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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


INSTITUTO DE LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA E CULTURA

ROBERTO CÉSAR REIS DA COSTA

Proposta de Instrumento para a Avaliação Fonológica da Língua


Brasileira de Sinais: FONOLIBRAS

Salvador
2012
    i

ROBERTO CÉSAR REIS DA COSTA

Proposta de Instrumento para a Avaliação Fonológica da Língua


Brasileira de Sinais: FONOLIBRAS

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de


Pós-Graduação em Língua e Cultura da Universidade
Federal da Bahia – UFBA, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre em Letras.

Orientadora: Profa. Dra. Elizabeth Reis Teixeira.

Salvador
2012
  ii

Sistema de Bibliotecas da UFBA


           
Costa, Roberto César Reis da.
Proposta de instrumento para a avaliação fonológica da língua brasileira de sinais :
FONOLIBRAS / Roberto César Reis da Costa. - 2013.
231 f.: il.

Inclui apêndices e anexos.


Orientadora: Profª. Drª. Elizabeth Reis Teixeira.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Instituto de Letras, Salvador, 2012.

1. Língua de sinais. 2. Língua brasileira de sinais. 3. Linguagem e línguas - Avaliação.


4. Fonologia. I. Teixeira, Elizabeth Reis. II. Universidade Federal da Bahia. Instituto de Letras.
III. Título.
 

  CDD - 419
CDU - 81’221.24  
 
                                                                                                                                                                                                                       
  iii

Dedico este trabalho aos meus pais:


Roberto de Jesus da Costa e Sônia Reis
da Costa, meus mestres eméritos.
iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço, ubiquamente, a DEUS, o Autor da Vida, que tem me norteado em todas as etapas da
minha vida. A Ele tão-somente seja dada toda honra e toda glória para todo sempre.

Agradeço, profundamente, à minha orientadora, PROFA. DRA. ELIZABETH REIS TEIXEIRA, que
com suas experiências, parcimônia e presença me auxiliou no sentido da materialização desta
Dissertação e, consequentemente, legou-me os princípios das teorias fonológicas que
contribuíram, de maneira significativa, para a conclusão deste trabalho.

Agradeço, intimamente, à minha eterna amada, SHEILA BATISTA MAIA SANTOS, que, depois
de Jesus Cristo, tem sido a minha redentora, instruindo-me a não desistir facilmente e
acreditar que a vida continua após os “tsunamis” momentâneos.

Agradeço, peremptoriamente, ao SURF, minha nova prática desportiva, que me salvou da


depressão, da impotência e da desesperança num momento crucial da minha vida. Nesse
esporte, tenho descoberto que devemos buscar sempre um ponto de equilíbrio na vida e, além
disso, a não deixar que o medo e falta de coragem nos desestimulem a enfrentar os gigantes
que podem, casualmente, surgir para impedir ou conflitar a nossa caminhada.

Agradeço, especialmente, aos MEUS FAMILIARES E DEMAIS IRMÃOS EM CRISTO JESUS, que tem
me auxiliado a entender que as vicissitudes da vida funcionam como um estopim para o
crescimento pessoal, espiritual e profissional.

Agradeço, intensamente, a todos os professores MESTRES E DOUTORES DO PROGRAMA DE


PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA E CULTURA DA UFBA, e, em especial, PROFA. DRA. EDLEISE
MENDES, PROFA. DR. ELIZABETE RAMOS, PROFA. DRA. LÍCIA HEINE, e PROF. DR. SÁVIO
SIQUEIRA, que me auxiliaram na reflexão dos aspectos teóricos e metodológicos que
culminaram na concretização desta Dissertação.

Agradeço, densamente, a minha ilustre mestra, PROFA. DRA. DESIRÉE DE VIT BEGROW, por
ter me legado os princípios da terapêutica fonoaudiológica numa vertente bilíngue. Agradeço-
a, ainda, por ter sido o modelo de uma prática fonoaudiológica reflexiva.

Agradeço, principalmente, a todos os AMIGOS SURDOS, que foram os autênticos mestres para o
aprendizado da Língua Brasileira de Sinais, bem como para o entendimento do que está
subjacente à cultura Surda e à Língua de Sinais. Que essa Dissertação possa fazer com que
todos compreendam que a Língua de Sinais deve ser reconhecida, além do ponto de vista
legal, como uma língua verdadeiramente rica, que representa o meio pelo qual os Surdos
podem manifestar o seu pensamento e a sua forma de depreender a realidade.

Agradeço, especialmente, ao colega-pesquisador-professor, OMAR AZEVEDO BARBOSA, que


contribuiu de maneira significativa para a prática da pesquisa científica.

Aos COLEGAS DO CURSO DO MESTRADO EM LETRAS, serei eternamente agradecido pelos


momentos de companheirismo e profundas reflexões linguísticas. De fato, todos os momentos
compartilhados foram de extrema relevância para o meu crescimento intelectual.
v

Aos COLEGAS DO CESS (Centro Educacional Sons no Silêncio), agradeço por terem me
ajudado a compreender que a teoria e a prática podem ser interdependentes. Afinal, devemos
ter em vista que o nosso maior desafio sempre será praticar a teoria e teorizar a prática, a fim
de se buscar, constantemente, um ponto de equilíbrio entre ambas.

Aos AMIGOS TRADUTORES-INTÉRPRETES DE LIBRAS, agradeço por terem me ensinado os


“sinais” de uma prática tradutória/interpretativa profissional. Com estes, tenho aprendido, a
cada dia, que a interpretação não está acabada, mas ela se reconstrói à medida que nos
despojamos do velho modo de interpretar e nos revestimos dos novos “sinais”.

Aos DEMAIS AMIGOS que, além de me auxiliarem na coleta de dados dessa pesquisa, sempre
me deram a força necessária para continuar, apesar das dificuldades e obstáculos.

Enfim, agradeço a todos aqueles que, silenciosa ou anonimamente, têm contribuído, de


alguma maneira, para o meu crescimento pessoal ou profissional.

OBRIGADO A TODOS!

Obrigado a todos!

Obrigado a todos!
vi

RESUMO

Essa Dissertação teve o objetivo principal de propor um instrumento para a avaliação


fonológica da Língua Brasileira de Sinais (Libras). Adotou-se, como referencial teórico, o
modelo prosódico aplicado à língua de sinais (BRENTARI, 1998), apesar de alguns modelos
de análise fonológica para as línguas de sinais terem sido sucintamente apresentados.
Baseando-se numa perspectiva qualitativa de análise, buscou-se, nos casos estudados, o
escrutínio dos processos fonológicos prevalentes em crianças surdas em fase de aquisição da
Libras como primeira língua. Participaram desse estudos 4 (quatro) crianças surdas, filhas de
pais ouvintes, com faixa etária entre 6 (seis) e 12 (doze) anos, residentes da região
metropolitana de Salvador/Bahia. O instrumento elaborado denominado “Proposta de
Avaliação Fonológica da Língua Brasileira de Sinais – FONOLIBRAS” contém 50
(cinquenta) figuras, distribuídas nas categorias de: (1) animais; (2) brinquedos; (3) cores; (4)
elementos da natureza; (5) frutas; (6) objetos familiares; (7) partes do corpo; (8) pessoas; (9)
verbos (ação); e, (10) vestimentas. Esse instrumento utiliza-se da escrita da língua de sinais
(SW) para transcrição dos dados. O FONOLIBRAS pontua os sinais eliciados da seguinte
maneira: 0 – sinal não eliciado ou sinal “caseiro”; 1 – sinal diferente do esperado, mas
pertencente ao mesmo campo semântico da imagem apresentada; 2 – sinal eliciado conforme
o esperado, com ou sem processo(s) fonológico(s). Os processos fonológicos encontrados na
Libras foram: a assimilação, a elisão, a epêntese e a metátese. Enfim, pôde-se constatar que
alguns desafios perseveram no campo da fonologia das línguas de sinais: inventariar todas as
possibilidades articulatórias para o parâmetro configuração de mão, a fim de se criar um
alfabeto “fonético” para as línguas de sinais; e, consequentemente, convencionar a transcrição
fonológica das línguas de sinais. Permanece, também, o desafio de se averiguar e distinguir os
processos fonológicos quanto à normalidade e à atipia.

Palavras-chave: Libras (Língua Brasileira de Sinais). Língua de Sinais. Avaliação da


linguagem. Fonologia. Processos fonológicos.
 
vii

ABSTRACT

This work aims at proposing an instrument for the assessment of Brazilian Sign Language
(Libras) phonology. The theoretical approach concerning “A prosodic model of sign language
phonology” (BRENTARI, 1998) was adopted, although some models of phonological
analysis applied to sign languages were briefly presented. Based on a qualitative approach, we
sought through case studies the scrutiny of prevalent phonological processes in deaf children
who are undergoing the process of acquiring in Libras as first language. Four (4) deaf
individuals, children of hearing parents, ages from six (6) to 12 (twelve) years old, and
residents in the metropolitan region of Salvador/Bahia participated in the study. The
instrument developed, called "Proposal of Phonological Assessment of Brazilian Sign
Language – FONOLIBRAS" contains 50 (fifty) stimulus pictures, distributed in the following
categories: (1) animals, (2) toys, (3) colors, (4) elements of nature, (5) fruits, (6) familiar
objects, (7) body parts, (8) people, (9) verbs (action), and (10) clothing. SignWriting (SW)
was used as a methodology for data transcription. The FONOLIBRAS scores data elicited
taking into account the following: 0 – no signal elicited or “homemade” signals, 1 – sign
elicited was different from the expected, but the output belongs to the same semantic field of
the displayed image; 2 – sign was elicited as expected, with or without simplifying
phonological process(es). Phonological processes observed in Libras were: assimilation,
elision, epenthesis and metathesis. Finally, it was noted that some challenges persevere in the
field of sign language phonology: an articulatory inventory for all the possibilities concerning
the handshape parameter is needed, in order to create a "phonetic" alphabet for sign
languages, and, therefore, to make possible establishing a convention for the phonological
transcription of sign languages. Nonetheless, the challenge of ascertaining and discriminating
phonological processes in terms of normality and atypicality still remains

Keywords: Libras (Brazilian Sign Language). Sign Language. Language assessment.


Phonology. Phonological processes.
 
  8

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Sinal de CASA 20


Figura 2 Diferenças entre as Línguas Orais e as Línguas de Sinais 22
Figura 3 Sinal AMAR (GAMA, 1975) 25
Figura 4 Sinal AMAR (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 25
Figura 5 Sinal CAFÉ (GAMA, 1975) 25
Figura 6 Sinal CAFÉ (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 25
Figura 7 Sinal COPO (GAMA, 1975) 25
Figura 8 Sinal COPO (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 25
Figura 9 Sinal DIA (GAMA, 1975) 25
Figura 10 Sinal DIA (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 25
Figura 11 Sinal DIZER (GAMA, 1975) 25
Figura 12 Sinal DIZER (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 25
Figura 13 Sinal GORD@ (GAMA, 1975) 25
Figura 14 Sinal GORD@ (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 25
Figura 15 Sinal INTELIGENTE (GAMA, 1975) 26
Figura 16 Sinal INTELIGENTE (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 26
Figura 17 Sinal IR (GAMA, 1975) 26
Figura 18 Sinal IR (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 26
Figura 19 Sinal LEITE (GAMA, 1975) 26
Figura 20 Sinal LEITE (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 26
Figura 21 Sinal MAGR@ (GAMA, 1975) 26
Figura 22 Sinal MAGR@ (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 26
Figura 23 Sinal OBEDIENTE (GAMA, 1975) 26
Figura 24 Sinal OBEDIENTE (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 26
Figura 25 Sinal PROFESSOR (GAMA, 1975) 26
Figura 26 Sinal PROFESSOR (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) 26
Figura 27 Sinal LARANJA/SÁBADO 40
Figura 28 Sinal ESTUDANTE em diferentes Línguas de Sinais 41
Figura 29 Quadro de Configurações de Mão da Libras (FERREIRA-BRITO, 1995) 42
Figura 30 CM inventariada pelo Grupo de Pesquisa da FENEIS 43
Figura 31 CM da Libras inventariada por Pimenta 44
Figura 32 Espaço de enunciação na Língua de Sinais 48
Figura 33 Locações segundo o Modelo de Stokoe 48
Figura 34 Pontos de articulação ancorados no corpo 50
Figura 35 Sinal GASTAR-CONSTANTEMENTE 51
Figura 36 Orientação da palma (Or) 53
Figura 37 Processo morfológico no sinal AJUDAR 54
Figura 38 Sinal SEXO (ato sexual) 55
Figura 39 Sinal MAGRO 55
Figura 40 Símbolos desenvolvidos por Stokoe para notação dos sinais da ASL 59
Figura 41 Exemplos de possíveis estruturas dos sinais no Modelo MH 62
Figura 42 Árvore da Configuração de Mão (HC – Hand Configuration) 64
Figura 43 Árvore da Locação (X – Location) 64
Figura 44 Modelo moraico representando os sinais DANCE, FALSE e GERMANY 65
Figura 45 Representação de sinais com 1-mão no Modelo FD 67
Figura 46 Esquematização dos cubos no Modelo da FV 68
Figura 47 Representação de FALSE no Modelo da FV 69
Figura 48 Sinal ‘UNDERSTAND’ 72
 
9

Figura 49 Sinal ‘SIT’ 72


Figura 50 Sinal ‘THROW’ 72
Figura 51 Sinal ‘SINCE’ 76
Figura 52 Sinal ‘REMEMBER’ 76
Figura 53 Sinal ‘TOUCH’ 76
Figura 54 Sinal monomórfico agramatical 76
Figura 55 Alfabeto manual da ASL 78
Figura 56 Alfabeto manual da Libras 79
Figura 57 Processo de nominalização 80
Figura 58 Sinal ‘DRIVE-TO’ 82
Figura 59 Sinal ‘HELP’ 82
Figura 60 Sinal ‘REQUEST’ 82
Figura 61 Uma forma polimórfica na ASL 84
Figura 62 A visão dos parâmetros no MP 88
Figura 63 Sinal ‘HAPPEN’ 90
Figura 64 Sinal ‘HAPPEN’ com elisão fraca 90
Figura 65 Sinal ‘ANALYZE’ 90
Figura 66 Sinal ‘ANALYZE’ com elisão fraca 90
Figura 67 Sinal ‘OPEN’ 91
Figura 68 Sinal ‘OPEN’ com elisão fraca 91
Figura 69 Sinal ‘QUIET’ 92
Figura 70 Input e outputs do sinal ‘QUIET’ 93
Figura 71 Forma dissilábica do sinal relativo ao pronome WE (nós) 95
Figura 72 Os planos de articulação contrastivos (x, y e z) 110
Figura 73 Superfície de realização dos traços de trajetória 116
Figura 74 Processo fonológico de epêntese (LIDDELL; JOHNSON, 1989) 163
Figura 75 Processo fonológico de elisão (LIDDELL; JOHNSON, 1989) 163
Figura 76 Processo fonológico de metátese (LIDDELL; JOHNSON, 1989) 164
Figura 77 Processo fonológico de assimilação (LIDDELL; JOHNSON, 1989) 165
Figura 78 Movimentos de extensão ou flexão, vertical ou horizontal 226
Figura 79 Movimentos de abdução ou adução 226
Figura 80 Movimentos de pronação, supinação e rotações 227
  10

LISTA DE QUADROS E GRÁFICO

Quadro 1 Variações diacrônicas dos sinais na Língua Brasileira de Sinais 26


Quadro 2 Distribuição das CM segundo Faria-Nascimento (2009) 46
Quadro 3 Possíveis casos de alofonia entre as CM da Libras 46
Quadro 4 Pontos de Articulação segundo Brito e Langevin (1995) 49
Quadro 5 Classificação dos movimentos segundo Ferreira-Brito (1995) 51
Quadro 6 Alguns conceitos de processos fonológicos (LAMPRECHT, 2009) 56
Quadro 7 Diferentes classificações para os processos fonológicos 57
Quadro 8 Representação do sinal ‘WEEK’ (SEMANA) no modelo fonológico MH 61
Quadro 9 Estrutura dos sinais no Modelo MH 62
Quadro 10 Exemplos dos Sinais Tipos 1, 2 e 3, segundo Battison (1978) 76
Quadro 11 Distribuição dos gerúndios na ASL 81
Quadro 12 Exemplos das categorias de aspecto distribucional e temporal na ASL 83
Quadro 13 Definições de Traços Inerentes (TI) e Traços Prosódicos (TP) 86
Quadro 14 Formas dissilábicas com mudança espacial 94
Quadro 15 Exemplos de restrições que se referem à sílaba 97
Quadro 16 A estrutura do ramo Articulador (A) 100
Quadro 17 Argumentos a favor da M1 como núcleo 101
Quadro 18 Estrutura das sete juntas contrastivas na ASL 102
Quadro 19 Possibilidades de combinações para dedos selecionados 104
Quadro 20 Estruturas que permitem o movimento independente do polegar 105
Quadro 21 Especificidades da representação do polegar no MP 106
Quadro 22 A estrutura do ramo Ponto de Articulação (POA) 107
Quadro 23 Planos de articulação do sinal no espaço neutro 108
Quadro 24 Principais locais de oposição quanto ao POA 109
Quadro 25 Diferentes visões em relação ao parâmetro M 112
Quadro 26 A estrutura dos traços prosódicos (TP) 113
Quadro 27 Definição de sonoridade nas línguas faladas e nas línguas de sinais 119
Quadro 28 O que avaliar? 128
Quadro 29 Ilustrações para coleta de dados do FONOLIBRAS 137
Quadro 30 Inventário das CM do FONOLIBRAS por agrupamento 140
Quadro 31 Perfil dos sujeitos 141
Quadro 32 Desempenho dos sujeitos com base nos critérios de pontuação 142
Quadro 33 Transcrições Fonológicas de André (S1) 147
Quadro 34 Transcrições Fonológicas de Wilson (S2) 152
Quadro 35 Transcrições Fonológicas de Pedro (S3) 156
Quadro 36 Transcrições Fonológicas de Tiago (S4) 161
Quadro 37 Processo de assimilação dos traços da M1 168
Quadro 38 Processo de elisão da M2 concomitante ao apagamento do M 168
Quadro 39 Processo de elisão da M2 169
Quadro 40 Representação do sinal ‘ÁRVORE’ com e sem processo de elisão 170
Quadro 41 Processo de epêntese da M2 por assimilação dos traços da M1 171
Quadro 42 Representação do sinal ‘VACA’ conforme o padrão adulto 171
Quadro 43 Processo de metátese 172
Gráfico 1 Desempenho dos sujeitos no FONOLIBRAS 142
  11

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASL American Sign Language (Língua de Sinais Americana)


CM Configuração(ões) da mão(s)
ELiS Escrita da Língua de Sinais (proposta por Mariângela Estelita)
ENM Expressões não-manuais
FD Fonologia da Dependência
FENEIS Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos
FV Fonologia Visual
H1 O mesmo que M1 (do inglês Dominant Hand)
H2 O mesmo que M2 (do inglês Non-dominant Hand)
HC Hand Configuration ou Configuração da mão
IALS Instrumento de Avaliação da Língua de Sinais
IF Inherent Feature ou Traço Inerente
INES Instituto Nacional de Educação de Surdos
IP Prosodic Feature ou Traço Prosódico
IPA International Phonetic Alphabet
L Locação ou PA
L1 Primeira Língua
L2 Segunda Língua
LGP Língua Gestual Portuguesa
Libras Língua Brasileira de Sinais
LM Língua Materna
LP Língua Portuguesa
LS Língua(s) de Sinais
LSB O mesmo que Libras
LSF Língua de Sinais Francesa
M Movimento(s)
M1 Mão dominante ou ativa
M2 Mão não-dominante ou passiva
MD Mão Direita
ME Mão Esquerda
MP Modelo Prosódico
OD Orelha Direita
OE Orelha Esquerda
Or Orientação(ões) da mão/palma
OT Optimality Theory ou Teoria da Otimidade
PA Ponto de articulação ou L
POA Place of articulation (ponto de articulação)
SSFPS Sujeito(s) Surdo(s) filhos(as) de pais surdos
SSFPO Sujeito(s) Surdo(s) filhos(as) de pais ouvintes
SW SignWriting ou escrita da língua de sinais (proposta por Valerie Sutton)
TI Traço(s) Inerente(s)
TM Trilled movement(s) ou movimento(s) vibrante(s)
TP Traço(s) Prosódico(s)
VP Visual Phonology ou Fonologia Visual
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SUMÁRIO

PREÂMBULO 14

1 FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS 30


1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS 30
1.2 HISTÓRICO DOS ESTUDOS EM FONOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS 34
1.3 A ESTRUTURA FONOLÓGICA NAS LÍNGUAS VISO-GESTUAIS 39
1.3.1 O Sinal 39
1.3.1.1 Configuração de mão (CM) 41
1.3.1.2 Locação (L) 47
1.3.1.3 Movimento (M) 50
1.3.1.4 Orientação (Or) 52
1.3.1.5 Expressões Não-Manuais (ENM) 54
1.4 VISÃO GERAL SOBRE OS PROCESSOS FONOLÓGICOS 56
1.5 MODELOS FONOLÓGICOS DAS PESQUISAS EM LÍNGUAS DE SINAIS 56
1.5.1 Modelo Quirêmico 58
1.5.2 Modelo MH - “Movement-Hold” 60
1.5.3 Modelo HT - “Hand Tier” 63
1.5.4 Modelo Moraico 65
1.5.5 Modelo da Fonologia de Dependência 66
1.5.6 Modelo da Fonologia Visual 68
1.6 DESAFIOS FUTUROS 69

2 MODELO PROSÓDICO DA FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS 70


2.1 INTRODUÇÃO ÀS ESTRUTURAS DOS SINAIS 71
2.1.1 Formas monomórficas: sinais simples com 1 mão 72
2.1.2 Formas monomórficas: sinais com 2 mãos 75
2.1.3 Formas monomórficas: datilologia e sinais lexicalizados 77
2.1.4 Formas polimórficas: formas nominais dos verbos 80
2.1.4.1 Nomes reduplicados 80
2.1.4.2 Gerúndios (activity nouns) 81
2.1.5 Formas polimórficas: formas de concordância 82
2.1.6 Formas polimórficas: sinais compostos 83
2.1.7 Formas polimórficas: derivados com afixos gramaticais 83
2.1.8 Formas polimórficas: classificadores predicativos 84
2.2 VISÃO GERAL DO MODELO PROSÓDICO 85
2.3 O PAPEL DAS TEORIAS FONOLÓGICAS NO MODELO PROSÓDICO 88
2.4 OS TRAÇOS INERENTES E PROSÓDICOS 98
2.4.1 A estrutura dos traços inerentes 99
2.4.1.1 A estrutura do ramo Articulador (A) 100
2.4.1.2 A estrutura do ramo Ponto de Articulação (POA) 106
2.4.1.3 A parâmetro Or e seu papel no MP 110
2.4.1.4 Os traços não-terminais 111
2.4.2 A estrutura dos traços prosódicos 112
2.5 CONTRIBUIÇÕES DO MODELO PROSÓDICO APLICADO AOS SINAIS 118

3 DELIMITAÇÃO DO ESTADO DA ARTE 120


3.1 DO DELINEAMENTO DO ESTUDO 120
3.2 DOS PARTICIPANTES E DA DELIMITAÇÃO DO CORPUS 120
  13
 

3.3 DOS PROCEDIMENTOS DE COLETA E TRANSCRIÇÃO DOS DADOS 121


3.4 DA ANÁLISE DOS DADOS 124
3.5 DA LIMITAÇÃO METODOLÓGICA 125

4 AVALIAÇÃO FONOLÓGICA DA LIBRAS: FONOLIBRAS 126


4.1 O QUE, POR QUE E PARA QUÊ AVALIAR? 126
4.2 O INVENTÁRIO PARA ANÁLISE FONOLÓGICA DA LIBRAS (FONOLIBRAS) 130
4.3 COMO FOI CONSTITUÍDO E UTILIZADO O FONOLIBRAS 131
4.3.1 1º Passo: coleta dos dados 131
4.3.2 2º Passo: transcrição dos dados coletados 137
4.3.3 3º Passo: Análise dos dados a partir das transcrições fonológicas 138
4.4 INTERPRETANDO ALGUNS RESULTADOS 141
4.5 RECONHECENDO OS PROCESSOS FONOLÓGICOS DA LIBRAS 162
4.5.1 Os processos fonológicos e as línguas de sinais 162
4.5.2 Os processos fonológicos na língua brasileira de sinais 167
4.5.2.1 Assimilação 167
4.5.2.2 Elisão 168
4.5.2.3 Epêntese 170
4.5.2.4 Metátese 172
4.6 NOTAS FINAIS 172

5 À GUISA DA CONCLUSÃO: AS CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS 174

REFERÊNCIAS 177

Apêndice A – Carta de Anuência 191

Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 192

Apêndice C – Anamnese 193

Apêndice D – Endereço eletrônico das imagens utilizadas no FONOLIBRAS 195

Apêndice E – Quadro para Anotação/Transcrição de Dados (FONOLIBRAS) 197

Apêndice F – Glossário para os sinais da Língua Brasileira de Sinais 201

Apêndice G – Glossário para os sinais da Língua Americana de Sinais 207

Anexo A – Classificação dos TI e dos TP (BRENTARI, 1998) 224

Anexo B – Tipos de movimentos e as juntas de execução 226

Anexo C – Guia do SignWriting (GALEA, 2006, tradução nossa) 228


14

PREÂMBULO

Seria incongruente antecipar a tese “Proposta de Instrumento para a Avaliação


Fonológica da Língua Brasileira de Sinais: FONOLIBRAS” sem antes prefaciar sobre os
aspectos linguísticos das línguas de sinais. Nessa perspectiva, escrevo esse exórdio com o
intuito de discorrer, de maneira sucinta, a respeito do status linguístico das Línguas de Sinais,
salientando-se, sobretudo, as especificidades linguísticas da Língua Brasileira de Sinais que
têm sido constatadas a partir dos estudos realizados por diversos pesquisadores. Os
pesquisadores das línguas de sinais costumam conclamar que: “se a linguística é uma ciência
jovem (ou, alguns diriam, imatura), a linguística das línguas de sinais acabou de nascer”
(CRASBORN; van der HULST; van de KOOIJ, 2000, p. 1, tradução nossa).1 Até o final da
década de 1950, os estudos formais no âmbito da linguística não tomavam como objeto de
estudo as línguas de sinais. Nessa perspectiva, Sacks (2010) destaca que:
Nenhum linguista, nenhum cientista deu atenção à língua de sinais até fins
da década de 1950, quando William Stokoe, jovem medialista e linguista,
encontrou seu caminho para o Gallaudet College. Stokoe pensava ter ido
para ensinar Chaucer aos surdos, mas logo se deu conta de que havia caído,
por sorte ou por acaso, num dos meios linguísticos mais extraordinários do
mundo. A língua de sinais, naquela época, não era considerada uma língua
propriamente dita, mas uma espécie de pantomima ou código gestual, ou
talvez uma espécie de inglês estropiado expresso com as mãos. A
genialidade de Stokoe foi perceber, e provar, que não era nada daquilo; que
ela satisfazia todos os critérios linguísticos de uma língua genuína, no léxico
e na sintaxe, na capacidade de gerar um número infinito de proposições
(SACKS, 2010, p. 70).

No Brasil, o reconhecimento legal da Língua Brasileira de Sinais somente se deu com


a promulgação da Lei nº 10.436 em 24 de abril de 2002, que é popularmente denominada “a
lei da Libras”. De acordo com essa lei, no parágrafo único do artigo 1º, compreende-se que a
Língua Brasileira de Sinais2 é:
[...] a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de
natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um

                                                                                                               
1
Texto de partida: “If linguistics is a young (and, some would say, immature) discipline, then sign linguistics
has just been born.”
2
A língua brasileira de sinais ou língua de sinais brasileira pode ser denominada Libras ou LSB,
respectivamente. Nessa dissertação, optaremos pelo uso da sigla Libras, exceto quando fizermos citação direta
de outras obras, nas quais tenha sido utilizada a sigla LSB. Há ainda uma outra denominação: LSCB (Língua de
Sinais dos Centros Urbanos Brasileiros) (cf. BRITO, 1995). Esse último termo foi utilizado por essa
pesquisadora, a fim de que houvesse a distinção em relação à língua de sinais utilizada pelos índios Urubu-
Kaapor.
15

sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de


comunidades de pessoas surdas do Brasil (BRASIL, 2002).

A sanção da lei supramencionada não foi capaz de dar conta das principais
problemáticas vivenciadas pelas pessoas surdas,3 principalmente no tocante à eliminação das
barreiras comunicativas e à garantia da acessibilidade aos serviços públicos/privados de
educação e saúde. Com a “pressão” das comunidades surdas brasileiras, bem como das
instituições que visam a garantia dos direitos dos surdos, em 25 de dezembro de 2005, houve
a regulamentação da Lei nº 10.436/2002 por intermédio do Decreto nº 5.626. A partir daí,
alguns avanços significativos têm ocorrido: admissão do tradutor-intérprete para atuação nas
salas de aulas e em algumas instituições públicas; inserção da disciplina Libras como
componente curricular nos cursos de licenciatura, pedagogia e fonoaudiologia (nas
instituições de ensino superior públicas e privadas); oferta de cursos básicos, intermediários e
avançados de Libras; dentre outros.
Mais recentemente, houve a publicação da Lei nº 12.319, de 1º de setembro de 2010,
que regulamenta a profissão de tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais. Visto que
a Libras já é reconhecida legalmente e a profissão do tradutor-intérprete já foi regulamentada,
é mister que os departamentos de letras das Instituições de Ensino Superior comecem a pensar
na implantação do curso de graduação em Letras-Libras. Dessa forma, os futuros professores
e/ou tradutores-intérpretes de Libras teriam a oportunidade de obter a formação mínima
necessária, a fim de que pudessem atuar profissionalmente e de maneira adequada.
Todavia, a reflexão exaustiva a respeito da educação de surdos no nosso país ainda
não conseguiu entrever as reais necessidades educacionais desse público. Além disso, os
Surdos não têm sido convocados, na maioria das vezes, aos espaços de discussão das políticas
públicas de acesso e de inclusão. O ponto mais emblemático disso tudo é que se tem
suprimido as questões mais relevantes – importância da língua de sinais e barreira
comunicativa/linguística – do bojo dessas discussões. É nessa perspectiva que se necessitaria
considerar que
[...] a adoção da língua de sinais na educação de surdos deve ser
acompanhada de uma mudança na concepção de sujeito e língua. O surdo
deve ser representado como alguém que tem as mesmas possibilidades
                                                                                                               
3
Sempre utilizaremos os termos “surdo(s)” ou “pessoa(s) surda(s)” para nos referirmos àqueles sujeitos que, por
questões identitárias e culturais, se comunicam por meio de uma língua de sinais. O termo “deficiente auditivo”
não nos é bem-vindo, uma vez que coloca em evidência o déficit ou converte o sujeito num ser patológico.
“Como a comunidade surda brasileira tem manifestado, em vários eventos científicos, seu repúdio ao termo
“deficiente auditivo”, pela conotação de “incapacidade” que o mesmo embute, resolveu-se, em respeito a eles,
utilizar-se o termo surdo ao nos referirmos aos sujeitos que são portadores de uma perda de audição” (CÁRNIO;
COUTO; LICHTIG, 2000, p. 45).
16

de adquirir uma língua [...] é a Língua de Sinais uma língua visual-


gestual, a que vai possibilitar que indivíduos surdos sejam inseridos no
funcionamento lingüístico-discursivo da língua e possam se constituir
como autores de seu dizer e não como meros repetidores de padrões
lingüísticos aprendidos (PEREIRA, 2000, p. 20, grifos nossos).

No Brasil, além da Libras, verificou-se a existência de uma outra língua de sinais


utilizada entre os índios Urubu-Kaapor, que habitam a floresta amazônica. Os índios Urubu-
Kaapor utilizam a Língua dos Sinais Kaapor Brasileira (LSKB). Essa língua, que foi
pesquisada por Ferreira-Brito (1995[2010]), não possui relação estrutural ou lexical com a
Língua Brasileira de Sinais, já que não existe o contato entre ambas.
O sinais temporais da LSKB, por sua vez, apresentam uma estrutura
diferente da estrutura encontrada para os sinais espaciais desta mesma
língua, que, consequentemente, é diferente também da estrutura temporal da
LIBRAS e da ASL. Os dados da LSKB parecem levar à conclusão de que os
sinais temporais são especificidades da cultura, em oposição aos sinais
espaciais, os quais são fortemente restringidos pela modalidade da língua
e/ou por traços universais (FERREIRA-BRITO, 2010, p. 247-248).

Ultimamente, tem-se acirrado a discussão em torno do estatuto linguístico das Línguas


de Sinais, as quais são utilizadas pelas comunidades Surdas. Do ponto de vista histórico,
tinha-se uma ideia a respeito dos surdos que se baseava apenas em aspectos negativos. Esses
aspectos negativos refletiam-se na concepção que as pessoas tinham em relação à língua de
sinais. Na antiguidade, os surdos eram vistos de diversas formas: como pessoas dignas de
piedade e compaixão, como pessoas castigadas pelos deuses, como pessoas enfeitiçadas;
sendo, por essas razões, abandonados ou sacrificados. Desta forma, as pessoas surdas estavam
fadadas ao isolamento e a ideia da impossibilidade de educá-las perdurou até o século XV,
pois, até esse instante, acreditava-se que o surdo – visto como deficiente ou retardado – era
uma pessoa primitiva, que vivia completamente à margem da sociedade e a quem nenhum
direito deveria ser assegurado (LANE, 1984; MOURA, 2000; GOLDFELD, 2002; LANG,
2003).
Ora, apesar das pesquisas e do reconhecimento legal da Libras no Brasil, percebe-se
que preconceitos e mitos ainda permeiam o discurso de muitas pessoas, inclusive o daquelas
que possuem formação ou carreira acadêmica. Em virtude desses preconceitos que, na maioria
das vezes, estão relacionados ao pré-conceito ou à ignorância linguística, muitas pessoas
chamam a língua de sinais de “linguagem de sinais” ou “linguagem dos surdos-mudos”.
Todavia, não se deve perder de vista que
Ao se atribuir às línguas de sinais o status de língua é porque elas, embora
sendo de modalidade diferente, possuem também estas características em
relação às diferenças regionais, sócio-culturais, entre outras, e em relação às
17

suas estruturas porque elas também são compostas pelos níveis [...]
[fonológico, morfológico, sintático, semântico-pragmático e discursivo]
(FELIPE; MONTEIRO, 2008, p. 21).

Em relação à questão de se denominar linguagem, é relevante esclarecer que as


línguas de sinais são línguas autônomas, já que cada uma delas organiza os seus elementos
linguísticos de maneira idiossincrática e independente das línguas orais. Resta-nos entender
que a linguagem
[...] não está limitada ao trato vocal e ouvidos. Existem também sistemas de
comunicação simbólica, transmitida de uma geração de pessoas surdas para
a outra, que se têm tornado em línguas autônomas não derivadas de línguas
faladas. Essas línguas viso-gestuais dos surdos, com raízes profundas na
modalidade visual, proporcionam um campo de testes para explicações em
relação a: como o cérebro está organizado para a linguagem, como o cérebro
passou a ser tão organizado, e como essa organização é modificável
(POIZNER; KLIMA; BELLUGI, 1990, p. 1, tradução nossa).4

Quanto ao termo “surdo-mudo”, é bem provável que essa tenha sido a mais antiga
denominação atribuída ao sujeito surdo, já que se tinha a ideia que o surdo por não poder falar
era, consequentemente, mudo. Mas, ele é inadequado, tendo-se em vista que o fato de uma
pessoa ser surda (possuir impedimento auditivo de grau severo a profundo) não determinará
que esta mesma seja muda. Em geral, o mutismo é decorrente ou de transtornos do sistema
nervoso central que afetam a capacidade de falar ou de distúrbios psicológicos, não estando,
por conseguinte, cabalmente relacionado à surdez. Nos séculos passados, era comum o uso
desse termo mesmo nas publicações didáticas e/ou acadêmicas, conforme pode-se
testemunhar em Gama (1875) 5 e em Ramos (1906). Até em obra de um grande filósofo
(FOUCAULT, 1978), encontra-se a utilização do termo “surdo-mudo” (sourd-muet), embora
o seu objetivo não tenha sido reflexionar acerca do sujeito que está privado do sentido da
audição. Atualmente, ainda é comum se observar a utilização, ainda que seja inadequada, dos
termos “surdo-mudo” e “linguagem de sinais” na literatura de uma forma geral e sobretudo
nos meios de comunicação (televisão, rádio, jornais, dentre outros). Logo, percebe-se que o

                                                                                                               
4
Texto de partida: “Language, however, is not limited to the vocal tract and ears. There also exist systems of
symbolic communication, passed down from one generation of deaf people to the next, that have become forged
into autonomous languages not derived from spoken languages. These visual-gestural languages of the deaf, with
deep roots in the visual modality, provide a testing ground for competing explanations of how the brain is
organized for language , how the brain came to be so organized , and how modifiable that organization is.”
5
É relevante registrar que Flausino Gama, ex-aluno do Instituto de Surdos (atual INES), publicou a primeira
obra sobre a Língua Brasileira de Sinais (cf. GAMA, 1975). Nessa obra, ele elencou os sinais utilizados pelos
surdos daquela época. Não podemos afirmar convictamente o porquê da escolha pelo termo ‘surdo-mudo’. É
bem provavel que, naquele tempo, não houvesse a discussão/reflexão sobre as implicações do uso de um ou
outro termo para a área da Surdez.
18

termo tradicionalmente utilizado prevalece ao que seria mais adequado, embora os estudos
atuais advoguem o seu extermínio.
Ora, pensar que a forma de comunicação dos surdos seria simplesmente uma forma de
“linguagem” recairia num dos mitos mais emblemáticos, já que reduziria a língua de sinais a
uma forma de linguagem rudimentar à semelhança da “linguagem” animal. 6 Tem-se
verificado que as línguas de sinais são compostas de unidades mínimas distintivas que se
combinam para formar os itens lexicais, os quais, por seu turno, se justapõem para estabelecer
as sentenças e os enunciados. Já o modo de se comunicar presente em algumas espécies
animais não poderia ser considerado uma linguagem (pensando-se na perspectiva da
linguagem humana), mas um código de sinais. As características desse código embutem:
fixidez de conteúdo; mensagem invariável; referência a uma única situação; o enunciado não
se deixa analisar (natureza indecomponível); e a transmissão é unilateral (não há interação
dialógica) (FROMKIN e RODMAN, 1993; BENVENISTE, 1995). As línguas de sinais, por
sua vez, não comungam destas características citadas em relação à suposta “linguagem”
animal.
Além do mito anteriormente exposto, valem-se destacar alguns outros: a língua de
sinais seria um conjunto de gestos icônicos que somente é capaz de ilustrar elementos
concretos; a língua de sinais seria uma representação da oralidade, i.e., os signos visuais são
ancorados nos itens lexicais das línguas orais; a língua de sinais não possuiria gramática; e,
a língua de sinais não seria capaz de enunciar pensamentos abstratos. Como não é o objetivo
aqui esgotar a temática sobre os mitos, é relevante consultar os que foram expostos e outros
que já foram relatados e contra-argumentados (cf. QUADROS e KARNOPP, 2004; GESSER,
2009). No que tange ao aspecto da veiculação de elementos abstratos, Ferreira-Brito (1993, p.
77) afirma que “as Línguas de Sinais não são menos abstratas que as orais. Tudo pode ser
feito através dela: poesia, transmissão de sentimentos, reflexões filosóficas, linguísticas,
lógicas. Enfim, são línguas completas e complexas como as orais.”
“Provavelmente nenhum tópico em linguística tenha sido submetido a tantas
concepções equivocadas como a língua de sinais” (CRYSTAL, 2006, p. 159, tradução
nossa).7 Os linguistas que têm se interessado pelas pesquisas das línguas de sinais têm

                                                                                                               
6
A “linguagem” animal aqui denominada refere-se à mesma concepção teórica previamente postulada por
BENVENISTE (1995).
7
Texto de partida: “Probably no topic in linguistics has been subjected to so many misconceptions as sign
language.”
19

compreendido que o sistema linguístico dessas línguas possuem a mesma complexidade


organizacional da língua falada/escrita (PINKER, 1995; CRYSTAL, 2006).
É pertinente salientar que as línguas de sinais não se baseiam na estrutura das línguas
orais. Reconhecendo o estatuto linguístico das línguas de sinais, Pinker (1995) expõe que
Contrariamente aos equívocos populares, as línguas de sinais não são
pantomimas e gestos, invenções de educadores, ou cifras da língua falada da
comunidade circundante. Elas são encontradas onde quer que haja uma
comunidade de pessoas surdas e cada uma constitui uma língua distinta,
completa, que utiliza a mesma maquinaria gramatical encontrada nas línguas
faladas por todo o mundo (PINKER, 1995, p. 36, tradução nossa).8

Stokoe (1960) foi o primeiro linguista a estudar formal e estruturalmente a língua de


sinais, conforme será delineado mais adiante. Antes da pesquisa desse grande estudioso, os
linguistas tinham a ideia de que os sinais eram meramente “gestos icônicos não-analisáveis”
com pouca ou nenhuma organização interna, da mesma forma que os gestos que são
utilizados juntamente com o discurso oral (WOLL, 1990; McNEILL, 1992; SCHEMBRI,
2001).
Ao discorrerem sobre o conceito de língua, Cunha, Costa e Martelotta (2009, p. 16)
destacam que “o termo “língua” é normalmente definido como um sistema de signos vocais
utilizado como meio de comunicação entre os membros de um grupo social ou de uma
comunidade lingüística”. Esses autores, no entanto, registram em nota a seguinte ressalva:
Cabe registrar a existência da chamada língua dos sinais, utilizada pelos
surdos, em que não há signos vocais, mas visuais. O sistema de comunicação
dos surdos é considerado uma língua pela grande maioria dos autores, já que,
embora não se constitua de sinais sonoros, apresenta as características
básicas das línguas naturais (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2009, p.
29).

Mas afinal o que é uma língua?


Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é somente uma parte
determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um
produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções
necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade nos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme
e heteróclita; o cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo física,
fisiológica e psíquica, ela pertence além disso ao domínio individual e ao
domínio social; não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos
humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade (SAUSSURE, 2006, p.
17, grifos nossos).

                                                                                                               
8
Texto de partida: “Contrary to popular misconceptions, sign languages are not pantomimes and gestures,
inventions of educatiors, or ciphers of the spoken language of the surrounding community. They are found
wherever there is a community of deaf people, and each one is a distinct, full language, using the same kinds of
grammatical machinery found worldwide in spoken languages.”
20

Parece que Saussure, ao delimitar as diferenças entre língua e linguagem, tinha como
parâmetro de análise as línguas orais (aqui denominadas de orais-auditivas). Apesar disso, à
luz das investigações das línguas de sinais, as generalizações linguísticas patenteadas pelos
estudos clássicos poderão ora ser corroborados ora ser refutadas, retificadas ou repensadas.
Quanto à dicotomia língua/linguagem, conforme exorada por Ferdinand de Saussure,
deve-se notar que não haverá quaisquer complicações na utilização desses termos para as
línguas sinalizadas se pensarmos que: a observância do funcionamento das línguas de sinais
têm demonstrado que a faculdade da linguagem está presente nos indivíduos surdos,
independentemente do déficit na acuidade auditiva; a maioria dos sinais que são utilizados por
esses indivíduos são convencionados ou arbitrários; e, enfim, todas as estruturas das línguas
de sinais podem ser seccionadas para fins de análise linguística.
Em relação à questão da arbitrariedade do signo linguístico, defendida, outrossim, por
Sausurre, há de se entender que não existe uma relação natural (motivada) entre o significante
(imagem acústica) e o significado (sentido). Os signos linguísticos, por conseguinte, são
constituídos ou convencionados culturalmente no âmbito de uma determinada comunidade
linguística. Para exemplificar a concepção de arbitrariedade, Costa (2009) expõe que
A arbitrariedade do signo linguístico pode ser bem mais compreendida
quando observamos a diversidade das línguas. Cada língua apresenta um
modo particular de expressar conceitos: ninguém discute, por exemplo, se
“livro” ou book se aproximam mais, ou menos, do conceito apresentado
anteriormente. [...] Saussure observa ainda que o princípio da arbitrariedade
do signo linguístico não implica a compreensão de que o significado
dependa da livre escolha do falante. A língua [...] é social, não estando ao
alcance do indivíduo nela promover mudanças (COSTA, 2009, p. 120).

O conceito sausurreano de arbitrariedade do signo linguístico pode ser também


aplicado à Libras. Apesar de ser uma língua viso-gestual, a maioria dos itens lexicais não está
ancorada iconicamente nos seus respectivos objetos. Por exemplo, o sinal de CASA
(representado na Fig. 1) parece ser icônico para a Libras, já que a imagem visual (análoga à
imagem acústica, o significante) embute a ideia do formato de uma casa. Contudo, os
significantes, em sua maior parte, são representados arbitrariamente.

Figura 1 – Sinal de CASA


Ao lado esquerdo, encontra-se a representação do sinal em escrita da Língua de Sinais.
21

Conforme foi citado no início desse introito, um dos primeiros linguistas a investigar
uma língua de sinais foi o norte-americano William Stokoe.9 Ele descreveu e analisou a
Língua Americana de Sinais (ASL – American Sign Language), observando que a ASL deveria
ser considerada uma língua natural por ser adquirida naturalmente por crianças surdas filhas
de pais surdos. Ademais, ele considerou que essa língua, apesar da modalidade viso-gestual,
possui a mesma complexidade das línguas orais-auditivas, bem como gramática e sintaxe
autônomas. Em relação à modalidade viso-gestual, é pertinente expor que: “as línguas de
sinais são denominadas gestual-visual (ou espaço-visual), pois a informação lingüística é
recebida pelos olhos e produzida pelas mãos” (Fig. 2) (KARNOPP, 1999, p. 30).
As investigações acerca das semelhanças e das diferenças entre as língua de sinais e as
línguas orais emergiram a partir da década de 90. Com isso, objetivou-se revisar ou
enriquecer as teorias linguísticas, a fim de que os universais linguísticos até o momento
instituídos fossem ratificados ou retificados. As semelhanças identificadas têm servido para
atestar o estatuto linguístico das línguas de sinais, ao passo que as diferenças têm fomentado o
repensar dos universais linguísticos ora estabelecidos.
Pesquisas realizadas por diferentes estudiosos no campo da linguística e/ou linguística
aplicada têm evidenciado que a Língua Brasileira de Sinais é a língua natural10 dos sujeitos
surdos, porquanto esta língua pode ser adquirida naturalmente por uma criança que esteja
imersa num ambiente onde os sujeitos se comuniquem por essa modalidade11 de linguagem
(FERNANDES, 1990; FERREIRA-BRITO, 1995; QUADROS, 1997; KARNOPP, 1999;
QUADROS e KARNOPP, 2004; GESSER, 2009).

                                                                                                               
9
William Stokoe, em 1960, escreveu a obra Sign language structure (estrutura da língua de sinais). Em 1978,
publicou-se a segunda edição dessa obra, na qual foram revistos alguns conceitos e termos, conforme será visto
em capítulo ulterior.
10
A fim de se esclarecer o conceito de língua natural que iremos utilizar, considere-se que: a língua natural “é
toda aquela que é adquirida naturalmente, sem necessidade de instrução ou intervenção formal e sistemática,
mas através apenas da exposição do indivíduo a um meio linguístico específico (ou mais de um, no caso das
situações de bilinguismo)” (TEIXEIRA, 1995, p. 1, grifos do autor).
11
Apesar de ter explicado de maneira sucinta anterioremente, é preciso esclarecer que, classicamente, as
modalidades de linguagem têm sido classificadas em: modalidade oral e modalidade escrita. A partir do instante
em que as línguas de sinais entraram na arena das investigações linguísticas, constatou-se a importância de se
delimitar uma outra modalidade de linguagem: a modalidade viso-gestual (ou visual-gestual ou espaço-visual).
No Brasil a comunicação oral-auditiva é realizada predominantemente em Língua
Portuguesa e a comunicação espaço-visual em Língua de Sinais, no caso, a Língua de Sinais
Brasileira, Libras. Comparativamente o esquema abaixo mostra um exemplo das principais 22
diferenças entre as Línguas Orais e as Línguas de Sinais no processo de comunicação:

PESSOAS
COMUNICAÇÃO ORAL-AUDITIVA
OUVINTES

Canal de comunicação
EMISSOR RECEPTOR
(OUVINTE) (OUVINTE)

O emissor transmite a O receptor decodifica a


mensagem pela fala (VOZ) mensagem através do ouvido
(e vice-versa)

PESSOAS COMUNICAÇÃO ESPAÇO-VISUAL


SURDAS

Canal de comunicação
EMISSOR RECEPTOR
(SURDO) (SURDO)

O emissor transmite a mensagem O receptor decodifica a


através das mãos (sinais) mensagem através do olhar
(e vice-versa)
 
Figura 2 - Diferenças entre as Línguas Orais e as Línguas de Sinais.
“Um destinador põe-se em relação
Fonte: comunicativa
TEMÓTEO, 2008, p.com
18. um destinatário, construindo os
elementos de um código (português, francês, etc.) uma mensagem que alude a um contexto e
Segundo Quadros (1997, p. 22), “o próprio Chomsky (1995, p. 434), um lingüista que
supõe o inatismo, menciona as línguas de sinais como possível expressão da capacidade
natural para a linguagem.” Então, supõe-se que a faculdade de linguagem não é afetada no
caso das perdas auditivas de ordem periférica. Em outros termos, diríamos que,
independentemente da pessoa nascer surda ou ouvinte, a capacidade para se adquirir uma
língua natural estará preservada. No caso das crianças ouvintes, a língua oral poderá ser
naturalmente adquirida, ao passo que, para as crianças surdas, a língua de sinais poderá ser
espontaneamente internalizada. O olhar em relação aos indivíduos surdos deve residir nas
suas potencialidades e não no déficit, levando-se em consideração que
Se [...] enxergarmos o indivíduo nas suas capacidades, e não apenas no que
ele não possui, como, no caso, a audição, veremos uma outra possibilidade
para seu desenvolvimento. Uma delas é o canal espaço-visual para a
aquisição da linguagem. Isto não como uma alternativa à falta de integridade
do canal oral/auditivo, mas como uma outra modalidade de comunicação,
como uma língua que utiliza os canais visuais e espacial dentro das
23

possibilidades psicobiológicas humanas para a linguagem: a Língua de


Sinais (OLIVEIRA, 1999, p. 80).

No que concerne aos aspectos lexicais e gramaticais, sabe-se que as línguas de sinais
são dotadas de estruturas autônomas; isto quer dizer que a estrutura sentencial ou discursiva
das mesmas não se ancora nas das línguas orais (QUADROS e KARNOPP, 2004; GESSER,
2009). Além disso, os aspectos formais encontrados nas diversas línguas que já foram
analisadas pelos linguistas são também achados nas línguas de sinais. Nota-se que essas
línguas viso-gestuais também possuem a estrutura básica dos sistemas linguísticos: a presença
de sujeito, verbo e objeto na estrutura frasal. Analiticamente, tem-se percebido que os
sintagmas (nominais, verbais, adjetivais, dentre outros) também estão presentes na disposição
sentencial das línguas de sinais. É relevante lembrar ainda que a sintaxe das línguas de sinais
é espacial (QUADROS; KARNOPP, 2004), e, por essa razão, os itens lexicais, seus
respectivos referentes e a organização frasal “obedecem” à lógica espacial de colocação.
Partindo-se do pressuposto de que língua e cultura, em algum grau, são entidades
indissociáveis (SAPIR, 1921; MANDELBAUM, 1949), deve-se presumir que os sujeitos
surdos possuam alguns aspectos culturais distintos daqueles vistos nas pessoas ouvintes. De
acordo com Lyons (1981), cultura deve ser compreendida em termos antropológicos, “sem
nenhum julgamento de valor a priori quanto à qualidade estética ou intelectual da arte,
literatura, das instituições etc. de determinada sociedade” (LYONS, 1981, p. 224). Pensando-
se nessa acepção de cultura, pode-se então intuir a existência da cultura surda no sentido em
que Strobel (2008) assevera:
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo
a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas
percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas
e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua,
as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo (STROBEL,
2008, p. 24).

As identidades surdas, por seu turno, são instituídas dentro das representações
possíveis da cultura surda. Essas identidades são modeladas de acordo com o maior ou menor
receptividade cultural assumida pelo sujeito. E, ainda na esfera da receptividade cultural,
emerge-se a luta política ou consciência oposicional, na qual o sujeito surdo representa a si
mesmo, se defende da homogeneização, da sensação de invalidez, de inclusão entre os
deficientes, de menos valia social (PERLIN, 2004).
As pessoas surdas gostariam de ser “escutadas” e, para que isso fosse possível, aos
ouvintes caberia refletir nisto: “Contrário ao modo como a maioria das pessoas define a
24

surdez [...] pessoas surdas definem-se em termos culturais e linguísticos” (WRIGLEY, 1996,
p. 13, tradução nossa). 12
Ao considerarmos 13 que os surdos possuem de fato uma cultura, não estamos
querendo dizer que todos os surdos do mundo compartilham a mesma cultura em detrimento
da perda auditiva. Devemos entender que “os surdos brasileiros são membros da cultura surda
brasileira da mesma forma que os surdos americanos são membros da cultura surda norte-
americana” (KARNOPP, 2006, p. 99). Já que esses grupos utilizam-se de diferentes línguas
de sinais, obviamente irão compartilhar entre si experiências díspares, bem como experiências
de vida distintas. Quiçá o único aspecto cultural que una todos os surdos independentemente
de sua localização geográfica seja o artefato da experiência visual. Todavia, apesar de estarem
“unidos” por esse artefato, a sua visão de realidade será moldada pelo contexto sócio-
histórico-cultural do local onde este sujeito encontre-se imerso.
Ainda concernente às questões língua de sinais, cultura e identidade surdas, é
pertinente pontuar que:
Os surdos formam uma comunidade lingüística minoritária caracterizada por
compartilhar uma língua de sinais e valores culturais, hábitos e modos de
socialização próprios. A língua de sinais constitui o elemento identitário dos
surdos, é o fato de constituir-se em comunidade significa que compartilham
e conhecem os usos e normas de uso da mesma língua já que interagem
cotidianamente em um processo comunicativo eficaz e eficiente. Isto é,
desenvolveram as competências lingüística e comunicativa – e cognitiva por
meio do uso da língua de sinais própria de cada comunidade de surdos
(SKLIAR, 1997, p. 102).

No que tange aos aspectos variacionais, é sabido que, da mesma forma que as línguas
orais-auditivas, as línguas de sinais possuem variações de ordem lexical (fonológica ou
morfológica), semântico-pragmática, dialética, social, dentre outras. No que se refere às
variações diacrônicas, Souza e Segala (2009, p. 45) afirmam que “as Línguas de Sinais estão
sujeitas às variações diacrônicas no sentido de que evoluem ao longo do tempo em suas
funções sociais e em suas relações com determinada comunidade linguística.” Nessa
Dissertação, frisar-se-á, em momento oportuno, as variantes de natureza fonológica,

                                                                                                               
12
Texto de partida: “Contrary to how the average individual defines deafness – that is, as an audiological
impairment – deaf people define themselves culturally and linguistically.”
13
Aqui não falo apenas por mim e pela minha orientadora, mas tornamos o nosso discurso polifônico ao
pensarmos em: Skliar (1997, 1998, 1999), Perlin (2004, 2005), Kelman (2005), Sá (2006), Strobel (2008),
Gesser (2009), Sacks (2010). Utilizamos a expressão “cultura surda” num sentido genérico, mas acreditamos,
outrossim, numa visão pós-estruturalista, que os surdos são dotados de múltiplas culturas, as quais são moldadas
pelos fatores sociais, políticos, econômicos, históricos, dentre outros.
25

pontuando-se as diferenças das mesmas em relação às variantes de ordem morfológica. No


quadro abaixo (quadro 1), estão representados algumas variações diacrônicas da Libras.

“Iconographia dos Sinais dos “Dicionário Enciclopédico Ilustrado trilíngue”


ITEM LEXICAL
Surdos-mudos”

AMAR

Figura 3 – Sinal AMAR. Figura 4 – Sinal AMAR.


Fonte: GAMA, 1975, p. 26. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 190.

CAFÉ

Figura 5 – Sinal CAFÉ. Figura 6 – Sinal CAFÉ.


Fonte: GAMA, 1975, p. 6. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 335.

COPO

Figura 7 – Sinal COPO. Figura 8 – Sinal COPO.


Fonte: GAMA, 1975, p. 6. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 465.

DIA

Figura 9 – Sinal DIA. Figura 10 – Sinal DIA.


Fonte: GAMA, 1975, p. 32. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 540.

DIZER

Figura 11 – Sinal DIZER. Figura 12 – Sinal DIZER.


Fonte: GAMA, 1975, p. 28. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 556.

GORD@

Figura 13 – Sinal GORD@. Figura 14 – Sinal GORD@.


Fonte: GAMA, 1975, p. 16. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 714.
26

“Iconographia dos Sinais dos “Dicionário Enciclopédico Ilustrado trilíngue”


ITEM LEXICAL
Surdos-mudos”

INTELIGENTE

Figura 15 – Sinal Figura 16 – Sinal INTELIGENTE.


INTELIGENTE. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 762.
Fonte: GAMA, 1975, p. 22.

IR
Figura 17 – Sinal IR.
Fonte: GAMA, 1975, p. 26. Figura 18 – Sinal IR.
Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 768.

LEITE

Figura 19 – Sinal LEITE. Figura 20 – Sinal LEITE.


Fonte: GAMA, 1975, p. 6. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 806.

MAGR@

Figura 21 – Sinal MAGR@. Figura 22 – Sinal MAGR@.


Fonte: GAMA, 1975, p. 16. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 856.

OBEDIENTE
Figura 24 – Sinal OBEDIENTE.
Figura 23 – Sinal OBEDIENTE. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 965.
Fonte: GAMA, 1975, p. 20.

PROFESSOR

Figura 25 – Sinal PROFESSOR. Figura 26 – Sinal PROFESSOR.


Fonte: GAMA, 1975, p. 12. Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1084.
Quadro  1  –  Variações diacrônicas dos sinais na Língua Brasileira de Sinais.

Na perspectiva da aquisição da linguagem, os sujeitos surdos deveriam ser expostos


desde cedo à língua de sinais. Uma vez que as línguas orais são de modalidade oral-auditiva e
as línguas de sinais, de modalidade viso-gestual, tem-se questionado: há algum efeito da
modalidade em relação à aquisição e ao desenvolvimento da linguagem? Pesquisas científicas
têm revelado que, do ponto de vista aquisicional, a modalidade não tem efeito para a
27

aquisição da linguagem, considerando que tanto as crianças ouvintes quanto às crianças


surdas podem adquirir, respectivamente, a língua oral e a língua de sinais em idades e estágios
análogos (PETITTO, 2000(a, b); QUADROS, 1997, 2006, 2009). Contudo, tem-se observado
que a articulação diferençada e as características perceptuais das modalidades gesto-visual e
oral-auditiva permitem pressupor que as duas modalidades de línguas podem apresentar
restrições diferentes aos sujeitos em fase de aquisição, e podem oferecer estratégias diferentes
para os mesmos. Essas diferenças estão relacionadas principalmente ao fato de que,
diferentemente dos articuladores orais, os articuladores manuais são emparelhados (MEIER,
2008).
A aquisição precoce da língua de sinais não tem acontecido, haja vista que a maioria
das crianças surdas pertence a ambiente linguístico em que os pais são ouvintes. Grannier
(2007) aponta que a criança surda não consegue aprender naturalmente a língua oral falada
pelos seus progenitores e irmãos devido ao fato de que a surdez se constitui como uma
barreira física que bloqueia a ativação do dispositivo mental inato. É relevante frisar que essa
barreira física só se constitui um verdadeiro obstáculo em termos de aquisição da linguagem
oral. No caso da aquisição da linguagem viso-gestual, é pertinente expor o caso das crianças
que estudam num internato em Fremont – California School for the Deaf:
Tendo adquirido a língua de sinais como língua nativa desde bebês, essas
crianças nunca chegaram a vivenciar a tragédia da falta de comunicação com
os pais, que costuma ser o destino dos profundamente surdos. Num
internato, são sobretudo essas crianças cuja língua nativa é a língua de sinais
que apresentam o mundo dos surdos e sua língua para as crianças surdas
filhas de pais ouvintes [...] (SACKS, 2010, p. 57).

De fato, as crianças surdas filhas de pais ouvintes obtêm um retardamento (ou atraso)
na aquisição da língua de sinais (KARNOPP, 1999; QUADROS, 1997). Nesse caso, haverá
uma discrepância na utilização do código linguístico: enquanto os pais e/ou irmãos tendem a
compartilhar a linguagem na modalidade oral-auditiva, o filho surdo tende a não adquirir essa
modalidade linguística em detrimento do déficit auditivo. Esse déficit, entretanto, não
necessariamente causará transtornos cognitivos aos sujeitos surdos, mas poderá afetar a
aquisição da linguagem à medida em que eles não sejam expostos a uma língua viso-gestual:
a língua de sinais (GESSER, 2009). Para a criança surda, a tentativa de se “adquirir”, ou
melhor, aprender uma linguagem oral estaria num nível complexo,14 porquanto se estaria
                                                                                                               
14
Para se entender melhor essa complexidade, é necessário considerar que: “Qualquer língua oral pode ser
ensinada às crianças surdas através de procedimentos formais, não espontâneos, o que pode ser de grande valia
para elas. Porém é importante que isso seja reconhecido como um aprendizado, e não uma aquisição”
(OLIVEIRA, 1999, p. 80).
28

fomentando o aprendizado dessa modalidade de linguagem na ausência de uma base


linguística prévia (a língua de sinais). A linguagem oral, nesse caso, não ocorreria de maneira
natural, considerando-se que se tentaria estimular o aprendizado dessa língua por intermédio
de diferentes técnicas de instrução ou oralização.
Diante do exposto, acreditamos que a aquisição da língua de sinais como língua
materna ou primeira língua é de suma importância para o desenvolvimento cognitivo,
emocional, intelectual e linguístico-cultural dos sujeitos surdos (QUADROS, 1997). Se, e
somente se, essa língua for adquirida precocemente pela criança surda que vive no contexto
brasileiro, a mesma terá a base linguística que possibilitará o aprendizado da modalidade
escrita da língua portuguesa (como segunda língua) e, provavelmente, estará habilitada a
aprender essa segunda língua na sua modalidade oral caso tenha o desejo.
Essa Dissertação nasceu do desejo de demonstrar que a Libras não é uma forma de
linguagem “rudimentar” ou menos complexa que a língua portuguesa falada no Brasil. No
decorrer das investigações realizadas, foi-se percebendo a complexidade estrutural dessa
língua viso-gestual, vislumbrando-se, por conseguinte, o aspecto fonológico dela.
A questão primordial que norteou o presente estudo foi: “De que forma é possível
analisar a estrutura fonológica da Língua Brasileira de Sinais?”. Como desdobramento dessa
questão norteadora, surgiram outras perguntas: “O que é a fonologia da língua de sinais?”;
“Quais princípios ou parâmetros estão imbricados na fonologia da língua de sinais?”; “Qual a
ordem de aquisição dos parâmetros fonológicos da Libras?”; “Quais CM (Configurações de
Mão), M (Movimentos), OM (Orientações) e L (Locações) são relevantes para análise e
avaliação fonológica da Libras?”; “De que forma a análise fonológica da Libras pode
contribuir para o escrutínio dos processos fonológicos dessa modalidade linguística?”; “Para
qual nível de análise linguística as expressões não-manuais são relevantes?” É provável que
nem todas essas questões sejam plenamente respondidas. No decorrer dessa Dissertação,
tentaremos responder algumas delas e outras estarão subordinadas a futuras pesquisas.
No capítulo inicial, serão expostas as considerações inicias a respeito da fonologia de
língua de sinais, enfatizando-se as seguintes temáticas: considerações iniciais sobre o campo
da fonologia da língua de sinais; retrospectiva histórica dos estudos em fonologia das línguas
de sinais; a estrutura fonológica dos sinais; os modelos fonológicos propostos por
pesquisadores das línguas sinalizadas; e, fecharemos o capítulo abordando os desafios futuros
no que tange aos estudos em fonologia das línguas de sinais.
No segundo capítulo, será exposta a fonologia da língua de sinais à luz do Modelo
Prosódico (MP) proposto por Diane Brentari (1998). Além de serem apresentadas as unidades
29

prosódicas, que são relevantes para a análise fonológica dos sinais, esse capítulo apresentará
os conceitos de traços inerentes (TI) e traços prosódicos (TP), unidades de tempo (UT),
sonoridade, complexidade, peso, e a particularidade dos sinais articulados com 2 mãos.
No terceiro capítulo, será exposta a metodologia utilizada para a pesquisa que será
apresentada. Nesse aspecto, serão pontuados o delineamento do estudo, os sujeitos
participantes e a delimitação do corpus, os procedimentos de coleta, transcrição dos dados, e
análise dos dados e, por fim, as limitações metodológicas encontradas no decorrer da
condução da pesquisa.
No quarto capítulo, será exposto o instrumental preparado para a avaliação fonológica
da Libras – FONOLIBRAS, bem como os critérios que foram adotados para a sua elaboração.
Aproveitar-se-á a ocasião para apresentar os processos fonológicos com base nas análises dos
sinais coletados e transcritos.
Enfim, no capítulo derradeiro, serão consideradas as conclusões da pesquisa que será
apresentada, bem como serão pontuadas outras limitações observadas e não pontuadas
anteriormente. Além disso, sugerir-se-ão outros tópicos de interesse à pesquisa no âmbito da
fonologia da língua brasileira de sinais.
30

1 FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS

Sabemos que um dos traços que torna a linguagem [humana] única é que os
símbolos que compõe a língua podem ser divididos em partes menores. A fonologia
é o estudo das menores unidades contrastivas da língua.
(VALLI; LUCAS, 2000, p. 19, tradução nossa)

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O primeiro enigma ou desconforto quando se declara “fonologia de língua de sinais”


jaz na esfera terminológica. O termo fonologia origina-se no grego pela fusão dos termos
phonos (φωνή - phōnē), som ou voz, e logos (λόγος), palavra ou verbo. Partindo-se dessa
acepção, o entendimento clássico atribui ao campo da fonologia “o estudo do som”. De agora
em diante, partir-se-á a priori dos conceitos clássicos com o objetivo de redefinir a acepção
do termo ‘fonologia’, a fim de que o conceito tradicional seja revisado e ampliado com vistas
a abarcar o primeiro nível de análise linguística das línguas viso-gestuais.
Do ponto de vista etimológico, fonologia e fonética fundem-se, já que para ambas
compete o “estudo dos sons”. De acordo com a história, observa-se, nas gramáticas remotas, a
relevância da fonética para os estudos linguísticos. Com a obra Cours de Linguistique
Generale (Curso de Lingüística Geral) de Ferdinand de Saussure (1916), na qual foram
postuladas as dicotomias (língua/fala, sincronia/diacronia, significado/significante e
sintagma/paradigma), houve uma ruptura teórica entre os domínios fonético e fonológico. E, a
partir do Círculo Linguístico de Praga – 1º Congresso Internacional de Linguística (em Haia,
1928) –, atribuíram à fonologia o estatuto peremptório de ciência linguística. Nesse
congresso, as contribuições de R. Jakobson e N. Trubetzkoy foram de relevância inestimável
para a delimitação desse “novo” campo de estudos linguísticos (DUBOIS et al., 2004).
Já se tornou lugar-comum na linguística afirmar que a
“fonologia é a ciência que estuda os sons da língua do ponto de vista de sua
função no sistema de comunicação lingüística. [...] Nisto se diferencia da
fonética, que estuda os elementos fônicos independentemente de sua função
na comunicação” (DUBOIS et al., 2004, p. 284).

Provavelmente, devido a esses conceitos instituídos e cauterizados pelos estudiosos


da ciência linguística, seja abstruso conceber a ideia de uma “fonologia” de língua de sinais.
Contudo, se entendermos que a fonologia se ocupa do estudo das menores unidades
31

contrastivas de uma determinada língua, será possível compreender que, nas línguas de sinais,
é possível observar a existência dessas unidades mínimas.
Optando pelo termo ‘fonêmica’ ao invés de ‘fonologia’, Silva (2005) argumenta que
“o termo fonologia passa a ser utilizado por modelos pós-estruturalistas que analisam a
organização da cadeia sonora da fala – ou componente fonológico” (SILVA, 2005, p. 118).
Ela acrescenta ainda que a fonêmica ou fonologia refere-se a modelos que abordam o estudo
da cadeia sonora da fala. Ao apresentar os preceitos gerais da teoria fonológica, Matzenauer
(2005), por seu turno, preconiza que
A fonologia, ao dedicar-se ao estudo dos sistemas de sons, de sua descrição,
estrutura e funcionamento, analisa a forma das sílabas, morfemas, palavras e
frases, como se organizam e como se estabelece a relação “mente e língua”
de modo que a comunicação se processe (MATZENAUER, 2005, p. 11,
grifos do autor).

Os sons relevantes para a análise fonológica são aqueles produzidos pelo trato vocal
pela ação conjunta de outras estruturas orgânicas e que servem para distinguir significados.
Esses sons, também denominados ‘fonemas’, são organizados e combinados para definir
outras unidades linguísticas maiores, formando os morfemas e os itens lexicais de um
determinado sistema linguístico (BISOL, 2005; SILVA, 2005).
Não obstante, deve-se ponderar que o estudo fonológico não se encerra na
investigação do som enquanto entidade física, mas se ocupa do estudo das unidades mínimas
que possuem caráter distintivo num determinado sistema linguístico. No caso das línguas
orais, essas unidades mínimas, que, do ponto de vista analítico, não poderão ser
decomponíveis em outras unidades subalternas, serão os fonemas. Para as línguas de sinais, a
expressão “unidade mínima distintiva” será preferível, contudo o termo “fonologia” será
conservado, já que, conforme será visto a posteriori, existe uma disposição de constituintes
que, analogamente, encontram-se nesse primeiro nível de análise linguística.
Ao discursarem sobre a língua americana de sinais, Bellugi e colaboradores (2002)
ventilaram a possibilidade da existência de um nível fonológico para a língua de sinais – a
denominada “fonologia” sem som. Esses autores explanaram que
A pesquisa sobre a estrutura dos sinais léxicos demonstrou que, à
semelhança das palavras das línguas faladas, os sinais são fracionados em
elementos subléxicos. Os elementos que distinguem os sinais (em forma de
mãos, movimentos, locais de articulação) estão em disposições espaciais
contrastantes e ocorrem concomitantemente com a execução do sinal. Por
exemplo, os sinais SUMMER, UGLY e DRY (VERÃO, FRIO e SECO) são
feitos com os mesmos movimentos manuais e assumindo aspectos idênticos
em três localizações espaciais diferentes (BELLUGI et al., 2002, p. 180).
32

Karnopp (1999, p. 28) afirma que “a fonologia da língua de sinais objetiva identificar
a estrutura e a organização dos constituintes fonológicos, propondo modelos descritivos e
explanatórios.” Então, segundo essa autora, cabe a fonologia da língua de sinais: (1)
determinar quais são os elementos recorrentes; (2) estabelecer quais são os padrões possíveis
de combinação; e (3) investigar as diferenças (variação) permitidas/possíveis que dependam
do ambiente fonológico.
Reflexionando a respeito do sistema linguístico das línguas de sinais e advogando
que os níveis de análise linguística entre línguas orais e línguas sinalizadas são análogos,
Amaral e colaboradores (1994) considera que “por uma questão de facilitação de terminologia
e também para por em evidência o carácter linguístico deste sistema, passou-se a adoptar a
terminologia da linguística para o estudo da língua gestual” (AMARAL et al., 1994, p. 59).
Entenda-se que a “língua gestual” por ele denominada refere-se à língua de sinais. Enquanto
as diferentes línguas de sinais do mundo seguem a convenção terminológica – Língua de
Sinais (+) nome do país ao qual ela se refere, por exemplo, Língua Americana de Sinais
(ASL), Língua de Sinais Francesa (LSF), Língua de Sinais do Brasil (LSB, ou Libras), etc. –,
em Portugal, utiliza-se a nomenclatura LGP, referindo-se à Língua Gestual Portuguesa.
Além de Stokoe (1978), diversos estudiosos, conforme será visto ainda nesse
capítulo, têm passado a utilizar os termos ‘fonema’ e ‘fonologia’ para as investigações no
âmbito das línguas de sinais, argumentando que as línguas de sinais, que são consideradas
línguas naturais, comungam de princípios linguísticos subjacentes aos das línguas orais, não
obstante às diferenças de modalidade (KLIMA e BELLUGI, 1979; WILBUR, 1987; van der
HULST, 1993; QUADROS e KARNOPP, 2004).
As abordagens fonológicas recentes no tocante à língua de sinais têm considerado
que
A fonologia é o nível de análise gramatical onde as unidades estruturais
primitivas sem significado são recursivamente combinadas para criar um
número infinito de expressões significativas. É o nível de gramática que tem
uma ligação direta com os sistemas fonéticos articulatórios e perceptuais,
tanto os sistemas periféricos do par visual/gestual quanto do par
auditivo/vocal (BRENTARI, 1998, p. 1, 2, tradução nossa).15

                                                                                                               
15 Texto de partida: “Phonology is the level of grammatical analysis where primitive structural units without
meaning are recursively combined to create an infinite number of meaningful utterances. It is the level of
grammar that has a direct link with the articulatory and perceptual phonetic systems, either a visual/gestural pair
or an auditory/vocal pair of peripheral systems.”
33

Essa definição considera que a fonologia engloba tanto as representações das


menores unidades linguísticas sem significado – os traços, os segmentos e as sílabas – quanto
as regras/restrições que governam a distribuição dessas unidades. Posteriormente, serão
descritos os elementos que constituem a estrutura/organização fonológica das línguas de
sinais, enfatizando-se exemplos da Libras.
Segundo Brentari (2007), uma outra definição focaliza mais o papel prosódico ou
distributivo da fonologia para todos os tipos de representações (tanto as significativas quanto
as sem significado). Nesse aspecto, a “Fonologia é o nível de estrutura linguística que
organiza o meio através do qual a linguagem é transmitida” (SANDLER; LILLO-MARTIN,
2006, p. 114, tradução nossa).16 Valli, Lucas e Mulrooney (2005, p. 17, tradução nossa)
declaram que “os linguistas das línguas de sinais utilizam o termo fonologia para se referir ao
estudo de como os sinais são estruturados e organizados.”17
Diante do exposto e conforme veremos em exemplos ulteriores, deve-se ponderar
que não há qualquer transgressão na utilização da expressão “fonologia de língua de sinais”,
já que muitos teóricos, sobretudo os que tem analisado a Língua Americana de Sinais e, por
conseguinte, contribuído para a análise de outras línguas de sinais, têm adotado essa
terminologia. Considere-se ainda que:
Apesar da diferença existente entre línguas de sinais e línguas orais, no que
concerne à modalidade de percepção e produção, o termo ‘fonologia’ tem
sido usado para referir-se também ao estudo dos elementos básicos das
línguas de sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 48).

Os estudiosos das línguas de sinais, que são também ou têm se tornado linguistas,
têm tido a necessidade de falar o mesmo “linguajar” dos linguistas ortodoxos. A fim de que se
possa tornar o que é heterodoxo (aspectos fonológicos das línguas de sinais) em ortodoxo,
optamos pela adoção da terminologia ‘fonologia’ aplicada à Língua Brasileira de Sinais.
Enfim, a fonologia deve ser conceituada em termos de ciência da linguagem
humana que se ocupa do estudo das unidades mínimas que estão no primeiro nível de
análise linguística. Sabe-se que as unidades mínimas, isoladamente, não têm significado, mas
se coadunam para formar as sílabas e os morfemas e/ou itens lexicais de um determinado
sistema linguístico. Essa releitura ou revisão conceitual contribui para a inserção dos estudos

                                                                                                               
16Texto de partida: “Phonology is the level of linguistic structure that organizes the medium through which
language is transmitted.”

17 Texto de partida: “Sign language linguistics use the term phonology to refer to the study of how signs are
strutured and organized.”
34

em língua de sinais no domínio das pesquisas linguísticas em fonologia e, além disso,


minimiza a distância entre a fonologia das línguas orais/faladas e das línguas sinalizadas.

1.2 HISTÓRICO DOS ESTUDOS EM FONOLOGIA DAS LÍNGUAS DE SINAIS

Na seção inicial desse capítulo, tecemos algumas considerações acerca das


definições de fonologia, partindo-se dos conceitos mais clássicos e “caminhando-se” em
busca de inovações conceituais que contribuíssem para a ampliação da definição de fonologia
com vistas à inserção das investigações das diferentes línguas de sinais nessa área de
conhecimento. De agora em diante, recrudescer-se-á de maneira sucinta o panorama histórico
dos estudos linguísticos das línguas de sinais com enfoque no âmbito fonológico.
Além de ter sido o pioneiro nas pesquisas linguísticas da língua de sinais, Stokoe
(1960) foi o precursor na descrição das unidades mínimas da Língua Americana de Sinais.  18
A partir da decomposição dos sinais da ASL, ele observou que os sinais são compostos de três
aspectos ou parâmetros, os quais, possuindo características distintivas, não têm significado
isoladamente. Em sua primeira edição, Stokoe ao escrever Sign language structure (Estrutura
da língua de sinais) mencionou que os parâmetros – configuração de mão (handshape),
locação (location) e movimento (movement) – deviam ser chamados de “quiremas”, e caberia
a “quirologia” estudar as combinações entre esses parâmetros. Na segunda edição dessa obra,
ele já admite os termos “fonema” e “fonologia”, considerando que a configuração de mão, o
movimento e a locação são os análogos formais dos fonemas que constituem os morfemas nas
línguas orais.
É pertinente frisar que Stokoe – considerado por muitos pesquisadores o pai da
linguística das línguas de sinais – demonstrou que as línguas de sinais são regidas por regras e
são dotadas de estrutura linguística complexa. Nesse sentido, ele provou que os sinais não são
simples gestos e a organização dos mesmos não se dá de maneira aleatória, visto que, além de
haver uma organização interna, os elementos organizacionais são finitos, “obedecem” às
regras de boa formação, e possuem restrições na combinação desses elementos.

                                                                                                               
18 American Sign Language ou ASL.
35

Battison (1974) adiciona o parâmetro orientação da mão na fonologia das línguas de


sinais, levando-se em conta a existência de pares mínimos em sinais. Nesse estudo, verificou-
se que a alternância desse parâmetro pode alterar o significado lexical. Num outro estudo, ele
demonstra que existem restrições fonológicas na produção de diferentes tipos de sinais
(BATTISON, 1978). Nas línguas de sinais, tem-se notado que tanto a condição de simetria
quanto a condição de dominância (quando os sinais são produzidos com duas mãos) atuam
como restringentes na complexidade dos sinais. Além da inclusão da orientação da mão, esse
teórico propôs que o aspecto não-manual (expressões faciais e corporais) deve ser tratado
como parâmetro fonológico.
A partir de 1978, os estudos linguísticos da língua americana de sinais se
expandiram, abarcando, além da fonologia, os níveis morfológicos e sintáticos de análise.
Diversos estudiosos investigaram as seguintes questões: a estrutura fonológica dos sinais, os
traços distintivos e os aspectos relacionados à sequencialidade e simultaneidade (SUPALLA e
210 Harry van der Hulst
NEWPORT, 1978; properties
distinctive KLIMA and e BELLUGI, 1979; these,
rules manipulating PADDEN,
is a fairly1983;
recent LIDDELL,
one. 1984;
Stokoe (1960) proposed to decompose basic signs in American Sign
LIDDELLLanguage
e JONHSON, 1986,
(ASL) into three 1989;
'aspects'BRENTARI,
or parameters,1998). Nisto,
which, like diferentemente dos
distinctive
features, bear no meaning in isolation, i.e. by themselves they do not
estudiososqualify
anteriores, esses meaning-bearing
as minimal e outros pesquisadores
units orpassam a adotar a terminologia utilizada
morphemes:
classicamente
(1)no
a. âmbito dos estudos linguísticos, objetivando traçar paralelos entre as línguas
Handshape
b. Location of the hand
de sinais e as línguas orais. Ademais,
c. Movement esses autores começam a pesquisar a língua de sinais a
of the hand
partir de uma
Eachperspectiva gerativa
of these three e não sóStokoe
parameters, estruturalista.
argued, has a fixed number of
values. To avoid underestimating the difference between spoken language
Aand
partir
sign dos achados
language, de Stokoe
Stokoe referredetodetheoutros pesquisadores
parameters no Location
Handshape, campo das línguas de
and Movement as CHEREMES and to the study of their combinations as
sinais, compreendeu-se
CHEROLOGY.
que os parâmetros (configuração de mão, locação e movimento) se
Other researchers, however, including Stokoe himself in a
organizamlater
paraedition
constituir
of his os morfemas
study nas línguas
(1978), used dePHONEME
the terms sinais. Karnopp (1999, p. 32) declara
and PHONOLOGY.
The idea then became prevalent that Handshape, Location and Movement
que “a principal
are the diferença estabelecida
formal analogues of theentre línguas
phonemes de sinais
which makeeuplínguas orais foi
morphemes in a presença de
spoken languages. This claim was based on the insight that the three units
ordem linear
seemed(sequência horizontal
to constitute no tempo)
morphemes entre
in the same wayosasfonemas
phonemesdas línguas orais e sua
in spoken
languages constitute morphemes.2 The main difference between spoken
ausência nas línguasand
languages de sign
sinais, cujos fonemas
languages são to
was claimed articulados
involve thesimultaneamente”.
presence of linear Em relação a
order among phonemes in the spoken language and its absence in sign
essa assertiva, Hulst (1993) apresenta a seguinte esquematização:
language (u = morpheme, []= a phoneme or set of specifications rep-
resenting a particular Handshape, Movement or Location):

(2) a. spoken language b. sign language

[1] [ ] [ ] [1 ](Handshape)
> ~ p
# 4 [ ] (Movement)
\[ ] (Location)
 
Subsequent research has led to aHULST,
Fonte: 1993,different
somewhat p. 210. organisation of the
relevant properties. One of the earliest changes is due to Battison (1978),
who proposed to regard ORIENTATION (of the palm)3 as a separate para-
meter; this has been accepted by most researchers.
In the next section, I will discuss a number of further developments of
Stokoe's insights. These involve, on the one hand, the introduction of
linear order and, on the other hand, further refinements of the parameters
and the structural relations that hold between them. In ??3-5, I will
present an alternative model of sign structure. ?3 focuses on the feature
content of signs, and argues that the structure of signs is essentially like
36

Para o esboço acima descrito, Hulst (1993, p. 210) explicita que, enquanto µ refere-
se à representação do morfema, [ ] representa um fonema ou conjunto de especificações que
representam uma determinada configuração de mão, movimento ou locação. Em sua teoria,
Hulst sugere que os sinais possuem uma forma “reduzida” de estrutura silábica, e essa
estrutura, por sua vez, não tem correspondência análoga à distinção consoante/vogal das
línguas faladas. Em tópico posterior, serão especificadas as considerações do modelo teórico
desse pesquisador.
Liddell e Johnson (1984, 1986, 1988) influenciaram significativamente os estudos
fonológicos dos sinais, já que esses teóricos evidenciaram que a ASL possui em sua estrutura
fonológica tanto a organização sequencial quanto a simultânea. No tópico 1.4.2, serão
expostos outras contribuições desses teóricos para a fonologia dos sinais.
Brentari (1998) propõe o modelo prosódico para investigação e análise fonológica da
língua de sinais. Essa autora faz uma revisão profunda dos estudos em fonologia da língua
americana de sinais e, a partir daí, apresenta esse modelo com algumas revisões conceituais e
novas contribuições aos estudos fonológicos. Posteriormente, serão apresentados os conceitos
relevantes desse modelo.
Ferreira-Brito (1990, 1995) foi uma das precursoras na descrição e na análise dos
aspectos estruturais da Libras. Sua descrição linguística enfoca, sobretudo, os aspectos
morfológicos e fonológicos. A partir de bases teóricas dos estudos linguísticos da ASL, essa
autora verificou que os principais parâmetros fonológicos da Libras são: locação, movimento
e configuração de mão. Ainda a respeito da classificação desses parâmetros, ela propõe dois
planos: (i) os parâmetros primários que englobariam a configuração da(s) mão(s), o ponto de
articulação e o movimento, e (ii) os parâmetros secundários que incluem a região de contato,
a orientação das mãos, bem como a disposição das mesmas. Ao tratar dos traços distintivos,
Ferreira-Brito (1990) propôs para a Libras 12 (doze) traços para análise da configuração de
mão. Esses traços foram: [compacta], [aberta], [ulnar], [cheia], [côncava], [dual],
[indicadora], [radial], [toque], [separada], [cruzada] e [dobrada].
Com o objetivo de evidenciar aspectos da aquisição fonológica na Libras, Karnopp
(1994, 1999) apresenta dados interessantes nos seus estudos com crianças surdas, filhas de
pais surdos. Ela analisou também as consequências dos processos fonológicos no decurso da
aquisição da Língua Brasileira de Sinais.
Ao retomar os estudos de Fernandes (1994), Bernardino (2000, p. 84, 85) expõe que
os parâmetros – configuração das mãos (CM), movimento (M) e ponto de articulação (PA) –
seriam os componentes do Plano Querológico da Libras. O termo ‘querologia’ é utilizado
37

considerando que a Libras é composta por queremas, que são os análogos dos fonemas das
línguas orais auditivas. Evidentemente, essa autora utiliza-se da terminologia empregada por
Stokoe nos primórdios de suas investigações.
Liddell (2003) afirma que algumas evidências e diferenças emergem quando
comparamos o modo como os sinais e as palavras faladas (no sentido da linguagem oral) são
articulados. O análogo ao trato vocal da linguagem falada é o espaço de sinalização,
considerando-se que o espaço dentro da boca onde a língua se move e o movimento ou o
posicionamento da língua dentro da cavidade oral ajudam a distinguir um gesto (ou
configuração) articulatório de outro. Elucidando, temos:
A diferença entre [t] e [k], por exemplo, é determinada por onde e como a
língua faz contato dentro da cavidade oral. Ambas são oclusivas surdas. A
parte dianteira da língua entra em contato com os alvéolos (logo atrás dos
dentes superiores) para produzir [t] e o corpo da língua entra em contato com
o véu (na parte posterior da boca) para produzir um [k]. Em ambos os casos,
a língua bloqueia momentaneamente o fluxo de ar. As produções destes dois
sons diferem quanto ao local em que a língua faz contato (LIDDELL, 2003,
p. 10, tradução nossa).19

Da mesma forma que a(s) mão(s) deve(m) estar corretamente posicionada(s) para
articular os sinais, a língua deve estar corretamente posicionada para produzir as palavras
faladas. A necessidade de posicionar corretamente os articuladores, independentemente do
articulador produzir fonema (línguas orais) ou “unidade mínima distintiva” (línguas de
sinais), demonstra claramente a similaridade entre a língua de sinais e a língua oral. No
entanto, uma distinção persiste: as línguas de sinais possuem uma riqueza em termos de
produção de contrastes articulatórios, ou seja, a(s) mão(s) enquanto articulador(es) pode(m)
ostentar diferentes configurações, fazer o uso de dois articuladores ao mesmo tempo, e fazer
contato com um grande número de locações distintas (LIDDELL, 2003).
Xavier (2006) apresenta uma descrição das unidades do nível fonético-fonológico da
língua de sinais brasileira (Libras), baseando-se no modelo de análise sublexical proposto por
Lidell (1984) e desenvolvido por Lidell e Johnson (1989 [2000]). Nesse modelo, os sinais das
línguas de sinais são formados por segmentos, da mesma forma que as palavras nas línguas
orais. Esse pesquisador utilizou-se do Dicionário Enciclopédico Trilíngue da Língua

                                                                                                               
19 Texto de partida: “The difference between [t] and [k], for example, is determined by where and how the
tongue makes contact inside the oral cavity. Both are voiceless stop consonants. The front of the tongue contacts
the alveolar ridge (just behind the upper front teeth) to produce [t] and the body of the tongue contacts the velum
(in the back of the mouth) to produce a [k]. In both cases, the tongue briefly blocks the flow of air. The
productions of these two sounds differ in the location at which the tongue makes contact.”
38

Brasileira de Sinais (CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001) como principal fonte de dados para a
elaboração de um banco de dados.
Cruz e Lamprecht (2008) propõem um instrumento para avaliação da consciência
fonológica para crianças surdas usuárias da Libras. É pertinente pontuar que esse instrumento
não contemplou todos os parâmetros fonológicos, mas apenas atentou para o parâmetro
configuração de mão. Uma das conclusões dessas autoras qualificou que
a aplicação de um instrumento de avaliação da consciência fonológica
validado, em determinada língua de sinais, poderá contribuir na investigação
sobre o desenvolvimento lingüístico da criança surda, possibilitando:
verificar se a criança consegue refletir sobre aspectos fonológicos na sua
própria língua, identificar o nível de desenvolvimento da consciência
fonológica (típico ou atípico considerando o período de exposição
lingüística) e acompanhar a evolução nesta importante habilidade lingüística
(CRUZ; LAMPRECHT, 2008, p. 105).

Além dos aspectos concernentes à fonética e fonologia nas línguas orais, Mineiro e
Colaço (2010), na obra “Introdução à fonética e fonologia na LGP e na Língua Portuguesa”,
apresentam uma breve introdução sobre o tema da fonologia gestual, bem como traçam um
modelo explicativo para a fonologia da linguagem viso-gestual a partir de exemplos da LGP.
Nesse aspecto, elas pontuam: (i) as unidades significantes dos gestos – configuração,
localização e movimento; (ii) características fonológicas dos gestos – os articuladores (as duas
mãos); (iii) o sistema fonológico das línguas gestuais – aspectos gerais e específicos
(sequencialidade e simultaneidade); (iv) traços distintivos e traços articulatórios.
Cruz e Quadros (2011) propõem um Instrumento da Avaliação da Língua de Sinais
(IALS), objetivando auxiliar os profissionais da área – fonoaudiólogos, professores e demais
profissionais do campo da linguagem e da surdez – na investigação dos diferentes níveis do
desenvolvimento da linguagem compreensiva e expressiva. Esse instrumento considera os
seguintes aspectos linguísticos e discursivos: nível fonológico, nível semântico, nível
morfológico, nível sintático/discursivo. No tocante ao nível fonológico, as autoras avaliam as
unidades mínimas ou parâmetros que constituem o sinal. Os parâmetros que servem como
base para análise são: Configurações de Mão, Movimento, Locação, Orientação Manual e
Expressões Não-Manuais. Uma vez que o objetivo da obra dessas autoras é apresentar o
instrumento delineado para avaliação (compreensiva e expressiva) da Língua Brasileira de
Sinais de forma mais global, o nível fonológico não é minuciosamente avaliado/analisado.
Ainda não se tem todas as respostas no tocante à fonologia da língua de sinais.
Sabemos que “A diferença entre línguas orais e de sinais no nível fonológico é difícil de ser
estabelecida, considerando que muitos tópicos sobre a fonologia das línguas de sinais
39

continuam sendo pesquisados e/ou ainda não foram investigados” (QUADROS e KARNOPP,
2004, p. 62).

1.3 A ESTRUTURA FONOLÓGICA NAS LÍNGUAS VISO-GESTUAIS

Os linguistas do campo de pesquisa das línguas de sinais utilizam o termo fonologia


para se referir ao estudo de como os sinais são estruturados e organizados (STOKOE, 1960,
1978; van der HULST, 1993; BRENTARI, 1998; KARNOPP, 1999; VALLI e LUCAS, 2000;
QUADROS e KARNOPP, 2004). Doravante, será detalhada, nesse tópico, a estrutura
fonológica basilar da língua brasileira de sinais, adotando-se, como referencial teórico, os
autores mencionados e outros que conduziram pesquisas pertinentes à fonologia da Língua
Brasileira de Sinais.

1.3.1 O Sinal

“O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, são


denominados sinais nas línguas de sinais” (FELIPE e MONTEIRO, 2008, p. 21). Os sinais
são constituídos a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado
formato em um determinado espaço; este espaço pode ser numa determinada parte do corpo
ou num espaço em frente do corpo, respeitando-se as restrições espaciais.
Segundo afirmamos anteriormente, é relevante frisar que o primeiro
estudioso/pesquisador dos sinais e suas partes constituintes foi William Stokoe.
Indubitavelmente, ele foi um grande desbravador, considerando-se que, na sua época, a língua
de sinais não era vista como língua de fato, uma vez que as pessoas classificavam-na como
mímica, pantomima ou código gestual (SACKS, 2010).
Em qualquer língua oral-auditiva, o significado/sentido de um item lexical é
estabelecido a partir do contexto sentencial ou discursivo em que esse signo linguístico seja
imerso. Observe os exemplos (1) e (2).

(1) Eu adoro comprar manga, porque é a fruta que eu mais gosto.


(2) Apesar daquela blusa ter sido bem costurada, a manga não está bem alinhada.
40

Por exemplo, o termo ‘manga’ pode abarcar, dentre outros significados, a ideia de
fruta ou de determinada parte de uma camisa ou blusa. Na língua de sinais, não é diferente;
existem sinais que embutem múltiplos sentidos. Ao analisarmos os sinais em profundidade,
podemos perceber que o sentido/significado de um signo linguístico sinalizado também só é
constituído na instância da sentença ou do discurso. O sinal abaixo representado (Fig. 27)
representa um sinal homólogo/homófono20 na Libras.

Figura 27 – Sinal LARANJA/SÁBADO.


Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 799/1157.

O que definirá um ou outro significado do sinal acima descrito será o contexto


frasal/discursivo, conforme podemos observar nos exemplos21 (3) e (4).

(3) FEIRA(2s) / PRO-1s / 1sIR2s / COMPRAR / LARANJA / MAÇÃ / FRUT@ /


DIVERS@S.
(Eu vou à feira comprar laranja, maçã e outras frutas.)

(4) SÁBADO / PRO-1s / 1sIR2s / CASA / PRO-2s / NÃO-PODER.


(No sábado, eu não poderei ir a sua casa.)

Existem muitos outros sinais homófonos na Libras, porém foi apresentado apenas um
exemplo, a fim de que fosse elucidado um dos aspectos linguísticos subjacente ao sinal. Esses
exemplos – (3) e (4) – estão sendo representados a partir do Sistema de Notação dos Sinais,
descrito por Ferreira-Brito (1990) e Felipe e Monteiro (2008).
Equivocadamente, algumas pessoas imaginam que a língua de sinais é universal, o
que constitui um dos mitos a respeito das línguas sinalizadas (cf. QUADROS e KARNOPP,
2004; GESSER, 2009). Conforme pontuamos nas considerações iniciais desse capítulo, as
comunidades surdas de cada país desenvolvem o seu próprio sistema linguístico, por isso
temos: a Língua Americana de Sinais, a Língua de Sinais da Holanda, a Língua de Sinais

                                                                                                               
20 Confireremos aos sinais homológos o status de homófonos, uma vez que defendemos a ideia da fonologia dos
sinais.

21Nos exemplos acima [(3) e (4)], os termos PRO-1s e PRO-2s referem-se, respectivamente, aos dêiticos
indicativos de pronome pessoal do caso reto de primeira e segunda pessoa do singular.
41

Dinamarquesa, dentre outras. Na Figura 28, podemos observar o sinal de ESTUDANTE em


diversas línguas de sinais.

 
Figura 28 – Sinal ESTUDANTE em diferentes Línguas de Sinais.
(Esquerda – Língua Americana de Sinais; Centro – Língua de Sinais Italiana;
Direita – Língua de Sinais Tailandesa).
Fonte: VALLI; LUCAS, 2000, p. 6.

Se os sinais fossem organizados aleatoriamente, não se poderia falar em ‘língua de


sinais’. Já se tem observado e constatado que os sinais possuem uma organização interna.
Essa organização está vinculada às propriedades articulatórias dos sinais. Em relação a essas
particularidades articulatórias, deve-se compreender que
Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos, que se
movimentam no espaço em frente ao corpo e articulam sinais em
determinadas locações neste espaço. Um sinal pode ser articulado com uma
ou duas mãos. Um mesmo sinal pode ser articulado tanto com a mão direita
quanto com a mão esquerda; tal mudança, portanto, não é distintiva. Sinais
articulados com uma mão são produzidos pela mão dominante (tipicamente a
direita para destros e a esquerda para canhotos), sendo que sinais articulados
com as duas mãos também ocorrem e apresentam restrições em relação ao
tipo de interação entre ambas as mãos (KARNOPP, 1999, p. 30-31).

Posteriormente, discorreremos mais acerca das especificidades dos sinais com 1 mão
e com 2 mãos, e das mãos dominante e não-dominante. Há ainda os articuladores não-
manuais, que compreendem as expressões faciais e/ou corporais. Quanto a essa questão,
discuti-la-emos no tópico 1.3.1.5.

1.3.1.1 Configuração de Mão (CM)

A Configuração da(s) Mão(s) (CM) refere-se à “forma da(s) mão(s) presente no


sinal” (FELIPE e MONTEIRO, 2008, p. 21). A CM representa as diferentes formas que a(s)
mão(s) adquire na execução de um dado sinal (FERREIRA-BRITO, 1995).
42

Cada língua de sinais possui um determinado número de CM que fazem parte de seu
sistema linguístico, i.e., nem todas as línguas de sinais partilham o mesmo inventário de CM
(KARNOPP, 1999). Para a Libras, foram (ou estão sendo) sugeridas diferentes propostas
conforme veremos doravante.
O primeiro estudo sistemático para organização das CM para a Língua Brasileira de
Sinais começou a ser conduzido por Lucinda Ferreira Brito na década de 80. Ferreira-Brito
(1995) inventariou 46 (quarenta e seis) CM, organizando-as por similaridade em 19 grupos
(Fig. 29). É importante destacar que essa organização foi influenciada pelos estudos de Klima
e Bellugi (1979), que também organizaram as CM da ASL em 19 agrupamentos.

 
Figura 29 – Quadro de Configurações de Mão da Libras.
Fonte: FERREIRA-BRITO, 1995, p. 220.

É bem provável que Ferreira-Brito (1995) não tenha catalogado todas as possíveis
CM durante o período de sua pesquisa. Evidentemente, houve seleção de informantes e essa
seleção não contemplou todas as regiões brasileiras, apesar de, em seu estudo, ela ter
considerado os sinais utilizados pelas comunidades surdas das principais capitais brasileiras.
O que se pode perceber, a partir do quadro de CM de Ferreira-Brito (1995), é que as formas
ali dispostas demonstram apenas as “manifestações de superfície, isto é, de nível fonético,
encontradas na Libras” (KARNOPP, 1999, p. 38). Um dos pontos positivos na proposta de
43

análise de Ferreira-Brito (1990, 1995) é que ela advoga por um modelo que considera
diferentes tipos de traços distintivos conforme pontuamos na pág. 36.

 
Figura 30 – CM inventariada pelo Grupo de Pesquisa da FENEIS, utilizada no Dicionário Digital de Libras.
Fonte: FELIPE e MONTEIRO, 2008, p. 28.

Na Figura 30, temos a proposta dos tipos de CM elaborada pelo Grupo de Pesquisa
da FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos). Felipe e Monteiro
(2008) defendem que, na Libras, há 64 (sessenta e quatro) CM. Provavelmente, essas autoras
devem ter considerado que determinadas CM representam formas variantes de uma mesma
unidade mínima distintiva.22 Provavelmente, deve ter ocorrido um problema na digitação dos

                                                                                                               
22As configurações que foram agrupadas dentro de uma mesma unidade correspondem as: CM 8a e 8b; CM 18a e
18b; CM 22a e 22b; 29a e 29b; 35a e 35b; 37a e 37b; 46a e 46b; 51a e 51b; 53a e 53b; 59a e 59b. Daí, a contabilização
de 64 (sessenta e quatro) CM. Se desconsiderarmos esses casos de alofonia/alomorfia, teríamos 74 (setenta e
quatro) CM.
44

números associados às CM acima: a CM 29a parece estar duplicada, no entanto, a segunda


imagem deve ser interpretada como 29b, já que possui uma forma visivelmente semelhante à
primeira imagem de 29a. Parece que há algum critério de organização dessas CM, porém o
critério adotado não é harmônico (FARIA-NASCIMENTO, 2009).

 
Figura 31 – CM da Libras inventariada por Pimenta.
Fonte: PIMENTA, N. (LSB Vídeo, s.d.).23

No inventário da Figura 31, estão dispostas 61 CM. Essas CM obedecem ao critério


de fechamento (CM 1) e abertura (CM 61) dos dedos. No entanto, ao analisar a organização
interna das CM propostas por Nelson Pimenta,24 Faria-Nascimento (2009) declara que há uma
variação, já que

                                                                                                               
23Adaptado do “Poster Configurações de Mãos em LSB”, elaborado pelo autor, professor e pesquisador Nelson
Pimenta e publicado por LSB Vídeo. Disponível em <http://www.lsbvideo.com.br>.

24“Nelson Pimenta nasceu em Brasília em 1963 e é mestres em Estudos da Tradução pela Universidade Federal
de Santa Catarina. Primeiro ator surdo a se profissionalizar no Brasil, estudou no NTD (National Theatre of the
Deaf), de Nova York. É pesquisador de Língua de Sinais e já atuou como instrutor de Teatro e de Língua de
Sinais Brasileira em diversas instituições de ensino, entre elas o INES (Instituto Nacional de Educação de
Surdos) e a FENEIS (Federação Nacional de Educação e Integração de Surdos). Atualmente, faz curso de
graduação em Cinema na Universidade Estácio de Sá, coordena as ações de teatro e expressão corporal da
ARPEF (Associação de Reabilitação e Pesquisa Fonoaudiológica), preside o ILSB (Instituto de Língua de Sinais
Brasileira) e é professor de Teatro no Centro Educacional Pilar Velazquez.” Disponível em:
<http://www.paulinas.org.br/loja/DetalheAutor.aspx?idAutor=13278>. Acesso em: 20 fev. 2012.
45

ora a passagem de uma CM para a outra parte de uma CM mais aberta para
uma CM mais fechada (como na seqüência das CMs: 51 e 52; 19 e 20; 36 e
37 etc.) e ora a passagem se dá a partir de uma CM mais fechada para uma
mais aberta (como na seqüência das CMs: 17, 18 e 19; 26, 27, 28 e 29; 59,
60 e 61 etc.) (FARIA-NASCIMENTO, 2009, p. 166).

Grupo Configurações das Mãos

Grupo 1

Grupo 2

Grupo 3

Grupo 4

Grupo 5

Grupo 6

Grupo 7

Grupo 8
46

Grupo Configurações das Mãos

Grupo 9

Grupo 10

Quadro 2 – Distribuição das CM segundo Faria-Nascimento (2009).


Fonte: FARIA-NASCIMENTO, 2009, p. 176-183.

No quadro acima, pode-se observar a distribuição das CM proposta por Faria-


Nascimento (2009). Em seu inventário, a autora relacionou 75 CM, dividas em 10 grupos. É
relevante ressaltar que a pesquisa dessa autora tinha como enfoque o léxico e não a fonologia,
apesar de ela ter contemplado esse e os outros parâmetros no seu trabalho. No próximo
quadro (Quadro 3), serão apresentadas as possibilidades de alofonia que a autora sugere.

Grupo Relação entre as CM e a alofonia segundo Ferreira-Nascimento (2009)


As CM 3 e 4 (à exceção de quando representam letras do alfabeto datilológico em que a CM3
equivale a ‘S’ e a CM4 equivale à letra ‘A’) parecem ser alofones; as CM 14 e 15 desse grupo
Grupo 1
e a CM 54 do grupo 6, também, parecem funcionar como alofone. Além dessas, a CM10
desse grupo e a CM34 do grupo 3 também parecem ser alofones.
Parecem funcionar, também, como alofones, as CM 16 e 17; as CM 19 e 20; as CM 24 e 25;
Grupo 2
as CM 26 e 28.
As CM 34 e 35 fazem par ‘alofônico’ com as CM 9 e 11 do grupo 1 de CM, por exemplo, ao
Grupo 3
articular a UL PATO.
Grupo 4 As CM 39, 45 e 46, eventualmente, funcionam como alofones.
Grupo 5 As CM 48 e 49 podem funcionar como alofones.
Grupo 6 A CM 15 do Grupo 1 (no Quadro 2) e as CM 50, 51 e 52 podem ser alofones.
Grupo 7 A autora não relata caso de alofonia entre as CM desse grupo.
As CM 57 e 58; as CM 62 e 63; a CM 64 desse grupo e a CM 74 do grupo 10 podem ser
Grupo 8
alofones.
Grupo 9 As CM 66 e 67 podem ser alofones.
Grupo 10 As CM 72 e 73 podem funcionar como alofones.
Quadro 3 - Possíveis casos de alofonia entre as CM da Libras.
Fonte: FARIA-NASCIMENTO, 2009, p. 177-183.

Neste tópico, foram apresentadas as diferentes propostas das CM para a Libras,


objetivando-se conhecer o trabalho de diferentes estudiosos. A última proposta parece que é a
mais interessante, já que a autora sugere os possíveis casos de alofonia. Não adotaremos,
entretanto, nenhuma das propostas que foram aqui explanadas, uma vez que, conforme
observaremos no modelo teórico adotado para essa Dissertação, não se teria utilidade. Além
disso, ainda não se tem um consenso em relação ao quantitativo de CM da Libras;25 com
                                                                                                               
25Chegamos a essa conclusão a partir do questionamento: “Quais são as CM da Libras? 46 CM, 64/74 CM, 61
CM ou 75 CM?”. Cremos que só será possível delinear seguradamente os fonemas/alofones da Libras quando as
pesquisas avançarem e houver um consenso no quantitativo de CM da Libras. Dessa forma, os pesquisadores
poderiam convencionar resultados e pleitear por resultados mais profícuos.
47

efeito, a discussão em torno das possíveis CM da Libras permanece. É importante notar que
não existem infinitas CM, tendo em vista que a mão humana está limitada por restrições de
ordem articulatórias. Essas restrições estão relacionadas a disposição dos dedos em termos de
abertura e fechamento para a composição de determinada configuração. Nisto, percebemos
que a CM é um parâmetro importantíssimo, visto que sem ela é impossível executar quaisquer
sinais.
Apesar da relevância do parâmetro CM, o desafio que ainda persiste nas pesquisas da
Libras tem sido elaborar um inventário fonológico com vistas a descriminação dos ‘fonemas’
e dos respectivos ‘alofones’.

1.3.1.2 Locação (L) ou Ponto de Articulação (PA)

Sendo um dos parâmetros já descritos por Stokoe (1960, 1978), a Locação (L),
também chamada de Ponto de Articulação (PA), envolve “[...] o espaço em frente ao corpo,
ou uma área do próprio corpo, em que os sinais são articulados” (FERREIRA-BRITO, 1995,
p. 37). Em outras palavras, pode-se dizer que esse parâmetro corresponde ao
[...] lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar
alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do
corpo até a cabeça) e horizontal (à frente do emissor) (FELIPE;
MONTEIRO, 2008, p. 22).

Os PA ocorrem no espaço de enunciação, o que define um número finito de pontos.


Na Figura abaixo (Fig. 32), está representado o espaço de enunciação juntamente com as
principais regiões de contato. Quanto ao espaço de enunciação, podemos defini-lo em termos
de:
[...] espaço ideal, no sentido de que se considera que os interlocutores
estejam face a face. Pode haver situações em que o espaço de enunciação
seja totalmente reposicionado e/ou reduzido, por exemplo, se um enunciador
A faz sinal para B, que está à janela de um edifício, o espaço de enunciação
será alterado. O importante é que, nessas situações, os pontos de articulação
têm posições relativas àquelas da enunciação ideal (KARNOPP, 1999, p.
47).
48

Figura 32 – Espaço de enunciação na Língua de Sinais.


Fonte: QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 57.

Stokoe (1976) relacionou 12 (doze) locações com seus respectivos códigos (sistema
de notação) para representá-las linearmente. Esses códigos encontram-se dispostos na Figura
33. Percebe-se que há uma coerência na organização dos pontos de locação, considerando-se
que ele começa no ponto 0 (espaço neutro), passando por todo o rosto, testa e descendo pelo
tronco até a cintura.

Figura 33 – Locações segundo o Modelo de Stokoe.


Fonte: VALLI; LUCAS, 2000, p. 27.

Fundamentando-se na obra de Friedman (1977), Brito e Langevin (FERREIRA-


BRITO, 1995) descrevem 4 (quatro) regiões principais para os pontos de articulação, sendo
que a categoria B (Braços) está contida na classe T (Tronco).
49

Cabeça (C) Tronco (T) Braços (B) Mão (M) Espaço Neutro (EN)
topo da cabeça ( ); pescoço (p); braço (S); palma (P);
testa (T); ombro (O); antebraço (I); costas das mãos (C);
rosto (R); busto (B); cotovelo (C); lado do indicador (L1);
parte superior do estômago (E); pulso (P). lado do dedo mínimo (L2);
rosto (S); cintura (C); dedos (D);
parte inferior do ponta dos dedos (Dp);
rosto (I); nós dos dedos (junção
orelha (p); entre os dedos e a mão)
olhos (O); (Dd);
nariz (N); nós dos dedos (primeira
boca (B); junção dos dedos) (Dj);
bochechas (b) dedo mínimo (D1);
queixo (Q); anular (D2);
zona abaixo do dedo médio (D3);
queixo (A). indicador (D4);
polegar (D5);
interstícios entre os dedos
(V);
interstício entre o polegar e
o indicador (V1);
interstício entre os dedos
indicador e médio (V2);
interstício entre os dedos
médio e anular (V3);
interstício entre os dedos
anular e mínimo (V4).
Quadro 4 – Pontos de Articulação segundo Brito e Langevin (1995).

No “Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue da Língua de Sinais Brasileira”,


Capovilla e Raphael (2001) organizam as descrições dos sinais quanto ao local de articulação
da seguinte forma:
acima, abaixo, sobre, sob, ao lado, à esquerda, à direita, à frente, em frente,
diante, atrás ou tocando em relação às seguintes partes do corpo: abdome,
antebraço ou antebraços, barriga, boca, bochecha ou bochechas, braço ou
braços, cabeça, cintura (lado esquerdo ou lado direito), corpo, costas,
cotovelo ou cotovelos, coxa ou coxas (lado esquerdo ou direito), dedos,
dente ou dentes, dobra do braço ou dobras dos braços, dorso da mão ou
dorso das mãos, lábio ou lábios (superior ou inferior), laterais da cabeça,
lateral do corpo (direita ou esquerda), língua, nariz (lateral ou ponta), olho
ou olhos, ombro ou ombros, orelha ou orelhas, palma ou palmas, parte
interna do braço ou parte interna dos braços, parte superior do braço ou parte
superior dos braços, peito, pescoço, ponta da língua, quadril ou quadris (lado
esquerdo ou direito), queixo, rosto ou face (CAPOVILLA; RAPHAEL,
2001, p. 49).

Apoiando-se no trabalho de Liddell e Johnson (1989 [2000]), Xavier (2006)


apresenta 20 (vinte) pontos de articulações ancorados no corpo e que são fonologicamente
distintivos. Esses pontos são: BH (back of head) - região posterior da cabeça; TH (top of
head) – topo da cabeça; FH (forehead) – testa; SF (side of forehead) – lado da fronte; NS
(nose) – nariz; CK (cheek) – bochecha; ER (ear) – orelha; MO (mouth) – boca; LP (lip) –
50

lábio; JW (jaw) – maxilar; CN (chin) – queixo; NK (neck) – pescoço; SH (shoulder) –


ombros; ST (sternum) – esterno; CH (chest) – peito; TR (trunk) – tronco; UA (upper arm) –
braço; FA (forearm) – antebraço; AB (abdomen) – abdômen; LG (leg) – perna. Todos esses
pontos podem ser visualizados na Figura 34.

Figura 34 – Pontos de articulação ancorados no corpo.


À esquerda, pontos de articulação na cabeça e no pescoço; no centro, pontos de articulação no tronco; à direita,
pontos de articulação nos braços.
Fonte: LIDDELL e JOHNSON, 1989 em VALLI; LUCAS; MULROONEY, 2000, p. 299.

É consensual entre os pesquisadores das LS que o parâmetro PA, depois do


parâmetro CM, é o segundo principal (STOKOE, 1976; KLIMA e BELLUGI, 1979;
KARNOPP, 1999). Da mesma forma que a CM, não existe sinal sem PA, haja vista que esses
são os dois parâmetros basilares da LS. No segundo capítulo, exporemos como se dá a análise
dos pontos de articulação (POA) à luz do Modelo Prosódico (MP). No Anexo A, encontram-
se descritos os principais traços que são relevantes para a análise fonológica no MP. É
relevante destacar também que, no MP, o conceito de ponto de articulação não é o mesmo de
locação, conforme verificaremos no próximo Capítulo.

1.3.1.3 Movimento (M)

Indubitavelmente, a definição e classificação bastante elucidativa sobre o parâmetro


Movimento (M) para a Libras foi delineada por Ferreira-Brito (1995), inspirada nas pesquisas
de Friedman (1977), Supalla e Newport (1978) e Klima e Bellugi (1979). Considerado um
parâmetro complexo, o movimento envolve uma vasta gama de formas e direções. Essas
formas e direções englobam os movimentos internos das mãos, os movimentos do pulso, os
movimentos direcionais no espaço e as séries de movimentos num mesmo sinal (FERREIRA-
BRITO, 1995). No Quadro 5, encontra-se a classificação dos diferentes tipos de movimento
51

por categoria. Suspeita-se que esses diferentes tipos de movimentos devam funcionar como
traços distintivos. Falar-se-á mais a respeito disso no próximo capítulo ao descrever os traços
prosódicos (TP).

TIPO DIRECIONALIDADE

Contorno ou forma geométrica: retilíneo, helicoidal, Direcional


circular, semicircular, sinuoso, angular, pontual - Unidirecional: para cima, para baixo, para direita,
Interação: alternado, de aproximação, de separação, para esquerda, para dentro, para fora, para o
de inserção, cruzado centro, para a lateral inferior esquerda, para a
Contato: de ligação, de agarrar, de deslizamento, de lateral inferior direita, para a lateral superior
toque, de esfregar, de riscar, de escovar ou de pincelar esquerda, para a lateral superior direita, para
Torcedura de pulso: rotação, com refreamento específico ponto referencial.
Dobramento de pulso: para cima, para baixo - Bidirecional: para cima e para baixo, para a
Interno das mãos: abertura, fechamento, curvamento e esquerda e para a direita, para dentro e para fora,
dobramento (simultâneo/gradativo) para laterais opostas – superior direita e inferior
esquerda.

Não-direcional
MANEIRA FREQUÊNCIA

Qualidade, tensão e velocidade Repetição


- contínuo - Simples
- de retenção - Repetido
- refreado
Quadro 5 – Classificação dos movimentos segundo Ferreira-Brito (1995).

Analisando o parâmetro M, Wilbur (1987) dividi-o em dois tipos: movimento com


trajetória (path movement) e movimento local (local movement). Os sinais podem apresentar
um ou outro tipo de movimento ou ainda a combinação de ambos.
Além de ser um parâmetro relevante para a constituição fonológica do sinal, o M
pode também funcionar como morfema. Isso ocorre quando os M são incorporados a um sinal
(raiz) (QUADROS e KARNOPP, 2004; QUADROS e CRUZ, 2011). Na Figura 35, o
movimento circular incorporado ao sinal GASTAR adiciona o significado relativo ao aspecto
duracional – GASTAR-CONSTANTEMENTE. Esse mesmo tipo de movimento adicionado a
outros verbos acrescenta a mesma informação.

 
Figura 35 – Sinal GASTAR-CONSTANTEMENTE.
Fonte: QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 124.
52

Outra particularidade do parâmetro M, que já foi observada por Supalla e Newport


(1978), se refere à questão da distinção entre nomes e verbos na língua de sinais. Esses
autores examinaram cem pares de nomes/verbos da ASL que supostamente não diferiam na
forma de se executar o sinal e estavam dentro do mesmo campo semântico. Eles concluíram
que os verbos possuem movimentos variados (alguns apresentam movimento simples e
outros, movimento repetido) e os nomes possuem uma característica comum (movimentos
mais curtos, repetidos e tensos).26 Não serão apresentadas outras especificidades do M em
relação ao aspecto morfológico, uma vez que esquiva do nosso objetivo que é discorrer acerca
da fonologia.
O conhecimento sobre os diferentes tipos de movimento existentes na Libras é de
suma importância para a compreensão dos possíveis traços distintivos que definirão os pares
mínimos dessa modalidade linguística. No próximo Capítulo, falar-se-á especificamente desse
parâmetro na perspectiva do Modelo Prosódico.

1.3.1.4 Orientação (Or)

Anteriormente, já pontuamos que Battison (1974, 1978) introduziu os parâmetros


referentes à Orientação da mão/palma (Or) e aos Aspectos Não-Manuais (ENM). A
Orientação “[...] é a direção para a qual a palma da mão aponta na produção do sinal”
(KARNOPP, 1999, p. 49). Parece haver um certo consenso entre os pesquisadores das línguas
de sinais ao afirmar que as Or podem ser: para cima, para baixo, para frente, para trás,
ipsilateral e contralateral. A Figura 36 demonstra os exemplos para esse parâmetro.

                                                                                                               
26 Esse processo, chamado de nominalização, será melhor explanado no tópico 2.1.4.1.
53

Figura 36 – Orientação da palma (Or)


(up – para cima; down – para baixo; in – para dentro; out – para fora).
Fonte: MARENTETTE, 1995, p. 204.

É bem provável que o parâmetro Or funcione, em alguns casos, como morfema (cf.
Fig. 37). Nesse sentido, Quadros e Cruz (2011) exemplificam:
[...] o verbo AJUDAR, com a orientação da palma virada para a frente,
significa EU-AJUDAR-VOCÊ, se for virada para o sinalizante, significa
VOCÊ-AJUDAR-EU. O participante e o objeto mudam de acordo com a
orientação da palma da mão. Isso é observado em vários verbos das línguas
de sinais (QUADROS; CRUZ, 2011, p. 65).
54

 
 

Figura 37 – Processo morfológico no sinal AJUDAR


(À direita, EU-AJUDAR-VOCÊ, e, à esquerda, VOCÊ-AJUDAR-EU).
Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 170.

Falaremos mais especificamente sobre a representação fonológica da Or quando


tratarmos do Modelo Prosódico, tendo em vista que esse modelo oferece uma nova visão em
relação à análise desse parâmetro.

1.3.1.5 Expressões Não-Manuais (ENM)

As línguas de sinais não estão restritas às possibilidades articulatórias das mãos e dos
braços. Existem outros dados que estão inextricavelmente ligados aos sinais e fazem parte dos
elementos linguísticos que são categorizados como aspectos não-manuais. Quanto a esses
aspectos, também denominados “expressões não-manuais”, é pertinente expor que:
As expressões não-manuais (movimento da face, dos olhos, da cabeça ou do
tronco) prestam-se a dois papéis nas línguas de sinais: marcação de
construções sintáticas e diferenciação dos itens lexicais. As expressões não-
manuais que têm função sintática marcam sentenças interrogativas sim-não,
interrogativas QU-, orações relativas, topicalizações, concordância e foco
[...] As expressões não-manuais que constituem componentes lexicais
marcam referência específica, referência pronominal, partícula negativa,
advérbio, grau ou aspecto [...] (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 60).

Com base no exposto, poderíamos pressupor que as expressões não-manuais são


mais relevantes para as análises morfológicas e sintáticas (ou morfossintáticas) do que as
fonológicas. Contudo, percebemos que os sinais na Libras que são constituídos apenas pelo
traço de marcação não-manual foram elencados por Xavier (2006) e compreendem:
ASSOBIAR (p. 235), BUFAR (p. 324), MASTIGAR (p. 875), ROUBAR (2)
(p. 1154) e SEXO (ato sexual) (p. 1194). Desses cinco, os dois últimos
podem, respectivamente, ocorrer como marcação não manual de ROUBAR
(1) (dicionarizado sem essa marcação) e MOTEL (p. 923) (XAVIER, 2006,
p. 88).
55

Figura 38 – Sinal SEXO (ato sexual).


Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1194.

Além desses cinco sinais, 27 que são puramente constituídos de expressões não-
manuais, Xavier (2006), a partir da análise do Dicionário Enciclopédico Ilustrado Trilíngue
(CAPOVILLA e RAPHAEL, 2001), categoriza outros 2.269 sinais quanto à propriedade
articulatória – marcação não-manual: (i) 1.897 sinais não possuem a marcação não-manual; e,
(ii) 372 sinais possuem a marcação não-manual. Abaixo (Fig. 39), ilustramos um sinal que
possui a marcação não-manual:

Figura 39 – Sinal MAGRO.


Fonte: CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 856.

Finau (2008), ao analisar as marcas linguísticas no que tange às categorias tempo e


aspecto na Libras, constatou que:
As realizações desses sinais [PASSADO, PRESENTE e FUTURO,
AGORA/HOJE] podem ser descritas como se estivessem se valendo de
linhas temporais imaginárias situadas no espaço de sinalização: futuro bem à
frente do tronco, passado atrás e presente próximo. Entretanto, é possível
descrevê-los sem recorrer à hipótese das linhas, desde que seja observada a
direção do movimento, uma vez que isso parece ser valido para a descrição
de todas as outras estruturas linguísticas relacionadas a tempo/aspecto na
Libras. [...] eles podem ocorrer não apenas para marcar tempo, mas também
estão relacionados ao aspecto, principalmente, ao se avaliar as modificações
de parâmetros que os sinais de PASSADO e FUTURO podem sofrer, ou
seja, as flexões empregadas para denotar uma graduação aspectual (FINAU,
2008, p. 262).

É evidente que as marcas não-manuais (ou expressões faciais e/ou corporais)


possuem peso linguístico nos itens lexicais das línguas de sinais. O seguinte questionamento
poderia irromper a partir dessa assertiva: para qual nível de análise linguística esse peso seria
relevante? Conforme fora exposto anteriormente, as expressões não-manuais são de extrema
relevância para os estudos morfológicos e sintáticos. Contudo, elas são importantes para as
análises fonológicas na perspectiva da teoria prosódica, conforme será observado na análise
dos sinais da ASL (no capítulo 2).

                                                                                                               
27
Alguns dos sinais que não forem ilustrados no corpo dessa Dissertação serão ilustrados nos Apêndices F e G.
56

1.4 VISÃO GERAL SOBRE OS PROCESSOS FONOLÓGICOS

Defendendo a Teoria da Fonologia Natural, Stampe (1973) foi o primeiro estudioso a


propor e descrever os processos fonológicos. Para esse autor, o processo fonológico constitui:
[…] uma operação mental que se aplica à fala para substituir, em lugar de
uma classe de sons ou seqüência de sons que apresentam uma dificuldade
específica comum para a capacidade de fala do indivíduo, uma classe
alternativa idêntica em todos os outros sentidos porém desprovida da
propriedade difícil (STAMPE, 1973, tradução de YAVAS;
HERNANDERONA; LAMPRECHT, 1991, p. 90).

Stampe (1973) disserta que os processos fonológicos são inatos, naturais e


universais. Eles são naturais porque, em detrimento da limitação humana em produzir
determinado fonema num dado momento da vida, surge a necessidade de adaptação
linguística à fala padronizada. Eles são inatos porque eles já vêm com a criança desde o
nascimento e, à medida em que essa criança vai interagindo com um determinada comunidade
linguística, essas limitações vão sendo superadas, visto que vai ocorrendo o processo de
assimilação do funcionamento do sistema linguístico da língua materna. Por serem naturais e
inatos, eles são encontrados em todas as crianças, sendo, por conseguinte, universais.
A tabela abaixo sintetiza a definição de alguns dos processos fonológicos, de acordo
com Lamprecht et al. (2009):

Processos Fonológicos Conceitos


Processo fonológico no qual um som se transforma em outro em função da
influência de um dos seus segmentos vizinhos. Ex.: No inglês missed
[mist], o /d/ é produzido como [t] para concordar, em termos de
Assimilação
vozeamento, com a consoante final da raiz do verbo. No português em
certas regiões do país, ‘coruja’ é produzido como [kuruja] em função da
assimilação do /o/ pelo /u/.
Processo fonológico de supressão de um segmento vocálico ou consonantal
que modifica a estrutura silábica. Ex.: No inglês britânico, o [a] da palavra
Elisão
secretary sofre elisão; no português, ‘xícara’ pode ser produzido como
[xikra].
Inserção de um segmento vocálico ou consonantal que modifica a estrutura
silábica. Ex.: No inglês, na palavra stop, os falantes do português brasileiro
Epêntese tendem a produzir duas vogais epentéticas [istopi], de modo que a
produção esteja de acordo com o molde silábico CV, predominante na sua
língua materna; no português, ‘pneu’ pode ser produzido como [pinew].
Processo fonológico que leva à realização de um fonema, geralmente uma
Simivocalização líquida como uma semivogal. Ex.: Em certos dialetos do português, /sol/ é
produzido como [‘sow].
Quadro 6 – Alguns conceitos de processos fonológicos, de acordo com Lamprecht et al. (2009).
Fonte: LAMPRECHT et al., 2009, p. 341-352.
57

No quadro a seguir, serão expostos as distintas classificações para os processos


fonológicos segundo Ingram (1976), Grunwell (1982) e Teixeira (2006).

Classificação dos processos fonológicos Autor


Processos de estrutura silábica;
Processos de substituição; Ingram (1976)
Processos de assimilação.
Processos de simplificações sistêmicas (eixo paradigmático)
Grunwell (1982)
Processos de modificações na estrutura (eixo sintagmático.
Processos de substituição;
Processos modificadores estruturais; Teixeira (2006)
Processos sensíveis ao contexto.
Quadro 7 – Diferentes classificações para os processos fonológicos.

Os processos de substituição dizem respeito à substituição de traços dos segmentos


que compõem as diversas possibilidades de constituição dos paradigmas do sistema de sons
da língua. Já os processos que alteram a estrutura prosódico-silábico-lexical (processos
modificadores estruturais), a substituição de traços e/ou segmentos vai comprometer as
possibilidades combinatórias através das quais o sistema de sons da língua se constitui. Nos
processos sensíveis ao contexto, as substituições de traços ou segmentos são geradas pela
influência do contexto fonológico adjacente, e fazem com que os elementos da estrutura
prosódico-silábico-lexical se tornem mais parecidos uns com os outros (TEIXEIRA, 2006).
Quando essa autora acima fala em “sons da língua”, ela se refere, obviamente, às unidades
mínimas distintivas. Conforme já tem sido pontuado desde o preâmbulo dessa Dissertação,
essas unidades mínimas também ocorrem nas línguas sinalizadas.
Apesar de os diferentes autores preconizarem diferentes formas de classificação para
os processos fonológicos, percebe-se que há uma certa unanimidade quanto aos tipos de
processo: assimilação, elisão, epêntese, metátese e reduplicação. Por esse motivo, adotamos
essas nomenclaturas para categorizar os processos encontrados na Libras.
Todos os pesquisadores e profissionais da área dos distúrbios da linguagem
concordam que os processos fonológicos derivam da tendência natural à simplificação que faz
parte da fala da criança que se encontra em processo de aquisição linguística. Uma vez que
creditamos à Libras a possibilidade de uma análise fonológica, é bem provável que, a partir
dessa análise, os processos fonológicos sejam evidenciados. O propósito de se perscrutar os
processos fonológicos nessa pesquisa é visando a edificação de uma teoria fonológica para a
língua de sinais. Apesar de termos conseguido classificar os processos encontrados, algumas
58

das limitações metodológicas fizeram com que não fosse possível classificá-los em normais e
desviantes. Deixaremos esse objetivo desafiador para pesquisas porvindouras, já que isso
demandaria, outrossim, um estudo de normatização.

1.5 MODELOS FONOLÓGICOS DAS PESQUISAS EM LÍNGUAS DE SINAIS

Na tentativa de se postular uma teoria fonológica para a língua de sinais, diversos


estudiosos propuseram diferentes modelos para se representar fonologicamente as línguas
viso-gestuais. Nesse tópico, serão apresentados, de modo objetivo e sucinto, as principais
propostas teóricas, objetivando-se fazer uma revisão da literatura concernente ao campo da
fonologia dos sinais.
Os modelos fonológicos propostos para análise das línguas de sinais abrangem:
Modelo Quirêmico, Modelo MH (Movement-Hold), Modelo HT (Hand Tier), Modelo
Moraico, Modelo da Fonologia da Dependência e Modelo da Fonologia Visual. Não
abordaremos nesse tópico nem nesse capítulo o modelo prosódico (BRENTARI, 1998),
considerando-se que, uma vez que esse modelo será o referencial teórico primordial dessa
Dissertação, consagraremos todo o segundo capítulo para a explanação do mesmo.

1.5.1.1 Modelo Quirêmico

William Stokoe (1960) foi o primeiro a desenvolver um sistema para descrição dos
sinais. Antes de Stokoe, os sinais eram considerados um todo-indivisível, sem estrutura
interna. Então, esse pesquisador foi o primeiro a sugerir que os sinais poderiam ser analisados
da mesma forma que as unidades da língua falada (VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005).
Baseando-se numa perspectiva estruturalista, o objetivo de Stokoe (1960) foi
compartimentalizar os sinais em unidades e analisá-los do ponto de vista quirológico. É
relevante frisar que Stokoe, nos primórdios das suas análises, preferiu utilizar o termo
quirologia e quirema como análogos de fonologia e fonema. Ele propôs que os sinais são
constituídos de três partes (parâmetros) que se combinam simultaneamente. A esses
constituintes, ele designou: (1) a configuração da(s) mão(s) na articulação do sinal
59

(designator ou dez); (2) a locação no corpo ou no espaço onde o sinal é articulado (tabula ou
tab); (3) o movimento da(s) mão(s) no decurso da alteração das locações ou configurações de
mãos (signation ou sig). Na Figura 40, podem-se observar os símbolos empregados por
Stokoe (1960) para descrição dos sinais por ele investigados na Língua de Sinais Americana.

Figura 40 – Símbolos desenvolvidos por Stokoe para notação dos sinais da ASL.
Fonte: VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005, p. 25.

Os símbolos acima descritos são utilizados em A Dictionary of American Sign


Language (STOKOE; CASTERLINE; CRONEBERG, 1965). No sistema de notação de
Stokoe, os sinais são “escritos” seguindo a ordem: primeiro anota-se o tab (locação), seguido
da dez (configuração de mão) e, por último, o sig (movimento).
60

A tese de Stokoe não foi prontamente aceita pelos linguistas de sua época.
Posteriormente, com o aporte teórico da teoria gerativa para os estudos linguísticos das
línguas de sinais, os linguistas foram reconhecendo a importância dos estudos de Stokoe.
Apesar da sua contribuição significativa para a descrição e análise da Língua de Sinais
Americana, a sua proposta de análise não é útil o bastante para se encontrar soluções e
possíveis respostas aos problemas morfológicos e/ou fonológicos (LIDELL, 2003). Contudo,
William Stokoe é considerado pelos pesquisadores do campo das línguas de sinais “o pai da
linguística das línguas de sinais”.

1.5.2 Modelo MH – “MOVEMENT- HOLD”

O modelo de Liddell e Johnson, denominado aqui de Modelo Movement-Hold, está


descrito nas pesquisas de: Liddell (1984(a,b), 1990(a,b) e 1993); Johnson (1986, 1990, 1993);
Liddell e Johnson (1986, 1989) e Johnson e Liddell (1984). Anteriormente, Chinchor (1978),
Meier (1982), e Wilbur, Klima e Bellugi (1983) já haviam sugerido um abordagem da
fonologia autossegmental para os sinais, na qual é possível representar tantos os aspectos
simultâneos quanto os lineares. Os conceitos de unidades de estado (preensão) e de
movimento foram definidos primeiramente por Chinchor (1978) e Supalla (1982). No entanto,
Liddel e Johnson ampliaram esses conceitos, e propuseram o Modelo MH.
De acordo com Valli, Lucas e Mulrooney (2005), a tese básica sobre a estrutura dos
sinais neste modelo é que os sinais são constituídos de segmentos de preensão (Hold
segments – Hs) e de segmentos de movimento (Movement segments – Ms) que são
produzidos sequencialmente. As informações sobre a configuração da(s) mão(s), a locação, a
orientação e os elementos não-manuais são representadas nos feixes de traços articulatórios.
Esses feixes articulatórios operam sem disposição hierárquica (ou seja, não há geometria de
traço), peso ou estado independente.
Objetivando registrar os segmentos de preensão (H) e os seguimentos de movimento
(M) de cada sinal, Liddell e Johnson desenvolvem o sistema de notação do Modelo MH. Com
o aperfeiçoamento do modelo, eles começaram a observar diferenças no que diz respeito à
duração dos segmentos de preensão em alguns sinais. A fim de que o modelo se adequasse ao
novo achado, eles introduziram o segmento “X” para demonstrar o fato de que o comprimento
de algumas preensões podia ser alterado sem mudar o sentido do sinal. No sistema de
61

notação, são adotados termos como: mão fraca (weak hand) e mão forte (strong hand).
Enquanto o termo mão forte descreve a mão ativa, o outro – mão fraca – descreve a mão que
recebe a ação (VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005).
No Quadro 8, será ilustrada uma notação simplificada para o sinal da ASL
“WEEK”28 (semana). Nesse sistema de notação, identificaremos que o sinal é subdivido em
unidades especificas e os diferentes aspectos do sinal são anotados. A unidade de tempo
(timing unit) descreve cada segmento, que pode ser um movimento (M), uma preensão (H),
ou uma preensão modificada (X). O contorno refere-se à descrição de uma forma de
movimento específico (ex. em linha reta ou curvado). Caso haja contato de um segmento, o
sinal de adição (+) é colocado na tabela. Na mesma tabela, também é possível registrar: a
configuração de mão do sinal, o sítio focal onde o sinal é posicionado
(posicionamento/locação), a direção/orientação da palma em relação ao corpo
(rotação/orientação) e os aspectos não-manuais que fazem parte do sinal.

Unidade 1 Unidade 2 Unidade 3


Unidade de tempo X M H
Contorno
Contato + + +
Movimento Local

Configuração de mão 1 1
Posicionamento sítio focal Base da palma da Pontas dos dedos
Mão (Locação) mão fraca da mão fraca feixe
Forte Rotação Palma da mão Palma da mão articulatório
(Orientação) voltada para baixo voltada para baixo
Sinal Não-manual

Configuração de mão B B
Posicionamento sítio focal Na frente do tórax Na frente do tórax
Mão (Locação) feixe
Fraca Rotação Palma da mão Palma da mão articulatório
(Orientação) voltada para cima voltada para cima
Sinal Não-manual - -

Quadro 8 – Representação do sinal ‘WEEK’ (SEMANA) no modelo fonológico MH.


Fonte: VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005, p. 35 (tradução nossa).

No Quadro acima, está representado fonologicamente o sinal “WEEK” da ASL. O


sinal começa com uma preensão breve (X), com a mão forte na base da palma da mão fraca.
A mão forte move-se, em seguida, para as pontas dos dedos da mão fraca e encerra-se numa
                                                                                                               
28
Doravante, todos os exemplos de sinais da ASL, sobretudo os que não forem ilustrados no corpo dessa
Dissertação, estarão ilustrados no Apêndice G, que se refere ao “Glossário para os sinais da Língua Americana
de Sinais”.
62

preensão plena nessa posição. Nesse sinal, a única mudança que ocorre é no posicionamento
da mão forte, que se desloca da base da palma para as pontas dos dedos da mão fraca.
Nem todos os sinais seguem a estrutura XMH (Hold-Movement-Hold). Observemos
os sinais ilustrados na Figura 41 e descritos no Quadro 9.

Estrutura Sinal
Hold (H) COLOR, STARE
X M H, unidirecional29 ME, THINK
H M H, unidirecional GOOD, UNDERSTAND
X M X ou H M H, movimentos oscilantes30 LIGHT-YELLOW ou DREAM
OSC OSC

X M X M X M H, reduplicação31 simples, unilateral SCHOOL, AIRPLANE


X M X M X M H, 3 movimentos, não reduplicados DEAF, RESTAURANT
X M X M X M X M X M X, 3 sítios focais,32 5 movimentos GOAT, CHINA (nova versão)
X M X M H ou H M X M H, 2 movimentos, não reduplicados SODA-POP, DESTROY
X M X M X M X M X M X M X, movimento bidirecional repetido
33 MAYBE, INTERPRET
Quadro 9 – Estrutura dos sinais no Modelo MH.
Fonte: VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005, p. 36 (tradução nossa).

 
Figura 41 – Exemplos de possíveis estruturas dos sinais no Modelo MH.
Fonte: VALLI, LUCAS e MULROONEY, 2005, p. 37.

                                                                                                               
29 Os sinais uniderecionais são executados numa única direção.

30O movimento oscilante refere-se ao movimento que está contido na própria mão e não envolve uma mudança
de locação.

31O movimento reduplicado ocorre quando um sinal se incia numa posição (locação) e termina numa outra e,
logo após, toda a sequência é repetida.

32Os sítios focais indicam onde os sinais são produzidos. Um sinal pode ter um ou mais sítios focais, conforme
podem ser observados nos exemplos acima: enquanto o sinal de THINK tem apenas um sítio focal, o sinal de
CHINA possui três sítios.

Os sinais bidirecionais movem-se em duas direções. Por exemplo, no sinal MAYBE, observa-se que as mãos
33

movem-se alternadamente para cima e para baixo.


63

Ao analisar o modelo MH, Brentari (1998) afirma que os agrupamentos de traços (ou
seja, ponto de contato, configuração da mão, palma da mão e orientação) não possuem um
status formal nesse modelo. As entidades unificadas de configuração de mão, locação e
movimento perdem a qualidade fonêmica que possuíam no modelo quirêmico em virtude das
unidades de contraste. Essa mudança é comparável à mudança na concepção do par mínimo
para as línguas orais após a publicação de Jakobson, Fant e Halle (1972), tendo-se em vista
que, a partir da introdução da ideia de traço distintivo, os fonemas que possuem mais de um
traço não são suficientes para determinar um par mínimo.
“Um ponto fraco do Modelo HM é a sua inabilidade de selecionar pares mínimos”
(BRENTARI, 1998, p. 85, tradução nossa).34 Por esse motivo, o sistema de notação/registro
não convém ao modelo prosódico. As possíveis variantes “fonéticas” que pudessem ser
apresentadas ao sinalizante (‘falante’) nativo para julgamento de gramaticalidade não são
claras no modelo MH, o que cria dificuldades para análises, já que, algumas vezes,
determinado alofone pode envolver formas que não são tão similares. Por exemplo,
[...] todas as vogais do inglês tornam-se schwa [əә] em sílabas átonas, embora
essa redução neutralize um grande número de traços, e pode-se argumentar
que a partir de uma perspectiva fonética, [ü] é mais semelhante a [u] do que
[əә], embora [u] e [u] não sejam alofones. Na ASL, o ponto de articulação
comporta-se de maneira semelhante. A 'testa' e o 'peito' estão em variação
alofônica em COELHO, mesmo que estes lugares não sejam semelhantes
foneticamente. A questão de quais as características do modelo HM são
lexicalmente contrastivas nunca foi plenamente respondidas (BRENTARI,
1998, p. 85, tradução nossa).35

1.5.3 Modelo HT – “Hand Tier”

O Modelo HT (Hand Tier) é o primeiro modelo fonológico para os sinais que


representa o posicionamento da configuração de mão num nível autossegmental separado.
Esse modelo foi desenvolvido e aperfeiçoado por Sandler (1986, 1987(a), 1989, 1990,

                                                                                                               
34 Texto de partida: “One weakness of the HM Model is its inability to pick out minimal pairs […]”

35 Texto de partida: “[...] all English vowels become schwa [əә] in unstressed syllables, even though this
reduction neutralizes a large number of features, and it could be argued that from a phonetic perspective, [ü] is
more similar to [u] than [əә], even though [ü] and [u] are not allophones. In ASL, point of articulation behaves in
a similar way. The ‘forehead’ and the ‘chest’ are in allophonic variation in RABBIT, even though these places
are not very similar phonetically. The question of which features of the HM Model are lexically contrastive has
never been completely answered.”
64

1993(a,b), 1996(a,b)). Nesse modelo, a Configuração de Mão (HC) e a Locação (L) são
autossegmentos que se associam aos segmentos Locação (L) e Movimento (M).
A partir da noção de orientação instituído por Battison (1978), o Modelo HT inclui
esse “parâmetro” dentro do nível da Configuração da Mão. Brentari (1998, p. 86) assevera
que “a noção de configuração de mão como camada autossegmental resgata o status formal do
grupo dos traços distintivos da configuração de mão”, já que a configuração de mão possui
um papel semelhante no Modelo Quirêmico. Enquanto a Locação e o Movimento organizam-
se sequencialmente, a Configuração de Mão é simultânea.
O modelo HT define a locação em termos de “segmento que está presente quando a
mão dominante (i.e., a mão que articula os sinais de 1-mão) obrigatoriamente alcança uma
locação [específica] no curso da execução de um sinal” (SANDLER, 1989, p. 133, tradução
nossa).36
Enquanto no Modelo MH, as unidades de tempo são representadas pelos segmentos
de preensão (Hs) e de movimento (Ms), no Modelo HT, as categorias que as representam são
as locações e os movimentos.

Figura 42 – Árvore da Configuração de Mão Figura 43 – Árvore da Locação (X – Location).


(HC – Hand Configuration). Fonte: BRENTARI, 1998, p. 87.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 86.

Os traços estão estruturados em duas diferentes árvores (Figuras 42 e 43): a árvore da


Configuração de Mão (HC) (Fig. 42) e a árvore da Locação (X) (Fig. 43). O formato (forma)
da mão e a orientação são traços da categoria HC.

                                                                                                               
36 Texto de partida: “a segment that is present when the dominant hand (i.e., the hand that articulates one-handed
signs) obligatorily reaches [a specific] location in the course of executing a sign.”
65

1.5.4 Modelo Moraico

O Modelo Moraico (µ) preconiza um padrão de estrutura moraica para a


representação fonológica, defendendo um protótipo de sílaba que se encontra na instância de
uma gama de restrições fonológicas. Deve-se compreender que a mora37 (µ) é a unidade
subsilábica mínima requerida de uma sílaba bem formada. Em outras palavras, pode-se dizer
que a mora, no campo dos estudos fonológicos, se refere a unidade de som que determina o
peso silábico numa dada língua. A fonologia moraica refere-se à teoria fonológica que
compreende a mora como uma unidade fonológica significativa (CARR, 2008).
No caso das línguas de sinais, essas restrições estariam correlacionadas às mudanças
na configuração de mão – tanto no que se refere às mudanças na seleção dos dedos (chamadas
de contrastes de CM – handshape contrasts) quanto às mudanças nos ajustes de abertura
(chamadas de contornos da CM – handshape contours) (BRENTARI, 1998).
O Modelo Moraico não descarta os segmentos – Movimentos (Ms) e Posições (Ps) –
na representação do sinal, no entanto, ao invés desses segmentos serem registrados como
unidades de tempo, há uma estrutura moraica que absorve essas unidades. Não há uma
proposta específica para os traços dentro dessa abordagem. A estrutura moraica pressupõe as
unidades P e M, as quais serão exemplificadas na ilustração a seguir.

 
Figura 44 – Modelo moraico representando os sinais DANCE, FALSE e GERMANY (cf. PERLMUTTER, 1992)
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 89.

                                                                                                               
37É pertinente esclarecer que: a mora refere-se a “um termo que é frequentemente utilizado para descrever o
comprimento dos segmentos. As vogais longas são muitas vezes constituídas de duas moras (ou Morae),
enquanto as vogais curtas são constituídas apenas de uma. Os segmentos que possuem duas moras são
considerados bimoraicos, ao passo que os segmentos com uma mora são considerados monomoraicos. Do
mesmo modo, as consoantes geminadas são frequentemente constituídas de duas moras, em oposição às
consoantes curtas. (CARR, 2008, p. 103, grifos do autor, tradução nossa)”
66

Esse modelo também adota o conceito de sonoridade para explicitar o padrão de


distribuição das propriedades fonológicas do sinal, como, por exemplo, os movimentos de
vibração.
Apesar de tanto o Modelo Moraico quanto o Modelo Prosódico adotarem o conceito
de mora, Brentari (1998) expõe que existem diferenças significativas na aplicabilidade desse
conceito.

1.5.5 Modelo da Fonologia de Dependência

Muitos conceitos do modelo teórico da Fonologia da Dependência (FD) são


proveitosos para a fonologia dos sinais. Segundo Brentari (1998), um dos conceitos é a
complexidade, que pode se referir tanto à complexidade na geometria de traços ou na
estrutura constitutiva (moras, sílabas, pés, palavras, etc.) quanto à complexidade relativa entre
as estruturas fonológicas dentro da mesma categoria. Em relação ao termo ‘dependência’, é
pertinente compreender que:
O conceito de dependência tem sido utilizado na teoria linguística para
caracterizar a idéia de que elementos com um domínio particular podem
estar assimetricamente relacionados. A relação de dependência é uma
relação assimétrica binária em que um elemento é o regente ou núcleo, e o
outro o dependente. A relação núcleo-dependente, bem como a interpretação
dessa relação, foi primeiramente desenvolvida em trabalhos de sintaxe. A
incorporação da noção de dependência às representações fonológicas, em
particular à representação da estrutura interna do segmento, tem sido referida
como fonologia da dependência (KARNOPP, 1999, p. 58, grifos do autor).

Conforme mencionado, a Fonologia da Dependência adota os princípios de


binariedade e assimetria núcleo-dependente para a análise das línguas orais (ANDERSON e
JONES, 1974, 1977; DURAND, 1986; ANDERSON e EWEN, 1987; DIKKEN e van de
HULST, 1988; van der HULST, 1989; DRESHER e van der HULST, 1993).
Tomando-se como base os preceitos da Fonologia da Dependência anteriormente
aplicados à análise das línguas orais-auditivas, Van der Hulst (1993, 1995(a,b), 1996)
desenvolve um modelo para se representar fonologicamente os sinais. Para a língua de sinais,
ele não propôs uma unidade silábica, justificando que o sinal não possui distinção onset-rima
(BRENTARI, 1998). Para a língua viso-gestual, o modelo da FD adota três subnós –
67

articulador (articulator), modo (manner) e locação (place) –, os quais correspondem,


respectivamente, as categorias tab, sig e dez do Modelo Quirêmico.
Na ilustração abaixo (Fig. 45), está esquematizada a representação para os sinais de
1-mão.

 
Figura 45 – Representação de sinais com 1-mão no modelo FD.
Fonte: Van der HULST, 1996, p. 133.

A2 = nó articulador A1 = configuração da mão A0 = dedos selecionados


Or = orientação FC = configuração do dedo M = modo (do movimento)
P2 = locação2 P1 = locação1 P0 = locação0
HP = posição da mão Se = setting Sk = esqueleto

A estrutura do nó articulador (A2) é a mesma apresentada por Sandler (1989),


adaptando-se apenas a organização dos subnós de acordo com a FD.
Muitos sinais possuem um movimento da mão que faz parte da estrutura fonológica.
Van der Hulst (1995a) declara que, de acordo com muitos pesquisadores, os movimentos
podem ser especificados em termos de três coordenadas: (a) alta/baixa; (b)
ipsilateral/contralateral; (c) proximal/distal.
Não é o nosso objetivo apresentar todos os pressupostos teóricos desse modelo no
tocante à língua de sinais, por isso apresentou-se apenas uma visão geral. Para um maior
aprofundamento nesse modelo teórico, examinar os teóricos anteriormente mencionados nesse
tópico. No tocante à Libras, é interessante a pesquisa de Karnopp (1999), levando-se em conta
que ela se utiliza, fundamentalmente, dos pressupostos teóricos da FD.
68

1.5.6 Modelo da Fonologia Visual

O Modelo da Fonologia Visual, defendido por Uyechi (1994, 1995), utiliza-se da


geometria matemática para definir as generalizações, em particular àquelas relativas às
capacidades fisiológicas dos articuladores, no que tange à fonologia da língua de sinais. As
juntas articulatórias são consideradas pontos de articulação principais (pivot points) dentro
de um sistema de coordenada bidimensional; e o espaço de sinalização é um sistema de quatro
cubos tridimensionais.
Os quatro cubos no Modelo da FV compreendem: o primeiro para a mão, chamada
de mão prisma (hand prism – HP); o segundo para os sinais simples com ponto de
articulação no corpo ou no espaço neutro, chamado de espaço de sinalização local (local
signing space – LSS); o terceiro para os sinais complexos, chamado de espaço de sinalização
global (global signing space – GSS); e, o último para os constituintes de maior dimensão,
chamado de espaço de sinalização discursiva (discourse signing space – DSS). Esses
espaços estão ilustrados na Figura 46.

 
Figura 46 – Esquematização dos cubos no Modelo da FV.
Fonte: UYECHI, 1995 em BRENTARI, 1998, p. 92.

Cada um desses cubos contém seis planos articulatórios. Essa noção de planos
articulatórios tem sido adotada pelo Modelo Prosódico. A seguir, está representado o sinal
FALSE no Modelo da FV.
69

 
Figura 47 – Representação de FALSE no Modelo da FV.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 91.

1.6 CONCLUSÃO E DESAFIOS FUTUROS

No tocante à Língua Brasileira de Sinais, ainda não se tem pesquisado/constatado


quais configurações de mão compõem o conjunto de “fonemas” e “alofones”. Nesse sentido,
Quadros e Karnopp (2004 apud QUADROS; CRUZ, 2011, p. 64) asseveram que “o sinal de
DIFERENTE pode ser produzido com a configuração 34 ou 35 [...] [vide Fig. 31], mas não
temos pesquisas que identifiquem um ou outro como o “fonema” ou o “alofone”.”
Nesse Capítulo, propositadamente, não discorremos em profundidade acerca dos
pares mínimos. Apesar de a maioria dos pesquisadores da Libras analisarem os pares mínimos
em termos dos parâmetros anteriormente mencionados (CM, PA, M, Or e ENM), o conceito
que iremos adotar estará respaldado no Modelo Prosódico.
Atualmente, muito mais do que outrora, uma quantidade razoável de linguistas tem
admitido as investigações em línguas de sinais. Paulatinamente, eles têm concluído que as
línguas de sinais são sistemas linguísticos que funcionam à semelhança das línguas orais. No
entanto, ainda se percebe certa restrição a adotar todos os termos que têm sido
tradicionalmente utilizados pelos linguistas puros. Cabe, então, aos pesquisadores investir nas
investigações das línguas de sinais, a fim de adequar ou modificar a terminologia clássica.
70

2 MODELO PROSÓDICO DA FONOLOGIA DA LÍNGUA DE SINAIS

O objetivo principal desse capítulo é demonstrar a proposta teórica do modelo


prosódico para a fonologia da língua de sinais, baseando-se na obra “A prosodic model of sign
language phonology”, de Diane Brentari, publicada em 1998.
No Modelo Prosódico (MP) proposto por essa autora, as principais abordagens
teóricas utilizadas foram a Teoria da Fonologia Autossegmental e da Geometria de Traços.
No entanto, os princípios de outras teorias fonológicas serviram de base para a construção do
modelo. Das teorias relevantes para a construção do modelo, destacam-se: as teorias baseadas
em restrições, a Teoria da Otimidade38 (PRINCE e SMOLENSKY, 1993; McCARTHY e
PRINCE, 1993), a Fonologia Harmônica (GOLDSMITH, 1989, 1990, 1991, 1993), a
Fonologia da Dependência (ANDERSON e EWEN, 1987; DRESCHER e van der HULST,
1994), e a Teoria do “Enhancement” Fonético (STEVENS, KEYSER e KAWASAKI, 1986;
STEVENS e KEYSER, 1989).
Abaixo pode-se observar a estrutura global de representação dos traços no Modelo
Prosódico.

(1) Estrutura geral dos traços (inerentes e prosódicos) no MP.39

Fonte: BRENTARI, 1998, p. 26 (adaptado para a língua portuguesa).

                                                                                                               
38
A Teoria da Otimidade aplicada à análise fonológica do português brasileiro pode ser encontrada em:
Schwindt (2005) e Bisol e Schwindt (2010).
39
Os termos foram traduzidos para a língua portuguesa. Nesse aspecto, os termos TI (traços inerentes) e TP
(traços prosódicos) correspondem, respectivamente, ao IF (inherent features) e PF (prosodic features). Os outros
termos significam: A = articulador; POA = ponto de articulação (place of articulation);
71

Os exemplos que serão apresentados aqui pertencem a ASL. No capítulo posterior,


serão representados fonologicamente alguns sinais da Libras que foram achados em nossa
pesquisa com base no modelo de análise da teoria prosódica. Sempre que necessário, o
arcabouço teórico de Brentari (1998) será correferenciado, a fim de que o leitor familiarize-se
com os termos empregados por pesquisadores do campo das línguas de sinais.

2.1 INTRODUÇÃO ÀS ESTRUTURAS DOS SINAIS

De acordo com Brentari (1998), devido à dificuldade de se achar os pares mínimos,


uma estratégia fundamental para se determinar as unidades da estrutura dos sinais é observar
as alternâncias nas formas produzidas pelas operações morfológicas e fonológicas. Se uma
determinada unidade apresenta operações fonológicas, então ela deve ser uma parte das
representações fonológicas.
Os sinais podem ser classificados em oito categorias, as quais constituem um tipo de
conjunto canônico de estruturas que devem ser consideradas em qualquer modelo fonológico
(BRENTARI, 1998). Essas categorias embutem as formas monomórficas e polimórficas.
As formas monomórficas:
i. sinais simples com 1 articulador (apenas 1 mão);
ii. sinais com 2 articuladores (duas mãos);
iii. datilologia e sinais lexicalizados.

As formas polimórficas:
iv. nomes derivados;
v. afixos de concordância;
vi. sinais compostos;
vii. palavras derivadas que contenham afixos de natureza gramatical (prefixos, sufixos e
parafixos);
viii. “formas classificadoras” ou “verbos polimórficos” .

A seguir, será explicada cada uma dessas categorias. Isso será relevante, uma vez que
adotaremos essas terminologias no decorrer dessa Dissertação.
72

2.1.1 Formas monomórficas: sinais simples com 1 mão

Todos os sinais monomórficos apresentam um determinado tipo de movimento: ou


um movimento com trajetória (path movement) ou um movimento local (local movement).
A maioria deles possui um local de articulação principal, conforme pode-se observar nos
sinais da ASL abaixo ilustrados.

Figura 48 – Sinal ‘UNDERSTAND’ Figura 49 – Sinal ‘SIT’ Figura 50 – Sinal ‘THROW’


(‘ENTENDER’). (‘SENTAR’). (‘ARREMESSAR’).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 5.

Na Figura 48, observa-se que o sinal UNDERSTAND tem duas especificações para o
traço abertura (o grau de abertura ou fechamento da mão): ambas estão localizadas na testa (o
local de articulação), mas a primeira configuração da mão é fechada e a segunda, aberta. No
caso dos sinais SIT (Fig. 49) e THROW (Fig. 50), o local de articulação refere-se ao espaço
neutro (a área em frente ao sinalizados no nível do tronco), mas cada um é articulado em
plano diferente no domínio do espaço neutro. Enquanto o sinal SIT articula-se no plano
horizontal, o sinal THROW é articulado no plano sagital mediano.
No Modelo Prosódico, os conceitos para os tipos de movimento são:
(1) Os movimentos com trajetória são aqueles que primariamente são
realizados pelos cotovelos ou pelos ombros. Formalmente, um movimento
com trajetória pode ser especificado tanto como um traço do movimento (p.
ex.: a forma da trajetória ou a característica da direção do movimento)
quanto como uma mudança no setting (p. ex.: mudança na especificação do
traço, tal como ipsilateral/contralateral, superior/inferior, proximal/distal);
(2) Os movimentos locais são aqueles feitos pelo pulso, juntas ou articulações
dos dedos. Formalmente, eles são expressados como uma mudança em um
ou mais traços especificados no ramo articulador da estrutura.
(BRENTARI, 1998, p. 4-5)
73

Há uma tendência nas palavras (sinais) da ASL de serem constituídas de um único


movimento, especialmente as formas monomórficas. Este fenômeno tem sido referenciado
como monossilabicidade (cf. COUTLER, 1982; WILBUR, 1987, 1990).
Quanto aos critérios para contagem das sílabas 40 nos sinais, Brentari (1994)
considera que:
(a) O número de unidades fonológicas dinâmicas sequenciais de uma cadeia equivale ao
número de sílabas daquela cadeia.
i. Quando diversas unidades dinâmicas curtas coocorrerem com um elemento
dinâmico único de longa duração, a unidade mais longa é aquela para a qual a
sílaba se refere.
ii. Quando duas ou mais unidades dinâmicas forem coetâneas, elas são contadas
como uma sílaba.
(b) Se uma estrutura constituir-se de uma sílaba bem-formada como uma palavra
independente, ela deve ser contada como uma sílaba de dentro da palavra
(syllable word-internally).
(BRENTARI, 1994 apud BRENTARI, 1998, p. 6)

Os critérios acima delineados apresentam implicações práticas para a contagem de


sílabas. No primeiro caso (a), há a exclusão dos movimentos fonéticos ou redundantes da
contagem silábica, abarcando os casos nos quais os movimentos vibratórios (trilled
movement)41 estão dispostos coetaneamente com um movimento local ou de trajetória. Nesses
casos, em virtude de coocorrência do movimento local e do movimento de trajetória, conta-se
apenas uma sílaba. No segundo caso (b), qualquer ponto de articulação que coocorrer com um
movimento vibratório deve ser contado como uma sílaba, independentemente dela ser dentro
ou no final da palavra.
A questão da existência de uma entidade silábica nas línguas de sinais ainda não é
pacificamente aceitável. Determinados pesquisadores consideram que o conceito de sílaba
utilizado pelos pesquisadores das línguas sinalizadas é tomado de empréstimo das áreas de
fonética e fonologia das línguas orais. Nesse aspecto, MacNeilage (2008) assevera que:
[...] do ponto de vista da perspectiva da cognição corporal subjacente à
minha proposta, não há porque acreditar que a organização detalhada dos
                                                                                                               
40
A autora se baseia nos trabalhos de: Chinchor (1978), Coutler (1982), Wilbur (1987, 1990), Brentari
(1990(b)), Perlmutter (1992) e Sandler (1993a).
41
A expressão trilled movements foi proposta por Sandler (1993a).
74

componentes fonológicos da fala e da língua de sinais sejam comparáveis


em termos linguísticos. Por exemplo, eu tenho proposto que a evolução da
fala envolveu o aproveitamento de uma ciclicidade pré-existente (da
mandíbula) e o aumento da sua complexidade para aumentar a capacidade de
transmissão da mensagem. Não existe como imaginar que este método
tivesse ocorrido pelo canal viso-manual. Basta olhar a organização de uma
língua de sinais para verificar que isso não ocorre. Portanto, de meu ponto de
vista, a organização básica dos componentes fonológicos da fala e da língua
de sinais são específicos a cada modalidade, e praticamente nenhum traço
comum amodal entre as duas transmissões foi claramente observado
(MACNEILAGE, 2008, p. 273, tradução de Elizabeth Reis Teixeira).42

Ante ao exposto, pode-se perceber que o autor citado não discorda do fato da
existência do nível fonológico para as línguas de sinais. No entanto, ele expõe que existem
conceitos ou termos que são equivocadamente utilizados nas pesquisas em línguas de sinais.
Embora algumas línguas da Ásia Ocidental suportem os morfemas
monossilábicos, pode-se seguramente dizer que a maioria dos morfemas
lexicais (em oposição aos gramaticais) da maioria das línguas faladas é
polissilábica. Contudo, se associarmos o número de sílabas de uma cadeia da
ASL ao número de movimentos sequenciais, há de se concordar que,
geralmente, a maioria das ‘palavras’ ou ‘sinais’ da ASL é monossilábico, e
isso é verdadeiro em relação às ‘palavras’ monomórficas (BRENTARI,
1998, p. 6, 70, 304). Além disso, dos poucos itens lexicais da ASL que são
monomórficos e também polissilábicos, a maioria deles são relacionados,
etimologicamente, aos empréstimos da Língua Inglesa falada expressados
por meio da datilologia (BRENTARI, 1995, p. 632), e todos são
maximamente dissilábicos (BRENTARI, 1998, p. 208-211). Eu não sei se a
ASL é uma língua de sinais típica nesse sentido, mas, se esse for o caso,
então a tendência a monossilabicidade das línguas de sinais se constitui de
maneira diferente em relação às línguas orais, e, por essa razão, é um grande
equívoco pensar que as sílabas desempenham, essencialmente, o mesmo
papel nas gramáticas dos dois tipos de modalidade linguística
(CARSTAIRS-MCCARTHY, 2001, p. 346, tradução nossa).43

                                                                                                               
42
Texto de partida: “[…] from the embodiment perspective that lies behind my approach there is no reason to
believe that the detailed organization os the phonological components of speech and sign language would be
comparable for linguistic reasons. For instance, I have argued that the evolution of speech involved taking
advantage of a single pre-existing cyclicity (of the mandible) and increasing its complexity to increase message-
transmission capability. There is no reason to believe that this method would havehad to be adapted by the
visual-manual channel in order for it to transmit language. And in fact one only needs to take a glanceat the
organization of sign language to see that it hasn’t. thus, in my view, the basic organization of the phonological
components of spoken and sign language are modality-specific, and almost no clear amodal commonalities of
the two transmission systems have been identified.”
43
Texto de partida: “Although some East Asian languages favor monosyllabic morphemes, one can safely say
that most lexical (as opposed to grammatical) morphemes in most spoken languages are polysyllabic. However,
if we equate the number of syllables in an ASL string with the number of sequential movements, it seems to be
generally agreed that most ‘words’ or ‘signs’ in ASL are monosyllabic, and this is particularly true of
monomorphemic ‘words’ (Brentari 1998:6, 70, 304). Moreover, of the few lexical items in ASL that are
monomorphemic and yet polysyllabic, most are etymologically related to English borrowings expressed in
fingerspelling (Brentari 1995:632), and all are maximally disyllabic (Brentari 1998:208–11). I do not know
whether ASL is a typical sign language in this respect, but, ifit is, then the monosyllabic bias of sign languages
constitutes a big difference between them and spoken languages, and hence a big embarrassment for the view
that syllables play essentially the same role in the grammars of the two kinds of language.”
75

Uma outra restrição que merece ser considerada refere-se à questão dos dedos
selecionados (selected fingers). Nesse tipo de restrição, o conjunto de dedos selecionados é
admitido num determinado domínio mínimo. Esse domínio mínimo pode compreender: o
próprio sinal (cf. MANDEL, 1981), o morfema (cf. SANDLER, 1987(b)) ou a sílaba (cf.
BRENTARI, 1990(a); PERLMUTTER, 1992). No tópico 2.4.1, a questão de dedos
selecionados será retomada, visando a representação dos traços intrínsecos a esse nó.

2.1.2 Formas monomórficas: sinais com 2 mãos

A Mão Dominante (M1) refere-se à mão ou ao braço utilizado para articular os sinais
de 1-mão ou ainda às formas baseadas na datilologia (fingerspelled forms). Nos sinais com 2
articuladores, a outra mão é chamada de Mão Não-dominante (M2).
Battison (1978) sugere três tipos de sinais que se utilizam de 2 articuladores (2
mãos):
i. Sinais Tipo 1: ambas as mãos são ativas e executam o mesmo ato motor;
ii. Sinais Tipo 2: uma mão é ativa e a outra é passiva, mas ambas possuem a mesma
configuração de mão;
iii. Sinais Tipo 3: uma mão é ativa e a outra é passiva, e ambas possuem diferentes
configurações de mão.

Battison (1978) propôs ainda uma quarta categoria que se refere aos Sinais Tipo 4,
que compreendem os sinais compostos que combinam dois ou mais das categorias acima
citadas. Os exemplos dos tipos de sinais serão explanados no Quadro 10 e alguns deles serão
ilustrados nas figuras subsequentes.

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3


SINCE (DESDE) TRAIN (TREM) HELP (AJUDAR)
Configuração da M2: ‘B’
Contato da M2: superfície interior dos dedos.
HEALTHY WORK FIRST (PRIMEIRO)
(SAUDÁVEL) (TRABALHAR) Configuração da M2: ‘A’
Contato da M2: ponta do dedo/polegar.
BODY (CORPO) SCHOOL (ESCOLA) TOUCH (TOCAR)
Configuração da M2: ‘S’
Contato da M2: dorso da mão.
SUNDAY SIT (SENTAR) COMMUNIST (COMUNISTA)
(DOMINGO) Configuração da M2: ‘C’
Contato da M2: polegar radial.
76

Tipo 1 Tipo 2 Tipo 3


NAVY (MARINHA) MONTH (MÊS) PRACTICE (PRÁTICA)
Configuração da M2: ‘1’
Contato da M2: superfície radial do dedo.
Quadro 10 – Exemplos dos Sinais Tipos 1, 2 e 3, segundo Battison (1978).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 9 (tradução nossa).

Figura 51 – Sinal ‘SINCE’ (‘DESDE’). Figura 52 – Sinal ‘REMEMBER’ (‘LEMBRAR’).

Figura 53 – Sinal ‘TOUCH’ (‘TOCAR’). Figura 54 – Sinal monomórfico agramatical.


Fonte: BRENTARI, 1998, p. 8-9.

‘SINCE’ (Fig. 51) demonstra um sinal do Tipo 1 por possuir um padrão de


movimento sincrônico ou não alternado, além da configuração de mão semelhante para M1 e
M2. Na Figura 52, encontra-se um sinal do Tipo 2, no qual a configuração da mão é a mesma,
mas uma das mãos é ativa. Na Figura 53, nota-se que apenas uma das mãos é ativa e as
configurações de mão são diferentes, representando um sinal do Tipo 3. A Figura 54 ilustra
um tipo de sinal agramatical. Esse sinal é considerado agramatical, tendo em vista que
existem restrições para a articulação de sinais com 2-mãos. Battison (1978) afirma que não
pode haver duas regiões do corpo ou dois movimentos distintos em sinais com 2-mãos.
Segundo Battison (1978 apud BRENTARI, 1998), não podem existir duas regiões
distintas do corpo ou dois movimentos distintos nos sinais com 2 mãos. Caso haja algum tipo
de movimento na M2, ele deve expressar uma variante do movimento da M1, que é executado
similarmente ou com assincronia de 180º (movimento alternado).
77

2.1.3 Formas monomórficas: datilologia e sinais lexicalizados

Através da datilologia, é possível representar, manualmente, as letras do sistema


alfabético escrito. Por meio da datilologia, é possível “transpor” palavras das língua faladas
para a língua de sinais. É relevante pontuar que a datilologia não se restringe a mesma função
que a soletração tem nas línguas faladas.
Dentre os diversos propósitos da datilologia, Brentari (1998) expõe 4 (quatro):
(1) Utiliza-se a datilologia quando não existe um sinal na ASL, a fim de se
introduzir um conceito utilizado fora de uma determinada comunidade
de sinalizantes. Por exemplo, existe sinais para as cidades de Stocktown,
California, mas somente os residentes dessas localidades reconhece-os.
Quando a cidade é mencionada por um não-residente da localidade, a
referência se dá por meio da datilologia;
(2) A datilologia pode ser utilizada para enfatizar uma palavra cujo item lexical
exista na ASL. Por exemplo, seria cabível ao falante da ASL utilizar a
datilologia para o termo ‘home’ [casa] na seguinte sentença: WE-2 GO
H-O-M-E! [NÓS-2 IR C-A-S-A];
(3) Existem palavras sinalizadas por meio da datilologia que foram assimiladas
pelo léxico, como por exemplo: ‘BREAD’ (PÃO) e ‘NO’ (NÃO).;
(4) No universo acadêmico, a datilologia é mais aceitável do que sinais
inventados, para que se possa demarcar os usos distintos (técnico e não-
técnico) de um determinado termo. Esse ponto engloba também os sinais
de um dado domínio do conhecimento para os quais não se tenham ainda
formas convencionadas. Essas formas sofrem um processo rápido de
lexicalização denominado lexicalização local44 (local lexicalization).

Na Figura 55, pode-se observar o alfabeto manual da Língua Americana de Sinais. E,


na Figura 56, encontra-se a representação das configurações de mão da Libras que estão
relacionadas às letras do alfabeto romano.

                                                                                                               
44
Nesse processo de lexicalização, a datilologia não representa cada uma das letras da palavra que foi tomada de
empréstimo, mas o conceito da palavra da língua fonte.
78

 
Figura 55 – Alfabeto manual da ASL.
Fonte: HUMPHRIES, PADDEN e O’ROURKE (1994) em BRENTARI, 1998, p. 12.

No que tange à classificação das letras do alfabeto manual da ASL no sentido da


seleção de dedos, Brentari (1998) classificam-nas em: A – [flexionados]; B – não-
flexionados; C – não-flexionados; D – dedos selecionados não-flexionados, dedos não-
selecionados [flexionados]; E – [flexionados]; F - dedos selecionados [flexionados], dedos
não-selecionados não-flexionados; G – não-flexionados; H – não-flexionados; I – não-
flexionados; J – não-flexionados; K – não-flexionados; L – não-flexionados; M –
[flexionados]; N – [flexionados]; O – [flexionados]; P – não-flexionados; Q – não-
flexionados; R – não-flexionados; S – [flexionados]; T – [flexionados]; U – não-flexionados;
V – não-flexionados; W – não-flexionados; X – [flexionados]; Y – não-flexionados; Z – não-
flexionados. O conhecimento dessa classificação é de suma importância, já que ela é utilizada
no Modelo Prosódico que será discutido no decurso desse capítulo.
79

A A A b b B C C C Ç ÇÇ D D D

E E E F F F GGG HHH I I I

JJJ K K K L L L M M M N N N

O O O PPP Q Q Q R R R S S S

T T T U U U V V V W W W XX X

Y Y Y ZZ Z
 
Figura 56 – Alfabeto manual da Libras, escrito com as fontes Libras2002 (na primeira célula de cada
coluna), Sutton BR (na célula do meio de cada coluna). Na última célula de cada coluna, encontra-se a
respectiva letra do alfabeto representada com a fonte Times New Roman.

Ainda a respeito da datilologia, Ferreira-Brito (2010) expõe que a mesma segue a


estrutura da língua oral-auditiva e é linear. A datilologia, também conhecida como soletração
manual, refere-se a

[...] um recurso do qual se servem os usuários das línguas de sinais para os


casos de empréstimos vindos das línguas orais, constituindo-se de um
alfabeto manual criado a partir de algumas configurações de mão(s)
constituintes dos verdadeiros sinais. Às vezes, a datilologia é incorporada à
estrutura própria dos sinais ou da língua, perdendo seu caráter específico de
soletração (FERREIRA-BRITO, 2010, p. 29).
80

2.1.4 Formas polimórficas: formas nominais dos verbos

Existem duas formas de nominalização na ASL. As duas são derivadas dos radicais
verbais: uma ocorre pela reduplicação de um radical45 (nomes reduplicados), e a outra pela
adição do traço vibrante (trilled) ao movimento do radical (gerúndios).

2.1.4.1 Nomes reduplicados

Supalla e Newport (1978 apud BRENTARI, 1998) foram os primeiros estudiosos a


descreverem os nomes reduplicados. Existe um verbo correspondente para cada nome
reduplicado. Ambos os sinais – a forma “primitiva” e a sua respectiva derivação – estão no
mesmo domínio semântico. O verbo demonstra a atividade realizada com ou sobre o objeto
designado pelo nome (substantivo).

 
Figura 57 – Processo de nominalização.
À esquerda, ‘CLOSE-WINDOW’ (FECHAR-JANELA), e, à direita, ‘WINDOW’ (JANELA).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 13.

Na ilustração acima, nota-se que, para a realização do nome (substantivo), o


movimento da M1 (radical) é repetido, e os movimentos são repetidos de maneira restrita.
Para o sinal FECHAR-JANELA (CLOSE-WINDOW), há um movimento de trajetória
simples. Já o sinal JANELA (WINDOW) possui dois movimentos de trajetória restritos.
Esse processo de reduplicação já foi descrito para a Libras por Quadros e Karnopp
(2004). Esse processo pode ser chamado de nominalização ou derivação de nomes a partir de
verbos. Essas autoras fazem a análise dos sinais da Libras numa perspectiva morfológica.

                                                                                                               
45
Esse radical é descrito por Quadros e Karnopp (2004) como ‘morfema-base’.
81

2.1.4.2 Gerúndios (activity nouns)

Padden e Perlmutter (1987 apud BRENTARI, 1998) foram os primeiros estudiosos a


descreverem os gerúndios (activity nouns) na ASL. Na língua de sinais, o gerúndio é uma
forma derivada que possui um movimento vibrante (trilled movement – TM). Segundo Liddell
(1990b), os TM têm sido definidos como movimentos múltiplos, rapidamente repetidos e
curtos.
O movimento vibrante tem sido designado de outras maneiras:
• Movimento local, oscilação (LIDDELL, 1990b);
• Movimento secundário (PERLMUTTER (1992), BRENTARI (1993));
• Direção secundária (BRENTARI, 1990b).

É importante notar que nem todos os verbos podem formar gerúndios (activity
nouns) na ASL, conforme pode-se observar no Quadro 11.

Exemplos de verbos e seus respectivos gerúndios


READ (LER) READING WRITE (ESCREVER) WRITING
RAP (BATER) RAPPING SHOP (FAZER COMPRAS) SHOPPING
CHAT (CONVERSAR) CHATTING BAT (GOLPEAR) BATTING
DRIVE (DIRIGIR) DRIVING GIVE (DAR) GIVING
DRAW (DESENHAR) DRAWING
Exemplos de verbos que não possuem formas no gerúndio
SIT (SENTAR) *SITTING LOVE (AMAR) *LOVING
SMILE (SORRIR) *SMILLING LIKE (GOSTAR DE) *LIKING
STAND (FICAR EM PÉ) *STANDING THROW (ARREMESSAR) *THROWING
WANT (QUERER) *WANTING TAKE (TOMAR/RECEBER) *TAKING
DESIRE (DESEJAR) *DESIRING
Quadro 11 – Distribuição dos gerúndios na ASL.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 14-15 (tradução nossa).

Pode-se observar no quadro acima que os infinitivos verbais denotam atividades


atélicas e, por essa razão, eles podem ser nominalizados. Brentari (1998) esclarece ainda que,
embora os verbos BAT (bater) e THROW (jogar), GIVE (dar) e TAKE(tomar) denotem tipos
de atividades semelhantes, os informantes nativos respondem de forma diferenciada aos
gerúndios derivados, rejeitando THROWING e TAKING, mas aceitando BATTING e GIVING.
82

2.1.5 Formas polimórficas: formas de concordância

As formas de concordância pertencem ao nível morfológico de análise e foram


descritas por diferentes estudiosos de diversas línguas de sinais.46 Ainda se discute se essas
formas são de fato formas de concordância ou se elas estão completamente fora do sistema
linguístico.

Figura 58 – Sinal ‘DRIVE-TO’ Figura 59 – Sinal ‘HELP’ Figura 60 – Sinal ‘REQUEST’


(‘CONDUZIR A’). (‘AJUDAR’). (‘PEDIR’).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 16.

Nos sinais acima ilustrados, podem-se notar diferentes formas de concordância


verbal. A Figura 58 ilustra um verbo típico da classe dos verbos com concordância espacial e
a Figura 59 apresenta um verbo típico da classe dos verbos com concordância pessoal. Essas
formas de concordância verbal – espacial e pessoal – foram delineadas por Padden (1983,
1990). A partir da comparação entre as Figuras 59 e 60, pode-se visualizar a diferença no
movimento de trajetória. Enquanto o verbo ‘HELP’ expõe uma concordância de vanguarda
(forward agreement), o verbo ‘REQUEST’ exibe uma concordância de retaguarda
(backward agreement). Apesar de Brentari (1998) fornecer alguns exemplos desses sinais na
estrutura sentencial, não serão pertinentes reproduzi-los aqui, uma vez que a nossa proposta
de análise não engloba o nível sintático.
Apesar das formas que estão representadas nas figuras acima serem descritas pelos
estudos em morfologia e sintaxe das línguas de sinais, elas são relevantes para a análise
fonológica à luz do MP, que descreve um traço [direção] que se encontra na representação
subjacente do sinal.
                                                                                                               
46
Esses estudiosos estão descritos em Brentari (1998, p. 15). Além da ASL, as línguas de sinais referidas
compreendem: Língua de Sinais Quebequense, Língua de Sinais Dinamarquesa, Língua de Sinais Japonesa,
Língua de Sinais da Holanda, Língua de Sinais do Taiwan, Língua de Sinais Sueca, Língua de Sinais Italiana e
Língua de Sinais do Alemão-suíco.
83

2.1.6 Formas polimórficas: sinais compostos

Os sinais compostos na ASL são restritos a duas raízes. Especificar a classe


gramatical dessas raízes é problemático, já que a estrutura subjacente pode não especificar a
qual classe pertence. Entretanto, a sintaxe ou morfologia pode determinar a classe específica.
É difícil também, na ASL, distinguir os verbos dos adjetivos, uma vez que quase todos os
adjetivos podem aparecer sintaticamente como predicativos sem alteração na estrutura
fonológica (BRENTARI, 1998).
Na ASL, a distinção entre verbos e adjetivos também é complicada, já que quase
todos os adjetivos podem aparecer como predicados sintáticos sem mudança na estrutura
fonológica. Os sinais compostos podem ser monossilábicos ou dissilábicos conforme os
critérios de contagem silábica descritos no tópico 2.1.1.
Diversas análises segmentais para os sinais compostos têm sido propostas por alguns
teóricos (cf. LIDDELL e JOHNSON, 1986; SANDLER, 1987(b); 1989, 1993(a)).

2.1.7 Formas polimórficas: derivados com afixos gramaticais

O sistema do aspecto gramatical na ASL compila as descrições tanto dos


desdobramentos temporais de um evento quanto das propriedades distribucionais dos objetos
e das pessoas envolvidas no evento (BRENTARI, 1998). Segundo essa autora, a discussão
mais elucidativa a respeito do aspecto no que se refere à Língua Americana de Sinais é
proposta por Klima e Bellugi (1979). No tocante a essa temática, podem-se destacar os
trabalhos de: Liddell (1984(b)); Wilbur, Klima e Bellugi (1983) e Sandler (1990). No Quadro
a seguir, expomos os exemplos dos aspectos distribucionais e temporais descritos na
literatura, conforme foram pontuados por Brentari (1998).

Temporal Distribucional
protractive (LIDDELL, 1990(b)) multiple (KLIMA; BELLUGI, 1979)
unrealized-inceptive (LIDDELL, 1984(b) exhaustive (KLIMA; BELLUGI, 1979)
delayed-comtemplative (BRENTARI, 1996) internal apportionative (KLIMA; BELLUGI, 1979)
habitual (KLIMA; BELLUGI, 1979) external apportionative (KLIMA; BELLUGI, 1979)
durative (KLIMA; BELLUGI, 1979)
Quadro 12 – Exemplos das categorias de aspecto distribucional e temporal na ASL.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 20.
84

De acordo com Brentari (1998), estas categorias propiciam terreno fértil para a
compreensão da alternância morfofonêmica paradigmática e sintagmática. Por essa razão, elas
serão discutidas oportunamente nas análises que serão apresentadas a posteriori.

2.1.8 Formas polimórficas: classificadores predicativos

Os verbos de movimento e locação, conforme descritos por SUPALLA (1982, 1985,


1990), são constituídos de muitos morfemas; cada morfema frequentemente se constitui de
um único traço ou um conjunto de traços. Segundo Brentari (1998), a singularidade desses
verbos é que eles podem ser monossilábicos. Por exemplo, a palavra sinalizada na Figura 61
possui nove morfemas e um única sílaba. O significado dessa palavra embute: “dois”,
“encurvados”, “seres eretos”, “virados para frente”, “seguem em frente”, “cuidadosamente”,
“um ao lado do outro”, de um determinado ponto “a” a outro “b”.

Figura 61 – Uma forma polimórfica na ASL.


Fonte: BRENTARI, 1998, p. 21.

Formas polimórficas como a descrita acima têm sido discutidas em profundidade a


partir da perspectiva morfológica, mas pouca atenção tem sido dado ao aspecto fonológico,
sobretudo no que se refere às restrições. Do ponto de vista sintático, elas são sentenças ou
sintagmas verbais.
Essas formas são pertinentes para análise fonológica, uma vez que qualquer modelo
fonológico que se incumba de investigar a língua de sinais poderá desvendar a riqueza de
traços existentes nessas formas classificadoras. Essas formas classificadoras, também
conhecidas popularmente como “classificadores”, “funcionam como partes dos verbos em
uma sentença, estes sendo chamados de verbos de movimento ou de localização”
(FERREIRA-BRITO, 2010, p. 103).
85

Brentari (1998) assegura que as restrições violáveis em outras partes do léxico nativo
não são aplicáveis a essas formas. Por exemplo, pode-se observar que a restrição na
Configuração da Mão Não-dominante (H2) não ocorre nessas formas classificadoras.

2.2 VISÃO GERAL DO MODELO PROSÓDICO

O escopo do Modelo Prosódico (MP) é integrar, num único modelo, as percepções


sobre sistematicidade na estrutura paradigmática e sintagmática do sinal. É objetivo desse
modelo desenvolver uma linha de pesquisa para as línguas de sinais. Especificamente, o
modelo articula um conjunto de restrições na ASL que se referem à estrutura paradigmática e
complexidade: restrições na coocorrência de traços; redundâncias entre os traços
coocorrentes; dentre outras. As línguas de sinais não demandam padrões diferentes de análise
ou outros tipos de restrições quando comparadas às línguas orais. Esse modelo não propõe
unidades ou tipos de restrições que não foram testadas nas línguas orais (BRENTARI, 1998).
Parece que o fenômeno das restrições paradigmáticas acontece em maior escala na
ASL do que nas línguas faladas. Tem sido discutido, por exemplo, que a M2 é uma
ramificação fraca da estrutura prosódica análoga a uma coda ou um apêndice da palavra nas
línguas orais (BRENTARI; GOLDSMITH, 1993). Contudo, esse constituinte na ASL é
expressado simultaneamente ao núcleo silábico, diferentemente do que ocorre com a língua
falada, em que os constituintes obedecem a uma ordem sequencial, conforme comentado
acima.

Definição de Traços Inerentes (TI)


Os traços inerentes são aquelas propriedades dos sinais no âmago do léxico que são especificadas uma
vez por lexema e não se modificam durante a produção do lexema (p. ex. dedos selecionados, ponto de
articulação principal ancorado no corpo).47

                                                                                                               
47
Texto de partida: “Definition of inherent features. Inherent features are those properties of signs in the core
lexicon that are not specified once per lexeme and do not change during the lexeme’s production (e.g., selected
fingers, major body place.”
86

Definição de Traços Prosódicos (TP)


Os traços prosódicos são aquelas propriedades dos sinais no âmago do léxico que podem se modificar
ou são realizados como propriedades dinâmicas do sinal (p. ex. abertura, setting).48

Quadro 13 – Definições de Traços Inerentes (TI) e Traços Prosódicos (TP).


Fonte: BRENTARI, 1998, p. 22.

Na estrutura arbórea ilustrada na pág. 70, nota-se que os traços inerentes e


prosódicos estão dispostos em ramificações diferentes. Existe uma relação sistemática entre
esses traços de muitos-para-um, considerando que:
• A estrutura hierárquica dos traços inerentes é mais complexa do que a dos
traços prosódicos;
• Enquanto os TP são realizados sequencialmente, os TI são realizados
simultaneamente.

Esta divisão conceitual entre traços inerentes e prosódicos está fundamentada na


mesma concepção descrita por Jakobson, Fant e Halle:
A oposição grave vs. agudo, compacto vs. difuso, ou vozeado vs.
desvozeado, e qualquer outra oposição de traços distintivos inerentes aparece
numa sequência definida de fonemas, mas é, ainda assim, definível sem
referência à sequência. [...] Os traços prosódicos, por outro lado, podem ser
definidos somente em relação a uma série temporal (JAKOBSON; FANT;
HALLE, 1972 [1951], p. 13 apud BRENTARI, 1998, p. 23, tradução
nossa).49

O MP tem sido aplicado na investigação de diversas línguas orais. No tocante às LS,


o parâmetro M comporta-se de maneira similar ao modo como os tons comportam-se numa
língua tonal denominada Língua Venda. 50 Goldsmith (1976 apud BRENTARI, 1998)
demonstrou, de maneira convincente, que o tom não é apenas um outro conjunto de traços
distintivos, mas mantém um tipo de autonomia e estabilidade no domínio do sistema. Em
decorrência dessa autonomia, o tom é alocado num nível autossegmental diferente, o que
comporta mais adequadamente as descrições e explicações do fenômeno tonal.

                                                                                                               
48
Texto de partida: “ Definition of prosodic features. Prosodic features are those properties of signs in the core
lexicon that can change or are realized as dynamic properties of the signal (e.g., aperture, setting).”
49
Texto de partida: “The opposition grave vs. acute, compact vs. diffuse, or voiced vs. unvoiced, and any other
opposition of inherent distinctive features appears within definite sequence of phonemes but is, nevertheless,
definable withou any reference to the sequence. […] Prosodic features, on the other hand, can be defined only
with reference to a time series.”
50
“Venda é umas das 11 línguas oficiais da África do Sul. É uma língua bantu, da família Níger-Congo e
próxima da língua xiTsonga, também falada na mesma região, a província do Limpopo.” Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Língua_venda>. Acesso em: 22 fev. 2012.
87

Na estrutura geral dos traços (inerentes e prosódicos), pode-se identificar que o


parâmetro M é alocado num nível autossegmental autônomo. Os argumentos para se alocar o
parâmetro M num ramo separado na estrutura arbórea justificam-se por causa de:
(a) o tempo dos traços de movimento dentro e entre as palavras – a relação temporal
específica entre os aspectos paralelos do movimento lexical evidencia que eles estão
relacionados às unidades de tempo de modo similar, o que determina que os aspectos
relativos à CM, Or e PA não fazem parte do parâmetro M;
(b) a habilidade dos traços de movimento para “migrar” por meio do processo de
distalização ou proximalização fonética – os argumentos “fonéticos” demonstram que
os movimentos subjacentes são executados na superfície pela “junta padrão” (default
joint) na ausência de qualquer impedimento contrário, ou por uma outra junta por meio
de “declarações de tradução” (translation statements) que permite ao movimento se
espraiar ou ser deslocado para uma junta mais proximal ao corpo ou para uma junta mais
distal do braço ou da mão. Isso reforça a ideia de que as propriedades abstratas do
movimento são realizadas numa variedade de formas fonéticas;
(c) a distribuição dos traços prosódico-para-inerente – cada um dos parâmetros (CM, Or,
POA) contem traços prosódicos 51 e traços inerentes que não se modificam. Nesse
aspecto, tem-se percebido que há uma relação entre os aspectos prosódicos e os
inerentes. Essas relações têm sido evidenciadas no que se refere ao parâmetro CM e
ampliadas para os parâmetros Or e POA;
(d) a distribuição dos padrões de movimento dissilábico – tem-se demonstrado que os
traços prosódicos de formas dissilábicas, que compreendem os sinais com sequência de
dois movimentos, executados com mudança na CM, Or ou L, são oriundos do mesmo
conjunto de possibilidades combinatórias. Dessa forma, os movimentos que são
essencialmente prosódicos estendem-se a todos os parâmetros tradicionais, o que suporta
o conjunto das mudanças de CM, L e Or.;
(e) a exclusividade recíproca dos traços inerentes e dos prosódicos (traços de
movimento) – nenhum traço do modelo encontra-se na ramificação inerente e prosódica
ao mesmo tempo, com exceção do traço [ipsilateral] e [contralateral].
(BRENTARI, 1998, p. 25-26).

Na Figura 62, pode-se observar a disposição dos parâmetros na estrutura arbórea do


MP. Deve-se destacar que o parâmetro Or possui uma especificidade representacional nesse
modelo.
                                                                                                               
51
Os traços prosódicos aqui descritos referem-se às propriedades que se modificam ao longo da produção do
lexema.
88

 
Figura 62 – A visão dos parâmetros no MP.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 26.

2.3 O PAPEL DAS TEORIAS FONOLÓGICAS NO MODELO PROSÓDICO

Além dos modelos fonológicos apresentados no capítulo anterior, que foram de vital
importância para a compreensão dos aspectos fonológicos das línguas de sinais, serão
pontuados, a partir daqui, os princípios gerais da Teoria da Otimidade e de outras teorias
relevantes, que serão de grande valia nas análises fonológicas à luz do MP.
A fonologia da língua de sinais é um contexto fértil para abordar questões de
representações abstratas, porque a língua de sinais apresenta novos desafios
para a arquitetura da teoria fonológica das línguas faladas. A interação entre
a fonologia da língua de sinais e a fonologia da língua falada é vantajosa
para ambas as partes. As línguas de sinais se beneficiam de uma gama maior
de estrutura, já que as unidades prosódicas abstratas, tais como a mora, a
palavra mínima e a sílaba, fornecem novas ferramentas para tratar dos
problemas específicos dos sinais (BRENTARI, 1998, p. 55, tradução
nossa).52

Dos pressupostos gerais que se constituem fundamentos básicos no MP, destacam-se


os seguintes: (1) as entradas lexicais são determinadas pela eliminação de toda redundância
possível devido às operações gramaticais, pois elas devem minimizar os elementos abstratos
na medida do possível; (2) uma gramática deve operar baseando-se nos princípios de
simplicidade e economia. Ela deve conter o menor número de restrições, e estas restrições e
as representações nelas referidas contêm o menor número possível de ‘marcas’. A gramática

                                                                                                               
52
Texto de partida: “Sign language phonology is a fertile context for addressing issues of abstract
representations, because sign language presents fresh challenges to an architecture of phonology theory based on
spoken languages. The interaction of sign language phonology with the phonology of spoken language is
advantageous to both enterprises. Sign languages benefit from an enhanced range of structure, since abstract
prosodic units such as the mora, the minimal word, and the syllable provide new tools for addressing sign-
specific problems.”
89

deve abranger o maior número possível de formas e o menor número possível de exceções. As
operações frequentes devem ser representadas facilmente, ao passo que as operações
infrequentes ou não-ocorrentes devem ser de difícil representação; (3) a palavra fonológica
está sujeitada a todas as operações fonológicas, e os limites morfológicos e fonológicos são
visíveis à fonologia; (4) as palavras fonológicas são constituídas a partir das representações
subjacentes de seus morfemas componentes num único passo; (5) as formas de superfície
buscam atender as condições de boa-formação da linguagem ao máximo possível; (6) as
unidades de análise podem ser descobertas por evidência linguística interna (p. ex. a partir da
descoberta dos pares mínimos e pela observação das unidades envolvidas em operações
fonológicas) e suportadas por evidência linguística externa (p. ex. mudança diacrônica,
aquisição da linguagem, desvio da linguagem) (BRENTARI, 1998, p. 53-54).
Quanto aos princípios da Teoria da Otimidade adotados no MP, podem-se destacar:
• cada possível candidato a forma de output que é construído (GEN) é avaliado (EVAL)
pela sua boa-formação em relação ao ranqueamento de restrições;
• as restrições das formas são ranqueadas em relação a uma outra num tableau de
restrição. Isso indica até que ponto uma restrição é violável (ou seja, exibe exceções
de superfície);
• as restrições tendem a ser universais; portanto, elas são expressadas em termos mais
gerais possíveis ao invés de estarem restritas a uma determinada língua;
• o princípio do Conjunção Local de Restrições contém e é definido da seguinte forma:
A e B estão numa posição de ranqueamento inferior a C (C>>A,B) e isto não mais se
aplica quando A e B são violados. Isso permite que A+B sejam ranqueados num
patamar mais elevado do que A ou B isoladamente.
(BRENTARI, 1998, p. 53-54, tradução nossa).

As restrições na OT não devem estar relacionadas a regras específicas de uma língua,


mas, ao invés disso, elas são instâncias de famílias de operações fonológicas mais gerais que
existem de fato. No tocante aos modelos teóricos anteriores à Teoria da Otimidade, é
relevante destacar que:
[...] os modelos teóricos derivacionais propunham um conjunto universal de
traços para a configuração do inventário da fonologia das línguas e também
utilizavam traços na formalização de regras para a expressão do
funcionamento dos sistemas fonológicos. Sendo as regras particulares de
cada língua, operações com traços davam a dimensão da particularidade de
um sistema, sem apontar, em sua formalização, que tais operações são
fenômenos potenciais, disponíveis a qualquer sistema linguístico
(MATZENAUER; MIRANDA, 2010, p. 24).
90

Segundo Brentari (1998), no escopo do MP, duas linhagens de restrição são


importantes para a análise da ASL: o ALINHAMENTO e a FIDELIDADE. As restrições de
alinhamento alinham as margens das unidades prosódicas, tais como as sílabas, às unidades
morfológicas ou morfossintáticas. As restrições de fidelidade exigem que o input se
assemelhe o máximo possível ao output. Os traços do input devem ser similares ao do output,
que é assegurado pelas restrições parse (PARSE constraints) – nesse caso, não há apagamento.
Os traços de output devem ter um traço correspondente no input, que é assegurado pelas
restrições de preenchimento (FILL constrainsts) – nesse caso, não há epêntese. As restrições
parse desempenham um papel importante na análise dos sinais com 2-mãos e da datilologia.
A Conjunção Local de Restrição é necessária para explicar a distribuição da operação
facultativa da Elisão Fraca (Weak Drop),53 descrita por Padden e Perlmutter (1987), na qual
um input (sinal com 2-mãos) gera um output de 1-mão. Esse fato de execução de sinal com 2-
mãos com apenas 1-mão já havia sido anteriormente observado por Battison (1974, 1978).
Nas ilustrações abaixo (Figuras 63 a 68), podemos observar o fenômeno ao qual nos
referimos nos exemplos representados da ASL.

Figura 63 – Sinal ‘HAPPEN’ (ACONTECER). Figura 64 – Sinal ‘HAPPEN’ com elisão fraca.
Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 350. Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 350.

Figura 65 – Sinal ‘ANALYZE’ (ANALISAR). Figura 66 – Sinal ‘ANALYZE’ com elisão fraca.
Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 352. Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 352.

                                                                                                               
53
Do ponto de vista fonológico, esse tipo de fenômeno pode ser considerado um apagamento ou elisão da Mão
Não-dominante (M2).
91

Figura 67 – Sinal ‘OPEN’ (ABRIR). Figura 68 – Sinal ‘OPEN’ com elisão fraca.
Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 354. Fonte: PADDEN e PERLMUTTER, 1987, p. 354.

As pressuposições teóricas das abordagens fonológicas que levam em conta as


restrições contestam as abordagens derivacionais como por exemplo a Fonologia Lexical. Na
Fonologia Lexical, no que se refere à derivação fonológica, Brentari (1998, p. 56) afirma que
três tipos de ordenamento são possíveis:

i. o ordenamento das regras derivacionais (denominadas componente lexical) se dá


previamente às regras puramente fonológicas (denominadas componente pós-
lexical);
ii. o ordenamento do strata dentro do componente lexical, de maneira que os diferentes
tipos de morfemas possam ser subjugados a regras particulares em pontos
específicos da derivação;
iii. há o ordenamento de regras dentro de um dado ciclo (um conjunto de regras que
podem ser aplicadas em cada stratum). É por meio desse mecanismo que certas
regras podem ser aplicadas diante de outras, onde quer que esse conjunto de regras
esteja operando.

Na perspectiva da Fonologia Lexical, Padden e Perlmutter (1987 apud BRENTARI,


1998) afirmam que a língua americana de sinais não necessita dos dois últimos ordenamentos
citados acima. Em todos os exemplos que esses autores citam, as regras derivacionais (regras
lexicais) alimentam as regras fonológicas (regras pós-lexicais) diretamente, e os outputs de
regras derivacionais podem se alimentar mutuamente. Um exemplo desse fenômeno é
representado na ilustração a seguir (Fig. 69).
92

 
Figura 69 – Sinal ‘QUIET’ (calmo, tranquilo).
Na imagem superior esquerda, o sinal representado ‘QUIET’ é do tipo 1 – sinal com 2-mãos. Na imagem
superior direita (‘QUIET-ish’), há a adição de um afixo – traço ‘movimento vibrante’ ao radical. Na imagem
inferior esquerda (‘characteristically’ QUIET), há a adição dos traços [repetição] e [circular] ao radical de ambas
as mãos. Na imagem inferior direita ([[‘characteristically’ QUIET]-‘ish’] e [‘characteristically’ [QUIET-‘ish’]],
ambas possuem o mesmo output, contendo os traços de ambos afixos.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 57.

O termo ‘QUIET’, que se encontra representado na ilustração acima, retrata um caso


em que as regras derivacionais se alimentam mutuamente. As formas derivadas [QUIET-
‘ish’] e [‘characteristically’ QUIET] englobam, respectivamente, movimentos vibrantes e
movimentos circulares. Cada uma dessas formas pode alimentar a outra, produzindo os
outputs [[‘characteristically’ QUIET]-‘ish’] ou [‘characteristically’ [QUIET-‘ish’]]. “Nem as
próprias regras nem os diferentes strata da fonologia lexical devem ser ordenadas.”
(BRENTARI, 1998, p. 57).
Padden e Perlmutter (1987) consideram que as regras da fonologia lexical devem ser
aplicadas ao radical. Nesse aspecto, as operações são vistas como processuais; elas podem ser
simplesmente reformuladas como combinações morfológicas de formas que produzem
outputs esperados, quando submetidos à fonologia. Do ponto de vista da OT e da Fonologia
Harmônica, as operações de alimentação mútua como as citadas não necessitam de regra de
ordenamento, uma vez que essas formas são submetidas às restrições de boa-formação nos
outputs.
Na conclusão de Padden e Perlmutter (1987), a ASL também distribui o componente
lexical antes do componente pós-lexical do ponto de vista fonológico. Essa constatação vem
do fato de que os sinais com 1-mão e os sinais com 2-mãos geram, ‘caracteristicamente’,
diferentes outputs X. Enquanto os sinais com 1-mão possuem um movimento de reduplicação
alternado, os sinais com 2-mãos possuem um movimento de reduplicação não-alternado. Essa
93

diferença torna-se interessante se analisarmos os sinais na perspectiva da regra opcional Weak


Drop. Nessa perspectiva, uma forma (sinal) com 2-mãos não-alternada pode se tornar uma
forma de 1-mão. Observemos a seguinte ilustração:

 
Figura 70 – Input e outputs do sinal ‘QUIET’ (ASL).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 60.

Nas formas QUIET, ‘characteristically’ QUIET e QUIET-‘ish’, todas elas podem ser
submetidas à regra Weak Drop, gerando sinais com 1-mão. O input com 2-mãos QUIET (Fig.
70, imagem superior esquerda) pode ter um candidato a output bem-formado com 1-mão, ou
seja, uma forma Weak Drop (Fig. 70, imagem superior direita). Contudo, a forma
‘caracteristicamente’ QUIET com um movimento alternado é agramatical (Fig. 70, imagem
inferior); este será um candidato a output bem-formado somente quando o input for o sinal de
1-mão.
Apenas as regras derivacionais e a distinção lexical e pós-lexical poderão ser
insuficientes para a análise do sinal QUIET. Esse sinal e casos semelhantes podem ser
analisados de maneira mais adequada sob uma abordagem baseada em restrições. Tendo em
vista que a forma (sinal) de 1-mão não faz parte do léxico, ela não é uma candidata a input
possível. “A boa-formação é determinada pela comparação das representações subjacentes
(i.e., inputs) com os membros candidatos às formas de saída (i.e., outputs)” (BRENTARI,
1998, p. 60-61, tradução nossa). Isso é chamado de correspondência input-output54 na
perspectiva da OT, segundo McCarthy e Prince (1995).

                                                                                                               
54
De acordo com McCarthy e Prince (1995), “a Teoria da Correspondência dá conta não somente da relação
input/output, mas também de qualquer outro tipo de relação de fidelidade a ser estabelecida entre duas entidades
fonológicas, tal como a existência entre base e reduplicante” (ALVES; KELLER, 2010, p. 69).
94

Todavia, o ranking de restrições – modelo fonológico de dois níveis que compara os


inputs e os candidatos a outputs – é inadequado para algumas formas (sinais) da ASL. Sendo
isso bastante comum nessa língua de sinais, de acordo com Brentari (1998), esse tipo de
interação fonológica diz respeito a uma restrição no output que se refere a uma outra estrutura
que não é o input. Esse fenômeno, conhecido como opacidade, exora um nível estrutural
intermediário.
No caso da ASL, formas dissilábicas do output podem ser resultantes de uma
mudança espacial do input (setting change in the input) – um mudança do local de articulação
dentro de um plano único ou numa área do corpo. Algumas dessas formas possuem dois
ambientes articulatórios e uma forma de configuração de mão (p. ex. ‘DEAF’ (surdo/a),
‘CONGRESS’ (congresso), ‘MEMBER’ (membro), ‘FLOWER’ (flor)); outras possuem dois
ambientes articulatórios e duas configurações de mão (p. ex. ‘BACKGROUND’ (segundo
plano, plano de fundo, bagagem), ‘BOARD OF TRUSTEES’ (conselho de administração)).
Brentari (1998) discute que, apesar de Liddell e Johnson (1989) e Johnson (1986) tratarem os
sinais acima citadas como dissilábicos, somente uma das variantes é dissilábica. E essa
variante corresponde àquela que possui movimento para cada um dos ambientes articulatórios
e um movimento transicional partindo do contato no primeiro espaço onde o sinal se articula
até o início do segundo movimento. Esse exemplo está disposto na Figura 71. Dos sinais
acima citados, os respectivos ambientes articulatórios relativos aos inputs dos mesmos
encontram-se descritos no quadro abaixo (Quadro 14).

Disyllabic forms with a setting change


DEAF (surdo) [superior] à [inferior] da bochecha
BACKGROUND (segundo plano) [superior] à [inferior] da mão (lado da palma)
WE (nós) [contra] à [ipsi] do tronco
CONGRESS (congresso) [contra] à [ipsi] do tronco
MEMBER (membro) [contra] à [ipsi] do tronco
BOARD OF TRUSTEES (conselho de administração) [contra] à [ipsi] do tronco
FLOWER (flor) [contra] à [ipsi] do nariz
Quadro 14 – Formas dissilábicas com mudança espacial.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 20 (tradução nossa).
95

 
Figura 71 – Forma dissilábica do sinal relativo ao pronome WE (nós).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 62.

Considerando o comportamento metatésico, as formas dissilábicas devem tratar os


dois movimentos de contato como epentético, já que o primeiro ambiente articulatório
assimila ao máximo o ponto de articulação do sinal precedente (BRENTARI, 1998). Por
conta disso, conclui Brentari (1998), os ambientes articulatórios devem estar associados às
unidades de tempo (pela Convenção de Associação – Association Convention) antes dos
movimentos epentéricos serem inseridos. Já os traços de locação e configuração de mão
devem se espraiar aos movimentos epentéticos antes dos mesmos serem inseridos. O esquema
a seguir demonstra o que fora explanado dentro da estrutura arbórea.

Estrutura do Input Estrutura Intermediária Estrutura do Output


(Convenção de Associação) (Epêntese do Movimento) Espraiamento do Traço

Fonte: BRENTARI, 1998, p. 63.

O MP também adota diversos conceitos oriundos da Fonologia da Dependência


(ANDERSON e EWEN, 1987; van der HULST, 1993; DRESCHER e van der HULST,
1994). Os principais conceitos tomados da FD são:
1. Binaridade. Algumas línguas possuem estruturas sintáticas e fonológicas
ternárias, entretanto, a fonologia pode ser analisada em termos de encabeçamento
recursivo, já que as estruturas desse nível linguístico têm a forte tendência de se
ramificarem binariamente (DRESCHER; van der HULST, 1994).
2. Assimetria Núcleo-Dependente. Esse conceito abrange as diferenças no
comportamento das duas ramificações de uma estrutura binária e permite as
relações núcleo-dependentes, o que corresponde à noção de proeminência em
96

outras teorias, como na Fonologia Harmônica. Os núcleos definem como todo o


constituinte se combina aos níveis superiores da estrutura. Os núcleos ostentam
duas propriedades de identificação: (i) “os núcleos permanecem inalterados num
dado domínio ou operação fonológica” (BRENTARI, 1998, p. 67) – quanto mais
a estrutura preservar o conjunto de traços, mais provavelmente ela será o núcleo;
e, (ii) “os núcleos são mais ‘complexos’ do que seus dependentes
correspondentes” (BRENTARI, 1998, p. 67) – os grupos de dedos selecionados
do sinal e os pontos de articulação no corpo apenas possuem estas propriedades
em relação à estrutura constituinte do sinal (van der HULST, 1993).
3. Complexidade. A noção de complexidade compreende a ideia de que as
estruturas ramificadas são mais complexas do que as não-ramificadas. Do mesmo
modo, as formas mais hierarquizadas são mais complexas do que as formas com
estrutura mais simples.
(BRENTARI, 1998, p. 67-68, tradução nossa)

No que se refere à contribuição da Teoria do Aprimoramento (Enhancement Theory)


para o MP, Brentari (1998) pontua que os traços de abertura – tais como [aberto] e [fechado]
–, que são tipicamente expressos pelas juntas mais distais da mão, são aprimorados pelas
juntas mais proximais do pulso, cotovelo ou ombro. Essa teoria também é útil para esclarecer
as formas de superfície alternativas que envolvem as mudanças no movimento da junta que
não geram alteração de significado.
As especificações de traço são ocasionalmente rotuladas de padrão ou não-marcada,
em oposição às marcadas. Com base nas observações de Battistella (1990) e de Moravcsik
(1986), Brentari (1998) adota uma definição de marcação que se baseia em três critérios: (1) a
simplicidade estrutural (ou seja, os elementos menos marcados são mais simples); (2) a
elaboração em termos de subtipos (ou seja, os elementos menos marcados possibilitam um
grande número de subtipos); (3) a distribuição dos elementos (ou seja, os elementos menos
marcados são mais amplamente distribuídos). É pertinente destacar ainda que esses três
conceitos de marcação são legados da Escola de Praga.
O conceito mais relevante de marcação é tomado da OT, que preconiza a
identificação das estruturas prosódicas não-marcadas a partir do seu aparecimento em formas
reduplicadas. Nessa perspectiva teórica, o procedimento para observação dos padrões de
distribuição que determinam as estruturas marcadas e não marcadas está fundamentado no
critério proposto por Trubetzkoy (1939). De acordo com a proposta desse teórico, para
97

quaisquer dois alofones, aquele que ocorreu em contextos onde a neutralização pudesse
acontecer foi a forma não-marcada, e a outra foi a marcada (BRENTARI, 1998).
Existem condições de boa-formação que suportam o nível silábico e outras que
suportam o nível da palavra prosódica. Segundo Coultler (1982), na ASL, a maior parte das
palavras prosódicas são monossilábicas. São as restrições das palavras prosódicas que
consideram a quantidade (número) e a qualidade (complexidade) dos movimentos através dos
sinais dissilábicos. No MP, a sílaba contém tanto os componentes sintagmáticos quanto
paradigmáticos.
“Precisamos de alguma unidade de estrutura fonológica que seja menor do que uma
palavra mas maior do que um segmento?” (BRENTARI, 1998, p. 73, tradução nossa). A
autora afirma que sim. Além disso, é essa unidade que será requerida para depreender as
diferenças entre os sinais monomórficos com um movimento fonológico, e os sinais com uma
sequência de dois movimentos fonológicos, e também para expressar as restrições dos sinais
com dois movimentos sequencias.
Além das descrições de Liddell e Johnson (1989) e Sandler (1989) sobre as
similaridades entre as vogais e movimentos, as análises dentro do MP têm notado a relevância
do papel dos movimentos dentro da estrutura prosódica como núcleos silábicos, e nas
restrições das palavras bem formadas. O Quadro 15 sumariza algumas das restrições de boa-
formação silábica para a língua de sinais. Deve-se notar que as regras de boa-formação não se
restringem aos movimentos.

Restrições no âmbito das sílabas sinalizadas.


a. Existem restrições nos tipos de configuração de mão e sequências de movimentos que podem ocorrer em
sinais monomórficos dissilábicos, conforme comparados com a sequência de dois sinais ou formas
polimórficas (UYECHI, 1995, p. 74).
b. Nenhum sinal monomórfico é bem-formado a menos que tenha algum tipo de movimento (WILBUR
(1987), STACK (1988), BRENTARI (1990)).
c. A coordenação temporal fonética das mudanças de configuração de mão em relação aos movimentos
ocorrem ao nível da sílaba, e não ao nível do item lexical ou morfema.
d. A noção de sonoridade, definida como “saliência perceptual visual,” é relevante para as operações no
interior da sílaba do sinal.
Quadro 15 – Exemplos de restrições que se referem à sílaba.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 74 (tradução nossa).

Conforme Prince e Smolensky (1993), todas as palavras possuem pelo menos uma
sílaba, mas as palavras canônicas da língua são comumente bimoraicas. Tanto as línguas
faladas (oral-auditivamente) quanto as línguas de sinais podem manifestar restrições em
palavra mínima, ou no formato de palavra canônica. A palavra mínima não é sinônimo de
98

‘sílaba não-marcada’. As sílabas não-marcadas possuem usualmente mais do que a


informação mínima (BRENTARI, 1998).
Na ASL, uma boa formação silábica é satisfatória para uma palavra bem-formada.
Nessa língua, todos os sinais monomórficos devem ter um movimento e, tendo-se em vista
que os movimentos constituem o núcleo silábico, eles são também sílabas bem-formadas
(STACK, 1988; BRENTARI, 1990, 1998; PERLMUTTER, 1992; SANDLER, 1993).
Enfim, muitas outras questões são levantadas pela autora que propõe o MP para a
fonologia da língua de sinais. De agora em diante, pontuaremos apenas os principais
conceitos com algumas ilustrações que servirão apenas para facilitar a compreensão a respeito
desse modelo teórico.

2.4 OS TRAÇOS INERENTES E PROSÓDICOS

No tópico 2.2, foram expostas as definições para traços inerentes (TI) e prosódicos
(TP). Doravante, serão detalhadas, sucintamente, as ramificações de cada um desses traços.
Tradicionalmente, os estudiosos das LS têm utilizado os quatro parâmetros principais
(CM, M, PA e Or), conforme postulados por Battison (1978), para a investigação fonológica
dos sinais. No âmbito do MP, esses parâmetros são apreendidos quanto ao seu papel
fonológico e adequados à estrutura proposta pelo modelo.
Parece-nos que a proposta do MP é bem mais pertinente à análise fonológica do que
as demais propostas. Em geral, apesar de os parâmetros serem considerados igualmente
relevantes, eles têm sido abordados como entidades estruturais isoladas. Por exemplo, o modo
como o parâmetro Or é representado no MP difere expressivamente da forma como este é
representado nos outros modelos (BRENTARI, 1998). A Or desempenha um papel relevante
tanto nos ramos dos TI quanto dos TP. Quanto ao parâmetro Or diante dos modelos
fonológicos para as LS, é relevante salientar que:
Os diferentes modelos têm oferecido formas conflitantes para a
representação dos traços de orientação. Alguns, como o Modelo HT,
expressam a orientação como um conjunto de traços; outros, como os
Modelos HM e VP, representam a orientação como uma relação ou conjunto
de relações (BRENTARI, 1998, p. 96, tradução nossa).55

                                                                                                               
55
Texto de partida: “Different models have offered conflicting ways of representing orientation features. Some,
such as the HT Model, express orientation as a set of features; others, such as the HM and the VP Models,
represent orientation as a relation or a set of relations.”
99

Para o MP, a orientação basilar dos lexemas nucleares (ou seja, a orientação input ou
subjacente) é a relação entre uma parte da mão e o local de articulação no ramo estrutural dos
TI, ao passo que a mudança de orientação é um conjunto de traços que constitui um tipo de
movimento, sendo, portanto, representados no ramo estrutural dos TP (BRENTARI, 1998).

2.4.1 A estrutura dos traços inerentes

Abaixo serão descritas as ramificações dos traços inerentes.


i. O nó da classe dos traços inerentes ramifica-se no nó articulador (A), que incluem
o(s) braço(s) e a(s) mão(s) utilizados na execução de um sinal e no nó ponto de
articulação (POA);
ii. o nó articulador ramifica-se, por sua vez, nas camadas manual e não-manual;
iii. os traços inerentes às configurações de mão da mão dominante (M1) e da mão não-
dominante (M2) são sobrepujados pelos nós articulador e manual;
iv. os traços inerentes aos pontos de articulação estão subjugados ao nó POA;
v. a orientação inerente é a relação entre um conjunto de traços específicos da CM e o
local de articulação.
(BRENTARI, 1998, p. 94, tradução nossa)

Os traços podem ser alocados em qualquer nó da estrutura arbórea. Os traços na


ramificação dos TI para a fonologia dos sinais podem ser executados ao mesmo tempo. Por
exemplo, os traços [um] e [espraiado] são realizados simultaneamente. Semelhantemente, nas
línguas orais os traços [nasal], [vozeado] e [labial] podem ser executados ao mesmo tempo,
apesar de cada um deles apresentar um diferente aspecto do mecanismo articulatório
(BRENTARI, 1998).
Conforme fora pontuado anteriormente, o MP adota o conceito de Assimetria
Núcleo-Dependente da FD. Conforme asseveram Drescher e van der Hulst (1994), a direção
da assimilação ocorre com frequência dos núcleos aos dependentes, sendo que os núcleos são
caracteristicamente mais complexos do que os dependentes. Partindo desse pressuposto, o MP
tem demonstrado, a partir dos traços da M1 e da M2 e dos traços manual e não-manual, a
evidência dessa assimetria núcleo-dependente.
Seguindo a noção de binaridade, similarmente à estrutura proposta pelo modelo da
FD (van der HULST, 1994), o tier Traços Inerentes (TI) divide-se em: A (articulador) e POA
(ponto de articulação). O ramo A congrega os traços subjacentes (input) da mão(s), braço(s) e
aspectos não-manuais na produção de um sinal.
100

2.4.1.1 A estrutura do ramo Articulador (A)

Quadro 16 – A estrutura do ramo articulador (A).


Fonte: BRENTARI, 1998, p. 100 (tradução nossa).

A maioria dos pesquisadores dos sinais concorda que a configuração de mão seja um
dos articuladores manuais mais complexos. Segundo Sandler (1986), tanto o ponto de
articulação quanto o articulador podem ser situados em níveis autossegmentais. Brentari
(1998) afirma que esse fato é verídico se isso for referente a uma configuração de mão/braço
ou a um aspecto não-manual como posição da boca ou direção do olhar.
Quanto à estrutura do tier Articulador (A), esquematizado no Quadro 16, nota-se
que esse nó ramifica-se nas classes Manual (núcleo) e Não-manual (dependente). No tocante
ao aspecto não-manual, tem sido constatado que esse tier pode também demonstrar os traços
relativos à configuração de mão, ponto de articulação, orientação e movimento (BRENTARI,
101

1998). Exemplificando: a direção do olhar tem sido relatada como uma apontação manual que
se refere a uma locação num espaço identificado com um sintagma nominal em determinados
contextos (ENGBERG-PEDERSON, 1993; BAHAN, 1996).
Em relação ao ramo Manual, essa classe divide-se em Mão Dominante (M1) e Mão
Não-dominante (M2). A Mão Dominante é o núcleo. Segundo Brentari (1998), existem
argumentos para considerar a M1 como núcleo. Esses argumentos serão sintetizados no
quadro a seguir.

Argumento(s) Autor(es)
Carga contrastiva. Os traços determinados pelo nó M2 são um subconjunto
dos traços determinados pela M1. As CM (i.e., ‘B’, ‘A’, ‘S’, ‘C’, ‘O’, ‘1’, ‘5’)
Brentari (1990)
constituem uma subclasse de todas as possibilidades de configurações de mão
contrastivas.
Direção da assimilação. Tem-se evidenciado que o espraiamento da
assimilação tem ocorrido da M1 para a M2 ao invés do contrário, embora haja Brentari (1990)
algumas exceções.
Grau da complexidade hierárquica. A estrutura que determina a M2 é muito
Van der Hulst (1995, 1996)
mais simplória do que a da M1.
Quadro 17 – Argumentos a favor da M1 como núcleo.

O nó M2 tem duas filhas: locação e configuração da mão. Brentari (1998) assevera


que, na ASL, a M2 não possui orientação independente ou traços de movimento, já que essa
mão ostenta os traços de orientação especificados pela M1. Com efeito, a M2 segue um dos
dois caminhos: (1) reproduz o movimento da M1; ou (2) assume uma posição estática, não
assumindo qualquer tipo de movimento.
“O nó M1 pode ser definido como o formato e a seleção da mão ou do braço
especificado na representação subjacente” (BRENTARI, 1998, p. 102, tradução nossa).56 Esse
nó ramifica-se nos nós braço57 e mão. O nó mão é mais complexo do que o nó braço, visto
que este não possui muitas possibilidades de demonstrar contrastes lexicais. O nó mão, por
seu turno, ramifica-se em: dedos não-selecionados (dependente) e dedos selecionados
(núcleo). Os dedos selecionados ramificam-se em dedos1 e juntas.
O nó mão é a parte estrutural que detalha as minudências dos contrastes subjacentes
à configuração de mão. Esse nó possui duas ramificações: uma para os dedos não-
selecionados e outra para os dedos selecionados.
                                                                                                               
56
Texto de partida: “The H1 node can be defined as shape and selection of the hand or arm specified in the
underlying representation.”
57
O braço tem papel relevante como articulador para os sinais nos quais ele funcione como tal. Na ASL, os
sinais ‘DAY’ (dia), ‘OVERNIGHT’ (a noite toda) e ‘TREE’ (árvore) são bons exemplos que demonstram a
atuação do braço como articulador dentro do nó M1.
102

O ramo dedos selecionados do nó mão é mais complexo do que o ramo dedos não-
selecionados. A classe dedos selecionados tem duas ramificações: juntas e dedos1. O
primeiro estudioso a separar essas classes – juntas e dedos1 – foi van der Hulst (1995).
Brentari (1998, p. 105-106) afirma que há vantagens em separar essas classes, considerando
que: (1) a maior vantagem em separar as classes juntas e dedos1 está no fato de que, dessa
forma, é possível representar os contornos de configuração de mão mais facilmente do que
nos modelos em que se faz necessário a representação de duas configurações de mãos nos
ambientes de contorno; (2) esta proposta propicia uma forma de identificar qual configuração
de mão do contorno é a forma mais básica; (3) esse modelo representacional apreende as
restrições dos contrastes de configuração de mão; e, (4) a representação proposta capta a
distribuição da posição do polegar nos lexemas nucleares, isto é, a semi-independência que o
polegar pode exibir nos sinais.
Quanto às possibilidades de representação do ramo juntas que é filha do nó dedos
selecionados, temos:
a. aberta completamente b. aberta curvada c. fechada curvada

d. aberta plana e. fechada plana f. fechada dobrada

g. fechada completamente

Quadro 18 - Estrutura das sete juntas contrastivas na ASL.


Fonte: BRENTARI, 1998, p. 107 (tradução nossa).
103

As sete juntas contrastivas acima especificadas (Quadro 18) têm base apenas numa
dimensão, que é a da flexão. Baseando-se apenas numa perspectiva, a análise fonológica se
torna mais simplificada, apesar de, do ponto de vista fisiológico, os dois movimentos
(extensão e flexão) estarem atuando.
No ramo dedos1 que também é filha do nó dedos selecionados, há a especificação
dos dedos que são selecionados. Essa especificação leva em conta as categorias fonológicas
baseadas em economia perceptual e estrutural (cf. BOYES-BRAEM, 1981 e SANDLER,
1996). Entretanto, a seleção de dedos descrita pelos sistemas de Boyes-Braem (1981) e
Sandler (1996) apreende tanto os traços relativos às juntas quanto os traços de seleção de
dedos. No MP, esses traços são muito bem delimitados conforme vimos no Quadro 16.58
No MP, quando não há a representação do ramo dedos1, a forma realizada equivale à

CM “S” (s, s). Quando o nó dedos1 estiver presente, mas sem filhas, a forma realizada

equivale à CM “5” (5, 5). A estrutura do MP pode envolver a representação do polegar


como afiliada ao ramo dedos1, quando houver necessidade. O polegar é uma estrutura
independente, conforme será visto posteriormente.
Existem quatro traços que determinam a classe dedos0: [todos], [um], [médio] e
[ulnar]. Deixando de lado, por enquanto, o polegar, os traços [todos] e [um] especificam o
número de dedos selecionados. O traço [todos] é definido para todos os quatro dedos –
indicador, médio, anular e mindinho – e o traço [um] é definido para um desses dedos. Os
traços [ulnar] e [médio] especificam o local do ponto de referência para a ocorrência dos
dedos selecionados. Enquanto o [ulnar] especifica que o lado do dedo mindinho é utilizado
como ponto de referência, o [médio] especifica a utilização do dedo médio. Brentari (1998, p.
112) exemplifica alguns casos da ASL: [um] pode aparecer com [médio], que representa a

CM “8” ( , 8 8), ou com [ulnar], que representa a CM “I” (i, i). No quadro abaixo, estão
representadas algumas possibilidades de combinações de dedos selecionados.

                                                                                                               
58
O Quadro 16 está ilustrado na página 100.
104

 
‘8’ ‘7’ ‘I’

8
( , 8) 7
( , 7) i
( , i)

‘horns’ ‘animal face’


(chifres) (face de animal)

Quadro 19 – Possibilidades de combinações para dedos selecionados.


Fonte: BRENTARI, 1998, p. 113 (tradução nossa).

O polegar é uma ramificação de dedos1 e irmã de dedos0. É um ramo dependente e


mais simples do que dedos0, já que domina apenas um único traço [oposto]. Quando ocorre a
assimilação, as especificações para os outros dedos se espraiam ao polegar a partir de dedos0
(BRENTARI, 1998).
Quando o polegar não for selecionado, não há a necessidade de representação dessa
classe para o ramo dedos1. Quando o polegar for um dos dedos selecionados, aí haverá a
necessidade de representá-lo. O polegar é representado como um nó vazio caso o seu
comportamento seja semelhante a dos outros dedos selecionados. Num caso mais marcado,
ele pode ter uma especificação para a base da junta diferente daquela dos outros dedos
selecionados. Para a compreensão dos traços [oposto] e [não-oposto], é relevante esclarecer
que:
A junta metacárpica do polegar conecta-o à mão e esta é a sua junta de base,
de modo que, nas configurações de mão curvada, aberta e fechada, quando a
junta de base for especificada para os outros dedos selecionados, a
representação default do polegar é [oposto]. Para as configurações de mão
105

aberta e dobrada, quando a junta de base não for flexionada para os dedos
selecionados, a representação default do polegar é [não-oposto]
(BRENTARI, 1998, p. 114, tradução nossa).59

A CM ‘L’ A CM ‘3’ A CM ‘A’

‘21’ ‘SHOOT-A-GUN’ ‘CIGARETTE-LIGHTER’


(dar um tiro) (acendedor de cigarros)

Quadro 20 – Estruturas que permitem o movimento independente do polegar.


Fonte: BRENTARI, 1998, p. 116 (tradução nossa).

No quadro acima (Quadro 20), estão representados alguns sinais da ASL que
ilustram as possibilidades da posição do polegar. Nota-se que o polegar encontra-se presente
em todas as representações, no entanto o traço [um] é especificado em dedos0 nos dois
primeiros casos. Todas as estruturas descritas acima permitem uma mudança na abertura do
polegar independentemente do comportamento dos outros dedos.
Finalmente, no quadro abaixo, resumimos alguns pontos concernentes ao
comportamento do polegar no MP.

                                                                                                               
59
Texto de partida: “The metacarpal joint of the thumb connects the thumb to the hand and is its base joint, so in
curved, flat, and closed handshapes when the base joint is specified for the other selected fingers, the default
thumb setting is [opposed]. For bent and open handshapes, when the base joint is not flexed in the selected
fingers, the default thumb setting is [unopposed].”
106

a. Se os dedos não-selecionados estão [estendidos] e [não-


opostos], o polegar será aberto e não-oposto (p. ex. ‘WHY’
e ‘FEEL’);
b. Se os dedos não-selecionados estão [flexionados], o
polegar faz contato com os outros dedos não-selecionados.
i. O polegar não faz contato com os dedos
Comportamento do polegar
selecionados, exceto quando o contato com os
como dedo não-selecionado
dedos selecionados for inevitável (p. ex. a
primeira configuração de mão em ‘THROW’).
ii. Nas CM planas (‘M’ e ‘N’)60, a preferência por
fazer contato com os outros dedos não-
selecionados requer que o polegar “descanse”
sob os dedos selecionados.
Especificações para o polegar a. aberto, curvado à [não-oposto]
como dedo selecionado b. curvado, aberto, fechado à [oposto]
a. A configuração do(s) polegar(es) pode ser alterada
juntamente com outros dedos selecionados (p. ex.
PÁSSARO, GATO);
b. A configuração do(s) polegar(es) pode permanecer
A posição do polegar em constante no caso de mudança de configuração dos outros
contornos de CM61 dedos (p. ex. CAVALO);
c. A configuração do(s) polegar(es) pode ser alterada mesmo
se os outros dedos selecionados permanecerem imutáveis
(os exemplos desse caso estão ilustrados no quadro 20,
exemplos ‘21’ e ‘SHOOT-A-GUN’).
O polegar pode comportar-se independentemente de outros
Comportamento quanto ao
dedos selecionados somente nos casos onde o nó dedos1
aspecto restritivo
estiver sem ramificações.
Quadro 21 – Especificidades da representação do polegar no MP.
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 113-114 (tradução e adaptação nossa).

2.4.1.2 A estrutura do ramo Ponto de Articulação (POA)

No Quadro 22, encontra-se a esquematização do ramo POA na estrutura arbórea.


Com base nesse sistema, a partir da observação da estrutura profunda ilustrada no quadro
citado, o espaço de sinalização possui especificações distintas fonologicamente para os planos
e pontos de articulação.

                                                                                                               
60
É relevante lembrar que esses configurações, apresentadas pela autora, referem-se às letras do alfabeto manual
da ASL. Elas não devem ser confundidas com as letras/configurações “M” e “N” da Libras que são sutilmente
distintas.
61
Os exemplos apresentados (em (a) e (b)) pela autora foram substituídos pelos exemplos da Libras.
107

 
Quadro 22 – A estrutura do ramo Ponto de Articulação (POA).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 119 (tradução nossa).

Assim como o ramo articulador (A), o ramo POA possui um grande número de
distinções internas de formas que demonstram contrastes lexicais das formas. Além disso, os
pontos de articulação no corpo e os planos de articulação no espaço neutro são distintos
subtipos de ponto de articulação (BRENTARI, 1998). Muitos dos pontos de articulação
adotados no MP são legados por Liddell e Johnson (1989).
Um local de articulação é especificado pelo plano ao qual está localizado. Esses
planos estão ilustrados na Figura 72 (pág. 110) e o Quadro a seguir apresenta as suas
definições e alguns exemplos.
108

Planos62 Definição Exemplos de sinais da ASL


Definido por todos os pontos no plano que é EVERY-MONDAY (toda
perpendicular à dimensão x (que é um conjunto de segunda-feira)
planos frontais) e o plano corporal, que possui uma EVERY-OTHER-MONDAY
Plano-x
gama de especificações adicionais. (a cada duas segundas-feiras)
MIRROR (espelho)
JAIL (prisão)
Definido por todos os pontos no plano que é
Comumente os sinais de 1-
Plano-y perpendicular à dimensão y (que é um conjunto de
mão.
planos horizontais).
Definido por todos os pontos no plano que é
Comumente os sinais de 2-
Plano-z perpendicular à dimensão z (que é um conjunto de
mãos.
planos sagitais mediano).
Quadro 23 – Planos de articulação do sinal no espaço neutro.
Fonte: BRENTARI, 1998 (tradução nossa).

Brentari (1998) observa que, enquanto o plano-y é mais comumente utilizado para os
sinais de 1-mão no espaço neutro, o plano-z, por sua vez, é mais comumente utilizado para os
sinais de 2-mãos simétricos.
Quando o plano-x estiver relacionado ao plano corporal, ele será “controlado” por
uma mapa de locais distintivos de articulação. Neste princípio, há quatro regiões principais no
corpo (cabeça, braço, corpo e M2). Cada região é subdividida em oito locais distintos – [1]-
[8]. Em relação às propostas anteriores, esse sistema de representação mostra-se profícuo,
considerando que:

(1) Primeiramente, generaliza em oito diferentes regiões o número máximo de


oposições encontradas.
(2) Em segundo lugar, a transcrição considera uma visão ampla, tendo em vista
que somente as principais regiões precisam ser mencionadas.
(3) Em terceiro lugar, o sistema faz prognósticos translinguísticos a respeito do
local de articulação.
(BRENTARI, 1998, p. 121-122)

O Quadro 24 reúne os locais de oposição da ASL no que tange ao POA descritos por
Brentari (1998).

                                                                                                               
62
No MP, os planos frontal, horizontal e sagital mediano são definidos pelos pontos no plano perpendicular à
linha que se refere àquela dimensão no espaço. X, y e z são os rótulos dados aos planos de articulação no espaço
neutro.
109

Região Locais de Oposição Exemplo(s) na ASL63


Principal
(1) Parte superior da cabeça HAT (chapéu)
(2) Testa PERPLEXED (perplexo)
(3) Olho ONION (cebola)
(4) Bochecha/nariz FLOWER (flor)
Cabeça
(5) Lábio superior THIEF (ladrão)
(6) Boca SAY-NOTHING (dizer nada)
(7) Queixo FRUSTRATED (frustrado)
(8) Embaixo do queixo FULL (cheio)
(1) Pescoço BROKE (quebrado)
(2) Ombro RESPONSABILITY (responsabilidade)
(3) Clavícula PERSONALITY (personalidade)
(4) Tronco-superior HEART (coração)
Corpo
(5) Tronco-médio SORRY (sinto muito)
(6) Tronco-inferior GUT-FEELING (pressentimento)
(7) Cintura RUSSIA (Rússia)
(8) Quadril NAVY (armada, marinha)
(1) Braço superior SCOTCH (escocês)
(2) Frente do cotovelo DRUGS (drogas)
(3) Lombo do cotovelo POOR (pobre)
(4) Dorso do antebraço STAGE (estágio, palco)
Braço
(5) Frente do antebraço BRIDGE (ponte)
(6) Ulnar do antebraço BASKET (cesta)
(7) Dorso do punho SLAVE (escravo)
(8) Frente do punho DOCTOR (médico)
MY (meu/minha)
(1) Palma da mão
LEARN (aprender)
LABEL (rótulo, legenda)
(2) Frentes dos dedos
DISMISS (dispensar)
LOVE-SOMETHING (amar-algo)
(3) Dorso da palma
TOUCH (tocar)
CHERISH (prezar, estimar)
(4) Dorso dos dedos
EASY (fácil)
Mão64
OLD (velho)
(5) Lado radial dos dedos selecionados
WOOD (madeira)
BROKE (quebrado, financeiramente)
(6) Lado ulnar dos dedos selecionados
TICKET (ingresso)
COMPLAIN (queixar-se)
(7) Ponta dos dedos selecionados/polegar
TOP (superior)
SLIP (escapar escorregar)
(8) Calcanhar da mão
CHEESE (queijo)
Quadro 24 – Principais locais de oposição quanto ao POA.
Fonte: BRENTARI, 1998.

                                                                                                               
63
É pertinente salientar que todos os exemplos aqui correferenciados estão ilustrados no Apêndice G.
64
Sendo a região principal a mão, os locais de oposição serão os mesmos tanto para M1 como para M2. Os
primeiros exemplos referem-se à M1 como parte do articular ativo e os segundos, como POA passivos.
110

Tendo em vista que os traços [ipsi] e [contra] podem ser contrastivos, esses traços
podem ser especificados no nó corpo2. As formas polimórficas também exibem
rotineiramente um contraste [ipsi] x [contra] na concordância espacial e pronominal, bem
como as formas classificadoras (BRENTARI, 1998).

 
Figura 72 – Os planos de articulação contrastivos (x, y e z).
Fonte: LUTTGENS; HAMILTON, 1997, p. 38. In: BRENTARI, 1998, p. 121.

Apesar dos movimentos se darem dentro de um plano de articulação, não devemos


perder de vista que os traços relativos aos movimentos fazem parte do ramo dos TP. Esses
traços serão expostos posteriormente, bem como a sua interação com os pontos de articulação.

2.4.1.3 O parâmetro Or e seu papel no MP

A representação fonológica do parâmetro Or se dá de forma diferente se comparada


aos outros parâmetros A e POA. Esse parâmetro não foi observado por Stokoe (1960) como
fonologicamente relevante. Conforme já havíamos anteriormente pontuado, a observância
desse parâmetro bem como a compreensão da sua relevância para a investigação fonológica
só ocorreu a partir de Battison (1978). É um truísmo o fato de que a orientação carrega
111

contraste lexical. No entanto, esse contraste não pode ser demonstrado em termos de
conjuntos de traços da mesma forma que o(s) articulador(es) e o(s) ponto(s) de articulação
demonstram. A análise da Or deve ser feita em termos relacionais (BRENTARI, 1998).
Os Modelos HM e VP já haviam evidenciado que a orientação subjacente poderia ser
expressada como um conjunto de relações entre os planos de articulação e o local de
articulação no corpo ou os planos de articulação no espaço de sinalização. Contudo, os dois
modelos têm apresentado a problemática da orientação subjacente de diferentes formas.
Considerando-se que não julgamos necessário a exposição da problemática desses modelos,
não iremos tratar nem demonstrar os exemplos aqui. Uma maior aprofundamento dessas
discussões pode ser encontrado em Brentari (1998).
O MP fornece duas formas para a representação das relações de orientação.
Primeiramente, a orientação subjacente é expressada por uma relação única de duas partes, ao
invés de várias relações. A base da mão não é utilizada como uma parte da mão, já que essa
base pode ficar restrita a uma posição enquanto as outras partes admitem diferentes posições.
Um elemento da relação da orientação é a parte da mão, especificada no nó M1, e o outro é o
plano de articulação (x, y ou z). Em segundo lugar, o movimento da mão pode ser
perpendicular ao plano de articulação ou dentro dele, definindo, respectivamente, um traço de
trajetória de [direção] ou de [traçado] (BRENTARI, 1998).

2.4.1.4 Os traços não-terminais

Certos traços ocupam os nós não-terminais na estrutura. Por exemplo, os traços


[empilhado] e [aberto/espraiado] são tratados dessa forma. O traço [alternado] é especificado
no nó M2, levando-se em conta que um sinal de 2-mãos com movimento alternado, mesmo
diante de um fenômeno de Weak Drop ou Elisão da M2, não será considerado como de 1-mão.
No caso do sinais de 2-mãos com movimento simultâneo, o traço [simétrico] é expressado no
nó articulador, que domina ambas as mãos – M1 e M2.
Os traços da parte da mão – [1]-[8] – também estão localizados no nó M1. O traço
[contato] é especificado somente uma vez e está localizado no nó POA em alguns sinais ou no
nó A em alguns sinais de 2-mãos.
112

2.4.2 A estrutura dos traços prosódicos

Doravante, serão expostos os principais pontos concernentes ao inventário de todos


os tipos subjacentes de movimentos. Os traços prosódicos pressupõem um mudança durante a
produção de lexemas nucleares, já que eles são executados sequencialmente no tempo. De
acordo com Brentari (1998, p. 129, tradução nossa), “todos os sinais monomórficos bem-
formados têm algum tipo de movimento”.65 As diversas definições para o termo ‘movimento’
têm causado algumas “discórdias” teóricas entre os pesquisadores da área de língua de sinais.
Abaixo, serão apresentadas, segundo Brentari (1998), algumas visões de como o parâmetro M
tem sido visualizado:

Visão em relação ao parâmetro M Exemplo(s)


Como um rótulo para os segmentos. Nos modelos HT, HM e moraico.
Como um rótulo para qualquer aspecto dinâmico Movimentos transicionais e movimentos internos
do fluxo do sinal. da palavra.
Mudança da CM, mudança na Or, movimento
Como um rótulo somente para aqueles aspectos
com trajetória, mudança do setting, e movimento
dinâmicos dos sinais que estão dentro da palavra.
vibrante.
Quadro 25 – Diferentes visões em relação ao parâmetro M.
 
 
O MP, por sua vez, adotará as seguintes definições:
a. Movimentos com trajetória: são articuladas pelas juntas do(s) cotovelo(s) ou
do(s) ombro(s), resultando numa mudança discreta do local de articulação no
espaço do sinal no corpo ou no espaço externo em frente ao sinalizante. Ex.:
LOOK (olhar);
b. Traços de Trajetória: são dominados pelo nó trajetória na ramificação dos
TP, especificando a forma ou a direção de um movimento ou num pivô do
braço. Ex.: SORRY (sinto muito), LOOK (olhar), DAY (dia);
c. Movimentos Locais: são articulados pelas juntas dos dedos ou dos punhos,
resultando numa mudança da CM ou orientação das mãos, ou um movimento
vibrante. Ex.: UNDERSTAND (entender), DIE (morrer), COLOR (cor);
d. Movimentos Simples: envolvem um movimento de trajetória ou local simples.
Ex.: LOOK (olhar), UNDERSTAND (entender), DIE (morrer);

                                                                                                               
65
Texto de partida: “All well-formed monomorphemic signs have some type of movement.”
113

e. Movimentos Complexos: envolvem duas ou mais trajetórias coocorrentes ou


movimentos locais. Ex.: POOR (pobre), BETTER (melhor), MEETING
(reunião, encontro), OLD (velho);
f. Movimentos Lexicais: são especificações na representação subjacente para um
lexema ou afixo. Ex.: todos os exemplos citados anteriormente – (a)-(e);
g. Movimentos Transicionais: são movimentos epentéticos ao nível do sintagma.
Ex.: entre MOTHER (mãe) e GIVE (dar).

A estrutura dos TP encontra-se abaixo ilustrada:

 
Quadro 26 – A estrutura dos traços prosódicos (TP).
Fonte: BRENTARI, 1998, p. 130 (tradução nossa).

Existem teóricos que seguem uma vertente que acreditam que a ASL não possui
traços de movimento, considerando-se que todos os movimentos são resultados da
interpolação entre os pontos de estagnação (STACK (1988), UYECHI (1995)). Nessa
vertente, os “movimentos” são vistos como afixos múltiplos que se modificam devido à
mudança na orientação e na locação.
114

No MP, a visão é completamente distinta. De acordo com Brentari (1998), a


gramática da ASL requer os traços de direção. Em relação à ação de juntas específicas, os
movimentos da ASL incidem em duas classes de movimentos simples. Certos movimentos
podem ser especificados no nó dos TP como formas abstratas, as quais podem ser realizadas
pelos ombros, cotovelos ou punhos. Outros movimentos são invariavelmente executados pelas
mesmas juntas especificadas pelos traços de input. Um último tipo de movimento pode ser
ampliado ou reduzido pelo espraiamento de uma junta contígua. Alguns sinais possuem tanto
o formato prosódico abstrato quanto uma mudança na CM específica (p. ex. TAKE (pegar,
tomar), THROW (arremessar)) ou dois movimentos em juntas particulares (p. ex. CAN’T-DO-
IT (não-posso-fazer-isso)). Esses são os exemplos de sinais com movimentos complexos
(BRENTARI, 1998).
Arqueado, retilíneo e circular são as três formas abstratas que podem ser definidas
no nó dos traços prosódicos.
Os movimentos retilíneos são os únicos que ocorrem em todos os componentes do
léxico. Esses movimentos são os que mais possuem subtipos e são encaixados como
movimentos epentéticos quando as restrições requerem epêntese. Nem todos os movimentos
retilíneos necessitam ser definidos subjacentemente no nó de traços prosódicos. Um traço
[direção] no nó trajetória somente pode ser executado como um movimento retilíneo, logo,
nestes casos, o traço [retilíneo] no nó TI é redundante (BRENTARI, 1998).
Os movimentos arqueados ocorrem como formas abstratas primariamente nas formas
classificadoras e nos afixos. Entretanto, algumas formas nucleares são definidas para tais
movimentos. Os movimentos circulares e retilíneos ocorrem com maior frequência como
formas abstratas nos lexemas nucleares.
Somente as formas abstratas – arqueado, circular e retilíneo – são representadas
unicamente no nó TI. Os outros traços de movimento ([alternado], [direção], [traçado], e
[repetido]) podem aparecer em qualquer local da estrutura.
Com base na Teoria do “Enhacement” Fonético (STEVENS e KEYSER, 1989;
STEVENS, KEYSE e KAWASAKI, 1986), que tem sido proposta para as línguas faladas, o
MP adota uma forma de representação do sinal que pode explicar a variabilidade fonética. De
acordo com essa teoria, os traços – [soante], [contínuo] e [coronal] – são primários. Os traços
secundários – [vozeado], [estridente] e [ nasal] podem “aprimorar” os primeiros traços de
maneira específica. Brentari (1998) destaca que o que a tem motivado a utilizar a teoria em
questão no MP diz respeito à saliência perceptiva dos movimentos da ASL que podem ser
similarmente enfraquecidos ou fortalecidos.
115

Uma primeira hipótese considera que:


[...] os nós de classe prosódica estão distribuídos de acordo com a adjacência
fisiológica, posicionando os ombros num final de uma série de possíveis
juntas utilizadas para articular um movimento e as juntas dos dedos num
outro final (BRENTARI, 1998, p. 133, tradução nossa).66

Então, a ramificação dos nós de classe dos traços prosódicos do mais distal para o
mais proximal contemplaria:

abertura Δ < orientação Δ < trajetória < setting Δ

Brentari (1998) afirma ainda que as operações de redução fonética (phonetic


reduction) e de aumento fonético (phonetic enhancement) são denominadas, respectivamente,
distalização (distalization) e proximalização (proximalization). Os movimentos migram por
causa de fatores fisiológicos, considerações de natureza social ou interação entre sinalizantes
e receptores. A sinalização de pessoas que são acometidas da Doença de Parkinson é,
geralmente, caracterizada por movimentos distalizados (BRENTARI; POIZNER, 1994), e
tem-se constatado que os movimentos dos sinais de crianças mais jovens são, frequentemente,
proximalizados (CONLIN et al., 1998).
Os traços de trajetória devem estar articuladamente alinhados em relação a um
plano de articulação; eles são representados no nó trajetória da ramificação traços prosódicos.
Todos os traços de trajetória especificam um movimento ou dentro do plano de articulação ou
a um ângulo de 90º do plano de articulação. Os traços de trajetória (Fig. 73) podem ser:
a. [direção]: uma trajetória retilínea fonologicamente especificada executada com
um angulo de 90º para (registrado [>|]) ou de (registrado [|>]) um determinado
plano de articulação, ou de um determinado ponto ou para um determinado ponto
(p. ex. “GIVE” (dar), “SUBSCRIBE” (assinar, inscrever(-se));
b. [traçado]: uma linha com o formato arqueada, retilínea ou circular articulada em
relação a um ponto único dentro de um plano (p. ex. “RAINBOW” (arco-íris),
“BLACK” (negro), e “SORRY” (desculpa), respectivamente);
c. [pivô]: um movimento no qual o cotovelo está fixado (p. ex. “DAY” (dia),
“MORNING” (manhã));

                                                                                                               
66
Texto de partida: “[…] the prosodic class nodes are arranged according to phisiological adjacency, placing
shoulders at one end of a range of possibles joints used to articulate a movement and finger joints at the other
end.”
116

d. [repetido]: um movimento retilíneo que é repetido em uma ou várias direções.


Esse tipo de traço também pode ocorrer em sinais que descrevam trajetórias
angulares de 90º ou 180º (ou seja, nos sinais bidirecionais);
e. [alternado] (apenas os sinais de 2-mãos): um movimento realizado pelas duas
mãos, no qual há uma defasagem de 180º, já que os articuladores movem-se
alternadamente.

Figura 73 – Superfície de realização dos traços de trajetória.

Os traços de trajetória também são requeridos para a representação da distribuição do


[contato]. Na ASL, os sinais de “NAME” (nome) e “CALL” (chamar) contém um traço de
trajetória subjacente. Em relação ao relacionamento entre os traços de trajetória e o [contato],
Brentari (1998, p. 141) afirma que:
a. Os sinais cuja representação contenham um traço de [direção] entram em
[contato] ou no início do movimento com trajetória (numa [direção: |>]
para um ponto) ou no final do movimento com trajetória (numa [direção:
>|] para um ponto);
b. Os sinais cuja representação contenham um traço de [traçado] mantêm o
[contato] durante a realização do movimento com trajetória.
117

O Princípio da Direção-da-Transferência (Direction-of-Transfer Principle) diz


respeito à direção expressada pelo movimento com trajetória e/ou à direção expressada pela
orientação. Em relação à direção expressada pelo movimento, quando o sinal expressa a
transferência de um tema para longe do sujeito, a trajetória move-se do lócus espacial
associado ao sinalizante (no caso padrão) ou do lócus espacial do sujeito declaradamente
marcado. Quando o sinal expressa a transferência de um tema em direção ao sujeito, a
trajetória move-se em direção ao lócus espacial associado ao sujeito (no caso padrão) ou em
direção ao lócus espacial do sujeito declaradamente marcado. Em relação à direção
expressada pela orientação, quando a orientação for relevante para expressar a transferência
de um tema, o dorso da mão é orientada a favor do sinalizante (no caso padrão) ou em direção
ao lócus do sujeito declaradamente marcado.
“A mudança do setting [setting change] é o movimento entre dois valores num
plano ao qual o articulador pode se mover” (BRENTARI, 1998, p. 151, tradução nossa).67 Os
traços relativos ao setting são realizados como movimentos articulados pelo ombro, no caso
padrão. Dentro de um determinado plano, uma forma de especificar um movimento é a partir
da “identificação” de dois pontos de referencia. Cada tipo de plano (x, y e z, conforme
anteriormente explicitado) possui duas possibilidade de ajuste para os traços do setting.
As mudanças de orientação são os movimentos que são articulados pela junta do
pulso. Diferentemente das juntas dos dedos, que só executam dois tipos de movimento (flexão
x extensão), a junta do pulso pode executar fisicamente três tipos de movimento:
I. Rotação – movimentação da mão de uma posição de pronação para supinação
ou vice-versa;
II. flexão ou extensão;
III. adução ou abdução, ou movimento lado-a-lado.

Se durante a execução do sinal houver abertura ou fechamento dos dedos, o


respectivo traço ([aberto] ou [fechado]) deve ser notado no ramo abertura dos TP.
Alguns sinais possuem “movimentos vibrantes” (TM – trilled movements). Os TM
podem ser produzidos em variados sítios articulatórios: na boca, nos locais que fazem parte
do parâmetro CM (como a mão e o punho), e nos locais que fazem parte dos parâmetros L ou
M do sinal.

                                                                                                               
67
Texto de partida: “A setting change is the movement between two values in a plane in which the articulator
can move.”
118

2.5 CONTRIBUIÇÕES DO MODELO PROSÓDICO À FONOLOGIA DOS SINAIS

Durante esse capítulo, pôde-se evidenciar que o Modelo Prosódico difere tanto do
Modelo HT quanto do Modelo MH. No MP, todos os traços relativos ao parâmetro M – não
apenas os traços de direcionalidade – são alocados numa ramificação específica de modo a
facilitar a interação das operações fonológicas entre esses traços. Apesar do MP adotar uma
representação para o parâmetro CM semelhante ao do Modelo HT (cf. Van der HULST,
1996), os traços relativos à abertura são considerados traços prosódicos. Brentari (1998)
assevera que a investigação fonológica da língua de sinais contribui não apenas para a teoria
fonológica, mas também para a Ciência da Cognição.
Recapitulando, as unidades de análise fonológica são: (a) unidade de tempo
(segmento) – a menor unidade instituída ao nível de tempo; (b) unidade de peso – um nó que
faz parte da classe da ramificação prosódica, que adiciona complexidade ao núcleo silábico e
pode constituir processos fonológicos e morfofonológicos; (c) sílaba – (i) a unidade
prosódica fundamental que pode ser analisada; (ii) (em língua de sinais) um movimento
fonológico, sequencial; (d) nó raiz – o nó ao qual a representação fonológica interconecta os
traços morfossintáticos da forma.
No que tange à questão da sílaba em língua de sinais, Brentari (1998, p. 303) afirma
que “as sílabas do sinal não possuem a distinção onset-rima, mas os TI captam muito da
informação do conteúdo estrutural e os TP detêm as propriedades prosódicas.” Além disso, o
MP adota o conceito de sílaba, considerando que as sílabas do sinal abrangem o peso e as
distinções de duração e se referem a estruturas superiores para determinar as combinações de
movimento de boa-formação e o comprimento da palavra.
Brentari (1998) afirma que há uma complexidade tanto na ramificação inerente
quanto na prosódica. No entanto, é na ramificação da estrutura dos traços prosódicos que as
sílabas e a estrutura prosódica de ordem superior são constituídas. A autora chama de visual
sonority o tipo de complexidade que se encontra na ramificação dos traços prosódicos. Nesse
aspecto, a autora demonstra como a “sonoridade” visual funciona na gramática fonológica da
ASL e determina as condições de boa-formação e os processos fonológicos.
119

Língua falada Língua sinalizada


O grau de sonância está correlacionado com a O grau de sonância está correlacionado com a
abertura relativa da cavidade oral do trato vocal; proximidade da junta que articula o sinal ao
quanto maior for a abertura do trato vocal, maior corpo; quanto mais proximal a junta que articula
será o grau de sonoridade. o movimento estiver em relação à linha média do
i. Correlato articulatório: grau de abertura corpo, maior será o grau de sonoridade.
do trato vocal durante a fonação; i. Correlato articulatório: proximidade à
ii. Consequência perceptual: maior linha média do corpo da junta
audibilidade. envolvida na produção de um
movimento;
ii. Consequência perceptual: maior
visibilidade.
Quadro 27 - Definição de sonoridade nas línguas faladas e nas línguas de sinais.

No que tange à “sonoridade” ou sonância, as observações dos pesquisadores68,69


tanto das línguas faladas quanto sinalizadas têm conduzido a um conceito fonológico de
sonoridade que diz respeito a uma saliência perceptual. Um gesto (ou seja, um movimento)
articulado com a junta relativamente mais proximal é mais sonoro do que um outro articulado
numa junta mais distal. Isso faz com que um sinal seja percebido a longas distâncias. Por
exemplo, um movimento com trajetória (um gesto articulado com o cotovelo ou ombro) pode
ser visto de uma distância maior do que uma mudança na configuração da mão (um gesto
articulado com as juntas dos dedos) (BRENTARI, 1998).
Uma vez que não iremos adotar nessa Dissertação os conceitos de unidades de peso
(timing units), sonoridade, complexidade e peso, apesar de a autora utilizar capítulos
específicos para tratar de cada temática dessa, optamos por não apresentá-los em
profundidade nessa seção.
 

                                                                                                               
68
Os pesquisadores que têm observado as particularidades da sonoridade para as línguas orais, citados por
Brentari (1998) são: Ohala (1990), Dell e Elmedlaoui (1985), Zec (1988), Goldsmith e Larson (1990), Prince e
Smolensky (1993), e Kentowicz (1994), dentre outros.
69
Já nas línguas de sinais, os pesquisadores foram: Sandler (1993), Perlmutter (1992, 1993), Corina (1990) e
Brentari (1990, 1993).
120

3 DELIMITAÇÃO DO ESTADO DA ARTE

Neste Capítulo, serão descritos os procedimentos metodológicos utilizados no


decurso da pesquisa. Doravante, serão explicitados: o delineamento do estudo, os critérios
para seleção dos sujeitos e delimitação do corpus, os procedimentos para coleta e transcrição
dos dados, a análise dos dados e, por último, as limitações metodológicas.

3.1 DO DELINEAMENTO DO ESTUDO

O enfoque teórico-metodológico que norteou a presente pesquisa foi de cunho


qualitativo. Julgamos que o estudo dos casos dos sujeitos participantes seria a vertente mais
adequada. A abordagem quantitativa poderia ser útil para a contabilização dos processos
fonológicos subjacentes aos sinais eliciados. Entretanto, consideramos que a população
participante desse estudo constituiu um universo muito ínfimo e, por esse motivo, poderia não
revelar dados com significância estatística.
Pautando-se na abordagem qualitativa e baseando-se nos pressupostos teóricos
expostos nos capítulos 1 e 2, lançaremos um novo olhar sobre a fonologia da Língua
Brasileira de Sinais, a fim de que possamos compreender mais profundamente o primeiro
nível de análise linguística de uma língua de modalidade viso-espacial.

3.2 DOS PARTICIPANTES E DA DELIMITAÇÃO DOS CORPORA

A participação na pesquisa foi feita mediante o convite pelo pesquisador a um dos


pais e/ou responsável legal da criança. Em prosseguimento e mediante o aceite à participação
na pesquisa, houve a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, cujo modelo
utilizado encontra-se no Apêndice B.
Foram selecionados sujeitos na faixa etária entre 6 e 12 anos, do 2º ano do Ensino
Fundamental do Centro Educacional Sons no Silêncio, localizado à Rua Alberto Fiúza, 502 –
Imbuí, na cidade de Salvador/BA. Todos os sujeitos são Surdos e possuem diagnóstico
121

audiológico de perda auditiva sensorioneural, a maioria variando do grau severo a profundo, e


têm sido atendidos pelo serviço de fonoaudiologia da referida instituição. Todos os
participantes foram sujeitos surdos filhos de pais ouvintes (SSFPO). A hipótese diagnóstica
fonoaudiológica que justifica o atendimento/acompanhamento deles é idêntica, ou seja,
“atraso na aquisição da primeira língua (Libras)”. O perfil dos sujeitos investigados será
apresentado no tópico 4.4.
Seria pertinente se tivéssemos encontrado crianças mais jovens, na faixa entre 0 e 6
anos, visto que os processos de simplificação fonológica se mostram mais evidentes nesse
período de idade. No entanto, encontrar SSFPS, ou mesmo SSFPO, com essa característica
ainda tem-se constituem um desafio.
Conforme Carta de Anuência, apresentada no Apêndice A, a instituição de ensino
acima epigrafada autorizou o pesquisador a realizar a atividade de pesquisa, especificamente
no que tange à coleta de dados. É relevante pontuar, ainda, que o pesquisador que conduziu a
pesquisa atua como fonoaudiólogo responsável pelo serviço de fonoaudiologia da instituição.
O trabalho fonoaudiológico nessa instituição tem como objetivo primordial estimular a
aquisição da Língua Brasileira de Sinais como L1, tendo em vista que a maioria dos sujeitos
são oriundos de lares onde os progenitores não são falantes da língua de sinais. Em alguns
casos, os alunos que têm demonstrado maiores dificuldades na aquisição da LP escrita
também têm sido acompanhados pelo serviço de fonoaudiologia da instituição em questão.

3.3 DOS PROCEDIMENTOS DE COLETA E TRANSCRIÇÃO DOS DADOS

O instrumento elaborado denominado FONOLIBRAS, que foi utilizado para coleta


de dados, encontra-se descrito passo-a-passo no Capítulo 4. O instrumento foi confeccionado
especificamente para essa Dissertação, tendo o propósito de realizar a avaliação fonológica da
Língua Brasileira de Sinais. O instrumento constitui-se de 50 (cinquenta) ilustrações que
contemplam: (1) categorias nominais e verbais; (1.1) as categorias nominais incluem frutas,
animais, pessoas, objetos e cores; (1.2) as categorias verbais abarcam verbos com e sem
direcionalidade. As figuras podem ser analisadas, outrossim, a partir dos cinco parâmetros
(CM, PA, M, Or e ENM). No entanto, essa não é a principal via de análise, haja vista que os
sinais achados a partir da aplicação do FONOLIBRAS são analisados à luz do MP.
122

Os dados foram coletados no período compreendido entre novembro de 2011 e


março de 2012. A priori, os pais foram convidados a participar da pesquisa mediante a
assinatura do TCLE. Logo após, foi realizada uma anamnese (Apêndice C), a fim de se obter
dados concernentes a:
(1) dados individuais e sociofamiliares;
(2) dados clínicos pré-natal e peri-natal;
(3) desenvolvimento da primeira infância;
(4) desenvolvimento da motricidade oral/global;
(5) desenvolvimento linguístico;

No que se refere à coleta de dados, as crianças foram estimuladas a nomear


(“nomear” a partir da sinalização, já que estamos tratando de língua de sinais) cada figura que
lhe foi apresentada. Os dados coletados foram filmados numa Câmera Digital da marca Sony
14MP e, posteriormente, transcritos obedecendo a proposta do instrumento de avaliação. As
figuras que foram utilizadas para essa coleta estão dispostas no Capítulo 4, seção 4.2.1.
Para qualquer pesquisa linguística, a transcrição dos dados previamente à análise é
de suma relevância. No que tange à necessidade de um sistema de notação, Andrade e Viana
(1996) declaram que:
Uma questão que se coloca a qualquer estudioso dos sons da linguagem é a
de como anotar de forma simples, sistemática e não ambígua a descrição dos
sons observados numa língua particular ou num conjunto de línguas de
modo a que os objectos descritos sejam acessíveis a outros (ANDRADE;
VIANA, 1996, p. 121).

Logo, parafraseando as autoras acima citadas, uma questão que se coloca aos
estudiosos dos sinais da linguagem de modalidade viso-gestual seria como registrar de forma
simples, sistemática e não ambígua a descrição dos parâmetros e traços observados numa ou
em várias línguas de sinais de modo que esses dados possam ser lidos e compreendidos por
todos os pesquisadores da área.
Para a transcrições de textos em língua de sinais, tem-se utilizado, comumente, o
“sistema de transcrição de enunciados e textos em língua de sinais”, conforme proposto por
Ferreira-Brito (2010). No entanto, esse sistema não seria cabível para investigações
fonológicas ou morfológicas, já que ele descreve em LP os sinais enunciados em LS. Essa
forma de se “transcrever” pode ser útil para as pesquisas de níveis semântico-pragmáticos,
sintáticos e discursivos.
123

Não poderíamos adotar o sistema de transcrição fonológica do IPA (International


Phonetic Alphabet), tendo em vista que esse sistema é aplicável às línguas orais-auditivas.
Buscando-se uma possível solução para a questão da transcrição dos sinais, encontramos na
escrita da língua de sinais (SignWriting) uma solução para essa problemática. O SW foi criado
e proposto por Valerie Sutton (1975), e uma breve explanação a respeito desse sistema de
escrita está exposta no Anexo C. No Apêndice E, encontra-se o quadro modelo no qual devem
ser transcritos/escritos os sinais concernentes aos dados coletados. Na seção 4.4, encontram-se
as transcrições relativas às produções das crianças que participaram como sujeitos da
pesquisa.
A respeito do SignWriting, é relevante salientar que:
SignWriting é um sistema de escrita visual direta de sinais. Ele é capaz de
transcrever as propriedades sublexicais das Línguas de Sinais (i.e., os
quiremas ou configurações de mão, sua orientação e movimentos no espaço
e as expressões faciais associadas), do mesmo modo como o Alfabeto
Fonético Internacional é capaz de transcrever as propriedades sublexicais
das línguas faladas (i.e., os fonemas). Assim como o Alfabeto Fonético
Internacional permite uma descrição detalhada dos fonemas de uma língua
falada e um registro preciso das palavras que resultam da sua combinação,
SignWriting permite uma descrição detalhada dos quiremas (i.e., grego
quiros, mão) de uma Língua de Sinais e um registro preciso dos sinais que
resultam de sua combinação (CAPOVILLA; SUTTON, 2008, p. 55, grifos
dos autores).

A relevância de se utilizar o sistema SW para “transcrição” dos dados está no fato de


que os pesquisadores no campo da LS têm cada vez mais empregado esse sistema em seus
estudos. Além disso, o campo da Literatura Surda também tem adotado esse sistema como
forma de registro das LS, além dos registros clássicos por meio de vídeos.
Existe também uma outra forma de “escrever” os sinais denominada ELiS70 (escrita
da língua de sinais, conforme proposto por Barros (1998, 2006, 2007, 2008, 2010). Conforme
essa autora afirma, a estrutura da ELiS contempla uma base alfabética, linear e é organizada a
partir dos parâmetros dos sinais propostos por Stokoe (1965). A ELiS, por sua vez, dá conta
da representação dos sinais por meio de 90 visografemas distribuídos da seguinte forma:
• 10 visografemas no parâmetro CD, sendo 5 para representações do polegar, 4 para os
demais dedos, e 1 em comum;
• 6 visografemas no parâmetro OP;
• 35 visografemas no parâmetro PA, sendo 16 para representações de PA da cabeça, 6 do
tronco, 6 dos membros, e 7 separadamente para a mão;
                                                                                                               
70
“A ELiS é um sistema de escrita das LS, de base alfabética e linear. Este sistema foi criado em minha pesquisa
de mestrado, em 1997, e desde então vem passando por aperfeiçoamentos sugeridos por colegas surdos e
ouvintes, e por minhas próprias reflexões lingüísticas. Inclusive, seu nome acompanha seu amadurecimento
teórico” (BARROS, 2008, p. 25)
124

• 39 visografemas no parâmetro Mov, sendo 17 para movimentos externos da mão, 11 para


movimentos internos da mão, e 11 para movimentos realizados sem as mãos.

Não é necessário representar visualmente esse sistema aqui, tendo em vista que não
faremos o uso do mesmo no nosso estudo. Pelo que foi visto, a ELiS utiliza-se de
visografemas e diacríticos para representar visualmente os sinais, baseando-se nos quatro
parâmetros – CM, M, PA e Or. A autora que propõe a ELiS descarta as expressões não-
manuais justamente por considerá-las traços prosódicos.
Diante disso, percebe-se que essa proposta é restringida no que tange à representação
das ENM. Essas expressões, conforme discutimos no primeiro capítulo, possuem
significância linguística não apenas para os níveis semântico-pragmáticos, sintáticos e
discursivos, mas também são essencialmente significantes na constituição do sinal. E, por
esse motivo, não poderíamos descartá-la das nossas análises. Com isso, concluímos que a
transcrição por meio do SW nos forneceria muito mais elementos de análise do que a adoção
de quaisquer outras propostas de sistema de escrita ou transcrição para a LS.

3.4 DA ANÁLISE DOS DADOS

Para a análise dos dados, realizamos a comparação entre os sinais constantes dos
corpora e os sinais esperados, após realizar um inventário das CM e dos tipos de M já
adquiridos pelas crianças com base no instrumental utilizado. Os sinais esperados encontram-
se descritos no quadro relativo às ilustrações para coleta de dados do FONOLIBRAS, nos
apêndices das páginas 189 a 195.
Após as comparações realizadas, fizemos as observações referentes aos sinais que
apresentaram “desvios” em relação ao padrão esperado. E, em seguida, exploramo-los e
categorizamo-los em:
a. Assimilação;
b. Elisão;
c. Epêntese;
d. Metátese.
125

3.5 DA LIMITAÇÃO METODOLÓGICA

Levando-se em conta que, na pesquisa científica, poderão existir limitações


decorrentes da metodologia utilizada. Pontuaremos, nesse tópico, as principais limitações
observadas na presente pesquisa.
Quanto aos participantes, a pesquisa tinha o objetivo inicial de localizar sujeitos
surdos que são filhos de pais surdos (SSFPS). Apesar de a pesquisa ter sido realizada no
âmbito de uma escola de surdos em Salvador, o pesquisador tentou buscar, a partir de
conversas informais com sujeitos surdos adultos, crianças surdas com o perfil relatado. No
entanto, foi-nos relatado que, em Salvador, havia apenas filhos surdos em que um dos pais era
surdo(a). Uma possível solução para essa limitação seria a ampliação do perímetro de
pesquisa para o nível estadual ou nacional. No entanto, isso não foi possível, porquanto o
tempo despendido para a pesquisa do mestrado não permitiria essa ampliação perimétrica.
Quanto aos procedimentos de transcrição dos dados, é fato que ainda não se tem
convencionado um sistema de transcrição fonológica para a língua de sinais. Vimos no
capítulo 1 diferentes modelos para análise da fonologia dos sinais, a adoção de determinado
modelo é o que irá definir a utilização de uma ou outra forma para se transcrever os dados.
Para se tentar minimizar essa limitação, adotamos, nessa Dissertação, a escrita da língua de
sinais (SignWriting), já que se trata de um sistema de escrita da língua viso-gestual. Nesta
perspectiva, esse sistema pode dar conta até da “transcrição” dos sinais com processos
fonológicos desviantes ou normais.
Quanto à escolha dos itens lexicais para o instrumental elaborado. Todo e qualquer
inventário elaborado para análise fonológica deve considerar o sistema fonológico da língua e
realizar um balanceamento fonológico aprioristicamente (GRUNWELL, 1982; TEIXEIRA,
1990). Essa foi possivelmente a nossa maior limitação metodológica, pois ainda não se
conhece globalmente o sistema fonológico da Libras. Além disso, uma vez que a análise
proposta nessa Dissertação considera tanto a estrutura superficial quanto profunda, é bem
provável que os resultados encontrados forneçam novas possibilidades de análise e caminhos
promissores para a constituição da fonologia da língua de sinais.
126

4 AVALIAÇÃO FONOLÓGICA DA LIBRAS: FONOLIBRAS

Esse Capítulo terá como objetivo principal a exposição do FONOLIBRAS, bem


como apresentar os resultados achados e discuti-los concomitantemente. Não tem sido o
nosso objetivo e nem será doravante tecer considerações acerca das semelhanças e diferenças
entre as modalidades de linguagem orais-auditivas e viso-gestuais. Durante algum tempo, os
estudos linguísticos com enfoque nas línguas de sinais objetivaram estudos contrastivos. Os
pesquisadores das línguas de sinais têm chegado à conclusão de que é o momento de
estudarmos as línguas de sinais sem a finalidade primordial de traçar paralelos em relação às
línguas orais, mas objetivando corroborar ou retificar os universais linguísticos.

4.1 O QUE, POR QUE E PARA QUE AVALIAR?

Com o intuito de se tentar sistematizar um protocolo de avaliação fonológica


adequado à língua brasileira de sinais, elaboramos esse instrumento de avaliação fonológica –
FONOLIBRAS –, à luz dos pressupostos teóricos do Modelo Prosódico aplicado à língua de
sinais. Os outros pressupostos teóricos previamente explanados, bem como as pesquisas
concernentes à fonologia dos sinais, também serviram de norte para a confecção desse
instrumento.
Parece-nos que os primeiros questionamentos que tenderíamos a pensar seriam: o
que avaliar? E, por que avaliar? Contudo, essas questões poderiam se desdobrar em outras:
para que avaliar? E, como avaliar? Todos esses questionamentos fazem parte da rotina da
clínica fonoaudiológica, porquanto não é possível tomar a linguagem como objeto de
avaliação sem refletir sobre a mesma. A avaliação da linguagem não é relevante apenas aos
fonoaudiólogos ou terapeutas da fala, que são os profissionais que tratam da linguagem
clinicamente, mas também os linguistas necessitam avaliar a linguagem com o objetivo de
observar, analisar, interpretar e propor modelos teóricos a partir dos fenômenos linguísticos
examinados.
A avaliação é um dos maiores instrumentos dos terapeutas da fala e
linguagem, e, como tal, se usada apropriadamente, pode facilitar muito o
trabalho a ser executado. Uma boa avaliação leva a um diagnóstico preciso,
127

à identificação da etiologia e proporciona as bases para uma intervenção


eficaz (BOLLI-MOTA, 2001, p. 17).

Considerando-se que “uma boa avaliação leva a um diagnóstico preciso”, os


indivíduos surdos que possuam “desvios” na aquisição da língua de sinais podem não estar
sendo avaliados em profundidade, já que, inevitavelmente, há carência de testes padronizados
para a avaliação da Libras, em todos os níveis linguísticos.
Pensar em avaliação da língua de sinais é imperativo. Considerando-se que ainda são
insipientes instrumentos de avaliação sistematizados para esse propósito, os fonoaudiólogos71
e linguistas clínicos ainda não podem contar com instrumental para avaliar a Libras,
sobretudo no que diz respeito ao aspecto fonológico. Conforme pontuamos no Capítulo 1, no
ano de 2011, Quadros e Cruz (2011, p. 45) propõem o IALS (Instrumento de Avaliação da
Língua de Sinais), que visa “verificar o nível de desenvolvimento linguístico, acompanhar o
processo de aquisição da linguagem e estabelecer medidas de intervenção ou estimulação
linguística”. Evidentemente, o Instrumento proposto por Quadros e Cruz (2011) não teve
como objetivo principal avaliar a fonologia da Libras em profundidade, visto que o foco
principal da obra é a avaliação da linguagem compreensiva e expressiva. Essas autoras
pontuam, a este respeito, que: “Não há instrumentos de avaliação especialmente produzidos
para avaliar a linguagem na Língua Brasileira de Sinais – Libras” (QUADROS; CRUZ, 2011,
p. 13).
Ao discutirem a questão da avaliação da linguagem em crianças surdas, Quadros e
Cruz (2001) expõem que existem diferentes formas de avaliar a linguagem. O profissional que
se adjudica dessa tarefa pode optar por uma avaliação formal, ou informal ou ainda utilizar
ambas. A avaliação informal visa observar o comportamento linguístico da criança durante
atividades de interação (jogos, brincadeiras, conversas com diferentes interlocutores – com
ele próprio, com os pais, com familiares ou outros surdos). Já a avaliação formal tem como
objetivo a observação do comportamento linguísticos a partir das respostas obtidas por
intermédio da aplicação de instrumentos de avaliação padronizados.
Uma das grandes vantagens da utilização de instrumentos padronizados é que os
dados podem ser obtidos em diferentes momentos, a fim de que o processo de aquisição e
desenvolvimento linguístico possa ser observado e comparado em diferentes períodos. Na

                                                                                                               
71
É pertinente pontuar aqui que o instrumental proposto pode ser de grande valia aos fonoaudiólogos que
seguem uma abordagem bilíngue no trabalho com sujeitos surdos. Para os fonoaudiológos que seguem a vertente
oralista, esse instrumento de avaliação pode não ser útil, e, por essa razão, seria pertinente que esses
profissionais consultassem outros instrumentos cujo enfoque de avaliação é a linguagem oral.
128

clínica fonoaudiológica, é muito corriqueira a utilização de instrumentos padronizados, já que


eles fornecem o mesmo padrão de coleta e análise dos dados, o que facilita a comparação dos
mesmos e a observação da evolução linguística.
Partindo-se da questão primordial – “o que avaliar?” –, Acosta et al. (2003, p. 20)
afirmam que, para se responder a essa pergunta, é necessário saber nitidamente “quais são as
bases anatômicas e funcionais, as dimensões e os processos de linguagem”. Esses pontos
serão dispostos no quadro a seguir, conforme pontuam os autores citados.

Conteúdos do plano de avaliação


a. AUDIÇÃO
b. FONAÇÃO
Bases anatômicas e
• Respiração: tipo, ritmo, tempo e apneia
funcionais
• Motricidade bucofonatória
• Voz: tom, timbre e intensidade
a. FORMA DA LINGUAGEM
• Fonologia: Implica uma avaliação da compreensão e produção do sistema
fonológico da criança, tanto em nível segmentar quanto não-segmentar.
• Morfologia e sintaxe: A avaliação está voltada à análise de como a criança
constrói as palavras por meio da combinação de unidades e ao estudo das
estruturas das frases e da relação entre seus componentes.
Dimensões da b. CONTEÚDO DA LINGUAGEM
linguagem • Semântica: Estudo pormenorizado do significado léxico e número de
palavras que a criança entende e utiliza. Estuda-se o significado referencial,
as categorias semânticas, as relações de significado entre as palavras
(similaridade, oposição, reciprocidade, inclusão) e a linguagem figurativa.
c. USO DA LINGUAGEM
• Pragmática: Estudo das funções comunicativas, da dêixis e do discurso
(habilidades conversacionais, compromisso conversacional, fluência, etc.).
a. COMPREENSÃO
Há uma tendência maior em analisar o que a criança diz do que aquilo que é
capaz de compreender. Realizada de forma individual, deve-se perceber o que a
criança compreende a partir de estímulos concretos, que não tenham sinais
Processos de linguagem
adicionais (gestos indicativos, mimica, etc.).
b. PRODUÇÃO
Procura-se conhecer a linguagem que a criança produz ou a que ela é capaz de
produzir, se for ajudada a fazê-lo.
Considerando-se a estreita relação entre linguagem e desenvolvimento cognitivo, a
Desenvolvimento
obtenção de dados relativos ao desenvolvimento da inteligência poderão ajudar a
cognitivo
explicar distintos ritmos na aquisição da linguagem.72
Quadro 28 – O que avaliar?
Fonte: ACOSTA et al. (2003, p. 20-22).

Diante do quadro apresentado acima (Quadro 28), pode-se notar que a reflexão
acerca de “o que avaliar” conduz ao “como”, “por que” e “para que” fazer avaliação. Quanto
aos procedimentos e estratégias de avaliação, Acosta et al. (2003) consideram os seguintes
grupos: (a) testes padronizados; (b) escalas de desenvolvimento; (c) observação do
                                                                                                               
72
Para essa assertiva, esses autores se baseiam nos trabalhos de Bloom (1974), Brown (1973), Bowerman
(1974), Cromer (1976) e Reynell et al. (1985).
129

comportamento; e, (d) testes não padronizados. Os testes padronizados buscam apresentar de


maneira mais detalhada possível uma análise global da linguagem nos seus diferentes
aspectos, propiciando um nível quantificado, isto é, “uma idade de linguagem”. As escalas do
desenvolvimento buscam examinar a linguagem da criança sob um ponto de vista maturativo,
oferecendo um perfil que será utilizado para comparação ao longo do período de reeducação.
A técnica de observação do comportamento visa estudar a linguagem em situações naturais
de forma não estruturada, i. e., “o examinador terá de observar e registrar o comportamento
verbal da criança” (ACOSTA et. al., 2003, p. 24). Já os testes não-padronizados, que vem
sendo utilizado cada vez mais pelos profissionais que atuam no campo das alterações da
linguagem (sic ACOSTA et al., 2003), utilizam-se das seguintes estratégias:
1. Coleta, transcrição e análise de uma amostra da linguagem:
a. Coleta da amostra e normas para a interação:
“a produção verbal espontânea é a estratégia ou procedimento de
avaliação que nos oferece uma descrição mais exata do nível real do
desenvolvimento linguístico da criança” (ACOSTA et al., 2003, p 24). As
produções costumam ser registradas em vídeo ou fita cassete. A idade da
criança deve ser considerada, e, além disso, a situação de interação deve
ser a mais atraente possível para a criança.
b. Transcrição e análise da amostra de linguagem:
Tanto as produções (verbais e não-verbais) da criança quanto do
examinador devem ser transcritas ortograficamente ou literalmente, bem
como o contexto em que são produzidas essas interações. “A análise
concreta dependerá das dimensões de linguagem que mais nos interessem
e das exigências do nosso contexto de trabalho” (ACOSTA et al., 2003, p
24).
2. Avaliação da compreensão (algumas das tarefas para avaliar a compreensão
passam pela análise das produções gestuais ou gráficas, diante de estímulos
visuais e/ou verbais):
a. Indicação do desenho pertinente à frase dada (solicita-se à criança para
apontar o desenho ou ação que esteja de acordo com a ordem verbal dado
pelo avaliador);
b. Execução de uma ordem verbal com material figurativo ou simbólico
(avalia a capacidade de a criança demonstrar a compreensão da sintaxe
complexa e da memória de curto prazo).
130

3. Imitação provocada73;
Busca-se obter informações acerca da capacidade de a criança processar
auditivamente as frases na ausência de um contexto e determinar a capacidade de
memória relativa às frases.
4. Produção provocada.
“[...] o uso de tarefas ou formatos a fim de provocar e obter aspectos específicos
da linguagem da criança” (ACOSTA et al., 2003, p. 29). Essa técnica tem sido
utilizada para avaliar, dentre outros aspectos, o uso de frases negativas ou
interrogativas, além de determinadas locuções ou flexões verbais.

Apesar de os autores acima referenciados tratarem especificamente de avaliação da


linguagem na perspectiva da oralidade, alguns dos pressupostos gerais são pertinentes quando
pensamos em avaliação de uma maneira geral. No próximo tópico, reflexionaremos mais
especificamente sobre o processo de avaliação fonológica no tocante à língua de sinais.

4.2 O INVENTÁRIO PARA ANÁLISE FONOLÓGICA DA LIBRAS (FONOLIBRAS)

Do ponto de vista clínico, a avaliação fonológica é de extrema relevância, uma vez


que, a partir dela, o profissional poderá:
• Conhecer os fonemas ou unidades mínimas distintivas que já foram
adquiridos e os que estão em processo de aquisição, a fim de definir o
seu status quanto à estabilidade ou instabilidade de ocorrência;
• Reconhecer o funcionamento do sistema fonológico do sujeito (realizar
um perfil desse sistema), com vistas ao delineamento de um
planejamento de intervenção terapêutica adequado;
• Verificar se determinado traço distintivo aparece de modo sistemático
ou assistemático no sistema fonológico do sujeito.

                                                                                                               
73
Essa imitação provocada compreende “uma tarefa em que a criança deve pôr em evidência sua atenção sua
atenção aos estímulos auditivos, discriminação auditiva e memória a curto prazo” (ACOSTA, 2003, p. 29). No
caso dos sujeitos surdos, essa imitação terá o objetivo de evidenciar a atenção em relação aos estímulos visuais,
discrimação visual e memória de curto prazo, já que o canal de recepção dos surdos é a visão em detrimento da
perda audtiva.
131

As propostas de análise fonológica para a Língua Brasileira de Sinais têm sido


bastante simplórias, visto que elas tomam como critério de investigação apenas os cinco
parâmetros (CM, PA, M, Or e ENM). Evidentemente, esses parâmetros são de suma
relevância para se avaliar parcialmente a estrutura fonológica dos sinais. Contudo, o seguinte
questionamento permanece: E a estrutura fonológica de cada traço distintivo dos sinais? O
que ela tem a nos revelar acerca da fonologia dos sinais?
Objetivando responder a esse questionamento, buscou-se uma teoria que pudesse dar
conta dessa resposta e, por conseguinte, auxiliar na construção de um inventário para análise
fonológica da Libras. Da teoria, aludimos o Modelo Prosódico, conforme proposto por
Brentari (1998). Esse modelo teórico já foi apresentado no capítulo anterior. É pertinente
destacar que a classificação dos TI e dos TP relevantes para análise fonológica encontram-se
descritos no Anexo A.
Uma vez que o FONOLIBRAS adota o MP como fundamento teórico, a análise
fonológica, então, não encerrará apenas os parâmetros clássicos (CM, M, PA, Or e ENM). A
análise, portanto, busca nos traços subjacentes a esses parâmetros as questões linguísticas do
âmbito fonológico como: identificação dos traços emergentes ou que já foram adquiridos e o
exame dos processos fonológicos.

4.3 COMO FOI CONSTITUÍDO E UTILIZADO O FONOLIBRAS

A seguir será apresentado o caminho metodológico que utilizamos para a confecção


do instrumento denominado FONOLIBRAS.

4.3.1 1º Passo: coleta de dados

O primeiro passo que seguimos, após a elaboração do instrumento, que será


posteriormente apresentado, foi apresentar as imagens do instrumental à criança em
apresentação no computador, sendo que cada figura foi exibida individualmente em modo tela
cheia. A partir daí, a criança foi estimulada a enunciar o sinal de cada figura à medida em que
as mesmas iam sendo apresentadas. Quando a criança não enunciava o sinal, durante o
momento da apresentação da figura, foi facultado ao avaliador proferir o questionamento:
132

“essa figura, o que é?” (em Libras – ISS@ / QUE-É [ENM interrogativa]). A coleta de dados da
linguagem é de suma importância, considerando que:
As amostras de linguagem nos proporciona uma descrição muito clara da
linguagem que a criança utiliza normalmente e nos permite, uma vez
transcrita, realizar a análise pormenorizada de todas as dimensões e
processos da linguagem da criança (ACOSTA et al., 2003, p. 24).

No quadro abaixo, estão dispostas as cinquenta figuras que foram selecionadas para
o instrumental. No quadro, há ainda a indicação da respectiva classe semântica, o vocábulo
em LP e o respectivo vocábulo na escrita da língua de sinais (SW). No que tange aos critérios
de seleção das imagens, é pertinente destacar que: (1) foram considerados tanto os sinais com
formas monomórficas (sinais simples com 1-mão, sinais simples com 2-mãos e sinais
lexicalizados) quanto os sinais com formas polimórficas (nomes derivados e sinais
compostos); (2) as figuras selecionadas contemplam itens lexicais pertinentes ao léxico
infantil; e, (3) foram priorizadas imagens coloridas e sem muitos estímulos. Quanto  à questão
relativa ao balanceamento fonológico, não foi possível realizá-la nesse estudo, tendo-se em
vista que isso demandaria um pouco mais de tempo do que o que fora previsto para a
condução dessa pesquisa. Uma vez que todas essas figuras foram extraídas da internet, por
meio de consulta por imagem no portal www.google.com.br, utilizando-se das palavras-chave
em língua portuguesa e/ou inglesa. Os endereços eletrônicos de cada uma dessas imagens
estão descritos no Apêndice C.
É relevante pontuar que, a fim de que se fosse ratificado os nomes previstos às
respectivas imagens selecionadas, cinco sujeitos surdos adultos usuários fluentes da Libras
foram consultados e corroboraram as pressuposições, para fins de validação do material
udado como estímulo. Além da experiência do pesquisador em atendimento fonoaudiológico
para surdos, os trabalhos de Karnopp (1994, 1999) e Bento (2010) também contribuíram para
a escolha dos itens lexicais desse instrumental, haja vista que os estudos dessas pesquisadoras
versaram sobre a aquisição fonológica da Libras.

Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica

,
1 Frutas ABACAXI

                                                                                                               
74
Tendo em vista que as imagens aqui postas foram extraídas da Rede Mundial de Computadores (Internet),
indicamos os endereços eletrônicos das mesma no Apêndice C. Optamos por essa forma de referência, a fim de
que os respectivos endereços – alguns muito longos – não poluíssem visualmente o quadro elaborado.
133

Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica

2 Cores AMARELA

3 Verbos (ação) ANDAR

Elementos da
4 ÁRVORE
Natureza

5 Brinquedos AVIÃO

,
6 Cores AZUL

7 Frutas BANANA

8 Pessoas BEBÊ

9 Brinquedos BICICLETA

10 Brinquedos BOLA

,
11 Vestimentas BONÉ

12 Brinquedos BONECA
134

Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica

BRINCAR
13 Verbos (ação)
(CARRINHO)

Objetos
14 CADEIRA
familiares

15 Vestimentas CALÇAS

16 Vestimentas CAMISA

17 Brinquedos CARRO

Objetos
18 CASA
familiares

19 Animais CAVALO

Elementos da
20 CHUVA
Natureza

,
21 Verbos (ação) COMER

Objetos
,
22 COMPUTADOR
familiares

23 Verbos (ação) CORRER


135

Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica

24 Pessoas CRIANÇAS

Elementos da
25 FOGO
Natureza

26 Animais GATO

Objetos
27 GELADEIRA
familiares

28 Pessoas HOMEM

Elementos da
29 LAGO (ÁGUA)
Natureza

30 Frutas LARANJA

31 Frutas MAÇÃ

32 Partes do corpo MÃO

33 Pessoas MULHER

Elementos da
34 MUNDO
Natureza
136

Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica

35 Verbos (ação) NADAR

36 Partes do corpo NARIZ

37 Partes do corpo OLHOS

38 Partes do corpo ORELHA

39 Animais PÁSSARO

40 Partes do corpo PÉS

41 Cores ROSA

SANDÁLIA /
42 Vestimentas
CHINELO

43 Vestimentas SAPATO

44 Animais TARTARUGA

Objetos
45 TELEFONE
familiares
137

Classe
Figura74 Vocábulo (LP) Vocábulo (SW)
Semântica

46 Frutas UVA

47 Animais VACA

48 Pessoas VELHO

49 Cores VERDE

50 Cores VERMELHA

Quadro 29 – Ilustrações para coleta de dados do FONOLIBRAS.

Após a coleta de dados, mediante a apresentação das imagens acima para registro em
vídeo (com câmera de boa resolução), os dados foram transcritos, conforme descreveremos no
próximo passo.
É pertinente relevar que os vocábulos transcritos/escritos em SW referem-se aos
sinais utilizados pela comunidade surda de Salvador/BA. Em caso de utilização desse
instrumento em outros contextos (outras comunidades surdas do Brasil), sugere-se que seja
realizada a adaptação do sinal correspondente à figura, e o avaliador, por seu turno, deve fazer
a respectiva alteração do sinal esperado em termos de escrita da língua de sinais.

4.3.2 2º Passo: transcrição dos dados coletados

Para a transcrição dos dados coletados, adotou-se a técnica de “transcrever” os sinais


por meio da escrita da língua de sinais, também conhecida como SignWriting. Para a escrita
de alguns sinais, observamos a escrita no Dicionário de Libras (CAPOVILLA; RAPHAEL,
2001). Considerando que nem todos os sinais desse dicionário encontram-se descritos de
138

maneira adequada, não copiamos todos os sinais, mas apenas aqueles que continham uma
escrita mais próxima à realidade da sinalização.
A escrita em SW pode ser feita manualmente, sendo que o escritor deverá ter um
bom treinamento nessa área antes de tentar utilizar-se desse sistema para transcrições. Além
da escrita manual, pode-se utilizar o software SW Edit. 75 Sobre essa “ferramenta”, é
pertinente destacar que
O sistema desenvolvido SWEdit tem, como principal funcionalidade, a
edição de textos em línguas de sinais, baseado no sistema de escrita
SignWriting. Permite também a inclusão de textos em linguagem oral,
figuras e imagens, drag & drop entre diferentes programas, salvar e carregar
arquivos no formato SWML[76] (SignWriting Markup Language). Apresenta
uma base de dados expansível e inclui dicionários. [...] Além disso, a
interface e as ferramentas são similares a dos editores de texto comumente
utilizados. Isto torna a interface bem mais amigável, pois mesmo tendo sido
projetada para pessoas surdas, um ouvinte pode aprender a utilizá-la apenas
interpretando as funcionalidades similares a outros editores, o que se aplica
também aos surdos (TORCHELSEN; COSTA; DIMURO, 2011, p.3).

O software acima descrito foi desenvolvido para ser utilizado com o sistema
operacional Microsoft Windows. Tendo em vista que o computador utilizado para a escrita
dessa Dissertação, bem como para a transcrição e análise dos dados, foi uma plataforma
operacional diferente – ou seja, Mac OS X, versão 10.6.8 –, utilizamos um miniprograma
denominado “Sign Text Editor”, em formato HTML, para a edição de todos os sinais
escritos/transcritos em SW que se encontram nessa Dissertação. Após a transcrição de cada
sinal, os mesmos foram transpostos para cá por meio do recurso de exportação de imagem em
formato JPEG ou PNG.

4.3.3 3º Passo: análise dos dados a partir das transcrições fonológicas

Após a transcrição dos dados, os dados foram cuidadosamente analisados. Deve-se


atentar para o fato de que pequenas “alterações” em determinado traço podem constituir
processos fonológicos naturais encontrados também no padrão de fala de surdos adultos.
                                                                                                               
75
Esse programa pode ser baixado gratuitamente na seção de downloads da página eletrônica
<http://www.signwriting.org>.
76
A fim de se obter maiores informações a respeito desse formato (SWML), é relevante fazer uma consulta no
sítio dos desenvolvedores em <http://swml.ucpel.tche.br>.
139

Além do objetivo de fazer um levantamento das unidades mínimas distintivas que já fazem
parte do sistema fonológico, o FONOLIBRAS também contempla: (1) a comparação entre o
sinal transcrito e o modelo determinado como esperado; e, (2) o escrutínio dos processos
fonológicos subjacentes aos sinais perscrutados.
Quanto aos critérios de julgamento dos sinais eliciados em termos de acerto/erro, o
FONOLIBRAS considera:

• Cada um dos sinais eliciados de maneira adequada ou com simplificação


fonológica, mas semelhante ao sinal esperado, receberá a pontuação de 2
pontos;
• Cada um dos sinais eliciados de maneira adequada ou com simplificação
fonológica, que seja diferente ao sinal esperado, mas pertencente ao mesmo
campo semântico do sinal esperado, receberá a pontuação de 1 ponto;
• Os sinais que não pertençam ao mesmo campo semântico do sinal esperado,
mas que estejam baseados em alguma figura da imagem apresentada, também
receberão a pontuação de 1 ponto;
• As figuras que forem referenciadas apenas com dêiticos indicativos
(apontação) em relação à própria imagem receberão a pontuação 0. Caso a
apontação seja para um objeto com a mesma característica da imagem, a
pontuação será de 1 ponto;
• As figuras que sejam referenciadas com sinais idiossincráticos (ou seja, CM
completamente atípicas) ou com sinais “caseiros” receberão a pontuação 0;
• As figuras que forem referenciadas como “NÃO-SABER” (o sinal
propriamente dito ou com o movimento da cabeça para direita e para a
esquerda) também receberão a pontuação 0.

Considerando que o FONOLIBRAS possui 50 imagens, a pontuação máxima será,


obviamente, de 100 pontos, caso o sujeito acerte todas as figuras de acordo com o modelo de
sinal esperado. O objetivo de se pontuar essas ilustrações em 2, 1 e 0 é a fim de se verificar a
viabilidade de cada uma delas permanecer ou não no instrumental. Evidentemente que é de
suma relevância a condução de outros estudos com um número maior de sujeitos
investigados, para que se possa ventilar a possibilidade de validação (com revisão, caso seja
necessário) do instrumento avaliativo proposto nessa Dissertação.
140

Após a coleta de dados, deverá ser feito um inventário em termos de CM. Baseando-
se nos sinais indicados como esperados no Quadro 30 em SW, inventariamos as CM de nosso
instrumental:

Grupo 1 Grupo 2

Grupo 3 Grupo 4

Grupo 6
Grupo 5

[Não temos nenhum sinal com as CM desse [Não temos nenhum sinal com as CM desse
grupo do nosso instrumento avaliativo] grupo do nosso instrumento avaliativo]

Grupo 777 Grupo 8


Dedo selecionado [anular] Dedo selecionado [médio]

Grupo 10
Grupo 9
Quadro 30 – Inventário das CM do FONOLIBRAS por agrupamento.78

                                                                                                               
77
Na Libras, há ocorrência de uso de uma das CM desse agrupamento (dedos selecionados [anular] e [médio]).
Os sinais que possuem essa CM são: NOIVO, DROGAS e HOMOSSEXUAL (em algumas regiões do Brasil).
78
Esses grupos foram separados de acordo com a proposta do SW. Vale mencionar ainda que algumas CM que
representam formas alofônicas de alguns sinais também foram selecionadas para esse inventário. Nesse
instrumental, parece não haver as CM do grupo 4, no entanto, as mesmas foram selecionadas, tendo em vista que
elas podem emergir nos sinais eliciados como variantes alofônicas. Por exemplo, o sinal de CASA (vide fig. 1)
pode ser feito com a CM descrita lá naquela imagem ou com uma leve alteração no posicionamento do dedo
polegar ([aberto] ou [fechado]).
141

É importante lembrar que, uma vez que o FONOLIBRAS pode ser adaptado a outras
comunidades de fala, os sinais esperados poderão ser modificados, adequando-se assim ao
contexto sociolinguístico. Caso isso ocorra, o inventário também deve ser revisado, a fim de
adequar-se ao “novo” contexto.

4.4 INTERPRETANDO ALGUNS RESULTADOS

Preliminarmente, serão apresentados, sucintamente, no Quadro 31, os perfis relativos


aos sujeitos que participaram da pesquisa apresentada nessa Dissertação. Logo após, serão
descritos os achados da nossa pesquisa conforme os nossos critérios estabelecidos para
análise. É relevante frisar que todos os sujeitos participantes são SSFPO, com laudo
audiológico de perda auditiva de grau severo a profundo.

Nome79 Idade Sexo Diagnóstico Outras Local de


Terapia
audiológico deficiências residência
Perda auditiva de
André grau severo a
7a,11m. M - Salvador Sim
(S1) profundo na
melhor orelha
Surdez
Wilson
6a,11m. M sensorioneural Paralisia Cerebral Camaçari Sim
(S2)
(PEATE)
Perda auditiva
Pedro
7a,11m. M profunda - Salvador Sim
(S3)
(PEATE)
Perda auditiva
Tiago sensorioneural de
10a,8m. M - Salvador Sim
(S4) grau profundo
bilateral
Quadro 31 – Perfil dos sujeitos.

                                                                                                               
79
A fim de que as identidades das crianças fossem preservadas, os nomes aqui utilizados são hipotéticos.
142

 
Gráfico 1 – Desempenho dos sujeitos no FONOLIBRAS.

No Gráfico 1, encontra-se ilustrado o desempenho dos sujeitos investigados no


FONOLIBRAS, com base nos critérios de pontuação estabelecidos no tópico 4.3. Dos
resultados obtidos, estimou-se a média de pontuação em 77,75, sendo que: S1 obteve 57
pontos (menor pontuação); S2 obteve 84 pontos; S3 obteve 81 pontos e S4 obteve 89 pontos
(maior pontuação). Com base neste resultado, é bem provável que a maioria das figuras sejam
aproveitáveis para estudos posteriores. É relevante destacar ainda que todos sujeitos
participantes obtiveram pontuação acima da média, ou seja, obtiveram uma pontuação acima
de 50% da pontuação total (100 pontos). No entanto, não se pode ainda tecer considerações
mais generalizantes, tendo em vista que o número de participantes desse estudo ainda é muito
ínfimo.
No quadro abaixo, encontra-se disposto o desempenho no que se refere a cada
categoria de pontos. Dos 4 sujeitos, apenas o S4 apresentou todos os sinais de maneira
adequada ou, em alguns momentos, sinais nos quais a ideia pertencia ao campo semântico da
ilustração apresentada. Possivelmente, por ser o mais velho e já se encontrar num estagio mais
avançado de aquisição da Libras como L1, ele não deixou de enunciar nenhumas das imagens
apresentadas.
0 1 2 Total de figuras apresentadas
S1 8 27 15 50
S2 2 12 36 50
S3 2 15 33 50
S4 0 11 39 50
Quadro 32 – Desempenho dos sujeitos com base nos critérios de pontuação.
0 (figuras não eliciadas); 1 (eliciadas do mesmo campo semântico); 2 (eliciadas conforme esperado)
143

Uma vez que a análise qualitativa foi muito mais relevante à nossa pesquisa, abaixo
teceremos algumas considerações com base nas observações realizadas durante o período de
coleta de dados e transcrições dos mesmos. Os achados mais relevantes descreveremos no
tópico relativo aos processos fonológicos da Libras.
A partir daqui, serão expostos os achados concernentes às transcrições fonológicas
dos sujeitos participantes desse estudo.

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
1 ABACAXI 2

2 AMARELA 1

3 ANDAR ∅   0

4 ÁRVORE 1

5 AVIÃO 2

,
6 AZUL 1

7 BANANA       2

8 BEBÊ 1

9 BICICLETA 2
144

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

10 BOLA 2

11 BONÉ
, 2

12 BONECA 1

BRINCAR
13 2
(CARRINHO)

14 CADEIRA 1

,
15 CALÇAS 1

16 CAMISA 2

17 CARRO 2

18 CASA 2

19 CAVALO       1

20 CHUVA 2
145

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
21 COMER 2

,
22 COMPUTADOR 2

23 CORRER ∅ 0

24 CRIANÇAS 1

25 FOGO 1

26 GATO 1

27 GELADEIRA ∅ 0

28 HOMEM 1

29 LAGO (ÁGUA) 1

30 LARANJA 1

31 MAÇÃ 1

32 MÃO 2
146

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

33 MULHER 1

34 MUNDO 0

35 NADAR 1

36 NARIZ 1

37 OLHOS 1

38 ORELHA 1

39 PÁSSARO 1

40 PÉS 1

41 ROSA ∅ 0

SANDÁLIA /
42 1
CHINELO

43 SAPATO 1
147

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

44 TARTARUGA 2

45 TELEFONE 1

46 UVA 1

47 VACA 1

48 VELHO ∅ 0

49 VERDE ∅ 0

50 VERMELHA ∅ 0

Total de Pontos 57
Quadro 33 – Transcrições Fonológicas de André (S1).

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ANDRÉ (S1)

• André possui adactilia do polegar da mão direita. Por essa razão, ele utiliza-se
majoritariamente a ME como M1;
• Observou-se a presença de muitas repetições quando lhe era indagado algo;
• Na figura 6 (referente à cor AZUL), André (S1) aponta para a porta da sala, que era
da cor azul;
• A CM em “V” ou “2” da ME que se iniciou na figura 17 perseverou até a figura 22.
Para fins de economia na transcrição dos sinais, ocultamos essa mão na transcrição de
alguns sinais;
148

• Na transição da figura 22 para a figura 23, ele substituiu a CM em “V” ou “2” pela
configuração em “W” ou “3” mediante a abertura do dedo anelar. Logo após, na figura
23, não houve sinalização;
• Após a eliciação do sinal da figura 25, a criança faz uma brincadeira: com a CM da
ME (dedos selecionados não-flexionados (polegar e indicador), dedos não-
selecionados flexionados (médio, anelar e mindinho), ele pega a gola da camisa do
pesquisador com a MD, puxa-a e, em seguida, joga a configuração relatada da ME
para dentro da camisa. O possível sentido desse ato seria “jogar uma bomba”.
Registramos o fato aqui, mas não o transcrevemos, já que não julgamos necessário
para fins de nossa análise;
• Observou-se que todas as referências dêiticas que essa criança faz para fora da sala
são para elementos que estão na parte externa. Isso também pode indicar um processo
de generalização, que é bastante comum no processo de aquisição da linguagem. Da
sinalização dele, pontuamos os exemplos: PÁSSARO, CAVALO.

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
1 ABACAXI 2

2 AMARELA 1

3 ANDAR 1

4 ÁRVORE 1

5 AVIÃO 2

,
6 AZUL 2

7 BANANA 2
149

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

8 BEBÊ 2

9 BICICLETA 2

10 BOLA 2

11 BONÉ
, 2

12 BONECA 2

BRINCAR
13 2
(CARRINHO)

14 CADEIRA 2

,
15 CALÇAS 2

16 CAMISA 2

17 CARRO 2

18 CASA 2

19 CAVALO 2

20 CHUVA 2
150

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
21 COMER 2

,
22 COMPUTADOR 2

23 CORRER 1

24 CRIANÇAS 1

25 FOGO 2

26 GATO 2

27 GELADEIRA 2
!

28 HOMEM 1

29 LAGO (ÁGUA) 1

30 LARANJA 1

,
31 MAÇÃ 2

32 MÃO 2

33 MULHER 0
151

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

34 MUNDO 2

35 NADAR 2

36 NARIZ 2

37 OLHOS 2

38 ORELHA 2

39 PÁSSARO 1

40 PÉS 1

41 ROSA 2

SANDÁLIA /
42 1
CHINELO

43 SAPATO 1

44 TARTARUGA 2

45 TELEFONE 2

46 UVA 2
152

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

47 VACA 2

48 VELHO 0

49 VERDE 2

50 VERMELHA 2

Total de Pontos 84
Quadro 34 – Transcrições Fonológicas de Wilson (S2)

CONSIDERAÇÕES SOBRE O WILSON (S2)

• É bem provável que as figuras 23, 24 e 29 utilizadas no FONOLIBRAS tenham


influenciado nos sinais que foram eliciados pela criança;
• Provavelmente, os sinais eliciados das figuras 40, 42 e 43 representem o fenômeno
da generalização, já que essa criança (S2) encontra-se em processo de aquisição da
Libras como L1;
• Apesar de esse sujeito possuir outro comprometimento (i.e., paralisia cerebral), esse
fato não fez com que ele demonstrasse quaisquer dificuldades durante a sinalização;
• Ele obteve um bom desempenho durante a aplicação do FONOLIBRAS, tendo em
vista que a maioria das figuras foram sinalizadas adequadamente e mesmo as que não
obtiveram output conforme o esperado pertenciam ao mesmo campo semântico.

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
1 ABACAXI 2
153

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

2 AMARELA 2
 

3 ANDAR 1
 

4 ÁRVORE 2

5 AVIÃO 2

,
6 AZUL 2

7 BANANA 2
 

8 BEBÊ 1

9 BICICLETA 2

10 BOLA 1

11 BONÉ
, 2

12 BONECA 1

BRINCAR
13 2
(CARRINHO)

14 CADEIRA 2
154

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
15 CALÇAS 1

16 CAMISA 2

17 CARRO 2

18 CASA 2

19 CAVALO 1

20 CHUVA 2

,
21 COMER 2

,
22 COMPUTADOR 2

23 CORRER 2

24 CRIANÇAS ∅ 0

25 FOGO 2

26 GATO 2

27 GELADEIRA ∅ 0
155

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

28 HOMEM 1

29 LAGO (ÁGUA) 1

30 LARANJA 2

31 MAÇÃ 2

32 MÃO 2

33 MULHER 2

34 MUNDO 1

35 NADAR 2

36 NARIZ 2

37 OLHOS 2

38 ORELHA 2

39 PÁSSARO 2
156

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

40 PÉS 1

41 ROSA 1

SANDÁLIA /
42 1
CHINELO

43 SAPATO 1

44 TARTARUGA 1

45 TELEFONE 2

46 UVA 2

47 VACA 2

48 VELHO 2

49 VERDE 1

50 VERMELHA 2

Total de Pontos 81
Quadro 35 – Transcrições Fonológicas de Pedro (S3).
157

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PEDRO (S3)

• Apesar do sinal eliciado na figura 3, parecer-se com o sinal de intérprete. O sentido


do mesmo é “escola”, já que o sinal representa uma simplificação fonológica do sinal
ESCOLA (CASA + ESTUDAR). Obviamente, o sinal eliciado apresenta processos
fonológicos, já que a produção diverge do padrão adulto;
• Na figura 30, assim como em outras posteriores, houve uma Expressão Não-Manual
juntamente com o sinal executado, o que pressupõe que a criança estava buscando
confirmação junto ao pesquisador do sinal que enunciara. Depois de uma pergunta de
intervenção, ele sinaliza o sinal correto;
• Ele obteve um bom desempenho durante a aplicação do FONOLIBRAS, tendo em
vista que a maioria das figuras foram sinalizadas adequadamente e mesmo as que não
obtiveram output conforme o esperado pertenciam ao mesmo campo semântico.

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
1 ABACAXI 2
   

2 AMARELA 2
 

3 ANDAR 2

4 ÁRVORE 2

5 AVIÃO 2

,
6 AZUL 2
158

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

7 BANANA 2

8 BEBÊ 2

9 BICICLETA 2

10 BOLA 2

11 BONÉ
, 2

12 BONECA 1

BRINCAR
13 2
(CARRINHO)

14 CADEIRA 2

,
15 CALÇAS 2

16 CAMISA 1

17 CARRO 2

18 CASA 2

19 CAVALO 2
159

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

20 CHUVA 2

,
21 COMER 2

,
22 COMPUTADOR 2

23 CORRER 2

24 CRIANÇAS 1

25 FOGO 2

26 GATO 2

27 GELADEIRA 2

28 HOMEM 1

29 LAGO (ÁGUA) 1

30 LARANJA 2

31 MAÇÃ 2
160

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

32 MÃO 1

33 MULHER 2

34 MUNDO 2

35 NADAR 2

36 NARIZ 2

37 OLHOS 1

38 ORELHA 2

39 PÁSSARO 2

40 PÉS 1

41 ROSA 2

SANDÁLIA /
42 2
CHINELO

43 SAPATO 1

44 TARTARUGA 1
161

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

45 TELEFONE 2

46 UVA 2

47 VACA 2

48 VELHO 2

49 VERDE 2

50 VERMELHA 1

Total de Pontos 89
Quadro 36 – Transcrições Fonológicas de Tiago (S4).

CONSIDERAÇÕES SOBRE O TIAGO (S4)

• Tiago já domina bem a Libras. Em vários momentos, ele formou frases gramaticais
em Libras a partir dos sinais apresentados pelo instrumental. Além disso, em vários
momentos, ele relatou pequenas “histórias” em LS a partir de alguns sinais eliciados;
• Para a figura 24, os sinais dêiticos foram removidos da nossa transcrição;
• Durante todo período de gravação para a coleta de dados, Tiago demonstrou fluência
na LS, apesar de possuir o perfil SSFPO. É bem provável que o período de
escolarização – já estuda há três anos em escola de surdos – tenham favorecido a
aquisição da Libras como L1;
• Ele obteve um bom desempenho durante a aplicação do FONOLIBRAS, tendo em
vista que a maioria das figuras foram sinalizadas adequadamente e mesmo as que não
obtiveram output conforme o esperado pertenciam ao mesmo campo semântico.
162

4.5 RECONHECENDO OS PROCESSOS FONOLÓGICOS DA LIBRAS

4.5.1 Os processos fonológicos e as línguas de sinais

É bem provável que Liddell e Johnson (1989) tenham sido os primeiros autores a
descreverem a operação dos processos fonológicos na língua de sinais. Discorrendo a respeito
desses processos aplicados aos sinais, esses autores preambulam que:
As sequências fonológicas contêm ainda um outro tipo de detalhe previsível,
com base em processos fonológicos, produzindo alternâncias entre as formas
de superfície. Estes processos são tipicamente descritos por um complexo de
regras fonológicas, cada uma das quais podem alterar alguns detalhes da
representação de uma forma ou acrescentar informações fonológicas não-
lexicais a uma cadeia. A ação combinada desses processos, em última
análise, deriva a representação da superfície da sequência (LIDDELL;
JOHNSON, 2005, p. 303, tradução nossa).80

Liddell e Johnson (2005, p. 303, tradução nossa) afirmam ainda que “os processos
fonológicos influenciam apropriadamente a forma fonética das cadeias fonológicas.” Os
processos fonológicos descritos por esses autores foram: epêntese de movimento (movement
epenthesis), apagamento da preensão (hold deletion), metátese (metathesis), geminação
(gemination), assimilação (assimilation), redução (reduction), e perseveração e antecipação
(perseveration and anticipation). Doravante, descrever-se-á cada um desses processos com
base nos pressupostos dos autores em questão.
A epêntese de movimento acontece na fronteira entre dois sinais. Esse tipo de
processo envolve uma operação relativamente simples: há a adição de um movimento no
limiar entre a mão da postura que termina um sinal e a posição articulatória de início do sinal
posterior. Um exemplo de epêntese de movimento acontece na expressão MOTHER MULL-
OVER (Fig. 74).

                                                                                                               
80
Texto de partida: “The phonological strings contain still another sort of predictable detail, traceable to
phonological processes, producing alternations among surface forms. These processes are typically described by
a complex of phonological rules, each of which may alter some detail of the representation of a form or add
nonlexical phonological information to a string. The combined action of these processes ultimately derives the
surface representation of the string.”
163

 
Figura 74 – Processo fonológico de epêntese (LIDDELL; JOHNSON, 1989).
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 304.

O apagamento da preensão ocorre, salvo algumas exceções, quando há a supressão


de segmentos de preensão entre os segmentos de movimento. Um exemplo em que acontece
esse processo é na locução GOOD ## IDEA (boa ideia). O sinal GOOD termina com um
segmento articulado de um modo diferente ao do segmento inicial de IDEA. Então, a Regra da
Epêntese M (M Epenthesis Rule) inserirá um feixe segmental, especificado como M, entre os
dois sinais. O efeito disso é a movimentação da mão da área imediatamente em frente ao tórax
para uma locação de contato ao lado da testa. Simultaneamente, ocorre também as alterações
das especificações articulatórias no que tange à orientação da palma da mão (Fig. 75).

 
Figura 75 – Processo fonológico de elisão (LIDDELL; JOHNSON, 1989).  
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 305.

Na metátese, ocorre uma permuta da sequência inicial de um segmento com a sua


sequência final em certos contextos que parecem ser puramente fonológicos. O sinal DEAF
(surdo) tem sido classicamente referenciado como um sinal que sofre esse tipo de processo.
Nesse sinal, que tem o mesmo significado/sentido na Libras, o dedo indicador move-se do
primeiro ponto de contato na bochecha até contatar o maxilar. Se esse sinal – DEAF – for
precedido por um sinal que se articula numa região facial mais inferior, os dois segmentos
164

iniciais são alternados com os dois segmentos finais. Por exemplo, na expressão “MOTHER
## DEAF” (MÃE ## SURDA), que significa “a mãe é surda”, o sinal “MOTHER” (mãe),
cujo ponto de articulação é no queixo, faz com que o sinal “DEAF” (surdo) seja produzido
alternando-se o ponto de contato inicial e o final, conforme demonstrada na imagem esquerda
da Figura 76.

 
Figura 76 – Processo fonológico de metátese (LIDDELL; JOHNSON, 1989).
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 306-7.

Embora seja um fenômeno raro na ASL, pode ocorrer que o segmento terminal de
um sinal seja idêntico ao segmento inicial do sinal seguinte. Observe a seguinte sentença:

SPAGHETTI3A, MOTHER REPULSED-BY3A (ASL)


“Mother really hates spaghetti” (Língua Inglesa, tradução)81

O segmento final de “MOTHER” (mãe) – a forma do sinal sem o movimento local –


e o segmento inicial de “REPULSED-BY” (odeia) são idênticos. Como resultado, há uma
retenção (preensão) longa única.
Liddell e Johnson (1989) relatam que há diversos exemplos de assimilação na ASL.
Segundo esses autores, a assimilação da CM da mão forte pela mão fraca nos sinais com 2-
mãos é bastante comum. Para a maioria dos sinalizantes, isso parece variável e é
provavelmente controlada pela formalidade e restrições de sinalização rápida. Então, é
corriqueiro que, nos sinais em que as configurações da mão fraca e da mão forte são
diferentes na sinalização formal, a configuração da mão fraca será plenamente assimilada pela
configuração da mão forte na sinalização rápida ou casual.

                                                                                                               
81
Esse exemplo é citado por Liddell e Johnson (1989). A tradução da sentença significa “mamãe realmente
odeia espaguete”.
165

Por exemplo, a CM do sinal “ME” (eu, mim, a mim) tipicamente assimila a


configuração do predicativo contíguo. Observemos o seguinte exemplo:

MOTHER3A STARE-AT1. ME GULP. (ASL)


“Mother was staring at me and I was nervous about what was to come” (Língua
Inglesa, tradução)82

“ME” (eu) assimila a CM de “GULP”. Esse exemplo está ilustrado na Figura 77.

 
Figura 77 – Processo fonológico de assimilação (LIDDELL; JOHNSON, 1989).
Fonte: VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 306-7.

O processo de redução refere-se às regras que reduzem a distância entre as locações


de sinais com dois pontos de articulação na sinalização casual. A sequência M M M H (M –
movimento; H – preensão) do tipo isolado pela regra da metátese (ex. “CONGRESS”
(congresso), “HOME” (lar)) é frequentemente reduzida por tal regra, e parece que muitas
outras sequências segmentais sofrem um processo de redução similar (ex. “GOOD” (bom),
“GIVE” (dar), etc.) (LIDDEL; JOHNSON, 1989).
Quanto aos processos de perseveração e antecipação, Liddel e Johnson (1989)
explicitam esses processos conjuntamente. Tipicamente, as cadeias sinalizadas possuem tanto
sinais de 1-mão quanto de 2-mãos. Quando um sinal de 1-mão é seguido por um sinal de 2-
mãos, embora a mão fraca não seja requerida na sinalização rápida e casual, geralmente ou há

                                                                                                               
82
A tradução dessa sentença significa “mamãe estava me olhando e eu estava nervoso pelo que ia acontecer”.
166

a perseveração dos traços do sinal formador ou há a assimilação dos traços do sinal seguinte,
ou ambas.
Baseando-se no trabalho de Liddel e Johnson (1989), além das influências dos
estudos de Lucas, Bayley e Valli (2001), Valli e Lucas (2000), ao descreverem os aspectos
linguísticos da ASL, pontuam que algumas variações que ocorrem nos parâmetros que
constituem essa língua são devidos aos processos fonológicos. Os processos destacados por
esses autores referem-se a: (1) a epêntese de movimento, (2) a elisão da parada pós-
movimento, (3) a metátese e (4) a assimilação. Os processos descritos por esses autores não
serão expostos aqui, tendo em vista que suas descrições ratificam as mesmas descritas por
Liddell e Johnson (1989).
Alguns críticos poderiam questionar: será que esses processos acima descritos como
fonológicos não seriam do âmbito morfológico? Diríamos que não, tendo em vista os
processos de nível morfológico estariam relacionados à produção de palavras e os processos
acima especificados são sensíveis apenas à base fonológica. Os processos morfológicos
adicionam as informações de ordem morfológica, que são os morfemas ou os “feixes de
traços significativos” (meaningful feature bundles), segundo Liddell e Johnson (1989). Em
relação aos processos morfológicos em LS, teríamos: os processos de inserção de traços nas
raízes e os processos que operam em ramos específicos (os frames, a reduplicação e a
afixação) (LIDDEL; JOHNSON, 1989).
Os processos fonológicos imbricados nos sinais não devem ser apenas analisados
numa perspectiva paramétrica, i.e., a análise não deve se basear tão-somente nos parâmetros
(CM, M, PA, Or e ENM). Considerando que o MP, discorrido no segundo capítulo dessa
Dissertação, possui fundamentos teóricos mais profundos para a análise fonológica dos sinais,
é pertinente o detalhamento dos parâmetros em termos de traços inerentes e prosódicos, a fim
de que a fonologia da língua de sinais seja profundamente examinada.
Enfim, foi de extrema relevância a exposição dos estudos no que tange aos processos
fonológicos em LS, tendo em vista que, se esses processos são universais (i.e., são existentes
em todas as línguas humanas), podemos encontra-los, outrossim, nas LS. Apesar de não
termos classificado os nossos achados de acordo com os estudos relatados nesse tópico,
adotaremos pelo menos a mesma definição dos teóricos/pesquisadores da ASL.
167

4.5.2 Os processos fonológicos na Língua Brasileira de Sinais

Ao realizar um estudo de caso, a partir da observação longitudinal de uma criança


surda, filha de pais surdos (no período de faixa etária compreendido entre um ano e meio até
os dois anos e meio de idade), Bento (2010) descreve os processos de simplificação
fonológica. Dos 96 sinais, que representaram o total de produções analisadas, a criança
produziu 76 sinais de acordo com o padrão adulto e 20 sinais com algum tipo de substituição.
Os processos de simplificação fonológica, assim denominados pela pesquisadora em questão,
foram analisados em termos paramétricos quanto às simplificações ou substituições em CM,
M e PA.
Nessa pesquisa, já que não se segue uma visão paramétrica de análise, os processos
fonológicos encontrados foram categorizados à luz dos pressupostos teóricos do MP. No
entanto, adotamos as contribuições dos conceitos legados por outros modelos teóricos no
âmbito da fonologia da LS. Sempre que se fizer necessário, ilustraremos o sinal a ser
analisado na estrutura arbórea.
Defendemos, nessa Dissertação, que, quando comparados ao padrão de sinalização
dos surdos adultos, os processos fonológicos na LS alteram a representação do sinal na
estrutura arbórea em camada superficial ou profunda. Quando o fenômeno se dá em nível
mais superior, é bem provável que haja a elisão de todos os traços subjacentes à camada em
questão. Caso o fenômeno processual ocorra em camada(s) mais inferior(es), seria inexato
afirmar que houve substituição nos tiers A, POA ou TP.
Diante disso, advogamos uma análise dos processos à luz do MP, considerando-se
que, a partir da observação da estrutura arbórea, pode-se visualizar o sinal do ponto de visto
fonológico. Dessa forma, a visualização dos fenômenos ocorrentes podem dar norte a uma
categorização desses processos.

4.5.2.1 Assimilação

A assimilação implica a incorporação por um segmento das características de um


outro que lhe seja adjacente (Quadro 37). De acordo com Brentari (1998, p. 101), existe uma
assimetria em relação à direção do traço de assimilação entre a M1 e a M2. Em geral, os traços
da M1 se espraiam para a M2 do que o contrário.
168

Sinal do padrão adulto Sinal com processo fonológico de assimilação

CAMISA.
Descrição do sinal: Mão direita horizontal aberta, palma para dentro, com a ponta do indicador e
polegar segurar um pedaço da roupa, do lado direito do peito, e balançar as mãos (CAPOVILLA;
RAPHAEL, 2008, p. 1154, adaptado).83
Quadro 37 – Processo de assimilação dos traços da M1.
Informante: S1.

Com obviedade, o sinal acima transcrito também implica um processo epentético,


tendo em vista que o espraiamento de todos os traços da M1 para a M2 faz com que haja uma
epêntese da M2.
Abaixo, ilustraremos o sinal “CAMISA” na estrutura arbórea, seguindo o modelo de
representação fonológica conforme o MP.

4.5.2.2 Elisão

A elisão pressupõe o apagamento de determinado traço, e, consequentemente, a


supressão de todos os subnós relativos que estejam vinculado ao tier no nó apagado (Quadros
38 e 39). Podemos ver claramente o processo de elisão nos sinais abaixo – “ÁRVORE” e
“CHUVA”.

Sinal do padrão adulto Sinal com processo fonológico de elisão

ÁRVORE.
Descrição do sinal: “Braço direito vertical dobrado, mão vertical aberta, palma para frente; mão
esquerda aberta, palma para baixo, dedos separados e curvados, cotovelo apoiado no dorso da mão
esquerda. Girar a palma direita para trás, duas vezes” (CAPOVILLA; RAPHAEL, 2008, p. 229).
Quadro 38 – Processo de elisão da M2 concomitante ao apagamento do M com trajetória da M1.
Informante: S1.

                                                                                                               
83
A descrição do sinal aqui relatada foi adapatado a partir da entrada lexical – ROUPA – do dicionário editado
pelos autores em questão. É relevante destacar que na descrição dessa entrada o sinal é realizado com as duas
mãos. No entanto, optamos pelo adoção do sinal esperado com 1-mão, porque essa representa a variante
utilizada na comunidade surda de Salvador para o termo “ROUPA” ou “CAMISA” em Libras.
169

Sinal do padrão adulto Sinal com processo fonológico de elisão

CHUVA.
Descrição do sinal: “Mãos horizontais abertas, palmas para baixo, dedos separados e curvados a cada
lado da cabeça. Mover as mãos para baixo e para cima, várias vezes” (CAPOVILLA; RAPHAEL,
2008, p. 407).
Quadro 39 – Processo de elisão da M2.
Informante: S2.

Comparando-se o sinal de “ÁRVORE” anteriormente representado, nota-se que,


além de haver a elisão da M2, houve também o apagamento do traço [TM] que determina a
mudança na orientação da M1. No que tange ao sinal que representa o termo “CHUVA”,
percebe-se claramente a elisão da M2.
Abaixo (Quadro 40), ilustraremos o sinal “ÁRVORE” na estrutura arbórea:

Sinal do padrão adulto


170

Sinal com processo fonológico de elisão

Quadro 40 – Representação do sinal ‘ÁRVORE’ com e sem processo de elisão.

A partir da representação do sinal ‘ÁRVORE’ no Quadro 40, pode-se perceber a


elisão da M2 no nó Articulador. Além disso, ocorre, consequentemente, a elisão do traço
relativo à marcação da locação no espaço neutro, apesar de o traço relativo ao plano desse
espaço perseverar.

4.5.2.3 Epêntese

Ao contrário do que ocorre na elisão, a epêntese refere-se à erupção de um ou mais


traços em determinada cadeia fonológica. Muitas vezes, esse processo em LS pode ocorrer em
concomitância com outros, da mesma forma como ocorre em algumas línguas orais.
171

Sinal do padrão adulto Sinal com processo fonológico de epêntese

VACA.
Descrição do sinal: “Mão direita em Y, palma para baixo, ponta do polegar tocando o lado direito da
testa. Virar a palma para frente.” (CAPOVILLA; RAPHAEL, 2008, p. 1297).
Quadro 41 – Processo de epêntese da M2 por assimilação dos traços da M1.
Informante: S2.

Sinal do padrão adulto

Sinal com processo fonológico de epêntese

Quadro 42 – Representação do sinal ‘VACA’ com e sem processo de epêntese.


172

A partir da representação do sinal ‘VACA’ na estrutura arbórea acima (Quadros 41 e


42), pode-se perceber o processo do movimento epentético, o qual favorece o espraiamento
dos traços da M1 para a M2. Há a epêntese da M2 e, concomitantemente, todos os traços
relativos aos dedos selecionados e não-selecionados da M1 são assimilados pela M2.

4.5.2.4 Metátese

No caso da metátese, as partes dos segmentos de um sinal podem sofrer permutação


quanto aos pontos de articulação. No exemplo que será ilustrado a seguir (Quadro 43),
percebemos que há uma alteração no local de articulação do sinal. É bem provável que o
processo de metátese para o caso do sinal exemplificado (‘VERMELHO’) ocorra tipicamente
na sinalização de Surdos adultos fluentes em LS.
O MP define a metátese em termos de aplicação “a um subconjunto de formas
contendo dois pontos de contato dentro do mesmo plano de articulação (p. ex. um dos cortes
verticais indicados pelas oito especificações da cabeça, do corpo, da mão, ou da M2)”
(BRENTARI, 1998, p. 152, tradução nossa).

Sinal do padrão adulto Sinal com processo fonológico de metátese

VERMELHO.
Descrição do sinal: “Mão direita em 1, com a ponta do indicador tocando abaixo do lábio inferior.
Movê-la, ligeiramente, para baixo, curvando o dedo indicador, duas vezes” (CAPOVILLA;
RAPHAEL, 2008, p. 1312).
Quadro 43 – Processo de metátese.
Informante: S2.

4.6 NOTAS FINAIS

Nesse capítulo, não foi necessária a apresentação de muitas análises quantitativas,


tendo em vista que o número de participantes desse estudo foi muito ínfimo. Além disso, o
173

nosso propósito maior com a elaboração do FONOLIBRAS foi justamente perquirir os


processos fonológicos da Língua Brasileira de Sinais. Acreditamos que, se não tivermos
conseguido elucidar claramente esse tema, pelo menos, conseguimos “acender a luz” para que
outros pesquisadores se interessem por essa temática.
Para fins de análise, escolhemos os exemplos nos quais os processos fonológicos se
mostraram mais evidentes de acordo com os conceitos adotados. Possivelmente, outros
processos estejam imbricados em algumas das transcrições que não foram selecionadas para
exemplificação.
Enfim, é pertinente lembrar que todos os processos aqui classificados e escritos por
meio da SW foram retirados das transcrições dos sujeitos pesquisados, as quais já foram
previamente apresentadas em seção anterior.
 
174

5 À GUISA DA CONCLUSÃO: AS CONSIDERAÇÕES TRANSITÓRIAS

Diante de tudo o que foi afirmado no texto dessa Dissertação, pode-se constatar que
há relevância nas pesquisas da língua de sinais, especificamente no que se refere ao exame
fonológico. As investigações linguísticas são de ext rema relevância e devem ser fomentadas
no que se refere às diferentes línguas de sinais considerando que
[...] todos os anseios por pesquisas futuras se baseiam na premissa de que as
crianças surdas continuam a ser expostas às línguas de sinais e continuam a
adquirir tais línguas. Esse é o componente mais importante do futuro da
pesquisa em aquisição de línguas de sinais (LILLO-MARTIN, 2008, p. 207).

Não queremos, portanto, “concluir”. Talvez, esse não seja o verbo irreprochável para
se finalizar uma pesquisa científica. Não obstante aos vários sentidos que o termo conclusão
carrega, poderíamos enumerar e meditar que: (1) se a conclusão portar o sentido de “término”
ou “ajusto definitivo”, ela não nos será cabível; (2) se a conclusão pressupor o caminho das
“inferências” ou “deduções finais”, aí sim ela nos será de grande valia.
Nessa Dissertação, buscou-se apresentar novas perspectivas teóricas no que tange à
análise fonológica da língua de sinais com vista à confecção de um instrumento avaliativo que
pudesse dar conta da visualização do sinal numa estrutura arbórea, e, além disso, demonstrar
os processos fonológicos que podem ser encontrados na Libras. Evidentemente, a proposta
descrita aqui apresentou algumas limitações metodológicas sobretudo no que diz respeito ao
balanceamento fonológico e ao número de sujeitos participantes da amostra para o estudo. Por
esse motivo, “não queremos concluir”, mas queremos que o que aqui fora exposto sirva de
norte para o desdobramento de futuras pesquisas no tocante à elaboração de instrumental para
avaliação fonológica da Libras e à pesquisa dos processos fonológicos.
Num primeiro momento, buscou-se uma definição de fonologia mais genérica que se
adequasse tanto à investigação fonológica das línguas orais quanto a das línguas de sinais.
Nesse aspecto, obsecramos o seguinte conceito: “a fonologia deve ser conceituada em termos
de ciência da linguagem humana que se ocupa do estudo das unidades mínimas que
estão no primeiro nível de análise linguística” (vide cap. 1, pág. 33). É notório que essas
unidades mínimas existem tanto nas línguas orais quanto nas línguas de sinais. Os estudiosos
das línguas de sinais, sobretudo os da Língua Americana de Sinais, têm adotado o conceito de
fonema também para as línguas sinalizadas. Nessa Dissertação, optamos pelo uso do termo
“unidade mínima distintiva”, já que o conceito de fonema, em nosso meio, ainda continua
vinculado à questão do som, e não tenderemos a ser subversivos por ora. Outro conceito que
175

preferimos não adotar, por enquanto, diz respeito à noção de sílaba, apesar de o fundamento
teórico que adotamos em nossa pesquisa – o Modelo Prosódico – conceituar e apresentar os
tipos de sílaba para a ASL, conforme pontuamos sucintamente no segundo capítulo.
Expomos também os principais modelos fonológicos que tem sido desenvolvido para
a investigação das línguas de sinais. Esses modelos são de suma importância para a
construção de um teoria fonológica das línguas de sinais. Contudo, algumas lacunas
perseveram no campo das pesquisas fonológicas em línguas de sinais. Percebeu-se que cada
modelo fonológico utiliza-se de uma ou outra forma de “anotar” os sinais para análise. Isso
pode-se constituir uma barreira no sentido de que os fonólogos das línguas de sinais não estão
“falando” a mesma linguagem. Dessa forma, a construção dos fundamentos teóricos para uma
fonologia dos sinais torna-se mais intricada.
Diante do exposto, seria interessante se fonólogos das línguas de sinais se reunissem
num tipo de encontro internacional, a fim de convencionar alguns preceitos das pesquisas
nessa área. Esses preceitos poderiam incluir: (i) catalogação de todas as possibilidades
articulatórias para o parâmetro CM, a fim de se criar um “Alfabeto “Fonético” Internacional”
das línguas de sinais, que poderia se chamar SLIPA – Sign Language International Phonetic
Alphabet; e, (ii) padronização de um sistema de transcrição dos sinais com base no SLIPA
(hipótese nossa, mas poderá ser outra nomenclatura) ou no SW. Dessa forma, a barreira
comunicativa entre os diferentes fonólogos das diversas línguas de sinais seria erradicada
diante de um padrão de linguagem universal, ou seja, todos estariam falando a mesma
“língua” do ponto de vista fonológico.
Tudo indica que a principal contribuição da nossa pesquisa para a área da LS foi a
apresentação dos processos fonológicos encontrados. Possivelmente, outras análises poderão
ou ratificar as nossas deduções ou emoldurar os processos aqui descritos em outros sistemas
de classificação. Os sinais transcritos e descritos que representaram formas aparentemente
claudicantes 84 poderão servir de base para futuras investigações no que se refere aos
processos fonológicos ou processos de simplificação fonológica em língua de sinais.
Ademais, esses processos poderão ser observados na fala infantil de crianças surdas na fase de
aquisição da Libras como primeira língua, com ou sem atraso, o que gera uma boa fonte de
pesquisa para os estudiosos interessados nessa área do conhecimento.
                                                                                                               
84
Vale lembrar que as pronúncias infantis não devem ser vistas meramente como “erradas” em relação ao
padrão de fala dos adultos (TEIXEIRA, 1998). As produções aparentemente “erradas”, que podem se apresentar
através de processos de substituição, distorção, elisão, epêntense, dentre outros, podem indicar um processo
natural de aquisição da linguagem ou uma reprodução dos processos que podem persistir também no padrão
linguístico dos adultos.
176

Um dos nossos grande desafios, que não conseguimos desbaratar por ora, refere-se à
divisão dos processos fonológicos achados em normais ou desviantes. 85 Certamente, a
reavaliação do instrumental apresentado e, consequentemente, a busca pela validação do
mesmo, a partir de um estudo normativo, poderão indicar o caminho possível para a distinção
entre os processos desviantes e os normais. Certamente, a validação do mesmo deverá
contemplar o público dos sujeitos surdos adultos que sejam usuários fluentes da Libras, haja
vista que essa população poderá fornecer dados relevantes quanto aos processos fonológicos
prevalentes no padrão adulto.
Conforme já tínhamos pontuado anteriormente, é relevante frisar que a análise
fonológica da Libras deve adotar modelos teóricos que não se encerram numa perspectiva
paramétrica. Afinal, o campo da fonologia das línguas de sinais ainda tem muito a nos revelar
e perfilhar-se a um modo de análise puramente paramétrica poderia cauterizar fenômenos
linguísticos de extrema relevância.
 

                                                                                                               
85
Utilizamos aqui o termo “normal” se referindo ao comportamento adotado pela maioria dos indivíduos em um
determinado grupo etário selecionado. Já o conceito de “desviante” está relacionado aos processos que, apesar de
serem naturais no período da aquisição da linguagem, são patológicos se perseverarem após esse período.
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191

Apêndice A – Carta de Anuência

CARTA DE ANUÊNCIA

Declaro, para os devidos fins, que autorizo a realização da pesquisa intitulada "Proposta de
Instrumento para a Avaliação Fonológica da Língua Brasileira de Sinais: FONOLIBRAS",
desenvolvida pelo pesquisador e mestrando Roberto César Reis da Costa (CRFa. 10.348-BA).
Os sujeitos que participarão da pesquisa são alunos devidamente matriculados nesta
Instituição e se encontram sob acompanhamento fonoaudiológico do referido pesquisador.
Declaro ainda que a autorização para participação na pesquisa, quando se tratar de sujeito
menor de idade, deverá ser fornecida pelo seu representante legal.

Salvador, ___ de __________ de _____.


192

Apêndice B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido


ID ...........................

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA


Instituto de Letras
Programa de Pós-graduação em Língua e Cultura

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

O(A) seu(sua) filho(a) está sendo convidado(a) a participar da pesquisa: “Proposta de


Instrumento para a Avaliação Fonológica da Língua Brasileira de Sinais: FONOLIBRAS”,
desenvolvida pelo fonoaudiólogo Roberto César Reis da Costa, estudante do Curso de
Mestrado em Letras pela Universidade Federal da Bahia, sob a orientação da Profa. PhD.
Elizabeth Reis Teixeira.
O objetivo principal desta pesquisa será delinear um instrumento de avaliação
fonológica que contemple as especificidades da Língua Brasileira de Sinais. Durante a
pesquisa, o(a) seu(sua) filho(a) será filmado e o registro em vídeo será utilizado para fins
estritamente acadêmicos. Você é livre para recusar-se a participar, retirar seu consentimento
ou interromper a participação a qualquer momento, bem como solicitar esclarecimentos sobre
a pesquisa em qualquer aspecto que desejar. A participação de seu(sua) filho(a) é voluntária e,
em caso de recusa, não incorrerá em qualquer penalidade. A identidade dele(dela) será
preservado(a) com padrões profissionais de sigilo. Ele(ela) não será identificado(a) em
nenhuma publicação que possa resultar deste estudo. A participação não acarretará custos
para você e não será disponível nenhuma compensação financeira adicional em virtude da
aceitação na participação deste estudo.
Eu, _______________________________________ fui informado(a) dos objetivos
da pesquisa acima de maneira clara e detalhada e esclareci minhas dúvidas. Sei que em
qualquer momento poderei solicitar novas informações. Em caso de dúvidas, poderei contatar
o mestrando Roberto César Reis da Costa (e-mail: roberto.fono@gmail.com ou tel.:
(71)9934-8785) ou a professora orientadora Elizabeth Reis Teixeira (e-mail: ou tel.: (71)9957-
5351). Declaro que concordo em participar desse estudo.

Salvador, _____ de ____________ de 201__.

Assinatura do responsável legal Assinatura do pesquisador


RG: __________________ RG 07.358.828-86 SSP/BA
Tel.: __________________ CRFa. 10.348-BA
Nome do(a) filho(a):______________________

Testemunha Testemunha
193

Apêndice C – Anamnese e Perfil do Desenvolvimento Linguístico

I. ANAMNESE

a. Dados individuais e sociofamiliares

Nome:
Data Nasc.: Idade Atual (a/m):
Endereço:
Bairro: CEP: Telefone:
!Celular: Trabalho:
Nome do Pai: Profissão:
Escolaridade: Idade:
Nome da Mãe: Profissão:
Escolaridade: Idade:
Nº de irmãos ou quantidade de irmãos que moram na mesma casa: __________

b. Dados clínicos pré-natal e perinatal

Gravidez /parto
( ) Espontâneo (normal) ( ) Cesário
Tempo de parto _____ m
Houve intercorrência(s)? Qual(is)?

Condições do Recém-nascido
Anóxia ( ) Sim ( ) Não
Fototerapia ( ) Sim ( ) Não
Peso _____ Kg Estatura _____ cm
Observações:

c. Desenvolvimento na primeira infância

Escolarização: Estuda? ( ) Sim ( ) Não Série: _____


Alimentação / Dieta Alimentar:
Atividades de Vida Diária (independência):
Brincadeira:
Aspectos Afetivos:

d. Desenvolvimento da Motricidade Oral/Global

Primeiras palavras (arrulhos e balbucio, início)

Quando começou a engatinhar/andar? (idade, meses)


194

II. DESENVOLVIMENTO LINGUÍSTICO


(alguns dados deverão ser observados durante a entrevista, ).

2.1 Comportamentos interativos intencionais Sim Não


Dirige comportamentos aos outros verbais e/ou não-verbais
Insiste na comunicação mesmo que os outros não reajam de
imediato
Espera uma resposta do outro

2.2 Recursos expressivos utilizados na comunicação Sim Não


Gestuais não-simbólicos
Gestuais simbólicos
Gestuais (linguagem viso-gestual)
Vocais simbólicos
Verbais (linguagem oral)

2.3 Funções dos comportamentos comunicativos Sim Não


Função regulatória (solicita objetos, ações, protesta)
Função de atrair ou manter a atenção para si mesma
Função de garantir a atenção conjunta

2.4 Atribuição de significados Sim Não


Convencionais
Simbólicos

2.5 Nível de desenvolvimento do simbolismo Sim Não


Uso convencional dos objetos
Esquemas simbólicos
Uso de bonecos no brinquedo simbólico
Ações simbólicas em sequência
Uso de objetos substitutos
195

Apêndice D – Endereço eletrônico das imagens utilizadas no FONOLIBRAS

Data da
Figura Endereço da imagem
pesquisa
1 Abacaxi http://www.clipartheaven.com/clipart/food_&_drink/fruits/pineapple 27 fev. 2011
_4.gif
2 Amarelo http://www.clker.com/cliparts/c/5/5/1/1242802836389564397Quebec 27 fev. 2011
.svg.med.png
3 Andar http://www.freeclipartnow.com/d/11421-1/walk-to-school.jpg 27 fev. 2011
4 Árvore http://www.clipart-fr.com/en/data/clipart/trees/tree_057.jpg 04 fev. 2011
5 Avião http://img368.imageshack.us/img368/1075/aircraftboeing747fen1.pn 23 fev. 2011
g
6 Azul http://www.clker.com/cliparts/c/c/f/b/1242810914295343767Unicod 27 fev. 2011
e-267F-on-blue.svg.med.png
7 Banana http://www.foodclipart.com/food_clipart_images/delicious_peeled_b 27 fev. 2011
anana_ripe_and_tasty_0515-0906-0721-3528_SMU.jpg
8 Bebê http://www.arthursclipart.org/children/babiescol/baby.gif 23 fev. 2011
9 Bicicleta http://4photos.net/photosv2/bikes_clipart_1277893775.jpg 23 fev. 2011
10 Bola http://www.anuncommonfamily.com/wp- 04 fev. 2011
content/uploads/2011/08/soccer-ball.jpg
11 Boné http://www.leehansen.com/clipart/Themes/Sports/images/baseball- 27 fev. 2011
cap-green.gif
12 Boneca http://www.clipartmojo.com/plugins/Clipart/ClipartStock1/Girl%20P 30 jul. 2011
laying%20with%20Doll%201.png
13 Brincar http://www.clker.com/cliparts/1/5/e/1/11954221391976235078johnn 27 fev. 2011
y_automatic_boy_playing_with_toy_truck.svg.med.png
14 Cadeira http://allcoloringpictures.com/download/chair1.jpg 04 fev. 2011
15 Calças http://www.freeclipartnow.com/d/17140-1/trousers.jpg 27 fev. 2011
16 Camisa http://www.clker.com/cliparts/t/i/F/O/L/U/purple-shirt-hi.png 27 fev. 2011
17 Carro http://4.bp.blogspot.com/- 18 fev. 2011
4_GkF6DuSHg/Tk1N5wOhSEI/AAAAAAAAABY/Diq5gZh6xsU/s
1600/car_clipart.jpg
18 Casa http://www.123desenhosparacolorir.com/images/house-coloring- 04 fev. 2011
pages-2/house-coloring-pages-2.jpg
19 Cavalo http://www.arthursclipart.org/horses/horses/saddlebreed.gif 18 fev. 2011
20 Chuva http://images.all-free- 27 fev. 2011
download.com/images/graphiclarge/rain_cloud_clip_art_17461.jpg
21 Comer http://www.clker.com/cliparts/3/4/6/2/1263376421879605336Girl%2 27 fev. 2011
0Eat.svg.med.png
22 Computador http://www.business- 04 fev. 2011
clipart.com/business_clipart_images/pc_computer_with_keyboard_m
onitor_and_tower_0515-0909-2116-0515_SMU.jpg
23 Correr http://www.valdosta.edu/~alharbach/sports_run.gif 10 fev. 2011
24 Crianças http://www.zezu.org/wp-content/uploads/2011/07/cartoon-children- 23 fev. 2011
clip-art-vector.jpg
25 Fogo http://www.clker.com/cliparts/0/6/4/c/11954346011753238394valess 27 fev. 2011
iobrito_Fire_June_holiday_s.svg.med.png
26 Gato http://www.cliparttop100.com/clipart/cache/Animals/Cats/cat-clip- 18 fev. 2011
art-009_595.jpg
27 Geladeira http://www.clker.com/cliparts/6/0/9/4/11954241651773699017ryanle 27 fev. 2011
rch_fridge_outline.svg.med.png
28 Homem http://www.aperfectworld.org/clipart/communications/man_dialing.p 23 fev. 2011
ng
29 Lago http://www.clipartheaven.com/clipart/landscapes/mountains_&_lake. 27 fev. 2011
gif
30 Laranja (fruta) http://www.clker.com/cliparts/8/4/f/2/11949861441514894570orange 23 fev. 2011
_dave_pena_01.svg.hi.png
31 Maçã http://www.clker.com/cliparts/3/7/5/6/11949861182029597463an_ap 27 fev. 2011
ple_01.svg.med.png
196

Data da
Figura Endereço da imagem
pesquisa
32 Mão http://cliparts101.com/files/877/E1FF25147853DFB8FC33DD846A5 23 fev. 2011
CFAE1/lrg_hand.png
33 Mulher http://images.paraorkut.com/img/clipart/images/b/blue_bird-65.gif 23 fev. 2011
34 Mundo http://www.clker.com/cliparts/b/f/0/3/1195421721682602329johnny 27 fev. 2011
_automatic_earth.svg.med.png
35 Nadar http://clipartspot.net/clipart-pics/swimming-clip-art-6.jpg 27 fev. 2011
36 Nariz http://www.do2learn.com/picturecards/images/imageschedule/nose_l. 30 ago. 2011
gif
37 Olhos http://www.tattoodonkey.com/pics/e/y/eyes-clip-art-vector-online- 18 fev. 2011
royalty-free-amp-public-domain-.-o-tattoodonkey.com.jpg
38 Orelha http://www.qacps.k12.md.us/ces/clipart/Carson%20Dellosa%20Clipa 27 fev. 2011
rt/Carson%20Dellosa%20Letters%20and%20Numbers/Images/Color
%20Images/Clip%20Art/EAR.jpg
39 Pássaro http://images.paraorkut.com/img/clipart/images/b/blue_bird-65.gif 23 fev. 2011
40 Pés http://cliparts101.com/files/323/B4B033011CD99FFAF7F57C624F3 30 ago. 2011
98A5A/lrg_Feet_8.png
41 Rosa (cor) http://www.ribbustingjokes.com/lilsusieq/scrapbook/shapes/squares2/ 27 fev. 2011
square_solid_pink3.png
42 Sandália http://www.openclipart.org/people/netalloy/flipflops.svg 27 fev. 2011
43 Sapatos http://cdn.dailyclipart.net/wp- 27 fev. 2011
content/uploads/medium/clipart0214.jpg
44 Tartaruga http://images.all-free- 23 fev. 2011
download.com/images/graphiclarge/green_sea_turtle_clip_art_6514.j
pg
45 Telefone http://www.clker.com/cliparts/f/0/1/b/1194986423899936796telefon 23 fev. 2011
o_email_frolland_01.svg.med.png
46 Uva http://www.cksinfo.com/clipart/food/fruits/grapes/grapes.png 27 fev. 2011
47 Vaca http://www.cartoonclipartworld.com/cartoonfarmanimals/images/022 23 fev. 2011
03_600.gif
48 Velho http://www.aperfectworld.org/clipart/cartoons/old_man.png 23 fev. 2011
49 Verde http://www.ribbustingjokes.com/lilsusieq/scrapbook/shapes/squares2/ 27 fev. 2011
square_solid_green4.png
50 Vermelho http://www.ribbustingjokes.com/lilsusieq/scrapbook/shapes/squares2/ 27 fev. 2011
square_solid_red5.png
197

Apêndice E – Quadro para Anotação/Transcrição de Dados (FONOLIBRAS)

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

,
1 ABACAXI

2 AMARELA

3 ANDAR

4 ÁRVORE

5 AVIÃO

,
6 AZUL

7 BANANA

8 BEBÊ

9 BICICLETA

10 BOLA

11 BONÉ
,
12 BONECA

BRINCAR
13
(CARRINHO)
198

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação


14 CADEIRA

,
15 CALÇAS

16 CAMISA

17 CARRO

18 CASA

19 CAVALO

20 CHUVA

,
21 COMER

,
22 COMPUTADOR

23 CORRER

24 CRIANÇAS

25 FOGO

26 GATO

27 GELADEIRA
199

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação

28 HOMEM

29 LAGO (ÁGUA)

30 LARANJA

31 MAÇÃ

32 MÃO

33 MULHER

34 MUNDO

35 NADAR

36 NARIZ

37 OLHOS

38 ORELHA

39 PÁSSARO

40 PÉS

41 ROSA
200

Vocábulo (LP) Vocábulo (SW) Sinal Eliciado Pontuação


SANDÁLIA /
42
CHINELO

43 SAPATO

44 TARTARUGA

45 TELEFONE

46 UVA

47 VACA

48 VELHO

49 VERDE

50 VERMELHA

Observações gerais:
201

Apêndice F – Glossário ilustrado dos sinais da Língua Brasileira de Sinais  

GLOSA ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)

ABACAXI 132

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 132).

AGORA/HOJE 55

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 165).

AJUDAR (1) (1)


54
AJUDAR-ME (2)

(2)
(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 170-71).

AMAR 25

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 184)

AMARELO(A) 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 185)

ANDAR (A PÉ) 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 193-4)

133, 168-
ÁRVORE
170

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 229)


202

GLOSA ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)

ASSOBIAR 54

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 235-6)

AVIÃO 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 251)

AZUL 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 254)

BANANA 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 267-8)

BEBÊ 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 283)

BICICLETA 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 291-2)

BOLA 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 302)

BONÉ 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 310)


203

GLOSA ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)

BONECA(O) 133

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 310)

BUFAR 54

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 324)

 CAFÉ 25

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 335-6)

CAMISA 168

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 346)

20, 40, 134,


CASA
157

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 371)

CAVALO 106

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 279)

CHUVA 168, 169

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 407)

COPO 25

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 465)


204

GLOSA ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)

DIA 25

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 540)

DIZER 25

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 556)

FUTURO 55

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 697)

GASTAR-
51
CONSTANTEMENTE

(QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 124)

GATO 106, 135

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 704)

INTELIGENTE 26

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 762)

IR 26, 40

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 768)

LARANJA/SÁBADO 40, 135

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 799/1157)


205

GLOSA ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)

LEITE 26

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 806)

MAGRO(A) 55

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 856)

MASTIGAR 54

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 875)

MOTEL 54

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 923)

OBEDIENTE,
26
OBEDECER

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 967)

PASSADO 55

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1015)

PÁSSARO 106, 136

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1016)

PRESENTE 55

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 165)


206

GLOSA ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)

PROFESSOR(A) 26

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1084)

ROUBAR 54

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1154)

SEXO (ato sexual) 54

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1194)

137, 171,
VACA
172

(CAPOVILLA; RAPHAEL, 2001, p. 1297)


207

Apêndice G – Glossário ilustrado dos sinais da Língua Americana de Sinais

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

AIRPLANE
62
(AVIÃO)

(BUTTERWORTH; FLODIN, 1995, p. 39)

ANALYZE
90
(ANALISAR)

(PADDEN; PERLMUTTER, 1987, p. 352)

BAT
81
(BATER)

(BUTTERWORTH; FLODIN, 1995, p. 62)

BETTER
113
(MELHOR)

(BUTTERWORTH; FLODIN, 1995, p. 70)

BLACK
115
(PRETO)

(BUTTERWORTH; FLODIN, 1995, p. 73)


208

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

BODY
75
(CORPO)

(FANT; FANT, 2008, p. 132)

BREAD
77
(PÃO)

(FANT; FANT, 2008, p. 213)

BROKE
109
(QUEBRADO)

(FANT; FANT, 2008, p. 328)

CHERISH
109
(ESTIMAR)

(FANT; FANT, 2008, p. 289)

CHINA
62
(CHINA)

(FANT; FANT, 2008, p. 242)


209

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

CLOSE-WINDOW (1)
(FECHAR-JANELA)
80
WINDOW (2)
(JANELA)
(FLODIN, 2004, p. 40)

COLOR
112
(COR)

(FANT; FANT, 2008, p. 219)

CONGRESS
94, 165
(CONGRESSO)

(FANT; FANT, 2008, p. 274)

COMPLAIN
109
(QUEIXAR-SE)

(FANT; FANT, 2008, p. 120)

DANCE
65
(DANÇAR)

(FANT; FANT, 2008, p. 238)


210

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

DAY
112, 115
(DIA)

(FANT; FANT, 2008, p. 7)

DEAF
94, 163, 164
(SURDO)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 181)

DIE
112
(MORRER)

(FANT; FANT, 2008, p. 118)

DOCTOR
109
(MÉDICO)

(FANT; FANT, 2008, p. 127)

DRIVE (TO)
81, 82
(CONDUZIR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 172)


211

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

EASY
109
(FÁCIL)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 198)

FEEL
106
(SENTIR)

(FANT; FANT, 2008, p. 59)

FIRST
75
(PRIMEIRO)

(FANT; FANT, 2008, p. 106)

FLOWER
94, 109
(FLOR)

(FANT; FANT, 2008, p. 41)

FRUSTRATED
109
(FRUSTRADO)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 63)


212

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

FULL
109
(CHEIO)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 220)

GERMANY
65
(ALEMANHÃ)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 465)

GO
77
(IR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 74)

GOOD
162, 165
(BOM, BOA)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 43)

HAPPEN
90
(ACONTECER)

(PADDEN; PERLMUTTER, 1987, p. 350)


213

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

HAT
109
(CHAPÉU)

(FLODIN, M, 2004, p. 46)

HELP
75, 82
(AJUDAR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 157)

HOME
77, 165
(CASA, LAR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 352)

IDEA
163
(IDEIA)

(VALLI; LUVAS; MULROONEY, 2005, p. 305)

INTERPRET
62
(INTERPRETAR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 190)


214

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

JAIL
108
(PRISÃO, CADEIA)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 278)

LEARN
109
(APRENDER)

(FANT; FANT, 2008, p. 238)

LIGHT-YELLOW
62
(AMARELO CLARO)

(VALLI; LUCAS; MULROONEY, 2005, p. 37)

LIKE
81
(GOSTAR)

(FANT; FANT, 2008, p. 238)

LOOK
112
(OLHAR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 159)


215

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

LOVE-SOMETHING
109
(ADORAR ALGO)

(FANT; FANT, 2008, p. 350)

MAYBE
62
(TALVEZ)

(FANT; FANT, 2008, p. 146)

MONTH
76
(MÊS)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 267)

MORNING
115
(MANHÃ)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 74)

MOTHER 113, 162, 164,


(MÃE) 165

(FLODIN, M, 2004, p. 24)


216

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

MY
109
(MEU, MINHA)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 74)

NAME
116
(NOME)

(FANT; FANT, 2008, p. 108)

NO
77
(NÃO)

(FANT; FANT, 2008, p. 327)

OLD
109, 113
(VELHO(A))

(FANT; FANT, 2008, p. 57)

ONION
109
(CEBOLA)

(FANT; FANT, 2008, p. 211)


217

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

OPEN
91
(ABRIR)

(PADDEN; PERLMUTTER, 1987, p. 354)

POOR
109, 113
(POBRE)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 218)

QUIET
92
(TRANQUILO)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 220)

RAINBOW
115
(ARCO-IRIS)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 123)

READ
81
(LER)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 261)


218

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

RESTAURANT
62
(RESTAURANTE)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 364)

RUSSIA
109
(RUSSIA)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 466)

SCHOOL
75
(ESCOLA)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 94)

SHOOT-A-GUN
105, 106
(ATIRAR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 162)

SHOP
81
(COMPRAR)

(FANT; FANT, 2008, p. 218)


219

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

SINCE
75
(DESDE)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 413)

SIT
72, 75, 81
(SENTAR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 405)

SODA-POP
62
(ÁGUA TÔNICA)

(VALLI; LUCAS; MULROONEY, 2005, p. 37)

SORRY
(SINTO MUITO!; 109, 112, 115
DESCULPA!)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 114)

SUNDAY
75
(DOMINGO)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 269)


220

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

THIEF
109
(LADRÃO)

(FLODIN, M, 2004, p. 32)

THINK
69
(PENSAR)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 414)

THROW 72, 81, 106,


(ARREMESSAR) 114

(BRENTARI, 1998, p. 5)

TICKET
(INGRESSO, 109
PASSAGEM)

(FANT; FANT, 2008, p. 251)

TOUCH
(TOCAR, 75, 109
CONTATAR)

(FANT; FANT, 2008, p. 245)


221

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

TRAIN
75
(TREM)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 450)

UNDERSTAND
72, 112
(ENTENDER)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 200)

WANT
81
(QUERER)

(FANT; FANT, 2008, p. 197)

WE
94, 95
(NÓS)

(FANT; FANT, 2008, p. 170)

WEEK
61
(SEMANA)

(FANT; FANT, 2008, p. 239)


222

GLOSA
ILUSTRAÇÃO DO SINAL PÁGINA(S)
(Inglês/Português)

WHY
106
(POR QUE)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 44)

WORK
75
(TRABALHAR)

(FANT; FANT, 2008, p. 160)

WRITE
81
(ESCREVER)

(STEWART; STEWART; LITTLE, 2003, p. 261)


223

ANEXOS
224

Anexo A – Classificação dos TI e dos TP (BRENTARI, 1998)

(1) Traços Inerentes (TI)

a. traços articulatórios
[simétrico]: partes análogas da mão orientada um em direção a outra (p. ex. JUNTO,
ORAR/REZAR, BICICLETA)
[aberto/espraiado]: dedos contrastivamente distendidos (p. ex. CONFUSÃO, )
[flexionado]: dedos dobrados em juntas específicas (p. ex. DAR)
[empilhado]: dedos em uma posição, um sobre o outros como numa “raquete de
Squash”, com o dedo indicador na parte superior e o dedo mindinho na
parte inferior (p. ex. POUCO, “K”)
[cruzado]: dedos cruzados – o médio sobre o indicador (p. ex. CORDA, CIGARRO)
[oposto]: polegar num plano perpendicular à palma
[não-oposto]: polegar no mesmo plano da palma
[todos]: todos os dedos selecionados
[um]: um dedo selecionado
[ulnar]: referência feita ao lado do dedo mínimo da mão
[médio]: referência feita ao dedo médio
[estendido]: dedos não-selecionados mais estendidos do que flexionados
[2-mãos]: sinal articulado com as duas mãos

b. traços do POA (place of articulation)


[1-8]: faixas verticais que dividem a cabeça, o braço ou o tronco em oito regiões, e a
M2 em oito locações
[ipsilateral] ([ipsi]): mesmo lado da M1 no corpo
[contralateral] ([contra]): lado oposto do corpo em relação a M1
[contato]: contato com o ponto de articulação ou entre as duas mãos

(2) Traços Prosódicos (TP)

[ipsilateral] ([ipsi]): mesmo lado da M1 no corpo dentro de um ponto de articulação


[contralateral]: lado oposto do corpo em relação à M1 dentro de um ponto de
articulação
[superior]: a parte superior de um ponto de articulação
[inferior]: a parte inferior de um ponto de articulação
[arqueado]: um movimento em forma de arco
[distal]: um espaço relativamente longe do corpo no plano-y ou plano-z
[proximal]: um espaço relativamente próximo ao corpo no plano-y ou plano-z
[retilíneo]: um movimento em forma de linha reta (contrastivo)
[circular]: um movimento em forma de círculo
[movimento vibrante]: um movimento repetido, rápido e incontável
[alternado]: um movimento em sinais de 2 mãos no qual as mãos ficam defasadas em
180º
[pivô]: um movimento que se articula por volta de um ponto fixo
[repetido]: um movimento repetido (p. ex. MILITAR, TOSSIR)
[traçado/decalque]: um movimento que acontece dentro de um plano
[direção]: um movimento que acontece perpendicularmente a um plano
[extensão]: um movimento de extensão do punho
225

[flexão]: um movimento de flexão do punho


[pronaçao]: um movimento para uma posição de decúbito ventral da palma
[supinaçao]: um movimento para uma posição de decúbito dorsal da palma
[abdução]: flexão radial do punho
[aberto]: um mudança de configuração para uma CM alofônica [aberta]
[fechado]: um mudança de configuração para uma CM alofônica [fechada]

Observação: alguns dos exemplos aqui citados foram adaptados para a Libras, mantendo-se o
conceito apresentado pela autora do MP. É importante registrar também que alguns dos sinais
da ASL e da Libras são homófonos e, além disso, sinônimos. Para estes casos, sublinhamos o
termo, mantendo o exemplo original e apenas traduzindo o termo para a Língua Portuguesa.
Nos outros casos (os exemplos nãos sublinhados), apenas traduzimos a palavra, mas todos os
termos exemplificados são da língua americana de sinais.
226

Anexo B – Tipos de movimentos e as juntas de execução

(78.2)
(78.1)

(78.3) (78.4)

 
Figura 78 – Movimentos de extensão ou flexão, vertical ou horizontal.
Fonte: LUTTGENS e HAMILTON, 1997 apud BRENTARI, 1998, p. 36-37.
   
(79.1) (79.2)

(79.3) (79.4)

 
Figura 79 – Movimentos de abdução ou adução.
Fonte: LUTTGENS e HAMILTON, 1997 apud BRENTARI, 1998, p. 38-39.  
227

 
Figura 80 – Movimentos de pronação, supinação e rotações.
Fonte: LUTTGENS e HAMILTON, 1997 apud BRENTARI, 1998, p. 40.
 
228

Anexo C – Guia do SignWriting (GALEA, 2006, apêndice – A, tradução nossa)

A função desse apêndice é apresentar uma ideia do que é o ‘signwriting’ e uma chave de
como decifrar a escrita básica dos sinais. A leitura desta seção não habilitará o leitor a uma
compreensão total de todos os diferentes símbolos utilizados. Conforme Sutton-Spence e
Woll (1999, p. xi) expõe, leva um bom tempo para se aprender um sistema de transcrição, e
isto se aplica também à escrita dos sinais. O signwriting pode ser mais fácil de se depreender
devido a sua natureza pictográfica (cf. GALEA, capítulo 2, seção 2.1.2.5.1). De fato, ao
ministrar uma oficina sobre o signwriting para sinalizantes Surdos, eles aprenderam um
montante considerável em um curto espaço de tempo (cf. GALEA, capítulo 2, seção
2.1.2.5.8). Para maiores informações sobre o signwriting, visitem o website (Sutton, 2006)
www.signwriting.org, onde existem lições online.

O signwriting é composto de símbolos que representam as formas das mãos, o movimento, o


ponto de contato, as expressões faciais e o movimento do corpo. A orientação da mão é
incorporada ao símbolo, conforme será visto abaixo.

i. Ponto de Vista Expressivo

Todos os símbolos representam os sinais a partir de um ‘Ponto de Vista expressivo’. Isto quer
dizer que o leitor interpreta a partir de seu próprio ponto de vista, embora ele/ela esteja
sinalizando para alguém mais. No símbolo a seguir, que representa uma configuração da mão
em “B”, os diferentes sombreamentos do símbolo representa as diferentes orientações da
palma.

O leitor pode ver a sua palma.

O leitor pode ver um lado de sua palma. A área branca representa a palma e o lado
preto representa o dorso da mão.

O leitor pode ver o dorso da sua mão. O preto representa o dorso da mão.
229

ii. Orientação da palma

Além das orientações acima mencionadas, a palma pode também ser posicionada num plano
vertical ou horizontal. Conforme explicado por Sutton (1995), a mão pode ser paralela à
parede ou ao chão. Quando a mão for paralela ao chão, o símbolo possui um espaço na
articulação da junta dos dedos. Alguns exemplos são dados abaixo:

Paralelo ao Chão Paralelo à Parede

iii. Configurações de Mão

Sutton (1995) estabeleceu dez diferentes categorias para as configurações de mão. Essas
configurações de mão representam os números da ASL de 1 a 10. Tendo disponíveis todas
essas configuração de mão, isso não implica que uma determinada língua utilizará todas elas.
Contudo, o repertório completo está disponível para escolher as diferentes configurações de
mão dependendo da língua em questão. Cada configuração de mão pode ser escrita em um
ângulo. As dez categorias da mãos não são explicadas aqui. Para maiores detalhes, consultar
Sutton (1995, p. 25) ou visitar http://signwriting.org/lessons (Sutton, 2006).

iv. Símbolos de contato

Quando uma mão entra em contato com a outra ou uma parte do corpo, diferentes símbolos
são utilizados para representar os diferentes tipos de contato.
Tocar Escovar

Bater Entre

Pegar Esfregar
230

v. Movimento

As setas representam o movimento da mão. Uma seta de linha dupla representa o movimento
para cima e para baixo, e a de linha única representa o movimento para frente e para trás.
Além dos exemplos dados de movimento retilíneo, os símbolos também devem podem ser
curvados ou ziguezagueados. Setas longas representam movimentos longos, ao passo que
setas mais curtas representam movimentos mais curtos.

As setas pretas representam o movimento da mão direita e as setas brancas representam o


movimento das mãos esquerdas:

Movimentos para CIMA e para BAIXO (mãos direitas)

Movimentos para FRENTE (mão direita) e para TRÁS (mão esquerda)

Movimento curto e duplo para CIMA (setas brancas: mão esquerda)

vi. Movimento Axial

Existem também símbolos disponíveis para representar o movimento dos braços e do punho.
Um exemplo comum que vem dos dados da Língua de Sinais Maltesa é o movimento FALL
(CAIR), no qual o movimento axial ocorre na mudança de orientação da palma. Por exemplo:

Na escrita acima, o símbolo de movimento indica a rotação do braço.


Na escrita abaixo, o símbolo de movimento refere-se ao movimento do punho para baixo.
231

vii. Expressão Facial

Signwriting possui muitos símbolos para transcrever as diferentes expressões e movimentos


faciais que ocorrem durante a sinalização. Um círculo simboliza a cabeça, e os símbolos
dentro dessa cabeça representam a expressão facial. Por exemplo:

Face com as sobrancelhas erguidas

Face com atividade de sopro

Face com um sorriso

viii. Referências Espaciais

Signwriting é transcrita em colunas. Quando há referência de locação, a face é transcrita no


meio da coluna e a mão é transcrita ao lado da mão direita ou esquerda. Quando esta locação
for reutilizada, por exemplo, um outro sinal move-se até a locação, as setas são transcritas
apontando-se para esta locação (direita ou esquerda). Por exemplo (S14), o classificador
BOOK (livro) é sinalizado à esquerda e, em seguida, o classificador VEHICLE (veículo)
move-se em direção ao lado da mão esquerda da coluna.

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