Os trabalhos académicos têm uma natureza e um alcance
diferenciado. Em rigor, devemos sempre ter presente que tipo
de trabalho se espera que produzamos em determinado contexto académico. Elaborar uma ficha de leitura, um ensaio, uma monografia, uma dissertação ou uma tese são coisas muito diferentes. Estes três últimos tipos de trabalhos académicos, por exemplo, conduzem, respetivamente, à atribuição de um grau académico (licenciatura/graduação, mestrado e doutoramento), o que revela, desde logo, diferentes níveis de exigência. Ainda que todos os trabalhos académicos tenham uma natureza monográfica - o que significa que há que proceder a uma revisão bibliográfica ou revisão da literatura (de modo a realizar o estado das artes), no sentido de mostrar a capacidade de assimilação de conteúdos e de utilização eficiente de fichas de leitura - a dissertação exige algo mais que uma monografia de iniciação científica e a tese, obrigando a uma lógica dissertativa, exige algo mais que a dissertação. Uma dissertação, por exemplo, exige uma reflexão maior e um esforço de criatividade para correlacionar autores, ideias, factos e observações. Além de mostrar que se conhece a literatura relacionada com o tema que se aborda (exigência de uma monografia de iniciação), é também necessário mostrar que se domina o método de pesquisa e provar que se é capaz de fazer uma abordagem empírica. Por sua vez, a tese deve revelar a capacidade do seu autor em incrementar, em dar um contributo, para a área de estudo que foi alvo da sua pesquisa. Uma tese inclui, necessariamente, a revisão da literatura, a descrição e explicação da metodologia utilizada, obriga a um rigor na argumentação e na apresentação de provas, que devem estar devidamente fundadas em dados empíricos, exige profundidade de ideias e deve, uma vez concluída, contribuir para o avanço dos estudos na área científica em que foi realizada. Um fator que caracteriza a tese é a originalidade. Originalidade significa, pela própria etimologia, 'voltar às fontes'; ou seja, implica um retorno à origem, à essência, à verdade. Uma tese é uma ideia, uma resposta, para uma pergunta formulada a partir da leitura inicial das fontes bibliográficas. Essa resposta é sustentada em dados e, de algum modo, acrescenta algo às respostas que já existiam para abordar o problema Como se estrutura, então, um trabalho académico?
Os documentos académicos podem ser estruturados,
sequencialmente, em três grupos de elementos: a) elementos pré-textuais; b) texto e c) elementos pós-textuais.
Sem prejuízo das especificações e exigências que as
institituições académicas possam fazer em termos de produção de determinado tipo de relatórios (questão que terá sempre de ser verificada em cada contexto), do ponto de vista da apresentação estrutural e gráfica do trabalho, um trabalho científico contém as seguintes partes: a) Capa; b) Página de rosto; c) Índice; d) Resumo, em português, e em inglês se solicitado [estes são os elementos pré-textuais]; e) miolo do trabalho (Introdução, Desenvolvimento - com as secções que se entender criar - e Conclusão [são os elementos textuais] f) Referências bibliográficas g) Anexos e Apêndices h) Índice remissivo (é uma opção) e h) Contracapa [são os elementos prétextuais].
Os anexos só se acrescentam quando exigidos pela natureza
do trabalho, pois são compostos por documentos, que não são da autoria de quem fez o trabalho (se forem passam a ter a designação de apêndices), que não são de acesso aberto (fácil) e que servem de complemento ao trabalho, fundamentando sua pesquisa. Anexos para os quais não há remissão a partir dos elementos textuais são, em tese, desnecessários. Pode-se incluir como anexos: ilustrações, descrições, modelos de formulários, inquéritos, impressos, leis, decretos etc., devendo ser identificados através de letras maiúsculas consecutivas e seus respetivos títulos (Anexo A – Legislação / Apêndice A - Questionário) ou por numeração romana maiúscula (Anexo I – Legislação / Apêndice I - Questionário).
O índice esquematiza as principais divisões do trabalho:
partes, secções, capítulos, etc., exactamente como aparecem no corpo do trabalho, indicando, a página em que cada divisão se inicia. Trabalhar com índices automáticos é sempre mais seguro, reduzindo discrepâncias no trabalho. O índice, indica ainda o prefácio (se houver deve ser colocado antes da introdução), bibliografia e anexos. Vem logo depois da folha de rosto. Os anexos, como não são paginados (pois muitas vezes são cópias de documentos com a sua própria numeração) são apenas indicados no índice, mas não se indica a página, uma vez que ela não existe.
Depois do índice, aparece o miolo do trabalho (elementos
textuais): a introdução (que por norma é a página 1, sendo os elementos pré-textuais numerados em numeração romana minúscula), o desenvolvimento e a conclusão. As várias divisões dos elementos textuais são feitas em partes, sendo chamadas secções e capítulos, e estruturam-se, no corpo do trabalho, de acordo com as necessidades de raciocínio e de redacção.
Em relação às partes facultativas que constituem os trabalhos
científicos deve ter-se em conta o seguinte. A dedicatória (facultativa) é a folha onde o autor poderá fazer dedicatórias do seu trabalho a pessoas queridas. A apresentação é livre. Os Agradecimentos (facultativos) é uma parte do trabalho encabeçada pela palavra AGRADECIMENTOS, centralizada no papel, incluem agradecimentos à assistência relevante na realização e preparação do trabalho. A Epígrafe (facultativa) consiste em apresentar uma inscrição ou frase que serve de tema à abertura de uma obra ou a cada capítulo. Pode ser uma frase criada pelo próprio autor ou frases de outras pessoas, geralmente conhecidas, mas identificando sempre o autor da epígrafe. O Prefácio ou apresentação (facultativos) é normalmente elaborado por outra pessoa que não o autor, visando dar um esclarecimento, uma justificativa e/ou apresentação do autor e da obra. Em relação à Lista de ilustrações ela reúne ilustrações existentes no texto, na ordem em que aparecem, com indicação da página. É recomendado que se façam listas separadas para cada tipo particular de ilustração (quadros, tabelas, figuras. gráficos etc.), sendo a sua inclusão recomendável, no caso de haver mais de cinco elementos de cada um dos tipos no trabalho que se apresenta. A Lista de símbolos, abreviaturas e convenções reúne símbolos e convenções utilizadas no decorrer do texto, com as respetivas significações, sendo sua inclusão igualmente recomendável no caso de haver mais de cinco elementos referenciados no trabalho.
Ao numerar as partes textuais (designadamente ao dividir os
capítulos em secções), as normas recomendam o uso de numeração árabe (1, 2, 2 ...) e que as secções não tenham nunca mais de 5 divisões (por exemplo, o limite seria 1.1.1.1.1
Um ensaio, que corresponde a um exercício de escrita
solicitado aos estudantes quando cursam uma determinada disciplina, e que pode ser uma parte ou a totalidade do processo avaliativo dessa disciplina, é uma trabalho académico muito frequente. Embora em termos do seu contributo para o processo avaliativo dos estudantes e em em termos de objetivos didáticos a cumprir o ensaio possa ter fins diversos, a estrutura de um ensaio, independentemente do seu tamanho ou abrangência, tende a ser sempre a mesma. Delimitar o tema e fazer fichas de leitura são competências básicas para se fazer um ensaio. O objetivo primordial de um ensaio académico consiste em que o estudante que o elabora seja capaz de expor argumentativamente o seu ponto de vista sobre uma determinada questão, ou, não tendo à partida um ponto de vista, que seja capaz de adquirir, de forma crítica e atualizada, um ponto de vista sobre a questão que aborda. Ainda assim, há ensaios cuja natureza é mais analítica e problematizante, visando argumentar em torno de um determinado ponto de vista. E ensaios que são tendencialmente mais descritivos, centrando-se na explicação das fases que levaram a um determinado processo. Um ensaio centra-se num tema de pesquisa e num só tema. Esse tema pode ser livremente escolhido pelo estudante ou pode ser imposto pelo docente da disciplina. Para esse tema será necessário escolher um tópico, problemática ou ângulo de abordagem. Num ensaio não se pode nunca querer explorar o tema em toda a sua diversidade. O objetivo de um ensaio não é explicar o tema nem a sua relevância. É mais que isso. E é, sobretudo, algo antes e acima de isso. Um ensaio exige uma leitura crítica e problematizante (e não apenas uma leitura denotativa e uma leitura interpretativa) por parte de quem o elabora. Num ensaio espera-se que quem o elabora nos dê a sua opinião e nos diga como, e porquê, se coloca pessoalmente em relação às questões que o tema lhe suscita. Essas questões devem configurar uma pergunta clara e relevante, em relação à qual o ensaio trará uma resposta. Essa resposta ganha contornos de uma tese; ou seja, a resposta é a ideia que quem fez o ensaio defende como sendo a melhor para responder à pergunta. Para produzir um ensaio é necessário completar um ciclo de Pesquisa Documental, que permita perceber como é que outros autores olharam para os tópicos que o tema nos sucita. A isso chamamos "estado das artes" ou "revisão da literatura". As opiniões de outros autores servem para sustentar os argumentos e a posição de quem escreve o ensaio. Sendo, por isso, importante pesquisar e debater opiniões de outros autores que sejam contrárias ou que coloquem em causa as nossas opiniões e a nossa posição enquanto autores do ensaio. Pode acontecer que ao solicitar a elaboração de um ensaio, o docente da disciplina indique os textos que devem ser lidos. Se for o caso, essa será a primeira tarefa a levar a cabo. Pode acontecer que a realização de um ensaio esteja sobretudo dependente de uma pesquisa bibliográfica a realizar pelo autor do ensaio. Uma vez concluída a tarefa de leitura dos textos selecionados, o autor do ensaio deve ser capaz de formar uma opinião sobre os argumentos que leu relativamente ao tema e ao tópico do tema que quer explorar. A revisão da literatura serve para nos ajudar a sustentar o nosso argumento. Não deve ser descritiva. Nem deve pretender dar conta de tudo o que outros autores disseram anteriormente sobre o tema. É preciso saber escolher leituras e pontos de vista em função de uma problemática. Um problema muito comum na elaboração de ensaios traduz-se no facto de os estudantes se esconderem no ensaio enquanto autores. Ou seja, refugiam-se durante vários parágrafos a rever a literatura e só depois manifestam, quando manifetstam, os seus próprios argumentos em relação ao tópico abordado. A opinião do autor de um ensaio deve estar logo colocada na introdução. É verdade que quanto menos experiência se tem na elaboração de ensaios, mais fácil é partir do geral para o particular. Mas o desafio de um bom ensaio é fazer sobressair a dimensão autoral de quem o escreve. Ou seja, relevar um ponto de vista particular, fundamentado e devidamente enquadrado e discutido com aquilo que é geral relativamente ao tema. Kathy Livingston apresenta uma sequência simples para a elaboração de um ensaio. Em primeiro lugar deve escolher-se o tópico; isto se o mesmo já não tiver sido escolhido pelo docente. Se a escolha do tópico for livre, é obrigatório refletir- se bem sobre o objetivo do ensaio (o que normalmente está definido quando se realiza um ensaio académico). Em todo o caso, há que avaliar bem as vantagens e desvantagens em explorar um ou outro tópico do tema. Sugerimos técnicas, Utensílios e Meios para realizar essa tarefa. A questão relevante nesta fase é delimitar o tema o mais possível, selecionando um tópico instigante. O segundo passo consiste em organizar as ideias em torno de um mapa mental ou de um esquema do ensaio. Ou seja, as ideias devem ser organizadas e relacionadas umas com as outras. Essa organização deve dar lugar a um índice provisório. Um terceiro passo consiste na elaboração da ideia principal. É essa ideia que permire dar conta sobre o que é o ensaio e qual o ponto de vista do autor (ver diapositivos 10 e 11 do documento de apoio). A explanação da ideia principal pode ter duas partes. Uma primeira parte que contextualiza o tópico e que permite formular uma questão. Uma segunda parte que explora o ponto de vista desenvolvido no ensaio. Elencando e enunciando as ideias identificadas e descrevendo as questões secundárias relacionadas com o tópico. Posto isto, um quarto passo consiste em desenvolver o corpo do ensaio. Cada uma das ideias deve dar lugar a uma secção do corpo do ensaio. Cada uma das ideias deve explicitar os argumentos que a sustentam, recorrendo a exemplos quando os mesmos forem tidos por convenientes e desde que sejam elucidativos. Um quinto passo resulta na redação da introdução do ensaio, devendo a mesma servir para atrair o interesse do leitor e para tornar claro qual o foco do ensaio. A pergunta de partida ou a ideia principal são componentes relevantes para que a introdução possa cumprir essas suas funções. Um penúltimo passo leva à escrita da conclusão. E, por fim, deve ser feita uma revisão geral. Esta deve permitir confirmar a consistência argumentativa do texto, confirmar as exigências formais e a qualidade da escrita.