Você está na página 1de 17

Leishmaniose

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Leishmaniose

Leishmaniose cutânea na mão de um adulto.

Classificação e recursos externos

CID-10 B55

CID-9 085

DiseasesDB 3266 29171 3266 7070

MedlinePlus 001386

eMedicine emerg/296

Star of life caution.svg Aviso médico

A leishmaniose é uma doença crônica, de manifestação cutânea ou visceral (pode-se falar de


leishmanioses, no plural), causada por protozoários flagelados do gênero Leishmania, da
família dos Trypanosomatidae. O calazar (leishmaniose visceral)1 e a úlcera de Bauru
(leishmaniose tegumentar americana)2 são formas da doença.

É uma zoonose comum ao cão e ao homem.3 É transmitida ao homem pela picada de


mosquitos flebotomíneos, que compreendem o gênero Lutzomyia (chamados de "mosquito
palha" ou birigui, espécie brasileira) e Phlebotomus.

No Brasil existem atualmente 7 espécies de Leishmania responsáveis pela doença humana, e


mais de 200 espécies de flebotomíneos implicados em sua transmissão. Trata-se de uma
doença que acompanha o homem desde tempos remotos e que tem apresentado, nos últimos
20 anos, um aumento do número de casos e ampliação de sua ocorrência geográfica, sendo
encontrada atualmente em todos os Estados brasileiros, sob diferentes perfis epidemiológicos.
Estima-se que, entre 1985 e 2003, ocorreram 523.975 casos autóctones, a sua maior parte nas
regiões Nordeste e Norte do Brasil. Em Portugal existe principalmente a leishmaniose visceral
e alguns casos (muito raros) de leishmaniose cutânea. Esta raridade é relativa, visto que na
realidade o que ocorre é uma subnotificação dos casos de leishmaniose cutânea. Uma razão
para esta subnotificação é o fato de a maioria dos casos de leishmaniose cutânea humana
serem autolimitados, embora possam demorar até vários meses a resolverem-se.
As leishmania são transmitidas pelos insetos fêmeas dos gêneros Phlebotomus (Velho Mundo)
ou Lutzomyia (Novo Mundo).

No início do século XX o médico paraense Gaspar Viana iniciou estudos sobre a leishmaniose, e
a ele atribui-se a descoberta dos primeiros tratamentos para a doença. Essa doença também
pode afetar o cão ou a raposa, que são considerados os reservatórios da doença, conforme
referido pelo médico sanitarista Thomaz Corrêa Aragão, em 1954.

Índice [esconder]

1 Leishmania

1.1 Ciclo de vida

2 Tipos

2.1 Leishmaniose visceral

2.1.1 LV humana

2.1.2 LV canina

2.1.2.1 No Brasil

2.1.2.2 Testes de diagnóstico

2.1.2.3 Vacinação

2.1.2.3.1 Na Europa

2.1.2.3.2 No Brasil

2.2 Leishmaniose cutânea

2.3 Leishmaniose mucocutânea

3 Transmissão

4 Prevalência

5 Progressão e sintomas

6 Áreas endêmicas no Brasil

7 Prevenção, diagnóstico e tratamento

7.1 Tratamento para canídeos

7.2 Vacina
7.2.1 Na Europa

8 Imagens adicionais

9 Referências

10 Bibliografia

11 Ver também

Leishmania[editar | editar código-fonte]

Como ler uma caixa taxonómicaLeishmania

Leishmania donovani em uma célula da medula óssea.

Leishmania donovani em uma célula da medula óssea.

Classificação científica

Domínio: Eukaryota

(sem classif.) Excavata

Filo: Euglenozoa

Classe: Kinetoplastea

Ordem: Trypanosomatida

Subordem: Trypanosomatina

Família: Trypanosomatidae

Género: Leishmania

Subgêneros

Viannia

Leishmania

As leishmania são protozoários parasitas de células fagocitárias de mamíferos, especialmente


de macrófagos. São capazes de resistir à destruição após a fagocitose. As formas
promastigotas (infecciosas) são alongadas e possuem um flagelo locomotor anterior, que
utilizam nas fases extracelulares do seu ciclo de vida. O amastigota (intra-celular) não tem
flagelo.

Há cerca de 30 espécies patogênicas para o ser humano (CDC). As mais importantes são:
As espécies L. donovani, L. infantum infantum, e L. infantum chagasi que podem produzir a
leishmaniose visceral, mas, em casos leves, apenas manifestações cutâneas.

As espécies L. major, L. tropica, L. aethiopica, L. mexicana, L. braziliensis, L. amazonensis e L.


peruviana que produzem a leishmaniose cutânea ou a mais grave, mucocutânea.

Ciclo de vida[editar | editar código-fonte]

O ciclo de vida das espécies é ligeiramente diferente mas há pontos comuns. São libertados no
sangue junto com a saliva de flebotomíneos, ou flebótomos (em inglês são denominados sand
flies), ou Lutzomyia no momento da picada. As leishmanias na forma de promastigotas ligam-
se por receptores específicos aos macrófagos, pelos quais são fagocitadas. Elas são imunes aos
ácidos e enzimas dos lisossomas com que os macrófagos tentam digeri-las, e transformam-se
nas formas amastigotas após algumas horas (cerca de 12h). Então começam a multiplicar-se
por divisão binária, saindo para o sangue ou linfa por exocitose e por fim conduzem à
destruição da célula, invadindo mais macrófagos. Os amastigotas ingeridos pelos insectos
transmissores demoram oito dias ou mais a transformarem-se em promastigotas e
multiplicarem-se no seu intestino, migrando depois para as probóscides.

Tipos[editar | editar código-fonte]

Leishmaniose visceral[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Leishmaniose visceral

Leishmaniose visceral (LV), também conhecida como calazar e febre negra, é a forma mais
severa de leishmaniose. É o segundo maior assassino parasitário no mundo, depois da malária,
responsável de uma estimativa de 60 000 que morrem da doença cada ano entre milhões de
infecções mundiais. O parasita migra para os órgãos viscerais como fígado, baço e medula
óssea e, se deixado sem tratamento, quase sempre resultará na morte do anfitrião mamífero.
Sinais e sintomas incluem febre, perda de peso, anemia e inchaço significativo do fígado e
baço. De preocupação particular, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), é o
problema emergente da co-infecção HIV/LV.

LV humana[editar | editar código-fonte]

Em hospedeiros humanos, a resposta da infecção por L. donovani varia bastante, não só pela
força mas também pelo tipo da reação imune do paciente. Pacientes que produzem números
grandes de células-T do tipo TH1, que ativa a resposta celular mas não encorajam a formação
de anticorpos, frequentemente recuperam-se da infecção e depois são imunes a uma
reinfecção. Pacientes cujos sistemas produzem mais células do tipo TH2, que promovem
apenas a formação de anticorpos, são mais afetados.
Ultrassonografia evidenciando hepatomegalia em paciente diagnosticado com leishmaniose
visceral.

Na leishmaniose visceral humana, os primeiros sintomas podem ser associados ao


descamamento da pele - com destaque para regiões em torno do nariz, boca, queixo e orelhas,
sendo frequentes também no couro cabeludo, onde estes são geralmente confundidos com
caspa; e ao aparecimento de pequenos calombos semiesféricos sob o couro cabeludo,
geralmente sensíveis ao toque. Tais calombos surgem e desaparecem com frequência sem
contudo implicarem, de forma geral mas não restritiva, feridas. Não obstante, por incômodo,
estes podem evoluir para lesões mediante traumas induzidos pelas unhas ou mãos do próprio
paciente; tais lesões geralmente cicatrizam-se, contudo, de forma normal. Alterações nos
níveis de ácido úrico que não associam-se adequadamente às causas típicas desta anomalia - a
exemplo bem notórias mesmo em pacientes vegetarianos - e que acabam por implicar
sintomas muito semelhantes aos da gota - bem como alterações na quantificação de enzimas
associadas ao fígado - como a gama glutamil transferase e transaminase pirúvica - passam a
ser detectáveis em exames de sangue. Com a evolução da doença os sintomas mais típicos
incluem o aumento do baço ou esplenomegalia, sendo este geralmente também
acompanhado do aumento do fígado ou hepatomegalia, ambos detectáveis via
ultrassonografia. Se deixado sem tratamento a doença evolui para um quadro crítico
caracterizado por rápido e intenso emagrecimento, dor abdominal, ausência de apetite, apatia
e febre alta, intermitente e crônica - com duração superior a dez dias - fase na qual o paciente
geralmente é levado a procurar o médico. Nesta fase os hemogramas geralmente revelam,
entre outras anomalias, os níveis de albumina e contagem de leucócitos significativamente
alterados, sendo notórias a anemia e a leucopenia. A mortalidade da doença nesta etapa é
consideravelmente aumentada por estes sintomas serem facilmente confundidos com os de
outras patogenias; nesta fase, se deixada sem tratamento, a doença quase sempre implica a
morte do paciente. O escurecimento da pele, que deu à doença seu nome comum na Índia,
não aparece na maioria dos casos de doença, e os outros sintomas são muito fáceis de
confundir com os da malária. O erro no diagnóstico é perigoso, pois, sem tratamento, a taxa de
mortalidade para kala-azar está próxima a 100%.

Humanos e outros animais infectados são considerados reservatórios da doença, uma vez que
o mosquito, ao sugar o sangue destes, pode transmiti-lo a outros indivíduos ao picá-los. Em
região rural e de mata, os roedores e raposas são os principais; no ambiente urbano, os cães.
Nem todos os cães, quando infectados, apresentam os sinais da doença (emagrecimento,
perda de pelos e lesões na pele).

Algum tempo depois do tratamento pode surgir uma forma secundária da [doença], chamada
leishmaniose dérmica pós-kala-azar ou LDPK. Esta condição se manifesta primeiro como lesões
de pele na face que gradualmente aumentam em tamanho e espalham-se pelo corpo.
Eventualmente as lesões podem ser desfigurantes, deixando cicatrizes semelhantes a lepra e
causando cegueira ocasionalmente se atingirem os olhos: contudo a doença não é a
leishmaniose cutânea, mas uma doença causada por outro protozoário do gênero Leishmania,
que também afeta neste estágio a pele.

LV canina[editar | editar código-fonte]

Cachorro com leishmaniose visceral exibindo os sintomas típicos da espécie.

Palpação de linfonodo

Diagnóstico sorológico de calazar canino

A leishmaniose visceral é uma doença mortal de curso lento e de difícil diagnóstico, pois um
cão pode estar infectado e não mostrar nenhuns sintomas exteriores.

É causada pelo protozoário Leishmania, transmitido pela picada de flebótomos (insectos)


infectados. O cão é considerado o principal reservatório da doença no meio urbano, mas não o
único, já o homem podem atuar como reservatórios (o que é uma situação rara).

Os sintomas no cão são bastante variáveis, sendo comum na Leishmaniose cutânea o


aparecimento de lesões graves na pele acompanhadas de descamações e, eventualmente,
úlceras, falta de apetite, perda de peso, lesões oculares (tipo queimaduras), atrofia muscular e,
o crescimento exagerado das unhas. Em um estágio mais avançado, detecta-se problemas nos
rins, no fígado e no baço, acabando o animal por morrer. Devido à variedade e à falta de
sintomas específicos, o médico veterinário é o único profissional habilitado a fazer um
diagnóstico da doença. É importante ressaltar que há um grande número de animais
infectados que não apresentam sintomas clínicos (assintomáticos) porque a Leishmaniose
pode ter uma incubação até 7 anos.

Mesmo sendo considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma das seis maiores
epidemias de origem parasitária do mundo, focos de leishmaniose visceral canina continua-se
expandir no mundo.
No Brasil[editar | editar código-fonte]

Na América Latina, a doença já foi encontrada em pelo menos 12 países, sendo que 90% dos
casos ocorrem no Brasil, especialmente na região Nordeste, que possui o maior número de
notificações: 1.634 casos registrados em 2007. O Ministério da Saúde do Brasil gerencia o
Programa de Controle da Leishmaniose Visceral Canina, visando, entre outras ações, o
diagnóstico sorológico dos cães positivos para Calazar e sua posterior eutanásia. Atualmente
são utilizados dois métodos diagnósticos sorológicos, a Imunofluorescência Indireta (RIFI) e o
Ensaio Imunoenzimático, também conhecido como Teste ELISA. Ambos se baseiam na busca
de anticorpos anti-Leishmania em soro de cães. O Ministério recomenda a triagem com o
Teste rápido Dual Path Platform TR-DPP® e a confirmação com a ELISA . São aceitos os
resultados executados com kits diagnósticos fabricados pela Fundação
OswaldoCruz/Biomanguinhos, distribuidor oficial do Ministério. Nas áreas endêmicas, os fiscais
visitam as residências para realizar a coleta de sangue dos animais. Após o exame, os
proprietários precisam aguardar cerca de 60 dias pelo resultado do teste para saber se o
animal está infectado e se terá que ser sacrificado, já que com a portaria interministerial nº
1426 editada em julho de 2008, é proibido o tratamento da doença com produtos de uso
humano. A opção de eutanásia de um animal de estimação é certamente para muitos uma
decisão difícil, e muitas vezes procura-se por alternativas paliativas, recorrendo-se geralmente
ao argumento de que a portaria não proíbe, contudo, o tratamento da doença com produtos
específicos para animais; e que a validade da referida portaria encontra-se em discussão na
justiça (o que não a torna inválida). Contudo é fato que o animal contaminado, quando sob
tratamento - quer humano quer específico ao animal - embora possa em uma parcela dos
casos apresentar remissão dos sintomas da doença, permanece infectado com o parasita em
sua forma ativa, e por tal constitui um reservatório da doença no ambiente em questão.
Acrescido a presença do agente vetor em tais ambientes, o que geralmente é a situação dada a
contaminação do animal, tal configuração caracteriza-se como uma situação de risco iminente
aos demais no ambiente, incluso sobretudo os seres humanos, risco muito agravado em caso
de presença de crianças e idosos. Muito pior do que se obter um diagnóstico soropositivo para
leishmaniose em um animal de estimação é certamente obter um diagnóstico soropositivo
para a doença em um membro da família. O tratamento, que da mesma forma que no animal
apenas ameniza os sintomas, é complicado e prolongado, exigindo quase sempre internação
para a companhamento do processo dado o risco de morte diretamente associado à
medicação. A medicação para uso humano é proibida para animais dada a crescente
adaptação e resistência dos agentes etiológicos às drogas conhecidas (ver tratamento); as
drogas aplicadas nos primórdios dos avanços no tratamento da referida doença, que
remontam ao início do século XX, são hoje ineficazes, sendo as hoje utilizadas muito mais
agressivas ao próprio organismo do hospedeiro do que as inicialmente aplicadas. A eutanásia
dos cães contaminados é uma decisão dificil para os donos, mas os cães em estado muito
debilitado, talvez seja a única solução.

Testes de diagnóstico[editar | editar código-fonte]


Quanto aos testes, os testes sorológicos têm a vantagem de serem mais rápidos e baratos,
porém, existe a possibilidade de resultarem em falso-positivos ou falso-negativos. Neste caso,
recomenda a solicitação de uma nova amostra em 30 dias para a confirmação, caso os títulos
apresentem diluição igual a 1:40. Em laboratórios particulares é possível solicitar uma RIFI,
ELISA e PCR ao sangue e também pode ser submetido ao exame parasitológico com a punção
do linfonodo ou medula óssea para detectar a presença do protozoário.

Os teste de diagnóstico podem dar falso-positivo motivados pela vacina da Leptospirose.


Portanto, é aconselhado fazer os testes de diagnóstico com alguns meses de distância entre a
vacinação anual da Leptospirose. Como podem dar falso-negativo, se não se proceder a toda a
série de testes acima citados.

Vacinação[editar | editar código-fonte]

Na Europa[editar | editar código-fonte]

Na Europa está a ser utilizada a vacina anual e preventiva contra a Leishmaniose do


Laboratório Virbac. A protecção é aproximadamente de 90%. Sendo aconselhado também o
uso de coleira anti-parasitária e/ou pipetas. Antes da vacinação, tem que se proceder a teste
de diagnóstico, para se saber se o cão jà é portador da doença. Caso o teste dê positivo, o cão
não pode ser vacinado. E, o Médico Veterinário aconselhará a melhor tratamento a seguir.

No Brasil[editar | editar código-fonte]

No Brasil, existe no mercado há 5 anos uma vacina contra a Leishmaniose Visceral Canina, a
Leishmune, do laboratório Fort Dodge Saúde Animal, registrada no Ministrério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA) desde 2003. Além desta vacina, existe uma outra do
laboratório Hertape, em que, após vacinação, o animal continua negativo no exame de RIFI,
diferente da vacina Fort Dodge. A vacina confere proteção superior a 92% e já protegeu mais
de 70.000 cães vacinados em todo o Brasil. É importante ressaltar que os animais vacinados
apresentam resultados negativos nos kits ELISA atualmente licenciados pelo MAPA (Kit
Biogene e Kit Bio-Manguinhos).

O programa vacinal deve ser associado a outras medidas de controle, como combate ao inseto
vetor (flebótomo), com a aplicação de inseticida no ambiente e o uso de produtos repelentes
no cão.

Leishmaniose cutânea[editar | editar código-fonte]


Forma cutânea de leishmaniose, dita "de Jericó", dada a sua frequência na região de Jericó.

Ver artigo principal: Leishmaniose cutânea

Leishmaniose cutânea é a forma mais comum de leishmaniose. É uma infecção de pele


causada por um parasita unicelular pelo que é transmitida pelas picadas da mosca de areia. Há
aproximadamente 20 espécies de Leishmania que podem causar leishmanioses cutâneas.

Leishmaniose mucocutânea[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Leishmaniose mucocutânea

Leishmaniose mucocutânea é a mais temida forma de leishmaniose cutânea porque produz o


lesões destrutivas, assim desfigurando a face. É causada frequentemente por Leishmania
(Viannia) braziliensis, mas são descritos raramente casos provocados por L. aethiopica.

O tratamento para a leishmaniose mucocutânea é a combinação de pentoxifilina e um


antimônio pentavalente em dosagens altas durante 30 dias: isto alcança taxas de cura de 90%.
Tratamento só com antimônio pentavalente não cura 42% dos pacientes, até mesmo naqueles
que alcançam uma cura aparente, 19% recairá.

Transmissão[editar | editar código-fonte]

Mosquito flebotomíneo

Os flebotomíneos são cruciais na transmissão da leishmaniose visceral, que ocorre quando os


insetos se alimentam sobre homens ou animais infectados. A seguir, o crescimento dos
flagelados no tubo digestivo do vetor torna-se suficiente para assegurar sua inoculação em
hospedeiros susceptíveis.

Se, pouco depois de infectar-se, o flebotomíneo volta a alimentar-se com sangue, o


crescimento dos flagelados pode ser inibido. Mas se a segunda refeição for feita com sucos de
plantas (ou, nas condições de laboratório, com passas ou soluções açucaradas), as formas
promastigotas multiplicar-se-ão abundantemente no tubo digestivo do inseto. Quando ele
ingere novamente sangue, poderá regurgitar com o sangue aspirado grumos de leishmanias
(promastigotas infectantes) que cresciam no esôfago e no proventrículo.
Em vista do tempo requerido para o crescimento abundante dos flagelados e da vida curta dos
insetos adultos (cerca de duas semanas ou pouco mais), é necessário que o flebotomíneo se
infecte muito cedo, talvez por ocasião de suas primeiras refeições sanguíneas, para que possa
efetuar a transmissão do calazar.

A proporção de insetos encontrados com infecção natural é sempre muito baixa. Assim, a
transmissão fica na dependência de existir, nos focos americanos, uma densidade grande de
Lutzomyia longipalpis, fato que se constata nas áreas de leishmaniose visceral, mesmo no
interior das casas, sempre que haja um surto epidêmico.

Outro mecanismo de transmissão possível, entre os animais, é a transmissão direta, sem


flebotomíneos. Em certas áreas endêmicas, observou-se a pequena densidade de insetos
vetores, raros casos humanos e grande incidência do calazar canino. Como os flebotomíneos aí
mostravam poucas tendências em picar os cães, supôs-se que a propagação pudesse ter lugar
por contato sexual, tanto mais que em diversas pesquisas pôde-se comprovar o parasitismo da
glande e da uretra dos cães por leishmanias.

Ciclo de vida do leishmania (em espanhol)

Os parasitas são transmitidos pela picada dos mosquitos Phlebotomus na Europa, Ásia e África
e pelo Lutzomyia nas Américas. Em Portugal a leishmaníase visceral por L. infantum infantum
não é rara, sendo transmitida por Phlebotomus perniciosus e Phlebotomus ariasi.

Leishmaniose principalmente visceral (organismos mais agressivos):

A L. donovani é a mais frequente causa de leishmaniose visceral. Em algumas regiões (Índia


Paquistão, Bangladesh e Sudão) encontra-se uma forma de leishmaniose dérmica pos-kalazar
(PKDL). É transmitida por Phlebotomus e existe no subcontinente indiano e na África
equatorial (rara em Angola e Moçambique). O reservatório são os seres humanos e os cães.

A L. infantum infantum provoca uma variante menos grave da leishmaniose visceral e existe na
região mediterrânica, incluindo países do Norte de África, Turquia, Israel, Grécia, Itália, sul da
França, Portugal e Espanha e ainda nos Balcãs, Irão, algumas regiões da China e Ásia central. É
transmitida pelo Phlebotomus e o seu reservatório são os cães, lobos e raposas. Em Portugal é
mais frequente em regiões como Trás-os-Montes, Coimbra e a Beira Litoral, Algarve e na
região dos estuários dos rios Sado e Tejo.

A L. infantum chagasi existe na América Latina, incluindo Brasil. O inseto transmissor é o


flebotomíneo Lutzomyia. Reservatórios: cães e gambás. Esta espécie é considerada uma
subespécie de L. infantum.

Leishmaniose principalmente cutânea (organismos de virulência baixa):


L. major: Norte de África, Médio Oriente e Ásia Central. Transmitida por Phlebotomus.
Reservatório: roedores. Responsável por produzir ulcerações úmidas, de evolução rápida.

L. aethiopica: Existe na Etiópia e no Quénia. Transmitida por Phlebotomus. Reservatório:


Hyrax, espécies de pequenos mamíferos.

L. tropica: Existe em países da costa Sul e Leste do Mediterrâneo e no Médio Oriente.


Transmitida por Phlebotomus. O reservatório é principalmente humano (antroponose), mas o
Hyrax também foi incriminado em alguns foci.

L. mexicana: encontra-se no México, na Guatemala e Belize. Transmissão pelo Lutzomyia. O


reservatório são os roedores e marsupiais. Gera úlceras benignas na pele.

L. amazonensis: América do Sul. Transmissão pelo Lutzomyia. O reservatório são os roedores.


Produz lesões cutâneas, às vezes múltiplas.

Leishmaniose principalmente mucocutânea (virulência intermédia):

L. braziliensis: existe em todo o Brasil, Venezuela, Colômbia e Guianas. Lutzomyia.


Reservatório: roedores e gambás. Caracteriza-se por formar úlceras cutâneas (raramente
múltiplas), expansivas e persistentes, frequentemente acompanhadas de lesões graves da
nasofaringe.

L.peruviana: predomina nos países andinos, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela.
Reservatório: cães.

Prevalência[editar | editar código-fonte]

É difícil fazer uma avaliação precisa da distribuição global da doença, pois ela comum em áreas
isoladas, muitos dos pacientes escondem a doença e em muitos países ela não é notificada.

A leishmaniose é uma doença que já existia desde tempos pré-históricos e que existe até hoje
na maior parte do mundo. Entre 1985 e 2003 houve um aumento do número de casos e
ampliação de sua ocorrência geográfica, sendo encontrada atualmente em todos os Estados
brasileiros, sob diferentes perfis epidemiológicos. Estima-se que, entre 1985 e 2003,
ocorreram 523.975 casos autóctones, a sua maior parte nas regiões Nordeste, Centro-Oeste e
Norte do Brasil.4 É mais de 10 vezes mais comum no Norte que no Sul do país.

Estima-se que a Leishmaniose (tegumentar e visceral) no ano de 2003 apresentava uma


prevalência de 12 milhões de casos no mundo e que 350 milhões de pessoas viviam nas áreas
com risco de contrair a doença. Segundo a OMS, 2 milhões de pessoas são contaminadas todos
os anos (1,5 milhões de casos de leishmaniose cutânea e 500 000 casos de leishmaniose
visceral). E esse número parece estar aumentando.5
Essa doença está espalhada por 88 países, dos quais 72 são países em desenvolvimento. A
grande maioria dos casos de Leishmaniose visceral ocorrem no Brasil, Bangladesh, Índia ou
Sudão. A grande maioria dos casos de leishmaniose cutâneo-mucosa ocorrem no Brasil, Bolívia
ou Peru. E a maioria dos casos de leishmaniose cutânea ocorrem no Brasil, Afeganistão, Irã,
Peru, Arábia Saudita ou Síria. Mais de 90% dos casos ocorrem nesses países, sendo o Brasil o
único a reunir grandes números de casos dos 3 tipos de leishmaniose.

Os casos são mais comuns nas áreas de criação de gado onde os animais também são vítimas
da doença e ocorrem contaminações cruzadas (do homem para o animal e do animal para o
homem).

Progressão e sintomas[editar | editar código-fonte]

Uma infecção por leishmanias pode tomar dois cursos. Na maioria dos casos o sistema
imunitário reage eficazmente pela produção de uma resposta citotóxica (resposta Th1) que
destrói os macrófagos portadores de leishmanias. Nestes casos a infecção é controlada e os
sintomas leves ou inexistentes, curando-se o doente ou desenvolvendo apenas manifestações
cutâneas. No entanto, se o sistema imunitário escolher antes uma resposta (humoral ou Th2)
com produção de anticorpos, não será eficaz a destruir as leishmanias que se escondem no
interior dos macrófagos, fora do alcance dos anticorpos. Nestes casos a infecção (apenas L.
donovani irá se desenvolver em leishmaniose visceral), uma doença grave, ou no caso das
espécies menos virulentas, para manifestações mucocutâneas mais agressivas e crónicas. Um
indivíduo imunodeprimido não reage com nenhuma resposta imunitária eficaz, e estes,
especialmente os doentes com SIDA/AIDS, desenvolvem progressões muito mais perigosas e
rápidas com qualquer dos patogénios. Em Portugal, Espanha, Itália e França este grupo tem
ultimamente formado uma percentagem grande dos doentes com formas de leishmaniose
graves.

A leishmaniose visceral, também conhecida por kala-azar ou febre dumdum, tem um período
de incubação de vários meses a vários anos. As leishmanias danificam os órgãos ricos em
macrófagos, como o baço, o fígado, e a medula óssea. Os sintomas mais comuns do kala azar
são6 :

Febre prolongada,

Úlceras escuras na pele

Aumento do baço (esplenomegalia),

Aumento do fígado (hepatomegalia),


Leucopenia,

Anemia,

Hipergamaglobulinemia,

Tosse,

Dor abdominal,

Diarréia,

Perda de peso e;

caquexia.

Outros sintomas possíveis são tremores violentos, diarreia, suores, mal estar e fadiga.[carece
de fontes] As manifestações cutâneas são denominadas como kala azar, "doença preta" em
hindi e persa, ou como "botão de Jericó". Se não tratada, pode ser fatal num período curto ou
após danos crónicos durante alguns anos, especialmente em pessoas com SIDA/AIDS. O
diagnóstico certo é difícil, pois vários desses sintomas também são encontrados na Doença de
Chagas, Malária, Esquistossomose, Febre Tifóide e Tuberculose, doenças comuns nas áreas
endêmicas da Leishmaniose visceral. 6

A leishmaniose cutânea tem uma incubação de algumas semanas a alguns meses (geralmente)
assintomáticos, após o qual surgem sintomas como lesões na pele (pápulas ulcerantes)
extremamente irritantes nas zonas picadas pelo mosquito, que progridem para crostas com
líquido seroso. Há também escurecimento por hiperpigmentação da pele, com resolução das
lesões em alguns meses com formação de cicatrizes desagradáveis. A leishmaniose
mucocutânea é semelhante mas com maiores e mais profundas lesões, que se estendem às
mucosas da boca, nariz ou genitais.

Áreas endêmicas no Brasil[editar | editar código-fonte]

No Brasil, o maior número de casos são registrados nas regiões Norte e Nordeste, onde a
precariedade das condições sanitárias favorecem a propagação da doença. Mas o aumento do
número de registros na Região Sudeste mostram que todo o país corre risco de epidemias de
Leishmaniose. O interior paulista tem assistido a um crescimento grande do número de casos.
Em 1999, Araçatuba enfrentou uma epidemia. Birigui e Andradina também registraram alto
número de casos da doença. Em 2003, Bauru passou a registrar a doença de forma endêmica.
Em todas essas cidades ocorreram óbitos, e há o risco da doença chegar a grandes centros
urbanos paulistas de forma endêmica, como Campinas, Sorocaba, Santos e São Paulo.
Em Campo Grande, capital sul-matogrossense, a incidência da doença também é alta,
principalmente em cães que são frequentemente recolhidos pelo poder público e submetidos
a eutanásia. Tal atitude tenta conter a doença na cidade, mas nada é feito quanto ao combate
efetivo do mosquito transmissor.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá, em 2006, 52,43% dos cães da
cidade tiveram diagnóstico positivo para leishmaniose visceral. Em 2004, eram 41,63%,
demonstrando um crescimento significativo.7

A leishmaniose é considerada pela DNDi como uma doença "extremamente negligenciada",


assim como a doença do sono e a de doença de Chagas. Isto porque, em razão da prevalência
em regiões de extrema pobreza, não há interesse por parte da indústria farmacêutica em
desenvolver novos medicamentos para essas doenças.

Prevenção, diagnóstico e tratamento[editar | editar código-fonte]

Star of life caution.svg

Advertência: A Wikipédia não é consultório médico nem farmácia.

Se necessita de ajuda, consulte um profissional de saúde.

As informações aqui contidas não têm caráter de aconselhamento.

O diagnóstico é pela observação directa microscópica dos parasitas em amostras de linfa,


sanguíneas ou de biópsias de baço, após cultura ou por detecção do seu DNA ou através de
testes imunológicos, como a Reação de Montenegro.

O tratamento humano é feito por administração de compostos de antimónio, pentamidina,


marbofloxacino anfotericina ou miltefosina. Deve-se muito ao pesquisador Gaspar Vianna,
auxiliar de Carlos Chagas, ao se falar em tratamento para as leishmanioses.

A prevenção se faz por redes ou repelentes de insectos, pela construção de moradias humanas
a distância superior a 500 metros da mata silvestre e pela erradicação dos
Phlebotomus/Lutzomyia. Um importante e por muitos um controverso ponto no controle da
leishmaniose reside na redução dos reservatórios da doença via eutanásia dos animais
domésticos diagnosticados como portadores da doença. As prefeituras de localidades com
presença significativa desta patologia geralmente mantêm serviços de patrulha e diagnóstico
de animais de estimação infectados, determinando que setor de controle de zoonoses
associado realize periodicamente exames de sangue gratuitos nos animais de estimação, e que
este recolha e proceda a eutanásia de animais soropositivos.

Embora os agentes do serviço de controle de zoonoses geralmente cumpram com regularidade


as atividades que lhe são incumbidas, ressalva significativa é feita quanto ao fato de que estes
(quase?) nunca encaminham, ou sequer aconselham, os moradores da residência associada a
um animal positivo-diagnosticado a também realizarem os exames diagnósticos associados.
Aparte os motivos de tal atitude, os exames são geralmente simples, rápidos e baratos.
Mostram-se acessíveis a todos via postos de saúde públicos ou mesmo na rede particular, e
devem ser feitos por todos os moradores da residência onde haja o diagnóstico de um animal
com a doença. Até o ponto em que se sabe - contradizendo as estatísticas divulgadas na mídia
de enorme número de casos em animais e poucos em humanos - tanto homens quanto os
cachorros, gatos, e demais mamíferos do ambiente doméstico - como ratos - estão igualmente
suscetíveis à contaminação.

Tratamento para canídeos[editar | editar código-fonte]

Os tratamentos existentes não curam a doença, mas estabilizam-na. Podendo, no entanto,


haver recaídas.

Entre as moléculas mais utilizadas no tratamento da leishmaniose canina estão os antimoniais,


o Milteforan do Laboratório Virbac, assim como Leishguard do Laboratório Esteves. O
medicamento alopurinol é administrado diariamente.

Vacina[editar | editar código-fonte]

A a[vacina]terapêutica para leishmaniose, desenvolvida pelo Prof. Wilson Mayrink,


pesquisador do Departamento de Parasitologia da Universidade Federal de Minas Gerais,
recebeu o registro do Ministério da Saúde e agora pode ser comercializada no Brasil.8 9 10
Segundo o Prof. Mayrink, a vacina está sendo testada na Colômbia e no Equador, sob a
coordenação da OMS. Os testes estão em fase final e, até agora, os resultados são
semelhantes aos do Brasil. O pesquisador está otimista também com os resultados dos testes
da vacina preventiva, realizados nos municípios de Caratinga e Varzelândia, em Minas Gerais.
Ele acredita que, nos próximos dois anos, a vacina preventiva também possa ser produzida em
escala industrial e comercializada em todo o País.

Na Europa[editar | editar código-fonte]

No cão já existe uma vacina comercializada na Europa pela Virbac desde 2011. A primeira vez
que se dá a vacina, tem que se fazer um teste de diagnóstico para saber se o cão é positivo ou
negativo à Leishmaniose. Sendo negativo, a primeira vez é administrada em 3 doses, com
intervalos de tempo. Sendo posteriormente, anual.

No entanto, a vacina não proteje a 100%. Sendo aconselhável continuar com o uso da coleira
e/ou de pipetas.

Imagens adicionais[editar | editar código-fonte]

Flebotomíneo

Leishmaniose em um cachorro

Morfologia amastigota

Leishmania tropica

Ferida causada por leishmaniose cutânea

Reação intradérmica de Montenegro. Resultado reagente (após 72 Horas da inoculação).

Referências

Ir para cima ↑ Leishmaniose Visceral Grave - Normas e Condutas.

Ir para cima ↑ Manual de vigilância da LEISHMANIOSE TEGUMENTAR AMERICANA.

Ir para cima ↑ La leishmaniose. Página visitada em 20-07-2010.

Ir para cima ↑ GONTIJO, Célia Maria Ferreira and MELO, Maria Norma. Leishmaniose visceral
no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2004, vol.7, n.3
[cited 2011-06-13], pp. 338-349 . Available from:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
790X2004000300011&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1415-790X. doi: 10.1590/S1415-
790X2004000300011.

Ir para cima ↑ Título não preenchido, favor adicionar.

↑ Ir para: a b GONTIJO, Célia Maria Ferreira and MELO, Maria Norma. Leishmaniose visceral
no Brasil: quadro atual, desafios e perspectivas. Rev. bras. epidemiol. [online]. 2004, vol.7, n.3
[cited 2011-06-14], pp. 338-349 . Available from:
<http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-
790X2004000300011&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1415-790X. doi: 10.1590/S1415-
790X2004000300011.

Ir para cima ↑ Secretaria Municipal de Saúde de Corumbá, 2006.

Ir para cima ↑ Leishmaniose - Ministério da Saúde autoriza a produção da vacina pioneira no


mundo.

Ir para cima ↑ O pioneiro. Boletim UFMG nº 1476 - Ano 31 (17 de março de 2005).

Ir para cima ↑ Professor Wilson Mayrink (dados biográficos). 14ª Reunião de Pesquisa
Aplicada em Leishmaniose.

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

1. PELLON, A. B. e TEIXEIRA I – Distribuição geográfica da Esquistosomose Mansônica no Brasil


– Publicação do Ministério da Educação e Cultura, 1950.

2. ARAGÃO, T.C. - Relatórios dos serviços realizados no pavilhão do Kala-azar de Sobral, 1953.

3. ARAGÃO, T.C. - Surto de leishmaniose visceral na zona norte do Ceará, 1954.

4. DEANE, M. P. – Sôbre a distribuição do Phlebotomus longipalpis transmissor da


Leishmaniose Visceral, em uma zona endêmica do Estado do Ceará – I – Distribuição,
predominância e variação estacional. Rev. Brasil. Biol. 15(1):83-95, 1955.

Você também pode gostar