cliente. A diferença entre a contraprestação recebida do cliente e a o item B66(b) da IFRS 15, a entidade contabiliza a transação como um acordo de financiamento, uma vez
contraprestação subsequentemente paga ao cliente (na recompra do ativo) representa os custos de que o preço de exercício é superior ao preço original de venda. De acordo com o item B68 da IFRS 15, a
juros e de manutenção do financiamento (conforme o caso), que são reconhecidos ao longo do prazo entidade não desreconhece o ativo e, em vez disso, reconhece o caixa recebido com um passivo financeiro.
do acordo de financiamento. Se a opção expirar sem ser exercida, a entidade desreconhece o passivo A entidade também reconhece a despesa de juros pela diferença entre o preço de exercício (UM 1,1 milhão)
e reconhece receita naquele momento. e o montante em dinheiro recebido (UM 1 milhão), o que aumenta o passivo.

Em 31 de dezembro de 20X7, a opção expira sem ser exercida; assim, a entidade desreconhece o passivo e
O que muda com relação às normas IFRS atuais? reconhece receita de UM 1,1 milhão.
Em linha com as atuais exigências nas normas IFRS, a nova norma requer que uma entidade
considere um acordo de recompra juntamente com o acordo original de venda, quando estiverem
vinculados, de tal forma que a substância do acordo não possa ser entendida sem que se faça 7.3.2 Opção de venda subscrita mantida pelo cliente
referência à série de transações em seu conjunto.58 Assim, para a maioria das entidades, a exigência A IFRS 15 indica que se o cliente tem a capacidade de requerer que uma entidade recompre um ativo
de considerar as duas transações juntas não mudaria. (uma opção de venda) por um preço inferior ao preço original de venda, a entidade considera, na data da
assinatura do contrato, se o cliente tem um incentivo econômico significativo para exercer esse direito.
A exigência na nova norma para diferenciar acordos de recompra que são, em essência, Ou seja, essa determinação influencia se o cliente tem verdadeiramente controle sobre o ativo recebido.
arrendamentos ou acordos de financiamentos é amplamente alinhada com as atuais normas IFRS. A
IAS 18 indica que “os termos do contrato precisam ser analisados para determinar se, em essência, o A determinação sobre se uma entidade tem um incentivo econômico significativo para exercer o seu
vendedor transferiu os riscos e benefícios da propriedade ao comprador”.59 direito definirá se o acordo é tratado como um arrendamento ou uma venda com direito a devolução
(conforme discutido no item 5.2.2). Uma entidade deve considerar todos os fatos e circunstâncias
A IAS 18 não especifica como tratar acordos de recompra que representam acordos de relevantes para determinar se o cliente tem um incentivo econômico significativo para exercer o seu
financiamento, mas apenas afirma que esses acordos não dão origem a receita. As exigências da IFRS direito, inclusive a relação entre o preço de recompra e o valor de mercado esperado do ativo na data
15 podem, assim, resultar em uma mudança significativa na prática para algumas entidades. de recompra e o tempo até que o direito expire. A norma salienta que, caso se espere que o preço de
recompra ultrapasse significativamente o valor de mercado do ativo, o cliente tem um incentivo
econômico significativo para exercer a opção de venda:
58 IAS 18.13 e SIC-27.
59 IAS 18.IE5.

110 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 111
•• Se um cliente tiver um incentivo econômico significativo para exercer o seu direito, espera-se que o
Extraído da IFRS 15 (continuação)
cliente eventualmente devolva o ativo. A entidade contabiliza o contrato como um arrendamento,
uma vez que o cliente está efetivamente pagando à entidade pelo direito de usar o ativo durante um
Na data da assinatura do contrato, a entidade avalia se o cliente tem um incentivo econômico significativo para
determinado período. Contudo, uma exceção seria se o contrato fizer parte de uma venda e
exercer a opção de venda, para determinar a contabilização da transferência do ativo (vide itens B70-B76 da
leaseback, caso em que o contrato seria contabilizado como um acordo de financiamento. IFRS 15). A entidade conclui que o cliente tem um incentivo econômico significativo para exercer a opção de
•• Se um cliente não tem um incentivo econômico significativo para exercer o seu direito, a entidade venda, uma vez que o preço de recompra ultrapassa significativamente o valor de mercado esperado do ativo na
contabiliza o contrato de maneira semelhante a uma venda de um produto com direito a data da recompra. A entidade determina que não há nenhum outro fator relevante a ser considerado ao avaliar
se o cliente tem um incentivo econômico significativo para exercer a opção de venda. Consequentemente, a
devolução. O preço de recompra de um ativo que seja igual ou maior que o preço original de
entidade conclui que o controle do ativo não é transferido ao cliente, porque o cliente tem a sua capacidade de
venda, mas menor ou igual ao valor de mercado esperado do ativo, deve também ser contabilizado
dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do ativo limitada.
como uma venda de um produto com direito a devolução se o cliente não tiver um incentivo
econômico significativo para exercer o seu direito (vide Seção 5.2.2 para uma discussão sobre De acordo com os itens B70-B71 da IFRS 15, a entidade contabiliza a transação como um arrendamento de
vendas com direito a devolução). acordo com a IAS 17 Arrendamentos.

Se o cliente tiver a capacidade de requerer que uma entidade recompre o ativo por um preço igual ou
maior que o preço original de venda e o preço de recompra for maior que o valor de mercado 7.3.3 Vendas com garantias de valor residual
esperado do ativo, o contrato é, de fato, um financiamento. A norma fornece a seguinte orientação Uma entidade que vende equipamentos pode usar um programa de incentivo de vendas que garante
sobre aplicação em relação ao tratamento contábil para um acordo de financiamento: que o cliente receberá um valor mínimo de revenda quando vender os equipamentos. A norma
geralmente impede que a entidade reconheça uma venda de equipamentos se garantir o valor de
Extraído da IFRS 15 revenda e, em vez disso, requer que o acordo seja contabilizado como um arrendamento.

Contudo, uma entidade pode ser capaz de concluir que o tratamento da venda é apropriado,
B73. Se o preço de compra do ativo for igual ou maior que o preço original de venda e maior que o valor
dependendo se as exigências de acordos de recompra se aplicam. Por exemplo, se a garantia de valor
de mercado esperado do ativo, o contrato é, de fato, um acordo de financiamento e, assim, deve ser
residual é realizada por meio de uma opção de venda no contrato (por exemplo, o cliente tem o direito
contabilizado conforme descrito no item B68.
de requerer que a entidade recompre os equipamentos dois anos após a data da compra por 85% do
B74. Se o preço de recompra do ativo for igual ou maior que o preço original de venda, mas menor ou igual preço original de compra), a entidade teria de usar a orientação sobre aplicação na norma para
ao valor de mercado esperado do ativo e o cliente não tiver um incentivo econômico significativo para determinar se a existência da opção de venda impede o cliente de obter controle do item adquirido.
exercer o seu direito, então a entidade deve contabilizar o contrato como se fosse a venda de um
Nessas circunstâncias, a entidade determina se o cliente tem um incentivo econômico significativo para
produto com direito a devolução, conforme descrito no item B20-B27.
exercer o seu direito de venda. Se a entidade concluir que não há nenhum incentivo econômico
significativo, a transação seria contabilizada como uma venda de acordo com a norma.
Alternativamente, se a entidade concluir que há incentivo econômico significativo para o cliente exercer
o seu direito, a transação seria contabilizada como um arrendamento, conforme discutido acima.
Nosso ponto de vista
A nova norma fornece orientação sobre aplicação em relação às opções de venda subscritas em Contudo, assume-se que a transação não inclui um direito de recompra, mas inclui uma garantia de
que há atualmente orientação limitada segundo as normas IFRS. Contudo, a nova norma não valor residual. Se a entidade garante que indenizará (“ou compensará”) o cliente em uma venda
fornece qualquer orientação sobre a determinação sobre se existe “um incentivo econômico futura que se qualifica por menos de 85% do preço de venda inicial, não está claro se a orientação
significativo”, e um julgamento profissional pode ser requerido para realizar essa determinação. sobre aplicação relativa a acordos de recompra na IFRS 15 se aplicaria. Ou seja, uma vez que a
entidade não está recomprando o ativo, a orientação sobre aplicação pode não se aplicar.

A norma fornece o seguinte exemplo de uma opção de venda: Em vez disso, a transação pode ser vista como incluindo um componente de contraprestação variável.
Ainda que os aspectos econômicos de um acordo de recompra e uma garantia de valor residual
possam ser semelhantes, a contabilização pode ser bastante diferente.
Extraído da IFRS 15

Exemplo 62 – Acordos de recompra (IFRS 15.IE315, IE319-IE321) 7.4 Contratos de venda para entrega futura
Uma entidade celebra um contrato com um cliente para a venda de um ativo tangível em 1º de janeiro de Em algumas transações de venda, a entidade vendedora satisfaz as suas obrigações e fatura o cliente
20X7 por UM 1 milhão. pelo trabalho realizado, mas só envia os bens em uma data posterior. Essas transações,
frequentemente denominadas de transações de venda para entrega futura, são geralmente
Caso B – Opção de venda: arrendamento
concebidas dessa forma, a pedido do comprador, por uma série de razões, inclusive por capacidade de
Em vez de ter uma opção de compra, o contrato inclui uma opção de venda que obriga a entidade a armazenamento insuficiente ou devido à sua impossibilidade de usar os bens antes.
recomprar o ativo a pedido do cliente por UM 900.000 em 31 de dezembro de 20X7 ou em uma data
anterior. O valor de mercado esperado é de UM 750.000 em 31 de dezembro de 20X7.

112 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 113
O que muda com relação às normas IFRS atuais? Extraído da IFRS 15
Os critérios para determinar se uma transação de venda para entrega futura se qualifica para
reconhecimento de receita segundo a nova norma são semelhantes aos das atuais normas IFRS.60 Exemplo 63 – Acordos de venda para entrega futura (IFRS 15.IE323-IE327)
Esperamos que a maioria das transações de venda para entrega futura que se qualificam para o
Uma entidade celebra um contrato com um cliente em 1º de janeiro de 20X8 para a venda de uma máquina
reconhecimento de receita segundo os atuais normas IFRS também se qualificará para o
e de peças de reposição. O tempo de fabricação da máquina e das peças de reposição é de dois anos.
reconhecimento de receita segundo a nova norma. Contudo, a consideração de uma obrigação de
desempenho de custódia separada (conforme discutido no item IFRS 15.B80) pode ser nova para os Ao concluir a fabricação, a entidade demonstra que a máquina e as partes de reposição satisfazem as
que preparam demonstrações financeiras segundo IFRS, uma vez que isso não é abordado na IAS 18. especificações acordadas no contrato. As promessas de transferir a máquina e as partes de reposição
são distintas e resultam em duas obrigações de desempenho, cada uma das quais será satisfeita em um
A norma fornece a seguinte orientação sobre aplicação e um exemplo ilustrativo relativo a esses acordos: determinado momento. Em 31 de dezembro de 20X9, o cliente paga pela máquina e as peças de reposição,
mas assume a posse apenas da máquina. Apesar de o cliente inspecionar e aceitar as peças de reposição,
o cliente solicita que as peças de reposição sejam guardadas no armazém da entidade devido à sua
Extraído da IFRS 15 proximidade da fábrica do cliente. O cliente tem a propriedade das peças de reposição, e as peças podem
ser identificadas como pertencentes ao cliente. Além disso, a entidade armazena as peças de reposição em
B79. Um acordo de venda para entrega futura é um contrato segundo o qual uma entidade fatura um uma seção separada do seu armazém e as peças estão prontas para envio imediato a pedido do cliente. A
produto a um cliente, mas a entidade retém a posse do produto até que seja transferido ao cliente entidade espera manter as peças de reposição por um período de dois a quatro anos, e a entidade não tem a
em uma data futura. Por exemplo, um cliente pode requerer que uma entidade celebre esse capacidade de usar as peças de reposição ou destiná-las a outro cliente.
contrato devido à falta de espaço disponível para o produto enfrentada pelo cliente, ou a atrasos A entidade identifica a promessa de fornecer serviços de custódia como uma obrigação de desempenho,
nos cronogramas de produção do cliente. uma vez que é um serviço prestado ao cliente e distinto da máquina e das peças de reposição.
B80. Uma entidade deve determinar quando satisfez a sua obrigação de desempenho de transferir um Consequentemente, a entidade contabiliza três obrigações de desempenho no contrato (as promessas de
produto, avaliando quando um cliente obtém controle desse produto (vide item 38). Para alguns fornecer a máquina, as peças de reposição e os serviços de custódia). O preço da transação é alocado às
contratos, o controle é transferido quando o produto é entregue no local do cliente ou quando o três obrigações de desempenho, e receita é reconhecida quando (ou à medida que) o controle é transferido
produto é enviado, dependendo dos termos do contrato (incluindo os termos de entrega e envio). ao cliente.
Contudo, para alguns contratos, um cliente pode obter o controle de um produto mesmo que esse O controle da máquina é transferido ao cliente em 31 de dezembro de 20X9, quando o cliente assume a
produto permaneça sob a posse de uma entidade. Nesse caso, o cliente tem a capacidade de dirigir sua posse. A entidade avalia os indicadores no item 38 da IFRS 15 para determinar o momento em que o
o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do produto mesmo que tenha controle das peças de reposição é transferido ao cliente, notando que a entidade recebeu pagamento, o
decidido não exercer o seu direito de posse sobre esse produto. Consequentemente, a entidade não cliente tem a propriedade das peças de reposição e o cliente inspecionou e aceitou as peças de reposição.
controla o produto. Em vez disso, a entidade fornece serviços de custódia ao cliente relativos ao ativo Além disso, a entidade conclui que todos os critérios no item B81 da IFRS 15 são satisfeitos, o que é
do cliente. necessário para que a entidade reconheça receita em um acordo de venda para entrega futura. A entidade
B81. Além da aplicação das exigências no item 38, para que um cliente tenha obtido o controle de um reconhece receita para as peças de reposição em 31 de dezembro de 20X9, quando o controle é transferido
produto em um acordo de venda para entrega futura, todos os critérios a seguir devem ser satisfeitos: ao cliente.

(a) o motivo do acordo de venda para entrega futura deve ser relevante (por exemplo, o cliente A obrigação de desempenho de prestar serviços de custódia é satisfeita ao longo do tempo conforme os
requereu o acordo); serviços são prestados. A entidade considera se os termos de pagamento incluem um componente de
financiamento significativo de acordo com os itens 60-65 da IFRS 15.
(b) o produto deve ser identificado separadamente como pertencente ao cliente;

(c) o produto neste momento deve estar pronto para a sua transferência física ao cliente; e
7.5 Aceitação pelo cliente
(d) a entidade não pode ter a capacidade de usar o produto ou de destiná-lo a outro cliente.
Ao determinar se o cliente obteve o controle dos bens ou serviços, uma entidade deve considerar
B82. Se uma entidade reconhece receita pela venda de um produto na base de venda para entrega futura, quaisquer cláusulas de aceitação pelo cliente que requerem que ele aprove os bens ou serviços antes
a entidade deve considerar se tem obrigações de desempenho remanescentes (por exemplo, por
de ser obrigado a pagar por eles. Essas cláusulas podem ser simples e diretas, dando a um cliente a
serviços de custódia), de acordo com os itens 22-30, às quais a entidade deve alocar uma parte do
capacidade de aceitar ou recusar os bens ou serviços com base em critérios objetivos especificados
preço da transação, de acordo com os itens 73-86.
no contrato (por exemplo, os bens operam em uma determinada velocidade), ou podem ter uma
natureza mais subjetiva. Se um cliente não aceitar os bens ou serviços, o vendedor não poderá ter o
direito a contraprestação e poderá ser solicitado a tomar medidas de remediação ou a receber de
60 IAS 18.IE1. volta o bem entregue.

114 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 115
A norma fornece a seguinte orientação sobre aplicação relativa à forma de avaliar as disposições Segundo a IFRS 15, a entidade estima o preço da transação e reconhece receita com base nos valores
sobre a aceitação pelo cliente: aos quais a entidade espera ter direito até o final do período para devolução (considerando as
devoluções esperadas de produtos). A entidade reconhece o valor das devoluções esperadas como um
Extraído da IFRS 15 passivo de reembolso, que representa a sua obrigação de devolver a contraprestação do cliente. Se a
entidade não for capaz de estimar as devoluções, receita não é reconhecida até que as devoluções
B83. De acordo com o item 38(e), a aceitação por um cliente de um ativo pode indicar que o cliente obteve possam ser razoavelmente estimadas, o que pode ocorrer no final do período para devolução.
o controle do ativo. As cláusulas de aceitação pelo cliente permitem que ele cancele um contrato
ou requeira que uma entidade tome medidas de remediação se um bem ou serviço não satisfizer as Uma entidade também atualiza as suas estimativas no final de cada período-base (vide Seção 5.2.2
especificações acordadas. Uma entidade deve considerar essas cláusulas ao avaliar quando um cliente para discussão mais detalhada sobre este tópico).
obtém o controle de um bem ou serviço.

B84. Se uma entidade puder objetivamente determinar que o controle de um bem ou serviço foi transferido 7.8 Quebras e pagamentos antecipados de bens ou serviços futuros
ao cliente segundo as especificações acordadas no contrato, então a aceitação pelo cliente é uma Em determinados setores, uma entidade receberá pagamentos não reembolsáveis de seus clientes
formalidade que não afetaria a determinação pela entidade de quando o cliente obteve controle por bens ou serviços que o cliente tem o direito de receber no futuro. Contudo, o cliente pode acabar
do bem ou serviço. Por exemplo, se a cláusula de aceitação pelo cliente se baseia na satisfação das não exercendo esse direito (geralmente referido como “quebra”). Os varejistas, por exemplo,
características de tamanho e peso, uma entidade seria capaz de determinar se esses critérios foram frequentemente vendem cartões de presente que não estão completamente resgatados, e as
satisfeitos antes de receber a confirmação da aceitação pelo cliente. A experiência da entidade
companhias aéreas vendem às vezes passagens a passageiros que não as usam até a data do término
com contratos para bens ou serviços semelhantes pode fornecer evidência de que o bem ou serviço
da sua validade. Quando uma entidade recebe contraprestação atribuível aos direitos não exercidos
fornecido ao cliente está de acordo com as especificações acordadas no contrato. Se receita for
reconhecida antes da aceitação pelo cliente, a entidade deve ainda considerar se há alguma obrigação
de um cliente, a entidade reconhece um passivo contratual igual ao valor pago antecipadamente pelo
de desempenho remanescente (por exemplo, a instalação dos equipamentos) e avaliar se deve cliente. Receita seria normalmente reconhecida quando uma entidade satisfaz a sua obrigação de
contabilizá-la separadamente. desempenho.

B85. Contudo, se uma entidade não puder objetivamente determinar se o bem ou serviço fornecido ao Contudo, uma vez que as entidades frequentemente não serão solicitadas pelos clientes a satisfazer
cliente está de acordo com as especificações acordadas no contrato, então a entidade não seria plenamente as suas obrigações de desempenho, os Comitês concluíram que quando uma entidade
capaz de concluir se o cliente obteve o controle até que a entidade receba a aceitação pelo cliente. espera ter direito a um valor de quebra, a quebra esperada seria reconhecida como receita
Isso porque, nessas circunstâncias, a entidade não pode determinar se o cliente tem a capacidade de
proporcionalmente ao padrão dos direitos exercidos pelo cliente. Do contrário, os valores de quebra
dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios remanescentes do bem ou serviço.
seriam reconhecidos quando as chances de o cliente exercer o seu direito se tornassem remotas.
B86. Se uma entidade entregar produtos a um cliente para fins de teste ou avaliação e o cliente não tiver
nenhum compromisso da pagar qualquer contraprestação até que o período de teste termine, o Os valores de quebra são essencialmente uma forma de contraprestação variável. Assim, ao estimar
controle do produto não é transferido ao cliente até que o cliente aceite o produto ou o período de qualquer valor de quebra, uma entidade deve considerar a restrição sobre contraprestação variável,
teste termine. conforme discutido na Seção 5.1. Ou seja, se for provável que um estorno significativo de receita
ocorra para quaisquer valores de quebras, uma entidade não reconheceria esses valores até que o
potencial para o estorno tenha deixado de existir.
A determinação sobre se os critérios de aceitação são subjetivos e se foram satisfeitos pode requerer
julgamento profissional. Contudo, isso é geralmente consistente com a prática atual. Não está claro como a orientação sobre aplicação sobre quebra pretende interagir com as exigências
para determinar um preço de venda individual. Ou seja, a orientação sobre aplicação sobre quebra
7.6 Licenciamento e direitos de uso sugere que a entidade reconhece um passivo pelo valor integral do pagamento antecipado. Então, ela
reconheceria quebra sobre esse passivo proporcionalmente à receita reconhecida. Isso está claro em
A IFRS 15 fornece um modelo para determinar a época da transferência do controle para licenças de
acordos com apenas um elemento (ou seja, um varejista vende um cartão de presente a um cliente).
propriedade intelectual, que é diferente das exigências gerais, discutidas na Seção 7.1 acima.
Quaisquer licenças de propriedade intelectual que sejam distintas devem aplicar essa orientação Contudo, se o elemento de pagamento antecipado (ou seja, a venda de um cartão de presente ou a
sobre aplicação separada. Discutimos licenciamento, direitos de uso e a satisfação dessas obrigações compra de milhas de passageiros frequentes) fizer parte de um acordo de múltiplos elementos, fica
de desempenho detalhadamente na Seção 8.4. menos claro como a entidade deve contabilizá-lo. Em acordos de múltiplos elementos, a entidade
deve determinar o preço de venda individual de cada elemento, inclusive o elemento pago
7.7 Reconhecimento de receita quando existe um direito a devolução antecipadamente. Se o preço de venda individual para o elemento pago antecipadamente não for
Conforme discutido na Seção 4.7, um direito a devolução não representa uma obrigação de diretamente observável (por exemplo, a compra de milhas de passageiros frequentes), a norma requer
desempenho separada. Em vez disso, a existência de um direito a devolução afeta o preço da que uma entidade o estime. Ao fazer essa estimativa, parece razoável que a entidade leve em
transação e a entidade deve determinar se o cliente irá devolver o produto transferido. consideração a probabilidade de o cliente requerer os serviços que tenha pagado antecipadamente,
ou a potencial quebra, conforme ilustrado no Exemplo 52 da IFRS 15, incluído na transcrição abaixo.

116 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 117
Extraído da IFRS 15 8 Outros tópicos de mensuração e reconhecimento

Exemplo 52 – Programa de fidelidade do cliente (IFRS 15.IE267-IE270) 8.1 Garantias


Uma entidade tem um programa de fidelidade do cliente que o recompensa com um ponto por fidelidade do Garantias são geralmente incluídas em acordos para a venda de bens ou serviços, expressa ou
cliente para cada UM 10 de compras. Cada ponto pode ser resgatado sob a forma de um desconto de UM 1
implicitamente, com base nas práticas habituais de negócio da entidade. O preço pode ser incluído no
em compras futuras dos produtos da entidade. Durante um período-base, os clientes compram produtos no
preço geral de compra dessas garantias ou especificado separadamente como um produto opcional. A
valor de UM 100.000 e ganham 10.000 pontos, que são resgatáveis em compras futuras. A contraprestação
é fixa, e o preço de venda individual dos produtos comprados é de UM 100.000. A entidade espera que
norma identifica dois tipos de garantias:
9.500 pontos sejam resgatados. A entidade estima um preço de venda individual de UM 0,95 por ponto
•• Garantias que fornecem um serviço ao cliente além da asseguração de que o produto entregue é
(totalizando UM 9.500) com base na probabilidade do resgate, de acordo com o item B42 da IFRS 15.
exatamente o especificado no contrato (denominadas “garantias do tipo de serviço”);
Os pontos fornecem um direito material aos clientes que não receberão sem celebrar um contrato.
Consequentemente, a entidade conclui que a promessa de fornecer pontos ao cliente é uma obrigação de •• Garantias que certificam ao cliente que o produto entregue é exatamente o especificado no contrato
desempenho. A entidade aloca o preço da transação (UM 100.000) ao produto e os pontos com base no (denominadas “garantias do tipo de asseguração”).
preço de venda individual relativo da seguinte forma:
8.1.1 Garantias do tipo de serviço
UM
Se o cliente tiver a opção de adquirir a garantia separadamente ou se a garantia fornecer um serviço ao
Produto 91.324 [UM 100.000 × (UM 100.000 preço de venda individual ÷ UM
cliente além de consertar os defeitos existentes no momento da venda, a entidade está fornecendo
109.500)]
uma garantia do tipo de serviço. Os Comitês determinaram que esse tipo de garantia representa um
Pontos 8.676 [UM 100.000 × (UM 9.500 preço de venda individual ÷ UM 109.500)]
serviço distinto e é uma obrigação de desempenho separada. Assim, usando o preço de venda
No final do primeiro período-base, 4.500 pontos foram resgatados e a entidade espera um resgate total individual estimado da garantia, a entidade aloca uma parte do preço da transação à garantia (vide
de 9.500 pontos. A entidade reconhece receita pelos pontos de fidelidade de UM 4.110 [(4.500 pontos ÷ Seção 6). A entidade então reconhece a receita alocada ao longo do período em que o serviço de
9.500 pontos) × UM 8.676] e reconhece um passivo contratual de UM 4.566 (UM 8.676 - UM 4.110) pelos garantia é prestado.
pontos não resgatados no final do primeiro período-base.
Julgamento profissional pode ser requerido para determinar o padrão apropriado de
No final do segundo período-base, o total acumulado de pontos resgatados é de 8.500 pontos. A entidade
atualiza a sua estimativa dos pontos que serão resgatados e agora espera que 9.700 pontos sejam
reconhecimento de receita associado com garantias do tipo de serviço. Por exemplo, uma entidade
resgatados. A entidade reconhece receita pelos pontos de fidelidade de UM 3.493 {[(8.500 total de pode determinar que presta o serviço de garantia continuamente ao longo do período de garantia
pontos resgatados ÷ 9.700 total de pontos resgatados esperado) × UM 8.676 alocação inicial] - UM 4.110 (ou seja, a obrigação de desempenho é uma obrigação de “manter-se de prontidão para
reconhecidos no primeiro período-base}. O saldo do passivo contratual é de UM 1.073 (UM 8.676 alocação desempenhar” durante o período de garantia declarado). Uma entidade que faz essa determinação
inicial - UM 7.603 de receita acumulada reconhecida). reconhecerá provavelmente receita proporcionalmente ao longo do período de garantia. Uma
entidade pode também concluir que um diferente padrão de reconhecimento é apropriado, com
base em dados suficientes, sobre quando presta esses serviços. Por exemplo, uma entidade pode
A consideração da possibilidade de que o item não seja resgatado como parte da estimativa do preço reconhecer um valor baixo ou nenhuma receita no primeiro ano de uma garantia do tipo de serviço
de venda individual resulta em um valor menor de receita sendo alocado ao elemento pago de três anos se os dados históricos indicarem que os serviços de garantia são tipicamente prestados
antecipadamente. Como resultado, a receita diferida associada a esse elemento poderia ser inferior apenas no segundo e terceiro anos do período de garantia.
ao “pagamento antecipado” contratual, o que parece inconsistente com as exigências na norma para
esses tipos de transações. Mudanças na estimativa dos custos para satisfazer obrigações de desempenho de garantia do tipo de
serviço não resultam em uma revisão da alocação original do preço de venda individual relativo. Por
7.9 Contratos onerosos exemplo, uma entidade pode descobrir, dois meses após o envio de um produto, que o custo de uma
peça adquirida de um fabricante terceirizado foi três vezes maior e que custará muito mais para a
Segundo as normas IFRS atuais, algumas entidades são solicitadas a reconhecer uma provisão para
entidade substituir essa peça se uma reclamação for feita durante a garantia. Essa mudança não
contratos onerosos para determinados contratos. A IFRS 15 indica que as entidades continuarão a ser
afetará o valor do preço da transação que a entidade aloca à garantia do tipo de serviço, uma vez que o
instadas a constituir provisão para perdas esperadas de contratos, de acordo com a IAS 37 Provisões,
reconhecimento do custo da garantia do tipo de serviço não afeta o reconhecimento de receita.
Passivos Contingentes e Ativos Contingentes. Contratos onerosos são discutidos mais
detalhadamente na Seção 8.2.
8.1.2 Garantias do tipo de asseguração
Os Comitês concluíram que as garantias do tipo de asseguração não fornecem um bem ou serviço
adicional ao cliente (ou seja, não são obrigações de desempenho separadas). Ao fornecer esse tipo de
garantia, a entidade vendedora fornece efetivamente uma garantia de qualidade. De acordo com a
norma, esses tipos de garantias são contabilizados como obrigações de garantia e o custo estimado de
satisfazê-las é provisionado de acordo com as exigências da IAS 37. Depois de registrado, o passivo de
garantia é avaliado periodicamente, para garantir que mudanças no ambiente ou obrigações do
vendedor sejam refletidas no passivo registrado. O passivo é ajustado (com a compensação registrada
como um ajuste de despesas) à medida que mudanças nas estimativas ocorrerem.

118 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 119
8.1.3 Determinação sobre se uma garantia é do tipo de asseguração ou de serviço Quando uma garantia do tipo de asseguração e uma garantia do tipo de serviço puderem ser
Em algumas circunstâncias, pode ser difícil determinar se uma garantia fornece ao cliente um serviço contabilizadas separadamente, uma entidade é instada a provisionar os custos esperados associados
além da asseguração de que o produto entregue observa as especificações no contrato. Para ajudar à garantia do tipo de asseguração e diferir a receita para a garantia do tipo de serviço. O exemplo
as entidades a fazer essa avaliação, a norma fornece a seguinte orientação sobre aplicação: abaixo salienta este ponto:

Extraído da IFRS 15 Exemplo 8-1 — Garantias do tipo de serviço e de asseguração

B31. Ao avaliar se uma garantia fornece ao cliente um serviço além da asseguração de que o produto está Uma entidade fabrica e vende computadores que incluem uma garantia do tipo de asseguração durante
em conformidade com as especificações acordadas, uma entidade deve considerar fatores como: os primeiros 90 dias. A entidade oferece um plano de “cobertura estendida” opcional, segundo o qual
consertará ou substituirá qualquer peça defeituosa por três anos a partir do término da garantia do tipo de
(a) Se a garantia é requerida por lei – se a entidade é solicitada por lei a fornecer uma garantia, a asseguração. Uma vez que o plano de “cobertura estendida” opcional é vendido separadamente, a entidade
existência dessa lei indica que a garantia prometida não é uma obrigação de desempenho, porque determina que os três anos de cobertura estendida representam uma obrigação de desempenho separada
essas exigências tipicamente existem para proteger os clientes do risco de comprar produtos (ou seja, uma garantia do tipo de serviço).
defeituosos.
O preço da transação total para a venda de um computador e da garantia estendida é de UM 3.600. A
(b) A duração do período de cobertura da garantia – quanto mais longo for o período de cobertura, entidade determina que o preço de venda individual de cada um é de UM 3.200 e UM 400, respectivamente.
mais provável será que a garantia prometida seja uma obrigação de desempenho, porque é mais O valor do estoque do computador é de UM 1.440. Além disso, a entidade estima que, com base na sua
provável que forneça um serviço além da asseguração de que o produto está de acordo com as experiência, incorrerá custos de UM 200 para consertar defeitos surgidos dentro do período de cobertura
especificações acordadas. de 90 dias para a garantia do tipo de asseguração. Como resultado, a entidade registrará os seguintes
(c) A natureza das tarefas que a entidade promete realizar – se for necessário para uma entidade lançamentos:
realizar tarefas específicas para fornecer garantia de que um produto está de acordo com Dr. Caixa/Contas a receber de clientes 3.600
as especificações acordadas (por exemplo, um serviço de envio na devolução de um produto Dr. Despesa de garantia 200
defeituoso), então essas tarefas provavelmente não dão origem a uma obrigação de desempenho.
Cr. Provisão para custos de garantia (garantia do tipo de asseguração) 200
Cr. Passivo contratual (garantia do tipo de serviço) 400
Cr. Receita 3.200
Nosso ponto de vista
As entidades podem precisar exercer julgamento profissional significativo ao determinar se uma Para registrar receita e passivos contratuais relativos a garantias.
garantia é do tipo de asseguração ou do tipo de serviço. A avaliação de uma entidade pode ser Dr. Custo dos bens vendidos 1.440
afetada por diversos fatores, inclusive práticas comuns de garantia no setor e as práticas de Cr. Estoque 1.440
negócio da entidade relativas a garantias. Por exemplo, considere-se uma montadora de
veículos que fornece uma garantia de cinco anos para um veículo de luxo e uma garantia de três Para liberar estoque e reconhecer custo dos bens vendidos.
anos para um veículo básico. A montadora pode concluir que o período de garantia maior não é A entidade desreconhece o passivo de garantia provisionado associado com a garantia do
um serviço adicional, porque acredita que os materiais utilizados para montar o veículo de luxo tipo de asseguração à medida que os efetivos custos de garantia forem incorridos durante os
são de qualidade superior e que defeitos latentes demorariam mais tempo para aparecer. Por primeiros 90 dias após o recebimento do computador pelo cliente. A entidade reconhece o
outro lado, a montadora pode também comparar a garantia com aquelas oferecidas por suas passivo de contrato associado com a garantia do tipo de serviço como receita durante o período
concorrentes e concluir que o período de garantia de cinco anos, ou uma parte dele, é um de garantia do contrato e reconhece os custos associados com o fornecimento da garantia
serviço adicional que precisa ser contabilizado como uma garantia do tipo de serviço. do tipo de serviço conforme forem incorridos. Ou seja, a entidade precisaria ser capaz de
determinar se os custos de conserto incorridos são aplicados contra a provisão para garantia já
estabelecida ou reconhecidos como uma despesa conforme incorridos.
8.1.4 Acordos que contêm garantias do tipo de asseguração e de serviço
Alguns acordos podem incluir uma garantia do tipo de asseguração e também uma garantia do tipo de
A contabilização de garantias do tipo de asseguração e garantias do tipo de serviço simultaneamente
serviço, como ilustrado abaixo. Contudo, se uma entidade fornece garantia do tipo de asseguração e
pode ser complexa. As entidades podem precisar desenvolver processos para conciliar os pedidos de
também garantia do tipo de serviço em um acordo e a entidade não puder razoavelmente contabilizá-
garantia individuais com os planos de garantia específicos, para que os pedidos possam ser analisados ​​
las separadamente, as garantias são contabilizadas como uma única obrigação de desempenho (ou
para o seu tratamento contábil apropriado. Essa avaliação individual dos pedidos de garantia é
seja, receita seria alocada à garantia combinada e reconhecida ao longo do período em que os
necessária porque os custos de garantia do tipo de asseguração terão sido provisionados
serviços de garantia forem fornecidos).
anteriormente, ao passo que os custos de garantia do tipo de serviço são uma despesa reconhecida

120 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 121
conforme forem incorridos (vide Exemplo 8-2 abaixo, que ilustra esse ponto). transações, não há nenhuma norma geral oficial sobre quando reconhecer perdas em contratos
onerosos e, se uma perda deva ser reconhecida, a forma de medi-la. Assim, há uma diversidade de
tratamentos na prática quando esses contratos não estão dentro do escopo da literatura oficial
Exemplo 8-2 — Custos de garantias do tipo de serviço e de asseguração
específica. Uma vez que o FASB manteve as exigências existentes segundo US GAAP para contratos
onerosos, essa diversidade na prática provavelmente continuará.
Assumem-se os mesmos fatos do exemplo 8-1, contudo a entidade vendeu 500 computadores durante o
ano. Em janeiro do ano seguinte, pedidos de garantia no valor de UM 10.000 são feitos pelos clientes. A Segundo as normas IFRS, as exigências na IAS 37 para contratos onerosos se aplicam a todos os
entidade analisa cada pedido e identifica as vendas específicas de computadores às quais os pedidos se contratos dentro do escopo da IFRS 15. A nova norma afirma que as entidades que forem instadas a
referem, procedimento que deve ser realizado para verificar o direito a garantia, segundo os planos de reconhecer um passivo por perdas esperadas em contratos, segundo a IAS 37, continuarão a ser
garantia e o tratamento contábil apropriado.
solicitada a fazê-lo. A IAS 37 requer o seguinte em relação a contratos onerosos:
A entidade determina que uma parcela dos pedidos, envolvendo custo de UM 2.500 com conserto e peças
de reposição, é coberta pelo plano de garantia do tipo de asseguração. Conforme apresentado no exemplo Extraído da IAS 37
8-1, o custo esperado de cada garantia do tipo de asseguração foi provisionado no momento da venda. A
entidade registra o seguinte lançamento para desreconhecer uma parcela do passivo de garantia:
66. Se uma entidade tem um contrato que é oneroso, a obrigação presente segundo o contrato deve ser
Dr. Provisão para custos de garantia (garantia do tipo de asseguração) 2.500 reconhecida e mensurada como uma provisão.
Cr. Caixa 2.500
67. Diversos contratos (por exemplo, algumas ordens de compra de rotina) podem ser cancelados sem o
Para desreconhecer o passivo de garantia do tipo de asseguração à medida que os custos forem incorridos. pagamento de contraprestação à outra parte e, assim, não há nenhuma obrigação. Outros contratos
estabelecem tanto direitos como obrigações para cada uma das partes do contrato. Quando os eventos
A entidade também determina que uma parte dos pedidos, envolvendo custo de UM 7.000 de conserto
tornarem esse contrato oneroso, o contrato se enquadra no escopo desta Norma e um passivo existe, o qual
e peças de reposição, é elegível segundo o plano de “cobertura estendida” (ou seja, a garantia do tipo de
é reconhecido. Contratos executórios que não sejam onerosos não se enquadram no escopo desta Norma.
serviço). A entidade registra o seguinte lançamento para reconhecer os custos associados à garantia do tipo
de serviço: 68. Esta Norma define um contrato oneroso como um contrato em que os custos inevitáveis para satisfazer
as obrigações segundo o contrato ultrapassam os benefícios econômicos a serem recebidos segundo o
Dr. Despesa de garantia 7.000
contrato. Os custos inevitáveis segundo o contrato refletem o custo líquido mínimo de sair do contrato,
Cr. Caixa 7.000
que é o custo de cumpri-lo ou o valor de qualquer compensação ou penalidades resultantes do seu
Para registrar os custos da garantia do tipo de serviço à medida que os custos forem incorridos. descumprimento, dos dois o menor.

A entidade determina também que pedidos no valor de UM 500 não são elegíveis segundo os dois planos de 69. Antes de uma provisão separada para um contrato oneroso ser estabelecida, uma entidade reconhece
garantia, uma vez que os pedidos se referem a eventos que ocorreram após o período de cobertura de 90 qualquer perda por redução ao valor recuperável que tenha ocorrido nos ativos dedicados a esse
dias para a garantia do tipo de asseguração e as vendas para as quais o cliente não adquiriu a cobertura de contrato (vide IAS 36).
garantia estendida. A entidade recusa esses pedidos de clientes.

8.3 Custos de contratos


O que muda com relação às normas IFRS atuais? A IFRS 15 especifica o tratamento contábil para custos que uma entidade incorre para obter e cumprir
As exigências para garantias do tipo de asseguração, conforme discutido na Seção 8.1.2, são um contrato para fornecer bens e serviços a clientes, tanto para contratos obtidos como para
essencialmente as mesmas que as da prática atual segundo as normas IFRS. As exigências para contratos em negociação.
garantias do tipo de serviço podem diferir da prática atual, particularmente em relação ao valor do
preço da transação que é alocado à obrigação de desempenho de garantia, conforme discutido na 8.3.1 Custos para obter um contrato
Seção 8.1.1. Atualmente, as entidades que fornecem garantias estendidas separadas frequentemente Segundo a IFRS 15, os custos incrementais para obter um contrato (ou seja, os custos que não teriam
diferem um valor igual ao preço declarado da garantia e registram esse valor como receita, sido incorridos se o contrato não tivesse sido obtido) são reconhecidos como um ativo se a entidade
homogeneamente ao longo do período de garantia. A IFRS 15 requer que uma entidade difira um espera recuperá-los. Isso pode significar recuperação direta (ou seja, por meio de reembolso segundo o
valor alocado com base na alocação do preço de venda individual relativo, o que, na maioria dos contrato) ou recuperação indireta (ou seja, por meio da margem inerente ao contrato). Como um
casos, aumentará a complexidade do assunto e provocará a necessidade de julgamento profissional. expediente prático, a norma permite que uma entidade contabilize em despesa os custos de aquisição do
contrato quando o ativo que teria resultado da capitalização desses custos teria sido amortizado ao longo
8.2 Contratos onerosos de um período de um ano ou inferior. Apesar de não estar expressamente dito, acreditamos que as
Durante o desenvolvimento da norma, os Comitês tinham proposto requerer que as entidades entidades podem escolher essa abordagem como uma opção de política contábil e, se o fizerem, devem
constituam provisão para situações em que esperavam incorrer uma perda, em uma obrigação de aplicá-la consistentemente a todos os custos de aquisição de contratos de curto prazo.
desempenho única (denominada obrigação de desempenho onerosa) ou em um contrato inteiro
A norma menciona comissões de venda como um exemplo de um custo incremental que pode
(denominado contrato oneroso). Em resposta ao feedback negativo recebido sobre o projeto da norma
requerer capitalização segundo a norma. Por exemplo, comissões de vendas diretamente relacionadas
de novembro de 2011, os Comitês decidiram não incluir essas exigências na norma final. Em vez
a vendas obtidas durante um período de tempo provavelmente representariam custos incrementais
disso, os Comitês decidiram manter as suas correspondentes exigências existentes para essas
que requereriam capitalização. Por outro lado, alguns bônus e outra remuneração que forem
situações. Como resultado, o tratamento contábil nessa área não foi incorporado; ou seja, as atuais
baseados em outras métricas quantitativas ou qualitativas [por exemplo, rentabilidade, resultado por
exigências para contratos onerosos não são consistentes entre as normas IFRS e US GAAP.
ação (EPS), avaliações de desempenho] provavelmente não satisfazem os critérios para capitalização,
Segundo o atual US GAAP, apesar de existirem exigências para alguns setores ou para alguns tipos de porque não estão diretamente relacionados à obtenção de um contrato. Outro exemplo de um custo
incremental pode ser o custo de uma contingência legal quando um advogado concorda em receber

122 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 123
pagamento apenas no momento do término de uma negociação com êxito. A determinação de quais contábil apropriado para esses custos, a IFRS 15 esclarece que quaisquer outras normas aplicáveis
custos devem ser capitalizados segundo a norma pode requerer uso de julgamento profissional. são primeiramente consideradas.

A norma fornece o seguinte exemplo de custos incrementais da obtenção de um contrato:


Extraído da IFRS 15

Extraído da IFRS 15 95. Se os custos incorridos no cumprimento de um contrato com um cliente não se enquadrarem no escopo
de outra norma (por exemplo, IAS 2 Estoques, IAS 16 Imobilizado ou IAS 38 Ativos Intangíveis), uma
Exemplo 36 - Custos incrementais da obtenção de um contrato (IFRS 15.IE189-IE191) entidade deve reconhecer um ativo dos custos incorridos para cumprir um contrato apenas se esses
custos satisfizerem todos os seguintes critérios:
Uma entidade, prestadora de serviços de consultoria, ganha uma licitação para prestar serviços de
consultoria a um novo cliente. A entidade incorreu os seguintes custos para obter o contrato: (a) os custos se relacionam diretamente com um contrato ou com um contrato previsto que a entidade
pode especificamente identificar (por exemplo, custos relativos a serviços a serem fornecidos
UM segundo a renovação de um contrato existente ou custos de desenho de um ativo a ser transferido
Honorários de advogados externos para due diligence 15.000 segundo um contrato específico que ainda não foi aprovado);
Custos de viagem para a entrega da proposta 25.000 (b) os custos geram ou aprimoram recursos da entidade que serão utilizados para satisfazer (ou
Comissões a empregados de vendas 10.000 continuar a satisfazer) obrigações de desempenho no futuro; e

Total dos custos incorridos 50.000 (c) espera-se que os custos sejam recuperados.

96. Para custos incorridos no cumprimento de um contrato com um cliente que se enquadram no escopo
de outra Norma, a entidade deve contabilizar esses custos de acordo com essas outras Normas.
De acordo com o item 91 da IFRS 15, a entidade reconhece um ativo pelos custos incrementais de UM
10.000 para obter o contrato, resultante das comissões aos empregados de vendas, uma vez que a entidade
espera recuperar esses custos por meio de honorários futuros pelos serviços de consultoria. A entidade A IFRS 15 afirma que custos podem ser capitalizados mesmo se o correspondente contrato de receita
paga também bônus anuais discricionários aos supervisores de vendas, com base nas metas anuais de com o cliente não estiver finalizado. Contudo, em vez de permitir que os custos sejam relacionados a
vendas, rentabilidade geral da entidade e avaliações de desempenho individual. De acordo com o parágrafo
qualquer potencial contrato futuro, a norma requer que os custos sejam associados a um contrato
91 da IFRS 15, a entidade não reconhece um ativo para os bônus pagos aos supervisores de vendas, porque
previsto especificamente identificável.
os bônus não são incrementais para a obtenção de um contrato. Os valores são discricionários e baseados
em outros fatores, inclusive a rentabilidade da entidade e o desempenho individual dos empregados. Os
A norma discute e fornece exemplos de custos que podem satisfazer o primeiro critério para
bônus não são diretamente atribuíveis a contratos identificáveis.
capitalização (ou seja, custos diretamente relacionados ao contrato), como segue:
A entidade observa que os honorários de advogados externos e os custos de viagens teriam sido incorridos
independentemente de o contrato ter sido obtido. Assim, de acordo com o item 93 da IFRS 15, esses custos Extraído da IFRS 15
são reconhecidos como despesas quando incorridos, exceto se enquadrados no escopo de outra norma,
caso em que as disposições relevantes dessa norma se aplicam.
97. Custos diretamente relacionados a um contrato (ou a um contrato previsto específico) incluem
quaisquer um dos seguintes itens:

(a) mão de obra direta (por exemplo, salários e ordenados de empregados que prestam os serviços
Nosso ponto de vista prometidos diretamente ao cliente);

A IFRS 15 representa uma mudança significativa para entidades que atualmente lançam em (b) materiais diretos (por exemplo, suprimentos utilizados na prestação dos serviços prometidos ao
despesa os custos da obtenção de um contrato e que serão solicitadas a capitalizá-los cliente);
segundo a nova norma. Adicionalmente, isso pode ser uma mudança para entidades que (c) alocações dos custos diretamente relacionados ao contrato ou às atividades do contrato (por
atualmente capitalizam custos para obter um contrato, particularmente se os valores exemplo, custos da administração do contrato e de supervisão, seguro e depreciação de
atualmente capitalizados não forem incrementais e, assim, não seriam elegíveis a ferramentas e equipamentos utilizados no cumprimento do contrato);
capitalização segundo a IFRS 15.
(d) custos que são expressamente cobráveis ao cliente segundo o contrato; e

(e) outros custos que são incorridos apenas porque uma entidade celebrou o contrato (por exemplo,
8.3.2 Custos para cumprir um contrato pagamentos a subcontratadas).

A norma divide os custos de cumprir um contrato em duas categorias: (1) custos que dão origem a
um ativo; e (2) custos que são lançados em despesa quando incorridos. Ao determinar o tratamento Ao determinar se os custos satisfazem os critérios para capitalização, uma entidade deve considerar
os seus fatos e circunstâncias específicos. Um exemplo de custos incorridos que geram ou aprimoram
recursos da entidade que serão utilizados para satisfazer as obrigações de desempenho no futuro
podem ser os custos intangíveis de desenho e de engenharia relacionados a desempenho futuro que
fornecem (ou continuam a fornecer) benefícios ao longo do prazo do contrato.

124 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 125
Para que os custos satisfaçam o critério de “recuperação esperada”, precisam ser expressamente A IFRS 15 requer que, se os custos incorridos no cumprimento do contrato não dão origem a um ativo
reembolsáveis segundo o contrato, ou refletidos por meio do preço no contrato e recuperáveis por com base nos critérios especificados acima, devem ser lançados em despesa conforme incorridos. A
meio de margem. norma fornece alguns exemplos comuns de custos que devem ser lançados em despesa conforme
incorridos, como segue:

Extraído da IFRS 15
Extraído da IFRS 15
Exemplo 37 – Custos que dão origem a um ativo (IFRS 15.IE192-IE196)
98. Uma entidade deve reconhecer os seguintes custos como despesas quando incorridos:
Uma entidade celebra um contrato de serviço para gerenciar o centro de dados de informática de um cliente
por cinco anos. O contrato é renovável por períodos subsequentes de um ano. O prazo médio do cliente é (a) custos gerais e administrativos (exceto se esses custos sejam expressamente cobráveis ao
de sete anos. A entidade paga comissão de venda de UM 10.000 a um empregado no momento em que cliente segundo o contrato, caso em que uma entidade deve avaliar esses custos de acordo
o cliente celebra o contrato. Antes de prestar os serviços, a entidade desenha e constrói uma plataforma com o item 97);
tecnológica, para o uso interno da entidade, com interface com os sistemas do cliente. A plataforma não é
(b) custos de materiais desperdiçados, mão de obra ou outros recursos para cumprir o contrato que
transferida ao cliente, mas será utilizada para a entrega dos serviços ao cliente.
não foram refletidos no preço do contrato;
Custos incrementais da obtenção de um contrato
(c) custos relativos a obrigações de desempenho satisfeitas (ou obrigações de desempenho
De acordo com o item 91 da IFRS 15, a entidade reconhece um ativo pelos custos incrementais de UM parcialmente satisfeitas) no contrato (ou seja, custos relativos a desempenho passado); e
10.000 para obter o contrato, resultantes das comissões de vendas, uma vez que a entidade espera
(d) custos para os quais uma entidade não pode distinguir se são relativos a obrigações de
recuperar esses custos por meio de honorários futuros pelos serviços a serem prestados. A entidade
desempenho não satisfeitas ou a obrigações de desempenho satisfeitas (ou obrigações de
amortiza o ativo ao longo do período de sete anos, de acordo com o item 99 da IFRS 15, uma vez que
desempenho parcialmente satisfeitas).
o ativo se relaciona aos serviços transferidos ao cliente durante o prazo do contrato de cinco anos e a
entidade prevê que o contrato será renovado por dois períodos subsequentes de um ano cada.

Se uma entidade não for capaz de determinar se determinados custos se relacionam ao desempenho
8.3.2 Custos para cumprir um contrato passado ou futuro e os custos não forem elegíveis a capitalização, segundo outras normas IFRS, os
custos são lançados em despesa conforme incorridos.
Os custos iniciais incorridos para implantar a plataforma tecnológica são os seguintes:
UM
8.3.3 Amortização e redução ao valor recuperável de custos capitalizados
Serviços de desenho 40.000
Quaisquer custos de contrato capitalizados são amortizados, com a despesa sendo reconhecida à
Hardware 120.000
medida que a entidade transfere os bens ou serviços ao cliente. É importante notar que determinados
Software 90.000 custos capitalizados se referirão a múltiplos bens e serviços (por exemplo, custos de desenho). Para
Migração e teste do centro de dados 100.000 esses custos, o período de amortização pode se estender além de um único contrato se os custos
Total dos custos 350.000
capitalizados se referirem a bens ou serviços que estão sendo transferidos segundo múltiplos
contratos, ou a um contrato previsto específico, como quando se espera que o cliente renove o seu
Os custos iniciais de implantação se referem principalmente às atividades para o cumprimento do contrato, atual contrato de serviço por mais um período.
contudo não transferem bens ou serviços ao cliente. A entidade contabiliza os custos iniciais de implantação
da seguinte forma: Exemplo 8-3 – Período de amortização
(a) custos de hardware – contabilizados de acordo com a IAS 16 Imobilizado.
A Entidade A celebra um contrato de três anos com um cliente para serviços de processamento de
(b) custos de software – contabilizados de acordo com a IAS 38 Ativos Intangíveis. transações. Para cumprir o contrato, a Entidade A incorreu custos de implantação de UM 60.000, que
(c) custos do desenho, migração e teste do centro de dados – avaliados de acordo com o item 95 da foram por ela capitalizados e serão amortizados ao longo do prazo do contrato.
IFRS 15, para determinar se um ativo pode ser reconhecido para os custos para cumprir o contrato. No início do terceiro ano, o cliente renova o contrato por mais dois anos. A Entidade A se beneficiará dos
Qualquer ativo resultante seria amortizado em uma base sistemática ao longo do período de sete custos de implantação durante o período adicional de dois anos. Assim, ela muda o período remanescente
anos (ou seja, o prazo de cinco anos do contrato e dois períodos previstos de renovação de um ano de amortização de um para três anos e ajusta a despesa de amortização reconhecida de acordo com as
cada) em que a entidade espera prestar os serviços relacionados ao centro de dados. exigências na IAS 8 por mudanças nas estimativas contábeis.
Além dos custos iniciais para implantar a plataforma tecnológica, a entidade também aloca dois Contudo, segundo a IFRS 15, se a Entidade A tivesse previsto a renovação do contrato na data da
empregados que são responsáveis pela prestação do serviço ao cliente. Apesar de os custos para esses assinatura do contrato, teria amortizado os custos de implantação ao longo do prazo previsto do contrato,
dois empregados serem incorridos como parte da prestação do serviço ao cliente, a entidade conclui que incluindo a renovação esperada (ou seja, de cinco anos).
os custos não geram ou aprimoram recursos da entidade [vide item 95(b) da IFRS 15]. Assim, os custos
não satisfazem os critérios do item 95 da IFRS 15 e não podem ser reconhecidos como um ativo usando a
IFRS 15. De acordo com o item 98, a entidade reconhece a despesa de folha de pagamento para esses dois Qualquer ativo registrado pela entidade está sujeito a uma avaliação da redução ao valor recuperável
empregados quando incorrida.
no final de cada período-base. Isso se deve ao fato de que os custos que dão origem a um ativo devem
continuar a ser recuperáveis ao longo de todo o acordo, para satisfazer os critérios para capitalização.

Uma redução ao valor recuperável existe se o valor contábil de qualquer(isquer) ativo(s) ultrapassar o
valor da contraprestação que a entidade espera receber em troca por fornecer os correspondentes

126 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 127
bens e serviços, menos os custos remanescentes diretamente relacionados com o fornecimento o software influencia significativamente as características e a funcionalidade do bem tangível. Além
desses bens e serviços. disso, uma entidade pode fornecer a um cliente uma licença de software, mas apenas em conjunto
com um serviço de hosting (e o cliente não pode usar o software sem o serviço de hosting). Nos dois
O valor ao qual uma entidade espera ter direito se baseia nos princípios para a determinação do preço exemplos, o cliente não pode se beneficiar da licença propriamente dita e, assim, a licença não é
da transação (vide Seção 5), exceto para as exigências sobre estimativas restritas de contraprestação distinta. Assim, ela seria combinada com os outros bens ou serviços prometidos.
variável. Ou seja, se uma entidade for solicitada a reduzir o preço da transação estimado devido à
restrição requerida sobre contraprestação variável, ela usaria o preço da transação não sujeito a Para a maioria das licenças que não são distintas, uma entidade seguiria as exigências para outros
restrição para o teste de redução ao valor recuperável. Enquanto não sujeito a restrição, esse valor bens e serviços para contabilizar a obrigação de desempenho combinada (ou seja, as exigências no
deve ser reduzido para refletir o risco de crédito do cliente, antes de ser utilizado no teste de redução item IFRS 15.31-36 para determinar se a obrigação de desempenho combinada é transferida ao
ao valor recuperável. longo do tempo ou em um determinado momento, conforme discutido nas Seções 7.1 e 7.2).

Contudo, antes de reconhecer uma perda por redução ao valor recuperável sobre custos capitalizados Na Base para Conclusões, os Comitês salientaram que pode haver algumas situações em que, apesar
incorridos para obter ou cumprir um contrato, a entidade precisará considerar perdas por redução ao de a licença não ser distinta do bem ou serviço transferido com a licença, a licença é o componente
valor recuperável reconhecidas de acordo com outra norma (por exemplo, IAS 36 Redução ao Valor principal ou dominante do item combinado.62 Nessas situações, os Comitês concluíram que a
Recuperável de Ativos). Após aplicar o teste de redução ao valor recuperável aos custos capitalizados, orientação sobre aplicação incremental para licenças seria ainda aplicada. Contudo, os Comitês não
uma entidade inclui o valor contábil resultante no valor contábil de uma unidade geradora de caixa forneceram nenhuma orientação sobre aplicação ou exemplos para determinar quando uma licença é
para os fins da aplicação das exigências na IAS 36. o componente principal ou dominante.

Os Comitês divergiram sobre a reversão das perdas por redução ao valor recuperável em períodos A norma inclui o seguinte exemplo para ilustrar a determinação sobre se uma licença é distinta:
subsequentes. Segundo US GAAP, a reversão de perdas anteriores por redução ao valor recuperável é
proibida. Por outro lado, segundo as normas IFRS, a IAS 36 permite a reversão de algumas ou todas Extraído da IFRS 15
as perdas anteriores por redução ao valor recuperável sobre ativos (que não sejam ágio) ou unidades
geradoras de caixa, se as estimativas utilizadas para determinar o valor recuperável dos ativos Exemplo 56 – Identificação de uma licença distinta (IFRS 15.IE281-IE288)
tiverem mudado.61
Uma entidade, companhia farmacêutica, licencia por dez anos a um cliente os seus direitos de patente
sobre um medicamento composto aprovado e também promete fabricar o medicamento para o cliente. O
8.4 Licenças de propriedade intelectual medicamento é um produto maduro, assim, a entidade não realizará nenhuma atividade de promoção do
A IFRS 15 fornece orientação sobre aplicação específica para o reconhecimento de receita de licenças medicamento, o que é consistente com as suas práticas usuais de negócio.
de propriedade intelectual, que difere um pouco das exigências aplicadas a todos os outros bens e Caso A – A licença não é distinta
serviços prometidos. Licenças de propriedade intelectual podem incluir licenças para qualquer um dos
Nesse caso, nenhuma outra entidade pode produzir esse medicamento, devido à natureza altamente
seguintes itens: software e tecnologia, mídia e entretenimento (por exemplo, filmes e músicas),
especializada do processo de produção. Assim, a licença não pode ser adquirida separadamente dos
franquias, patentes, marcas registradas e direitos autorais.
serviços de produção.
Os Comitês concluíram que critérios específicos eram necessários para determinar a natureza A entidade avalia os bens e serviços prometidos ao cliente para determinar quais bens e serviços são
intrínseca da promessa da entidade ao conceder a licença (ou seja, se ela é transferida ao cliente em distintos, de acordo com o item 27 da IFRS 15. A entidade determina que o cliente não pode se beneficiar
um determinado momento ou ao longo do tempo). Os Comitês concluíram que essas exigências da licença sem o serviço de produção, assim, o critério no item 27(a) da IFRS 15 não é satisfeito.
adicionais eram necessárias porque acreditavam que seria difícil determinar quando um cliente obtém Consequentemente, a licença e o serviço de produção não são distintos e a entidade contabiliza a licença e
o controle dos ativos em uma licença, sem antes identificar a natureza da licença e as o serviço de produção como uma única obrigação de desempenho.
correspondentes obrigações de desempenho da entidade. Cada um desses conceitos é discutido mais A entidade aplica os itens 31-38 da IFRS 15 para determinar se a obrigação de desempenho (ou seja, o
detalhadamente abaixo. conjunto da licença e os serviços de produção) é satisfeita num dado momento ou ao longo do tempo.

Caso B – A licença é distinta


8.4.1 Determinação sobre se uma licença é distinta
Nesse caso, o processo de produção utilizado para produzir o medicamento não é único ou especializado e
A orientação sobre aplicação fornecida sobre licenças de propriedade intelectual apenas se aplica a várias outras entidades podem também produzir o medicamento para o cliente.
licenças que sejam distintas. Quando a licença é o único item prometido (expressa ou implicitamente)
A entidade avalia os bens e serviços prometidos ao cliente para determinar quais bens e serviços são
no contrato, a orientação sobre aplicação é claramente aplicável a essa licença.
distintos, de acordo com o item 27 da IFRS 15. Uma vez que o processo de produção pode ser fornecido por
Contudo, licenças de propriedade intelectual são frequentemente incluídas em acordos de múltiplos outras entidades, a entidade conclui que o cliente pode se beneficiar da licença propriamente dita (ou seja,
elementos com promessas para bens e serviços adicionais que podem ser expressas ou implícitas. sem o serviço de produção) e que a licença é identificável separadamente do processo de produção (ou seja,
os critérios no item 27 da IFRS 15 são satisfeitos). Consequentemente, a entidade conclui que a licença e o
Nessas situações, uma entidade primeiro determina se a licença de propriedade intelectual é distinta,
serviço de produção são distintos e que a entidade tem duas obrigações de desempenho:
conforme discutido nas Seções 4.1. e 4.2. Isso inclui a avaliação sobre se o cliente pode se beneficiar
da licença propriamente dita ou junto com recursos prontamente disponíveis. Ao passo que as (a) licença de direitos de patente; e
licenças de propriedade intelectual são frequentemente capazes de ser distintas, em diversos casos o (b) serviço de produção.
cliente pode apenas se beneficiar da licença quando combinada com outro bem ou serviço. Por
exemplo, uma licença de software pode ser parte de um bem tangível habilitado por software em que

61 IAS 36.109-125. 62 IFRS 15.BC407.

128 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 129
Extraído da IFRS 15 (continuação) Extraído da IFRS 15

A entidade avalia, de acordo com o item B58 da IFRS 15, a natureza da promessa da entidade de B58. A natureza da promessa de uma entidade ao conceder uma licença é uma promessa de fornecer um
conceder a licença. O medicamento é um produto maduro (ou seja, foi aprovado, está sendo atualmente direito de acesso à propriedade intelectual da entidade, se todos os seguintes critérios forem satisfeitos:
produzido e é vendido comercialmente há vários anos). Para esses tipos de produtos maduros, as práticas
(a) o contrato requer, ou o cliente razoavelmente espera, que a entidade realizará atividades que
usuais de negócio da entidade são de não realizar quaisquer atividades de promoção do medicamento.
afetam significativamente a propriedade intelectual à qual o cliente tem direito (vide item B59);
Consequentemente, a entidade conclui que os critérios no item B58 da IFRS 15 não são satisfeitos, porque
o contrato não requer e o cliente não espera razoavelmente que a entidade realize atividades que afetam (b) os direitos concedidos pela licença expõem diretamente o cliente a quaisquer efeitos positivos ou
significativamente a propriedade intelectual à qual o cliente tem direito. Na sua avaliação dos critérios negativos das atividades da entidade identificadas no item B58(a); e
no item B58 da IFRS 15, a entidade não leva em consideração a obrigação de desempenho separada da
(c) essas atividades não resultam na transferência de um bem ou serviço ao cliente à medida que
promessa de prestar o serviço de produção. Consequentemente, a natureza da promessa da entidade de
essas atividades ocorrerem (vide item 25).
transferir a licença é a de fornecer um direito de uso da propriedade intelectual da entidade, na forma e
com a funcionalidade existente no momento em que é concedido ao cliente. Consequentemente, a entidade B59. Fatores que podem indicar que um cliente pode razoavelmente esperar que uma entidade
contabiliza a licença como uma obrigação de desempenho satisfeita em um determinado momento. realizará atividades que afetam significativamente a propriedade intelectual incluem as práticas
usuais de negócio da entidade, políticas publicadas ou demonstrações específicas. Apesar de
A entidade aplica os itens 31-38 da IFRS 15 para determinar se o serviço de produção é uma obrigação de
não determinante, a existência de um interesse econômico compartilhado (por exemplo, royalties
desempenho satisfeita em um determinado momento ou ao longo do tempo.
baseados no volume de vendas) entre a entidade e o cliente, relativo à propriedade intelectual
à qual o cliente tem direito, pode também indicar que o cliente poderia razoavelmente esperar que
a entidade irá realizar essas atividades.
8.4.2 Determinação da natureza da promessa da entidade
Para todas as licenças de propriedade intelectual que são consideradas distintas, uma entidade
deve determinar a natureza da promessa ao cliente. A norma afirma que as entidades fornecem Ao fornecer essa orientação sobre aplicação, os Comitês decidiram dar ênfase às características de
aos seus clientes: uma licença que seja um direito de fornecer acesso. Se a propriedade intelectual licenciada não tiver
essas características, o padrão é que ela representa um direito de uso de uma licença. Essa análise dá
•• Um direito de acesso à propriedade intelectual da entidade na forma existente, durante todo o período
ênfase a situações em que a correspondente propriedade intelectual está sujeita a mudança ao longo
da licença, incluindo quaisquer mudanças na propriedade intelectual (“um direito de acesso”); ou
do período da licença.
•• Um direito de utilizar a propriedade intelectual da entidade na forma existente no momento em que
a licença é concedida (“um direito de uso”). O principal fator determinante é se a entidade é solicitada a realizar atividades que afetam a
propriedade intelectual licenciada (ou o cliente tem uma expectativa razoável de que a entidade
Para determinar se a licença representa um direito de acesso ou um direito de uso de propriedade assim o fará) e se o cliente está, assim, exposto a efeitos positivos e negativos resultantes dessas
intelectual (o que é importante ao determinar o período de desempenho e, assim, a época do mudanças. Além disso, essas atividades realizadas pela entidade não se enquadram na definição de
reconhecimento de receita), os Comitês forneceram a seguinte orientação sobre aplicação: uma obrigação de desempenho. Contudo, essas atividades podem fazer parte das atividades
habituais em andamento e das práticas usuais de negócio da entidade (ou seja, não precisam ser
Extraído da IFRS 15 atividades que a entidade está realizando especificamente como resultado do contrato com o
cliente). Além disso, os Comitês salientaram, na Base para Conclusões, que a existência de um
B57. Para determinar se a promessa de uma entidade de conceder uma licença fornece a um cliente um interesse econômico compartilhado entre as partes (por exemplo, royalties baseados no volume de
direito de acesso à propriedade intelectual de uma entidade ou um direito de uso da propriedade vendas ou uso) pode ser um indicador de que o cliente tem uma expectativa razoável de que a
intelectual da entidade, uma entidade deve considerar se um cliente pode dirigir o uso e obter entidade irá realizar essas atividades.63
substancialmente todos os benefícios remanescentes de uma licença, no momento em que a
licença é concedida. Um cliente não pode dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios É importante salientar que quando uma entidade faz essa avaliação, ela deve excluir o efeito de
remanescentes da licença no momento em que a licença é concedida se a propriedade intelectual quaisquer obrigações de desempenho no acordo. Por exemplo, se uma entidade celebrar um acordo
à qual o cliente tem direito mudar durante o período da licença. A propriedade intelectual mudará para licenciar software e fornecer acesso a quaisquer atualizações futuras desse software durante o
(e assim afetará a avaliação da entidade de quando o cliente controla a licença) quando a entidade período da licença, a entidade primeiramente determina se a licença e a promessa de fornecer
continua a estar envolvida com a sua propriedade intelectual e a entidade realiza atividades que atualizações futuras são obrigações de desempenho separadas. Se forem separadas, quando a
afetam significativamente a propriedade intelectual à qual o cliente tem direito. Nesses casos, a entidade considerar se tem uma obrigação contratual (expressa ou implícita) de realizar atividades
licença fornece ao cliente um direito de acesso à propriedade intelectual da entidade (vide item
para mudar o software durante o período da licença, ela excluiria quaisquer mudanças e atividades
B58). Por outro lado, um cliente pode dirigir o uso e obter substancialmente todos os benefícios
associadas com a obrigação de desempenho pelas atualizações futuras prometidas.
remanescentes da licença, no momento em que a licença é concedida, se a propriedade intelectual à
qual o cliente tem direito não mudará (vide item B61). Nesses casos, quaisquer atividades realizadas
pela entidade simplesmente alteram o seu próprio ativo (ou seja, a correspondente propriedade 63 IFRS 15.BC413.
intelectual), o que pode afetar a capacidade de a entidade fornecer licenças futuras; contudo, essas
atividades não afetariam a determinação do que a licença fornece ou o que o cliente controla.

130 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 131
A norma também fornece a seguinte orientação sobre aplicação para essa determinação: A norma inclui o seguinte exemplo de uma licença de direito de acesso:

Extraído da IFRS 15 Extraído da IFRS 15

B62. Uma entidade deve desconsiderar os seguintes fatores ao determinar se uma licença fornece um direito
Exemplo 58 – Acesso a propriedade intelectual (IFRS 15.IE297-IE302)
de acesso à propriedade intelectual da entidade ou um direito de uso da propriedade intelectual da
entidade: Uma entidade, criadora de histórias em quadrinhos, licencia o uso das imagens e nomes dos seus
personagens em três das suas histórias em quadrinhos a um cliente, por um período de quatro anos. Há
(a) Restrições relativas a tempo, região geográfica ou uso – essas restrições definem os atributos da
personagens principais envolvidos em cada uma das histórias em quadrinhos. Contudo, novos personagens
licença prometida, em vez de definir se a entidade satisfaz a sua obrigação de desempenho em um
aparecem regularmente, e as imagens dos personagens evoluem ao longo do tempo. O cliente, uma
determinado momento ou ao longo do tempo.
operadora de navios de cruzeiro, pode usar os personagens da entidade de várias formas, como, por
(b) Garantias fornecidas pela entidade de que tem uma patente válida de propriedade intelectual e de que exemplo, em shows ou desfiles, observando instruções justas. O contrato requer que o cliente use as
defenderá a patente do uso não autorizado – uma promessa de defender um direito de patente não imagens mais recentes dos personagens.
é uma obrigação de desempenho, porque o ato de defender uma patente protege o valor dos ativos
Em troca por conceder a licença, a entidade recebe um pagamento fixo de UM 1 milhão em cada ano do
de propriedade intelectual da entidade e assegura ao cliente de que a licença transferida satisfaz as
período de quatro anos.
especificações da licença prometida no contrato.
De acordo com o item 27 da IFRS 15, a entidade avalia os bens e serviços prometidos ao cliente para
determinar quais bens e serviços são distintos. A entidade conclui que não tem nenhuma obrigação de
8.4.3 Transferência do controle da propriedade intelectual licenciada desempenho além da promessa de conceder a licença. Ou seja, as atividades adicionais associadas com
Baseado em se a natureza da promessa da entidade é um direito de acesso ou um direito de uso da a licença não transferem diretamente um bem ou serviço ao cliente, porque fazem parte da promessa da
propriedade intelectual, a contraprestação do acordo alocada à propriedade intelectual licenciada entidade de conceder a licença e, de fato, modificam a propriedade intelectual à qual o cliente tem direito.
seria reconhecida ao longo do período da licença (para um direito de acesso) ou no momento em que A entidade avalia a natureza da promessa da entidade de transferir a licença, de acordo com o item B58 da
o cliente pode começar a usar a propriedade intelectual licenciada (para um direito de uso). IFRS 15. Ao avaliar os critérios, a entidade considera o seguinte:

(a) o cliente razoavelmente espera (como resultado das práticas usuais de negócio da entidade) que
Direito de acesso a entidade irá realizar atividades que irão afetar a propriedade intelectual à qual o cliente tem
Os Comitês concluíram que uma licença que fornece a uma entidade direito de acesso à propriedade direito (ou seja, os personagens). Essas atividades incluem o desenvolvimento de personagens e a
intelectual é satisfeita ao longo do tempo, “porque o cliente recebe e consome simultaneamente o publicação de uma história em quadrinhos semanal que inclui os personagens.
benefício do desempenho da entidade à medida que o desempenho ocorre”, incluindo as
(b) os direitos concedidos pela licença diretamente expõem o cliente a quaisquer efeitos positivos ou
correspondentes atividades realizadas pela entidade.64 Essa conclusão é baseada na determinação de negativos das atividades da entidade, porque o contrato requer que o cliente use os personagens
que, quando uma licença está sujeita a mudança (e o cliente está exposto aos efeitos positivos e mais recentes.
negativos dessa mudança), o cliente não é capaz de obter plenamente controle sobre a propriedade
(c) apesar de o cliente poder se beneficiar dessas atividades por meio dos direitos concedidos pela
intelectual em um determinado momento, mas obtém controle ao longo do período da licença.
licença, elas não transferem um bem ou serviço ao cliente à medida que essas atividades ocorrem.

Consequentemente, a entidade conclui que os critérios no item B58 da IFRS 15 são satisfeitos e que a
64 IFRS 15.BC414. natureza da promessa da entidade de transferir a licença é a de fornecer ao cliente acesso à propriedade
intelectual da entidade na forma existente, durante todo o período da licença. Consequentemente, a
entidade contabiliza a licença prometida como uma obrigação de desempenho satisfeita ao longo do tempo
[ou seja, o critério no item 35(a) da IFRS 15 é satisfeito].

A entidade aplica os itens 39-45 da IFRS 15 para identificar o método que mais bem retrata o seu
desempenho na licença. Uma vez que o contrato fornece ao cliente uso ilimitado dos personagens

Direito de uso
Por outro lado, quando a licença representa um direito de uso de propriedade intelectual na forma
existente em um determinado momento, o cliente ganha controle sobre a propriedade intelectual no
início do período para o qual tem o direito de usar a propriedade intelectual. Esse momento pode
diferir do momento em que a licença foi concedida. Por exemplo, uma entidade pode fornecer a um
cliente o direito de uso de propriedade intelectual, contudo indica que o direito de uso somente se
inicia 30 dias após a execução do contrato. Para determinar quando o controle dos direitos de uso é
transferido, os Comitês esclareceram que a avaliação é do ponto de vista do cliente (ou seja, quando o
cliente pode usar a propriedade intelectual licenciada), e não do ponto de vista da entidade (ou seja,
quando a entidade transfere a licença).

132 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 133
A norma inclui o seguinte exemplo de uma licença de direito de uso: A norma inclui o seguinte exemplo relativo a royalties baseados no volume de vendas ou uso:

Extraído da IFRS 15
Extraído da IFRS 15

Exemplo 59 – Direito de uso de propriedade intelectual (IFRS 15.IE303-IE306)


Exemplo 57 – Direitos de franquia (IFRS 15.IE289-IE296)
Uma entidade, gravadora de música, licencia a um cliente a gravação de 1975 de uma sinfonia clássica por
Uma entidade celebra um contrato com um cliente e promete conceder uma licença de franquia que dá ao
uma importante orquestra. O cliente, uma empresa de bens de consumo, tem o direito de usar a sinfonia
cliente o direito de usar o nome comercial da entidade e vender os produtos da entidade por dez anos. Além
gravada em todos os comerciais, inclusive em anúncios de televisão, rádio e na internet por dois anos no
da licença, a entidade também promete fornecer os equipamentos necessários para operar uma loja da
país A. Em troca pelo fornecimento da licença, a entidade recebe contraprestação fixa de UM 10.000 por
franquia. Em troca por conceder a licença, a entidade recebe royalties baseados no volume de vendas de 5%
mês. O contrato não inclui o fornecimento pela entidade de quaisquer outros bens ou serviços. O contrato
das vendas mensais do cliente. A contraprestação fixa para os equipamentos é de UM 150.000, a ser paga
não pode ser cancelado.
no momento da entrega dos equipamentos.
A entidade avalia os bens e serviços prometidos ao cliente para determinar quais bens e serviços
Identificação das obrigações de desempenho
são distintos, de acordo com o item 27 da IFRS 15. A entidade conclui que a sua única obrigação de
desempenho é a de conceder a licença. A entidade avalia os bens e serviços prometidos ao cliente para determinar quais bens e serviços são
distintos, de acordo com o item 27 da IFRS 15. A entidade observa que a entidade, como franqueadora,
De acordo com o item B58, a entidade avalia a natureza da promessa da entidade de conceder a licença. A
desenvolveu uma prática de negócio usual para realizar atividades como, por exemplo, analisar as
entidade não tem quaisquer obrigações contratuais ou implícitas de mudar a gravação licenciada. Assim, a
mudanças nas preferências do cliente e implementar aprimoramentos de produtos, estratégias de preços,
propriedade intelectual à qual o cliente tem direito é estática. Consequentemente, a entidade conclui que
campanhas de marketing e eficiências operacionais para promover o nome da franquia. Contudo, a entidade
a natureza da sua promessa de transferir a licença é fornecer ao cliente um direito de uso da propriedade
conclui que essas atividades não transferem diretamente bens ou serviços ao cliente, porque fazem parte da
intelectual da entidade na forma existente no momento em que é concedido ao cliente. Assim, a promessa
promessa da entidade de conceder a licença e, de fato, modificam a propriedade intelectual à qual o cliente
de conceder a licença é uma obrigação de desempenho satisfeita em um determinado momento. A entidade
tem direito.
reconhece toda a receita no momento em que o cliente pode dirigir o uso e obter substancialmente todos os
benefícios remanescentes da propriedade intelectual licenciada. A entidade determina que tem duas promessas de transferir bens ou serviços: uma promessa de conceder
uma licença e uma promessa de transferir os equipamentos. Além disso, a entidade conclui que a promessa
Devido ao período de tempo entre o desempenho pela entidade (no início do período) e os pagamentos
de conceder a licença e a promessa de transferir os equipamentos são distintas. Isso porque o cliente
mensais do cliente ao longo de dois anos (não canceláveis), a entidade considera as exigências nos itens 60-
pode se beneficiar de cada promessa (ou seja, a promessa da licença e a promessa dos equipamentos)
65 da IFRS 15 para determinar se existe um componente de financiamento significativo.
individualmente ou junto com outros recursos que estão prontamente disponíveis [vide item 27(a) da IFRS
15]. (Ou seja, o cliente pode se beneficiar da licença junto com os equipamentos que forem entregues antes
da abertura da franquia e os equipamentos podem ser utilizados na franquia ou vendidos por um valor
8.4.4 Royalties baseados no volume de vendas ou uso de licenças diferente do valor de sucata.) A entidade também determina que a licença de franquia e os equipamentos
de propriedade intelectual são identificáveis separadamente, de acordo com o critério no item 27(b) da IFRS 15, porque nenhum
A IFRS 15 também fornece orientação sobre aplicação na determinação do preço da transação, dos fatores no item 29 da IFRS 15 está presente. Consequentemente, a entidade tem duas obrigações de
quando o acordo inclui royalties baseados no volume de vendas ou uso de licenças de propriedade desempenho:
intelectual. A norma requer que esse tipo particular de contraprestação variável não seja incluída na (a) a licença de franquia; e
estimativa da contraprestação variável, conforme discutido na Seção 5.1, até que a venda
(b) os equipamentos.
subsequente ou o uso tenham ocorrido. Ou seja, a norma requer que esses valores sejam
reconhecidos apenas no momento da venda ou uso, dos dois o que ocorrer depois, ou da satisfação Alocação do preço da transação
(integral ou parcial) da obrigação de desempenho à qual parte ou todos os royalties com base nas A entidade determina que o preço da transação inclui contraprestação fixa de UM 150.000 e
vendas ou uso tenham sido alocados. contraprestação variável (5% das vendas do cliente).

Essa orientação sobre aplicação é aplicável a todas as licenças de propriedade intelectual,


independentemente de terem sido consideradas distintas. Contudo, a orientação sobre aplicação não
é aplicável a todos os acordos envolvendo royalties com base em vendas ou uso. Ela se aplica apenas
aos royalties com base em vendas ou uso sobre licenças de propriedade intelectual.

134 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 135
Extraído da IFRS 15 (continuação) 9 Apresentação e divulgação
A IFRS 15 fornece exigências de apresentação e divulgação expressas, que são mais detalhadas do que
A entidade aplica o item 85 da IFRS 15 para determinar se a contraprestação variável deve ser alocada
as exigências segundo as atuais normas IFRS. Além disso, as exigências de divulgação intermediária
integralmente à obrigação de desempenho para transferir a licença de franquia. A entidade conclui
para as entidades que apresentam demonstrações segundo as normas IFRS diferem das exigências
que a contraprestação variável (ou seja, os royalties baseados no volume de vendas) deve ser alocada
integralmente à licença de franquia, porque a contraprestação variável se relaciona integralmente à para entidades que apresentam demonstrações segundo US GAAP. Esses tópicos estão discutidos em
promessa da entidade de conceder a licença de franquia. Além disso, a entidade observa que a alocação mais detalhes a seguir.
de UM 150.000 aos equipamentos e os royalties baseados no volume de vendas à licença de franquia
seria consistente com uma alocação com base nos preços de vendas individuais relativos da entidade
Deve-se notar que as exigências de divulgação nas seções seguintes são exigidas em bases
em contratos semelhantes. Ou seja, o preço de venda individual dos equipamentos é de UM 150.000 e permanentes. As divulgações exigidas como parte da transição à norma IFRS 15 são discutidas
a entidade regularmente licencia franquias em troca de 5% das vendas do cliente. Consequentemente, a na Seção 1.2.
entidade conclui que a contraprestação variável (ou seja, os royalties baseados no volume de vendas) deve
ser alocada integralmente à obrigação de desempenho para conceder a licença de franquia. 9.1 Apresentação de ativos de contratos, passivos de contratos e receita
Orientação sobre aplicação: licenciamento A IFRS 15 se baseia na noção de que um ativo de contrato ou passivo de contrato é gerado quando
A entidade avalia, de acordo com o item B58 da IFRS 15, a natureza da promessa da entidade de conceder cada uma das partes de um contrato desempenha as suas obrigações. A norma requer que uma
a licença. A entidade conclui que os critérios no item B58 da IFRS 15 são satisfeitos e que a natureza da entidade apresente esses ativos de contratos ou passivos de contratos no balanço patrimonial.
promessa da entidade é a de fornecer acesso à propriedade intelectual da entidade, na forma existente, ao
longo de todo o período da licença. Isso porque:
Quando uma entidade satisfaz uma obrigação de desempenho entregando o bem ou serviço prometido,
a entidade ganha o direito à contraprestação do cliente e, assim, tem um ativo de contrato. Quando o
(a) a entidade conclui que o cliente razoavelmente espera que a entidade irá realizar atividades que cliente desempenha a sua obrigação antecipadamente, por exemplo, pagando antecipadamente a sua
afetam significativamente a propriedade intelectual à qual o cliente tem direito. Isso se baseia
contraprestação prometida, a entidade tem um passivo de contrato.
na prática usual de negócio da entidade de realizar atividades como, por exemplo, analisar as
mudanças nas preferências do cliente e implementar aprimoramentos de produtos, estratégias de Em diversos casos, a entidade tem um direito incondicional de receber a contraprestação do cliente.
preços, campanhas de marketing e eficiências operacionais. Além disso, a entidade observa que, Esse é o caso quando não há outras obrigações de desempenho a serem satisfeitas antes de a entidade
porque parte da sua remuneração depende do êxito do franqueado (evidenciado pelos royalties
ter o direito de cobrar a contraprestação do cliente. Os Comitês concluíram que um direito incondicional
baseados no volume de vendas), a entidade tem um interesse econômico compartilhado com o
de receber a contraprestação do cliente representa um valor a receber do cliente que é classificado
cliente, o que indica que o cliente espera que a entidade realize essas atividades para maximizar os
ganhos.
separadamente dos ativos de contratos. Um direito é incondicional se apenas a passagem do tempo é
requerida antes de o pagamento dessa contraprestação ser devido.
(b) a entidade também observa que a licença de franquia requer que o cliente implemente quaisquer
mudanças que resultem dessas atividades e, assim, expõe o cliente a quaisquer efeitos positivos e Ativos de contrato existem quando uma entidade tiver satisfeito uma obrigação de desempenho mas
negativos dessas atividades. ainda não tem um direito incondicional a contraprestação (por exemplo, porque a entidade deve
(c) a entidade também observa que, apesar de o cliente poder se beneficiar dessas atividades por meio primeiramente satisfazer outra obrigação de desempenho no contrato antes de ter o direito de emitir
dos direitos concedidos pela licença, elas não transferem um bem ou serviço ao cliente à medida fatura ao cliente).
que essas atividades ocorrem.
Segundo a IFRS 15, as entidades não são solicitadas a utilizar os termos “ativo de contrato” ou
Uma vez que os critérios no item B58 da IFRS 15 são satisfeitos, a entidade conclui que a promessa de “passivo de contrato”, contudo, devem divulgar informações suficientes para que os usuários das
transferir a licença é uma obrigação de desempenho satisfeita ao longo do tempo, de acordo com o item demonstrações financeiras possam distinguir claramente direitos incondicionais a contraprestação
35(a) da IFRS 15.
(valores a receber) de direitos condicionais de receber contraprestação (ativos de contratos).
A entidade também conclui que, uma vez que a contraprestação é na forma de royalties baseados no
volume de vendas, a entidade aplica o item B63 da IFRS 15 e, após a transferência da licença de franquia, Após reconhecimento inicial, valores a receber e ativos de contratos estão sujeitos à avaliação de
a entidade reconhece receita à medida que e quando essas vendas ocorrerem. redução ao valor recuperável, de acordo com a IFRS 9 ou IAS 39. Além disso, se na mensuração inicial
houver uma diferença entre a mensuração do valor a receber segundo a IFRS 9 ou IAS 39 e o
correspondente valor da receita, essa diferença será apresentada imediatamente no resultado (por
exemplo, uma perda por redução ao valor recuperável). Uma vez que a mensuração inicial de um
instrumento financeiro é a valor justo, pode haver uma série de razões pelas quais essas diferenças
podem surgir (por exemplo, mudanças no valor justo da contraprestação não monetária). Com base na
discussão na Seção 5.1.1 (sobre a forma como a cobrabilidade é considerada ao determinar o preço
da transação), pode haver uma diferença entre a mensuração do valor a receber e a correspondente
receita quando uma entidade determina que o risco de crédito de cliente não reflete um desconto
especial de preço implícito. Perdas por redução ao valor recuperável resultantes de contratos com
clientes são apresentadas separadamente de outras perdas por redução ao valor recuperável.

Uma entidade poderia também ter registrado outros ativos (por exemplo, os custos incrementais da
obtenção do contrato e outros custos incorridos que satisfazem os critérios para capitalização). A

136 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 137
norma requer que quaisquer desses ativos sejam apresentados separadamente dos ativos de segundo as normas IFRS. O FASB revisou a ASC 270 Demonstrações Financeiras Intermediárias para
contratos e dos passivos de contratos no balanço patrimonial (assumindo-se que sejam relevantes). requerer as mesmas divulgações quantitativas sobre receita tanto nas demonstrações financeiras
Esses valores são também avaliados em relação à redução ao valor recuperável separadamente intermediárias como nas demonstrações financeiras anuais.
(vide Seção 8.3.3).

A norma também requer que a receita de contratos com clientes seja apresentada ou divulgada Nosso ponto de vista
separadamente das outras fontes de receita da entidade. Por exemplo, um fabricante de
Conforme discutido mais detalhadamente a seguir, a IFRS 15 aumenta significativamente o
equipamentos de grande porte que vende e arrenda os seus equipamentos apresentará os valores
volume de divulgações requeridas nas demonstrações financeiras das entidades,
dessas transações separadamente.
particularmente nas demonstrações financeiras anuais. Além disso, várias delas representam
exigências completamente novas.
Nosso ponto de vista Acreditamos que várias entidades podem precisar envidar esforços adicionais ao preparar pela
As exigências de apresentação na norma IFRS 15 representam uma mudança primeira vez as divulgações requeridas para as suas demonstrações financeiras intermediárias e
significativa em relação à prática atual. Além disso, a aplicação da noção de um ativo anuais. Por exemplo, entidades que operam em vários segmentos com diversas linhas de
de contrato e qualquer redução ao valor recuperável desse ativo podem gerar dúvidas. produtos diferentes podem achar a coleta dos dados necessária para fazer as divulgações
desafiadora. Como resultado, as entidades precisarão assegurar que têm os sistemas
apropriados, controles internos, políticas e procedimentos implantados para coletar e divulgar
9.2 Objetivo de divulgação e exigências gerais as informações requeridas. Devido às exigências de divulgação expandidas e à potencial
Em resposta aos comentários de que as divulgações atuais de reconhecimento de receita não são necessidade de novos sistemas para captar os dados necessários para essas divulgações, as
adequadas, os Comitês buscaram criar um conjunto de divulgações abrangente e coerente. Como entidades podem desejar priorizar essa parte dos seus planos de implementação.
resultado e para ser consistente com outras normas recentes, a norma inclui o seguinte objetivo geral
para essas divulgações:
9.3 Exigências específicas de divulgação
Extraído da IFRS 15 9.3.1 Contratos com clientes
A maioria das divulgações se refere aos contratos de uma entidade com clientes. Essas divulgações
110. O objetivo das exigências de divulgação é o de que uma entidade divulgue informações suficientes
incluem a desagregação de receita, informações sobre os saldos de ativos e passivos de contratos
para permitir que os usuários das demonstrações financeiras entendam a natureza, valor, época e a
e informações sobre as obrigações de desempenho de uma entidade.
incerteza da receita e fluxos de caixa resultantes de contratos com clientes. Para alcançar esse objetivo,
a entidade deve divulgar informações qualitativas e quantitativas sobre todos os seguintes itens:
Desagregação de receita
(a) seus contratos com clientes (vide itens 113-122);
As exigências de divulgação começam com receita desagregada em categorias para ilustrar como a
(b) os julgamentos significativos e as mudanças nos julgamentos, feitos na aplicação da Norma a esses
natureza, valor, época e incerteza sobre receita e fluxos de caixa são afetados por fatores econômicos.
contratos (vide itens 123-126); e
Essa é a única exigência de divulgação para as entidades que preparam demonstrações segundo as
(c) quaisquer ativos reconhecidos dos custos para obter ou cumprir um contrato com um cliente, de normas IFRS que é requerida nas demonstrações financeiras intermediárias e anuais de uma entidade.
acordo com o item 91 ou 95 (vide itens 127-128).
A norma não especifica precisamente como a receita deve ser desagregada, contudo, a orientação
sobre aplicação sugere as seguintes categorias:
Cada uma dessas exigências de divulgação é discutida em mais detalhes abaixo. Para auxiliar as
entidades na determinação das divulgações requeridas, o Anexo A inclui uma transcrição da IFRS Extraído da IFRS 15
Disclosure Checklist da EY.
B89. Exemplos de categorias que podem ser adequadas incluem, mas não se limitam a, todos os seguintes
Durante o desenvolvimento da IFRS 15, várias entidades mencionaram que teriam que fornecer
itens:
divulgações volumosas por um custo que pode superar quaisquer potenciais benefícios. Na norma, os
Comitês esclareceram o objetivo da divulgação e indicaram que as divulgações descritas na norma (a) tipo de bem ou serviço (por exemplo, principais linhas de produtos);
não pretendem ser uma lista de verificação (checklist) das exigências mínimas. Ou seja, as entidades (b) região geográfica (por exemplo, país ou região);
não precisam incluir divulgações que não sejam relevantes ou materiais para elas. Além disso, os
(c) mercado ou tipo de cliente (por exemplo, clientes governamentais ou não governamentais);
Comitês decidiram requerer divulgações qualitativas, em vez de conciliações em forma de tabela, para
determinadas divulgações. (d) tipo do contrato (por exemplo, contratos a preço fixo e de mão de obra e material);

As divulgações são requeridas para (e na data-base de) cada período anual para o qual uma (e) duração do contrato (por exemplo, contratos de curto prazo e de longo prazo);
demonstração do resultado abrangente e um balanço patrimonial são apresentados. Divulgações (f) época da transferência dos bens ou serviços (por exemplo, receita de bens ou serviços transferidos
intermediárias são também necessárias para entidades que preparam demonstrações financeiras aos clientes em um determinado momento e receita de bens ou serviços transferidos ao longo do
intermediárias, apesar de que as divulgações intermediárias requeridas diferirão segundo as normas tempo); e
IFRS e US GAAP. O IASB revisou a norma IAS 34 Demonstrações Financeiras Intermediárias para (g) canais de vendas (por exemplo, bens vendidos diretamente a consumidores e bens vendidos por
requerer informações sobre receita desagregada, contudo, nenhuma das demais divulgações anuais meio de intermediários).
serão requeridas nas demonstrações financeiras intermediárias para as entidades que as preparam

138 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 139
A orientação sobre aplicação indica que as categorias mais adequadas para uma determinada
Extraído da IFRS 15 (continuação)
entidade dependerão dos fatos e circunstâncias, contudo, uma entidade considera como ela
desagrega receita em outras comunicações (por exemplo, comunicados à imprensa e outros
documentos públicos) ao determinar quais categorias são as mais relevantes e úteis. Bens de
Segmentos consumo Transporte Energia Total
Os Comitês decidiram não recomendar uma característica específica de receita como base para a UM UM UM UM
desagregação porque pretendem que as entidades façam essa determinação com base em fatores
Principais mercados geográficos
específicos para a entidade e/ou o setor que seriam mais significativos para os seus negócios. Os
Comitês reconheceram que uma entidade pode precisar usar mais de um tipo de categoria para América do Norte 990 2.250 5.250 8.490
desagregar a sua receita. Europa 300 750 1.000 2.050
Ásia 700 260 - 960
Os Comitês também esclareceram que uma entidade não tem que repetir as divulgações requeridas
1.990 3.260 6.250 11.500
por outra norma. Por exemplo, uma entidade que fornece divulgações sobre receita desagregada
como parte das suas divulgações por segmento, de acordo com a IFRS 8 Segmentos Operacionais,
não precisa fornecer separadamente divulgações sobre receita desagregada se as divulgações Principais bens/linhas de serviço
relacionadas ao segmento forem suficientes para ilustrar como a natureza, valor, época e incerteza Materiais de escritório 600 - - 600
sobre receita e fluxos de caixa são afetados por fatores econômicos e se forem apresentadas em Eletrodomésticos 990 - - 990
bases consistentes com as normas IFRS. Contudo, se divulgações separadas sobre receita
Vestuário 400 - - 400
desagregada forem fornecidas, a norma requer que uma entidade explique o relacionamento entre as
informações sobre receita desagregada e as informações por segmento. Usuários das demonstrações Motocicletas - 500 - 500
financeiras acreditam que essas informações são fundamentais para a sua capacidade de entender, Automóveis - 2.760 - 2.760
não apenas a composição de receita, mas também a forma como a receita se relaciona com outras
Painéis solares - - 1.000 1.000
informações fornecidas nas divulgações por segmento. Entidades podem fornecer essas informações
Usina de geração de eletricidade - - 5.250 5.250
em formato de tabela ou de descrição.
1.990 3.260 6.250 11.500
Exceto se apresentadas separadamente na demonstração do resultado abrangente de acordo com
outra norma IFRS, uma entidade é solicitada a divulgar quaisquer perdas por redução a valor
Época do reconhecimento de receita
recuperável reconhecidas de acordo com a IFRS 9 ou IAS 39 sobre valores a receber ou ativos de
contratos resultantes de contratos com clientes. Essas perdas devem ser divulgadas separadamente Bens transferidos em um determinado momento 1.990 3.260 1.000 6.250
das perdas por redução a valor recuperável de outros contratos. Contudo, as entidades não são Serviços transferidos ao longo do tempo - - 5.250 5.250
solicitadas a desagregar essas perdas. 1.990 3.260 6.250 11.500

Os Comitês forneceram alguns exemplos de desagregação de receita, como segue:

Extraído da IFRS 15
Saldos de contratos
Os Comitês concluíram que os usuários das demonstrações financeiras precisam entender o
Exemplo 41 – Desagregação de receita – divulgação quantitativa (IFRS 15.IE210-IE211) relacionamento entre a receita reconhecida e as mutações nos saldos gerais do total dos ativos e
passivos de contratos de uma entidade durante um determinado período-base. Como resultado, os
Uma entidade apresenta os seguintes segmentos: bens de consumo, transporte
Comitês incluíram as seguintes exigências de divulgação para os contratos de uma entidade com os
e energia, de acordo com a IFRS 8 Segmentos Operacionais. Quando a entidade prepara as suas
seus clientes:
apresentações para os investidores, ela desagrega receita por principais mercados geográficos,
principais linhas de produtos e época do reconhecimento de receita (ou seja, bens transferidos em um
determinado momento ou serviços transferidos ao longo do tempo). Extraído da IFRS 15

A entidade determina que as categorias utilizadas nas apresentações para os investidores podem ser
116. A entidade deve divulgar todos os seguintes itens:
utilizadas para satisfazer o objetivo da exigência de divulgação de desagregação no item 114 da IFRS 15,
que é o de desagregar a receita de contratos com clientes em categorias que retratam como a natureza, (a) os saldos de abertura e fechamento dos valores a receber, ativos de contratos e passivos de
valor, época e incerteza de receita e fluxos de caixa são afetados for fatores econômicos. A tabela a seguir contratos com clientes, se não, de outra forma, apresentados ou divulgados separadamente;
ilustra a divulgação de desagregação por principal mercado geográfico, principal linha de produto e época do
(b) receita reconhecida no período-base que foi incluída no saldo do passivo de contrato no início do
reconhecimento de receita, incluindo a conciliação entre a forma como a receita desagregada se relaciona
período; e
com os segmentos de bens de consumo, transporte e energia, de acordo com o item 115 da IFRS 15.
(c) receita reconhecida no período-base de obrigações de desempenho satisfeitas (ou parcialmente
satisfeitas) em períodos anteriores (por exemplo, mudanças no preço da transação).

117. Uma entidade deve explicar como a época da satisfação das suas obrigações de desempenho [vide
item 119(a)] se relaciona à época típica do pagamento [vide item 119(b)] e o efeito que esses fatores
têm sobre os saldos de ativos de contratos e passivos de contratos. A explicação fornecida pode usar
informações qualitativas.

140 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 141
Informações quantitativas e qualitativas são requeridas, como segue:
Extraído da IFRS 15 (continuação)

Extraído da IFRS 15
118. A entidade deve fornecer uma explicação das mudanças significativas nos saldos de ativos de
contratos e passivos de contratos durante o período-base. A explicação deve incluir informações
qualitativas e quantitativas. Exemplos de mudanças nos saldos de ativos de contratos e passivos de Obrigações de desempenho
contratos da entidade incluem quaisquer dos seguintes itens: 119. Uma entidade deve divulgar informações sobre as suas obrigações de desempenho em contratos com
(a) mudanças devido a combinações de negócios; clientes, inclusive uma descrição de todos os seguintes itens:
(a) quando a entidade tipicamente satisfaz as suas obrigações de desempenho (por exemplo, no envio,
(b) ajustes cumulativos de receita que afetam o correspondente ativo de contrato ou passivo de
na entrega, conforme os serviços são prestados ou na conclusão do serviço), inclusive quando as
contrato, inclusive ajustes resultantes de uma mudança na mensuração da evolução, uma mudança
obrigações de desempenho são satisfeitas em um acordo de venda para entrega futura;
em uma estimativa do preço da transação (inclusive quaisquer mudanças na avaliação sobre se
uma estimativa de contraprestação variável é restrita) ou uma modificação de contrato; (b) os termos de pagamento relevantes (por exemplo, quando o pagamento é tipicamente devido, se
o contrato tem um componente significativo de financiamento, se o valor de contraprestação é
(c) redução ao valor recuperável de um ativo de contrato; variável e se a estimativa da contraprestação variável é tipicamente restrita de acordo com os itens
(d) uma mudança no período de tempo para que um direito a contraprestação se torne incondicional 56-58);
(ou seja, para que um ativo de contrato seja reclassificado a um valor a receber); e (c) a natureza dos bens ou serviços que a entidade prometeu transferir, salientando quaisquer
obrigações de desempenho para providenciar que outra parte transfira bens ou serviços (ou seja,
(e) uma mudança no período de tempo para que uma obrigação de desempenho seja satisfeita (ou
se a entidade estiver atuando como um agente);
seja, para o reconhecimento de receita resultante de um passivo de contrato).
(d) obrigações de devoluções, reembolsos e outras obrigações semelhantes; e
(e) tipos de garantias e as correspondentes obrigações.
As exigências apresentadas acima serão provavelmente novas para a maioria das entidades.
O exemplo abaixo ilustra como uma entidade pode satisfazer essas exigências: Preço da transação alocado às obrigações de desempenho remanescentes
120. Uma entidade deve divulgar todas as seguintes informações sobre as suas obrigações de desempenho
Exemplo 9-1 − Divulgação de saldos de contratos remanescentes:
(a) o valor total do preço da transação alocado às obrigações de desempenho que não forem satisfeitas
A Companhia A divulga contas a receber de clientes separadamente no balanço patrimonial. Para satisfazer (ou parcialmente não satisfeitas) no final do período-base; e
as demais divulgações requeridas relativas a ativos e passivos de contratos, a Companhia A inclui as
(b) uma explicação sobre quando a entidade espera reconhecer como receita o valor divulgado de
seguintes informações nas notas explicativas às demonstrações financeiras: acordo com o item 120(a), que a entidade deve divulgar em uma das seguintes formas:
20X8 20X7 20X6
(i) em bases quantitativas, usando as faixas de quantidade de horas que seriam mais adequadas
Ativo de contrato UM 1.500 UM 2.250 UM 1.800 para a duração das obrigações de desempenho remanescentes; ou
Passivo de contrato (200) (850) (500) (ii) usando informações qualitativas.
20X8 20X7 20X6
Receita reconhecida no período de:
Na Base para Conclusões, os Comitês salientaram que, durante o desenvolvimento da norma, vários
Valores incluídos no passivo de contrato UM 650 UM 200 UM 100
usuários das demonstrações financeiras comentaram que as informações sobre o valor e a época da
no início do período
receita que uma entidade espera reconhecer dos seus contratos existentes seriam úteis na sua análise de
Obrigações de desempenho satisfeitas UM 200 UM 125 UM 200 receita.65 Em particular, os usuários estavam interessados nas informações relativas a contratos de longo
em períodos anteriores prazo com receita não reconhecida significativa. Os Comitês também observaram que algumas entidades
frequentemente divulgam voluntariamente essas informações backlog. Contudo, essas informações são
Recebemos pagamentos de clientes com base em um cronograma de faturamento, conforme estabelecido tipicamente apresentadas fora das demonstrações financeiras e podem não ser comparáveis entre
nos nossos contratos. O ativo de contrato se refere ao custo incorrido para desempenhar antes do entidades, uma vez que não existe uma definição comum de backlog. Conforme resumido na Base para
faturamento programado. O passivo de contrato se refere a pagamentos recebidos antecipadamente do Conclusões, a intenção dos Comitês ao incluir as exigências de divulgação na IFRS 15.120 é a de fornecer
desempenho segundo o contrato. Mudanças no ativo e passivo de contrato se devem ao nosso desempenho
informações adicionais aos usuários das demonstrações financeiras de uma entidade sobre o seguinte:
segundo o contrato. Além disso, o ativo de contrato sofreu redução em 20X8 devido à redução ao valor
recuperável do ativo de contrato de UM 400, relativa a um cancelamento antecipado de um contrato com (a) o valor e época esperada de receita a ser reconhecida das obrigações de desempenho
um cliente. remanescentes nos contratos existentes;
(b) tendências relativas ao valor e época esperada de receita a ser reconhecida das obrigações de
Obrigações de desempenho desempenho remanescentes nos contratos existentes;
Para auxiliar os usuários das demonstrações financeiras a analisar a natureza, valor, época e incerteza (c) riscos associados com receita futura esperada (por exemplo, alguns salientam que a receita é
sobre receita e fluxos de caixa resultantes de contratos com clientes, os Comitês decidiram requerer mais incerta se uma entidade espera satisfazer a obrigação de desempenho somente em um data
uma divulgação separada das obrigações de desempenho remanescentes de uma entidade. Uma bem mais adiante); e
entidade também é solicitada a divulgar o valor do preço da transação alocado às obrigações de
(d) o efeito de mudanças nos julgamentos ou circunstâncias sobre a receita de uma entidade.”66
desempenho remanescentes e uma explicação de quando espera reconhecer o(s) valor(es).

65 IFRS 15.BC348.
66 IFRS 15.BC350.

142 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 143
Essa divulgação pode ser fornecida em bases quantitativas (por exemplo, valores a serem
Extraído da IFRS 15 (continuação)
reconhecidos dentro de determinadas faixas de quantidade de horas, como, por exemplo, entre um e
dois anos ou entre dois e três anos) ou divulgando um conjunto de informações quantitativas e
Contrato C
qualitativas. Essa divulgação não inclui contraprestação atribuível a opções de renovação de contrato
que não representam um direito material e quaisquer valores estimados de contraprestação variável Serviços de limpeza devem ser prestados quando e à medida que forem necessários ao longo dos
sujeitos a restrição e, portanto, não estão incluídos no preço da transação. Contudo, quaisquer próximos dois anos. O cliente paga contraprestação fixa de UM 100 por mês mais um pagamento único de
renovações significativas e contraprestação variável não incluídas na estimativa do preço da contraprestação variável de UM 0 a UM 1.000, correspondendo a uma inspeção regulatória e certificação
transação devem ser divulgadas. das instalações do cliente (ou seja, um bônus por desempenho). A entidade estima que terá direito à
contraprestação variável de UM 750. Com base na avaliação pela entidade dos fatores no item 57 da IFRS
Os Comitês também forneceram um expediente prático segundo o qual uma entidade pode evitar 15, a entidade inclui a sua estimativa de contraprestação variável de UM 750 no preço da transação, uma
divulgar o valor das obrigações de desempenho remanescentes para contratos com duração vez que é altamente provável que um estorno significativo no valor cumulativo de receita reconhecido não
irá ocorrer. A entidade mensura a sua evolução até a completa satisfação da obrigação de desempenho
original esperada de menos de um ano, ou para aqueles que permitem à entidade reconhecer
usando uma medida baseada em tempo.
receita quando faturada. Por exemplo, uma entidade não é solicitada a fazer a divulgação para
um contrato de três anos segundo o qual ela tem um direito de faturar ao cliente um valor fixo A entidade divulga o valor do preço da transação que ainda não foi reconhecido como receita em uma tabela,
para cada hora do serviço prestado. com períodos quantitativos de tempo, que ilustra quando a entidade espera reconhecer o valor como receita.
A entidade também inclui uma discussão qualitativa sobre qualquer contraprestação variável que não esteja
A norma fornece os seguintes exemplos para essas divulgações requeridas: incluída na divulgação. As informações para o Contrato C incluídas na divulgação geral são as seguintes:

20X8 20X9 Total


Extraído da IFRS 15
UM UM UM
Exemplo 42 - Divulgação do preço da transação alocado às obrigações de desempenho remanescentes Receita esperada a ser reconhecida sobre este
(IFRS 15.IE212-IE219) contrato em 31 de dezembro de 20X7 1.575(a) 788(b) 2.363
Em 30 de junho de 20X7, uma entidade celebra três contratos (Contratos A, B e C) com clientes separados
para prestar serviços. Cada contrato tem um prazo de dois anos não cancelável. A entidade considera (a) Preço da transação = UM 3.150 (UM 100 × 24 meses + UM 750 contraprestação variável) reconhecido
as exigências nos itens 120-122 da IFRS 15 ao determinar as informações em cada contrato a serem homogeneamente ao longo de 24 meses por UM 1.575 por ano.
incluídas na divulgação do preço da transação alocado às obrigações de desempenho remanescentes em (b) UM 1.575 ÷ 2 = UM 788 (ou seja, para 6 meses do ano).
31 de dezembro de 20X7.
Além disso, de acordo com o item 122 da IFRS 15, a entidade divulga qualitativamente que parte do bônus
Contrato A
por desempenho foi excluída da divulgação porque não foi incluída no preço da transação. Essa parte do
Serviços de limpeza devem ser prestados ao longo dos próximos dois anos, tipicamente com frequência bônus por desempenho foi excluída do preço da transação de acordo com as exigências para restringir
mínima mensal. Pelos serviços prestados, o cliente paga uma taxa horária de UM 25. estimativas de contraprestação variável.

Uma vez que a entidade fatura um valor fixo por hora do serviço prestado, a entidade tem o direito de Exemplo 43 – Divulgação do preço da transação alocado às obrigações de desempenho remanescentes
emitir fatura ao cliente no valor que corresponde diretamente ao valor do desempenho da entidade – divulgação qualitativa (IFRS 15.IE220-IE221)
concluído até a data, de acordo com o item B16 da IFRS 15. Consequentemente, nenhuma divulgação é
Em 1º de janeiro de 20X2, uma entidade celebra um contrato com um cliente para construir um edifício
necessária se a entidade optar por aplicar o expediente prático no item 121(b) da IFRS 15.
comercial por contraprestação fixa de UM 10 milhões. A construção do edifício é uma obrigação de
Contrato B desempenho única que a entidade satisfaz ao longo do tempo. Em 31 de dezembro de 20X2, a entidade
reconheceu UM 3,2 milhões de receita. A entidade estima que a construção será finalizada em 20X3, mas é
Serviços de limpeza e de manutenção de jardim devem ser prestados quando e à medida que forem
possível que o projeto seja finalizado no primeiro semestre de 20X4.
necessários com, no mínimo, quatro visitas por mês durante os próximos dois anos. O cliente paga um preço
fixo de UM 400 por mês pelos dois serviços. A entidade mensura a sua evolução até a completa satisfação Em 31 de dezembro de 20X2, a entidade divulga o valor do preço da transação que ainda não foi
da obrigação de desempenho usando uma medida baseada em tempo. reconhecido como receita na sua divulgação do preço da transação alocado às obrigações de desempenho
remanescentes. A entidade também divulga uma explicação de quando a entidade espera reconhecer
A entidade divulga o valor do preço da transação que ainda não foi reconhecido como receita em uma
esse valor como receita. A explicação pode ser divulgada em bases quantitativas, usando faixas de
tabela, com períodos quantitativos de tempo, que ilustra quando a entidade espera reconhecer o valor como
quantidades de horas que são mais apropriadas para a duração da obrigação de desempenho remanescente
receita. As informações para o Contrato B incluídas na divulgação geral são as seguintes:
ou fornecendo uma explicação qualitativa. Uma vez que a entidade está incerta em relação à época de
20X8 20X9 Total reconhecimento de receita, a entidade divulga essas informações qualitativamente como segue:
UM UM UM “Em 31 de dezembro de 20X2, o valor total do preço da transação alocado à obrigação
Receita esperada a ser reconhecida sobre este de desempenho remanescente é de UM 6,8 milhões e a entidade irá reconhecer essa
4.800(a) 2.400(b) 7.200
contrato em 31 de dezembro de 20X7 receita quando o edifício for finalizado, o que se espera que ocorra ao longo dos próximos
a) UM 4.800 = UM 400 × 12 meses. 12-18 meses.”
b) UM 2.400 = UM 400 × 6 meses.

144 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 145
9.3.2 Julgamentos significativos •• Para obrigações de desempenho que são satisfeitas em um determinado momento, as entidades
A norma especificamente requer a divulgação das principais estimativas contábeis e julgamentos devem divulgar os julgamentos significativos feitos ao avaliar o momento em que o cliente obtém
profissionais feitos na determinação do preço da transação, alocando o preço da transação a controle dos bens ou serviços.
obrigações de desempenho e determinando quando as obrigações de desempenho são satisfeitas.
Essas exigências ultrapassam as apresentadas nas exigências gerais para os principais julgamentos 9.3.3 Ativos reconhecidos dos custos para obter ou cumprir um contrato
profissionais e estimativas contábeis requeridas pela IAS 1 e são discutidas em mais detalhes A norma requer que as entidades divulguem informações sobre ativos reconhecidos de custos para
abaixo.67 obter ou cumprir um contrato. Essas informações têm o objetivo de ajudar os usuários a entender os
tipos dos custos reconhecidos como ativos e como esses ativos são subsequentemente amortizados
Determinação do preço da transação e os valores alocados às obrigações ou reduzidos ao valor recuperável. Essas divulgações são:
de desempenho
As entidades frequentemente utilizam julgamento profissional significativo ao estimar os preços Extraído da IFRS 15
das transações dos seus contratos, especialmente quando essas estimativas envolvem
contraprestação variável. 127. Uma entidade deve descrever o seguinte:

Além disso, julgamento significativo pode ser requerido ao estimar os preços de venda individuais. A (a) os julgamentos feitos ao determinar o valor dos custos incorridos para obter ou cumprir um
contrato com um cliente (de acordo com os itens 91 ou 95); e
norma requer que as entidades divulguem informações qualitativas sobre os métodos, dados e
premissas utilizadas nas suas demonstrações financeiras anuais. Os Comitês concluíram que isso é (b) o método usado para determinar a amortização para cada período-base.
importante para que os usuários possam avaliar a qualidade dos ganhos.
128. A entidade deve divulgar todos os seguintes itens:

(a) os saldos de fechamento dos ativos reconhecidos dos custos incorridos para obter ou cumprir um
Extraído da IFRS 15
contrato com um cliente (de acordo com os itens 91 ou 95), por principal categoria de ativo (por
exemplo, custos para obter contratos com clientes, custos pré-contrato e custos de instalação); e
126. Uma entidade deve divulgar informações sobre os métodos, dados e premissas usados para todos
os seguintes itens: (b) o valor da amortização ou quaisquer perdas por redução ao valor recuperável no período-base.

(a) determinação do preço da transação, que inclui, mas sem se limitar, a estimativa da
contraprestação variável, ajustando a contraprestação pelos efeitos do valor do dinheiro no tempo
9.3.4 Expedientes práticos
e mensurando a contraprestação não monetária;
A norma permite que as entidades usem vários expedientes práticos. A aplicação desses expedientes
(b) avaliação sobre se uma estimativa de contraprestação variável está sujeita a restrição;
práticos pode levar a resultados financeiros diferentes daqueles que seriam obtidos mediante a
(c) alocação do preço da transação, incluindo a estimativa dos preços de venda individuais dos bens aplicação integral da norma. Assim, as entidades são solicitadas a divulgar o seu uso de expedientes
ou serviços prometidos e alocando descontos e contraprestação variável a uma parte específica do práticos nas suas demonstrações financeiras anuais no ano da sua adoção e nos anos seguintes. Por
contrato (se for o caso); e exemplo, se uma entidade optar por usar o expediente prático associado à determinação sobre se um
(d) mensuração das obrigações de devoluções, reembolsos e outras obrigações semelhantes. componente de financiamento significativo existe (vide Seção 5.3) ou o expediente relativo aos custos
incrementais de obter um cliente (vide Seção 8.3.1), a entidade deve divulgar esses fatos.

Determinação de quando obrigações de desempenho são satisfeitas


A norma também requer que as entidades forneçam divulgações sobre julgamentos significativos
feitos ao determinar quando as obrigações de desempenho são satisfeitas. Para obrigações de
desempenho que são satisfeitas ao longo do tempo, as entidades devem divulgar as seguintes
informações, conforme descrito na norma:

Extraído da IFRS 15

124. Para obrigações de desempenho que a entidade satisfaz ao longo do tempo, a entidade deve divulgar
o seguinte:

(a) os métodos usados para reconhecer receita (por exemplo, uma descrição dos métodos de saída ou
métodos de entrada utilizados e como esses métodos são aplicados); e

(b) uma explicação do motivo pelo qual os métodos usados fornecem uma descrição fiel da
transferência dos bens ou serviços.

67 Vide IAS 1.122-133.

146 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 147
10 Considerações sobre implementação Treinamento e comunicação Benefícios a empregados Planejamento fiscal
A IFRS 15 afetará o reconhecimento, a mensuração e a divulgação de receita para várias
•• Planejar e realizar •• Alinhar as estruturas •• Identificar qualquer impacto
entidades. Receita é frequentemente o indicador de desempenho financeiro mais importante para
treinamento para o pessoal de gerenciamento sobre as estratégias fiscais
as entidades. A obtenção de entendimento do efeito da norma, o fornecimento de comunicação
da área financeira, de de desempenho e os existentes e planejamento
em tempo hábil aos stakeholders e o planejamento prévio são fundamentais para o êxito da operações, vendas e correspondentes planos de
implementação. Mesmo entidades que não esperam mudanças significativas na mensuração de •• Considerar se quaisquer
marketing, negócios e TI remuneração com o novo
receita e na época do reconhecimento precisarão validar essa premissa. Além disso, precisarão mudanças de preços
modelo de receita, incluindo
também identificar quaisquer mudanças necessárias nas políticas, procedimentos, controles •• Desenvolver um plano de transferência são
a revisão das estruturas de
de comunicação para as necessárias
internos e sistemas para assegurar que as transações de receita são avaliadas apropriadamente de comissões e os termos de
funções internas afetadas e
acordo com a norma. Além disso, as entidades precisarão se planejar para as exigências de acordos de pagamento com •• Gerenciar qualquer
stakeholders externos
divulgação significativamente expandidas. base em ações integração necessária com
os novos sistemas de receita
Como resultado da IFRS 15, as entidades podem enfrentar uma mudança significativa na época do implementados em resposta
reconhecimento de receita. O processo de implementação pode ser considerável, e as entidades à IFRS 15
devem começar a se planejar o mais breve possível. Preparação com antecedência é fundamental
para uma transição sem problemas. Esta seção aborda fatores a serem considerados pelas entidades Informações gerenciais Operações de negócio Gerenciamento de projeto
à medida que começam a implementar a norma IFRS 15.
•• Planejar-se para potenciais •• Modificar os procedimentos •• Desenvolver um
10.1 Não se trata apenas de uma mudança contábil ajustes nos principais de contratação departamento de
indicadores gerenciamento de projeto
Uma vez que o objetivo de uma entidade é o de gerar receita, não é de se surpreender que mudanças •• Obter entendimento de
de desempenho completo, envolver
nas exigências contábeis para receita poderiam afetar várias funções de negócios e capacidades. A qualquer efeito sobre as
executivos intensamente
tabela abaixo destaca as ações que as entidades podem querer considerar. •• Considerar mudanças exigências regulatórias
e fornecer os recursos
nos relatórios gerenciais existentes
apropriados e orçamentos
internos para obter melhor
Relacionamento com •• Comunicar as informações
Ambiente de controle Processos e sistemas alinhamento com as novas •• Estabelecer uma estrutura
investidores divulgações externas.
necessárias para estimativas
de governança integrada
e julgamentos ao
com outros programas de
•• Ajustar ou adicionar •• Considerar a comunicação •• Atualizar os principais •• Ajustar planejamento departamento financeiro
mudança
controles para abordar prévia do impacto para os processos e controles financeiro e análise
•• Monitorar o potencial efeito
julgamentos e estimativas principais membros em relação a quaisquer com base no efeito
sobre cláusulas restritivas
ampliados, inclusive mudanças na forma da IFRS 15
•• Prever potenciais mudanças (covenants) durante a
documentação e teste como as transações são
nas principais métricas, implementação
desses novos controles contabilizadas segundo a
inclusive margens brutas
IFRS 15
•• Examinar as estruturas de
•• Benchmark em relação
controle para assegurar •• Desenvolver sistemas de TI 10.2 Implementação de mudança contábil
ao grupo par global para
permanente conformidade e processos manuais para
entender quaisquer A adoção do novo modelo para a mensuração e reconhecimento de receita pode parecer difícil. O
com os regulamentos armazenamento de dados
diferenças no efeito efeito da IFRS 15 provavelmente irá além do departamento financeiro e, em alguns casos, pode afetar
e exigências ampliadas de
•• Atualizar políticas e apresentação financeira
a forma como os relacionamentos com clientes são estruturados e mantidos. Usuários das
procedimentos para fins de demonstrações financeiras analisam receita criteriosamente. Assim, as entidades devem dar ênfase
conformidade com a norma •• Planejar-se para mudanças ao estabelecimento de políticas e práticas eficazes de reconhecimento de receita que forneçam uma
IFRS 15 na apresentação das base sólida para o futuro.
demonstrações financeiras,
inclusive para notas Um modelo comum para a implementação de mudança contábil em uma organização inclui as
explicativas ampliadas seguintes cinco fases:

•• Avaliação Identificar diferenças contábeis, de apresentação financeira e de


impostos e consequências sobre os processos de negócio e sistemas

•• Desenho e planejamento Implementar a infraestrutura do programa e do projeto, inclusive


roadmap e estratégia de gerenciamento de mudança

148 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 149
•• Desenvolvimento de Identificar soluções, preparar plano de implementação Contábil e de
Processos de
Gerenciamento
solução e desenvolver soluções por meio dos fluxos de trabalho apresentação Impostos de mudança e
negócio e sistemas
financeira comunicações
•• Implementação Aprovar e implantar soluções por meio dos fluxos de trabalho
Obter entendimento Obter entendimento Obter entendimento Obter entendimento
•• Pós-implementação Abordar itens diferidos e a transição para o modelo operacional
das exigências do efeito da do cenário geral da estrutura de
da norma IFRS IFRS 15 sobre o de processos e conhecimento
Como resultado do potencial impacto de longo alcance da IFRS 15, o processo de implementação
15, treinar o departamento de sistemas da entidade organizacional da
deve ser abrangente e incluir vários departamentos além do tradicional departamento financeiro, departamento impostos relacionados a entidade e sua
inclusive os departamentos de informática, impostos, jurídico, vendas, marketing, recursos humanos, financeiro e avaliar receita (atuais e abordagem para
relacionamentos com os investidores e a alta administração. Os fluxos de trabalho relacionados que o potencial impacto futuros) gerenciamento de
devem ser considerados incluem: sobre a entidade conhecimento

•• Contábil e de apresentação financeira


Identificar diferenças Identificar novos Levantamento de Desenvolver
•• Impostos entre as normas itens de imposto todas as potenciais considerações
•• Processos de negócio e sistemas atuais e a IFRS 15, diferido como diferenças contábeis para protocolos de
aplicando a norma resultado da IFRS 15 dos fluxos de comunicação
•• Gerenciamento de mudança, comunicação e treinamento a acordos de receita trabalho contábil,
representativos de apresentação
Além disso, um programa forte e capacidade de gerenciamento de projeto serão fundamentais para financeira e de
manter a devida continuidade e pontualidade desses fluxos de trabalho. impostos

Fornecemos abaixo algumas percepções adicionais sobre a fase de avaliação. Não incluímos mais
detalhes nesta publicação sobre as outras quatro fases porque a fase de avaliação impulsiona cada Identificar exigências Identificar áreas Determinar Desenvolver
uma das outras áreas, que são significativamente influenciadas pelos fatos e circunstâncias de adicionais de em que as atuais processos/áreas um roadmap de
divulgação na IFRS 15 políticas de funcionais mais treinamento geral
cada entidade.
contabilidade fiscal afetados pela IFRS para promover
da entidade (ou seja, 15 (processos, o conhecimento
10.3 Fase de avaliação políticas aplicadas sistemas e pessoas) sobre a IFRS 15 na
nas declarações de por meio da análise organização
10.3.1 Escopo imposto da entidade) de deficiências (gap
A fase de avaliação ou diagnóstico é, talvez, a mais crítica das cinco fases para a implementação de serão afetadas pela analysis)
IFRS 15, inclusive
uma mudança contábil. Ela estabelece uma base para o resto do processo de implementação. Nessa
de preços de
fase, uma entidade deve entender a IFRS 15 e determinar o seu efeito sobre os fluxos de receita
transferência
significativos da entidade. Uma vez que o efeito pode variar dependendo do tipo de transação, as
entidades devem identificar fluxos de receita únicos significativos dentro da organização e aplicar a
IFRS 15 a uma amostra de contratos representativos. Identificar áreas Determinar a Identificar iniciativas
contábeis e de natureza do efeito atuais e planejadas
Para identificar os seus fluxos de receita únicos e significativos, uma entidade geralmente considerará apresentação da IFRS 15 sobre para sistemas
as suas ofertas de produtos e serviços através de todos os seus segmentos de clientes. Uma entidade financeira que conformidade fiscal e e processos e
pode identificar esses fluxos de receita considerando as normas de reconhecimento de receita ou as requerem mais planejamento avaliar o efeito da
investigação e implementação da
interpretações que são por ela atualmente aplicadas. Entidades podem também considerar se fatores
avaliação que IFRS 15
adicionais como, por exemplo, localização geográfica, tipo de contrato ou canal(is) de vendas podem
poderiam ser
afetar a sua determinação de fluxos de receita únicos e significativos. Por exemplo, considere-se uma abordadas na
entidade que vende os Produtos A, B e C diretamente aos seus clientes na Europa, mas que utiliza próxima fase do
revendedores na Ásia. Nessa situação, a entidade consideraria se ela deveria analisar seis fluxos de projeto
receita, em vez de apenas três com base no número de produtos.

10.3.2 Atividades da fase de avaliação


Uma vez que uma entidade tenha identificado os seus fluxos de receita significativos, ela deve aplicar
a IFRS 15 a acordos representativos dentro de cada fluxo de receita. Além disso, ela deve considerar
o efeito relacionado sobre sistemas, processos, impostos sobre a renda e gerenciamento de mudança.
Amostras de procedimentos segundo cada fluxo de trabalho incluem as seguintes:

150 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 151
10.3.3 Julgamentos e estimativas significativos •• Se a entidade aplica o método retrospectivo integral:
Ao executar as atividades na fase de avaliação, uma entidade deve identificar os principais •• A entidade tem a capacidade de determinar o ajuste de transição na data do início do primeiro
julgamentos e estimativas que será solicitada a fazer segundo a IFRS 15. Esses julgamentos e período apresentado e começa a rastrear informações financeiras para ser capaz de apresentar
estimativas da administração serão uma parte importante da implementação da norma. A utilização informações para o primeiro período apresentado?
pelo novo modelo de princípios amplos exigirá várias estimativas e o uso de julgamento profissional,
•• A entidade entende o efeito sobre as declarações de imposto e demonstrações financeiras
semelhantes aos das atuais normas IFRS. Os seguintes aspectos da norma são exemplos de áreas que
estatutárias de subsidiárias?
requerem julgamento significativo:
•• Se a entidade aplica o método retrospectivo modificado:
•• Identificação do contrato
•• A entidade tem a capacidade de manter registros financeiros segundo a nova norma e as atuais
•• Cobrabilidade (Seção 3.1.5) normas IFRS para fornecer as divulgações requeridas no ano da transição?
•• Combinação de contratos (Seção 3.2) •• Haveria diferenças significativas nas informações financeiras apresentadas no corpo das
•• Modificações de contratos (Seção 3.3) demonstrações financeiras segundo a nova norma e o valor apresentado nas notas explicativas
segundo as atuais normas IFRS no ano da transição?
•• Identificação de obrigações de desempenho – determinação de bens e serviços distintos (Seção 4.2)
•• Determinação do preço da transação Quais métricas significativas de desempenho serão afetadas?
•• Estimativa da contraprestação variável, incluindo aplicação da restrição (Seções 5.1 e 5.2) As métricas afetadas provavelmente incluirão margem bruta, lucro líquido, LAJIDA e resultado por ação.
Após a entidade entender o efeito sobre os fluxos significativos de receita, ela deve examinar essas
•• Determinação do componente de financiamento significativo (Seção 5.3) métricas para determinar se alguma mudança é necessária, incluindo, mas sem se limitar a, mudanças
•• Estimativa dos preços de venda individuais (Seção 6.1) em quaisquer programas de remuneração vinculados a receita (por exemplo, comissões de venda,
programas de bônus), cláusulas restritivas de dívida, planejamento financeiro e metas de análise.
•• Determinação sobre se as obrigações de desempenho são satisfeitas ao longo do tempo ou em um
•• Quais métricas de desempenho são vinculadas a receita? A entidade está considerando mudar os
determinado momento (Seção 7)
pacotes de remuneração ou outras áreas do negócio que são vinculados a receita?
•• Determinação sobre se licenças representam um direito de uso de propriedade intelectual ou de
•• As mudanças em receita irão afetar algum cláusula restritiva contratual do negócio?
acesso a propriedade intelectual ao longo do tempo (Seção 8.4)

Nas últimas fases do processo de implementação, uma entidade deve desenhar e implementar A entidade determinou quais mudanças são requeridas nos sistemas
processos para fazer esses julgamentos, para assegurar consistência em toda a organização, contábeis e processos?
juntamente com os correspondentes controles. Uma entidade precisará considerar se os seus sistemas de informática, modelos de dados,
correspondente ERP (enterprise resource planning) e aplicativos do sistema legado são capazes de
10.3.4 Produtos da fase de avaliação capturar, rastrear, compilar e apresentar informações de acordo com as necessidades da norma. Por
exemplo, julgamentos e estimativas envolvendo contraprestação variável e componentes financeiros
Além de identificar os julgamentos e estimativas significativos que serão requeridos segundo a
significativos, determinação de preços de venda individuais, alocação do preço da transação às
norma, a fase de avaliação deve também fornecer outras percepções valiosas. Essas percepções
obrigações de desempenho e mensuração da evolução para obrigações de desempenho satisfeitas ao
servirão como a base para as fases de implementação remanescentes. No final dessa fase, uma
longo do tempo representam apenas algumas das potenciais mudanças que poderiam requerer novas
entidade deve ser capaz de responder às seguintes perguntas sobre os seus tipos significativos de soluções computadorizadas.
receita segundo a norma e a sua abordagem de implementação.
Além disso, os sistemas de uma entidade terão que ter a capacidade de capturar ou coletar
A entidade aplicará um método de transição retrospectivo integral ou informações de apoio para as exigências de divulgação quantitativa e qualitativa, incluindo:
modificado? •• Informações sobre receita desagregada;
Conforme discutido na Seção 1.2, a norma permite dois métodos de transição diferentes. Antes de •• O preço da transação alocado às obrigações de desempenho remanescentes;
determinar qual alternativa é correta para uma entidade, a administração deve identificar os efeitos
significativos sobre os fluxos de receita da entidade, avaliar os métodos de adoção esperados de pares •• Mensuração de receita usando métodos de entrada para obrigações de desempenho satisfeitas ao
longo do tempo.
(peers) e considerar as perspectivas de stakeholders.
•• Qual método os pares e outras entidades no setor estão aplicando? Ao realizar essa análise, uma entidade pode determinar que irá precisar coletar mais dados
financeiros e detalhes sobre contratos com os clientes além daqueles que coleta atualmente. Isso
•• Quais são os pontos de vista dos analistas sobre os métodos de transição para o setor e o modelo pode ser desafiador para uma entidade com operações descentralizadas que precisarão coletar
de negócio? informações em várias localidades.
•• A entidade terá um valor significativo de receita “perdida” como resultado da transição das atuais
políticas contábeis para a norma (por exemplo, valores de receita que foram diferidos na data da Existem planos para mudar a forma como a entidade faz negócios?
adoção da norma e que serão, no final, refletidos nos períodos anteriores reapresentados ou como Algumas entidades podem ter práticas disciplinadas de preços implementadas para alocar
parte do ajuste cumulativo no momento da adoção, mas que não são nunca apresentados como contraprestação a elementos em um acordo com múltiplos elementos. Contudo, mesmo nessas
receita em um período corrente nas demonstrações financeiras)?

152 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 153
situações, uma entidade precisará avaliar se as suas práticas de preços irão mudar, bem como os seus capacidades de uma organização, com um roadmap de apoio para a entrega dos novos dados,
métodos para estimar os preços de venda individuais. processos e sistemas.
•• A norma IFRS 15 irá resultar em alguma mudança nas práticas de negócio (por exemplo, mudanças
nos termos contratuais ou políticas de preços que poderia afetar as estimativas dos preços de 10.5 Comunicação com os principais stakeholders
venda individuais)? Ao longo de todo o processo de implementação, uma entidade deve realizar comunicações prévias e
frequentes com os seus principais stakeholders (por exemplo, comitês de auditoria, investidores,
•• Há mudanças nos termos contratuais que afetariam reconhecimento de receita segundo a nova
financiadores, reguladores), especialmente se previr mudanças significativas no valor, época e
norma (por exemplo, revisão das disposições sobre rescisão para obter o devido pagamento pelo
apresentação de receita.
desempenho concluído até a data)?

•• As mudanças planejadas terão algum efeito sobre a forma como a força de venda de uma entidade A administração deve fornecer informações atualizadas regularmente ao comitê de auditoria sobre a
faz negócios? norma e o processo de implementação da entidade, incluindo:
•• Visão geral da norma;
Como a IFRS 15 irá afetar as políticas contábeis da entidade? •• Efeito previsto sobre os fluxos significativos de receita;
Uma vez que diversos conceitos na nova norma diferem significativamente das atuais normas IFRS,
uma entidade precisará identificar as atualizações necessárias das políticas existentes para fins de •• Método de transição.
conformidade com a IFRS 15. Além disso, com o nível requerido de julgamentos e estimativas pela
A experiência dos membros do comitê de auditoria e a exposição a outras entidades que
norma, as entidades provavelmente precisarão estabelecer políticas claras para implementar uma
enfrentam os mesmos desafios podem ser recursos valiosos para uma entidade durante o processo
nova contabilização de receita, consistentemente em todas as suas operações. Adicionalmente,
de implementação.
políticas além das relacionadas com receita podem também ser afetadas (por exemplo, políticas
relacionadas a outros ganhos e perdas, comissões, custos para o cumprimento de contratos).

Quais mudanças em controles internos são requeridas?


Além de captura de dados, coleta de dados e mudanças de TI, os processos de apresentação
financeira e controles internos provavelmente também precisarão de revisão.
•• A entidade será capaz de otimizar os processos existentes e controles internos relacionados a
receita com pequenas mudanças ou utilizará essa oportunidade para otimizar o ambiente de
controle relativo a receita?

•• Quais processos e controles adicionais serão necessários para o período de transição, caso os
controles adicionais estejam associados com a reapresentação de 2016 (e, em alguns casos, de
2015) ou estejam associados à dupla contabilização requerida para 2017 ao usar o método
retrospectivo modificado?

Que impacto a norma de reconhecimento de receita terá sobre impostos?


Mudanças na contabilização de receita para fins de apresentação financeira podem levar a diferenças
para fins fiscais. Em alguns casos, essas diferenças podem levar a diferenças temporárias adicionais,
devido a mudanças na época de receita para fins de apresentação financeira.
•• A norma resultará em mudanças significativas nas diferenças temporárias relativas a receita?
•• A entidade precisará mudar os métodos de contabilidade fiscal devido às novas exigências contábeis?
•• Como a norma afetará preços de transferência?

10.4 Processo de implementação remanescente


Os resultados da fase de avaliação determinarão as atividades nas demais fases do processo de
implementação. Essas atividades incluirão: desenvolvimento de novas políticas e procedimentos
contábeis; identificação de uma abordagem para determinar o efeito cumulativo na transição,
inclusive o potencial efeito de impostos; criação de documentos de desenho técnico para mudanças
nos sistemas; e uma série de outras atividades através dos fluxos de trabalho contábil e de
apresentação, de impostos, processos de negócio e sistemas, gerenciamento de mudança,
comunicação e treinamento. Em vários casos, o resultado será uma mudança significativa nas

154 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 155
Anexo A: Transcrição da Lista de Verificação de Divulgações Divulgação feita
segundo as normas IFRS (IFRS Disclosure Checklist) da EY
Sim Não N/A

Divulgação feita IFRS 15.C4 Apesar das exigências da IAS 8.28, quando a IFRS 15 for aplicada pela primeira vez,
IAS 8.28(f)
uma entidade precisa apenas apresentar as informações quantitativas requeridas
Sim Não N/A pela IAS 8.28(f) para o período anual imediatamente anterior ao primeiro período
anual para o qual a IFRS 15 é aplicada (o “período imediatamente anterior”) e
IFRS 15 - Receita de Contratos com Clientes apenas se a entidade aplica a IFRS 15 retrospectivamente, de acordo com a IFRS
15.C3(a). Uma entidade pode também apresentar essas informações para o período
A norma IFRS 15 Receita de Contratos com Clientes foi emitida em maio de 2014. Ela corrente ou períodos anteriores comparativos, mas não é solicitada a fazê-lo;
se aplica a todos os contratos com clientes, com limitadas exceções.
g. O valor do ajuste relativo a períodos anteriores aos apresentados, na extensão
A norma IFRS 15 entra em vigor para períodos anuais iniciados a partir de 1º de praticável;
janeiro de 2017, sendo a sua aplicação antecipada permitida.
h. Se a aplicação retrospectiva é impraticável para um determinado período
Transição para a norma IFRS 15 anterior, ou para períodos anteriores aos apresentados, as circunstâncias que
levaram à existência dessa condição e uma descrição da forma como e desde
IFRS 15.C3 Uma entidade adota a norma IFRS 15 usando um dos dois métodos abaixo: quando a mudança na política contábil foi aplicada.
a. Retrospectivamente para cada período anterior apresentado de acordo com a
norma IAS 8 Políticas Contábeis, Mudanças nas Estimativas Contábeis e Erros, Demonstrações financeiras de períodos subsequentes não precisam repetir essas
sujeito aos expedientes na IFRS 15.C5; divulgações.
Ou
b. Retrospectivamente com o efeito cumulativo da aplicação inicial da IFRS 15 IFRS 15.C6 A entidade divulga o seguinte para qualquer um dos expedientes práticos na
IFRS 15.C2 IFRS 15.C5 que ela utiliza:
reconhecido na data da aplicação inicial, de acordo com a IFRS 15.C7-C8.

Para os fins das exigências de transição: a. Os expedientes que foram utilizados;


a. A data da aplicação inicial é o início do período-base em que uma entidade aplica
a IFRS 15 pela primeira vez; b. Na extensão razoavelmente possível, uma avaliação qualitativa do efeito
b. Um contrato concluído é um contrato para o qual a entidade transferiu todos os estimado da aplicação de cada um desses expedientes.
bens ou serviços identificados, de acordo com a IAS 11 Contratos de Construção,
IFRS 15.C5 Uma entidade pode usar um ou mais dos seguintes expedientes práticos ao aplicar a
IAS 18 Receita e as correspondentes Interpretações.
IFRS 15 retrospectivamente:
IFRS 15.C1 Se a entidade aplica a IFRS 15 na sua primeira demonstração financeira anual a. Para contratos concluídos, uma entidade não precisa reapresentar contratos que
segundo as normas IFRS para um período anterior ao período iniciado a partir de 1º começam e terminam no mesmo período-base anual;
de janeiro de 2017, a entidade divulga esse fato. b. Para contratos concluídos com contraprestação variável, uma entidade pode
usar o preço da transação na data da conclusão do contrato, em vez de estimar
IFRS 15.C3(a) Abordagem retrospectiva integral valores variáveis de contraprestação nos períodos-base comparativos;
c. Para todos os períodos-base apresentados antes da data da aplicação inicial,
IAS 8.22 Se a IFRS 15 é aplicada retrospectivamente de acordo com a IFRS 15.C3(a), uma entidade não precisa divulgar o valor do preço da transação alocado às
a entidade divulga o ajuste do saldo inicial de cada componente afetado do obrigações de desempenho remanescentes e uma explicação de quando a
patrimônio para o primeiro período anterior apresentado e os outros valores entidade espera reconhecer o referido valor como receita.
comparativos para cada período anterior apresentado, como se a entidade tivesse
sempre aplicado a nova política contábil.
IFRS 15.C3(b) Abordagem retrospectiva modificada

IAS 8.28 Se a aplicação inicial da IFRS 15 tiver um efeito sobre o período corrente ou qualquer IFRS 15.C8 Se a IFRS 15 for aplicada retrospectivamente segundo a IFRS 15.C3(b) para
período anterior apresentado ou possa ter um efeito sobre períodos futuros, exceto se períodos-base que incluem a data da aplicação inicial, a entidade fornece os dois
for impraticável determinar o valor do ajuste, a entidade divulga: itens abaixo:

a. O título da IFRS; a. O valor em que cada item de linha da demonstração financeira é afetado no
período-base corrente pela aplicação da IFRS 15 comparado com a IAS 11, IAS
18 e correspondentes Interpretações em vigor antes da mudança;
b. Que a mudança na política contábil está de acordo com as suas disposições
transitórias na adoção inicial, se aplicável; b. Uma explicação dos motivos das mudanças significativas identificadas na
IFRS 15.C8(a).
c. A natureza da mudança na política contábil;

d. As disposições de transição na adoção inicial, se aplicáveis;

e. As disposições de transição na adoção inicial que podem ter um efeito sobre


períodos futuros, se for o caso;

IAS 33.2 f. O ajuste para cada item de linha da demonstração financeira afetado e o
resultado básico e diluído por ação para o período anual imediatamente anterior
ao primeiro período anual para o qual a IFRS 15 é aplicada, na extensão que for
praticável (se a IAS 33 se aplicar à entidade)

156 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 157
Divulgação feita Divulgação feita

Sim Não N/A Sim Não N/A

IFRS 15.C7 Se uma entidade optar por aplicar a IFRS 15 retrospectivamente de acordo com IFRS 15.107 Um ativo de contrato representa o direito de uma entidade a contraprestação, em
a IFRS 15.C3(b), a entidade deve reconhecer o efeito acumulado da aplicação troca de bens ou serviços que a entidade transferiu a um cliente. Uma entidade
inicial da IFRS 15 como um ajuste ao saldo inicial de lucros acumulados (ou outro deve avaliar um ativo de contrato em relação à redução de valor recuperável, de
componente do patrimônio líquido, conforme o caso) do período-base anual que acordo com a IFRS 9 ou IAS 39, conforme o caso. Uma redução de valor recuperável
inclui a data da aplicação inicial. Segundo esse método, uma entidade deve aplicar a de um ativo de contrato deve ser mensurada, apresentada e divulgada nas mesmas
IFRS 15 retrospectivamente apenas a contratos que não sejam contratos concluídos bases que para um ativo financeiro que esteja dentro do escopo da IFRS 9 ou IAS
na data da aplicação inicial (por exemplo, 1º de janeiro de 2017 para uma entidade 39, conforme o caso [vide também item IFRS15.113(b)].
com encerramento de exercício em 31 de dezembro).
IFRS 15.106 Um passivo de contrato representa a obrigação de uma entidade de transferir bens
Adoção inicial das Normas Internacionais de Contabilidade – IFRS ou serviços a um cliente pelos quais a entidade recebeu contraprestação (ou um
valor de contraprestação é devido) do cliente.
IFRS 1.D34 Se a entidade que adota as normas IFRS pela primeira vez aplica a IFRS 15 na
IFRS 15.C6
IFRS 15.109 A IFRS 15 usa os termos “ativo de contrato” e “passivo de contrato”, mas não
transição para IFRS, a entidade divulga o seguinte para qualquer um dos métodos
proíbe que uma entidade use descrições alternativas no balanço patrimonial para
práticos na IFRS 15.C5 que ela utiliza:
esses itens.
a. Os expedientes que foram utilizados;
A existência de um componente significativo de financiamento
b. Na medida do razoavelmente possível, uma avaliação qualitativa do efeito no contrato
estimado da aplicação de cada um desses expedientes.
IFRS 15.65 A entidade apresenta os efeitos de financiamento (receita de juros ou despesa de
IFRS 1.D34-35 Uma entidade que adota as normas pela primeira vez pode aplicar as disposições juros) separadamente da receita de contratos com clientes na demonstração do
transitórias na adoção inicial no item C5 da IFRS 15. Nesses itens, referências resultado abrangente.
à “data de aplicação inicial” devem ser interpretadas como o início do primeiro
período-base segundo IFRS. Se uma entidade que adota as normas pela primeira
IFRS 15.65 Receita de juros ou despesa de juros é reconhecida apenas na extensão em que um
vez decide aplicar essas disposições, deve também aplicar a IFRS 15.C6. ativo de contrato (ou valor a receber) ou um passivo de contrato for reconhecido
Uma entidade que adota as normas pela primeira vez não é solicitada a contabilmente para um contrato com um cliente.
reapresentar contratos que foram concluídos antes do período mais antigo
apresentado. Um contrato concluído é um contrato para o qual a entidade transferiu Venda com um direito a devolução
todos os bens ou serviços identificados de acordo com os PCGAs anteriores.
IFRS 15.B25 A entidade apresenta o ativo para o direito da entidade de recuperar produtos
Apresentação de um cliente ao liquidar um passivo de reembolso separadamente do passivo de
reembolso.
IFRS 15.105 A entidade apresenta quaisquer direitos incondicionais a contraprestação
IFRS 15.B25 Um ativo reconhecido para o direito de uma entidade de recuperar produtos de um
separadamente como um valor a receber.
cliente ao liquidar um passivo de reembolso deve inicialmente ser mensurado com
IFRS 15.108 Um valor a receber representa o direito de uma entidade a contraprestação base no valor contábil anterior do produto (por exemplo, estoque), menos quaisquer
incondicional. Um direito a contraprestação é incondicional se apenas a passagem custos esperados para recuperar esses produtos (inclusive potenciais reduções
do tempo é requerida antes de o pagamento dessa contraprestação ser devido. Por no valor para a entidade dos produtos devolvidos). No final do período-base,
exemplo, uma entidade reconheceria um valor a receber se tiver um direito presente uma entidade deve atualizar a mensuração do ativo resultante das mudanças nas
a pagamento, ainda que esse valor possa estar sujeito a restituição no futuro. Uma expectativas sobre os produtos a serem devolvidos.
entidade deve contabilizar um valor a receber de acordo com a IFRS 9 ou IAS 39,
conforme o caso. Divulgações

IFRS 15.108 No reconhecimento inicial de um valor a receber de um contrato com um cliente, IFRS 15.110 O objetivo das exigências de divulgação na IFRS 15 é o de que uma entidade
a entidade apresenta qualquer diferença entre a mensuração do valor a receber divulgue informações suficientes para permitir que os usuários das demonstrações
de acordo com a IFRS 9 ou IAS 39, conforme o caso, e o correspondente valor financeiras entendam a natureza, valor, época e a incerteza da receita e fluxos de
da receita como uma despesa (por exemplo, uma perda por redução de valor caixa resultantes de contratos com clientes.
recuperável).
IFRS 15.110 Para alcançar o objetivo de divulgação descrito na IFRS 15.110, a entidade divulga
IFRS 15.107 Se a entidade opera transferindo bens ou serviços a um cliente antes de o cliente informações qualitativas e quantitativas sobre todos os seguintes itens:
IFRS 15.105 pagar a contraprestação ou antes de o pagamento ser devido, a entidade apresenta
o contrato como um ativo de contrato, excluindo quaisquer valores apresentados a. Seus contratos com clientes (vide IFRS 15.113-122);
como um valor a receber.
b. Os julgamentos significativos e mudanças nos julgamentos, feitos na aplicação da
IFRS 15.106 Se um cliente pagar contraprestação, ou se a entidade tiver um direito a um valor IFRS 15 a esses contratos (vide IFRS 15.123-126);
IFRS 15.105
de contraprestação que seja incondicional (ou seja, um valor a receber) antes de a
entidade transferir um bem ou serviço ao cliente, a entidade apresenta o contrato c. Quaisquer ativos reconhecidos dos custos para obter ou cumprir um contrato com
como um passivo de contrato quando o pagamento for feito ou quando o pagamento um cliente, de acordo com o item IFRS 15.91 ou IFRS 15.95 (vide IFRS15.127-
for devido (dos dois, o que ocorrer primeiro) 128).

IFRS 15.109 Se a entidade usa uma descrição alternativa para um ativo de contrato, a entidade IFRS 15.111 A entidade considera o nível de detalhes necessário para satisfazer o objetivo de
fornece informações suficientes a um usuário das demonstrações financeiras para divulgação e o nível de ênfase a ser dada a cada uma das diversas exigências.
distinguir entre valores a receber e ativos de contrato.

158 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 159
Divulgação feita Divulgação feita

Sim Não N/A Sim Não N/A

IFRS 15.111 A entidade agrega ou desagrega divulgações para que informações úteis não IFRS 15.115 Se a entidade aplica a IFRS 8 Segmentos Operacionais, a entidade divulga
sejam obscurecidas pela inclusão de uma grande quantidade de detalhes informações suficientes para permitir que os usuários das demonstrações
insignificantes ou que ocorra a agregação de itens que têm características financeiras entendam o relacionamento entre a divulgação da receita desagregada
substancialmente diferentes. e as informações sobre receita que são divulgadas para cada segmento reportável.

IFRS 15.112 Uma entidade não precisa divulgar informações de acordo com a IFRS 15 se tiver Saldos de contratos
fornecido as informações de acordo com outra norma.
IFRS 15.116 A entidade divulga todos os seguintes itens:
Contratos com clientes
a. Os saldos de abertura e fechamento dos valores a receber, ativos de contratos
IFRS 15.113 Uma entidade divulga todos os seguintes valores para o período-base: e passivos de contratos de contratos com clientes, se não, de outra forma,
apresentados ou divulgados separadamente;
a. Receita reconhecida de contratos com clientes, que a entidade deve divulgar
separadamente das suas outras fontes de receita; b. Receita reconhecida no período-base que foi incluída no saldo do passivo de
contrato no início do período;
b. Quaisquer perdas por redução de valor recuperável reconhecidas (de acordo com
a IFRS 9 ou IAS 39, conforme o caso) sobre quaisquer valores a receber ou ativos c. Receita reconhecida no período-base de obrigações de desempenho satisfeitas
de contratos resultantes de contratos da entidade com clientes, separadamente (ou parcialmente satisfeitas) em períodos anteriores (por exemplo, mudanças no
de perda por redução de valor recuperável de outros contratos. preço da transação).

Desagregação de receita IFRS 15.117 A entidade explica como a época da satisfação das suas obrigações de desempenho
IFRS 15.119 se relaciona à época típica do pagamento e o efeito que esses fatores têm sobre os
IFRS 15.114 Uma entidade desagrega receita reconhecida de contratos com clientes em saldos de ativos de contratos e passivos de contratos; a explicação fornecida pode
categorias que descrevem a forma como a natureza, valor, época e incerteza da utilizar informações qualitativas.
receita e os fluxos de caixa são afetados por fatores econômicos.
IFRS 15.118 A entidade fornece uma explicação (com informações qualitativas e também
IFRS 15.114 A IFRS 15.114 requer que uma entidade desagregue receita de contratos com clientes quantitativas) das mudanças significativas nos saldos de ativos de contratos e
IFRS 15.B87 em categorias que descrevam a forma como a natureza, valor, época e incerteza da passivos de contratos durante o período-base.
receita e os fluxos de caixa são afetados por fatores econômicos. Consequentemente,
a extensão em que a receita de uma entidade é desagregada para os fins dessa IFRS 15.118 Exemplos de mudanças nos saldos de ativos de contratos e passivos de contratos da
divulgação depende dos fatos e das circunstâncias dos contratos da entidade com entidade incluem quaisquer dos seguintes itens:
clientes. Algumas entidade podem precisar usar mais de um tipo de categoria para
a. Mudanças devido a combinações de negócios;
IFRS 15.B88 satisfazer o objetivo da IFRS 15.114 de desagregação de receita. Outras entidade
podem satisfazer o objetivo utilizando apenas um tipo de categoria para desagregar
b. Ajustes cumulativos de receita que afetam o correspondente ativo de contrato ou
receita.
passivo de contrato, inclusive ajustes resultantes de uma mudança na mensuração
Ao selecionar o tipo de categoria (ou categorias) a ser utilizado para desagregar
receita, uma entidade deve considerar como as informações sobre a receita da da evolução, uma mudança em uma estimativa do preço da transação (inclusive
entidade foi apresentada para outros fins, inclusive todos os seguintes itens: quaisquer mudanças na avaliação de se uma estimativa de contraprestação variável
a. Divulgações apresentadas fora das demonstrações financeiras (por exemplo, em é restrita) ou uma modificação de contrato;
divulgações de ganhos, relatórios anuais ou apresentações aos investidores);
c. Redução ao valor recuperável de um ativo de contrato;
IFRS 15.B89 b. Informações periodicamente revisadas pelo executivo responsável pela tomada
de decisões operacionais para avaliar o desempenho financeiro dos segmentos
d. Uma mudança no período de tempo para que um direito a contraprestação se
operacionais;
torne incondicional (ou seja, para que um ativo de contrato seja reclassificado a
c. Outras informações que forem semelhantes aos tipos de informações
um valor a receber);
identificadas na IFRS 15.B88(a) e (b) e que são utilizadas pela entidade ou
usuários das demonstrações financeiras da entidade para avaliar o desempenho e. Uma mudança no período de tempo para que uma obrigação de desempenho seja
da entidade ou para tomar decisões sobre a alocação de recursos. satisfeita (ou seja, para o reconhecimento de receita resultante de um passivo de
Exemplos de categorias que podem ser adequadas incluem, mas não se limitam a, contrato).
todos os seguintes itens:
(c) Tipo do bem ou serviço (por exemplo, principais linhas de produtos); Obrigações de desempenho
(d) Região geográfica (por exemplo, país ou região);
(e) Mercado ou tipo de cliente (por exemplo, clientes governamentais ou não IFRS 15.119 A entidade divulga informações sobre as suas obrigações de desempenho em
governamentais); contratos com clientes, inclusive uma descrição de todos os seguintes itens:
(f) Tipo do contrato (por exemplo, contratos a preço fixo e de mão de obra e material);
(g) Duração do contrato (por exemplo, contratos de curto prazo e de longo prazo); a. Quando a entidade tipicamente satisfaz as suas obrigações de desempenho
(h) Época da transferência dos bens ou serviços (por exemplo, receita de bens ou (por exemplo, no envio, na entrega, conforme os serviços são prestados ou
serviços transferidos aos clientes em um determinado momento e receita de bens na conclusão do serviço), inclusive quando as obrigações de desempenho são
ou serviços transferidos ao longo do tempo); satisfeitas em um acordo de venda para entrega futura;
(i) Canais de vendas (por exemplo, bens vendidos diretamente a consumidores e bens
vendidos por meio de intermediários). b. Os termos significativos de pagamento

160 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 161
Divulgação feita Divulgação feita

Sim Não N/A Sim Não N/A

Por exemplo, quando o pagamento é tipicamente devido, se o contrato tem um Determinação da época da satisfação das obrigações de desempenho
componente significativo de financiamento, se o valor da contraprestação é variável
e se a estimativa da contraprestação variável é tipicamente restrita de acordo com a IFRS 15.124 Para obrigações de desempenho que a entidade satisfaz ao longo do tempo, a
IFRS 15.56-58; entidade divulga o seguinte:

c. A natureza dos bens ou serviços que a entidade prometeu transferir, salientando a. Os métodos usados para reconhecer receita (por exemplo, uma descrição dos
quaisquer obrigações de desempenho para providenciar que outra parte transfira métodos de saída ou métodos de entrada e como esses métodos são aplicados);
bens ou serviços (ou seja, se a entidade estiver atuando como um agente);
b. Uma explicação do motivo pelo qual os métodos usados fornecem uma descrição
d. Obrigações de devoluções, reembolsos e outras obrigações semelhantes; fiel da transferência dos bens ou serviços.

e. Tipos de garantias e as correspondentes obrigações. IFRS 15.125 Para obrigações de desempenho satisfeitas em um determinado momento, a
entidade divulga os julgamentos significativos feitos ao avaliar quando um cliente
Preço da transação alocado às obrigações obtém o controle dos bens ou serviços prometidos.
de desempenho remanescentes
Determinação do preço da transação e os valores alocados às
IFRS 15.120 A entidade divulga todas as seguintes informações sobre as suas obrigações de obrigações de desempenho
desempenho remanescentes:
IFRS 15.126 A entidade divulga informações sobre os métodos, dados e premissas utilizados
a. O valor total do preço da transação alocado às obrigações de desempenho que para todos os seguintes itens:
não são satisfeitas (ou parcialmente satisfeitas) no final do período-base;
a. Determinação do preço da transação, que inclui, mas sem se limitar, a estimativa
b. Uma explicação sobre quando a entidade espera reconhecer como receita o valor da contraprestação variável, ajustando a contraprestação pelos efeitos do valor
divulgado de acordo com a IFRS 15.120(a), que a entidade divulga em uma das do dinheiro no tempo e mensurando a contraprestação não monetária;
seguintes formas:
b. Avaliação de se uma estimativa da contraprestação variável é restrita;
(j) Em bases quantitativas, usando as faixas de quantidade de horas que
seriam mais adequadas para a duração das obrigações de desempenho c. Alocação do preço da transação, inclusive:
remanescentes;
(l) Estimativa de preços de venda individuais dos bens ou serviços prometidos;
(k) Usando informações qualitativas.
(m) Alocação dos descontos a uma parte específica do contrato (se aplicável);
IFRS 15.122 A entidade explica qualitativamente se está aplicando o expediente prático na
IFRS 15.121 e se qualquer contraprestação de contratos com clientes não está (n) Alocação da contraprestação variável a uma parte específica do contrato (se
incluída no preço da transação e, portanto, não incluída nas informações divulgadas aplicável);
de acordo com a IFRS 15.120.
d. Mensuração das obrigações de devoluções, reembolsos e outras obrigações
IFRS 15.121 Como um expediente prático, uma entidade não precisa divulgar as informações na semelhantes.
IFRS 15.120 para uma obrigação de desempenho se uma das seguintes condições
for satisfeita: Ativos reconhecidos dos custos para obter ou cumprir um contrato
com um cliente
a. A obrigação de desempenho é parte de um contrato que tem uma duração
original esperada de um ano ou menos; IFRS 15.127 A entidade descreve o seguinte:
IFRS 15.B16 b. A entidade reconhece receita da satisfação da obrigação de desempenho a. Os julgamentos feitos ao determinar o valor dos custos incorridos para obter ou
de acordo com a IFRS 15.B16. Ou seja, se uma entidade tiver um direito a cumprir um contrato com um cliente;
contraprestação de um cliente por um valor que correspondente diretamente
ao valor para o cliente do desempenho pela entidade concluído até a data (por b. O método utilizado para determinar a amortização para cada período-base.
exemplo, um contrato de serviço em que uma entidade fatura um valor fixo para
cada hora do serviço fornecido), como um expediente prático, a entidade pode IFRS 15.128 A entidade divulga todos os seguintes itens:
reconhecer receita pelo valor que a entidade tem o direito de faturar.
a. Os saldos de fechamento dos ativos reconhecidos dos custos incorridos para
Julgamentos significativos na aplicação da IFRS 15 obter ou cumprir um contrato com um cliente, por principal categoria de ativo
(por exemplo, custos para obter contratos com clientes, custos pré-contrato e
IFRS 15.123 A entidade divulga os julgamentos e mudanças nos julgamentos feitos na aplicação custos de preparação);
da IFRS 15 que afetam significativamente a determinação do valor e da época da
receita de contratos com clientes. Em particular, a entidade explica os julgamentos e b. O valor da amortização reconhecida no período-base;
as mudanças nos julgamentos utilizados para determinar o seguinte:
c. O valor de quaisquer perdas por redução ao valor recuperável no período-base.
a. A época da satisfação das obrigações de desempenho;

b. O preço da transação e os valores alocados às obrigações de desempenho.

162 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 163
Divulgação feita Anexo B: Exemplos incluídos na norma
Exemplo 1 Capacidade de realização da contraprestação Seção 3.4
Sim Não N/A
Exemplo 2 A contraprestação não corresponde ao preço declarado – desconto implícito no preço Seção 3.1.5
Expedientes práticos
Exemplo 3 Desconto especial implícito no preço Não incluído
IFRS 15.129 Se a entidade optar por utilizar o expediente prático na IFRS15.63 sobre a
existência de um componente significativo de financiamento, a entidade divulga
Exemplo 4 Reavaliação dos critérios para a identificação de um contrato Não incluído
esse fato.

IFRS 15.63 Como um expediente prático, uma entidade não precisa ajustar o valor Exemplo 5 Modificação de um contrato para bens Seção 3.3.2
prometido da contraprestação para os efeitos de um componente significativo
de financiamento se a entidade espera, na data da assinatura do contrato, que o Exemplo 6 Mudança no preço da transação após uma modificação do contrato Não incluído
período entre o momento da transferência pela entidade de um bem ou serviço
prometido a um cliente e o momento em que o cliente paga por esse bem ou serviço Exemplo 7 Modificação de um contrato de serviço Não incluído
será de um ano ou menos.
Exemplo 8 Modificação que resulta em ajuste de atualização cumulativo de receita Seção 3.3.2
IFRS 15.129 Se a entidade optar por utilizar o expediente prático da IFRS15.94 sobre os custos
incrementais da obtenção de um contrato, a entidade divulga esse fato. Exemplo 9 Mudança não aprovada no escopo e no preço Seção 3.3
IFRS 15.94 Como um expediente prático, uma entidade pode reconhecer os custos incrementais Exemplo 10 Bens e serviços não são distintos Não incluído
da obtenção de um contrato como uma despesa quando incorrida, se o período de
amortização do ativo que a entidade teria, de outra forma, reconhecido é de um Exemplo 11 Determinar se os bens ou serviços são distintos Seção 4.2.1
ano ou menos.
Exemplo 12 Promessas expressas e implícitas em um contrato Seção 4.1

Exemplo 13 O cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios Seção 7.1.1

Exemplo 14 Avaliação de uso alternativo e direito a pagamento Seção 7.1.3

Exemplo 15 O ativo não apresenta uso alternativo para a entidade Não incluído

Exemplo 16 Direito a pagamento exigível por desempenho concluído até a data Não incluído
Avaliação sobre se uma obrigação de desempenho é satisfeita em um determinado
Exemplo 17 Seção 7.2
momento ou ao longo do tempo
Exemplo 18 Mensuração da evolução ao tornar os bens ou serviços disponíveis Não incluído

Exemplo 19 Materiais não instalados Seção 7.1.5

Exemplo 20 Penalidade dá origem a contraprestação variável Não incluído

Exemplo 21 Estimativa da contraprestação variável Não incluído

Exemplo 22 Direito a devolução Seção 5.2.2

Exemplo 23 Descontos especiais Não incluído

Exemplo 24 Incentivo de desconto por volume Não incluído

Exemplo 25 Taxa de administração sujeita a restrição Seção 5.1.3

Exemplo 26 Componente de financiamento significativo e direito a devolução Seção 5.3

Exemplo 27 Pagamentos retidos em um contrato de longo prazo Não incluído

Exemplo 28 Determinação da taxa de desconto Seção 5.3

Exemplo 29 Pagamento antecipado e avaliação da taxa de desconto Não incluído

Exemplo 30 Pagamento antecipado Não incluído

Exemplo 31 Direito a contraprestação não monetária Seção 5.4

Exemplo 32 Contraprestação a pagar ao cliente Seção 5.5

164 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 165
Anotações
Exemplo 33 Metodologia de alocação Seção 6.1.4

Exemplo 34 Alocação de um desconto Seção 6.4

Exemplo 35 Alocação de contraprestação variável Seção 6.3

Exemplo 36 Custos incrementais da obtenção de um contrato Seção 8.3.1

Exemplo 37 Custos que dão origem a um ativo Seção 8.3.2

Exemplo 38 Passivo de contrato e valor a receber Não incluído

Exemplo 39 Ativo de contrato reconhecido para o desempenho da entidade Não incluído

Exemplo 40 Valor a receber reconhecido para o desempenho da entidade Não incluído

Exemplo 41 Desagregação de receita – divulgação quantitativa Seção 9.3.1

Exemplo 42 Divulgação do preço da transação alocado às obrigações de desempenho remanescentes Seção 9.3.1
Divulgação do preço da transação alocado às obrigações de desempenho remanescentes –
Exemplo 43 Seção 9.3.1
divulgação qualitativa
Exemplo 44 Garantias Não incluído

Exemplo 45 Providenciar o fornecimento de bens ou serviços (a entidade é um agente) Não incluído

Exemplo 46 Promessa de fornecer bens ou serviços (a entidade é um principal) Não incluído

Exemplo 47 Promessa de fornecer bens ou serviços (a entidade é uma principal) Seção 4.4

Exemplo 48 Providenciar o fornecimento de bens ou serviços (a entidadade é um agente) Seção 4.4

Exemplo 49 Opção que fornece ao cliente um direito material (vale-desconto) Seção 4.6

Exemplo 50 Opção que não fornece ao cliente um direito material (bens ou serviços adicionais) Não incluído

Exemplo 51 Opção que fornece ao cliente um direito material (opção de renovação) Não incluído

Exemplo 52 Programa de fidelidade do cliente Seção 7.8

Exemplo 53 Taxa antecipada não reembolsável Não incluído

Exemplo 54 Direito de uso de propriedade intelectual Não incluído

Exemplo 55 Licença de propriedade intelectual Não incluído

Exemplo 56 Identificação de uma licença distinta Seção 8.4.1

Exemplo 57 Direitos de franquia Seção 8.4.4

Exemplo 58 Acesso a propriedade intelectual Seção 8.4.3

Exemplo 59 Direito de uso de propriedade intelectual Seção 8.4.3

Exemplo 60 Acesso a propriedade intelectual Não incluído

Exemplo 61 Acesso a propriedade intelectual Não incluído


Seções 7.3.1 e
Exemplo 62 Acordos de recompra
7.3.2
Exemplo 63 Acordo de venda para entrega futura Seção 7.4

166 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 167
Anotações Anotações

168 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 169
170 Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas Uma análise detalhada da nova norma para reconhecimento de receitas 171
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