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Salvador
2012
i
Salvador
2012
ii
CDD - 419
CDU - 81’221.24
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço, ubiquamente, a DEUS, o Autor da Vida, que tem me norteado em todas as etapas da
minha vida. A Ele tão-somente seja dada toda honra e toda glória para todo sempre.
Agradeço, profundamente, à minha orientadora, PROFA. DRA. ELIZABETH REIS TEIXEIRA, que
com suas experiências, parcimônia e presença me auxiliou no sentido da materialização desta
Dissertação e, consequentemente, legou-me os princípios das teorias fonológicas que
contribuíram, de maneira significativa, para a conclusão deste trabalho.
Agradeço, intimamente, à minha eterna amada, SHEILA BATISTA MAIA SANTOS, que, depois
de Jesus Cristo, tem sido a minha redentora, instruindo-me a não desistir facilmente e
acreditar que a vida continua após os “tsunamis” momentâneos.
Agradeço, especialmente, aos MEUS FAMILIARES E DEMAIS IRMÃOS EM CRISTO JESUS, que tem
me auxiliado a entender que as vicissitudes da vida funcionam como um estopim para o
crescimento pessoal, espiritual e profissional.
Agradeço, densamente, a minha ilustre mestra, PROFA. DRA. DESIRÉE DE VIT BEGROW, por
ter me legado os princípios da terapêutica fonoaudiológica numa vertente bilíngue. Agradeço-
a, ainda, por ter sido o modelo de uma prática fonoaudiológica reflexiva.
Agradeço, principalmente, a todos os AMIGOS SURDOS, que foram os autênticos mestres para o
aprendizado da Língua Brasileira de Sinais, bem como para o entendimento do que está
subjacente à cultura Surda e à Língua de Sinais. Que essa Dissertação possa fazer com que
todos compreendam que a Língua de Sinais deve ser reconhecida, além do ponto de vista
legal, como uma língua verdadeiramente rica, que representa o meio pelo qual os Surdos
podem manifestar o seu pensamento e a sua forma de depreender a realidade.
Aos COLEGAS DO CESS (Centro Educacional Sons no Silêncio), agradeço por terem me
ajudado a compreender que a teoria e a prática podem ser interdependentes. Afinal, devemos
ter em vista que o nosso maior desafio sempre será praticar a teoria e teorizar a prática, a fim
de se buscar, constantemente, um ponto de equilíbrio entre ambas.
Aos DEMAIS AMIGOS que, além de me auxiliarem na coleta de dados dessa pesquisa, sempre
me deram a força necessária para continuar, apesar das dificuldades e obstáculos.
OBRIGADO A TODOS!
Obrigado a todos!
Obrigado a todos!
vi
RESUMO
ABSTRACT
This work aims at proposing an instrument for the assessment of Brazilian Sign Language
(Libras) phonology. The theoretical approach concerning “A prosodic model of sign language
phonology” (BRENTARI, 1998) was adopted, although some models of phonological
analysis applied to sign languages were briefly presented. Based on a qualitative approach, we
sought through case studies the scrutiny of prevalent phonological processes in deaf children
who are undergoing the process of acquiring in Libras as first language. Four (4) deaf
individuals, children of hearing parents, ages from six (6) to 12 (twelve) years old, and
residents in the metropolitan region of Salvador/Bahia participated in the study. The
instrument developed, called "Proposal of Phonological Assessment of Brazilian Sign
Language – FONOLIBRAS" contains 50 (fifty) stimulus pictures, distributed in the following
categories: (1) animals, (2) toys, (3) colors, (4) elements of nature, (5) fruits, (6) familiar
objects, (7) body parts, (8) people, (9) verbs (action), and (10) clothing. SignWriting (SW)
was used as a methodology for data transcription. The FONOLIBRAS scores data elicited
taking into account the following: 0 – no signal elicited or “homemade” signals, 1 – sign
elicited was different from the expected, but the output belongs to the same semantic field of
the displayed image; 2 – sign was elicited as expected, with or without simplifying
phonological process(es). Phonological processes observed in Libras were: assimilation,
elision, epenthesis and metathesis. Finally, it was noted that some challenges persevere in the
field of sign language phonology: an articulatory inventory for all the possibilities concerning
the handshape parameter is needed, in order to create a "phonetic" alphabet for sign
languages, and, therefore, to make possible establishing a convention for the phonological
transcription of sign languages. Nonetheless, the challenge of ascertaining and discriminating
phonological processes in terms of normality and atypicality still remains
LISTA DE FIGURAS
SUMÁRIO
PREÂMBULO 14
REFERÊNCIAS 177
PREÂMBULO
1
Texto de partida: “If linguistics is a young (and, some would say, immature) discipline, then sign linguistics
has just been born.”
2
A língua brasileira de sinais ou língua de sinais brasileira pode ser denominada Libras ou LSB,
respectivamente. Nessa dissertação, optaremos pelo uso da sigla Libras, exceto quando fizermos citação direta
de outras obras, nas quais tenha sido utilizada a sigla LSB. Há ainda uma outra denominação: LSCB (Língua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros) (cf. BRITO, 1995). Esse último termo foi utilizado por essa
pesquisadora, a fim de que houvesse a distinção em relação à língua de sinais utilizada pelos índios Urubu-
Kaapor.
15
A sanção da lei supramencionada não foi capaz de dar conta das principais
problemáticas vivenciadas pelas pessoas surdas,3 principalmente no tocante à eliminação das
barreiras comunicativas e à garantia da acessibilidade aos serviços públicos/privados de
educação e saúde. Com a “pressão” das comunidades surdas brasileiras, bem como das
instituições que visam a garantia dos direitos dos surdos, em 25 de dezembro de 2005, houve
a regulamentação da Lei nº 10.436/2002 por intermédio do Decreto nº 5.626. A partir daí,
alguns avanços significativos têm ocorrido: admissão do tradutor-intérprete para atuação nas
salas de aulas e em algumas instituições públicas; inserção da disciplina Libras como
componente curricular nos cursos de licenciatura, pedagogia e fonoaudiologia (nas
instituições de ensino superior públicas e privadas); oferta de cursos básicos, intermediários e
avançados de Libras; dentre outros.
Mais recentemente, houve a publicação da Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010,
que regulamenta a profissão de tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais. Visto que
a Libras já é reconhecida legalmente e a profissão do tradutor-intérprete já foi regulamentada,
é mister que os departamentos de letras das Instituições de Ensino Superior comecem a pensar
na implantação do curso de graduação em Letras-Libras. Dessa forma, os futuros professores
e/ou tradutores-intérpretes de Libras teriam a oportunidade de obter a formação mínima
necessária, a fim de que pudessem atuar profissionalmente e de maneira adequada.
Todavia, a reflexão exaustiva a respeito da educação de surdos no nosso país ainda
não conseguiu entrever as reais necessidades educacionais desse público. Além disso, os
Surdos não têm sido convocados, na maioria das vezes, aos espaços de discussão das políticas
públicas de acesso e de inclusão. O ponto mais emblemático disso tudo é que se tem
suprimido as questões mais relevantes – importância da língua de sinais e barreira
comunicativa/linguística – do bojo dessas discussões. É nessa perspectiva que se necessitaria
considerar que
[...] a adoção da língua de sinais na educação de surdos deve ser
acompanhada de uma mudança na concepção de sujeito e língua. O surdo
deve ser representado como alguém que tem as mesmas possibilidades
3
Sempre utilizaremos os termos “surdo(s)” ou “pessoa(s) surda(s)” para nos referirmos àqueles sujeitos que, por
questões identitárias e culturais, se comunicam por meio de uma língua de sinais. O termo “deficiente auditivo”
não nos é bem-vindo, uma vez que coloca em evidência o déficit ou converte o sujeito num ser patológico.
“Como a comunidade surda brasileira tem manifestado, em vários eventos científicos, seu repúdio ao termo
“deficiente auditivo”, pela conotação de “incapacidade” que o mesmo embute, resolveu-se, em respeito a eles,
utilizar-se o termo surdo ao nos referirmos aos sujeitos que são portadores de uma perda de audição” (CÁRNIO;
COUTO; LICHTIG, 2000, p. 45).
16
suas estruturas porque elas também são compostas pelos níveis [...]
[fonológico, morfológico, sintático, semântico-pragmático e discursivo]
(FELIPE; MONTEIRO, 2008, p. 21).
Quanto ao termo “surdo-mudo”, é bem provável que essa tenha sido a mais antiga
denominação atribuída ao sujeito surdo, já que se tinha a ideia que o surdo por não poder falar
era, consequentemente, mudo. Mas, ele é inadequado, tendo-se em vista que o fato de uma
pessoa ser surda (possuir impedimento auditivo de grau severo a profundo) não determinará
que esta mesma seja muda. Em geral, o mutismo é decorrente ou de transtornos do sistema
nervoso central que afetam a capacidade de falar ou de distúrbios psicológicos, não estando,
por conseguinte, cabalmente relacionado à surdez. Nos séculos passados, era comum o uso
desse termo mesmo nas publicações didáticas e/ou acadêmicas, conforme pode-se
testemunhar em Gama (1875) 5 e em Ramos (1906). Até em obra de um grande filósofo
(FOUCAULT, 1978), encontra-se a utilização do termo “surdo-mudo” (sourd-muet), embora
o seu objetivo não tenha sido reflexionar acerca do sujeito que está privado do sentido da
audição. Atualmente, ainda é comum se observar a utilização, ainda que seja inadequada, dos
termos “surdo-mudo” e “linguagem de sinais” na literatura de uma forma geral e sobretudo
nos meios de comunicação (televisão, rádio, jornais, dentre outros). Logo, percebe-se que o
4
Texto de partida: “Language, however, is not limited to the vocal tract and ears. There also exist systems of
symbolic communication, passed down from one generation of deaf people to the next, that have become forged
into autonomous languages not derived from spoken languages. These visual-gestural languages of the deaf, with
deep roots in the visual modality, provide a testing ground for competing explanations of how the brain is
organized for language , how the brain came to be so organized , and how modifiable that organization is.”
5
É relevante registrar que Flausino Gama, ex-aluno do Instituto de Surdos (atual INES), publicou a primeira
obra sobre a Língua Brasileira de Sinais (cf. GAMA, 1975). Nessa obra, ele elencou os sinais utilizados pelos
surdos daquela época. Não podemos afirmar convictamente o porquê da escolha pelo termo ‘surdo-mudo’. É
bem provavel que, naquele tempo, não houvesse a discussão/reflexão sobre as implicações do uso de um ou
outro termo para a área da Surdez.
18
termo tradicionalmente utilizado prevalece ao que seria mais adequado, embora os estudos
atuais advoguem o seu extermínio.
Ora, pensar que a forma de comunicação dos surdos seria simplesmente uma forma de
“linguagem” recairia num dos mitos mais emblemáticos, já que reduziria a língua de sinais a
uma forma de linguagem rudimentar à semelhança da “linguagem” animal. 6 Tem-se
verificado que as línguas de sinais são compostas de unidades mínimas distintivas que se
combinam para formar os itens lexicais, os quais, por seu turno, se justapõem para estabelecer
as sentenças e os enunciados. Já o modo de se comunicar presente em algumas espécies
animais não poderia ser considerado uma linguagem (pensando-se na perspectiva da
linguagem humana), mas um código de sinais. As características desse código embutem:
fixidez de conteúdo; mensagem invariável; referência a uma única situação; o enunciado não
se deixa analisar (natureza indecomponível); e a transmissão é unilateral (não há interação
dialógica) (FROMKIN e RODMAN, 1993; BENVENISTE, 1995). As línguas de sinais, por
sua vez, não comungam destas características citadas em relação à suposta “linguagem”
animal.
Além do mito anteriormente exposto, valem-se destacar alguns outros: a língua de
sinais seria um conjunto de gestos icônicos que somente é capaz de ilustrar elementos
concretos; a língua de sinais seria uma representação da oralidade, i.e., os signos visuais são
ancorados nos itens lexicais das línguas orais; a língua de sinais não possuiria gramática; e,
a língua de sinais não seria capaz de enunciar pensamentos abstratos. Como não é o objetivo
aqui esgotar a temática sobre os mitos, é relevante consultar os que foram expostos e outros
que já foram relatados e contra-argumentados (cf. QUADROS e KARNOPP, 2004; GESSER,
2009). No que tange ao aspecto da veiculação de elementos abstratos, Ferreira-Brito (1993, p.
77) afirma que “as Línguas de Sinais não são menos abstratas que as orais. Tudo pode ser
feito através dela: poesia, transmissão de sentimentos, reflexões filosóficas, linguísticas,
lógicas. Enfim, são línguas completas e complexas como as orais.”
“Provavelmente nenhum tópico em linguística tenha sido submetido a tantas
concepções equivocadas como a língua de sinais” (CRYSTAL, 2006, p. 159, tradução
nossa).7 Os linguistas que têm se interessado pelas pesquisas das línguas de sinais têm
6
A “linguagem” animal aqui denominada refere-se à mesma concepção teórica previamente postulada por
BENVENISTE (1995).
7
Texto de partida: “Probably no topic in linguistics has been subjected to so many misconceptions as sign
language.”
19
8
Texto de partida: “Contrary to popular misconceptions, sign languages are not pantomimes and gestures,
inventions of educatiors, or ciphers of the spoken language of the surrounding community. They are found
wherever there is a community of deaf people, and each one is a distinct, full language, using the same kinds of
grammatical machinery found worldwide in spoken languages.”
20
Parece que Saussure, ao delimitar as diferenças entre língua e linguagem, tinha como
parâmetro de análise as línguas orais (aqui denominadas de orais-auditivas). Apesar disso, à
luz das investigações das línguas de sinais, as generalizações linguísticas patenteadas pelos
estudos clássicos poderão ora ser corroborados ora ser refutadas, retificadas ou repensadas.
Quanto à dicotomia língua/linguagem, conforme exorada por Ferdinand de Saussure,
deve-se notar que não haverá quaisquer complicações na utilização desses termos para as
línguas sinalizadas se pensarmos que: a observância do funcionamento das línguas de sinais
têm demonstrado que a faculdade da linguagem está presente nos indivíduos surdos,
independentemente do déficit na acuidade auditiva; a maioria dos sinais que são utilizados por
esses indivíduos são convencionados ou arbitrários; e, enfim, todas as estruturas das línguas
de sinais podem ser seccionadas para fins de análise linguística.
Em relação à questão da arbitrariedade do signo linguístico, defendida, outrossim, por
Sausurre, há de se entender que não existe uma relação natural (motivada) entre o significante
(imagem acústica) e o significado (sentido). Os signos linguísticos, por conseguinte, são
constituídos ou convencionados culturalmente no âmbito de uma determinada comunidade
linguística. Para exemplificar a concepção de arbitrariedade, Costa (2009) expõe que
A arbitrariedade do signo linguístico pode ser bem mais compreendida
quando observamos a diversidade das línguas. Cada língua apresenta um
modo particular de expressar conceitos: ninguém discute, por exemplo, se
“livro” ou book se aproximam mais, ou menos, do conceito apresentado
anteriormente. [...] Saussure observa ainda que o princípio da arbitrariedade
do signo linguístico não implica a compreensão de que o significado
dependa da livre escolha do falante. A língua [...] é social, não estando ao
alcance do indivíduo nela promover mudanças (COSTA, 2009, p. 120).
Conforme foi citado no início desse introito, um dos primeiros linguistas a investigar
uma língua de sinais foi o norte-americano William Stokoe.9 Ele descreveu e analisou a
Língua Americana de Sinais (ASL – American Sign Language), observando que a ASL deveria
ser considerada uma língua natural por ser adquirida naturalmente por crianças surdas filhas
de pais surdos. Ademais, ele considerou que essa língua, apesar da modalidade viso-gestual,
possui a mesma complexidade das línguas orais-auditivas, bem como gramática e sintaxe
autônomas. Em relação à modalidade viso-gestual, é pertinente expor que: “as línguas de
sinais são denominadas gestual-visual (ou espaço-visual), pois a informação lingüística é
recebida pelos olhos e produzida pelas mãos” (Fig. 2) (KARNOPP, 1999, p. 30).
As investigações acerca das semelhanças e das diferenças entre as língua de sinais e as
línguas orais emergiram a partir da década de 90. Com isso, objetivou-se revisar ou
enriquecer as teorias linguísticas, a fim de que os universais linguísticos até o momento
instituídos fossem ratificados ou retificados. As semelhanças identificadas têm servido para
atestar o estatuto linguístico das línguas de sinais, ao passo que as diferenças têm fomentado o
repensar dos universais linguísticos ora estabelecidos.
Pesquisas realizadas por diferentes estudiosos no campo da linguística e/ou linguística
aplicada têm evidenciado que a Língua Brasileira de Sinais é a língua natural10 dos sujeitos
surdos, porquanto esta língua pode ser adquirida naturalmente por uma criança que esteja
imersa num ambiente onde os sujeitos se comuniquem por essa modalidade11 de linguagem
(FERNANDES, 1990; FERREIRA-BRITO, 1995; QUADROS, 1997; KARNOPP, 1999;
QUADROS e KARNOPP, 2004; GESSER, 2009).
9
William Stokoe, em 1960, escreveu a obra Sign language structure (estrutura da língua de sinais). Em 1978,
publicou-se a segunda edição dessa obra, na qual foram revistos alguns conceitos e termos, conforme será visto
em capítulo ulterior.
10
A fim de se esclarecer o conceito de língua natural que iremos utilizar, considere-se que: a língua natural “é
toda aquela que é adquirida naturalmente, sem necessidade de instrução ou intervenção formal e sistemática,
mas através apenas da exposição do indivíduo a um meio linguístico específico (ou mais de um, no caso das
situações de bilinguismo)” (TEIXEIRA, 1995, p. 1, grifos do autor).
11
Apesar de ter explicado de maneira sucinta anterioremente, é preciso esclarecer que, classicamente, as
modalidades de linguagem têm sido classificadas em: modalidade oral e modalidade escrita. A partir do instante
em que as línguas de sinais entraram na arena das investigações linguísticas, constatou-se a importância de se
delimitar uma outra modalidade de linguagem: a modalidade viso-gestual (ou visual-gestual ou espaço-visual).
No Brasil a comunicação oral-auditiva é realizada predominantemente em Língua
Portuguesa e a comunicação espaço-visual em Língua de Sinais, no caso, a Língua de Sinais
Brasileira, Libras. Comparativamente o esquema abaixo mostra um exemplo das principais 22
diferenças entre as Línguas Orais e as Línguas de Sinais no processo de comunicação:
PESSOAS
COMUNICAÇÃO ORAL-AUDITIVA
OUVINTES
Canal de comunicação
EMISSOR RECEPTOR
(OUVINTE) (OUVINTE)
Canal de comunicação
EMISSOR RECEPTOR
(SURDO) (SURDO)
No que concerne aos aspectos lexicais e gramaticais, sabe-se que as línguas de sinais
são dotadas de estruturas autônomas; isto quer dizer que a estrutura sentencial ou discursiva
das mesmas não se ancora nas das línguas orais (QUADROS e KARNOPP, 2004; GESSER,
2009). Além disso, os aspectos formais encontrados nas diversas línguas que já foram
analisadas pelos linguistas são também achados nas línguas de sinais. Nota-se que essas
línguas viso-gestuais também possuem a estrutura básica dos sistemas linguísticos: a presença
de sujeito, verbo e objeto na estrutura frasal. Analiticamente, tem-se percebido que os
sintagmas (nominais, verbais, adjetivais, dentre outros) também estão presentes na disposição
sentencial das línguas de sinais. É relevante lembrar ainda que a sintaxe das línguas de sinais
é espacial (QUADROS; KARNOPP, 2004), e, por essa razão, os itens lexicais, seus
respectivos referentes e a organização frasal “obedecem” à lógica espacial de colocação.
Partindo-se do pressuposto de que língua e cultura, em algum grau, são entidades
indissociáveis (SAPIR, 1921; MANDELBAUM, 1949), deve-se presumir que os sujeitos
surdos possuam alguns aspectos culturais distintos daqueles vistos nas pessoas ouvintes. De
acordo com Lyons (1981), cultura deve ser compreendida em termos antropológicos, “sem
nenhum julgamento de valor a priori quanto à qualidade estética ou intelectual da arte,
literatura, das instituições etc. de determinada sociedade” (LYONS, 1981, p. 224). Pensando-
se nessa acepção de cultura, pode-se então intuir a existência da cultura surda no sentido em
que Strobel (2008) assevera:
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo
a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas
percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas
e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua,
as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo (STROBEL,
2008, p. 24).
As identidades surdas, por seu turno, são instituídas dentro das representações
possíveis da cultura surda. Essas identidades são modeladas de acordo com o maior ou menor
receptividade cultural assumida pelo sujeito. E, ainda na esfera da receptividade cultural,
emerge-se a luta política ou consciência oposicional, na qual o sujeito surdo representa a si
mesmo, se defende da homogeneização, da sensação de invalidez, de inclusão entre os
deficientes, de menos valia social (PERLIN, 2004).
As pessoas surdas gostariam de ser “escutadas” e, para que isso fosse possível, aos
ouvintes caberia refletir nisto: “Contrário ao modo como a maioria das pessoas define a
24
surdez [...] pessoas surdas definem-se em termos culturais e linguísticos” (WRIGLEY, 1996,
p. 13, tradução nossa). 12
Ao considerarmos 13 que os surdos possuem de fato uma cultura, não estamos
querendo dizer que todos os surdos do mundo compartilham a mesma cultura em detrimento
da perda auditiva. Devemos entender que “os surdos brasileiros são membros da cultura surda
brasileira da mesma forma que os surdos americanos são membros da cultura surda norte-
americana” (KARNOPP, 2006, p. 99). Já que esses grupos utilizam-se de diferentes línguas
de sinais, obviamente irão compartilhar entre si experiências díspares, bem como experiências
de vida distintas. Quiçá o único aspecto cultural que una todos os surdos independentemente
de sua localização geográfica seja o artefato da experiência visual. Todavia, apesar de estarem
“unidos” por esse artefato, a sua visão de realidade será moldada pelo contexto sócio-
histórico-cultural do local onde este sujeito encontre-se imerso.
Ainda concernente às questões língua de sinais, cultura e identidade surdas, é
pertinente pontuar que:
Os surdos formam uma comunidade lingüística minoritária caracterizada por
compartilhar uma língua de sinais e valores culturais, hábitos e modos de
socialização próprios. A língua de sinais constitui o elemento identitário dos
surdos, é o fato de constituir-se em comunidade significa que compartilham
e conhecem os usos e normas de uso da mesma língua já que interagem
cotidianamente em um processo comunicativo eficaz e eficiente. Isto é,
desenvolveram as competências lingüística e comunicativa – e cognitiva por
meio do uso da língua de sinais própria de cada comunidade de surdos
(SKLIAR, 1997, p. 102).
No que tange aos aspectos variacionais, é sabido que, da mesma forma que as línguas
orais-auditivas, as línguas de sinais possuem variações de ordem lexical (fonológica ou
morfológica), semântico-pragmática, dialética, social, dentre outras. No que se refere às
variações diacrônicas, Souza e Segala (2009, p. 45) afirmam que “as Línguas de Sinais estão
sujeitas às variações diacrônicas no sentido de que evoluem ao longo do tempo em suas
funções sociais e em suas relações com determinada comunidade linguística.” Nessa
Dissertação, frisar-se-á, em momento oportuno, as variantes de natureza fonológica,
12
Texto de partida: “Contrary to how the average individual defines deafness – that is, as an audiological
impairment – deaf people define themselves culturally and linguistically.”
13
Aqui não falo apenas por mim e pela minha orientadora, mas tornamos o nosso discurso polifônico ao
pensarmos em: Skliar (1997, 1998, 1999), Perlin (2004, 2005), Kelman (2005), Sá (2006), Strobel (2008),
Gesser (2009), Sacks (2010). Utilizamos a expressão “cultura surda” num sentido genérico, mas acreditamos,
outrossim, numa visão pós-estruturalista, que os surdos são dotados de múltiplas culturas, as quais são moldadas
pelos fatores sociais, políticos, econômicos, históricos, dentre outros.
25
AMAR
CAFÉ
COPO
DIA
DIZER
GORD@
INTELIGENTE
IR
Figura 17 – Sinal IR.
Fonte: GAMA, 1975, p. 26. Figura 18 – Sinal IR.
Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 768.
LEITE
MAGR@
OBEDIENTE
Figura 24 – Sinal OBEDIENTE.
Figura 23 – Sinal OBEDIENTE. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 965.
Fonte: GAMA, 1975, p. 20.
PROFESSOR
De fato, as crianças surdas filhas de pais ouvintes obtêm um retardamento (ou atraso)
na aquisição da língua de sinais (KARNOPP, 1999; QUADROS, 1997). Nesse caso, haverá
uma discrepância na utilização do código linguístico: enquanto os pais e/ou irmãos tendem a
compartilhar a linguagem na modalidade oral-auditiva, o filho surdo tende a não adquirir essa
modalidade linguística em detrimento do déficit auditivo. Esse déficit, entretanto, não
necessariamente causará transtornos cognitivos aos sujeitos surdos, mas poderá afetar a
aquisição da linguagem à medida em que eles não sejam expostos a uma língua viso-gestual:
a língua de sinais (GESSER, 2009). Para a criança surda, a tentativa de se “adquirir”, ou
melhor, aprender uma linguagem oral estaria num nível complexo,14 porquanto se estaria
14
Para se entender melhor essa complexidade, é necessário considerar que: “Qualquer língua oral pode ser
ensinada às crianças surdas através de procedimentos formais, não espontâneos, o que pode ser de grande valia
para elas. Porém é importante que isso seja reconhecido como um aprendizado, e não uma aquisição”
(OLIVEIRA, 1999, p. 80).
28
prosódicas, que são relevantes para a análise fonológica dos sinais, esse capítulo apresentará
os conceitos de traços inerentes (TI) e traços prosódicos (TP), unidades de tempo (UT),
sonoridade, complexidade, peso, e a particularidade dos sinais articulados com 2 mãos.
No terceiro capítulo, será exposta a metodologia utilizada para a pesquisa que será
apresentada. Nesse aspecto, serão pontuados o delineamento do estudo, os sujeitos
participantes e a delimitação do corpus, os procedimentos de coleta, transcrição dos dados, e
análise dos dados e, por fim, as limitações metodológicas encontradas no decorrer da
condução da pesquisa.
No quarto capítulo, será exposto o instrumental preparado para a avaliação fonológica
da Libras – FONOLIBRAS, bem como os critérios que foram adotados para a sua elaboração.
Aproveitar-se-á a ocasião para apresentar os processos fonológicos com base nas análises dos
sinais coletados e transcritos.
Enfim, no capítulo derradeiro, serão consideradas as conclusões da pesquisa que será
apresentada, bem como serão pontuadas outras limitações observadas e não pontuadas
anteriormente. Além disso, sugerir-se-ão outros tópicos de interesse à pesquisa no âmbito da
fonologia da língua brasileira de sinais.
30
Sabemos que um dos traços que torna a linguagem [humana] única é que os
símbolos que compõe a língua podem ser divididos em partes menores. A fonologia
é o estudo das menores unidades contrastivas da língua.
(VALLI; LUCAS, 2000, p. 19, tradução nossa)
contrastivas de uma determinada língua, será possível compreender que, nas línguas de sinais,
é possível observar a existência dessas unidades mínimas.
Optando pelo termo ‘fonêmica’ ao invés de ‘fonologia’, Silva (2005) argumenta que
“o termo fonologia passa a ser utilizado por modelos pós-estruturalistas que analisam a
organização da cadeia sonora da fala – ou componente fonológico” (SILVA, 2005, p. 118).
Ela acrescenta ainda que a fonêmica ou fonologia refere-se a modelos que abordam o estudo
da cadeia sonora da fala. Ao apresentar os preceitos gerais da teoria fonológica, Matzenauer
(2005), por seu turno, preconiza que
A fonologia, ao dedicar-se ao estudo dos sistemas de sons, de sua descrição,
estrutura e funcionamento, analisa a forma das sílabas, morfemas, palavras e
frases, como se organizam e como se estabelece a relação “mente e língua”
de modo que a comunicação se processe (MATZENAUER, 2005, p. 11,
grifos do autor).
Os sons relevantes para a análise fonológica são aqueles produzidos pelo trato vocal
pela ação conjunta de outras estruturas orgânicas e que servem para distinguir significados.
Esses sons, também denominados ‘fonemas’, são organizados e combinados para definir
outras unidades linguísticas maiores, formando os morfemas e os itens lexicais de um
determinado sistema linguístico (BISOL, 2005; SILVA, 2005).
Não obstante, deve-se ponderar que o estudo fonológico não se encerra na
investigação do som enquanto entidade física, mas se ocupa do estudo das unidades mínimas
que possuem caráter distintivo num determinado sistema linguístico. No caso das línguas
orais, essas unidades mínimas, que, do ponto de vista analítico, não poderão ser
decomponíveis em outras unidades subalternas, serão os fonemas. Para as línguas de sinais, a
expressão “unidade mínima distintiva” será preferível, contudo o termo “fonologia” será
conservado, já que, conforme será visto a posteriori, existe uma disposição de constituintes
que, analogamente, encontram-se nesse primeiro nível de análise linguística.
Ao discursarem sobre a língua americana de sinais, Bellugi e colaboradores (2002)
ventilaram a possibilidade da existência de um nível fonológico para a língua de sinais – a
denominada “fonologia” sem som. Esses autores explanaram que
A pesquisa sobre a estrutura dos sinais léxicos demonstrou que, à
semelhança das palavras das línguas faladas, os sinais são fracionados em
elementos subléxicos. Os elementos que distinguem os sinais (em forma de
mãos, movimentos, locais de articulação) estão em disposições espaciais
contrastantes e ocorrem concomitantemente com a execução do sinal. Por
exemplo, os sinais SUMMER, UGLY e DRY (VERÃO, FRIO e SECO) são
feitos com os mesmos movimentos manuais e assumindo aspectos idênticos
em três localizações espaciais diferentes (BELLUGI et al., 2002, p. 180).
32
Karnopp (1999, p. 28) afirma que “a fonologia da língua de sinais objetiva identificar
a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e
explanatórios.” Então, segundo essa autora, cabe a fonologia da língua de sinais: (1)
determinar quais são os elementos recorrentes; (2) estabelecer quais são os padrões possíveis
de combinação; e (3) investigar as diferenças (variação) permitidas/possíveis que dependam
do ambiente fonológico.
Reflexionando a respeito do sistema linguístico das línguas de sinais e advogando
que os níveis de análise linguística entre línguas orais e línguas sinalizadas são análogos,
Amaral e colaboradores (1994) considera que “por uma questão de facilitação de terminologia
e também para por em evidência o carácter linguístico deste sistema, passou-se a adoptar a
terminologia da linguística para o estudo da língua gestual” (AMARAL et al., 1994, p. 59).
Entenda-se que a “língua gestual” por ele denominada refere-se à língua de sinais. Enquanto
as diferentes línguas de sinais do mundo seguem a convenção terminológica – Língua de
Sinais (+) nome do país ao qual ela se refere, por exemplo, Língua Americana de Sinais
(ASL), Língua de Sinais Francesa (LSF), Língua de Sinais do Brasil (LSB, ou Libras), etc. –,
em Portugal, utiliza-se a nomenclatura LGP, referindo-se à Língua Gestual Portuguesa.
Além de Stokoe (1978), diversos estudiosos, conforme será visto ainda nesse
capítulo, têm passado a utilizar os termos ‘fonema’ e ‘fonologia’ para as investigações no
âmbito das línguas de sinais, argumentando que as línguas de sinais, que são consideradas
línguas naturais, comungam de princípios linguísticos subjacentes aos das línguas orais, não
obstante às diferenças de modalidade (KLIMA e BELLUGI, 1979; WILBUR, 1987; van der
HULST, 1993; QUADROS e KARNOPP, 2004).
As abordagens fonológicas recentes no tocante à língua de sinais têm considerado
que
A fonologia é o nível de análise gramatical onde as unidades estruturais
primitivas sem significado são recursivamente combinadas para criar um
número infinito de expressões significativas. É o nível de gramática que tem
uma ligação direta com os sistemas fonéticos articulatórios e perceptuais,
tanto os sistemas periféricos do par visual/gestual quanto do par
auditivo/vocal (BRENTARI, 1998, p. 1, 2, tradução nossa).15
15 Texto de partida: “Phonology is the level of grammatical analysis where primitive structural units without
meaning are recursively combined to create an infinite number of meaningful utterances. It is the level of
grammar that has a direct link with the articulatory and perceptual phonetic systems, either a visual/gestural pair
or an auditory/vocal pair of peripheral systems.”
33
Os estudiosos das línguas de sinais, que são também ou têm se tornado linguistas,
têm tido a necessidade de falar o mesmo “linguajar” dos linguistas ortodoxos. A fim de que se
possa tornar o que é heterodoxo (aspectos fonológicos das línguas de sinais) em ortodoxo,
optamos pela adoção da terminologia ‘fonologia’ aplicada à Língua Brasileira de Sinais.
Enfim, a fonologia deve ser conceituada em termos de ciência da linguagem
humana que se ocupa do estudo das unidades mínimas que estão no primeiro nível de
análise linguística. Sabe-se que as unidades mínimas, isoladamente, não têm significado, mas
se coadunam para formar as sílabas e os morfemas e/ou itens lexicais de um determinado
sistema linguístico. Essa releitura ou revisão conceitual contribui para a inserção dos estudos
16Texto de partida: “Phonology is the level of linguistic structure that organizes the medium through which
language is transmitted.”
17 Texto de partida: “Sign language linguistics use the term phonology to refer to the study of how signs are
strutured and organized.”
34
18 American Sign Language ou ASL.
35
[1] [ ] [ ] [1 ](Handshape)
> ~ p
# 4 [ ] (Movement)
\[ ] (Location)
Subsequent research has led to aHULST,
Fonte: 1993,different
somewhat p. 210. organisation of the
relevant properties. One of the earliest changes is due to Battison (1978),
who proposed to regard ORIENTATION (of the palm)3 as a separate para-
meter; this has been accepted by most researchers.
In the next section, I will discuss a number of further developments of
Stokoe's insights. These involve, on the one hand, the introduction of
linear order and, on the other hand, further refinements of the parameters
and the structural relations that hold between them. In ??3-5, I will
present an alternative model of sign structure. ?3 focuses on the feature
content of signs, and argues that the structure of signs is essentially like
36
Para o esboço acima descrito, Hulst (1993, p. 210) explicita que, enquanto µ refere-
se à representação do morfema, [ ] representa um fonema ou conjunto de especificações que
representam uma determinada configuração de mão, movimento ou locação. Em sua teoria,
Hulst sugere que os sinais possuem uma forma “reduzida” de estrutura silábica, e essa
estrutura, por sua vez, não tem correspondência análoga à distinção consoante/vogal das
línguas faladas. Em tópico posterior, serão especificadas as considerações do modelo teórico
desse pesquisador.
Liddell e Johnson (1984, 1986, 1988) influenciaram significativamente os estudos
fonológicos dos sinais, já que esses teóricos evidenciaram que a ASL possui em sua estrutura
fonológica tanto a organização sequencial quanto a simultânea. No tópico 1.4.2, serão
expostos outras contribuições desses teóricos para a fonologia dos sinais.
Brentari (1998) propõe o modelo prosódico para investigação e análise fonológica da
língua de sinais. Essa autora faz uma revisão profunda dos estudos em fonologia da língua
americana de sinais e, a partir daí, apresenta esse modelo com algumas revisões conceituais e
novas contribuições aos estudos fonológicos. Posteriormente, serão apresentados os conceitos
relevantes desse modelo.
Ferreira-Brito (1990, 1995) foi uma das precursoras na descrição e na análise dos
aspectos estruturais da Libras. Sua descrição linguística enfoca, sobretudo, os aspectos
morfológicos e fonológicos. A partir de bases teóricas dos estudos linguísticos da ASL, essa
autora verificou que os principais parâmetros fonológicos da Libras são: locação, movimento
e configuração de mão. Ainda a respeito da classificação desses parâmetros, ela propõe dois
planos: (i) os parâmetros primários que englobariam a configuração da(s) mão(s), o ponto de
articulação e o movimento, e (ii) os parâmetros secundários que incluem a região de contato,
a orientação das mãos, bem como a disposição das mesmas. Ao tratar dos traços distintivos,
Ferreira-Brito (1990) propôs para a Libras 12 (doze) traços para análise da configuração de
mão. Esses traços foram: [compacta], [aberta], [ulnar], [cheia], [côncava], [dual],
[indicadora], [radial], [toque], [separada], [cruzada] e [dobrada].
Com o objetivo de evidenciar aspectos da aquisição fonológica na Libras, Karnopp
(1994, 1999) apresenta dados interessantes nos seus estudos com crianças surdas, filhas de
pais surdos. Ela analisou também as consequências dos processos fonológicos no decurso da
aquisição da Língua Brasileira de Sinais.
Ao retomar os estudos de Fernandes (1994), Bernardino (2000, p. 84, 85) expõe que
os parâmetros – configuração das mãos (CM), movimento (M) e ponto de articulação (PA) –
seriam os componentes do Plano Querológico da Libras. O termo ‘querologia’ é utilizado
37
considerando que a Libras é composta por queremas, que são os análogos dos fonemas das
línguas orais auditivas. Evidentemente, essa autora utiliza-se da terminologia empregada por
Stokoe nos primórdios de suas investigações.
Liddell (2003) afirma que algumas evidências e diferenças emergem quando
comparamos o modo como os sinais e as palavras faladas (no sentido da linguagem oral) são
articulados. O análogo ao trato vocal da linguagem falada é o espaço de sinalização,
considerando-se que o espaço dentro da boca onde a língua se move e o movimento ou o
posicionamento da língua dentro da cavidade oral ajudam a distinguir um gesto (ou
configuração) articulatório de outro. Elucidando, temos:
A diferença entre [t] e [k], por exemplo, é determinada por onde e como a
língua faz contato dentro da cavidade oral. Ambas são oclusivas surdas. A
parte dianteira da língua entra em contato com os alvéolos (logo atrás dos
dentes superiores) para produzir [t] e o corpo da língua entra em contato com
o véu (na parte posterior da boca) para produzir um [k]. Em ambos os casos,
a língua bloqueia momentaneamente o fluxo de ar. As produções destes dois
sons diferem quanto ao local em que a língua faz contato (LIDDELL, 2003,
p. 10, tradução nossa).19
Da mesma forma que a(s) mão(s) deve(m) estar corretamente posicionada(s) para
articular os sinais, a língua deve estar corretamente posicionada para produzir as palavras
faladas. A necessidade de posicionar corretamente os articuladores, independentemente do
articulador produzir fonema (línguas orais) ou “unidade mínima distintiva” (línguas de
sinais), demonstra claramente a similaridade entre a língua de sinais e a língua oral. No
entanto, uma distinção persiste: as línguas de sinais possuem uma riqueza em termos de
produção de contrastes articulatórios, ou seja, a(s) mão(s) enquanto articulador(es) pode(m)
ostentar diferentes configurações, fazer o uso de dois articuladores ao mesmo tempo, e fazer
contato com um grande número de locações distintas (LIDDELL, 2003).
Xavier (2006) apresenta uma descrição das unidades do nível fonético-fonológico da
língua de sinais brasileira (Libras), baseando-se no modelo de análise sublexical proposto por
Lidell (1984) e desenvolvido por Lidell e Johnson (1989 [2000]). Nesse modelo, os sinais das
línguas de sinais são formados por segmentos, da mesma forma que as palavras nas línguas
orais. Esse pesquisador utilizou-se do Dicionário Enciclopédico Trilíngue da Língua
19 Texto de partida: “The difference between [t] and [k], for example, is determined by where and how the
tongue makes contact inside the oral cavity. Both are voiceless stop consonants. The front of the tongue contacts
the alveolar ridge (just behind the upper front teeth) to produce [t] and the body of the tongue contacts the velum
(in the back of the mouth) to produce a [k]. In both cases, the tongue briefly blocks the flow of air. The
productions of these two sounds differ in the location at which the tongue makes contact.”
38
Brasileira de Sinais (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) como principal fonte de dados para a
elaboração de um banco de dados.
Cruz e Lamprecht (2008) propõem um instrumento para avaliação da consciência
fonológica para crianças surdas usuárias da Libras. É pertinente pontuar que esse instrumento
não contemplou todos os parâmetros fonológicos, mas apenas atentou para o parâmetro
configuração de mão. Uma das conclusões dessas autoras qualificou que
a aplicação de um instrumento de avaliação da consciência fonológica
validado, em determinada língua de sinais, poderá contribuir na investigação
sobre o desenvolvimento lingüístico da criança surda, possibilitando:
verificar se a criança consegue refletir sobre aspectos fonológicos na sua
própria língua, identificar o nível de desenvolvimento da consciência
fonológica (típico ou atípico considerando o período de exposição
lingüística) e acompanhar a evolução nesta importante habilidade lingüística
(CRUZ; LAMPRECHT, 2008, p. 105).
Além dos aspectos concernentes à fonética e fonologia nas línguas orais, Mineiro e
Colaço (2010), na obra “Introdução à fonética e fonologia na LGP e na Língua Portuguesa”,
apresentam uma breve introdução sobre o tema da fonologia gestual, bem como traçam um
modelo explicativo para a fonologia da linguagem viso-gestual a partir de exemplos da LGP.
Nesse aspecto, elas pontuam: (i) as unidades significantes dos gestos – configuração,
localização e movimento; (ii) características fonológicas dos gestos – os articuladores (as duas
mãos); (iii) o sistema fonológico das línguas gestuais – aspectos gerais e específicos
(sequencialidade e simultaneidade); (iv) traços distintivos e traços articulatórios.
Cruz e Quadros (2011) propõem um Instrumento da Avaliação da Língua de Sinais
(IALS), objetivando auxiliar os profissionais da área – fonoaudiólogos, professores e demais
profissionais do campo da linguagem e da surdez – na investigação dos diferentes níveis do
desenvolvimento da linguagem compreensiva e expressiva. Esse instrumento considera os
seguintes aspectos linguísticos e discursivos: nível fonológico, nível semântico, nível
morfológico, nível sintático/discursivo. No tocante ao nível fonológico, as autoras avaliam as
unidades mínimas ou parâmetros que constituem o sinal. Os parâmetros que servem como
base para análise são: Configurações de Mão, Movimento, Locação, Orientação Manual e
Expressões Não-Manuais. Uma vez que o objetivo da obra dessas autoras é apresentar o
instrumento delineado para avaliação (compreensiva e expressiva) da Língua Brasileira de
Sinais de forma mais global, o nível fonológico não é minuciosamente avaliado/analisado.
Ainda não se tem todas as respostas no tocante à fonologia da língua de sinais.
Sabemos que “A diferença entre línguas orais e de sinais no nível fonológico é difícil de ser
estabelecida, considerando que muitos tópicos sobre a fonologia das línguas de sinais
39
continuam sendo pesquisados e/ou ainda não foram investigados” (QUADROS e KARNOPP,
2004, p. 62).
1.3.1 O Sinal
Por exemplo, o termo ‘manga’ pode abarcar, dentre outros significados, a ideia de
fruta ou de determinada parte de uma camisa ou blusa. Na língua de sinais, não é diferente;
existem sinais que embutem múltiplos sentidos. Ao analisarmos os sinais em profundidade,
podemos perceber que o sentido/significado de um signo linguístico sinalizado também só é
constituído na instância da sentença ou do discurso. O sinal abaixo representado (Fig. 27)
representa um sinal homólogo/homófono20 na Libras.
Existem muitos outros sinais homófonos na Libras, porém foi apresentado apenas um
exemplo, a fim de que fosse elucidado um dos aspectos linguísticos subjacente ao sinal. Esses
exemplos – (3) e (4) – estão sendo representados a partir do Sistema de Notação dos Sinais,
descrito por Ferreira-Brito (1990) e Felipe e Monteiro (2008).
Equivocadamente, algumas pessoas imaginam que a língua de sinais é universal, o
que constitui um dos mitos a respeito das línguas sinalizadas (cf. QUADROS e KARNOPP,
2004; GESSER, 2009). Conforme pontuamos nas considerações iniciais desse capítulo, as
comunidades surdas de cada país desenvolvem o seu próprio sistema linguístico, por isso
temos: a Língua Americana de Sinais, a Língua de Sinais da Holanda, a Língua de Sinais
20 Confireremos aos sinais homológos o status de homófonos, uma vez que defendemos a ideia da fonologia dos
sinais.
21Nos exemplos acima [(3) e (4)], os termos PRO-1s e PRO-2s referem-se, respectivamente, aos dêiticos
indicativos de pronome pessoal do caso reto de primeira e segunda pessoa do singular.
41
Figura 28 – Sinal ESTUDANTE em diferentes Línguas de Sinais.
(Esquerda – Língua Americana de Sinais; Centro – Língua de Sinais Italiana;
Direita – Língua de Sinais Tailandesa).
Fonte: VALLI; LUCAS, 2000, p. 6.
Posteriormente, discorreremos mais acerca das especificidades dos sinais com 1 mão
e com 2 mãos, e das mãos dominante e não-dominante. Há ainda os articuladores não-
manuais, que compreendem as expressões faciais e/ou corporais. Quanto a essa questão,
discuti-la-emos no tópico 1.3.1.5.
Cada língua de sinais possui um determinado número de CM que fazem parte de seu
sistema linguístico, i.e., nem todas as línguas de sinais partilham o mesmo inventário de CM
(KARNOPP, 1999). Para a Libras, foram (ou estão sendo) sugeridas diferentes propostas
conforme veremos doravante.
O primeiro estudo sistemático para organização das CM para a Língua Brasileira de
Sinais começou a ser conduzido por Lucinda Ferreira Brito na década de 80. Ferreira-Brito
(1995) inventariou 46 (quarenta e seis) CM, organizando-as por similaridade em 19 grupos
(Fig. 29). É importante destacar que essa organização foi influenciada pelos estudos de Klima
e Bellugi (1979), que também organizaram as CM da ASL em 19 agrupamentos.
Figura 29 – Quadro de Configurações de Mão da Libras.
Fonte: FERREIRA-BRITO, 1995, p. 220.
É bem provável que Ferreira-Brito (1995) não tenha catalogado todas as possíveis
CM durante o período de sua pesquisa. Evidentemente, houve seleção de informantes e essa
seleção não contemplou todas as regiões brasileiras, apesar de, em seu estudo, ela ter
considerado os sinais utilizados pelas comunidades surdas das principais capitais brasileiras.
O que se pode perceber, a partir do quadro de CM de Ferreira-Brito (1995), é que as formas
ali dispostas demonstram apenas as “manifestações de superfície, isto é, de nível fonético,
encontradas na Libras” (KARNOPP, 1999, p. 38). Um dos pontos positivos na proposta de
43
análise de Ferreira-Brito (1990, 1995) é que ela advoga por um modelo que considera
diferentes tipos de traços distintivos conforme pontuamos na pág. 36.
Figura 30 – CM inventariada pelo Grupo de Pesquisa da FENEIS, utilizada no Dicionário Digital de Libras.
Fonte: FELIPE e MONTEIRO, 2008, p. 28.
Na Figura 30, temos a proposta dos tipos de CM elaborada pelo Grupo de Pesquisa
da FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos). Felipe e Monteiro
(2008) defendem que, na Libras, há 64 (sessenta e quatro) CM. Provavelmente, essas autoras
devem ter considerado que determinadas CM representam formas variantes de uma mesma
unidade mínima distintiva.22 Provavelmente, deve ter ocorrido um problema na digitação dos
22As configurações que foram agrupadas dentro de uma mesma unidade correspondem as: CM 8a e 8b; CM 18a e
18b; CM 22a e 22b; 29a e 29b; 35a e 35b; 37a e 37b; 46a e 46b; 51a e 51b; 53a e 53b; 59a e 59b. Daí, a contabilização
de 64 (sessenta e quatro) CM. Se desconsiderarmos esses casos de alofonia/alomorfia, teríamos 74 (setenta e
quatro) CM.
44
Figura 31 – CM da Libras inventariada por Pimenta.
Fonte: PIMENTA, N. (LSB Vídeo, s.d.).23
23Adaptado do “Poster Configurações de Mãos em LSB”, elaborado pelo autor, professor e pesquisador Nelson
Pimenta e publicado por LSB Vídeo. Disponível em <http://www.lsbvideo.com.br>.
24“Nelson Pimenta nasceu em Brasília em 1963 e é mestres em Estudos da Tradução pela Universidade Federal
de Santa Catarina. Primeiro ator surdo a se profissionalizar no Brasil, estudou no NTD (National Theatre of the
Deaf), de Nova York. É pesquisador de Língua de Sinais e já atuou como instrutor de Teatro e de Língua de
Sinais Brasileira em diversas instituições de ensino, entre elas o INES (Instituto Nacional de Educação de
Surdos) e a FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos). Atualmente, faz curso de
graduação em Cinema na Universidade Estácio de Sá, coordena as ações de teatro e expressão corporal da
ARPEF (Associação de Reabilitação e Pesquisa Fonoaudiológica), preside o ILSB (Instituto de Língua de Sinais
Brasileira) e é professor de Teatro no Centro Educacional Pilar Velazquez.” Disponível em:
<http://www.paulinas.org.br/loja/DetalheAutor.aspx?idAutor=13278>. Acesso em: 20 fev. 2012.
45
ora a passagem de uma CM para a outra parte de uma CM mais aberta para
uma CM mais fechada (como na seqüência das CMs: 51 e 52; 19 e 20; 36 e
37 etc.) e ora a passagem se dá a partir de uma CM mais fechada para uma
mais aberta (como na seqüência das CMs: 17, 18 e 19; 26, 27, 28 e 29; 59,
60 e 61 etc.) (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p. 166).
Grupo 1
Grupo 2
Grupo 3
Grupo 4
Grupo 5
Grupo 6
Grupo 7
Grupo 8
46
Grupo 9
Grupo 10
efeito, a discussão em torno das possíveis CM da Libras permanece. É importante notar que
não existem infinitas CM, tendo em vista que a mão humana está limitada por restrições de
ordem articulatórias. Essas restrições estão relacionadas a disposição dos dedos em termos de
abertura e fechamento para a composição de determinada configuração. Nisto, percebemos
que a CM é um parâmetro importantíssimo, visto que sem ela é impossível executar quaisquer
sinais.
Apesar da relevância do parâmetro CM, o desafio que ainda persiste nas pesquisas da
Libras tem sido elaborar um inventário fonológico com vistas a descriminação dos ‘fonemas’
e dos respectivos ‘alofones’.
Sendo um dos parâmetros já descritos por Stokoe (1960, 1978), a Locação (L),
também chamada de Ponto de Articulação (PA), envolve “[...] o espaço em frente ao corpo,
ou uma área do próprio corpo, em que os sinais são articulados” (FERREIRA-BRITO, 1995,
p. 37). Em outras palavras, pode-se dizer que esse parâmetro corresponde ao
[...] lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar
alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do
corpo até a cabeça) e horizontal (à frente do emissor) (FELIPE;
MONTEIRO, 2008, p. 22).
Stokoe (1976) relacionou 12 (doze) locações com seus respectivos códigos (sistema
de notação) para representá-las linearmente. Esses códigos encontram-se dispostos na Figura
33. Percebe-se que há uma coerência na organização dos pontos de locação, considerando-se
que ele começa no ponto 0 (espaço neutro), passando por todo o rosto, testa e descendo pelo
tronco até a cintura.
Cabeça (C) Tronco (T) Braços (B) Mão (M) Espaço Neutro (EN)
topo da cabeça ( ); pescoço (p); braço (S); palma (P);
testa (T); ombro (O); antebraço (I); costas das mãos (C);
rosto (R); busto (B); cotovelo (C); lado do indicador (L1);
parte superior do estômago (E); pulso (P). lado do dedo mínimo (L2);
rosto (S); cintura (C); dedos (D);
parte inferior do ponta dos dedos (Dp);
rosto (I); nós dos dedos (junção
orelha (p); entre os dedos e a mão)
olhos (O); (Dd);
nariz (N); nós dos dedos (primeira
boca (B); junção dos dedos) (Dj);
bochechas (b) dedo mínimo (D1);
queixo (Q); anular (D2);
zona abaixo do dedo médio (D3);
queixo (A). indicador (D4);
polegar (D5);
interstícios entre os dedos
(V);
interstício entre o polegar e
o indicador (V1);
interstício entre os dedos
indicador e médio (V2);
interstício entre os dedos
médio e anular (V3);
interstício entre os dedos
anular e mínimo (V4).
Quadro 4 – Pontos de Articulação segundo Brito e Langevin (1995).
por categoria. Suspeita-se que esses diferentes tipos de movimentos devam funcionar como
traços distintivos. Falar-se-á mais a respeito disso no próximo capítulo ao descrever os traços
prosódicos (TP).
TIPO DIRECIONALIDADE
Não-direcional
MANEIRA FREQUÊNCIA
Figura 35 – Sinal GASTAR-CONSTANTEMENTE.
Fonte: QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 124.
52
26 Esse processo, chamado de nominalização, será melhor explanado no tópico 2.1.4.1.
53
É bem provável que o parâmetro Or funcione, em alguns casos, como morfema (cf.
Fig. 37). Nesse sentido, Quadros e Cruz (2011) exemplificam:
[...] o verbo AJUDAR, com a orientação da palma virada para a frente,
significa EU-AJUDAR-VOCÊ, se for virada para o sinalizante, significa
VOCÊ-AJUDAR-EU. O participante e o objeto mudam de acordo com a
orientação da palma da mão. Isso é observado em vários verbos das línguas
de sinais (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 65).
54
As línguas de sinais não estão restritas às possibilidades articulatórias das mãos e dos
braços. Existem outros dados que estão inextricavelmente ligados aos sinais e fazem parte dos
elementos linguísticos que são categorizados como aspectos não-manuais. Quanto a esses
aspectos, também denominados “expressões não-manuais”, é pertinente expor que:
As expressões não-manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeça ou do
tronco) prestam-se a dois papéis nas línguas de sinais: marcação de
construções sintáticas e diferenciação dos itens lexicais. As expressões não-
manuais que têm função sintática marcam sentenças interrogativas sim-não,
interrogativas QU-, orações relativas, topicalizações, concordância e foco
[...] As expressões não-manuais que constituem componentes lexicais
marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa,
advérbio, grau ou aspecto [...] (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 60).
Além desses cinco sinais, 27 que são puramente constituídos de expressões não-
manuais, Xavier (2006), a partir da análise do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue
(CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001), categoriza outros 2.269 sinais quanto à propriedade
articulatória – marcação não-manual: (i) 1.897 sinais não possuem a marcação não-manual; e,
(ii) 372 sinais possuem a marcação não-manual. Abaixo (Fig. 39), ilustramos um sinal que
possui a marcação não-manual:
27
Alguns dos sinais que não forem ilustrados no corpo dessa Dissertação serão ilustrados nos Apêndices F e G.
56
das limitações metodológicas fizeram com que não fosse possível classificá-los em normais e
desviantes. Deixaremos esse objetivo desafiador para pesquisas porvindouras, já que isso
demandaria, outrossim, um estudo de normatização.
William Stokoe (1960) foi o primeiro a desenvolver um sistema para descrição dos
sinais. Antes de Stokoe, os sinais eram considerados um todo-indivisível, sem estrutura
interna. Então, esse pesquisador foi o primeiro a sugerir que os sinais poderiam ser analisados
da mesma forma que as unidades da língua falada (VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005).
Baseando-se numa perspectiva estruturalista, o objetivo de Stokoe (1960) foi
compartimentalizar os sinais em unidades e analisá-los do ponto de vista quirológico. É
relevante frisar que Stokoe, nos primórdios das suas análises, preferiu utilizar o termo
quirologia e quirema como análogos de fonologia e fonema. Ele propôs que os sinais são
constituídos de três partes (parâmetros) que se combinam simultaneamente. A esses
constituintes, ele designou: (1) a configuração da(s) mão(s) na articulação do sinal
59
(designator ou dez); (2) a locação no corpo ou no espaço onde o sinal é articulado (tabula ou
tab); (3) o movimento da(s) mão(s) no decurso da alteração das locações ou configurações de
mãos (signation ou sig). Na Figura 40, podem-se observar os símbolos empregados por
Stokoe (1960) para descrição dos sinais por ele investigados na Língua de Sinais Americana.
Figura 40 – Símbolos desenvolvidos por Stokoe para notação dos sinais da ASL.
Fonte: VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005, p. 25.
A tese de Stokoe não foi prontamente aceita pelos linguistas de sua época.
Posteriormente, com o aporte teórico da teoria gerativa para os estudos linguísticos das
línguas de sinais, os linguistas foram reconhecendo a importância dos estudos de Stokoe.
Apesar da sua contribuição significativa para a descrição e análise da Língua de Sinais
Americana, a sua proposta de análise não é útil o bastante para se encontrar soluções e
possíveis respostas aos problemas morfológicos e/ou fonológicos (LIDELL, 2003). Contudo,
William Stokoe é considerado pelos pesquisadores do campo das línguas de sinais “o pai da
linguística das línguas de sinais”.
notação, são adotados termos como: mão fraca (weak hand) e mão forte (strong hand).
Enquanto o termo mão forte descreve a mão ativa, o outro – mão fraca – descreve a mão que
recebe a ação (VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005).
No Quadro 8, será ilustrada uma notação simplificada para o sinal da ASL
“WEEK”28 (semana). Nesse sistema de notação, identificaremos que o sinal é subdivido em
unidades especificas e os diferentes aspectos do sinal são anotados. A unidade de tempo
(timing unit) descreve cada segmento, que pode ser um movimento (M), uma preensão (H),
ou uma preensão modificada (X). O contorno refere-se à descrição de uma forma de
movimento específico (ex. em linha reta ou curvado). Caso haja contato de um segmento, o
sinal de adição (+) é colocado na tabela. Na mesma tabela, também é possível registrar: a
configuração de mão do sinal, o sítio focal onde o sinal é posicionado
(posicionamento/locação), a direção/orientação da palma em relação ao corpo
(rotação/orientação) e os aspectos não-manuais que fazem parte do sinal.
Configuração de mão 1 1
Posicionamento sítio focal Base da palma da Pontas dos dedos
Mão (Locação) mão fraca da mão fraca feixe
Forte Rotação Palma da mão Palma da mão articulatório
(Orientação) voltada para baixo voltada para baixo
Sinal Não-manual
Configuração de mão B B
Posicionamento sítio focal Na frente do tórax Na frente do tórax
Mão (Locação) feixe
Fraca Rotação Palma da mão Palma da mão articulatório
(Orientação) voltada para cima voltada para cima
Sinal Não-manual - -
preensão plena nessa posição. Nesse sinal, a única mudança que ocorre é no posicionamento
da mão forte, que se desloca da base da palma para as pontas dos dedos da mão fraca.
Nem todos os sinais seguem a estrutura XMH (Hold-Movement-Hold). Observemos
os sinais ilustrados na Figura 41 e descritos no Quadro 9.
Estrutura Sinal
Hold (H) COLOR, STARE
X M H, unidirecional29 ME, THINK
H M H, unidirecional GOOD, UNDERSTAND
X M X ou H M H, movimentos oscilantes30 LIGHT-YELLOW ou DREAM
OSC OSC
Figura 41 – Exemplos de possíveis estruturas dos sinais no Modelo MH.
Fonte: VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005, p. 37.
29 Os sinais uniderecionais são executados numa única direção.
30O movimento oscilante refere-se ao movimento que está contido na própria mão e não envolve uma mudança
de locação.
31O movimento reduplicado ocorre quando um sinal se incia numa posição (locação) e termina numa outra e,
logo após, toda a sequência é repetida.
32Os sítios focais indicam onde os sinais são produzidos. Um sinal pode ter um ou mais sítios focais, conforme
podem ser observados nos exemplos acima: enquanto o sinal de THINK tem apenas um sítio focal, o sinal de
CHINA possui três sítios.
Os sinais bidirecionais movem-se em duas direções. Por exemplo, no sinal MAYBE, observa-se que as mãos
33
Ao analisar o modelo MH, Brentari (1998) afirma que os agrupamentos de traços (ou
seja, ponto de contato, configuração da mão, palma da mão e orientação) não possuem um
status formal nesse modelo. As entidades unificadas de configuração de mão, locação e
movimento perdem a qualidade fonêmica que possuíam no modelo quirêmico em virtude das
unidades de contraste. Essa mudança é comparável à mudança na concepção do par mínimo
para as línguas orais após a publicação de Jakobson, Fant e Halle (1972), tendo-se em vista
que, a partir da introdução da ideia de traço distintivo, os fonemas que possuem mais de um
traço não são suficientes para determinar um par mínimo.
“Um ponto fraco do Modelo HM é a sua inabilidade de selecionar pares mínimos”
(BRENTARI, 1998, p. 85, tradução nossa).34 Por esse motivo, o sistema de notação/registro
não convém ao modelo prosódico. As possíveis variantes “fonéticas” que pudessem ser
apresentadas ao sinalizante (‘falante’) nativo para julgamento de gramaticalidade não são
claras no modelo MH, o que cria dificuldades para análises, já que, algumas vezes,
determinado alofone pode envolver formas que não são tão similares. Por exemplo,
[...] todas as vogais do inglês tornam-se schwa [əә] em sílabas átonas, embora
essa redução neutralize um grande número de traços, e pode-se argumentar
que a partir de uma perspectiva fonética, [ü] é mais semelhante a [u] do que
[əә], embora [u] e [u] não sejam alofones. Na ASL, o ponto de articulação
comporta-se de maneira semelhante. A 'testa' e o 'peito' estão em variação
alofônica em COELHO, mesmo que estes lugares não sejam semelhantes
foneticamente. A questão de quais as características do modelo HM são
lexicalmente contrastivas nunca foi plenamente respondidas (BRENTARI,
1998, p. 85, tradução nossa).35
34 Texto de partida: “One weakness of the HM Model is its inability to pick out minimal pairs […]”
35 Texto de partida: “[...] all English vowels become schwa [əә] in unstressed syllables, even though this
reduction neutralizes a large number of features, and it could be argued that from a phonetic perspective, [ü] is
more similar to [u] than [əә], even though [ü] and [u] are not allophones. In ASL, point of articulation behaves in
a similar way. The ‘forehead’ and the ‘chest’ are in allophonic variation in RABBIT, even though these places
are not very similar phonetically. The question of which features of the HM Model are lexically contrastive has
never been completely answered.”
64
1993(a,b), 1996(a,b)). Nesse modelo, a Configuração de Mão (HC) e a Locação (L) são
autossegmentos que se associam aos segmentos Locação (L) e Movimento (M).
A partir da noção de orientação instituído por Battison (1978), o Modelo HT inclui
esse “parâmetro” dentro do nível da Configuração da Mão. Brentari (1998, p. 86) assevera
que “a noção de configuração de mão como camada autossegmental resgata o status formal do
grupo dos traços distintivos da configuração de mão”, já que a configuração de mão possui
um papel semelhante no Modelo Quirêmico. Enquanto a Locação e o Movimento organizam-
se sequencialmente, a Configuração de Mão é simultânea.
O modelo HT define a locação em termos de “segmento que está presente quando a
mão dominante (i.e., a mão que articula os sinais de 1-mão) obrigatoriamente alcança uma
locação [específica] no curso da execução de um sinal” (SANDLER, 1989, p. 133, tradução
nossa).36
Enquanto no Modelo MH, as unidades de tempo são representadas pelos segmentos
de preensão (Hs) e de movimento (Ms), no Modelo HT, as categorias que as representam são
as locações e os movimentos.
36 Texto de partida: “a segment that is present when the dominant hand (i.e., the hand that articulates one-handed
signs) obligatorily reaches [a specific] location in the course of executing a sign.”
65
Figura 44 – Modelo moraico representando os sinais DANCE, FALSE e GERMANY (cf. PERLMUTTER, 1992)
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 89.
37É pertinente esclarecer que: a mora refere-se a “um termo que é frequentemente utilizado para descrever o
comprimento dos segmentos. As vogais longas são muitas vezes constituídas de duas moras (ou Morae),
enquanto as vogais curtas são constituídas apenas de uma. Os segmentos que possuem duas moras são
considerados bimoraicos, ao passo que os segmentos com uma mora são considerados monomoraicos. Do
mesmo modo, as consoantes geminadas são frequentemente constituídas de duas moras, em oposição às
consoantes curtas. (CARR, 2008, p. 103, grifos do autor, tradução nossa)”
66
Figura 45 – Representação de sinais com 1-mão no modelo FD.
Fonte: Van der HULST, 1996, p. 133.
Figura 46 – Esquematização dos cubos no Modelo da FV.
Fonte: UYECHI, 1995 em BRENTARI, 1998, p. 92.
Cada um desses cubos contém seis planos articulatórios. Essa noção de planos
articulatórios tem sido adotada pelo Modelo Prosódico. A seguir, está representado o sinal
FALSE no Modelo da FV.
69
Figura 47 – Representação de FALSE no Modelo da FV.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 91.
38
A Teoria da Otimidade aplicada à análise fonológica do português brasileiro pode ser encontrada em:
Schwindt (2005) e Bisol e Schwindt (2010).
39
Os termos foram traduzidos para a língua portuguesa. Nesse aspecto, os termos TI (traços inerentes) e TP
(traços prosódicos) correspondem, respectivamente, ao IF (inherent features) e PF (prosodic features). Os outros
termos significam: A = articulador; POA = ponto de articulação (place of articulation);
71
As formas polimórficas:
iv. nomes derivados;
v. afixos de concordância;
vi. sinais compostos;
vii. palavras derivadas que contenham afixos de natureza gramatical (prefixos, sufixos e
parafixos);
viii. “formas classificadoras” ou “verbos polimórficos” .
A seguir, será explicada cada uma dessas categorias. Isso será relevante, uma vez que
adotaremos essas terminologias no decorrer dessa Dissertação.
72
Na Figura 48, observa-se que o sinal UNDERSTAND tem duas especificações para o
traço abertura (o grau de abertura ou fechamento da mão): ambas estão localizadas na testa (o
local de articulação), mas a primeira configuração da mão é fechada e a segunda, aberta. No
caso dos sinais SIT (Fig. 49) e THROW (Fig. 50), o local de articulação refere-se ao espaço
neutro (a área em frente ao sinalizados no nível do tronco), mas cada um é articulado em
plano diferente no domínio do espaço neutro. Enquanto o sinal SIT articula-se no plano
horizontal, o sinal THROW é articulado no plano sagital mediano.
No Modelo Prosódico, os conceitos para os tipos de movimento são:
(1) Os movimentos com trajetória são aqueles que primariamente são
realizados pelos cotovelos ou pelos ombros. Formalmente, um movimento
com trajetória pode ser especificado tanto como um traço do movimento (p.
ex.: a forma da trajetória ou a característica da direção do movimento)
quanto como uma mudança no setting (p. ex.: mudança na especificação do
traço, tal como ipsilateral/contralateral, superior/inferior, proximal/distal);
(2) Os movimentos locais são aqueles feitos pelo pulso, juntas ou articulações
dos dedos. Formalmente, eles são expressados como uma mudança em um
ou mais traços especificados no ramo articulador da estrutura.
(BRENTARI, 1998, p. 4-5)
73
Ante ao exposto, pode-se perceber que o autor citado não discorda do fato da
existência do nível fonológico para as línguas de sinais. No entanto, ele expõe que existem
conceitos ou termos que são equivocadamente utilizados nas pesquisas em línguas de sinais.
Embora algumas línguas da Ásia Ocidental suportem os morfemas
monossilábicos, pode-se seguramente dizer que a maioria dos morfemas
lexicais (em oposição aos gramaticais) da maioria das línguas faladas é
polissilábica. Contudo, se associarmos o número de sílabas de uma cadeia da
ASL ao número de movimentos sequenciais, há de se concordar que,
geralmente, a maioria das ‘palavras’ ou ‘sinais’ da ASL é monossilábico, e
isso é verdadeiro em relação às ‘palavras’ monomórficas (BRENTARI,
1998, p. 6, 70, 304). Além disso, dos poucos itens lexicais da ASL que são
monomórficos e também polissilábicos, a maioria deles são relacionados,
etimologicamente, aos empréstimos da Língua Inglesa falada expressados
por meio da datilologia (BRENTARI, 1995, p. 632), e todos são
maximamente dissilábicos (BRENTARI, 1998, p. 208-211). Eu não sei se a
ASL é uma língua de sinais típica nesse sentido, mas, se esse for o caso,
então a tendência a monossilabicidade das línguas de sinais se constitui de
maneira diferente em relação às línguas orais, e, por essa razão, é um grande
equívoco pensar que as sílabas desempenham, essencialmente, o mesmo
papel nas gramáticas dos dois tipos de modalidade linguística
(CARSTAIRS-MCCARTHY, 2001, p. 346, tradução nossa).43
42
Texto de partida: “[…] from the embodiment perspective that lies behind my approach there is no reason to
believe that the detailed organization os the phonological components of speech and sign language would be
comparable for linguistic reasons. For instance, I have argued that the evolution of speech involved taking
advantage of a single pre-existing cyclicity (of the mandible) and increasing its complexity to increase message-
transmission capability. There is no reason to believe that this method would havehad to be adapted by the
visual-manual channel in order for it to transmit language. And in fact one only needs to take a glanceat the
organization of sign language to see that it hasn’t. thus, in my view, the basic organization of the phonological
components of spoken and sign language are modality-specific, and almost no clear amodal commonalities of
the two transmission systems have been identified.”
43
Texto de partida: “Although some East Asian languages favor monosyllabic morphemes, one can safely say
that most lexical (as opposed to grammatical) morphemes in most spoken languages are polysyllabic. However,
if we equate the number of syllables in an ASL string with the number of sequential movements, it seems to be
generally agreed that most ‘words’ or ‘signs’ in ASL are monosyllabic, and this is particularly true of
monomorphemic ‘words’ (Brentari 1998:6, 70, 304). Moreover, of the few lexical items in ASL that are
monomorphemic and yet polysyllabic, most are etymologically related to English borrowings expressed in
fingerspelling (Brentari 1995:632), and all are maximally disyllabic (Brentari 1998:208–11). I do not know
whether ASL is a typical sign language in this respect, but, ifit is, then the monosyllabic bias of sign languages
constitutes a big difference between them and spoken languages, and hence a big embarrassment for the view
that syllables play essentially the same role in the grammars of the two kinds of language.”
75
Uma outra restrição que merece ser considerada refere-se à questão dos dedos
selecionados (selected fingers). Nesse tipo de restrição, o conjunto de dedos selecionados é
admitido num determinado domínio mínimo. Esse domínio mínimo pode compreender: o
próprio sinal (cf. MANDEL, 1981), o morfema (cf. SANDLER, 1987(b)) ou a sílaba (cf.
BRENTARI, 1990(a); PERLMUTTER, 1992). No tópico 2.4.1, a questão de dedos
selecionados será retomada, visando a representação dos traços intrínsecos a esse nó.
A Mão Dominante (M1) refere-se à mão ou ao braço utilizado para articular os sinais
de 1-mão ou ainda às formas baseadas na datilologia (fingerspelled forms). Nos sinais com 2
articuladores, a outra mão é chamada de Mão Não-dominante (M2).
Battison (1978) sugere três tipos de sinais que se utilizam de 2 articuladores (2
mãos):
i. Sinais Tipo 1: ambas as mãos são ativas e executam o mesmo ato motor;
ii. Sinais Tipo 2: uma mão é ativa e a outra é passiva, mas ambas possuem a mesma
configuração de mão;
iii. Sinais Tipo 3: uma mão é ativa e a outra é passiva, e ambas possuem diferentes
configurações de mão.
Battison (1978) propôs ainda uma quarta categoria que se refere aos Sinais Tipo 4,
que compreendem os sinais compostos que combinam dois ou mais das categorias acima
citadas. Os exemplos dos tipos de sinais serão explanados no Quadro 10 e alguns deles serão
ilustrados nas figuras subsequentes.
44
Nesse processo de lexicalização, a datilologia não representa cada uma das letras da palavra que foi tomada de
empréstimo, mas o conceito da palavra da língua fonte.
78
Figura 55 – Alfabeto manual da ASL.
Fonte: HUMPHRIES, PADDEN e O’ROURKE (1994) em BRENTARI, 1998, p. 12.
A A A b b B C C C Ç ÇÇ D D D
E E E F F F GGG HHH I I I
JJJ K K K L L L M M M N N N
O O O PPP Q Q Q R R R S S S
T T T U U U V V V W W W XX X
Y Y Y ZZ Z
Figura 56 – Alfabeto manual da Libras, escrito com as fontes Libras2002 (na primeira célula de cada
coluna), Sutton BR (na célula do meio de cada coluna). Na última célula de cada coluna, encontra-se a
respectiva letra do alfabeto representada com a fonte Times New Roman.
Existem duas formas de nominalização na ASL. As duas são derivadas dos radicais
verbais: uma ocorre pela reduplicação de um radical45 (nomes reduplicados), e a outra pela
adição do traço vibrante (trilled) ao movimento do radical (gerúndios).
Figura 57 – Processo de nominalização.
À esquerda, ‘CLOSE-WINDOW’ (FECHAR-JANELA), e, à direita, ‘WINDOW’ (JANELA).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 13.
45
Esse radical é descrito por Quadros e Karnopp (2004) como ‘morfema-base’.
81
É importante notar que nem todos os verbos podem formar gerúndios (activity
nouns) na ASL, conforme pode-se observar no Quadro 11.
Temporal Distribucional
protractive (LIDDELL, 1990(b)) multiple (KLIMA; BELLUGI, 1979)
unrealized-inceptive (LIDDELL, 1984(b) exhaustive (KLIMA; BELLUGI, 1979)
delayed-comtemplative (BRENTARI, 1996) internal apportionative (KLIMA; BELLUGI, 1979)
habitual (KLIMA; BELLUGI, 1979) external apportionative (KLIMA; BELLUGI, 1979)
durative (KLIMA; BELLUGI, 1979)
Quadro 12 – Exemplos das categorias de aspecto distribucional e temporal na ASL.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 20.
84
De acordo com Brentari (1998), estas categorias propiciam terreno fértil para a
compreensão da alternância morfofonêmica paradigmática e sintagmática. Por essa razão, elas
serão discutidas oportunamente nas análises que serão apresentadas a posteriori.
Brentari (1998) assegura que as restrições violáveis em outras partes do léxico nativo
não são aplicáveis a essas formas. Por exemplo, pode-se observar que a restrição na
Configuração da Mão Não-dominante (H2) não ocorre nessas formas classificadoras.
47
Texto de partida: “Definition of inherent features. Inherent features are those properties of signs in the core
lexicon that are not specified once per lexeme and do not change during the lexeme’s production (e.g., selected
fingers, major body place.”
86
48
Texto de partida: “ Definition of prosodic features. Prosodic features are those properties of signs in the core
lexicon that can change or are realized as dynamic properties of the signal (e.g., aperture, setting).”
49
Texto de partida: “The opposition grave vs. acute, compact vs. diffuse, or voiced vs. unvoiced, and any other
opposition of inherent distinctive features appears within definite sequence of phonemes but is, nevertheless,
definable withou any reference to the sequence. […] Prosodic features, on the other hand, can be defined only
with reference to a time series.”
50
“Venda é umas das 11 línguas oficiais da África do Sul. É uma língua bantu, da família Níger-Congo e
próxima da língua xiTsonga, também falada na mesma região, a província do Limpopo.” Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Língua_venda>. Acesso em: 22 fev. 2012.
87
Figura 62 – A visão dos parâmetros no MP.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 26.
Além dos modelos fonológicos apresentados no capítulo anterior, que foram de vital
importância para a compreensão dos aspectos fonológicos das línguas de sinais, serão
pontuados, a partir daqui, os princípios gerais da Teoria da Otimidade e de outras teorias
relevantes, que serão de grande valia nas análises fonológicas à luz do MP.
A fonologia da língua de sinais é um contexto fértil para abordar questões de
representações abstratas, porque a língua de sinais apresenta novos desafios
para a arquitetura da teoria fonológica das línguas faladas. A interação entre
a fonologia da língua de sinais e a fonologia da língua falada é vantajosa
para ambas as partes. As línguas de sinais se beneficiam de uma gama maior
de estrutura, já que as unidades prosódicas abstratas, tais como a mora, a
palavra mínima e a sílaba, fornecem novas ferramentas para tratar dos
problemas específicos dos sinais (BRENTARI, 1998, p. 55, tradução
nossa).52
52
Texto de partida: “Sign language phonology is a fertile context for addressing issues of abstract
representations, because sign language presents fresh challenges to an architecture of phonology theory based on
spoken languages. The interaction of sign language phonology with the phonology of spoken language is
advantageous to both enterprises. Sign languages benefit from an enhanced range of structure, since abstract
prosodic units such as the mora, the minimal word, and the syllable provide new tools for addressing sign-
specific problems.”
89
deve abranger o maior número possível de formas e o menor número possível de exceções. As
operações frequentes devem ser representadas facilmente, ao passo que as operações
infrequentes ou não-ocorrentes devem ser de difícil representação; (3) a palavra fonológica
está sujeitada a todas as operações fonológicas, e os limites morfológicos e fonológicos são
visíveis à fonologia; (4) as palavras fonológicas são constituídas a partir das representações
subjacentes de seus morfemas componentes num único passo; (5) as formas de superfície
buscam atender as condições de boa-formação da linguagem ao máximo possível; (6) as
unidades de análise podem ser descobertas por evidência linguística interna (p. ex. a partir da
descoberta dos pares mínimos e pela observação das unidades envolvidas em operações
fonológicas) e suportadas por evidência linguística externa (p. ex. mudança diacrônica,
aquisição da linguagem, desvio da linguagem) (BRENTARI, 1998, p. 53-54).
Quanto aos princípios da Teoria da Otimidade adotados no MP, podem-se destacar:
• cada possível candidato a forma de output que é construído (GEN) é avaliado (EVAL)
pela sua boa-formação em relação ao ranqueamento de restrições;
• as restrições das formas são ranqueadas em relação a uma outra num tableau de
restrição. Isso indica até que ponto uma restrição é violável (ou seja, exibe exceções
de superfície);
• as restrições tendem a ser universais; portanto, elas são expressadas em termos mais
gerais possíveis ao invés de estarem restritas a uma determinada língua;
• o princípio do Conjunção Local de Restrições contém e é definido da seguinte forma:
A e B estão numa posição de ranqueamento inferior a C (C>>A,B) e isto não mais se
aplica quando A e B são violados. Isso permite que A+B sejam ranqueados num
patamar mais elevado do que A ou B isoladamente.
(BRENTARI, 1998, p. 53-54, tradução nossa).
Figura 63 – Sinal ‘HAPPEN’ (ACONTECER). Figura 64 – Sinal ‘HAPPEN’ com elisão fraca.
Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 350. Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 350.
Figura 65 – Sinal ‘ANALYZE’ (ANALISAR). Figura 66 – Sinal ‘ANALYZE’ com elisão fraca.
Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 352. Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 352.
53
Do ponto de vista fonológico, esse tipo de fenômeno pode ser considerado um apagamento ou elisão da Mão
Não-dominante (M2).
91
Figura 67 – Sinal ‘OPEN’ (ABRIR). Figura 68 – Sinal ‘OPEN’ com elisão fraca.
Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 354. Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 354.
Figura 69 – Sinal ‘QUIET’ (calmo, tranquilo).
Na imagem superior esquerda, o sinal representado ‘QUIET’ é do tipo 1 – sinal com 2-mãos. Na imagem
superior direita (‘QUIET-ish’), há a adição de um afixo – traço ‘movimento vibrante’ ao radical. Na imagem
inferior esquerda (‘characteristically’ QUIET), há a adição dos traços [repetição] e [circular] ao radical de ambas
as mãos. Na imagem inferior direita ([[‘characteristically’ QUIET]-‘ish’] e [‘characteristically’ [QUIET-‘ish’]],
ambas possuem o mesmo output, contendo os traços de ambos afixos.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 57.
Figura 70 – Input e outputs do sinal ‘QUIET’ (ASL).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 60.
Nas formas QUIET, ‘characteristically’ QUIET e QUIET-‘ish’, todas elas podem ser
submetidas à regra Weak Drop, gerando sinais com 1-mão. O input com 2-mãos QUIET (Fig.
70, imagem superior esquerda) pode ter um candidato a output bem-formado com 1-mão, ou
seja, uma forma Weak Drop (Fig. 70, imagem superior direita). Contudo, a forma
‘caracteristicamente’ QUIET com um movimento alternado é agramatical (Fig. 70, imagem
inferior); este será um candidato a output bem-formado somente quando o input for o sinal de
1-mão.
Apenas as regras derivacionais e a distinção lexical e pós-lexical poderão ser
insuficientes para a análise do sinal QUIET. Esse sinal e casos semelhantes podem ser
analisados de maneira mais adequada sob uma abordagem baseada em restrições. Tendo em
vista que a forma (sinal) de 1-mão não faz parte do léxico, ela não é uma candidata a input
possível. “A boa-formação é determinada pela comparação das representações subjacentes
(i.e., inputs) com os membros candidatos às formas de saída (i.e., outputs)” (BRENTARI,
1998, p. 60-61, tradução nossa). Isso é chamado de correspondência input-output54 na
perspectiva da OT, segundo McCarthy e Prince (1995).
54
De acordo com McCarthy e Prince (1995), “a Teoria da Correspondência dá conta não somente da relação
input/output, mas também de qualquer outro tipo de relação de fidelidade a ser estabelecida entre duas entidades
fonológicas, tal como a existência entre base e reduplicante” (ALVES; KELLER, 2010, p. 69).
94
Figura 71 – Forma dissilábica do sinal relativo ao pronome WE (nós).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 62.
quaisquer dois alofones, aquele que ocorreu em contextos onde a neutralização pudesse
acontecer foi a forma não-marcada, e a outra foi a marcada (BRENTARI, 1998).
Existem condições de boa-formação que suportam o nível silábico e outras que
suportam o nível da palavra prosódica. Segundo Coultler (1982), na ASL, a maior parte das
palavras prosódicas são monossilábicas. São as restrições das palavras prosódicas que
consideram a quantidade (número) e a qualidade (complexidade) dos movimentos através dos
sinais dissilábicos. No MP, a sílaba contém tanto os componentes sintagmáticos quanto
paradigmáticos.
“Precisamos de alguma unidade de estrutura fonológica que seja menor do que uma
palavra mas maior do que um segmento?” (BRENTARI, 1998, p. 73, tradução nossa). A
autora afirma que sim. Além disso, é essa unidade que será requerida para depreender as
diferenças entre os sinais monomórficos com um movimento fonológico, e os sinais com uma
sequência de dois movimentos fonológicos, e também para expressar as restrições dos sinais
com dois movimentos sequencias.
Além das descrições de Liddell e Johnson (1989) e Sandler (1989) sobre as
similaridades entre as vogais e movimentos, as análises dentro do MP têm notado a relevância
do papel dos movimentos dentro da estrutura prosódica como núcleos silábicos, e nas
restrições das palavras bem formadas. O Quadro 15 sumariza algumas das restrições de boa-
formação silábica para a língua de sinais. Deve-se notar que as regras de boa-formação não se
restringem aos movimentos.
Conforme Prince e Smolensky (1993), todas as palavras possuem pelo menos uma
sílaba, mas as palavras canônicas da língua são comumente bimoraicas. Tanto as línguas
faladas (oral-auditivamente) quanto as línguas de sinais podem manifestar restrições em
palavra mínima, ou no formato de palavra canônica. A palavra mínima não é sinônimo de
98
No tópico 2.2, foram expostas as definições para traços inerentes (TI) e prosódicos
(TP). Doravante, serão detalhadas, sucintamente, as ramificações de cada um desses traços.
Tradicionalmente, os estudiosos das LS têm utilizado os quatro parâmetros principais
(CM, M, PA e Or), conforme postulados por Battison (1978), para a investigação fonológica
dos sinais. No âmbito do MP, esses parâmetros são apreendidos quanto ao seu papel
fonológico e adequados à estrutura proposta pelo modelo.
Parece-nos que a proposta do MP é bem mais pertinente à análise fonológica do que
as demais propostas. Em geral, apesar de os parâmetros serem considerados igualmente
relevantes, eles têm sido abordados como entidades estruturais isoladas. Por exemplo, o modo
como o parâmetro Or é representado no MP difere expressivamente da forma como este é
representado nos outros modelos (BRENTARI, 1998). A Or desempenha um papel relevante
tanto nos ramos dos TI quanto dos TP. Quanto ao parâmetro Or diante dos modelos
fonológicos para as LS, é relevante salientar que:
Os diferentes modelos têm oferecido formas conflitantes para a
representação dos traços de orientação. Alguns, como o Modelo HT,
expressam a orientação como um conjunto de traços; outros, como os
Modelos HM e VP, representam a orientação como uma relação ou conjunto
de relações (BRENTARI, 1998, p. 96, tradução nossa).55
55
Texto de partida: “Different models have offered conflicting ways of representing orientation features. Some,
such as the HT Model, express orientation as a set of features; others, such as the HM and the VP Models,
represent orientation as a relation or a set of relations.”
99
Para o MP, a orientação basilar dos lexemas nucleares (ou seja, a orientação input ou
subjacente) é a relação entre uma parte da mão e o local de articulação no ramo estrutural dos
TI, ao passo que a mudança de orientação é um conjunto de traços que constitui um tipo de
movimento, sendo, portanto, representados no ramo estrutural dos TP (BRENTARI, 1998).
A maioria dos pesquisadores dos sinais concorda que a configuração de mão seja um
dos articuladores manuais mais complexos. Segundo Sandler (1986), tanto o ponto de
articulação quanto o articulador podem ser situados em níveis autossegmentais. Brentari
(1998) afirma que esse fato é verídico se isso for referente a uma configuração de mão/braço
ou a um aspecto não-manual como posição da boca ou direção do olhar.
Quanto à estrutura do tier Articulador (A), esquematizado no Quadro 16, nota-se
que esse nó ramifica-se nas classes Manual (núcleo) e Não-manual (dependente). No tocante
ao aspecto não-manual, tem sido constatado que esse tier pode também demonstrar os traços
relativos à configuração de mão, ponto de articulação, orientação e movimento (BRENTARI,
101
1998). Exemplificando: a direção do olhar tem sido relatada como uma apontação manual que
se refere a uma locação num espaço identificado com um sintagma nominal em determinados
contextos (ENGBERG-PEDERSON, 1993; BAHAN, 1996).
Em relação ao ramo Manual, essa classe divide-se em Mão Dominante (M1) e Mão
Não-dominante (M2). A Mão Dominante é o núcleo. Segundo Brentari (1998), existem
argumentos para considerar a M1 como núcleo. Esses argumentos serão sintetizados no
quadro a seguir.
Argumento(s) Autor(es)
Carga contrastiva. Os traços determinados pelo nó M2 são um subconjunto
dos traços determinados pela M1. As CM (i.e., ‘B’, ‘A’, ‘S’, ‘C’, ‘O’, ‘1’, ‘5’)
Brentari (1990)
constituem uma subclasse de todas as possibilidades de configurações de mão
contrastivas.
Direção da assimilação. Tem-se evidenciado que o espraiamento da
assimilação tem ocorrido da M1 para a M2 ao invés do contrário, embora haja Brentari (1990)
algumas exceções.
Grau da complexidade hierárquica. A estrutura que determina a M2 é muito
Van der Hulst (1995, 1996)
mais simplória do que a da M1.
Quadro 17 – Argumentos a favor da M1 como núcleo.
O ramo dedos selecionados do nó mão é mais complexo do que o ramo dedos não-
selecionados. A classe dedos selecionados tem duas ramificações: juntas e dedos1. O
primeiro estudioso a separar essas classes – juntas e dedos1 – foi van der Hulst (1995).
Brentari (1998, p. 105-106) afirma que há vantagens em separar essas classes, considerando
que: (1) a maior vantagem em separar as classes juntas e dedos1 está no fato de que, dessa
forma, é possível representar os contornos de configuração de mão mais facilmente do que
nos modelos em que se faz necessário a representação de duas configurações de mãos nos
ambientes de contorno; (2) esta proposta propicia uma forma de identificar qual configuração
de mão do contorno é a forma mais básica; (3) esse modelo representacional apreende as
restrições dos contrastes de configuração de mão; e, (4) a representação proposta capta a
distribuição da posição do polegar nos lexemas nucleares, isto é, a semi-independência que o
polegar pode exibir nos sinais.
Quanto às possibilidades de representação do ramo juntas que é filha do nó dedos
selecionados, temos:
a. aberta completamente b. aberta curvada c. fechada curvada
g. fechada completamente
As sete juntas contrastivas acima especificadas (Quadro 18) têm base apenas numa
dimensão, que é a da flexão. Baseando-se apenas numa perspectiva, a análise fonológica se
torna mais simplificada, apesar de, do ponto de vista fisiológico, os dois movimentos
(extensão e flexão) estarem atuando.
No ramo dedos1 que também é filha do nó dedos selecionados, há a especificação
dos dedos que são selecionados. Essa especificação leva em conta as categorias fonológicas
baseadas em economia perceptual e estrutural (cf. BOYES-BRAEM, 1981 e SANDLER,
1996). Entretanto, a seleção de dedos descrita pelos sistemas de Boyes-Braem (1981) e
Sandler (1996) apreende tanto os traços relativos às juntas quanto os traços de seleção de
dedos. No MP, esses traços são muito bem delimitados conforme vimos no Quadro 16.58
No MP, quando não há a representação do ramo dedos1, a forma realizada equivale à
CM “S” (s, s). Quando o nó dedos1 estiver presente, mas sem filhas, a forma realizada
CM “8” ( , 8 8), ou com [ulnar], que representa a CM “I” (i, i). No quadro abaixo, estão
representadas algumas possibilidades de combinações de dedos selecionados.
58
O Quadro 16 está ilustrado na página 100.
104
‘8’ ‘7’ ‘I’
8
( , 8) 7
( , 7) i
( , i)
aberta e dobrada, quando a junta de base não for flexionada para os dedos
selecionados, a representação default do polegar é [não-oposto]
(BRENTARI, 1998, p. 114, tradução nossa).59
No quadro acima (Quadro 20), estão representados alguns sinais da ASL que
ilustram as possibilidades da posição do polegar. Nota-se que o polegar encontra-se presente
em todas as representações, no entanto o traço [um] é especificado em dedos0 nos dois
primeiros casos. Todas as estruturas descritas acima permitem uma mudança na abertura do
polegar independentemente do comportamento dos outros dedos.
Finalmente, no quadro abaixo, resumimos alguns pontos concernentes ao
comportamento do polegar no MP.
59
Texto de partida: “The metacarpal joint of the thumb connects the thumb to the hand and is its base joint, so in
curved, flat, and closed handshapes when the base joint is specified for the other selected fingers, the default
thumb setting is [opposed]. For bent and open handshapes, when the base joint is not flexed in the selected
fingers, the default thumb setting is [unopposed].”
106
60
É relevante lembrar que esses configurações, apresentadas pela autora, referem-se às letras do alfabeto manual
da ASL. Elas não devem ser confundidas com as letras/configurações “M” e “N” da Libras que são sutilmente
distintas.
61
Os exemplos apresentados (em (a) e (b)) pela autora foram substituídos pelos exemplos da Libras.
107
Quadro 22 – A estrutura do ramo Ponto de Articulação (POA).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 119 (tradução nossa).
Assim como o ramo articulador (A), o ramo POA possui um grande número de
distinções internas de formas que demonstram contrastes lexicais das formas. Além disso, os
pontos de articulação no corpo e os planos de articulação no espaço neutro são distintos
subtipos de ponto de articulação (BRENTARI, 1998). Muitos dos pontos de articulação
adotados no MP são legados por Liddell e Johnson (1989).
Um local de articulação é especificado pelo plano ao qual está localizado. Esses
planos estão ilustrados na Figura 72 (pág. 110) e o Quadro a seguir apresenta as suas
definições e alguns exemplos.
108
Brentari (1998) observa que, enquanto o plano-y é mais comumente utilizado para os
sinais de 1-mão no espaço neutro, o plano-z, por sua vez, é mais comumente utilizado para os
sinais de 2-mãos simétricos.
Quando o plano-x estiver relacionado ao plano corporal, ele será “controlado” por
uma mapa de locais distintivos de articulação. Neste princípio, há quatro regiões principais no
corpo (cabeça, braço, corpo e M2). Cada região é subdividida em oito locais distintos – [1]-
[8]. Em relação às propostas anteriores, esse sistema de representação mostra-se profícuo,
considerando que:
O Quadro 24 reúne os locais de oposição da ASL no que tange ao POA descritos por
Brentari (1998).
62
No MP, os planos frontal, horizontal e sagital mediano são definidos pelos pontos no plano perpendicular à
linha que se refere àquela dimensão no espaço. X, y e z são os rótulos dados aos planos de articulação no espaço
neutro.
109
63
É pertinente salientar que todos os exemplos aqui correferenciados estão ilustrados no Apêndice G.
64
Sendo a região principal a mão, os locais de oposição serão os mesmos tanto para M1 como para M2. Os
primeiros exemplos referem-se à M1 como parte do articular ativo e os segundos, como POA passivos.
110
Tendo em vista que os traços [ipsi] e [contra] podem ser contrastivos, esses traços
podem ser especificados no nó corpo2. As formas polimórficas também exibem
rotineiramente um contraste [ipsi] x [contra] na concordância espacial e pronominal, bem
como as formas classificadoras (BRENTARI, 1998).
Figura 72 – Os planos de articulação contrastivos (x, y e z).
Fonte: LUTTGENS; HAMILTON, 1997, p. 38. In: BRENTARI, 1998, p. 121.
contraste lexical. No entanto, esse contraste não pode ser demonstrado em termos de
conjuntos de traços da mesma forma que o(s) articulador(es) e o(s) ponto(s) de articulação
demonstram. A análise da Or deve ser feita em termos relacionais (BRENTARI, 1998).
Os Modelos HM e VP já haviam evidenciado que a orientação subjacente poderia ser
expressada como um conjunto de relações entre os planos de articulação e o local de
articulação no corpo ou os planos de articulação no espaço de sinalização. Contudo, os dois
modelos têm apresentado a problemática da orientação subjacente de diferentes formas.
Considerando-se que não julgamos necessário a exposição da problemática desses modelos,
não iremos tratar nem demonstrar os exemplos aqui. Uma maior aprofundamento dessas
discussões pode ser encontrado em Brentari (1998).
O MP fornece duas formas para a representação das relações de orientação.
Primeiramente, a orientação subjacente é expressada por uma relação única de duas partes, ao
invés de várias relações. A base da mão não é utilizada como uma parte da mão, já que essa
base pode ficar restrita a uma posição enquanto as outras partes admitem diferentes posições.
Um elemento da relação da orientação é a parte da mão, especificada no nó M1, e o outro é o
plano de articulação (x, y ou z). Em segundo lugar, o movimento da mão pode ser
perpendicular ao plano de articulação ou dentro dele, definindo, respectivamente, um traço de
trajetória de [direção] ou de [traçado] (BRENTARI, 1998).
65
Texto de partida: “All well-formed monomorphemic signs have some type of movement.”
113
Quadro 26 – A estrutura dos traços prosódicos (TP).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 130 (tradução nossa).
Existem teóricos que seguem uma vertente que acreditam que a ASL não possui
traços de movimento, considerando-se que todos os movimentos são resultados da
interpolação entre os pontos de estagnação (STACK (1988), UYECHI (1995)). Nessa
vertente, os “movimentos” são vistos como afixos múltiplos que se modificam devido à
mudança na orientação e na locação.
114
Então, a ramificação dos nós de classe dos traços prosódicos do mais distal para o
mais proximal contemplaria:
66
Texto de partida: “[…] the prosodic class nodes are arranged according to phisiological adjacency, placing
shoulders at one end of a range of possibles joints used to articulate a movement and finger joints at the other
end.”
116
67
Texto de partida: “A setting change is the movement between two values in a plane in which the articulator
can move.”
118
Durante esse capítulo, pôde-se evidenciar que o Modelo Prosódico difere tanto do
Modelo HT quanto do Modelo MH. No MP, todos os traços relativos ao parâmetro M – não
apenas os traços de direcionalidade – são alocados numa ramificação específica de modo a
facilitar a interação das operações fonológicas entre esses traços. Apesar do MP adotar uma
representação para o parâmetro CM semelhante ao do Modelo HT (cf. Van der HULST,
1996), os traços relativos à abertura são considerados traços prosódicos. Brentari (1998)
assevera que a investigação fonológica da língua de sinais contribui não apenas para a teoria
fonológica, mas também para a Ciência da Cognição.
Recapitulando, as unidades de análise fonológica são: (a) unidade de tempo
(segmento) – a menor unidade instituída ao nível de tempo; (b) unidade de peso – um nó que
faz parte da classe da ramificação prosódica, que adiciona complexidade ao núcleo silábico e
pode constituir processos fonológicos e morfofonológicos; (c) sílaba – (i) a unidade
prosódica fundamental que pode ser analisada; (ii) (em língua de sinais) um movimento
fonológico, sequencial; (d) nó raiz – o nó ao qual a representação fonológica interconecta os
traços morfossintáticos da forma.
No que tange à questão da sílaba em língua de sinais, Brentari (1998, p. 303) afirma
que “as sílabas do sinal não possuem a distinção onset-rima, mas os TI captam muito da
informação do conteúdo estrutural e os TP detêm as propriedades prosódicas.” Além disso, o
MP adota o conceito de sílaba, considerando que as sílabas do sinal abrangem o peso e as
distinções de duração e se referem a estruturas superiores para determinar as combinações de
movimento de boa-formação e o comprimento da palavra.
Brentari (1998) afirma que há uma complexidade tanto na ramificação inerente
quanto na prosódica. No entanto, é na ramificação da estrutura dos traços prosódicos que as
sílabas e a estrutura prosódica de ordem superior são constituídas. A autora chama de visual
sonority o tipo de complexidade que se encontra na ramificação dos traços prosódicos. Nesse
aspecto, a autora demonstra como a “sonoridade” visual funciona na gramática fonológica da
ASL e determina as condições de boa-formação e os processos fonológicos.
119
68
Os pesquisadores que têm observado as particularidades da sonoridade para as línguas orais, citados por
Brentari (1998) são: Ohala (1990), Dell e Elmedlaoui (1985), Zec (1988), Goldsmith e Larson (1990), Prince e
Smolensky (1993), e Kentowicz (1994), dentre outros.
69
Já nas línguas de sinais, os pesquisadores foram: Sandler (1993), Perlmutter (1992, 1993), Corina (1990) e
Brentari (1990, 1993).
120
Logo, parafraseando as autoras acima citadas, uma questão que se coloca aos
estudiosos dos sinais da linguagem de modalidade viso-gestual seria como registrar de forma
simples, sistemática e não ambígua a descrição dos parâmetros e traços observados numa ou
em várias línguas de sinais de modo que esses dados possam ser lidos e compreendidos por
todos os pesquisadores da área.
Para a transcrições de textos em língua de sinais, tem-se utilizado, comumente, o
“sistema de transcrição de enunciados e textos em língua de sinais”, conforme proposto por
Ferreira-Brito (2010). No entanto, esse sistema não seria cabível para investigações
fonológicas ou morfológicas, já que ele descreve em LP os sinais enunciados em LS. Essa
forma de se “transcrever” pode ser útil para as pesquisas de níveis semântico-pragmáticos,
sintáticos e discursivos.
123
Não é necessário representar visualmente esse sistema aqui, tendo em vista que não
faremos o uso do mesmo no nosso estudo. Pelo que foi visto, a ELiS utiliza-se de
visografemas e diacríticos para representar visualmente os sinais, baseando-se nos quatro
parâmetros – CM, M, PA e Or. A autora que propõe a ELiS descarta as expressões não-
manuais justamente por considerá-las traços prosódicos.
Diante disso, percebe-se que essa proposta é restringida no que tange à representação
das ENM. Essas expressões, conforme discutimos no primeiro capítulo, possuem
significância linguística não apenas para os níveis semântico-pragmáticos, sintáticos e
discursivos, mas também são essencialmente significantes na constituição do sinal. E, por
esse motivo, não poderíamos descartá-la das nossas análises. Com isso, concluímos que a
transcrição por meio do SW nos forneceria muito mais elementos de análise do que a adoção
de quaisquer outras propostas de sistema de escrita ou transcrição para a LS.
Para a análise dos dados, realizamos a comparação entre os sinais constantes dos
corpora e os sinais esperados, após realizar um inventário das CM e dos tipos de M já
adquiridos pelas crianças com base no instrumental utilizado. Os sinais esperados encontram-
se descritos no quadro relativo às ilustrações para coleta de dados do FONOLIBRAS, nos
apêndices das páginas 189 a 195.
Após as comparações realizadas, fizemos as observações referentes aos sinais que
apresentaram “desvios” em relação ao padrão esperado. E, em seguida, exploramo-los e
categorizamo-los em:
a. Assimilação;
b. Elisão;
c. Epêntese;
d. Metátese.
125
71
É pertinente pontuar aqui que o instrumental proposto pode ser de grande valia aos fonoaudiólogos que
seguem uma abordagem bilíngue no trabalho com sujeitos surdos. Para os fonoaudiológos que seguem a vertente
oralista, esse instrumento de avaliação pode não ser útil, e, por essa razão, seria pertinente que esses
profissionais consultassem outros instrumentos cujo enfoque de avaliação é a linguagem oral.
128
Diante do quadro apresentado acima (Quadro 28), pode-se notar que a reflexão
acerca de “o que avaliar” conduz ao “como”, “por que” e “para que” fazer avaliação. Quanto
aos procedimentos e estratégias de avaliação, Acosta et al. (2003) consideram os seguintes
grupos: (a) testes padronizados; (b) escalas de desenvolvimento; (c) observação do
72
Para essa assertiva, esses autores se baseiam nos trabalhos de Bloom (1974), Brown (1973), Bowerman
(1974), Cromer (1976) e Reynell et al. (1985).
129
3. Imitação provocada73;
Busca-se obter informações acerca da capacidade de a criança processar
auditivamente as frases na ausência de um contexto e determinar a capacidade de
memória relativa às frases.
4. Produção provocada.
“[...] o uso de tarefas ou formatos a fim de provocar e obter aspectos específicos
da linguagem da criança” (ACOSTA et al., 2003, p. 29). Essa técnica tem sido
utilizada para avaliar, dentre outros aspectos, o uso de frases negativas ou
interrogativas, além de determinadas locuções ou flexões verbais.
73
Essa imitação provocada compreende “uma tarefa em que a criança deve pôr em evidência sua atenção sua
atenção aos estímulos auditivos, discriminação auditiva e memória a curto prazo” (ACOSTA, 2003, p. 29). No
caso dos sujeitos surdos, essa imitação terá o objetivo de evidenciar a atenção em relação aos estímulos visuais,
discrimação visual e memória de curto prazo, já que o canal de recepção dos surdos é a visão em detrimento da
perda audtiva.
131
“essa figura, o que é?” (em Libras – ISS@ / QUE-É [ENM interrogativa]). A coleta de dados da
linguagem é de suma importância, considerando que:
As amostras de linguagem nos proporciona uma descrição muito clara da
linguagem que a criança utiliza normalmente e nos permite, uma vez
transcrita, realizar a análise pormenorizada de todas as dimensões e
processos da linguagem da criança (ACOSTA et al., 2003, p. 24).
No quadro abaixo, estão dispostas as cinquenta figuras que foram selecionadas para
o instrumental. No quadro, há ainda a indicação da respectiva classe semântica, o vocábulo
em LP e o respectivo vocábulo na escrita da língua de sinais (SW). No que tange aos critérios
de seleção das imagens, é pertinente destacar que: (1) foram considerados tanto os sinais com
formas monomórficas (sinais simples com 1-mão, sinais simples com 2-mãos e sinais
lexicalizados) quanto os sinais com formas polimórficas (nomes derivados e sinais
compostos); (2) as figuras selecionadas contemplam itens lexicais pertinentes ao léxico
infantil; e, (3) foram priorizadas imagens coloridas e sem muitos estímulos. Quanto
à questão
relativa ao balanceamento fonológico, não foi possível realizá-la nesse estudo, tendo-se em
vista que isso demandaria um pouco mais de tempo do que o que fora previsto para a
condução dessa pesquisa. Uma vez que todas essas figuras foram extraídas da internet, por
meio de consulta por imagem no portal www.google.com.br, utilizando-se das palavras-chave
em língua portuguesa e/ou inglesa. Os endereços eletrônicos de cada uma dessas imagens
estão descritos no Apêndice C.
É relevante pontuar que, a fim de que se fosse ratificado os nomes previstos às
respectivas imagens selecionadas, cinco sujeitos surdos adultos usuários fluentes da Libras
foram consultados e corroboraram as pressuposições, para fins de validação do material
udado como estímulo. Além da experiência do pesquisador em atendimento fonoaudiológico
para surdos, os trabalhos de Karnopp (1994, 1999) e Bento (2010) também contribuíram para
a escolha dos itens lexicais desse instrumental, haja vista que os estudos dessas pesquisadoras
versaram sobre a aquisição fonológica da Libras.
Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica
,
1 Frutas ABACAXI
74
Tendo em vista que as imagens aqui postas foram extraídas da Rede Mundial de Computadores (Internet),
indicamos os endereços eletrônicos das mesma no Apêndice C. Optamos por essa forma de referência, a fim de
que os respectivos endereços – alguns muito longos – não poluíssem visualmente o quadro elaborado.
133
Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica
2 Cores AMARELA
Elementos da
4 ÁRVORE
Natureza
5 Brinquedos AVIÃO
,
6 Cores AZUL
7 Frutas BANANA
8 Pessoas BEBÊ
9 Brinquedos BICICLETA
10 Brinquedos BOLA
,
11 Vestimentas BONÉ
12 Brinquedos BONECA
134
Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica
BRINCAR
13 Verbos (ação)
(CARRINHO)
Objetos
14 CADEIRA
familiares
15 Vestimentas CALÇAS
16 Vestimentas CAMISA
17 Brinquedos CARRO
Objetos
18 CASA
familiares
19 Animais CAVALO
Elementos da
20 CHUVA
Natureza
,
21 Verbos (ação) COMER
Objetos
,
22 COMPUTADOR
familiares
Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica
24 Pessoas CRIANÇAS
Elementos da
25 FOGO
Natureza
26 Animais GATO
Objetos
27 GELADEIRA
familiares
28 Pessoas HOMEM
Elementos da
29 LAGO (ÁGUA)
Natureza
30 Frutas LARANJA
31 Frutas MAÇÃ
33 Pessoas MULHER
Elementos da
34 MUNDO
Natureza
136
Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica
39 Animais PÁSSARO
41 Cores ROSA
SANDÁLIA /
42 Vestimentas
CHINELO
43 Vestimentas SAPATO
44 Animais TARTARUGA
Objetos
45 TELEFONE
familiares
137
Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica
46 Frutas UVA
47 Animais VACA
48 Pessoas VELHO
49 Cores VERDE
50 Cores VERMELHA
Após a coleta de dados, mediante a apresentação das imagens acima para registro em
vídeo (com câmera de boa resolução), os dados foram transcritos, conforme descreveremos no
próximo passo.
É pertinente relevar que os vocábulos transcritos/escritos em SW referem-se aos
sinais utilizados pela comunidade surda de Salvador/BA. Em caso de utilização desse
instrumento em outros contextos (outras comunidades surdas do Brasil), sugere-se que seja
realizada a adaptação do sinal correspondente à figura, e o avaliador, por seu turno, deve fazer
a respectiva alteração do sinal esperado em termos de escrita da língua de sinais.
maneira adequada, não copiamos todos os sinais, mas apenas aqueles que continham uma
escrita mais próxima à realidade da sinalização.
A escrita em SW pode ser feita manualmente, sendo que o escritor deverá ter um
bom treinamento nessa área antes de tentar utilizar-se desse sistema para transcrições. Além
da escrita manual, pode-se utilizar o software SW Edit. 75 Sobre essa “ferramenta”, é
pertinente destacar que
O sistema desenvolvido SWEdit tem, como principal funcionalidade, a
edição de textos em línguas de sinais, baseado no sistema de escrita
SignWriting. Permite também a inclusão de textos em linguagem oral,
figuras e imagens, drag & drop entre diferentes programas, salvar e carregar
arquivos no formato SWML[76] (SignWriting Markup Language). Apresenta
uma base de dados expansível e inclui dicionários. [...] Além disso, a
interface e as ferramentas são similares a dos editores de texto comumente
utilizados. Isto torna a interface bem mais amigável, pois mesmo tendo sido
projetada para pessoas surdas, um ouvinte pode aprender a utilizá-la apenas
interpretando as funcionalidades similares a outros editores, o que se aplica
também aos surdos (TORCHELSEN; COSTA; DIMURO, 2011, p.3).
O software acima descrito foi desenvolvido para ser utilizado com o sistema
operacional Microsoft Windows. Tendo em vista que o computador utilizado para a escrita
dessa Dissertação, bem como para a transcrição e análise dos dados, foi uma plataforma
operacional diferente – ou seja, Mac OS X, versão 10.6.8 –, utilizamos um miniprograma
denominado “Sign Text Editor”, em formato HTML, para a edição de todos os sinais
escritos/transcritos em SW que se encontram nessa Dissertação. Após a transcrição de cada
sinal, os mesmos foram transpostos para cá por meio do recurso de exportação de imagem em
formato JPEG ou PNG.
Além do objetivo de fazer um levantamento das unidades mínimas distintivas que já fazem
parte do sistema fonológico, o FONOLIBRAS também contempla: (1) a comparação entre o
sinal transcrito e o modelo determinado como esperado; e, (2) o escrutínio dos processos
fonológicos subjacentes aos sinais perscrutados.
Quanto aos critérios de julgamento dos sinais eliciados em termos de acerto/erro, o
FONOLIBRAS considera:
Após a coleta de dados, deverá ser feito um inventário em termos de CM. Baseando-
se nos sinais indicados como esperados no Quadro 30 em SW, inventariamos as CM de nosso
instrumental:
Grupo 1 Grupo 2
Grupo 3 Grupo 4
Grupo 6
Grupo 5
[Não temos nenhum sinal com as CM desse [Não temos nenhum sinal com as CM desse
grupo do nosso instrumento avaliativo] grupo do nosso instrumento avaliativo]
Grupo 10
Grupo 9
Quadro 30 – Inventário das CM do FONOLIBRAS por agrupamento.78
77
Na Libras, há ocorrência de uso de uma das CM desse agrupamento (dedos selecionados [anular] e [médio]).
Os sinais que possuem essa CM são: NOIVO, DROGAS e HOMOSSEXUAL (em algumas regiões do Brasil).
78
Esses grupos foram separados de acordo com a proposta do SW. Vale mencionar ainda que algumas CM que
representam formas alofônicas de alguns sinais também foram selecionadas para esse inventário. Nesse
instrumental, parece não haver as CM do grupo 4, no entanto, as mesmas foram selecionadas, tendo em vista que
elas podem emergir nos sinais eliciados como variantes alofônicas. Por exemplo, o sinal de CASA (vide fig. 1)
pode ser feito com a CM descrita lá naquela imagem ou com uma leve alteração no posicionamento do dedo
polegar ([aberto] ou [fechado]).
141
É importante lembrar que, uma vez que o FONOLIBRAS pode ser adaptado a outras
comunidades de fala, os sinais esperados poderão ser modificados, adequando-se assim ao
contexto sociolinguístico. Caso isso ocorra, o inventário também deve ser revisado, a fim de
adequar-se ao “novo” contexto.
79
A fim de que as identidades das crianças fossem preservadas, os nomes aqui utilizados são hipotéticos.
142
Gráfico 1 – Desempenho dos sujeitos no FONOLIBRAS.
Uma vez que a análise qualitativa foi muito mais relevante à nossa pesquisa, abaixo
teceremos algumas considerações com base nas observações realizadas durante o período de
coleta de dados e transcrições dos mesmos. Os achados mais relevantes descreveremos no
tópico relativo aos processos fonológicos da Libras.
A partir daqui, serão expostos os achados concernentes às transcrições fonológicas
dos sujeitos participantes desse estudo.
,
1 ABACAXI 2
2 AMARELA 1
3 ANDAR ∅ 0
4 ÁRVORE 1
5 AVIÃO 2
,
6 AZUL 1
7 BANANA 2
8 BEBÊ 1
9 BICICLETA 2
144
10 BOLA 2
11 BONÉ
, 2
12 BONECA 1
BRINCAR
13 2
(CARRINHO)
14 CADEIRA 1
,
15 CALÇAS 1
16 CAMISA 2
17 CARRO 2
18 CASA 2
19 CAVALO 1
20 CHUVA 2
145
,
21 COMER 2
,
22 COMPUTADOR 2
23 CORRER ∅ 0
24 CRIANÇAS 1
25 FOGO 1
26 GATO 1
27 GELADEIRA ∅ 0
28 HOMEM 1
29 LAGO (ÁGUA) 1
30 LARANJA 1
31 MAÇÃ 1
32 MÃO 2
146
33 MULHER 1
34 MUNDO 0
35 NADAR 1
36 NARIZ 1
37 OLHOS 1
38 ORELHA 1
39 PÁSSARO 1
40 PÉS 1
41 ROSA ∅ 0
SANDÁLIA /
42 1
CHINELO
43 SAPATO 1
147
44 TARTARUGA 2
45 TELEFONE 1
46 UVA 1
47 VACA 1
48 VELHO ∅ 0
49 VERDE ∅ 0
50 VERMELHA ∅ 0
Total de Pontos 57
Quadro 33 – Transcrições Fonológicas de André (S1).
• André possui adactilia do polegar da mão direita. Por essa razão, ele utiliza-se
majoritariamente a ME como M1;
• Observou-se a presença de muitas repetições quando lhe era indagado algo;
• Na figura 6 (referente à cor AZUL), André (S1) aponta para a porta da sala, que era
da cor azul;
• A CM em “V” ou “2” da ME que se iniciou na figura 17 perseverou até a figura 22.
Para fins de economia na transcrição dos sinais, ocultamos essa mão na transcrição de
alguns sinais;
148
• Na transição da figura 22 para a figura 23, ele substituiu a CM em “V” ou “2” pela
configuração em “W” ou “3” mediante a abertura do dedo anelar. Logo após, na figura
23, não houve sinalização;
• Após a eliciação do sinal da figura 25, a criança faz uma brincadeira: com a CM da
ME (dedos selecionados não-flexionados (polegar e indicador), dedos não-
selecionados flexionados (médio, anelar e mindinho), ele pega a gola da camisa do
pesquisador com a MD, puxa-a e, em seguida, joga a configuração relatada da ME
para dentro da camisa. O possível sentido desse ato seria “jogar uma bomba”.
Registramos o fato aqui, mas não o transcrevemos, já que não julgamos necessário
para fins de nossa análise;
• Observou-se que todas as referências dêiticas que essa criança faz para fora da sala
são para elementos que estão na parte externa. Isso também pode indicar um processo
de generalização, que é bastante comum no processo de aquisição da linguagem. Da
sinalização dele, pontuamos os exemplos: PÁSSARO, CAVALO.
,
1 ABACAXI 2
2 AMARELA 1
3 ANDAR 1
4 ÁRVORE 1
5 AVIÃO 2
,
6 AZUL 2
7 BANANA 2
149
8 BEBÊ 2
9 BICICLETA 2
10 BOLA 2
11 BONÉ
, 2
12 BONECA 2
BRINCAR
13 2
(CARRINHO)
14 CADEIRA 2
,
15 CALÇAS 2
16 CAMISA 2
17 CARRO 2
18 CASA 2
19 CAVALO 2
20 CHUVA 2
150
,
21 COMER 2
,
22 COMPUTADOR 2
23 CORRER 1
24 CRIANÇAS 1
25 FOGO 2
26 GATO 2
27 GELADEIRA 2
!
28 HOMEM 1
29 LAGO (ÁGUA) 1
30 LARANJA 1
,
31 MAÇÃ 2
32 MÃO 2
33 MULHER 0
151
34 MUNDO 2
35 NADAR 2
36 NARIZ 2
37 OLHOS 2
38 ORELHA 2
39 PÁSSARO 1
40 PÉS 1
41 ROSA 2
SANDÁLIA /
42 1
CHINELO
43 SAPATO 1
44 TARTARUGA 2
45 TELEFONE 2
46 UVA 2
152
47 VACA 2
48 VELHO 0
49 VERDE 2
50 VERMELHA 2
Total de Pontos 84
Quadro 34 – Transcrições Fonológicas de Wilson (S2)
,
1 ABACAXI 2
153
2 AMARELA 2
3 ANDAR 1
4 ÁRVORE 2
5 AVIÃO 2
,
6 AZUL 2
7 BANANA 2
8 BEBÊ 1
9 BICICLETA 2
10 BOLA 1
11 BONÉ
, 2
12 BONECA 1
BRINCAR
13 2
(CARRINHO)
14 CADEIRA 2
154
,
15 CALÇAS 1
16 CAMISA 2
17 CARRO 2
18 CASA 2
19 CAVALO 1
20 CHUVA 2
,
21 COMER 2
,
22 COMPUTADOR 2
23 CORRER 2
24 CRIANÇAS ∅ 0
25 FOGO 2
26 GATO 2
27 GELADEIRA ∅ 0
155
28 HOMEM 1
29 LAGO (ÁGUA) 1
30 LARANJA 2
31 MAÇÃ 2
32 MÃO 2
33 MULHER 2
34 MUNDO 1
35 NADAR 2
36 NARIZ 2
37 OLHOS 2
38 ORELHA 2
39 PÁSSARO 2
156
40 PÉS 1
41 ROSA 1
SANDÁLIA /
42 1
CHINELO
43 SAPATO 1
44 TARTARUGA 1
45 TELEFONE 2
46 UVA 2
47 VACA 2
48 VELHO 2
49 VERDE 1
50 VERMELHA 2
Total de Pontos 81
Quadro 35 – Transcrições Fonológicas de Pedro (S3).
157
,
1 ABACAXI 2
2 AMARELA 2
3 ANDAR 2
4 ÁRVORE 2
5 AVIÃO 2
,
6 AZUL 2
158
7 BANANA 2
8 BEBÊ 2
9 BICICLETA 2
10 BOLA 2
11 BONÉ
, 2
12 BONECA 1
BRINCAR
13 2
(CARRINHO)
14 CADEIRA 2
,
15 CALÇAS 2
16 CAMISA 1
17 CARRO 2
18 CASA 2
19 CAVALO 2
159
20 CHUVA 2
,
21 COMER 2
,
22 COMPUTADOR 2
23 CORRER 2
24 CRIANÇAS 1
25 FOGO 2
26 GATO 2
27 GELADEIRA 2
28 HOMEM 1
29 LAGO (ÁGUA) 1
30 LARANJA 2
31 MAÇÃ 2
160
32 MÃO 1
33 MULHER 2
34 MUNDO 2
35 NADAR 2
36 NARIZ 2
37 OLHOS 1
38 ORELHA 2
39 PÁSSARO 2
40 PÉS 1
41 ROSA 2
SANDÁLIA /
42 2
CHINELO
43 SAPATO 1
44 TARTARUGA 1
161
45 TELEFONE 2
46 UVA 2
47 VACA 2
48 VELHO 2
49 VERDE 2
50 VERMELHA 1
Total de Pontos 89
Quadro 36 – Transcrições Fonológicas de Tiago (S4).
• Tiago já domina bem a Libras. Em vários momentos, ele formou frases gramaticais
em Libras a partir dos sinais apresentados pelo instrumental. Além disso, em vários
momentos, ele relatou pequenas “histórias” em LS a partir de alguns sinais eliciados;
• Para a figura 24, os sinais dêiticos foram removidos da nossa transcrição;
• Durante todo período de gravação para a coleta de dados, Tiago demonstrou fluência
na LS, apesar de possuir o perfil SSFPO. É bem provável que o período de
escolarização – já estuda há três anos em escola de surdos – tenham favorecido a
aquisição da Libras como L1;
• Ele obteve um bom desempenho durante a aplicação do FONOLIBRAS, tendo em
vista que a maioria das figuras foram sinalizadas adequadamente e mesmo as que não
obtiveram output conforme o esperado pertenciam ao mesmo campo semântico.
162
É bem provável que Liddell e Johnson (1989) tenham sido os primeiros autores a
descreverem a operação dos processos fonológicos na língua de sinais. Discorrendo a respeito
desses processos aplicados aos sinais, esses autores preambulam que:
As sequências fonológicas contêm ainda um outro tipo de detalhe previsível,
com base em processos fonológicos, produzindo alternâncias entre as formas
de superfície. Estes processos são tipicamente descritos por um complexo de
regras fonológicas, cada uma das quais podem alterar alguns detalhes da
representação de uma forma ou acrescentar informações fonológicas não-
lexicais a uma cadeia. A ação combinada desses processos, em última
análise, deriva a representação da superfície da sequência (LIDDELL;
JOHNSON, 2005, p. 303, tradução nossa).80
Liddell e Johnson (2005, p. 303, tradução nossa) afirmam ainda que “os processos
fonológicos influenciam apropriadamente a forma fonética das cadeias fonológicas.” Os
processos fonológicos descritos por esses autores foram: epêntese de movimento (movement
epenthesis), apagamento da preensão (hold deletion), metátese (metathesis), geminação
(gemination), assimilação (assimilation), redução (reduction), e perseveração e antecipação
(perseveration and anticipation). Doravante, descrever-se-á cada um desses processos com
base nos pressupostos dos autores em questão.
A epêntese de movimento acontece na fronteira entre dois sinais. Esse tipo de
processo envolve uma operação relativamente simples: há a adição de um movimento no
limiar entre a mão da postura que termina um sinal e a posição articulatória de início do sinal
posterior. Um exemplo de epêntese de movimento acontece na expressão MOTHER MULL-
OVER (Fig. 74).
80
Texto de partida: “The phonological strings contain still another sort of predictable detail, traceable to
phonological processes, producing alternations among surface forms. These processes are typically described by
a complex of phonological rules, each of which may alter some detail of the representation of a form or add
nonlexical phonological information to a string. The combined action of these processes ultimately derives the
surface representation of the string.”
163
Figura 74 – Processo fonológico de epêntese (LIDDELL; JOHNSON, 1989).
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 304.
Figura 75 – Processo fonológico de elisão (LIDDELL; JOHNSON, 1989).
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 305.
iniciais são alternados com os dois segmentos finais. Por exemplo, na expressão “MOTHER
## DEAF” (MÃE ## SURDA), que significa “a mãe é surda”, o sinal “MOTHER” (mãe),
cujo ponto de articulação é no queixo, faz com que o sinal “DEAF” (surdo) seja produzido
alternando-se o ponto de contato inicial e o final, conforme demonstrada na imagem esquerda
da Figura 76.
Figura 76 – Processo fonológico de metátese (LIDDELL; JOHNSON, 1989).
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 306-7.
Embora seja um fenômeno raro na ASL, pode ocorrer que o segmento terminal de
um sinal seja idêntico ao segmento inicial do sinal seguinte. Observe a seguinte sentença:
81
Esse exemplo é citado por Liddell e Johnson (1989). A tradução da sentença significa “mamãe realmente
odeia espaguete”.
165
“ME” (eu) assimila a CM de “GULP”. Esse exemplo está ilustrado na Figura 77.
Figura 77 – Processo fonológico de assimilação (LIDDELL; JOHNSON, 1989).
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 306-7.
82
A tradução dessa sentença significa “mamãe estava me olhando e eu estava nervoso pelo que ia acontecer”.
166
a perseveração dos traços do sinal formador ou há a assimilação dos traços do sinal seguinte,
ou ambas.
Baseando-se no trabalho de Liddel e Johnson (1989), além das influências dos
estudos de Lucas, Bayley e Valli (2001), Valli e Lucas (2000), ao descreverem os aspectos
linguísticos da ASL, pontuam que algumas variações que ocorrem nos parâmetros que
constituem essa língua são devidos aos processos fonológicos. Os processos destacados por
esses autores referem-se a: (1) a epêntese de movimento, (2) a elisão da parada pós-
movimento, (3) a metátese e (4) a assimilação. Os processos descritos por esses autores não
serão expostos aqui, tendo em vista que suas descrições ratificam as mesmas descritas por
Liddell e Johnson (1989).
Alguns críticos poderiam questionar: será que esses processos acima descritos como
fonológicos não seriam do âmbito morfológico? Diríamos que não, tendo em vista os
processos de nível morfológico estariam relacionados à produção de palavras e os processos
acima especificados são sensíveis apenas à base fonológica. Os processos morfológicos
adicionam as informações de ordem morfológica, que são os morfemas ou os “feixes de
traços significativos” (meaningful feature bundles), segundo Liddell e Johnson (1989). Em
relação aos processos morfológicos em LS, teríamos: os processos de inserção de traços nas
raízes e os processos que operam em ramos específicos (os frames, a reduplicação e a
afixação) (LIDDEL; JOHNSON, 1989).
Os processos fonológicos imbricados nos sinais não devem ser apenas analisados
numa perspectiva paramétrica, i.e., a análise não deve se basear tão-somente nos parâmetros
(CM, M, PA, Or e ENM). Considerando que o MP, discorrido no segundo capítulo dessa
Dissertação, possui fundamentos teóricos mais profundos para a análise fonológica dos sinais,
é pertinente o detalhamento dos parâmetros em termos de traços inerentes e prosódicos, a fim
de que a fonologia da língua de sinais seja profundamente examinada.
Enfim, foi de extrema relevância a exposição dos estudos no que tange aos processos
fonológicos em LS, tendo em vista que, se esses processos são universais (i.e., são existentes
em todas as línguas humanas), podemos encontra-los, outrossim, nas LS. Apesar de não
termos classificado os nossos achados de acordo com os estudos relatados nesse tópico,
adotaremos pelo menos a mesma definição dos teóricos/pesquisadores da ASL.
167
4.5.2.1 Assimilação
CAMISA.
Descrição do sinal: Mão direita horizontal aberta, palma para dentro, com a ponta do indicador e
polegar segurar um pedaço da roupa, do lado direito do peito, e balançar as mãos (CAPOVILLA;
RAPHAEL, 2008, p. 1154, adaptado).83
Quadro 37 – Processo de assimilação dos traços da M1.
Informante: S1.
4.5.2.2 Elisão
ÁRVORE.
Descrição do sinal: “Braço direito vertical dobrado, mão vertical aberta, palma para frente; mão
esquerda aberta, palma para baixo, dedos separados e curvados, cotovelo apoiado no dorso da mão
esquerda. Girar a palma direita para trás, duas vezes” (CAPOVILLA; RAPHAEL, 2008, p. 229).
Quadro 38 – Processo de elisão da M2 concomitante ao apagamento do M com trajetória da M1.
Informante: S1.
83
A descrição do sinal aqui relatada foi adapatado a partir da entrada lexical – ROUPA – do dicionário editado
pelos autores em questão. É relevante destacar que na descrição dessa entrada o sinal é realizado com as duas
mãos. No entanto, optamos pelo adoção do sinal esperado com 1-mão, porque essa representa a variante
utilizada na comunidade surda de Salvador para o termo “ROUPA” ou “CAMISA” em Libras.
169
CHUVA.
Descrição do sinal: “Mãos horizontais abertas, palmas para baixo, dedos separados e curvados a cada
lado da cabeça. Mover as mãos para baixo e para cima, várias vezes” (CAPOVILLA; RAPHAEL,
2008, p. 407).
Quadro 39 – Processo de elisão da M2.
Informante: S2.
4.5.2.3 Epêntese
VACA.
Descrição do sinal: “Mão direita em Y, palma para baixo, ponta do polegar tocando o lado direito da
testa. Virar a palma para frente.” (CAPOVILLA; RAPHAEL, 2008, p. 1297).
Quadro 41 – Processo de epêntese da M2 por assimilação dos traços da M1.
Informante: S2.
4.5.2.4 Metátese
VERMELHO.
Descrição do sinal: “Mão direita em 1, com a ponta do indicador tocando abaixo do lábio inferior.
Movê-la, ligeiramente, para baixo, curvando o dedo indicador, duas vezes” (CAPOVILLA;
RAPHAEL, 2008, p. 1312).
Quadro 43 – Processo de metátese.
Informante: S2.
Diante de tudo o que foi afirmado no texto dessa Dissertação, pode-se constatar que
há relevância nas pesquisas da língua de sinais, especificamente no que se refere ao exame
fonológico. As investigações linguísticas são de ext rema relevância e devem ser fomentadas
no que se refere às diferentes línguas de sinais considerando que
[...] todos os anseios por pesquisas futuras se baseiam na premissa de que as
crianças surdas continuam a ser expostas às línguas de sinais e continuam a
adquirir tais línguas. Esse é o componente mais importante do futuro da
pesquisa em aquisição de línguas de sinais (LILLO-MARTIN, 2008, p. 207).
Não queremos, portanto, “concluir”. Talvez, esse não seja o verbo irreprochável para
se finalizar uma pesquisa científica. Não obstante aos vários sentidos que o termo conclusão
carrega, poderíamos enumerar e meditar que: (1) se a conclusão portar o sentido de “término”
ou “ajusto definitivo”, ela não nos será cabível; (2) se a conclusão pressupor o caminho das
“inferências” ou “deduções finais”, aí sim ela nos será de grande valia.
Nessa Dissertação, buscou-se apresentar novas perspectivas teóricas no que tange à
análise fonológica da língua de sinais com vista à confecção de um instrumento avaliativo que
pudesse dar conta da visualização do sinal numa estrutura arbórea, e, além disso, demonstrar
os processos fonológicos que podem ser encontrados na Libras. Evidentemente, a proposta
descrita aqui apresentou algumas limitações metodológicas sobretudo no que diz respeito ao
balanceamento fonológico e ao número de sujeitos participantes da amostra para o estudo. Por
esse motivo, “não queremos concluir”, mas queremos que o que aqui fora exposto sirva de
norte para o desdobramento de futuras pesquisas no tocante à elaboração de instrumental para
avaliação fonológica da Libras e à pesquisa dos processos fonológicos.
Num primeiro momento, buscou-se uma definição de fonologia mais genérica que se
adequasse tanto à investigação fonológica das línguas orais quanto a das línguas de sinais.
Nesse aspecto, obsecramos o seguinte conceito: “a fonologia deve ser conceituada em termos
de ciência da linguagem humana que se ocupa do estudo das unidades mínimas que
estão no primeiro nível de análise linguística” (vide cap. 1, pág. 33). É notório que essas
unidades mínimas existem tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais. Os estudiosos
das línguas de sinais, sobretudo os da Língua Americana de Sinais, têm adotado o conceito de
fonema também para as línguas sinalizadas. Nessa Dissertação, optamos pelo uso do termo
“unidade mínima distintiva”, já que o conceito de fonema, em nosso meio, ainda continua
vinculado à questão do som, e não tenderemos a ser subversivos por ora. Outro conceito que
175
preferimos não adotar, por enquanto, diz respeito à noção de sílaba, apesar de o fundamento
teórico que adotamos em nossa pesquisa – o Modelo Prosódico – conceituar e apresentar os
tipos de sílaba para a ASL, conforme pontuamos sucintamente no segundo capítulo.
Expomos também os principais modelos fonológicos que tem sido desenvolvido para
a investigação das línguas de sinais. Esses modelos são de suma importância para a
construção de um teoria fonológica das línguas de sinais. Contudo, algumas lacunas
perseveram no campo das pesquisas fonológicas em línguas de sinais. Percebeu-se que cada
modelo fonológico utiliza-se de uma ou outra forma de “anotar” os sinais para análise. Isso
pode-se constituir uma barreira no sentido de que os fonólogos das línguas de sinais não estão
“falando” a mesma linguagem. Dessa forma, a construção dos fundamentos teóricos para uma
fonologia dos sinais torna-se mais intricada.
Diante do exposto, seria interessante se fonólogos das línguas de sinais se reunissem
num tipo de encontro internacional, a fim de convencionar alguns preceitos das pesquisas
nessa área. Esses preceitos poderiam incluir: (i) catalogação de todas as possibilidades
articulatórias para o parâmetro CM, a fim de se criar um “Alfabeto “Fonético” Internacional”
das línguas de sinais, que poderia se chamar SLIPA – Sign Language International Phonetic
Alphabet; e, (ii) padronização de um sistema de transcrição dos sinais com base no SLIPA
(hipótese nossa, mas poderá ser outra nomenclatura) ou no SW. Dessa forma, a barreira
comunicativa entre os diferentes fonólogos das diversas línguas de sinais seria erradicada
diante de um padrão de linguagem universal, ou seja, todos estariam falando a mesma
“língua” do ponto de vista fonológico.
Tudo indica que a principal contribuição da nossa pesquisa para a área da LS foi a
apresentação dos processos fonológicos encontrados. Possivelmente, outras análises poderão
ou ratificar as nossas deduções ou emoldurar os processos aqui descritos em outros sistemas
de classificação. Os sinais transcritos e descritos que representaram formas aparentemente
claudicantes 84 poderão servir de base para futuras investigações no que se refere aos
processos fonológicos ou processos de simplificação fonológica em língua de sinais.
Ademais, esses processos poderão ser observados na fala infantil de crianças surdas na fase de
aquisição da Libras como primeira língua, com ou sem atraso, o que gera uma boa fonte de
pesquisa para os estudiosos interessados nessa área do conhecimento.
84
Vale lembrar que as pronúncias infantis não devem ser vistas meramente como “erradas” em relação ao
padrão de fala dos adultos (TEIXEIRA, 1998). As produções aparentemente “erradas”, que podem se apresentar
através de processos de substituição, distorção, elisão, epêntense, dentre outros, podem indicar um processo
natural de aquisição da linguagem ou uma reprodução dos processos que podem persistir também no padrão
linguístico dos adultos.
176
Um dos nossos grande desafios, que não conseguimos desbaratar por ora, refere-se à
divisão dos processos fonológicos achados em normais ou desviantes. 85 Certamente, a
reavaliação do instrumental apresentado e, consequentemente, a busca pela validação do
mesmo, a partir de um estudo normativo, poderão indicar o caminho possível para a distinção
entre os processos desviantes e os normais. Certamente, a validação do mesmo deverá
contemplar o público dos sujeitos surdos adultos que sejam usuários fluentes da Libras, haja
vista que essa população poderá fornecer dados relevantes quanto aos processos fonológicos
prevalentes no padrão adulto.
Conforme já tínhamos pontuado anteriormente, é relevante frisar que a análise
fonológica da Libras deve adotar modelos teóricos que não se encerram numa perspectiva
paramétrica. Afinal, o campo da fonologia das línguas de sinais ainda tem muito a nos revelar
e perfilhar-se a um modo de análise puramente paramétrica poderia cauterizar fenômenos
linguísticos de extrema relevância.
85
Utilizamos aqui o termo “normal” se referindo ao comportamento adotado pela maioria dos indivíduos em um
determinado grupo etário selecionado. Já o conceito de “desviante” está relacionado aos processos que, apesar de
serem naturais no período da aquisição da linguagem, são patológicos se perseverarem após esse período.
177
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Libras e dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil,
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1983. p. 314-336.
CARTA DE ANUÊNCIA
Declaro, para os devidos fins, que autorizo a realização da pesquisa intitulada "Proposta de
Instrumento para a Avaliação Fonológica da Língua Brasileira de Sinais: FONOLIBRAS",
desenvolvida pelo pesquisador e mestrando Roberto César Reis da Costa (CRFa. 10.348-BA).
Os sujeitos que participarão da pesquisa são alunos devidamente matriculados nesta
Instituição e se encontram sob acompanhamento fonoaudiológico do referido pesquisador.
Declaro ainda que a autorização para participação na pesquisa, quando se tratar de sujeito
menor de idade, deverá ser fornecida pelo seu representante legal.
Testemunha Testemunha
193
I. ANAMNESE
Nome:
Data Nasc.: Idade Atual (a/m):
Endereço:
Bairro: CEP: Telefone:
!Celular: Trabalho:
Nome do Pai: Profissão:
Escolaridade: Idade:
Nome da Mãe: Profissão:
Escolaridade: Idade:
Nº de irmãos ou quantidade de irmãos que moram na mesma casa: __________
Gravidez /parto
( ) Espontâneo (normal) ( ) Cesário
Tempo de parto _____ m
Houve intercorrência(s)? Qual(is)?
Condições do Recém-nascido
Anóxia ( ) Sim ( ) Não
Fototerapia ( ) Sim ( ) Não
Peso _____ Kg Estatura _____ cm
Observações:
Data da
Figura Endereço da imagem
pesquisa
1 Abacaxi http://www.clipartheaven.com/clipart/food_&_drink/fruits/pineapple 27 fev. 2011
_4.gif
2 Amarelo http://www.clker.com/cliparts/c/5/5/1/1242802836389564397Quebec 27 fev. 2011
.svg.med.png
3 Andar http://www.freeclipartnow.com/d/11421-1/walk-to-school.jpg 27 fev. 2011
4 Árvore http://www.clipart-fr.com/en/data/clipart/trees/tree_057.jpg 04 fev. 2011
5 Avião http://img368.imageshack.us/img368/1075/aircraftboeing747fen1.pn 23 fev. 2011
g
6 Azul http://www.clker.com/cliparts/c/c/f/b/1242810914295343767Unicod 27 fev. 2011
e-267F-on-blue.svg.med.png
7 Banana http://www.foodclipart.com/food_clipart_images/delicious_peeled_b 27 fev. 2011
anana_ripe_and_tasty_0515-0906-0721-3528_SMU.jpg
8 Bebê http://www.arthursclipart.org/children/babiescol/baby.gif 23 fev. 2011
9 Bicicleta http://4photos.net/photosv2/bikes_clipart_1277893775.jpg 23 fev. 2011
10 Bola http://www.anuncommonfamily.com/wp- 04 fev. 2011
content/uploads/2011/08/soccer-ball.jpg
11 Boné http://www.leehansen.com/clipart/Themes/Sports/images/baseball- 27 fev. 2011
cap-green.gif
12 Boneca http://www.clipartmojo.com/plugins/Clipart/ClipartStock1/Girl%20P 30 jul. 2011
laying%20with%20Doll%201.png
13 Brincar http://www.clker.com/cliparts/1/5/e/1/11954221391976235078johnn 27 fev. 2011
y_automatic_boy_playing_with_toy_truck.svg.med.png
14 Cadeira http://allcoloringpictures.com/download/chair1.jpg 04 fev. 2011
15 Calças http://www.freeclipartnow.com/d/17140-1/trousers.jpg 27 fev. 2011
16 Camisa http://www.clker.com/cliparts/t/i/F/O/L/U/purple-shirt-hi.png 27 fev. 2011
17 Carro http://4.bp.blogspot.com/- 18 fev. 2011
4_GkF6DuSHg/Tk1N5wOhSEI/AAAAAAAAABY/Diq5gZh6xsU/s
1600/car_clipart.jpg
18 Casa http://www.123desenhosparacolorir.com/images/house-coloring- 04 fev. 2011
pages-2/house-coloring-pages-2.jpg
19 Cavalo http://www.arthursclipart.org/horses/horses/saddlebreed.gif 18 fev. 2011
20 Chuva http://images.all-free- 27 fev. 2011
download.com/images/graphiclarge/rain_cloud_clip_art_17461.jpg
21 Comer http://www.clker.com/cliparts/3/4/6/2/1263376421879605336Girl%2 27 fev. 2011
0Eat.svg.med.png
22 Computador http://www.business- 04 fev. 2011
clipart.com/business_clipart_images/pc_computer_with_keyboard_m
onitor_and_tower_0515-0909-2116-0515_SMU.jpg
23 Correr http://www.valdosta.edu/~alharbach/sports_run.gif 10 fev. 2011
24 Crianças http://www.zezu.org/wp-content/uploads/2011/07/cartoon-children- 23 fev. 2011
clip-art-vector.jpg
25 Fogo http://www.clker.com/cliparts/0/6/4/c/11954346011753238394valess 27 fev. 2011
iobrito_Fire_June_holiday_s.svg.med.png
26 Gato http://www.cliparttop100.com/clipart/cache/Animals/Cats/cat-clip- 18 fev. 2011
art-009_595.jpg
27 Geladeira http://www.clker.com/cliparts/6/0/9/4/11954241651773699017ryanle 27 fev. 2011
rch_fridge_outline.svg.med.png
28 Homem http://www.aperfectworld.org/clipart/communications/man_dialing.p 23 fev. 2011
ng
29 Lago http://www.clipartheaven.com/clipart/landscapes/mountains_&_lake. 27 fev. 2011
gif
30 Laranja (fruta) http://www.clker.com/cliparts/8/4/f/2/11949861441514894570orange 23 fev. 2011
_dave_pena_01.svg.hi.png
31 Maçã http://www.clker.com/cliparts/3/7/5/6/11949861182029597463an_ap 27 fev. 2011
ple_01.svg.med.png
196
Data da
Figura Endereço da imagem
pesquisa
32 Mão http://cliparts101.com/files/877/E1FF25147853DFB8FC33DD846A5 23 fev. 2011
CFAE1/lrg_hand.png
33 Mulher http://images.paraorkut.com/img/clipart/images/b/blue_bird-65.gif 23 fev. 2011
34 Mundo http://www.clker.com/cliparts/b/f/0/3/1195421721682602329johnny 27 fev. 2011
_automatic_earth.svg.med.png
35 Nadar http://clipartspot.net/clipart-pics/swimming-clip-art-6.jpg 27 fev. 2011
36 Nariz http://www.do2learn.com/picturecards/images/imageschedule/nose_l. 30 ago. 2011
gif
37 Olhos http://www.tattoodonkey.com/pics/e/y/eyes-clip-art-vector-online- 18 fev. 2011
royalty-free-amp-public-domain-.-o-tattoodonkey.com.jpg
38 Orelha http://www.qacps.k12.md.us/ces/clipart/Carson%20Dellosa%20Clipa 27 fev. 2011
rt/Carson%20Dellosa%20Letters%20and%20Numbers/Images/Color
%20Images/Clip%20Art/EAR.jpg
39 Pássaro http://images.paraorkut.com/img/clipart/images/b/blue_bird-65.gif 23 fev. 2011
40 Pés http://cliparts101.com/files/323/B4B033011CD99FFAF7F57C624F3 30 ago. 2011
98A5A/lrg_Feet_8.png
41 Rosa (cor) http://www.ribbustingjokes.com/lilsusieq/scrapbook/shapes/squares2/ 27 fev. 2011
square_solid_pink3.png
42 Sandália http://www.openclipart.org/people/netalloy/flipflops.svg 27 fev. 2011
43 Sapatos http://cdn.dailyclipart.net/wp- 27 fev. 2011
content/uploads/medium/clipart0214.jpg
44 Tartaruga http://images.all-free- 23 fev. 2011
download.com/images/graphiclarge/green_sea_turtle_clip_art_6514.j
pg
45 Telefone http://www.clker.com/cliparts/f/0/1/b/1194986423899936796telefon 23 fev. 2011
o_email_frolland_01.svg.med.png
46 Uva http://www.cksinfo.com/clipart/food/fruits/grapes/grapes.png 27 fev. 2011
47 Vaca http://www.cartoonclipartworld.com/cartoonfarmanimals/images/022 23 fev. 2011
03_600.gif
48 Velho http://www.aperfectworld.org/clipart/cartoons/old_man.png 23 fev. 2011
49 Verde http://www.ribbustingjokes.com/lilsusieq/scrapbook/shapes/squares2/ 27 fev. 2011
square_solid_green4.png
50 Vermelho http://www.ribbustingjokes.com/lilsusieq/scrapbook/shapes/squares2/ 27 fev. 2011
square_solid_red5.png
197
,
1 ABACAXI
2 AMARELA
3 ANDAR
4 ÁRVORE
5 AVIÃO
,
6 AZUL
7 BANANA
8 BEBÊ
9 BICICLETA
10 BOLA
11 BONÉ
,
12 BONECA
BRINCAR
13
(CARRINHO)
198
,
15 CALÇAS
16 CAMISA
17 CARRO
18 CASA
19 CAVALO
20 CHUVA
,
21 COMER
,
22 COMPUTADOR
23 CORRER
24 CRIANÇAS
25 FOGO
26 GATO
27 GELADEIRA
199
28 HOMEM
29 LAGO (ÁGUA)
30 LARANJA
31 MAÇÃ
32 MÃO
33 MULHER
34 MUNDO
35 NADAR
36 NARIZ
37 OLHOS
38 ORELHA
39 PÁSSARO
40 PÉS
41 ROSA
200
43 SAPATO
44 TARTARUGA
45 TELEFONE
46 UVA
47 VACA
48 VELHO
49 VERDE
50 VERMELHA
Observações gerais:
201
ABACAXI 132
AGORA/HOJE 55
(2)
(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 170-71).
AMAR 25
AMARELO(A) 133
133, 168-
ÁRVORE
170
ASSOBIAR 54
AVIÃO 133
AZUL 133
BANANA 133
BEBÊ 133
BICICLETA 133
BOLA 133
BONÉ 133
BONECA(O) 133
BUFAR 54
CAFÉ 25
CAMISA 168
CAVALO 106
COPO 25
DIA 25
DIZER 25
FUTURO 55
GASTAR-
51
CONSTANTEMENTE
INTELIGENTE 26
IR 26, 40
LEITE 26
MAGRO(A) 55
MASTIGAR 54
MOTEL 54
OBEDIENTE,
26
OBEDECER
PASSADO 55
PRESENTE 55
PROFESSOR(A) 26
ROUBAR 54
137, 171,
VACA
172
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
AIRPLANE
62
(AVIÃO)
ANALYZE
90
(ANALISAR)
BAT
81
(BATER)
BETTER
113
(MELHOR)
BLACK
115
(PRETO)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
BODY
75
(CORPO)
BREAD
77
(PÃO)
BROKE
109
(QUEBRADO)
CHERISH
109
(ESTIMAR)
CHINA
62
(CHINA)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
CLOSE-WINDOW (1)
(FECHAR-JANELA)
80
WINDOW (2)
(JANELA)
(FLODIN, 2004, p. 40)
COLOR
112
(COR)
CONGRESS
94, 165
(CONGRESSO)
COMPLAIN
109
(QUEIXAR-SE)
DANCE
65
(DANÇAR)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
DAY
112, 115
(DIA)
DEAF
94, 163, 164
(SURDO)
DIE
112
(MORRER)
DOCTOR
109
(MÉDICO)
DRIVE (TO)
81, 82
(CONDUZIR)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
EASY
109
(FÁCIL)
FEEL
106
(SENTIR)
FIRST
75
(PRIMEIRO)
FLOWER
94, 109
(FLOR)
FRUSTRATED
109
(FRUSTRADO)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
FULL
109
(CHEIO)
GERMANY
65
(ALEMANHÃ)
GO
77
(IR)
GOOD
162, 165
(BOM, BOA)
HAPPEN
90
(ACONTECER)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
HAT
109
(CHAPÉU)
HELP
75, 82
(AJUDAR)
HOME
77, 165
(CASA, LAR)
IDEA
163
(IDEIA)
INTERPRET
62
(INTERPRETAR)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
JAIL
108
(PRISÃO, CADEIA)
LEARN
109
(APRENDER)
LIGHT-YELLOW
62
(AMARELO CLARO)
LIKE
81
(GOSTAR)
LOOK
112
(OLHAR)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
LOVE-SOMETHING
109
(ADORAR ALGO)
MAYBE
62
(TALVEZ)
MONTH
76
(MÊS)
MORNING
115
(MANHÃ)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
MY
109
(MEU, MINHA)
NAME
116
(NOME)
NO
77
(NÃO)
OLD
109, 113
(VELHO(A))
ONION
109
(CEBOLA)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
OPEN
91
(ABRIR)
POOR
109, 113
(POBRE)
QUIET
92
(TRANQUILO)
RAINBOW
115
(ARCO-IRIS)
READ
81
(LER)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
RESTAURANT
62
(RESTAURANTE)
RUSSIA
109
(RUSSIA)
SCHOOL
75
(ESCOLA)
SHOOT-A-GUN
105, 106
(ATIRAR)
SHOP
81
(COMPRAR)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
SINCE
75
(DESDE)
SIT
72, 75, 81
(SENTAR)
SODA-POP
62
(ÁGUA TÔNICA)
SORRY
(SINTO MUITO!; 109, 112, 115
DESCULPA!)
SUNDAY
75
(DOMINGO)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
THIEF
109
(LADRÃO)
THINK
69
(PENSAR)
(BRENTARI, 1998, p. 5)
TICKET
(INGRESSO, 109
PASSAGEM)
TOUCH
(TOCAR, 75, 109
CONTATAR)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
TRAIN
75
(TREM)
UNDERSTAND
72, 112
(ENTENDER)
WANT
81
(QUERER)
WE
94, 95
(NÓS)
WEEK
61
(SEMANA)
GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)
WHY
106
(POR QUE)
WORK
75
(TRABALHAR)
WRITE
81
(ESCREVER)
ANEXOS
224
a. traços articulatórios
[simétrico]: partes análogas da mão orientada um em direção a outra (p. ex. JUNTO,
ORAR/REZAR, BICICLETA)
[aberto/espraiado]: dedos contrastivamente distendidos (p. ex. CONFUSÃO, )
[flexionado]: dedos dobrados em juntas específicas (p. ex. DAR)
[empilhado]: dedos em uma posição, um sobre o outros como numa “raquete de
Squash”, com o dedo indicador na parte superior e o dedo mindinho na
parte inferior (p. ex. POUCO, “K”)
[cruzado]: dedos cruzados – o médio sobre o indicador (p. ex. CORDA, CIGARRO)
[oposto]: polegar num plano perpendicular à palma
[não-oposto]: polegar no mesmo plano da palma
[todos]: todos os dedos selecionados
[um]: um dedo selecionado
[ulnar]: referência feita ao lado do dedo mínimo da mão
[médio]: referência feita ao dedo médio
[estendido]: dedos não-selecionados mais estendidos do que flexionados
[2-mãos]: sinal articulado com as duas mãos
Observação: alguns dos exemplos aqui citados foram adaptados para a Libras, mantendo-se o
conceito apresentado pela autora do MP. É importante registrar também que alguns dos sinais
da ASL e da Libras são homófonos e, além disso, sinônimos. Para estes casos, sublinhamos o
termo, mantendo o exemplo original e apenas traduzindo o termo para a Língua Portuguesa.
Nos outros casos (os exemplos nãos sublinhados), apenas traduzimos a palavra, mas todos os
termos exemplificados são da língua americana de sinais.
226
(78.2)
(78.1)
(78.3) (78.4)
Figura 78 – Movimentos de extensão ou flexão, vertical ou horizontal.
Fonte: LUTTGENS e HAMILTON, 1997 apud BRENTARI, 1998, p. 36-37.
(79.1) (79.2)
(79.3) (79.4)
Figura 79 – Movimentos de abdução ou adução.
Fonte: LUTTGENS e HAMILTON, 1997 apud BRENTARI, 1998, p. 38-39.
227
Figura 80 – Movimentos de pronação, supinação e rotações.
Fonte: LUTTGENS e HAMILTON, 1997 apud BRENTARI, 1998, p. 40.
228
A função desse apêndice é apresentar uma ideia do que é o ‘signwriting’ e uma chave de
como decifrar a escrita básica dos sinais. A leitura desta seção não habilitará o leitor a uma
compreensão total de todos os diferentes símbolos utilizados. Conforme Sutton-Spence e
Woll (1999, p. xi) expõe, leva um bom tempo para se aprender um sistema de transcrição, e
isto se aplica também à escrita dos sinais. O signwriting pode ser mais fácil de se depreender
devido a sua natureza pictográfica (cf. GALEA, capítulo 2, seção 2.1.2.5.1). De fato, ao
ministrar uma oficina sobre o signwriting para sinalizantes Surdos, eles aprenderam um
montante considerável em um curto espaço de tempo (cf. GALEA, capítulo 2, seção
2.1.2.5.8). Para maiores informações sobre o signwriting, visitem o website (Sutton, 2006)
www.signwriting.org, onde existem lições online.
Todos os símbolos representam os sinais a partir de um ‘Ponto de Vista expressivo’. Isto quer
dizer que o leitor interpreta a partir de seu próprio ponto de vista, embora ele/ela esteja
sinalizando para alguém mais. No símbolo a seguir, que representa uma configuração da mão
em “B”, os diferentes sombreamentos do símbolo representa as diferentes orientações da
palma.
O leitor pode ver um lado de sua palma. A área branca representa a palma e o lado
preto representa o dorso da mão.
O leitor pode ver o dorso da sua mão. O preto representa o dorso da mão.
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Além das orientações acima mencionadas, a palma pode também ser posicionada num plano
vertical ou horizontal. Conforme explicado por Sutton (1995), a mão pode ser paralela à
parede ou ao chão. Quando a mão for paralela ao chão, o símbolo possui um espaço na
articulação da junta dos dedos. Alguns exemplos são dados abaixo:
Sutton (1995) estabeleceu dez diferentes categorias para as configurações de mão. Essas
configurações de mão representam os números da ASL de 1 a 10. Tendo disponíveis todas
essas configuração de mão, isso não implica que uma determinada língua utilizará todas elas.
Contudo, o repertório completo está disponível para escolher as diferentes configurações de
mão dependendo da língua em questão. Cada configuração de mão pode ser escrita em um
ângulo. As dez categorias da mãos não são explicadas aqui. Para maiores detalhes, consultar
Sutton (1995, p. 25) ou visitar http://signwriting.org/lessons (Sutton, 2006).
Quando uma mão entra em contato com a outra ou uma parte do corpo, diferentes símbolos
são utilizados para representar os diferentes tipos de contato.
Tocar Escovar
Bater Entre
Pegar Esfregar
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v. Movimento
As setas representam o movimento da mão. Uma seta de linha dupla representa o movimento
para cima e para baixo, e a de linha única representa o movimento para frente e para trás.
Além dos exemplos dados de movimento retilíneo, os símbolos também devem podem ser
curvados ou ziguezagueados. Setas longas representam movimentos longos, ao passo que
setas mais curtas representam movimentos mais curtos.
Existem também símbolos disponíveis para representar o movimento dos braços e do punho.
Um exemplo comum que vem dos dados da Língua de Sinais Maltesa é o movimento FALL
(CAIR), no qual o movimento axial ocorre na mudança de orientação da palma. Por exemplo: