Você está na página 1de 13

IV CONGRESSO INTERNACIONAL

“ORDENAMENTO DO TERRITORIO: INFRA-ESTRUTURAS E


DESENVOLVIMENTO REGIONAL”
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS E POLÍTICAS,
LISBOA, PORTUGAL, 25-27 NOVEMBRO 2009
____________________________________________________

ESPAÇO ALQUEVA NA ROTA DO TURISMO SUSTENTÁVEL E DAS


ALDEIAS LAR

JOÃO EMANUEL PEREIRA MARTINS


Licenciado em Estatística e Gestão de Informação (Universidade Nova de Lisboa), Pós-
Graduado em Marketing pela Universidade Católica Portuguesa; Mestre em Ecologia
Humana e Problemas Sociais Contemporâneos (Universidade Nova de Lisboa) e
Doutorando em Planificação Integral e Desenvolvimento Regional (Universidade
da Extremadura – Espanha)

(joao.martins@eprogress.pt)

Sumário Analítico: 1. Enquadramento. 2. A Fileira do Turismo. 3. Agenda Europeia


para um Turismo Sustentável e Competitivo. 4. Alqueva: Destino Turístico Sustentável
5. Aldeias Lar no Espaço Alqueva 6. Conclusão

1
1. ENQUADRAMENTO

O “Espaço Alqueva”, apresenta-se como uma das zonas mais emblemáticas


de Portugal. Localizado em pleno Alentejo, este território abrange 21
concelhos na área de influência do EFMA (Empreendimento de Fins
Múltiplos de Alqueva). Os concelhos que compõem o “Espaço Alqueva”
são: Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém, Elvas, Alandroal,
Évora, Mourão, Portel, Redondo, Reguengos de Monsaraz, Viana do
Alentejo, Aljustrel, Alvito, Barrancos, Beja, Cuba, Ferreira do Alentejo,
Mértola, Moura, Serpa e Vidigueira.

O potencial turístico do Espaço Alqueva assenta fundamentalmente na


materialização do maior lago artificial da Europa, com uma área de cerca
de 250 km2, cujas margens possuem mais de 1100 km, ao que se associa
uma rede de rega para irrigar 110 mil ha, intercalada por todo um conjunto
de barragens de regularização. À obra física associa-se o potencial
endógeno da Região, marcado por uma enorme riqueza ambiental e
patrimonial. A gastronomia, a forte identidade cultural, o artesanato, a
biodiversidade, a tranquilidade, a segurança, são ainda factores de
diferenciação que esta região oferece, sendo que o desafio que se coloca
por forma a potenciar a mesma, passa necessariamente por uma aposta no
turismo sustentável.

De entre as várias infra-estruturas que compõem o EFMA


(Empreendimentos de Fins Múltiplos de Alqueva), destacam-se:

• Barragem e Central de Alqueva, concluídas em 2002 e 2004


respectivamente;

2
• Barragem e Central de Pedrógão, concluídas em 2006;
• Sistema de Rega, concluído parcialmente.

A execução destas infra-estruturas visa fundamentalmente:

• Constituição de uma reserva estratégica de água;


• Garantia do abastecimento de água às populações;
• Alteração do modelo cultural da agricultura;
• Produção de energia eléctrica não poluente;
• Contribuição para a promoção do turismo de qualidade;
• Preservação do ambiente;
• Criação de um novo clima empresarial;
• Dinamização do mercado de emprego.

É dentro deste contexto de mudança que o “Espaço de Alqueva” se


apresenta como portador de novas oportunidades sócio-económicas. Neste
âmbito foram identificadas como fileiras preferenciais: a fileira do
Turismo, da Energia, da Agricultura/ Agro-industrias, da Inovação e
Tecnologia, sendo a da Água e a do Ambiente transversais a todas as
outras. O Turismo Sustentável e as Aldeias Lar, podem num médio prazo
constituir-se como importantes alavancas ao desenvolvimento a sul do País.

2. A FILEIRA DO TURISMO

A criação do maior lago artificial da Europa (com 250km2) contribuiu para


o surgimento de excelentes condições para a realização de diversas
actividades náuticas, que são complementares a outros activos turísticos já

3
existentes, tais como: aldeias históricas, igrejas, castelos, gastronomia,
paisagem natural, vinhos, azeites, tradições…

Alqueva gerou a oportunidade de se assumir como um destino turístico


sustentável, na medida em que ao mesmo, estão associados os seguintes
valores: harmonia com o ambiente envolvente, a autenticidade, a paz, a
identidade cultural, a forte luminosidade durante o dia e a forte escuridão à
noite (Dark-Sky), a tranquilidade, a segurança, o envolvimento das
comunidades locais, a riqueza ambiental e patrimonial,...

A fileira do Turismo compreende diversas actividades turísticas, directa e


indirectamente associadas ao EFMA que englobam entre outras, as
componentes de alojamento hoteleiro, SPA´s, restauração, actividades
náuticas, turismo de aldeia, percursos pedestres e de BTT, golf, aluguer de
veículos, serviços de animação, outros serviços…

Indicadores de referência:
• No “Espaço Alqueva” existe uma multiplicidade de recursos
turísticos, singulares e autênticos que permitem o desenvolvimento
sustentado do destino;
• A região do “Espaço Alqueva”, é caracterizada por uma forte
identidade cultural, harmonia, autenticidade e paisagens naturais;
• A maioria dos investimentos nacionais dos PIN (Projectos de
Interesse Nacional) localiza-se no “Espaço Alqueva”, destacando-se
actividades de interligação entre as fileiras do turismo,
agricultura\agro-industrias, energia e ambiente;
• Sensibilidade por parte dos investidores para fomentar práticas de
sustentabilidade, bem como criar condições de fixação dos recursos
humanos através da oferta de habitação, entre outros factores.

4
3. AGENDA EUROPEIA PARA UM TURISMO SUSTENTÁVEL
E COMPETIVIVO

De acordo com a «Agenda para um Turismo Europeu Sustentável e


Competitivo» da Comissão das Comunidades Europeias (Bruxelas,
19.10.2007), o futuro do turismo europeu reside na qualidade da
experiência vivida pelos turistas: os turistas constatarão que os locais mais
empenhados na protecção do ambiente, dos trabalhadores e das
comunidades locais poderão também mais facilmente proteger os seus
interesses. Ao integrar a questão da sustentabilidade nas suas actividades,
as entidades ligadas ao sector do turismo poderão proteger as vantagens
competitivas que fazem da Europa o destino turístico mais atractivo do
mundo: a sua diversidade intrínseca, a sua variedade de paisagens e de
culturas. Além disso, ao procurar responder ao problema da
sustentabilidade de uma forma socialmente responsável, ajudarão a
indústria do turismo a inovar os seus produtos e serviços, e a aumentar a
sua qualidade e valor.

As mudanças que estão a ocorrer a nível global, induzidas pela crise


mundial actual, implicam uma evidente alteração do paradigma socio-
económico. Tendo em conta as tendências mundiais «(…) o principal
desafio do sector do turismo é manter-se competitivo e , simultaneamente,
salvaguardar a sua sustentabilidade, consciente de que a longo prazo a
competitividade depende da sustentabilidade» (Agenda para um turismo
Europeu Sustentável e Competitivo, p.3, 2007).

5
4. ALQUEVA: DESTINO TURÍSTICO SUSTENTÁVEL

Tendo em conta os objectivos do EFMA, as profundas alterações induzidas


pelo mesmo na região, bem como as fileiras do EFMA que se perfilam com
maior potencial, bem como o quadro de referência, quer do Relatório do
Grupo para a Sustentabilidade do Turismo, quer da Agenda para um
Turismo Europeu Sustentável e Competitivo, o “Espaço EFMA” reúne
todas as condições para a aplicação dos conceitos, princípios e acções
emanados por esses documentos por forma a torná-lo um destino turístico
sustentável de boa práticas. Isto porque considero que:
a) Alqueva é um destino turístico emergente de elevado potencial;
b) Existe um conjunto de estudos /planos qualificados sobre o
planeamento do território e ambiente que permite uma
reordenação funcional e espacial da região;
c) É uma região de elevado potencial patrimonial e ambiental, mas
com fortes constrangimentos socio-económicos, onde as
comunidades locais apresentam elevadas expectativas
relativamente ao turismo;
d) É um território em mudança que necessita do envolvimento de
todos (entidades públicas e privados) para transformar essas
oportunidades em concretizações. É necessário, no entanto, a
sustentabilidade do próprio destino de modo a não se cometerem
os erros das anteriores gerações de destinos turísticos;
e) O turismo, enquanto actividade económica transversal, associado
às outras fileiras induzidas e amplificadas pelo EFMA, surge
como o elemento que poderá e deverá alavancar uma região e
tornar-se como um destino turístico referenciado pelas suas boas
práticas de sustentabilidade económica.

6
Porque se considera que é fundamental minimizar os impactos negativos do
turismo, sobretudo resultantes de débeis estratégias de desenvolvimento,
que a aplicação da Agenda para um Turismo Europeu Sustentável e
Competitivo se reveste de extrema relevância. «Na realidade, o
desenvolvimento de um determinado destino turístico, sem preocupações
de planeamento sustentável, poderá culminar numa fase de completa
insustentabilidade – fase de declínio» (Butler, 1980).

5. ALDEIAS LAR NO ESPAÇO ALQUEVA

O modelo de desenvolvimento das “aldeias lar”, tem por objectivo dar


resposta aos idosos (qualidade de vida, assistência, cuidados de saúde,
alojamento condigno, actividades lúdicas e de ocupação,..) e aos problemas
de despovoamento do interior, contribuindo desta forma para um melhor
ordenamento do território nacional, e ao mesmo tempo para que Portugal
assuma um “cluster” neste domínio em termos europeus, valorizando os
critérios de diferenciação de que usufrui (Sol, Espaço, Água, entre outros).
O modelo Aldeias Lar apresenta vários factores de inovação, tendo sempre
por base a dignificação do idoso e o dotar de uma “vocação de Aldeia Lar”
as aldeias e vilas do interior do país em processo de despovoamento,
promovendo a qualificação de recursos humanos e a criação de emprego
para os mais jovens. Nestas mesmas aldeias são criados serviços de apoio
(cuidados paliativos, serviços geriátricos, entre outros, os quais podem ser
privados, público privados ou públicos) os quais para além de servirem a
população idosa ali existente, servirão de igual forma os apartamentos com
idosos que agora ali se vão instalar para usufruir de condições de qualidade
de serviços, e da paz que o interior pode proporcionar.

7
Nestas aldeias ou vilas poderão ainda utilizar-se e recuperar-se casas
devolutas, desenvolvendo ainda a construção das unidades de apoio e
apartamentos, em áreas de expansão previstas no Plano Director Municipal
(o principal objectivo é que assim também a população residente beneficie
dos serviços, e ao mesmo tempo, se criem melhores condições para a
interacção dos utentes com a comunidade local, acesso aos serviços locais
(restaurantes, cafés, mercearias, cabeleireira, barbeiro, entre outros);
Por outro lado, as Aldeias Lar deverão possuir serviços de apoio em
permanência.
Os utentes deverão usufruir de um apartamento para si e respectivo
cônjuge (na ausência deste partilharão o mesmo com outro homem ou
mulher respectivamente).

A pertinência da possibilidade de materialização do modelo decorre da


análise demográfica Portuguesa e Europeia, caracterizada por um forte
envelhecimento da população, onde em muitas regiões a procura de
unidades de apoio a idosos é muito superior à oferta existente, saliente-se
que em Portugal, a proporção de pessoas com 65 ou mais anos duplicou
nos últimos quarenta anos, passando de 8% em 1960, para 16% em 2001, e
de acordo com as projecções demográficas mais recentes, elaboradas pelo
Instituto Nacional de Estatística (2004), estima-se que esta proporção volte
a duplicar nos próximos 50 anos, representando, em 2050, 32% do total da
população. Estas modificações demográficas verificadas no último século
(com profundas alterações e, por vezes, inversão das pirâmides etárias),
reflectindo o envelhecimento populacional, colocaram desafios para os
quais os governos, as famílias e a sociedade em geral, não estavam
preparados.

8
Nas sociedades desenvolvidas o envelhecimento demográfico é o
fenómeno mais relevante do século XXI devido às suas implicações na
esfera social, económica e política, a missão deste projecto visa assim
promover as melhores respostas a um problema Europeu, reconhecido pela
Organização Mundial de Saúde que admitiu mesmo que «O crescimento
global e rápido da população de idosos é um dos maiores desafios que o
mundo terá de enfrentar neste século».(OMS, 1991).
Saliente-se que o Programa Nacional para a Saúde das Pessoas Idosas
(DGS, 2004), visa a manutenção da autonomia, independência, qualidade
de vida e recuperação global das pessoas idosas, prioritariamente no seu
domicílio e meio habitual de vida, exige uma acção multidisciplinar dos
serviços de saúde, em estreita articulação com a Rede de Cuidados
Continuados de Saúde criada pela Lei nº. 281/2003 de 8 de Novembro. Este
programa, o qual faz parte integrante do Plano Nacional de Saúde 2004 –
2010, assenta em 3 pilares fundamentais:
- Promoção de um envelhecimento activo, ao longo da vida;
- Maior adequação dos cuidados de saúde às necessidades específicas das
pessoas idosas;
- Promoção e desenvolvimento intersectorial de ambientes capacitadores da
autonomia e independência das pessoas idosas.
Associado à existência de uma responsabilidade política em relação ao
envelhecimento populacional, é fundamental reencontrar um espaço em
que a co-responsabilidade civil também seja envolvida e considerada, o que
se pretende como missão do modelo de “aldeias lar”.

9
Com a materialização do modelo de “aldeias lar” pretende-se atingir os
principais objectivos:
- Dotar da Vocação de “Aldeia Lar”, algumas vilas e aldeias do interior,
nomeadamente na área de influência do EFMA;
- Criar nas aldeias lar as condições necessárias ao acolhimento de idosos
Portugueses e Europeus;
- Criar serviços de apoio\saúde para os idosos residentes em aldeias e vilas
do interior serviços estes de valor acrescentado;
- Requalificar casas devolutas colocando-as na rede de aldeias lar;
- Promover actividades lúdicas e de ocupação para os idosos;
- Criar condições de permanência de familiares e amigos dos idosos
residentes (alojamento, alimentação, actividades – visando promover a
visita dos familiares aos seus idosos)
- Contrariar com o modelo de “aldeias lar” o processo de despovoamento a
que as regiões do interior do País estão sujeitas;
- Garantir a qualificação e fixação de jovens no interior, qualificação esta
orientada para serviços de apoio\saúde e cuidados a idosos;
- Dignificar o idoso;
- Possibilidade de interagir com outras unidades de “aldeias lar” que se
venham a constituir em Portugal ou noutros Países europeus;
- Promover a interacção dos idosos que venham a residir nas aldeias lar,
com a comunidade local, estimulando desta forma as débeis economias
locais.

10
6. CONCLUSÃO

Criar competitividade no “Espaço Alqueva” na fileira do Turismo é um dos


grandes desafios que a região enfrenta no sentido de se afirmar como um
destino de turismo sustentável, que se pretende pautar pela melhor
valorização dos seus recursos endógenos e pela afirmação dos seus critérios
de diferenciação. É neste contexto que a incrementação do modelo de
“aldeias lar” aporta de igual forma valor regional, pela melhor valorização
de algumas das suas aldeias e vilas em processo de despovoamento,
dotando-as por esta via de uma vocação, a de “aldeias lar”, contribuindo
por esta via para um melhor ordenamento do território, criação e
qualificação de emprego, criação regional de riqueza, bem como de
respostas sociais ajustadas às necessidades.

Em complemento e como factor acelerador, importa ainda referir que não


se deve ignorar o facto de Espanha e da região do Algarve serem fronteiras
naturais com o Alentejo, bem como destas regiões serem atravessadas, pelo
Rio Guadiana (elemento comum), existindo actualmente no Algarve
enorme capacidade de instalação hoteleira, a qual pode desde já ser
utilizada na melhor articulação entre os territórios, pela promoção e
valorização de oportunidades em torno do turismo sustentável e das
aldeias lar, que a área de influência do EFMA (Empreendimento de Fins
Múltiplos de Alqueva) pode oferecer. Desta forma não só se promove um
novo conceito de turismo cada vez mais valorizado, bem como se geram
novas oportunidades para o sector turístico algarvio. Por último, a
existência em Beja de um novo aeroporto internacional, cuja pista permite
a aterragem de aeronaves de grande dimensão (voos intercontinentais),
pode funcionar como um complemento ao aeroporto de Faro e potenciar

11
desta forma, a promoção turística do sul do País nos mercados Asiáticos, da
América do sul e da América do norte.

12
REFERÊNCIAS
AGENDA PARA UM TURISMO EUROPEU SUSTENTÁVEL E
COMPETITIVO (COM (2007) 621 final

BUTLER, R. W. (1980) “The concept of a tourist área cycle of evolution:


implications for management of resources”, in Canadian Geographer, nº 24.

http://www.edia.pt

http://www.eprogress.pt

RELATÓRIO DO GRUPO PARA A SUSTENTABILIDADE DO


TURISMO (2007)
Plano de Acção para um Turismo Europeu mais Sustentável

Palavras-chaves: Aldeias- Lar; turismo sustentável; Visão e planeamento


estratégico; EFMA; Alqueva; Gestão criteriosa de recursos; Coordenação/
integração sectorial; Sustentabilidade; Valorização/ preservação/
conservação ambiental e patrimonial; competitividade; Eficiência
energética; Desenvolvimento; Investimento

13

Você também pode gostar