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Microbiologia do ar

A flora microbiana do ar é transitória e variável. O ar não é um meio no qual possam


crescer microorganismo; ele é antes, um portador de matéria particulada, pó e gotículas, que
podem estar carregadas com micróbios. O número e tipos de germes contaminantes do ar são
determinados pelas fontes de contaminação existentes no ambiente; os organismos são, por
exemplo, disseminados pela tosse ou pelo espirro, a partir do tracto respiratório humano,
enquanto partículas de poeira circulam pelas correntes aéreas desde a superfície terrestre. Os
microorganismos veiculados pelo ar podem ser espalhados em partículas de pó, em grandes gotas
que permanecem pouco tempo em suspensão e em núcleos de gotas, que resultam da evaporação
de pequenas gotas líquidas (PELCZAR, 1997).
A origem dos microorganismos encontrados na atmosfera é a superfície da terra, solo e
água. Os ventos levam a poeira do solo e as partículas de pó carregam os microorganismos para
o ar. Além disso, gotas de água contendo microorganismos podem ser originadas da superfície
dos oceanos, baías e outras coleções naturais de água, e entram assim na atmosfera. Gotículas
que emergem da microcamada, que contém mais microorganismos do que as camadas mais
profundas, podem contribuir significativamente para a formação da população microbiana na
atmosfera acima da água, através da ruptura de bolhas de ar (PELCZAR, 1981).
Além desta origem global dos microorganismos na atmosfera, há vários processos
industriais, agrícolas e municipais que podem produzir aerossóis carregados de
microorganismos. Os organismos introduzidos no ar podem ser transportados ao longo de alguns
poucos centímetros ou algumas milhas; alguns morrem em questão de segundos; outros
sobrevivem por semanas, meses ou mais, dependendo do grau de suscetibilidade ou resistência
de uma espécie particular ao novo ambiente físico ou sua capacidade de formar esporos ou cistos
resistentes.

Microorganismos presentes no ar

Nas proximidades da superfície da terra, foram isolados do ar algas, protozoários,


leveduras, bolores e bactérias. Em estudo realizado numa área industrial durante um período de
vários meses, os resultados mostraram que, os esporos dos bolores constituem a maior parte dos
microorganismos, particularmente os esporos do gênero Cladosporium. Entre as bactérias estão
as esporuladas, não esporuladas, bacilos Gram-negativos, cocos Gram-positivos e bacilos Gram-
positivos.
As bactérias e os esporos de bolores foram encontrados em altitudes elevadas acima da
superfície da terra. A turbulência do ar dissemina os microorganismos, que são levados à grandes
distâncias pelas correntes de ar. Relativamente poucas pesquisas têm sido realizadas com os
microorganismos do ar, porém em outro estudo os pesquisadores determinaram a concentração
de microorganismos na mssa de ar entre Montreal (Canadá) e Londres (Inglaterra). Eles
obtiveram amostras a altitudes de 2.700 a 3.000 m acima do solo e do oceano. Os resultados
indicaram que bactérias e fungos viáveis estavam presentes nessas altitudes por toda extensão do
Atlântico Norte. As bactérias isoladas eram cocos Gram-positivos, bacilos Gram-negativos,
bacilos pleomórficos Gram-positivos e aeróbios esporulados. Os fungos foram identificados
como espécies dos gêneros Cladosporium, Alternaria, Pullularia, Penicillium, Botrytis e
Stemphylium. As espécies do gênero Cladosporium foram as mais abundantes, tanto acima do
solo como do mar (PELCZAR, 1997).

Doenças transmitidas pelo ar

Alguns microorganismos patogênicos podem ser transmitidos pelo ar através de


minúsculas gotículas ou partículas de poeira invisíveis a olho nu. Os micróbios carreados pelas
gotículas ou pelas partículas de poeira podem ser inalados por indivíduos saudáveis e causar
infecções. Alguns patógenos transmitidos pelo ar podem vir de outras pessoas que estão doentes
ou convalescendo da doença ou são portadores assintomáticos. Outros podem vir de fontes
ambientais como a água e o solo.
A probabilidade de os patógenos serem transmitidos por gotículas ou núcleo de gotículas é
muito maior quando as pessoas estão aglomeradas, porque isso aumenta o número de
microorganismos expelidos no ar, em um espaço confinado.
Estas infecções transmitidas pelo ar podem ser causadas por bactérias, vírus e fungos.
Alguns microorganismos que causam infecções são incapazes de sobreviver fora do corpo
por muito tempo. Por exemplo, o vírus do sarampo é rapidamente inativado fora do corpo. A
transmissão desses microorganismos depende da rápida transferência pelo ar das gotículas
maiores, de uma pessoa para a outra ou mesmo por transferência mais direta. Outros
microorganismos patogênicos, como a bactéria causadora da tuberculose, pode sobreviver, por
longos períodos, fora do corpo.
 Infecções transmitidas pelo ar causadas por Bactérias: muitas infecções transmitidas pelo
ar são causadas por bactérias patogênicas. As infecções causadas por Streptococcus pyogenes
são interessantes, não somente porque afetam milhões de pessoas em todo mundo a cada ano,
mas também por causa da variedade de doenças provocadas por este organismo e por causa
das condições intrigantes que podem seguir a infecção primária, tais como febre reumática e
glomerulonefrite aguda. A tuberculose é uma doença que exemplifica a importância
imunológica mediada por células. A doença dos Legionários é particularmente interessante
porque o agente etiológico origina-se do ambiente. Além dessas, outras doenças infecciosas
sérias transmitidas pelo ar são causadas por bactérias.
 Infecções transmitidas pelo ar causadas por Vírus: várias infecções transmitidas pelo ar
são causadas por vírus. Destas, o resfriado comum e a gripe são particularmente
interessantes, porque são amplamente difundidas, e muitos tipos antigênicos dos vírus
causadores estão envolvidos. O resfriado comum e a influenza são infecções do trato
respiratório. Entretanto, existem outras doenças virais transmitidas pelo ar que afetam outras
áreas do corpo além do sistema respiratório. Um dos triunfos da ciência médica é que uma
dessas doenças de maior mortalidade, a varíola, agora está completamente erradicada.
 Infecções transmitidas pelo ar causadas por fungos: várias infecções transmitidas pelo ar
são causadas por fungos encontrados no solo ou em vegetação morta. Os esporos ou
fragmentos de hifas podem ser inalados, ou podem entrar no corpo por meio de uma ferida ou
uma lesão na pele. Os organismos inalados normalmente causam infecções pulmonares, mas
ocasionalmente podem disseminar-se, espalhar-se pelo corpo e produzir infecção
generalizada ou sistêmica, que freqüentemente é fatal.
A imunidade mediada por célula é o mecanismo de defesa primário do corpo contra as
infecções por fungos, e as infecções disseminadas tendem a ocorrer em pacientes que têm um
nível diminuído deste tipo de imunidade.
O Quadro contém as principais doenças veiculadas pelo ar e os seus agentes
etiológicos, segundo CETESB, 1998.

Quadro 1: Principais doenças veiculadas pelo ar e seus agentes etiológicos

Nome da Doença Agente Causal Órgãos Atacados

Difteria Corynebacterium diphterae Garganta, traquéia e brônquios


Escarlatina Streptococcus pyogenes Garganta
Febre Reumática Estreptococos hemolíticos Coração e articulações
Tuberculose Mycobacterium tuberculosis Pulmões e outros tecidos
Pneumonia Streptococcus pneumoniae Pulmões
Mycoplasma pneumoniae
Legionella pneumophila
Meningite Neisseria meningitidis Cérebro e medula espinhal
Coqueluche Bordetella pertussis Aparelho respiratório
Varíola Poxvirus variolar Sangue, pêlo e outros tecidos
Varicela Vírus da varicela Pele
Sarampo Vírus do sarampo Generalizado
Rubéola Vírus da rubéola Generalizado
Caxumba Myxovirus parotidis Glândulas parótidas e salivares
Gripe epidêmica Myxovirus influenza Generalizado
Resfriado Rinovírus Generalizado
Poliomielite Poliovírus Medula espinhal
Infecções do trato respiratório Adenovírus (piscinas) Generalizado
Psitacose Chlamydia sp Pulmões
Micose sistêmica Fungos (Nocardia, Pulmões, intestinos e outros
Cryptococcus, Blastomyces e tecidos (pode entrar na
outros) e Actinomicetos corrente sanguínea)
Fonte: CETESB, 1996.
Modo de propagação dos patógenos transmitidos pelo ar

Um grande número de pesquisas tem sido realizado para compreender como os


microorganismos chegam ao ar e quais os fatores relacionados à sua sobrevivência e à sua
transmissão.
 Poeira infecciosa e aerossóis produzidos por fontes humanas: os microorganismos que
causam infecções respiratórias estão presentes em secreções nasais ou de garganta de
indivíduos infectados. Quando uma pessoa tosse ou espirra, o aerossol é expelido. As
gotículas maiores podem ser inaladas por pessoas próximas ou podem depositar-se sobre
superfícies, tais como roupas, assoalho e outros objetos inanimados onde evaporam e deixam
um resíduo. A movimentação destes resíduos, ao manusear o lenço seco, arrumar a cama ou
varrer o assoalho, pode produzir partículas de poeira que podem adicionar microorganismos
patogênicos ao ar circulante. A disseminação de infecções transmitidas pela poeira é
acentuada quando as pessoas se movimentam em áreas pouco ventiladas. Alguns
microorganismos patogênicos são capazes de sobreviver por períodos relativamente longos
na poeira. Isto pode criar um perigo significativo, particularmente em hospitais, onde podem
contribuir com as doenças nosocomiais. As gotículas menores também podem ser inaladas
diretamente, mas a água destas gotículas tende a evaporar-se rapidamente, deixando o núcleo
da gotícula (um resíduo de material sólido, incluindo os microorganismos). O núcleo da
gotícula que contém os microorganismos vivos pode permanecer suspenso no ar, e serve
como fonte contínua de infecção (PELCZAR, 1997).
 Poeira infecciosa e aerossóis produzidas por fontes ambientais: algumas infecções
humanas resultam da transmissão de microorganismos pelo ar, provenientes de fontes
ambientais. Alguns patógenos habitam o solo e não são transmitidos de pessoa a pessoa ; no
entanto, são transmitidos por inalação de poeira originada desse solo. Por exemplo, o fungo
que causa a histoplasmose geralmente é adquirido dessa maneira. Algumas epidemias da
doença dos Legionários têm sido atribuídas a aerossóis produzidos por águas contaminadas
de equipamentos de ar condicionado e do spray utilizado em mercearias para manter os
vegetais frescos. Aerossóis ambientais também podem explicar como o ser humano adquire
Mycobacterium intracellulare, que causa uma doença respiratória semelhante à tuberculose,
mas que não é transmitida de pessoa a pessoa (PELCZAR, 1997)

Doença dos Legionários

A doença dos Legionários foi descrita pela primeira vez em 1976, após a ocorrência da
doença em uma convenção da Legião Americana na Filadélfia. Foram afetadas 182 pessoas e,
dessas, 29 morreram. A causa da ocorrência, permaneceu um mistério, por meses. Apesar de
muitos esforços, o micróbio causador não foi visualizado ou isolado em amostras de tecido
pulmonar dos doentes. Mais tarde, os microbiologistas do CDC (Centers for Disease Control)
em Atlanta obtiveram colônias da bactéria em um meio de cultura especial. Com o isolamento do
organismo, tornou-se claro que a doença dos Legionários não era uma doença nova. Por
exemplo, em 1957, uma misteriosa ocorrência de pneumonia em Austin, Minnesota, afetou 78
pessoas e causou duas mortes. Estudos sorológicos retrospectivos indicaram que foi uma
ocorrência da doença dos Legionários (KONEMAN et al., 1999).
A doença dos Legionários ocorre tanto em forma epidêmica como esporádica. Embora as
epidemias tenham atraído mais atenção, os casos esporádicos, superam o número de casos
epidêmicos. Estima-se que 25.000 a 50.000 casos esporádicos podem ocorrer nos Estados Unidos
a cada ano. Surtos da doença dos Legionários têm sido relatados em pelo menos 15 outros países
(PELCZAR, 1997).
Em 1979, Brenner, Steigerwalt e McDade classificaram as bactérias responsáveis pela
epidemia da doença dos Legionários documentada na Filadelfia com o nome de Legionella
pneumophila, pertencente a família Legionellaceae. Atualmente, se conhecem 41 espécies de
Legionella isoladas de amostras clínicas humanas ou de fontes ambientais
As espécies de Legionella são bacilos Gram-negativos, estreitos, não formadores de
esporos. Variam entre formas curtas de 1,5 a 2,0 mícron de comprimento e filamentos maiores.
Os exames diretos de amostras clínicas, geralmente revelam formas curtas e delgadas ou
cocobacilos, porém as formas variam bastante em meios de cultura, onde se observam formas de
até 20 mícron de comprimento. Ultra-estruturalmente, estes microorganismos possuem
membranas internas e externas (típicas de bactérias Gram-negativas). Possuem pili (fímbrias) e a
maioria das espécies é móvel por meio de um único flagelo polar.
É até certo ponto irônico que as Legionellas sejam algumas vezes referidas como
“bactérias fastidiosas”, pois elas podem crescer muito bem em água parada e se multiplicar no
meio ambiente hostil das células fagocitárias. Elas são fastidiosas somente quando estudadas nos
meios de cultura comumente utilizados nos laboratórios. Seu fator de crescimento primário é
requerer L-cisteína. Ferro e outros componentes para seu ótimo crescimento. A energia é
derivada de aminoácidos ao invés de carboidratos (KONEMAN et al., 1999).

 Manifestações clínicas:

As manifestações clínicas das infecções causadas por Legionella são primariamente


respiratórias. Dois tipos muito diferentes de doença respiratória podem resultar da infecção. A
mais comum apresentação é a pneumonia aguda, a qual varia em severidade (de um simples
acometimento sequer requerendo hospitalização a uma pneumonia multilobar fatal).
Tipicamente, os pacientes apresentam febre alta e intermitente, acompanhada de tosse mas sem a
produção de muito escarro. Sintomas extrapulmonares, como dores de cabeça, confusão mental e
distúrbios gastrointestinais são comuns. A maioria dos pacientes responde prontamente à terapia
antimicrobiana apropriada mas o período de convalescência é freqüentemente longo (de algumas
semanas a meses).
A Segunda forma de doença respiratória é chamada de “Febre Pontiac”. Esta manifestação
pouco comum da infecção lembra uma gripe forte, incluindo febre, dores de cabeça, e severas
dores musculares. A doença é autolimitada.
A bacteremia ocorre durante a pneumonia por Legionella e a infecção sintomática fora dos
pulmões pode ocasionalmente se desenvolver. Sob condições especiais, a bactéria pode causar
doença extrapulmonar quando introduzida no hospedeiro por outras portas de entrada que não os
pulmões, como feridas cirúrgicas por exemplo (MENEZES e SILVA,1999).

Quadro 2: Manifestações clínicas em dois tipos de Legioneloses

Doença dos Legionários Febre Pontiac

Mortalidade 15-30% 0%
Período de incubação 2-10 dias 1-2 dias
Sintomas Febre, calafrios, tosse, mialgia, Similares aos de uma gripe:
cefaléia, dor torácica, febre, calafrios, mialgias (em
expectoração e diarréia (em alguns casos, dor torácica e
alguns casos, confusão e confusão).
alterações do estado psíquico).
Pulmões Pneumonia e derrame pleural (em Ausência de pneumonia e de
alguns casos, abcesso de abcesso pulmonar.
pulmão).
Rins Insuficiência renal (em alguns Ausência de manifestações
casos proteinúria e hematúria). renais.
Fígado Alterações moderadas da função Sem particularidades das provas
hepática. de função hepática.
Trato gastrointestinal Diarréia, dor abdominal, náuseas Sem particularidades.
e vômitos.
Sistema nervoso central Sonolência, delírios, Ausência de manifestações do
desorientação, confusão, sistema nervoso central.
raramente convulsões.
Fonte: koneman, et al: Diagnóstico Microbiológico, 1999.

 Patogênese:

A patogênese das infecções causadas por Legionella começa com um reservatório de água
contendo bactérias virulentas e com os meios de disseminação ao homem. A transmissão pessoa-
pessoa nunca foi descrita, além destes microorganismos não fazerem parte da flora humana
normal.
A infecção começa no trato respiratório inferior. Macrófagos alveolares, os quais são a
primeira defesa dos pulmões contra infecções bacterianas, “ingerem” as bactérias; entretanto,
Legionella é um parasita intracelular facultativo e multiplica-se livremente no interior dos
macrófagos. A bactéria liga-se aos macrófagos alveolares através de receptores específicos,
sendo primeiramente “aprisionada”dentro de um vacúolo. Mas, por um mecanismo ainda
desconhecido, a bactéria bloqueia a fusão dos lisossomas com o fagossoma, evitando a
acidificação normal dos fagolisossomas. O microorganismo se multiplica dentro dos fagossomas.
Portanto, um compartimento celular que deveria ser uma armadilha mortal torna-se inativo.
Posteriormente, as células são destruídas, lançando no meio externo uma nova geração de
bactérias capazes de infectar outras células do hospedeiro.
O crescimento bacteriano, a ativação do sistema complemento e/ou morte dos macrófagos
alveolares produzem poderosos fatores de quimiotaxia que recrutam uma enorme quantidade de
monócitos e leucócitos. Os capilares fragilizados permitem agora a deposição de fibrina no
interior dos alvéolos. O resultado é uma pneumonia destrutiva que oblitera os espaços por onde
passaria o ar, comprometendo a função respiratória do indivíduo. A disseminação da bactéria a
outros sítios fora dos pulmões ocorre via macrófagos, pelo menos parcialmente, mas só
raramente uma resposta inflamatória se desenvolverá.
Os sintomas das infecções causadas por Legionella resultam em uma combinação de
interferências físicas com a oxigenação do sangue e o lançamento de produtos tóxicos nos
tecidos pulmonares e corrente sangüínea . Fatores bacterianos de virulência incluem a produção
de uma protease que pode ser responsável pelo dano tecidual. Fatores celulares incluem
interleucina-1, a qual produz febre após sua liberação dos monócitos e fatores de necrose
tumorais, os quais podem ser responsáveis por alguns dos sintomas sistêmicos.
A virulência entretanto parece ser multifatorial. Uma proteína de membrana externa (que
funciona como uma metaloprotease) e uma proteína da membrana citoplasmática podem ser
responsáveis pelas “escapadas”das respostas imunes do hospedeiro, mas não são essenciais para
a expressão da virulência bacteriana (MENEZES e SILVA, 1999).

 Alguns aspectos epidemiológicos:

As Legioneloses têm sido documentadas em diversos países do mundo, porém as taxas de


morbidade e mortalidade associadas com casos epidêmicos e esporádicos de legioneloses são
subestimadas pelas estatísticas de saúde pública. A maioria dos países necessitam de um sistema
de vigilância para rastrear a enfermidade e, nos laboratórios clínicos e microbiológicos, muitas
vezes passa inadvertida devido à ausência de suspeita, e a semelhança de suas manifestações
clínicas com as de outras pneumonias bacterianas ou ainda pela falta de métodos adequados para
o diagnóstico laboratorial. Para estabelecer com precisão a incidência da enfermidade dos
Legionários e Febre Pontiac, são necessários programas de vigilância melhor planejados.
As espécies de Legionella se encontram presentes em diversos hábitat naturais e humanos.
Numerosos estudos têm se concentrado na ecologia das espécies de Legionella em hábitat
criados pelo homem, tais como torres de refrigeração e os sistemas de água potável no interior
dos edifícios. È provável que os hábitat criados pelo homem atuem como “amplificadores” ou
propagadores destes microorganismos e desempenham um papel importante na epidemiologia e
controle das Legioneloses.
A construção do sistema de encanamentos e a temperatura da água também desempenham
papel importante no desenvolvimento da Legionella ; por exemplo, a presença de certos tipos de
resinas nas juntas de borracha, a existência de extremos cegos, que propiciam o estancamento do
fluxo d’água e a presença de películas biológicas (biofilmes) que abrigam outras bactérias
comensais, protozoários e algas, podendo favorecer o desenvolvimento das Legionellas.
Rowbotham foi o primeiro a observar que as espécies de Legionella se multiplicam em
estreita associação com as amebas de vida livre dos gêneros Acanthamoeba e Naegleria
presentes na água e no solo. Outros autores têm confirmado e ampliado estas observações,
também com outras amebas tais como Hartmanella e Tetrahymenea. Assim as amebas e outros
microorganismos ciliados fagocitam as Legionellas e, estes microorganismos sobrevivem e se
multiplicam no interior de hábitat com deficiências nutricionais, parasitando estes protozoários.
Também tem-se sugerido que as amebas, que formam cistos, poderiam oferecer maior proteção
às Legionellas contra os efeitos do cloro (KONEMAN et al., 1999).
O protozoário Acanthamoeba sp é responsável também pela ceratite amebiana, infecção
ocular que apresenta como prognóstico a perda do globo ocular, e a população de mais alto risco
é o usuário de lentes de contato, sendo por este motivo de extrema importância em Saúde
Ocupacional , uma vez que a propagação desse protozoário se dá através dos dutos de ar
condicionado. Registros desta morbidade mostram que aumentaram de 2 em 1975 para 350 casos
em 1990, só na cidade de São Paulo (Meio Ambiente Industrial, jan/fev 1997).

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