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TRATAMENTO DA OSTEOARTROSE UNICOMPARTIMENTAL MEDIAL DO JOELHO COM A UTILIZAÇÃO DA PRÓTESE UNICOMPARTIMENTAL DO TIPO ALLEGRETTO

Tratamento da osteoartrose unicompartimental


medial do joelho com a utilização da prótese
unicompartimental do tipo Allegretto
Resultado precoce de 26 intervenções em 24 pacientes*

GERSON DE ANDRADE SOUZA1, ALTENOR BESSA DE QUEIROZ2, MARCIO DO AMARAL CAMARGO PEDRO3,
RICARDO DIZIOLI NAVARRO4, MARCUS VINÍCIUS M. LUZO1

RESUMO curto prazo, quando utilizada em pacientes cuidadosamen-


te selecionados para os quais a osteotomia e a prótese to-
Os autores apresentam os resultados da avaliação do
tal são contra-indicadas.
tratamento da osteoartrose do compartimento medial do
joelho com a artroplastia unicompartimental, quanto à
SUMMARY
técnica cirúrgica e os resultados de curto prazo. A próte-
se unicompartimental utilizada é a do tipo Allegretto, de- Treatment of medial unicompartmental osteoarthrosis of
senvolvida por Broc & Romagnoli. Os componentes ti- the knee with the use of Allegretto type unicompartmental
bial e femoral são compostos por ligas metálicas e sepa- prosthesis. Early results of 26 interventions in 24 patients
rados por um dispositivo de polietileno que forma a parte A consecutive series of 26 unicompartmental knee arthro-
articular. Com um seguimento médio de 11,5 meses, 24 plasties were performed in twenty-four patients with prima-
pacientes adultos foram submetidos a 26 artroplastias. ry osteoarthrosis of the medial compartment. The authors
Utilizando o protocolo de avaliação do HSS modificado, evaluated the surgical technique and the results in a short
os resultados foram excelentes em 13 pacientes (50%), time period (mean time: 11.5 months). The unicompartmen-
bons em 6 (23,08%), regulares em 3 (11,54%) e ruins em tal knee arthroplasty was the Allegretto type, developed by
4 (15,38%), somando-se 73,08% de resultados satisfató- Broc and Romagnoli, and it must be installed using acrylic
rios e 26,92% de insatisfatórios. Houve 2 casos de soltura cement. The femoral and tibial components are manufactured
do componente tibial que necessitaram de revisão com a from metal alloy and the articular part is made of high-den-
prótese total. Os autores concluem que a prótese unicom- sity polyethylene. The patients were assessed by the modi-
partimental do tipo Allegretto é uma boa alternativa de fied scoring system of the Hospital for Special Surgery. Out
tratamento da osteoartrose do compartimento medial a of 26 knees, thirteen (50%) were rated excellent; six (23.08%)
good; three (11.54%) fair, and four (15.38%) were consid-
ered poor. Nineteen (73.08%) were considered satisfactory
* Tese apresentada no Dep. de Ortop. e Traumatol. da Esc. Paul. de Med.
and seven (26.92%) unsatisfactory. There were two cases of
da Univ. Fed. de São Paulo (Serv. do Prof. Dr. José Laredo Filho), para
obtenção de título de mestrado. detachment of the tibial component that required a revision
1. Mestre em Ortop.; Membro efetivo do Grupo do Joelho e Artroscopia da of the total knee arthroplasty. The authors agree that the Alle-
Unifesp-EPM; Pós-graduando do Dep. de Ortop. e Traumatol. da Uni- gretto unicompartmental knee arthroplasty is a good thera-
fesp.
peutic alternative for elderly patients with short-term uni-
2. Mestre em Ortop.; Pós-graduando em nível de Doutorado e membro efe-
tivo do Grupo de Joelho e Artroscopia da Unifesp-EPM.
compartmental osteoarthrosis of the medial compartment
3. Méd. Ortoped.; Membro do Grupo de Joelho da Puccamp. when the high tibial osteotomy and tricompartmental arthro-
4. Prof. Adjunto; Doutor; Chefe do Grupo de Joelho e Artroscopia do Dep. plasty are not indicated. However, the patients must be care-
de Ortop. e Traumatol. da Unifesp-EPM. fully selected to achieve a successful arthroplasty.
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G.A. SOUZA, A.B. QUEIROZ, M.A.C. PEDRO, R.D. NAVARRO & M.V.M. LUZO

INTRODUÇÃO moral e movimentação precoce. Por tratar-se de procedimento


simples e rápido, diminui também o risco de infecções.
O tratamento dos processos degenerativos unicompartimen-
Na literatura brasileira, não encontramos até o momento
tais do joelho ainda continua sendo um grande desafio para nenhum trabalho concernente ao assunto. A partir de 1995
os cirurgiões ortopédicos, quanto à forma de tratamento. As
selecionamos no Grupo de Joelho do Departamento de Orto-
osteotomias valgizantes ou varizantes não são uma forma
pedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina (Uni-
definitiva de correção e, por outro lado, as próteses totais fesp) o modelo de prótese unicompartimental do tipo Alle-
tornam-se um exagero, porque nesses casos substituem com-
gretto, desenvolvida por dois autores, Broc & Romagnoli,
partimentos não necessariamente envolvidos.
desde 1990. Os componentes femoral e tibial são compostos
Outros procedimentos conhecidos na literatura para o tra- por ligas metálicas e separados por um dispositivo de polie-
tamento dessas patologias, antes do uso das próteses unicom- tileno de alta densidade. A fixação é feita com cimento ós-
partimentais, embora aprovados e utilizados pela maioria dos seo.
cirurgiões, muitas vezes não determinam uma solução defi- O objetivo de nosso trabalho é apresentar os resultados
nitiva para o problema. Assim é que Insall et al.(10) e Aglietti precoces obtidos com a prótese unicompartimental do tipo
et al.(1), analisando as osteotomias para correção de deformi- Allegretto, nos casos de artrose do compartimento medial do
dades angulares, varo e valgo, referiram bons resultados pre- joelho.
coces. Porém, outros autores, como Mathews et al.(25), mos-
traram que, a longo prazo, ocorreria deterioração do com-
partimento não envolvido, sendo necessária revisão com a MATERIAL E MÉTODOS
prótese total. Nosso material é composto de 24 pacientes adultos (26
Na literatura encontramos que os desbridamentos artros- joelhos) submetidos à artroplastia unicompartimental para o
cópicos, com ou sem abrasão, mostram resultados insatisfa- tratamento de osteoartrose do compartimento medial, no pe-
tórios a longo prazo. ríodo de dezembro de 1995 a fevereiro de 1997.
Rougraff et al.(26) concluíram que a prótese total do joelho Os pacientes estão registrados no Departamento de Orto-
tem resultados excelentes a longo prazo, porém a conside- pedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina da
ram um procedimento extremamente complexo para o trata- Unifesp, Serviço do Prof. Dr. José Laredo Filho, na Discipli-
mento de patologias unicompartimentais isoladas. na de Ortopedia e Traumatologia da Pontifícia Universidade
A prótese unicompartimental como alternativa para o tra- Católica de Campinas, Serviço do Prof. Dr. Fernando Baldy
tamento de processos degenerativos do joelho tem sua indi- e em nossa clínica particular.
cação controversa. As intervenções foram realizadas pelo primeiro autor ou
MacIntosh(18), em 1958, e McKeever(19), em 1960, foram por membros de sua equipe. O seguimento de todos os pa-
os primeiros autores a utilizar um modelo de prótese uni- cientes foi supervisionado pelo primeiro autor. Dois casos de
compartimental, substituindo o côndilo tibial degenerado por osteonecrose e dois casos de osteoartrose do compartimento
uma prótese tibial metálica, porém os resultados dessa técni- lateral, por nós operados, foram excluídos do trabalho por
ca não estão esclarecidos. Marmor(21), em 1973, desenvolveu não terem significância estatística.
um modelo de prótese modular unicompartimental com subs- Nove pacientes foram operados no Hospital São Paulo,
tituição da superfície tibial e femoral degeneradas e usou dez na Pontifícia Universidade Católica de Campinas e cin-
essa prótese em pacientes idosos com osteoartroses do com- co em hospitais usados por nossa clínica particular.
partimento medial. Inicialmente, esse procedimento desper- A média geral de idade foi de 63 anos, variando entre 51 e
tou grande interesse na comunidade ortopédica, porém seu 83 anos. Considerou-se também a faixa etária para cada sexo
desenvolvimento foi retardado em decorrência das críticas separadamente; para o sexo masculino a média foi de 60 anos,
de autores como Insall & Walker(11) e Laskin(15). Apesar das variando entre 51 e 73 anos, e para o feminino, de 65 anos,
objeções, a prótese unicompartimental continuou a ser de- variando entre 54 e 83 anos.
senvolvida com base nos excelentes resultados obtidos a curto Quatorze pacientes eram do sexo feminino e 12 do mascu-
prazo. Esses resultados são conseqüência, principalmente, lino. Com relação à cor, 19 pacientes eram brancos e 7 não
de seleção criteriosa dos pacientes, mínima perda óssea, pre- brancos. Quanto ao lado operado, 11 foram do lado esquerdo
servação dos ligamentos cruzados e da articulação patelofe- e 15 do direito.
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Fig. 1 – R.S.S., Fig. 2 – R.S.S.,


radiografia radiografia
pré-operatória pré-operatória
em AP em P

Fig. 3 – R.S.S., Fig. 4 – R.S.S.,


radiografia radiografia
pós-operatória pós-operatória
em AP em P

Os pacientes foram operados entre dezembro de 1995 e 1989) modificado. Os pacientes foram avaliados mensalmente
fevereiro de 1997, com um tempo médio de seguimento de por meio de exame clínico detalhado (abrangendo todos os
11,5 meses. itens do protocolo) e por exames radiográficos ortostáticos,
Os pacientes foram avaliados pré e pós-operatoriamente, nas posições ântero-posterior e perfil, em filme de 30cm de
segundo o protocolo do Hospital for Special Surgery (HSS, largura por 40cm de comprimento.
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Fig. 5 – J.E.S., Fig. 6 – J.E.S.,


radiografia radiografia
pré-operatória pré-operatória
em AP em P

Fig. 7 – J.E.S., Fig. 8 – J.E.S.,


radiografia radiografia
pós-operatória pós-operatória
em AP em P

O critério de avaliação dos resultados seguiu um protoco- operatório e, posteriormente, com controles anuais. O exa-
lo que abrange seis itens relativos a dados subjetivos e obje- minador confere uma nota para cada item, obtendo para um
tivos. A situação clínica e funcional do joelho foi investiga- joelho normal pontuação final articular e funcional de 100
da no pré-operatório, nos primeiros 3, 6 e 12 meses de pós- pontos cada, com pontuação final total de 200 pontos. O re-
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sultado é considerado excelente quando a pontuação está lizam guias intramedulares para a correção das deformida-
acima de 170 pontos; bom, entre 140 e 169 pontos; regular, des angulares com maior precisão.
entre 120 e 139 pontos; e ruim, abaixo de 120 pontos. Na avaliação subjetiva (dor + função) no período pós-ope-
Nossa amostra, para o estudo estatístico, foi composta de ratório, encontramos valores idênticos à variável arco de mo-
26 joelhos com diagnósticos de osteoartrose primária do com- vimento, ou seja, 80,76% de resultados satisfatórios e 19,24%
partimento medial. Foram excluídos os joelhos com diag- de insatisfatórios.
nóstico de osteoartrose do compartimento lateral, por serem Quando analisamos a pontuação final de cada paciente, na
apenas dois, e aqueles com diagnóstico de osteonecrose do última avaliação pós-operatória, encontramos 13 pacientes
compartimento medial, por também serem apenas dois ca- com resultado excelente (50%), 6 pacientes com bom
sos. Os grupos foram constituídos de joelhos de indivíduos (23,08%), 3 pacientes com regular (11,54%) e 4 pacientes
com idade menor ou igual a 59 anos e 60 anos ou mais(22). com ruim (15,38%), o que nos indica 73,08% de resultados
Não há razões teóricas para análise separada entre os sexos. satisfatórios (excelentes e bons) e 26,92% de insatisfatórios
Para comparar os dois grupos quanto às variáveis já des- (regulares e ruins).
critas anteriormente usamos o teste de Mann-Whitney e para Houve melhora significante na média de todas as variá-
comparar cada variável ao longo do tempo, o teste de Fried- veis após pelo menos um período de avaliação no pós-opera-
man. Quando a estatística calculada apresentou um valor sig- tório, quando comparadas globalmente e separadamente (ob-
nificante, este foi complementado pelo teste de comparações jetivas e subjetivas). Concluímos, então, que esse procedi-
múltiplas e, quando havia apenas dois períodos, usamos o mento leva a bons resultados precoces e que esses resultados
teste de Wilcoxon. sofreram melhora no transcorrer de nosso seguimento (um
Para comparar os resultados excelentes e bons (satisfató- ano).
rios) e os regulares e ruins (insatisfatórios) entre os dois gru-
pos usamos o teste exato de Fisher para tabelas de associa-
DISCUSSÃO
ção. Em todos os casos fixamos para nível de rejeição da
hipótese de nulidade o valor ≤ 0,05 (5%). A artroplastia unicompartimental do joelho é uma alterna-
tiva cirúrgica no tratamento de processos degenerativos iso-
lados do compartimento medial ou lateral do joelho. O típi-
RESULTADOS
co implante unicompartimental cobre a superfície femoral e
Os grupos mostraram-se homogêneos quanto às variáveis tibial do compartimento envolvido(21,22), porém encontramos
no período pré-operatório, quando elas foram comparadas descrição de implantes que cobrem somente a superfície ti-
globalmente ou quando foram separadas em subjetivas e ob- bial(18,19). A maior vantagem das artroplastias unicomparti-
jetivas, reforçando-se, então, a seleção criteriosa dos pacien- mentais é a preservação do menisco e da superfície articular
tes. do lado não envolvido, quando comparada com as próteses
Na avaliação das variáveis, globalmente ou separadas em totais(16,26). Ambos os ligamentos cruzados anterior e poste-
subjetivas e objetivas, dos pacientes no período pós-opera- rior permanecem intactos e a articulação patelofemoral não
tório, embora a comparação entre os grupos estudados não é abordada. A preservação dessas estruturas ajuda a manter a
tenha dado diferença estatisticamente significante, observa- cinemática normal do joelho bem como sua propriocepção.
mos que, de 26 joelhos, houve resultado satisfatório em 21 Swank et al.(29) acreditaram que a prótese unicompartimen-
(80,76%) e insatisfatório em 5 (19,24%). tal não é um procedimento melhor quando comparado com a
Em relação à avaliação do arco de movimento no pré-ope- prótese total, por encontrarem fatores estatisticamente im-
ratório, observamos melhora de 46,15% (12 joelhos), dimi- portantes de insucesso em 82 artroplastias unicompartimen-
nuição em 19,23% (5 joelhos) e em 34,62% (9 joelhos) man- tais, tais como desgaste do polietileno, soltura dos compo-
teve-se inalterado. Para o alinhamento articular no pós-ope- nentes e progressão para artrose tricompartimental.
ratório, não encontramos relação estatisticamente significante Quando comparadas com as osteotomias, as próteses uni-
entre o grau de correção angular e os resultados finais (satis- compartimentais apresentam resultados melhores a longo pra-
fatório e insatisfatório). Conseguimos com a utilização des- zo e menores complicações no pós-operatório(10,25,27). A rea-
sa prótese uma média de correção de 60% nas deformidades bilitação dos pacientes é muito mais rápida quando compa-
angulares, porém encontramos na literatura modelos que uti- rada com as osteotomias. Em nossos pacientes, nenhum tipo
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de imobilização externa foi utilizada e os exercícios de mo- tóide e outros) e em pacientes com atividade de vida diária
vimentação do joelho foram iniciados no pós-operatório ime- pequena ou moderada.
diato. Acreditamos que esses sejam os principais benefícios Avaliamos nossos pacientes de acordo com informações
para os pacientes idosos que encontram dificuldade de deam- subjetivas e objetivas separadamente, a fim de ter resultados
bular com gesso e necessitem maior tempo de recuperação(31). mais precicos quanto a esse procedimento. Não considera-
A história da artroplastia unicompartimental é acompa- mos o fator sexo para a análise estatística, pois acreditamos
nhada de controvérsias quanto a sua indicação e sua eficácia não ter importância significativa nos resultados. Dividimos
é questionada quando comparada com a osteotomia e a ar- nossos pacientes em dois grupos: grupo A (menor ou igual a
troplastia total do joelho. Laskin(15) publicou como resulta- 59 anos) e grupo B (maior ou igual a 60 anos).
dos negativos uma revisão de 37 pacientes submetidos à pró- Em nossa série tivemos dois pacientes que apresentaram
tese unicompartimental. Outros autores, como Jones et al.(12), soltura do componente tibial e atribuímos esse fato a um erro
atribuem o alto índice de soltura na série realizada por Las- de técnica no assentamento do componente femoral não per-
kin(15) a hipercorreção em valgo nas deformidades em varo. pendicular ao eixo mecânico no fêmur, o que levou a distri-
Porém, em nossa casuística, dois casos de maus resultados buição de força inadequada sobre o componente tibial(28). Es-
foram atribuídos à não correção da deformidade em varo(2). ses pacientes foram submetidos a revisão com prótese total,
Insall & Walker(11) também publicaram seu trabalho sobre cujo procedimento se mostrou simples, sem a necessidade
a prótese unicompartimental, com resultados insatisfatórios. da utilização de enxerto ósseo para o preenchimento de de-
Porém, deve-se considerar o pequeno grupo de pacientes dessa feitos ósseos(7,13).
série e que 18 dos 22 pacientes sofreram patelectomia no No modelo de prótese Allegretto o componente tibial não
mesmo ato cirúrgico. tem um artifício que permita maior fixação da superfície me-
Atualmente, as controvérsias são menores devido a inú- tálica com o platô tibial, como pegs ou pinos para fixação,
meros trabalhos publicados na literatura, incluindo seguimen- como os existentes em outros modelos encontrados, ou seja,
to a longo prazo, com resultados excelentes, quando compa- o PCA utilizado por Lindstrand et al.(17), o St. Georg por En-
rados com as próteses totais e as osteotomias(3,5,9,14,20,22,24,30). gelbrecht et al.(6), Christensen(5) e Weale & Newman(30) e o
Nosso estudo não permite conclusões a esse respeito, por ter modelo Oxford por Goodfellow et al.(8) e Carr et al.(3). Seu
seguimento a curto prazo (média de 11,5 meses). princípio para fixação baseia-se na penetração do cimento
A prótese unicompartimental é comprovadamente um pro- através de sua tela metálica para cimentação, descrito por
cedimento útil no tratamento dos processos degenerativos Heck et al.(9) como sendo uma das vantagens do componente
do joelho quando limitados somente a um compartimento. tibial metálico.
Nosso estudo tem como objetivo adicionar à literatura a acei- No início, ficamos inseguros quanto aos bons resultados
tação desse procedimento com bons resultados a curto pra- na instalação do componente tibial, mas, por outro lado, na
zo, porém estávamos conscientes de que não poderíamos ti- revisão, observamos que, quanto menos realizássemos cor-
rar conclusões positivas a respeito de durabilidade. tes e perfurações no planalto tibial, mais fácil se tornava esse
Nossos pacientes foram criteriosamente selecionados de procedimento.
acordo com os preceitos estipulados por Chesnut & Willian(4) Ainda em nossa série tivemos dois pacientes com diag-
e Spotorno et al.(28). Porém, fomos obrigados a modificar a nóstico de osteoartrose do compartimento lateral e dois pa-
faixa etária de indicação cirúrgica e fixá-la para pacientes cientes com diagnóstico de osteonecrose do côndilo femoral
com idades menores de 60 anos e maiores ou iguais a 60 medial, que foram submetidos ao tratamento com prótese
anos, devido à taxa de sobrevida ser menor em nosso país, unicompartimental. Porém, esses pacientes não foram incluí-
quando comparada com outros onde esse procedimento é lar- dos em nossa casuística por não apresentarem significância
gamente utilizado. Apesar desse fato, seguimos critérios ri- estatística.
gorosos para a indicação da artroplastia, ou seja, grupo etá- Nossos resultados precoces permitem concluir que a ar-
rio com mais de 50 anos, com estruturas ligamentares ínte- troplastia unicompartimental do joelho é um procedimento
gras, não obesos, com graus de deformidades menores do indicado para o tratamento das osteoartroses do comparti-
que 15 graus de varo, compartimento contralateral e articu- mento medial do joelho em indivíduos acima de 50 anos,
lação patelofemoral normais ou levemente comprometidas, desde que cuidadosamente selecionados. Essa prótese pro-
ausência de patologias reumáticas associadas (artrite reuma- move melhora da dor, morbidade baixa, marcha precoce e
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correção das deformidades angulares. Porém, nossa avalia- of 40 cases. Rev Chir Orthop Reparatrice Appar Mot (Suppl 8) 79: 635-
642, 1993.
ção é extremamente curta, o que não nos permite concluir
8. Goodfellow, J.W., Kershhaw, C.J., D’A Benson, M.K. et al: The Oxford
nada a respeito de sua durabilidade. Futuramente, após se- knee for unicompartmental osteoarthritis: the first 103 cases. J Bone
guimento maior, poderemos tê-la ou não, como uma indica- Joint Surg [Br] 70: 692-701, 1988.
ção de rotina em nosso serviço. 9. Heck, A.D., Marmor, L., Gibson, A. et al: Unicompartmental knee ar-
throplasty: a multicenter investigation with long term follow-up eva-
CONCLUSÕES luation. Clin Orthop 286: 154-159, 1993.
10. Insall, J., Shoji, H. & Mayer, V.: High tibial osteotomy: a five-year eva-
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2) As deformidades angulares foram corrigidas em média
13. Lai, C.H. & Rand, J.A.: Revision of failed unicompartmental total knee
de 60%. Esse foi um fator negativo em nossa avaliação, pois arthroplasty. Clin Orthop 287: 193-201, 1993.
esperava-se correção total. Acreditamos que a utilização de 14. Larsson, S.-E., Larsson, S. & Lunkkuist, S.: Unicompartmental knee
guias extramedulares seja responsável pela não exatidão dessa arthroplasty: a prospective consecutive series followed for six to 11
correção e que poderiam ser substituídos pelos intramedula- years. Clin Orthop 232: 174-181, 1986.

res. 15. Laskin, R.S.: Unicompartmental tibiofemoral resurfacing arthroplasty.


J Bone Joint Surg [Am] (Suppl 2) 60: 182-185, 1978.
3) Não houve diferenças estatisticamente significantes nos
16. Laureencin, C.T., Zelicof, S.B., Scott, R.D. et al: Unicompartmental ver-
resultados dos dois grupos estudados quanto à idade, o que sus total knee arthroplasty in the same patient. A comparative study.
nos permite indicá-la para indivíduos menores de 60 anos, Clin Orthop 273: 151-156, 1991.
desde que sejam cuidadosamente selecionados. 17. Lindstrand, A., Stenström, A. & Lewold, S.: Multicenter study of uni-
compartmental knee revision. Acta Orthop Scand (Suppl 3) 63: 256-
4) A fixação do componente tibial não nos pareceu satis-
259, 1992.
fatória quanto a sua durabilidade e somente através de estu-
18. MacIntosh, D.L.: “Hemiarthroplasty of the knee using a space occupy-
dos futuros, com seguimento a longo prazo, poderemos ter ing prostheses for painful varus and valgus deformities”, in Proceed-
sua eficácia comprovada. ings of the Joint Meeting of Orthopaedic Associations of English Speak-
5) A prótese unicompartimental a curto prazo mostrou-se ing World. J Bone Joint Surg [Am] 40: 1431, 1958.
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