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Notas de Aula
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1.0 Introdução
A presença do lençol freático acima das cotas em que estruturas de fundações (de edifícios, de
pontes, de barragens, etc.) deverão ser construídas pode trazer sérios inconvenientes ao
andamento normal da obra. Por exemplo, a existência d´água na cava de uma fundação não só
dificulta sobremaneira a execução do serviço como pode alterar as condições de estabilidade
do maciço adjacente e do fundo da escavação, resultando em desmoronamento do talude.
Além disso, a ação da água exige que escoramentos mais resistentes sejam projetados para
as paredes das cavas, uma vez que maiores são os empuxos a serem contidos.
Para que a obra não sofra os efeitos instabilizadores da água, tornam-se necessários estudos
de drenagem e rebaixamento do lençol freático para cotas abaixo do fundo das escavações.
Os lençóis aqüíferos podem ser livres ou artesianos se a água encontra-se confinada entre
camadas impermeáveis ou semipermeáveis, conforme mostrado na Figura 3.1. O nível d´água
atingido em um poço artesiano define o nível piezométrico do aqüífero artesiano (efeito da
pressão a que a água está submetida), enquanto que em um poço de um aqüífero livre, a água
se eleva apenas até o nível freático. Dependendo da pressão artesiana a que a água está
submetida, através de um poço ela pode se elevar acima da superfície do terreno. Quando
isso acontece dá-se o nome de poço “surgente”.
Neste processo, o esgotamento da água do interior de uma escavação é feito por meio de
bombas centrífugas (ver Figura 3.2). A água é conduzida através de valetas para dentro de um
poço executado abaixo da escavação, e em seguida é recalcada para fora da zona de trabalho,
conforme mostrado no esquema da Figura 3.2 (à direita). Cabe ressaltar que este processo só
deve ser empregado em obras de pequeno porte, tendo em vista os seguintes motivos:
i) carreamento de partículas finas do solo pela água, podendo provocar recalques das
fundações vizinhas, conforme mostrado na Figura 3.3a;
ii) fluxo d´água para o interior da escavação através da base, podendo provocar o
fenômeno da areia movediça (afofamento do solo) e ruptura de fundo (Figura 3.3b).
ou
Figura 3.2 – Sistemas de rebaixamento de nível d´agua por bombeamento(Caputo, 1977).
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(a) (b)
3.3 – Efeitos do rebaixamento de nível d´agua por bombeamento: b) carreamento de finos; b)
afofamento do solo motivado por subpressão elevada (Caputo, 1977).
Neste caso, o rebaixamento é feito por meio de poços situados no aquífero (ver Figura 3.4).
Este sistema apresenta a vantagem de possibilitar o rebaixamento de toda a área de trabalho
de interesse, eliminando os inconvenientes existentes quando do uso do sistema de
bombeamento, apresentado no item anterior. A Figura 3.4a apresenta, em planta, um exemplo
típico de um sistema de rebaixamento com ponteiras filtrantes, enquanto na Figura 3.4b
mostra-se uma seção transversal.
(a) (b)
Figura 3.4 – Sistema de rebaixamento de nível d´agua com poços filtrantes: a) planta; b) seção
transversal típica (Caputo, 1977).
Neste processo, como é grande o número de ponteiras filtrantes distribuídas pela área, o
rebaixamento do nível d´água é conseguido de maneira rápida e uniforme. É possível com
esse sistema rebaixar até 9 metros de coluna d´água numa área. Todavia, para rebaixamentos
maiores de 7 metros, é recomendado que o sistema seja projetado em dois estágios, conforme
mostrado na Figura 3.5, não sendo recomendado um maior número de estágios.
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Figura 3.5 – Sistema de rebaixamento de nível d´agua com poços filtrantes em estágios (Caputo, 1977).
Com relação à natureza do terreno, o sistema de poços filtrantes é aplicável eficientemente aos
solos permeáveis, com coeficiente de permeabilidade de no mínimo 1 x 10-3 cm/s e diâmetro
efeito do solo (Φefet) acima de 0,1mm. Em solos argilosos, o processo poderá ser empregado,
desde que se envolva o tubo coletor com uma coluna de areia e pedregulho, formando assim
um dreno vertical.
Figura 3.6 – Forma cônica obtida com o sistema de rebaixamento com poços filtrantes (Caputo, 1977).
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Para o dimensionamento do rebaixamento, é preciso que se defina se este será em poço único
(por exemplo, Figura 3.6) ou se com um sistema de poços, conforme mostrado nas Figuras 3.4
e 3.5.
De acordo com os elementos mostrados na Figura 3.6, tem-se para a velocidade da água e
para a descarga do poço as seguintes equações 1 e 2:
dy
vx = k (1)
dx
dy
q = 2π .xy.k (2)
dx
Separando-se as variáveis na equação 2, vem:
q dx
ydy = (3)
2πk x
Integrando a e1uação 3 e simplificando os termos, tem-se:
q
y2 = ln x + C (4)
πk
onde C é a constante de integração, que pode ser determinada a partir da observação de que
para x =r (raio do poço), tem-se y = h, que é a altura do nível da água no poço. Dessa forma,
obtém-se:
q
C = h2 − ln r (5)
πk
Substituindo-se C pelo valor encontrado, tem-se:
q q
y2 = ln x + h 2 − ln r (6)
πk πk
q x
y2 − h2 = ln (7)
πk r
que é a equação meridiana do rebaixamento no caso de único poço.
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Da equação 8, obtém-se:
q R
h= H2 − ln (9)
πk r
De onde, o rebaixamento máximo será igual a:
q R
H −h = H − H 2 − ln (10)
πk r
Portanto, a descarga do poço, obtida da equação 8, será obtida da equação 11:
πk ( H 2 − h 2 )
q= (11)
R
ln
r
onde R é o raio de influência do poço, calculado pela fórmula de Sichard:
R = 3000 ( H − hw ) k (12)
Figura 3.7 – Rebaixamento com poço onde a ponta filtrante está acima da camada impermeável.
Portanto, para um determinado poço de raio “r”, há uma descarga e um valor de rebaixamento
máximo. A uma distância x qualquer do poço, o valor do rebaixamento será dado pela seguinte
equação:
q x
H − y = H − h2 − ln (13)
πk r
De um ponto de vista prático, quando se deseja rebaixar uma quantia (H – y), numa
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determinada área A (ver Figura 3.8), pode-se assimilar essa área à de um círculo de raio rm, ou
seja:
S
A = a ⋅ b = πrm2 ⇒ rm = (14)
π
O raio de influência do rebaixamento, R, que é a distância a partir do eixo do poço até onde se
admite que a influência do rebaixamento cessa, pode ser calculado a partir da fórmula de
Sichard, conforme mostrado na equação 12.
Q=
(
kπ H 2 − hw2 ) (15)
R
ln
rm
A máxima vazão individual de cada ponteira pode ser calculada pela regra de Sichard:
2πrhw k
qmáx = (16)
15
onde r é o raio da ponteira adotada, em metros.
1,25Q
n= (17)
qmáx
Nas Figuras 3.9 a 3.12 são mostradas fotos de sistemas de rebaixamento de nível d´água em
operação em uma obra na cidade de Aracaju. É importante, para melhor compreensão,
descrever os principais elementos que compõem um sistema de rebaixamento com ponteiras
filtrantes.
a) ponteira filtrante: tubo com ponta perfurada (drenante), responsável pela condução da
água do solo até os tubos coletores (ver Figuras 3.9; 3.10);
b) tubo coletor principal: responsável pela coleta da água advinda das ponteiras, através
dos coletores secundários, e pela descarga para local escolhido (ver Figuras 3.9; 3.10);
c) tubo coletor secundário ou giro: responsável pelo transporte da água desde as ponteiras
até o tubo coletor principal (ver Figuras 3.9; 3.10; 3.11 e 3.12);
d) central de sucção: bomba de sucção capaz de aplicar o vácuo necessário para recalcar
a água à superfície, através das ponteiras filtrantes.
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Figura 3.9 – Sistema rebaixamento com sistema de ponteiras filtrantes em operação.
Figura 3.10 – Detalhe do operário conectando uma ponteira filtrante ao coletor secundário.
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Figura 3.11 – Detalhes dos coletores do sistema de ponteiras filtrantes.
(a) (b)
Figura 3.12 – Central de sucção usada para o sistema de ponteiras filtrantes (a); detalhe da escavação
e do coletor principal alimentado pelos vários coletores secundários (b).
A recarga do aqüífero freático é uma técnica que pode ser usada para evitar que o
rebaixamento realizado em um terreno provoque danos em uma obra vizinha, principalmente
em razão dos recalques que podem acontecer pelo aumento das tensões efetivas (ver Figura
3.13).
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Figura 3.13 – Recarga de aqüífero.
A vazão a ser injetada por cada poço (Qi) para recarregar o aqüífero vizinho, poderá ser
estimada a partir da equação para a linha de poços com fonte linear, conforme segue:
Qw =
( )
kπ H 2 − h w2
(18)
2L 1 a
+ ln
a π 2πrw
Logo, a contribuição de cada poço será:
Qi =
( )
k H 2 − h w2 (L0 − L )
(19)
2
2 L0 L 1 a a1 a
+ (L0 + L ) ln + ln
a π 2πrw 2 π 2πrw
onde o valor de L0 correspondente à vazão sem recarga será adotado como da ordem do de R,
mostrado na equação 12. Isto é:
L0 = R = 3000 ( H − hc ) k (20)
A altura de água a ser aplicada em cada poço (hi), poderá ser estimada com base no caso de
vazão constante, ou seja:
2
hf h
Qi ln + 1 + f
2rw 2rw
hi > (21)
2πkh f
Qw
hf ≥ + ∆h (22)
V máx αβπ d p
Qw Qw2
∆h ≅ + (23)
n (CS 0 ) 2 2 g
h f k´ f
nd
onde,
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α = área perfurada tela que recobre, eventualmente, o tubo perfurado, por unidade de área das
mesma (≅ 50%);
β = área perfurada do tubo perfurado, por unidade de área do mesmo (≅ 10%);
Vmáx – velocidade de percolação no trecho filtrante do poço ≅ de 5 a 8 cm/s;
dw = diâmetro do poço; e
dp = diâmetro do tubo do poço.
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4.0 Exemplo de Aplicação
EXEMPLO 1:
Calcular um sistema de rebaixamento com
os dados abaixo:
S = 1000 m2 (25 m x 40 m)
H = 20 m
H – hw = 7 m (y = hw)
r = 0,02 m
k = 1 x 10-4 m/s
Solução:
a) Raio médio
1000
rm = = 17,8m
π
b) Raio de influência do rebaixamento
Q=
(
10 −4 π 20 2 − 132)= 0,004 m 3 s
210
ln
17,8
d) Para o cálculo das bombas, aconselha-se aumentar em 25% a vazão
Q = 0,004 ⋅1,25 = 0,005 m3 s = 18 m3 h
e) Descarga máxima de cada poço ou ponteira
2π ⋅ 0,02 ⋅1 ⋅ 10 −4
qmáx = = 0,000084 m 3 s
15
adotando-se hw = 1m.
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20) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
21) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.
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