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SUGESTÕES DE TEMAS
2. PARTIDOS POLÍTICOS;
3. MOVIMENTOS SOCIAIS;
6. OS DIREITOS HUMANOS;
7. ARTE ENGAJADA;
8. POLÍTICAS PÚBLICAS;
9. IDEOLOGIA POLÍTICA;
24. ARRECADAÇÃO;
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33. REPRESENTAR CONTRA ILEGALIDADE, OMISSÃO E ABUSO DE PODER;
36. SINDICÂNCIA;
41. PENALIDADES;
44. NULIDADE;
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53. AÇÕES ELEITORAIS;
63. A BIOMETRIA;
69. COMPETÊNCIAS;
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74. JUNTA ELEITORAL;
86. OBJETO;
88. FONTES;
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94. INELEGIBILIDADES; NULIDADES.
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114. SANTO AGOSTINHO E SANTO TOMÁS DE AQUINO;
117. O RENASCIMENTO.
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132. CLAUDE LEFORT E OS CONCEITOS ABERTOS.
145. COMPETÊNCIAS;
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153. SISTEMAS ELEITORAIS;
162. OBJETO;
164. FONTES;
170. INELEGIBILIDADES;
171. NULIDADES.
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173. AS REGRAS DEONTOLÓGICAS/MORAIS;
182. SINDICÂNCIA;
187. PENALIDADES;
190. NULIDADE;
210. INVESTIDURA;
213. OS CONSELHOS;
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214. PODER JUDICIÁRIO;
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234. AS FUNÇÕES E AS DIMENSÕES DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS;
247. OBJETO;
250. CLASSIFICAÇÕES;
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253. CONSTITUIÇÕES RÍGIDAS E FLEXÍVEIS – ESTABILIDADE OU
ALTERABILIDADE;
266. O ADCT;
268. A ESTRUTURA;
269. AS AMBIGUIDADES;
271. LACUNAS;
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272. MÉTODOS PARA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL;
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290. ÂMBITO DE PROTEÇÃO;
291. RESTRIÇÕES;
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307. ESPÉCIES/FORMAS DE INCONSTITUCIONALIDADE;
309. AÇÃO/OMISSÃO;
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327. HIPÓTESES DE CABIMENTO E DE NÃO CABIMENTO DA
RECLAMAÇÃO CONSTITUCIONAL.
343. INVESTIDURA;
346. OS CONSELHOS;
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347. PODER JUDICIÁRIO;
362. ADMINISTRATIVO;
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367. OUTROS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS;
375. NEOCONSTITUCIONALISMO;
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402. OUTROS DOCUMENTOS INTERNACIONAIS EM PROL DA DEFESA DA
CRIANÇA.
418. PROINFÂNCIA;
419. PROJOVEM;
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420. PROJOVEM TRABALHADOR;
424. PRONASCI;
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439. ESTRUTURA DO CONSELHO TUTELAR;
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460. OS DIREITOS DE PERSONALIDADE DO EMPREGADO EM FACE DO
PODER DIRETIVO DO EMPREGADOR
467. LICITAÇÕES
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479. RESPONSABILIDADE CIVIL DAS EMPRESAS DE ÔNIBUS E DO
TRANSPORTADOR CLANDESTINO
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ARTIGOS
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Posições e divisões na Ciência Política brasileira
contemporânea: explicando sua produção acadêmica
RESUMO
ABSTRACT
This article represents a preliminary, exploratory study of the history of Brazilian Political
Science. We seek to aid in the identification of the historical roots underlying the two
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principles upon which the division of academic production in contemporary Political
Science is based: the continuums marked by the relationships between theory-empirical
reality and between the political- the societal. We begin with a theoretical scheme that
has been used to interpret the history of Brazilian political science. We then take
advantage of this presentation to discuss certain important empirical issues, particularly
those of a conceptual order. We then go on to present our research hypothesis, put
together in reference to this schema, in order to provide a direction for historical
explanation. Finally, through our hypothesis and making use of bibliographic evidence,
we suggest a tentative interpretation. This interpretation turns around the following
axes: the processes of institutionalization and autonomization of the field of Political
Science, divided into two types: cultural (values, theories, methods etc.) and institutional
(referring to the institutionalization of the discipline) autonomization, involving a conflict
that is more or less explicit between different perspectives in Political Science.
RESUME
I. INTRODUÇÃO
Este trabalho é parte de uma pesquisa que tem por objetivo fazer uma "radiografia" do
campo da Ciência Política brasileira contemporânea, identificando sua estrutura, e
elaborar uma explicação desta, identificando fatores responsáveis por gerá-la. Tratando-
se de um longo e complexo empreendimento, dividimo-lo em duas etapas: a primeira, de
caráter predominantemente descritivo, consiste em identificar e descrever
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estatisticamente a estrutura da 'fração superior' da produção acadêmica1 da Ciência
Política brasileira contemporânea2; a segunda, de caráter predominantemente
explicativo, além de expandir o alcance descritivo da primeira, incluindo as principais
instituições acadêmicas, propõe uma explicação para a situação identificada.
Gráfico 1
Para isso, em primeiro lugar apresentamos o esquema teórico utilizado para interpretar a
história da Ciência Política brasileira; a "lente" utilizada para decodificar os documentos
consultados e atribuir significado a eles. Aproveitamos tal apresentação para discutir
algumas questões teóricas importantes, especialmente de ordem conceitual. Em segundo
lugar, apresentamos a hipótese de pesquisa, construída à luz daquele esquema, a fim de
fornecer uma direção para a elaboração de uma explicação histórica. Enfim, com essa
hipótese em mãos e utilizando algumas evidências bibliográficas, antecipamos uma
interpretação provisória. Essa interpretação baseia-se nos seguintes eixos: o processo
de autonomização do campo da ciência política, dividido em dois tipos, a
autonomização cultural (de valores, teorias, métodos etc.) e a institucional (que se refere
ao processo de institucionalização da disciplina), que envolve um conflito mais ou menos
declarado entre distintas visões de ciência política.
É essa idéia de "dinâmica interna e externa" que nos é fundamental. Grosso modo,
analisar a dinâmica internaconsiste em analisar o arranjo institucional sobre o qual o
campo se sustenta, a estrutura de agentes que o povoam e o conteúdo dos bens
simbólicos (valores; constructos sociais) correntes. Analisar a dinâmica externa, por sua
vez, consiste em analisar as relações com outros campos - relações que podem ser
de dependência(heteronomia) ou de independência (autonomia). Dá-se atenção àqueles
campos que, acredita-se, relacionam-se com o campo em questão (e. g., o da ciência
política), potencialmente influenciando-o. O terceiro passo consiste em articular a
dinâmica interna com a externa, no intuito de reproduzir teoricamente os movimentos
que ocorrem no interior dessas divisões sociais. Supõe-se que o que ocorre "dentro"
depende do que ocorre "fora", em função do grau de autonomia (ou heteronomia) do
campo em questão.
Assim, Leca defende que uma análise adequada da ciência política francesa precisaria
considerar as relações entre esta (seu "mercado" e sua "produção cultural") e (1) o
campo da ciência política internacional; (2) o "sistema nacional de pesquisa" do qual
depende (por meio de vínculos e constrangimentos institucionais); (3) os "bens culturais
gerais", especialmente o "campo intelectual" e (4) o campo político propriamente dito.
O raciocínio por trás da proposta de Leca pode ser aplicado ao caso brasileiro. Pensa ele
existir um "mercado" de ciência política, que este possui uma lógica ("economia")
específica, e que esta, por sua vez, está ligada a outros mercados que a influenciam,
podendo, no limite, depender deles. Acreditamos que esses princípios também se
apliquem ao caso da ciência política7 brasileira, variando, obviamente, a configuração de
campos com os quais ela relaciona-se (ou relacionou-se) e, possivelmente, a forma que
essas relações tomam (ou tomaram) ao decorrer do tempo. Variação esta que se daria
historicamente.
Uma tarefa dessa magnitude supera os recursos da primeira etapa. Por isso, utilizamos a
proposta de Leca para construir hipóteses de alcance mais limitado. Buscamos pensar
nos campos com os quais se relacionou a Ciência Política brasileira, em suas
circunstâncias específicas, e que contribuíram de alguma forma para determinar o que
ela é hoje. Assim, prestamos atenção (1) às relações entre frações estratégicas da
Ciência Política, à luz das influências de outras disciplinas acadêmicas, e (2) às
influências propriamente políticas, manifestadas por aquelas frações em seus
posicionamentos intelectuais e acadêmicos.
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Uma palavra quanto ao sentido em que empregamos esses termos. Institucionalização é
o processo de estabelecimento de regularidades sociais, isto é, procedimentos tácitos ou
explícitos (codificados) que orientam a ação dos indivíduos, tais como regras, normas e
valores sociais. Em uma linguagem mais técnica, "princípios de visão" e de "divisão"
(BOURDIEU, 2003, p. 229-231). As organizações (corpos hierarquizados de funcionários
especializados) são formas burocratizadas de instituições. Autonomização é o processo
de institucionalização, adicionado das características da especificidade e irredutibilidade:
instituições que passam progressivamente a obedecer a uma lógica específica. E outras
palavras, que passam, progressivamente, a 'refratar', 'reprocessar' constrangimentos,
influências ou estímulos de campos externos.
A nosso ver, há, pelo menos, duas importantes dimensões responsáveis por dar forma à
produção acadêmica da Ciência Política, sendo imprescindíveis para compreendermos sua
trajetória, sua história.
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Da segunda dimensão poderiam derivar n elementos potencialmente relevantes. No que
se refere à ciência política, achamos que ela compõe-se especialmente (1) de diferenças
relativas ao método e ao estilo de pensamento e (2) da ordem de fatos mobilizada para
explicar ou descrever o objeto. No que se refere ao primeiro elemento, podemos
mencionar diferenças de abordagem como a escolha de métodos quantitativos,
qualitativos ou ambos, e, dentro deles, de técnicas específicas; a predileção por um
determinado referencial teórico, um determinado autor; por uma abordagem de caráter
mais empírico ou mais teórico; por um determinado estilo, como o ensaístico, erístico ou
formal11, para mencionar alguns. Considerarmos esse conjunto de características na
hipótese de pesquisa e na análise histórica. Por enquanto, vamos ater-nos ao segundo
tópico.
Algo muito importante para a Ciência Política são as relações que se estabelecem entre a
definição do objeto e a escolha da ordem mobilizada para abordá-lo - o que nos conduz à
questão da "autonomia" concedida, pelo analista, a seu objeto de estudo.
Em primeiro lugar, é preciso sublinhar que tanto o objeto como a ordem são,
concretamente, conjuntos de fatos de uma determinada natureza. A única - e importante
- diferença reside em que, enquanto o objeto éabordado (o que se quer explicar ou
compreender) a ordem é o que se utiliza para abordar (o que explica ou o que permite
compreender).
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Na ciência política isso toma uma proporção singular, porque o objeto nem sempre é
tratado, também, como a ordem por meio da qual se faz a análise. Assim, duas frações
de cientistas políticos que estudam o mesmo objeto - a política institucional, por exemplo
-, podem analisá-la a partir de ordens diferentes: a partir da própria política institucional,
tratando como "variável independente", por exemplo, os arranjos institucionais (sendo o
objeto, neste caso, autônomo) ou a partir de fatores externos (heterônomo). Neste
último caso, poderíamos pensar em abordagens que tratam os fatos da política como
manifestações de fatores econômicos, psicológicos ou "societais" (isto é, externos à
política). Aliás, algumas visões de ciência política referem-se explicitamente ao que
chamam de "autonomia do político", em especial aquelas íntimas de abordagens
'politológicas', como a neo-institucionalista14. É desta questão que trataremos agora.
Para dizer se o "político" está sendo tratado como "autônomo", em uma determinada
abordagem ou visão de ciência política, é necessário distinguir o objeto "político"
da ordem "política". O motivo é que, no caso da ciência política, eles não
necessariamente se confundem.
Ora, a definição do objeto precede a escolha da ordem, pois esta são os fatores que o
implicam. Sendo assim, a definição do objeto está, de alguma forma, contida na escolha
da ordem. Não se trata de sugerir que a ordem explicativa/compreensiva escolhida pelo
analista é pré-determinada quando o objeto é definido - mas que este pode condicionar a
ordem mobilizada e, mesmo, influenciar a maneira como o analisa relaciona a ordem ao
objeto.
A implicação disso para avaliar a "autonomia do político" é que, sendo autônomo o objeto
que consistir em sua própria ordem, ao variar a definição do objeto, varia
automaticamente a ordem que deve ser considerada para julgar seu grau de autonomia.
Desse modo, a autonomia de um objeto deve ser avaliada por sua relação com a ordem.
Assim, alguém pode dizer que determinado cientista político (ou abordagem) ignora a
"autonomia do político" quando tal cientista define "político" de forma diferente. Em sua
definição, o objeto "político" pode configurartambém uma ordem, autodeterminando-se -
sendo, portanto, autônomo15. Por exemplo: se "político" for um determinado tipo de
idéias e se o fator analítico estiver nelas próprias (sua estrutura semântica, por exemplo)
então o objeto é autônomo, pois não se está mobilizando uma ordem de fatores externos
ao fato: o fato é seu próprio fator. Analogamente, se "político" forem relações de força
entre grupos, e se o fator analítico forem essas relações agonísticas, então o objeto é
tratado, na verdade, como autônomo. Analogamente, quem define "político" como a
política institucional pode acusar esses acadêmicos de ignorarem a "autonomia do
político", quando estes tratam de coisa diferente ou mesmo ignoram-na, sejam quais
forem as razões. Então, o que se estaria acusando, na verdade, seria tal desinteresse
pela política institucional - e o conflito referir-se-ia a uma questão do objeto legítimo da
ciência política, em vez da maneira de abordá-lo16.
Por isso, quando falamos em 'societalista' e 'politicista', é preciso indicar a que nos
referimos: ao objeto (e.g.: 'societalista' por ser exterior à política institucional;
'politicista' por ser a política institucional) ou à ordem('societalista' por desconsiderar a
política institucional como fator analítico; 'politicista' por considerá-la). Portanto, a saída
é (1) estabelecer o objeto referencial que define "político" e (2) especificar a ordem em
função de sua posição (de influência ou causalidade) em relação ao objeto.
Tomamos a política institucional como referencial por acreditamos que ela desempenhe
um papel efetivo na organização do campo de produção da Ciência Política brasileira
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contemporânea - é elemento definidor do contínuo politicismo-societalismo. As definições
de societalista e politicista adotadas podem ser assim sintetizadas:
Figura 1
Sintetizemos o desenvolvimento até aqui. Tendo em vista o que precede, achamos que a
ciência política (brasileira e americana, pelo menos) depende de dois elementos: 1) a
definição de "político", do objeto de estudo e, dentro deste, do foco de análise; 2) a
maneira de abordar o objeto. A nosso ver, esses elementos estão na base das dimensões
que organizam efetivamente a produção acadêmica da ciência política brasileira (os
contínuos "empírico-teórico" e "politicismo-societalismo"), ainda que a determinação de
quem ou o quê assumirá tal ou qual posição dependa de fatores específicos, variáveis
historicamente, que abordaremos nos tópicos a seguir.
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Assim, a nosso ver, a escolha de determinado objeto e a escolha da maneira de abordá-
lo (e, nesta, a eleição de tal ou qual ordem de fatos como fatores explicativos), do ponto
de vista das determinações propriamenteacadêmicas, dependem da formação acadêmica
(sociólogo, economista, psicólogo, jurista, cientista político etc.) e da posição teórica
(culturalista, marxista, comportamentalista etc.) dos agentes (indivíduos, grupos,
frações), consideradas inclusive diacronicamente (i. e.: suas trajetórias). Além desses
condicionantes internos ao campo acadêmico, dependem também dos posicionamentos
propriamente políticos que tomam os cientistas políticos. Assim, do ponto de vista das
determinações políticas, se são liberais, comunistas, socialistas, socialdemocratas,
republicanos etc.
Lipset defende que, até então18, a trajetória acadêmica e cultural da Ciência Política
dependeu de sua relação com outras ciências humanas. Tudo deriva da questão da
"autonomia da política", ou seja, do próprio objeto de estudo: a política obedece a "leis"
próprias, isto é, ela autodetermina-se, ou depende das leis da economia, da psicologia ou
da "sociedade"? De onde deriva: deve a Ciência Política desenvolver um instrumental
teórico e metodológico próprio ou deve ela aplicar os modelos e esquemas de outras
ciências?
Assim, no fim do século XIX até meados da década de 1920, a Ciência Política norte-
americana estaria próxima da História, da Filosofia e do Direito, em especial, alemães.
Nos termos do referencial teórico que adotamos, essa proximidade seria de heteronomia,
especialmente de tipo cultural20. Havia departamentos de Ciência Política, uma disciplina
com esse nome e um objeto e objetivos delimitados. A visão de mundo que os cientistas
políticos mobilizavam para estudar a política, contudo, provinha daquelas disciplinas. O
método21 predominante era de caráter histórico, o estilo, o ensaístico. O foco das
atenções era o "Estado". Metodologicamente, não se distinguia entre conhecimento
positivo e conhecimento normativo. A Ciência Política, aliás, deveria ter como
finalidade educar os cidadãos, dentro dos valores democráticos; era vista, pelos próprios
cientistas políticos, como uma forma de melhorar a democracia norte-americana.
Posteriormente, essa "fase" ficaria conhecida como "institucionalista".
Assim, no caso americano, a Ciência Política parece oscilar, no decorrer de sua história,
entre a História, a Filosofia, a Economia e a Sociologia (nos casos de heteronomia) e
posições que defendem o desenvolvimento de teorias e métodos próprios (no caso de
autonomia).
Figura 2
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Em síntese, interpretando a tese de Lipset à luz do esquema de Leca e do
desenvolvimento teórico precedente, poderíamos especular que a produção acadêmica da
Ciência Política, organizada em torno de visões de ciência política concorrentes,
dependeria de (1) sua proximidade cultural, isto é, seu grau de autonomia segundo a
dimensão simbólica, em relação a outras ciências humanas e sociais, cujos fatores
seriam a formação acadêmica e a posição teórica e (2) de influências políticas
(transmitidas pelos cientistas políticos).
Como buscaremos mostrar, a ciência política brasileira também se relacionou com outras
áreas do conhecimento de modo a determinar sua dinâmica interna e as características
de sua produção acadêmica. Acreditamos que a heteronomia em relação às "ciências
sociais", e, especialmente, à Sociologia, em primeiro lugar, e em relação ao Direito e à
Filosofia, em segundo, tenha contribuído decisivamente para fazê-la ser o que é25.
Acreditamos que essas relações dêem-se, aliás, dentro do próprio campo da Ciência
Política brasileira: os agentes que carregam e transmitem características de outras
disciplinas constituem a própria Ciência Política, por causa do baixo grau de autonomia
desta - ligado, provavelmente, à sua prematuridade. Achamos que essas oposições intra-
acadêmicas estejam ligadas a profundas diferenças referentes às visões de ciência e de
ciência política de cada grupo ou fração.
É a partir dessa óptica que buscamos analisar a história da ciência política brasileira, na
busca pelas razões da forma atual de sua produção acadêmica. A seguir, apresentamos a
hipótese de pesquisa que direciona a interpretação histórica.
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Acreditamos que a organização do campo de produção da Ciência Política brasileira
contemporânea, apoiada nos contínuos empírico-teórico e politicismo-societalismo, tenha
sido produzida por pelo menos três visões de ciência política concorrentes, próprias de
certos "grupos" e frações de cientistas políticos e sociais também concorrentes26, as
quais se desenvolveram no interior do campo acadêmico brasileiro, a partir de sua
institucionalização, e agremiaram-se progressivamente em um campo de Ciência Política
relativamente autônomo (do ponto de vista institucional) - algo que, inclusive, ajudaram
a constituir. Essas visões estariam condicionadas por outras três ordens de fatores mais
ou menos inter-relacionados que, por sua vez, influenciariam a ação dos grupos
envolvidos na construção da Ciência Política. A primeira, propriamente acadêmica,
consiste nas relações (de autonomia-heteronomia) entre a Ciência Política e o
pensamento político e outras ciências humanas (especialmente, sociais). A segunda,
propriamente intelectual, consiste em oposições teóricas e metodológicas. A terceira,
propriamente política, compõe-se pelas oposições entoadas por motivações e
constrangimentos políticos, mais ou menos transfigurados em oposições acadêmicas e
intelectuais.
A primeira dessas visões define-se pela figura do intelectual interessado pela política e é
a nosso ver herdeira dos intelectuais brasileiros das décadas de 1930 e 1940 que
dedicaram parte de suas vidas à reflexão de temas políticos, entre os quais poderíamos
citar Oliveira Vianna, Francisco de Oliveira, Alberto Torres, Azevedo Amaral, Nestor
Duarte, Pontes Miranda, entre outros (LAMOUNIER, 1982, p. 413; KUMASAKA &
BARROS, 1988a, p. 1-6). Apesar das profundas diferenças políticas entre eles, eram
marcados por semelhanças relativas a seuhabitus intelectual. Em vez
de especialistas ou profissionais são, antes de tudo, eruditos, a meio-caminho entre a
filosofia, as letras e a política propriamente dita. A nosso ver, esses intelectuais
contribuem para a constituição da Ciência Política pelo menos em duas frentes. Em
primeiro lugar, disseminam no campo intelectual brasileiro um interesse específico por
temas políticos, acumulando um corpo de conhecimento que influenciaria futuros
estudiosos, como os intelectuais do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) e,
por meio destes, o grupo de mineiros formados no curso de Sociologia e Política da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)27, entre as décadas de 1950 e 1960,
influenciando, assim, futuros responsáveis pela constituição de um campo de Ciência
Política institucionalmente autônomo. Podem ser vistos, portanto, como precursores da
Ciência Política brasileira. Nesse sentido, defende Bolívar Lamounier: "Essa tradição ou
'estoque' anterior de pensamento político tem, a meu ver, uma importância decisiva para
se compreender as características adquiridas pela Ciência Política que se vai aos poucos
institucionalizando. Não só existe entre ambas uma notável continuidade como,
sobretudo, parece-me possível afirmar que o prestígio dessa tradição legitimou (e,
talvez, exerceu certo efeito limitativo e canalizador sobre) o desenvolvimento da Ciência
Política, a partir de 1945. Sem esta referência histórica, parece-me difícil explicar porque
a Ciência Política - aliás as Ciências Sociais, de um modo geral - continuaram a se
expandir, após 1964, sob condições de acentuado autoritarismo político" (LAMOUNIER,
1982, p. 409).
Em segundo lugar, contribuem para a formação de uma visão de ciência política marcada
por uma posição acadêmica relativamente indiferenciada e subjetivamente próxima da
filosofia, baseada na figura do intelectuale do erudito, herdeira do habitus intelectual dos
intelectuais precursores. A obra dos adeptos desta visão contribuiria para instilar no
campo da Ciência Política um conjunto de disposições intelectuais que favoreceriam a
adoção de definições mais amplas e vagas de "político" e de abordagens eminentemente
teóricas. Assim, certos elementos presentes na Ciência Política contemporânea, como as
abordagens idealistas28 (a hermenêutica e a teoria democrática, por exemplo) e áreas
teóricas como a de Teoria Política teriam sido importadas para o campo e auxiliado sua
constituição, e renderiam o capital simbólico que rendem por causa da presença daquele
conjunto de disposições ligadas à figura do intelectual, ajustadas, por sua vez, a esses
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elementos. Trata-se, portando, de uma visão que não reivindica ou estimula a
autonomização cultural da Ciência Política, por (1) não focar a política institucional e/ou
(2) por considerar ordens externas a ela para explicar ou descrever o objeto, mantendo a
Ciência Política culturalmente heterônoma em relação a outras ciências sociais ou a
outras disciplinas das Humanidades - ainda que tenha contribuído para sua
autonomização institucional.
A nosso ver, a Ciência Política estabelece-se enredada com outras ciências humanas,
especialmente a Sociologia, em que várias disciplinas e regiões interdisciplinares das
"ciências sociais" aumentavam seu interesse por assuntos "políticos", incorporando uma
tradição de pensamento político que tem suas raízes nos letrados da época do Estado
Novo. Estimulada pela crescente importância desses assuntos no interior das "ciências
sociais", no decorrer da década de 1960, com a radicalização ideológica (FORJAZ, 1979,
p. 12; ARRUDA, 1995, p. 162-167 e p. 200-211; TRINDADE, 2005, p. 94-97), a Ciência
Política inicia sua institucionalização a partir da década de 1970 com as ações levadas a
cabo pelo 'grupo' de mineiros e cariocas do "eixo" UFMG-Iuperj que, inseridos naquele
processo geral de valorização do "político", são pioneiros na criação de espaços
institucionais e acadêmicos dedicados especificamente à Ciência Política32. Forma-se,
assim, um campo institucionalizado de Ciência Política em torno de um
grupo interessado na autonomia institucional e cultural dessa disciplina, que não se
vincula a ela somente por empatia de objeto e que defende (1) a pesquisa empírica, com
proeminência quantitativa, (2) a institucionalização de um conjunto de práticas e
disposições científicas e, em menor grau, (3) a autonomia do "político", geralmente da
política institucional.
Profundas diferenças políticas também viriam a contribuir para essas oposições, já que o
'grupo' mineiro-carioca abandona as posições políticas de esquerda radicais (i. e.,
marxistas, comunistas) em um momento em que essas posições fortalecem-se (décadas
de 1960 e 1970). Por outro lado, também durante as décadas de 1960 e 1970, a
primeira e a segunda visões tomariam em geral posições mais radicais, favorecendo o
comunismo ou tipos específicos de socialismo, manifestando sua intimidade com o
marxismo então em alta. O apoio da Fundação Ford à constituição da Ciência Política
como disciplina específica e a incursão de um modelo "empirista" de ciência social eram
vistos por grande parte do campo como "imperialismo" norte-americano (LAMOUNIER,
1982, p. 423; MICELI, 1990, p. 17-28). O fortalecimento do obscurantismo e de posições
anticientíficas - movimento acadêmico-intelectual correlato aos movimentos políticos em
curso - no campo das ciências sociais só teria contribuído para fortalecer uma oposição
que é, ao mesmo tempo, acadêmica, metodológica, teórica e política.
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verificadas na produção acadêmica contemporânea, a saber, o contínuo empírico-teórico
e o contínuo politicismo-societalismo. Estariam na base, aliás, de muitas das correlações
estatísticas identificadas entre essas dimensões propriamente teórico-acadêmicas e
dimensões extra-acadêmicas - a política, por exemplo, como sugerem as relações entre
"tomar a democracia liberal como objeto de estudo", "politicismo" e "apresentação de
evidências empíricas", de um lado, e "não tomar a democracia liberal como objeto",
"societalismo" e "tendência a não apresentar evidências empíricas", de outro. O campo
da Ciência Política dividir-se-ia, então, (1) entre posições favoráveis à visão stricto
sensu de Ciência Política - institucionalmente e culturalmente autônoma - e posições que
abordam o que definem por "político" a partir de abordagens de outras disciplinas, que
"importam" à economia simbólica do campo institucional da Ciência Política (mais ou
menos politicistas ou societalistas); (2) entre posições mais favoráveis a abordagens e
áreas empíricas e mais favoráveis a teóricas. Em um extremo do contínuo, estão as
posições que associam o politicismo (de ordem e de objeto) ao empirismo, mais
próximas do mainstream Ciência Política norte-americana e herdeiras do "grupo" de
mineiros e cariocas do "eixo UFMG-Iuperj", no outro, as que associam o societalismo (de
ordem e de objeto) ao teoricismo, mais próximas da Filosofia, da História e da Sociologia,
próprios da tradição européia de reflexão política; havendo uma série de combinações
intermediárias entre esses extremos36.
Assim, acreditamos que por meio das relações acadêmicas do "grupo" mineiro-carioca,
pode-se lançar luz sobre as relações da Ciência Política, em seu processo de
autonomização, com outras ciências sociais. Sucederia, pois, uma oposição a visões e
abordagens que a seu ver falhariam em perceber a especificidade do "político" (em
especial, o fato de que ele seria, também, uma ordem) e que ignorariam a política
institucional (não somente do ponto de vista científico, como um objeto interessante,
mas também sua capacidade de produzir efeitos sociais pertinentes). Em especial, a
sociologia paulista e suas orientações "durkheimiana" e (crescentemente) "marxista"
inviabilizariam, de partida, a possibilidade de uma Ciência Política autônoma37.
Na próxima seção tentamos articular visões e grupos para relacionar campos de idéias a
campos de agentes, tornando-os mais inteligíveis, além de ilustrar algumas
características dos posicionamentos daí derivados, cujas diferenças, a nosso ver, estão
na base das oposições acadêmico-intelectuais do campo. Antes, contextualizaremos
sucintamente a Ciência Política brasileira na ciência política internacional.
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Poderíamos dividir a história da ciência política brasileira em três períodos. O primeiro,
da década de 1920 a meados da década de 1940, define-se pelo estudo não acadêmico e
não especializado da política. Trata-se de uma época em que eruditos e letrados
pensavam e escreviam sobre temas políticos sem estarem vinculados a uma estrutura
acadêmica ou universitária. Durante esse período não existe, na verdade, um campo de
Ciência Política, mas um campo de produção que tratava de temas "políticos". O segundo
período, da década de 1940 a meados da de 1960, aproximadamente, define-se pela
institucionalização do campo acadêmico brasileiro e, com ele, do estudo dos temas
políticos. O terceiro, a partir de 1969, pela criação dos primeiros programas de pós-
graduação em Ciência Política, marcando o início de seu processo de autonomização
institucional, em que se institui, de fato, um subcampo acadêmico próprio dessa
disciplina no interior do campo acadêmico brasileiro.
A visão de ciência política que chamamos de 'relativa à figura do intelectual', têm suas
raízes nos intelectuais da primeira metade do século XX, cujos trabalhos são muitas
vezes referidos como "pensamento político brasileiro". A nosso ver, vários elementos de
seu habitus intelectual seriam herdados por acadêmicos de ciências sociais, e, por meio
destes, transmitidos ao campo da Ciência Política, à medida que se entronizava no
campo de produção das "ciências sociais", favorecendo a adesão a abordagens e temas
de caráter teórico e ao estilo ensaístico no próprio campo de produção de Ciência Política.
Compreender esses elementos e como eles foram sendo transmitidos (e transformados)
ao longo do tempo deve ajudar-nos a entender a presença atual de disposições e valores
intelectuais, filosóficos e literários no campo da Ciência Política. Ainda que fazê-lo
integralmente supere os limites deste artigo, abordaremos a questão em um sentido
exploratório, apontando um caminho a seguir.
E quanto à situação dos "intelectuais" precursores das "ciências sociais" brasileiras: "O
período de 1920 a 1945 foi extremamente significativo para o surgimento de uma ciência
social avant la lettre. Os intelectuais entram na cena pública com a publicação de uma
série de ensaios em que propõem reformas políticas. Essa geração, que transformou o
papel cultural e político das oligarquias tradicionais, se 'confrontou com uma república
incapaz de dar corpo político à Nação'" (idem, p. 74-75).
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A situação desses "intelectuais" brasileiros assemelha-se a uma espécie de produtor
cultural (de literatura, filosofia, historiografia etc.) politicamente engajado, à maneira do
"intelectual total" francês, da figura do "erudito", do pensador eclético que se aventura
em vários domínios do conhecimento; alguns, mesmo, poderiam ser classificados como
membros de uma intelligentsia, no sentido reconstruído por Luciano Martins (1987).
Poucos documentos são tão valiosos para reconstruir-se o habitus dessa classe de
pensadores como a entrevista de Evaristo de Moraes Filho concedida a Hiro Barros
Kumasaka e Luitgarde Barros, em 8 de março de 1988. A certa altura, a entrevista passa
a versar sobre a história do antigo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, abordando as características, personalidade e destinos de
alguns de seus quadros. Uma passagem especialmente significativa, para nossos
propósitos, é quando Evaristo é indagado sobre Rui Coelho: "Luitgarde - No caso da
resposta do professor Rui Coelho, trata-se então de um erudito e não de um professor.
Não lhe parece?
Evaristo - Não. Nada impede que o professor seja um erudito ou que um erudito seja
professor. Uma mesma pessoa pode fazer mais de um curso superior ou dedicar-se a
mais de um campo de estudos, para não chegar àquele caso extremo do especialista,
que sabe cada vez mais de cada vez menos... Eu próprio, para dar meu exemplo -
sempre antipático, segundo Pascal... - fiz os cursos de Direito e de Filosofia. Nesses
cursos tive oportunidade de estudar, não só filosofia propriamente dita, como: Psicologia,
Lógica, Estética, Ética, Economia, Sociologia, Psicologia Educacional, Administração
Escolar, Didática Geral e Especial. O universo de interesses foi bem amplo" (KUMASAKA
& BARROS, 1988a, p. 26).
"Hiro - Mas o senhor exerceu Direito, isso é que espantou nessa entrevista.
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Hélio Jaguaribe - É verdade. Veja bem, a colocação é incorreta. Deveria dizer que, no
período que procedeu meu ingresso à Universidade, eu ainda não tinha uma preocupação
com consciência social. Comecei a vida intelectual pensando que iria ser escritor e
voltaria um pouco para a poesia e para a coisa literária. No final da adolescência esse
interesse transformou-se em interesse filosófico. Confesso que, no fundo, eu sou um
filósofo e espero voltar a uma cogitação filosófica nos anos de minha velhice. Mas,
circunstâncias várias, problemas no Brasil, desafio da compreensão de porque nós
funcionamos mal (como quem nasce em uma família de loucos tem tendência para ser
psiquiatra, quem nasce em sociedade subdesenvolvida e está angustiado com isso, tem
tendência à ciência social), isso me levou, a partir da minha formação jurídica - que,
naquele tempo, muito mais que hoje, era muito sociológica - a entrar na ciência social.
Mas eu tinha a preocupação de ter uma vida não miserável e poder combinar uma vida
razoável, de classe média, com uma vida intelectual. Então, a advocacia me abriu esse
caminho. Comecei minha carreira prática com a advocacia. [...] Isso me permitiu, nesse
tempo, financiar meus projetos, a revista 'Cadernos do Nosso Tempo'. Isso me deu,
enfim, essa entrada na vida pública" (KUMASAKA & BARROS, 1988b, p. 25-26).
"Luitgarde - Professor, do que eu ouvi, seria um equívoco eu entender que toda a sua
apropriação do conhecimento do mundo tem sido pela via teórica?
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"Luitgarde e Hiro - E como o senhor encara uma afirmação que tem sido feita,
geralmente pelo pessoal intelectual do Rio, de que era um intelectual só com intenção de
influenciar decisões, mas não preocupado com a institucionalização da prática científica?
Hélio Jaguaribe - Isso depende... O ISEB teve de tudo. Eu, pessoalmente, inclusive, sou
extremamente interessado em filosofia, tenho uma parcela da minha obra dedicada
exclusivamente à filosofia. Tenho um grande interesse em teoria social, em teoria do
desenvolvimento. Meu livro Desenvolvimento político e desenvolvimento econômico é um
livro totalmente teórico. Meu estudo Introdução à sociedade não repressiva é um livro
teórico. Minha produção teórica é grande, não sou de nenhuma maneira infenso à teoria.
Mas, por outro lado, essa minha angústia de contribuir para a modificação da sociedade
me leva a achar que tem tantas pessoas que estão na vida teórica pura, que há
suficiente espaço para aqueles que pensam a realidade contemporânea e a problemática
teórica com uma certa vista à transformação social" (idem, p. 18).
A nosso ver, tal gosto aristocrático pela cultura e pelas idéias é decisivo nos
posicionamentos metodológicos, epistemológicos e teóricos assumidos, como, por
exemplo, a distância ou mesmo desprezo pela pesquisa empírica ou pelo rigor lógico e a
atração por meios de produção mais espontâneos, individuais (teoria defulano;
estilo de sicrano) e carregados de virtudes espirituais, sendo, pois,
simbolicamente rentáveis em um universo social marcado pela distinção.
Tal visão humanística do trabalho intelectual seria "importada" para o campo acadêmico,
a partir de meados da década de 1930, e iria ajustar-se progressivamente a princípios de
organização e de avaliação do trabalho e a valores propriamente acadêmicos, formando
uma espécie de campo acadêmico-intelectual, próprio da área da filosofia e das ciências
humanas (ARRUDA, 1995; MICELI, 2001; PEIXOTO, 2001; JACKSON, 2007a; 2007b).
Sendo a autonomização de um campo acadêmico uma condição necessária para o
surgimento de um campo de Ciência Política relativamente autônomo e, com ele, de uma
forma mais profissionalizada, especializada e mesmo científica de estudo de temas
políticos, do ponto de vista da formação de um campo específico de Ciência Política,
acreditamos que essa visão da ciência política tenha contribuído em pelo menos duas
frentes: 1) instituindo uma forte tradição de pensamento e reflexão política, que se
transfere ao campo acadêmico e estimula a formação de novas posições acadêmico-
intelectuais especialmente interessadas em temas políticos; 2) a problemática do Estado-
nação, forte entre 1930 e 1950, colocaria o "Estado" no centro das atenções do
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pensamento político brasileiro, abrindo caminho para o estatismo, manifestado em
posições como os marxismos gramsciano e estruturalista (FORJAZ, 1997, p. 7), e, por
meio deles, para a "autonomia do político" e o "politicismo" (de ordem e objeto), próprio
da Ciência Política strictu sensu, como as abordagens neo-institucionalistas. Além disso,
impinge algumas marcas no campo de produção da Ciência Política, em função da
proximidade social e cultural deste em relação ao campo acadêmico-intelectual das
"ciências sociais", no qual se cria e do qual se destaca. Assim, do ponto de vista teórico-
metodológico, tal visão também estimulariadiretamente a constituição de posições
"teoricistas" e "societalistas" (de ordem e objeto) no campo de produção da Ciência
Política.
Assim, ainda que a Ciência Política só aparecesse como tal na USP em 1974, temas
políticos passam a constituir as principais preocupações do grupo de sociólogos ligados à
cátedra de Sociologia I, de Florestan Fernandes. Curiosamente, a própria trajetória
intelectual de Florestan parece retratar o movimento intelectual geral que marcou o
campo das ciências sociais: inicia a carreira próximo da sociologia francesa, do
funcionalismo e do estruturalismo; interessa-se por temas etnológicos e posiciona-se
como um adepto de uma sociologia rigorosamente científica; progressivamente
aproxima-se de Marx e de Weber até, finalmente, elaborar uma espécie de sociologia
aplicada, de esquerda, profundamente preocupada com os problemas socioeconômicos
que afligiam o país (ARRUDA, 1995, p. 175-181). Florestan reúne em torno de sua
cátedra um grupo de sociólogos que realiza estudos em regime semi-profissional (idem,
p. 194). À medida que transcorrem os estudos, o marxismo torna-se a orientação de
maior influência (associado a certas pitadas de Weber) e, juntamente com os novos
temas de estudo, manifesta-se um deslocamento vigoroso de uma sociologia mais
gnosiológica e culturalista em direção a uma sociologia econômica e política. A formação
dos projetos de pesquisa "A empresa industrial em São Paulo" e o ambicioso "Economia e
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sociedade no Brasil" (JACKSON, 2007a, p. 122), entre outros, é um indício significativo
disso, bem como a produção do grupo, subseqüente a 1961, quando Fernando Henrique
Cardoso e Octávio Ianni defendem suas teses de doutorado, a qual se volta a problemas
estruturais da sociedade brasileira responsáveis por seu "subdesenvolvimento" (ARRUDA,
1995, p. 200-206).
No Rio de Janeiro, a reflexão política ligada às "ciências sociais" é anterior à USP, talvez
pela ausência da orientação sociológica acadêmica e durkhemiana, proeminente nesta
até a década de 1960. No bojo do processo de institucionalização das "ciências sociais",
cria-se em 1953 o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (Ibesp),
reformulado em 1955 quando passou a se chamar Instituto Superior de Estudos
Brasileiros (ISEB). Os temas políticos propriamente ditos vigoravam no ISEB. Ainda
assim, o que se fazia do lado carioca lembra pouco o que se entende hoje por Ciência
Política: à maneira dos pensadores políticos do começo do século, os isebianos
produziam ensaios de teoria social e doutrinas político-econômicas, elaboradas para
produzir ou orientar a ação política (JAGUARIBE, 1979). Alguns autores apontam,
inclusive, para a proximidade do ISEB (e de outras instituições universitárias cariocas,
como a Universidade do Brasil) com o poder político federal, sugerindo a primazia do
comprometimento ideológico sobre a liberdade acadêmica e científica (MICELI, 2001, p.
113-114). Fato ou não, parece ser verdade que o ISEB não estava comprometido com a
formação e autonomização de um campo acadêmico de Ciências Sociais, sendo mais uma
espécie de intelligentsia39, ao contrário do que ocorrera paralelamente na USP40.
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O período que se inicia com a institucionalização nacional da pós-graduação no campo
acadêmico brasileiro é marcado pelo aprofundamento da autonomização institucional da
Ciência Política, por meio da criação de programas de mestrado e doutorado específicos,
em que se institui, de fato, um subcampo acadêmico próprio dessa disciplina. A questão
da autonomia cultural (teórica, metodológica, de objeto), contudo, continuaria um
impasse, conservando-se posições desfavoráveis a ela, inclinadas à manutenção dos
vínculos de dependência cultural com outras ciências humanas e sociais. Não havendo,
portanto, consenso quanto à visão de ciência política que defina e distinga a disciplina.
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Assim, fora do eixo Rio-São Paulo e já em fins da década de 1950, algo relativamente
próximo de uma concepção atual de Ciência Política já era feito nas faculdades de Direito
e de Economia da UFMG. A Revista Brasileira de Estudos Políticos (RBEP), vinculada à
Faculdade de Direito e liderada por Orlando de Carvalho, publicou trabalhos de estudos
eleitorais, partidários e de análise institucional que em certa medida antecipam as
abordagens "politicistas" da Ciência Política contemporânea, mas a partir da óptica do
Direito Constitucional (LAMOUNIER, 1982, p. 417-418; FORJAZ, 1997; ARRUDA, 2001, p.
329).
Ainda que os mineiros tenham se oposto ao grupo de Orlando44, julgamos ser provável
que essa tradição de estudos, na qual eles inseriam-se, tenha contribuído para sua
predileção pela política institucional, a adesão a abordagens "politicistas" e o
posicionamento favorável à Ciência Política autônoma, depositando predisposições que
floresceriam com a pós-graduação na Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais
(Flacso) e nos Estados Unidos45. Assim, em um dos lados, temas políticos são tratados
estritamente à luz do Direito, implicando, teoricamente, uma "ciência política" totalmente
dependente deste. Do outro, a presença do Direito é menor, abrandada pela tradição
sociológica, além da presença de disciplinas econômicas e de administração. A nosso ver,
essa situação manifesta, no interior de uma só instituição, a situação ambivalente da
ciência política e o germe do aprofundamento de sua autonomização. Do outro lado, as
influências sociológicas46 e o pertencimento a uma posição acadêmica e profissional
ligada à "sociologia política" estimularia esses acadêmicos a distinguirem-se do Direito47.
Processando o objeto político oriundo de uma abordagem jurídica a partir de influências
sociológicas e econômicas, o desenlace seria a inclinação a uma Ciência Política de feição
contemporânea e a uma visão "politicista" (de objeto) desta, enfatizando a política
institucional.
"Os nossos contatos intelectuais, que procuravam acentuar mais a análise política, eram
no Rio de Janeiro. O eixo era Minas-Rio. As revistas de Minas, a Brasileira de Estudos
Políticos e a Brasileira de Ciências Sociais tentavam publicar gente do país inteiro, mas
quem atraía mais a atenção era o pessoal do ISEB. Como Guerreiro Ramos e Hélio
Jaguaribe, que tinham muito o que dizer enquanto cientistas políticos"
(Lamounierapud FORJAZ, 1997, p. 13).
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Wanderley Guilherme dos Santos (Stanford University), Simon Schwartzman (University
of California, Berkeley), Antonio Octávio Cintra (Massachusetts Institute of Technology),
Bolívar Lamounier (University of California, Los Angeles), Renato Boschi (University of
Michigan), Gláucio Ary Dillon Soares (Washington University St. Louis) e José Murilo de
Carvalho (Stanford University), para mencionar alguns. Com a exceção de Gláucio, que
se doutora em Sociologia, todos o fazem em Ciência Política. Retornariam ao Brasil
prontos para tomar uma posição entre a elite do campo das ciências sociais, combatendo
as posições "anticientíficas" estabelecidas no campo - em especial, o marxismo. A nosso
ver, são as experiências na Flacso e nos Estados Unidos, somadas ao interesse em
política (em especial, a política institucional), que aproximariam cariocas e mineiros,
além da emigração de mineiros para o Rio de Janeiro no decorrer da década de 1970 -
em especial para o Iuperj - em virtude de problemas com o estabelecimento do
Departamento de Ciência Política na UFMG (ARRUDA, 2001, p. 321 e p. 362-365),
fortalecendo os laços.
A tomada de posição dos cientistas políticos mineiros e cariocas não decorre somente de
suas trajetórias acadêmicas: encontram condições objetivas propícias para realizar-se.
Em 1968 inicia-se um extenso processo de reforma do sistema universitário brasileiro e
um vigoroso programa de expansão da pós-graduação, em que as ciências sociais, antes
pouco consideradas pelas agências governamentais de fomento, passariam a ganhar
cada vez mais espaço, tanto no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), que em 1964 passara a ser a instituição responsável por formular a
política científico-tecnológica nacional, como na Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (Capes), além de outras agências regionais, como a Fapesp. É
também na segunda metade da década de 1960 que a Fundação Ford, estimulada pelo
cenário político internacional de escalada da influência acadêmica e política do marxismo
e do comunismo, implantaria um amplo projeto de financiamento às ciências sociais na
América Latina e, em particular, no Brasil (MICELI, 1990; 1993; 2001; REIS, 1993).
Desconfiada das tendências ideológicas da Sociologia (não por menos, dado o
crescimento vigoroso do marxismo na academia latino-americana nos anos 1960), a
Fundação Ford focaria a Ciência Política e a Antropologia, em especial por tratarem-se,
então, de disciplinas pouco institucionalizadas no país. Tratou-se de uma oportunidade de
exportar os padrões americanos de organização do trabalho acadêmico e científico e suas
abordagens teóricas e metodológicas (MICELI, 1990; 1993) a campos acadêmicos
incipientes, ainda que, ao que parece, não ter exercido pressão sistemática para
controlar as orientações políticas e o pensamento dos grupos e instituições financiados48,
em parte, como sugere Miceli, pela orientação mais "liberal" do escritório latino-
americano, que se distinguia da matriz, mais "conservadora" e politicamente preocupada.
Assim, a Ford não só financiaria os doutoramentos de vários integrantes do 'grupo'
mineiro-carioca, como financiaria suas iniciativas no campo institucional, injetando
dinheiro no programa de mestrado em Ciência Política da UFMG (criado em 1969), no do
Iuperj (também em 1969), além de financiar o Centro Brasileiro de Análise e
Planejamento (Cebrap) (criado em 1969; como se vê, é uma data-chave), o Centro de
Estudos de Cultura Contemporânea (Cedec) (de 1976) e o Instituto de Estudos
Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp) (de 1980), para mencionar os
principais. Além disso, há o já mencionado processo de radicalização ideológica
generalizado, ancorado em fatos políticos significativos (ditaduras de direita na América
Latina; golpe militar de 1964 no Brasil; Revolução Cubana; Guerra do Vietnã etc.), que
colocaria a política na ordem do dia - inclusive nos campos acadêmicos. Sem a expansão
da pós-graduação, o apoio da Fundação Ford e o próprio cenário político internacional
(que influencia a ação da Ford) não vemos como a posição acadêmico-intelectual do
grupo mineiro-carioca poderia ter se convertido em posições institucionais, sem as quais
não seria possível produzir a influência que produziriam com o "eixo" UFMG-Iuperj.
Essa oposição sistemática já se manifesta com clareza nos últimos números da Revista
Brasileira de Ciências Sociais49, em que os mineiros, de volta dos Estados Unidos, iniciam
seu posicionamento no campo, passando a assumir uma posição cada vez mais
cristalizada (ARRUDA, 2001, p. 338-339 e p. 354-356). Com o fim do periódico, em
1966, e o relativo insucesso do Departamento de Ciência Política na UFMG (idem, p. 321)
muitos mineiros migram para o Iuperj50, onde já estão importantes cientistas políticos
cariocas, como Wanderley Guilherme dos Santos, estabelecendo o "eixo" de intercâmbio
de pessoal e idéias UFMG-Iuperj. No Iuperj, por sua vez, é criado o principal veículo de
posicionamento acadêmico-intelectual do "grupo" mineiro-carioca, o periódico (com o
sugestivo nome) Dados. O "grupo" de cientistas políticos mineiros e cariocas ganha assim
uma expressão institucional, além das proximidades teórico-metodológicas e as
semelhanças acadêmicas que os aproxima no campo acadêmico e os une contra
adversários comuns.
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A posição de mineiros e cariocas transluz nos seguintes trechos, apontados contra o
marxismo (paulista). Começando pelo "cientificismo" e o "empirismo": "A idéia de
totalidade, como a encontrarmos desenvolvida e utilizada na produção sociológica
brasileira mais recente, e na forma pela qual tem curso nas discussões que se dão no
ambiente universitário ligado às ciências sociais, parece ter como fonte próxima as teses
de Gurvitch e/ou as teses marxistas. Haveria, também, uma certa correlação entre o
recurso heurístico à 'totalidade', 'método dialético' e os 'métodos intensivos' ou
'qualitativos' de coleta de evidências" (Antonio Octávio Cintraapud ARRUDA, 2001, p.
356).
Wanderley Guilherme dos Santos faz eco às objeções de Antonio Octavio Cintra, mas
referindo-se a um "certo" marxismo: "Dada a influência incontestável que o marxismo
exerce na produção latino-americana é oportuno assinalar que, entre os entraves ao
conhecimento sobre política na América Latina, encontra-se uma variante escolástica do
marxismo caracterizada, exatamente como o positivismo do século passado, pelo
onanismo conceitual, pela obsessão definicional, pelo fanatismo do dogma. Ao lado da
produção marxista de boa qualidade que, juntamente com outras correntes, tem
contribuído para o avanço do conhecimento sobre a realidade política latino-americana,
amontoam-se volumes e mais volumes, ensaios, revistas e opúsculos estritamente
ocupados em decifrar o verdadeiro sentido dos ensinamentos do mestre, em esclarecer
conceitos e em distribuir passes de entrada para o círculo dos iluminados e verdadeiros
marxistas" (SANTOS, 1979, p. 25).
Direcionando-se ao alvo principal, a USP, Bolívar Lamounier acusa a falta de atenção com
a política institucional. Embora a crítica também possa ser direcionada ao marxismo
uspiano, tendente a ignorar a política institucional, tanto como objeto quanto
como ordem, trata-se essencialmente de uma crítica à tradição sociológica francesa,
baseada em Durkheim: "Não se trata aqui de discutir o acerto ou não dessa orientação
geral dos estudos sociológicos da USP. Afirma-se apenas que ela teve como
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conseqüência um sociologismo às vezes exagerado, na medida que [sic] não dirigia a
atenção aos temas propriamente políticos, ou político-institucionais. Esta impressão é
confirmada por um rápido levantamento da produção de ciências sociais da USP. De 37
teses de doutoramento apresentadas durante o período de 1945 a 1964, [n]o máximo 13
poderiam ser classificadas como estudos de Ciência Política. Dessas 13, duas tratam dos
empresários; três versam sobre relações de trabalho e sindicatos; duas sobre educação e
movimentos estudantis; uma sobre movimentos messiânicos; duas sobre crescimento
econômico e intervenção estatal; três sobre a história do pensamento político. Como se
vê, nenhuma focalizou os partidos políticos, em que pese a riqueza, hoje reconhecida da
experiência pluripartidária iniciada em 1945; nenhuma tratou do sistema eleitoral então
adotado, de suas transformações e implicações, ou dos padrões de comportamento
eleitoral; e nem mesmo do papel dos militares ou da estrutura das instituições militares.
A leitora sobre partidos e representação política dos anos cinqüenta foi quase toda
produzida nas escolas de Direito ou por pesquisadores isolados, freqüentemente fora do
eixo São Paulo-Rio. O próprio fenômeno do ademarismo e do janismo, paulista por
excelência, embora chamasse imediatamente a atenção dos jornalistas e de alguns
sociólogos fora de São Paulo, não foi abordado pela sociologia paulista até meados dos
anos sessenta" (LAMOUNIER, 1982, p. 417-418; grifos no original).
Não se trata somente de uma oposição teórico-metodológica, mas uma discordância mais
profunda, que alcança os princípios do trabalho intelectual, manifestando uma visão
radicalmente oposta da própria ciência social e, com ela, de ciência política: "Por uma
série de motivos que não nos cabe agora analisar, a sociologia brasileira busca ainda o
rigor científico necessário ao seu progresso e à sua eficácia. O gosto pelo ensaísmo e o
divórcio entre a pesquisa empírica e as sistematizações teóricas têm prejudicado ambos
os momentos do trabalho científico. Já é hora, portanto, constatada a deficiência, de se
tentar contribuir para superá-la. No nível teórico essa superação pode ser tentada
abandonando-se a pretensão de construir esquemas conceituais muito amplos,
desvinculados de toda possibilidade de pesquisa empírica comprobatória, para se tentar a
formulação de teorias específicas sobre aspectos mais modestos da realidade social.
Tecnicamente, abandonar as teorias gerais para concentrar esforços na elaboração de
"teorias de alcance médio" (Vilmar Faria apud ARRUDA, 2001, p. 358; sem grifos no
original).
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Ângela de Castro Gomes e Maria Celina D'Araujo é extremamente esclarecedora a esse
respeito: "[Gomes e D'Araujo] - Sociedade e política no Brasil, ao sair, causou certo
impacto na academia. Era uma primeira sistematização do processo eleitoral no Brasil
durante um longo período.
[Gláucio] - Sim. Antes de ler, encontrei com Simon Schwartzman, e ele disse: 'É contra a
gente!' Simon também me criticava muito por ser pela sociologia política. Ele tendia a
privilegiar o político na explicação do político. Àquela altura já tinha publicado São Paulo
e o Estado Nacional,com a história das coalizões entre o Sul e Minas contra São Paulo. O
que a Maria do Carmo dizia era: 'Olha, vocês esqueceram os partidos. Tem partido aí'. E
a verdade é que nós esquecemos os partidos, sim. Mas ela não escreveu isso em um
sentido hostil, simplesmente afirmou isso, e era verdade. [...]
Como disse há pouco, quem foi muito crítico com o Sociedade e política no Brasil foi o
próprio Simon, mas pessoalmente, verbalmente. Mandei o livro para o Antônio O[c]tavio
Cintra, que é um fantástico crítico, para o Simon e para mais alguém para que fizessem
comentários, e o do Simon foi que se de via explicar o político muito mais pelo político.
'Pára com esse negócio de urbanização, industrialização, classe'. Acho que Simon estava
negando o passado marxista dele, uma negação que começou na Flacso, porque por um
tempo ele se entusiasmou com a perspectiva do Peter Heintz. O problema com o Olavo
foi o detalhe de que a unidade de análise não devia ser aquela, enquanto Simon dizia que
o enfoque estava errado. Não podia ser sociologia política e afirmar que era ciência
política" (Soares apud GOMES & D'ARAUJO, 2008, p. 340-341).
A unidade desse "grupo" de acadêmicos é notável, mas, com efeito, não se pode dizer
que o "grupo" mineiro-carioca ou o "eixo" UFMG-Iuperj era monoliticamente favorável a
uma visão de Ciência Política autônomaculturalmente, sendo, portanto, "politicistas" de
ordem e objeto, como mostra a discussão entre Gláucio Ary Dillon Soares e Simon
Schwartzman. Acreditamos ser consensual a visão favorável a uma Ciência
Políticainstitucionalmente autônoma, a valorização da pesquisa empírica (sendo esta
mais forte do que a predileção por métodos quantitativos, que a nosso ver existe, mas
não é consensual51) e a importância da política institucional. A exata medida em que esta
é considerada autônoma varia de autor para autor, variando, portanto, os
posicionamentos quanto à autonomia cultural da Ciência Política. Desse modo,
consideramos correta a idéia de que o "grupo" mineiro-carioca e o "eixo" UFMG-Iuperj
tenha contribuído para a autonomização institucional da Ciência Política, por meio da
criação de pós-graduações específicas e, em menor grau, para sua autonomia cultural,
pela atenção cedida à política institucional, não abordada antes pelas ciências sociais, a
qual, combinada com o sucesso acadêmico logrado pelo grupo, pelo Iuperj e por Dados,
abre um precedente que favorece ou mesmo estimula o estabelecimento de abordagens
e áreas temáticas da Ciência Política stricto sensu, como o neo-institucionalismo,
vinculadas a uma visão de autonomia total da Ciência Política - que, aliás, instituiu-se
com força inclusive na USP, a partir de 1974, com um departamento e um programa de
pós-graduação especificamente de Ciência Política e com importantes cientistas políticos
vinculados a uma visãostricto sensu de ciência política, como Fernando Limongi.
V. CONCLUSÕES
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No intuito de direcionar a pesquisa para uma explicação dos padrões e oposições
identificados na produção acadêmica da Ciência Política brasileira contemporânea,
elaboramos uma hipótese para identificar as causas dos contínuos "empírico-teórico" e
"politicismo-societalismo", que acreditamos serem os principais responsáveis pela forma
da produção acadêmica.
Essa hipótese afirma que a produção depende de um conflito entre visões de ciência
política, a saber, a visão relativa à figura do "intelectual", a relativa a cientistas sociais
"societalistas" e a relativa à autonomia institucional e cultural da Ciência Política. Essas
oposições, por sua vez, provêm de uma combinação entre a trajetória acadêmica e as
posições teórico-metodológicas assumidas, acrescidas a influências propriamente
políticas. Assim, a proximidade social e cultural com o campo intelectual ou determinado
campo acadêmico, com determinada disciplina ou área, cumpre um papel central na
visão assumida. Cada visão, por sua vez, por meio da ação dos "grupos" e indivíduos que
as carregam, produz efeitos distintos sobre o processo de autonomização da Ciência
Política, desestimulando-o ou favorecendo-o. Neste último caso, dividindo-se entre o
estímulo à autonomia institucional, cultural ou ambas.
Por fim, coloca-se uma importante questão, a nosso ver ainda não resolvida: se a
autonomia da disciplina depende da autonomia do objeto, como definir e tratar
o "político" na Ciência Política? E, caso não se acredite em sua autonomia, em que
medida faz-se necessária uma ciência da política institucionalmente e profissionalmente
destacada da Sociologia ou de outras ciências humanas?
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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OUTRA FONTE
1. INTRODUÇÃO
O controle de constitucionalidade representa um dos temas mais importantes do
constitucionalismo moderno, sendo de suma importância o seu estudo e o aprofundamento
acerca do tema, uma vez que a Jurisprudência do Direito Constitucional, ou seja, as decisões
proferidas pelo STF dizem respeito à atividade de controle da Constituição, tendo em vista à
proteção do disposto na Carta Magna. Nesse sentido, ao se trabalhar a questão do controle
preventivo de constitucionalidade no Brasil, vê-se que existe uma hipótese clássica para tal
controle, percebe-se que o controle feito pelo poder judiciário via de regra é um controle
repressivo, em que só se trabalha a possibilidade de retirada de uma norma do ordenamento
jurídico por inconstitucionalidade, uma vez que ela não está promulgada. Observam-se,
inclusive, precedentes mostrando que em ADI’s não há nem interesse de agir, é ação extinta
sem resolução de mérito, se ela é proposta antes do encerramento do trâmite do processo
legislativo. Mas, existe uma hipótese no nosso ordenamento em que isso é admitido, e já há
bastante tempo, que é o controle preventivo de constitucionalidade de emenda tendente a
abolir cláusula pétrea.
É mister fazer uma análise do mandado de segurança impetrado pelo Ministro Fux,
com relação à sua intervenção no âmbito do processo legislativo, interferindo em uma questão
interna corporis, e exigindo que haja um julgamento em ordem cronológica de todos os vetos
que o Poder Legislativo ainda não apreciou, antes que se toma alguma decisão com relação ao
veto da Presidente Dilma sobre os royalties do petróleo, por mais que seja uma questão mais
urgente e de uma importância mais acentuada.
2. DESENVOLVIMENTO
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Antes mesmo de analisar a decisão do Ministro Fux em si, faz-se importante realizar
uma pequena digressão na história jurisprudencial do STF, especialmente porque a questão
suscitada pelo Ministro já foi, anteriormente discutida pelo próprio tribunal, que teceu certo
entendimento sobre o assunto em pauta. A questão do controle preventivo de projeto de
emenda constitucional em mandado de segurança já foi analisada pelo STF, tendo em vista a
Constituição de 1967/69, através do Mandado de Segurança 20.257, proposto pelo Senador
Itamar Franco, onde o tribunal entendeu admissível a impetração de mandado de segurança
contra ato da Mesa da Câmara ou do Senado Federal, asseverando-se que quando “a vedação
constitucional se dirige ao próprio processamento da lei ou da emenda (...), a
inconstitucionalidade (...) já existe antes de o projeto ou de a proposta se transformarem em
lei ou em emenda constitucional, porque o próprio processamento já desrespeita,
frontalmente, a Constituição” [1].
Também aqui se afigura evidente que se cuida de uma utilização especial do mandado de
segurança, não exatamente pata assegurar direito líquido e certo de parlamentar, mas para
resolver peculiar conflito de atribuições ou "conflito entre órgãos".
Esse entendimento vem sendo seguido pelo Tribunal em diversos precedentes, o que
demonstra que se adota controle preventivo de constitucionalidade, na modalidade incidental
ou concreta. Trata-se de uma situação excepcional de controle preventivo de caráter judicial.
Hoje o STF tem uma visão um pouco mais aberta. O Mandado de Segurança para parlamentar
não é só para impedir tramitação de emenda constitucional tendente a abolir cláusula pétrea,
mas também para fazer muitas vezes um controle qualificado do processo legislativo em si,
seja o processo legislativo sancionador, por exemplo o processo administrativo ou tendente a
causar punição a parlamentar, seja o processo legislativo normal. E muitas vezes o que o STF
vai averiguar nesse mandado de segurança é se há violação à norma constitucional decorrente
da aplicação do regimento interno, e aí vai criar um devido processo legislativo, superando
um dogma antigo que é da intangibilidade das questões interna corporis das casas legislativas
no que diz respeito ao controle do poder judiciário. Sendo importante a indagação a respeito
de haver ou não essa intangibilidade.
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Lei que alterou a sistemática de divisão dos royalties do petróleo teve alguns dispositivos
vetados pela Dilma. Após o veto, deve ser feita uma nova deliberação pelo Congresso.
Acontece que há 3 mil vetos pendentes, então parlamentares do Rio de Janeiro (talvez por
estarem em posição que a mora na deliberação os favoreça) impetraram um mandado de
segurança perante o STF para que a votação ao veto à lei dos royalties só fosse realizada
depois que votassem os outros 3 mil pendentes, pois estão querendo votá-lo antes, de forma
incompatível com as disposições internas que disciplinam o processo legislativo.
Fux concedeu a liminar desse mandado de segurança, determinando que os vetos devam ser
analisados em ordem cronológica. Fux aduziu, sobre a possibilidade de análise judicial sobre
as disposições internas do Congresso: "É paradoxal que, em um Estado Democrático de
Direito, ainda existam esferas de poder imunes ao controle jurisdicional".
Segundo Fux, “a decisão não se referiu à votação de outras matérias, como, por exemplo, a
votação do Orçamento, para as quais a pauta não está trancada judicialmente”.
Porém, parlamentares do Espírito Santo (que têm objetivo semelhante aos parlamentares do
RJ - fazer com que o veto à lei dos royalties não seja votado tão rápido) impetraram um novo
mandado de segurança, também com pedido liminar, pois, segundo a notícia do site do
próprio STF, alegam que após a decisão liminar do Fux "foi engendrado um verdadeiro
contorcionismo" consistente na análise dos 3 mil vetos em uma só sessão e queriam combater
tal ato.
Outro ponto para analisar junto com esse MS diz respeito à decisão do Min. Fux, que deferiu
o pedido de liminar do MS 31816, entendendo que a CF, no art. 30, impõe que o Senado
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analise os vetos em ordem cronológica. Na decisão, "o ministro Luiz Fux entende ainda que a
alegação de que se trata de matéria interna corporis (de interesse apenas do próprio órgão) não
deve impedir a análise judicial da questão debatida. A liminar foi deferida para impedir que o
Congresso delibere acerca do veto parcial antes que analise, em ordem cronológica da
respectiva comunicação ao Congresso Nacional, todos os vetos pendentes com prazo
constitucional já expirado, observadas as regras regimentais pertinentes.
O novo MS foi para Lewandowski, que considerou não caber ao judiciário interferir nesse
tipo de questão, que é interna corporis do Congresso, então indeferiu a liminar (o ponto
crucial é que ele diverge da posição de Fux, o qual considera que cabe, sim, ao judiciário,
analisar tais questões). Lewandowski afirma que: “o regime republicano partilha o poder, de
forma horizontal, entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, que são independentes e
harmônicos entre si”. E invoca “remansosa jurisprudência” do STF no sentido de que as
matérias relativas à interpretação de normas regimentais do Congresso Nacional revestem-se
de natureza interna corporis, ou seja, devem ser resolvidas exclusivamente no âmbito do
Poder Legislativo”.
Como se sabe, a jurisprudência deste Tribunal firmou-se no sentido de que os membros das
Casas Legislativas do Congresso Nacional – e somente eles – possuem legitimidade para
impetrar mandado de segurança objetivando a defesa de seu direito público subjetivo à
participação de um devido processo legislativo constitucional.
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Isso porque, na linha desse entendimento, o parlamentar faz jus a não ver processada ou
submetida à deliberação proposição legislativa que incorra nas hipóteses em que o próprio
Texto Constitucional impõe óbices ao seu prosseguimento, pois, nesses casos, “a
inconstitucionalidade (…) já existe antes de o projeto ou de a proposta se transformar em lei
ou em emenda constitucional, porque o próprio processamento já desrespeita, frontalmente, a
Constituição” (MS 20.257/DF, Rel. Min. Moreira Alves).
II. - Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Ministro Moreira Alves (leading case), RTJ
99/1031; MS 21.642/DF, Ministro Celso de Mello, RDA 191/200; MS 21.303-AgR/DF,
Ministro Octavio Gallotti, RTJ 139/783; MS 24.356/DF, Ministro Carlos Velloso, 'DJ' de
12.09.2003.
III. - Inocorrência, no caso, de ofensa ao processo legislativo, C.F., art. 60, § 2º, por isso que,
no texto aprovado em 1º turno, houve, simplesmente, pela Comissão Especial, correção da
redação aprovada, com a supressão da expressão 'se inferior', expressão dispensável, dada a
impossibilidade de a remuneração dos Prefeitos ser superior à dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal.
Transcrevo, também por relevante, trecho da decisão proferida pelo Min. Celso de Mello nos
autos do MS 26.712/DF-MC-ED:
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“(...) A possibilidade extraordinária dessa intervenção jurisdicional, ainda que no próprio
momento de produção das normas pelo Congresso Nacional, tem por finalidade assegurar, ao
parlamentar (e a este, apenas), o direito público subjetivo - que lhe é inerente (RTJ 139/783) -
de ver elaborados, pelo Legislativo, atos estatais compatíveis com o texto constitucional,
garantindo-se, desse modo, àqueles que participam do processo legislativo (mas sempre no
âmbito da Casa legislativa a que pertence o congressista impetrante), a certeza de observância
da efetiva supremacia da Constituição, respeitados, necessariamente, no que se refere à
extensão do controle judicial, os aspectos discricionários concernentes às questões políticas e
aos atos 'interna corporis' (RTJ 102/27 – RTJ 112/598 - RTJ 112/1023).
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qualquer atuação do Poder Judiciário, eis que proibido de interferir na intimidade dos demais
Poderes da República.
Mais ainda, afirma o STF (MS 23.920/DF, Rel. Min. Celso de Mello) que a interpretação
incidente sobre normas de índole meramente regimental, por se qualificar como típica matéria
interna corporis, suscita questão que se deve resolver exclusivamente no âmbito do Poder
Legislativo, sendo vedada sua apreciação pelo Poder Judiciário.
Mas, segundo o ministro Lewandowski, “da simples leitura da Carta Maior depreende-se que
o limite constitucional imposto ao legislador derivado previsto em seu artigo 60, parágrafo 4º,
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que impediria, inclusive, a própria tramitação do processo legislativo em curso, diz respeito
tão somente a propostas de emenda ao texto constitucional”. No caso presente, entretanto,
conforme observou o relator, trata-se de “mero projeto de lei, não havendo falar, pois, de
aplicação do referido preceito à espécie”.
Por fim, o ministro observou que “em face dos estreitos contornos que caracterizam este
remédio constitucional (o MS), é imperativo que se demonstre, de maneira incontroversa, a
certeza e a liquidez do direito pleiteado, sob pena de incognoscibilidade do writ (processo). E
isso, segundo ele, não ocorreu no mandado de segurança apresentado. Nesse sentido, ele citou
decisão do STF no julgamento do MS 28882, relatado pelo ministro Gilmar Mendes.
3. CONCLUSÃO
Não se está dizendo que se tem que abandonar o judiciário e louvar o legislativo, mas sim
que também é preciso perder um tempinho para estudar o poder legislativo. E essa decisão do
Ministro Fux é importante porque leva a gente a perceber muitas vezes o que acontece quando
o judiciário entra muito dentro das entranhas do legislativo.
Agora só para dar um pouco de uma revisão dogmática sobre isso, quando o STF decidiu que
cabia mandado de segurança pelos parlamentares para discussão sobre a possibilidade de
tramitação de emenda constitucional tendente a abolir cláusulas pétreas, foi um raciocínio
bastante torto. O motivo pelo qual se pode afirmar isso é em que consiste a legitimidade que
um parlamentar tem que um cidadão comum não tem que o legitima a entrar com mandado de
segurança sobre isso, se o interesse de agir é a tutela do texto constitucional? Então, na prática
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o que se permite é um controle de constitucionalidade extremamente poderoso, que pode
muitas vezes ficar na mão de um parlamentar, e pode travar todo o Congresso Nacional.
Exemplo claro foi o do Ministro Fux em que dois parlamentares entraram com mandado de
segurança e pararam uma deliberação. Tal assunto suscita diversos questionamentos, entre
eles, será que é legítimo e viável apresentar um mandado de segurança que visa a essa
finalidade: parar uma determinada deliberação que está ocorrendo no Legislativo. Quando se
está falando de ADPF foi mencionado que o Ministro Gilmar tem uma proposta de que esse
tema seja afeto à ADPF, porque a ADPF tem uma profundidade de cognição muito maior.
Mandado de Segurança não admite produção de prova, a rigor não deveria admitir a
participação de amicus curiae, embora admita na realidade, não pode se fazer audiência
pública e, mais do que isso, você vulgariza demais a política, porque você faz com que um
parlamentar só consiga se sobrepor à vontade de todo o restante do parlamento. E diversas
vezes com a percepção de que em muitos casos é necessário que o processo legislativo tenha a
mesma racionalidade que o processo judiciário, o que não é bem assim. O Ministro Jobim
sempre falava que os dispositivos dos regimentos internos das Casas Parlamentares servem
para o dissenso. Com o consenso, passa-se por cima. Então, pode-se levar isso com uma
racionalidade pura e simples para o processo legislativo.
Portanto, pode-se concluir, a respeito da discussão da questão do caráter interna corporis que
é possível o controle judicial do processo de elaboração das espécies legislativas, desde que
instaurado por um dos membros do Congresso, em sede de Mandado de Segurança perante o
STF, sendo que esse controle não alcança os atos interna corporis, proferidos nos limites da
competência dos órgãos legislativos, com eficácia interna, ligados à continuidade e disciplina
dos trabalhos, sem que se alegue afronta formal à Constituição, exceto quando causarem lesão
ou ameaça de direito constitucionalmente assegurado.
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Benyam D. Mezmur
RESUMO
1. Introdução
Enquanto está em curso o debate a favor e contra a prática, o entendimento legal que
tem surgido é de que a adoção internacional deve ser usada como medida de último
recurso. O Comitê dos Direitos da Criança (Comitê CRC, sigla em inglês) reafirmou essa
posição ao concluir que "a adoção internacional deve ser considerada à luz do Artigo 21,
especificamente como medida de último recurso." (COMITÊ CRC, 2004, §47).
Organizações influentes como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o
Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) coincidem com essa
posição. De acordo com um dos princípios fundamentais que sustentam a prática da
adoção internacional – o princípio de subsidiariedade – a adoção internacional é prevista
apenas quando estabelecido que não há disponível nenhuma família substituta ou outro
ambiente de cuidado no país de origem da criança.
Embora tenha se tornado um lugar comum dizer que a adoção internacional deve ser
entendida como medida de último recurso, o que realmente isto significa (ou deveria
significar) e quais são suas implicações nas políticas e leis de bem estar da criança na
África são assuntos raramente pesquisados, sobre os quais existem poucas informações.
Esse artigo é uma modesta tentativa de contribuir para o preenchimento dessa lacuna.
Com esse propósito, vários tópicos apresentam-se para serem comentados: a adoção
internacional deveria ser categoricamente uma medida de último recurso? O que afinal
significa último recurso? Levando em conta o contexto sócio-econômico e cultural, cabe
questionar como o "último recurso" deve ser compreendido e implementado no
continente africano? Os membros da família biológica (pais e/ou família estendida)
podem invocar o requisito de último recurso para repudiar a adoção internacional mesmo
quando estiver claro que não é do melhor interesse da criança permanecer com a família
biológica? Possíveis pais dos países de origem da criança podem invocar o requisito do
"último recurso" para conseguir preferência categórica sobre, e acima qualquer
perspectiva, de pais adotivos estrangeiros? Países africanos podem resistir a qualquer
adoção internacional sob a alegação da força da identidade cultural do país de origem da
criança? Sem nenhuma ordem específica, esse artigo tenta abordar esses tópicos.
Acompanhado por recomendações preliminares, uma sessão conclusiva resume o
trabalho.
Sob o direito internacional, nem a Declaração dos Direitos da Criança de 1924 nem a de
1959, determinaram condições claras para o princípio de subsidiariedade no contexto de
cuidado alternativo para crianças privadas de seu ambiente familiar3. Entretanto, os três
instrumentos que fazem da adoção internacional tema de legislação internacional de
direitos humanos têm cláusulas ligadas ao princípio de subsidiariedade, incluindo a
adoção internacional. Esses instrumentos são a Convenção sobre os Direitos da Criança
(CDC), a Carta Africana dos Direitos e Bem Estar da Criança (ACRWC, sigla em inglês), e
a Convenção de Haia Relativa à Proteção das Crianças e à Cooperação em Matéria de
Adoção Internacional (Convenção de Haia).
Como identificado pelo Comitê CRC, os chamados "quarto pilares" da CDC conferem às
crianças o direito à não discriminação; direito a ter seus melhores interesses como
"consideração primária" em todas as ações relacionadas a elas; o direito inerente à vida;
e o direito daquela criança "que é capaz de formar seu próprio ponto de vista [...] a
expressar sua opinião livremente sobre todos os aspectos que afetem a criança." (CDC,
Art. 12). De acordo com o Artigo 21, a CDC procura assegurar, entre outras coisas, o uso
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padrão do princípio de "melhor interesse da criança". Na verdade, é válido notar que a
adoção é a única esfera amparada pela CDC na qual o melhor interesse da criança deve
ser a principal consideração4. A CDC considera apropriada a adoção internacional apenas
quando "a criança não pode ser colocada em uma família adotiva ou não pode, de
maneira alguma, ser amparada em seu país de origem." (CDC, Art. 21(b)). Também
existem outras garantias que a CDC não endereça diretamente à adoção, mas que ainda
assim possuem importantes implicações para a adoção internacional5. A CDC foi
ratificada por 193 Estados6.
Mesmo que a CDC e a ACRWC tratem sobre a adoção internacional, esses instrumentos
parecem ter uma visão bastante limitada e não muito clara de quando essa adoção é
apropriada. Entretanto, é importante mencionar a compatibilidade da CDC e da ACRWC
com a Convenção de Haia, que dá preferência a adoção no país de origem frente a
adoção internacional. Contudo, a preferência justificada pela CDC e pela ACRWC para
lares adotivos temporários no país de origem [no original, in-country foster care] e para
a institucionalização frente a adoção internacional é mais controversa, e parece estar em
contradição com a Convenção de Haia.
Visto que, sob o direito internacional, crianças privadas da convivência de suas famílias
devem se beneficiar de cuidado alternativo, como (para citar relevantes dispositivos da
CDC) "lares adotivos temporários, kafalah da legislação Islâmica, adoção ou, se
necessário, o encaminhamento para uma instituição adequada" (CDC, art. 20(3)), a
hierarquia a ser seguida e o lugar onde a adoção internacional deve figurar dentre essas
opções continuam pouco claros. Por exemplo, é a adoção internacional ou o
encaminhamento da criança aos cuidados de uma instituição que deverá ser considerada
como medida de "último recurso"? O que pode e deve realmente significar "último
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recurso" para o melhor interesse da criança? A adoção doméstica deve sempre ter
preferência sobre as outras opções de cuidado?
O provérbio que diz que "é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança" é mais
verdadeiro na África do que em qualquer outro lugar do mundo. Portanto, para o
contexto africano, reconhecer o papel da família estendida e da comunidade é ainda mais
pertinente. Como resultado, ao considerar a adoção internacional como geralmente
subsidiária, os esforços que reconhecem o papel da família estendida e da comunidade
para cuidar de suas crianças devem ser encorajados e apoiados.
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Entretanto, alguns proponentes da adoção internacional preferem uma interpretação
mais ampla à noção de adoção internacional como último recurso. Em alguns momentos,
encobertos pela desculpa de promover o melhor interesse da criança, esse grupo pode
ter facilitado os interesses de possíveis pais adotivos internacionais e preferido dar pouca
ou nenhuma importância à identidade cultural (SIMON; ALTSTEIN, 2000, p. 45-47). É
importante lembrar que essa definição mais ampla pode não ser utilizada para fazer da
adoção internacional um "primeiro recurso" e age como um facilitador para tornar a
criança disponível para adoção internacional antes de considerar soluções domésticas,
como a adoção.
Tal abordagem não estaria de acordo com as provisões da CDC e da ACRWC. Como
Woodhouse (1995, p. 114) nota, "[...] a cultura de origem, não importa o quão difícil sua
definição com lógica satisfatória, interessa à criança e, portanto, deve importar para a
legislação de adoção". Mesmo porque, no Artigo 20(3) da CDC lê-se que, quando
consideramos soluções de cuidados alternativos, "devidas considerações devem ser
levadas em conta no que tange a vontade de continuidade da educação da criança e de
seu histórico étnico, religioso, cultural e lingüístico".
Este argumento adiciona clareza à posição de que a cultura não pode, e não deve, ser
usada como cortina de fumaça para negar o direito de uma crianças de crescer em um
ambiente familiar, quando uma família só puder ser encontrada fora de seus país de
origem. Além disso, "está claro no texto do Artigo 20 que não existe nenhuma
responsabilidade absoluta para assegurar a continuidade ou que a decisão sobre a qual o
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cuidado alternativo que será escolhido esteja baseado no histórico da criança, mas
apenas que seja dada a 'devida consideração' para cada um desses fatores" (CANTWELL;
HOLZSCHEITER, 2008, p. 63). Entretanto, em contraposição, não resolve nada legislar
que "Estados-membros devam assegurar cuidados alternativos de acordo com suas leis
nacionais" (CANTWELL; HOLZSCHEITER, 2008, p. 63).
À nível regional, interessantemente, a ACRWC expressa que devem ser consideradas "as
virtudes de suas [dos Estados-membros africanos] heranças culturais, contexto histórico
e dos valores da civilização africana, que deveriam inspirar e caracterizar suas reflexões
sobre o conceito dos direitos e do bem estar da criança." (ACRWC, 7ª cláusula do
preâmbulo). Entretanto, mesmo que o Artigo 20(3) copie da CDC quase que palavra por
palavra, a ACWC omite a palavra "cultural" quando lista as informações do passado da
criança que deverão ser levadas em conta quando considerado o cuidado familiar
alternativo (ACRWC, Art. 25(3)). Nesse sentido, se o melhor interesse da criança tem
algum significado real, ou possa ser uma "consideração primordial" (CDC, Art. 21;
ACRWC, Art. 4), a preservação da identidade cultural deve ser entendida como meio e
não necessariamente como um fim em si próprio, quando considerado o cuidado
alternativo de crianças privadas de seu ambiente familiar.
As travaux preparatoires da CDC indicam que essa condição foi adicionada durante as
negociações em resposta às intervenções de vários países muçulmanos (particularmente
Bangladesh), já que as leis islâmicas não reconhecem o conceito de adoção (CENTRO
DAS NAÇÕES UNIDAS PARA DIREITOS HUMANOS, 1995, p. 16). Portanto, adoção
internacional como último recurso é indicativa de sua natureza subsidiária e, por
extensão, que a prática não é necessariamente uma prioridade, ou por esse mesmo
motivo não significa que seja necessariamente aceita como um meio alternativo de
cuidado. Em outras palavras, a não existência da adoção internacional, ou a suspensão
da mesma, em um Estado membro da CDC e/ou da ACRWC como um meio alternativo de
cuidado não poderia ser uma violação desses instrumentos.
Baseado nesse fato, pode-se discutir que a possibilidade de mover a adoção internacional
como uma medida de último recurso para uma medida de "nenhum recurso" é possível, e
algumas vezes necessário. Porém, tal possibilidade (e algumas vezes necessidade) deve
ser explorada apenas para promover e proteger os melhores interesses da criança, e não
prejudicá-los. Em outras palavras, o fato de não existir obrigação que permita a adoção
internacional como meio de cuidado alternativo também implica, mesmo que
remotamente, na possibilidade de suspender a prática quando o melhor interesse da
criança estiver comprometido. Portanto, existe a necessidade e possibilidade de impor
uma suspensão das adoções internacionais em momentos nos quais um país é afetado
por uma catástrofe ou quando irregularidades estão comprometendo os melhores
interesses da criança. Como exemplo, a República do Congo, que ainda enfrenta em
algumas partes de seu território violência e conflitos armados, anunciou que estava
suspendendo todas as adoções internacionais por causa dos eventos ocorridos no Chade
(SERVIÇO SOCIAL INTERNACIONAL – ISS, 2008a, p. 3). O Ministério do Bem Estar Social
do Governo de Zâmbia, o Governo de Togo e, apenas recentemente, o Governo da
Libéria também suspenderam as adoções internacionais (ISS, 2008b, p. 3). As razões
oficiais fornecidas para a suspensão da adoção internacional nesses três países foram: a
necessidade de garantia que a prática atenda o melhor interesse da criança, e para
desvendar as disfunções do sistema de adoção que têm potencial para violar os direitos
da criança (ISS, 2008b, p. 3).
Central a esse artigo é a tentativa de, senão como resposta à, ao menos para explorar os
possíveis significados e implicações do que é, e o que deveria ser, entendido por adoção
internacional como medida de último recurso. Além das observações preliminares, tal
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exploração, dentre outras coisas, requer: pesar os valores das outras opções de cuidado,
em particular, comparar a adoção internacional com institucionalização; olhar a posição
do Comitê CRC referente a este assunto; e, finalmente, recorrer às regras da justiça
juvenil para desenhar uma possível, mas remota, similaridade com a linguagem do
"último recurso" no contexto de privação de liberdade, e investigar se alguma direção é
viável para alcançar um melhor entendimento do conceito que quer tornar a adoção
internacional como um "último recurso".
Avaliada frente a essa lista, a adoção internacional preenche os requisitos dos dois
primeiros princípios, mas não do terceiro, enquanto os lares adotivos temporários
preenchem o primeiro e o terceiro, e muitas vezes não preenchem o segundo. O mesmo
não pode ser dito sobre a institucionalização15, já que esta medida não é nem baseada
na família, nem permanente (normalmente). Portanto, de acordo com estes princípios, a
adoção internacional e o lar adotivo temporário são invariavelmente considerados
subsidiários para qualquer outra solução prevista que corresponda aos três princípios –
em particular, a adoção doméstica. Entretanto, eles devem ser cuidadosamente pesados
contra qualquer outra solução que também encontre dois desses princípios básicos16, e
não devem ser automaticamente considerados excluídos em favor da institucionalização.
Essa abordagem se apóia no fato de que determinar o melhor interesse da criança não
pode ser restringido por fórmula legal mecânica ou através de um quadro hierárquico
rígido de opções de cuidado17.
Um ponto que merece destaque no contexto da adoção internacional (ou por esse
motivo, qualquer outra opção de cuidado alternativo) é o papel da participação da
criança. Como mencionado acima22, o direito da criança "capaz de formular seu próprio
ponto de vista […] e de expressa-los livremente em todos os assuntos que afetem a
criança" (Artigo 12 do CDC e Artigo 7º do ACRWC) é um dos quatro princípios
fundamentais de ambas as convenções, CDC e ACRWC. Dependendo do desenvolvimento
gradual da criança, e da opinião da mesma, existe a necessidade de se reconhecer que a
adoção internacional pode ser tanto uma medida de primeiro quanto de último recurso.
A qualificação das instituições como "adequado" encontra sua motivação nas experiências
globais durante e antes a redação da CDC. Desde 1980 a comunidade internacional
começou a progressivamente entender o efeito prejudicial da institucionalização de
crianças (HUMAN RIGHTS WATCH - HRW, 1996). Assim, os efeitos deploráveis da
institucionalização nos aspectos emocionais, psicológicos e do desenvolvimento da
criança são bem documentados (ZEANAH, 2003, p. 886-88; MARSHALL; FOX; BEIP Core
Group, 2004, p. 1327).
A questão de como a noção de último recurso deve ser interpretada quando a opção é
entre institucionalização e adoção internacional tem sido sujeito de minucioso exame
judicial. No recente caso da Madonna no Malaui25sobre a adoção de uma criança que
estava em um orfanato, a definição acordada de "último recurso" foi colocada em
destaque pela Suprema Corte. O juiz, após citar todo o Artigo 24(b) da ACRWC e
enfatizar a noção de último recurso de sua decisão, determinou que:
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Parcialmente baseado nessa argumentação, o juiz não deu provimento ao pedido de
adoção da criança.
Toda essa discussão tende a apontar em uma direção – existe uma crescente tendência
em apoiar a instituicionalização generalizada (e não necessariamente a adoção
internacional) como medida de último recurso. Enquanto a institucionalização deveria
continuar a ter um papel temporário, como plataforma de transição para crianças
privadas de ambiente familiar, seu uso como medida de longo prazo demanda sérias
considerações.
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4.3 "Último recurso" através das lentes do Comitê CRC: esclarecimento ou
confusão?
Para ilustrar: já foi mencionado acima que o Comitê CRC rotulou em inúmeras ocasiões a
adoção internacional como medida de ultimo recurso31. Em contraposição a essa posição,
através das observações conclusivas dos relatórios sobre os Estados membros, e no
Comentário Geral No. 3, intitulado "HIV/AIDS e os direitos da criança", o mesmo Comitê
declarou que:
[…] qualquer forma de cuidado institucionalizado para as crianças deveria servir apenas
como medida de último recurso, e essas medidas devem estar de total conformidade com
a proteção dos direitos da criança e salvaguarda-las de todas as formas de abuso e
exploração (COMITÊ CRC, 2003, § 35).
No contexto de crianças com deficiências, o Comitê CRC reiterou uma posição similar32.
Portanto, a posição do Comitê CRC no que tange à questão se "a adoção internacional ou
a institucionalização deverão ser consideradas medida de último recurso?" continua sem
resposta33. Neste meio tempo, entretanto, o Comitê CRC esclarece que a
institucionalização pode ser considerada como medida de último recurso. Também é
indicativo a necessidade do Comitê CRC em articular com clareza sua posição sobre o
assunto (talvez através de um Comentário Geral) e, assim, contribuir para a
compreensão dos Estados membros sobre qual o lugar da adoção internacional como
medida de cuidado alternativo.
4.4 Compreendendo o "último recurso": alguma lição pode ser extraída dos
princípios de justiça da infância e juventude?
Nenhuma criança deve ser privada de sua liberdade de maneira arbitrária ou ilegal. A
prisão, detenção ou aprisionamento da criança deve estar em conformidade com a lei e
deve ser usada apenas em medida de último recurso para o mais curto período de tempo
apropriado.
Para começar, entretanto, é pertinente considerar alguns tópicos gerais sobre o contexto.
Esmiuçar o significado e as implicações do critério do "último recurso" na esfera da
justiça da infância e juventude não presume que o propósito das buscas por cuidado
alternativo, por um lado, e a privação de liberdade como uma medida de último recurso
no contexto de justiça da infância e juventude, por outro, sejam os mesmos. Com base
nos chamados 3Ps (proteção, provisão e participação do CDC e da ACRWC), pode-se
afirmar que o primeiro – cuidados alternativos - seja melhor definido como uma
combinação de proteção e provisão, ao passo que o último – privação de liberdade - tem
a proteção como mantra. Em segundo lugar, frequentemente são as crianças menores as
mais afetadas pela adoção internacional, enquanto a justiça da infância e juventude é
dirigida para crianças mais velhas. Em terceiro lugar, a privação de liberdade é uma
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medida jurídica criminal enquanto a adoção internacional não é. Tirando essas
diferenças, tanto a busca por cuidados alternativos para crianças privadas de ambiente
familiar quanto a privação da liberdade como medida de último recurso no contexto da
justiça da infância e juventude, devem supostamente ser aplicadas de acordo com os
melhores interesses da criança. Tal igualdade – a promoção e proteção dos interesses da
criança – deve criar uma plataforma lógica e útil para a comparação.
O padrão para privação de liberdade como medida de último recurso requer que
consideremos "a intenção de privação de liberdade realmente como a última opção (sem
que haja outras alternativas que interfiram menos nos direitos da criança)." (SCHABAS;
SAX, 2006, p. 84). No cuidado alternativo, portanto, isso poderia significar recorrer à
adoção internacional quando este for considerado o último cuidado alternativo adequado,
após constatarem que não existam outras alternativas que se adaptem melhor à situação
da criança em questão. Apenas recentemente, em 2008, Lieffard argumentou que o
princípio do último recurso não implicaria que todas as outras alternativas devam ser
procuradas primeiro, antes que a privação de liberdade seja imposta34. Se "último
recurso" for interpretado da mesma maneira com relação à adoção internacional, ou
seja, se todas as opções de cuidado alternativo não forem necessariamente consideradas
primeiro e, se aquelas autoridades que exercem algum nível de deliberação ao acessar as
diferentes opções finalmente decidir qual dessas provavelmente terá o efeito desejado,
então o uso do termo parece manter seu potencial de promover o melhor interesse das
crianças que foram privadas de seu ambiente familiar.
5. Observações Finais
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internacional seja uma medida de último recurso, poderá dar aos Estados africanos
espaço para tratar a prática como tal.
Entretanto, enquanto nós africanos nos orgulhamos de nossa cultura, é importante que
os direitos individuais das crianças africanas não sejam atrapalhados por discussões
acerca do rumo da história, se a adoção internacional constitui "essencialmente um
vestígio do colonialismo", e discussões sobre orgulho nacional. Tendo nomeado crianças
como portadoras de direitos, nenhuma idéia de orgulho nacional ou de crianças como
"recursos" nacionais poderia ser usada para negar às crianças uma forma adequada de
cuidado alternativo, mesmo se tal cuidado adequado pudesse apenas ser encontrado na
adoção internacional. "Adoção internacional como uma medida de último recurso" deveria
ser entendida como "adoção internacional geralmente subsidiáriaa outro meio alternativo
de cuidado", mas sujeito a exceções. Além disso, "último recurso" não deveria significar
quando todas as outras possibilidades forem exauridas36.
A falta de uma fórmula clara no que tange à hierarquia das opções de cuidados
alternativos tem também seu próprio, entretanto não-intencional, lado positivo. Esse
argumento é validado pelo fato de que determinar o melhor interesse da criança não
pode estar circunscrito por fórmulas legais mecânicas ou através de uma rígida
hierarquia de opções de cuidados. Como discutido acima37, uma abordagem centrada
verdadeiramente na criança requer um exame próximo e individualizado da situação real
de vida da criança envolvida. Aplicar uma fórmula inflexível e predeterminada com o
único objetivo de prover uma diretriz clara, independentemente das circunstâncias,
poderia ser contrária aos melhores interesses da criança em questão.
Concluindo, deve-se ter precaução (incluindo certo grau de auto-restrição) para evitar o
uso indevido da expressão "último recurso", seja para promover os interesses dos
prováveis pais adotivos nacionais e internacionais, organizações de bem-estar da criança,
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seja para promover os interesses nacionalistas de um estado. Em outras palavras, as
necessidades políticas, sociais, culturais e econômicas do continente africano não entram
em conflito com os melhores interesses da criança africana que tenha sido privada do
ambiente familiar ou do devido cuidado alternativo. Portanto, onde a adoção
internacional for identificada como o melhor interesse da criança, deveria ser considerada
como um cuidado alternativo, independentemente do requisito de último recurso.
Estados devem ser prudentes para não fornecer provas às criticas daqueles que olham a
adoção internacional como uma operação que visa atender o interesse de uma família
que procura por uma criança, ao invés de atender ao interesse prevalente da criança que
esteja procurando por uma família.
AGRADECIMENTO
Parte da pesquisa utilizada para a composição deste artigo foi conduzida enquanto
bolsista (Short Stay Fellow) do Utrecht Centre for European Research in Family Law,
localizado no Molengraaff Institute for Private Law (Utrecht University). Gostaria de
destacar, portanto, que o artigo contou com subsídios da pesquisa financiada pela
National Research Foundation.
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NOTAS
1. Alguns países como Botswana, Malauí, Serra Leoa e Zâmbia possuem um requisito de
residência para possíveis pais adotivos.
7. Foi para dar à CDC aplicação específica dentro do contexto africano que a ACRWC foi
adotada pela OUA (agora União Africana ou UA)
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9. "A remoção da criança do cuidado da família deve ser visto como medida de último
recurso e pela menor duração possível. A decisão de remoção deve ser revista
regularmente e o retorno da criança aos cuidados dos pais deve ser assegurado quando
as causas originais de remoção tenham sido resolvidas ou tenham desaparecido."
(NAÇÕES UNIDAS, 2007, Art. 13)
10. Uma pesquisa sugere que o custo do cuidado em ambiente familiar residencial
demonstrou ser três vezes o custo da adoção em lares temporários (BROWNE, 2005, p.
1-12).
12. Veja, por exemplo, a entrevista com a Baronesa Emma Nicholson, Relatora do
Parlamento Europeu pela Romênia (CENTRUL ROMAN PENTRU JURNALISM DE
INVESTIGATIE - CRJI, 2001).
13. Esse período de tempo pode variar por várias circunstâncias, em particular, aquelas
relativas à habilidade de conduzir uma investigação adequada; entretanto, o processo de
procura deve estar completo dentro de um tempo razoável.
14. Veja o Artigo 22 da CDC e o Artigo 23 da ACRWC para checar alguns dos direitos das
crianças refugiadas.
16. Naturalmente, a solução encontrada, e o efeito que causará tal decisão, deve sempre
respeitar totalmente os direitos e o melhor interesse da criança.
17. AFRICA DO SUL. M. Corte Constitucional v Sentença Estadual. 26 set. 2007a, § 24.
23. Deve-se notar que normalmente são as instituições residenciais de cuidado para
crianças pequenas que são conhecidas como "orfanatos".
24. Por definição, grupo de casas são pequenas construções residenciais localizadas em
uma comunidade e projetadas para servir as crianças.
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25. MALAWÍ, ALTA CORTE. No caso de Ato de Adoção de Crianças CAP. 26:01 e no caso
de Chifundo James (uma menina) do C/O Mr. Peter Baeti. Caso de Adoção no 1 de 2009.
Sentença 2009a p.6
26. MALAWÍ, ALTA CORTE. No caso de Ato de Adoção de Crianças CAP. 26:01 e no caso
de Chifundo James (uma menina) do C/O Mr. Peter Baeti. Caso de Adoção no 1 de 2009.
Sentença 2009a p.6
27. MALAWÍ, ALTA CORTE. No caso de Ato de Adoção de Crianças CAP. 26:01 e no caso
de Chifundo James (uma menina) do C/O Mr. Peter Baeti. Caso de Adoção no 1 de 2009.
MSCA Apelação da Adoção no 28 de 2009. 2009b, p. 18.
28. Ibid.
29. Ibid
30. E ainda, pesquisa conduzida em 2006 encontrou que, na África, existe uma
preocupação crescente sobre a quantidade de novos orfanatos que estão sendo
construídos em resposta às necessidades identificadas de crianças afetada com HIV e
AIDS (NAÇÕES UNIDAS, 2006)
32. Sob o Comentário Geral n. 9, § 47, é estabelecido que o Comitê CRC "urge a todos
os Estados Membros a alocar em instituições apenas como medida de último recurso,
quando for absolutamente necessário e no melhor interesse da criança." (COMITÊ CRC,
2007b).
33. "Geralmente" porque são os casos convencionais (não excepcionais) que estão sendo
levados em consideração quando determinamos a preferência geral a ser adotada em
tomar decisões entre as opções de cuidado alternativos.
35. Para uma discussão de pobreza no contexto da adoção internacional, veja SMOLIN
(2007).
37. Veja a sessão "Entendendo o 'último recurso': Alguma lição dos princípios de justiça
juvenil?" acima.
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Recebido em: fevereiro de 2009.
Aprovado em: junho de 2009.
BENYAM D. MEZMUR
INTRODUÇÃO.
O Novo Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor em janeiro de 2003, está trazendo
profundas mudanças no Direito das Empresas e na regulamentação das sociedades em geral,
inclusive seus tipos societários, dentre eles a Sociedade por Quotas de Responsabilidade
Limitada, Conta de Participação, Nome Coletivo, Comandita Simples, Sociedade Anônima,
Comandita por Ações, Cooperativa e Dependente de Autorização.
Devemos expor nas observações do Prof. Benjamim Garcia de Matos, do curso de Direito da
UNIMEP, Piracicaba –SP, que "a revogação da primeira parte do Código Comercial de 1º de
junho de 1850, com a introdução do Direito de Empresa no novo Código Civil, é um avanço,
que merece destaque especial, até porque torna o comerciante um empresário voltado para a
atividade econômica, que é a nova leitura que se deve fazer nos tempos modernos ".
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ANTEPROJETO DO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO.
Em 1967, formou-se uma comissão, coordenada por Miguel Reale, que apresentou o
anteprojeto de Código Civil em 1972, em que há proposta de novo regime das sociedades
limitadas. Compunham a comissão os juristas: José Carlos Moreira Alves, encarregado da
Parte Geral; Agostinho de Arruda Alvim, incumbido do Direito das Obrigações; Sylvio
Marcondes, com o Livro do Direito de Empresa; Ebert Vianna Chamoun, incumbido do
Direito das Coisas; Clóvis do Couto e Silva, cuidando do Direito de Família; e Torquato
Castro, trabalhando o Direito das Sucessões. Segundo dados apresentados por Miguel Reale:
"O projeto de Código Civil foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 1984, após
cuidadoso estudo e debate de 1063 emendas, o que não deve causar estranheza por tratar-se de
uma lei com cerca de 2100 artigos. Além de haver muitas emendas repetidas, a maioria delas
não foi aceita pelo plenário. [1]"
Muita coisa mudou de lá para cá, conforme lembra Newton de Lucca: "É preciso reconhecer-
se, em suma, que os desafios de nossa época assumem aspecto tão preocupante e assustador,
que não deixa de soar curiosa e pitoresca a negação de que os valores da Parte Geral do
Direito Civil estejam em evidente fase de transformação, quando já não migraram para outras
paragens do Direito de que a Constituição da República é o melhor paradigma. [2]"
Textos relacionados
SOCIEDADE COMERCIAL.
O Título II trata da questão da sociedade (Arts. 981 á 985) onde " Celebram contrato de
sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para
o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados." [9] Com a unificação
do Direito Comercial com o Direito Civil, no Novo Código Civil Brasileiro, desaparece a
distinção entre sociedade civil e comercial. Neste desiderato, o Código contemplou a
existência das sociedades "não personificadas", divididas entre "sociedades comuns" e
"sociedades em conta de participação, e das "sociedades personificadas", divididas em
"sociedades simples" e "sociedade empresarial".
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SOCIEDADE NÃO PERSONIFICADA E SOCIEDADE EM COMUM.
No subtítulo I temos a figura da sociedade não personificada como a sociedade em comum
(Arts. 986 á 990) [10]. Alguns das restrições das sociedades não personificadas comuns já
estavam contempladas em leis esparsa. Assim, vedava-se-lhes que interpusessem pedido de
falência ou impetrassem concordata. Outrossim, sua escrituração não tinha força probante. E,
com a edição do novo Código Civil, restou consolidada a responsabilidade ilimitada e
solidárias dos sócios, perante a sociedade e terceiros, sequer lhes sendo de direito o uso do
benefício de ordem. Neste desiderato o artigo 990, que prevê: "Todos os sócios respondem
solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto
no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade."
SOCIEDADE SIMPLES.
No subtítulo II temos a sociedade simples (Arts. 997 á 1000) devendo "constituir-se mediante
contrato escrito, particular ou público, que, além de cláusulas estipuladas pelas partes" [12]. O
Código Comercial francês define a sociedade, com rigor e método, como um acordo de
vontades, isto é, como un "contrat" par lequel "deux" ou plusieurs personnes... Consagrou-se,
pois, com o alto prestígio do Código Napoleão e o apoio logístico deste, que a sociedade
supõe um mínimo de duas partes, porque nasce de um contrato, que, por sua vez, supõe uma
pluralidade de partes.
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ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE.
Na Terceira Seção temos a Administração da Sociedade (Arts. 1010 á 1021). Um grande
passo do legislador na elaboração do Novo Código Civil Brasileiro foi a criação do
administrador da sociedade comercial. A esse respeito, a Lei n.º 6.404/76 reserva os cargos de
administradores das sociedades para pessoas físicas, excluindo as pessoas morais. Devemos
expor que "Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por
crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou contra a
economia popular, contra o sistema financeiro nacional, contra as normas de defesa da
concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto
perdurarem os efeitos da condenação." Com respeito à responsabilidade da sociedade pelos
atos dos administradores, o Código é inovador, pois conforme o artigo 1016 "Os
administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados,
por culpa no desempenho de suas funções".
As atribuições dos administradores, desde que constem de contrato devidamente arquivado,
são oponíveis contra todos, o que reduz sensivelmente o campo de incidência da teoria da
aparência. Os administradores só podem atuar nos limites de seus poderes contratuais e nada
além. A atuação fora de seus limites gera sua responsabilização pessoal. Mais recentemente, o
Prof. Rubens Requião, ao analisar o problema do abuso e do uso indevido da razão social pelo
administrador na sociedade por cotas, observou: "Pode ele, todavia, usar da razão social,
dentro dos objetivos da sociedade, mas para fins pessoais, o que caracteriza seu uso indevido.
Tanto no caso de abuso como no de uso indevido da firma social, cabe ação de perdas de
danos contra ele, promovida pela sociedade ou pelos sócios individualmente, sem prejuízo da
responsabilidade criminal".
RELAÇÕES COM TERCEIROS.
Na Quarta Seção temos a questão das Relações com Terceiros (Arts. 1022 á 1027). No art.
1.023 disciplina a responsabilidade da sociedade e dos sócios perante terceiros, respondendo
os sócios, pelo saldo das dívidas da empresa, na proporção de suas participações, salvo
cláusula de responsabilidade solidária. No artigo 1024 temos que " os bens particulares dos
sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os
bens sociais.
Necessidade não havia de disposição expressa, arredando a constrição sobre bens da
sociedade e bens particulares dos sócios por dívidas particulares. Garantia das dívidas da
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sociedade, as quotas não podem responder por dívidas dos sócios; se o pudesse, aberta estaria
a burla, em detrimento de terceiros de boa fé. Incisiva, a propósito, o excelente magistério de
Rubens Requião: "... o que se precisa ter em mente, na hipótese em exposição, é a certeza de
que os fundos sociais não pertencem ao quotista, mas à sociedade. Sustentar-se o contrário é
pôr-se abaixo toda a teoria da personificação jurídica e negar-se a autonomia do seu
patrimônio em relação aos seus componentes"; e noutro lance: "Entre o sócio e a sociedade
ergue-se a personalidade jurídica desta, com a sua conseqüente autonomia patrimonial. Por
isso, pertencendo o patrimônio à sociedade, não pode o credor particular do sócio penhorá-lo
para o pagamento de seu crédito".
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Raramente constitui-se uma sociedade em comandita simples. Trata-se de uma forma jurídica
que permite a prestação de capitais por um ou alguns, sem qualquer outra responsabilidade ou
participação na administração do negócio, pois para outros estará reservada esta situação. É
constituída por sócios que possuem responsabilidade subsidiária, ilimitada e solidária, que são
os chamados sócios comanditados, a estes é dada a capacidade de gerenciar e dão nome a
Empresa; e sócios que têm responsabilidade limitada e restringida a importância com que
entram para o capital, são os sócios comanditários. Portanto, é uma sociedade de pessoas, de
responsabilidade mista, porque tanto aparecem sócios ilimitada e solidariamente responsáveis
e outros de responsabilidade limitada.
SOCIEDADE COOPERATIVA.
O Capítulo VII vem em tratar nos artigos 1093 á 1096 da Sociedade Cooperativa. As
Cooperativas são sociedades de pessoas, com personalidade jurídica própria e de natureza
civil, não objetivando lucro e sim a prestação de serviços aos seus associados. As
características dominantes desse tipo de sociedade estão inseridas no artigos 3º, 4º e incisos,
da lei 5.764/71.
SOCIEDADES COLIGADAS.
O Capítulo VIII vem em tratar nos artigos 1097 á 1101 das Sociedades Coligadas onde
acompanhando o fenômeno da globalização, onde as empresas passam a se associarem umas
participando das outras, visando a ampliação das sua atividades, com maior produtividade e
menores custos, além de procurarem ampliar seu domínio no mercado. Diz-se coligada ou
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filiada a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com dez por cento ou mais, do
capital da outra, sem controlá-la.
SOCIEDADE LIMITADA.
Finalmente temos o Capítulo IV do Novo Código Civil Brasileiro que trata da sociedade
limitada (Arts. 1052 á 1087). Assim devemos descrever os artigos que retratam a nova
constituição da sociedade limitada em substituição ao Decreto 3708, de 10 de janeiro de 1919.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES.
Devemos expor sobre as normas gerais da sociedade limitada no projeto de Código Civil
unificado, onde Waldírio Bulgarelli [17], afirma: "Quanto aos tipos de sociedades,
principalmente, as sociedades que o Projeto denominou de limitadas (as atualmente, por
quotas de responsabilidade limitada), vale lembrar que o número de emendas apresentadas ao
Projeto, a maioria de elaboração do Prof. Egberto Lacerda Teixeira e a série de críticas
recebidas estão a demonstrar que as alterações procedidas não foram de molde a agradar a
doutrina. Temos para nós, que sendo as sociedades por quotas de responsabilidade limitada,
um produto híbrido, que se situa entre as sociedades de pessoas e as de capital, tem servido
como um modelo dúctil, capaz de albergar desde as simples sociedades entre marido e mulher
até as holdings e que portanto não mereceria em princípio alterações, até porque a doutrina e a
jurisprudência têm sabido com galhardia enfrentar e resolver os problemas que apresenta.
Certamente, que perante um regime empresarial, haveria que se atentar para alguns aspectos
que atuam contra a preservação da empresa, e lembraria aqui, como exemplo contundente, o
valor a ser pago ao sócio retirante."
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A desconsideração da personalidade jurídica na Lei nº 12.529/2011 (Lei de Defesa da
Concorrência). Uma crítica pontual à opção do legislador
Os agentes marítimos e as multas oriundas do Tribunal Marítimo
As propostas para regulamentação do uso da Internet no Brasil e os direitos autorais
SOCIEDADE ANÔNIMA.
Devemos expor da existência do Capítulo V que vem em tratar da S.A. A Sociedade Anônima
brasileira é uma forma societária que se assemelha bastante à joint-stock company ou à
corporation. Ela é regida pela Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e modificações
posteriores, incluindo-se aquelas introduzidas pela recente Lei nº 10.303, de 31 de outubro de
2001 ("Lei das Sociedades por Ações"). No artigo 1088 temos que na sociedade anônima ou
companhia, o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo
preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir. E que a sociedade anônima rege-se
por lei especial, aplicando-se-lhe, nos casos omissos, as disposições deste Código.
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LIQUIDAÇÃO DA SOCIEDADE.
O Capítulo IX vem em tratar nos artigos 1102 á 1112 da Liquidação da Sociedade. O
procedimento de liquidação das sociedades deve ser simplificado e instaura-se após a
ocorrência de uma das causas dissolutórias previstas na lei ou no contrato. O supra artigo
1102 define que " Dissolvida a sociedade e nomeado o liquidante, procede-se à sua
liquidação, ressalvado o disposto no ato constitutivo ou no instrumento da dissolução".
A dissolução e a extinção, esta resultante de liquidação regular, devem ser traduzidas no
distrato, cujo arquivamento na Junta Comercial importa na eficácia das operações, perante
terceiros. J. X. CARVALHO DE MENDONÇA, critica o sistema legal porque declara
dissolvida a sociedade antes da liquidação, apontando que a verdadeira dissolução só ocorre
depois daquela (liquidação), mas se vê nesta crítica que o citado autor considerou a dissolução
como a "extinção" da sociedade e não como causa que a leva ao fim, ou ainda como
procedimento [18].
Como bem descreve o Código, consiste a liquidação na apuração do ativo da sociedade e no
pagamento de seu passivo, podendo ser extrajudicial ou judicial, sem relação direta com a
forma em que se deu a dissolução da sociedade; ou seja, os sócios podem ter chegado à
conclusão da causa dissolutória mas terem divergido quanto ao procedimento liquidatório, ou,
ainda, a sociedade pode ter sido alcançada por dissolução judicial, não obstante seus
integrantes chegam a adotar a liquidação amigável. Devemos expor que a regra é a seguinte:
Os sócios podem resolver, por maioria de votos, antes de ultimada a liquidação, mas depois
de pagos os credores, que o liquidante faça rateios por antecipação da partilha, à medida em
que se apurem os haveres sociais. È de se retratar que " no caso de liquidação judicial, será
observado o disposto na lei processual " e " no curso de liquidação judicial, o juiz convocará,
se necessário, reunião ou assembléia para deliberar sobre os interesses da liquidação, e as
presidirá, resolvendo sumariamente as questões suscitadas."
TRANSFORMAÇÃO SOCIETÁRIA.
A Transformação societária é uma forma de alteração contratual pela qual uma sociedade
passa, independentemente de dissolução ou liquidação, de uma espécie para outra. Não se
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confunde com a incorporação, a fusão, a cisão ou a sucessão. Devemos expor que " A
transformação depende do consentimento de todos os sócios, salvo se prevista no ato
constitutivo, caso em que o dissidente poderá retirar-se da sociedade, aplicando-se, no silêncio
do estatuto ou do contrato social, o disposto no art. 1.031."
INCORPORAÇÃO SOCIETÁRIA
No que tange a Incorporação societária temos uma operação em que uma ou mais sociedades
são absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e encargos. A incorporação
(merger, no direito inglês) é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por
outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. A incorporação não dá origem a uma
nova sociedade, pois a incorporadora absorve e sucede a uma ou mais sociedades. Por outro
lado não ocorre, na incorporação, uma compra e venda, mas a agregação do patrimônio da
sociedade incorporada ao patrimônio da incorporadora, com sucessão em todos os direitos e
obrigações.
FUSÃO.
No Novo Código Civil Brasileiro temos que a fusão determina a extinção das sociedades que
se unem, para formar sociedade nova, que a elas sucederá nos direitos e obrigações. A fusão
será decidida, na forma estabelecida para os respectivos tipos, pelas sociedades que
pretendam unir-se. Em reunião ou assembléia dos sócios de cada sociedade, deliberada a
fusão e aprovado o projeto do ato constitutivo da nova sociedade, bem como o plano de
distribuição do capital social, serão nomeados os peritos para a avaliação do patrimônio da
sociedade. Apresentados os laudos, os administradores convocarão reunião ou assembléia dos
sócios para tomar conhecimento deles, decidindo sobre a constituição definitiva da nova
sociedade. É vedado aos sócios votar o laudo de avaliação do patrimônio da sociedade de que
façam parte. Constituída a nova sociedade, aos administradores incumbe fazer inscrever, no
registro próprio da sede, os atos relativos à fusão.
CISÃO SOCIETÁRIA
Finalmente temos a cisão societária onde uma sociedade transfere parcelas de seu patrimônio
para outra(s) sociedade(s), constituída(s) para tal fim ou já existente(s), extinguindo-se a
sociedade cindida, em caso de versão de todo o seu patrimônio, ou dividindo-se o seu capital,
se parcial a versão [19]. Do latim scindere, cortar; daí scissionis, separação, divisão.
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Reorganização de sociedades na qual a companhia transfere parcelas de seu patrimônio a
outras sociedades já existentes ou criadas para tal fim, extinguindo-se a companhia cindida, se
houver transferência total do patrimônio ou dividindo-se seu capital se a transferência for
parcial. A cisão, bem como a incorporação e a fusão, tem seus requisitos apontados no Art.
223 e seguintes da L-006.404-1976 (Lei de Sociedades por Ações). O acionista dissidente da
deliberação que aprovar a cisão tem direito a retirar-se da companhia, mediante reembolso do
valor de suas ações [20].
DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL.
O Título III trata do Estabelecimento especialmente 1142 ´1 1149 do Novo Código Civil
Brasileiro. Devemos expor que matéria esta incorporada do Código Civil Italiano de l.942.
Conforme dispõe o art. 1.142 – estabelecimento é o complexo de bens organizado, para o
exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária. Pode ser objeto unitário
de direitos e de negócios jurídicos, translativos ou constitutivos, que sejam compatíveis com a
sua natureza.(art. l.l43). Contempla-se ainda, a possibilidade de sua alienação, as
conseqüências, e os direitos e deveres do adquirente.(arts. l.l44 a l.l49). Enfim, o
estabelecimento comercial, agora denominado de estabelecimento empresarial [8], é todo o
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complexo dos elementos, o conjunto de bens que o empresário ou a sociedade empresarial
organiza para a atividade da empresa. É o instrumental da atividade do empresário.
NOME EMPRESARIAL.
Devemos expor que o artigo 1.155 retrata que considera-se nome empresarial a firma ou a
denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa. E
ainda que equipara-se ao nome empresarial, para os efeitos da proteção da lei, a denominação
das sociedades simples, associações e fundações. No supra artigo 1156 temos que o
empresário opera sob firma constituída por seu nome, completo ou abreviado, aditando-lhe, se
quiser, designação mais precisa da sua pessoa ou do gênero de atividade
João da Gama Cerqueira [21] define que : "Em nossa opinião, o direito sobre o nome comercial
constitui uma propriedade em tudo idêntica a das marcas de fábrica e de comércio, que se
exerce sobre uma coisa incorpórea, imaterial, exterior à pessoa do comerciante ou industrial, e
encontra seu fundamento no direito natural do homem aos resultados de seu trabalho. Essa
propriedade abrange não só o nome do comerciante singular, como, também, a firma das
sociedades em nome coletivo, as denominações das sociedades anônimas e por quotas, a
insígnia dos estabelecimentos e os demais elementos que entram no conceito do nome
comercial (n. 780, supra), considerados como objetos autônomos de direito". De seu turno,
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Fábio Ulhoa Coelho [22], professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, registra
que: "Com efeito, enquanto o nome civil está ligado à personalidade do seu titular, sendo
discutível seu caráter patrimonial, em relação ao nome comercial, a sua natureza de elemento
integrativo do estabelecimento comercial afasta quaisquer dúvidas quanto à sua natureza
patrimonial."
DOS PREPOSTOS, DOS GERENTES E DO CONTABILISTA.
Destarte no capítulo III onde se trata a questão dos Prepostos, dos Gerentes e Do Contabilista
e outros Auxiliares. Os artigos 1.169 e seguintes do Código Civil tratam da figura do
preposto. Diz, por exemplo, que a preposição não pode ser transferida a terceiros, salvo com
autorização expressa, sob pena de responder pessoalmente pelos atos do substituído. Também
se lhe veda que participe de operação do mesmo gênero que lhe foi concedida, ou que negocia
por conta própria, perante terceiro.
Por conseguinte temos no artigo 1169 que o preposto não pode, sem autorização escrita,
fazer-se substituir no desempenho da preposição, sob pena de responder pessoalmente pelos
atos do substituto e pelas obrigações por ele contraídas. E no artigo 1170 temos que o
preposto, salvo autorização expressa, não pode negociar por conta própria ou de terceiro, nem
participar, embora indiretamente, de operação do mesmo gênero da que lhe foi cometida, sob
pena de responder por perdas e danos e de serem retidos pelo preponente os lucros da
operação.
Daí o ensinamento de J. X. Carvalho de Mendonça [23] de que "a preposição comercial ou
contrato de emprego no comércio participa tanto do mandato como de locação de serviços;
não reúne, porém, os caracteres exclusivos de nenhum destes contratos. A preposição
comercial constitui figura típica de contrato. A subordinação ou dependência do preposto em
relação ao preponente arreda-lhe a qualidade de mandatário, para lhe imprimir a de locador de
serviços; a representação, que, muitas vezes, o preposto exerce relativamente a terceiros,
afasta-o da posição de locador de serviços para o elevar a mandatário. Conciliando as regras
desses dois contratos obteve-se nova figura: o contrato de preposição comercial, ou de
emprego no comércio".
DA ESCRITURAÇÃO CONTÁBIL.
Finalmente no Capítulo IV temos a questão da Escrituração. Contábil.O Código exige que o
empresário e a sociedade empresarial sigam um sistema de contabilidade, com base na
escrituração de seus livros, além de anualmente promover o balanço, salvo no caso do
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pequeno empresário.O Diário, contudo, é livro necessário a todos os empresários, inclusive os
pequenos, Nele serão lançadas, com individuação, clareza e caracterização do documento
respectivo, dia a dia, por escrita direta ou reprodução, todas as operações relativas ao
exercício da empresa.estende-se ao pequeno empresário.
Textos relacionados
NOTAS
01. REALE, Miguel. Visão geral do projeto de código civil: tramitação do projeto
02. LUCCA, Newton de. A atividade empresarial no âmbito do projeto de código civil. In:
SIMÃO FILHO, Adalberto e LUCCA, Newton de (Org.). Direito empresarial
contemporâneo. São Paulo: Juarez de Oliveira, p. 29-83, 2000, p.37.
03. VISÃO GERAL DO PROJETO DE CÓDIGO CIVIL, artigo do Prof. Dr. Miguel Reale
04. Rubens Requião, 1977:17-19
05. REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. v. 1. São Paulo: Saraiva, 1998, p.369
06. Em 1967, formou-se uma comissão, coordenada por Miguel Reale, que apresentou o
anteprojeto de Código Civil em 1972, em que há proposta de novo regime das sociedades
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limitadas.Compunham a comissão os juristas: José Carlos Moreira Alves, encarregado da
Parte Geral; Agostinho de Arruda Alvim, incumbido do Direito das Obrigações; Sylvio
Marcondes, com o Livro do Direito de Empresa; Ebert Vianna Chamoun, incumbido do
Direito das Coisas; Clóvis do Couto e Silva, cuidando do Direito de Família; e Torquato
Castro, trabalhando o Direito das Sucessões.
07. A exemplo do Código Civil Italiano, de 1942, o projeto ora em tramitação tem a pretensão
de unificar o Direito Privado Brasileiro. Quando se fala em unificação, deve-se pensar,
primeiramente, na estruturação do Direito Privado sobre a base de um único direito
obrigacional, ou seja, o ponto nodal da unificação é a elaboração de um único Direito das
Obrigações, comum a todos os sujeitos, não distinguindo entre comerciantes e não-
comerciantes.
08. Código Civil, artigo 1.150
09. TÍTULO II Da Sociedade CAPÍTULO ÚNICO Disposições Gerais
10. SUBTÍTULO I Da Sociedade Não Personificada CAPÍTULO I Da Sociedade em Comum
11. CAPÍTULO II Da Sociedade em Conta de Participação
12. SUBTÍTULO II Da Sociedade Personificada CAPÍTULO I Da Sociedade Simples Seção I
Do Contrato Social
13. (in Curso de Direito Comercial, 12ª ed., 1987, págs. 299/300
14. CAPÍTULO II Da Sociedade em Nome Coletivo
15. Amador Paes de Almeida, Manual das Sociedades Comerciais, São Paulo, Saraiva, 2ª ed.,
1979, pp. 113 e segs.).
16. CAPÍTULO III Da Sociedade em Comandita Simples
17. BULGARELLI, Waldirio. Tratado de direito empresarial. São Paulo: Editora Atlas,
2000, pp.266/267.
18. Mendonça, J. X. Carvalho de, in ob. cit., 222.
19. Ananias Neves, Márcia Cristina, Sociedades por Cotas, São Paulo, Hemus Editora Ltda.,
s-d, p. 65.
20. Tavares Paes, P. R., Fraude contra Credores, São Paulo, Revista dos Tribunais, nota 42,
1978, p. 57; do mesmo autor, Manual das Sociedades Anônimas, São Paulo, Revista dos
Tribunais, 1981, pp. 66-67
21. Tratado da Propriedade Industrial, pág. 1.173, vol. 2, 2ª ed.
22. Manual de Direito Comercial, pág. 28, ed. 1988
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23. J. X. Carvalho de Mendonça, Tratado de Direito Comercial Brasileiro, São Paulo, 1911,
Cardozo Filho & Comp., vol. II, pág. 450, nº 453
Resumo.
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subjetiva considerava sujeito do direito comercial o comerciante matriculado em uma das
corporações de ofício. A teoria dos atos de comércio, inspirada nos ideais da Revolução
Francesa, deslocou o âmbito do direito comercial para a atividade dos atos de comércio, as
quais nunca foram muito bem definidas em virtude da evolução contínua e frenética das
atividades comerciais. A principal lacuna dessa teoria – que se verifica hoje - é não
contemplar as atividades de prestação de serviços como sujeitas ao direito comercial e,
conseqüentemente, merecedoras das prerrogativas acima mencionadas. Com o surgimento da
teoria da empresa, o sujeito do direito comercial é o empresário – pessoa física ou jurídica –
que exerce atividade econômica organizada, não importando a natureza dessa atividade.
Incompatível com o princípio da isonomia não contemplar as empresas prestadoras de serviço
como sujeitos merecedores dos benefícios da concordata e da falência.
1.Introdução.
O estudo das três teorias a que este trabalho se propõe tem por finalidade resgatar
historicamente o âmbito de incidência do direito comercial em diferenciação ao direito civil.
Sendo dois ramos muito próximos no que respeita aos princípios norteadores e dentro daquilo
que se costuma chamar de ramos do direito privado,(1) urge distinguir que tipo de relação
jurídica será regulamentada pelo direito civil e pelo direito comercial.
Assim, a proposta deste escrito é tratar do campo de aplicação do direito comercial, superando
o conceito arcaico de que somente aqueles que praticam atos de comércio podem acessar a
concordata e a falência, bem como questionar a incompatibilidade da negação da concordata e
da falência às empresas que não praticam atos de comércio.
O Direito comercial surgiu por obra de seus próprios interessados, ou seja, foram os
comerciantes que começaram a editar as normas reguladoras de sua atividade. Isto se explica
pela gênese do comércio. Na Idade Média a intensificação das feiras nas cidades medievais
fez surgir a profissão de comerciante e conseqüentemente a classe burguesa em contraposição
à classe feudal. O direito comum não regulamentava a atividade comercial, posto que a
profissão de mercador era discriminada e considerada indigna pela Igreja.
Fábio Ulhoa Coelho explicando a passagem da teoria subjetiva para a teoria objetiva diz que
"a sua [do direito comercial] transformação em disciplina jurídica aplicável a determinados
atos e não a determinadas pessoas, relaciona-se não apenas com o princípio da igualdade dos
cidadãos, mas também com o fortalecimento do estado nacional ante os organismos
corporativos."(6)
É preciso lembrar que as corporações legislavam livremente para disciplinar as atividades dos
comerciantes, além disso, dispunham de uma atividade jurisdicional especializada, pois os
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conflitos comerciais eram levados aos Tribunais do Comércio ligados às corporações e
compostos por comerciantes.
Estamos então diante de um sistema que classifica o sujeito do direito comercial de acordo
com sua atividade, não importando se ele está ou não ligado a uma corporação. Quais são as
atividades que credenciam alguém a ser sujeito do direito comercial? Pela teoria dos atos de
comércio, são os atos de comércio. E o que são atos de comércio? Não há quem ouse dizer,
simplesmente por ser impossível traçar uma definição capaz de abranger todas as atividades
comerciais. Fábio Ulhoa Coelho fala sobre essa indefinição: "a teoria dos atos de comércio
resume-se rigorosamente falando, a uma relação de atividades econômicas, sem que entre elas
se possa encontrar qualquer elemento interno de ligação, o que acarreta indefinições no
tocante à natureza mercantil de algumas delas.(9)" Da mesma forma Rubens Requião afirma
que "o sistema objetivista, que desloca a base do direito comercial da figura tradicional
do comerciante para a dos atos de comércio, tem sido acoimado de infeliz, de vez que até hoje
não conseguiram os comercialistas definir satisfatoriamente o que sejam eles"(10).
No Brasil a edição do Código Comercial de 1850 – em vigor até hoje – foi totalmente
inspirado no Code de Commerce francês, adotando então a teoria dos atos de comércio, meio
misturada à teria subjetiva, pois o art. 4.º deste diploma dispõe que comerciante é aquele que
esteja matriculado em algum Tribunal do Comércio do Império e que faça da mercancia sua
profissão habitual. Como se vê, ao exigir a matrícula no Tribunal do Comércio(12), nosso
Código está retornando ao sistema subjetivo, bem como, ao dizer que é comerciante aquele
que faz da mercancia sua profissão, está contemplando a teoria dos atos de comércio. Por isso
Waldírio Bulgarelli chama nosso sistema de misto.
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Não podemos acusar o nosso Código de ser anacrônico ao adotar a teoria dos atos de
comércio, pois tendo ele nascido em meados do Século XIX, sob forte influência do Código
de Napoleão, não poderia ser de outra forma.
Atualmente as dificuldades proporcionadas pela adoção – agora sim anacrônica – dos atos de
comércio em nosso sistema, consistem justamente na indefinição das atividades ou dos
sujeitos que estariam sob a égide do direito comercial e, por conseqüência, sendo beneficiados
pela possibilidade de pedir concordata e desfrutar das prerrogativas que só a falência confere
aos insolventes. Alfredo de Assis Gonçalves Neto arremata da seguinte forma: "O principal
argumento contrário ao sistema objetivo é justamente a precariedade científica da base em que
se assenta – uma enumeração casuística de atos de comércio, feita pelo legislador ao acaso (de
acordo com aquilo que a prática mercantil considerava, à época, pertencer ao Direito
Comercial). Com isso, sequer se consegue encontrar o conceito de seu elemento fundamental,
o ato de comércio.(13)"
A atividade de prestação de serviços também não poderia ser contemplada por esta teoria,
posto que no século XIX não existia a prestação de serviços em massa e explorada de forma
empresarial como temos hoje. Assim, por tradicionalismo e apego àquilo que diz a lei, até
hoje tem gente que considera a atividade de prestação de serviços (prestada em massa) como
de natureza civil. Combatendo essa idéia obsoleta, Alfredo Assis Gonçalves Neto pondera:
"Ora, o que o Código Civil regulou foi o contrato de prestação de serviços isoladamente
considerado; não a atividade que se identifica pela intermediação de um profissional que se
dedica a recrutar trabalho alheio para coloca-lo à disposição de terceiros"(14).
Não é mais sustentável negar o caráter empresarial das atividades econômicas de prestação de
serviços efetuadas repetidamente e em cadeia. São atividades lícitas e de grande importância
na economia sendo questionável (adiante discutiremos isso mais a fundo) arrebatar desses
setores os benefícios concedidos aos comerciantes, quais sejam, falência e concordata.(15)
A teoria da empresa é fruto da unificação dos direitos civil e comercial ocorrido na Itália, em
1942 com o surgimento do Códice Civile. Conforme dito acima a principal lacuna da teoria
dos atos de comercio consiste em não abranger atividades econômicas tão ou mais
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importantes que o comércio de bens, tais como a prestação de serviços, a agricultura, a
pecuária e a negociação imobiliária, prestados de forma empresarial.
À imagem e semelhança do que dispõe o Código Civil Italiano de 1942, o nosso projeto de
Código Civil, em seu artigo 969, define o empresário como aquele que "exerce
profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou
de serviços."
Assim, enquanto aquele projeto não se convolar em lei buscamos na doutrina os instrumentos
de utilização da teoria da empresa: "A doutrina trabalha com a designação ‘empresário’ a
partir daquilo que a ciência econômica oferece, segundo a qual o empresário é o profissional
do mercado de bens e de serviços, vale dizer, o que se dedica ao ofício da produção e
circulação de bens e de serviços..."(19).
5. A desordem atual.
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Não tendo sido ainda adotada legalmente a teoria da empresa, estamos diante de muitas
perplexidades no que diz respeito ao âmbito de incidência do direito comercial. Para tentar
adequar as lacunas de um sistema legal inservível algumas leis esparsas têm, simplesmente,
declarado certas atividades como sendo comerciais para incluí-las sob a ingerência do direito
comercial. Tendo em vista que os imóveis passaram a ser objeto de compra e venda em
massa, tendo inclusive empresas especializadas em sua construção, locação e venda, como é o
caso das empresas de construção civil e imobiliárias, a Lei 4.068, de 1962 declarou como
comerciais as empresas que se dedicam ao ramo da construção civil, bem como, a Lei 4.591
de 1964 tratou o incorporador profissional como comerciante sujeito à falência.
Para não deixar dúvidas a respeito do caráter comercial das sociedades por ações o art. 2.º §
1.º da Lei 6.404/76 declara qualquer atividade exercida por empresa constituída sob a forma
de Sociedade por Ações é considerada mercantil.
As empresas de trabalho temporário também foram declaradas por lei (Lei 6.019, de 1974)
como sujeitas à falência.
Deste modo percebe-se a barafunda em que se encontra o direito comercial hoje. Se nós
dissermos que é urgente uma atitude do legislador para sanear essas disfunções, estaríamos a
provocar risos nos estudiosos do direito. Primeiro porque é sabido que o direito não depende
da lei e, segundo porque é de conhecimento geral que, para aguardar uma posição do nosso
legislador é necessário esperar sentado.
Deste modo o que se propõe é buscar os argumentos que sustentam a adoção imediata da
teoria da empresa pelos nossos julgadores, de modo a estender a todos aqueles que exercem
atividade economicamente organizada, as benesses do direito comercial.
A doutrina já se inclina para este sentido. Waldírio Bulgarelli afirma que "nos dias que
correm, transmudou-se [o direito comercial] de mero regulador dos comerciantes e dos atos
de comércio, passando a atender àatividade, sob a forma de empresa, que é o atual fulcro do
direito comercial"(20).
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O que ser quer neste tópico é levantar os motivos pelos quais o Estado, através da lei, confere
aquelas prerrogativas. Façamos primeiramente uma distinção salutar para o desenvolvimento
deste tópico. Quando se fala em mercado não se está falando em sistema capitalista. O
mercado é locus de troca promovendo a circulação do capital, e propiciando também a sua
pulverização e distribuição. O capital que circula e se espalha não se acumula, evitando má
distribuição de renda. Deste modo as atividades empresariais são importantes na medida em
que promovem a circulação do capital.
Fábio Konder Comparato faz uma importante consideração sobre o papel do Estado mediante
a atuação das empresas privadas, diz ele: "A instituição do Estado social impôs, no entanto,
duas conseqüências jurídicas da maior importância para a organização das empresas. De um
lado, o exercício da atividade empresarial já não se funda na propriedade dos meios de
produção, mas na qualidade dos objetivos visados pelo agente; sendo que a ordem jurídica
assina aos particulares e, especialmente, aos empresários, a realização obrigatória de objetivos
sociais, definidos na Constituição".(22) Sendo assim, o Estado exige, através das normas
jurídicas, atuação voltada aos objetivos sociais o que dá cor e forma à função social da
empresa.
O empresário tem consciência da função social de sua atividade. Porém, muitas vezes,
manifesta-a quando precisa do Estado para algum tipo de incentivo fiscal ou até mesmo para o
livramento dos pagamentos de ordem tributária.
Reforçando o caráter social da atividade empresarial a Lei n. 6.404, de 1976, em seu art. 154,
dispôs expressamente sobre a função social da empresa:
Art. 154. O administrador deve exercer as atribuições que a lei e o estatuto lhe conferem para
lograr os fins e no interesse da companhia, satisfeitas as exigências do bem público e da
função social da empresa.
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A Constituição Federal de 1988 tem na ordem econômica as diretrizes de valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, com finalidade de assegurar a todos existência digna
conforme os ditames da justiça social. No parágrafo único do artigo 170 a CF fala
em atividade econômica, quando declara que todos são livres para o exercício de qualquer
atividade econômica, sem distinguir sua natureza civil ou mercantil. Neste sentido se
pronuncia Alfredo Assis Gonçalves Neto, dizendo que "a regra constitucional mostra que a
tutela especial é determinada para quem quer que, na iniciativa privada, exerça atividade
econômica, o que significa que qualquer distinção que não deflua desses princípios
referenciais assentados em nossa Constituição fere o princípio da isonomia, que impõe
tratamento igual a quem se encontre em situação de igualdade (art. 5.º e incisos).(23)"
Há dificuldade em se estender àqueles que não praticam atos de comércio, mas que explorem
atividade econômica organizada em forma de empresa, os benefícios da concordata e da
falência. Isso se deve ao fato de ter o nosso Código Comercial adotado a Teoria dos Atos de
Comércio. Ora, como já visto acima, pela sua idade o Código Comercial não poderia ter feito
diversamente. Mas agora nós temos uma realidade não contemplada por aquele diploma, por
isso ele não satisfaz aos anseios dos empresários. Então por que esse apego ao Código
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Comercial como se ele ainda fosse um instrumento capaz de oferecer as normas aplicáveis aos
problemas da empresa moderna? Bobbio explica o que ele chama de fetichismo da lei,
dizendo que "a cada grande codificação desenvolveu-se entre os juristas e juízes a tendência
de ater-se escrupulosamente aos códigos (...)"(24).
Bem, estamos diante de uma situação para a qual não há regulamentação jurídica satisfatória.
O que se quer é incluir no âmbito de um benefício uma categoria que está excluída por
motivos históricos, qual seja, os empresários (pessoas físicas ou jurídicas) que não pratiquem
atos de comércio. Os motivos históricos a que aludo são a idade do nosso Código Comercial,
e a insipiência da atividade de prestação de serviços de forma empresarial (em massa) na
ocasião da edição do Código.
Como pode o profissional do direito equalizar essa questão com o fito de estender aos
empresários a possibilidade de receber o mesmo tratamento dos comerciantes stricto
sensu? Podemos aplicar a interpretação teleológica, a analogia, o princípio da isonomia ou a
interpretação extensiva para fundamentarmos a extensão do beneficio da falência e da
concordata a todas as categorias de empresários. Vejamos.
Ora, não seriam as empresas prestadoras de serviço agentes econômicos tais como o são as
empresas praticantes de atos comerciais stricto sensu ? A qualidade comum a ambas é de
importantes agentes econômicos, o que determina a extensão dos benefícios de uma para
outra.
Se preferirmos utilizar o princípio da isonomia podemos invocar a preceito geral pelo qual um
benefício legal só é legítimo à medida em que alcance todos os indivíduos daquela categoria
que se encontrem na mesma situação material: todos os empresários são agentes econômicos,
logo, todos aqueles que exploram atividade econômica organizada de forma empresarial estão
aptos a participar dos mesmos benefícios.
8. Conclusão
Finalizando nossas argumentações podemos concluir que não há mais nenhum sustento na
afirmação de que somente aqueles que praticam atos de comércio podem ter acesso à falência
e à concordata, pois isso fere os princípios mais caros ao Direito de que duas pessoas em
situação igualitária merecem o mesmo tratamento jurisdicional.(27) A teoria dos atos de
comércio, ao restringir o direito comercial, não atende mais aos novos modelos de
empreendimento, cujas atividades fogem do ato de comércio, mas que participam da produção
e circulação de bens e serviços com tanta força que chegam a representar um setor
significativo na geração de empregos, arrecadação tributária, melhoria da qualidade de
serviços e bens consumidos, etc. Assim, podemos aplicar a interpretação teleológica buscando
a ratio legis da existência daqueles benefícios, que existem para estimular a atividade
empreendedora; podemos ainda utilizar a analogia ou a interpretação extensiva, bem como o
princípio da isonomia para incluirmos os empresários prestadores de serviços como aptos a
obterem a concordata e a falência.
9.Notas
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1.Bobbio diz que a originária diferenciação entre o direito público e o privado é acompanhada
pela afirmação da supremacia do público sobre o privado. Costuma-se dizer que o direito
privado regulamenta as relações entre iguais, e o direito público, as relações entre
desiguais. In BOBBIO, Norberto. Estado Governo Sociedade. Para uma teoria geral da
política. 6.ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. pgs. 15 e 16. Sendo uma relação
(supostamente) entre iguais vigoram os princípios da autonomia e da igualdade, pelos quais
dá-se às pessoas o poder de negociação.
2.O artigo 135, II do Decreto-lei n. 7.661 de 1945 assim dispõe: "Extingue as obrigações do
falido: (...) II – o rateio de mais de 40% (quarenta por cento), depois de realizado todo o ativo,
sendo facultado o depósito da quantia necessária para atingir essa porcentagem, se para tanto
não bastou a integral liquidação da massa".
4.REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 23. ed. Atual. São Paulo:
Saraiva, 1998. pgs. 10 e 11.
5.GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Manual de Direito Comercial. 2.ª ed. Revisada e
atualizada. Curitiba: Juruá, 2000. p. 42.
6.COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol 1. São Paulo: Saraiva, 1998. p.
14.
7.COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol 1. São Paulo: Saraiva, 1998.
p.14
8.COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol 1. São Paulo: Saraiva, 1998. p.
12.
9.COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol 1. São Paulo: Saraiva, 1998. p.
15.
10.REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 23. ed. Atual. São Paulo:
Saraiva, 1998. pg. 13.
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11.BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 15 edição. São Paulo: Atlas, 2000. p. 66.
12.Como foi dito acima os comerciantes do Século XII fundaram suas corporações de ofício
com a função de regulamentar sua atividade bem como processar e julgar os comerciantes em
litígio, formando assim uma espécie de justiça especial, pois os Tribunais do Comércio
tinham exclusividade na jurisdição de contendas envolvendo os comerciantes e seus juízes
(chamados cônsules) eram também comerciantes. No Brasil, o Tribunal do Comércio existiu
até 1875 quando, por Decreto, sua função judicante foi transferida para a Justiça Comum.
13.GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Manual de Direito Comercial. 2.ª ed. Revisada e
atualizada. Curitiba: Juruá, 2000. p. 47.
14.GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Manual de Direito Comercial. 2.ª ed. Revisada e
atualizada. Curitiba: Juruá, 2000. p. 76.
15.Outro problema apontado recentemente por essa distinção é a exclusão das empresas
prestadoras de serviços do SIMPLES – sistema integrado de pagamento de impostos, que
reduz a carga tributária para as microempresas e empresas de pequeno porte. A Lei 9.317/96
em seu art. 9.º, XIII deixou de fora dos prestadores de serviços cuja atividade estivesse
relacionada a profissões regulamentadas ou que exigissem um pouco mais de qualificação de
seus sócios ou empregados.
17.O direito comercial, em sua gênese, excluiu de seu âmbito a compra e venda de bens
imóveis porque na Idade Média somente os senhores feudais eram detentores da propriedade
da terra. Os comerciantes, mesmo com dinheiro não podiam negociar esses bens, por serem
negócios típicos dos senhores feudais. Daí o desinteresse dos comerciantes em regulamentar
uma atividade da qual eles não participavam.
18.BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 15 edição. São Paulo: Atlas, 2000. p. 67.
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19.GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Manual de Direito Comercial. 2.ª ed. Revisada e
atualizada. Curitiba: Juruá, 2000. p. 74.
20.BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 15 edição. São Paulo: Atlas, 2000. p. 19.
21.Devemos lembrar que o consumo não é uma opção mas sim uma necessidade.
23.GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Manual de Direito Comercial. 2.ª ed. Revisada e
atualizada. Curitiba: Juruá, 2000. p. 79
25.In BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10.ª edição. Brasília: Editora
Universidade de Brasília, 1997. p. 154.
27.Pode-se dizer o mesmo tratamento legal, porém como escrevo na perspectiva de não
aguardar o legislador remeto ao poder jurisdicional a atribuição de aplicação dos princípios
basilares do Direito.
BOBBIO, Norberto. Estado Governo Sociedade. Para uma teoria geral da política. 6.ª edição.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol 1. São Paulo: Saraiva, 1998.
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COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 3.ed. [revista,
atualizada e corrigida] Rio de Janeiro : Forense, 1983. p. 296.
GONÇALVES NETO, Alfredo Assis. Manual de Direito Comercial. 2.ª ed. Revisada e
atualizada. Curitiba: Juruá, 2000.
REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. Vol. 1. 23. ed. Atual. São Paulo: Saraiva,
1998
Direito Empresarial
Por Emerson Santiago
Direito Empresarial ou ainda Direito Comercial são nomes dados a um mesmo ramo
das ciências jurídicas, constituindo uma subdivisão do chamado Direito Privado. Tal divisão
irá cuidar da atividade empresarial e de seu executante, o empresário, estabelecendo um corpo
de normas disciplinadoras importantes na condução harmônica da atividade com os interesses
do coletivo.
Como mencionado, o principal ator dentro do direito empresarial é o empresário, e este possui
uma definição específica no mesmo artigo 966:
Já a empresa deve ser entendida como atividade revestida de duas características singulares,
ou seja: é econômica e é organizada. Tecnicamente, o termo empresa deve ser utilizado como
sinônimo de “empreendimento”.
De acordo com o Código Civil, as empresas podem se organizar de cinco formas distintas:
• sociedade por nome coletivo – é empresa por sociedade, onde todos os sócios
respondem pela dívidas de forma ilimitada.
• sociedade comandita simples – organizada em sócio comanditários, de
responsabilidade limitada e comanditados de responsabilidade ilimitada
• sociedade comandita por ações – sociedade onde o capital está dividido em ações,
regendo-se pelas normas relacionadas às sociedades anônimas.
• sociedade anônima (companhia), conforme reza o artigo 1088 do Código Civil,
sociedade onde o capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista
apenas pelo preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.
• sociedade limitada – prevista no Código Civil, no seu artigo 1052, em tal sociedade a
responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, sendo que todos
respondem solidariamente pela integralização do capital social, dividindo-se este em
quotas iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio.
Além destas sociedades, o direito empresarial prevê a figura da sociedade simples, aquela que
não é registrada em Registro Público de Empresas Mercantis (requisito obrigatório a todas as
cinco modalidades previstas acima), sendo por isso, impedida de postular direitos perante a
justiça comum. Na prática, as empresas no Brasil estão distribuídas entre sociedades limitadas
ou anônimas, sendo que as outras modalidades existem praticamente apenas no papel.
Não está relacionado ao mundo empresarial, mas é citado no Código Civil, a figura do
Profissional Liberal, exatamente no parágrafo primeiro do primeiro artigo no Código Civil
dedicado ao direito empresarial, o 966:
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“Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa”.
Bibliografia
PINHEIRO, Adriano Martins. Noções básicas acerca do Direito Empresarial. Disponível em
<http://www.artigonal.com/doutrina-artigos/nocoes-basicas-acerca-do-direito-empresarial-
1360124.html>. Acesso em: 07 set. 2011.
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Sobre o estudo da pessoa jurídica, existem várias teorias dentre as quais destacamos: a) a
teoria do patrimônio de afetação, que diz ser a pessoa jurídica um patrimônio destinado a um
fim, defendida por Brinz; b) a teoria da ficção, que as considera como puras criações
artificiais da lei, defendida por Savigny; c) a teoria de Ihering, que a considera tão-só como
um expediente técnico que oculta os homens, que são sempre os verdadeiros sujeitos do
direito; d) a teoria lógico-formal de Kelsen, que considera os atos da pessoa jurídica como
sendo na verdade atos humanos que são imputados a um sujeito fictício mediante um
processo, de "imputação central": o seu ordenamento jurídico geral deixa que direitos e
deveres tenham o seu titular determinado por um ordenamento jurídico parcial que é
justamente a pessoa jurídica, sendo ela em suma uma expressão unitária para um conjunto de
normas (Enciclopédia Jurídica - Leib Soibelman, verbete: “teorias sobre a pessoa jurídica”).
O código classifica as pessoas jurídicas sob o aspecto da sua função e capacidade. O seu
artigo 40 estabelece que as pessoas jurídicas são: a) de direito público e b) de direito privado.
As pessoas jurídicas de direito público por sua vez são: de direito público externo (os Estados
estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público); e de
direito público interno (a União; os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; os
Municípios; as autarquias; e as demais entidades de caráter público, criadas por lei).
As pessoas jurídicas de direito privado, conforme estabelece o artigo 44 do código, são
classificadas em três grupos: a) as associações; b) as sociedades; e c) as fundações. As
associações são aquelas entidades sem fins lucrativos, a exemplo dos sindicatos, associações
dos servidores de uma determinada entidade pública, etc. As fundações são instituições
constituídas através de patrimônio livre doado por seu instituidor para uma finalidade
específica. As sociedades, objeto foco do nosso estudo, são constituídas quando duas ou mais
pessoas celebram um contrato em que reciprocamente se obrigam a contribuir, com Bens ou
serviços, para o exercício de Atividade Econômica e a partilha, entre si, dos resultados.
Ensina Douglass North apud.(A Era do Economista:305), as instituições podem ser restrições
formais (leis), informais (culturais), ou ainda adimplemento (dispositivos de aplicação) de
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contratos e de direito de propriedade. A função delas é reduzir a incerteza por meio do
estabelecimento de uma estrutura estável, mas não necessariamente, para a interação humana.
As restrições legais e o adimplemento dos contratos estão na essência da criação e gestão das
empresas. A formalização da organização na formatação de pessoa jurídica é essencial ao
negócio, considerando que as relações de mercado e com terceiros interessados são
asseguradas pela sua condição jurídica. Neste sentido, pessoa jurídica na acepção ampla do
termo, pode não representar o mesmo que sociedade, pode esta existir (sociedade em comum
ou "de fato") independente daquela. A pessoa jurídica sob o aspecto societário, é a Sociedade
legalmente constituída através de instrumento escrito, público ou particular, devidamente
registrado no órgão competente.
Sua existência começa legalmente a partir do momento em que seus atos constitutivos
(contrato ou estatuto) são registrados no órgão competente (arts. 45, 985 e 1.150 do código
civil). Este registro poderá, quando necessário, ser precedido de autorização ou aprovação do
Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato
constitutivo.
Com o registro, aqueles que exploram a atividade empresarial - o empresário e a Sociedade
empresária, vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas
Comerciais. Para os que exploram a atividade não empresária - a Sociedade simples, a
vinculação se faz no ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
O poder de administração da pessoa jurídica garante aos respectivos administradores o direito
e a obrigação de representar a organização em todos os atos, inclusive em questões judiciais.
Os administradores devem zelar pelos interesses da pessoa jurídica, agindo sempre sob o
amparo da lei e de procedimentos éticos. Assim, obrigam a pessoa jurídica os atos dos
administradores, exercidos e efetivamente praticados nos limites de seus poderes previstos no
ato constitutivo.
Coelho (2002:438) fala da designação dos administradores, que pode ser feita por prazo
indeterminado ou determinado. Afirma Fábio Ulhoa Coelho:
“Em qualquer caso, ressalte-se, os administradores exercem função de confiança dos sócios
(ou, mais precisamente, da parte dos sócios com poderes para removê-los da diretoria), e
podem, por isso, ser destituídos, a qualquer tempo, mesmo que seu mandato seja a prazo
determinado".
No que se refere às decisões, quando houver necessidade de deliberação coletiva, como regra
geral, serão estas tomadas pela maioria de votos dos administradores presentes na reunião ou
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assembleia, salvo se o ato constitutivo dispuser de modo diverso.
Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politics/corporate-law/2242677-empresa-como-pessoa-jur%C3%ADdica/#ixzz1rpWHjiK2
Fonte: http://pt.shvoong.com/law-and-politics/corporate-law/2144315-desconsidera%C3%A7%C3%A3o-da-personalidade-
jur%C3%ADdica/#ixzz1rpWicOmK
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DIREITO EMPRESARIAL: aplicação e características
Resumo:
No atual cenário econômico tomado pelo processo da globalização e pelos avanços
tecnológicos, é importante destacar a crescente influência e participação da empresa, estando,
ela, sem dúvida, no centro da economia moderna, constituindo a célula fundamental de todo o
desenvolvimento empresarial.
A Lei nº 10.406, promulgada em 10 de janeiro de 2002, entrou em vigor a partir de 11 de
Janeiro de 2003, trouxe mudanças em vários pontos do ordenamento jurídico relativo a atos
civis em território brasileiro. Foi batizada "Do Direito da Empresa" a parte que estipula as
normas relativas ao comércio. Com a atualização da nomenclatura e adoção expressa da teoria
da empresa, realidade fática indiscutível após a evolução das relações comerciais brasileiras,
os dispositivos do Livro II da Lei nº 10.406/02 corrigem a rota da matéria jurídica comercial,
em substituição ao entendimento vigente na época do Império, calcado no Code de
Commerce da França, onde vigorou a teoria dos atos de comércio. Assim, faz-se necessário
analisar os vários aspectos da Teoria da Empresa. A carência de bibliografias voltadas ao
assunto que incluam o estudo do Direito Empresarial motiva o estudo de novas análises
visando sanar as ineficácias na sua aplicação.
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Em consequência do cenário exposto, a problemática pode ser sintetizada na seguinte questão:
o que é a teoria da empresa no Direito Empresarial? Procurou-se discutir os posicionamentos
contraditórios existentes na sua aplicação, as suas características e finalidades, apontando a
sua aplicabilidade no ordenamento pátrio, e verificando seus fundamentos e implicações. A
observação dos aspectos metodológicos procura indicar os meios a serem utilizados para
atingir os objetivos estabelecidos. As informações referentes ao tema teoria da empresa foram
obtidas mediante pesquisa bibliográfica.
Do mesmo modo, foram obtidas as informações sobre a sua conceituação. O conceito
proposto destina-se a analisar a teoria da empresa no Direito Empresarial e sua interferência
no sistema empresarial. Todavia, pode-se realizar e identificar as operações mais complexas e
de maior incerteza e que justifiquem maior detalhamento desta teoria para a sua adequada
aplicação. Pode-se concluir que a empresa está caracterizada pelo exercício da sua
organização, pois se todos os elementos construtivos da empresa estiverem organizados, mas
não se efetivar o exercício dessa organização, não se pode falar em empresa.
Esta é a função do empresário, ou seja, organizar sua atividade, coordenando seus bens
(capital) com o trabalho aliciado de outrem. Esta é a organização e o motivo do conceito de
empresa se firmar na ideia de que ela é o exercício da atividade produtiva.
Atualmente a empresa exerce indiscutivelmente, importante função econômica na sociedade,
pois é considerada a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens
ou serviços. Com o surgimento da teoria da empresa, o sujeito do direito comercial é o
empresário – pessoa física ou jurídica – que exerce atividade econômica organizada, não
importando a natureza dessa atividade. Incompatível com o princípio da isonomia não
contemplar as empresas prestadoras de serviço.
Palavras chaves: Teoria da Empresa. Direito Empresarial.
1 - INTRODUÇÃO
No atual cenário econômico tomado pelo processo da globalização e pelos avanços
tecnológicos, é importante destacar a crescente influência e participação da empresa, estando,
ela, sem dúvida, no centro da economia moderna, constituindo a célula fundamental de todo o
desenvolvimento empresarial. A Lei nº 10.406, promulgada em 10 de janeiro de 2002, entrou
em vigor a partir de 11 de Janeiro de 2003, trouxe mudanças em vários pontos do
ordenamento jurídico relativo a atos civis em território brasileiro. O diploma tem por
característica a unificação do direito privado brasileiro, uma vez que abrange, além de matéria
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de ordem civil propriamente dita, matéria de direito comercial. Revoga expressamente a Lei
nº 3.071/16 (Código Civil) e a Parte Primeira da Lei nº 556, de 1850 (Código Comercial), que
versa sobre o "Comércio em Geral".
Foi batizada "Do Direito da Empresa" a parte que estipula as normas relativas ao comércio.
Com a atualização da nomenclatura e adoção expressa da teoria da empresa, realidade fática
indiscutível após a evolução das relações comerciais brasileiras, os dispositivos do Livro II da
Lei nº 10.406/02 corrigem a rota da matéria jurídica comercial, em substituição ao
entendimento vigente na época do Império, calcado no Code de Commerce da França, onde
vigorou a teoria dos atos de comércio. Configurada nos artigos 632 e 633 do Código Francês
de 1807, a teoria dos atos de comércio adstringe o comerciante às práticas elencadas no texto
legal, vale dizer, comerciante vem a ser aquele que pratica atos de comércio dispostos na lei
como tal. Impossível, portanto, coadunar-se a teoria dos atos de comércio com o processo de
desenvolvimento verificado desde então, caindo por terra a limitação taxativa das práticas
comerciais dado a dinâmica empresarial verificada através dos tempos.
Em 1942 foi promulgado o Código Civil Italiano, dispondo com força de lei a teoria da
empresa, formulada a partir da observação do panorama evolutivo do direito comercial.
Segundo esta teoria, atividade comercial é aquela que visa a obtenção de lucro mediante a
organização da força de trabalho, capital e matéria-prima, produzindo e circulando bens e
serviços. Este pensamento teórico gradativamente tomou vulto entre juristas dos países
participantes do sistema jurídico legalista.
A partir da prevalência desta teoria entre os doutrinadores, a figura do comerciante passa a ser
melhor traduzida pela palavra empresário.
Assim, faz-se necessário analisar os vários aspectos da Teoria da Empresa. A carência de
bibliografias voltadas ao assunto que incluam o estudo do Direito Empresarial motiva o
estudo de novas análises visando sanar as ineficácias na sua aplicação.
Em consequência do cenário exposto, a problemática pode ser sintetizada na seguinte questão:
o que é a teoria da empresa no Direito Empresarial? Procurou-se discutir os posicionamentos
contraditórios existentes na sua aplicação, as suas características e finalidades, apontando a
sua aplicabilidade no ordenamento pátrio, e verificando seus fundamentos e implicações.
A observação dos aspectos metodológicos procura indicar os meios a serem utilizados para
atingir os objetivos estabelecidos. As informações referentes ao tema teoria da empresa foram
obtidas mediante pesquisa bibliográfica. Do mesmo modo, foram obtidas as informações
sobre a sua conceituação. O conceito proposto destina-se a analisar a teoria da empresa no
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Direito Empresarial e sua interferência no sistema empresarial. Todavia, pode-se realizar e
identificar as operações mais complexas e de maior incerteza e que justifiquem maior
detalhamento desta teoria para a sua adequada aplicação.
2 - CONCEITO
É o conjunto de normas jurídicas (direito privado) que disciplinam as atividades das empresas
e dos empresários comerciais (atividade econômica daqueles que atuam na circulação ou
produção de bens e a prestação de serviços), bem como os atos considerados comerciais,
ainda que não diretamente relacionados às atividades das empresas, conforme MAMEDE
2007.
Abrange a teoria geral da empresa; sociedades empresariais; títulos de crédito; contratos
mercantis; propriedade intelectual; relação jurídica de consumo; relação concorrencial;
locação empresarial; falência e recuperação de empresas.
Portanto, o Direito de Empresa passa a ser regulado pela codificação civil na Parte Especial
do Livro II (arts. 966 a 1.195). Este livro, por sua vez, é assim dividido: Título I - Do
empresário; Título II - Da Sociedade; Título III - Do Estabelecimento; e Título IV - Dos
Institutos Complementares.
Este é o período correspondente ao Direito Empresarial contemplado no Código Civil. Leva
em conta a organização e efetivo desenvolvimento de atividade econômica organizada.
Os empresários individuais e as sociedades empresárias são considerados agentes econômicos
fundamentais, pois geram empregos, tributos, além da produção e circulação de certos bens
essenciais à sociedade, por isso, a legislação garante a estes uma série de vantagens. Assim é
que são deferidos institutos que dão efetividade ao princípio da preservação da empresa, de
origem eminentemente neoliberal em razão da necessidade de proteção ao mercado, relevante
para o desenvolvimento da sociedade em inúmeras searas, a exemplo da falência, da
possibilidade de produção de provas em seu favor por meio de livros comerciais regularmente
escriturados e demais medidas protetivas.
3 - AUTONOMIA
É assegurada pela Constituição Federal, no art. 22, I, que ao tratar da competência privativa
da União em legislar sobre diversas matérias, explicitou dentre elas distintamente o Direito
Civil e o Direito Comercial, que atualmente é melhor chamado de Direito Empresarial, pois a
preocupação da disciplina também se refere à prestação de serviços.
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Em verdade, o direito empresarial possui um conjunto sistematizado de princípios e normas
que lhe dão identidade, bem como institutos exclusivos como a recuperação de empresas e a
falência, o que faz com que se diferencie de outros ramos do direito.
4 - FONTES
4.1 Formais (primárias ou principais)
São os meios pelos quais as normas jurídicas se manifestam exteriormente: Constituição da
República Federativa do Brasil; Leis Comerciais – CC, Lei 10.406/2002, arts. 966 a 1195; Lei
6404/76 – S A; Lei 11.101/2005 – Falência e Recuperação Judicial e Extra-judicial; Lei
9179/96 – Propriedade Industrial; Lei 5474/68 – Lei das Duplicatas; Código Comercial – Lei
556/1850, que trata do Comércio Marítimo e que não foi revogada pelo CC.; Tratados e
Convenções Internacionais (Lei Uniforme de Genebra).
4.2 Secundárias
Na ausência de norma específica de direito empresarial deve-se recorrer a essas fontes (leis
extravagantes). Compõem-se de: Leis civis – fonte direta no caso de obrigações, considerando
a unificação do CC 2002; Usos e costumes – podem ser: Secundum legem: previstos em
lei; Praeter legem – na omissão da lei; e Contra legem: contra lei (cheque pós-datado).
No que tange a costumes locais, exemplo: art. 111 do CC., tem-se: Analogia; Costumes;
Princípio Gerais do Direito; e a Jurisprudência.
6 - TEORIA DA EMPRESA
De acordo com o Código Civil, o Direito brasileiro adota a Teoria da Empresa. Substituiu a
teoria dos atos de comércio pela teoria da empresa, deixou de cuidar de determinadas
atividades (as de mercancia) para disciplinar uma forma específica de produzir ou circular
bens ou serviços: a empresarial. Isto ocorre em razão da evolução operada no comércio
mundial, notadamente com a difusão e aquisição de importância da prestação de serviços.
Para tanto foi criada a Teoria da Empresa, que nasceu na Itália e desenvolveu-se para corrigir
falhas da teoria dos atos de comércio, vindo, atualmente, a nortear a legislação pátria.
Considera-se empresa a atividade econômica organizada. Sendo:
- Objetiva – o estabelecimento – um conjunto de bens corpóreos e incorpóreos reunidos pelo
empresário, para o desenvolvimento de uma atividade econômica;
- Subjetiva – o empresário – sujeito de direitos que organiza o estabelecimento para o
desenvolvimento de uma atividade econômica;
- Funcional – atividade econômica desenvolvida por vontade do empresário por meio do
estabelecimento;
- Corporativo – empresário + empregados e colaboradores (recursos humanos utilizados na
execução da atividade econômica a que a empresa se propõe).
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Abrange as atividades de comércio, indústria e serviço. É facultativo para a atividade rural.
São excluídos: profissionais liberais regulados por lei especial e profissionais intelectuais de
natureza científica, literária ou artística.
A Teoria da Empresa desenvolveu-se para corrigir falhas da teoria dos atos de comércio. Para
identificar o empresário, desconsidera-se a espécie de atividade praticada e passa-se a
considerar a estrutura organizacional, relevância social e a atividade econômica organizada, a
fim de colocar em circulação mercadorias e serviços. O atual sistema jurídico passou a adotar
uma nova divisão que não se apoia mais na atividade desenvolvida pela empresa, isto é,
comércio ou serviços, mas no aspecto econômico de sua atividade, ou seja, fundamenta-se na
teoria da empresa, conforme RAMOS 2008.
De agora em diante, dependendo da existência ou não do aspecto econômico da atividade, se
uma pessoa desejar atuar individualmente (sem a participação de um ou mais sócios) em
algum segmento profissional, enquadrar-se-á como empresário ou autônomo, conforme a
situação, ou, caso prefira se reunir com uma ou mais pessoas para, juntos, explorar alguma
atividade, deverão constituir uma sociedade que poderá se tornar uma sociedade empresária
ou sociedade simples, conforme veremos as diferenças entre uma e outra, mais adiante.
O Código Civil de 2002, revogou expressamente a primeira parte do Código Comercial pelo
art. 2.045, a qual era dedicada ao comércio em geral (mantido os contratos marítimos). O
Código Civil adota a Teoria da Empresa, e atualmente só existe o Empresário. (art. 2.037,
CC).
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- Dinamismo – está relacionado com o desenvolvimento empresarial, fazendo com que as
normas comerciais estejam sempre em constante mudança, aderindo a novas tecnologias que
certamente acarretarão a existência de novas práticas comerciais.
Diferenças substanciais antes existentes entre o direito comercial e o direito civil.
DIREITO COMERCIAL DIREITO CIVIL
· Universalismo, internacionalismo, · Regionalismo;
cosmopolitismo; ·Função social;
· Individualismo; · Existência de contratos gratuitos;
· Onerosidade; · Formalismo;
· Informalismo; · Completude;
· Fragmentarismo; · Solidariedade decorre da lei ou da vontade das
· Solidariedade presumida nas obrigações. partes.
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10.1 Não são atividades empresárias
As fundações (fins religiosos, morais, culturais e assistenciais), art. 62, CC; as associações
sem fins econômicos, art. 53, CC; as sociedades simples - § único, art. 966, CC “não se
considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou
artística, ainda com concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão
constituir elemento da empresa”.
11 - CONCLUSÃO
Pode-se concluir que a empresa está caracterizada pelo exercício da sua organização, pois se
todos os elementos construtivos da empresa estiverem organizados, mas não se efetivar o
exercício dessa organização, não se pode falar em empresa. Esta é a função do empresário, ou
seja, organizar sua atividade, coordenando seus bens (capital) com o trabalho aliciado de
outrem. Esta é a organização e o motivo do conceito de empresa se firmar na idéia de que ela
é o exercício da atividade produtiva.
O conceito empresa, sob o aspecto jurídico, adquire diversos perfis em relação aos diversos
elementos que o integram. Por isso, a definição legislativa de empresa não existe, esta é a
razão da falta de encontro das diversas opiniões até agora manifestadas na doutrina. Um é o
conceito de empresa, como fenômeno econômico. Diversas são as noções jurídicas relativas
aos aspectos do fenômeno econômico que ela representa. Quando fala-se da empresa em
relação à disciplina jurídica, tem-se em mente os diversos aspectos jurídicos do fenômeno
econômico.
Empresa, portanto, não é coisa corpórea, e sim abstrata, porque significa a atividade ou o
conjunto de atividades do empresário. Empresa é o organismo que, através de alguns
elementos ou, fatores, exercita um comportamento repetitivo e metódico, exteriorizando a
atividade do empresário. Empresa é a atividade do empresário, que objetiva o atendimento do
mercado e a obtenção de lucro.
Atualmente a empresa exerce indiscutivelmente, importante função econômica na sociedade,
pois é considerada a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens
ou serviços.
Com o surgimento da teoria da empresa, o sujeito do direito comercial é o empresário –
pessoa física ou jurídica – que exerce atividade econômica organizada, não importando a
natureza dessa atividade. Incompatível com o princípio da isonomia não contemplar as
empresas prestadoras de serviço.
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Referências bibliográficas
MAMEDE, Gladston. Direito Empresarial Brasileiro: empresa e atuação empresarial, volume
1. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. 370 p.
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de Direito Empresarial. Salvador: Editora Podium.
2008, 671 p.
REQUIÃO, Rubens Edmundo. Curso de Direito Comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
2 vols.
SILVA, Bruno Mattos e. Direito de Empresa: teoria da empresa e direito societário. São
Paulo: Atlas, 2007. 533 p.
O Âmbito Jurídico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma solidária,
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DIREITO EMPRESARIAL: NOME EMPRESARIAL NO NOVO CÓDIGO CIVIL
RESUMO
Com o Novo Código Civil em vigor, ocorreram algumas modificações quanto ao nome
empresarial. Quanto à formação, por exemplo, tendo em vista que alguns tipos societários não
podem adotar determinas terminologias. Não obstante, esta regra possui exceções, impostas
pela própria legislação. Com o Novo Código Civil em vigor, alguns tipos societários
desapareceram. A respeito do registro da sociedade é possível dividi-lo em duas categorias:
As sociedades que devem ser registradas na Junta Comercial e as sociedades que devem ser
registradas no Cartório de Pessoas Jurídicas.
PALAVRAS-CHAVE
Nome empresarial. Novo Código Civil. Lei nº 10.406/02. Formação. Registro.
1. INTRODUÇÃO
Com o Novo Código Civil1 em vigor, ocorreram algumas modificações quanto ao nome
empresarial. Neste sentido, o presente texto demonstra de forma clara e direta as principais
alterações ocorridas.
Primeiramente, abordaremos sua definição e seu conceito. A posteriori, trataremos de sua
formação, bem como dos tipos societários que existiam, anteriormente ao novo Código Civil,
e que existem atualmente. Por fim, falaremos do nome do sócio que falece e do registro do
nome empresarial.
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2. DEFINIÇÃO
Segundo a Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994, que dispõe sobre o registro público de
empresas mercantis e atividades afins e dá outras providências2 , em seu artigo 4º confere ao
Departamento Nacional de Registro de Comércio (DNRC) poderes para dispor normas sobre
a ementa da lei supra. Assim, o Diretor do DNRC, no uso das atribuições que lhe são
conferidas, na Instrução Normativa nº 53, de 06 de março de 1996, resolve, em seu artigo 1º,
que nome empresarial “é aquele sob o qual a empresa mercantil exerce sua atividade e se
obriga nos atos a ela pertinentes”. Adiante, no parágrafo único do mesmo artigo, está
expresso que “o nome empresarial compreende a firma individual, a firma ou razão social e
a denominação”.
Ao passo que conforme o Novo Código Civil dispõe em seu artigo 1.155 “considera-se nome
empresarial a firma ou a denominação adotada, de conformidade com este Capítulo, para o
exercício de empresa”.
Percebe-se que o novo texto legal não expressa o termo razão social, que embora seja
sinônimo de firma social, foi, de certa forma, abolido pelo legislador.
3. CONCEITO
Com as duas definições acima expostas, observamos que a Lei nº 8.934/94 é mais abrangente
que o Novo Código Civil. Pois este deixa lacunas, como, por exemplo, não expressa que é
pelo nome empresarial que a empresa exerce sua atividade e nem que seus atos praticados
estão vinculados ao seu nome.
Por isso, devemos nos atentar ao conceito de nome empresarial, que é mais amplo do que suas
definições.
O conceito de nome empresarial não é muito diferente de sua definição legal3 . Todavia, como
visto anteriormente, o nome empresarial compreende alguns tipos, sendo eles a firma
individual, firma ou razão social e a denominação social.
Entende-se por firma individual o nome empresarial utilizado pelo comerciante individual,
sendo formada somente pelo nome do sócio, por extenso ou abreviadamente, sendo permitido
o uso da expressão no final do nome, que melhor identifique o objeto da empresa ou também
para diferenciar de outro já existente.
Em relação à firma ou razão social, estes são formados pela combinação dos nomes de todos
os sócios, alguns, ou somente um sócio. Sendo que, se na formação do nome empresarial for
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omitido um ou mais sócios, deverá ser acrescida no final do nome a expressão “& Cia” por
extenso ou abreviadamente.
Os nomes dos sócios também podem ser expressos por extenso ou abreviadamente. Conforme
ensinaWALDIRIO BULGARELLI4 “a expressão & Cia. significa a existência de outros
sócios”.
A respeito de denominação social, compreende-se que será formado com o uso de qualquer
palavra ou expressão de fantasia, sendo facultado o uso de expressão que caracterize o objeto
da sociedade. Quando se usa algum nome de pessoa física na formação do nome entende-se
que se está prestando homenagem a alguém, sendo está de inteira responsabilidade dos
contratantes.
Assim, para FÁBIO ULHOA COELHO :
“A firma e a denominação se distinguem em dois planos, a saber: quanto à estrutura, ou seja,
aos elementos linguísticos que podem ter por base; e quanto à função, isto é, a utilização que
se pode imprimir ao nome empresarial. No tocante à estrutura, a firma só pode ter por base
nome civil, do empresário individual ou dos sócios da sociedade empresarial. O núcleo do
nome empresarial dessa espécie será sempre um ou mais nomes civis. Já a denominação deve
designar o objeto da empresa e pode adotar por base nome civil ou qualquer outra expressão
linguística (que a doutrina costuma chamar de elemento fantasia). Assim, “A. Silva & Pereira
Cosméticos Ltda” é exemplo de nome empresarial baseado em nomes civis; já “Alvorada
Cosméticos Ltda” é nome empresarial baseado em elemento fantasia”.
4. FORMAÇÃO
Quanto à formação do nome empresarial também ocorreram modificações, tendo em vista que
alguns tipos societários não podem adotar determinas terminologias.
A respeito do empresário individual e de cada tipo de sociedade empresarial, a legislação
contém regras específicas relativas à formação do nome empresarial. Possibilitando que
alguns tipos de sociedades empresárias adotem firma ou denominação, conforme a vontade de
seus sócios, e outros tipos sejam obrigados a adotarem uma ou outra espécie de nome
empresarial.
Segundo FRAN MARTINS6 “a firma é o nome comercial formado do nome patronímico ou de
parte desse nome de um comerciante ou de um ou mais sócios de sociedade comercial,
acrescido ou não, quando se trata de sociedade, das palavras e companhia”. Por outro lado,
deve-se entender por denominação como o nome empresarial formado por qualquer palavra
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ou expressão de fantasia, sendo facultado o uso de expressão que caracterize o objeto da
sociedade.
Como explanado a pouco, as sociedades empresariais podem optar pelo uso da firma, razão
social ou da denominação, de acordo com o tipo de sociedade. Via de regra, as sociedades que
possuem sócios de responsabilidade ilimitada, de forma subsidiária, pelas obrigações sociais,
utilizarão uma firma ou razão social, pois a firma tem a peculiaridade de demonstrar aos
terceiros que as pessoas que nela figuram possuem, na sociedade, essa responsabilidade
ilimitada.7
Por fim, existem sociedades em que todos os sócios limitam a sua responsabilidade pelas
obrigações sociais, ou apenas às importâncias do capital social. Nesses casos, sem a existência
de sócios de responsabilidade ilimitada, não poderão usar de firma ou razão social. Ao invés,
usarão de um nome fantasia ou tirado do seu objeto social, nome esse que tem a designação
específica de denominação.8
Contudo, existem algumas exceções ao princípio geral da formação do nome empresarial.
A priori, o empresário individual e as sociedades em que existem sócios de responsabilidades
ilimitadas utilizam, como nome empresarial, firma ou razão social, contendo o nome civil, por
extenso ou abreviado, do empresário individual, e o nome ou nomes civis do sócio ou sócios
de responsabilidades ilimitada, nas firmas das sociedades, adicionados, ou não, da locução
“e Companhia”.
Não obstante, esta regra possui exceções, impostas pela própria legislação, existindo
sociedades nas quais os sócios têm responsabilidade limitada, que podem compor seu nome
empresarial usando firmas ou razões sociais. Enquadrando-se nesta ressalva as sociedades
limitadas e as sociedades em comandita por ações.
Nas primeiras, de acordo com a lei brasileira, a responsabilidade dos sócios é limitada ao total
do capital social. Todavia, permitiu o sistema que tais sociedades possuíssem denominação ou
firma, entretanto, para que não causasse confusão, a terceiros, sobre a responsabilidade
adquirida pelos sócios, determinou que junto à firma ou à denominação fosse adicionada a
expressão “limitada”, que no caso tornou-se o elemento específico caracterizador desse tipo
de sociedade.9
Igualmente a sociedade em comandita por ações pode utilizar firma ou denominação, porém
justificada esta possibilidade por ela contar com sócios de responsabilidade limitada e sócios
que respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais. Adotando uma firma, só poderão
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compô-la, os sócios que assumem responsabilidade ilimitada. No entanto, deverão incluir,
sempre, junto à firma ou à denominação, a locução “comandita por ações”, para que os
terceiros possam identificar o tipo de sociedade e o grau de responsabilidade assumido pelas
pessoas integrantes da mesma.10
No tocante ao empresário individual só poderá adotar firma, baseado em seu nome civil.
Sendo-lhe facultado abrevia-lo, ou ainda, agregar ao seu nome empresarial o ramo de
atividade a que se destina. Exemplos: Sócio – João Pedro Antunes: “João Pedro Antunes”; “J.
Pedro Antunes”; “João P. Antunes”; “João Pedro Antunes – Relojoeiro”. Segundo FÁBIO
ULHOA COLEHO13 “quando se trata de empresário individual, o nome empresarial pode
não coincidir com o civil; e, mesmo quando coincidentes, têm o nome civil e o empresarial
naturezas diversas”.
Já a sociedade em nome coletivo está liberada a adotar firma ou razão social, com a qual se
obrigam nas suas relações com terceiros, podendo ter por base o nome civil de um, alguns ou
todos os seus sócios, visto que neste tipo de sociedade todos os sócios assumem
responsabilidade ilimitada. Esses nomes poderão ser aproveitados por extenso ou
abreviadamente, conforme a vontade de seus titulares. Se o nome empresarial for composto
somente pelo nome de um de seus sócios, deverá ser acrescida da expressão, “e Companhia”
ou “& Companhia”, por extenso ou abreviadamente. Exemplos: Sócios – Alberto Antunes e
Luiz Gomes: “Antunes & Gomes”; “Alberto Antunes & Cia”; “A. Antunes & Cia”; “Luiz
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Gomes & Cia”; “Gomes & Cia”; “L. Gomes & Cia”; entre outras combinações.
Com relação a sociedade em comandita simples, esta também pode adotar a firma ou razão
social, da qual conste nome civil de sócio ou sócios comanditados, sendo obrigatória a
utilização da partícula “eCompanhia” ou “& Companhia”, por extenso ou abreviadamente,
para fazer menção aos sócios dessa categoria. O nome civil do sócio comanditado pode ser
usado por extenso ou abreviadamente, podendo ser agregado a ele o ramo de negócio
explorado pela sociedade. Vale lembrar que os nomes dos sócios comanditários não podem
ser utilizados na composição do nome empresarial, posto que não têm responsabilidade
ilimitada e solidária pelas obrigações da sociedade. Exemplos: Sócios comanditados – Alberto
Antunes e Luiz Gomes: “Alberto Antunes, Luiz Gomes & Cia”; “A. Antunes & Companhia”;
“Antunes, Gomes & Cia – Peças Automotivas”.
Em se tratando de sociedade em conta de participação, não poderá adotar nome empresarial,
em virtude de sua natureza de sociedade secreta. Agirá, em suas relações com terceiros,
mediante a firma ou denominação do sócio ostensivo, seja esse comerciante individual ou
sociedade comercial.
No que tange a sociedade de capital e indústria, esta poderá adotar ou não uma firma social,
sendo que se escolher a primeira opção, será constituída pelos nomes dos sócios capitalista,
visto que somente eles possuem responsabilidade ilimitada, conforme disposto no artigo 318,
do Código Comercial.
Sendo a sociedade por quotas de responsabilidade limitada, poderá usar de uma firma ou
razão social ou de uma denominação. Se optar pela firma, esta terá que se compor pelo nome
de um, alguns ou todos os sócios; e se optarem pela denominação, será de livre escolha dos
que a constituem. Porém, independentemente da escolha, seu nome empresarial será acrescido
da expressão “limitada” ou “sociedade de responsabilidade limitada”, por extenso ou
abreviadamente. Caso contrário todo sócio será considerado ilimitadamente responsável pelas
obrigações sociais. Exemplos: “Antunes & Cia. Ltda”; “Antunes, Gomes & Cia. Ltda”;
“Auto Peças Tamarins, Ltda”; “Indústria de Auto Peças Tamarins, sociedade de
responsabilidade limitada”.
No que concerne a sociedade anônima, esta poderá usar somente uma denominação, devendo
ser acrescida no início, no meio ou no fim, da expressão “sociedade anônima”, por extenso
ou abreviadamente, ou antecipada da expressão “Companhia”, podendo também ser
abreviada ou por extenso, conforme disposto no artigo 3º, da Lei nº 6.404/7614 . Existe a
possibilidade de, por exemplo, homenagear alguém, utilizando nomes civis de pessoas que
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fundaram a companhia ou concorreram para o êxito da mesma.15 Exemplos: “S/A Tamarins –
Auto Peças”; “Tamarins S/A – Auto Peças”; “Tamarins Auto Peças Sociedade Anônima”;
“Companhia Luiz Gomes de Auto Peças”.
Quando se trata de sociedade por ações, poderá se utilizar firma ou denominação, em
qualquer caso, sempre acrescida da locução “comandita por ações”. Na primeira opção, só
poderão figurar os nomes civis dos gerentes ou diretores, que respondem ilimitadamente pelas
obrigações sociais. Na segunda, se fundado em nome civil de um ou mais acionistas com
responsabilidades ilimitada, é obrigatória a inserção da palavra “e Companhia”, por extenso
ou abreviada. Exemplos: “Alberto Antunes e Companhia, Comandita por Ações”; “Tamarins
Auto Peças C.A.”; “Comandita por Ações Antunes, Gomes & Cia”.
Por fim, deve-se citar que o empresário, sendo pessoa física ou jurídica, ao se registrar como
microempresário ou empresário de pequeno porte, terá acrescido ao seu nome as locuções ME
ou EPP, respectivamente, conforme disciplina o artigo 11, da Lei nº 8.864/94.16
Alguns tipos societários desapareceram. Assim, hoje, em decorrência das alterações
promovidas pela entrada em vigor do Código Civil os tipos societários são os seguintes:
1. Regulares personificadas:
1.1. Sociedade em nome coletivo – artigos 1.039 à 1.044, do Código Civil;
1.2. Sociedade em comandita simples – artigos 1.045 à 1.051, do Código Civil;
1.3. Sociedade limitada – Artigos 1.052 à 1.054, do Código Civil;
1.4. Sociedade Anônima – Artigos 1.088 à 1.089, do Código Civil c/c Lei nº 6.404/76;
1.5. Sociedade em comandita por ações – artigos 1.090 e 1.091, do Código Civil c/c Lei nº
6.404/76.
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6. NOME DO SÓCIO QUE FALECE
Anteriormente, o nome do sócio que falecia, era excluído ou se retirava da sociedade poderia
ser conservado na firma social. Agora, isto não é mais possível de acordo com o artigo 1.165,
do Código Civil “o nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser
conservado na firma social”.
Cabe ressaltar que se a marca da empresa for registrada no nome de um dos sócios, ele pode
levá-la ou deixa-lo ao sair da sociedade.
7. REGISTRO
A respeito do registro da sociedade é possível dividi-lo em duas categorias: As sociedades que
devem ser registradas na Junta Comercial e as sociedades que devem ser registradas no
Cartório de Pessoas Jurídicas. As primeiras são as sociedades empresárias (mercantis) e as
mistas; as segundas são as sociedades simples (civis) e as cooperativas.
8. CONCLUSÃO
Com o Código Civil – Lei nº 10.406/02 - em vigor desde 11 de janeiro de 2.003, ocorreram
algumas alterações em relação às sociedades, tendo em vista que este novo Diploma Legal
incorporou o direito societário.
Embora o legislador, na melhor de suas intenções, tenha idealizado uma maneira mais simples
e atual para tratar do direito societário conjuntamente com o direito civil em si, não alcançou
suas expectativas. Haja visto que o Código Civil em vigor não é uma Lei específica às
sociedades, deixando por muitas vezes lacunas à serem preenchidas; o que certamente
ocorrerá através dos Tribunais com seus Julgados e, as vezes, faltando inclusive termos
técnicos que já existiam no Código Comercial.
Sem esquecer dos tipos societários que desapareceram, o que faz com as empresas, por
exemplo, de Capital e Indústria, tenham de se adequar à nova legislação; assim como os
profissionais do direito.
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2 BRASIL. Lei nº 8.934, de 18 de novembro de 1994. Dispõe sobre o registro público de
empresas mercantis e atividades afins e dá outras providências. Diário Oficial [da República
Federativa do Brasil], Brasília, 21 nov. 1994, p. 17.497.
3 Nome Empresarial. In: Departamento Nacional de Registro de
Comércio, http://www.dnrc.gov.br/ Serviços_dnrc/CAES1100.HTM; em 11-08-2002
4 Sociedades Comerciais, p. 46.
5 Manual de Direito Comercial, p. 74.
6 Curso de Direito Comercial, p. 72.
7 Fran Martins, op. cit., p. 74-75.
8 Ibid., mesma página.
9 Fran Martins, op. cit,. p. 336.
10 Ibid., mesma página.
11 BRASIL. Decreto nº 3.708, de 10 de janeiro de 1919. Regula a constituição de sociedades
por quotas, de responsabilidade limitada. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil],
Brasília, 15 jan. 1919, p. 820.
12 BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispões sobre as sociedades por
ações. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 17 dez. 1976, p. 1.
13 Op. cit., p. 74.
14 BRASIL. Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Dispõe sobre as sociedades por
ações. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, 14 dez. 1976, p. 1.
15 Fran Martins, op. cit., p. 234.
16 BRASIL. Lei nº 8.864, de 28 de março de 1994. Estabelece normas para as microempresas
– ME, e empresas de pequeno porte - EPP, relativas ao tratamento diferenciado e
simplificado, nos campos administrativo, fiscal, previdenciário, trabalhista, crediticio e de
desenvolvimento empresarial (artigo 179 da Constituição Federal). Diário Oficial [da
República Federativa do Brasil], Brasília, 29 mar. 1994, p. 4.554.
Referências bibliográficas:
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 13ª ed., São Paulo: Saraiva, 2002.
DORIA, Dylson. Curso de direito comercial. 14ª ed., São Paulo: Saraiva, 2000.
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Nome empresarial. In: Departamento Nacional de Registro de Comércio
[Internet], http://www.dnrc.gov.br; Acesso em 11.Ago.2002.
25/jun/2005
veja mais
Com o advento do novo Código Civil em 2002, todo o sistema societário que antes existia
passou a vigorar com mudanças significativas, gerando mudanças que abrangem desde a
estrutura básica das sociedades até sua administração.
As sociedades empresárias admitidas pelo ordenamento jurídico nacional são: Sociedade por
Quotas de Responsabilidade Limitada; Sociedade Anônima; Sociedade em nome Coletivo;
Sociedade em Comandita Ações; Sociedade em Comandita Simples.
Não se admite outras formas de constituição de sociedades empresárias, senão estas, mas,
existe ainda a Sociedade em conta de Participação, que não é considerada propriamente uma
sociedade em função de suas peculiaridades.
Podemos citar como exemplo o artigo 966 do Código Civil Vigente, que conceitua o que seja
o empresário, por exemplo, onde se atribui caráter econômico a sua atividade. Superou-se a
idéia de atos de comércio, que era fruto de debate doutrinário por mais de um século dentro
do ordenamento brasileiro. O empresário, ante a lei atual, tem uma conceituação fechada, e
tem seu lugar definido no universo do mercado.
Menciona Rubens Requião [1] que na empresa moderna o gerente constitui apenas uma peça
da máquina de produzir riqueza e gerar dividendos. No mesmo tópico, o jurista, de modo
profético, aponta a tendência de se permitir a participação dos empregados no conselho
diretor da administração da empresa.
Em relação ao Código vigente, o professor paranaense Clayton Reis [2] explica o artigo 966,
ou melhor, de qual atividade se refere o artigo: “(...) uma atividade voltada exclusivamente
para a produção de bens de consumo, que tenham como objeto central o interesse econômico,
ou seja, o animus de conferir ao empresário o lucro na exploração do setor produtivo, no
âmbito das relações de consumo”.
Lembrando que o profissional liberal, não se encaixa na categoria de empresário, por estar
vinculado aos respectivos códigos de ética, como por exemplo, o advogado, que não pode ser
considerado um empresário propriamente dito.
A doutrina de modo geral critica a junção feita pelo legislador, no novo Código, do direito
civil e do direito comercial, compondo um livro inteiro no Código, o segundo, pois as
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disposições do código civil desvirtuam o sentido do direito comercial, que necessita ser mais
dinâmico, diferente do direito civil.
As mudanças no direito comercial, ainda mais quando inseridas dentro do Código Civil, tem
grande influência na aplicação do direito material dentro de uma demanda judicial. As novas
disposições, que substituem dentro do código a nomenclatura de direito comercial para direito
empresarial, fazem sombra sobre todas as atividades econômicas ou empresariais, ou seja,
atividade mercantil privada.
O novo Código neste novo livro, em linhas gerais, traz grandes inovações no que diz respeito
ao Direito Comercial, substitui a figura do comerciante pela do empresário, seguindo a linha
do Código Civil italiano de 1942, onde adota a moderna teoria da empresa, como modelo de
disciplina da atividade econômica. Inova sensivelmente na parte relacionada as sociedades,
agora denominadas de empresárias. Regulamenta de forma mais explícita e complementa o
instituto do estabelecimento. Deu tratamento mais claro e moderno a alguns institutos como: o
registro das sociedades empresária, o seu nome, dos prepostos da empresa, da escrituração
mercantil que agora pode adotar os instrumentos modernos da tecnologia da informática. O
Código inova e consagra práticas já consagradas na doutrina e jurisprudência. Ajusta normas
de uso comum e normas concebidas para os agentes de atividade empresarial.
A doutrina italiana delimita os fundamentos dessa sorte de sociedade como uma sociedade de
fins não empresariais [4], sendo a mais simplificada das formas societárias encontradas no
ordenamento, no aludido ordenamento alienígena e no ordenamento pátrio. No sistema
italiano, este instituto se estabeleceu em 1942, só agora sendo adotado no Brasil.
Essa mudança alterou todas as diretrizes fundamentais da tratativa do direito empresarial, que
coloca outros parâmetros na presente pesquisa, que são aspectos a serem analisados. Os sócios
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agora têm outras responsabilidades, se comparados os sistemas do Código de 1916 e do Novo
Código Civil de 2002. A doutrina nacional ainda não proferiu vasta produção, mas já existem
manifestações que servem de crítica e de orientação para o aprofundamento no assunto.
No antigo Código Civil, o ponto de partida era a sociedade limitada, que tinha um sistema de
gestão mais simples, e que era utilizado subsidiariamente em caso de lacuna em outras
espécies de sociedade. Tanto na administração, quanto na formação societária, a sociedade
limitada apresentava certa segurança ao sócio, que estava limitado à sua cota de capital social,
assim como o gerente tinha uma maior liberdade na gestão dos negócios.
A bem da verdade, o legislador optou por não definir os contornos exatos do que seja a
sociedade simples, apenas que seus participantes, em se escolhendo esse tipo societário,
obrigam-se com a totalidade de seu patrimônio, solidária e ilimitadamente e que, ainda, essa
sociedade não se presta à condução de empresas comerciais. Substitui, portanto, as antigas
associações civis.
Tem-se que, com nos modelos estrangeiros todos os sócios são responsáveis, solidariamente,
por todo o capital social, e assim, repartem a responsabilidade perante outros diante de
relações com sua empresa. É um conceito mais aproximado de uma empresa de pessoas, do
que uma sociedade de Capital.
Deste modo, a responsabilidade que tinha o administrador no antigo sistema não é mais o
mesmo que o atual. Existe também a possibilidade de se atribuir o cargo de administrador da
empresa para uma pessoa fora do quadro societário. É a figura do administrador profissional.
Apesar de ter um sistema truncado, repudiado pela maioria dos comerciantes por ter certos
ônus e procedimentos obrigatórios, e uma transparência que torna o empreendimento mais
trabalhoso, mas é essa mesma transparência que almejou o legislador ao promulgar as
mudanças no novo código. Mas de qualquer maneira, a aproximação entre a sociedade
limitada e anônima abre espaço para a aplicação da teoria da desconsideração de forma mais
clara, além de ter tornado a sociedade limitada mais profissional, ainda sem a determinação de
um conselho de administração, que na verdade serve uma estrutura maior do que as empresas
normais.
Mais importante que delimitar a nova empresa no ordenamento nacional é entender como isso
pode ser benéfico, à sombra da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. O
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funcionamento da empresa comercial não é mais restrito ao quadro societário, ou ainda, à
esfera hermeticamente fechada formada pelo grupo idealizador e investidor, que deu origem a
essa pessoa jurídica.
Com a entrada em vigor deste novo livro dentro do Código Civil, do direito de empresa, a
responsabilidade pela direção da empresa limitada não é mais necessariamente de um sócio.
Como já dito anteriormente, pode-se utilizar um administrador profissional, fora do quadro
societário. Em se conjugando a disregard doctrine com essa nova realidade, temos que a
responsabilização, grosso modo, deve recair sobre que de fato administra e rege a sociedade,
assim como mais acertadamente, deve recair sobre que cometeu o abuso de direito, que
deformou sua função de administrador.
O comerciante era visto como aquele que apenas praticava atos de intermediação com
finalidade lucrativa, hoje é aquele que exerce atividade econômica organizada para a
produção ou a circulação de bens ou serviços.
Ressalva, por outro lado que, não se considera empresário quem exerce profissão intelectual,
de natureza científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou
colaboradores (art.966, parágrafo único). Visou neste aspecto, os profissionais liberais, que
somente serão alcançados pela regulamentação da atividade econômica, se de fato for provado
que exercem sua profissão numa organização empresarial. Se não for possível identificar o
elemento empresa, a atividade será regulada de acordo com o regime próprio de cada
categoria profissional específica.
Atualmente, deve se averiguar quem de fato faz parte do órgão diretor da sociedade, pois é
por demais importante a figura do gestor profissional, agora admitido em absoluto em nosso
ordenamento.
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Este aspectos de mudança, criticados por uns e festejados por outros, muda completamente a
incidência da desconsideração da personalidade jurídica, conforme vimos, quanto ao seu
pedido judicial, ou ainda, quanto a sua forma de demanda. No Brasil, a teoria da
desconsideração, assim como em outros paises, começou a ser aplicada por meio de
entendimento jurisprudencial, ou seja, sem que uma regra de caráter positivo tivesse
incidência sobre o caso concreto.
Assim sendo, a jurisprudência sobre o assunto, principal fonte de estudo da teoria, trata do
modelo de sociedades do Código Civil de 1916, sendo de bom alvitre perceber suas diferenças
para a sua aplicação no atual contexto e estrutura do direito empresarial.
[1] REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. V.1, 21ed. São Paulo: Saraiva, 1995,
p159.
[2] REYS, Clayton et al. Direito empresarial & cidadania : questões contemporâneas.
Curitiba: Juruá, 20004. p 66.
[4] AULETTA, Giuseppe. Dirito Commerciale. Milão, 9ª ed, Dott. A. Giufferè Editore. 1994.
p. 115/126.
[5] et al. Novo Código Civil Comentado. 1 ed, São Paulo: Saraiva, 2002.
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[CITAÇÃO] Direito empresarial moderno
W Bulgarelli - 1992 - Forense
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escolha se a busca será feita por palavra-chave, por palavras próximas à forma que
você escreveu, pelo site Google Acadêmico ou por relevância das palavras.
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Lembre-se de que as palavras-chave dirigirão a pesquisa, portanto, escolha-
as com atenção. Várias podem ser testadas. Quanto mais próximas ao tema
escolhido, mais refinada será sua busca. Por exemplo, se o tema escolhido for
relacionado à degradação ambiental na cidade de Ipatinga, as palavras-chave
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poderiam ser: degradação; ambiental; Ipatinga. Ou algo mais detalhado. Se nada
aparecer, tente outras palavras.
Isso feito, uma nova página aparecerá, com os resultados da pesquisa para
aquelas palavras que você forneceu. Observe o número de referências às palavras
fornecidas e o número de páginas em que elas se encontram (indicado abaixo).
A seguir, estará a lista com os títulos dos artigos encontrados, onde constam:
nome dos autores (Sobrenome, nome), título, nome do periódico, ano de publicação,
volume, número, páginas e número de indexação. Logo abaixo, têm-se as opções
de visualização do resumo do artigo em português/inglês e do artigo na íntegra, em
português. Avalie os títulos e leia o resumo primeiro, para ver se vale à pena ler todo
o artigo.
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Ao abrir o resumo, tem-se o nome dos autores bem evidente, no início da
página (indicado abaixo). No final, tem-se, ainda, a opção de obter o arquivo do
artigo em PDF, que é um tipo de arquivo compactado e, por isso, mais leve, Caso
queria, você pode fazer download e salvá-lo em seu computador.
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Busca por periódicos
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É preciso ressaltar que você deve apenas consultar as bases de dados e os
artigos, sendo proibida a cópia de trechos, sem a devida indicação do nome do
autor do texto original (ver na apostila tipos de citação) e/ou o texto na íntegra.
Tais atitudes podem ser facilmente verificadas por nossos professores, que
farão a correção do artigo.
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