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Joelho
Joelho
GERSON DE ANDRADE SOUZA1, ALTENOR BESSA DE QUEIROZ2, MARCIO DO AMARAL CAMARGO PEDRO3,
RICARDO DIZIOLI NAVARRO4, MARCUS VINÍCIUS M. LUZO1
Os pacientes foram operados entre dezembro de 1995 e 1989) modificado. Os pacientes foram avaliados mensalmente
fevereiro de 1997, com um tempo médio de seguimento de por meio de exame clínico detalhado (abrangendo todos os
11,5 meses. itens do protocolo) e por exames radiográficos ortostáticos,
Os pacientes foram avaliados pré e pós-operatoriamente, nas posições ântero-posterior e perfil, em filme de 30cm de
segundo o protocolo do Hospital for Special Surgery (HSS, largura por 40cm de comprimento.
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G.A. SOUZA, A.B. QUEIROZ, M.A.C. PEDRO, R.D. NAVARRO & M.V.M. LUZO
O critério de avaliação dos resultados seguiu um protoco- operatório e, posteriormente, com controles anuais. O exa-
lo que abrange seis itens relativos a dados subjetivos e obje- minador confere uma nota para cada item, obtendo para um
tivos. A situação clínica e funcional do joelho foi investiga- joelho normal pontuação final articular e funcional de 100
da no pré-operatório, nos primeiros 3, 6 e 12 meses de pós- pontos cada, com pontuação final total de 200 pontos. O re-
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TRATAMENTO DA OSTEOARTROSE UNICOMPARTIMENTAL MEDIAL DO JOELHO COM A UTILIZAÇÃO DA PRÓTESE UNICOMPARTIMENTAL DO TIPO ALLEGRETTO
sultado é considerado excelente quando a pontuação está lizam guias intramedulares para a correção das deformida-
acima de 170 pontos; bom, entre 140 e 169 pontos; regular, des angulares com maior precisão.
entre 120 e 139 pontos; e ruim, abaixo de 120 pontos. Na avaliação subjetiva (dor + função) no período pós-ope-
Nossa amostra, para o estudo estatístico, foi composta de ratório, encontramos valores idênticos à variável arco de mo-
26 joelhos com diagnósticos de osteoartrose primária do com- vimento, ou seja, 80,76% de resultados satisfatórios e 19,24%
partimento medial. Foram excluídos os joelhos com diag- de insatisfatórios.
nóstico de osteoartrose do compartimento lateral, por serem Quando analisamos a pontuação final de cada paciente, na
apenas dois, e aqueles com diagnóstico de osteonecrose do última avaliação pós-operatória, encontramos 13 pacientes
compartimento medial, por também serem apenas dois ca- com resultado excelente (50%), 6 pacientes com bom
sos. Os grupos foram constituídos de joelhos de indivíduos (23,08%), 3 pacientes com regular (11,54%) e 4 pacientes
com idade menor ou igual a 59 anos e 60 anos ou mais(22). com ruim (15,38%), o que nos indica 73,08% de resultados
Não há razões teóricas para análise separada entre os sexos. satisfatórios (excelentes e bons) e 26,92% de insatisfatórios
Para comparar os dois grupos quanto às variáveis já des- (regulares e ruins).
critas anteriormente usamos o teste de Mann-Whitney e para Houve melhora significante na média de todas as variá-
comparar cada variável ao longo do tempo, o teste de Fried- veis após pelo menos um período de avaliação no pós-opera-
man. Quando a estatística calculada apresentou um valor sig- tório, quando comparadas globalmente e separadamente (ob-
nificante, este foi complementado pelo teste de comparações jetivas e subjetivas). Concluímos, então, que esse procedi-
múltiplas e, quando havia apenas dois períodos, usamos o mento leva a bons resultados precoces e que esses resultados
teste de Wilcoxon. sofreram melhora no transcorrer de nosso seguimento (um
Para comparar os resultados excelentes e bons (satisfató- ano).
rios) e os regulares e ruins (insatisfatórios) entre os dois gru-
pos usamos o teste exato de Fisher para tabelas de associa-
DISCUSSÃO
ção. Em todos os casos fixamos para nível de rejeição da
hipótese de nulidade o valor ≤ 0,05 (5%). A artroplastia unicompartimental do joelho é uma alterna-
tiva cirúrgica no tratamento de processos degenerativos iso-
lados do compartimento medial ou lateral do joelho. O típi-
RESULTADOS
co implante unicompartimental cobre a superfície femoral e
Os grupos mostraram-se homogêneos quanto às variáveis tibial do compartimento envolvido(21,22), porém encontramos
no período pré-operatório, quando elas foram comparadas descrição de implantes que cobrem somente a superfície ti-
globalmente ou quando foram separadas em subjetivas e ob- bial(18,19). A maior vantagem das artroplastias unicomparti-
jetivas, reforçando-se, então, a seleção criteriosa dos pacien- mentais é a preservação do menisco e da superfície articular
tes. do lado não envolvido, quando comparada com as próteses
Na avaliação das variáveis, globalmente ou separadas em totais(16,26). Ambos os ligamentos cruzados anterior e poste-
subjetivas e objetivas, dos pacientes no período pós-opera- rior permanecem intactos e a articulação patelofemoral não
tório, embora a comparação entre os grupos estudados não é abordada. A preservação dessas estruturas ajuda a manter a
tenha dado diferença estatisticamente significante, observa- cinemática normal do joelho bem como sua propriocepção.
mos que, de 26 joelhos, houve resultado satisfatório em 21 Swank et al.(29) acreditaram que a prótese unicompartimen-
(80,76%) e insatisfatório em 5 (19,24%). tal não é um procedimento melhor quando comparado com a
Em relação à avaliação do arco de movimento no pré-ope- prótese total, por encontrarem fatores estatisticamente im-
ratório, observamos melhora de 46,15% (12 joelhos), dimi- portantes de insucesso em 82 artroplastias unicompartimen-
nuição em 19,23% (5 joelhos) e em 34,62% (9 joelhos) man- tais, tais como desgaste do polietileno, soltura dos compo-
teve-se inalterado. Para o alinhamento articular no pós-ope- nentes e progressão para artrose tricompartimental.
ratório, não encontramos relação estatisticamente significante Quando comparadas com as osteotomias, as próteses uni-
entre o grau de correção angular e os resultados finais (satis- compartimentais apresentam resultados melhores a longo pra-
fatório e insatisfatório). Conseguimos com a utilização des- zo e menores complicações no pós-operatório(10,25,27). A rea-
sa prótese uma média de correção de 60% nas deformidades bilitação dos pacientes é muito mais rápida quando compa-
angulares, porém encontramos na literatura modelos que uti- rada com as osteotomias. Em nossos pacientes, nenhum tipo
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de imobilização externa foi utilizada e os exercícios de mo- tóide e outros) e em pacientes com atividade de vida diária
vimentação do joelho foram iniciados no pós-operatório ime- pequena ou moderada.
diato. Acreditamos que esses sejam os principais benefícios Avaliamos nossos pacientes de acordo com informações
para os pacientes idosos que encontram dificuldade de deam- subjetivas e objetivas separadamente, a fim de ter resultados
bular com gesso e necessitem maior tempo de recuperação(31). mais precicos quanto a esse procedimento. Não considera-
A história da artroplastia unicompartimental é acompa- mos o fator sexo para a análise estatística, pois acreditamos
nhada de controvérsias quanto a sua indicação e sua eficácia não ter importância significativa nos resultados. Dividimos
é questionada quando comparada com a osteotomia e a ar- nossos pacientes em dois grupos: grupo A (menor ou igual a
troplastia total do joelho. Laskin(15) publicou como resulta- 59 anos) e grupo B (maior ou igual a 60 anos).
dos negativos uma revisão de 37 pacientes submetidos à pró- Em nossa série tivemos dois pacientes que apresentaram
tese unicompartimental. Outros autores, como Jones et al.(12), soltura do componente tibial e atribuímos esse fato a um erro
atribuem o alto índice de soltura na série realizada por Las- de técnica no assentamento do componente femoral não per-
kin(15) a hipercorreção em valgo nas deformidades em varo. pendicular ao eixo mecânico no fêmur, o que levou a distri-
Porém, em nossa casuística, dois casos de maus resultados buição de força inadequada sobre o componente tibial(28). Es-
foram atribuídos à não correção da deformidade em varo(2). ses pacientes foram submetidos a revisão com prótese total,
Insall & Walker(11) também publicaram seu trabalho sobre cujo procedimento se mostrou simples, sem a necessidade
a prótese unicompartimental, com resultados insatisfatórios. da utilização de enxerto ósseo para o preenchimento de de-
Porém, deve-se considerar o pequeno grupo de pacientes dessa feitos ósseos(7,13).
série e que 18 dos 22 pacientes sofreram patelectomia no No modelo de prótese Allegretto o componente tibial não
mesmo ato cirúrgico. tem um artifício que permita maior fixação da superfície me-
Atualmente, as controvérsias são menores devido a inú- tálica com o platô tibial, como pegs ou pinos para fixação,
meros trabalhos publicados na literatura, incluindo seguimen- como os existentes em outros modelos encontrados, ou seja,
to a longo prazo, com resultados excelentes, quando compa- o PCA utilizado por Lindstrand et al.(17), o St. Georg por En-
rados com as próteses totais e as osteotomias(3,5,9,14,20,22,24,30). gelbrecht et al.(6), Christensen(5) e Weale & Newman(30) e o
Nosso estudo não permite conclusões a esse respeito, por ter modelo Oxford por Goodfellow et al.(8) e Carr et al.(3). Seu
seguimento a curto prazo (média de 11,5 meses). princípio para fixação baseia-se na penetração do cimento
A prótese unicompartimental é comprovadamente um pro- através de sua tela metálica para cimentação, descrito por
cedimento útil no tratamento dos processos degenerativos Heck et al.(9) como sendo uma das vantagens do componente
do joelho quando limitados somente a um compartimento. tibial metálico.
Nosso estudo tem como objetivo adicionar à literatura a acei- No início, ficamos inseguros quanto aos bons resultados
tação desse procedimento com bons resultados a curto pra- na instalação do componente tibial, mas, por outro lado, na
zo, porém estávamos conscientes de que não poderíamos ti- revisão, observamos que, quanto menos realizássemos cor-
rar conclusões positivas a respeito de durabilidade. tes e perfurações no planalto tibial, mais fácil se tornava esse
Nossos pacientes foram criteriosamente selecionados de procedimento.
acordo com os preceitos estipulados por Chesnut & Willian(4) Ainda em nossa série tivemos dois pacientes com diag-
e Spotorno et al.(28). Porém, fomos obrigados a modificar a nóstico de osteoartrose do compartimento lateral e dois pa-
faixa etária de indicação cirúrgica e fixá-la para pacientes cientes com diagnóstico de osteonecrose do côndilo femoral
com idades menores de 60 anos e maiores ou iguais a 60 medial, que foram submetidos ao tratamento com prótese
anos, devido à taxa de sobrevida ser menor em nosso país, unicompartimental. Porém, esses pacientes não foram incluí-
quando comparada com outros onde esse procedimento é lar- dos em nossa casuística por não apresentarem significância
gamente utilizado. Apesar desse fato, seguimos critérios ri- estatística.
gorosos para a indicação da artroplastia, ou seja, grupo etá- Nossos resultados precoces permitem concluir que a ar-
rio com mais de 50 anos, com estruturas ligamentares ínte- troplastia unicompartimental do joelho é um procedimento
gras, não obesos, com graus de deformidades menores do indicado para o tratamento das osteoartroses do comparti-
que 15 graus de varo, compartimento contralateral e articu- mento medial do joelho em indivíduos acima de 50 anos,
lação patelofemoral normais ou levemente comprometidas, desde que cuidadosamente selecionados. Essa prótese pro-
ausência de patologias reumáticas associadas (artrite reuma- move melhora da dor, morbidade baixa, marcha precoce e
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TRATAMENTO DA OSTEOARTROSE UNICOMPARTIMENTAL MEDIAL DO JOELHO COM A UTILIZAÇÃO DA PRÓTESE UNICOMPARTIMENTAL DO TIPO ALLEGRETTO
correção das deformidades angulares. Porém, nossa avalia- of 40 cases. Rev Chir Orthop Reparatrice Appar Mot (Suppl 8) 79: 635-
642, 1993.
ção é extremamente curta, o que não nos permite concluir
8. Goodfellow, J.W., Kershhaw, C.J., D’A Benson, M.K. et al: The Oxford
nada a respeito de sua durabilidade. Futuramente, após se- knee for unicompartmental osteoarthritis: the first 103 cases. J Bone
guimento maior, poderemos tê-la ou não, como uma indica- Joint Surg [Br] 70: 692-701, 1988.
ção de rotina em nosso serviço. 9. Heck, A.D., Marmor, L., Gibson, A. et al: Unicompartmental knee ar-
throplasty: a multicenter investigation with long term follow-up eva-
CONCLUSÕES luation. Clin Orthop 286: 154-159, 1993.
10. Insall, J., Shoji, H. & Mayer, V.: High tibial osteotomy: a five-year eva-
1) A artroplastia unicompartimental do joelho com a pró- luation. J Bone Joint Surg [Am] (Suppl 7) 56: 1397-1405, 1974.
tese do tipo Allegretto proporcionou melhora da dor, do arco 11. Insall, J. & Walker, P.: Unicondylar knee replacement. Clin Orthop 120:
de movimento, da estabilidade ligamentar e do alinhamento 83-85, 1976.
do joelho para a maioria dos pacientes, dentro de seguimen- 12. Jones, W.T., Bryan, R.S., Peterson, L.F.A. et al: Unicompartmental knee
to médio de 11,5 meses. arthroplasty using polycentric and geometric hemicomponents. J Bone
Joint Surg [Am] (Suppl 6) 63: 946-954, 1981.
2) As deformidades angulares foram corrigidas em média
13. Lai, C.H. & Rand, J.A.: Revision of failed unicompartmental total knee
de 60%. Esse foi um fator negativo em nossa avaliação, pois arthroplasty. Clin Orthop 287: 193-201, 1993.
esperava-se correção total. Acreditamos que a utilização de 14. Larsson, S.-E., Larsson, S. & Lunkkuist, S.: Unicompartmental knee
guias extramedulares seja responsável pela não exatidão dessa arthroplasty: a prospective consecutive series followed for six to 11
correção e que poderiam ser substituídos pelos intramedula- years. Clin Orthop 232: 174-181, 1986.
29. Swank, M., Stulberg, S.D., Jiganti, J. et al: The natural history of uni- 31. Weidenhielm, L., Olssom, E., Broström, L.A. et al: Improvement in gait
compartmental arthroplasty: an eight-year follow-up study with survi- one year after surgery for knee osteoarthrosis: a comparison between
vorship analysis. Clin Orthop 286: 130-142, 1993. high tibial osteotomy and prosthetic replacement in a prospective ran-
30. Weale, A.E. & Newman, J.H.: Unicompartmental arthroplasty acxdsew domized study. Scan J Rehab Med 25: 25-31, 1993.
32nd high tibial osteotomy for osteoartrosis of the knee: a comparative 32. Whiteside, L.A. & McCarthy, D.N.: Laboratory evaluation of alignment
study with a 12-to-17 year follow-up period. Clin Orthop 302: 134- and kinematics in a unicompartmental knee arthroplasty inserted with
137, 1994. intramedullary instrumentation. Clin Orthop 274: 238-247, 1992.