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Leishmaniose
CID-10 B55
CID-9 085
MedlinePlus 001386
eMedicine emerg/296
No início do século XX o médico paraense Gaspar Viana iniciou estudos sobre a leishmaniose, e
a ele atribui-se a descoberta dos primeiros tratamentos para a doença. Essa doença também
pode afetar o cão ou a raposa, que são considerados os reservatórios da doença, conforme
referido pelo médico sanitarista Thomaz Corrêa Aragão, em 1954.
Índice [esconder]
1 Leishmania
2 Tipos
2.1.1 LV humana
2.1.2 LV canina
2.1.2.1 No Brasil
2.1.2.3 Vacinação
2.1.2.3.1 Na Europa
2.1.2.3.2 No Brasil
3 Transmissão
4 Prevalência
5 Progressão e sintomas
7.2 Vacina
7.2.1 Na Europa
8 Imagens adicionais
9 Referências
10 Bibliografia
11 Ver também
Classificação científica
Domínio: Eukaryota
Filo: Euglenozoa
Classe: Kinetoplastea
Ordem: Trypanosomatida
Subordem: Trypanosomatina
Família: Trypanosomatidae
Género: Leishmania
Subgêneros
Viannia
Leishmania
Há cerca de 30 espécies patogênicas para o ser humano (CDC). As mais importantes são:
As espécies L. donovani, L. infantum infantum, e L. infantum chagasi que podem produzir a
leishmaniose visceral, mas, em casos leves, apenas manifestações cutâneas.
O ciclo de vida das espécies é ligeiramente diferente mas há pontos comuns. São libertados no
sangue junto com a saliva de flebotomíneos, ou flebótomos (em inglês são denominados sand
flies), ou Lutzomyia no momento da picada. As leishmanias na forma de promastigotas ligam-
se por receptores específicos aos macrófagos, pelos quais são fagocitadas. Elas são imunes aos
ácidos e enzimas dos lisossomas com que os macrófagos tentam digeri-las, e transformam-se
nas formas amastigotas após algumas horas (cerca de 12h). Então começam a multiplicar-se
por divisão binária, saindo para o sangue ou linfa por exocitose e por fim conduzem à
destruição da célula, invadindo mais macrófagos. Os amastigotas ingeridos pelos insectos
transmissores demoram oito dias ou mais a transformarem-se em promastigotas e
multiplicarem-se no seu intestino, migrando depois para as probóscides.
Leishmaniose visceral (LV), também conhecida como calazar e febre negra, é a forma mais
severa de leishmaniose. É o segundo maior assassino parasitário no mundo, depois da malária,
responsável de uma estimativa de 60 000 que morrem da doença cada ano entre milhões de
infecções mundiais. O parasita migra para os órgãos viscerais como fígado, baço e medula
óssea e, se deixado sem tratamento, quase sempre resultará na morte do anfitrião mamífero.
Sinais e sintomas incluem febre, perda de peso, anemia e inchaço significativo do fígado e
baço. De preocupação particular, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o
problema emergente da co-infecção HIV/LV.
Em hospedeiros humanos, a resposta da infecção por L. donovani varia bastante, não só pela
força mas também pelo tipo da reação imune do paciente. Pacientes que produzem números
grandes de células-T do tipo TH1, que ativa a resposta celular mas não encorajam a formação
de anticorpos, frequentemente recuperam-se da infecção e depois são imunes a uma
reinfecção. Pacientes cujos sistemas produzem mais células do tipo TH2, que promovem
apenas a formação de anticorpos, são mais afetados.
Ultrassonografia evidenciando hepatomegalia em paciente diagnosticado com leishmaniose
visceral.
Humanos e outros animais infectados são considerados reservatórios da doença, uma vez que
o mosquito, ao sugar o sangue destes, pode transmiti-lo a outros indivíduos ao picá-los. Em
região rural e de mata, os roedores e raposas são os principais; no ambiente urbano, os cães.
Nem todos os cães, quando infectados, apresentam os sinais da doença (emagrecimento,
perda de pelos e lesões na pele).
Algum tempo depois do tratamento pode surgir uma forma secundária da [doença], chamada
leishmaniose dérmica pós-kala-azar ou LDPK. Esta condição se manifesta primeiro como lesões
de pele na face que gradualmente aumentam em tamanho e espalham-se pelo corpo.
Eventualmente as lesões podem ser desfigurantes, deixando cicatrizes semelhantes a lepra e
causando cegueira ocasionalmente se atingirem os olhos: contudo a doença não é a
leishmaniose cutânea, mas uma doença causada por outro protozoário do gênero Leishmania,
que também afeta neste estágio a pele.
Palpação de linfonodo
A leishmaniose visceral é uma doença mortal de curso lento e de difícil diagnóstico, pois um
cão pode estar infectado e não mostrar nenhuns sintomas exteriores.
Mesmo sendo considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma das seis maiores
epidemias de origem parasitária do mundo, focos de leishmaniose visceral canina continua-se
expandir no mundo.
No Brasil[editar | editar código-fonte]
Na América Latina, a doença já foi encontrada em pelo menos 12 países, sendo que 90% dos
casos ocorrem no Brasil, especialmente na região Nordeste, que possui o maior número de
notificações: 1.634 casos registrados em 2007. O Ministério da Saúde do Brasil gerencia o
Programa de Controle da Leishmaniose Visceral Canina, visando, entre outras ações, o
diagnóstico sorológico dos cães positivos para Calazar e sua posterior eutanásia. Atualmente
são utilizados dois métodos diagnósticos sorológicos, a Imunofluorescência Indireta (RIFI) e o
Ensaio Imunoenzimático, também conhecido como Teste ELISA. Ambos se baseiam na busca
de anticorpos anti-Leishmania em soro de cães. O Ministério recomenda a triagem com o
Teste rápido Dual Path Platform TR-DPP® e a confirmação com a ELISA . São aceitos os
resultados executados com kits diagnósticos fabricados pela Fundação
OswaldoCruz/Biomanguinhos, distribuidor oficial do Ministério. Nas áreas endêmicas, os fiscais
visitam as residências para realizar a coleta de sangue dos animais. Após o exame, os
proprietários precisam aguardar cerca de 60 dias pelo resultado do teste para saber se o
animal está infectado e se terá que ser sacrificado, já que com a portaria interministerial nº
1426 editada em julho de 2008, é proibido o tratamento da doença com produtos de uso
humano. A opção de eutanásia de um animal de estimação é certamente para muitos uma
decisão difícil, e muitas vezes procura-se por alternativas paliativas, recorrendo-se geralmente
ao argumento de que a portaria não proíbe, contudo, o tratamento da doença com produtos
específicos para animais; e que a validade da referida portaria encontra-se em discussão na
justiça (o que não a torna inválida). Contudo é fato que o animal contaminado, quando sob
tratamento - quer humano quer específico ao animal - embora possa em uma parcela dos
casos apresentar remissão dos sintomas da doença, permanece infectado com o parasita em
sua forma ativa, e por tal constitui um reservatório da doença no ambiente em questão.
Acrescido a presença do agente vetor em tais ambientes, o que geralmente é a situação dada a
contaminação do animal, tal configuração caracteriza-se como uma situação de risco iminente
aos demais no ambiente, incluso sobretudo os seres humanos, risco muito agravado em caso
de presença de crianças e idosos. Muito pior do que se obter um diagnóstico soropositivo para
leishmaniose em um animal de estimação é certamente obter um diagnóstico soropositivo
para a doença em um membro da família. O tratamento, que da mesma forma que no animal
apenas ameniza os sintomas, é complicado e prolongado, exigindo quase sempre internação
para a companhamento do processo dado o risco de morte diretamente associado à
medicação. A medicação para uso humano é proibida para animais dada a crescente
adaptação e resistência dos agentes etiológicos às drogas conhecidas (ver tratamento); as
drogas aplicadas nos primórdios dos avanços no tratamento da referida doença, que
remontam ao início do século XX, são hoje ineficazes, sendo as hoje utilizadas muito mais
agressivas ao próprio organismo do hospedeiro do que as inicialmente aplicadas. A eutanásia
dos cães contaminados é uma decisão dificil para os donos, mas os cães em estado muito
debilitado, talvez seja a única solução.
No Brasil, existe no mercado há 5 anos uma vacina contra a Leishmaniose Visceral Canina, a
Leishmune, do laboratório Fort Dodge Saúde Animal, registrada no Ministrério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) desde 2003. Além desta vacina, existe uma outra do
laboratório Hertape, em que, após vacinação, o animal continua negativo no exame de RIFI,
diferente da vacina Fort Dodge. A vacina confere proteção superior a 92% e já protegeu mais
de 70.000 cães vacinados em todo o Brasil. É importante ressaltar que os animais vacinados
apresentam resultados negativos nos kits ELISA atualmente licenciados pelo MAPA (Kit
Biogene e Kit Bio-Manguinhos).
O programa vacinal deve ser associado a outras medidas de controle, como combate ao inseto
vetor (flebótomo), com a aplicação de inseticida no ambiente e o uso de produtos repelentes
no cão.
Mosquito flebotomíneo
A proporção de insetos encontrados com infecção natural é sempre muito baixa. Assim, a
transmissão fica na dependência de existir, nos focos americanos, uma densidade grande de
Lutzomyia longipalpis, fato que se constata nas áreas de leishmaniose visceral, mesmo no
interior das casas, sempre que haja um surto epidêmico.
Os parasitas são transmitidos pela picada dos mosquitos Phlebotomus na Europa, Ásia e África
e pelo Lutzomyia nas Américas. Em Portugal a leishmaníase visceral por L. infantum infantum
não é rara, sendo transmitida por Phlebotomus perniciosus e Phlebotomus ariasi.
A L. infantum infantum provoca uma variante menos grave da leishmaniose visceral e existe na
região mediterrânica, incluindo países do Norte de África, Turquia, Israel, Grécia, Itália, sul da
França, Portugal e Espanha e ainda nos Balcãs, Irão, algumas regiões da China e Ásia central. É
transmitida pelo Phlebotomus e o seu reservatório são os cães, lobos e raposas. Em Portugal é
mais frequente em regiões como Trás-os-Montes, Coimbra e a Beira Litoral, Algarve e na
região dos estuários dos rios Sado e Tejo.
L.peruviana: predomina nos países andinos, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela.
Reservatório: cães.
É difícil fazer uma avaliação precisa da distribuição global da doença, pois ela comum em áreas
isoladas, muitos dos pacientes escondem a doença e em muitos países ela não é notificada.
A leishmaniose é uma doença que já existia desde tempos pré-históricos e que existe até hoje
na maior parte do mundo. Entre 1985 e 2003 houve um aumento do número de casos e
ampliação de sua ocorrência geográfica, sendo encontrada atualmente em todos os Estados
brasileiros, sob diferentes perfis epidemiológicos. Estima-se que, entre 1985 e 2003,
ocorreram 523.975 casos autóctones, a sua maior parte nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e
Norte do Brasil.4 É mais de 10 vezes mais comum no Norte que no Sul do país.
Os casos são mais comuns nas áreas de criação de gado onde os animais também são vítimas
da doença e ocorrem contaminações cruzadas (do homem para o animal e do animal para o
homem).
Uma infecção por leishmanias pode tomar dois cursos. Na maioria dos casos o sistema
imunitário reage eficazmente pela produção de uma resposta citotóxica (resposta Th1) que
destrói os macrófagos portadores de leishmanias. Nestes casos a infecção é controlada e os
sintomas leves ou inexistentes, curando-se o doente ou desenvolvendo apenas manifestações
cutâneas. No entanto, se o sistema imunitário escolher antes uma resposta (humoral ou Th2)
com produção de anticorpos, não será eficaz a destruir as leishmanias que se escondem no
interior dos macrófagos, fora do alcance dos anticorpos. Nestes casos a infecção (apenas L.
donovani irá se desenvolver em leishmaniose visceral), uma doença grave, ou no caso das
espécies menos virulentas, para manifestações mucocutâneas mais agressivas e crónicas. Um
indivíduo imunodeprimido não reage com nenhuma resposta imunitária eficaz, e estes,
especialmente os doentes com SIDA/AIDS, desenvolvem progressões muito mais perigosas e
rápidas com qualquer dos patogénios. Em Portugal, Espanha, Itália e França este grupo tem
ultimamente formado uma percentagem grande dos doentes com formas de leishmaniose
graves.
A leishmaniose visceral, também conhecida por kala-azar ou febre dumdum, tem um período
de incubação de vários meses a vários anos. As leishmanias danificam os órgãos ricos em
macrófagos, como o baço, o fígado, e a medula óssea. Os sintomas mais comuns do kala azar
são6 :
Febre prolongada,
Anemia,
Hipergamaglobulinemia,
Tosse,
Dor abdominal,
Diarréia,
Perda de peso e;
caquexia.
Outros sintomas possíveis são tremores violentos, diarreia, suores, mal estar e fadiga.[carece
de fontes] As manifestações cutâneas são denominadas como kala azar, "doença preta" em
hindi e persa, ou como "botão de Jericó". Se não tratada, pode ser fatal num período curto ou
após danos crónicos durante alguns anos, especialmente em pessoas com SIDA/AIDS. O
diagnóstico certo é difícil, pois vários desses sintomas também são encontrados na Doença de
Chagas, Malária, Esquistossomose, Febre Tifóide e Tuberculose, doenças comuns nas áreas
endêmicas da Leishmaniose visceral. 6
A leishmaniose cutânea tem uma incubação de algumas semanas a alguns meses (geralmente)
assintomáticos, após o qual surgem sintomas como lesões na pele (pápulas ulcerantes)
extremamente irritantes nas zonas picadas pelo mosquito, que progridem para crostas com
líquido seroso. Há também escurecimento por hiperpigmentação da pele, com resolução das
lesões em alguns meses com formação de cicatrizes desagradáveis. A leishmaniose
mucocutânea é semelhante mas com maiores e mais profundas lesões, que se estendem às
mucosas da boca, nariz ou genitais.
No Brasil, o maior número de casos são registrados nas regiões Norte e Nordeste, onde a
precariedade das condições sanitárias favorecem a propagação da doença. Mas o aumento do
número de registros na Região Sudeste mostram que todo o país corre risco de epidemias de
Leishmaniose. O interior paulista tem assistido a um crescimento grande do número de casos.
Em 1999, Araçatuba enfrentou uma epidemia. Birigui e Andradina também registraram alto
número de casos da doença. Em 2003, Bauru passou a registrar a doença de forma endêmica.
Em todas essas cidades ocorreram óbitos, e há o risco da doença chegar a grandes centros
urbanos paulistas de forma endêmica, como Campinas, Sorocaba, Santos e São Paulo.
Em Campo Grande, capital sul-matogrossense, a incidência da doença também é alta,
principalmente em cães que são frequentemente recolhidos pelo poder público e submetidos
a eutanásia. Tal atitude tenta conter a doença na cidade, mas nada é feito quanto ao combate
efetivo do mosquito transmissor.
Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá, em 2006, 52,43% dos cães da
cidade tiveram diagnóstico positivo para leishmaniose visceral. Em 2004, eram 41,63%,
demonstrando um crescimento significativo.7
A prevenção se faz por redes ou repelentes de insectos, pela construção de moradias humanas
a distância superior a 500 metros da mata silvestre e pela erradicação dos
Phlebotomus/Lutzomyia. Um importante e por muitos um controverso ponto no controle da
leishmaniose reside na redução dos reservatórios da doença via eutanásia dos animais
domésticos diagnosticados como portadores da doença. As prefeituras de localidades com
presença significativa desta patologia geralmente mantêm serviços de patrulha e diagnóstico
de animais de estimação infectados, determinando que setor de controle de zoonoses
associado realize periodicamente exames de sangue gratuitos nos animais de estimação, e que
este recolha e proceda a eutanásia de animais soropositivos.
No cão já existe uma vacina comercializada na Europa pela Virbac desde 2011. A primeira vez
que se dá a vacina, tem que se fazer um teste de diagnóstico para saber se o cão é positivo ou
negativo à Leishmaniose. Sendo negativo, a primeira vez é administrada em 3 doses, com
intervalos de tempo. Sendo posteriormente, anual.
No entanto, a vacina não proteje a 100%. Sendo aconselhável continuar com o uso da coleira
e/ou de pipetas.
Flebotomíneo
Leishmaniose em um cachorro
Morfologia amastigota
Leishmania tropica
Referências
Ir para cima ↑ GONTIJO, Célia Maria Ferreira and MELO, Maria Norma. Leishmaniose visceral
no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2004, vol.7, n.3
[cited 2011-06-13], pp. 338-349 . Available from:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
790X2004000300011&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1415-790X. doi: 10.1590/S1415-
790X2004000300011.
↑ Ir para: a b GONTIJO, Célia Maria Ferreira and MELO, Maria Norma. Leishmaniose visceral
no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2004, vol.7, n.3
[cited 2011-06-14], pp. 338-349 . Available from:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
790X2004000300011&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1415-790X. doi: 10.1590/S1415-
790X2004000300011.
Ir para cima ↑ O pioneiro. Boletim UFMG nº 1476 - Ano 31 (17 de março de 2005).
Ir para cima ↑ Professor Wilson Mayrink (dados biográficos). 14ª Reunião de Pesquisa
Aplicada em Leishmaniose.
2. ARAGÃO, T.C. - Relatórios dos serviços realizados no pavilhão do Kala-azar de Sobral, 1953.